bibliografia de pesquisas científicas de fenômenos espíritas · resumo uma bibliografia de quase...

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Espiritismo científico - 1 Bibliografia de Pesquisas Científicas de Fenômenos Espíritas Luiz Otávio Saraiva Ferreira Campinas - SP – Brasil Junho de 1995. Este texto tem os seus direitos autorais protegidos por registro no Escritório de Direitos Autorais da Fundação BIBLIOTECA NACIONAL do Ministério da Cultura da República Federativa do BRASIL sob o N.º de Registro 99.301, no Livro 141, Folha 358. O AUTOR AUTORIZA A REPRODUÇÃO DESTE TEXTO DESDE QUE SEJA CITADA A FONTE (TÍTULO DO TRABALHO, AUTOR E VEÍCULO DE DIVULGAÇÃO), E DESDE QUE A REPRODUÇÃO SEJA PARA USO ESTRITAMENTE PESSOAL.

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Espiritismo científico - 1

Bibliografia de Pesquisas Científicas de Fenômenos Espíritas

Luiz Otávio Saraiva Ferreira

Campinas - SP – Brasil

Junho de 1995.

Este texto tem os seus direitos autorais protegidos por registro no Escritório de Direitos Autorais da Fundação BIBLIOTECA NACIONAL do Ministério da Cultura da República Federativa do BRASIL

sob o N.º de Registro 99.301, no Livro 141, Folha 358. O AUTOR AUTORIZA A REPRODUÇÃO DESTE TEXTO DESDE QUE SEJA CITADA A FONTE

(TÍTULO DO TRABALHO, AUTOR E VEÍCULO DE DIVULGAÇÃO), E DESDE QUE A REPRODUÇÃO SEJA PARA USO ESTRITAMENTE PESSOAL.

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Resumo Uma bibliografia de quase 400 publicações que abrange os fenômenos espíritas, a história de suas

descobertas e as pesquisas científicas realizadas com o fim de se entendê-los e se criar uma teoria para explicá-los. Esse catálogo de obras permite ao interessado na investigação científica dos fenômenos espí-ritas ter contato com os principais trabalhos realizados na área, e visa atender especificamente aos pes-quisadores interessados na hipótese do espírito. As informações foram classificadas conforme os seguin-tes títulos:

• • • • Do Magnetismo Animal ao Hipnotismo • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Introdução O Que é Ciência Revisão Histórica

Do Magnetismo Animal ao Espiritismo O Período Espirítico O Início do Período Científico A "Psychical Research" A Metapsíquica A Metapsíquica e a Psicanálise As Comissões de Investigação A Parapsicologia A Psicotrônica A Psicobiofísica Pesquisas de OOBE (Experiência Fora-do-corpo) Pesquisas de NDE (Experiência de Quase-Morte) Pesquisas de Reencarnação Pesquisas de EVP (Fenômeno das Vozes Eletrônicas) Pesquisas Espíritas da Atualidade Conclusão Referências Bibliográficas Bibliografia

Agradecimentos - este trabalho foi possível graças às preciosas fontes bibliográficas cedidas pelo Dr. Hernani Guimarães Andrade e Prof.a. Suzuko Hashizume, do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psico-biofísicas, e pelo Eng.o. Alcivan Wanderley de Miranda Fo., do Instituto Labor, e pelo Prof. Dr. Aécio Pe-reira Chagas.

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Introdução Nos tópicos seguintes são descritos o objetivo e o escopo, i. e., a abrangência deste trabalho

Objetivo Desde o Episódio de Hydesville, em 1848, que a quase totalidade das pesquisas dos fenômenos

espíritas gira em torno de um único ponto: a comprovação da existência dos fenômenos. E cada nova ge-ração de pesquisadores insiste em renegar as conclusões da geração anterior para recomeçar da estaca-zero, com as mesmas indagações, de vez que sempre se chega ao beco-sem-saida de ter-se que admitir a existência do espírito. E como o dogma materialista não pode ser contrariado, tem-se que renegar tudo para recomeçar sempre.

É necessária a idéia do espírito para se romper esse círculo vicioso, e o Brasil é o único país do Ocidente em condições de, atualmente, rompê-lo, de vez que conta com milhões de adeptos do Espiritis-mo, dentre os quais muitos pesquisadores profissionais, para os quais o espiritualismo é o ponto de parti-da para suas interrogações à natureza, e para os quais a teoria espírita elaborada por Kardec e a convi-vência com os fenômenos espíritas já ensinaram muito do que é necessário saber-se, na prática, para a boa condução desse tipo de pesquisa.

Toda pesquisa científica tem que iniciar-se por uma pesquisa bibliográfica, a fim de que se saiba o que já foi feito e, a partir daí, critique-se o estabelecido, proponham-se alternativas, e se crie algo de novo. Para facilitar esse primeiro passo das pesquisas é que este trabalho apresenta ao leitor, inicialmente, as modernas conceituações de Ciência, e em seguida uma ampla bibliografia.

Escopo Inicialmente são apresentadas as modernas conceituações de Ciência, de vez que os conceitos de

Ciência mais difundidos e aceitos na sociedade em geral e mesmo na comunidade científica são inteira-mente ultrapassados. Em seguida vem uma resenha bibliográfica das pesquisas de fenômenos espíritas que cobre o período que se inicia no ano 1779, com o trabalho de Mesmer, passa pelo surgimento do Es-piritismo a partir das pesquisas de Kardec; pelo período das pesquisas espiríticas iniciado por William Crookes em 1870; pela Metapsíquica de Charles Richet no início do século XX; pela Parapsicologia de Rhine, criada em 1934; pela Psicotrônica, criada nos antigos países comunistas depois de 1945; pela Psi-cobiofísica de Andrade, criada em 1958; pelas pesquisas sobre reencarnação, vozes eletrônicas, e via-gens astrais; e termina com as recentes pesquisas espíritas de Tourinho e de Miranda. São citados os pesquisadores e instituições cujas produções são importantes para o conhecimento da fenomenologia espírita, bem como as teorias e hipóteses sobre os mecanismos naturais que os produzem.

Breves resumos dos assuntos tratados nas referências são apresentados nos diversos tópicos deste trabalho, para facilitar a busca da literatura citada, na qual podem ser achadas as informações deta-lhadas.

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O Que é Ciência Há um grande desconhecimento, mesmo no seio da comunidade científica, do que seja realmente

Ciência. O conceito de Ciência foi sendo refinado ao longo do tempo a partir do século XVII, quando co-meçou a surgir o que hoje se entende por Ciência, e a grande maioria dos membros da comunidade cien-tífica ainda se encontra apegado a conceitos inteiramente ultrapassados pelas modernas pesquisas da História da Ciência e da Filosofia da Ciência.

Esclarecedora literatura a esse respeito foi produzida pelo químico brasileiro Aécio P. Chagas, des-tacando-se os seguintes artigos:

artigo[67] em que passa em revista a história e a conceituação de Ciência, esclarecendo seu caráter de obra coletiva (Ciência Comunidade), o conceito de Filosofia da Ciência, os objetivos da Ciência, os mitos sobre a Ciência, a idéia de “Ciência Oficial”, o caráter científico da obra de Kardec, o lugar da Ciência no conhecimento humano, e a relação entre a Ciência e o Espiritis-mo; o artigo[68] intitulado “Espiritismo: Ciência da Mediunidade”, em que aborda o caráter científico da obra de Kardec, o estudo das religiões sob o ponto de vista espiritista, a contribuição da vi-são espírita da Natureza para as Ciências Humanas, e procura desmistificar a relação entre o Espiritismo e as outras ciências; os artigos[70,78] em que aborda (e desmistifica) a questão das provas científicas da sobrevi-vência do espírito, as quais não necessitam da chancela das outras ciências assim como, por exemplo, a Química não precisa da chancela da Física para suas teorias e vice-versa; e o artigo[71] em que as relações entre o Espiritismo e a comunidade acadêmica são analisados sob os pontos de vista histórico, social e filosófico, cogitando sobre a possibilidade de se faze-rem pesquisas espíritas na Comunidade Acadêmica (Universidades e Institutos de Pesquisas).

Igualmente esclarecedora literatura foi produzida pelo físico e filósofo brasileiro Chibeni, destacan-do-se os seguintes artigos:

artigo[72] em que apresenta a visão clássica da Ciência, a visão moderna de Ciência sob os pontos-de-vista de Popper[256], Kuhn[257] e Lakatos[258,259], a análise do caráter científico do Espiritismo e a comparação do Espiritismo com outras linhas de pesquisa que estudam os fenômenos espíritas, artigos[73,74] em que apresenta a visão de Ciência de Lakatos e analisa o Espiritismo, conclu-indo que este “possui todas as características de um programa de pesquisa progressivo, sen-do, portanto, genuinamente científico”, segundo o critério de Lakatos, e nitidamente superior às assim chamadas “Ciências PSI”, que são baseadas no Positivismo, que é uma visão superada de Ciência, artigo[75] em que apresenta a visão de Ciência do filósofo Kuhn, a compara com as visões an-teriores e apresenta argumentos que mostram que a Doutrina Espírita é genuinamente científi-ca, constituindo um Paradigma Científico no sentido apontado por Kuhn. Nesse trabalho Chi-beni afirma: “a obra de Kardec constitui um genuíno paradigma científico, e esse paradigma re-presenta, até hoje, a única diretriz segura ao longo da qual se podem desenvolver pesquisas científicas acerca dos fenômenos espíritas e do aspecto espiritual do ser humano em geral”.

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Revisão Histórica Boas referências históricas sobre a fenomenologia espírita são Conan Doyle[1], Richet[80], René

Sudre[3], Wantuil[4], a série de 27 artigos de H. G. Andrade sob o pseudônimo de Goldstein[13,...,39], intitulados coletivamente de “Parapsicologia - Uma Visão Panorâmica”, e Miranda[5].

Do Magnetismo Animal ao Hipnotismo Mesmer[3,5,15] foi um médico austríaco que, em 1779, publicou uma memória[84] defendendo a

existência de um “fluido universal”, o qual poderia ser utilizado na cura de doenças. Experimentou trata-mentos com imãs (magnetos), mas concluiu que o próprio corpo humano emanava forças mais poderosas que as do imã, as quais denominou então de “magnetismo animal”. Teve como seguidor o marquês de Puységur[3,5,16] que, ao experimentar magnetizar camponeses, descobriu o sonambulismo experimen-tal[85,86,87], em que os pacientes sob transe induzido apresentavam telepatia, visão com as pontas dos dedos, clarividência e outros fenômenos. Puységur, por sua vez, fez numerosos discípulos. Embora du-rante certo tempo rejeitada pelas academias científicas, no início do século XIX a doutrina do “magnetismo animal” estava muito difundida na Europa, sendo natural que o fenômeno das mesas girantes, surgido em torno de 1850, nos EUA, e logo repetido no continente europeu, fosse classificado como uma nova propri-edade do magnetismo animal.

Os pacientes submetidos aos “passes magnéticos” às vezes entravam em estados de sono de pro-fundidade variável, chamados de “sono magnético” ou “estados magnéticos”. Foi um dos discípulos do marquês de Puységur, o Abade Faria[5] (José Custódio de Faria), que assentou as bases da interpretação científica do magnetismo[88], tendo sido ainda um dos primeiros a experimentar o uso de sugestões ver-bais na manipulação magnética dos pacientes.

O magnetismo animal teve boa acolhida na Alemanha, onde merecem destaque as pesquisas do Dr. Justinus Kerner, que estudou a Vidente de Prevorst[102] (a famosa médium sonâmbula Fredérique Hauffe), cujos fenômenos de efeitos físicos testemunhou em companhia de Strauss e do magistrado Pfaf-fen[4]; as pesquisas do químico austríaco Reichenbach[93,...,96] sobre a visão das auras dos imãs, cris-tais e corpo humano pelos sensitivos (entre 1845 e 1868); e as memórias publicadas por Schopenhau-er[97,98].

É atribuído ao médico francês Alexandre Bertrand[89,90], que publicou seu primeiro livro a respeito em 1823, a descoberta da importância da sugestão no transe induzido.

Coube ao cirurgião inglês James Braid[3,16], no ano 1841, após estudar os fenômenos do magne-tismo, dar-lhes uma conceituação científica e fisiológica, criando o Hipnotismo[83] e sua terminologia, que é a mesma utilizada atualmente. Segundo a nova teoria, tudo devia-se à imaginação do paciente agindo sobre seu sistema nervoso (hipótese animista), rejeitando-se então a hipótese dos fluidos (hipótese fluidis-ta).

Estava assim criada a divisão entre fluidistas e animistas, que perdura até nossos dias. Dessa época em diante a interpretação fisiológica do hipnotismo predominou, embora dentre os

fenômenos atribuídos ao magnetismo animal ou ao hipnotismo estejam alguns que mais tarde foram reco-nhecidos como fenômenos paranormais, como, por exemplo, a telepatia[18], para o qual não há explica-ção nem fisiológica nem física[19].

Durand de Gros[3,99,100] foi o primeiro a perceber a diferença entre o mesmerismo, o hipnotismo e a sugestão.

Do Magnetismo Animal ao Espiritismo As experiências com magnetismo animal e hipnotismo levavam os pesquisadores a depararem-se

freqüentemente com fenômenos que extrapolavam os domínios dessas disciplinas (telepatia, visão com as pontas dos dedos, clarividência e outros), os quais suscitavam, dentre outras, a hipótese do espírito como explicação. Entre outros casos bem documentados que extrapolam as explicações do magnetismo animal e do hipnotismo, são citados abaixo os de Swedemborg, dos Shakers, de Andrew Jackson Davis e o Episódio de Hydesville, o qual colocou a hipótese do espírito em pauta definitivamente.

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Swedemborg Vidente sueco[1,3], que teve suas faculdades despertadas em 1744, em Londres, aos 25 anos. Foi

um grande engenheiro de minas, uma autoridade em metalurgia, brilhante engenheiro militar, autoridade em Física e em Astronomia. Foi também zoologista, anatomista, financista e político. Conhecia profunda-mente a Bíblia. Escreveu várias obras[104,105,106], em que mistura narrativas de suas experiências me-diúnicas, especialmente desdobramentos, a interpretações teológicas dessas mesmas experiências. Sob sua influência criou-se a Nova Igreja, a qual, segundo Conan Doyle[1], "converteu-se em elemento negati-vo, em vez de ocupar o seu verdadeiro lugar como fonte e origem do conhecimento psíquico".

Os "shakers" À mesma época, grupos "shakers" (refugiados religiosos da Inglaterra) se estabeleceram em co-

munidades nos EUA. Cultivavam o mediunismo, que chegou a manifestar-se em forma de transes coleti-vos durante sete anos consecutivos, após os quais os entes manifestantes, que se afirmavam espíritos, retiraram-se afirmando que retornariam em breve e então invadiriam o mundo, entrando tanto nas chou-panas quanto nos palácios. Suas experiências, foram descritas em vários livros e arti-gos[109,110,111,112,113].

Andrew Jackson Davis Grande médium vidente, clarividente, audiente, clariaudiente, psicógrafo e psicofônico[1]. Quando

submetido a transes magnéticos ditou mais de 30 livros, intitulados coletivamente de Filosofia Harmônica e de Revelações Divinas da Natureza, que tiveram grande impacto nos EUA. Em transe apresentava o fenômeno de xenoglossia, embora fosse de parca instrução, e previu[107], antes de 1856, detalhes do automóvel e da máquina de escrever, que seriam inventados várias décadas depois. Previu, em 1847, o aparecimento do Espiritismo[108], o que se daria no ano seguinte com o Episódio de Hydesville.

O Período Espirítico Esse período vai do Episódio de Hydesville (1848) até as primeiras pesquisas de Sir William Croo-

kes (1870), sendo a discussão da hipótese do espírito sua temática central, porém sem maiores envolvi-mentos da ciência oficial.

O Episódio de Hydesville O dia 31 de março de 1848 é o marco inicial do espiritualismo moderno, conforme narrado por Co-

nan Doyle[1]. A família Fox, de Hydesville, estado de Nova York, EUA, teve um caso de "poltergeist", que culminou com um diálogo através de pancadas entre a filha mais nova, Kate, de onze anos, e uma inteli-gência que se dizia o espírito de um caixeiro-viajante (cujos despojos foram encontrados apenas em 1904[114]), que teria sido assassinado pelos antigos moradores da casa. Os fenômenos continuaram mesmo em presença de uma multidão de curiosos. Ocorreu assim a primeira manifestação pública de diálogo com os espíritos. Deflagrou-se uma onda de manifestações espíritas espontâneas e provocadas, que se espalhou inicialmente pelos EUA, e extravasou-se para a Europa e demais Américas. Tamanha foi sua repercussão que suscitaram as primeiras pesquisas de cientistas sobre fenômenos paranormais, fei-tas na Universidade de Buffalo em 1851[131]. Concluíram eles pela fraude (estalos do joelho) das irmãs Fox. Esse resultado foi contestado por outros pesquisadores[1], de vez que as irmãs já haviam sido sub-metidas a inúmeras comissões de investigação. Os jornais das cidades de Rochester e de Nova York, daquela época, são fartos em artigos sobre esse episódio e outros que o sucederam, instaurando o Mo-dern Spiritualism nos EUA. Elder Evans e outro "shaker" foram visitar as irmãs Fox em Rochester tão logo tomaram conhecimento das manifestações espíritas ocorridas com elas, e foram saudados entusiastica-mente pelas forças invisíveis, que diziam que aquilo era o trabalho que tinha sido predito aos "shakers" quatro anos antes[1].

As Mesas Girantes Segundo Wantuil[4], em fins de 1850 os próprios espíritos sugeriram, através das batidas em códi-

go, que os experimentadores se colocassem ao redor de uma mesa, apoiando as mãos sobre ela e, ao ser proferida a letra do alfabeto adequada, a mesa levantaria um dos pés e daria uma pancada, formando-se letra-a-letra as mensagens que os espíritos queriam transmitir. Estava estabelecido assim o fenômeno

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das mesas girantes, que logo se popularizou nos EUA e, atravessando o atlântico, tornou-se o brinquedo noturno da moda nos salões Europeus.

Deve-se esclarecer que o fenômeno das mesas girantes era conhecido nas antigüidades grega[81] e romana[82], embora tivessem caido no esquecimento posteriormente.

Os fenômenos espíritas, de tão paradoxais, fizeram que a maioria dos cientistas que os estudaram se concentrassem na comprovação da existência, ao invés de procurarem descobrir os mecanismos natu-rais que os produziam.

Em meio a um clima de enorme desconfiança e, segundo Conan Doyle[1], sem qualquer conheci-mento dos perigos e desgastes a que estavam se submetendo, Ate e Margareth Fox, as médiuns através das quais foi iniciada a onda de fenômenos espíritas, fizeram, a conselho das inteligências que se comu-nicavam através delas, demonstrações públicas nos EUA durante mais de vinte anos. Em 1871 Kate foi a Londres, sendo aí submetida a testes por, dentre outros, Sir William Crookes, o famoso químico descobri-dor do tálio e do tubo de raios catódicos. Há relatos de que nessa época chegou a produzir materializa-ções luminosas. Margareth e Leah (a irmã mais velha) juntaram-se a ela pouco tempo depois.

Tantas foram as pressões psicológicas sobre Margareth e Kate que suas faculdades entraram em declínio por causa de alcoolismo, e elas morreram no início da década de 1890. Digno de nota é o livro de Leah Fox, que revelou-se a única das três a compreender as importantes implicações filosóficas e morais, para a humanidade, dos fenômenos com que lidavam[133].

As Mesas Girantes nos EUA Em janeiro de 1851 o famoso jurista John Worth Edmonds, ex-senador, ex-juiz do Supremo Tribu-

nal de New York, materialista confesso, declara-se convencido da realidade do espírito[116], após haver presenciado os mais diversos fenômenos de efeitos físicos e de efeitos intelectuais produzidos sob o mais rigoroso controle. O anúncio de sua conversão abalou profundamente a opinião pública norte-americana[4,113].

Aproximadamente à mesma época o ex-governador do Winscosin e senador N. P. Tallmadge, den-tre outros homens célebres dos EUA, também declarou publicamente sua adesão ao espiritualismo, em função das provas experimentais da sobrevivência obtidas[4,113].

Em 1852 os professores W. Bryant, B. K. Bliss, W. Edwards, e David A. Wells, da Universidade de Harvard, após escrupulosos experimentos, publicaram um manifesto em apoio à autenticidade do fenô-meno de levitação de mesas[4,130].

O primeiro presidente da Universidade de Cleveland, Rev. Mahan[134], sustentou a tese do fluido magnético para explicar os novos fenômenos, e o Dr. Robert Hare — professor de química da Universida-de de Pensilvânia, fez uma série de experiências com fenômenos espíritas, iniciando com os métodos e aparelhos relatados por Faraday em seu relatório à Sociedade Dialética de Londres, e em seguida desen-volvendo seus próprios métodos e aparelhos, com o que se convenceu da realidade dos fenômenos em questão. Em 1853 publicou um livro relatando suas experiências e conclusões[135], as quais apontavam a existência dos espíritos como causa dos tais fenômenos. Por isso foi praticamente obrigado a renunciar à sua cátedra na Universidade de Pensilvânia, e sofreu perseguições da Associação Científica Americana e de professores da Universidade de Harvard[1].

Além dos principais jornais norte-americanos, uma interessante fonte de consulta sobre fatos da época é o periódico "Spiritual Telegraph"[115], primeiro jornal espiritista do mundo.

Tamanho interesse tinham despertado os fenômenos espíritas nos EUA, que alguns médiuns atra-vessaram o Atlântico e levaram as mesas girantes para a Inglaterra, onde logo o fenômeno era assunto de todas as rodas.

As Mesas Girantes na Inglaterra Os primeiros médiuns americanos desembarcaram na Inglaterra em 1852, levando para lá os no-

vos fenômenos[1,4], que a essa altura incluíam, além das batidas, as materializações, levitações, escrita direta, voz direta, psicografia, psicofonia, vidência, clarividência e outros. Foram feitas pesquisas pelo cé-lebre matemático e filósofo Prof. De Morgan[136], que concluiu pela veracidade dos fenômenos. Faraday realizou pesquisas sobre as mesas girantes[137], concluindo que tudo se devia a movimentos inconscien-tes dos médiuns, embora houvesse casos registrados de movimentos das mesas sem contato dos mé-diuns, conforme réplica do marquês de Mirville[119] a Faraday. O assunto não mereceu maiores envolvi-mentos da ciência até 1869, quando foi nomeada uma comissão pela Sociedade Dialética de Londres.

As Mesas Girantes na Alemanha O Dr. Kerner, que já havia estudado a Vidente de Prevorst, publicou um livro sobre as mesas giran-

tes[103], e uma comissão de renomados professores da Universidade de Heidelberg, composta por Karl

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Mittermaier, Henrich Zoepfl, Robert von Mohl, Renaud, Vangerow, Carl von Eschemayer, Joseph Enne-moser, o Dr. Justinus Kerner, e o Dr. Loewe também pesquisou o fenômeno das mesas girantes, publi-cando um relatório a respeito[4,117,118]. As experiências com o fenômeno das mesas girantes na Alema-nha logo ganharam espaço na imprensa francesa, estimulando a divulgação do fenômeno naquele país[4].

As Mesas Girantes na França Segundo Wantuil[4], o marquês de Mirville[118], literato Eugène Nus[120], e o conde de Gaspa-

rin[137] historiam a chegada do fenômeno das mesas girantes à França, em 1853. Mirville defendia a rea-lidade dos fenômenos e exigia o pronunciamento da ciência sobre eles. O químico Michel Chevrel, em resposta a Mirville, em nome da Academia de Ciências de Paris, publicou um livro[121] em que explicava os fenômenos da vara divinatória, do pêndulo e das mesas girantes como frutos ou da charlatanice ou de movimentos inconscientes dos operadores, no que foi imediatamente refutado por Mirville[119], por Gas-parin[137], e pelo Dr. Louis Figuier[122], os quais apontaram no trabalho de Chevrel, além de graves fa-lhas metodológicas e de argumentação, a omissão de fatos comprovados. Era opinião corrente na época que as mesas girantes poderiam ser explicadas pelo magnetismo animal, mas o magnetismo animal não era bem visto pelas academias científicas, estabelecendo-se calorosa contenda entre os magnetistas e seus adversários. O fenômeno das mesas girantes veio confundir ainda mais os debates, pois suscitava a interpretação de que por trás dele haveria a existência de espíritos, o que chocava tanto as mentes que tinham os espíritos como crendices populares quanto as que os tinham como coisas demoníacas.

Alguns periódicos franceses da época são também importantes fontes bibliográficas sobre os fe-nômenos do magnetismo animal, sonambulismo, e espiritismo[124,125,126,127,128,129].

Surgimento do Espiritismo O educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido pelo pseudônimo de Allan

Kardec, iniciou estudos dos fenômenos das mesas girantes, escrita automática e outros, aplicando-lhes o método científico. O primeiro fruto dessas investigações foi "O Livro dos Espíritos", em que a interpretação dos fenômenos observados o leva à conclusão da existência e comunicação dos espíritos. Devem-se a ele a criação das palavras "médium", "mediunidade", e "espiritismo", dentre outras. Nota-se em sua obra uma grande influência da idéia do magnetismo animal. Fundou em 1858 e dirigiu a "Revue Spirite", que foi importante fórum de debates sobre a fenomenologia, filosofia e religião espíritas. O mais antigo tratado específico sobre mediunidade foi lançado pelo mesmo autor em 1861 sob o título de "O Livro dos Mé-diuns". Kardec foi classificado por Charles Richet com o mais influente personagem, entre os anos de 1847 e 1871, na ciência do paranormal. Maiores detalhes biográficos podem ser encontrados na biografia elaborada por Wantuil[6].

(OBS: Os termos entre parênteses nos dois parágrafos abaixo são acrésci-mos aos textos originais a título de esclarecimento ao leitor).

Na atualidade a obra de Kardec foi profundamente analisada pelo físico e filósofo da ciência Sílvio S. Chibeni, que em recente artigo[75] assim se expressou: (Kardec) “nos legou um paradigma (científico) admiravelmente coerente, abrangente, empiricamente adequado e heuristicamente fértil, que não deixa nada a desejar aos mais bem sucedidos paradigmas das ciências ordinárias, como a termodinâmica, o eletromagnetismo, as teorias da relatividade, a mecânica quântica, etc.”. Mais adiante, no mesmo artigo, Chibeni faz um admiravelmente sucinto resumo da obra de Kardec:

“Como uma indicação geral e aproximada, podemos dizer que O Livro dos Espíritos[7), estabele-ceu a ontologia e os princípios teóricos básicos (do Espiritismo); O Livro dos Médiuns[8] e a segunda parte de O Céu e o Inferno[10] efetuaram a conexão com a base experimental; O Evangelho Segundo o Espiri-tismo[9] e a primeira parte de O Céu e o Inferno exploram as repercussões filosóficas do paradigma (espí-rita) no campo da ética; A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo[11] e ensaios diver-sos nas Obras Póstumas[12] e na (Revue Spirite) Revista Espírita[123] aprofundaram vários pontos da teoria (espírita), sendo que a revista constitui também um valioso repositório de relatos experimentais”.

Para concluir, pode-se afirmar, com base nos trabalhos de Chagas[67,71] e Chibeni[72,75], que até hoje não surgiu uma teoria dos fenômenos espíritas mais sólida, estável, abrangente e bem sucedida que a de Kardec, a qual é a única a entender aos mais modernos e exigentes conceitos de cientificidade.

Início do Período Científico Esse período inicia-se com as primeiras pesquisas de Sir William Crookes (1870) e vai até a atua-

lidade, caracterizando-se pela visão positivista de Ciência que esterilizou todos os esforços realizados.

A Psichical Research

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Denomina-se de Psichical Research à linha de pesquisas iniciada pela Society for Psychical Rese-arch, linha essa de caráter nitidamente positivista.

O debate entre magnetistas, sugestionistas e espiritistas não teve grandes novidades até por volta de 1870, quando a Sociedade Dialética de Londres nomeou uma comissão de estudo dos fenômenos es-píritas, que trabalhou nos anos 1869-71. Segundo Conan Doyle[1], era composta de 34 membros, tinha como tema “Investigar os fenômenos tidos como manifestações espíritas”, e concluiu que “o assunto era digno de maior atenção e cuidadosa investigação do que tinha recebido até então”. A Sociedade recebeu muito mal essas conclusões, e recusou-se a publicar o relatório, o qual foi publicado às custas da própria comissão[138].

De sua fundação participaram os principais nomes da ciência inglesa interessados na investigação desses fenômenos.

Em 1882, por causa da recusa sistemática da Sociedade Dialética em investigar os fenômenos en-tão designados por mesmerismo, psiquismo e espiritismo, foi fundada uma nova sociedade com esse pro-pósito específico, por iniciativa de Sir William Barrett, com a denominação de Society for Psychical Rese-arch. Sua produção científica está registrada nos “Proceedings”. Foi literalmente dominada pelos materia-listas, os quais na sua maioria negavam “a priori” a possibilidade do espírito como causa dos fenômenos e, por isso, distorciam (intencionalmente ou não) os resultados das investigações realizadas e faziam uma permanente obstrução das pesquisas que tendessem a demonstrar a existência do espírito. Por outro lado deve-se ressaltar que formou um grande acervo de estudos de casos de[144,155,157,160,170,171], su-gestão e hipnotismo[161,178], clarividência[172], psicografia[195], fantasmas dos vivos[162], fantasmas dos mortos[163,164], e assombrações[196]. Alguns dos seus membros, isoladamente, renderam-se às evidências do espírito em face dos fenômenos observados, especialmente fenômenos de materialização (na investigação de Eusapia Palladino pelo Dr. Hereward Carrington[188]), mas também pela psicografia e psicofonia (na investigação de Mrs. Piper pelo Prof. Hislop[197].

As experiências de correspondência cruzada (mensagens interrelacionadas psicografadas por mé-diuns diferentes em locais diferentes) forneceram excelentes evidências da sobrevivência do espírito, e são bem relatados, dentre outros, por Mrs. Johnson[184] e por Charles Richet[199].

As investigações de Sir William Crookes Crookes iniciou estudando os fenômenos espíritas produzidos por D. D. Home[140], que já havia

sido estudado por Lord Adare[139]. Dentre outros fenômenos, Crookes (um famoso químico e físico in-glês) estudou em laboratório, a partir de 1870, através da mediunidade de Florence Cook, a materializa-ção de espíritos. Crookes publicou os resultados de suas pesquisas (inclusive várias fotografias das mate-rializações[64]) em 1874, enfrentando grandes perseguições por causa de sua conclusão favorável à ori-gem espírita dos fenômenos[141,142].

As investigações do Dr. Alfred Russel Wallace O famoso naturalista Dr. Alfred Russel Wallace também fez investigações sobre os fenômenos es-

píritas[143], e igualmente concluiu pela origem espírita dos mesmos, padecendo também perseguições por isso.

As investigações do Prof. William Barrett William Barrett apresentou estudo dos fenômenos espíritas à Associação Britânica para o Progres-

so da Ciência em 1876[356] e declarou publicamente seu apoio à hipótese espírita.

As investigações de Lord Rayleigh e do Prof. De Morgan Famosos matemáticos ingleses Lord Rayleigh[146] e Prof. De Morgan[136], igualmente investiga-

ram os fenômenos espíritas e declararam publicamente suas conclusões favoráveis à hipótese espírita.

Fotografias Espíritas Outro interessante fenômeno estudado nesse período é o das fotografias das aparições de espíri-

tos produzidas na presença de médiuns especialmente dotados. As aparições não são visíveis a olho-nú, aparecendo apenas nas fotografias. Um relato interessante é encontrado num livro autobiográfico do mé-dium William H. Mumler, de Boston (EUA)[212]. O Dr. Alfred Russel Wallace também relata experiências com fotografias espíritas[213].

Pesquisas sobre Telepatia e Sugestão Sobre esse assunto pesquisaram, entre outros, Lodge[155,156], Thaw[170], Sidg-

wick[159,171,180], Backman[172], Ochorowicz[173], Dessoir[176], Schernck-Notzing[177], Hodgson[178],

Espiritismo científico - 10

James[179], Myers[195,196], Flournoy[181,182,183], Johnson[184], Verrall[158], Salter[166], Hys-lop[167,168], Troubridge[169]. Na França, Richet publicou ensaio abrangendo telepatia, clarividência, di-agnóstico de doenças, e a relação entre paciente e magnetizador[198].

O Fenômeno das Vozes Diretas Outro fenômeno igualmente interessante pesquisado na época foi o das vozes diretas, que são

aquelas produzidas sem o concurso dos órgãos fonadores do médium, parecendo brotar do nada. Dentre outros pode-se citar os relatórios das seguintes pesquisas sobre vozes diretas: pesquisas do Sr. Damia-ni[215], da Sociedade Dialética de Londres; pesquisa do General Boldero[214], da SPR, com o médium D. D. Home, e pesquisa do Prof. Hyslop[216] sobre a médium Elisabeth Blake, de Ohio (EUA).

Moldagens em Parafina Moldagens em parafina de membros dos espíritos materializados foi excelentemente pesquisada

pelo Dr. Gustave Geley[218].

Os Grandes Médiuns do Período Científico Os principais médiuns que contribuíram com a produção de fenômenos espíritas para estudo da

ciência são citados a seguir.

Daniel Dunglas Home Daniel Dunglas Home era escocês, nascido em 1833. Produzia principalmente fenômenos de ma-

terialização, levitação, telecinesia e "raps". Foi investigado pelo Prof. Wells, da Universidade de Harward, pelo Prof. Hare, pelo Prof. Mapes, por Sir David Brewster[147], por Sir William Crookes[141], por Aleksan-der Aksakof e pelo Prof. Butlerof.

Os Irmãos Davenport Os Irmãos Davenport nasceram em Buffalo, estado de New York, EUA, em 1839 e 1841, respecti-

vamente. Tiveram publicadas duas biografias: uma por T. L. Nichols[148], e outra por Robert Cooper[150]. Nichols também narra fatos da vida dos Davenport em outro livro[149]. Foram examinados pelos professo-res da Universidade de Harvard em 1857 (cf. [148] pp. 87-88), que após terem atendidas todas as suas exigências de controles contra fraude, e mesmo assim terem presenciado as materializações, não fizeram relatório, provavelmente impedidos pelos preconceitos vigentes. Deram demonstrações públicas de efei-tos físicos por todo os EUA, Europa e Austrália[1].

Os irmãos Horatio e William Eddy foram grandes médiuns de materialização no estado de Vermont EUA. Iniciaram suas demonstrações nos anos de 1874/5. Foram investigados pelo Coronel Olcott, um grande pesquisador de materializações, das quais publicou relatos minuciosos[112]. Fez medidas de pe-so, força muscular e altura dos espíritos materializados pelas faculdades desses médiuns.

Henry Slade Henry Slade produzia escrita-direta em lousas lacradas. Exibiu-se nos EUA por 15 anos antes de ir

a Londres, onde chegou em 1876. Foi investigado pela Comissão Seybert (EUA), pelo Prof. Zöllner, em Leipzig, Alemanha[151], juntamente com os professores William Edward Weber (físico), Scheibner (mate-mático) e Theodore Fechner (físico). Foi estudado também em São Petersburgo (Rússia) (cf. [1], p. 247).

O Dr. Monck Dr. Monck foi pesquisado por Alfred Russel Wallace[152] e por Sir William Barret[153]. Produzia

escrita direta em lousas seladas e materializações à plena luz do dia. Foi apanhado em fraude algumas vezes, o que não invalida suas produções verdadeiras.

Charles H. Foster Charles H. Foster nasceu nos EUA, e foi biografado por George C. Bartlett[189]. Além de grande

clarividente, apresentava também a psicofonia.

M.me. d'Esperance M.me. d'Esperance, cujo nome de batismo era Elisabeth Hope, foi um grande médium de materiali-

zações. Escreveu uma importante autobiografia[190], e foi estudada por Alexander Aksakof[65]. Alguns de seus feitos mediúnicos são também descritos por William Oxley[191]. Teve um triste fim de vida, pois ficou irremediavelmente doente após um pesquisador ter agarrado o espírito Yolanda materializado numa se-ção em Helsingfors, no ano de 1893, na tentativa de provar que havia fraude no fenômeno. A desmateria-lização súbita do espírito e o choque decorrente na médium a adoeceram.

Espiritismo científico - 11

William Eglinton William Eglinton nasceu na Inglaterra. Possuía forte mediunidade de efeitos físicos. Foi biografado

por J. E. Farmer[192], e foi estudado na Universidade de Cambridge, em 1880, sob os auspícios da Soci-edade de Psicologia. No mesmo ano foi estudado pelo Prof. K. F. Zöllner[151] e outros, em Leipzig (Ale-manha).

Stainton Moses Stainton Moses nasceu na Inglaterra. Possuía forte mediunidade de efeitos físicos e de psicografia.

Uma descrição detalhada de sua mediunidade foi dada por F. W. H. Myers[193,194].

A Metapsíquica Após uma fase de intensas pesquisas, o estudo de fenômenos físicos foi abandonado na Inglaterra

e, na França, ficou praticamente restrito aos trabalhos de Paul Gibier[185,186,187]. A Metapsíquica, também de caráter nitidamente positivista, foi o resultado de um novo surto de in-

teresse da comunidade científica sobre os fenômenos espíritas, interesse esse despertado pelo surgimen-to de uma nova geração de poderosos médiuns. Tal interesse resultou em longos anos de pesquisas por alguns dos melhores cérebros da Europa, daí surgindo uma nova disciplina batizada de Metapsíquica, da qual descendem as atuais Parapsicologia e Psicotrônica. Os metapsiquistas pesquisaram desde a visão de auras até os fenômenos de materialização, passando pelos de telepatia, clarividência, precognição, psicofonia (denominado de "encarnação espírita") e psicografia (denominado de "escrita automática"). As interpretações espiritualista ou materialista dos fatos observados variavam de pesquisador para pesquisa-dor como hipótese cientificamente válidas, pois baseadas em fatos positivos.

O Renascimento do Magnetismo Animal As pesquisas sobre visão das auras dos imãs, cristais e seres vivos, iniciadas por Reichenbach,

que haviam sido desprezadas por se basearem no testemunho de sensitivos, foram retomadas em 1880 pelo Dr. Baréty[217], em 1891 pelo Coronel De Rochas[223], em 1903 pelo Prof. Blondot[224], e em 1912 pelo Dr. Kilner[225]. Seguiram-se as pesquisas de Haschek[226] (em 1914) e de Hofmann[227] (em 1919) sobre visão de auras de cristais e imãs, que deram resultados negativos. As experiências de Boi-rac[231,232] e Alrutz[233] (sobre a sensibilidade de pacientes à imposição de mãos), bem como as de Louis Favre[234,235] e de Paul Vasse[236] (sobre a germinação de vegetais), mais recentes, trouxeram apoio à hipótese fluidista.

Clarac e Llaguet[237] registraram a mumificação de tecidos vivos pela imposição de mãos de uma sensitiva.

Luys, Chaigneau, Guebhart, Jacobson, Yvon, Dellane, Darget, Baraduc (vide [3] p.247), Fonte-nay[228], e G. Le Bon (vide [3] p.247) pesquisaram ainda o registro do fluidos magnéticos em chapas fo-tográficas. Após a superação de erros experimentais em diversas pesquisas, concluiu-se que há fenôme-nos genuínos.

Zöllner[229] e Sokolowski[230] constataram a influência dos magnetizadores sobre bússolas, e Grunewald[238] fez pesquisas empregando um galvanômetro balístico de espelho, observando a produ-ção de campos magnéticos pela aproximação da mão de alguns magnetizadores.

Os fenômenos elétricos atribuídos ao magnetismo animal foram pesquisados com o auxílio de gal-vanômetros por Gass-Desfossés[239] e Courtier a partir de 1874, acrescentando-se depois os eletrôme-tros ao aparato experimental. Tais experiências foram continuadas pela comissão do Instituto Geral Psico-lógico de Paris (vide [3] p. 255) em 1905, por Imoda[240] em 1908 e por Ochorowicz[174] logo em segui-da. Em 1921 Yourevitch e Du Bourg de Bozas[241,242], apresentaram os resultados de suas pesquisas sobre efeitos elétricos da radiação de pacientes paranormais. Grunewald[243] também pesquisou o as-sunto à mesma época. Concluiu-se que há uma energia que, sem ser a eletricidade, tem algumas proprie-dades semelhantes a esta.

Devem-se ressaltar as pesquisas de Ochorowicz[175] sobre as emanações humanas, que ele de-nominou de raios XX devido ao seu poder de penetração muito superior ao dos raios X. Obteve inúmeras "radiografias", notadamente de mãos. Experiências assemelhadas foram feitas pelo Prof. Foa[244], da Universidade de Turim, por Geley, Richet e Sudre[245], no Instituto Metapsíquico de Paris e por Ge-ley[246] e colaboradores, no mesmo instituto.

Eusapia Palladino Não se pode falar da pesquisa espírita sem ressaltar a grande contribuição da médium Eusapia

Palladino, cuja mediunidade despertou interesse de grandes personalidades científicas da Europa no final do século XIX. Ela submeteu-se pacientemente a longos anos de investigações científicas dos fenômenos

Espiritismo científico - 12

produzidos por sua potentíssima mediunidade, investigações essas que muitas vezes colocavam em che-que sua lisura na produção desses fenômenos e provocavam-lhe grandes desconfortos físicos e psicoló-gicos[1].

Eusapia Palladino foi um dos médiuns de efeitos físicos mais estudados pela ciência até nossos dias. Seu primeiro pesquisador foi o Prof. Chiaia, de Nápoles, que a recomendou ao estudo do Prof. Lom-broso[220]. Foi estudada ainda pela Comissão de Milão (em 1892), da qual participaram o Prof. Schiapa-relli, Diretor do Observatório de Milão, o Prof. Gerosa, Catedrático de Física, Ermacora, Doutor em Filoso-fia Natural, Aksakof, Conselheiro de Estado do Czar da Rússia, Charles du Prel, Doutor em Filosofia de Munique, e o Prof. Charles Richet, da Universidade de Paris. Foram realizadas 16 sessões.

Em seguida foi estudada em Nápoles (1893), em Roma (1893-4), em Varsóvia (1894), onde deu 40 seções para o Dr. Ochorowicz e da elite científica da Polônia, na França (1894) sob a direção do Prof. Charles Richet, de Sir Oliver Lodge[154], de Mr. F. W. H. Myers e do Dr. Ochorowicz.

Em 1895 foi estudada novamente em Nápoles, e no mesmo ano foi estudada na Inglaterra pelo Prof. Charles Richet, Sir Oliver Lodge, Dr. Richard Hodgson e Mr. Sidgwick.

Ainda no mesmo ano foi estudada na França pelo Coronel de Rochas[221]; em 1896 em Tremez-zo, em Auteuil e em Choisy Yvrac; em 1897 em Nápoles, Roma, Paris, Montfort e Bordéus; em Paris, em novembro de 1898, pela comissão composta de Camile Flamarion (astrônomo), Prof. Charles Richet, Al-bert de Rochas, Victorien Sardou, Jules Claretie, Adolphe Bisson, Gabriel Delanne, G. de Fountenay e outros.

Em 1901 foi investigada no Clube Minerva, em Genebra, em presença dos Professores Porro, Morselli, Bozzano, Venzano, Lombroso, Vassalo e outros, e em Gênova pelos professores Morselli[247] e Porro.

Entre 1905-1908 foi estudada no Instituto Geral Psicológico de Paris[248]. Houve muitas outras pesquisas na Europa e nos Estados Unidos da América.

Em 1906-7 foi estudada em Gênova, pelo Prof. Morselli, onde foram tiradas fotografias, e em 1907 foi estudada por Bottazzi, em Nápoles.

Em 1908 a SPR nomeou uma comissão de três técnicos em ilusionismo, composta por Mr. W. W. Baggally, Mr. Everard Fielding e pelo Dr. Hereward Carrington, para investigar a mediunidade de Eusapia. O relatório das investigações foi publicado em 1909[188].

Em 1910 o Dr. Hereward Carrington efetuou novas experiências com a mediunidade de Eusapia, dessa vez em New York (EUA).

Investigações de Cesar Lombroso Convidado por Chiaia[1] a investigar os fenômenos produzidos por Eusapia Palladino, Cesar Lom-

broso (que era um cientista famoso) convenceu-se da veracidade dos mesmos, proclamando-o publica-mente, levando com isso outros cientistas igualmente famosos a se interessarem pelo estudo dos fenô-menos espíritas. Publicou, dentre outros, um importante trabalho sobre mediunidade a partir do estudo de Eusapia[219].

Investigações de Schrenck-Notzing Pesquisou o ectoplasma entre 1908 e 1913, e publicou vários trabalhos sobre o assun-

to[203,204,205]. Longaud também publicou sobre essas pesquisas[206]. Schrenck-Notzing comparou ao microscópio os cabelos de uma forma materializada com os da médium Eva C., que produziu a materiali-zação. Fez análise química do ectoplasma, e obteve a filmagem do ectoplasma fluindo da boca do mé-dium.

Investigações de Ernesto Bozzano Realizou, dentre outros, importantes trabalhos sobre desdobramento e fenômenos de biloca-

ção[349], fenômenos de transporte[251], comunicações mediúnicas entre vivos[252], e xenoglossia[253].

Investigações Charles Richet Foi um dos principais pesquisadores de fenômenos espíritas. Estudou profundamente o fenômeno

de materialização. O nome "ectoplasma" foi criação sua, depois de estudar os fenômenos produzidos pela médium Eva C., em Argel[200], para designar a substância exudada pelos médiuns para produção do fe-nômeno de materialização. Richet também constatou a correspondente desmaterialização do médium durante as materializações de espíritos[201]. Um amplo relato de suas experiências foi publicado em li-vro[199], tendo como obra mais importante seu Tratado de Metapsíquica[202], do qual existe uma edição esgotada em português.

Espiritismo científico - 13

Investigações Gustave Geley Importantes estudos do ectoplasma foram feitos também pelo Dr. Gustave Geley, que foi diretor do

Instituto de Metapsíquica (França), publicando importantes obras sobre o assunto[207,208]. As importan-tes pesquisas do Instituto de Metapsíquica estão relatadas na sua publicação oficial, intitulada "La Revue Metapsychique".

Investigações de Aleksander Aksakof Merecem destaque suas investigações sobre fenômenos de materialização, transportes, e biloca-

ção[66], tendo também observado o fenômeno de desmaterialização do médium de efeitos físicos durante as materializações[65].

Investigações de John Crawford O Dr. W. J. Crawford, Professor de Engenharia Mecânica da Queen's University de Belfast (Irlan-

da), dirigiu uma importante série de experiências entre 1914 e 1920, com a médium Kathleen Goligher, as quais foram relatadas em livros[209,210,211]. Utilizando balanças, provou que a translação e levitação de objetos e os "raps" são produzidos por "estruturas psíquicas" que emanam do corpo do médium. Provou também que o médium perde massa à medida que expele o ectoplasma, recuperando-a parcialmente ao término dos fenômenos, e que também os assistentes contribuem com alguns gramas de massa corpórea para a produção do ectoplasma.

As Últimas Pesquisas da Metapsíquica No final da década de 1920 e começo dos anos 1930, paralelamente ao surgimento da Parapsico-

logia, que deveria mudar inteiramente o rumo das pesquisas, foram realizadas importantes investigações por Eugène e Marcel Osty[254], no Instituto Metapsíquico de Paris, sobre a detecção do ectoplasma por fotocélulas infravermelhas e sobre a influência da luz vermelha e ultravioleta no ectoplasma, com a cola-boração do médium Rudi Schneider.

A Metapsíquica e a Psicanálise Inardi[2] conta que Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, tinha inicialmente uma posição de de-

clarado ceticismo em relação aos fenômenos de telepatia e premonição. Tal posição foi-se abalando com o passar do tempo, de modo que ele aceitou ser membro correspondente da S. P. R. de Londres em 1911 e da A. S. P. R em 1915.

Em 1921 ele escreveu um trabalho sobre psicanálise e telepatia, que seu discípulo Ernest Jones desaconselhou-o de apresentar no congresso psicoanalítico internacional em 1922 com o argumento de que a psicoanálise já era alvo de suficientes polêmicas para que os ânimos fossem ainda mais acirrados com um trabalho versando sobre assunto tão controverso. Tal trabalho foi publicado somente em 1941. Freud escreveu outro trabalho, em 1922, intitulado "Sonho e Telepatia", em que admitia a realidade dos sonhos telepáticos.

Sua mudança de posição frente aos fenômenos espíritas, após toda uma vida de estudos e obser-vações, fica patente na carta que enviou a Hereward Carrington, em que declara: "Se eu soubesse que podia recomeçar a viver, dedicar-me-ia à pesquisa psíquica e não à psico-análise."

As Comissões de Investigação Paralelamente às investigações citadas anteriormente, algumas comissões de investigação foram

criadas para dar um veredicto científico sobre a realidade dos fenômenos espíritas. Os resultados de tais investigações foram, no geral, decepcionantes, principalmente devido ao despreparo dos membros de tais comissões frente a esse tipo de fenômenos, os quais dependem, além das condições físicas do ambiente e fisiológicas dos médiuns, das condições psicológicas de todos os presentes ao recinto do experimento. Pode-se dizer que, face ao triplo caráter Psicológico, Biológico e Físico dos fenômenos espíritas, os inves-tigadores teriam que possuir uma formação multi disciplinar para lograrem preparar-se adequadamente para estuda-los. O caráter intimidatório de tais comissões por si só já seria elemento suficiente para inibir a maioria dos médiuns investigados, conforme Sudre ([3] p. 90 e ss.). É importante que se conheçam tais investigações para não se repetirem os mesmos erros.

Investigações da Comissão Seybert A comissão Seybert foi criada em função de uma herança de sessenta mil dólares deixada por

Henry Seybert, cidadão de Filadélfia (EUA), para a criação da cadeira de filosofia da Universidade da Pensilvânia, com a condição que se criasse uma comissão para investigar o Espiritismo. Ainda segundo Conan Doyle[1], a comissão nomeada para as investigações tinha pouco interesse no assunto, encarando

Espiritismo científico - 14

a pesquisa como mera exigência legal para a posse da herança legada por Mr. Seybert. Os trabalhos co-meçaram em 1884, foi publicado um relatório preliminar em 1887, que ficou sendo o relatório final, segun-do o qual a fraude e a credulidade constituem tudo no Espiritismo, nada havendo de sério que mereça referência. Fique claro que a referida comissão testemunhou fenômenos de "raps", escrita direta, e mate-rializações fosforescentes genuínos, apesar de também ter flagrado algumas fraudes. Caracterizou-se pela leviandade com que encarou a investigação e escreveu seu relatório.

Investigações da Comissão do Instituto Geral Psicológico de Paris Segundo Conan Doyle[1], a comissão do Instituto Geral Psicológico de Paris realizou um total de

40 sessões com a médium Eusapia Palladino nos anos de 1904-5-6. Entre outros investigadores partici-pantes dessa comissão tem-se registro de Charles Richet, o casal Curie, Bergson, Perrin, e d'Arsonval. Seu relatório foi muito criticado pela forma indecisa com que foi escrito, deixando o leitor na incerteza quanto à presença ou não de fraudes nos fatos relatados.

Investigações da Comissão da Scientific American Conan Doyle[1] também cita que entre os anos de 1923 e 1925 uma comissão, nomeada pela Sci-

entific American, estudou a médium Mrs. Crandon, mulher de um médico de Boston (EUA). O secretário, Mr. Malcom Bird, e o Dr. Hereward Carrington declararam sua adesão à hipótese espírita. Outros declara-ram-se sem condições de dizer se tinham sido ou não enganados, ao passo que o Dr. Prince tinha defici-ência auditiva e o Dr. McDougall (vide o item referente à parapsicologia, na segunda parte deste trabalho) teria sua carreira acadêmica ameaçada se aceitasse a impopular explicação espírita dos fenômenos.

As Investigações da Comissão de Harvard Ainda segundo Conan Doyle[1], logo após os trabalhos da comissão da Scientific American foi

constituída uma pequena comissão de pessoas de Harvard, encabeçada pelo astrônomo Dr. Shapley. Também nessa comissão, apesar de satisfeitas todas as exigências experimentais dos investigadores, e de não poderem afirmar que haviam sido enganados, houve a conclusão de fraude como explicação para os resultados obtidos, numa evidente contradição que mostra a insegurança da equipe em enfrentar o desconhecido.

A Parapsicologia O Prof. William Mac Dougall[2], famoso psicólogo inglês, foi eleito presidente da S.P.R. de Londres

em 1920 e no mesmo ano transferiu-se da universidade de Oxford (Inglaterra) para a universidade de Harvard (Boston, EUA), onde assumiu a cátedra de psicologia e logo veio a assumir a presidência de A.S.P.R.

Nesse ínterim participou, entre 1923 e 1925, da comissão de investigação da Scientific American sobre os fenômenos espíritas.

Em 1927 foi chamado para dirigir o Instituto e a Faculdade de Psicologia da Universidade de Du-rham (Carolina do Norte, EUA), também conhecida como "Duke University".

Ao transferir-se para a "Duke", Mac Dougall convidou o jovem doutor em botânica (então com 32 anos) e interessado em metapsíquica Joseph Banks Rhine para acompanhá-lo, confiando-lhe um projeto de pesquisa que não tivera condições de concretizar em Harvard.

Rhine gastou três anos em estudos preparatórios, e em 1930 iniciou a pesquisa propriamente di-ta[41], tomando rumos inteiramente novos em relação a tudo que já havia sido feito até aquela data em termos de pesquisa dos fenômenos paranormais. Ao invés de médiuns especialmente dotados, estudou indivíduos tomados ao acaso entre estudantes e voluntários, empregando um jogo de cartas padronizadas (conhecidas como baralho Zener) e o método estatístico para o estudo dos fenômenos de telepatia, clari-vidência e precognição, batizados coletivamente de Percepção Extrasensorial[43] (ESP - Extrasensory Perception). Posteriormente o método estatístico foi adaptado ao estudo quantitativo dos fenômenos de Psicocinesia (PK - Psychokinesis).

Diversos pesquisadores, tanto da Europa quanto dos EUA já haviam feito experiências com a tele-patia, mas somente com o início das pesquisas de Rhine a qualidade das evidências obtidas a favor da existência da telepatia e da clarividência mudou definitivamente para melhor. Após 85.000 provas feitas com os mais rigorosos cuidados contra fraudes mesmo que involuntárias, os resultados foram publicados em 1934, apresentando média de acerto acima de 7 em 25 (28%), ao passo que o puro acaso permitiria acerto de apenas 5 em 25 (20%). Foram feitas também experiências de telecinesia em que se pesquisa-va, com a mesma técnica de análise estatística, a possibilidade dos pacientes influenciarem os resultados do arremesso de dados. Aconselha-se a leitura das obras de Rhine[58,60] na língua original (inglês), pois as traduções para o português atualmente existentes desfiguram seriamente o texto original.

Espiritismo científico - 15

O principal feito do trabalho de Rhine foi evidenciar estatisticamente a existência de uma "faculda-de paranormal". Até nossos dias a parapsicologia (que não pode ser chamada de ciência por não preen-cher os modernos critérios de cientificidade) não conseguiu atingir seu outro grande objetivo, que é o de estabelecer as relações entre as faculdades paranormais e as outras faculdades da mente (evita-se es-crupulosamente a palavra "espírito" em parapsicologia). Outra grande limitação da parapsicologia é sua fragilidade na pesquisa das bases físicas da paranormalidade, além da fundamental ausência de uma teoria satisfatória e abrangente para os fenômenos, pois a teoria espírita elaborada por Kardec (que é a única, até hoje, a explicar satisfatoriamente os referidos fenômenos e a preencher aos mais rigorosos cri-térios de cientificidade) é rejeitada "a priori" pelos seus adeptos.

A grande limitação do método estatístico da parapsicologia é que ele se presta apenas ao estudo de uma pequena classe de fenômenos, e mesmo nos casos de telepatia e clarividência (que constituem as faces da "percepção extrasensorial" - ESP) não substitui o método qualitativo (cf. [3] p. 58).

No primeiro grupo de bibliografias sobre parapsicologia estão as que a definem como um campo da ciência, apresentam suas subdivisões, relações com outras áreas do conhecimento, e definem termos e conceitos[41,58,260,...,267]. No segundo grupo estão as que apresentam os métodos objetivos de pes-quisa[268,...,279]. No grupo seguinte são apresentadas as bibliografias que apresentam os fatos a respei-to de PSI e de seus tipos[280,...,318], e em seguida as que abordam a relação entre PSI e o mundo físi-co[319,...,337].

A Psicotrônica Na extinta União Soviética os estudos dos fenômenos espíritas ganhou o nome de Psicotrônica[2],

nome esse que exprime a superação dos limites da Psicologia, entendendo-se por Psicotrônica a discipli-na que se ocupa das energias do ser humano tendo como objetivo o conhecimento das possibilidades de interação entre homem e homem e entre homem e ambiente através de capacidades possuídas por quase todos. Tal como a Parapsicologia, a Psicotrônica também não é uma ciência e também carece de uma teoria satisfatória e abrangente para explicar os fenômenos espíritas, pois a teoria espírita elaborada por Kardec (que, repetimos, é a única, até hoje, a explicar satisfatoriamente os referidos fenômenos e a pre-encher aos mais rigorosos critérios de cientificidade) também é rejeitada "a priori" pelos adeptos da Psico-trônica.

Pode-se destacar, dentre outras, as pesquisas sobre telepatia do fisiologista Leonid Leonidovitch Vasiliev, realizadas a partir de 1950 no laboratório por ele organizado no Instituto de Fisiologia da Univer-sidade de Leningrado (atual São Petersburgo). Foram lançados no ocidente dois livros de sua autoria so-bre o assunto[338,339].

Dentre outros trabalhos, é digna de menção a investigação do agente telecinético Boris Vladimir Ermolaev, realizada pelo doutor em Psicologia, prof. V. N. Pushkin[340].

Os doutores V. M. Iniushin e G. A. Sergeiev, postularam independentemente a existência de um "bioplasma"[341,...,343] que poderia explicar muitos dos fenômenos paranormais.

As pesquisas psicotrônicas foram cerceadas pelo materialismo oficial dos países da cortina de fer-ro, que lançava em desgraça qualquer pesquisador que tendesse a evidenciar a hipótese do espírito. No entanto realizaram grandes avanços no estudo dos aspectos físicos da paranormalidade.

A Psicobiofísica Procurando romper os nós que paralisaram a Parapsicologia e a Psicotrônica, Andrade propôs a

Psicobiofísica[40], disciplina que, baseada na teoria espírita elaborada por Kardec, procura unir a Física à Biologia e à Psicologia para atacar o problema da compreensão integral dos fenômenos paranormais (ou espíritas).

Prosseguiu na linha de raciocínio inaugurada por Zöllner e propôs, na Teoria Corpuscular do Espí-rito, um modelo de espaço de pelo menos quatro dimensões para explicar os fenômenos espíritas, modelo com que o autor oferece caminhos para a concepção de novos experimentos para se investigarem as ba-ses físicas desses fenômenos, tarefa em que a Parapsicologia fracassou. Seus livros[42,...,49,40], são importantes fontes de informações pois, aliado à excelente didática, oferecem ao leitor uma visão de con-junto das bases teóricas da Física, Biologia e Psicologia que, unidas e estendidas, resultam em um mode-lo de realidade física na qual o espírito é um elemento natural. Do mesmo autor também estão disponí-veis, dentre outros, trabalhos de pesquisa sobre reencarnação[48,51], poltergeist[49,...,51], e "drop-in"[52] (manifestação espontânea do espírito de um falecido que apresenta todos os dados objetivos necessários à sua plena identificação).

OOBE (Experiência Fora-do-corpo)

Espiritismo científico - 16

Experiência Fora-do-corpo indica o fenômeno em que o indivíduo vê-se saindo do corpo físico e mergulhando numa realidade que extrapola a nossa realidade física, embora geralmente mantenha duran-te o fenômeno perfeita consciência do que se passa com o seu corpo físico. Durante tais estados de consciência o indivíduo pode deslocar-se a outros sítios e reportar o que vê, havendo relatos de casos em que o indivíduo consegue também provocar efeitos materiais de sua presença no sítio a que seu "corpo astral" se deslocou. Tal fenômeno é também denominado "viagem astral" ou "desdobramento".

Blackmore[344] publicou uma revisão dos trabalhos científicos sobre OOBE onde o leitor poderá encontrar uma crítica razoável das pesquisas sobre o assunto. Entre trabalhos científicos e depoimentos de experiências de OOBE, publicações importantes foram também feitas por Crookall[345,...,348], Bozza-no[349], Monroe[349], Muldoon[350,351], Prado[352], Ritchie[62], Vieira[61], Zaniah[353], e Osis[354,355].

NDE (Experiência de Quase-Morte) Foram observados muitos pontos em comum nos relatos de indivíduos ressussitados de paradas

cardíacas e outras situações de quase-morte. Tais semelhanças foram notadas mesmo entre indivíduos de culturas, credos, raças, idades e profissões diferentes. Tais relatos incluem, no geral, uma experiência fora-do-corpo, o encontro com seres "espirituais", a travessia de um "túnel", e o retorno ao corpo físico.

As principais pesquisas sobre o assunto foram feitas por Barrett[356], Osis[357,358], May[359], e Moody Jr.[54,55].

Reencarnação Reencarnação é entendido como o renascimento do mesmo espírito em diferentes corpos huma-

nos, em vidas sucessivas. Uma das linhas de pesquisa baseia-se na comprovação documental das lem-branças de vidas anteriores relatadas pelos indivíduos, dentre os quais inúmeras crianças de tenra idade. Nessa linha tem-se as pesquisas brasileiras de Andrade[48,51], e as pesquisas de Stevenson[63,363]. Uma outra linha de pesquisa interessante é a que procura marcas de nascença nos reencarnantes que evidenciem algum traumatismo físico ocorrido numa encarnação anterior ("birthmarks"). Nessa linha tem-se , por exemplo, as pesquisas de Andrade[53] e as Muller[364].

Uma outra interessante linha de pesquisa sobre reencarnação, muito inovadora pela sua metodo-logia, é da Dra. Helen Wanbach[56], que se baseia na análise estatística das reminiscências relatadas por indivíduos submetidos a regressão de memória através de sugestão hipnótica. Essa técnica torna a con-frontação dos dados colhidos com os registros históricos bem mais fácil que no caso de dados individuais, e elimina as tendências pessoais, o que é muito importante.

Uma conseqüência das pesquisas sobre reencarnação foi o surgimento, na Psicologia, da Terapia de Vidas Passadas. Netherton[365] foi o pioneiro dessa linha terapêutica que está encontrando grande aceitação no Brasil, provavelmente devido à grande disseminação e aceitação da idéia da reencarnação entre nós.

EVP (Fenômeno das Vozes Eletrônicas) O fenômeno das vozes eletrônicas foi descoberto por acaso quando Juergenson[366] realizava

gravações de canto de pássaros no campo e apareceram vozes falando em línguas estranhas na fita, vo-zes essas que falavam frases compostas de palavras de várias línguas diferentes e se dirigiam a ele.

À descoberta de Jürgenson seguiram-se as observações de, dentre outros, Bander[57], Raudi-ve[367] e Meek[79], que obtiveram igualmente mensagens em gravadores. Mais recentemente observa-ram-se o aparecimento de mensagens também em discos magnéticos de computadores, na forma de ar-quivos-texto.

Pesquisas Espíritas da Atualidade Talvez por serem os pesquisadores profissionais espíritas em pequeno número, relativamente ao

total de adeptos do Espiritismo no Brasil atual, talvez pela reconhecida falta de tradição dos brasileiros em documentar os fatos (diz-se que o Brasil é um país sem memória), a produção de obras espíritas de cará-ter científico é ainda bastante modesta, mas pode-se pinçar alguns exemplos importantes que, embora às vezes sem assumirem o título de "científicas", na abalizada opinião de Chagas[78] são obras inatacavel-mente científicas, as quais podem servir de modelo para a produção de pesquisas para cuja realização muitos espíritas estão capacitados. Tais obras são os já clássicos livros Diálogos com as Sombras[78] e Histórias que os espíritos contaram[368], de Hermínio C. Miranda, e os livros Surpresas de uma pesquisa mediúnica[369] e Curiosidades de uma experiência espírita[370] de Nazareno Tourinho.

Outras obras espíritas que merecem especial destaque, essas assumindo nitidamente o caráter ci-entífico, são os já mencionados trabalhos de pesquisa sobre reencarnação[48,51], poltergeist[49,...,51], e "drop-in"[52] (manifestação espontânea do espírito de um falecido que apresenta todos os dados objetivos

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necessários à sua plena identificação) de Andrade, e o trabalho do químico brasileiro Tubino[76,77] sobre mediunidade de ectoplasmia, em que são analisadas as características dos médiuns que liberam ecto-plasma, as possíveis conseqüências para o médium do uso inadequado dessa faculdade, a metodologia de tratamento dos médiuns de ectoplasmia desequilibrados, onde e como liberar ectoplasma, e algumas características do ectoplasma liberado para fins de cura.

Tais obras talvez se constituam nos marcos iniciais do que pode vir a ser designado de "Período Neocientífico" ou "Período Espírita" das pesquisas de fenômenos espíritas, período esse caracterizado pela superação da visão positivista de ciência e pelo reconhecimento do caráter inatacavelmente científico da obra de Kardec. Certamente que há outras obras dignas de nota, mas as acima citadas são suficientes para o leitor ter uma idéia do que é uma pesquisa genuinamente espírita.

Conclusão Esperamos ter contribuído com este trabalho para a formação de uma nova geração de pesquisa-

dores de fenômenos espíritas, pesquisadores esses libertos dos constrangimentos impostos pela visão positivista de Ciência e seguros quanto ao caráter científico do Espiritismo e quanto à sua independência em relação às outras ciências.

O Brasil é um país riquíssimo em fenômenos espíritas, mas tal riqueza de material de pesquisa se perde face à inexistência de motivação do pessoal capacitado para observar esses fenômenos e docu-mentá-los dentro dos modernos parâmetros da metodologia científica (vide tópico sobre O Que é Ciência na primeira parte deste trabalho).

Segundo estimativas recentes, há mais de sete milhões de espíritas em nosso país, grande parte dos quais portadores de diploma de nível superior, o que, em tese, torna essa grande comunidade sensí-vel à importância da pesquisa científica como instrumento de progresso da sociedade.

Essa comunidade tem necessidades peculiares por contar com grande número de indivíduos prati-cantes regulares do mediunismo, mas encontra-se "órfã" da ciência no atendimento das suas necessida-des especiais em termos de saúde física e mental, de vez que a mediunidade é rotineiramente confundida com morbidades físicas e mentais, e assim os médiuns não encontram nos agentes de saúde o atendi-mento e a orientação especializados para que possam levar uma vida normal. Há espaço para a mobiliza-ção de recursos no sentido de que a comunidade científica estude a mediunidade sob o ponto de vista do Espiritismo e que assim esses cidadãos venham a ter o atendimento adequado por parte dos agentes de saúde e das autoridades em geral.

Pode-se afirmar com segurança que no Brasil atual há um grande número de pesquisadores pro-fissionais provenientes das áreas de física, química, biologia, engenharia, psicologia, etc. que, uma vez carreados os recursos materiais necessários à pesquisa científica profissional e em tempo integral da fe-nomenologia espírita, migrariam de bom-grado para essa área de pesquisa, sendo essa fase de migração facilitada pela presente bibliografia.

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362.

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ESPIRITISMO E CIÊNCIA por Sílvio S. Chibeni

Esboço de uma análise do Espiritismo à luz da moderna Filosofia da Ciência.

I - II - III - IV - V - VI -

Sumário A concepção clássica do que seja a Ciência é exposta brevemente, e algumas das dificuldades

cruciais que enfrenta são mencionadas. Dos substitutos mais recentes, a Metodologia de Lakatos é desta-cada, procurando-se a seguir argumentar favoravelmente à tese de que o Espiritismo ajusta-se muito bem aos critérios lakatosianos para a caracterização de uma ciência. Mostra-se então que o mesmo não se dá com as outras linhas de pesquisa dos fenômenos espíritas (Parapsicologia e similares), que melhor se enquadram na irreal concepção clássica de que nas modernas.

Índice Introdução A Visão Clássica da Ciência Uma Metodologia Moderna O Espiritismo como Ciência Comparação com Outras Linhas de Pesquisa Obras Citadas

I - Introdução Dificilmente se poderá encontrar em nossa sociedade algo que receba mais valor e prestígio do

que esta coisa chamada Ciência. A partir do momento em que um produto, um método, um processo, um aparelho, uma descoberta, uma teoria são rotulados — científicos — passam imediatamente a contar com a aprovação e a confiança gerais.

Não está nos propósitos deste nosso trabalho a verificação do grau de acerto dessa atitude de su-pervalorização da Ciência, inobstante considerarmos de grande importância semelhante tarefa, por pare-cernos que ocorre aí evidente exagero. Estaremos ocupados, ao invés, em fornecer ao leitor leigo em questões epistemológicas alguns elementos de conquistas importantes nas modernas Filosofia e História da Ciência, que o auxiliarão, esperamos, na busca de uma resposta razoável para a tão fundamental, em-bora raramente levantada, questão: — o que é Ciência? Frisamos a palavra busca para deixar claro que estamos longe de querer dar — como ainda não o fizeram os próprios especialistas — uma resposta defi-nitiva a tal questão.

Esclarecemos, outrossim, que a magnitude e a profundidade do tema ultrapassam tanto e são tão incompatíveis com as dimensões limitadíssimas deste trabalho e com os nossos reduzidos conhecimentos e capacidade que não podemos senão pedir ao especialista a compreensão pelas incontáveis omissões e supersimplificações, e ao leigo concitar para que se não detenha onde paramos, mas prossiga seus estu-dos municiado da bibliografia específica.

II - A Visão Clássica da Ciência No século XVII, o pensamento humano, que estivera aguilhoado pelo dogmatismo religioso da Ida-

de Média, experimentava já os primeiros resultados de suas ações relativamente livres, a se expressarem nas fabulosas conquistas da Filosofia Natural, que punha diante dos homens possibilidades, dantes ini-magináveis, de racionalização e domínio dos fenômenos naturais, notadamente os relativos aos movimen-tos dos corpos celestes e terrestres, com as contribuições de gênios como Galileu e Newton.

A satisfação intelectual, os sucessos práticos sempre maiores dos novos desenvolvimentos leva-ram à suspeição de que o que lhes estava por detrás era o método de trabalho, que se denominou mais tarde de método científico. A partir da herança de Francis Bacon, uma série de filósofos passou a articular um modelo de método científico que se tornou extremamente vulgarizado e aceito, sendo-o ainda hoje pelo homem comum e pelos cientistas.

Até a Revolução Científica do XVII, a compreensão da Natureza deveria ser buscada no estudo da obra de Aristóteles e nas Sagradas Escrituras, que supostamente continham toda a verdade. Segundo as novas concepções, o entendimento da Natureza teria de resultar do estudo dela mesma, e não do daque-les escritos. É assim que a experimentação veio a ocupar algum lugar, e, depois, o lugar principal na ativi-dade científica.

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Em linhas gerais, a concepção clássica da Ciência — a que chamaremos Indutivismo — assume que a atividade científica consiste nas seguintes etapas:

1 -

2 -

3 -

a) b)

c)

Observação neutra dos fatos; formação de um conjunto de observações singulares (e.g., a pe-dra 1 cai quando largada, a pedra 2 cai quando largada, etc.); obtenção de uma "lei", ou princípio geral e universal, a partir do conjunto de observações sin-gulares (e.g., toda pedra, quando largada, cai). Esse processo de generalização é denominado indução; obtenção, a partir da lei, de suas conseqüências lógicas (e.g., esta pedra X, que acabo de en-contrar, cairá, se for largada). Esse processo lógico é chamado de dedução.

A última etapa é não problemática, e dela não nos ocuparemos. A etapa crucial é a segunda. Nela faz-se uso, no Indutivismo, do chamado Princípio da Indução, que é aquele pelo qual se passa de um con-junto apropriado de observações singulares para uma lei geral. Segundo esse Princípio, a passagem é legítima se as seguintes condições forem preenchidas:

Grande número de observações; ampla variação nas condições em que o fenômeno se produz (largar pedras de vários tamanhos e co-res, e em diferentes temperaturas, em presença e em ausência de luz, sobre vales e montanhas, etc.); inexistência de contra-evidências (basta que uma pedra não caia para que a lei seja falsa).

Um tratamento completo das críticas que se levantaram contra o Indutivismo não caberia aqui. Li-mitar-nos- emos a apontar algumas das principais (e fatais) dificuldades. Primeiro, o Princípio da Indução não pode ser justificado, nem pela lógica (nenhum conjunto de observações singulares é logicamente su-ficiente para a validação de uma lei geral, nem pela indução (dizer que o Princípio da Indução é válido em geral por ter-se mostrado válido em tais e tais casos é fazer uso do próprio princípio que se quer provar, como já notara D. Hume no século XVIII).

Uma segunda dificuldade está na especificação precisa das condições a e b. Quão grande deve ser o número de observações? (Há casos em que apenas uma parece bastar! Após a destruição de Hiro-shima quem, em sã consciência, duvidaria que a segunda bomba arrasaria Nagasaki?) Quais os parâme-tros que devem ser variados? (Serão importantes a cor e a temperatura da pedra? Você certamente terá respondido não, mas lembre-se do pressuposto básico do Indutivismo: as observações devem ser neu-tras, enquanto que sua resposta pressupõe alguma teoria.)

Este último parêntese nos introduz em outra grande dificuldade do Indutivismo: não há observação neutra, no sentido em que ele requer. Primeiro, porque as impressões sensoriais variam de indivíduo para indivíduo, como bem mostram as figuras da Gestalt e inúmeras experiências psicológicas. Depois, porque toda observação está "impregnada" de teoria. Veja-se o caso da pedra. Todo enunciado observacional é feito através de uma dada linguagem, que também pressupõe algum tipo de teoria. Não se pode, assim, manter, como pretende o Indutivismo, que a Ciência começa com observações.

Finalmente, esta dependência da observação com a teoria acarreta a conseqüência de que as ob-servações singulares são tão sujeitas a ser falsas quanto a teoria (ou teorias) que lhe servem de base. Ao tempo de Copérnico (século XVI) não havia telescópios. A proposição "Vênus não varia de tamanho ao longo do ano, quando visto da Terra", era aceita como verdadeira, por resultar de observações. Com o advento do telescópio esta proposição passou a ser tida como falsa, pois pressupõe a falsa teoria óptica de que o tamanho de uma pequena fonte luminosa pode ser apreciado a olho nú. Este exemplo também ilustra outro ponto importante: a constância do tamanho de Vênus constituía, para Copérnico e seus con-temporâneos, uma flagrante contra-evidência para sua teoria astronômica, que, apesar disso, não foi a-bandonada por seus defensores.

O cerco ao Indutivismo encontra-se, destarte, conclusivamente fechado. A sua história serve muito bem para por a descoberto a fragilidade do intelecto humano, de que tanto nos orgulhamos: um equívoco destas proporções, e que considerações tão simples e a mais superficial análise da História da Ciência desmascararam, mantido por vários séculos, notadamente entre as classes mais "sábias"! Mostra ainda outra faceta negativa do espírito humano: o dogmatismo-misoneismo, que o impediu de dar o justo valor às críticas de Hume já pelos meados do século XVIII; que levou a imensa maioria dos filósofos a ignorar completamente a obra de Sir Karl Popper publicou já em 1934, apontando as dificuldades que enumera-mos acima (quase todas); que, aliado à falta de espírito crítico, de interesse e de visão aguda, e às defici-ências no sistema educacional, faz com que ainda hoje o Indutivismo seja opinião quase unânime entre os próprios cientistas.

Sir Karl Popper passará para a História como o grande demolidor da concepção clássica do méto-do científico. Em lugar do edifício destroçado, erigiu um sistema alternativo o chamado Falsificacionismo

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—, que foi sendo progressivamente sofisticado por ele próprio ao longo dos anos, e ainda hoje, sob o in-fluxo das críticas. Embora fosse útil, não daremos aqui, por insuficiência de espaço, os detalhes da meto-dologia popperiana. Mencionaremos apenas sua idéia-motriz: Ciência consiste em, e cresce através de conjecturas e refutações. "Teorias são criações livres da mente" (A. Einstein), que podem ser sugeridas pelas observações, nunca porém resultando delas necessária ou exclusivamente. Teorias são, segundo Popper, refutadas, falsificadas, por experiências, nunca estabelecidas ou validadas por elas.

Nos idos de 1962, Thomas Kuhn mostrou, num revolucionário livro, que as mesmas armas que Popper utilizara contra o Indutivismo poderiam ser utilizadas contra o Falsificacionismo! Deixaremos tam-bém aqui de mencionar não só as críticas de Kuhn como ainda a sua famosa Metodologia, que se carac-teriza por introduzir pela primeira vez aspectos sociais na Metodologia, e desempenhando aí um papel de fundamental importância.

Preferimos, em vez disso, expor com algumas extensão a Metodologia proposta posteriormente por Imre Lakatos, que nos servirá às análises das Seções IV e V. Desnecessário dizer que esta, como as demais metodologias, está sujeita a críticas, e não deve ser considerada como definitiva. Tem-se uma idéia das dificuldades nesta área da Filosofia da Ciência pelo só fato de um filósofo de peso (P. Feyera-bend) ter publicado recentemente um livro intitulado "Agains the Method", no qual advoga a tese do "anar-quismo epistemológico", que é o exagero de se afirmar que a Ciência não tem nenhum método e é uma atividade tão irracional quanto fazer poesia. A razão de nossa preferência por Lakatos está não somente em ser a sua Metodologia a mais recente, e uma das mais bem aceitas atualmente entre os filósofos da Ciência, mas também em se mostrar mais adequada às discussões que pretendemos desenvolver.

III - Uma Metodologia Moderna Do fracasso do Indutivismo e, até certo ponto, do Falsificacionismo, aprendeu-se que a Ciência é

uma atividade altamente complexa, na qual participam elementos de várias naturezas (hipóteses livremen-te concebidas e/ou sugeridas por observações, experimentações, decisões sociológicas, idéias metafísi-cas, etc.), e que as teorias científicas devem ser vistas como estruturas, que nascem, desenvolvem-se e gradativamente vão-se elaborando num processo de influenciação recíproca com as experiências, bem como com outras teorias. Isto resulta tanto da análise da História da Ciência como dos argumentos filosó-ficos já mencionados.

A História da Ciência tem mostrado que um conceito (e.g., "átomo", "energia", "elemento químico", "subconsciente") surge "como uma idéia vaga, que se vai gradativamente clarificando na medida em que a teoria em que toma parte adquire uma forma mais precisa e coerente" (Chalmers, p. 75). Se consentirmos em que a Ciência de algum modo evolui, teremos mais uma forte razão para considerarmos uma teoria científica como algum tipo de estrutura aberta, que contenha prescrições de como devam ser desenvolvi-das, de quais experiências devam ser realizadas, de quais aparelhos precisam ser aperfeiçoados, enfim, que forneça um "programa de pesquisa".

Para expor as idéias de Lakatos (contidas originalmente e principalmente em seu famoso e exten-so artigo "Falsification and the Methodology of Scientific Research Programmes") encontraremos, além da dificuldade em resumir e simplificar severamente, a de encontrar uma terminologia em português. Pedi-mos a compreensão do leitor nesse particular. Começaremos com esta ótima síntese de Chalmers:

"Um programa de pesquisa lakatosiano é uma estrutura que fornece um guia para futuras pesqui-sas, tanto de uma maneira positiva, como negativa. A heurística negativa de um programa de pesquisa envolve a estipulação de que as assunções básicas subjacentes ao programa, que formam o seu "hard core" (núcleo rígido), não devem ser rejeitadas ou modificadas. Esse hard core é resguardado contra as falsificações por um cinturão protetor de hipóteses auxiliares, condições iniciais, etc. A heurística positiva constitui-se de prescrições não muito precisas que indicam como o programa deve ser desenvolvido. Tal desenvolvimento involverá a suprementação do hard core com assunções adicionais, numa tentativa de dar conta dos fenômenos previamente conhecidos e de previsão de novos fenômenos. Os programas de pesquisa serão considerados progressivos ou degenerantes, conforme tenham sucesso, ou persistente-mente fracassem em levar à descoberta de novos fenômenos." (P. 76.)

O hard core de um programa, que é o que essencialmente o identifica e caracteriza, constitui-se de uma ou mais hipóteses teóricas. Alguns exemplos: o da Astronomia copernicana é a assunção de que a Terra e os demais planetas orbitam um Sol estacionário; o da Física newtoniana é formado por suas três leis dinâmicas e pela lei da gravitação universal; o da Homeopatia é o similia similibus curentur.

Esse "núcleo" é, por uma "decisão metodológica de seus protagonistas" (Lakatos, p. 133), conside-rado não- falsificável. Possíveis discrepâncias com resultados empíricos são resolvidas pela modificação das hipóteses do cinturão protetor. Isto constitui a heurística negativa. Assim, a incompatibilidade entre o hard core de Copérnico e a observada constância das dimensões de Vênus foi tida como uma falha das

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teorias observacionais da época; os detalhes das órbitas dos planetas eram obtidos ajustando-se outros elementos do cinturão protetor, a saber, os epiciclos. A incapacidade da teoria gravitacional de Newton em explicar as observações da órbita de Urano feitas no século XIX foi atribuída (por Leverrier e por Adams) à existência de um planeta desconhecido e invisível à época (posteriormente descoberto por Galle: Netuno). Prout propôs em 1815 que os pesos atômicos de todos os elementos químicos simples eram números inteiros, a esmagadora evidência contrária que as experiências da época forneciam sendo atribuída a al-gum tipo desconhecido de impureza, então inexplicável.

"A heurística positiva consiste em um conjunto parcialmente articulado de sugestões ou idéias de como mudar ou desenvolver as "variantes refutáveis" do programa de pesquisa, de como modificar, sofis-ticar, o cinturão protetor "refutável." (Lakatos, p. 135) No caso da Revolução Copernicana, a heurística positiva indicava o desenvolvimento de uma nova óptica, de novos instrumentos de observação astronô-mica, de novas técnicas de cálculo das trajetórias, assim como de uma mecânica adequada à hipótese da Terra móvel. (Galileu e Newton foram os dois grandes aperfeiçoadores do programa copernicano; toma-ram a si todas estas tarefas.)

Uma impressão comum que ocorre a quem chega a este ponto da Metodologia de Lakatos é a de que a heurística negativa, com a deliberação de manter intacto o hard core, abonaria a atitude de conser-vadorismo exagerado, tão prejudicial à Ciência. Na verdade, tal não é o caso. Com efeito, além de apoia-da pela evidência histórica, esta idéia de Lakatos encontra suporte num importante argumento filosófico, baseado no Problema de Duhem-Quine, que nada mais é do que a exploração inteligente de um resultado trivial da Lógica:

Trata-se do seguinte: quando uma previsão P de uma dada teoria é contrariada pela experiência, modus tollens só permite inferir a falsidade da conjunção de todas as proposições que se utilizaram na obtenção de P. Assim, não se pode saber qual (ou quais) daquelas proposições é responsável pela falsi-dade de P. Note-se que entre elas há, ao lado das proposições da teoria específica, uma infinidade de proposições referentes às condições e às teorias observacionais. Portanto, na ausência de uma hard core (como ocorre do Indutivismo e no Falsificacionismo) fica-se sem saber para onde dirigir o modus tollens, implantando-se destarte um verdadeiro caos metodológico, incompatível com o avanço da Ciência.

Além disso, Lakatos considerou o processo de substituição de programas de pesquisa. Grosso modo, os méritos relativos de dois programas rivais devem ser julgados pela extensão em que são pro-gressivos ou degenerantes. Como já vimos, um programa é progressivo se ao menos de vez em quando leva a novas descobertas. Deve ser preferido a um programa degenerante.

Tem-se enxergado aqui um ponto vulnerável na Metodologia lakatosiana, dada a constatação de que um programa degenerante pode, em conseqüência de novos desenvolvimentos, tornar-se progressivo e vice-versa. Estamos, porém, com Chalmers quando contra-argumenta ao longo da seguinte linha: "(...) dada a óbvia imprevisibilidade do destino de um programa de pesquisa, é irreal, talvez mesmo absurdo, esperar que uma Metodologia seja tal que ofereça regras definidas para decidir-se qual o passo correto a ser dado na prática da Ciência. O que Lakatos fez através de suas noções de programas de pesquisa progressivos e degenerantes (...) foi dar alguma descrição do tipo de coisa que se deve almejar em Ciên-cia." (P. 83)

1 -

2 - 3 - 4 - 5 -

IV - O Espiritismo Como Ciência Se as seções precedentes padecem os efeitos de uma condensação drástica, a que ora iniciamos

refletirá sem dúvida as limitações de uma idéia nascente. Com efeito, só muito recentemente começamos a pensar nela, e o que apresentamos não representa senão um insight. Fornecemo-lo na convicção de que poderá eventualmente mostrar-se fértil com subsequentes elaborações, desenvolvimentos e modifi-cações, para o que o apport do leitor será de inestimável valia.

A primeira tarefa consiste naturalmente em definir o hard core do Espiritismo. Cremos que prelimi-narmente poderia ser identificado com o seguinte conjunto de proposições (ver, porém, comentário logo abaixo) :

Existe no Universo uma "inteligência suprema, causa primária de todas as coisas", chamada Deus; "Deus é soberanamente justo e bom" Há harmonia no Universo, e uma lei que vela por sua manutenção (lei de causa e efeito); Os seres vivos são imortais; Eles evoluem indefinidamente; essa evolução se inicia nas formas mais elementares de vida;

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6 -

1)

2)

3) 4) 5)

Estes seres gozam, a partir de determinado estágio de sua evolução, de certa liberdade de a-ção (livre-arbítrio).

É muito importante advertir que com estes seis itens não pretendemos ter fornecido a versão mais econômica ou mais elegante do hard core do Espiritismo (sendo também possível tenha-se que incluir mais alguma coisa). Certamente alguns deles poderão ser obtidos como teoremas dos demais, e um es-tudo tão útil quanto interessante seria o de verificar até que ponto podem ser reduzidos uns aos outros. Nossa intuição, fortalecida pela análise da obra básica do Espiritismo (obviamente, "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec), parece mostrar que todo o "edifício" poderia ser levantado sobre os itens 1 e 2, que in-questionavelmente são os fundamentais. De fato, é absolutamente surpreendente o poder heurístico da idéia de Deus, conforme definição acima, que é a da Questão No. 1 de "O Livro dos Espíritos" ("L. E."). Kardec evidentemente captou muito bem este ponto, tendo-o mesmo explicitado de forma magnífica ("O-bras Póstumas", Primeira Parte, Cap. I, No. 12; e "A Gênese", Cap. II, No. 19).

O leitor menos familiarizado com os raciocínios formais poderá estar estranhando o fato de termos deixado de incluir no hard core certos itens normalmente tidos como básicos em Espiritismo, como a re-encarnação e os demais atributos de Deus, constantes no quesito décimo terceiro de "O Livro dos Espíri-tos".

Sucede que semelhantes itens são trivialmente obtidos a partir dos demais (ver, por exemplo, "L. E.". Questões ns. 13 e 171), e o hard core deveria idealmente conter apenas as pressuposições teóricas mínimas, e não todo o elenco de teoremas.

Outra advertência é a que se refere ao significado dos termos do hard core. Conforme a Metodolo-gia lakatosiana, os termos e os conceitos só adquirem significado preciso quando inseridos no conjunto estrutural de um programa, e na medida em que este se desenvolve e adquire mais e mais coerência. Ora, é precisamente isto que se observa em Espiritismo. A fabulosa estrutura teórica de "O Livro dos Espí-ritos", um modelo de coerência, contribuiu, decisiva e fundamentalmente, para o estabelecimento das ba-ses linguístico-conceituais do Espiritismo. Além disso, contém a heurística positiva do programa, cujo i-menso poder gerador pode ser aquilatado pela análise das demais obras básicas de Allan Kardec, que captou o ponto e, com invulgar mestria, levou adiante o desenvolvimento do programa, num trabalho de exploração que certamente só encontra comparação em ações da envergadura das de Galileu e Newton sobre a sugestão deixada por Copérnico.

Após Kardec, o programa continuou e continua até hoje seu desenvolvimento normal, sempre pro-gressivo, ao mesmo tempo levando a novos estudos e descobertas e incorporando as novéis conquistas, sob a ação de eminentes personalidades, que seria ocioso nomear aqui.

V - Comparação com Outras Linhas de Pesquisa É fato assaz conhecido que desde o tempo de Kardec tem havido pesquisadores dos fenômenos

espíritas que, pelos mais variados motivos — do simples desconhecimento à discordância honesta, do personalismo à covardia moral — trabalham fora do programa kardequiano. Muitos desenvolveram indivi-dualmente suas pesquisas e teorias, como é o caso dos eminentes sábios William Crookes e Fredrich Meyers, enquanto que outros formaram escolas, notadamente a Metapsíquica, de Charles Richet, e a Pa-rapsicologia, de J. B. Rhine, escolas estas que contaram, ou ainda contam, com maior ou menor número de adeptos.

Atualmente, o quadro formado por estas linhas de pesquisa é bastante complexo, com a Parapsi-cologia pulverizada em incontáveis facções, quase tão numerosas quanto os pesquisadores, e com o apa-recimento de um sem-fim de "ciências" congêneres (Psicofísica, Psicobiofísica, Psicotrônica, etc.). Ao in-vés de tentarmos a análise individual de cada uma delas, procuraremos isolar as características comuns que apresentam, ignorando as particularidades, que não são relevantes para a nossa análise.

Destacamos os seguintes pontos. Constituem alegação generalizada de seus proponentes:

que suas pesquisas representam enorme avanço sobre os métodos obsoletos e não-científicos do Espiritismo; que seus métodos são científicos, ou rigorosamente científicos;

Essa cientificidade provém (como afirmam):

de não se bitolarem por nenhuma teoria; analisam fatos puros; do emprego de métodos quantitativos; do emprego de aparelhos sofisticados e de computadores.

Poderíamos prosseguir, mas isto já basta aos nossos propósitos.

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Da rápida incursão que fizemos pelo terreno da moderna Filosofia da Ciência, e da análise da se-ção precedente, transparece claramente que a afirmação de não cientificidade do Espiritismo é incorreta. Com efeito, procuramos mostrar que o Espiritismo apresenta todas as principais características de um programa de pesquisa científica, embora seja óbvio que não satisfaz aos padrões equivocados e irreais da Metodologia clássica, o que não é nada desmerecedor, muito pelo contrário. Além disso, voltamos à nos-sa observação de que o programa kardequiano sempre foi e continua sendo progressivo, o que, segundo Lakatos, é condição suficiente para que continue "valendo a pena" e motivo bastante para não ser aban-donado. Isso, porém, não responde à outra afirmação do item 1, ou seja, a de que os novos métodos são superiores. Vejamos.

A alegação de cientificidade das modernas linhas de pesquisa pretende assentar-se no que se contém nos itens 3, 4 e 5. Quanto ao 3 , já vimos à saciedade que só pode ter resultado da adoção para critério de distinção entre ciência e não-ciência, da visão equivocada do Indutivismo. Aliás, esta nossa assertiva confirmou-se, como se já não se provasse por si própria, do que pessoalmente ouvimos da parte de ilustre cientista e pesquisador da Psicofísica, em recente conferência num simpósio universitário. Fez claras e inequívocas referências ao "Método Científico" e aos "seus fundadores", remetendo à época de Bacon, salientando que era obedecido religiosamente pela novel "ciência". Além do fato, hoje lugar-comum entre os filósofos e psicólogos, da inexistência e impossibilidade de observações puras, é de su-ma importância notar, por ser um ponto crucial, que "ciência" sem teoria é tudo, menos ciência. Ficamos vivamente consternados de ver se ufanarem eminentes personalidades por estar fazendo "ciência sem teoria"!...

O que verdadeiramente acontece com estas novéis linhas de pesquisa, cujo valor não desmere-cemos de todo, pois que o mais das vezes representam esforços sinceros na busca de novos conheci-mentos, é que, por deliberadamente rejeitarem a adoção de um sólido corpo teórico, que forneceria as heurísticas positiva e negativa, acabam pulverizando-se ao invés de se compactarem e aumentarem sua coerência, e assiste-se ao triste fenômeno de ver-se cada pesquisador trabalhando com um conjunto dife-rente de hipóteses (que inevitavelmente, queiram ou não, tenham consciência disso ou não, terminam por assumir). Na ausência do hard core, ficam sem saber para onde dirigir o modus tollens experimental, e via de regra aplicam-no lugar errado. Na ausência da heurística positiva, ficam "sem bússola em alto mar", e começam a andar em círculos. Notamos, en passant, que do mesmo defeito padecem a Psicologia, a So-ciologia e outras "ciências". Uma rápida olhadela nos sucessos e conquistas dessas disciplinas todas que incorrem no equívoco indutivista — na pretensão de utilizar o mesmo "método miraculoso" que teria en-gendrado e extraordinário êxito das ciências maduras", como a Física — basta para mostrar que algo está errado. Numa parca dúzia de anos, Allan Kardec, munido das ferramentas metodológicas adequadas, fez o conhecimento humano progredir mais do que não o fizeram a totalidade das ciências humanas e bioló-gicas, bem como as chamadas "ciências psíquicas", em seus esforços de séculos, até o presente. Embora esta constatação elementar por si só bastasse para por o mito da cientificidade das novéis disciplinas em seu justo lugar, vejamos ainda alguns problemas com o itens 4 e 5. Sobre o emprego de métodos quanti-tativos, vem muito a propósito esta observação de Chalmers na Introdução de seu precioso livrinho: “Na fachada do Social Science Research Building da Universidade de Chicago lê-se a seguinte frase: «if you cannot measure, your knowledge in meagre and insatisfactory (Se você é incapaz de medir, seu conheci-mento é precário e insatisfatório)». Indubitavelmente, muitos dos que ali trabalham, trancafiados em seus modernos laboratórios, escrutinizam o mundo através dos números, sem se aperceberem que o método que se esforçam por utilizar não só é necessariamente estéril e infrutífero, como também não é aquele ao qual o sucesso da Física deve ser atribuído." (Pág. XIV.)

Este comentário mostra tão bem a vacuidade da tentativa de querer submeter à análise quantitati-va até mesmo aquilo que a isto não se presta, que deixaremos sua eloquência falar por si só.

Conquanto o emprego de aparelhos sofisticados seja inquestionavelmente de valor em determina-dos casos, não deve ser considerado de necessidade absoluta, principalmente quando se atenta para o exposto no parágrafo precedente e se tem em conta a natureza dos fenômenos observados. Considere-se, por exemplo, a seguinte experiência: na presença de várias pessoas e em plena luz, vê-se uma mesa comum elevar-se nos ares, passar por cima das cabeças dos atônitos espectadores, volutear, e depois projetar-se violentamente contra uma parede e esfacelar-se em mil pedaços. Serão precisos nesse caso aparelhos especiais para se atestar a ação de forças desconhecidas da Física atual? Ou ainda este outro fenômeno: um certo indivíduo de instrução primária, nascido e vivendo numa cidadezinha do Interior, da qual praticamente nunca saiu, e que tem seu tempo quase todo tomado com seu difícil ganha-pão, escre-ve, em condições extraordinárias (por exemplo, sem revisão e numa velocidade vertiginosa) mais de uma centena de livros vazados em linguagem erudita, e versando sobre os mais variados e profundos assuntos

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— das várias ciências até a moral, da filosofia até a poesia. (Qualquer semelhança com a realidade é me-ra... verdade). Será preciso recorrer a alguma aparelhagem para constatar-se a existência de Espíritos?

Além de se verem muitos pesquisadores prescreverem o uso de aparelhos sofisticados como ne-cessários, vêem-se também, o que é pior, aqueles que consideram tal uso suficiente para a cientificidade das pesquisas! Se for empregado um computador, então... os resultados atingem facilmente o status de verdades divinas! Como se uma destas máquinas fosse capaz de acrescer de um só bite o conteúdo de informação que recebe na entrada...

Alertamos mais uma vez que não nos posicionamos contra o uso de aparelhos, mas queremos ad-vertir para a armadilha em que muita gente bem-intencionada acaba caindo, ao deixar-se fascinar por uma parafernália técnica de utilidade irrestrita muito questionável, e que não raro encobre deficiências mais profundas nos métodos de pesquisa.

Outro aspecto negativo conseqüente aos enganos de que vimos tratando é aquele de enxamearem as conclusões temerárias e prematuras, quando não infundadas. É fato insofismável o de que os padrões de rigor são freqüentemente muito fracos, quando comparados aos das ciências maduras. Nós que traba-lhamos profissionalmente na área dos fundamentos da Física, a cada dia quedamos perplexos diante das agora tão em moda associações que se fazem entre os fenômenos ditos "paranormais" e certos fenôme-nos curiosos que abundam na Física moderna, especialmente na Mecânica Quântica e na Teoria da Rela-tividade. De fato, estas teorias apresentam características de difícil conceptualização dentro de nosso mo-do clássico de pensar. Mas daí até a um interpretação satisfatória e unificada dos novos fenômenos, e desta até a uma correlação científica com as ocorrências "paranormais", as distâncias são colossais. Não somos cépticos quanto à possibilidade de no futuro virem a se estabelecer estas pontes, mas não pode-mos admitir pretendam fundá-las sobre a areia movediça das conclusões e interpretações apressadas, oriundas, como nossa experiência deixa claro, de um conhecimento altamente deficiente das teorias em questão, adquirido nos livros-texto de ensino de Física e não das fontes originais e dos trabalhos em fun-damentos, quando não — e isto é regra — de trabalhos de "divulgação", que se encontram inçados do maravilhoso, do fantástico, tão ao gosto do público a que se destinam. Como é bem sabido, isto acaba inevitavelmente prejudicando, ou obstando totalmente, a aceitação das novas descobertas pela imensa maioria da classe científica que, com razão, acaba vendo com um olhar desdenhoso tudo o que a elas se refira.

Para finalizar este nosso trabalho singelo, gostaríamos ainda de apontar uma outra distorção na história das Ciências psíquicas. Falamos do singular fenômeno — que se tivesse ocorrido com a Física, por exemplo, reduziria suas conquistas ao nada da Idade Média — da sistemática e pertinaz desconside-ração para com as pesquisas realizadas anteriormente por outros pesquisadores. Assiste-se a um inter-minável recomeçar, a uma repetição sem fim de experiências essencialmente idênticas, que, mais cedo, mais tarde, acabam levando às mesmas conclusões. Vejam-se, por exemplo, os casos significativos de Crookes, Myers, Richet e, mais recentemente, de Rhine, que, recomeçando do zero, se viram na contin-gência de ter de aceitar essencialmente aquilo que Kardec já mostrara com grande antecedência. Esta atitude poder-se-ia qualificar de irracional, no mínimo, pois que frontalmente contrária ao progresso pleno do conhecimento. Desnecessário dizer que não nos posicionamos contra a rejeição de métodos, pesqui-sas e resultados anteriores quando estudos sérios a indicarem (o que, no caso de Kardec, ainda está por aparecer), pois tal atitude, por dogmática, entravaria igualmente o progresso do saber. Pronunciamo-nos, isto sim, contra a recusa sistemática em examinar imparcial e profundadamente a herança que recebemos de nossos predecessores.

Nossa intenção com as críticas que expusemos nesta seção foi, como quisemos deixar claro, não a de desmerecer a capacidade de ilustres personalidades, mas a de apontar os enganos em que laboram, facilmente identificáveis pelo moderno filósofo da ciência. Fazemo-lo na esperança de ver um dia todo este potencial humano aplicado na direção mais correta, numa união de forças de que todos muito terão a se beneficiar.

"A ciência ensoberbece, mas o amor edifica." — PAULO. (I Cor., VIII:1.)

Obras Citadas:

Kardec, Allan - "A Gênese", 25a ed. FEB; "O Livro dos Espíritos", 58a ed. FEB; "Obras Póstumas", 19a ed. FEB.

Chalmers, A. F. - "What is this Thing Called Science?", University of Queensland Press, 1976

Lakatos, I. - "Falsification and the Methodology of Scientific Research Programmes", in "Criticism and the Growth of Knowledge", editado por I. Lakatos e

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A. Musgrave, Cambridge University Pressm 1974.

A Excelência Metodológica do Espiritismo I por Sílvio Seno Chibeni

REFORMADOR, novembro de 1988, pp. 328-333. O Espiritismo não pode considerar crítico sério senão aquele que tudo tenha visto, estudado e a-

profundado com a paciência e a perseverança de um observador consciencioso; que do assunto saiba tanto quanto o adepto mais esclarecido; que haja, por conseguinte, haurido seus conhecimentos algures, que não nos romances da ciência; aquele a quem não se possa opor fato algum que lhe seja desconheci-do, nenhum argumento de que já não tenha cogitado e cuja refutação faça, não por mera negação, mas por meio de outros argumentos mais peremptórios; aquele, finalmente, que possa indicar, para os fatos averiguados, causa mais lógica do que a que lhe aponta o Espiritismo. Tal crítico ainda está por aparecer.

Allan Kardec Le Livre des Médiuns (Em nossas citações das obras de Allan Kardec utilizamos am-plamente as traduções editadas pela Federação Espírita Brasileira; ver Referências Bibliográficas, no final deste artigo.)

1- Introdução Ao procurarmos aplicar esses critérios para a caracterização de um crítico legítimo do Espiritismo a

cada um daquele que o têm pretendido ser durante os mais de cento e vinte anos que se passaram desde que Allan Kardec os enumerou, verificamos, facilmente e sem possibilidade de erro, que mesmo hoje tal crítico “ainda está para aparece”, em patente demonstração da excelência metodológica do Espiritismo, da solidez de seus fundamentos, de sua superioridade relativamente aos demais sistemas, doutrinas, teo-rias que com ele têm em comum o mesmo objeto de estudo, ou seja, a existência e a natureza do elemen-to espiritual.

Essa tese foi tão lucidamente defendida pelo próprio Kardec em várias de usas obras que acredi-tamos redundantes quaisquer argumentações posteriores. Nosso propósito aqui será, portanto, tão uni-camente o de relembrar alguns dos aspectos já considerados pelo Codificador da Doutrina Espírita, co-mentando-os dentro do contexto de certas dificuldades encontradas por alguns espíritas quando da análi-se comparativa do Espiritismo com “sistemas” alternativos.

Não é inexpressivo o número de indivíduos e instituições ditos espíritas empenhados na busca de “novidades” que possam, segundo pensam, “atualizar”' a Doutrina, dar-lhe “fundamentação científica”, “harmonizá-la às conquistas da Ciência”. Nesse sentido, procuram ressaltar e dar cobertura — inclusive através de periódicos espíritas, ciclos de palestras, etc. — a pesquisadores das chamadas “ciências psi”, notadamente aqueles detentores de títulos acadêmicos. Tentaremos, dentro das limitações de espaço de um artigo, mostrar que tais atitudes decorrem de uma injustificável inversão de valores, prejudicial tanto ao Movimento Espírita como ao próprio desenvolvimento da Doutrina e do conhecimento humano em geral.

2 - O Espiritismo é científico

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O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.

Allan Kardec (Qu'est-ce que le Spiritisme, Preâmbulo.) Evidentemente, o estatuto científico de uma teoria não pode ser decidido através da mera delibe-

ração de se definir como uma “ciência”. Esse atributo é inerente à natureza intrínseca da teoria, e não à denominação que se lhe dê.

A tarefa de determinar quais as características de uma teoria são necessárias e suficientes ao seu enquadramento na categoria de ciência cabe à sub-área da Filosofia intitulada Filosofia da Ciência. Essa disciplina, assim como outros ramos do saber, vem evoluindo constantemente. Em seu caso específico, progressos essenciais ocorreram no século XX, e , mais acentuadamente, a partir da década de 60. Os trabalhos de vários filósofos, entre os quais Karl Popper, Willard Quine, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos, evidenciaram graves problemas na concepção de ciência que prevaleceu durante séculos, e ainda hoje é muito freqüente encontrar-se entre os não filósofos.

A compreensão dessa visão “antiga” de ciência, de suas várias dificuldades, dos argumentos a-vançados por esses filósofos e das novas concepções que propuseram requer estudos especializados de muitos anos, não podendo pois ser avançada dentro de um artigo, por maior que seja sua extensão. Em trabalho anterior (Espiritismo e Ciência. Esboço de uma análise do Espiritismo à luz da moderna Filosofia da Ciência; ver Referências Bibliográficas.), tivemos ocasião de tentar fornecer uma tosca idéia dessas questões (O leitor interessado poderá consultar o livro de Alan Chalmers What is this thing called science, que é razoavelmente acessível e contém abundantes referências). Procuraremos aqui relembrar algo do que ali foi exposto, a fim de dar substância à nossa presente argumentação.

Muito simplificadamente, poderíamos dizer que pelo menos desde o surgimento da ciência moder-na, por volta do século XVII, acreditava-se que a Ciência consistia na catalogação neutra de um grande número de “fatos”, dos quais então resultariam, de maneira “espontânea”, certa e infalível, as leis gerais que o regem; a reunião de tais leis constituiria então uma teoria científica.

Conforme mencionamos, essa visão “clássica” de ciência mostrou-se insustentável. Percebeu-se que a descrição, busca e classificação dos fatos necessariamente envolve pressuposições teóricas de um tipo ou de outro; que nenhuma lei teórica pode resultar lógica e infalivelmente de um conjunto de fatos, qualquer que ele seja; que uma teoria científica não é um simples amontoado de leis, sendo, antes, uma estrutura dinâmica complexa, na qual participam elementos de diversas naturezas, como resultados ob-servacionais, hipóteses livremente concebidas, regras para o desenvolvimento futuro da teoria, decisões metodológicas, fragmentos de outras teorias etc.

Imre Lakatos (Ver, por exemplo, seu famoso artigo “Falsification and the methodology of scientific reserch programmes”; ver Referências Bibliográficas.) sistematizou as novas idéias surgidas na Filosofia da Ciência, propondo que a atividade científica desenvolve-se em torno do que denominou “programa ci-entífico de pesquisa”. Um tal programa de pesquisa consiste, em termos simplificados, de um “núcleo rígi-do” de hipóteses teóricas básicas, suplementado por um “cinturão protetor” de hipóteses auxiliares, que serve para ligar e ajustar o núcleo aos fenômenos de que a ciência trata. A cada programa ainda estão associadas duas “heurísticas”, uma “negativa”, que é a decisão metodológica de se manter inalteradas as hipóteses do núcleo, e outra “positiva”, que é um conjunto de sugestões ou idéias de como mudar ou de-senvolver o cinturão protetor de modo que o programa dê conta de novos fenômenos e explique os já co-nhecidos de maneira mais precisa. Um programa de pesquisa é dito “progressivo” caso leve sistematica-mente à descoberta de novos fatos, que sejam por ele explicados; caso contrário, será dito “degenerante”.

Tomando o exemplo de um dos mais bem sucedidos programas de pesquisa da Física, a Mecâni-ca Newtoniana, vemos que possui um núcleo rígido formado pelas três leis newtonianas do movimento e pela lei da gravitação universal, que a heurística negativa do programa recomenda sejam mantidas inalte-radas: eventuais discrepâncias com a experiência devem ser eliminadas através de ajustes nas hipóteses auxiliares do cinturão protetor. Esse processo ocorreu várias vezes durante o desenvolvimento do pro-grama, como quando, no século XIX, se verificou que as previsões teóricas para a trajetória do planeta Urano conflitavam com os dados da observação astronômica; ao invés de imputar esse desvio a possível falsidade das leis do núcleo rígido, assumiu-se que deveria existir um corpo celeste desconhecido pertur-bando a trajetória do planeta; mais tarde, foi, de fato, observada a existência desse corpo, o planeta Netu-no. Assim como nesse episódio, a conjunção das heurísticas negativa e positiva do programa newtoniano levou à inúmeros desenvolvimentos: novas teorias ópticas, novos aparelhos e técnicas de observação, criação de novos ramos da Matemática etc. A partir do início de nosso século, porém, o programa tornou-se degenerante, por motivos vários que não cabe expor aqui, vindo a ser substituído pelos programas das Teorias da Relatividade e da Mecânica Quântica.

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Olhando agora para o Espiritismo, vemos que traz em si todas as características de um programa de pesquisa progressivo, sendo, portanto, genuinamente científico, segundo o critério lakatosiano.

Possui um núcleo rígido formado pelo princípio da existência de uma “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, dotada da suprema justiça e bondade; pela lei de causa e feito; pela imortali-dade dos seres vivos; por sua evolução ilimitada; pela existência do livre arbítrio, a partir de determinado estágio evolutivo. Desse núcleo pode-se, com o auxílio da lógica (“raciocínio”) e de assunções auxiliares, deduzir (“explicar”) a infinidade de fenômenos de que trata o Espiritismo: os fenômenos mediúnicos e a-nímicos, a evolução dos seres, seus estados psicológicos, sua condição após a morte etc. Todos esses fato, analisados extensiva e objetivamente pelo Espiritismo, embasam e sancionam o corpo de seus prin-cípios teóricos; este, a seu turno, concatena, torna inteligíveis, explica aqueles fatos.

Allan Kardec percebeu, em admirável antecipação às conquistas recentes da Filosofia da Ciência, a importância fundamental dessa “simbiose”' entre fenômeno e teoria, e expendeu extensos comentários sobre ela em várias de suas obras. Os três capítulos iniciais da primeira parte de O Livro dos Médiuns, por exemplo, são uma obra prima de argumentação filosófica que, embora visando à elucidação de uma ques-tão ligeiramente diferente, contém valiosos elementos relevantes ao assunto que estamos analisando. Comecemos por estas considerações do Parágrafo 19:

É crença geral que, para convencer, basta apresentar fatos. Esse, com efeito, parece o caminho mais lógico. Entretanto, mostra a experiência que nem sempre é o melhor, pois que a cada passo se en-contram pessoas que os mais patentes fatos absolutamente não convenceram. A que se deve atribuir is-so? É o que vamos tentar demonstrar.

No Parágrafo 29 Kardec volta ao ponto: Podemos dizer que, para a maioria dos que não se preparam pelo raciocínio, os fenômenos mate-

riais quase nenhum peso têm. Quanto mais extraordinários são esses fenômenos, quanto mais se afas-tam das leis conhecidas, maior oposição encontram e isto por uma razão muito simples: é que todos so-mos naturalmente a duvidar de uma coisa que não tem sanção racional. Cada um a considera de seu pon-to de vista e a explica a seu modo (...).

Essa “sanção racional” é a que advém da explicação dos fatos através da teoria. No Parágrafo 34, após ressaltar a importância dos fatos na fundamentação da teoria, Kardec considera, por outro lado, que de dez pessoas novatas que assistam a uma sessão de experimentação espírita “nove sairão sem estar convencidas e algumas mais incrédulas do que antes, por não terem as experiências correspondido ao que esperavam”. Prossegue então Kardec:

O inverso se dará com as que puderem compreender os fatos, mediante antecipado conhecimento teórico. Paras estas pessoas, a teoria constitui um meio de verificação, sem que coisa alguma as surpre-enda, nem mesmo o insucesso, porque sabem em que condições os fenômenos se produzem e que não se lhes deve pedir o que não podem dar. Assim, pois, a inteligência prévia dos fatos não só as coloca em condições de se aperceberem de todas as anomalias, mas também de apreenderem um sem número de particularidades, de matizes, às vezes muito delicados, que escapam ao observador ignorante.

Considerações interessantes nesse mesmo sentido encontram-se também em O que é o Espiritis-mo. No diálogo com o Crítico (Cap. I, Primeiro Diálogo) Kardec pondera, em resposta à solicitação que este lhe faz de permissão para assistir a algumas experiências:

E julgais que isto vos baste para poder, exprofesso, falar de Espiritismo? Como poderíeis compre-ender essas experiências e, ainda mais, julgá-las, quando não estudaste os princípios em que elas se baseiam? Como apreciaríeis o resultado, satisfatório ou não, de ensaios metalúrgicos, por exemplo, não conhecendo a fundo a metalurgia?

Mais adiante, no diálogo com o Céptico (Cap. I, Segundo Diálogo, seção “Elementos de convic-ção”) Kardec coloca a questão em termos explícitos:

Há duas coisas no Espiritismo: a parte experimental das manifestações e a doutrina filosófica. Ora, eu sou todos os dias visitado por pessoas que ainda nada viram e crêem tão firmemente como eu, pelo só estudo que fizeram da parte filosófica; para elas o fenômeno das manifestações é acessório; o fundo é a doutrina, a ciência; eles a vêem tão grande, tão racional, que nela encontram tudo quanto possa satisfazer às suas aspirações interiores, à parte o fato das manifestações; do que concluem que, supondo não exis-tissem as manifestações, a doutrina não deixaria de ser sempre a que melhor resolve uma multidão de problemas reputados insolúveis.

Quantos me disseram que essas idéias estavam em germe no seu cérebro, conquanto em estado de confusão. O Espiritismo veio coordená-las, dar-lhes corpo, e foi para eles como um raio de luz. É o que explica o número de adeptos que a simples leitura de O Livro dos Espíritos produziu. Acreditais que esse número seria o que é hoje, se nunca tivéssemos passado das mesas girantes e falantes ?

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A primeira sentença que destacamos revela uma vez mais que Kardec localizava o caráter científi-co do Espiritismo na “doutrina”, na sua “parte filosófica”, que, no contexto de nossa análise, deve ser en-tendido como aquilo a que vimos denominando “teoria”. Os fatos em si não constituem a ciência.

Nosso segundo destaque mostra que Kardec já entendia o papel da teoria como dando “corpo”, ou seja, coesão, inteligibilidade, aos fenômenos, que é a tarefa que Lakatos atribui aos princípios teóricos do programa de pesquisa, notadamente os de seu núcleo rígido.

No decorrer das próximas seções a tese da cientificidade do Espiritismo pela qual vimos argumen-tando receberá indiretamente mais elementos de comprovação.

3 - “O Espiritismo não é da alçada da Ciência” A frase que serve de título a esta seção foi extraída do Item VII da magnífica peça “Introdução ao

Estudo da Doutrina Espírita”, que Kardec fez figurar como introdução de O Livro dos Espíritos. Esse item trata especificamente da relações entre a Doutrina Espírita e a Ciência, devendo esta ser entendida aqui como o conjunto das ciências ordinárias, “oficiais”, das academias, tal como a Física, a Química e a Biolo-gia (A inclusão da Psicologia e da Sociologia é problemática, já que não parecem, em sua atual fase de desenvolvimento, cumprir os requisitos mínimos de uma verdadeira ciência. Nós espíritas temos razões adicionais para essa dúvida, dado que tais disciplinas, pretendendo estudar o ser humano, ignoram preci-samente o que lhe é mais essencial, ou seja, o Espírito.).

Apesar da clareza e da robustez argumentativa com que Allan Kardec abordou esse assunto, não somente nessa seção de O Livro dos Espíritos, mas também em outras de suas obras, especialmente em O que é o Espiritismo, O Livro dos Médiuns e A Gênese, Os Milagres e as Predições segundo o Espiritis-mo, curiosamente observam-se ainda hoje muitos equívocos em sua apresentação, mesmo por parte de espíritas. Destarte, mais uma vez repetimos que não acrescentando nada ao que já disse o preclaro Codi-ficador, mas apenas relembrando seus argumentos (Esse tema foi também lucidamente tratado em artigo recente de Juvanir Borges de Souza, “Pesquisas e Métodos”, publicado no número de abril de 1986 de o Reformador, cuja leitura recomendamos vivamente.).

Começaremos notando que a afirmação de Kardec em consideração vem, no texto, precedida pela palavra portanto, o que mostra que, seguindo a regra que invariavelmente adotou, Kardec ofereceu um argumento à assertiva, que, dada a sua importância, não poderia ser postulada dogmaticamente.

Esse argumento encontra-se no próprio parágrafo que contém a assertiva em discussão: As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e mani-

pular livremente; os fenômenos espíritas repousam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos. As observações não podem, portanto, ser feitas de mesma forma; requerem condições especiais e outro ponto de partida. Querer submetê-la aos processos comuns de investigações é estabelecer analogias que não existem. A Ciência, propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para pronunciar na questão do Espiritis-mo: não tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter.

É admirável a simplicidade do argumento: o Espiritismo e a Ciência tratam de domínios diferentes de fenômenos: o primeiro dos relativos ao elemento espiritual, a segunda daqueles concernentes ao ele-mento material. Têm, portanto, métodos específicos e objetivos distintos, não cabendo, pois, julgamentos recíprocos.

Notemos que não se pode confundir o fato de o Espiritismo ser uma ciência — o que procuramos mostrar na seção anterior — com a assunção falsa de que ele pertence ao domínio da Ciência (ou seja, da Física, da Química e da Biologia).

Um pouco adiante, Kardec enfatiza: Repetimos mais uma vez que, se os fatos a que aludimos se houvessem reduzido ao movimento

mecânico dos corpos, a indagação da causa física desse fenômeno caberia no domínio da Ciência; po-rém, desde que se trata de uma manifestação que se produz com exclusão das leis de Humanidade, ela escapa à competência da ciência material, visto não poder exprimir-se nem por algarismos, nem pela for-ça mecânica.

Estudando domínios diferentes e complementares, “O Espiritismo e a Ciência se completam reci-procamente”, conforme destacadamente exarou Kardec no Parágrafo 16 do Capítulo I de A Gênese.

Antes de prosseguirmos, vejamos como Kardec reapresenta o argumento em estudo em O que é Espiritismo. Ali, o assunto é tratado extensivamente. Na décima quinta resposta ao Crítico (Cap. .I, Primei-ro Diálogo), Kardec lembra uma vez que:

Os fenômenos espíritas diferem essencialmente dos das ciências exatas: não se produzem à von-tade; é preciso que os colhamos de passagem; é observando muito e por muito tempo que se descobre

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uma porção de provas que escapam à primeira vista, sobretudo, quando não se está familiarizado com as condições em que se pode encontrá-las, e ainda mais quando se vem com o espírito prevenido.

E, na resposta seguinte, enfatiza: Não se pode fazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um de Física ou de Química,

visto que nunca se é senhor de produzir os fenômenos espíritas à vontade, e que as inteligências que lhe são o agente fazem, muitas vezes, frustrarem-se todas as nossas previsões.

No diálogo com o Céptico (Cap. I, Segundo Diálogo, seção “Oposição da Ciência”) Kardec enfoca outro aspecto da questão, igualmente já tratado no referido Item VII da Introdução de O Livro dos Espíri-tos. Estabelecida a independência da Ciência e do Espiritismo, resta ver se estariam os cientistas mais autorizados que as demais pessoas a se pronunciar sobre o Espiritismo. Tal questão é ainda atual, já que vemos muitos espíritas na posição em que Kardec situa o Céptico do diálogo: afligem-se por buscar o apoio dos cientistas. “Admito perfeitamente”, diz o Céptico, “que eles não são infalíveis; mas não é menos verdade que, em virtude do seu saber, sua opinião vale alguma coisa, e que, se ela estivesse do vosso lado, daria grande peso ao vosso sistema”.

A réplica de Kardec vem, como sempre, vazada no bom senso e na lógica: Concordai, também, que ninguém pode ser bom juiz naquilo que está fora da sua competência. Se quiserdes edificar uma casa, confiarieis esse trabalho a um músico? Se estiverdes enfermo, far-vos-ei tratar por um arquiteto? Quando estais a braços com um processo, ides consultar um dançarino? Finalmente, quando se trata de uma questão de teologia, alguém irá pedir solução a um químico

ou a um astrônomo? Não, cada um em sua especialidade. As ciências vulgares repousam sobre as propriedades da matéria, que se pode, à vontade, mani-

pular.; os fenômenos que ela produz têm por agentes forças materiais. Os do Espiritismo têm, como agentes, inteligências que possuem independência, livre-arbítrio e

não estão sujeitas aos nossos caprichos; por isso eles escapam aos nossos processos de laboratório e aos nossos cálculos, e, desde então, ficam fora dos domínios da Ciência propriamente dita.

A Ciência enganou-se quando quis experimentar os Espíritos como o faz com uma pilha voltaica; foi mal sucedida, como devia ser, porque agiu pressupondo uma analogia que não existe; e depois, sem ir mais longe, concluiu pela negação, juízo temerário que o tempo se encarrega de ir emendando diariamen-te, como já fez com tantos outros (...).

As corporações científicas não devem, nem jamais deverão, pronunciar-se nesta questão; ela está tão fora dos limites do seu domínio como a de decretar se Deus existe ou não; é, pois, um erro tomá-las aqui por juiz.

Kardec mostrou que nem o estudo do Espiritismo cabe à Ciência, nem estão os cientistas em posi-ção privilegiada para sobre ele opinar. Foi mesmo além: dada a freqüente distorção que o envolvimento com sua especialidade impões à sua maneira de apreciar as coisas, suas opiniões podem até mesmo estar mais sujeitas a equívocos. No referido item de O Livro dos Espíritos Kardec considera:

Aquele que se fez especialista prende todas as suas idéias à especialidade que adotou. Tirai-o daí e o vereis sempre desarrazoar, por querer submeter tudo ao mesmo cadinho: conseqüência da fraqueza humana.

Nada obsta, evidentemente, a que os cientistas se interessem, enquanto homens, pelo Espiritismo, e o estudem e avaliem nessa condição. Um pouco abaixo do trecho que acabamos de transcrever, Kardec pronuncia-se nesse sentido:

O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal, que os cientistas, como indivíduos, podem adquirir, abstração feita de sua qualidade de cientistas (...).

Quando as crenças espíritas se houverem difundido, quando estiverem aceitas pelas massas hu-manas (...), com elas se dará com o que tem acontecido com todas as idéias novas que hão encontrado oposição: os cientistas se renderão à evidência. Lá chegarão, individualmente, pela força das coisas. Até então será intempestivo desviá-los de seus trabalhos especiais, para obrigá-los a se ocupar de um assun-to estranho, que não lhes está nem nas atribuições, nem no programa. Enquanto isso não se verifica, os que, sem assunto prévio e aprofundado da matéria, se pronunciam pela negativa e escarnecem de quem não lhes subscrevem o conceito, esquecem que o mesmo se deu com a maior parte das grandes desco-bertas que fazem honra à Humanidade.

Ainda um último aspecto está envolvido nas relações entre o Espiritismo e a Ciência: a necessida-de que ele tem de não entrar em descompasso com o progresso científico.

O local clássico onde Kardec tratou desse ponto é o Parágrafo 55 do Capítulo I de A Gênese. Co-meça considerando que “apoiando-se em fatos [a revelação espírita] tem que ser, e não pode deixar de

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ser, essencialmente progressiva''. Esse caráter essencial do Espiritismo resulta de sua natureza genuina-mente científica: embora o núcleo de seus princípios básicos permaneça inalterado, complementações e ajustes nas assunções auxiliares do cinturão protetor o colocam sempre em concordância com as novas descobertas. É isso que se tem verificado ao longo da história do Espiritismo. O núcleo doutrinário funda-mental contido em O Livro dos Espíritos foi, nas mãos equilibradas do próprio Kardec, desdobrado e am-pliado nos estudos que resultaram nas demais obras da Codificação. Hoje em dia, a vasta literatura medi-única legitimamente espírita ampliou, por exemplo, os informes sobre o mundo espiritual. E isso, repeti-mos, sem confronto com os princípios básicos.

No entanto, é preciso cautela no entendimento da progressividade do Espiritismo. Primeiro, ela deve ocorrer de acordo com a heurística positiva do próprio programa espírita, sem

recurso a elementos estranhos, venham de onde vierem, sob o risco de este perder sua consistência. Depois, a harmonia com as conquistas da Ciência não deve ser buscada irrestritamente e a qual-

quer preço, visto estar ela, em suas proposições abstratas, constantemente sujeita a enganos e retifica-ções. Kardec percebeu isso de maneira clara, mesmo tendo vivido antes das grandes revoluções científi-cas do início de nosso século. No item de O Livro dos Espíritos de que estamos tratando encontramos este trecho:

Desde que a Ciência sai da observação material dos fatos, para os apreciar e explicar, o campo está aberto às conjecturas (...) Não vemos todos os dias as mais opostas opiniões serem alternadamente preconizadas e rejeitadas, ora repelidas como erros absurdos, para logo depois aparecerem proclamadas como verdades incontestáveis?

Aliás, é interessante notar que se Kardec não tivesse imprimido ao programa espírita a indepen-dência e autonomia que lhe imprimiu, ajustando-o, ao invés, de modo irrestrito agraves teorias científicas da época, ele teria, como conseqüência das aludidas revoluções, soçobrado irremediavelmente.

Aparentemente, os que em nossos dias advogam a tese do ajuste à “Ciência” ainda não se deram conta desse fato, nem perceberam que no referido parágrafo de A Gênese Kardec deixou clara uma res-salva vital, ao falar desse ajuste:

Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá apoio das suas próprias desco-bertas, [o Espiritismo] assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam atingido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele suicidaria.

Notemos que o “suicídio” do Espiritismo adviria, segundo Kardec, não só de sua estagnação (as-pecto esse sempre lembrado), mas também de sua assimilação de doutrinas que não hajam atingido o estado de “verdades práticas” (o que em geral passa despercebido, por ter ficado implícito no texto).

Agora é certo que não há nenhum princípio científico estável, nenhuma ``verdade prática'', que o Espiritismo não tenha ou assimilado, ou mesmo antecipado, sendo, portanto, improcedente os pruridos de reforma e atualização da Doutrina.

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CIÊNCIA ESPÍRITA por Sílvio Seno Chibeni

Le Spiritisme est une science qui traite de la nature, de

l'origine et de la destinée des Esprits, et de leur rapports avec le monde corporel.

Allan Kardec

1. INTRODUÇÃO: CIÊNCIA E PSEUDO-CIÊNCIA Com a frase em epígrafe, que figura no Preâmbulo do importante livro O que é o Espiritismo, Allan

Kardec indica, de modo sumário porém preciso, o objeto de estudo do Espiritismo, enquanto ciência. Quando a escreveu, em 1859, Kardec já havia, ao longo de alguns anos de investigações teóricas e expe-rimentais intensas, desenvolvido suficientemente o Espiritismo para poder afirmar sem hesitação que se tratava de uma nova disciplina científica. Como é bem sabido, os desdobramentos filosóficos e morais que essa disciplina comporta foram igualmente objeto de grande atenção por parte de Kardec. No presente trabalho centralizaremos nossa análise no aspecto científico do Espiritismo, atendendo à natureza desta seção da Revista Internacional de Espiritismo.(1)

A questão de que características tornam uma disciplina merecedora do qualificativo científica tem ocupado lugar proeminente nos estudos dos filósofos da ciência. Notadamente nas últimas três décadas, progressos significativos foram realizados no sentido de se lhe oferecer uma resposta satisfatória. Um dos elementos mais importantes nesse aperfeiçoamento de nossa concepção de ciência foi a maior atenção que os filósofos da ciência passaram a atribuir à análise detalhada da história da ciência, dentro de uma abordagem historiográfica renovada.

Reconhece-se hoje entre os especialistas que a concepção comum de ciência padece de defeitos sérios, por não resistir nem a variados argumentos filosóficos recentemente levantados, nem ao confronto com a descrição da gênese, evolução e estrutura das disciplinas científicas maduras, ou seja, da Física, da Química e da Biologia. Os elementos problemáticos dessa visão ordinária de ciência, esposada tanto (1) Em nosso artigo “Espiritismo e ciência” abordamos de modo mais extenso o aspecto científico do Espiritismo, à luz da moderna Filosofia da Ciência. Retomamos o assunto no trabalho mais abrangente e menos técnico “A excelência metodológica do Espiritismo”, que contém também uma análise do aspecto religioso do Espiritismo. Em "Os fundamentos da ética espírita" examinamos com algum detalhe as implicações morais da ciência espírita. Para o aspecto científico do Espiritismo, recomendamos ainda a leitura dos artigos “O que é a ciência” e “As provas científicas”, de Aécio Pereira Chagas, e “Pesquisas e métodos”, de Juvanir Borges de Souza. As referências completas desses artigos, todos publicados em Reformador, encontram-se na lista bibliográfica, aposta no final deste artigo.

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pelo homem comum como por expressiva parcela dos próprios cientistas, compareciam igualmente nas concepções que os filósofos defendiam até a primeira metade de nosso século. A versão mais bem articu-lada dessa concepção é a doutrina filosófica conhecida como Positivismo Lógico, que teve seu apogeu nas décadas de 1920 e 1930. Por motivos que não cabe aqui examinar, essa posição filosófica exerceu entranhada influência sobre os cientistas, e essa influência perdura até nossos dias, a despeito daquela concepção haver sido abandonada há muito pelos filósofos.

Esses fatos são importantes em nossa análise das linhas de pesquisa que pretendem competir com o Espiritismo, pois elas começaram a surgir precisamente quando o Positivismo Lógico fornecia os parâmetros segundo os quais uma atividade genuinamente científica se desenvolveria. Ora, tais parâme-tros sendo equivocados, como se percebeu depois, aquelas linhas de pesquisa nascentes, que alimenta-vam a pretensão à cientificidade, acabaram por assimilar uma visão de ciência irreal. Isso levou a que adotassem métodos inadequados aos fins a que se propuseram, bloqueando-lhes as possibilidades de contribuir significativamente para o avanço de nosso conhecimento no domínio do espírito.

Lamentavelmente, a adoção de uma concepção falha de ciência levou os pesquisadores da Para-psicologia e demais linhas de investigação que surgiram após ela a não somente empenharem infrutife-ramente os seus esforços, como também a desprezarem, ou mesmo repelirem, as conquistas e métodos de uma legítima ciência do espírito, surgida ainda no século XIX, a saber, o Espiritismo.

Em trabalhos anteriores (ver Nota (1), acima) procuramos fornecer alguns detalhes dessa situação, que embasam as afirmações precedentes. Essa tarefa pressupõe, naturalmente, a comparação dos fun-damentos, estrutura e métodos do Espiritismo com aqueles que as investigações recentes em Filosofia da Ciência mostraram caracterizar as disciplinas paradigmaticamente científicas, como a Física, a Química e a Biologia. Não há espaço para reproduzir aqui as análises que empreendemos naqueles trabalhos. Para fins de completude, porém, indicaremos a seguir, de forma simplificada, alguns de seus pontos principais.

Grosso modo, a visão comum de ciência envolve a assunção de que uma ciência inicia seu desen-volvimento com um período longo de coleta de dados experimentais (dados empíricos, na linguagem filo-sófica); nessa etapa não compareceriam hipóteses teóricas de nenhuma espécie. Uma vez de posse de um conjunto suficientemente grande e variado de dados, os cientistas aplicariam então certos métodos seguros e neutros para obter as teorias científicas, que seriam descrições objetivas da realidade investi-gada.

O exame cuidadoso da história da ciência e os argumentos filosóficos desenvolvidos pelos filóso-fos da ciência contemporâneos mostraram que essa caracterização da atividade científica não somente não corresponde ao que de fato ocorreu e continua ocorrendo com as ciências bem estabelecidas, como também pressupõe procedimentos impossíveis. Observação e teoria, experimento e hipótese nascem e se desenvolvem juntos, num complexo processo simbiótico de suporte recíproco. A acumulação prévia de dados neutros, ainda que fosse possível, seria inútil. Nenhum conjunto de dados leva de modo lógico a leis científicas; a imaginação criadora do homem desempenha um papel essencial na gênese das teorias científicas.

A imagem de ciência a que os filósofos da ciência chegaram a partir das conquistas recentes indi-ca que uma ciência autêntica consiste, simplificadamente, de um núcleo teórico principal, formado por hipóteses fundamentais. Esse núcleo é circundado por hipóteses auxiliares, que o complementam e efe-tuam sua conexão com os dados empíricos. Essa estrutura mais ou menos hierarquizada faz-se acompa-nhar de determinadas regras, nem sempre explícitas, que norteiam o seu desenvolvimento futuro. De um lado, há as regras “negativas”, que estipulam que nesse desenvolvimento os princípios básicos do núcleo teórico devem, o quanto possível, ser mantidas inalteradas. Eventuais discrepâncias entre as previsões da teoria e as observações experimentais devem ser resolvidas por ajustes nas partes menos centrais da malha teórica, constituídas pelas hipóteses auxiliares; regras “positivas” sugerem ao cientista como, quando e onde essas correções e complementações devem ser efetuadas.

Ao contrário do que se supõe na visão comum de ciência, não há restrições sobre a natureza das leis de uma teoria científica, que podem inclusive ser de caráter predominantemente metafísico. A restri-ção fundamental é que a estrutura teórica como um todo forneça previsões empíricas corretas, ou seja dê conta dos fatos. O exame das teorias científicas maduras e dos padrões avaliativos adotados pelos cien-tistas indica ainda que algumas características devem necessariamente estar presentes em qualquer boa teoria científica. Inicialmente, ela deve obviamente ser consistente. Deve ser abrangente, explicando um grande número de fatos. Deve, por fim, apresentar as virtudes estéticas de unidade e simplicidade, ou seja, a explicação que fornecem dos diversos fenômenos deve decorrer de maneira natural e simples de um corpo de leis teóricas integrado e tão reduzido quanto possível. Há ainda o vínculo externo de que uma teoria não deve conflitar com as demais teorias científicas bem estabelecidas que tratam de domínios

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de fenômenos complementares (por exemplo, uma teoria biológica não deve pressupor leis químicas e físicas que contrariem as leis bem assentadas da Química e da Física).

2. O ESPIRITISMO COMO CIÊNCIA A inspeção meticulosa e isenta das origens, estrutura e desenvolvimento do Espiritismo revela que

ele possui todos esses requisitos de uma ciência genuína. Em artigo anterior (“A excelência metodológica do Espiritismo”) procuramos mostrar, além disso, que Allan Kardec admiravelmente antecipou-se às con-quistas recentes da Filosofia da Ciência, e compreendeu essa realidade. Sua visão de ciência, exposta explícita e implicitamente em seus escritos, corresponde à visão moderna e justa mencionada acima. Isso teve a conseqüência feliz de que, ao travar contato com uma nova ordem de fenômenos, Kardec empre-gou em sua investigação métodos e critérios corretos, o que possibilitou o surgimento de uma verdadeira ciência do espírito.

O corpo teórico fundamental do Espiritismo encontra-se delineado em O Livro dos Espíritos. O e-xame dessa obra revela sua consistência e seu alto grau de coesão, uma notável concatenação das di-versas leis, a amplitude de seu escopo, e o perfeito casamento da teoria com os fatos. Ademais, ali estão implicitamente presentes as diretrizes que nortearam os desenvolvimentos ulteriores das investigações espíritas. Parte significativa desses desenvolvimentos foi, como se sabe, levada a cabo pelo próprio Kar-dec, e se acham exarados nas demais obras que escreveu. Consoante com a natureza de uma verdadeira ciência, o desenvolvimento experimental e teórico do Espiritismo prossegue até hoje, pelos esforços de pesquisadores encarnados e desencarnados.

Contrariamente ao que alguns críticos mal informados acerca do Espiritismo e das teorias científi-cas contemporâneas alegam, o Espiritismo não conflita com qualquer uma das teorias científicas madu-ras, quer da Física, quer da Química ou da Biologia. É de crucial importância notar, como o fez Kardec,(2) que embora o Espiritismo seja uma ciência, ele não se confunde com as referidas ciências, do mesmo modo como elas não se confundem entre si. Os domínios de fenômenos por elas tratados não coincidem, sendo antes complementares.

A percepção dessa distinção evita uma série de julgamentos e posturas equivocados, que têm a-meaçado até mesmo o próprio Movimento Espírita. Vêem-se, com efeito, pessoas que imaginam que a ciência espírita consiste em determinadas investigações envolvendo experimentos conduzidos com o au-xílio de aparelhagens de uso nos laboratórios de Física, e dentro de referenciais teórico-conceituais em-prestados à Física. Assume-se, assim, que é o uso desses aparelhos e o emprego de terminologia técnica (aliás quase sempre incompreendida por quem a usa dentro de tais contextos) que confere cientificidade a essas investigações.

Dada a relevância da elucidação dos sérios enganos envolvidos em semelhantes alegações, nesta Seção e na seguinte nos deteremos um pouco mais sobre elas.(3)

A observação mais importante é a de que o estabelecimento dos princípios básicos do Espiritismo prescinde completamente do uso de qualquer aparelho e do recurso a qualquer teoria física. O mais fun-damental de tais princípios é o da existência do espírito, ou seja, da existência de algo no homem que é a sede do pensamento e dos sentimentos e sobrevive à morte corporal. Como enfatizou Kardec, a compro-vação cabal desse princípio se dá através dos fenômenos a que denominou “de efeitos intelectuais”, quais sejam a tiptologia, a psicofonia e a psicografia. Quem quer que reflita isentamente sobre fenômenos dessa ordem não terá dificuldade em reconhecer que atestam a existência do espírito de modo inequívoco; as tentativas de “explicações” alternativas que se têm procurado oferecer surgirão como ridículas.

Nessa avaliação, é importante notar a diferença que existe entre esse princípio básico do Espiri-tismo e alguns dos princípios das teorias físicas e químicas contemporâneas, por exemplo. Neste último caso, o “grau de teoreticidade” (se assim nos podemos exprimir) é muito maior, ou, em outros termos, os princípios estão muito mais distantes do nível fenomenológico, ou seja, da observação empírica direta. Em tal caso, o caminho que vai da observação até o princípio teórico é bastante indireto e tortuoso, passando por uma série de teorias auxiliares, necessárias, por exemplo, para tratar do funcionamento e interpreta-ção dos dados dos aparelhos envolvidos. Nessas circunstâncias, a segurança com que os princípios po-dem ser asseridos fica evidentemente limitada; há em geral possibilidades plausíveis de explicações dos mesmo fenômenos através de princípios teóricos diferentes; a história da Física e da Química tem ilustra-do a vulnerabilidade de suas teorias.

No caso do princípio espírita em questão (bem como de vários outros dos princípios básicos do Espiritismo), a situação é bastante diversa. Trata-se de um princípio pertencente à classe de princípios a

(2) Para um tratamento desse ponto, ver a Seção 3 de nosso “A excelência metodológica do Espiritismo”. (3) Para um tratamento mais extenso desse tópico, ver nossos artigos já referidos.

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que os filósofos denominam “fenomenológicos”, que estão na base do edifício do conhecimento, dado o seu alto grau de certeza. Proposições dessa classe são, por exemplo, as de que o Sol existe, de que o fogo queima e a cicuta envenena, a de que determinado familiar veio nos visitar no dia tal e nos deixou uma caixa de bombons, etc. Nestes casos, embora explicações alternativas sejam em princípio possíveis, (4) elas são tão inverossímeis que não merecem o assentimento de nenhum ser racional. Notemos que a inferência espírita diante de um fenômeno de efeitos intelectuais não difere em nada das inferências que fazemos a partir dos fenômenos ordinários. Quando, por exemplo, o carteiro traz à nossa casa um papel no qual lemos certas frases, não nos acudirá à cabeça a idéia de que elas não foram escritas por um de-terminado amigo, por exemplo, quando relatam fatos, contêm expressões e expressam pensamentos pe-culiares e íntimos. Exatamente o mesmo se dá com os abundantes e variados casos de psicografia de que todos somos testemunha. Não constitui exagero, pois, afirmar-se que a constatação cuidadosa de uns poucos casos dessa espécie (como por exemplo os que nos têm oferecido a extraordinária mediunidade de Chico Xavier) é suficiente para eliminar qualquer dúvida.

Como se isso não bastasse, a base experimental do Espiritismo incorpora ainda muitos outros ti-pos de fenômenos, como a psicofonia, a xenoglossia, as materializações, os casos de vidência, a pneu-matografia e a pneumatofonia, etc. Além desses fenômenos, que formam uma classe específica, a dos fenômenos espíritas, o Espiritismo apoia-se também, em virtude de oferecer-lhes explicações científicas, em uma multidão de fenômenos ordinários. Referimo-nos, por exemplo, às nossas inclinações e sentimen-tos, às peculiaridades de nosso relacionamento com as pessoas que nos cercam, aos acontecimentos marcantes de nossas vidas, aos distúrbios da personalidade, aos efeitos psicossomáticos, aos sonhos, à evolução das espécies e das civilizações, etc.

Entendemos que a desconsideração desse vasto corpo de evidências indiretas a favor do Espiri-tismo constitui omissão séria da parte de seus críticos. Com seu agudo senso científico, Kardec percebeu desde o início que o alcance do Espiritismo transcendia de muito os fenômenos mediúnicos e anímicos específicos que motivaram o seu surgimento. Referindo-se às suas impressões diante das realidades no-vas que se lhe iam descortinando através de suas cuidadosas observações e raciocínios, Kardec assim expressou-se: “Logo compreendi a gravidade da exploração que ia empreender; entrevi naqueles fenô-menos a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução do que eu havia procurado durante toda a minha vida; era, numa palavra, toda uma revolução nas idéias e nas crenças (...)”.(5) “O estudo do Espiritismo é imenso”, disse Kardec em outra passagem; “inte-ressa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é todo um mundo que se abre diante de nós.” (6)

1)

3. PSEUDO-CIÊNCIAS DO ESPÍRITO Na Seção precedente iniciamos a enumeração dos métodos e procedimentos anti-científicos que

caracterizam as linhas de pesquisa alternativas do espírito, indicando que a natureza de seu objeto de estudo é tal que o recurso a aparelhos e a métodos quantitativos em geral é dispensável e mesmo arris-cado, pelos enganos a que pode levar. Isto vale pelo menos quanto ao estabelecimento dos princípios fundamentais da ciência do espírito, concebendo-se que em um futuro distante o detalhamento de alguns pontos mais técnicos, como por exemplo os relativos às leis dos fluidos, possa requerer uma integração mais estreita com a física e a química mais refinadas de então.

Prosseguiremos agora nossa enumeração, começando por um tópico ligado ao que expusemos no final da Seção precedente. Referimo-nos à abrangência do Espiritismo. O escopo dessa ciência é incom-paravelmente mais amplo do que o de todas as teorias alternativas. Uma inspeção destas últimas mostra que consideram apenas uns poucos fenômenos isolados, sem levar em consideração uma multidão de outros, igualmente relevantes.

Esse desprezo de fatos importantes resulta essencialmente de duas fontes: preconceitos e interesses diversos; e

(4) Por exemplo, o ponto luminoso que vemos diariamente no céu poderia ser uma alucinação coletiva, ou a visita do parente pode não ter passa-do de um sonho, e a caixa de bombons pode coincidentemente ter sido trazida por um promotor de vendas ousado que por acaso tinha uma chave que serviu em nossa porta. (5) Oeuvres Posthumes, item "A minha iniciação no Espiritismo". Nesta e nas demais citações de obras de Kardec, traduzimos diretamente a partir das edições francesas indicadas na lista de referências bibliográficas, aproveitando, em grande parte, as traduções publicadas pela Federação Espírita Brasileira. (6) Le Livre des Esprits, Introdução, Seção XIII.

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2)

1)

2) 3) 4)

falta de um corpo teórico que norteie a pesquisa experimental. Quanto ao primeiro fator, não há o que comentar. Quanto ao segundo, notemos que está intimamente ligado à falsa concepção de ciência adota-da, que imagina ser possível se fazer ciência sem teoria.

Outra deficiência séria que apresentam esses sistemas não-espíritas é que mesmo para os grupos reduzidos de fenômenos que levam em conta, as explicações oferecidas pecam pela falta de unidade e organicidade, recorrendo a leis e princípios desconectados.

Além disso, tais explicações em geral falham em satisfazer um outro requisito fundamental de uma genuína explicação científica: a simplicidade. As explicações são em geral ainda mais inexplicáveis que os fatos que se propõem a explicar.

Encontramos ainda explicações puramente verbais, ou seja, que não apresentam qualquer conte-údo, limitando-se ao uso de termos técnicos, buscados nas diversas ciências ou criados a esmo, procu-rando-se com isso conferir ares científicos à suposta explicação. Muitas pessoas não familiarizadas com a ciência deixam-se fascinar por tais artifícios, não percebendo que qualquer explicação satisfatória deve caracterizar-se pela clareza e inteligibilidade (como nos dá magnífico exemplo o Espiritismo) e que o re-curso à linguagem técnica só é legítimo dentro do contexto teórico que lhe é próprio.

Outro tipo freqüente de deficiência que notamos nos sistemas que pretendem competir com o Espi-ritismo refere-se ao recurso a conceitos e teorias científicas obsoletos, ou o uso não-profissional das teori-as contemporâneas. As ciências, principalmente a Física e a Química, passaram por transformações radi-cais em nosso século; as teorias atuais envolvem conceitos extremamente abstratos, distantes da intuição do senso comum, além de técnicas matemáticas de grande complexidade. Em seus aspectos essenciais, essas teorias não são acessíveis ao leigo, que, quando instruído, em geral ainda tem para si a imagem do mundo fornecida pelas teorias do século passado. Os muitos livros de popularização da ciência via de regra não resolvem esse problema; mesmo quando são escritos por profissionais (o que é raro), inevita-velmente têm de recorrer a simplificações drásticas, que resultam em distorções sérias na imagem que oferecem das teorias expostas. Como resultado, a virtual totalidade das pessoas que têm se aventurado a estabelecer vínculos diretos entre os fenômenos espíritas e as teorias da Física cai, ou no recurso a teori-as superadas, ou em confusões que mostram-se ridículas aos olhos dos cientistas com formação profis-sional. Essas pessoas acabam pois involuntariamente prestando um desserviço à causa da investigação científica do espírito.

Mais um fator importante que entrava as linhas de pesquisa não-espíritas é o sistemático desprezo pelas contribuições anteriormente efetuadas por outros pesquisadores. Cada um quer começar tudo de novo, e criar seu próprio sistema. Se a dúvida equilibrada representa prudência, quando se torna irrestrita e irrefletida, aliando-se à presunção e ao orgulho, inviabiliza o avanço do conhecimento. Se nas ciências acadêmicas se tivesse adotado semelhante atitude, elas estariam ainda em seus primórdios.

Por fim, lembramos ainda que muitas das tentativas não-espíritas de estudo dos fenômenos espíri-tas fracassam por não reconhecer a influência de fatores morais em sua produção, influência essa que em certos casos é determinante.

4. PERSPECTIVAS DA CIÊNCIA ESPÍRITA Como vimos na Seção 1, uma ciência autêntica deve envolver um programa de pesquisa, que auxi-

lie o seu progresso. Com a lucidez científica que lhe era peculiar, Allan Kardec apontou diretrizes seguras para o desenvolvimento do Espiritismo.

De um lado, temos suas análises que advertem contra os métodos e procedimentos anti-científicos que poderiam embaraçar a marcha do Espiritismo. Nas duas seções precedentes enumeramos alguns dos mais importantes deles; Kardec percorreu-os todos, e ainda outros, oferecendo sólida fundamentação às suas críticas.(7)

De outro lado, Kardec legou-nos investigações paradigmáticas sobre os tópicos mais fundamentais da ciência espírita, que serviram de modelo para os pesquisadores que vieram após ele, e que devem continuar desempenhando essa tarefa nas pesquisas futuras.

Simplificadamente, poderíamos classificar assim as áreas principais de investigação espírita: Evolução do espírito: o elemento espiritual dos seres dos reinos inferiores; origem dos espíritos humanos; encarnação e reencarnação; pluralidade dos mundos habitados. O mundo espiritual. Interação espírito-corpo: perispírito, efeitos psicossomáticos, mediunidade. Implicações morais (uma área científica e filosófica): livre-arbítrio, lei de causa e efeito.

Note-se que não incluímos o tópico “comprovação da existência do espírito”. A razão é evidente: trata-se de uma questão já resolvida, na qual não devem as investigações estacionar. Foi uma etapa pre- (7) Esses estudos de Kardec são comentados em nosso artigo “A excelência metodológica do Espiritismo”, especialmente em sua seção 4.

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liminar, e quem não a percorreu não pode, em boa lógica, pretender-se espírita, ou estar realizando pes-quisas espíritas. É de lamentar que tal fato nem sempre seja percebido ou compreendido por pessoas que militam dentro das próprias fileiras espíritas. Os espíritas, para quem a existência do espírito é uma reali-dade insofismável, por a havermos constatado através de observações e argumentos racionais, devemos deixar àqueles que ainda não a reconheceram a tarefa de prová-la uma vez mais, pela maneira que bem entendam. Mas não devemos empenhar nossos esforços em uma investigação redundante, e que deporia contra as nossas próprias convicções.(8)

Três outros aspectos importantes no desenvolvimento do Espiritismo foram enfatizados por Kar-dec.

No item VII da Introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec afirma que “o Espiritismo não é da al-çada da ciência”. Evidentemente, trata-se aqui das ciências acadêmicas, ou seja, da Física, da Química e da Biologia. O argumento para tal assertiva baseia-se nas peculiaridades do objeto de estudo e métodos do Espiritismo e das referidas ciências, assunto este tratado na Seção 2, acima. Vale a pena reproduzir aqui, por sua propriedade, o arrazoado que, no texto, antecede a assertiva em questão:

As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e mani-pular livremente. Os fenômenos espíritas repousam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos. As observações não podem, portanto, ser feitas da mesma forma; requerem condições especiais e outro ponto de partida. Querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer analogias que não existem. A ciência propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para se pronunciar na questão do Espiri-tismo: não tem que se ocupar com isso, e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter.

As relações entre o Espiritismo e as ciências ordinárias são, antes, de complementaridade, como também notou Kardec. No parágrafo 16 do Capítulo I de A Gênese, lemos a seguinte frase, ao final de uma extensa argumentação: “O Espiritismo e a ciência completam-se reciprocamente”.

O segundo aspecto importante a ser notado liga-se parcialmente ao precedente: Kardec observa que não apenas existe uma relativa autonomia entre o Espiritismo e as ciências ordinárias como também os cientistas das academias não estão, pelo simples fato de serem cientistas, mais capacitados do que as demais pessoas para se pronunciar nas questões relativas ao Espiritismo. O assunto é abordado, entre outros lugares, em uma das respostas ao Céptico de O que é o Espiritismo (Cap. I, Segundo diálogo, se-ção “Oposição da ciência”). Vejamos estes trechos significativos:

Concordai, também, que ninguém pode ser bom juiz naquilo que está fora de sua competência. Se quiserdes edificar uma casa, confiareis esse trabalho a um músico? Se estiverdes enfermo, far-vos-eis tratar por um arquiteto? Se estais a braços com um processo, ides consultar um dançarino? Finalmente, quando se trata de uma questão de teologia, alguém irá pedir a solução a um químico ou a um astrôno-mo? Não; cada um em sua especialidade. (...)

A ciência enganou-se quando quis experimentar os Espíritos como o faz com uma pilha voltaica; foi mal sucedida, como devia ser, porque agiu pressupondo uma analogia que não existe; e depois, sem ir mais longe, concluiu pela negação, juízo temerário que o tempo se encarrega de ir emendando diariamen-te, como já o fez com tantos outros. (...)

As corporações científicas não devem, nem jamais deverão pronunciar-se nesta questão; ela está tão fora dos limites do seu domínio como a de decretar se Deus existe ou não; é, pois, um erro tomá-las aqui por juiz.

Kardec lembra aqui que cada um é competente em sua especialidade, que alguém que haja se es-pecializado no estudo de determinada ordem de fenômenos materiais (um físico ou um biólogo, por e-xemplo), não adquire, por esse simples fato, competência para se pronunciar sobre uma ordem de fenô-menos completamente diferentes, a menos, obviamente, que essa pessoa tenha se dedicado séria e lon-gamente ao seu estudo. Não devemos, pois, cair no erro freqüente hoje em dia de atribuir aos cientistas das academias uma superioridade que eles de fato não possuem na avaliação das pesquisas espíritas.

Por fim, Kardec tomou um extremo cuidado em preservar, e recomendar a preservação, da coe-rência e integridade da ciência espírita, pela não-intromissão em sua estrutura teórico-conceitual de ele-mentos heterogêneos, oriundos de outros programas de pesquisa. Kardec dotou o Espiritismo de um ar-senal conceitual-nomológico próprio, e qualquer desenvolvimento da teoria espírita deve fazer-se recor-rendo-se aos seus elementos, ou, se algum acréscimo se fizer necessário, o elemento adicionado não pode conflitar com as leis básicas bem estabelecidas do Espiritismo. Notemos que precauções semelhan-

(8) Para esse ponto, ver também o artigo “As provas científicas”, de Aécio P. Chagas.

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tes são tomadas na evolução das ciências ordinárias. No caso do Espiritismo, é admirável que ao propor o referido corpo de conceitos e leis, Kardec teve a lucidez de não admitir elementos demasiadamente vulne-ráveis às transformações futuras das ciências. É assim que o Espiritismo é uma teoria fenomenológica, pelo menos em seus fundamentos. Kardec não se aventurou, por exemplo, a formular modelos para o perispírito, ou explicações técnicas para os fenômenos mediúnicos em termos de conceitos e princípios vulneráveis das ciências de seu tempo. Retrospectivamente, vemos agora que isso providencialmente preservou o Espiritismo das reviravoltas profundas ocorridas nas ciências, durante as primeiras décadas de nosso século. Espelhando-nos na atitude prudente de Kardec, não devemos, por nossa vez, procurar fazer o que ele não fez, e prematuramente associar o Espiritismo às teorias científicas contemporâneas. A progressividade do Espiritismo, uma de suas características essenciais, dado que é uma ciência que se apoia em fatos, não significa a absorção irrestrita de qualquer teoria que apareça. Essa advertência foi claramente exposta no parágrafo 55 do Capítulo I de A Gênese (grifamos):

Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias des-cobertas, (o Espiritismo) assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que seja, desde que hajam atingido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que se suicidaria.

Não poderíamos encerrar estes apontamentos sem mencionar um ponto de crucial importância, sobre o qual Kardec não se cansava de insistir: O objetivo essencial do Espiritismo é tornar melhor o ho-mem, convencendo-o, através dos fatos e da razão, de que somente o comportamento evangélico lhe assegurará um porvir feliz. E é nessa tarefa de esclarecimento que a ciência espírita é chamada a desem-penhar a sua mais importante tarefa, conforme lemos nos comentários que o Codificador tece às Ques-tões 147 e 148 de O Livro dos Espíritos:

A missão do Espiritismo consiste precisamente em nos esclarecer acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo e o penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, porém pelos fatos. Graças às comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples suposi-ção, de uma probabilidade sobre a qual cada um conjeture à vontade, que os poetas embelezem com su-as ficções, ou cumulem de enganadoras imagens alegóricas. É a realidade que nos aparece, pois que são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever a situação em que se acham, relatar o que fa-zem, facultando-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da nova vida que lá vivem e mostran-do-nos, por esse meio a sorte inevitável que nos está reservada, de acordo como os nossos méritos e deméritos. Haverá nisso alguma coisa de anti-religioso? Muito ao contrário, porquanto os incrédulos en-contram aí a fé e os tíbios a renovação do fervor e da confiança. O Espiritismo é, pois, o mais potente au-xiliar da religião. Se ele aí está, é porque Deus o permite, e o permite para que as nossas vacilantes espe-ranças se revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro.

OBRAS CITADAS

BORGES DE SOUZA, J. “Pesquisas e métodos”, Reformador, abril de 1986, pp. 99-101.

CHAGAS, A. P. “O que é a ciência?”, Reformador, março de 1984, pp. 80-83 e 93-95. “As provas científi-cas”, Reformador, agosto de 1987, pp. 232-233.

CHIBENI, S. S. “Espiritismo e ciência”, Reformador, maio de 1984, pp. 144-147 e 157-159. “Os fundamen-tos da ética espírita”, Reformador, junho de 1985, pp. 166-169. “A excelência metodológica do Espiritis-mo”, Reformador, novembro de 1988, pp. 328-333, e dezembro de 1988, pp. 373-378.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, 43ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d. Qu'est-ce que le Spiritisme. Paris, Dervy-Livres, 1975. O que é o Espiritismo. S. trad., 25ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d. La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme. Paris, La Diffusion Scientifique, s.d. A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro, 23ª ed., Rio de Janeiro, Federa-ção Espírita Brasileira, s.d. Oeuvres Posthumes. Paris, Dervy-Livres, 1978. Obras Póstumas. Trad. Guillon Ribeiro, 18ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.

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NOÇÕES BÁSICAS DE MEDIUNIDADE por Sílvio e Clarice Seno Chibeni

1. INTRODUÇÃO Seja por constituir a base experimental da ciência espírita, seja pelo papel histórico que desempe-

nhou no surgimento do Espiritismo, ou ainda pela importância que assume nas atividades práticas dos Centros Espíritas, a mediunidade merece de cada um de nós a melhor das atenções. Desincumbindo-nos do dever de estudá-la continuamente, estaremos reunindo condições para a correta compreensão tanto de sua natureza, como de suas finalidades, e para o discernimento dos muitos enganos de opinião a seu respeito que circulam entre a população leiga e mesmo nos meios espíritas. Habilitaremo-nos, assim, a dela obter os mais seguros e produtivos resultados, com vistas ao nosso aperfeiçoamento intelectual e moral.

Nunca será demais insistir em que nenhum artigo, folheto ou apostila poderá substituir ou tornar dispensável o estudo daquele que constitui o mais completo e profundo tratado que já se escreveu sobre a mediunidade: O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Assim, os presentes apontamentos devem ser ti-dos unicamente como uma exposição incompleta de alguns tópicos importantes, destinada a facilitar pos-teriores contatos com a obra fundamental e a vasta literatura subsidiária que surgiu desde sua primeira edição, em 1861.

2. DEFINIÇÃO DE “MEDIUNIDADE”

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Embora no Vocabulário Espírita que forma o capítulo 32 de O Livro dos Médiuns Kardec tenha da-do como sinônimos os termos “mediunidade” e “medianimidade”, o uso consagrou o primeiro, que alí é definido através do termo “médium”:

MEDIUNIDADE é a faculdade dos médiuns. Isto posto, resta saber o que é médium. Kardec fornece a definição deste termo em vários pontos

de suas obras, como por exemplo nesse mesmo Vocabulário, onde se encontra:

MÉDIUM. (do latim, medium, meio, intermediário). Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens.

A partir dessa definição sucinta, Kardec desenvolve o conceito, que comporta duas acepções dis-tintas, expressas com clareza neste trecho da Revue Spirite(9)

ACEPÇÃO AMPLA: Qualquer pessoa apta a receber ou a transmitir comunicações dos Espíritos é, por isso mesmo,

médium, seja qual for o grau de desenvolvimento da faculdade, desde a simples influência oculta até a produção dos mais insólitos fenômenos.

ACEPÇÃO RESTRITA: Em seu uso ordinário, todavia, esse termo tem uma aplicação mais restrita, aplicando-se às pes-

soas dotadas de um poder mediador suficientemente grande, seja para a produção de efeitos físicos, seja para transmitir o pensamento dos Espíritos pela escrita ou pela palavra.

Quando analisamos um texto, um discurso, uma conversa onde o termo médium aparece, é sem-pre importante reconhecer em qual desses sentidos está sendo empregado, a fim de se evitarem mal-entendidos e mesmo discussões sem fundamento. Assim, por exemplo, a afirmação de que todos somos médiuns, encontrada em tantos autores (inclusive Kardec: ver O Livro dos Médiuns, parágrafo 159), só deverá ser entendida na acepção abrangente do termo, pois já sabíamos, desde a questão 459 de O Livro dos Espíritos, que todos somos passíveis de receber a influência dos Espíritos, ainda que sob a forma sutil de intuição. Incorreremos em grave equívoco se concluirmos a partir desse fato que todos somos médiuns no sentido restrito (e usual) da palavra “médiuns”, ou seja, se julgarmos que todos podemos pro-duzir manifestações ostensivas, tais como a psicofonia, a psicografia, os efeitos físicos, etc. Concluindo, então, temos que a proposição “Todos somos médiuns” é verdadeira quando o termo “médiuns” é tomado em seu sentido amplo, e falsa quando tomado no sentido estrito. Tal circunstância não deve causar estra-nheza, já que resulta da imperfeição de nossa linguagem, na qual uma mesma palavra pode ter mais de um significado. Um caso semelhante dessa ambigüidade lingüística ocorre, por exemplo, com a proposi-ção “Todos os homens são mortais”, que é verdadeira se o termo «homens» referir-se unicamente ao cor-po material, e falsa se se considerar o ser espiritual.

3. A NATUREZA DA MEDIUNIDADE Limitando-nos daqui para frente à acepção restrita do termo “médium”, que é a mais usual e rele-

vante, estaremos, então, no que se vai seguir entendendo a mediunidade como aquela aptidão especial que certas pessoas possuem para poder servir de meio de comunicação entre os Espíritos e os homens encarnados.

A questão que naturalmente surge neste ponto é a de se determinar qual é a natureza da faculda-de mediúnica: quais as suas causas, por que surge somente em determinadas pessoas e em modalidades e graus diversos, se é passível de desenvolvimento forçado através de alguma técnica, etc.

Tais indagações vêm sendo abordadas com sucesso pelo Espiritismo, que sobre elas já projetou intensas luzes, contribuindo desse modo para que o manto de superstição e misticismo que desde eras imemoriais vem encobrindo a mediunidade fosse removido, e para que, melhor compreendida, pudesse ser corretamente utilizada para os elevados propósitos a que se destina.

Dois aspectos centrais relativos à mediunidade acham-se expostos na resposta à questão que Kardec endereçou aos Espíritos, no parágrafo 226 de O Livro dos Médiuns:

O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral dos médiuns? —“Não; a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo, po-

rém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium.”

(9) 1859, p. 33; L'Obsession, p. 87. Ver também O Livro dos Médiuns, parágrafo 159.

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Na presente seção nos ocuparemos exclusivamente do primeiro desses aspectos: a origem orgâ-nica da faculdade mediúnica. A questão do emprego bom ou mau dessa faculdade será tratada na seção 6, abaixo.

Como observamos pela resposta dos Espíritos, a aptidão de poder servir de “ponte” entre o mundo espiritual e o mundo material está ligada a fatores ordem orgânica. Essa constatação, que é reafirmada em vários pontos da obra de Kardec, bem como de outros autores espíritas abalizados, passa freqüente-mente despercebida à maioria das pessoas, mesmo espíritas, o que acaba inevitavelmente gerando en-ganos sérios de compreensão e de prática.

Já em 1859 Kardec afirmava, em seu livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas (Vocabulário Espírita, item “Médium”) que “esta faculdade depende de uma disposição orgânica especial, suscetível de desenvolvimento.” (Ver também O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 24, parágrafo 12.)

Em O Livro dos Médiuns as referências neste sentido são numerosas: No parágrafo 94, estudando as manifestações físicas espontâneas, o Codificador obtém dos Espíritos a informação de que "essa apti-dão (de ser médium de efeitos físicos) se acha ligada a uma disposição física”. No parágrafo 209, tratando da formação dos médiuns, Kardec raciocina: “Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem es-pantadas de escrever (mediunicamente) a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conse-guem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica.” Fica assim estabelecido mais um princípio, que destacamos: A mediunidade não depende das convicções filosóficas ou das cren-ças religiosas do médium.

Em resposta à questão 19 do parágrafo 223 deste mesmo livro os Instrutores Espirituais continuam esclarecendo:

A mediunidade propriamente dita independe da inteligência bem como das qualidades morais (do médium).

Observamos que aqui aparece a informação adicional de que a mediunidade independe também do desenvolvimento intelectual do médium. (10)

Com base neste conhecimento, estamos aptos a reconhecer freqüentes erros de apreciação sobre a mediunidade, quais os de pôr em dúvida as possibilidades mediúnicas de uma pessoa tão-somente:

1) 2) 3)

pelo fato de apresentar comportamento moral deficiente; por ser dotada de poucos recursos intelectuais ou culturais; pelo fato de não ser espírita.

No parágrafo 200 de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec registrou o importante princípio de que “não há senão um único meio de constatar (a existência da faculdade mediúnica em alguém): a experi-mentação.”

Os princípios precedentes já nos possibilitam dirimir algumas confusões que freqüentemente sur-gem entre leigos e mesmo espíritas na apreciação da importante questão do desenvolvimento da mediu-nidade.

Uma primeira observação básica é a de que se a presença da faculdade mediúnica em uma pes-soa independe de sua condição moral, intelectual e de crença, ninguém poderá tornar-se médium tão-somente pelo fato de moralizar-se, ou de estudar, ou de aderir às convicções espíritas. É evidente que essas atitudes serão de imenso proveito para a criatura, pois a colocarão em condições de compreender e utilizar bem a faculdade mediúnica que porventura possua.

É significativo a esse respeito que Kardec tenha alertado já no terceiro parágrafo da Introdução de O Livro dos Médiuns que muito se enganaria aquele que “supusesse encontrar nesta obra uma receita universal e infalível para formar médiuns.” Lança mão, a seguir, de uma comparação muito clara e objeti-va, que esclarece o assunto à saciedade (os destaques são nossos):

Se bem que cada um traga em si o gérmen das qualidades necessárias para se tornar médium, tais qualidades existem em graus muito diferentes e o seu desenvolvimento depende de causas que a ninguém é dado conseguir se verifiquem à vontade. As regras da poesia, da pintura e da música não fa-zem que se tornem poetas, pintores, ou músicos os que não têm o gênio de algumas dessas artes. Ape-nas guiam os que as cultivam no emprego de suas faculdades naturais. O mesmo sucede com o nosso trabalho. Seu objetivo consiste em indicar os meios de desenvolvimento da faculdade mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de modo útil, quando ela exista.

(10) Outras referências sobre a origem orgânica da mediunidade são: O Livro dos Espíritos, Introdução, item 4; O Livro dos Médiuns, parágrafo 174; Revue Spirite, 1859 (L'Obsession, p. 88); também Estudos Espíritas, de Joana de Ângelis, capítulo "Mediunidade".

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O caráter espontâneo da faculdade mediúnica é ainda destacado no parágrafo 208 de O Livro dos Médiuns (o destaque é nosso):

Se os rudimentos da faculdade (mediúnica) não existem, nada fará que apareçam. E no capítulo intitulado “Manifestações dos Espíritos” de Obras Póstumas (parágrafo 6, n. 34) en-

contramos esta rica passagem (destaque nosso): O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansiva do pe-

rispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos; depende, por-tanto, do organismo e pode ser desenvolvida quando exista o princípio; não pode, porém, ser adquirida quando o princípio não exista.

O mestre de Lyon não descuidava nunca de extrair das constatações científicas conseqüências re-ferentes à nossa conduta, e no presente caso ele o fez (entre outros lugares) no parágrafo 198 de O Livro dos Médiuns, que trata da diversidade das faculdades mediúnicas:

Em erro grave incorre quem queira forçar a todo custo o desenvolvimento de uma faculdade que não possua. Deve a pessoa cultivar todas aquelas de que reconheça possuir o gérmen. Procurar à força ter as outras é, antes de tudo, perder tempo, e, em segundo lugar, perder talvez, enfraquecer com certe-za, as de que seja dotado.

Encerrando o parágrafo, Kardec transcreve esta comunicação mediúnica de Sócrates, que se no-tabiliza por sua gravidade:

Quando existe o princípio, o gérmen de uma faculdade, esta se manifesta sempre por sinais ine-quívocos. Limitando-se à sua especialidade, pode o médium tornar-se excelente e obter grandes e belas coisas; ocupando-se de tudo, nada de bom obterá. Notai, de passagem, que o desejo de ampliar indefini-damente o âmbito de suas faculdades é uma pretensão orgulhosa, que os Espíritos nunca deixam impu-ne. Os bons abandonam o presunçoso, que se torna então joguete dos mentirosos. Infelizmente, não é raro verem-se médiuns que, não contentes com os dons que receberam, aspiram, por amor-próprio, ou ambição, a possuir faculdades excepcionais, capazes de os tornarem notados. Essa pretensão lhes tira a qualidade mais preciosa: a de médiuns seguros.

Apenas como exemplo de opinião de um outro autor, corroborativa da de Allan Kardec, vejamos como Emmanuel responde à questão 384 de seu livro O Consolador, questão essa que versa especifica-mente sobre o tema que estamos focalizando:

Dever-se-á provocar o desenvolvimento da mediunidade? — A mediunidade não deve ser fruto de precipitação nesse ou naquele setor da atividade doutriná-

ria, porquanto, em tal assunto, toda a espontaneidade é indispensável, considerando-se que as tarefas me-diúnicas são dirigidas pelos mentores do plano espiritual.

Logo em seguida, em resposta à questão 386, o credenciado Espírito reitera: Ninguém deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daquela faculdade, porque, nesse terreno, to-

da a espontaneidade é necessária; observando-se contudo, a floração mediúnica espontânea, nas ex-pressões mais simples, deve-se aceitar o evento com as melhores disposições de trabalho e boa-vontade. (11)

Nós, espíritas, precisamos, portanto, estar vigilantes quanto à opinião, infelizmente tão comum em nosso próprio meio, de que as pessoas devem ser encaminhadas às chamadas “sessões de desenvolvi-mento mediúnico”, que existem em muitas casas espíritas. São dois os motivos mais freqüentemente ale-gados para esse tipo de recomendação:

1)

2)

O empenho e dedicação com que alguém se interesse pelo Espiritismo, sugerindo, segundo julgam, que têm "todas as condições" para exercer a mediunidade. Os desequilíbrios variados de saúde ou de comportamento que a pessoa apresente, notadamente quando venham desafiando a perícia dos médicos.

Ora, no primeiro caso dever-se-ia ponderar que as boas disposições do companheiro deverão ser aproveitadas antes de mais nada em seu aperfeiçoamento intelectual e moral, e, em se tratando de sua colaboração nas atividades do centro espírita, naquele setor ao qual mais se ajuste por sua formação pro-fissional, seus interesses e disponibilidades, quais sejam a condução de estudos, a evangelização infanto-juvenil, a administração, a biblioteca, as visitas fraternas, a costura de enxovais, a faxina, a distribuição de alimentos, a acolhida aos novos freqüentadores, etc., ou os trabalhos mediúnicos, se os sinais de mediu-nidade se apresentarem de forma espontânea.

(11) Todos os destaques são nossos. Ver também, sobre esse ponto, André Luiz, Nos Domínios da Mediunidade, cap. 1, pp. 18-9, e Yvonne Perei-ra, Devassando o Invisível, cap. 10, p. 216. "Espiritismo e ciência", "A excelência metodológica do Espiritismo", "Ciência espírita"; ver Referências Bibliográficas para detalhes.

Espiritismo científico - 51

No segundo caso, que é o mais freqüente, seria preciso compreender que o mero fato de a pessoa se encontrar desequilibrada significa que não pode ser inserida no grupo mediúnico, sob o risco de com-prometer o seu bom funcionamento. A mediunidade em si é uma faculdade neutra, que não tem qualquer conexão com os desajustes físicos, mentais e espirituais da criatura. Estes surgem por motivos específi-cos, e requerem o tratamento médico, psicológico ou espírita adequado ao caso. Somente após seu retor-no à normalidade é que o companheiro poderá vir a participar, como médium, dos trabalhos mediúnicos, se a faculdade surgir espontaneamente. O exercício da mediunidade não é recomendável na presença de determinadas enfermidades físicas, como por exemplo, nas doenças contagiosas, ou onde o equilíbrio orgânico esteja “por um fio” e a atividade mediúnica envolva situações que emocionem muito o médium. No caso dos desequilíbrios mentais e espirituais, o exercício mediúnico não pode nunca ser iniciado, ou continuado. Um médium nessas condições não poderá contribuir positivamente com nada, além de gerar problemas para o grupo, inclusive facilitando a atuação de Espíritos interessados na instalação da desar-monia, dos melindres, das suspeitas, do enregelamento das relações entre os membros.

O desenvolvimento mediúnico a ser promovido nos centros espíritas não deve nunca ser entendido como o aprendizado de técnicas e métodos para fazer surgir a mediunidade, pois que não os há nem po-de haver, mas exclusivamente como o aprimoramento e direcionamento útil e equilibrado das faculdades surgidas espontaneamente, o que pressupõe o aperfeiçoamento integral do médium, através do estudo sério e de seus esforços incessantes para amoldar suas ações às diretrizes evangélicas.

Ressaltemos, outrossim, que os núcleos espíritas não deverão iniciar qualquer trabalho mediúnico, quer de desenvolvimento (no sentido correto do termo), e muito menos de assistência aos Espíritos en-fermos, se não estiverem seguros de que dispõem de colaboradores suficientemente preparados, por seus conhecimentos doutrinários, por seu equilíbrio psicológico e por sua conduta cristã, que disponham de tempo para encetar com regularidade tão delicada tarefa.

1)

2)

4. OS MECANISMOS DA MEDIUNIDADE Na presente seção procuraremos reunir alguns informes sobre os mecanismos da faculdade medi-

única, ou seja, sobre como se dá o fenômeno mediúnico. A fonte básica continuará sendo Allan Kardec. Iniciemos com este trecho do capítulo “Manifestações dos Espíritos”, parágrafo 6, n. 34, do livro Obras Póstumas (destacamos):

O fluido perispirítico é o agente de todos os fenômenos espíritas, que só se podem produzir pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansiva do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos.

Esmiuçando as informações aqui contidas, notamos: O perispírito desempenha papel de capital importância no processo mediúnico. Daí concluímos que so-mente o Espiritismo nos poderia fornecer explicações amplas e sólidas sobre a mediunidade, já que so-mente ele nos dá conhecimento racional e experimental desse "corpo espiritual" . Sendo o perispírito "o agente de todos os fenômenos espíritas", e estes só podendo produzir-se pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito, temos como regra sem exceções que ocorrendo um fenômeno espírita necessariamente haverá um médium participando. Em alguns casos, como em cer-tas manifestações de efeitos físicos, não se nota a presença do médium, mas pelo princípio acima exara-do podemos estar certos de que haverá alguém, em algum lugar, servindo de médium, ainda mesmo que este não esteja consciente do papel que desempenha. Também percebemos que serão vãos os esforços de certos pesquisadores que, desprezando a riquíssima contribuição do Espiritismo para o estudo daquilo que (impropriamente) denominam "paranormalidade", tentam detectar o Espírito unicamente através de máquinas. Se algum aparelho chegar a registrar um espírito, é porque houve a participação oculta de al-gum médium. Neste caso, seria mais confiável analisar a manifestação diretamente, sem o recurso indire-to de instrumentos, que sempre constituem fonte adicional de incertezas.

Esse é um ponto que merece comentários um pouco mais extensos, em vista da ampla divulgação em nossos dias da chamada “Transcomunicação Instrumental” (TCI). Em artigos anteriores,(12) analisa-mos, à luz da moderna Filosofia da Ciência, a questão da cientificidade do Espiritismo e de sistemas alter-nativos, procurando mostrar que, do mesmo modo como entendida Kardec, o Espiritismo é uma disciplina genuinamente científica, enquanto que esses sistemas não. Segundo a concepção contemporânea de ciência, o Espiritismo é científico, devido as características estruturais de sua teoria e o modo pelo qual se relaciona com os fenômenos: malha teórica hierarquizada, coerente e simples, em “simbiose” com a tota-

(12) Resumidamente, lembramos que o encéfalo é a parte do sistema nervoso contida na caixa craniana; o córtex cerebral corresponde à parte mais externa desse órgão, e coordena a inteligência, os sentidos, os reflexos condicionados ou adquiridos; o subcórtex, que inclui vários órgãos da base do encéfalo (tálamo, hipotálamo, cerebelo), é a sede dos reflexos incondicionados ou inatos (instintos, atividades fisiológicas, emoções).

Espiritismo científico - 52

lidade dos fenômenos, acoplada a regras metodológicas de preservação das leis básicas e de desenvol-vimento da teoria. Contrariamente ao que em geral assumem os proponentes da TCI e outras linhas de investigação, o mero emprego de aparelhos não assegura a cientificidade de nenhuma disciplina; eles só são usados nas ciências ordinárias porque o seu objeto de estudo — a matéria — presta-se à análise quantitativa, e muitos de seus aspectos só podem ser observados com aparelhos. Já o objeto de estudo do Espiritismo — o elemento espiritual — não é passível de análise quantitativa, como tão apropriadamen-te fez notar Kardec em várias de suas obras.

Ademais, cumpre ressaltar que mesmo nos casos onde o emprego de aparelhos é pertinente, ele envolve riscos:

I -

II -

1)

2)

Pode encobrir deficiências metodológicas, produzindo uma ilusória impressão de rigor e cientifi-cidade; Do ponto de vista da Teoria do Conhecimento (uma área da Filosofia), as observações por meio de aparelhos ocupam um lugar mais baixo na escala da confiabilidade epistêmica do que aquelas feitas de modo direto.

Podemos facilmente constatar, já a partir das pesquisas iniciais de Kardec, que os fenômenos ale-gados pela TCI são possíveis, dentro da teoria espírita. A se comprovarem, serão mais uma modalidade de fenômenos de efeitos físicos. Neste caso, a evidência que poderão fornecer necessariamente será menos confiável do que a obtida pelos fenômenos mais simples, quer de efeitos físicos (movimento de mesas, pedras, etc.), quer de efeitos intelectuais (psicofonia, psicografia, etc.), sendo que estes últimos é que são os mais relevantes no estabelecimento das bases científicas principais do Espiritismo, como per-cebeu o apurado senso filosófico e científico de Kardec.

Prossigamos na explicitação das demais conseqüências que se seguem do trecho de Obras Pós-tumas que citamos no início desta seção.

A presença da faculdade mediúnica em alguém liga-se à possibilidade de seu perispírito "expandir-se". Veremos mais adiante que essa "expansão" pode ser entendida, em outros termos, como a "exterioriza-ção" do perispírito, ou seja, como a sua parcial desvinculação do corpo físico. A efetivação da comunicação exige, além dessa "exteriorização" do perispírito do médium, a assimilação deste com o perispírito do Espírito comunicante, ou seja, tem de haver sintonia entre ambos. Esse fato importante, de que o médium em geral não é capaz de comunicar-se indiscriminadamente com todos os Espíritos, é ressaltado por Kardec no item que segue ao que acabamos de transcrever (grifamos):

As relações entre os Espíritos e os médiuns se estabelecem por meio dos respectivos perispíritos, dependendo a facilidade dessas relações do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Alguns há que se combinam facilmente, enquanto outros se repelem, donde se segue que não basta ser médium para que uma pessoa se comunique indistintamente com todos os Espíritos. Há médiuns que só com cer-tos Espíritos podem comunicar-se ou com Espíritos de certas categorias.

Passando ao exame do assunto do item 3, acima, vamos colher subsídios em André Luiz, o autor espiritual que tanto tem contribuído para a expansão de nosso conhecimento científico acerca da mediu-nidade. Em sua obra Evolução em Dois Mundos, ao analisar a fase evolutiva em que se elaborava a fa-culdade de desprendimento do veículo perispiritual durante o sono (capítulo 17, item “Mediunidade espon-tânea”), adianta esta valiosa informação (grifamos):

Começaram na Terra os movimentos de mediunidade espontânea, porquanto os encarnados que demonstrassem capacidades mediúnicas mais evidentes, pela comunhão menos estreita entre as células do corpo físico e do corpo espiritual, em certas regiões do campo somático, passaram das observações durante o sono às da vigília, a princípio fragmentárias, mas acentuáveis com o tempo.

Vemos, assim, que o respeitado cientista desencarnado deixa entrever a correlação íntima entre a possibilidade de contato com a realidade espiritual durante a vigília (mediunidade) e um certo “afrouxa-mento” das ligações entre as células do perispírito e as suas correspondentes do corpo material. Prosse-guindo, André Luiz explicita mais essa correlação:

Quanto menos densos os elos de ligação entre os implementos físicos e espirituais, nos órgãos da visão, mais amplas as possibilidades na clarividência, prevalecendo as mesmas normas para a clariaudi-ência e modalidades outras, no intercâmbio entre as duas esferas.

Refletindo um pouco sobre as assertivas de André Luiz, verificamos, inicialmente, que não confli-tam com a explicação dada por Kardec, em termos da “expansibilidade” do perispírito do médium. Há, pelo contrário, até um reforço, já que a noção de “expansibilidade” é suficientemente abrangente e flexível para permitir ulteriores elaborações e detalhamentos, dentro da natureza eminentemente progressiva da Dou-trina Espírita. Podemos compreender, deste modo, a expansibilidade do perispírito como a sua faculdade de desvinculação parcial e temporária com relação ao corpo físico, passando, neste estado especial, a partilhar da realidade do mundo espiritual, dela colhendo impressões diversas, sem no entanto perder a possibilidade de atuação sobre o corpo denso.

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Utilizando-nos de uma comparação um tanto tosca, a mediunidade seria como se uma pessoa co-locasse a cabeça para fora de uma janela e transmitisse, através de gestos com as mãos, ou escrevendo, as informações acerca do que estaria vendo, para alguém que permanecesse no interior do aposento. Estaria servindo de intermediário entre o “mundo de fora” e o “mundo de dentro”, assim como o médium, ao partilhar simultaneamente da realidade espiritual e da realidade material, serve de intermediário entre esses dois “mundos”. Explorando um pouco mais essa analogia, teríamos ainda que quem não é médium estaria na condição de alguém que não conseguisse pôr a cabeça para fora da janela, e nem sequer abri-la, ficando (durante a vigília) inteiramente restrito ao interior da casa. E, de maneira geral, todos nós so-mos, durante o sono, como alguém que pula a janela, passando a viver plenamente as impressões do mundo “exterior”, com reduzidas possibilidades de comunicar o que presenciamos ao mundo “interior”.

É fundamental deixar claro que o que acabamos de expor não corrobora de modo algum a idéia popular de que no processo mediúnico o Espírito do médium “sai” e “dá lugar” ao Espírito comunicante, que passaria então a servir-se diretamente do corpo do médium. Os Instrutores Espirituais já esclarece-ram a Kardec, no importante capítulo “Do papel do médium nas comunicações espíritas”, de O Livro dos Médiuns, que essa idéia não corresponde à realidade. A mensagem sempre passa pelo Espírito do mé-dium, mesmo quando ele não guarda disso a consciência ao despertar do transe. Vejamos o que dizem na sexta questão do parágrafo 223:

O Espírito, que se comunica por um médium, transmite diretamente o seu pensamento, ou este tem por intermediário o Espírito do médium?

— “É o Espírito do médium que é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para comunicar à grande distância uma notícia e, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente, que a receba e transmita.”

Compreendemos então que o comando do veículo físico só pode ser feito pelo seu próprio “dono”. Poderíamos dizer que o corpo material é feito “sob medida” para cada Espírito, e que não “serve” para nenhum outro. Aliás, temos no Espiritismo uma explicação detalhada de porque tal é o caso, fundamenta-da no conhecimento que nos propicia do processo de formação do corpo, em que intervém o Espírito.

Assim, a mencionada “exteriorização” de determinadas regiões do perispírito deve ser entendida unicamente como um “afrouxamento” dos laços que o ligam ao corpo material, e jamais como um rompi-mento desses laços e conseqüente “desocupação do lugar” para o Espírito comunicante. Mesmo que o-corresse tal rompimento (o que se dá apenas com a morte), o Espírito estranho não teria como agir sobre as células materiais formadas sob a influência de outro Espírito e para o seu próprio uso. Portanto, a e-mancipação do perispírito é apenas uma condição necessária para a sua “penetração” na realidade do mundo espiritual, para que nela colha impressões ou entre em contato com os Espíritos que pretendam comunicar-se com os encarnados.

É interessante notar que nas questões seguintes à transcrita, os Espíritos frisam — mesmo enfren-tando uma oposição inicial de Kardec — que essa é uma regra absoluta, sem exceções, nem mesmo na mediunidade dita “mecânica”, ou ainda nos casos de efeitos físicos onde uma mensagem inteligente é transmitida (tiptologia, escrita através de pranchetas, etc.). Vemos, na questão 10 do referido parágrafo, que os Espíritos expressam indiretamente sua desaprovação a esse modo de denominar a mediunidade na qual o médium não guarda consciência do conteúdo da comunicação: o médium jamais atua como máquina, mecanicamente.

5. AS MODALIDADES MEDIÚNICAS Um aspecto importante dos esclarecimentos de André Luiz vistos acima é que permitem compre-

ender não somente como é que se dá o fenômeno mediúnico, mas também o porquê da existência de diferentes modalidades de mediunidade. Observamos, através do trechos citados, que a faculdade medi-única será deste ou daquele tipo conforme a região do organismo em que as células do perispírito apre-sentem maiores possibilidades de desvinculação das células correspondentes do corpo físico. Desse mo-do, segundo o exemplo dado, se é nos órgãos da visão que ocorre a maior liberdade das células do peris-pírito, a mediunidade assumirá a forma de vidência; se nos órgãos da audição, a de audiência; se nos da fala, a de psicofonia, e assim por diante.

Devemos notar, no entanto, que os órgãos a que se refere André Luiz são, conforme se depreende de outras passagens de sua obra, não tanto os órgãos periféricos — olhos, ouvidos, mãos, etc. —, mas fundamentalmente as regiões do cérebro responsáveis por seu comando. De fato, sabemos pelas con-quistas da Ciência, que há no cérebro grupos de neurônios (células nervosas) mais ou menos especiali-zados para as diversas faculdades sensoriais e motoras. No caso da visão, por exemplo, tais neurônios recebem os impulsos elétricos gerados na retina do olho através do nervo óptico, sinais esses que a alma

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interpreta como imagens. O mesmo se dá, mutatis mutandis, com os demais sentidos. No caso das fun-ções motoras, ao comando da alma determinados centros cerebrais enviam, através dos diferentes ner-vos, impulsos elétricos aos diversos músculos, que então lhes obedecem às ordens, do que resultam os movimentos corporais.

Apresentaremos agora um quadro sinótico com os principais tipos de fenômenos mediúnicos, que se associam às principais modalidades mediúnicas. Como toda classificação, não é absoluta, pois o esta-belecimento de fronteiras nítidas entre diferentes modalidades mediúnicas não é possível.

Kardec dividiu os médiuns em duas grandes categorias: os de efeitos físicos e os de efeitos inte-lectuais. Os primeiros são “aqueles que têm o poder de provocar efeitos materiais, ou manifestações os-tensivas”; os segundos, “os que são mais especialmente próprios a receber e a transmitir comunicações inteligentes” (O Livro dos Médiuns, parágrafo 187). Para fins didáticos, é conveniente subdividir a catego-ria de efeitos inteligentes em dois grupos: efeitos sensoriais (percepção da realidade espiritual na forma de uma impressão dos sentidos) e efeitos intelectuais propriamente ditos (transmissão de uma mensagem inteligente, seja pela palavra escrita, oral, por gestos, etc.).

O quadro abaixo é uma adaptação do que foi elaborado por Jayme Cerviño em seu livro Além do Inconsciente, e reúne, evidentemente, apenas as modalidades mais importantes e conhecidas. Nesse interessante e original livro, o autor extrai dos estudos clássicos da psicologia experimental e da neurofisi-ologia, bem como de investigações sérias sobre os fenômenos espíritas, deduções sobre as regiões do encéfalo (13) associadas às diferentes maneiras pelas quais se produzem tais fenômenos. Vemos nesses estudos um reforço às idéias de André Luiz, que discutimos acima.

EFEITOS INTELECTUAIS

(mediunidade de expressão cortical) Efeitos estritamente intelectuais

(córtex frontal)

• intuição

• psicografia

• psicofonia

• psicopraxia Efeitos sensoriais

(córtex extrafrontal)

• vidência

• audiência

• sensitividade

EFEITOS FÍSICOS (mediunidade de expressão subcortical)

Telergia

• sons (13)

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• luzes

• odores

• movimentos

• curas Teleplastia

• materializações Somatização

• transfiguração

• estigmatização

6. O EXERCÍCIO DA MEDIUNIDADE Na seção 3 deste trabalho aprendemos, com Allan Kardec, que se deve fazer uma distinção clara

entre a mediunidade enquanto faculdade e o seu uso, ou exercício. Se a faculdade em si é neutra quanto à condição moral do médium, o mesmo não vale para o seu uso, que pode ser bom ou mal, dependendo do grau evolutivo do médium.

Vimos que na Introdução de O Livro dos Médiuns Kardec destaca entre os objetivos da obra a ori-entação para que a mediunidade seja empregada de modo útil. Um requisito essencial para isso é, natu-ralmente, a compreensão de sua natureza e mecanismos, para o que o Espiritismo tem contribuído de forma decisiva. Com seu imenso respeito pela liberdade humana, ele não poderia prescrever normas de conduta para os médiuns de maneira cega, impositiva, sem que os convencesse pelo esclarecimento ra-cional da sua necessidade. De fato, é facilmente constatável a justeza da afirmação de Kardec, nessa mesma Introdução, de que “as dificuldades e os desenganos com que muitos topam na prática do Espiri-tismo se originam na ignorância dos princípios desta ciência”.

A preocupação de Kardec com as questões da compreensão e do exercício da mediunidade vem sendo partilhada pelos espíritas sérios, que se conscientizaram da necessidade do crescimento espiritual do médium para que sua faculdade tenha um emprego útil. A esse respeito, notemos que praticamente todos os grandes autores espíritas dos dois planos da vida nos têm legado estudos e lições preciosas sobre a mediunidade e seu objetivo. Procuraremos, no que se vai seguir, compilar alguns desses ensina-mentos.

Comecemos, no entanto, com O Livro dos Médiuns, em cujo parágrafo 226 Kardec endereça a se-guinte questão aos Espíritos (questão 3):

Os médiuns que fazem mau uso de suas faculdades, que não se servem delas para o bem, ou que não as aproveitam para se instruírem, sofrerão as conseqüências dessa falta?

"Se delas fizerem mau uso, serão punidos duplamente, porque têm um meio a mais de se esclarece-rem e não o aproveitam. Aquele que vê claro e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso."

Dádiva com que a misericórdia divina nos informa de nossa natureza de seres imortais, a mediuni-dade bem empregada reveste as formas de esclarecimento acerca da vida além-túmulo, de consolo para os que perderam a esperança, de advertência salvadora para os equivocados, de amparo para os que cambaleiam, de recursos terapêuticos para os que enfermaram, de despertamento para os sofredores e os trânsfugas do dever que já cruzaram a aduana da morte.

Mal empregada, a mediunidade significa o cultivo da ignorância, a disseminação da dúvida e da mentira, o insuflamento do egoísmo e do orgulho, da vaidade e do personalismo, o verbo e o texto degra-dantes, o entorpecimento nos vícios e prazeres embrutecidos, a manipulação de forças mentais deleté-rias, geradoras de desequilíbrios orgânicos e espirituais.

Na lição “Examinando a mediunidade” do livro Encontro Marcado, Emmanuel assevera: O exercício da mediunidade nas tarefas espíritas exige larga disciplina mental, moral e física, as-

sim como grande equilíbrio das emoções. E com o iluminado Espírito Camilo, no livro Cintilação das Estrelas (lição 32), aprendemos: Em mediunidade é importante que o médium se aplique em melhorar-se a si próprio, ampliando as

percepções, iluminando-se a cada hora, nas lutas que deve enfrentar, na pauta do cotidiano.

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O desenvolvimento da mediunidade marcha ladeando o desenvolvimento do médium. Quanto me-lhor o indivíduo, maior a sua fulgência mediúnica no bem.

Aprimore-se o homem para que se lhe ampliem as posições de sensibilidade mediúnica. Têm-se infelizmente observado que muitos agrupamentos mediúnicos desenvolvem suas ativida-

des de forma ritualística, tratando os médiuns como simples máquinas de comunicação. No momento do intercâmbio, os trabalhadores assumem posturas formais, como que denotando concentração e devoção ao bem, mas que nem sempre se fazem acompanhar das atitudes íntimas correspondentes. O Espírito Manoel Philomeno de Miranda comentou essa situação na lição 25 do livro Sementeira da Fraternidade:

O médium é filtro por cuja mente transitam as notícias da vida além-da-vida. Nesse sentido, consideramos a concentração mental de modo diverso dos que a comparam a in-

terruptor de fácil manejo que, acionado, oferece passagem à energia comunicante, sem mais cuidados.... A concentração, por isso mesmo, deve ser um estado habitual da mente em Cristo, e não uma situação passageira junto ao Cristo.

No livro Educação e Vivência, lição “Mediunidade e problemas”, Camilo tece as seguintes conside-rações:

Tristemente, porém, muitas dessas criaturas que se sabem ou se imaginam médiuns não são bafe-jadas pelos recursos de amadurecido estudo, a fim de que compreendam o que é que se passa nesse vasto território dos fenômenos psíquicos.

Seria de esperar que os indivíduos que se embrenham pelos bosques das percepções mediúnicas fossem caindo em si, aprendendo que todos terão que dar conta desses talentos formidáveis que lhe são concedidos, nas experiências terrenas, na condição de empréstimo, proporcionando liberdade e ventura íntimas, logrando evadir-se dos tormentosos episódios do pretérito culposo ou negligente.

Já comentamos na seção 3 a situação na qual o aparecimento da faculdade mediúnica se dá jun-tamente com desequilíbrios físico-espirituais variados, destacando o erro dos que consideram tais distúr-bios como uma conseqüência da mediunidade em si. Nesse mesmo livro, Camilo coloca a questão nos seus devidos termos:

A decantada “mediunidade de provas” não passa de episódio no qual alguém em provas e sérias expiações, recebeu da Divina Misericórdia as excelências da sensibilidade mediúnica, através de cujas portas será chamado ou convocado à assunção de responsabilidades, bem como ao cumprimento dos deveres para com Deus, através do próximo.

Dessa forma a mediunidade, mesmo quando se apresente assinalada por impertinentes padeci-mentos dos médiuns, representa para eles a mão da Celeste Providência evitando dores maiores e tor-mentos mais acerbos.

A origem do nosso sofrimento, da nossa aflição, não reside na mediunidade, mas a bagagem de desacertos que ainda trazemos, acumulada nesta e em vidas pregressas. É por isso que nossos canais mediúnicos, neutros em si mesmos, amiúde ainda se ligam aos mundos de sombra.

Tais considerações nos ajudam a perceber o quanto é positiva para a evolução do ser a mediuni-dade bem exercida, equilibrada, como colocou Kardec no capítulo XX da segunda parte de O Livro dos Médiuns, intitulado “Da influência moral do médium”. Daí a necessidade de desenvolvermos esse abenço-ado talento, através dos trabalhos da caridade, dos exercícios constantes, contínuos de benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, de perdão das ofensas, conforme a questão 886 de O Livro dos Espíritos. Reconheçamos, acima de tudo, que mais importante do que sermos bons médiuns, no que toca à faculdade, é sermos médiuns bons, a serviço de Jesus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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KARDEC, A. Instruction Pratique sur les Manifestations Spirites. Paris, La Diffusion Scientifique, 1986. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, 43ª ed., Rio de Ja-neiro, Federação Espírita Brasileira, s.d. Oeuvres Posthumes. Paris, Dervy-Livres, 1978. Obras Póstumas. Trad. Guillon Ribeiro, 18ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d. L'Obsession. (Extratos da Revue Spirite.) Farciennes, Editions de L'Union Spirite, 1950.

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