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FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional Programa Amazônia Núcleo de Desenvolvimento Local Projeto Demonstrativo Gurupá _________________________________________________________________________________________ 1 Proposta de Manejo Florestal Direcionado ao Pau-mulato (Calycophyllum spruceanum Benth.) para as Várzeas do Estuário Amazônico 1 . Carlos Augusto Pantoja Ramos 2 1. Introdução As florestas tropicais de várzea na Amazônia, apesar de apresentarem um porte menos expressivo quando comparadas às matas de terra firme, contribuem com um número considerável de espécies de valor madeireiro. A forma de exploração desses recursos, no entanto, se encontra ainda em estado bastante rudimentar, predatória acima de tudo e sem garantia de sustentabilidade produtiva, o que coloca em risco a manutenção do equilíbrio ecológico das áreas florestais de várzea, agravada pela alta seletividade comercial em torno de um contingente restrito de espécies, deixando de lado muitas outras de potencial madeirável. Exemplos da alta intensidade de exploração e consequentemente, diminuição da quantidade de indivíduos em determinadas espécies podem ser verificadas para a ucuúba (Virola sp), sumaúma (Ceiba pentandra) e macacaúba (Platymiscium filipes Benth.), segundo o relato de moradores das várzeas de Gurupá- Pa. A situação de ameaça ao equilíbrio dessas essências florestais tem originado diversas discussões sobre alternativas de controle e uso racional da exploração em várzeas, colaborando para a criação de leis restritivas ao seu uso, como o caso do contingenciamento da ucuúba 3 , uma tentativa de manutenção dos estoques florestais dessa espécie. A silvicultura, uma das maneiras de utilização sustentável da mata, praticamente não existe nas áreas de várzea, salvo em povoamentos florestais plantados e conduzidos por algumas empresas estabelecidas na região. Porém, em relação ao manejo de espécies em florestas nativas, há uma enorme carência de estudos e resultados que visem maximizar a produção e desenvolvimento de essências florestais voltados para atendimento do setor madeireiro e para a permanência de famílias agroextrativistas que há gerações convivem posseum na floresta, o seu modo de ganhar a vida. O pau-mulato (Calycophyllum spruceanum Benth.) é uma dessas espécies bastante demandadas pela indústria madeireira nas áreas varzeiras do estuário amazônico, ocupando, por exemplo, no Estado do Amapá, a terceira colocação entre as espécies mais exploradas (ITTO, 1999). Entre suas principais características estão o rápido crescimento e o comportamento heliófilo, que o faz possuir notável capacidade quantitativa de regeneração natural em clareiras na mata. Tais particularidades, somadas ao já existente mercado que absorve a madeira oriunda do pau-mulato, torna a espécie promissora para o acréscimo de renda dos habitantes das várzeas. Para que isso ocorra, contudo, são necessários métodos silviculturais adequados que assegurem a exploração contínua da espécie como mecanismo de abrandamento da pressão madeireira à floresta nativa. Portanto, este artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de manejo do pau-mulato para trabalhadores agroextrativistas das várzeas estuarinas, garantindo a sustentabilidade de seu aproveitamento madeireiro. Para tal conjunto de ações sugeridas, foram retirados exemplos que sendo vem realizados em comunidades do município de Gurupá, no estado do Pará. 1 Texto escrito em maio de 2005. 2 Engenheiro Florestal, MSc., Engenheiro Florestal da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) - Projeto Demonstrativo Gurupá no período de 2000 a 2009. E-mail para contato: [email protected] 3 Instrução Normativa Nº 1 de 8 de janeiro de 1999.

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Proposta de Manejo Florestal Direcionado ao Pau-mulato (Calycophyllum

spruceanum Benth.) para as Várzeas do Estuário Amazônico1.

Carlos Augusto Pantoja Ramos2

1. Introdução

As florestas tropicais de várzea na Amazônia, apesar de apresentarem um porte menos expressivo quando comparadas às matas de terra firme, contribuem com um número considerável de espécies de valor madeireiro. A forma de exploração desses recursos, no entanto, se encontra ainda em estado bastante rudimentar, predatória acima de tudo e sem garantia de sustentabilidade produtiva, o que coloca em risco a manutenção do equilíbrio ecológico das áreas florestais de várzea, agravada pela alta seletividade comercial em torno de um contingente restrito de espécies, deixando de lado muitas outras de potencial madeirável. Exemplos da alta intensidade de exploração e consequentemente, diminuição da quantidade de indivíduos em determinadas espécies podem ser verificadas para a ucuúba (Virola sp), sumaúma (Ceiba pentandra) e macacaúba (Platymiscium filipes Benth.), segundo o relato de moradores das várzeas de Gurupá-Pa.

A situação de ameaça ao equilíbrio dessas essências florestais tem originado diversas discussões sobre alternativas de controle e uso racional da exploração em várzeas, colaborando para a criação de leis restritivas ao seu uso, como o caso do contingenciamento da ucuúba3, uma tentativa de manutenção dos estoques florestais dessa espécie.

A silvicultura, uma das maneiras de utilização sustentável da mata, praticamente não existe nas áreas de várzea, salvo em povoamentos florestais plantados e conduzidos por algumas empresas estabelecidas na região. Porém, em relação ao manejo de espécies em florestas nativas, há uma enorme carência de estudos e resultados que visem maximizar a produção e desenvolvimento de essências florestais voltados para atendimento do setor madeireiro e para a permanência de famílias agroextrativistas que há gerações convivem posseum na floresta, o seu modo de ganhar a vida.

O pau-mulato (Calycophyllum spruceanum Benth.) é uma dessas espécies bastante demandadas pela indústria madeireira nas áreas varzeiras do estuário amazônico, ocupando, por exemplo, no Estado do Amapá, a terceira colocação entre as espécies mais exploradas (ITTO, 1999). Entre suas principais características estão o rápido crescimento e o comportamento heliófilo, que o faz possuir notável capacidade quantitativa de regeneração natural em clareiras na mata. Tais particularidades, somadas ao já existente mercado que absorve a madeira oriunda do pau-mulato, torna a espécie promissora para o acréscimo de renda dos habitantes das várzeas.

Para que isso ocorra, contudo, são necessários métodos silviculturais adequados que assegurem a exploração contínua da espécie como mecanismo de abrandamento da pressão madeireira à floresta nativa.

Portanto, este artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de manejo do pau-mulato para trabalhadores agroextrativistas das várzeas estuarinas, garantindo a sustentabilidade de seu aproveitamento madeireiro. Para tal conjunto de ações sugeridas, foram retirados exemplos que sendo vem realizados em comunidades do município de Gurupá, no estado do Pará.

1 Texto escrito em maio de 2005. 2 Engenheiro Florestal, MSc., Engenheiro Florestal da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) - Projeto Demonstrativo Gurupá no período de 2000 a 2009. E-mail para contato: [email protected]

3 Instrução Normativa Nº 1 de 8 de janeiro de 1999.

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2. Informações gerais sobre a espécie

2.1. Descrição da árvore e área de ocorrência

Rizzini (1990) descreve a espécie Calycophyllum spruceanum Benth., pertencente à família Rubiaceae, como a árvore maior e mais difundida do gênero, notável pelo tronco retilíneo, revestido de fina casca muito lisa, verde quando nova, parda em seguida, delgada e escorregadia (Figura 1).

Figura 1 – árvore de pau-mulato. Fonte: FASE Gurupá

A área de ocorrência é em toda a Amazônia, sendo especialmente distribuída no Alto e ao longo do rio Amazonas (Rizzini, 1990), nas várzeas e especificamente em florestas secundárias ou capoeiras (Oliveira, 1994), mudando o nome vulgar à medida que se caminha para a foz, ou seja, de capirona (no Peru), mulateiro (Estado do Amazonas) até pau-mulato (estuário do rio Amazonas). Nas várzeas do estuário e da costa amapaense, a espécie aparece bastante associadas aos quintais agroflorestais (Rosa et al., 1998a, 1998b).

Até meados do século XIX, o mulateiro era abundante ao longo do rio Amazonas, aparecendo desde a região dos Andes. Com a exploração intensiva da espécie, sobretudo na década de 30 deste século, o número de indivíduos diminuiu drasticamente (Smith, 1999), porém, sem colocar em risco a existência do pau-mulato.

2.2. Flor, Frutos e Floração

Segundo Oliveira et al. (1992), a espécie apresenta flor pequena, branca, hermafrodita e polinizada por pequenos insetos (Figura 2). Como uma espécie pioneira, apresenta sementes aladas, inclusa em fruto em forma de cápsulas com aproximadamente 1 cm de comprimento. Sua floração ocorre em Julho-Agosto na zona de origem (Rizzini,1990), mas vale lembrar que de acordo com o clima de cada região, o período de floração pode mudar. A reprodução de mudas pode ser ainda obtida por rebrotação.

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Figura 2 – Floração do pau-mulato. Fonte: FASE Gurupá

2.3. Características da madeira

Chichingnoud et al. (1990) detalha a madeira de pau-mulato como sendo de alburno indistinguível, com cerne de cor bege a bege avermelhado uniforme. Direção das fibras reta ou ligeiramente curvadas, com grã muito fina. Apresenta-se ainda com pouca lustrosidade e superfície lisa.

A madeira da espécie, para a transformação, necessita de uma serra potente para sua serragem (Chichingnoud et al.,1990), pois é dura e compacta. Apesar disso, apresenta rasgos de raios leves. O pau-mulato ainda possui resistência classificada como média para fungos e térmites (Chichingnoud et al.,1990). Contudo, é bastante resistente à intempéries.

O emprego madeireiro do Calycophyllum spruceanum Benth. se faz para a obtenção de cabos de ferramentas, marcenaria, esculturas, arcos, objetos de precisão e esquadrias. Pode fornecer ainda celulose para produção de papel. Na região estuarina do rio Amazonas, os ribeirinhos utilizam o pau-mulato também para fabricação de remédios caseiros, usando principalmente a casca (Rosa et al.,1998a, 1998b).

2.4. Mercado

O pau-mulato tem boa aceitação no mercado. No Estado do Amapá, por exemplo, a espécie ocupa o terceiro lugar na listagem das espécies com maior volume liberadas para exploração (ITTO, 1999), conforme demonstrado na Tabela 1 e Figura 3.

Tabela 1 - Lista das 10 das espécies de várzea com maior volume liberadas para a exploração no Estado do Amapá. Fonte: ITTO (1999).

Espécie Volume autorizado para a exploração (m3)

Andiroba 166.347 Virola 130.103 Pau-mulato 67.542 Pracuúba 62.094 Macacaúba 32.071 Assacu 30.316 Taperebá 28.153 Jutaí 20.733 Louro 20.093 Cumaru 19.327 Total 576.779

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Figura 3 - Participação do volume de exploração autorizado por espécie no Estado do Amapá. Fonte: ITTO (1999)

No Estado do Pará, o pau-mulato não possui o mesmo grau de importância para as indústrias locais. Esse fato pode ser explicado pela preferência das espécies ocorrentes em florestas de terra firme, bem mais numerosas e com maior facilidade de extração. No caso amapaense, o pau-mulato tem destaque pela grande extensão das áreas de várzea que existem naquele Estado.

No Estado do Acre, o mulateiro também vem sendo explorado de forma extensiva. Sua exploração se faz através de uma relação entre o produtor e o madeireiro (Oliveira et al., 1994). Ainda segundo esse autor, nesse processo cabe ao madeireiro derrubar árvores e cortar os pranchões, deixando a parte acertada com o produtor. Normalmente, o acordo é feito em meio a meio, com o proprietário ficando com a sua metade na forma de pranchões ou com valores em dinheiro ou mercadorias.

4. Proposta de Manejo do pau-mulato

O ribeirinho pratica a agricultura itinerante em suas terras. Isso significa que o processo consiste no sistema queima-roça-plantio-abandono (pousio) das áreas a serem cultivadas. Após o abandono, o que se forma é uma vegetação secundária ou "capoeira", composta por espécies de crescimento rápido, heliófilas, inclusive pelo pau-mulato. Essas capoeiras se distribuem normalmente por toda a posse, de acordo com o senso do ribeirinho, sendo novamente utilizadas para a agricultura após alguns anos de pousio.

Agora, imaginando que na nova formação florestal se aplique técnicas de manejo direcionadas, o que aconteceria? A resposta dessa indagação, observando criteriosamente as etapas da metodologia e a realidade local, seria a eliminação ou envenenamento sistemático dos indivíduos não desejáveis em benefício do desenvolvimento da espécie em estudo, conforme demonstrado na Figura 4.

Outras30%

Andiroba20%

Pracuúba8%

Assacu4%

Jutaí3%

Louro2%

Macacaúba4%

Virola16%

Pau mulato8%

Taperebá3%

Cumaru2%

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Figura 4 – Aplicação do Sistema de Manejo.

A conseqüência dessa operação seria o crescimento de mini-florestas pontuais, distribuídas por toda a posse do produtor, formadas nesse instante por indivíduos de pau-mulato e outras espécies de semelhante comportamento, conforme o objetivo do empreendimento, reaproveitando uma área abandonada pelo trabalhador rural, que durante o pousio da agricultura será valorizada como uma floresta produtora de renda e não apenas para recuperação de fitomassa.

Ao nível de trabalhador rural, o que prevalece na exploração do pau-mulato é a aplicação de técnicas simples para a derruba das espécies madeireiras, selecionando árvores com diâmetro e qualidade condizente à sua realidade de arraste e processamento, ou seja, troncos retilíneos e com diâmetros entre os 40 e 75 cm à altura do peito do medidor. Implementando o manejo do pau mulato através do aproveitamento de capoeiras abandonadas, sugere-se a adoção das seguintes etapas:

(a) Abertura da floresta e delimitação da área

A abertura da mata, como dito anteriormente, será realizada pelas práticas de corte e queima durante a criação dos roçados. Uma vez abandonada e separada para pousio, a capoeira formada será delimitada4 para a determinação da área de manejo do pau mulato.

(b) Inventário do estoque natural de pau-mulato

Uma vez demarcada o local de trabalho, é feita a contagem dos indivíduos que fazem parte da regeneração natural (plântulas e mudas estabelecidas), contando-se todos os mulateiros com

4 É importante ressaltar que como se trata de um estudo de simulação, sua aplicação na prática requer bom senso durante a decisão do tamanho necessário para a área do manejo. Recomenda-se então o uso de, no máximo 1 ha, de área manejada. A partir do aparecimento de resultados positivos, conforme o caso, pode-se aumentá-la.

1

Cultivo agrícola

Capoeira formada durante o pousio

2

Indivíduos de pau-mulato após a implantação do sistema

Área do produtor

3

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DIÂMETRO À ALTURA DO PEITO (DAP) abaixo de 3 cm para averiguação da existência de estoque regenerativo suficiente na área (banco de plântulas) por amostragem5. Por amostragem também é realizado o inventário dos indivíduos entre 3 e 15 cm de DAP. A Figura 5 esquematiza o levantamento do estoque do mulateiro na área de manejo.

Figura 5 – Esquematização das parcelas na área de manejo de pau mulato para levantamento da regeneração natural

(c) Eliminação das espécies indesejáveis

A próxima etapa do processo de manejo é a retirada dos indivíduos que não farão parte da nova fisionomia vegetal requerida. A eliminação seguirá basicamente duas fases: i) exclusão total e rápida das espécies invasoras na área para diminuição da competição com a regeneração do mulateiro; ii) eliminação gradual dos indivíduos indesejáveis de maior porte por anelamento6.

(d) Condução do povoamento

Para conduzir de maneira eficaz o povoamento florestal formado, é necessário que haja constantemente na comunidade atividades de sensibilização para não existir desmotivação no processo, corroborados com o acompanhamento técnico das atividades. Desse modo, reuniões e

5 O levantamento por amostragem da regeneração natural é optado para atender a disponibilidade de tempo do ribeirinho para outras atividades e pelo menor custo oferecido. Em outras palavras, conforme a linguagem do pequeno produtor “apenas para dar uma noção”. 6 A permanência de outras espécies de valor na área, como açaí, virola, macacaúba, etc., dependerá da preferência do pequeno produtor. O importante é eliminar o quanto possível a competição por nutrientes e principalmente permitir a entrada de luz para o desenvolvimento dos indivíduos de pau mulato.

10

DAP>15

100

100 m

Área de manejo

5 m

3 cm<DAP<15

DAP<3 cm

2 m

10

5 m

2 m

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cursos, mesmo que sejam apenas para reciclagem, além de visitas periódicas para avaliação são importantes para a manutenção do sistema de tarefas entre os comunitários.

No caso de desbaste e espaçamento para paus-mulatos de até 4 anos de idade, não é necessário ainda haver a concentração de atividades em desbastes e na determinação de espaçamentos entre as arvoretas de pau-mulato, pois as mesmas necessitam de uma certa competição entre si por luz para chegar à altura desejada para a exploração. Acompanhamentos realizados na ilha de Santa Bárbara, Gurupá, pela equipe da FASE, tem demonstrado alturas médias de 5 a 6 metros para povoamentos naturais de 4 a 5 anos de idade (Figura 6).

Figura 6 – Povoamento de pau-mulato na ilha de Santa Bárbara, Gurupá, Pará, com aproximadamente 4 anos de idade e alturas variando entre 5 a 6 metros. Destaque para a presença de açaizeiros à direita da foto, o

que demonstra um consórcio florestal. Fonte: FASE Gurupá

Para espaçamento e desbaste em indivíduos acima de 4 anos e menores que 7 anos, os mulateiros já estarão com uma altura acima de 4 metros e já poderão ter seu primeiro desbaste. Separando os melhores indivíduos, pode-se deixar as árvores com uma distância entre si de 1,5 metros (cerca de dois passos largos) para que os que ficarem possam ter espaço para crescerem em diâmetro ou grossura (Figuras 7 e 8). É importante também retirar os cipós e as plantas que estiverem atrapalhando o desenvolvimento dos paus-mulatos.

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Figura 7 – Desbastes dos paus-mulatos na área de manejo localizada na ilha de Santa Bárbara – Curso de Manejo de Pau-mulato. Fonte: FASE Gurupá

Figura 8 – Jovem demonstrando o espaçamento inicial de mulateiros durante o curso de manejo, Santa Bárbara. Fonte: FASE Gurupá

Outro ponto a ser destacado é a limpeza periódica da área de um modo geral. Sem isso, os resultados tendem a demorar a aparecer, principalmente porque se trabalha com valores e metas de incremento volumétrico anual. Assim, qualquer concorrência por nutrientes ou luz, irá dificultar e consequentemente atrasar os diâmetros de corte que se pretendem alcançar, como nos casos de presença de cipós nos indivíduos. Além disso, com a retirada da vegetação não desejável, fica facilitada a locomoção dentro do povamento e melhora a visibilidade terreno adentro, ajudando a evitar acidentes com animais peçonhentos.

(e) Incremento volumétrico médio anual pretendido

Para que o manejo de espécies de rápido crescimento em várzeas seja viável a nível tanto a nível econômico quanto ambiental e social, é necessário que os resultados do processo de condução possam em um período relativamente curto, ou seja, o tempo de pousio de uma capoeira, gerar um volume de madeira suficiente para justificar o empreendimento.

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Desse modo, admitindo que um ribeirinho mantenha a antiga área cultivada em um pousio de oito anos7, e que já existam na área indivíduos de pau mulato, pode-se esperar que em oito anos sejam alcançados valores de diâmetros dentro de limites de comercialização. Exemplificando: se uma arvoreta da capoeira possui 10 cm de diâmetro, pode-se aplicar o método sugerido para ao final do tempo estabelecido, poder se chegar a 26 cm de DAP, considerando um aumento diamétrico anual de 2 cm.ano-1. O paricá (Schizolobium amazonicum (Huber) Ducke), por exemplo, que possui também comportamento heliófilo como o pau-mulato, segundo (Rondon, 2002), cresce 2,26 cm.ano-1. Os resultados dos estudos de crescimento das áreas manejadas de pau-mulato, atualmente em execução, darão suporte para definir as vantagens da condução do pau-mulato em relação à capoeiras sem manejo.

8. Considerações finais

O pau mulato (Calycophyllum spruceanum Benth.), pelas suas características de crescimento e distribuição, representa um grande potencial de manejo para as áreas de várzeas estuarinas na Amazônia além de alternativa para diminuir a rapacidade das demais espécies florestais da região. Organizando a sua floresta, os produtores podem concentrar suas ações áreas para fins de exploração, conservando o restando de sua mata. No entanto, para o bom aproveitamento desse recurso natural é necessária a busca de métodos silviculturais adequados à espécie que possam garantir a sua sustentabilidade.

Para que essa categoria de manejo tenha sucesso, é importante ressaltar a importância da organização em cooperativas ou associações para os habitantes locais em relação ao sistema adotado, pois são fundamentais para o seu êxito, principalmente na comercialização da madeira extraída, a divisão dos benefícios conseguidos e a resolução de conflitos existentes. Assim, com a mentalidade de otimizar o uso florestal através de exemplos como o manejo do pau-mulato e organizando-se para as demais utilizações da floresta (uso-múltiplo) pode-se, ao final, iniciar os ribeirinhos das várzeas na qualidade de produtores florestais, valorizando sua terra e permanecendo em seus locais de origem.

9. Referências Bibliográficas

Chichingnoud, M.; Déon, G.; Détienne, P.; Parant, B.; Vantomme. P. 1990. Atlas de maderas tropicales de América Latina. Centre Technique Forestier Tropical. 218p.

ITTO. , 1999. Curso de disseminação e treinamento nas diretrizes e critérios da ITTO: Fase II, Estágio 2. Macapá.

Oliveira, M.V.N. d'. 1994. Composição florística e potenciais madeireiros e extrativista em uma área de floresta no Estado do Acre. Rio Branco: EMBRAPA-CPAF-Acre. 42p. (EMBRAPA-CPAF-Acre. Boletim de pesquisa, 9).

Oliveira, M.V.N.d'; Mendes, I.M. da S.; Silveira, G. da S. 1992. Estudo do mulateiro, Calycophyllum spruceanum Benth., em condições de ocorrência natural e em plantios homogêneos. Rio Branco: EMBRAPA-CPAF-Acre. 17p. (EMBRAPA-CPAF-Acre. Boletim de pesquisa, 8).

Rizzini, C.T. 1990. Árvores e madeiras úteis do Brasil: manual de dendrologia brasileira. São Paulo: Edgard Blucher, p.193-195.

7 Na verdade, esse tempo varia conforme a necessidade do produtor. No entanto, toma-se o período de 8 anos a partir da justificativa que é um valor mínimo para a implantação de uma paisagem florestal.

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Rosa, L. dos S.; Cruz, H. da S.; Tourinho, M.M.; Ramos, C.A.P. 1998. Caracterização dos quintais agroflorestais localizados nas várzeas do Estuário Amazônico. Congresso Brasileiro em Sistemas Agroflorestais, 2., 1998., Belém-PA. Resumos expandidos. Belém: EMBRAPA-CPATU, 161-163p.

Rosa, L. dos S.; Cruz, H. da S.; Tourinho, M.M.; Ramos, C.A.P. 1998. Aspectos estruturais e funcionais dos quintais agroflorestais localizados nas várzeas da Costa Amapaense. Congresso Brasileiro em Sistemas Agroflorestais, 2., 1998., Belém-PA. Resumos expandidos. Belém: EMBRAPA-CPATU, 164-166p. 1998.

Rondon, E. V. Produto de biomassa e crescimento de árvores de Schizolobium amazonicum (Huber) Ducke sob diferentes espaçamentos na região de mata. Revista Árvore, Vol 26, nº 5, setembro-outubro de 2002.

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