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 P. 220 –  JU L.  / DE Z. 2013 AS BIBLIOTECAS PÚBLICAS  NO IMPÉRIO LUSO- BRASILEIRO LISBOA E RIO  DE JANEIRO PUBLIC LIBRARIES IN THE  LUSO-BRASIZILIAN EMPIRE LISBON AND RIO  DE JANEIRO JULIANA  G ESUELLI MEIRELLES  | Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). RESUMO Este artigo objetiva apresentar e analisar a estruturação das bibliotecas públicas da Corte nas duas principais capitais do império luso-brasileiro durante o governo de d. João VI (1792 a 1821), dois lócus de cultura considerados de suma importância para a sustentação política da coroa bragantina. Trataremos da fundação da Biblioteca Pública em Lisboa (1796) e discutire- mos o nascimento da Biblioteca Pública do Rio de Janeiro (1814). Por meio do estudo da figura do bibliotecário régio, é possível compreender vieses importantes da sua principal atividade: a seleção e catalogação das obras que compunham o acervo real. Palavras-chaves: D. João VI; bibliotecas; bibliotecários; acervo real. ABSTRACT This essay aims to present and examine the way the Royal Public Libraries were structured in the two main capitals of the Luso-Brazilian Empire during the reign of D. João VI (1792-1821), two cultural loci  deemed of summary importance in their political support of the government. Throughout this essay, the founding of the Biblioteca Pública in Lisbon (1796) will be addressed and the birth of the Biblioteca Pública do Rio de Janeiro (1814) will be examined. By focusing on the figure of the librarian, it is possible to grasp crucial aspects of their main activity: the selection and cataloguing of works from the royal collection. Keywords: D. John VI; libraries; librarians; royal collection. RESUMEN Este artículo tiene como objetivo presentar y analizar la estructura de las bibliotecas públicas reales en las dos ciudades principales del imperio luso-brasileño durante el reinado del Rey João VI (1792- 1821), dos loci  de cultura considerada de suma importancia para el apoyo político de la corona Bra- gantina. A lo largo de este artículo, se estudiará la fundación de la Biblioteca Pública de Lisboa (1796) y, posteriormente, analizaremos el nacimiento de la Biblioteca Pública de Río de Janeiro (1814). A través del estudio de la gura del bibliotecario real, es posible entender los sesgos importantes de su actividad principal: la selección y catalogación de las obras que componen la colección real. Palabras clave: D. João VI; las bibliotecas; los bibliotecarios; colección real.

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bibliotecas no imperio

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  • p. 220 jul./dez. 2013

    as bibliotecas pblicas no imprio luso-brasileirolisboa e rio de janeiropublic libraries in the luso-brasizilian empirelisbon and rio de janeiro

    juliana Gesuelli meirelles | Doutora em Histria pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

    resumo

    Este artigo objetiva apresentar e analisar a estruturao das bibliotecas pblicas da Corte nas

    duas principais capitais do imprio luso-brasileiro durante o governo de d. Joo VI (1792 a

    1821), dois lcus de cultura considerados de suma importncia para a sustentao poltica da

    coroa bragantina. Trataremos da fundao da Biblioteca Pblica em Lisboa (1796) e discutire-

    mos o nascimento da Biblioteca Pblica do Rio de Janeiro (1814). Por meio do estudo da figura

    do bibliotecrio rgio, possvel compreender vieses importantes da sua principal atividade: a

    seleo e catalogao das obras que compunham o acervo real.

    Palavras-chaves: D. Joo VI; bibliotecas; bibliotecrios; acervo real.

    abstract

    This essay aims to present and examine the way the Royal Public Libraries were structured in

    the two main capitals of the Luso-Brazilian Empire during the reign of D. Joo VI (1792-1821),

    two cultural loci deemed of summary importance in their political support of the government.

    Throughout this essay, the founding of the Biblioteca Pblica in Lisbon (1796) will be addressed

    and the birth of the Biblioteca Pblica do Rio de Janeiro (1814) will be examined. By focusing

    on the figure of the librarian, it is possible to grasp crucial aspects of their main activity: the

    selection and cataloguing of works from the royal collection.

    Keywords: D. John VI; libraries; librarians; royal collection.

    resumen

    Este artculo tiene como objetivo presentar y analizar la estructura de las bibliotecas pblicas reales

    en las dos ciudades principales del imperio luso-brasileo durante el reinado del Rey Joo VI (1792-

    1821), dos loci de cultura considerada de suma importancia para el apoyo poltico de la corona Bra-

    gantina. A lo largo de este artculo, se estudiar la fundacin de la Biblioteca Pblica de Lisboa (1796)

    y, posteriormente, analizaremos el nacimiento de la Biblioteca Pblica de Ro de Janeiro (1814). A

    travs del estudio de la figura del bibliotecario real, es posible entender los sesgos importantes de

    su actividad principal: la seleccin y catalogacin de las obras que componen la coleccin real.

    Palabras clave: D. Joo VI; las bibliotecas; los bibliotecarios; coleccin real.

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    a biblioteca pblica da corte de lisboa: locus de produo do conhecimento

    Durante o governo de d. Jos I teve incio o projeto da primeira biblioteca pblica por-tuguesa (1775-1795). Inserida dentro de uma poltica mais ampla a reforma pedaggica empreendida pelo ento primeiro-ministro portugus marqus de Pombal , a idealizao do novo espao foi do frei Manuel do Cenculo Villas-Boas, um de seus mais eminentes cola-boradores no campo do ensino e da cultura. Em relao composio do acervo, Cenculo fez uso da verba do subsdio literrio,1 imposto que seria usado para formar uma das mais importantes bibliotecas da Europa (Domingos, 1994a, p. 62). O discurso do frei nos sinaliza que os homens de letras do perodo tinham como questo primordial o compasso cultural entre Portugal e a Europa do norte, a ser atingido atravs do progresso da razo e das ar-tes.2 Os livros, nesse sentido, eram um dos principais objetos culturais responsveis por essa transformao.

    A poltica do livro em Portugal, entre o final do sculo XVIII e o incio do XIX, no entanto, foi absolutamente sui generis. No caso portugus coube monarquia o encargo de instruir e civilizar a nao por meio de uma poltica de incentivo cultural que atendesse os anseios e projetos governamentais. Implantada pelas mos da realeza, a Biblioteca Pblica reafirmava sua tradio como sinal de saber e/ou poder e, nessa tarefa, o Estado foi o principal interventor.

    Ao longo de duas dcadas (1775-1795), a primeira Biblioteca Pblica da Corte sofreu avanos e retrocessos (Domingos, 1994a, p. 68-69). Apesar das dificuldades, tal experincia foi fundamental para a fundao de sua congnere lisboeta, em 1796. A anlise das diretri-zes do alvar de 1796 nos mostra que a concepo do novo lcus de cultura j possua trs linhas mestras: a promoo dos progressos da literatura portuguesa, o estabelecimento de uma livraria pblica e o avano dos conhecimentos literrios e cientficos para a conduo dos homens ao alcance da virtuosa sabedoria (Alvar..., Biblioteca Nacional de Portugal, c-dice 10.610). Mormente em tempos de Revoluo Francesa, a constituio de uma biblioteca pblica delineava explicitamente a relao entre a soberania poltica e a constituio de um lugar institucionalizado onde o conhecimento pblico aliado memria real fosse preser-vado. Contudo, apesar de a biblioteca ser apresentada sociedade como uma instituio de cultura ao servio de todos os vassalos de S. M. Rainha D. Maria I, o acesso ao acervo foi restrito, o que j aponta para uma diferena central em relao s suas congneres europeias (Domingos, 1994b, p. 3).

    O alvar de 1796 composto por nove ordens referentes s funes administrativas e tramitaes burocrticas da Biblioteca Pblica. A sexta ordem em especial nos interessa,

    1 O subsdio literrio consistia em um imposto sobre as bebidas alcolicas cujo fim seria o financiamento de redes de escolas menores em todo o pas, servindo tambm para pagar os professores rgios e editar novos manuais pedaggicos.

    2 A poltica do livro na Frana e Inglaterra teve como mote a conciliao entre a liberdade de escrita e de im-prensa assim como o aumento da capacidade de consumo e formao de um amplo mercado de livros com os livreiros e escritores frente desse processo (Curto, 2007, p. 206).

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    pois trata do funcionamento interno do locus e dos papis exercidos por seus profissionais. O destaque dava-se para o bibliotecrio-maior, que seria o responsvel por sua direo geral, devendo responder diretamente ao ministro da Real Fazenda. Personagem central dentro da estruturao e manuteno da biblioteca, um de seus principais desgnios era servir ao bem pblico com utilidade e prontido, primando, assim, pelo efetivo atendimento aos estudiosos que forem biblioteca. Abaixo dele, encontramos o segundo bibliotecrio, cujo dever era ajud-lo no que necessrio for, substituindo-o na sua ausncia e em seus impe-dimentos (Alvar..., Biblioteca Nacional de Portugal, cdice 10.610).

    A anlise detida dos decretos de nomeao dos dois agentes basilares da recm-fun-dada Real Biblioteca Pblica da Corte Antnio Ribeiro dos Santos, o bibliotecrio-maior, e Agostinho Jos da Costa de Macedo, o segundo bibliotecrio indica-nos que, muito pro-vavelmente, a escolha desses sujeitos histricos era sustentada por um rgido critrio de se-leo. Entre as qualidades do profissional destacavam-se seus amplos conhecimentos das mais depurada literatura, experincia, madureza e probidade. Afinal, exerceria um emprego de grande considerao (Alvar..., Biblioteca Nacional de Portugal, cdice 10.610).

    o bibliotecrio-maior antnio ribeiro dos santos e o acervo da biblioteca pblica da corte de lisboa

    A escolha de Antnio Ribeiro dos Santos (1745-1818) como bibliotecrio-maior foi ba-seada especialmente em um critrio de distino: a sua biografia. Apesar de no ter linha-gem nobre, sua trajetria intelectual o qualificava como homem de vasta erudio e retido moral (Dias, 1974, p. 417). Clrigo formado em direito pela Universidade de Coimbra, onde tambm exerceu o magistrio (1779-1795) e atuou como bibliotecrio da Livraria do Estudo (1777-1796), sua projeo profissional nos meios ilustrados lusitanos deu-se desde os tem-pos da poltica reformista pombalina, da qual foi um crtico contumaz. Apesar de sua carreira poltica de destaque, este artigo visa compreender alguns vieses de sua atuao como bi-bliotecrio da Real Biblioteca Pblica da Corte.

    O experiente homem de letras esteve frente da direo do locus durante vinte anos (1796-1816). Nesse perodo, com a ajuda de um seleto grupo de sditos, que tambm esta-vam incumbidos de levar avante o novo empreendimento real, Ribeiro dos Santos estrutu-rou a nova Biblioteca Pblica (Alvar..., Biblioteca Nacional de Portugal, cdice 10.610). Seu projeto cultural priorizava a diviso do acervo (com foco na organizao por temas) e a boa utilizao do espao.

    A livraria foi arranjada em dez sees histria, belas-letras, cincias naturais e artes, ci-ncias civis e polticas, cincias eclesisticas, poligrafia, manuscritos e antiguidades sendo ainda equipada com a constante atualizao das novas produes cientficas e culturais (Pe-reira, 1983, p. 76-77). Quanto ao acervo, destacavam-se a biblioteca da Real Mesa Censria e o fundo da extinta Academia Real de Histria (Decreto..., Biblioteca Nacional de Portugal, cdice 10.612). Ademais, as duas doaes de colecionadores sui generis, como a de frei Ma-nuel do Cenculo e a dos Clrigos Regulares da Divina Providncia (teatinos), distinguiam

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    o espao entre as demais bibliotecas pblicas do reino, circunscritas aos conventos de S. Francisco e S. Domingos da Cidade e Casa de N. Sr. das Necessidades.

    No final de 1796, Manuel de Cenculo enviava a Ribeiro dos Santos dez caixas de livros (Pereira, 1983, p. 79), com destaque para a distinta literatura oriental, alm de fazer uma doao em dinheiro (Carta n. 82, Biblioteca Nacional de Portugal, Mss. 160, 80-84). Tais aes visavam ao enaltecimento do novo locus diante das demais bibliotecas do Velho Mundo e, em ltima instncia, elevao e fora do Estado.

    Assim, entre os anos de 1796 e 1802, a coroa portuguesa investiu maciamente na am-pliao do acervo. Em maio de 1798, o mordomo-mor ordenava que Ribeiro dos Santos des-pendesse at 1:200$ ris (Alvar..., Biblioteca Nacional de Portugal, cdice 10.610.) Quatro anos depois, em meados de 1802, o prncipe regente estabelecia a quantia de 1:600$ ris (um conto e seiscentos ris), tendo como meta a aquisio de livros e jornais literrios e cientficos, que eram publicados nas cortes mais polidas da Europa (Decreto..., Biblioteca Nacional de Portugal, cdice 10.612). Paralelamente, Ribeiro dos Santos compunha os vrios Catlogos da Livraria Pblica, uma experincia crucial para que o locus alcanasse o esplen-dor objetivado pela monarquia, j que sabemos o quanto a produo e classificao de um catlogo de obras impressas um ato de poder.3

    Nesse sentido, a personificao dessa atividade na figura de um homem de letras de destaque no caso Antnio Ribeiro dos Santos representava, na prtica, a exaltao da sua concepo particular de leitura; sobretudo em tempos de Encyclopdie, em que a disputa pelo prestgio intelectual tornara-se moeda de grande valia dentro do conflituoso universo da Repblica das Letras. Ao colocar o seu saber a pblico, o bibliotecrio rgio ratificava a sua fora intelectual e atribua os seus hbitos de leitura para os leitores em geral.

    A difcil tarefa de classificao das obras tambm pode ser apreendida na anlise de um de seus catlogos. Intitulado Lista de livros e peridicos estrangeiros que a Biblioteca Na-cional de Lisboa necessita adquirir de novo ou para completar colees, 1796-1816 (Biblioteca Nacional de Portugal, cdice 565), esse documento composto por uma triagem dos ttulos que interessavam ao bibliotecrio adquirir, sendo considerados balizas importantes para o progresso das letras em Portugal. A escolha foi prioritariamente europeia e esteve circuns-crita a seis locais, entre pases e cidades. Espanha, Frana, Itlia, Npoles, Berlim e Inglaterra, nesta ordem, aparecem como os espaos de produo que mereciam ser reverenciados nas estantes da biblioteca.

    Nesse sentido, entrevemos que o critrio de relevncia priorizado por Ribeiro dos Santos foi indissocivel dos centros literrios considerados de grande reconhecimento pblico na Eu-ropa iluminista. Ribeiro dos Santos hierarquizou os lugares com os quais dialogava: a pennsula Ibrica foi reverenciada pela Espanha na abertura do seu catlogo, com um total de 32 publica-es impressas. Depois, Frana e Itlia, com 53 e 28 ttulos, respectivamente. Se a primeira era a essncia do esprito enciclopdico na expresso de Franco Venturi, a segunda era a grande

    3 Sobre a dificuldade e complexidade do ato de classificar livros e bibliotecas ver Algranti, 2004, p. 179.

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    referncia da Antiguidade greco-romana, to apreciada pelos europeus desde a Renascena. Aqui podemos incluir Npoles que, juntamente com Milo, constituram-se nos principais cen-tros do Iluminismo italiano a partir de 1760 (Venturi, 2003, p. 233). Por fim, nesse movimento, sobressaram-se Berlim e Inglaterra que, para alm de terem sido apreciadores e admiradores do movimento enciclopdico, tambm brilhavam como centros filosficos. Da Gr-Bretanha, por exemplo, advinha a ideologia desta que saiu da ilha para dominar o continente. Sendo Ribeiro dos Santos um antidesta ferrenho (Pereira, 1983), no de se espantar que a Inglater-ra tenha sido relegada ao ltimo centro intelectual de seu catlogo, tendo tido os peridicos britnicos maior importncia do que as obras clssicas do pas.

    O bibliotecrio privilegiou as obras de histria, geografia, poltica, jurisprudncia, me-dicina, letras (literatura e ortografia, com nfase para os dicionrios), e cincia em geral. A natureza deste corpo documental, assim como a interveno de Ribeiro dos Santos na montagem do catlogo e na classificao das obras, provavelmente obedeceu a uma tradi-o literria com dois polos distintos: Portugal e Europa. No pas, destacava-se a relevncia do trabalho do biblifilo Diogo Barbosa Machado, que teve muito peso entre os homens de letras da segunda metade do sculo XVIII. J no Continente, a classificao da Encyclopdie era a grande referncia (Darnton, 2001, p. 252).

    curioso observamos ainda as obras selecionadas, independente dos espaos de produ-o. A nfase do catlogo foi circunscrita aos ttulos impressos na segunda metade do sculo XVIII, com especial realce para os livros e colees produzidos entre as dcadas de 1770 e 1780. Essa perspectiva, contudo, no desviou seu interesse para os livros e peridicos veiculados na Europa durante a Idade Moderna. De Britannica Lingua Institutiones, obra de Joann Cambro publicada na Inglaterra em 1592, coleo de extratos da Bibliotheca espaola econmico-poltica, impressos na Espanha a partir de 1802, Ribeiro dos Santos procurou compor as estan-tes com referncias clssicas. Nos ttulos da Itlia encontramos, por exemplo, a procura pela coleo de histria antiga, LAbbate Viviani Collecione dellHistorici antiqui Herodoto Thucydides V. Vulgarizati, publicada em Roma, em 1790. Para a Espanha, uma das escolhas recaiu em His-toria de Polbio Megapolitano traduzida do grego. J em relao Frana, Histoire del Academie Royale des Scciences de Paris apareceu como um dos cones da categoria filosofia e artes.

    A febril atividade do bibliotecrio portugus contribuiu sobremaneira na estruturao, fundao e consolidao da Real Biblioteca do Rio de Janeiro, entre os anos de 1811 e 1821. Com a chegada da Corte no Brasil (1808) e a institucionalizao da leitura neste novo lcus de cultura, nascia a atividade do bibliotecrio. O trabalho desses profissionais do lado ameri-cano do Atlntico foi altamente inspirado na sua congnere lisboeta, como veremos a seguir.

    a biblioteca pblica da corte do rio de janeiro: locus de conhecimento da nova capital do imprio luso-brasileiro

    Foi dentro desse universo da cultura letrada em que a posse, leitura e circulao de livros ganhavam cada vez mais proeminncia no imprio luso-brasileiro que ocorreu o pro-cesso de transladao da Real Biblioteca para o Rio de Janeiro. A antroploga Lilia Schwarcz

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    nos informa que o transporte das obras e colees foi tratado como questo prioritria de Estado: ao todo chegavam sessenta mil peas de diversas naturezas colocadas em 317 cai-xotes com a devida classificao, que abarcavam desde manuscritos raros perpassando do-cumentos da Coroa, at tratados de educao, mapas e gravuras (Schwarcz; Azevedo; Costa, 2002, p. 61).

    O acervo foi acomodado em uma das salas do Hospital do Convento da Ordem Terceira do Carmo, na rua Direita (Santos, 1981, p. 425). Sendo a livraria um espao emblemtico da Corte (Arajo, 2008, p. 25), era imprescindvel que a realeza constitusse esse locus de cultu-ra na nova sede de sua residncia. Ao longo de 1809, a urgncia no envio do acervo da Real Biblioteca Pblica de Lisboa arrefeceu-se devido ao fracasso no avano militar dos franceses. Por outro lado, em princpios de 1810, a coleo de obras pertencentes Real Biblioteca dAjuda comeava a ser transferida em segredo para a nova Corte. A primeira leva de caixo-tes foi acompanhada por Jos Joaquim de Oliveira, servente da Real Biblioteca (Schwarcz; Azevedo; Costa, 2002, p. 266).

    A segunda leva de caixotes chegava em maro de 1811, com Lus Joaquim dos Santos Marrocos. J em setembro do mesmo ano, este mesmo bibliotecrio informava a seu pai so-bre a entrada dos ltimos 87 caixotes de livros, que vinham sob a responsabilidade de Jos Lopes Saraiva, servente da Real Biblioteca (Marrocos, 2008, p. 96). O cuidado com esse im-portante acervo documental carregava consigo, simbolicamente, a apregoada superiorida-de poltica da nao portuguesa perante os europeus. A histria de suas grandes conquistas e vitrias atravessava o oceano juntamente com seus sditos mais diletos: os funcionrios da Real Biblioteca dAjuda e da Real Biblioteca Pblica de Lisboa, que sabiam catalog-lo da forma mais adequada organizao de sua congnere no Brasil.

    A direo do novo espao estava nas mos do padre Joaquim Dmaso, pertencente Congregao do Oratrio de Lisboa, e de frei Gregrio Jos Viegas, da terceira ordem de So Francisco. Juntos dividiam o cargo de prefeito maior autoridade na hierarquia social da instituio, a quem cabia a responsabilidade do arranjo e conservao do acervo da biblio-teca assim como de sua administrao geral.

    Em 1814, a Real Biblioteca do Rio de Janeiro era aberta ao pblico. As observaes do padre Perereca nos colocam a par do trabalho dos funcionrios da instituio entre os anos de 1810 e 1814. Segundo o religioso, o novo empreendimento cultural da realeza foi organizado em salas especficas, as colees foram distribudas por temas e as obras devidamente classificadas (Santos, 1981, p. 425-426). Um trabalho de tal monta contou com a ativa colaborao do prncipe regente que se preocupava em manter viva a cons-tituio do acervo, juntamente com os seus bibliotecrios, responsveis pela aquisio de novas obras e pelo zelo do espao. Dentre os critrios que permearam a estrutura-o do espao, Lus Joaquim dos Santos Marrocos destacou a criao de um Plano de estabelecimento pblico, e arranjamento melhor dos empregados das reais bibliotecas (Marrocos, 2008, p. 88) e a escolha do Sistema de classificao bibliogrfica feita pelo doutor Antnio Ribeiro dos Santos para balizar a composio do novo acervo (Marrocos, 2008, p. 93).

  • p. 226 jul./dez. 2013

    notas sobre o acervo da biblioteca pblica do rio de janeiro

    Nesse cenrio intelectual em que o livro e a leitura emergiam como instrumentos funda-mentais na formao de novas ideias crticas ao status quo, emergem-nos algumas dvidas. Apesar da rica descrio do padre Perereca sobre a organizao do interior do espao, como as estantes foram dispostas? E a catalogao das obras? Que tipos de livros estavam dispo-sio dos leitores? Como j bem demonstraram os pesquisadores Rubens Borba de Moraes e Maria Beatriz Nizza da Silva, devido amplitude do acervo no possvel termos uma noo exata dos volumes e tipos de livros existentes na livraria rgia (Moraes, 1979; Silva, 1999). A despeito disso, a conservao de um catlogo da Real Biblioteca na Seo de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro nos d importantes indicaes sobre o interior do es-pao. Importante ressaltar que a pesquisa do acervo da Real Biblioteca est em andamento, sendo este artigo resultado de uma primeira anlise do catlogo.

    Intitulado Catlogo por ordem alfabtica das iniciais dos ttulos de uma srie de obras per-tencentes Real Biblioteca (Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Mss. I 13, 02,056), este manuscrito nos revela a existncia de 306 ttulos divididos em 65 estantes. Sendo um docu-mento pouco explorado pelos pesquisadores do perodo,4 pretendemos conhecer em linhas gerais o que tinha dentro da biblioteca e assim perceber algumas nuanas da atividade do bibliotecrio ao organizar e catalogar as estantes que compunham o locus.

    Sem data e autoria, as obras foram catalogadas por ordem alfabtica, de A a V, e os temas respeitam as escolhas literrias clssicas do sculo XVIII. Segundo Lcia Neves, a clas-sificao das obras da Real Biblioteca do Rio de Janeiro tinha por base o critrio retirado do catlogo do conde da Barca, dividido em cinco categorias: jurisprudncia, cincias e artes, belas-letras, histria e teologia (Neves, 2009, p. 279). Dentro dessas reas do saber, o autor elegeu a histria como a grande protagonista.

    As obras referentes ao tema aparecem em quase todo o alfabeto, porm a maior refe-rncia esteve circunscrita letra H do catlogo, somando 55 ttulos. E os subtemas so bem amplos, da histria militar e naval histria da botnica, perpassando a histria antiga, histria da Europa Ocidental, histria oriental, histria eclesistica e, obviamente, a histria de Portugal. Esta escolha no , de modo algum, inusitada. Pelo contrrio, dialogava com a tendncia dos livreiros europeus do perodo, que no incio do sculo XIX passaram a mani-festar importncia crescente para os livros de histria (Guedes, 1987, p. 135).

    Porm, de forma mais geral, entre os subttulos h o predomnio para as obras militares, que compe um total de 23 livros. Entre as cincias, a valorizao da fsica e da matemtica patente, inclusive com obras de Belidor e Saint Remy. As obras de mineralogia, astronomia e agricultura, mesmo que em menor nmero, mereceram destaque por todo o catlogo. Nas belas-letras, a nfase deu-se para os dicionrios. Porm, dentro dessa classificao tambm encontramos novelas, poesia e obras de retrica.

    4 Maria Beatriz Nizza da Silva faz meno ao catlogo sem, contudo, analis-lo (Silva, 1999).

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    A deferncia produo intelectual francesa seja atravs da seleo de autores clssi-cos ou de obras traduzidas para o francs indiscutvel: composto pela quase totalidade das obras selecionadas (226), o catlogo privilegia temas da literatura poltica e das belas-letras, incluindo-se a o teatro. Entre as celebridades da Repblica das Letras, encontramos Montaigne, Erasmo de Rotterdam, Maquiavel, Bossuet, Fenellon e Corneille. Quanto aos fi-lsofos iluministas, a referncia foi Voltaire. Com Annales de LEmpire depuis Charles Magne (1754), Siecle de Luis 14 (1756) e Histoire universelle, o autor sedicioso tambm estava presen-te. O catlogo tambm prestigia ttulos em portugus (55), sendo as menes, obviamente, para atores nacionais renomados. Obras completas do Padre Vieira, Escola de Belm Jesus nas-cido no prespio (1730), por Alexandre de Gusmo, e trs obras de Manuel de Faria & Sousa Histoire del Reyno de Portugal (1730), Nobilirio de Dom Pedro Conde de Barcelos (1646) e Rimas vrias de Lus [de] Cames (1685) so os destaques do acervo lusitano. Em menor escala ainda encontramos obras em latim (9), italiano (4) e espanhol (9). Como bem analisa Roger Chartier, graas difuso dos catlogos, o mundo fechado das bibliotecas singulares pode ser transformado em um universo infinito de livros assinalados, recenseados, visitados, consultados e, eventualmente, emprestados (Chartier, 1999, p. 74).

    Por este prisma, mesmo sem conhecermos a data e a identidade do autor do catlogo, h a hiptese de que ele tenha sido produzido por um dos bibliotecrios rgios, uma vez que o ttulo do manuscrito faz referncia Real Biblioteca (denominao da instituio at 1825, quando passou a ser Biblioteca Imperial e Pblica da Corte). Nesse sentido, plausvel supormos que as obras selecionadas, talvez sejam as que mais interessavam Coroa adqui-rir. Para termos uma ideia da composio das estantes, selecionamos, a ttulo de exemplo, a estante 56 com suas respectivas obras. A escolha desta estante em especfico justifica-se pelo grande nmero (e variedade temtica) de livros que a compunham, quando comparada s demais estantes do catlogo.

    a estante 56 da real biblioteca do rio de janeiro

    ttuloslocal/ ano de

    publicao

    Astronomie Nautique ou Elements dAstronomie por un Observatoire fixe, ou mobile par Maupertais Paris

    Abrege de la Perfection Christienne du Pere Affone [ilegvel] Jezuitte Nantes, 1744

    Apparas Royal ou Nouveau Dictionnaire Francaise & LatinVouvelle Edition Paris Paris, 1752

    Cathecisme Historique par Heury 1745

    Dictionnaire Abreg de la Bible pour la connoissance des Tableaux Historique Lion, 1756

    Dialogue sur la eloquence & de la chaire en particulier par Fenellon Paris, 1753

    Discours sur la Histoire Universelle par Jaque Begnigne Bossuet Paris, 1741

  • p. 228 jul./dez. 2013

    Fonte: Biblioteca Nacional, Mss. I 13, 02,056.

    H uma grande variedade de ttulos na estante 56. Obras cientficas, dicionrios, livros de histria, geografia, ortografia, literatura e poltica. Trs escritores, todavia, nos chamam a ateno: Fnelon (1651-1715), um autor muito lido por d. Joo VI (Pedreira; Costa, 2008, p. 43), Jacques Bossuet (1627-1704), um dos mais importantes tericos do absolutismo no sculo XVII, e Marmontel (1723-1799), literato francs de renome, que j tinha cado no gosto portugus desde meados de 1800 (Guedes, 1987, p. 138). O que notamos em todo o catlogo, mas, especificamente, nesta estante, que a seleo dos livros para compo-rem o mesmo espao no obedece, necessariamente, um critrio temtico, temporal ou por naes. A variedade de ttulos parecia ser a regra. Tal afirmao, contudo, necessita de investigao mais detalhada em todo o catlogo para que possamos tirar concluses mais precisas. A anlise detida de cada uma dessas estantes talvez nos d outros indcios importantes acerca do projeto real de compor uma biblioteca pblica na nova capital do imprio luso-brasileiro.

    Geographie Universelle abrege avec les generalits de France & les Villes ou lon Cat Monnoye Lion, 1672

    Gentilhomme Christien quivent se santifies Londres, 1719

    Historie Des Empereurs Romaine ecrite en Latin por Suetone & Traduite por Dateil avec Nottes & Figures Lion, 1689

    Historie Des Variations de lglize Protestante por Bossuet Paris, 1740

    Historie Sur les Anglais & Franais & sur les Voyages 1725

    Heures a luzage des Pensionnaires des jesuites por Le Pre Troisel ---

    Letres de Madame du Montier a la Marquise de XX a fille & le Reoponses Bruxelas, 1756

    Memoirs de Montecuculi Generalissime des Troupes de LEmpereur Itransburg 1740

    Memoirs de Duque Trouin Lientenant General des Armes Navales de France Amsterd, 1755

    Memoirs contenant leprecis des faits avec pieces justificatives pour reponse aux Ministres Anglois Paris, 1756

    Manuel des Ceremonies Romaines 1691

    Murs des Iseralites & des Christiens por Fleury Paris, 1755

    Oeuvres de Marmontel 1757

    Revolution de Portugal par LAbe du Vertot Haia, 1755

    Traitt de Lortografie franaise en forme de Dicttionnaire avec des Nottes Critiques 1755

    Vie de Mahomet Traduite & Compile de Laceran des Traductions authentiques & meilleurs Autheurs Arabes par Jean Gagnus Amsterd, 1748

  • acervo, rio de janeiro, v. 26, n 2, p. 220-230, jul./dez. 2013 p. 229

    Como pudemos notar, a atividade dos bibliotecrios rgios foi central no processo de estruturao e consolidao das bibliotecas pblicas nas duas capitais do imprio luso-bra-sileiro. Para alm da ampla formao intelectual, este funcionrio deveria ser um sdito fiel e leal monarquia, realizando uma constante poltica de aquisio e preservao de novas obras. Nesse sentido, pensavam o processo de leitura que interessava Coroa veicular. Em outras palavras, tinham que ser bons leitores da realidade poltica do imprio. Escolher o qu os sditos deveriam/poderiam ler e conhecer, afinal, no indica apenas um processo civili-zacional em curso capitaneado pela Coroa. , antes de tudo, indissocivel de uma questo central para a monarquia bragantina: a manuteno da soberania poltica.

    R e f e r n c i a s b i b l i o g r f i c a s

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    AVISO de Sua Alteza em que mandou depositar na Real Biblioteca de Lisboa os documentos, e mss. da Academia Real de Histria Portuguesa. Biblioteca Nacional de Portugal. Seo de Reservados. Cd. 10.612.

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  • p. 230 jul./dez. 2013

    Recebido em 14/7/2013 Aprovado em 20/8/2013

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