bertin, jacques. ver ou ler
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BERTIN, Jacques. Ver Ou LerJacques Bertin (27 de Julho, 1918 – 3 de Maio, 2010) é um cartógrafo e teórico francês, conhecido por seu livro Semiologie Graphique (Semiologia gráfica), editado em 1967. Esse trabalho monumental, baseado em sua experiência como cartógrafo, representa a primeira e mais abrangente tentativa de oferecer uma fundação teórica para a Visualização de Informação. Profissionais e teóricos do design de informação e infografia consideram Bertin um dos teóricos pioneiros mais importantes do design de informação.TRANSCRIPT
SELEÇÃO DE TEXTOS N~ 18
SELEÇAO DE TEXTOS tem como objetivo pôr em crise ateoria e a prática da Geografia atual, estimulando o debate ea critica;repensando os rumos da Geografia no Brasil de modo a colocá-Ia pari passo a reconstrução da sociedade e facilitar oacesso dos estudantes e leitores em geral a textos de circulacão restrita, em especial aqueles publicados originalmenteem língua estrangeira.
-SELEÇAODE
TEXTOS
associaçãodos ge6Qrqfos
brasileiros
Apresentação
18
CartografiaTe mática
Margarida M. de Andrad e
Regina Vasconcellos
COORDENADOfllA DE PUBLICAÇÕES
Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção São PauloAgb - Diretoria Executiva NacionalEdifício Geografia e HistóriaCidade Universitária - ButantãCaixa Postal 8105 - tel.: 210.2122 R. 637CEP 01000 - São Paulo - SP
NUMERO 18 SAO PAULO MAIO 1988· Os objetos geográficos· Algumas reflexões sobre o objeto e método
da cartografia depois da sexta ConferênciaCartográfica Internaci ona I
· O desenvolvimento de conceitos de comunicaçãocartográfica cam referência especial ao papeldo Professar Ratajski
· Prefácio (Iniciation -a la Graphique, S .80nin,19751:Ver ou Ler
Yves LacosteK.A. Salichtchev
Christopher Boarel
Jacques Bertin
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PREFÁCIO·
Jacques Bertin
o tratamento gráfico·· e5~á baseado nas propried~
des fisiológicas ~a percepção visual. ~stas propriedades são uni
versais e tudo indica que não tenham mudado desde tempos muito r~
cuados. E. no entanto. o tratamento gráfico evolui. Três etapas
marcam esta evolução. A primeira carta conhecida data do 31 milé
nio antes de Cristo. t preciso. elll seguida. esperar o século
XVIII para encontrar ue gráfico que transcreva outra coisill 'além
do espaço visível e consagre assim a independência do sistema
gráfico. A terceira etapa. aquela do século XX, parece mais ilDpo~
tante ainda: o tratamento gráfico descobre plI.ra si leis e perde
sua imobilidade.
COIll_O desenvolvimento da análise contemporânea. o
tratamento gráfico beneficiou-s8 par~icularmen~e das pesquisas s2
bre as "linguagens" e do enfoque semiológico dos problemas, cara~
~erizado pelo principio de separação entre ·significante" e "sig
nificado".
A aplicação desse princípio conduz a uma visão do
tratamento gráfico que surpreende frequentemente aqueles que dela,tomam conhecimento.
o tratamento gráfico se aprende! Como acreditar
nisso se na escola ninguém nos falou dele?
o tratamento g~áfico tem seus erros , conseqüent~
men~e, suas regras estritas I Como pode ser isso ver::ladeiro se o
professor de desenho esforça-se em desenvolver em seus alunos o
senso dOa imaginação. ::Ia originalidade e da liberdade, e o cartó
grafo é chamado "ar~i5t.a"?
o "bom desenhista" é geralmem:.e aquele que faz os
mais graves erros gráficos! Como se pode ousar dizer isso?
Não é necessário aprender a "desenhar" para ser
vir-se pessoalmen~e das propriedades do tra~a-ento gráfico, é su
ficiente aprender a ver!
eu, que "não sei desenhar", posso valer-- Então,
me do ~ratamento gráfico
Siml -
e assim fazer avançar Il.eus problemas?
•• Mo orI91.,.I. ·1. 9r.phlq"e". co.o 'lendo o conJ"nto de _etodo, e tecnlC.'
prôpr1., 40 tr.t ••eftto e 4. represeftt.çi. 9r.'lc. 4. l.'or••çio.
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Essas surpresas desaparecem ao 8e fazer um esforço
de reflexão que conduz a rever nos 80S hábitos a respeito de dois
pontos essenciais:
1. O tratamento gráfico e a ~magem figurativa obe
dece. a leis diferentes. são duas "linguagens" separadas e sua con
fusio é a causa de numerosos enganos gráficos. COm efeito. não
pree••ntiaaos que a atenção que se aplica a um gráfico é diferente
da que se aplica a uma "pintura" ou a uma "fotografia"? Vejamos
lDais de perto essa diferença.
Diante de uma fotografia procuramos resolver o ee
guinte problema: o que representa essa forma, essa foto? Nosso es
forço situa-se entre os signos e sua significação. A image. fiqurI
~i.. tende. representar "coisas". Mas a identificação dessas coi
aaa é funçÃo do simbolismo pessoal de cada observador. A identifi
cação, e conseqUentemen~e a criação da imagem, são aqui indefinidI
mente discutíveis (;1iz-S8 que o signo é polissê.ico), mas.· em con
trapartida elas são perfeitamente livres.
Diant.e de um gráfico procuramos resolver um out"ra
problema: a tellperat.ura do doente eatá _is alta? Ao estrada está
longe do rio? Aqui, e por definição as coisas aão identificadas, e
nosso esforço situa-se entre as significações. O gráfico repres~
ta. re1al;;Ões t!IItra "ooisas"" indi.scutiwlmente:identificadas e admitida'S c0
mo teis (o si~ é monossêmico). Mas para que essas relações apar~
çam é preciso que a transcrição gráfica conserve as propriedades
atribuídas « essas coisas. Se. por exemplo. considera-se o tempo
como ordenado, uma transcrição desordenada torna-se inútil. A
transcriçio gráfica nio é. pois. livre. Ela não pode transgredir
as propriedades nat.urais das variáveis visuais.
A liberdade. principio mesmo da imagem figurativa.
dá luqar. no trat.amento gráfico a leis imprescritíveis. Essas leis
são. ent.retanto, bastante simples e evidentes, mas é preciso conhecê-las.
2. O t.ratamento gráfico moderno coloca a nos~ di~
posiçio wa& imagem t.ransformável.. O tratamento gráfico não é so
mente esta imagem. esta "ilustraçio" que est.amos habituados a ver
e que imobiliza definitivamente sobre a folha de papel o que se
quer dizer aos outros. "Ela é antes uma memória artificial podero
sa. suscetível de. classificações, de categorizações. de manuseios
diversos e que permite descobrir pessoalmente o que há para dizer.
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nhista", mas o do responsável pela pesquisa, do "autor" ele mesmo.
De fato. não se "desenha" mais uma representação gráfica. Cons
trói-se e reconstrói-se uma representação gráfica até que a infor
mação que ela transcreve tenha revelado ao manuseador todas as
relações nela contidas. Meios elementares suprimem agora as enfadg
nhas restrições técnicas e tornam esse manuseio acessível a todos.
Ouando o responsável descobriu graficamente o que tem a dizer po_
de, em seguida - mas não necessariamente - utilizar o tratamento
gráfico para dizê-lo aos outros. E veremos, assim, que este uso
clássico é, na realidade, um uso suplementar.
Esses pontos essenciais da evolução do tratamento
gráfico têm múltiplas conseqüências que o laboratoire de Graphique
de L'tcole des Hautes Etudes en Sciences Sociales procura desenvo~
ver e formalizar. As bases dessa evolução foram expostas na "SemiQ
109ia Gráfica". t tempo agora de mostrar que o tratamento gráfico
é acessível a todos e que o complexo do "mau desenhista" está def~nitivamente prescrito.
Entretanto, expor claramente e sucintamente os
princ1p10s do tratamento gráfico não é coisa fácil. Dessa maneira
é preciso sublinhar a jificuldade da iniciativa de Serge Bonin,no~
so fiel colaborador no taboratoire de Graphique, que teve êxito ny
ma experiência de difusão das mais úteis.
Extraído do prefácio ~ obra de
Serge Bani" 1"1tia tio" à la
graphigue. Paris, Epi. 1975.
E i~so não é evidentemente o trabalho do "dese-
45
VER OU LER·
Jacques Bertin
m. NOVO OLHAR SOBRE A CARTOGRAFIA
o primeiro objetivo da cartografia, objetivo mile
nar. foi de nos dar a imagem dos rios. das Itontanhas. das cidades
e das estradas. isto é. a imagem das referênciag naturais. úteis
ao home.m. Este trabalho acaba de ser terminado. As "Terra Incogni
ta" desapareceram dos bons at.las na primeira metade do século XX
e nós vemos agora a cartografia moderna desenvolver-se em duas di
Teções principais.
Primeiramente ela aprimora a imagea dessas referên
eias naturais à medida que crescem as necessidades. t a corrida à
precisão à "cobertura topográfica" do 'l':'undo em escalas cada vez
mais finas: 1:5.000.000. depois 1:500.000. 1:50.000. 1:5.000 •.•
Em que nivel deve-se parar? A resposta é evidentemente fornecida
peló equilíbrio entre o serviço prestado e o preço de venda. A fo
tografia aérea e espacial torna-5~ então o instrumento milagre deA
se equilíbrio.
Mas a cartografia se desenvolve também em uma ou
tra direçào. Ela acrescenta às referências naturais a multidão dos
fenômenos que o homem deve levar em conta quando da decisão, eejam
esses fenômenos visíveis e fotografáveis, como a floresta, ou não,
como por exemplo as legislações florestais,
que o homem dis-
A distribuição geográfica é com
duas bases constantes e universais de comparação
efeito uma das
põe, a oütra senõo a cronologia. Ela permite registrar qualquer c~
ráter e torná-lo, assim, comparável a qualquer outro e sabe-se que
o problema da decisão repousa agora sobre a comparação de um núme
ro cada vez maior de caracteres.
Mas esse novo desenvolvimento da cartografia colo
ca problemas muito diferentes do precedente. Com efeito. aumentar
8 precisão da imagem de uma estrada. de um rio ou de uma montanha.
é um problema técnico de medida que não tem limite no nível da ime
gemo t suficiente ampliar a folha de papel, isto é aumentar o núm~
rc dos "cortes".
46 47
Faz-se pe~
fazer dois
Todo leitor deve. pois, aprender a fazer à carta
os dois tipos de pergunt.as. t c instrumento de bese da redação e
da crítica cartográfica. O leitor ficará sem dúvida surpreso de
ver como é difícil fazer essas perguntas e co~o poucas cartas a
elas respondem. Mas. o que é uma resposta visual?
t. Não se olha uma carta como se olha uma obra de arte.
Para concretizar csses dois tipos é sufic,iente observar que uma
certa é a transcrição de um quadro de dados (3) que põe em rel~ção
um conjunto de pontos geográficos, situados em X no quadro, com cm
conjunto de caracteres. situados em r no quadro. Presume-se pois
~~e toda carta responda:
-às perguntas e~ x: em tal lugar, o que há? (1)
-às perguntas em Y: tal caráter, onde está? (2)
A redaçào de uma carta custa freqUentemente ~inda muito caro e es
se custo só é plenamente justificado se a carta responde vi~ualrnen
te ~ tccaz as questões que a informação transcrita permite colo
car.
quntas a uma carta e qualquer leitor tem o direito de
tipos de pe=guntas diante de uma carta:
-em tal lugar (~m Vittel), o que há? (1)
-tal caréter (o preço do terreno) qual é sua geografia? (2)
Acredita-se habitualmente que o único erro carto
gráfico possível é enganar-se de posição geográfica. Este erro équase inexistente,exceto infelizmente em alguns meios que confurr
dem ainda decoração e cartografia. como a televisão que. sem dúvi
da em nome da estética, localiza a Síria em Teerã e o Líbano na M~
aopotâmia! O erro mais corrente, e também o mais grave uma vez que
leva a decisões erradas, consiste em enganar-se não de posição mas
de caráter. porque se trata de enganar-se de caráter representar
a arde- das quantidades por uma não orde. ou por uma desordem e
dar assim uma falsa imagem, isto é uma falsa informação.
Como toda ciência, a semiologia gráfica desenvol
veu-se a partir das dificuldades encontradas e de constante5 fra
cassos.
Ao contrário. aumentar o número de caracteres re
presentados sobre uma folha de papel é um problema psicológico~ Há
um limite: o das propriedade!!! da percepção visuaL Cada caráter éuma. image•• Ora. pode-se superpor várias itnagens. por exemplo vá
rias fotO<Jrafias sobre um mesmo filme e entretant.o separar cada
imagem? Esta impossibilidade é uma barreira intransponível. Quais
são suas conseqUências? Como reduz:í-las? Como contornar esta bar
reira? .~ o problema da cartografia pol,itemática. t. um dos objeti
vos da seaiologia gráfica.
Informacão: ordem dos preços do terreno na França de leste.
TranscriçãO(l)l: a ordem dos preços é transcrita pela não-ordem de
signos de forma somente diferentes entre si.
Mas não se fala da imagem. ~ostra-ge a imagem. Eis
pois alguns erros cartográf~c09 cuja gravidade progressiva não es
capará ao leitor.
Transcrição de uma ordem por uma não-ordem visual
Resultado: as regiões "caras" e por oposição as regiões menos ca
ras assim como as zonas intermediárias aparecem instantâneamente.
Além disso. a carta (2) responde à pergunta: qual é o preço em Vi~
tel. em Epinal? Esse pri~eiro exemplo permite fazer duas observa
ções essenciais:
Na carta (1)., a imagem instant~nea é a dos "pontos
de enquete". Não aquela dos "preços". Para encontrar uma signifiCA
ção "preço· nessa carta é preciso olhar uma forma elementar: a fOL
ma de um signo. Para descobrir todos os preços, eeria pois neces
sário reconeçar a operação~percep:;ão para ca:ia signo,em ou.tras palavras s~
ria necessário ler sucessivamente ... e memorizar 117 dados, o que
é impossível·.
A carta q~e responde instataneamente aos dois ti
pos de perguntas (2) é urna carta para ver, enquanto aquela que só
responde ao primeiro t.ipo (1) é uma carta para ler. Quando "cartas
para ler" acompanham um texto. o leitor percebe inconscientemente
a perda de tempo que representaria a lei tura completa da carta.
Ele percebe que a relação entre o tempo transcorrido e a informa-
2- A percepção visual é sempre instantânea. Se ela não O fosse,
não se dirigiria jamais um automóvel. O que importa pois, é a sig
nificação da imagem instantânea.
Ao contrário. na carta (2). a imagem instantânea
é a dos "preços". Vê-se os preços e um instante de atenção é su!i
ciente para que se possa redesenhar "de memória" o essencial da
geografia dos preços.
ter-
onde
visual
o preço do
pergunta:
Resultado: a carta (1) responde à pergunta: qual érena em Vittel. em Epinal? Mas ela não responde à
estão os terrenos caros?
Correcão:(2): a ordem dos preços é transcrita pela ordem
das superfícies de preto.
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-a ordem dos dados transcreve-se pela ordem visual,
-e as duas ordens devem corresponder.
Transcrição: a ordem das porcent.agens é transcrita por uma desor
de. visual de valores.
qaência, memorizamos instataneamente. E memorizamos que o máximo
de óbitos está no centro de Paris e também a Oestel Constatemos
que ti impossivel ver outra coisa. Ora, memorizamos uma falsa dis
tribuição. & é ela que comparamos com outras informações, com o~
tros caracteres. As conclusões e decisões serão, pois, falsas.
vê-se, pois como é grande a responsabilidade do
cartógrafo e como é falso crer que a carta não passa de uma "con
venção" qualquer. Esses exemplos mostram, ao cont.rário, que a car
tografia é a Única linguagem que não é convencional. Most.ram que o
problema ti transcrever a ordem da informação e que esse prOblema
só tem uma solução.
cons,!!
Paris.em
Re~ultado: é a imagem (S). t uma "carta para ver" que, em
Informação: ordem das porcentagens de óbitos anuais
b resposta visual é falsa
(transcrição de uma ordem por uma desordem)
Ele descobre então os três erros passíveis da car-
tografia:
-A pergunta: tal caráter ••• não tem re~poste visual.
-A resposta visual é falsa.
-A pergunta: tal carát.er ••. é pg,ticamante irnpos5~VE:l de ser fei-
ta.
O exemplo que se segue vai oost:ar ~elhor õinda as
conseqUências do primeiro erro.
b questão: tal caráter .•. não tem respossa visual
(transcrição de uma ordem por uma não-ordem em uma comparação de
cartas).
ção recebida beneficia o texto e, em conseqüênci~, ignora a carta
ou então só lhe pede uma parcela daquilo que poderie receber.
Uma carta COB um só carát.er responde q:.l8Se sempre
ao primeiro tipo de pergunta: em tal lugar •.. e freqUentemente ainda o leitor é obrigado li se contentar com ess~ resposta. Mas a ca~
ta (2) mostra que o leitor pOderia também receber urna re~poSta vi
sual para o segundo tipo de pergunta. O leitor atento de uma carta
tem, pois. o direito de exigir desta uma resposta 'lisual para li
pergunta: tal caráter.qual é sua geografia?
cor intermediária,
aquela do plano,
e a ordem do bran-
dente dos valores do branco ao negro.
FreqUentemente é preciso procurar a origem desses
erros na confusão entre cor e valor.
informação.
Ora, só há duas ordens visuais:
que em cartografia é a imposta pela topografia,
co ao preto, que pode aliás passar por qualquer
desde que esses valores sejam ordenados.
Cerrecão: a ordem da informação é transcrita pela ordem correspon-
Resultado (7): a verdadeira distribuição de óbitos em Paris. Pode
~e constatar que ela é quase inversa em relação à distribuição me
morizada em (6)! O erro do cartógrafo. em (6). é evidente. Deixou
de fazer corresponder a ordem visual com a ordem da
o leitor estará sem dúvida surpreso com a neces
sidade de sublinhar tais erros e evidências. Mas ficará mais sur
preso lloinda quan:::Jo descobrir que esses erros são um fato corrente
nos jornais, atlas, publicações. instãncias de decisão tais como
ministérios, serviços estatísticos, serviços de informação.
Resultado: cartas "informes"· que é impossível comparar e que o lei
tor sequer olha.
correcão (5): transcrição da ordem da informação pela ordem visual
dos valores do branco ao preto.
Resultado: percepção instantânea das três formas que o olho compa
ra facilmente.
Informação: a ordem das porcentagens de votos recolhidos na França
pelas três grandes centrais sindicais.
Transcricão (4): transcrição da ordem pela não-ordem visual de tr~
mas somente diferentes entre elas 2 •
vê-se, assim. que as "cartas ~ra ler" (4) impedem
a comperação com outras cartas. Elas impedem as multico~parações
que fazem da cartografia moderna um dos instrumento. de base do
tra~amen~o da informação. Para que as comparações sejam possíveis,
a carta deve responder ao segun~o tipo de pergunta: tal caráter.
onde es~á? A carta deve ser uma "cart.a para ver" (5).
Mas é preciso ainda que a "carta para ver" não· se-
ja falsa.A carta (8) dá um exemplo caracteristico disso.
Ela é produzida pe 105 serviços de informação da presidência dos
USA. Esses serviços dispõem dos meios técnicos os mais aperfeiçoa-
50
dos e podem fazer aparecer quase instantaneamente sobre uma tela
de televisão qualquer carta, a um· simples pedido. As cor~s são
muito bonitas ••• mas as imagens são tão falsas quanto a carta (6)!
A percepção instantânea da carta (8) inscreve na
nossa memória que a água mais "dura- está no norte. Mas uma leit!!
ra atenta nos mostra, ao contrário. que a água mais -dura- está
no sul! A i~gem instantânea não se constrói sobre 8S ·cores" mas
sobre. a ordem dos ·valores da cor", isto é. de sua distância em
relação ao branco e ao preto. Ora, aqui. COIDO na carta (6) a or
dem dos valores nao corresponde à ordem dos dados.
A imagec que faz corresponder as duas ordens (9)
restabelece a verdade. Mas quem só vê a carta (8) memoriza uma
falsa geografia. E quando se sublinha esses erros, não é impos
sível de se ouvir como resposta: -isso não te. impor~ãncia já
que. com o computador, cada um é livre para colocar a cor que quiser-o
Esta resposta sublinha a extensão da confusão en
tre ver e ler. Sublinha quanto seus autores ignoram que é impos
sível corrigir mentalmente Ul:'la. falsa imagem.
Não! Esta liberdade não existe! E é por isso que
a cartografia é uma linguagem universal. t uma linguagem acabada•e rigorosa, que só di~põe de çoa única ordem visual. Consequente-
mente "tomar uma convenção" outra que aquela imposta pela psicolQ.
gia é escrever que 2=5. é justificar as cartas (4) e (6) ••• ou éser ·cego!
OS DOIS PROBLEMAS DA CARTA POLITEHÁTICA
A3 cartas que acabamos de ver são C3.rtas ccrn t:m
só caráter. Quando a carta superpÕe vários car3cteres, o leitor
esbarra com dois problemas estreita::lente ligados: a 1'='9ibilidade
da legenda, a r~sposta à pe~gunta "tal cazátc~, qual é sua geogrª
f;''l''?
As cerguntas são praticamente imp?ssi~eis de serem cclocadas
?a~a que o leitor possa COlOC3~ as questões as
quais espera-se que a carta responda, ele deve pglo senas saber
quais são os caracteres reproesentados. Quanto teB?Q é necessário.
n~ carta (10), para saber ~o que se trata?
51
Com uma lupa descubra a legenda. Exagero? Infe
lizmente não! Que o leitor olhe agora as cartas as mais diversas.
Ficará surpreso de descobrir que poucas sao as l~
gendas facilmente acessíveis.
Fica~á surpreso de ver, em diversos casos, legen
::las separadas da carta.. E o que dizer então das cartas, publica
das por ins~âncies científicas, e Gue sequer têm legenda!
A legenda é o único meio de entrar na carta, isto
é. de lhe colocar as questões às quais espera-se- que ela respon
da. t o verdadeiro título da carta. A legenda deve ser imeãiata e
perfeitamente legível e, conseqUentemente, convém:
-reserva~-lhe todo o espaço necessário,
-diSpÔ-la o mais próximo do leitor,
-evitar todo retorno inútil (11),
-escolher os temas os mais imediatamente significativos,
-e naturalmente escrevê-la em caracteres grandes.
Mas isso não parece ser ainda evidente.
A pergunta: tal caráter ... não tem resposta visual
(A carta superpõe vários caracteres)
t sempre possível superpor vários caracteres so
bre uma carta. Alguns superpõem20, outros 30 caracteres diferen
tes. Mas é isso uma habilidade do desenhista?
A carta (l1) superpõe 5 períodos, os períodos de
fundação das escolas normais, para duas categorias: rapazes e mo
ças. Há, pois, 10 caracteres 5uperpostos sobre essa carta, como o
indica a legenda, nada fácil de ler, aliás. Retomemos nossos dois
tipos de perguntas:
-Em tal ~epartamento, quais são as datas de fundação? A resposta,
sem ser fácil é entretanto, possível.
Façamos agora o segundo tipo de pergunta:
-Em tal data, quais são os departamentos interessados?
A carta (11) não fornece resposta visual. Como a
carta dos pr~ços (I) ou a carta (10) ela só permite rRler ponto
por ponto tojos 05 signos representados. t uma "carta pare. ler".
Aliás você, leitor. o que retem dessa carta? Falando francamente,
praticamente nada.
Ou sim! o sentimento da inutilida:je da Cartogca-
fia!
5253
A explicação é evidente. A 9uperposlçao ~e vários
caracteres sobre uma carta destrói a imagem de cada um dos carac
teres, da mesma maneira que a superposição de várias fotografias
sobre um mesmo filme destrói ca:::1a imagem particular. O que e im
possível :::Ie ver em (II) são as imagens (13).
AtinCJimoe: aqui os limi te!! da percepção visual. O
olho só vê uma única fOnDa de cada vez. Quando várias formas en
contram-se superpos~as o olho só vê a forma no seu todo e para s~
parar um :3.ado caráter, é preciso selecioná-lo ponto por ponto, o
que aliás pode ser perf~itamente impossível, nos clichés fotográ
ficos por exemplo.
Está aí todo o problema da cartografia politemáti
ca~ Como melhorar a percepção de conjunto de um caráter, de cada
cará~er em uma carta que superpÕe vários?
t fácil constatar que a confusão aumenta com o n~
se então como a pergunta em Y pode ser útil à co~preensao. No
exemplo (I) ela faz aparecer ime~iatamente o surpreendente atra
so da promoção dos professores. a curiosa distribuição des c:,ia
ções, 0, atraso, ou in ...·ersamente o avanço de certas regiões, e em
alguns casos excepcionais o avanço das moças em relação aos rapa
zes.
Tu~o isso é legível sobre a carta (12), mas eooo
não é visível, ninguém vê.
A pergunta: tal ca~á~er... não tem resposta visual
(segundo exemplo)
Vimos o erro da carta (10). A legenda é m~ito di
fícil de ler. Aqui (15) esse efro é corrigido e é fácil ver que
se trata da distribuição, por departamento, das populaçõc~ agrí
colas, i~dustriais e terciárias.
a,
Procura-se, pois, reduzir essa confusão:
-simplificando a distribuição geográfica. isto é, esquematizando-
-reduzindo o número de caracteres superpostos. seja por simples
supressão, seja procedendo a tratamentos prévios, matemáticos e
gráficos que permitem agrupar vários caracteres de distribuições
vizinhas e defiDir "tipologias".
A segunda pergunta é a que faz todo pesquisador.
Co~~ to~~ carta :3.e superpos~çao ela responde àprimeira pergunta: em tal lugar. o que há? Mas a segunda pergun
ta: tal caráter. qual é sua geografia? só tem resposta na coleção
de cartas (16).
A primeira pergunta é a que faz o viajante, o au
tomooilista, o arquiteto ou o militar. Para eles, w:na "carta para
ler, é geralmente suficiente.
distribuição.mero de caracteres e cam ~ complexidade de sua
Esse necessita de "cartas para ver". E estas são
oferecidas. t suficiente acrescentar. nas bordas da carta de su
perposição. a série de cartas por caráter, que podem ser muito p~
que nas e em uma só cor.
o leitor conhece agora os dois tipos de perguntas
que tem direito :3.e fazer diante de qualquer carta. Como costuma
acontecer o leitor ficará ainda mais surpreso ao descobrir que a
2 1 pergunta "tal caráter, qual é sua geografia?" só raramente en
contra resposta e que o emprego moderno da cartografia, que deve-
-escolhendo um caráter que se poe em evidência e relegando assim
todos 05 outros à leitura ponto por p~nto.
-utilizando 05 três tlp03 de implantação que o olho pode separar
facilmente: pontos. linhas e zonas.
A perda de informação particular em cada uma das
soluções pode ser definida com precisão (teoria das questões per
tinentes) e a escolha da informação per::1ida (escolha das pergun
tas que não terão respostas) explica a diversidade aparente da
cartografia poli temática.
A única solução que não acarreta nenhuma perda de
informação é evidente:
toda pessoa que decide. que quer informar-se e que
de definir sua própria lista de comparações úteis,
própria lista de caracteres.
tem o :jireito
isto é, sua
-fazer uma carta de superposição para responder
tal lugar o que há"? (12) isto é. a pergunta em
dos (14);
à pergun ta .. em
X no quadro ~e dA
ria permitir comparar
maçada sob o peso dos
qualquer lista de
hábitos milenares
caracteres, está ain~a e~
da "leitura" topográfica.
-fazer uma carta por caráter para responder à pergunta - "tal ca
ráter. onde está?" (13) isto e, a pergunta em Y. E descobre-
Extraído de Cartes et Figures de la Terre,
Centre Georges Pompidou, Paris, 1980.