bertheriano · o natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um...

32
MISSÃO NO MUNDO Os MSF no Mundo - 4 MISSÃO NO BRASIL Os MSF no Brasil - 6 ARTIGOS A sublime arte de envelhecer - 13 Elogio da frugalidade - 14 Importância da família e da educação pública para a convivência social - 15 Os desafios da inclusão social - 16 A dimensão dialética da leitura - 17 PROTAGONISMO LEIGO O protagonismo leigo e a Igreja - 19 Dois olhares sobre o laicato - 20 Protagonismo: jovens que ensinam - 22 Leigos em missão: o grande Natal - 23 Natal celebrado numa “Igreja em saída” - 24 Acolher o amor de Deus e reconhecê-lo nos irmãos - 25 Natal: encarnação de Deus no humano - 26 Oração de Natal - 27 TESTEMUNHOS “Os pobres confiam mais em Deus!” - 28 Pe. Roque Zimmermann: uma vida que segue... - 30 Protagonismo leigo: mantendo viva a mística missionária Ano 38 | nº 115 | Set./Dez. 2016 Bertheriano

Upload: others

Post on 09-Aug-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

MISSIONÁRIOS DA SAGRADA FAMÍLIAPROVÍNCIA BRASIL MERIDIONAL

www.msagradafamilia.com.br

Seja um missionário!

MISSÃO NO MUNDOOs MSF no Mundo - 4

MISSÃO NO BRASILOs MSF no Brasil - 6

ARTIGOSA sublime arte de envelhecer - 13Elogio da frugalidade - 14Importância da família e da educação pública para a convivência social - 15Os desa�os da inclusão social - 16A dimensão dialética da leitura - 17

PROTAGONISMO LEIGOO protagonismo leigo e a Igreja - 19Dois olhares sobre o laicato - 20Protagonismo: jovens que ensinam - 22Leigos em missão: o grande Natal - 23Natal celebrado numa “Igreja em saída” - 24Acolher o amor de Deus e reconhecê-lo nos irmãos - 25Natal: encarnação de Deus no humano - 26Oração de Natal - 27

TESTEMUNHOS“Os pobres con�am mais em Deus!” - 28Pe. Roque Zimmermann: uma vida que segue... - 30

Protagonismo leigo:mantendo viva a mística missionária

Ano 38 | nº 115 | Set./Dez. 2016

Bertheriano

Page 2: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

22

EDITORIAL

Conselho Provincial:

Pe. Jandir Antonio Haas, msfSuperior Provincial

Pe. Lotário José Niederle, msfVice-Provincial

Ir. Lauri De Cesare, msfSegundo Assistente

Ir. Moacir Filipin, msfTerceiro Assistente

Revisão de texto: Pe. Lotário Niederle, msf

Editoração: Editora IFIBE

Instituto Superior de Filosofia Berthier

Projeto gráfico:Diego Ecker

Capa e diagramação: Elias Fochesatto

Impressão: Gráfica e Editora Berthier

Tiragem deste número: 1.800 exemplares

Distribuição gratuita.

Contato e Pedidos:Província dos Missionários da

Sagrada Família (Brasil Meridional)Rua da Floresta, 1043 - Bairro Petrópolis

Cx. Postal 3056 - CEP: 99051-260Passo Fundo - RS - Brasil

Fone: (54) 3313-2107 | Fax: (54) 3311-2551 E-mail: [email protected]/bertheriano

BertherianoRevista da Província Brasil Meridional dos Missionários da Sagrada Família

Pe. Lotário Niederle, msfCoordenação Provincial

Passo Fundo, RS

Estamos chegando ao final de mais um ano de caminhada. É tempo de Natal! As pessoas estão mais animadas. Aflora uma inquieta esperança, uma alegria contagian-te. A solidariedade flui através dos corações, se torna gesto e atitude. A cidade se faz mais acolhedora, iluminada e as pessoas mais amorosas nas relações. O mundo se transforma: tudo pode ser renovado. Mas a vida e a fé cristã nos fazem ir um pouco além. Se o espírito natalino exala vida, alegria e amor para todos, por que vivemos num mundo de tanta in-diferença? Se o Natal é esperança e vida por que superabun-dam os sinais de morte e desespero? É evidente e comprometedor o desafio de as-sumirmos e vivermos intensamente o Natal do Senhor, aurora da nova luz que brilha para todos os recantos do mundo e em todos os recônditos de nossas vidas e história.

Re-avivemos pois, a importância de sermos Natal, no mundo atual, pelas palavras do Papa Francisco:

O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide nascer de novo, cada dia, deixando que Deus penetre seu interior. O pinheiro do Natal é você, quando com sua força resiste fortemente aos ventos e dificuldades da vida. (...) O cartão de Natal é você, quando a bondade está escrita no gesto de amor de suas mãos. Os “votos de Feliz Natal” é você, quando perdoa e restabelece a paz mesmo que ainda esteja sofrendo. A Ceia do Natal é você, quando sacia de pão e de esperança o pobre que está ao seu lado. Você é sim a Noite de Natal, quando humilde e consciente recebe, no silêncio da noite, longe de ruídos e de grandes celebrações, o Salvador do Mundo. Você é sorriso de confiança e ternura na paz de um Natal perene, que estabelece o Reino em você. Um Feliz Natal, para todos os que se parecem com esse Natal! Eu quero ser Natal, e você? (Mensagem de Natal, 22.12.2015).

Toda Igreja deve perceber-se envolvida num único apostolado, sendo “discípula mis-sionária” (EG 120), embora sua organização em diversos ministérios e serviços, conforme as diferentes necessidades no mundo ou em pastorais específicas. Nenhum serviço [no ethos] cristão é suplementar, tampouco de alguém que esteja “por fora”. Pelo contrário, será sempre, em resposta às interpelações do Espírito, o exercício fidedigno do sacerdó-cio comum dos fiéis, recebido no batismo (LG 10). Neste sentido, falar de protagonismo leigo evoca necessariamente uma Igreja que caminha junto, enquanto Povo de Deus, e que garanta a equidade fundamental dos diversos ministérios que congrega, no servi-ço do Reino. Como diz o Papa, “nossa primeira e fundamental consagração lança suas raízes em nosso batismo. Ninguém foi batizado padre ou bispo. Batizaram-nos leigos e é o sinal indelével que nunca ninguém poderá eliminar” (Carta ao Cardeal Marc Ouellet, presidente da Pontifícia Comissão para América Latina, em 19.03.2016).

Todavia, na mesma carta, falando do protagonismo Francisco alerta: “os leigos são parte do Santo Povo fiel de Deus e, portanto, os protagonistas da Igreja e do Mundo; a que nós estamos chamados a servir”. Dando resposta a este chamado encontramos muitas pessoas imersas em lutas que, em meio às contradições e injustiças, testemu-nham pela fé, a seu jeito, o Reino; e o fazem sem necessariamente estarem ligadas a uma comunidade eclesial. Devemos abrir portas, sonhar com eles, andar com eles, lutar juntos. Precisamos reconhecer a cidade, os espaços de vida que nela coexistem; construção de muitos que servem e promovem o bem, a verdade, a justiça e o direito desvelando a presença de Deus livremente e de coração sincero (EG 71). Ainda para-fraseando a Carta do Papa, podemos afirmar que leigo/a protagonista e comprome-tido/a não é apenas aquele/a que se dedica à Igreja. Pensar assim significa superar a visão de uma “elite laical clericalista” que se ocupa das “coisas dos padres” para aproximar-se de um testemunho de vida e fé, na luta cotidiana, já levada a termo por tantos cristãos/ãs. Significa ainda, que o/a leigo/a por sua identidade, por estar envolvido no “coração da vida social, pública e política”, e na gestação de “novas for-mas culturais” está, muitas vezes, mais adequado às exigências atuais do Evangelho.

Page 3: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

Os MSF no MundoComunidade Missionária da Bolívia 4Comunidade Missionária de Moçambique 5

O protagonismo leigo e a Igreja 19Gleison Costa França

Dois olhares sobre o laicato 20Bertilo Brod

Protagonismo: jovens que ensinam 22Nei Alberto Pies

Leigos em missão: o grande Natal 23Pe. Vergílio João Moro, msf

Natal celebrado numa “Igreja em saída” 24Pe. Marcelo Junior Klein, msf

Acolher o amor de Deus e reconhece-lo nos irmãos 25Adilson Juliano Assmann

Natal: encarnação de Deus no humano 26Leandro Lunkes

Oração de Natal 27

PROTAGONISMO LEIGO

“Os pobres confiam mais em Deus!” 28Ir. Wanderson Nogueira Alves, msf

Pe. Roque Zimmermann, msf Uma vida que segue... 30Pe. Lotário Niederle, msf

TESTEMUNHOSA sublime arte de envelhecer 13

Pe. Euclides Benedetti, msfElogio da frugalidade 14

Pierre RabhiImportância da família e da educação pública para a convivência social 15

Carvalho Paulo WilsonOs desafios da inclusão social 16

Lucas André PirolliA dimensão dialética da leitura 17

Pe. José André da Costa, msf

ARTIGOS

Os MSF no BrasilComunidade Religiosa do Amazonas 6Comunidade Religiosa de Goiânia 7Comunidade Religiosa de Passo Fundo 8Comunidade Religiosa de Porto Alegre 8Comunidade Religiosa do Rio de Janeiro 9Comunidade Religiosa de Santo Ângelo 10Comunidade Religiosa de São Carlos 11

MISSÃO NO BRASIL

MISSÃO NO MUNDO

SUMÁRIO

Page 4: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

44

MISSÃO NO MUNDO

Comunidade Missionária da Bolívia

A missão interprovincial dos Missionários da Sagrada Fa-mília, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, iniciou em abril de 1997. Ela nasceu como resposta aos apelos missionários da Igreja Latinoamericana e, mais precisamente, do próprio carisma congregacional de “estar mais perto daqueles que estão longe” (cf. At 2,39). Ao aproximar-se o vigésimo ano de presença em terras bolivianas recordamos, com alegria, o tes-temunho missionário de tantos confrades que já passaram por esta missão ad gentes. MSF vindos do Chile, da Argentina, do Brasil (Províncias Meridional e Oriental) e da Espanha, somados a tantos outros missionários e missionárias. São leigos e leigas e consagrados e consagradas que ajudaram a tecer a pujante his-tória desta missão, dando-lhe vida e dinamismo no serviço do Reino. É chegada a hora que não se pode postergar: de, depois de 20 anos, colocar esta pequena parcela da grande missão ao acalento do coração. E, mais que isto, firmar, juntos, o compro-misso de, pela oração e pela ação, manter, por amor à Sagrada Família de Nazaré, viva e atuante esta rica história neste chão.

Atualmente estão, na Bolívia, nesta grande missão, Pe. Loacir Luvizon e Pe. Donato Durães de Vasconcelos (Brasil Meridional), Pe. Luís Lopes (Espanha) e Ir. Hector Pinto (Chi-le). Atendem duas Paróquias: Maria Reina de Las Américas e Nuestra Señora del Rosário, ambas na periferia de Santa Cruz de La Sierra. A missão coordena também o Centro de Espi-ritualidade Nazareth, que serve para hospedagem e Centro de Formação de lideranças de toda a região. Os missionários

“Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu.

É parar de dar voltas ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. [...].

É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los.

E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus,

então Missão é partir até os confins do mundo.” (Dom Helder Câmara)

Caro leitor! Com este trecho da oração de Dom Helder chegamos até você para apresentar um pouco da vida de nossas Comunidades Religiosas. Nesta edição do Bertheria-no, as seções: Missão no Mundo e Missão no Brasil descre-vem e partilham o cotidiano de nossos confrades em mis-são, espelhando o rosto e a vida de nossas Comunidades Religiosas MSF. Por isso, estaremos trazendo um pouquinho da vida e da missão MSF, da Província Brasil Meridional, com textos que apresentam as nossas Comunidades Religiosas. Assim, esperamos que você conheça um pouco mais da nossa Congregação através das partilhas que seguem. Nes-ta coluna, desta 115ª edição de Bertheriano, conheceremos mais de perto a Comunidade Missionária de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia e a Comunidade Missionária de Mecu-buri, na África. Esperamos que goste e que possas contar--nos o que achaste de nossas partilhas!

Os MSF no Mundo

Page 5: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

5

participam na coordenação de diversos projetos, pastorais e organizações, alguns, em âmbito nacional: Pastoral Fami-liar, Comissão Missionária, Conferência dos Religiosos, den-tre outros. Os Missionários da Sagrada Família que estão na Bolívia, assim como tantos outros nossos irmãos, vivem a ministerialidade da vocação a que foram chamados: servir a Deus com alegria, estando perto dos que estão longe.

Comunidade Missionária de Moçambique

“Jesus Cristo, Missionário do Pai, por intercessão da Sagrada Família de Nazaré,

te pedimos, com insistência e sinceridade: faz que sejamos uma só família numa só missão!”

(Oração da Reestruturação)

O espírito missionário do fundador, Padre Berthier, con-tinua vivo em diferentes realidades e espaços do mundo. O “estar perto dos que estão longe” (At 2,39) continua in-flamando o coração dos missionários. E foi este fogo abra-sador que levou o Pe. Neiri Segala, em nome da Província Meridional do Brasil e da Igreja, voar além-mar e pousar na Arquidiocese de Nampula, Moçambique. Chegou no dia 29 de abril de 2007, rumando logo para o distrito de Chalaua, onde permaneceu até o mês de dezembro do mesmo ano. A pedido do Arcebispo Dom Tomé, Pe. Neiri chegou para assumir a missão de Mecubúri no dia 08 de dezembro. As-sim, a missão MSF em Mecubúri está completando nove anos. Vários missionários já dedicaram parte de sua vida servindo a esta parcela do povo de Deus.

Hoje, o Pe. Pedro Léo Eckert, a missionária leiga Édina Lima Cardoso e o Pe. Celso Both formam a comunidade. Pe. Pedro está por completar seis anos de missão nesta terra. Natural de Saudades, SC, é filho de Jacó (em memória) e Acil-da Eckert. Exerceu seu ministério em diferentes lugares do Brasil, tendo como destaque a missão em Carauari/Itamara-ti, no Amazonas. Édina, de Rio Verde-Goiás, é filha de Amélia Lima e Raimundo Nonato Cardoso (em memória). Atuou na

Pastoral da Juventude por longos anos e dedicou-se com intensidade na Casa da Juventude Padre Burnier (CAJU), em Goiânia. Seu despertar missionário se deu em Carauari--Amazonas, numa assessoria com a juventude e, após duas visitas a Moçambique, aceitou o convite para missionar em Mecubúri, onde chegou em janeiro de 2014. Pe. Celso está por completar um ano nesta missão. Nascido em Saudades, SC, é filho de Rosa Josephina e Armindo Aloysio Both, am-bos falecidos. Depois de vários anos dedicados à formação de novos missionários, integrou a missão interprovincial em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia e, por um período, viveu na missão de Carauari/Itamarati, no Amazonas.

A comunidade missionária anima a evangelização de duas Paróquias: Santa Cruz de Muíte, dividida em 18 zonas e 130 comunidades e a Nossa Senhora da Assunção de Me-cubúri, com 22 zonas e 151 comunidades. Na área da paró-quia de Mecubúri, duas congregações femininas têm comu-nidade: Irmãs Servas de Nossa Senhora de Fátima e Irmãs Missionárias Capuchinhas. A missão também coordena um projeto de reforço escolar chamado Criança aprende: são 15 crianças que, duas vezes por semana, têm auxilio espe-cial na aprendizagem. Acompanham também o projeto Al-deia das Crianças, que acompanha 58 crianças, bem como um grupo de mães gestantes. A Escola Profissional Familiar Rural de Mecubúri, em funcionamento há cinco anos, é ou-tro serviço prestado pela missão à comunidade. Oferece formação em agropecuária de nível básico. Com o sistema da pedagogia da alternância está atendendo, atualmente, 95 adolescentes e jovens entre 14 e 20 anos.

Os desafios para a vida missionária continuam vários: o grande número de comunidades; as difíceis vias de acesso; a fome e a falta de água; as doenças; um sistema escolar ino-perante; a continuidade da gestão e manutenção da Escola Rural; o Serviço de Animação Vocacional e a efetivação de um processo formativo para futuros missionários autócto-nes, entre outros. Este mundo que aqui está na expectativa de uma resposta missionária sonha com mais missionários e missionárias que se disponham a dedicar parte, ou toda a sua vida, nesta missão.

Comunidade Missionária da Bolívia Comunidade Missionária de Moçambique

Page 6: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

66

MISSÃO NO BRASIL

Os MSF no Brasil“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho.

Quando se sonha juntos é o começo da realidade.” (Miguel de Cervantes)

É de suma importância para nós, Missionários da Sagrada Família, que o carisma, herdado de nosso venerável funda-dor, o Pe. Berthier, esteja sempre centrado no serviço aos mais pobres, no anúncio do Evangelho de Cristo e na con-tinuidade da missão. Trabalhamos com a convicção de não medir esforços no serviço do Reino, levando a termo um bom testemunho missionário e uma efetiva evangelização, onde quer que estejamos. Nesse interim, toma peculiar amplitude sentir-se e permanecer conectado: nossa vida em Cristo e nossa partilha com os irmãos e irmãs. Assim, na seção Mis-são no Brasil desta edição, apresentamos para você como se organizam as nossas Comunidades Religiosas e Missionárias espalhadas pelo Brasil, bem como quem são os seus mem-bros. Com certeza encontrarás diversos rostos e histórias de vida já conhecidas. Queremos estar mais próximos de você, caro leitor, e, por isso, apresentamos um pouco do cotidiano de nossa missão, através dos relatos das Comunidades MSF.

Comunidade Religiosa do Amazonas

Os Missionários da Sagrada Família atendem às Paró-quias São Benedito de Itamarati e Nossa Senhora da Ima-culada Conceição de Carauari, na Prelazia de Tefé desde o ano de 2000. A presença dos MSF no coração da floresta Amazônica é marcada com traços da nossa Espiritualidade e do Plano Estratégico da Província (PEP) do Brasil Meridio-

nal, à qual nós pertencemos. Seguindo o método ver, julgar e agir procuramos o caminho de Jesus no espírito das co-munidades eclesiais de base. Assim, afirmamos nosso lema carismal: “Estar mais perto dos que estão longe” diante das pastorais da Igreja e na construção da justiça social. Esta missão, marca intensamente a nossa Província e a vida dos confrades que por aqui passaram.

D. Sérgio, por ocasião da nossa chegada, assim pronun-ciou os desafios dessa missão: “A chegada dos Missionários da Sagrada Família é fonte de esperança para esta parte da Prelazia de Tefé. [...] Confiamos no seu trabalho e acre-ditamos que o Espírito Santo que colocou no coração dos missionários o desejo de vir para a Amazônia os guiará [...] no cuidado pastoral de nossas paróquias” (D. Sérgio Edu-ardo Castriani, Livro Tombo II da Paróquia São Benedito). D. Sérgio, ainda, evidencia que um dos primeiros dilemas dos missionários e missionárias que aqui vivem é a distân-cia e o isolamento. Mas, esta realidade missionária também se mostra precária pela falta de projetos que beneficiem a todos, especialmente aos mais pobres, seja em âmbito mu-nicipal, como pela ausência do Estado em muitas situações. Todavia, as lideranças de nossas comunidades, a partir das formações e da própria história de lutas, vão buscando al-ternativas, que aos poucos dão sinais de melhorias em nos-sa área missionária. Esses sinais são como lanternas ao lon-go do Rio Juruá em noite escura, indicando a direção. Mas, ainda não nos dão segurança porque precisamos constituir e dar base às novas pastorais que pedem seu firmamento e dinamização.

É com base nesta história de luta que, juntamente com es-sas pessoas de boa vontade, queremos encurtar as distâncias e

Comunidade Missionária do Amazonas

Page 7: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

7

Werlang, Pe. Enoques Martins da Rocha e Pe. Volimar Aimi.A realidade que envolve nosso campo de ação pasto-

ral se caracteriza pela formação de lideranças e animação das comunidades nas paróquias. O plano estratégico da província (PEP) afirma que a nossa vida deve ser pautada pela partilha, justiça, solidariedade, respeito à diversidade, honestidade, troca de conhecimento, sensibilidade ao em-pobrecido, consciência do ecossistema. Além disso, visa à construção de uma vida cristã comprometida com a forma-ção da cultura da solidariedade. Entendemos, pois, que não é possível fazer acontecer a defesa da vida humana, sem a defesa da vida da pessoa. Ou seja, uma coisa é dizer que amo a humanidade em sua universalidade; outra coisa é amar a pessoa que está ao nosso lado.

As comunidades paroquiais que atendemos se destacam pelo zelo apostólico dos nossos confrades e lideranças. Há uma preocupação com a formação de lideranças e a articu-lação das pastorais sociais e orgânicas; há boa participação dos fiéis nas liturgias e bastante envolvimento de leigos nos serviços pastorais, litúrgicos e movimentos eclesiais. Na casa de formação, em Goiânia, funcionam as etapas do aspirantado e do postulantado. Destacam-se como essen-ciais nesta fase da formação: encontros sistemáticos de for-mação; oficinas de comunicação, de língua portuguesa e espanhola; introdução à Teologia e à Filosofia; formação bí-blica; integração intercongregacional promovida pela CRB; encontros de cultivo espiritual e comunitário; retiros; etc.

Na Diocese de Jataí estamos na cidade de Rio Verde, ani-mando a pastoral, em duas paróquias: Nossa Senhora das Dores e São Francisco de Assis. Na Diocese de Ipameri es-tamos na cidade de Caldas Novas, animando a pastoral na Paróquia Bom Pastor. Na Arquidiocese de Goiânia atuamos em Goiânia, animando a pastoral na Paroquia Divino Espiri-to Santo e na formação. Os mesmos que trabalham na casa de formação, articulam também o Serviço de Animação Vo-cacional na região.

enfrentar os grandes desafios dessa missão. Neste ano de 2016, nossa Comunidade Religiosa MSF conta com os padres Neiri Segala, Valmir Miguel Majolo, Moisés Furmann em Carauari e o padre Francisco Ary Carnaúba, em Itamarati. Além destes, uma equipe, com ajuda de leigos, realiza duas visitas pastorais a to-das as comunidades ribeirinhas das duas paróquias, no decor-rer do ano. Além dos serviços pastorais que são desenvolvidos e das formações na cidade, em conformidade com o objetivo da Igreja no Brasil e na nossa Prelazia, assumimos os seguintes Projetos:1. Frentes Missionárias: fortalecer e dinamizar a presença

missionária MSF na região, e o espírito missionário nas lideranças a partir do Evangelho;

2. Pastoral Vocacional: despertar nos jovens suas capaci-dades e dons para os serviços missionários, em vista da vida consagrada e dos ministérios leigos;

3. Pastoral das Famílias: ajudar, sob a inspiração da Sa-grada Família de Nazaré, às famílias a seguir Jesus Cris-to e a perceber seu papel na sociedade;

4. Espiritualidade Religiosa e Missionária: aprofundar o carisma missionário MSF e fortalecer a missão evange-lizadora da Igreja local, no seguimento de Jesus Cristo.

Comunidade Religiosa de Goiânia

Os Missionários da Sagrada Família estão presentes no Estado de Goiás inseridos, com profetismo, no dia a dia das comunidades eclesiais. Temos, como objetivo, anun-ciar com intensidade Jesus Cristo, cultivando entre nós a fraternidade a exemplo do Padre Berthier. Atuamos na ar-quidiocese de Goiânia, na diocese de Ipameri e na diocese de Jataí. Nossa Comunidade é formada pelos seguintes reli-giosos: Pe. Mauro Primo Vieira, Pe. Isidoro Ludwig, Pe. Pau-lo Gatteli, Pe. Leo Fiorin, Pe. Rogério Lavisch, D. Guilherme

Comunidade Missionária de Goiânia

Page 8: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

8

Comunidade Religiosa de Passo Fundo

Os MSF estão presente em Passo Fundo há 88 anos. So-mos uma Comunidade Religiosa bastante diversificada. Temos um coirmão, Pe. Rudi Hippler que é capelão do Hos-pital São Vicente de Paula, residindo no próprio hospital. Atendemos à Paróquia Santa Teresinha, que possui quatro comunidades, sendo animada pelo Pe. Maicon Rosseto (pá-roco e professor do IFIBE), com o auxílio do Pe. Arno Durian e do Pe. Marcelo Junior Klein (vigários paroquiais). Pe. Mar-celo também é o formador da etapa do Postulantado que, atualmente, conta com quatro formandos.

Também integram a Comunidade Religiosa: Ir. Wander-son Nogueira Alves, liberado para o serviço de animação vocacional da Província; Pe. José André da Costa, que há anos é diretor e professor do Instituto Superior de Filoso-fia Berthier (IFIBE), realizando, também assessorias e ação pastoral junto ao presídio; Ir. Moacir Filipin, que atua na administração do IFIBE, além de coordenar o Projeto So-cial Transformação (em parceria de outras entidades) e de ser membro da Coordenação Provincial. Não poderíamos deixar de mencionar os demais membros do Conselho Pro-vincial: Ir. Lauri de Cesare, assistente e ecônomo; Pe. Lotário Niederle, vigário provincial e secretário; Pe. Jandir Antonio Haas, nosso superior provincial.

Temos também, aqui em Passo Fundo, uma casa que acolhe os padres idosos, ajudando no tratamento e recu-peração de saúde dos padres enfermos: o Lar de Nazaré. Residem atualmente nesta casa os missionários: Pe. Aloísio Selau (88 anos), Pe. José Schnorr (86), Pe. Leopoldo Santi-non (84), Pe. Arnaldo Sulzbach (84), Pe. Tarcísio Webber (77), Pe. Cláudio Haas (78). Ainda, fazem parte da Comunidade os coirmãos: Pe. Roque Zimmermann, que reside no Paraná, e o Pe. João Sebem, que está residindo em David Canabarro. Igualmente estão unidos a nós, os missionários que estão em missão na África, em Mecuburi: Pe. Celso Both e Pe. Pe-dro Leo Eckert. Pe. Vanderlei Souza da Silva que retornou há pouco da missão na África e, no momento, auxilia em Pinhalzinho, SC.

Diante dessa diversidade de trabalhos, para melhor viver o legado de nosso fundador, Pe. Berthier, a Comunidade Religiosa, cada ano, constrói um Plano de Ação que desafia e ilumina a nossa ação missionária. A partir deste contexto são vários projetos, com os devidos objetivos e ações, que permitem nós, Missionários da Sagrada Família, sermos uma presença profética “junto àqueles que estão longe”, conforme nosso carisma (At 2,39). Por isso, somos gratos em poder contar com as orações e a colaboração de tantos leigos e leigas que nos ajudam a sermos essa Igreja “em sa-ída”, Igreja missionária.

Comunidade Religiosa de Porto Alegre

A Comunidade Religiosa de Porto Alegre é constituída pelos missionários: Pe. Marcos Bruxel e Pe. Hilário Dewes que residem na Paróquia Cristo Redentor; Pe. Olmaro Mass, Ir. Edilson Frey e Fr. Wilson Lamps, na Paróquia Jesus de Nazaré e o Ir. Irio Conti, na Fraternidade São Francis-

co. Temos em comum o contexto próprio da metrópole na qual realizamos nossa missão, mas, com realidades es-pecíficas e de atuação diferenciada. A Paróquia Cristo Re-dentor se caracteriza por estar localizada em um bairro de classe média, tendo como campo de atuação a matriz com sua pastoral paroquial. A Paróquia Jesus de Nazaré está localizada no bairro Mario Quintana, região periférica, e

Comunidade Missionária de Passo Fundo

Page 9: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

9

sua organização pastoral se dá em forma de Rede de Co-munidades – ou seja, atendemos sete comunidades que tem aproximadamente 45 mil pessoas – e intenso trabalho social. A integração de vida e fé nas comunidades em for-ma de rede é um desafio; é um espaço de evangelização e missão, respeitando as diferenças e particularidades de cada comunidade.

O maior desafio pastoral que encontramos é conciliar as atividades missionárias em três perspectivas de trabalho: litúrgica: celebrações eucarísticas e da palavra, tríduos dos padroeiros, visitas sacramentais aos doentes, benção às ca-sas e visitas missionárias; formativa: formação e acompa-nhamento de lideranças, com acento na formação humana e espiritual para a sua perseverança; sócio-humanizadora: qualificação da ação e inserção social no acompanhamen-to às famílias que necessitam de auxílios e de acompanha-mento em seus processos organizativos em vista de eman-cipação social.

Toda ação e pastoral deve integrar as pessoas (comunida-de) no amor de Deus. Ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-16), é o objetivo da Missão. A convivência comunitária deve gerar vida e participação de todos no Reino de Deus, na vida das pessoas, principalmente, as mais fragilizadas. In-teresses pessoais separam e dividem a comunidade. Apren-damos com o Povo de Deus na Bíblia, no Primeiro Testamen-to. Eram doze tribos (comunidades) e todas viviam unidas no único ideal: servir e promover a vida, principalmente para os idosos, viúvas, crianças e leprosos. Todos viviam da par-tilha da Palavra de Deus e do Pão, o sustento da vida. Hoje, continuamos a missão de Jesus nas comunidades de fé. Nos-sa missão deve ter como centro o Cristo Ressuscitado. Que Deus abençoe a todos na missão de promover a vida. Ser cristão é viver em comunidade, é partilhar a Palavra de Deus e testemunhar o amor ao próximo. Paz e Bem para todos!

Comunidade Religiosa do Rio de Janeiro

A Comunidade foi criada em 1935 e atende atualmente duas paróquias, na Ilha do Governador, RJ. Residem e atu-am na Paróquia São José Operário, Jardim Guanabara, os missionários: Pe. Vergílio João Moro, nascido em 28 de ju-lho de 1946, que ocupa a função de pároco; Pe. Liseu Spohr, nascido em 13 de outubro de 1953, que exerce a função de vigário paroquial e também, foi eleito em 2015 coordena-dor da Comunidade Religiosa local; e Pe. Firmino Santana e Sousa, nascido em 29/03/1969, igualmente vigário paro-quial e também, escolhido para a função de secretário da Comunidade MSF.

Na Paroquia Nossa Senhora da Ajuda, na Freguesia, Ilha do Governador, RJ, atuam os missionários: Pe. Celso Sauer, nascido em 07 de março de 1955, na função de pároco e vice coordenador da Comunidade Religiosa local; e Pe. Jacob I. Kehl, nascido em 13 de janeiro de 1942, exerce a função de vigário paroquial e é assessor espitirual do EMM (Encontro Matrimonial Mundial).

Queremos destacar algo que, juntos como MSF, fazemos nestas duas Paróquias, nas celebrações do terceiro final de semana de cada mês. Com muita mentalização e mo-tivação, rezamos esta oração em favor das missões e dos missionários, que formulamos na Comunidade. Este é um modo de estarmos unidos a todos os missionários e tam-bém, os paroquianos sintonizarem e se sentirem conosco missionários. Eis a oração:

Jesus, Maria e José, fonte da espiritualidade dos Missio-nários da Sagrada Família, escutai a nossa oração. Nós, os cristãos católicos das Paróquias São José Operário e Nossa Senhora da Ajuda, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, agradecemos de coração, pelo trabalho evangelizador dos Missionários da Sagrada Família que estão conosco, há tantos anos. Abençoai a todos. Estamos aqui a rezar pelas

Comunidade Missionária de Porto Alegre

Page 10: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

10

missões de fronteira da Congregação. Protegei os Missio-nários da Sagrada Família que estão no Amazonas, Brasil; em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia: e em Moçambique, na África. Nossa Senhora da Salette, protetora da Congrega-ção, nós somos também missionários com eles, pela oração e pela contribuição financeira que fazemos através da Ação

Missionária da Sagrada Família (AMISAFA). Sagrada Família de Nazaré, Mãe da Salette e Venerável João Berthier, dai--nos sempre um espírito de profunda piedade; dai-nos um coração generoso em favor da obra missionária de nossa Congregação e da Igreja. Enviai-nos Senhor a evangelizar, por Jesus Cristo, o Missionário do Pai. Amém.

Comunidade Missionária do Santo Ângelo

Comunidade Missionária do Rio de Janeiro

Comunidade Religiosa de Santo Ângelo

Caros leitores da Revista Bertheriano! Apresentamo-vos a Comunidade Religiosa de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, criada no ano de 1932. Atualmente, somos poucos reli-giosos MSF nesta cidade. Somos um grupo de dois irmãos e quatro padres Missionários da Sagrada Família, a saber: na residência do Bairro Pippi, vive o Pe. Viro Rauber, como pároco da Paróquia de Santo Antônio; na residência da Pa-

róquia Sagrada Família, vivem os padres Inácio Dalla Nora (pároco) e Olavo Bremm (vigário paroquial) e, na residência do Santuário Nsa. Sra. de Fátima, vivem os Irmãos Aloísio e João Schaefer e eu, Pe. Marcelo Oliveira, prestando auxílios pastorais às duas paróquias.

A nossa Comunidade Religiosa é composta por membros, em sua maioria, já com certa idade. Assim, não podemos apresentar muitas novidades de uma ação pastoral e missio-

Page 11: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

11

nária mais volumosa. Todavia, queremos partilhar da nossa alegria em rezar por todos os nossos benfeitores, amigos e todo o povo de Deus, que nos é confiado através de nossas humildes orações. Além da atuação pastoral nas duas Paró-quias (Santo Antônio e Sagrada Família) a nós confiadas pela Diocese de Santo Ângelo, buscamos com nosso ardor missio-nário e carisma evangélico, de modo especial pelos consagra-dos mais experientes, “ser” um sinal visível da presença de Deus na vida deste querido povo de toda região missioneira.

Aqui temos contribuído muito com o apelo do Papa Fran-cisco, neste ano da Misericórdia: “acolher o povo para a escuta e a reconciliação”. Organizamo-nos de tal modo, que não só recebemos as pessoas em nossas comunidades, com a dire-ção espiritual e a confissão, como também visitamos muitas famílias levando a Palavra de Deus, a benção e o conforto ne-cessários em suas necessidades humanas e espirituais. Conti-nuaremos, pois, levando a mensagem de Jesus Cristo a todos e todas! Mesmo com um número pequeno de MSF na região, rezamos constantemente para que o Senhor da Messe nos envie mais pessoas vocacionadas e dispostas a servir a Deus e ao seu povo, como Missionários da Sagrada Família. Agrade-cemos a todos os que rezam conosco e por nós. Que a Sagra-da Família de Nazaré continue abençoando vossas famílias!

Comunidade Religiosa de São Carlos

Sinto-me honrado em apresentar aos leitores desta revista a Comunidade Religiosa de São Carlos, Santa Catarina. Esta é constituída pelos seguintes membros e respectivas paróquias: Pe. Elmar Luiz Sauer (pároco) e Pe. Mathias Reinoldo Schaefer (vigário paroquial) da Paróquia São Carlos Borromeu, de São Carlos; Pe. Irineu Paulo Paetzold (pároco) e Pe. Armando Grut-zmann (vigário paroquial) da Paróquia São Judas Tadeu, Pal-mitos; Pe. Geraldo Antônio Tecchio (administrador paroquial) da Paróquia Sagrada Família, em Saudades; Pe. Flávio Inácio

Heck (pároco) e Pe. Pedro Almeida da Silva (vigário paroquial) na Paróquia São José Operário, em Maravilha; Pe. Euclides Benedetti (pároco) e Pe. Alcino Maldaner (vigário paroquial) da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, de Cunha Porã; Pe. Jacinto Aloísio Birck (pároco) da Paróquia Santo Antônio, em Pinhalzinho; e Pe. Armando Grutzmann (administrador paro-quial) da Paróquia São Domingos, de Caibi, SC.

Nessas paróquias, atendidas pelos Missionários da Sagrada Família, a evangelização do povo de Deus acontece com for-mação permanente e celebrações da vida (celebrações euca-rísticas, da palavra e sacramentais). A organização eclesial se dá através de diversas pastorais: batismo, familiar, catequéti-ca, consolação e esperança, juventude, saúde, dízimo, litúrgi-ca, canto, infância e adolescência missionária, apostolado da oração, grupos de reflexão entre outras. Diversos serviços são prestados nas comunidades através dos ministérios eclesiais: ministros da Palavra e da Eucaristia, ministros da esperança e exéquias, ministros qualificados do batismo e do matrimônio. Igualmente, há os movimentos de igreja e os movimentos so-ciais: Encontro de Casais com Cristo, Renovação Carismática; Movimento das Mulheres Camponesas, Comissão Pastoral da Terra. Participamos também de alguns conselhos como: Con-selho Municipal da Criança e do Adolescente, Conselho Muni-cipal da Saúde, Conselho Municipal de Ação Social. Vários con-frades também integram o Conselho Presbiteral e o Conselho Diocesano de Pastoral.

Nossa missão nesta região é levar adiante o espírito e ardor missionários que fez os primeiros Missionários da Sagrada Família, a pisarem nestas terras nos idos de 1931, testemunhar ardentemente o carisma deixado por Pe. Ber-thier: estar próximos daqueles que estão longe! (At 2, 39). A resposta aos apelos da Igreja do Brasil, em Aparecida (2007), de fazer-nos discípulos missionários e do Papa Francisco, de colocar-nos em atitude de saída, missionária, portanto, será sempre o horizonte de nossa ação evangelizadora. Rogamos a todos as bênçãos da Sagrada Família de Nazaré!

Comunidade Missionária de São Carlos

Page 12: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

ARTIGOS

Page 13: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

13

Pe. Euclides Benedetti, msfPároco da Paróquia N. S. de Lourdes

Cunha Porã, SC

Envelhecer com arte exige a sabedoria dos agradecidos

que reconhecem ser tudo graça de Deus, que tudo depende da solidariedade humana,

pois, sozinhos não somos ninguém, principalmente, na velhice.

Roubei o título do monge beneditino Anselm Grün, pois fiquei encantado com esse título, que diz mais da metade daquilo que tenho a pretensão de dizer com este artigo. É sumamente importante saber que se pode viver com arte, mesmo na velhice, e que essa é uma forma sublime de viver. Pelo que percebo na minha própria vida, o envelhecimento vai chegando de mansinho, como algo que chega, dando mil avisos prévios, que não podem ser ignorados por quem os recebe. A arte de envelhecer bem é uma construção que vem de longa data e, à medida que a idade chega, exige do construtor redobrada atenção.

Envelhecer com arte supõe que se tenha aprendido a viver, já que a vida é uma longa escola de infinitas opor-tunidades de aprendizagem. A velhice pode até não ter mais tantos encantamentos, mas, com certeza, aprendeu a ver além das aparências e tem a oportunidade de revelar segredos, que guardou ao longo do tempo e que ainda po-dem fazer suspirar profundamente o coração. Envelhecer com arte não supõe tanta ciência, mas não dispensa, de forma nenhuma, a sabedoria, principalmente, a sabedoria dos humildes para aceitar que seus passos sejam mais len-tos, que seus joelhos já não se dobrem com tanta facilidade e não sejam mais tão firmes. Não dispensa a sabedoria dos humildes para aceitar as incertezas como companheiras do cotidiano da vida, para aceitar que o olhar esteja cons-tantemente mergulhado no infinito, que os desassossegos sejam companheiros das mateadas no entardecer e que a saudade goste de matear com mil lembranças que ficaram de outros tempos.

Envelhecer com arte é ter a sabedoria dos humildes que aceitam que a mente pode estar dando sinais de esqueci-mento. Que a finitude insista em nos dizer que o fim pode estar próximo e que em uma busca de consolo e segurança, dizer, como vi escrito na porta do quarto de uma irmã velhi-nha do Colégio Rosário de Rio Pardo: “Fica conosco, Senhor, pois já é tarde”. Envelhecer com arte exige a sabedoria dos agradecidos que reconhecem ser tudo graça de Deus, que

tudo depende da solidariedade humana, pois, sozinhos não somos ninguém, principalmente, na velhice. É no entardecer da vida que os agradecidos deixam aflorar hinos e cânticos de ação de graças, que os agradecidos deixam brotar preces de gratidão por mil palavras que soaram como se fossem melodias em seus ouvidos e até chegaram ao coração, quem sabe, sofrido pelos desencantos e infortúnios do tempo.

Envelhecer com arte é reconhecer mil gestos de pessoas que, no caminho da vida, se associaram a nós e foram to-mando parte da nossa história, gratuitamente, como pes-soas amigas. Envelhecer com arte é manter a alegria que as limitações da vida tentam roubar, é conformar-se por não se ter mais os impulsos inovadores da juventude, é não criar perigos imaginários, “sabendo que muitos temores nascem do cansaço e da imaginação”.

Envelhecer com arte é elaborar, ao longo do tempo, uma imagem bonita de Deus, um Deus companheiro que com sua misericórdia torna os nossos pecados pequenos, como nos disse o Papa Francisco. Um Deus que protela o castigo que merecemos pelas nossas faltas, até que perca a valida-de. Um Deus que faz abundantes semeaduras no campo da vida, apesar de conhecer, muito bem, a aridez do solo. Um Deus que ama, acima de tudo, a justiça e o direito. Um Deus que nos enche de bênçãos e de graças diariamente. Um Deus que é novo em cada manhã e, por isso, supera o prognóstico dos sociólogos.

Quem quer envelhecer com arte, terá que ter também a compreensão de que nos relacionamentos, nesta idade, pode-se ter decepções com as pessoas que, nos buscavam por utilidade. Mais do que nunca, nesta idade, quem quer ter saúde de alma e de corpo deve selecionar as fontes de abastecimento. Alguém disse ao ser perguntado pela idade que tinha: “Não pergunte pela minha idade, pergunte pelo que eu ainda posso fazer”. É uma ótima resposta de alguém que, mesmo sentindo a idade chegar, não se deixa abater por ela e se mantém na ativa e feliz com aquilo que ainda pode fazer.

A arte de viver, que torna a vida sublime, mesmo na velhi-ce, certamente está ao alcance de todos, mas não acontece por acaso. É construção de cada um de nós que reconhece ter se tornado responsável por este dom maravilhoso que é a vida e se tornou um sublime construtor.

A sublime arte de envelhecer

Page 14: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

14

O termo frugalidade, que evoca moderação na forma de se alimentar, conduz minhas lembranças inexoravelmente aos nômades de minha infância. Seu modo de viver lhes ensinou a distinguir entre aquilo que é indispensável, aqui-lo que é necessário e aquilo que é supérfluo. Os modestos objetos que eles carregavam sobre seus dromedários expri-miam, de forma paradoxal, a força e a majestade de sua vida que é a precariedade. Se nós ajuntamos a essa modéstia uma habitação constituída de uma simples toalha, a frugali-dade atingirá seu ponto mais alto no seio do mundo tórrido do deserto. No outro extremo, no deserto de gelo, nós tam-bém encontramos povos que se confrontam com os últimos limites da sobrevivência e que foram capazes de sobreviver.

Entre esses dois extremos se organizaram no percurso dos séculos um número incalculável de modos de viver re-lativamente frugais, todos geradores de cultura e, a despeito de tudo, fonte de alegria. Entendam-me bem! Não se trata de fazer uma apologia do passado. Sofrimento, violência do homem contra o homem e escravidão sempre marcaram a história do gênero humano. Além disso, as grandes civiliza-ções originais não foram capazes de se alegrar sem acumular recursos vultosos. Algumas dessas civilizações compromete-ram de tal modo seu meio natural que acabaram morrendo, e o deserto que provocaram sepultaram-nas sob sua areia.

Com o nascimento do mundo industrial nós entramos numa era essencialmente mineral: a era da combustão, da termodinâmica e da entropia superativa. A “petrolítica”, se é possível se expressar nesses termos, aboliu definitivamente todo e qualquer princípio de frugalidade. Ela é, ao contrário, o elogio da produtividade, da superconsumação definido pelo dogma do crescimento superexponencial servido por uma tecnologia eficaz. Todas as nações são convidadas a se desenvolver segundo um modelo dopado pela dilapidação do planeta, e se tornam empresas competitivas preparando as crianças para contribuírem no aumento do PIB mediante o trabalho devotado e sua capacidade elástica de consumir.

Consumir abundantemente é visto mesmo como um ato cívico e vital para a economia, com o sentimento de

uma falta crônica habilmente trabalhada pela publicidade, especialista na manipulação mental. A insaciabilidade e a frustração permanentes, muitas vezes programadas, se tor-nam um aguilhão sempre mais indefinido num ambiente de falsa penúria, gerando massivamente coisas supérfluas e montanhas de dejetos que, por sua vez, se tornam fontes de novas atividades... A esta aberração é necessário acrescen-tar que o sistema que produz as mercadorias que devem ser consumidas gera, ao mesmo tempo, o desemprego e a ex-clusão de inumeráveis cidadãos incapazes de consumi-las.

Nesse contexto, a frugalidade adquire um caráter salutar e pode contribuir para o nascimento de uma nova ordem cultu-ral, fundada sobre a ideia de temperança. A frugalidade soli-cita meu engajamento pessoal e minha responsabilidade. Eu sou frugal porque eu tenho consciência de habitar um planeta com recursos limitados e entregues a uma pilhagem ilimitada. Eu sei também que os bens da terra são distribuídos de forma desigual e injusta. O supérfluo de uns representa o indispensá-vel de outros, e instaura uma espécie de antropofagia indireta. Eu sou frugal porque eu quero me libertar do consumismo e me libertar do estatuto do consumidor manipulado, ao qual a ideologia da mercadoria quer me reduzir, sem considerar minha dignidade. Eu sou frugal porque não quero contribuir para tornar impossível a vida das gerações futuras.

Para além das questões individuais, a frugalidade ajuda a construir coletivamente, através de uma educação especifi-ca aos filhos, uma economia re-localizada, uma autonomia coletiva que reduza o recurso desmedido à energia combus-tível e à dissipação massiva dos recursos, que gera degrada-ções irrecuperáveis na natureza e empobrecimento humano.

Mas eu sou plenamente consciente das contradições que ameaçam meu comportamento cotidiano e das incoerên-cias que me impõem uma organização da qual nos senti-mos reféns impotentes, fazendo concessões a uma reali-dade que conscientemente eu recuso. Mas eu sei que uma ordem diferente, inspirada pela inteligência da própria vida, é realmente possível, e eu quero contribuir para que essa mudança aconteça. Eu sei também que nós não temos ou-tra escolha. Talvez a frugalidade exterior seja inspirada e de-terminada por uma frugalidade interior, capaz de moderar minhas ambições, meu desejo de poder e todas as outras pulsões prejudiciais à paz universal.

Nota: texto publicado em Faim e Développement Magazine, n. 199-200, p. 21, jan. 2005, . Tradução de Itacir Brassiani msf.

Elogio da frugalidade

Pierre RabhiAgro-ecologista e escritor

França

Page 15: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

15

Importância da família e da educação pública para a convivência social

Carvalho Paulo WilsonPostulante MSF e formando em Filosofia

Passo Fundo, RS

A educação [...] exige que a escola não atue somente como reprodutora de conhecimentos ou de técnicas

já desenvolvidas, mas vá ao aprofundamento e em busca de novas formas de conhecimento,

como artísticas, por exemplo.

Há uma compreensão na sociedade, muito frequente, de que para no Ensino Fundamental se aprender com con-sistência é necessário que se tenham mais aulas, confun-dindo aulas com ensino-aprendizagem. Não raro estudar deixou de ser objetivo central e passou-se a ter aulas. Mui-tos professores se preocupam mais em dar aulas do que com o processo de aprendizagem. Assim, o ensino acaba perdendo seu valor mais importante, que é o de propor-cionar aos estudantes uma visão diferente de socialização a partir de sua realidade. Entretanto, aprender não pro-vém necessariamente de ensino. O aprendizado vem de dentro para fora, com o aprendiz na condição de sujeito e não como ouvinte. Neste contexto cabe indagar: em que medida a família e a educação pública contribuem para a convivência social?

Observa-se que em diversas escolas públicas são registra-das muitas dificuldades de convivência dos alunos no pro-cesso educacional, em salas de aula ou fora dela, visto que são provenientes de várias culturas e costumes diferentes, ou seja, de famílias com características diferentes. Isso exige maior cuidado e responsabilidade em ambas as dimensões (família, escola) e das pessoas encarregadas no âmbito de conciliação dos mesmos. Neste caso, cabe à escola abrir es-paços para os alunos refletirem, analisarem os acontecimen-tos do mundo no qual vivem e suas implicações, de modo que possam se posicionar de forma crítica, possibilitando o seu desenvolvimento integral. É por meio da escola que os alunos adquirem conteúdos importantes, como os valores culturais e sociais. É indispensável que os alunos, além de te-rem o domínio desses conteúdos, sejam capazes de enten-der o porquê, respeitá-los e utilizá-los. A educação, sendo uma ciência de extrema importância no desenvolvimento de crianças e adolescentes, exige que a escola não atue so-mente como reprodutora de conhecimentos ou de técnicas já desenvolvidas, mas vá ao aprofundamento e em busca de novas formas de conhecimento, como artísticas, por exem-plo. Esse processo só é possível se a sociedade e a escola de-sempenharem um papel conjunto de aprendizagem.

No entanto, a escola tem que evitar fornecer apenas co-nhecimento pronto aos alunos, mas sim, ser aquela instância

que constrói junto, que capacita o aluno na elaboração de conhecimentos a serem alcançados. Portanto, a inter-rela-ção dos professores com os familiares e colegas abre um novo horizonte de conhecimento ao aluno, bem como ca-pacita suas habilidades e significações. No bom funciona-mento desse processo educacional, é da responsabilidade do professor conhecer os seus alunos, se familiarizar com os seus raciocínios, conhecendo bem o pensamento dos mesmos, interagir com eles de modo que ajude a elaborar hipóteses adequadas ao conteúdo em pauta.

Enfim, na escola, é necessário que o professor seja aque-le que tenha um conteúdo seguro e saiba estabelecer um diálogo com seus alunos que lhes possibilite participar ati-vamente da aprendizagem, ou seja, um clima que propicie aos alunos a liberdade de colocar suas contribuições em plena aula. Seja esse professor orientador, coordenador, mediador competente entre o aluno e o conhecimento num desafio intelectual. Um professor que cria condições para uma melhor compreensão dos sentimentos de seus alunos, tais como: sujeições, estado de ânimo dos mesmos e que tenha a competência de resolver esses problemas na produção de conhecimentos saudáveis. Dessa forma, as crianças e jovens poderão compreender outros pontos de vista tendo, assim, opiniões comuns ou diversas, mas construindo uma boa interação e convivência social.

Page 16: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

1616

Lucas André PirolliPostulante MSF, bacharelando em Filosofia

Passo Fundo, RS

Os desafios da inclusão social[...] precisamos estar abertos para acolher o distinto.

O caminho a ser percorrido ainda é longo, para chegarmos a uma sociedade

totalmente inclusiva, mas não é impossível!

A sociedade atual está se direcionando para uma convi-vência mais humana em relação à pessoa com deficiência. Para essa inclusão tornar-se realidade, a comunidade em ge-ral está se colocando à disposição para um diálogo junto aos grupos de pessoas portadoras de deficiência. Nesse intuito em nossa região (Passo Fundo, RS) podemos contar com a presença de entidades como: a APAS (Associação de Pais de Surdos), a APACE (Associação de Pais de Cegos) e a APAE (As-sociação de Pais e Amigos dos Excepcionais) que desenvol-vem trabalho de orientação e capacitação junto às famílias.

Geralmente as famílias não tem conhecimento, antecipa-do, de que o bebê poderá vir a apresentar alguma deficiên-cia. Em algumas realidades, bebês já podem aparentar certo déficit, mas, grande parcela, só com o passar dos anos de-senvolvem algum tipo de comportamento tido como anor-mal. Então, inicia-se uma incansável batalha dos pais e fami-liares para entender o que está acontecendo, recorrendo a profissionais das mais diversas áreas da medicina e outras.

Na maioria dos casos a notícia de que o filho(a) foi diagnosticado com alguma deficiência, coloca a família em situação de “revolta” e não aceitação de tal circuns-tância, gerando um futuro desconforto na relação entre pais e filho(a). No passado e ainda hoje, encontram-se casos de filhos(as) que são vistos como um diferente no seio familiar. Isso ocorre por que o conhecimento sobre determinada deficiência não chegou até a sua origem. Em alguns casos, quando vem a ocorrer tal situação, o porta-dor deixa de ter seus direitos assegurados pela socieda-de, devido à falta de entendimento sobre os mesmos. Por isso, a família desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento e inserção da pessoa no meio social. Diante dessas situações desenvolveu-se a ideia de formar associações, para que, nesses espaços, a família e o pró-prio portador possam partilhar suas experiências e os de-safios que encontram diariamente, tanto em casa, quanto no convívio social. Estando inserido em uma associação, a família encontra maior compreensão da deficiência apre-sentada pelo filho(a), pois, conhece outras pessoas com situações semelhantes.

O entrave de uma pessoa deficiente não pode ser medi-do. Quando usamos um olhar restritivo sobre o mesmo, o processo de desenvolvimento de suas habilidades motoras e psíquicas pode ser comprometido. Por isso, elementos que lhe provoquem entusiasmo, como a amizade, a parce-ria e principalmente o apoio familiar e dos amigos, fazem desenvolver a coragem para a superação de certas carên-cias que venham a enfrentar.

Assim, o deficiente físico, visual ou auditivo pode apre-sentar e desenvolver seus dons através da música, canto ou teatro. A abertura que as comunidades de apoio propõem à sociedade em geral, faz com que aquele “ser anormal”, como muitas vezes considerado no passado, não seja mais assistido dessa forma nos dias atuais, devido ao estimulo e ao desenvolvimento de suas capacidades.

Entretanto, para termos uma sociedade mais inclusi-va, precisamos conhecer a multiplicidade e diversidade que existe nesse universo totalmente diferente do nosso. E, para que isso venha a ocorrer, precisamos estar abertos para acolher o distinto. O caminho a ser percorrido ainda é longo, para chegarmos a uma sociedade totalmente inclu-siva, mas não é impossível!

Page 17: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

Pe. José André da Costa, msfDiretor-geral e professor do IFIBE

Passo Fundo, RS

A dimensão dialética da leituraHá sempre uma dialética de difícil síntese entre o livro, o lei-

tor e a leitura. O autor de uma obra escrita ou “dita” com outro código passou por este momento de decisão teórico-intelec-tual frente à intuição primeira e pelo signo conceitual dessa ex-pressão. Expor a intuição “em bronze ou em papel”, é sempre algo muito difícil. O ato de ler é uma decisão política que exige do leitor(a) fazer a escolha e o discernimento de qual literatura realizar. O escrever, também é um ato de leitura. Não se escreve um texto ou livro sem leitura e, dificilmente se lê sem o exer-cício trabalhoso do escrever. Não há leitura neutra. Toda leitu-ra é fruto de escolhas, resultantes de inquietações espirituais e existenciais. A arte da leitura e a arte de escrever caminham juntas. Escrever bem supõe ler bem e vice versa. Os entraves cognitivos do aprender a ler e a escrever se encontram, muitas vezes, neste trânsito da leitura e do escrito. Por isso, entre o dito e o não dito, permanece uma distância enorme.

A leitura não se restringe somente em ler palavras ou si-logismos organizados em frases lógicas. A leitura é a arte de decifrar o que está para além do texto, do pré-texto e do contexto. É a capacidade de extrair do “texto outro texto”, não escrito. A leitura coerente é a capacidade de descobrir os significados que um texto carrega fora de suas linhas es-critas. O leitor, no seu ato de ler, é o sujeito capaz de fazer a leitura do que está dentro e fora do texto escrito (livro), sem destruir o sentido do primeiro escrito, contido no livro. Ler é uma atitude intelectual laboriosa que exige paciência e atenção responsável. Escrever bem é o exercício de cortar palavras e ler bem é a atitude de não se fixar nas palavras.

Entre o leitor, a leitura, o livro e o autor, há sempre uma exigência metodológica que implica dois passos necessá-rios: o analítico e o empírico. O primeiro passo é a capaci-dade de tomar as categorias no seu plano concreto (gráfico) e levá-las ao plano do abstrato, para verificar sua coerência lógica e sua consistência semântica. O segundo passo con-siste em tomar estas mesmas categorias em seu plano abs-

trato e fazer sua decomposição para trazê-las ao plano do concreto e verificar sua consistência epistêmico-ontológica.

Ler é a capacidade de resignificar o escrito. Depois da leitura, o leitor e o livro “não são mais” os mesmos. O livro ganha novos significados e o leitor sai com uma nova cosmovisão. A leitura criteriosa muda a vida e o livro bem escrito, transforma o mun-do. E o que acontece quando não se lê e não se escreve? O pro-blema maior não é saber escrever, mas está na resistência em “ler” o mundo. Necessariamente, para ler o mundo não é preci-so ser “alfabetizado nas letras”, mas exige o aprender a “ver-ler” o mundo com os “olhos” da inteligência, que está muito acima das letras gráficas. O fato é que há muitos analfabetos letrados que não sabem nem ler e nem ver o mundo criticamente.

Os parasitas intelectuais são os fraudadores da cultura. Pois, querem apenas se hospedar nas caronas das literaturas alheias, com o mínimo de esforço cognitivo. A inércia intelec-tual é a paralisia da inteligência. Abrir mão do pensar por conta própria é dar vazão à violência conceitual que termina sempre na violação dos Direitos Humanos. E o maior perigo não é “a ignorância” das letras, mas o fingimento da leitura. Simular o conhecimento é parasitar no saber do outro, o que evidencia postura imoral, maculando deste modo, a ética e a política.

Por fim, escrever é um esforço humano para absorver as sin-taxes do texto, sem se reduzir a elas. E ler é levar a sério o signi-ficado cultural e social do texto sem, no entanto, sucumbir ao doutrinamento. Em cada texto escrito, de autoria própria, pesa uma hipoteca ética. E cada leitura é uma atitude política. Por isso, a dialética entre o livro, a leitura e o leitor é a inteligência em movimento para gestar a democracia cognitiva.

Page 18: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

PROTAGONISMO LEIGO

Page 19: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

19

O protagonismo leigo e a IgrejaNestes tempos que se mostram cada vez mais difíceis

não podemos perder a esperança de “Dias Melhores”, como diz a canção de Rogério Flausino (banda Jota Quest). À me-dida que nos deixamos envolver pela dinâmica da Palavra de Deus, cresce em nós o fascínio pelas coisas do alto e o desejo de buscá-las (Col 3,1-2). Contudo, não esqueçamos que os sinais sensíveis do Reino de Deus se manifestam a partir de nossa relação com Cristo e seu projeto de salvação (libertação), pois, o desejo de Deus é um Reino de vida em plenitude para todos (Jo 10,10). Assim, os dias melhores vêm por meio do trabalho em prol da evangelização de cada dia, do serviço dedicado de caridade aos que sofrem de muitas maneiras e diversas realidades do Brasil e do Mundo. Natal é sim, um tempo que renova nossas forças e esperanças!

O Papa Francisco propõe o ano de 2017 como o ano do laicato na Igreja. A atuação do leigo na Igreja e na socieda-de é de suma importância. E é tarefa primeira do ministro ordenado acompanhá-los, colaborando com eles, para que vivam com coragem e sabedoria o dom do batismo. O tema do laicato na Igreja, muito pertinente para o momento atu-al, tem sido abordado desde o Vaticano II. Mas, sem dúvi-da, a Exortação Apostólica Christisfideles Laici (CL), de São João Paulo II, fala especialmente do ministério leigo. Ela nos levou a refletir sobre os fiéis leigos cuja

[...] vocação e missão na Igreja e no mundo [...] pertencem àquele Povo de Deus que é representado na imagem dos trabalhadores da vinha, de que fala o Evangelho de Mateus: “O Reino dos Céus é semelhante a um proprietário, que saiu muito cedo, a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a vinha” (Mt 20,1-2). (CL, p. 1).

Todos nós, povo de Deus, somos chamados a trabalhar na vinha do Senhor que é o mundo inteiro e, desta maneira, rea-lizar a obra da salvação. As pessoas, por vezes, quando ouvem a palavra “chamado”, em nossas comunidades, pensam logo no aspecto da vida consagrada ou sacerdotal, mas “[...] não diz respeito apenas aos Pastores, aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, mas estende-se aos fiéis leigos: também os fiéis leigos são pessoalmente chamados pelo Senhor, de quem recebem uma missão para a Igreja e para o mundo” (CL, p. 2).

O ministério leigo possui sua origem dentro da Igreja e do mistério da vinha, pois “os fiéis leigos não são simplesmente os agricultores que trabalham na vinha, mas são parte dessa mesma vinha: ‘Eu sou a videira, vós os ramos’, diz Jesus (Jo 15, 5)” (CL, p. 8). Dito isso, os leigos têm sua pertença no seio da Igreja assumida desde seu batismo, é sua vocação como povo eleito de Deus. São tão importantes quanto aqueles que assumem outro estado de vida (ministério ordenado ou a vida consagrada), pois, exercem, todos juntos, a missão de ser povo evangelizador dentro do Reino de Deus. Cabe ressal-

tar, no entanto, uma curiosa coincidência. Enquanto visitava uma de nossas bibliotecas, deparei-me com um livro do autor Renold Blank, chamado Ovelha ou protagonista? A igreja e a nova autonomia do laicato no século 21 (São Paulo: Paulus, 2006). Nele, o autor chama a atenção para alguns aspectos, sobretudo, o protagonismo do leigo diante das transforma-ções da sociedade, do consumismo, da estrutura hierárquica rígida, dentre outros.

Se no passado o termo leigo era empregado em sentido pejorativo, Blank convida a repensar o seu sentido na cultu-ra atual, quando afirma:

Os habitantes das tecno-metrópoles de hoje constataram [...] que são eles - os laicos - aqueles que sabem. Eles consi-deram que eles é que entendem de física, de técnica, de so-ciologia e de maquinas, enquanto os seus assim chamados “pastores” em muitos casos é que são os leigos. A tudo isso se acrescenta ainda, em escala crescente, a participação de uma nova classe de mulheres. Elas estão superqualificadas e conscientes de seu valor. (BLANK, 2006, p. 8).

A sociedade do prazer e do bem estar produz no homem a falsa sensação de liberdade. Blank mostra, no entanto, que o homem tem procurado viver de maneira consciente den-tro das estruturas urbanas, e que o mesmo não se encontra de todo secularizado, mas busca realizar boas escolhas que deem sentido à vida. Dizer que o leigo não é mais leigo ou que “as ovelhas não querem mais ser ovelhas” significa que a Igreja é desafiada pelas transformações da mentalidade atu-al do laicato (BLANK, 2006, p. 30). Papa Francisco tem mos-trado com suas sabias palavras que não podemos perder a alegria e a esperança diante dos grandes desafios que nos cercam. Na exortação apostólica Evangelli Gaudium afirma:

Toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à própria vocação. […] A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como insti-tuição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma. Há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador. [...] Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo.

Que Deus, no ano dedicado ao laicato, nos ajude a ser discípulos e discípulas, missionários e missionárias, como cristãos maduros na fé e dinâmicos, no meio onde vivemos. Um cordial abraço e um abençoado Natal.

Gleison Costa FrançaLicenciado em Filosofia e estudante de

Teologia. Passo Fundo, RS

Page 20: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

20

Um duplo enfoque nos foi sugerido para o presente número do Bertheriano: “Natal e a Missão dos Leigos na Igreja”. Para o foco do Natal (tendo presente o tempo li-túrgico), pretendia dar sequência às minhas modestas con-tribuições à Teologia Bíblica e escrever algo sobre o Evan-gelho da Infância em Mateus. Furtivamente, porém, me senti aliciado pelo segundo foco: a missão dos leigos na Igreja. Como sou formado em Sociologia (pós-graduação lato sensu pela FGV) e em Teologia (pelo Angelicum, de Roma), arquitetei lançar dois olhares sobre o laicato: um, sociológico e, outro, teológico.

Sociologicamente falando, isto é, à luz da razão na-tural, constatamos uma quase total clericalização da instituição eclesial, tangentemente à sua estrutura orga-nizacional e funcional e, máxime, de seu poder de deci-sões. Basta um exemplo notório: No Concílio Vaticano II (1962-1965), de não poucas e felizes aberturas no campo da Eclesiologia e de visão dos sinais dos tempos, qual foi a presença do laicato? Em um universo de mais de dois mil bispos e cardeais e de pequena plêiade de peritos religiosos e religiosas “convidados”, havia um número insignificante de “leigos” paternalmente admitidos como “observadores”. Não foi diferente no Concílio de Trento (1545-1563) e no Vaticano I (1869-1870).

Se lançarmos um olhar sociológico sobre a origem do cristianismo e a conduta objetiva de seu fundador, consta-tamos que o nazareno Jesus nunca se comportou como um clérigo. Foi crítico do Templo, mesmo usando o azorrague contra seus “vendilhões”, e tomou a última refeição com seus amigos numa casa de família! Por sua vez, na Igreja pri-mitiva, não havia leigos, mas uma comunidade de irmãos – “Povo de Deus” – como definiu o Vaticano II na Lumen Gen-tium, constituída de membros com uma multiplicidade de carismas e dons e de diversidade de ministérios que Paulo descreve amiúde em suas Cartas, assim como os autores das Cartas Pastorais. Nesta comunidade “Povo de Deus” havia presbíteros (anciãos), diáconos e diaconisas (prestadores de serviços), epíscopos (supervisores) e detentores de muitos outros ministérios exemplificados no Novo Testamento. A avis rara chamada “leigo” não é nomeada exercendo algu-ma função de apóstolo, profeta ou mestre. Como e quando surgiu, então, a categoria dos “leigos”? A partir do século IV, quando Constantino deu foros de cidadania ao cristianismo, como religião livre no Estado Romano. Foi a passagem do cristianismo à Cristandade. A Igreja se defrontou com a si-tuação de ter de acolher em seu seio multidões de pagãos adeptos da cultura mediterrânea que deveriam aprender o novo éthos cristão. A pastoral da Igreja primitiva se meta-morfoseou do sacerdócio comum dos fiéis em sacerdócio clerical de dedicação exclusiva. A clericalização da Cristan-

Dois olhares sobre o laicatodade relegou estas “massas” à condição de “leigos”, fenô-meno que se expandiu na Idade Média latina. Confirmou-se a definição do termo latino laicus do grego clássico laikós, derivado, por sua vez, do conceito helênico laós, com o sen-tido de massa inferior, multidão iletrada, necessitada de ser instruída por um clero instruído, e celibatário.

A mentalidade maniqueísta, herdeira de Agostinho, des-prestigiava a vida leiga, o matrimônio e os prazeres fami-liares. Só os leigos podiam gerar filhos, algo indispensável para a continuidade da própria cristandade, mas marcada com o sinete do pecado do sexo. A Igreja clerical, em sua funcionalidade estrutural e ciosa do seu poder hierárquico de decisões, mantém, ainda no século XXI, o conceito de leigo cunhado por Tertuliano: leigo é o cristão não perten-cente ao clero, isto é, que não tem ordens sacras. O olhar so-ciológico não menoscaba a visão histórica. Assim, a história nos ilustra o exemplo do instituto do Padroado, segundo o qual os reis evocavam para si o direito de interferir na nome-ação de bispos, prática vezeira na América Latina até fins do século XIX. Roma reservou só para si, em última instância, o poder de nomear bispos, em vez de compartilhá-lo com o colegiado das Igrejas Locais, incluindo o laicato. A prática de nomear bispos pela comunidade diocesana, comum na Igreja primitiva e ainda presente nas Igrejas Orientais, não recebeu acolhida na Igreja Católica Apostólica Romana.

No nível teológico, o que é o laicato, não na ótica da cris-tandade, mas numa visão de Eclesiologia “Povo de Deus”? Para responder, volvamos aos primórdios do cristianismo, onde os seguidores do nazareno constituíam uma igreja--comunidade, como se deduz de At 2,42-46, retomado em At 4,32-37 e onde os membros desta comunidade eram ungidos, pelo batismo, isto é, consagrados. Em Antioquia, foram, pela primeira vez, denominados “cristãos” (Cf. At 11,26). Este dado é capital para uma teologia renovada do laicato. A forma do particípio passivo grego christós, ao qual os romanos acrescentaram um morfema latino que resultou no adjetivo christianus, é a tradução livre do subs-tantivo hebraico mashiah (Messias), isto é, aquele que rece-be a unção do óleo ou azeite. O “cristão”, portanto, o adepto de Cristo, era o “ungido”, o “consagrado” e a Igreja Cristã era uma comunidade de ungidos, de messiânicos, de con-sagrados e isto se aplicava a todos os membros recebidos na Igreja pelo Batismo. (Uma boa catequese ensina que não recebemos o Batismo, mas que somos recebidos na Igreja pelo Batismo!).

Somos, pois, recebidos na Igreja pelo Batismo, somos “consagrados”, antes de sermos religiosos, sacerdotes, bis-pos ou papa... Uma correta teologia nos ensinará que ne-nhum cristão é “leigo” e, sim, todos somos “consagrados” pelo Batismo. Insistir na existência da função de “leigo” é

Page 21: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

reincidir na ultrapassada cristandade europeia, de profun-do clericalismo eclesiástico, decretando a morte da “comu-nidade eclesial universal” dos cristãos. O apostolado cristão não é generosamente “delegado” aos “leigos”, como ainda determina a Exortação Apostólica Christifideles Laici, de João Paulo II (1988), mas ele está ínsito na consagração substancial cristã e eclesial dos batizados para o exercí-cio do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo. Textos fundantes: 1Cor 12,1-34 (todo o capítulo!); Ef 4,7.11-13 e 1Pe 2,4s.9. Uma Igreja hierárquica, institucional e clerical de cris-tandade tende reiteradamente a eclipsar os valores comu-nitários de uma Igreja Povo de Deus, de uma eclesiologia de comunhão (de koinonía).

Sem dúvida, existem problemas teológicos e de her-menêutica na teologia do laicato, por exemplo: diversi-

Bertilo BrodTeólogo e Professor emérito

Erechim, RS

dade substancial ou de grau dos ministérios, conceito de “suplência” na delegação apostólica da missão dos leigos, perfil “específico” dos leigos em sua atuação de fermento no mundo secular, descrevendo o leigo, no Documento de Puebla, na feliz síntese: “homem de Igreja no coração do mundo e homem do mundo no coração da Igreja”, e outros. Para obviar estes “perigos”, a Igreja, “Mater et Magistra”, nos disponibiliza documentos indispensáveis (escritos por clérigos e não por leigos...) como a Constituição Dogmática Lumen Gentium, o Decreto Apostolicam Actuositatem, do Concílio Vaticano II, a citada Exortação Apostólica Christifi-deles Laici, de João Paulo II, e outros. Quiçá, o atual bispo de Roma nos brindará, neste contexto da missão do leigo na Igreja, ainda com alguma novidade, mais eclesial e peri-férica do que eclesiástica e vaticanocêntrica...

Page 22: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

22

Nei Alberto PiesProfessor, escritor e ativista em Direitos

Humanos . Passo Fundo, RS

Protagonismo: jovens que ensinam

A melhor forma de viver é lançarmos nossas próprias decisões

e seguirmos nossas próprias convicções. Cada qual deve sentir-se livre para ser o que é .

Daisaki Ikeda

Como educador, já vivi muitas experiências significati-vas. Uma das últimas foi ouvir experiências de protagonis-mo juvenil, relatadas por jovens estudantes, numa sala de aula do Ensino Médio Politécnico. Tales, Henrique, Gabriela, Anderson e Simone são jovens que resolveram agir para melhorar a nossa cidade. Agem com a convicção de que não basta reclamar, que é possível mudar o mundo a par-tir de nosso mundo pequeno (da família, da rua, da escola). Eles resolveram fazer história.

Podemos esperar desânimo, descrédito e preguiça dos adultos para mudar a realidade, mas quando a maioria jo-vem se acomoda, estamos numa sociedade doente e alie-nada. O jovem se manifesta muito, mas age pouco. Vemos a juventude agir digital e virtualmente, mas é fato que a vida e as relações humanas se fazem na rua, no contato, na práti-ca cotidiana de viver a cidadania e a democracia. Em outras palavras, para além de nos comunicarmos, precisamos en-contrar-nos em relações de face a face, reais e contraditórios como somos.

A natureza da juventude é a rebeldia. A rebeldia é a ati-tude saudável da juventude. Todo o jovem tem o desejo de mudar o mundo, mas apenas uns poucos é que o fazem. A maioria reclama em vez de ter atitudes que sejam ca-pazes de desencadear e provocar reações de mudança na sociedade. Os jovens realizam intervenções urbanas em nossa cidade, chamando atenção para o lixo no chão, para

a correria cotidiana da cidade, para a necessidade de boas motivações para viver e sonhar. Organizam ações de “Amor no Cabide”, distribuindo roupas pelas praças para quem precisar usá-las. Praticam o amor solidário ao próximo. Or-ganizam intervenções na sociedade que permitam viver uma atmosfera mais vibrante com a música, a arte, com o entretenimento e a diversão.

O jovem Tales escreveu em uma folha, pensamentos seus para serem verbalizados – sem correr o risco de se esquecer – em uma conversa com os alunos do Ensino Médio Poli-técnico. Havia escrito como quem procura refletir melhor o que se pensa. Na folha, o jovem explica suas razões de agir. Conta que estudou em escola pública há 2 ou 3 anos atrás. Assim ele dizia:

[...] eu já pensava que durante nossa jornada no Planeta Terra temos um propósito, precisamos fazer algo que seja bom, que ajude as pessoas, que mude o mundo, não ne-cessariamente o mundo inteiro, mas o mundo em que nós vivemos, o mundo dentro da escola, o mundo dentro da família, o mundo dentro do bairro em que a gente vive. Não precisamos de muita coisa para fazer isso: simples ações podem mudar muito o dia ou o futuro de alguém.

Foi pura intuição a ideia de convidar estes jovens – cita-dos acima – para uma conversa com estudantes do Ensino Médio Politécnico. Mas foi uma experiência rica, de trocas de vivências e de saberes. Ficou o desafio dos próprios jo-vens da escola bolar alguma ação na mesma, na rua ou na cidade. Ou não: cada jovem estudante pode começar a mu-dar primeiro seu próprio mundo.

Os professores estudam a juventude. Leem sobre a ju-ventude e estão desafiados a entendê-la. Precisam opor-tunizar espaços para reflexão que levem ao protagonismo e a vivência da cidadania juvenil. Quando os jovens dese-jam protagonizar, estão querendo dizer “eu faço aconte-cer”. Quando os professores abrem as salas de aula para que os jovens conversem entre si, estão tentando dizer a esta mesma juventude: passem e façam com que esta mensagem aconteça. O pacato, pessimista e desacredita-do mundo de hoje, precisa da força jovem para promover as verdadeiras mudanças.

Page 23: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

2323

Leigos em missão: o grande NatalOs leigos saem de seu silêncio para testemunhar

os carismas e valores recebidos para o serviço da vida. No rosto do pobre, certamente, apareceu

o grito mais forte de libertação.

O Concílio Vaticano II (1962-1965) veio em boa hora e como uma luz para a humanidade. Foi orientado pela mes-ma estrela de Belém. Veio preocupado com a missão da Igreja e não tanto com a doutrina. Olhou, primeiramente, para os agentes e não só para o agente ordenado. Esse even-to da Igreja Católica realizado em Roma com a presença de todos os bispos católicos e convidados de outras Igrejas e Religiões, foi e continua sendo um marco, uma referência para todos, principalmente, para as instituições religiosas. Fez tremer, não só os católicos, não só os cristãos. Tudo por-que abriu um espaço enorme para a participação dos leigos na condução da ação evangelizadora e na vivência da fé.

Os ministérios leigos, não só são colocados em destaque pela igreja conciliar, mas adquirem uma autonomia nunca antes experimentada.

Aconteceu um novo Natal para o mundo. Muitos escrito-res e analistas da religião chamam-no de novo Pentecostes. Se, de um lado, pareceu ruir toda uma estrutura secular, por outro, novos horizontes se impuseram para a alegria do mundo da fé. Principalmente, no que tange ao âmbito católico, uma autêntica primavera aconteceu na Igreja. Os dogmas e absolutismos, muito presentes e enraizados ao longo da história, deram espaço ao diálogo, a novas pro-posições de justiça para os excluídos. Posturas proféticas borbulharam pelo universo inteiro. Os leigos sairam de seu silêncio para testemunhar os carismas e valores recebidos para o serviço da vida. No rosto do pobre, certamente, apa-receu o grito mais forte de libertação. Na Palavra encontrou o cerne e a fundamentação dos novos ares anunciados. En-tre tempestades e calmarias, o mundo acordou para tomar nova atitude para o seu próprio bem. As entidades, as mais diversas, sentiram-se chamadas a voltar às fontes, a renovar suas regras e costumes de vida.

Terminada a grande reunião, nas regiões continentais, aconteceram encontros menores, mas na mesma direção e com a mesma motivação: tornar a vida mais livre nesse mun-do dos homens e de Deus. Aqui na América Latina, iniciando pela Assembleia de Medellín, em 1968, desenrolou-se uma profunda luta para derrubar a injustiça institucionalizada de muitos séculos. Os excluídos da sociedade também entra-ram na luta, para não dizer que foram os agentes centrais. O sonho por liberdade e prática da justiça foram as bandeiras da novidade nascida desse importante Concílio.

Além da luta organizada em pequenos grupos e dentro do método ver, julgar e agir, passou-se a produzir teses

que se transformaram no novo catecismo dentro e fora da Igreja. Os teólogos da libertação se tornaram um número representativo frente os textos escritos em outras partes do mundo. Politicamente, vários países, inclusive o Brasil, foram submetidos ao jugo ditatorial e repressivo frente à postura revolucionária do povo consciente de seus direitos. Muitas entidades de cunho social passaram a enfrentar, em mutirão, essa presença injusta das forças armadas e dos grupos economicamente hegemônicos e escravizantes.

Não podemos esquecer as forças ecumênicas nessa resis-tente caminhada, inspiradas, bem de perto, pelas iniciativas do Concílio Vaticano II. O Concílio também deu destaque ao diálogo inter-religioso, com a intenção de somar forças na evangelização desse mundo excluído da vida digna. Eis porque temos que repetir que os ministérios leigos foram a grande chave dessa nova maneira de evangelizar: A Igreja foi às periferias, não só sociais, mas fez parceria com tantas outras crenças e culturas. A superação dos preconceitos mi-lenares trouxe mais liberdade e fraternidade ao mundo de Deus e dos homens.

Não podemos negar que houve obstáculos, retrocessos reais e movimentos reacionários no tempo pós-conciliar. Sem mencionar nomes, houve papas, bispos e padres que se colocaram em posição de retorno à grande disciplina. O leigo cristão, para falar de nós e não dos outros, vendo com mais clareza a postura missionária e o espaço dado pelo Va-ticano II, passou a ser o protagonista da missão de Cristo Jesus, o Missionário do Pai. A literatura é vastíssima e de fá-cil acesso sobre essa temática do Concílio Vaticano II. Sem falar na tecnologia midiática que imprime uma velocidade extraordinária em nosso trabalho de pesquisa científica.

Sem encerrar, sem conclusões maiores e sem pretensões desmedidas, sinto que a missão continua um desafio per-manente até o fim dos tempos. Afirmo, igualmente, que o protagonismo leigo, principalmente dos leigos pobres, vai manter a mística e a metodologia missionária pedida pelo Evangelho.

Nessa perspectiva, sentimos que o Natal é um evento permanente. Continua sendo fonte da esperança de um mundo sempre mais salvo e liberto dos exílios impostos pela ganância de alguns. Felizes de nós que seguimos a ver-dadeira estrela da vida como agentes comprometidos na romaria libertadora dos que estão longe.

Pe. Vergílio João Moro, msfPároco da Paróquia São José Operário

Ilha do Governador, RJ

Page 24: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

24

Natal celebrado numa “Igreja em saída”

Encontramos no início do Prólogo do Evangelho de João a descrição poética da vinda da Salvação de Deus até nós. Em cada Natal, essa Salvação se aproxima e nos convida ao acolhimento e à missão, a “contemplarmos a glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (Jo 1,11).

Diante do grande amor de Deus por nós, amor que se fez carne na Sagrada Família de Nazaré, como discípulos missionários, é sempre uma dádiva poder celebrar, em co-munidade, a grande festa do amor de Deus: o Santo Natal. Deus construiu sua tenda junto de nós. Ele mesmo se fez “próximo daqueles que estavam longe” - carisma e legado este, também deixado pelo fundador dos Missionários da Sagrada Família, Pe. João Berthier, a seus discípulos e cola-

boradores/as, a fim de que o Evangelho continue se propa-gando e chegando a tantos Beléns.

Em cada Natal temos a oportunidade de, a exemplo de Maria e José, acolher e abraçar o Menino Deus, median-te a prática das obras de misericórdia que, como Igreja – Povo de Deus, somos vocacionados a praticar. Afinal, to-das as vezes que fizermos isso a um dos pequeninos é ao próprio Cristo que estamos fazendo (Mt 25). Não resta dú-vida que o Natal é a festa do amor e da vida de Deus que se renova dentro de cada um de nós e de nossas comu-nidades, impulsionando-nos à missão de nos colocarmos numa atitude de “saída”, levando essa vida e esse amor para as “periferias” do nosso mundo, começando pela própria família e chegando até os confins do universo. Urge repartir o pão, construir a paz e a justiça, proclamar o Ano da Graça do Senhor.

Foi assim que procedeu Jesus, o missionário enviado do Pai. Com coragem, profetismo e ousadia anunciou, por palavras e ações, o Reino em tantos lugares e para tantas pessoas que estavam cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor (Mt 9,36). Jesus sentia compaixão e, por isso, Ele mesmo, sempre se colocava “em saída”, indo ao encontro dos necessitados. Dessa maneira, a cada ano, Ele continua sendo o Evangelho do Natal, isto é, a manifestação plena do amor de Deus à humanidade. Amor que nos liberta, renova e nos enche de esperança. Nele o mundo tem vida e vida em plenitude (Jo 10,10).

Por isso, o Natal não deve ser celebrado apenas num dia, como canta Pe. Zezinho, em uma de suas canções. A festa do Natal precisa ser diária. Cada dia Deus nos surpreende e nos ajuda a sermos essa “Igreja em saída”. Do contrário, não somos a Igreja – os discípulos de Jesus. Como disse o Papa Francisco: “Maria foi aquela que soube transformar um cur-ral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura”. É o amor que nos faz ser essa “Igreja em saída”. O amor “coloca asas em nossos pés” e nos faz servir a exemplo de Jesus.

Com ternura, transformemos nossas comunidades em manjedouras do amor de Deus. Acolhamos e levemos a todos a Boa Nova de Deus, o próprio Cristo - o Messias, o Salvador - no seu Evangelho que nos compromete e dá dinamismo ao nosso ser cristão, nos faz sermos “Igreja em Saída”!

Pe. Marcelo Junior Klein, msfFormador do Postulantado e

Vigário Paroquial. Passo Fundo, RS

Page 25: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

25

“Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus.

Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo [...].” (Fl 2,6-7).

Há alguns anos, por ocasião do Natal, o Papa Bento XVI destacava para todos os cristãos que, primeiramente, Deus nos ama. E que durante o mês de dezembro, em que cele-bramos o Nascimento do Menino Jesus, é oportuno refle-tirmos sobre esse momento, reavaliarmos nossas condutas em relação à festa que celebramos. Dizia: “a festa que se aproxima, está perdendo progressivamente seu valor religioso, é importante ressaltar, que os sinais exteriores destes dias, não nos afastem do significado genuíno do mistério que celebramos”.

Nessa mesma perspectiva, podemos reler o apóstolo Paulo, para não permanecermos apenas na preocupação de providenciar o presépio, árvore de Natal, compra de presen-tes e outros. Mas, sim, de buscarmos a essência do porquê, como Igreja, recordamos a chegada do Menino Jesus a este mundo. Escrevendo aos Romanos, o apóstolo Paulo expres-sa: “E a esperança não ficará defraudada, porque o amor de Deus há sido derramado em nossos corações através do Espirito Santo, que nos há sido dado... Mas a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando, todavia, erámos pecadores” (Rm 5,6-8).

Em efeito, as primeiras comunidades cristãs não tinham em seu calendário o costume de celebrar o aniversário de Jesus, mas, sim, recordavam suas palavras, ensinamentos, milagres, morte e ressureição. Foi preciso chegar ao século IV da Era Cristã, para encontrar estas celebrações litúrgicas do Natal, e até o ano 1223, para que São Francisco de As-sis pudesse construir o primeiro presépio da história. Só os evangelhos de Mateus e Lucas recordam que Jesus nasceu em Belém de Judá, da Virgem Maria, desposada com José, mas sem que ela tivesse conhecido um homem.

A partir desse momento, era necessário recuperar a me-mória, resgatando o essencial da Festa Natalina, com base nos ensinamentos de Paulo: “Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo con-trário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). Só quem ama pode descer de nível, para se colocar à altura

dos demais pequenos e humildes. Servir e amar incondicio-nalmente. E, é justamente nesse gesto de se fazer pequeno e servidor, que encontramos o máximo amor que Deus nos tem em Jesus Cristo, nascido em um simples e humilde presépio.

Que nesta festa experimentemos fortemente a misericór-dia e o amor de Deus em nossa vida e no mundo inteiro. E quando reinar o amor de Deus, com alegria, descobriremos que desaparecerão o ódio, a inveja e as guerras e, com cer-teza, prevalecerão o perdão e a reconciliação. Onde então todos se abraçarão para sussurrar no ouvido do próximo, do irmão(ã), que Deus nos ama. Tenhamos sempre a coragem e ousadia de sair de nós mesmos, ir ao encontro do necessita-do, e amar como Ele nos amou e continua amando. Tenha-mos a iniciativa de ir ao encontro e saudar nossos vizinhos, nossos familiares, companheiros de trabalho e amigos di-zendo: Deus nos ama. Feliz e abençoado Natal!

Acolher o amor de Deus e reconhece-lo nos irmãos

Adilson Juliano AssmannNoviço MSF e Bacharel em Filosofia

Santiago, Chile

Page 26: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

2626

Leandro LunkesPostulante MSF, Licenciado em Filosofia

Passo Fundo, RS

Jesus encantava a todos que o encontravam,

por sua humanidade. [...] Ele tinha sentimentos humanos [...].

No Natal contemplamos o nascimento de Jesus, o Filho de Deus que assumiu a condição humana para a salvação da humanidade. Jesus é Deus que se encarna: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). A cada ano que passa ouvimos isso. No entanto, não nos perguntamos o quanto isso é loucura, não só para os gregos e judeus, mas para todos nós. Esse fato é loucura. Por que um Deus todo--poderoso, criador de tudo e de todos, um Deus que pode fazer tudo, está em tudo e sabe de tudo, assume a frágil condição humana?! Como?! Entra na história humana como criança frágil, dependente e suscetível. Um Deus que se submete, que se entrega às suas próprias criaturas! Como se um patrão se submetesse à vontade de seu empregado, ou um pai se submetesse à vontade de seu filho.

Antes do nascimento de Jesus, Deus chamou Maria e José e os preparou para serem os pais do Messias. Deus confiou a eles a missão de cuidar e de educar Jesus: entregou nas mãos de dois seres humanos a responsabilidade de criar seu Filho! Com esse ato Deus estabeleceu uma relação de con-fiança com Maria e José. Se Deus os escolheu, assim o fez, porque eram capazes de tamanha missão. Essa confiança é muito grande, porque o ser humano, muitas vezes é incapaz de criar seus filhos de forma eficaz. Percebemos isso clara-mente através da nossa realidade atual. Mas, Deus escolheu Maria e José para educar Jesus, confiando-lhes seu Filho para ser cuidado e amado por eles.

Mas isso não seria um escândalo? É escândalo porque Je-sus nasce pobre, numa estrebaria, colocado em uma manje-doura. Entre tantos palácios, famílias ricas e mansões, Deus escolheu a pobreza; mas tão pobre que nem casa teve para nascer! Nasceu na estrebaria, local onde os animais dormem e comem. E nasceu em uma família pobre de Nazaré. Aquele lugarejo pobre e afastado, a periferia do poder; uma cida-dela desprezada. Não foi à toa que no Evangelho de João, ao encontrar Jesus, Natanael pergunta: “pode vir coisa boa de Nazaré?” (Jo 1,46). Porque Deus preferiu nascer assim, pobre, humilde e na estrebaria? Porque não nasceu em um palácio, com um berço de ouro? Ele não é todo-poderoso? Então porque preferiu assim? Porque se fez fraco, suscetível às mais diversas situações de angustias e sofrimentos?

Jesus em sua vida foi humano, extremamente humano, e esse foi um dos principais fatores de ter tantos seguidores. Jesus encantava a todos que o encontravam, por sua huma-

nidade. Até mesmo alguns ricos abandonaram suas regalias e bens para segui-lo. Ele tinha sentimentos humanos de amor, acolhida, respeito, mas também de angustia, indig-nação e raiva (como não lembrar da forte cena de Jesus ex-pulsando os vendilhões do Templo!). Emoções que também nós sentimos no nosso cotidiano. Pode parecer loucura ou escândalo, mas nossos sentimentos são similares aos que Deus, em seu Filho sente. Isto nos aproxima muito mais de Deus do que possamos imaginar. Ele encarna a nossa hu-manidade e nós somos divinizados n’Ele, mostrando o quão humano é o Jesus divino: divino-humano, humano-divino. Os pastores e os magos ao encontrar José e Maria, na estre-baria, viram na fragilidade o menino Deus. Reconhecendo Deus neste frágil homem, confirmam sua encarnação e pre-sença na história da humanidade.

Para os gregos, nenhum de seus deuses abandonaria a imortalidade para morrer como um humano. Nenhum deus se submeteria às suas criaturas para ser morto por elas. Como um “todo-poderoso” poderia nascer em uma famí-lia pobre de interior (Nazaré) e, para ser mais escandaloso, numa estrebaria, junto à animais? Um Messias não poderia ter uma origem e um nascimento assim; ainda mais: ser o principal opositor da religião e do templo que o acolheu e ensinou. Jesus, ao discordar da opressão que ocorria na religião e no Templo se torna, para os representantes do ju-daísmo, na época, causa de escândalo. Desde sua aparição pública Jesus incomoda as estruturas e o status quo vigen-te. Jesus inverte a lógica do seu tempo e desestabiliza a his-tória dominante. Por isso, parafraseando o apóstolo Paulo: Jesus é loucura para os gregos, escândalo para os judeus.

Nesse Natal procuremos contemplar o nascimento de Deus em uma família pobre, de uma cidade desprezível, em uma estrebaria. Contemplemos o Deus humano que, nasce de uma mulher, frágil, dependente e suscetível. Contem-plemos o Deus homem, que pela sua humanidade ensinou ao ser humano o que é, em essência, ser humano. Contem-plemos o Deus encarnado na história humana; o Deus que se fez homem para salvar a humanidade. Contemplemos o Deus que nos ama tanto que se fez um de nós para nos redimir com Ele. Contemplemos o Deus que firmou pesso-almente conosco a aliança da salvação eterna. Contemple-mos o Deus amigo, presente no meio de nós. Feliz e aben-çoado Natal a você, meu irmão, minha irmã!

Natal: encarnação de Deus no humano

Page 27: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

Oração de NatalJosé, não chames à minha porta, Minha casa está aberta E o berço preparado...

Jesus, não temos muito para oferecer: Nossos corações abertos desejam que esta Seja uma noite de sonhos que ilumine nossas vidas, Que os anjos anunciando o nascimento Nos encham de gozo e alegria; Que toda a humanidade permita que hoje A terra se faça céu!

Verás que a mesa é grande Aqui há lugar para todos: nela encontrarão acento Nossos entes queridos ausentes e os que Tu chamaste ao céu,

Virão os que não tem pão, os que vivem na solidão Os que, quem sabe, não tenham lugar, e tampouco um coração para amar.

Que seja uma noite de silencio, sem gritos de guerras Que não haja crianças e jovens sem futuro, Que diante da presença do Amor Não haja sinais de morte. Que hoje seja para todos uma verdadeira festa Que hoje para todos seja um bonito Natal.

FELIZ NATAL!!

* Mensagem escrita pelo Pe. Tomás Llorente, msf, vice-provincial e pá-roco em Manuel Alberti - Pilar, Buenos Aires, Argentina. Traduzida do original espanhol por Pe. Thiago Batista Luz, msf (Recife, PE).

Page 28: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

2828

Há dez anos, nos deixava Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, jesuíta, arcebispo de Mariana, Minas Gerais. Faleceu aos 75 anos de idade, em 27 de agosto de 2006, deixando o legado histórico de uma vida de santidade, caridade e serviço. Seu testemunho profético inspira de maneira tal que Dom Geraldo Lyrio Rocha, atual arce-bispo da Arquidiocese de Mariana, em nome da Igreja, apresentou o pedido de canonização de Dom Luciano à

Causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus, em 27 de agosto de 2014. A Congregação para a Causa dos Santos já autorizou a abertura do processo para a canonização. Desta maneira, Dom Luciano passou a ser chamado Servo de Deus, enquanto se analisam presu-míveis milagres e se escutam testemunhas. Na Arqui-diocese de Mariana, o Servo de Deus exerceu, “de modo edificante, seu ministério episcopal desde 1988 até a

“Os pobres confiam mais em Deus!”

TESTEMUNHOS

Page 29: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

2929

morte, com fama de santidade”, destaca o texto escrito por Dom Geraldo Lyrio1.

Dom Luciano Mendes de Almeida nasceu no dia 05 de outubro de 1930, no Rio de Janeiro. Foi, pelo que consta, o primeiro bispo jesuíta da Arquidiocese de Mariana, viven-do sua vida segundo o lema: Em nome de Jesus! Exerceu funções de suma relevância, tais como a participação de di-versos sínodos em Roma, foi secretário geral (1979-1986) e presidente (1987-1994) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Fez parte do Conselho Permanente desta entidade de 1987 até sua morte. Atuou na Pontifícia Comis-são de Justiça e Paz, no Conselho Episcopal Latino-Ameri-cano (CELAM) e na Comissão Episcopal para a Superação da Miséria e da Fome.

A vida deste grande bispo e irmão na fé, de aparência e vida simples, mas notória, por ser pequeno entre os grandes, é marcada de fato pelo dom da caridade, que Deus lhe deu e que é tão cara à vida dos Santos. Pe. Geraldo Felício, da Paró-quia Nossa Senhora de Fátima, em Viçosa, MG, assim escre-veu sobre o legado de caridade deixado por Dom Luciano:

Caridade que vem a ser a própria identidade de Deus, porque “Deus é amor” (1 Jo 4,16). Dom Luciano era um servo dos hu-mildes, dos pobres, dos simples e dos marginalizados. Ele fa-zia os pequenos gestos e palavras serem carregadas de suma importância, capazes de gerar conforto, consolo e alívio.

Padre Geraldo assim nos relata:

Quando foi eleito presidente da CNBB, lhe perguntaram como seria sua atuação. Dom Luciano, mais uma vez, de-monstrou sua caridade, que provém de um coração próximo ao de Deus, capaz de sentir e ver a partir dos mais sofredores: “Peço a Deus atuar na conversão dos homens do egoísmo ao verdadeiro amor, sem conformismo e sem  a impaciência dos violentos, para que as estruturas de convivência humana cor-respondam cada vez mais à dignidade dos filhos de Deus”.2

Padre Marcio Paiva, professor da Pontifica Universidade Ca-tólica de Minas Gerais (PUC-Minas) em uma palestra proferida por ocasião dos 10 anos da morte de Dom Luciano na FAM (Faculdade Arquidiocesana de Mariana) assim se reportou:

Um dos aspectos mais interessantes da bondade da razão é o foco em detalhes do cotidiano que normalmente escapam a todos, senão à maioria. Em um texto de 1987, Dom Luciano reflete sobre as estações rodoviárias, as lutas pelas passagens e o transporte popular como meios de bem servir ao povo (p. 124-126). São as pequenas ternuras do dia a dia que escapam à razão totalizante e universal. E o que dizer das afirmações “o menor não é problema”, “o problema somos nós”? (p. 131). Somente uma razão que vai além da superfície da vida en-trevê o nosso futuro ameaçado e responsabiliza a sociedade que gera menores infratores e, paradoxalmente, os assassina.

1 Disponível em: <http://comunidademarianaresgate.com/arquidio-cese-de-mariana-divulga-edital-para-canonizacao-de-dom-lucia-no-mendes-de-almeida/>. Acesso em: 09 nov. 2016.

2 Jornal do Brasil. O legado de Dom Luciano Mendes de Almei-da. Disponível em: <http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2014/08/28/o-legado-de-dom-luciano-mendes-de-almei-da/>. Acesso em: 10 nov. 2016.

Assim, movido pelo logos do bem, Ele se perguntava: “quan-do compreenderemos que não se trata de tirar as crianças da rua porque elas nos incomodam, mas de oferecer-lhes uma porta aberta para que acreditem de novo na sociedade?” (p. 139). A dimensão bondosa da razão reconhece que “os po-bres confiam mais em Deus. São hospitaleiros. Festejam a vida que nasce e as alegrias simples de cada dia [...] Adotam com amor crianças desamparadas” (p. 161). [ALMEIDA, L. P. M. Dizer o testemunho. v. I, org. José Carlos dos Santos e Lúcio Álvaro Marques. São Paulo: Paulinas, 2013]

Uma racionalidade que não abdique da bondade este-ve sempre presente nos diálogos de Dom Luciano. Mesmo naqueles onde o grau de complexidade era maior, os valo-res do cuidado e da defesa da vida fizeram sempre parte do modo de ser e dialogar de Dom Luciano. No dom de si, continua a dizer, “Dom Luciano foi a voz do índio, do me-nor, do negro, da criança, dos pobres; ele foi a voz dos que não tinham voz, sempre preocupado com a violência, com o trabalho, com o analfabetismo, com a juventude e com a educação”3.

Não restam dúvidas de que o saudoso Dom Luciano Men-des de Almeida foi uma personalidade marcante na vida, não somente do povo da cidade de Mariana, mas da Igreja do Brasil. Por certo, onde quer que ele transitasse, deixava atrás de si sinais da presença de Deus. Desvelava o rosto de Deus, no rosto do Cristo que confirmava o poder do seu amor através de gestos concretos de solidariedade e serviço. Se Dom Luciano vier a ser proclamado Santo pela Igreja, será uma grande alegria, em especial para a Igreja do Brasil. Que seu exemplo nos inspire a buscar Cristo a qualquer custo e a servi-lo nos irmãos e irmãs a qualquer preço.

3 PAIVA, M. A. O dom de si. In:______. Dom Luciano, Dom de Ser. [Palestra proferida por ocasião dos 10 anos da morte de dom Lucia-no na FAM– Faculdade Arquidiocesana de Mariana].

Ir. Wanderson Nogueira Alves, msfServiço de Animação Vocacional (SAV)

Passo Fundo, RS

Page 30: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

30

Pe. Roque Zimmermann, msf Uma vida que segue...

Posso afirmar com alegria que [...] como me havia proposto há muitos anos,

sempre haveria de lutar para deixar o mundo um pouco melhor por onde fosse passar;

penso que [....] consegui isto em boa parte. Roque Zimmermann

Nascido aos 28 de novembro de 1939 em Bom Princípio, Santo Cristo, RS, é filho de Eugênio Matias Zimmermann e Agnes Hammes Zimmermann, ambos falecidos. Após cin-co anos de estudos na escola da comunidade, ingressou no Seminário Menor dos Missionários da Sagrada Família, em Santo Ângelo. Contava com apenas 11 anos de idade. No Seminário, cursou o propedêutico e o período ginasial durante quatro anos; e nos dois anos subsequentes fez o curso clássico. Iniciou o noviciado na recém-fundada Vila de Palma Sola, em Santa Catarina, em 1958, permanecendo aí, por mais um ano, para a conclusão do curso clássico.

Professou os primeiros votos no dia 11 de fevereiro de 1959 e, em 1960 ingressou no Curso de Filosofia (Escolasti-cado São José) em Passo Fundo. Professou os votos perpé-tuos aos 11 de fevereiro de 1962. Foi professor no Seminário da Sagrada Família, em Santo Ângelo, em 1963, lecionando as disciplinas de português, inglês e francês. Ao final deste ano seguiu para Roma, para os estudos de Teologia, onde aportou em meados de outubro de 1963. Estudou na Uni-versidade Gregoriana, dos padres Jesuítas. Sua Ordenação

Presbiteral aconteceu nesta mesma cidade de Roma, na Ba-sílica de São João do Latrão, aos 16 de dezembro de 1966. No dia seguinte, celebrou sua primeira missa, ali mesmo em Roma, e no dia 18 de dezembro, com outros ordenados na mesma data, foi recebido para uma concelebração com o Papa Paulo VI que abraçou e saudou a cada um. Permane-ceu em Roma até o final de 1967, para a conclusão dos estu-dos de teologia. Retornando ao Brasil, celebrou sua primei-ra missa na comunidade de origem, no dia 11 de fevereiro de 1968, junto aos seus familiares.

Nestes 50 anos de sacerdócio, atuou em várias ativida-des. No período de 1968 a 1969 foi professor de teologia moral e exegese do Segundo Testamento no Curso de Teo-logia do Escolasticado São José, em Passo Fundo. Foi tam-bém capelão de diversas comunidades Religiosas e capelas do interior de Passo Fundo. Recorda com carinho a Comu-nidade carente da vila Bom Jesus, onde implantou uma escola de alfabetização de adultos, oficinas de sapataria e funilaria ao lado da luta e trabalho pela purificação da água de toda a comunidade.

Em 1970 fez curso de pastoral em Porto Alegre e no perí-odo foi professor nos colégios Sevigné e La Salle. Foi pároco de Catuípe, de 1971 a 1975, período em que também coor-denou a catequese da diocese de Santo Ângelo e implantou a coleção catequética Libertação Páscoa, que chegou a ser difundida por todo o Brasil. Ainda em 1975 foi mestre do Noviciado, grupo que acompanhou, no ano de 1976, em Porto Alegre, na Comunidade do Passo das Pedras. Uma bela experiência de inserção pastoral no meio do povo mais sofrido e abandonado. Já em 1977, retorna a Catuípe com novo grupo de noviços e no final daquele ano é eleito Superior Provincial, da Província Brasil Meridional, função que exerce até o final de 1983. Todavia, já no início de 1980 assume também a formação dos estudantes de filosofia, no Escolasticado São José. Foi um período de incremento vo-cacional e renovação da Província, com abertura de vários novos postos missionários (Mato Grosso, Goiás). Continuou no Escolasticado São José, onde já implantara o curso de fi-losofia no IFIBE, fundado em 1981, instituto que completou, neste ano, 35 anos de caminhada acadêmica, com muitos êxitos.

Já em 1985 foi para São Paulo fazer mestrado em Ciências Políticas, sendo o tema de sua dissertação América Latina - o não ser. Assim em 1986, foi estudar ao lado de Enrique Dussel, na Universidad Nacional Autonoma do México e no começo de 1987 foi para os Estados Unidos fazer aperfei-çoamento do idioma inglês. Igualmente aproveitou a opor-

Page 31: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

3131

tunidade para consultar e pesquisar bibliografias para uma possível futura tese de doutoramento. Prestou concurso no mesmo ano para professor de Filosofia na Universidade Estadual de Ponta Grossa, sendo aprovado para a função. Candidatou-se, em 1992, para a prefeitura de Ponta Gros-sa, obtendo boa votação, com consequente candidatura a Deputado Federal, elegendo-se por dois mandatos conse-cutivos, em 1994 e 1998. Já no ano de 2002 foi candidato ao Governo do Paraná, sempre pelo Partido dos Trabalha-dores. Em 2003 assumiu a Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego e Promoção Social do Paraná, posto que exerceu até o ano de 2006. Foi um tempo de grande aprendizado e intensa ligação com o povo simples e pobre. Sempre procu-rou ser um padre político e não apenas um político padre.

Como se pode notar, Padre Roque teve uma vida intensa e diversificada em seus 50 anos de sacerdócio. Assim ele se expressa ao contar sua trajetória:

Posso dizer que em toda esta jornada jamais esqueci meu sacerdócio ou minha pertença à congregação religiosa. Fiz todas as minhas tarefas com empenho e muita honesti-dade, prestando contas e estando próximo dos coirmãos ainda que estivesse distante fisicamente. Para as tarefas distantes da vida religiosa sempre busquei e obtive a anu-ência de meus superiores, ainda que nem todos concordas-sem comigo, o que é perfeitamente compreensível. Nestes meus anos todos, desde o início até hoje, sempre tive uma predileção especial pelos pobres e deixei um razoável nú-mero de moradias de alvenaria, construídas com recursos de meus proventos ou provindas de benfeitores europeus. É claro, nestes anos todos adquiri uma pequena soma de bens, que constam em meu testamento, onde nem a Pro-víncia, nem nossas missões e nem os nossos pobres são esquecidos.

Pe. Roque Zimmermann, ao narrar sua história de vida, agradece muito ao bom Deus por estes longos anos de vida e pelo sacerdócio. Foram anos fecundos e felizes brindados com muitas graças e oportunidades que Deus concedeu:

Posso afirmar com alegria que em todas as tarefas das quais pude participar, sempre tive muito êxito e, como me ha-via proposto há muitos anos, sempre haveria de lutar para deixar o mundo um pouco melhor por onde fosse passar; penso que posso dizer com muita honestidade, mas tam-bém com uma dose de humildade, que consegui isto em boa parte.

Agradecemos imensamente pelo dom da vida do Pe. Roque Zimmermann na ocasião comemorativa do seu Ju-bileu de Ouro de Vida Presbiteral. Somos gratos à família Zimmermann e sua comunidade, que dispuseram do Padre Roque para o serviço da Igreja; sempre o acompanharam em sua caminhada, nos mais diversos momentos, em par-ticular nos últimos anos, já com alguns problemas de saú-de. Padre Roque também agradece aos inúmeros colegas, amigos e amigas, inclusive àqueles e àquelas que tiveram contato, em vários países e pelo Brasil afora. Agradece e não se esquece do povo simples que tanto amou, da Congre-gação e Província dos Missionários da Sagrada Família com quem procurou caminhar e servir. Ao celebrar seus 50 de Vida Sacerdotal, no dia 16 de dezembro de 2016, rendemos graças ao Senhor por sua vida e invocamos sua benção na intercessão da Sagrada Família de Nazaré!

Pe. Lotário Niederle, msfVigário Provincial e Secretário

Passo Fundo, RS

Page 32: Bertheriano · O Natal costuma ser uma festa ruidosa, há muito barulho, nos faria muito bem um pouco mais de silêncio, para ouvirmos a voz do Amor.” Natal é você, quando decide

MISSIONÁRIOS DA SAGRADA FAMÍLIAPROVÍNCIA BRASIL MERIDIONAL

www.msagradafamilia.com.br

Seja um missionário!

MISSÃO NO MUNDOOs MSF no Mundo - 4

MISSÃO NO BRASILOs MSF no Brasil - 6

ARTIGOSA sublime arte de envelhecer - 13Elogio da frugalidade - 14Importância da família e da educação pública para a convivência social - 15Os desa�os da inclusão social - 16A dimensão dialética da leitura - 17

PROTAGONISMO LEIGOO protagonismo leigo e a Igreja - 19Dois olhares sobre o laicato - 20Protagonismo: jovens que ensinam - 22Leigos em missão: o grande Natal - 23Natal celebrado numa “Igreja em saída” - 24Acolher o amor de Deus e reconhecê-lo nos irmãos - 25Natal: encarnação de Deus no humano - 26Oração de Natal - 27

TESTEMUNHOS“Os pobres con�am mais em Deus!” - 28Pe. Roque Zimmermann: uma vida que segue... - 30

Protagonismo leigo:mantendo viva a mística missionária

Ano 38 | nº 115 | Set./Dez. 2016

Bertheriano