bernardes t. adolescência mídia e transtornos alimentares uma revisão bibliográfica

34
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA UNIPAMPA TASSIANA BERNARDES ADOLESCÊNCIA, MÍDIA E TRANSTORNOS ALIMENTARES: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Uruguaiana 2010

Upload: agnes

Post on 05-Nov-2015

9 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

adolescencia

TRANSCRIPT

  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA

    UNIPAMPA

    TASSIANA BERNARDES

    ADOLESCNCIA, MDIA E TRANSTORNOS

    ALIMENTARES: UMA REVISO BIBLIOGRFICA.

    Uruguaiana

    2010

  • 2

    TASSIANA BERNARDES

    ADOLESCNCIA, MDIA E TRANSTORNOS

    ALIMENTARES: UMA REVISO BIBLIOGRFICA.

    Trabalho de Concluso de Curso

    apresentado como quesito parcial para

    obteno do ttulo de Bacharel de

    Enfermagem da Universidade Federal do

    Pampa.

    Orientador(a): Prof. Dr. Thomas

    Josu Silva

    Uruguaiana

    2010

  • 3

  • 4

    RESUMO

    O presente trabalho apresenta uma investigao de um caso de uma

    adolescente com transtornos alimentares e a influncia da mdia sobre este problema e o

    papel da famlia junto ao enfrentamento desta doena. A pesquisa tem como objetivo

    identificar na literatura cientifica produes existentes que abordem transtornos

    alimentares em adolescentes e as repercusses da mdia e da famlia neste contexto.

    Trata-se de uma Reviso Bibliogrfica realizada em bases de dados e em literatura

    impressa publicados num perodo entre 1999 e 2010. Os resultados obtidos foram lidos

    e discutidos luz da teoria. A apresentao destes foi realizada partir das seguintes

    categorias que emergiram: (1) distoro de imagem, (2) o transtorno, (3) influncia da

    mdia, (4) culpa, (5) auto-aceitao, (6) relao com a famlia, (7) sofrimento mental,

    (8) isolamento, (9) preconceito, (10) a sociedade e os transtornos alimentares. Com este

    estudo pode-se concluir e analisar entre as publicaes na rea que h o sofrimento

    mental entre os adolescentes com transtornos alimentares, que sua relao com a famlia

    pode influenciar positiva ou negativamente no percurso da doena e no tratamento. A

    sociedade tambm foi identificada como geradora desta problemtica. Percebeu-se que,

    na sociedade de consumo, as repercusses da mdia e dos padres de beleza impostos

    tem marcante influncia na insatisfao social com o corpo.

    Palavras-chave: Transtornos alimentares, adolescentes, mdia, famlia.

  • 5

    SUMRIO

    1-INTRODUO............................................................................................................6

    2-OBJETIVOS.................................................................................................................8

    2.1-Objetivo Geral.............................................................................................................8

    3-ESTADO DA ARTE.....................................................................................................9

    3.1- Anorexia Nervosa.......................................................................................................9

    3.2- Bulimia Nervosa.......................................................................................................11

    3.3- Transtorno Dismrfico Corporal..............................................................................12

    3.4-Transtorno de Compulso Alimentar Peridica........................................................13

    3.5- Adolescncia e Transtornos Alimentares.................................................................13

    3.6- Influncia da Mdia e Transtornos Alimentares.......................................................14

    3.7- Influncia da Famlia nos Transtornos Alimentares................................................17

    3.8- Males da Contemporaneidade................................................................................. 18

    4-MTODO....................................................................................................................21

    5-RESULTADOS E DISCUSSO ..............................................................................22

    5.3.1 - Distoro de Imagem.......................................................................................... 22

    5.3.2 - Os Transtornos Alimentares................................................................................ 23

    5.3.3 - Influncia da Mdia............................................................................................. 23

    5.3.4 - Culpa................................................................................................................... 24

    5.3.5 - Auto-Aceitao.................................................................................................... 24

    5.5.5.1 - Relao com a Famlia..................................................................................... 25

    5.3.5.2 - Sofrimento Mental............................................................................................ 26

    5.3.5.3 - Isolamento........................................................................................................ 26

    5.3.5.4 - Preconceito....................................................................................................... 27

    5.3.5.5 - A Sociedade e os Transtornos Alimentares...................................................... 28

    6. CONSIDERAES FINAIS....................................................................................29

    7. CRONOGRAMA...................................................................................................... 32

    REFERNCIAS............................................................................................................ 33

  • 6

    1.INTRODUO

    Os Transtornos Alimentares caracterizam-se por severas perturbaes no

    comportamento alimentar. Dos transtornos alimentares estudados, a Anorexia Nervosa

    foi a primeira a ser descrita j no sculo XIX e, igualmente, a pioneira a ser

    adequadamente classificada e ter critrios operacionais reconhecidos j na dcada de

    1970. Historicamente os Transtornos Alimentares causavam curiosidade tanto nos

    mdicos como na populao por no conseguirem ter um entendimento maior do que

    acontecia com essas jovens mulheres. (CORDAS, 2002).

    Habernas (1986) descreveu um caso pioneiro sugestivo da Anorexia Nervosa

    em Serva que viveu no ano de 1895, a jovem Friderada, que aps ter se recuperado de

    uma doena no reconhecvel, passou a apresentar um apetite voraz e descontrolado.

    Para diminu-lo, abrigou-se em um convento e nele com o tempo foi diminuindo a

    alimentao e efetuava jejuns prolongados. Rapidamente seu quadro agravou-se levando

    a morte, por desnutrio. No sculo XIII, haviam mulheres que, como forma de

    aproximar-se de Deus, mantinham longos jejuns, o que fez com que essas mulheres

    fossem denominadas Santas Anorexicas. Richard Morton o autor do primeiro relato

    medico do caso de Anorexia Nervosa, no ano de 1694, onde conta o tratamento de uma

    jovem mulher com recusa de alimentar-se e ausncia de ciclos menstruais, que recusou

    ajuda e morreu por fraqueza devido a falta de ingesto de alimentos.

    Com Gerald Russell, em 1979, vem a descrio de outro Transtorno Alimentar,

    a Bulimia Nervosa. Esse termo vem da unio dos termos gregos Boul (boi) ou Bou

    (grande quantidade) com Lemos (fome), ou seja, uma fome muito intensa ou suficiente

    para devorar um boi (CORDAS, 2002).

    Em 1743, James descreve a true boulimus" para os episdios de grande

    ingesto de alimentos e preocupao intensa com os mesmos, seguidos de desmaios e

    uma variante chamada caninus appetities, com vmitos aps esses episdios

    (HABERNAS, 1986).

    A Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa parecem ter uma prevalncia bem

    maior em sociedades industrializadas, como Estados Unidos, Europa, Canad, Japo,

    nas quais existe abundncia de alimentos e onde, especialmente no tocante das

    mulheres, ser atraente est ligado a magreza (DSM-IV).

    Esta busca pela magreza modificou-se junto com a evoluo humana, pois

    antigamente as mulheres mais lindas e mais atraentes eram as que possuam formas

    mais arredondadas, hoje vistas como gordinhas pois estavam tambm associadas

  • 7

    boa nutrio e a fartura. Com o passar das dcadas os padres de beleza foram mudando

    e o que se observa atualmente uma grande influncia miditica sobre a forma fsica

    ideal cada vez mais precocemente nas sociedades contemporneas.

    Segundo o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual, IV edition) a idade

    mdia para o inicio da Anorexia nervosa de 17 anos, com alguns picos aos 14 e aos 18

    anos. O inicio do transtorno raramente ocorre em mulheres com mais de 40 anos. J a

    Bulimia Nervosa, tambm segundo o DSM-IV comea no final da adolescncia ou

    inicio da vida adulta. Esta compulso frequentemente comea durante ou aps um

    episodio de dieta.

    O comportamento alimentar perturbado pode persistir por vrios anos, em uma

    alta percentagem das amostras clnicas. Ressalta-se ainda, que estudos comprovam que

    os Transtornos Alimentares tem uma prevalncia maior em mulheres do que em

    homens. e se do a partir de fatores estressantes do cotidiano, como por exemplo, fases

    de transio, como a adolescncia, mudanas de cidade, aceitao em grupos de amigos

    e ainda por necessidade de se adequar a padres para cursar a faculdade, ou at mesmo

    necessidade de ser aceito em um grupo sociais.

    Portanto, a fim de compreender melhor a realidade destes transtornos

    alimentares surgiu a idia de fazer uma investigao na literatura cientfica a fim de

    identificar as produes existentes que abordem transtornos alimentares em

    adolescentes e as repercusses da mdia e da famlia neste contexto.

  • 8

    2.OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Identificar na literatura cientifica produes existentes que abordem transtornos

    alimentares em adolescentes e as repercusses da mdia e da famlia.

  • 9

    3. ESTADO DA ARTE

    3.1 ANOREXIA NERVOSA

    Os modelos de beleza, impostos pela sociedade moderna podem ser irreais para

    muitas mulheres, que ignoram sua estrutura fsica e terminam julgando-se incapazes e

    frustradas, as quais mesmo se envolvendo em dietas, no alcanam o peso "ideal" e

    passam a se utilizar progressivamente de prticas cada vez mais nocivas sade

    podendo desencadear Transtornos Alimentares (TA). A magreza tem sido cada vez mais

    associada ao sucesso, felicidade, atrao, controle e estabilidade. Com isso, criada

    uma generalizao. So apresentados esteretipos que passam a ser apreciados e

    desejados. O excesso de peso torna-se um problema, o emagrecimento o objetivo e a

    soluo ditada a dieta. Essa motivao monopolizada pela chamada indstria do

    emagrecimento (SOUTO E FERRO-BUCHER, 2006).

    A Anorexia Nervosa um transtorno do comportamento alimentar que se

    desenvolve principalmente em meninas adolescentes e mulheres jovens e caracteriza-se

    por uma grave restrio da ingesto alimentar, busca incessante pela magreza, distoro

    da imagem corporal e amenorria. (WEINBERG E CORDAS, 2006)

    A anorexia nervosa, que foi descrita pela primeira vez em 1667, uma doena

    que leva inanio, com excessiva perda de peso (auto-imposta) e com grande desgaste

    fsico e psicolgico. Em funo de uma distoro da imagem corporal, os indivduos

    com anorexia nervosa no se percebem magros, mas sempre gordos, continuando a

    restringir suas refeies de uma maneira ritualizada. Dentre suas conseqncias

    pacientes que esto na pr-puberdade podem ter atraso na maturao sexual, no

    desenvolvimento fsico e no crescimento no atingindo a estatura esperada. A anorexia

    nervosa tem complicaes srias associadas com a desnutrio, como comprometimento

    cardiovascular, desidratao, distrbios eletrolticos, distrbios na motilidade

    gastrointestinal, infertilidade, hipotermia e outras evidncias de hipometabolismo. Outra

    caracterstica importante da anorexia nervosa a amenorria a qual est associada a

    uma combinao de fatores como disfuno hipotalmica, estresse, exerccio em

    excesso e perda de peso e gordura (ANDRADE E BOSSI, 2003).

    Segundo DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) a

    Anorexia Nervosa, estabelece como critrios a perda de peso e recusa de manter o peso

    dentro ou acima do mnimo normal adequado a idade e altura (peso igual ou inferior a

    85% do esperado); medo mrbido de engordar mesmo estando abaixo do peso;

  • 10

    perturbao na forma de vivenciar o baixo peso, influncia indevida do peso sobre auto-

    avaliao e negao do baixo peso; amenorria por 3 ciclos consecutivos.

    Pacientes com Anorexia Nervosa podem apresentar comportamento

    bulimico/purgativo ou apenas restringir a alimentao, fato que levou o DSM-IV a

    classificar a Anorexia Nervosa em dois subtipos: o Restritivo que inclui dietas e

    exerccios e a Compulso peridica/purgativa onde alm da dieta e exerccio h

    episdios de compulso e purgao.

    Conforme ainda a DSM-IV em estudos feitos sobre a prevalncia entre

    mulheres na adolescncia tardia e incio da idade adulta verificam taxas de 0,5 a 1,0%,

    para apresentaes que satisfazem todos os critrios para Anorexia Nervosa. Indivduos

    que no atingem o limiar para o transtorno (isto , com Transtorno Alimentar Sem

    Outra Especificao) so encontrados com maior freqncia. Existem dados limitados

    envolvendo a prevalncia deste transtorno em homens. Conforme os autores, incidncia

    de Anorexia Nervosa parece ter aumentado nas ltimas dcadas, inclusive a partir da

    mudana dos padres de beleza da sociedade.

    A CID-10 (Classificao Internacional das Doenas) toma como critrios

    diagnsticos perda de peso e manuteno abaixo do normal (ndice de Massa Corporal

    igual ou inferior a 17,5Kg/m2) perda de peso pela evitao de alimentos que engordam

    e por vmitos autoinduzidos, purgao auto-induzida, exerccios excessivos, uso de

    anorexigenos e/ou diurticos, medo de engordar e distoro da imagem corporal,

    distrbio endcrino envolvendo o eixo hipotlamo-hipofisario-gonodal manifestado

    como amenorria nas mulheres com perda de interesse e potencia sexuais. A CID-10

    no discrimina anorxicas purgadoras de restritivas.

    Desta forma, a anorexia nervosa se insere nesse caldo de cultura em que o

    corpo, altamente valorizado, reificado e convertido em fetiche-mercadoria preferencial

    pelo capitalismo contemporneo, apresenta-se como a medida do valor prprio do

    indivduo. S que na anorexia isso adquire um carter muito peculiar: medida que o

    quadro se instala, o corpo constantemente negado, a tal ponto que se exime de ser um

    corpo vivo e desejante (DITOLVO, 1999).

    A anorexia e a bulimia nervosa so transtornos da conduta alimentar cuja

    prevalncia tem crescido nas ltimas dcadas, atingindo principalmente adolescentes e

    jovens mulheres (SANTOS et al., 1998). Estes transtornos mobilizam, de forma

    marcante, aspectos emocionais, fsicos e sociais da vida do paciente. So molstias que

    trazem um sofrimento intenso no apenas para o portador, mas tambm para seus

    familiares. Desse modo, a anorexia nervosa (assim como a bulimia) considerada um

  • 11

    transtorno psiquitrico (ASSOCIAO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 1994), e

    no apenas exagero de valores sociais dominantes, identificados como expresso anti-

    vida que permeia aes e adies contemporneas, responsveis pela fabricao em

    massa de superatletas, modelos glamorosas e profissionais da mdia.

    3.2 BULIMIA NERVOSA

    Segundo a DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders)

    Bulimia Nervosa um transtorno da alimentao que possui enquanto caractersticas

    fundamentais: episdios recorrentes de compulso peridicas (ingesto de uma grande

    quantidade de alimentos, em um espao curto de tempo, que dura em torno de 2 horas) e

    um sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar durante o

    episodio; comportamento compensatrio inadequado recorrente, com o fim de prevenir

    o aumento de peso, como a auto-induo de vomito, uso indevido de laxantes,

    diurticos, enemas ou outros medicamentos, jejuns ou exerccios excessivos; ocorrncia

    de compulses, no mnimo duas vezes por semana, no espao de 3 meses; auto-

    avaliao indevidamente influenciada pela forma e peso do corpo; o transtorno no

    ocorre exclusivamente durante episdios de anorexia nervosa.

    Os indivduos com Bulimia Nervosa colocam uma nfase excessiva na forma

    ou no peso do corpo em sua auto-avaliao, sendo esses fatores, tipicamente, os mais

    importantes na determinao da auto-estima.

    Para fins classificatrios, foram designados subtipos podem ser usados para

    especificar a presena ou ausncia do uso regular de mtodos purgativos como meio de

    compensar uma compulso peridica: O tipo purgativo descreve apresentaes nas

    quais o indivduo se envolveu regularmente na auto-induo de vmito ou no uso

    indevido de laxantes, diurticos ou enemas durante o episdio atual. H ainda os sem

    purgao nos quais o indivduo apresentam outros comportamentos compensatrios

    inadequados, tais como jejuns ou exerccios excessivos.

    Com relao s caractersticas especficas relacionadas cultura, idade e

    gnero a Bulimia Nervosa ocorre, conforme relatado, com freqncias

    aproximadamente similares na maioria dos pases industrializados, incluindo os Estados

    Unidos, Canad, Europa, Austrlia, Japo, Nova Zelndia e frica do Sul. Poucos

    estudos examinaram a prevalncia da Bulimia Nervosa em outras culturas. Em estudos

    clnicos da Bulimia Nervosa nos Estados Unidos, os indivduos com este transtorno

  • 12

    eram principalmente brancos, mas o transtorno tambm foi relatado entre outros grupos

    tnicos.

    Em amostras clnicas e populacionais, pelo menos 90% dos indivduos com

    Bulimia Nervosa so mulheres. Alguns dados sugerem que os homens com Bulimia

    Nervosa tm maior prevalncia de obesidade pr-mrbida do que as mulheres com o

    transtorno. A prevalncia da Bulimia Nervosa entre mulheres adolescentes e adultas

    jovens de aproximadamente 1-3%; a taxa de ocorrncia deste transtorno em homens

    de aproximadamente um dcimo da que ocorre em mulheres.

    3.3 TRANSTORNO DISMRFICO CORPORAL

    Segundo a DSM-IV A caracterstica essencial do Transtorno Dismrfico

    Corporal (histricamente conhecido como dismorfofobia) uma preocupao com um

    defeito na aparncia. O defeito imaginado ou, se uma ligeira anomalia fsica est

    presente, a preocupao do indivduo acentuadamente excessiva.

    A preocupao causa sofrimento significativo ou prejuzo no funcionamento

    social ou ocupacional ou em outras reas importantes da vida do indivduo.

    As queixas geralmente envolvem falhas imaginadas ou leves na face ou na

    cabea, tais como perda de cabelos, acne, rugas, cicatrizes, marcas vasculares, palidez

    ou rubor, inchao, assimetria ou desproporo facial, ou plos faciais excessivos.

    Outras preocupaes comuns incluem o tamanho, a forma ou algum outro

    aspecto do nariz, olhos, plpebras, sobrancelhas, orelhas, boca, lbios, dentes,

    mandbula, queixo, bochechas ou cabea.

    Entretanto, qualquer outra parte do corpo pode ser o foco de preocupao (por

    ex., genitais, seios, ndegas, abdmen, braos, mos, ps, pernas, quadris, ombros,

    coluna vertebral, regies corporais maiores, ou tamanho geral do corpo). A preocupao

    pode concentrar-se simultaneamente em diversas partes do corpo. Embora a queixa

    freqentemente seja especfica (por ex., lbio "torto" ou nariz "chato"), ela por vezes

    pode ser vaga ("face cada" ou olhos "inadequadamente fixos").

    Em vista do seu embarao com suas preocupaes, alguns indivduos com

    Transtorno Dismrfico Corporal evitam descrever seus "defeitos" em detalhes, podendo

    referir-se apenas sua "feira" geral. A maior parte dos indivduos com este transtorno

    experimenta acentuado sofrimento acerca de sua suposta deformidade, em geral

    descrevendo suas preocupaes como "intensamente dolorosas", como "um tormento"

    ou "devastadoras".

  • 13

    A maioria considera difcil control-las e faz pouca ou nenhuma tentativa no

    sentido de resistir a elas. Em conseqncia disto, freqentemente passam horas por dia

    pensando em seu "defeito", a ponto de esses pensamentos poderem vir a dominar suas

    vidas. Um prejuzo significativo em muitas reas do funcionamento geralmente ocorre.

    Os sentimentos de desconforto com seu "defeito" podem lev-los a evitar o trabalho ou

    situaes pblicas.

    3.4 TRANSTORNO DE COMPULSO ALIMENTAR PERIDICA

    Segundo a DSM-IV este transtorno caracterizado por episdios recorrentes de

    compulso alimentar peridico (excesso alimentar + perda de controle). Seriam

    comportamentos associados a compulso alimentar relacionados a comer rapidamente,

    at sentir-se cheio, tambm em grandes quantidades de comida mesmo sem estar com

    fome, Pode haver tambm a necessidade de comer sozinho por embarao pela

    quantidade de comida, causando a partir destes comportamentos todos um sentimento

    de repulsa por si mesmo, depresso ou demasiada culpa aps a compulso, acentuada

    angustia pela compulso alimentar e isolamento social.

    3.5 ADOLESCNCIA E TRANSTORNOS ALIMENTARES

    Cordas (2004) diz que na anorexia nervosa h um controle obsessivo do corpo

    atravs da negao do apetite e faz referncia ao termo alemo Pubertaetsmagersucht,

    isto , a busca da magreza por adolescentes.[grifo do autor]

    Conforme Morgan, Vecchiatti e Negro et al (2002) alguns autores referem que

    a jovem pr-anorxica, atravs da sua inteligncia, vivacidade, obedincia,

    perfeccionismo e dedicao ao estudo e ao trabalho, satisfaz essa rgida expectativa e

    colabora para manter a aparente harmonia, em detrimento da sua prpria personalidade

    em formao. Contudo, o advento da adolescncia, com seu impressionante cortejo de

    mudanas biolgicas, psicolgicas e sociais, faz com que essa jovem aparentemente

    bem ajustada seja inundada por sentimentos de ineficincia, desamparo e descontrole

    sobre o seu corpo e a sua vida. Na seqncia, a busca desesperada da magreza, que

    implica na manuteno devido as mudanas na puberdade, representa um derradeiro

    esforo para readquirir o controle e a harmonia perdidas. A jovem anorxica no

    desenvolve um sentido de valor prprio, como uma pessoa independente capaz de

  • 14

    dirigir sua vida, e quando chegar a hora de mostrar independncia e autonomia, ela

    provavelmente vai se sentir incapaz de enfrentar o que se exige dela.

    3.6 INFLUNCIA DA MDIA E TRANSTORNOS ALIMENTARES

    Conforme Saikali et al (2004) alguns autores referem existir evidncias em que

    a mdia promova distrbios da imagem corporal e alimentar. Anlises tm estabelecido

    que modelos, atrizes e outros cones femininos vm se tornando mais magras ao longo

    das dcadas. Indivduos com transtornos alimentares sentem-se pressionados em

    demasia pela mdia para serem magros e reportam terem aprendido tcnicas no-

    saudveis de controle de peso (induo de vmitos, exerccios fsicos rigorosos, dietas

    drsticas) atravs desse veculo. Em estudo realizado nas ilhas Fiji, tambm citado pelas

    autoras, foi realizada uma avaliao sobre o impacto da exposio das adolescentes

    televiso e conseqentes atitudes e comportamentos alimentares desses indivduos. O

    estudo foi dividido em duas etapas, a primeira em 1995 e a segunda em 1998, j com

    trs anos de exposio televiso. Os resultados mostraram que os indicadores de

    transtorno alimentar foram significantemente mais prevalentes aps 1998,

    demonstrando tambm maior interesse em perda de peso, sugerindo um impacto

    negativo da mdia.

    Bourdieu (1997), analisando os efeitos nocivos da televiso sobre o imaginrio

    social, tece duras crticas a este mecanismo de "fabricao de subjetividades",

    conjeturado sob a forma de um campo, espao socialmente estruturado como produtor

    de violncia simblica, onde ocorrem as lutas de poder para sua transformao ou

    conservao; nele se desdobra a presso das macroestruturas econmicas e sociais,

    outorgando relaes concorrenciais e desleais, sendo, verdadeiramente, um espao de

    excluses e invases. Na medida em que a mensagem veiculada unidirecionada para o

    interlocutor, no h via dialgica e sim impositiva. Um fragmento do pensamento de

    Plato referenciado por Bourdieu (1997), quando afirma que "somos marionetes da

    divindade", visando traduzir o poder da televiso, atravs de seus agentes sociais, na

    criao de valores mticos como liberdade, autonomia, felicidade e bem-estar,

    prescrevendo, simultaneamente, comportamentos adequados ao alcance de tais fins.

    Para dimensionar essas reflexes na realidade do Brasil, Andrade e Bosi (2003)

    demonstram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (1996), em que

    86,2% da populao brasileira possui televisores em seus lares e 90,3% possui rdio,

    enquanto o item geladeira ocupa o 5o lugar, com 80,3%. Diante dessas informaes,

  • 15

    podemos observar a existncia de brasileiros que do preferncia aquisio de meios

    de comunicao nos seus lares em detrimento de outros bens de consumo, considerados

    como necessrios rotina e manuteno bsica de uma famlia.

    As mesmas autoras ao discutirem a influncia da mdia na produo do ideal de

    beleza feminina, observaram a disseminao de uma falsa crena acompanhando a

    busca do corpo ideal. A de que o corpo infinitamente malevel, podendo alcanar o

    ideal esttico com dietas e exerccios, negligenciando-se as determinaes biolgicas e

    genticas, situao chamada por alguns autores, na literatura especializada, de setting

    point. Para este intento, necessria uma grande dose de esforo pessoal, acompanhado

    de conotaes simblicas de sucesso, liberdade, felicidade, longevidade, liberao

    sexual, mobilidade social, e outras, reforando a outra crena de que, ao conseguir este

    ideal, a pessoa ter alcanado o sucesso no s na profisso como tambm nos

    relacionamentos sociais e amorosos. Os meios de comunicao tambm influenciam

    essas mulheres no incentivo a dietas, veiculando o paradigma de beleza imposto, que

    pressiona a ter um corpo magro (SOUTO e FERRO-BUCHER, 2006).

    Azevedo e Morgan (1998) adverte-nos que, ao analisar-se a influncia da

    mdia na produo das imagens femininas, preciso ter o devido cuidado para no cair

    em posies reducionistas quando a mdia e a tecnologia das informaes consolidam o

    movimento da globalizao. Para tanto, deve-se considerar que a importao de

    modelos fragmenta e dilui as fronteiras nacionais, despersonifica a cultura de um povo,

    infiltrando sentimentos conflitivos em relao identidade cultural, pulverizando-a

    tanto no plano individual quanto no coletivo, neutralizando o sentimento de pertena a

    um grupo ou comunidade, to vital para a garantia da sade.

    Alm disso, o aumento das expectativas voltadas ao papel da mulher,

    produzem demasiada insegurana, vulnerabilizando sua identidade, levando-a, na

    tentativa de resgatar a integridade de sua existncia, a buscar, no prprio corpo, o

    controle perdido. O refgio ante tal expropriao se d atravs da instalao de

    comportamentos por vezes patolgicos (ANDRADE e BOSI,2003).

    Guattari (1990) denuncia o esfacelamento de subjetividades ancoradas pelas

    formas de produo da vida moderna, pelas rpidas transformaes tcnico-cientficas e

    pelos avanos dos meios de comunicao, os quais engendram no cotidiano formas cada

    vez mais expropriadas de si, atravs do ritmo frentico imposto pelo modo imperialista

    do capitalismo mundializado. Observa-se o abandono progressivo de uma economia

    voltada para a produo de bens de consumo e servios em favor da produo de

    imagens, smbolos e sintaxes, por intermdio, especialmente, do controle que exerce

  • 16

    sobre a publicidade e as sondagens, alienando, massificando e normalizando o modelo

    global.

    Nas ltimas dcadas, assiste-se a grandes mudanas nos padres de beleza,

    alm de ter se estabelecido um fascnio pela imagem, que mediado pelo culto ao

    corpo. Este, por sua vez, passa a ter um espao privilegiado na publicidade. (SOUTO E

    FERRO-BUCHER, 2006). Estas autoras evidenciaram em pesquisa realizada com

    adolescentes que as mesmas por vezes se consideraram vtimas da mdia por haver uma

    forte presso para que todos tenham padres corporais ditos perfeitos. As informantes

    desta pesquisa se viam como vtimas da mdia que, no entendimento destas, as

    influencia muito, por divulgar e propagar um padro de beleza, o qual determina que

    para ser bonita deve-se ter um corpo "sarado", "sem um pingo de barriga", ou seja,

    deve-se ser "seca". Sendo essa imagem associada ao sucesso, esse corpo esguio

    passando a ser desejado e buscado "desesperadamente". (idem)

    O padro de beleza veiculado pelos meios de comunicao e pelo convvio

    social parece exercer um efeito marcante sobre as mulheres. Em pesquisa, universitrias

    sem TA, expostas ao modelo de corpo magro, a imagens neutras e a imagens de

    mulheres de peso normal/sobrepeso relataram que as mulheres magras eram tidas como

    mais atraentes e que a exposio ao modelo magro gerava um aumento de respostas

    afetivas negativas (culpa, depresso, infelicidade, vergonha). Mais ainda, o reforo

    social exercido pela famlia, pelos amigos e pela mdia em adolescentes e adultas jovens

    para se ter o corpo magro relaciona-se presena de sintomas bulmicos e prediz o

    incio de sintomas nesta populao. (GRANDO e ROLIM,2005).

    O mundo das dietas e a indstria do emagrecimento incluem livros, revistas,

    artigos de jornal, programas de televiso, vdeos com exerccios, academias de

    ginstica, regimes alimentares e cirurgias plsticas. Essas mensagens influenciam o

    psiquismo, principalmente o feminino, principal alvo de tais investidas. A indstria da

    dieta prioriza o capital e ignora os danos sade. Assim, informaes deturpadas

    invadem o universo das mulheres que buscam, incansavelmente, esse ideal impossvel

    para a maioria delas, visto que existem bitipos diferentes. (SOUTO E FERRO-

    BUCHER, 2006).

    3.7. A FAMLIA E OS TRANSTORNOS ALIMENTARES

    O desenvolvimento de Transtornos Alimentares foco de vrias pesquisas

    sobre o tema. Souto e Ferro-Bucher (2006) observaram que a motivao inicial para a

  • 17

    modificao da alimentao e a reduo de peso foi pessoal, contando, inicialmente,

    com apoio ou indiferena da famlia e com o incentivo de educadores fsicos. Assim,

    decorrente de uma insatisfao com o peso, d-se incio prtica de dietas restritivas.

    Percebe-se que a dieta surge com objetivo de reduo de peso, posteriormente ocorre

    uma restrio alimentar rgida e o Transtorno Alimentar desencadeado, podendo

    resultar na drstica restrio ou em episdios compulsivos, seguidos de prticas

    compensatrio-purgativas (bulmicas) ou no (comedoras compulsivas).

    O profissional de enfermagem, em seu cotidiano de trabalho no lida apenas

    com o indivduo, mas tambm com sua famlia. Mesmo quando ela est lidando apenas

    com um indivduo, impossvel a interao no afetar e ser afetada por sua famlia,

    conseqentemente, as interaes com um indivduo so vistas como interaes indiretas

    com a famlia dele. Grando e Rolim (2005, p.23) salientam a importncia desta relao:

    "O comportamento de um indivduo imensamente influenciado

    por sua famlia e, por sua vez, quaisquer alteraes em seu

    comportamento invariavelmente afetaro sua famlia. Quer se

    adote essa perspectiva ou no, difcil negar que a enfermeira,

    para ser eficaz, precisa compreender a famlia"

    A famlia se constitui em elemento importante na compreenso das

    representaes acerca dos transtornos alimentares, uma vez que a interiorizao do

    mundo objetivo vai se dar atravs da transmisso de valores, normas, crenas, passados

    pela famlia que ir produzindo e reproduzindo cultura e onde seus membros so

    educados para viver em determinado tipo de sociedade. Esse ser o primeiro espao

    afetivo, cultural e social, expressando situaes da vida cotidiana onde a identidade se

    d a ver. Por outro lado, compreender como os profissionais representam a famlia, nos

    fornecero dados importantes e daro "pistas" de como elas vm sendo cuidadas.

    (GRANDO e ROLIM, 2005, p. 23).

    Conforme os mesmo autores, um estudo focalizando o contexto familiar que

    envolve a anorexia da perspectiva do discurso materno, investigou como as mes

    entendiam o transtorno alimentar e concluiu que o funcionamento familiar

    drasticamente afetado com a ecloso do transtorno e que nesse processo a famlia passa

    a viver em funo do membro afetado, que mobiliza a todos no sentido de buscar ajuda.

    H ainda alteraes nas interaes familiares, onde os relacionamentos com os pais e

    irmos se modificam, emergindo sentimentos ambivalentes.

  • 18

    O ambiente familiar antes da instalao do quadro percebido como normal

    e o filho portador como saudvel, inteligente e perfeccionista. O perfeccinismo

    um trao de carter que, nesse contexto, remete necessidade de aceitao social que os

    pacientes anorxicos tm (precisam agradar o outro e continuamente buscam

    reasseguramento de que esto sendo aceitos). Dentre as mudanas observadas aps o

    adoecer, destaca-se o aparecimento de rituais e exigncias excessivas do filho,

    relacionados ao comportamento alimentar. Com o desenvolvimento da doena, as mes

    procuram conhecer melhor a anorexia, apresentam um alto nvel de informao sobre o

    transtorno, o que parece favorecer a aderncia ao tratamento, demonstrando ainda ter

    uma percepo dos aspectos mdicos da doena, mas desconhecimento do papel dos

    fatores familiares envolvidos no quadro. (GRANDO e ROLIM,2005).

    Na anorexia e bulimia, o comprometimento familiar bastante evidente. O

    sofrimento no fica limitado pessoa portadora. A doena crnica prende toda a famlia

    em sua teia. O sistema familiar como um todo precisa se reorganizar para enfrentar a

    nova realidade e se adaptar s condies de vida engendradas pela doena e pelo

    tratamento. O contato com procedimentos mdicos, tais como consultas, exames e

    abordagens teraputicas diversas, assim como a necessidade de se recorrer

    eventualmente ao ambiente hospitalar em momentos de agravamento do quadro, tudo

    isso gera mudanas na rotina domstica, gerando desorganizao e angstia frente ao

    desconhecido. (idem).

    3.8 MALES DA CONTEMPORANEIDADE

    A sociedade determina e impe um padro de beleza que, inconscientemente,

    incorporado. Na busca desse ideal de beleza de um corpo perfeito surge, atualmente,

    uma obsesso para controle e modelagem do corpo, alm da preocupao e do medo da

    obesidade. (ANDRADE e BOSI, 2003)

    A nfase da sociedade contempornea no ideal de magreza (culto ao corpo), as

    intensas propagandas na mdia de uma infinidade de regimes e de produtos dietticos,

    bem como o crescimento de academias e do nmero de revistas sobre o assunto,

    fornecem o ambiente sociocultural que justifica a perda de peso, trazendo consigo uma

    simbologia de que a beleza fsica proporcionaria autocontrole, poder e modernidade.

    Entretanto, essa imagem corporal idealizada um padro impossvel ou imprprio,

    incompatvel para a grande maioria da populao. (ANDRADE e BOSI, 2003).

  • 19

    Atualmente, observa-se o crescimento de dietas e de transtornos alimentares, o

    que representa, individualmente, insegurana e insatisfao quanto ao corpo e, no

    coletivo, uma mudana rumo a novas formas de conscincia da mulher. Mencionam-se

    as mulheres pois com elas que ocorrem cerca de 90% dos casos de AN, a quem o culto

    beleza representa uma neurose moderna e coletiva que se espalha, em ritmo acelerado,

    de mulher para mulher. (ANDRADE e BOSI, 2003).

    Refletir a respeito da experincia contempornea do corpo identificar que, no

    presente, ele vem operando uma forma de relao com o mundo no qual preconceitos

    relativos beleza, associados preocupao excessiva com a aparncia e com a sade

    predominam na cultura. De fato, vive-se "numa poca em que se fala massivamente do

    culto ao corpo" (SANT'ANNA, 1995, p.13). Sendo assim, h um enorme interesse em

    privilegiar os discursos a respeito do corpo para enfrentar um certo desconforto

    decorrente da destradicionalizao e esvaziamento da histria.

    Foucault (1999) em Vigiar e Punir nos mostra que, para disciplinar,

    necessrio individualizar o corpo. Atravs da anlise dos conventos, exrcitos, escolas e

    fbricas, o autor discute inmeras tcnicas e procedimentos de distribuio dos sujeitos

    num modo individual para poder disciplin-los. Trata-se de colocar cada indivduo num

    determinado lugar.

    Essa tecnologia especfica de poder, que Foucault nomeou de disciplina,

    centrada numa lgica individualizante cuja norma os sujeitos devem adaptar-se,

    atualiza-se na problemtica contempornea dos Transtornos Alimentares. De fato,

    quando ter um corpo magro torna-se a norma definida pela sociedade, as exigncias de

    uma adaptao podem produzir a excluso de qualquer outra possibilidade. Quando isso

    ocorre, a base do entendimento sustentada atravs de regularidades, generalizaes e

    medies de aspectos individuais e/ou familiares resultando, por exemplo, em um

    diagnstico de anorexia e bulimia. Baseado na idia de indivduo - pois, segundo essa

    operacionalidade, quem tem o problema o indivduo e no a sociedade -, encontramos

    os elementos sustentados no "modelo disciplinar" de Foucault baseados na comparao,

    diferenciao, separao e excluso dos indivduos, segundo um padro normativo para

    melhor control-los (Foucault, 1999).

    J que quase todos apresentam uma preocupao com o peso, o anormal vem

    sendo identificado apenas em termos do excesso de tal situao, sem colocar em

    discusso os padres normativos que habitam nossos modos de vida. Segundo

    Canguilhem (1966;2000), na medida em que uma norma impe impedimentos e

    percebida pelo sujeito como negativa expanso da vida, ela passa a configurar o

  • 20

    patolgico ou anormal. O anormal, neste caso, entendido no como uma ausncia de

    normas, mas sim como uma inflexibilidade e restrio da prpria norma. Lutar pela

    beleza do corpo, seja com dietas, ginsticas, drenagens linfticas, lipoaspirao etc, so

    estratgias encontradas por alguns para incluir, adaptar e adequar o corpo na suposta

    normatividade sociocultural.

  • 21

    4. MTODO

    Trata-se de uma Pesquisa Bibliogrfica que se deu a partir de busca em

    publicaes cientficas brasileiras, indexadas na base de dados Literatura Internacional

    em Cincias da Sade (MEDLINE); Literatura Latino Americana do Caribe em

    Cincias da Sade LILACS e Banco de Dados de Enfermagem (BDENF) e outras

    fontes impressas de relevncia no tema.. Para a busca das publicaes foram utilizados

    trs delimitadores: 1) descritor primrio: transtornos alimentares 2) descritor secundrio.

    famlia. 3) Descritor Tercirio: mdia; 4) Ano de publicao: de 2000 a 2009.

    Como critrios de incluso foram: publicaes em portugus que apresentaram

    um ou mais descritores contemplados e que apresentaram os textos completos nas

    verses online.

    Nesta etapa foi realizada uma leitura minuciosa de cada artigo e livro

    selecionado para observar a adequao ao tema, sua relevncia, originalidade e

    profundidade.

    Os dados foram agrupados, avaliados, comparados e categorizados a fim de

    possibilitar sua anlise. Os resultados finais foram apresentados no decorrer da

    pesquisa.

    A anlise das evidncias ocorreu a partir da anlise do contedo dos dados

    coletados e discutidos luz da teoria.

  • 22

    5. RESULTADOS E DISCUSSO

    5.3.1 - Distoro de Imagem

    Uma das caractersticas dos transtornos alimentares a distoro de imagem

    das pessoas acometidas, conforme Saikali (2004) o distrbio da distoro da imagem

    corporal um sintoma nuclear dos transtornos alimentares, caracterizado por uma auto-

    avaliao dos indivduos que sofrem desse transtorno, influenciada pela experincia

    com seu peso e forma corporal. Distores cognitivas relacionadas avaliao do corpo,

    comuns em indivduos com transtornos alimentares, incluem: pensamento dicotmico

    o indivduo pensa em extremos com relao sua aparncia ou muito crtico em

    relao a ela; comparao injusta quando o indivduo compara sua aparncia com

    padres extremos; ateno seletiva focaliza um aspecto da aparncia e erro cognitivo,

    o indivduo acredita que os outros pensam como ele em relao sua aparncia.

    Mesmo encontrando-se em boa forma, pessoas com distoro da imagem

    corporal tendem a esconder-se e evitar o contato com demais pessoas, seja por medo da

    aceitao, seja por no aceitarem a si prprios. Este sentimento faz parte das

    caractersticas de Transtornos Alimentares como Bulimia, Anorexia, Comer

    Compulsivo e tambm, fazem parte do Transtorno Dismrfico Corporal.

    Conforme a DSM IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental

    Disorders) a caracterstica essencial do Transtorno Dismrfico Corporal (historicamente

    conhecido como dismorfofobia) uma preocupao com um defeito na aparncia. O

    defeito imaginado ou, se uma ligeira anomalia fsica est presente, a preocupao do

    indivduo acentuadamente excessiva.

    Esta preocupao pode causar sofrimento significativo ou prejuzo no

    funcionamento social ou ocupacional ou em outras reas importantes da vida do

    indivduo.

    Portanto, a Distoro da Imagem um fator muito comum em pessoas que

    sofrem de algum tipo de Transtorno Alimentar, as mesmas encontram-se fragilizadas

    em relao a sua imagem. Ocorre um tipo de desconforto em relao ao seu defeito,

    propriamente exagerado pelas mesmas. Isto ocorre, porque na maioria das vezes estas

    pessoas no tm um entendimento significativo sobre o que est acontecendo consigo,

    no entendem que o grau de comprometimento e no muito menos que possa ser um

    transtorno, o que faz com que seu sofrimento aumente cada vez mais e que seu quadro

    clnico agrave-se gradativamente podendo levar algumas destas pessoas a morte.

  • 23

    5.3.2 Os transtornos Alimentares

    Os Transtornos Alimentares podem ser classificados de vrias formas, de

    acordo com as especificidades de cada paciente. Pessoas que sofrem de Bulimia

    Nervosa pode-se observar sintomas caractersticos como as aes purgativas, os jejuns

    prolongados, a supresso de refeies, a induo de vmito esporadicamente e o uso de

    atividade fsica exageradamente.

    Os indivduos com Bulimia Nervosa colocam uma nfase excessiva na forma

    ou no peso do corpo em sua auto-avaliao, sendo esses fatores, tipicamente, os mais

    importantes na determinao da auto-estima.

    Muitas vezes esta autocrtica excessiva vem de padres de beleza impostos

    pela mdia, onde a mesma mostra mulheres excessivamente magras com um padro de

    beleza que foge ao da maioria das mulheres ditas comuns o que agrava o caso da

    auto-estima baixa. A maioria das mulheres que sofrem algum tipo de Transtorno

    Alimentar, como por exemplo, a Bulimia Nervosa toma como padro de beleza nica e

    exclusivamente mulheres magrrimas, vistas em desfiles de moda e revistas que

    enfatizam o baixo peso. O que por fim, acaba agravando e aumentando cada vez mais os

    casos de algum tipo de Transtorno Alimentar.

    5.3.3 - Influncia da Mdia

    A mdia muitas vezes tem influncia nos casos de Transtornos Alimentares, a

    mesma acaba induzindo meninas a buscarem um padro de beleza visto em revistas,

    jornais e principalmente na televiso. Conforme Saikali et al (2004) alguns autores

    referem existir evidncias em que a mdia promova distrbios da imagem corporal e

    alimentar. Anlises tm estabelecido que modelos, atrizes e outros cones femininos

    vm se tornando mais magras ao longo das dcadas. Indivduos com transtornos

    alimentares sentem-se pressionados em demasia pela mdia para serem magros e

    reportam terem aprendido tcnicas no-saudveis de controle de peso atravs desse

    veculo.

    Muitas vezes aps negligncias alimentares sugeridas por revistas, as

    adolescentes acabam alimentando-se de forma exagerada. E, aps estas ocasies surgem

    sentimentos de culpa que conseqentemente as levam ao ato de induo de vmitos ou

    outras formas alternativas de diminurem este sentimento de fracasso, por no

  • 24

    conseguirem realizar as dietas ou por comerem exageradamente, conforme seus

    conceitos.

    5.3.4 - Culpa

    Um dos sentimentos que podemos observar em pessoas que sofrem algum tipo

    de Transtorno Alimentar a Culpa. Conforme Bosi e Oliveira (2004) indivduos com

    bulimia nervosa podem consumir grandes quantidades de alimento, especialmente

    quando submetidos situaes de estresse. Para evitar o ganho de peso e aliviar a culpa

    e a vergonha provocadas pelo descontrole alimentar, apresentam comportamentos

    compensatrios. Devido ao carter ''secreto'' desse ritual, a bulimia nervosa de difcil

    diagnstico, sobretudo em sua fase inicial, o que dificulta a preveno e tratamentos

    precoces.

    O simples fato de ingerir alimento faz com que a pessoa sinta-se mal, culpada,

    fora do controle. Culpa-se e se odeia pelo comportamento que no foi capaz de

    controlar. Sua necessidade de desfazer o que acabou de fazer, recorrendo assim aos

    comportamentos alternativos inadequados. Alm do sentimento de culpa, pessoas que

    sofrem de algum tipo de Transtorno Alimentar tm uma grande dificuldade de aceitar-se

    como so, aceitar a sua auto-imagem vista no espelho, causa um sofrimento muito

    grande para os mesmos. A gravidade da Bulimia Nervosa implica quando a pessoa j

    no consegue mais controlar as condies do vmito e o mesmo acontece

    imediatamente aps a ingesta de alimentos. O tratamento pode ser bastante difcil

    quando os casos chegam a esta fase.

    5.3.5 - Auto-aceitao

    Outro sentimento que deve ser levando em conta com sujeitos que sofrem

    algum tipo de Transtorno Alimentar a auto-aceitao. Sentimento este de difcil

    compreenso, tanto por parte da pessoa que sofre o transtorno quanto das pessoas que

    convivem com o doente. Conforme Espnola e Blay (2006) estudos identificam que nem

    sempre as pessoas que sofrem de algum tipo de Transtorno Alimentar tm uma

    percepo bastante clara de sua doena. Esse dado importante, visto que o modo como

    esses sujeitos se auto-avaliam determina o curso do prprio tratamento e de sua

    recuperao. Quanto menos aceitarem que esto doentes e que necessitam de

    tratamento, mais a doena pode evoluir e agravar-se podendo causar males irreversveis.

  • 25

    Conforme o autor citado acima, experincia de uma pessoa com transtorno

    alimentar permeada de mltiplos sentimentos e idias, ora de caractersticas negativas,

    ora positivas. Os pacientes expem um leque de sentimentos negativos em relao aos

    episdios de compulso alimentar. Os mais comuns que so citados so: solido, medo,

    culpa, raiva, tristeza e a no aceitao da doena e de sua imagem.

    Outro fato relevante para a no aceitao ou aceitao da doena o apoio da

    famlia e dos amigos prximos. A famlia um elo fundamental para a recuperao e

    tratamento do Transtorno Alimentar.

    5.5.5.1 - Relao com a Famlia

    A relao com a Famlia foi descrita como um ponto chave no tratamento de

    uma pessoa que sofre um Transtorno Alimentar. O apoio e a compreenso dos mesmos

    so fundamentais para que haja uma evoluo no entendimento e aceitao desta

    doena. Porm, para Grando e Rolim (2005) o comprometimento familiar bastante

    evidente. O sofrimento no fica limitado pessoa portadora. A doena crnica prende

    toda a famlia em sua teia. O sistema familiar como um todo precisa se reorganizar para

    enfrentar a nova realidade e se adaptar s condies de vida engendradas pela doena e

    pelo tratamento. O contato com procedimentos mdicos, tais como consultas, exames e

    abordagens teraputicas diversas, assim como a necessidade de se recorrer

    eventualmente ao ambiente hospitalar em momentos de agravamento do quadro, tudo

    isso gera mudanas na rotina domstica, gerando desorganizao e angstia frente ao

    desconhecido.

    Ainda conforme os autores supracitados a famlia se constitui em elemento

    importante na compreenso das representaes acerca dos transtornos alimentares, uma

    vez que a interiorizao do mundo objetivo vai se dar atravs da transmisso de valores,

    normas, crenas, passados pela famlia que ir produzindo e reproduzindo cultura e

    onde seus membros so educados para viver em determinado tipo de sociedade.

    Quando, por algum motivo esta famlia desestrutura-se, pacientes com

    Transtornos Alimentares tende-se a passar por algum tipo de sofrimento mental, o qual

    leva este mesmo paciente a sentir-se deslocado da sociedade, achando formas

    alternativas de suprirem este sentimento que os corrompem.

  • 26

    5.3.5.2 - Sofrimento Mental

    Uma das caractersticas dos Transtornos Alimentares o sofrimento mental das

    pessoas acometidas por esta doena. Conforme Andrade, Viana e Silveira (2006) a

    conscientizao de que os transtornos mentais representam um srio problema de sade

    pblica relativamente recente, ocorrendo a partir de publicao realizada pela

    Organizao Mundial da Sade e por pesquisadores da Escola de Sade Pblica da

    Universidade de Harvard, em 1994.

    Os transtornos alimentares (TA), particularmente a anorexia e a bulimia

    nervosa, so causas importantes de morbidade e mortalidade em adolescentes do sexo

    feminino e mulheres jovens. Esses transtornos esto associados a conseqncias clnicas

    e psicolgicas devastadoras.

    Os transtornos alimentares so mais prevalentes em adolescentes e adultos

    jovens pertencentes a todos os grupos tnicos, sendo aproximadamente dez vezes mais

    comuns em mulheres que em homens. Antigamente, esses transtornos eram

    relacionados a indivduos de cor branca e de pases industrializados, porm estudos

    recentes tm questionado o papel e importncia de fatores sociais e culturais nos

    transtornos alimentares.

    Estes fatores culturais e sociais so de suma importncia em indivduos que

    possuem Transtorno Alimentar, devido ao fato de que alguns destes fatores podem levar

    estas pessoas a sofrerem algum tipo de isolamento proposital ou no de acordo com sua

    cultura e valores impostos pela sociedade.

    5.3.5.3 - Isolamento

    O isolamento outra caracterstica importante em indivduos que possuem

    Transtorno Alimentar. Conforme Appolinrio e Claudino (2000) o incio dos

    transtornos alimentares marcado por uma restrio diettica progressiva com a

    eliminao de alimentos considerados "engordantes", como os carboidratos. As

    pacientes passam a apresentar certa insatisfao com os seus corpos assim como passam

    a sentirem-se obesas apesar de muitas vezes encontrarem-se emagrecidas (alterao da

    imagem corporal). O medo de engordar uma caracterstica essencial, servindo muitas

    vezes como um diferencial para outros tipos de anorexia secundria a doenas clnicas

    ou psiquitricas. Gradativamente, as pacientes passam a viver exclusivamente em

    funo da dieta, da comida, do peso e da forma corporal, restringindo seu campo de

  • 27

    interesses e levando ao gradativo isolamento social. O curso da doena caracterizado

    por uma perda de peso progressiva e continuada. O padro alimentar vai se tornando

    cada vez mais secreto e muitas vezes at assumindo caractersticas ritualizadas e

    bizarras.

    Conforme os autores acima citados, as adolescentes com Transtornos

    Alimentares experimentam uma variedade de complicaes metablicas e seqelas

    psicossociais, incluindo a co-morbidade com os transtornos afetivos (depresso) e de

    ansiedade. Alm disso, podem apresentar isolamento social decorrente de freqentes

    intercorrncias mdicas, at mesmo a necessidade de internao hospitalar.

    Um dos motivos para este isolamento social pode ser o preconceito sofrido por

    parte de pessoas que no tem o entendimento desta doena. Na maioria das vezes

    pessoas que possuem Transtorno Alimentar isolam-se da sociedade, afastam-se dos

    amigos por no aceitarem-se, por terem uma distoro de sua imagem, o que faz com

    que estimule ainda mais a gerar o preconceito nas outras pessoas.

    5.3.5.4 - Preconceito

    O preconceito outra situao presente nos Transtornos Alimentares. Pessoas

    que j sofrem com esta doena, ainda tm que encarar o preconceito que lhes atinge

    atravs de pessoas que simplesmente no tem o conhecimento do transtorno e ainda

    julgam as mesmas sem saber o porqu do desenvolvimento da doena. Conforme Souto

    e Ferro-Bucher (2006) constatam que as presses para o emagrecimento esto presentes

    na vida de mulheres com TA, tendo surgido de diferentes lugares e pessoas, sendo

    assim, o preconceito e cobrana da aparncia fsica e incentivo social para o

    emagrecimento geram sofrimento e discriminao destas mulheres.

    A discriminao e cobrana so recorrentes na vida de quem sofre algum

    Transtorno Alimentar (SOUTO E FERRO-BUCHER, 2006). Tais situaes repercutem

    negativamente nas vidas das mesmas, contribuindo para a o envolvimento em prticas

    alimentares inadequadas de controle de peso. Os meios de comunicao tambm

    influenciam essas mulheres no incentivo a dietas, veiculando o paradigma de beleza

    imposto, que pressiona a ter um corpo magro. Nas ltimas dcadas, assiste-se a grandes

    mudanas nos padres de beleza, alm de ter se estabelecido um fascnio pela imagem,

    que mediado pelo culto ao corpo. Este, por sua vez, passa a ter um espao privilegiado

    na publicidade.

  • 28

    Pessoas que no possuem este padro de beleza imposto principalmente pela

    mdia, sentem-se discriminadas, seja pelos amigos ou at mesmo pelos prprios

    familiares. Estas situaes, muitas vezes tornam-se agravantes dos Transtornos

    Alimentares.

    5.3.5.5 - A Sociedade e os Transtornos Alimentares

    Conforme Andrade e Bosi (2003) a sociedade determina e impe um padro de

    beleza que, inconscientemente, incorporado. Na busca desse ideal de beleza de um

    corpo perfeito surge, atualmente, uma obsesso para controle e modelagem do corpo,

    alm da preocupao e do medo da obesidade. A nfase da sociedade contempornea no

    ideal de magreza (culto ao corpo), as intensas propagandas na mdia de uma infinidade

    de regimes e de produtos dietticos, bem como o crescimento de academias e do

    nmero de revistas sobre o assunto, fornece ao ambiente sociocultural que justifica a

    perda de peso, trazendo consigo uma simbologia de que a beleza fsica proporcionaria

    autocontrole, poder e "modernidade. Entretanto, essa imagem corporal idealizada um

    padro impossvel ou imprprio, incompatvel para a grande maioria da populao.

    Refletir a respeito da experincia contempornea do corpo identificar que, no

    presente, ele vem operando uma forma de relao com o mundo nos quais preconceitos

    relativos beleza, associados preocupao excessiva com a aparncia e com a sade

    predominam na cultura. De fato, vive-se "em uma poca em que se fala massivamente

    do culto ao corpo (ANDRADI E BOSI, 2003). Sendo assim, h um enorme interesse

    em privilegiar os discursos a respeito do corpo para enfrentar certo desconforto

    decorrente da destradicionalizao e esvaziamento da histria.

  • 29

    6. CONSIDERAES FINAIS

    Com este estudo pode-se vislumbrar na literatura como so apresentados os

    motivos que levam estas adolescentes a desenvolver algum tipo de transtorno alimentar.

    A observao do meio social, as interaes interpessoais, identificao e descrever os

    principais fatores que influenciam na buscar o corpo dito perfeito, para assim melhor

    compreender essas patologias.

    Um dos fatores de grande importncia identificado neste trabalho foi a

    distoro da imagem. Pode-se observar na literatura estudada, que esta caracterstica

    encontra-se fortemente visvel, pois as adolescentes podem evitar sair s ruas, esconder-

    se das pessoas e ao olhar-se ao espelho nunca estando satisfeitas com a imagem vista.

    Esta excessiva preocupao com a imagem ocasiona um grande sofrimento para as

    pessoas que possuem o transtorno alimentar e tambm, para as pessoas que convivem

    com as mesmas.

    Este sofrimento ocorre porque na maioria das vezes a pessoa que sofre do

    transtorno alimentar e as pessoas que convivem com a mesma no possuem um

    entendimento significativo do que a doena o que pode retardar um possvel

    tratamento e agravar assim o quadro clnico da patologia.

    O transtornos alimentares, por se caracterizarem por uma grande preocupao

    com o peso corporal, gerando sofrimento para a pessoa, pois a mesma acredita que

    nunca est em seu peso ideal. Esta nfase na busca do corpo perfeito determinante

    no fator da auto-estima.

    Na maioria das vezes esta nfase no corpo perfeito vem das repercusses da

    mdia. Onde a mesma apresenta todos os dias mulheres magrrimas enfatizando que

    estas tem o padro ideal de beleza. O que acaba por influenciar nos casos de transtornos

    alimentares, fazendo com quem sofre disto acabe por agravar o seu quadro clnico.

    A repercusso da mdia outro ponto importante no desencadeamento dos

    Transtornos Alimentares. A mdia est diretamente ligada nestes transtornos pelo fato

    de enfatizarem todos os dias, atravs dos meios de comunicao, como jornais, revistas

    e televiso o padro de beleza imposto pela mesma e pela sociedade. Onde mulheres

    magrrimas seriam vistas como cones da beleza, fazendo com que, principalmente ns

    mulheres comuns sejamos aprisionadas por esta imposio de beleza dita perfeita.

    Um sentimento que se entrelaa a esta imposio da mdia pela busca do corpo

    perfeito, o sentimento de culpa. Que muitas vezes surgem aps a ingesto de alguma

    quantidade de alimentos dita exagerada.

  • 30

    Este ato de ingerir algum tipo de alimento traz um sentimento de culpa e de

    vergonha to grande que a pessoa que sofre deste transtorno sente uma vontade

    incontrolvel de desfazer o que acabou de fazer, recorrendo assim aos comportamentos

    alternativos inadequados, como por exemplo, a auto-induo de vmitos.

    Outro sentimento que pde-se observar em pessoas que sofrem de algum tipo

    de transtorno alimentar, a falta de auto-aceitao da forma corporal que possui. Na

    maioria das vezes esta situao no compreendida pelas pessoas que fazem parte de

    sua vida, principalmente seus familiares. Este sentimento tambm no compreendido

    por no relacionarem-na com uma doena e de que necessitam de um tratamento

    adequado. Quanto menos compreenderem que esto doentes, mais graves torna-se a

    doena, causando males irreversveis, tanto fsicos quanto psquicos.

    Por isso a famlia torna-se um elo fundamental para quem sofre de transtorno

    alimentar. A ajuda e apoio dos mesmos fazem com que haja uma compreenso e uma

    melhor aceitao desta doena. A totalidade dos autores pesquisados referiu que o

    transtorno alimentar no envolve somente a pessoa doente, mas sim toda a famlia, pois

    os mesmo necessitam adaptar-se a nova realidade em que esto inseridos.

    Estudos pesquisados no decorrer do trabalho mostraram que, quando famlias

    se desestruturam no decorrer da doena, a pessoa portadora de mesma piora do seu

    sofrimento mental por sentir-se excluda e desamparada.

    Este sofrimento mental passa a ser um fator importante para quem possui

    algum tipo de Transtorno Alimentar. Este sofrimento juntamente com o transtorno

    alimentar, trazem conseqncias clnicas e psicolgicas devastadoras para quem sofre

    desta doena, conforme estudos realizados. Desta forma estes agravos representam um

    srio problema de sade pblica.

    Uma destas conseqncias o isolamento que podem ser ou no proposital.

    Este isolamento pode ser por motivos sociais e culturais do individuo que possui a

    doena. A pessoa que possui o transtorno alimentar passa a viver exclusivamente em

    funo de dietas, do peso e da forma corporal, o que consequentemente acarreta em um

    isolamento social, por no sentir-se bem com a sua forma fsica e por sentir vergonha de

    se expor para a sociedade com medo de sofrer algum tipo de preconceito.

    O preconceito torna-se outro fator importantssimo o qual ocorre

    principalmente por parte de pessoas que no possuem um entendimento adequado do

    que esta doena, podendo repercutir to negativamente na vida de quem sofre o

    mesmo, que acaba por fazer com que estas pessoas que possuem o transtorno alimentar

    recorram, novamente a prticas inadequadas de controle de peso e que continuem

  • 31

    isolando-se da sociedade a fim de amenizar este sentimento de culpa e esta rejeio

    sofrida pelos mesmo.

    Esta mesma sociedade que julga e impes padres de beleza, torna-se outro

    fator importante nos Transtornos Alimentares. Na maioria das vezes esta imposio de

    um padro de beleza ideal inconsequentemente, aceito por grande parte da populao.

    Este culto ao corpo, enfatizado pela mdia traz consigo uma simbologia de que a beleza

    fsica proporciona poder para quem a possui. O que na maioria das vezes esquecem, de

    que esta imagem corporal idealizada um padro inalcanvel para a maioria da

    populao.

    Portanto, neste trabalho realizado pode-se constatar o quanto pessoas que

    possuem Transtornos Alimentares sofrem com esta doena. Na maioria das vezes por

    no aceitarem que esto doentes e que necessitam de tratamento adequado. A famlia

    tambm, foi outro fator importante para a concluso deste estudo, se vislumbra observar

    o quo importantes so na evoluo e aceitao do transtorno vivido. Enfim, com o

    desenvolvimento deste trabalho espera-se contribuir e acrescentar no conhecimento da

    rea de sade mental, a fim de refletir acerca das repercusses que a busca pelo dito

    corpo perfeito podem causar.

  • 32

    7. CRONOGRAMA

    Set 2009

    Out 2009

    Nov 2009

    Dez 2009

    Mar 2010

    Abr 2010

    Mai 2010

    Jun 2010

    Jul 2010

    Ago 2010

    Set 2010

    Out 2010

    Nov 2010

    Dez 2010

    Jan 2011

    Fev 2011

    Discusses

    sobre o tema X

    Delimitao

    do tema X X

    Construo do

    Projeto de

    TCC

    X X

    Reviso de

    Literatura X X X X X X X

    Apresentao

    do projeto

    para banca

    X

    Realizar as

    correes

    sugeridas

    X

    Entrega do

    Projeto final

    do TCC

    X

    Coleta de

    dados X X

    Compilao

    dos dados X X

    Anlise dos

    dados X

    Elaborao do

    TCC X X

    Apresentao

    para Banca X

    Realizao

    das correes

    sugeridas pela

    banca

    X X

    Elaborao da

    verso final X X

    Elaborao de

    artigo

    cientfico

    X X

  • 33

    REFERNCIAS

    ANDRADE, Angela; BOSI, Maria Lcia Magalhes. Mdia e subjetividade: impacto no

    comportamento alimentar feminino; Rev. Nutr. vol.16 no.1 Campinas Jan./Mar. 2003;

    Disponvel em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-

    52732003000100012&lng=en&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 01/12/09.

    ANDRADE, Laura Helena S. G., VIANA, Maria Carmem, SILVEIRA, Camila

    Magalhes. Epidemiologia dos Transtornos Psiquitricos na Mulher. Ver. Psiquiatr.

    Cln. Vol.33 no.2 So Paulo 2006. Disponvel em

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-

    60832006000200003&script=sci_arttext&tlng=es. Acesso em: 01/07/2010.

    APPOLINRIO, Jos Carlos, CLAUDINO, Anglica M. Transtornos Alimentares. Ver.

    Brs. Psiquiatr. Vol.22 s.2 So Paulo Dec. 2000. Disponvel em

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-

    44462000000600008&script=sci_arttext&tlng=en. Acesso em 01/07/2010.

    AZEVEDO, A.M.C., MORGAN, C.M. Aspectos Socioculturais dos Transtornos

    Alimentares Psychiatry on line Brazil (3) Fevereiro So Paulo, 1998 Disponvel em: http://www.polbr.med.br/arquivo/culture.htm Acesso em: 10/11/2009.

    BOSI, Maria Lcia Magalhes, OLIVEIRA, Ftima Palha. Comportamentos Bulmicos

    em atletas adolescentes corredoras de fundo, Rev. Brs. Psiquiatra. Vol.26 no.1 So

    Paulo Mar 2004. Disponvel em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-

    44462004000100009&script=sci_arttext&tlng=es. Acesso em: 01/07/2010.

    BOURDIEU, P. Sobre a televiso, seguido de A influncia do jornalismo e Os jogos

    Olmpicos. Rio de Janeiro : Zahar, 1997. 143p.

    DSM-IV. Diponivel em: http://www.psicologia.com.pt/instrumentos/dsm_cid/dsm.php,

    acesso em: 28/10/09.

    ESPNDOLA, Cybele Ribeiro, BLAY, Srgio Luis. Bulimia e Transtorno de

    Compulso Alimentar Peridica: Reviso Sistemtica e Metessntese, Ver. Psiquiatr.

    Rio Gd. Sul Vol28 no.3 Porto Alegre Sept./Dec 2006. Disponvel em

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-

    81082006000300006&script=sci_arttext&tlng=em. Acesso em: 01/07/2010.

    GRANDO, Lucia Helena; ROLIM Marli Alves. Famlia e transtornos alimentares: as

    representaes dos profissionais de enfermagem de uma instituio universitria de

    ateno sade mental, Rev. Latino-Am. Enfermagem vol.13 no.6 Ribeiro

    Preto Nov./Dec. 2005;; Disponvel em:

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

    11692005000600011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt, Acesso 01/12/09

    GUIDDENS, Anthony. A transformao da intimidade. Sexualidade, amor e erotismo

    na sociedade moderna. Disponvel em: http://books.google.com.br/books?hl=pt-

  • 34

    BR&lr=&id=O28DBmHWICMC&oi=fnd&pg=PA7&dq=anthony+giddens&ots=zKkE

    Y6_nfB&sig=T1o2NCWe421_CnxV7HOTW2A2OWI#v=onepage&q=&f=false.

    Acesso em: 30/11/09.

    IDA, Sheila Weremchuk; SILVA, Rosane Neves Transtornos alimentares: uma

    perspectiva social;

    Rev. Mal-Estar Subj. v.7 n.2 Fortaleza set. 2007; Disponvel em: http://scielo.bvs-

    psi.org.br/scielo.php?pid=S1518-61482007000200010&script=sci_arttext&tlng=pt

    Acesso em: 02/12/09

    MINAYO, Maria Ceclia de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria

    Ceclia de Souza. Pesquisa social: teoria, mtodo e criatividade. 28.ed. Petrpolis:

    Vozes, 2009.

    MINISTERIO DA SAUDE. Conselho Nacional de Sade. Comisso Nacional de tica

    em Pesquisa CONEP. Resoluo n 196/96: sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Braslia, DF 1996.

    MORGANA, Christina; VECCHIATTIA,

    Ilka Ramalho; NEGRO, Andr Brooking.

    Etiologia dos transtornos alimentares: aspectos biolgicos, psicolgicos e scio-

    culturais; Rev. Bras. Psiquiatr. vol.24 suppl.3 So Paulo Dec. 2002; Disponvel em:

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-

    44462002000700005&tlng=en&lng=en&nrm=iso Acesso em: 01/12/09

    SAIKALI, Carolina Jabur; SOUBHIA, Camila Saliba; SCALFARO, Bianca Messina;

    CORDAS, Tki Athanssios. Imagem corporal nos transtornos alimentares, Rev.

    psiquiatr. cln. vol.31 no.4 So Paulo 2004,.Disponvel em:

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-

    60832004000400006&script=sci_arttext&tlng=pt Acesso em: 01/12/09

    SANTOS, Manoel Antnio; OLIVEIRA, rika Arantes; MOSCHETA, Murilo dos

    Santos; RIBEIRO, Rosane Pilot Pessa; SANTOS, Jos Ernesto. Mulheres plenas de vazio": os aspectos familiares da anorexia nervosa; Vnculo v.1 n.1 So

    Paulo dez. 2004; Disponvel em: http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?pid=S1806-

    24902004000100008&script=sci_arttext; Acesso em 02/12/09.

    SOUTO, Silvana; FERRO-BUCHER Jlia Sursis Nobre. Prticas indiscriminadas de

    dietas de emagrecimento e o desenvolvimento de transtornos alimentares; Rev.

    Nutr. vol.19 no.6 Campinas Nov./Dec. 2006; Disponvel em:

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-

    52732006000600006&tlng=en&lng=en&nrm=iso Acesso em: 01/12/09.

    WEINBERG Cybelle, CORDAS Athanassios Taki; Do altar as Passarelas;,Agosto de

    2006, pg 16- 17, Editora Annablume , So Paulo.