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Complexo Agroindustrial da Ovinocaprinocultura Brasileira BENCHMARKING INTERNACIONAL

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Complexo Agroindustrial da Ovinocaprinocultura Brasileira

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complexo agroindustrial da

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REALIZAÇÃOSEBRAE/PB - Serviço de Apoio à Micro e Peque-na Empresa do Estado da Paraiba.Avenida Maranhão, 983 - Bairro dos EstadosJoão Pessoa-Paraíba, CEP: 50030-261 Telefone: 55 83 2108 1100www.sebraepb.com.br

Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorCoordenação Geral de AgronegóciosEsplanada dos Ministérios, Bloco J, sala 421 Brasília-Distrito Federal, CEP: 70053-900Telefone: 55 61 2027 8093www.desenvolvimento.gov.br

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REINO UNIDO, ESPANHA, AUSTRÁLIA, NOVA ZELÂNDIA e URUGUAI

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ESTUDO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL OVINOCAPRINOCULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CADEIAS PRODUTIVAS DA CAPRINOCULTURA E OVINOCULTURA DE CORTE NO BRASIL

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ÍNDICEAPRESENTAÇÃO ........................................................................................................... 7

1. INTRODUÇÃO - CENÁRIO BRASIL ............................................................................. 9

2. CENÁRIO DA OVINOCULTURA E DA CAPRINOCULTURA DE CORTE NO BRASIL ... 132.1. Coordenação institucional e governança .................................................... 132.2. Integração da cadeia produtiva ................................................................... 152.3. Perfil e participação da indústria frigorífica ................................................ 162.4. Mercado doméstico e incentivo ao consumo ............................................. 172.5. Sistemas de produção e sanidade animal .................................................. 182.6. Pesquisa, assistência técnica e extensão rural .......................................... 22

3. RELATÓRIO BENCHMARKING INTERNACIONAL ..................................................... 233.1. Indicadores analisados ................................................................................ 253.2. Instituições visitadas ................................................................................... 253.3. Reino Unido .................................................................................................. 273.4. Espanha ........................................................................................................ 333.5. Austrália ....................................................................................................... 383.6. Nova Zelândia ............................................................................................... 423.7. Uruguai ......................................................................................................... 49

4. SOLUÇÕES ENCONTRADAS NA AÇÃO DE BENCHMARKING INTERNACIONAL ... 554.1. Introdução – cenário internacional.............................................................. 554.2. Coordenação institucional e governança .................................................... 574.3. Integração da cadeia produtiva ................................................................... 604.4. Perfil e atuação da indústria frigorífica ....................................................... 624.5. Mercado doméstico e incentivo ao consumo ............................................. 654.6. Sistemas de produção e sanidade animal .................................................. 684.7. Pesquisa, assistência técnica e extensão rural .......................................... 71

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5. COMENTÁRIOS FINAIS E LIÇÕES APRENDIDAS ...................................................... 75

6. PROPOSTA DE AÇÕES PARA AS CADEIAS PRODUTIVAS DA CAPRINOCULTURA E DA OVINOCULTURA DE CORTE NO BRASIL ........................................................... 77

6.1. Introdução ...................................................................................................... 776.2. Ações propostas ............................................................................................ 786.3. Desenvolvimento das ações propostas ........................................................ 79

7. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 89

8. REFERÊNCIAS DE PESQUISA .................................................................................... 90

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APRESENTAÇÃO

E ste relatório, resultado de convênio celebrado entre o Ministério de Desenvolvimen-to, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Paraíba (SEBRAE/PB), apresenta, de forma sintética, os

principais fatores que, durante os últimos anos, têm limitado um maior impacto setorial das intervenções promovidas pelo governo brasileiro na cadeia produtiva da ovinocultura e da caprinocultura de corte do Brasil. O relatório também propõe ações que poderão contribuir para o desenvolvimento sustentável de todo o setor.

Seu conteúdo origina-se dos relatórios do ESTUDO DO COMPLEXO DA OVINOCAPRINO-CULTURA NO BRASIL, realizado pela DATAMÉTRICA Consultoria Pesquisa Telemarke-ting, e da AÇÃO DE BENCHMARKING INTERNACIONAL, realizada pela FEA/UFBA Funda-ção Escola de Administração de Empresas da Universidade Federal da Bahia.

Uma análise comparativa entre os entraves identificados como prioritários no Estudo do Complexo da Ovinocultura e da Caprinocultura no Brasil é apresentada por meio dos seguintes tópicos:

a. Coordenação Institucional e Governança; b. Integração da Cadeia Produtiva;c. Perfil e Atuação da Indústria Frigorífica; d. Mercado Interno e Incentivo ao Consumo;e. Sistemas de Produção e Sanidade Animal;f. Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão.

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Esta análise engloba a situação atual e as alternativas encontradas para solucionar en-traves similares no Reino Unido, Espanha, Uruguai, Austrália e Nova Zelândia, países--alvo da Ação de Benchmarking Internacional realizada pela equipe responsável pelo presente relatório.

Ainda que se reconheça e se valorize a importância de todas as ações que foram e estão sendo desenvolvidas por diversas instituições públicas e privadas em benefício do setor, este relatório sugere algumas ações estruturantes de natureza colaborativa aos traba-lhos previamente iniciados e estratégicos no sentido de contribuir para o desenvolvimen-to sustentável das cadeias agroindustriais.

Todas as ações sugeridas visam ao estabelecimento de uma cadeia de valor baseada em qualidade e quantidade, possibilitando a estruturação de um portfólio de produtos que possibilitem o adequado posicionamento das atividades entre os principais setores de proteína animal.

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1. INTRODUÇÃO CENÁRIO BRASIL

O Brasil é o principal país produtor de carne ovina da América do Sul com 85.000 tonela-das/ano, o que representa um aumento de 20% em relação ao volume produzido em 2000 (FAOSTAT 2012). Segundo dados do Informe Produção da Pecuária Municipal

(IBGE-PPM 2012), essa produção é proveniente de um rebanho de 16,8 milhões de cabeças. Desse total, 55,5 % estão localizados na região Nordeste e 24,4% no estado do Rio Grande do Sul, sendo os municípios de Santana do Livramento e Alegrete aqueles que possuem os rebanhos mais numerosos do país. O restante do rebanho brasileiro está localizado nos outros estados da Região Sul e nas regiões Norte, Sudeste e Centro-oeste.

Segundo Jesus Júnior et al. (2010), evidencia-se um avanço da ovinocultura de corte acima da média nacional nas regiões Centro-Oeste e Norte, principalmente nos estados de Mato Grosso, Acre, Rondônia e Pará.

Durante décadas, a fibra de lã foi o principal produto comercial na produção da ovino-cultura e, mesmo com uma significativa redução nos rebanhos das principais raças, a lã continua sendo responsável por uma boa parte na receita do setor.

Segundo o Relatório do IBGE/PPM 2012, a produção de lã neste ano foi de quase 12 mil toneladas, caracterizando um acréscimo de 1,6% em relação a 2011. Desse total, 98,6% foram produzidos na Região Sul, dos quais 91,3% vieram de rebanhos localizados no

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Rio Grande do Sul, sobretudo dos municípios de Santana do Livramento, Alegrete e Uru-guaiana. A produção restante de lã (1,4%) foi obtida nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. O valor total desta produção foi de R$ 76,6 milhões (9,3% superior a 2011).

O principal reflexo na ovinocultura nacional da crise mundial da fibra de lã foi que, a partir da segunda metade da década de 90, a carne ovina despontou como principal produto da atividade (SORIO & RASI, 2010)1.

Os principais produtos que compõem o portfólio de carne ofertada ao mercado no país são 90% carcaças (inteiras e meias) e 10% de cortes tradicionais (não segmentados) que se destinam aos pontos de venda regionais e grandes centros de consumo.

Segundo as estatísticas da ONU, no Brasil, em 2012, o abate foi de aproximadamente 5 milhões de animais (FAOSTAT 2012), com uma produção média total de 75 a 80 mil toneladas por ano. É importante ressaltar que os abates oficiais respondem por menos de 10% do volume total produzido anualmente. Os mais de 90% restantes são oriundos do abate sem nenhum tipo de inspeção nem registro de dados.

As importações de carne ovina variam entre 5 e 9 mil toneladas/ano e, segundo VIANA, J.G.A. et al. (2013)2, no período de 2000 a 2012, verifica-se uma tendência ascendente das importações, com crescimento anual de 5,09%. Destaca-se a compra de cortes com osso e um comportamento sazonal concentrando-se, fundamentalmente, nos meses de final de ano, quando o volume importado aumenta 68% em relação à média nacional.

O principal fornecedor é o Uruguai, responsável, aproximadamente, por 80% do volume anual de importação, sendo que, em 2012, desse país foram importadas 6.383 tonela-das (equivalente a carcaças), correspondendo a 35% das exportações de carne ovina do Uruguai. Tais importações abastecem os principais canais de distribuição de pontos de consumo (bares, restaurantes e hotéis) e pontos de venda (supermercados e delicates-sens) no Brasil, procedendo, além do Uruguai, de outros países sul-americanos, como Chile e Argentina.

1Ovinocultura e abate clandestino: um problema fiscal ou uma solução de mercado? Revista de Política Agrícola, Ano XIX, n. 1, p. 71 - 83, 2010. 2Dinâmica das importações de carne ovina no Brasil: análise dos componentes temporais, 2013.

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O aumento do volume de importação da carne ovina aponta para um mercado aquecido, oportunidade para que os criadores brasileiros melhorem as condições de produção dos seus animais. A incapacidade de atender à demanda determina a necessidade de compra do produto no mercado externo. Dessa forma, segundo Barchet & Freitas (2012)3, a im-portação de carne ovina se apresenta como uma ferramenta que serve para equilibrar o mercado, além de possibilitar aos consumidores uma oferta consistente de carne com preço acessível.

Em relação ao rebanho caprino no Brasil, em 2012, este foi de 8,6 milhões de cabeças, representando uma diminuição de 7,9% em relação a 2011 (IBGE/PPM 2012). Foram de-terminantes para essa queda as reduções ocorridas nos rebanhos dos estados da Para-íba, da Bahia e de Pernambuco, 18,5%, 11,5% e 7,0% respectivamente. A Região Nor-deste detém 90,7% do rebanho dos quais 30,9% estão no Estado da Bahia. Os municípios com maior população de caprinos são: Floresta e Petrolina em Pernambuco e Casa Nova na Bahia (IBGE/PPM 2012).

3Integração de preços entre o Rio Grande do Sul, Uruguai, Brasil e Austrália nos mercados da carne ovina e da lã. Espacios, v.33, n.7, 2012.

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2.CENÁRIO DA OVINOCULTURA E DA CAPRINOCULTURA DE CORTE NO BRASIL

2.1. coordenação institucional e governança

A s cadeias produtivas das principais espécies animais (bovinos de corte e de leite, suínos, aves de postura e corte) têm apresentado, durante os últimos 30 anos, avanços significativos na produção e na comercialização de seus produtos, o que

posicionou o Brasil entre os três principais atores mundiais para esses produtos.

As tentativas de aumento e de maior profissionalização da produção de caprinos e ovi-nos, que passaram a estar presentes em diversos estados e regiões do Brasil, promo-veram o surgimento e a participação de diversas instituições públicas e privadas com o objetivo de organizar e fortalecer o desenvolvimento dessas cadeias produtivas no país.

A diversidade de ecossistemas, estágios de desenvolvimento, aspectos culturais e so-cioeconômicos em que se encontram distribuídos os rebanhos exigem ações conjuntas pensadas para todo o país. Porém, fundamental que ações efetivas sejam estabelecidas em nível regional, através de um esforço institucional coordenado que envolva diversos elos da cadeia produtiva. Infelizmente, pouco se tem verificado no sentindo de corroborar esta visão no Brasil.

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Nas últimas duas décadas, incentivos e recursos das instituições públicas têm sido dispo-nibilizados com o intuito de consolidar as cadeias agroindustriais da caprinocultura e da ovinocultura, como alternativas de alimentos de origem animal e de enfrentar os diversos desafios verificados pelo setor. Como resultado dessas ações, esses setores têm apre-sentado algumas mudanças pontuais de sucesso. Entretanto, devido a motivos diversos, tais mudanças não têm causado o impacto necessário para transformar essas atividades em um negócio estruturado e lucrativo, o que é esperado por todos os integrantes dessas cadeias produtivas.

Esses setores envolvem um grande número de produtores rurais que possuem alta capila-ridade, influenciando a economia de um número enorme de localidades, que têm na carne dessas espécies a principal, ou mesmo, a única fonte de renda. Além disso, esses setores possuem um grande número de entidades que congregam produtores rurais em associa-ções, cooperativas, grupos de produtores e outras formas de organização.

Durante os últimos anos, todos esses atores têm sido apoiados e capacitados pelas insti-tuições de pesquisa, ensino e extensão, as quais têm gerado e/ou adaptado conhecimen-tos e tecnologias, buscando o desenvolvimento dessas cadeias produtivas. Porém, até o presente, o ambiente organizacional da ovinocultura e da caprinocultura de corte no Brasil não é constituído por uma liderança institucional que coordene todas as ações para o de-senvolvimento do setor.

Porém, para alcançar os resultados esperados por todos aqueles que integram esses se-tores, os alicerces estruturantes fundamentais necessários são: a) elaboração de diretrizes setoriais, definidas em conjunto, entre os elos da cadeia produtiva e b) implementação e monitoramento por uma instituição (ou um conjunto delas) responsável pela Governança dos setores e que promova a integração do setor como um todo.

Essa falta de governança é agravada pela falta de estatísticas e informações sobre a ati-vidade e pelo fluxo ineficiente de comunicação entre as diversas instituições. Os dados de mercado são insuficientes e não estão disponíveis para a cadeia produtiva. Além disso, pouco se sabe a respeito da produção e da produtividade do setor, fato que impede qual-quer tipo de planejamento ou estabelecimento de políticas de impacto. Dessa forma, em geral, as atividades realizadas pelas diversas instituições resultam em pequeno, ou ne-nhum, aproveitamento por parte dos integrantes do setor.

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Concluindo, é possível afirmar que a ausência de uma instituição, ou um conjunto delas, que seja responsável pela coordenação, planejamento e condução das atividades da capri-nocultura e da ovinocultura no Brasil, bem como da implementação dos programas e dos recursos disponibilizados, constitui-se em um dos principais entraves para o setor.

2.2. integração da cadeia produtiva

A cadeia de agronegócio da ovinocaprinocultura de corte no Brasil realiza diversas ações, cujos impactos e avanços alcançados em um elo, ou área do conhecimento, quando ocorrem, são aproveitados, apenas, em benefício do seu executor e, quase sempre, não é transferido para o setor como um todo.

Isto se deve à ausência de um plano setorial com objetivos previamente definidos e que envolva todos os elos, dotado de metas de curto, médio e longo prazo que contemplem a integração (vertical e horizontal) e tenham uma visão sistêmica do setor.

Na maior parte das vezes, as ações realizadas têm curta duração e péssima relação custo/benefício. Diversos são os casos em que os chamados “grandes projetos” do se-tor, envolvendo recursos privados e públicos, foram concebidos, divulgados e promo-vidos, mas que nunca geraram receita ou produtos que viessem sustentar plenamente o estabelecimento.

As cadeias agroindustriais brasileiras de carnes de aves, de suínos e de bovinos, bem como a de leite têm sido fortalecidas pela sincronia entre os atores da produção – indus-trialização e transformação – comercialização e distribuição.

Um claro exemplo da importância da relação sustentável setorial é o da suinocultura na-cional que, mesmo após a crise provocada pelo surto de Peste Suína Africana em 1978, que dizimou seu rebanho, só conseguiu se reerguer, crescer e se consolidar como uma das mais qualificadas do mundo, pela ação decisiva liderada pelo setor industrial.

A mudança para uma visão integradora é urgente e necessária para o desenvolvimento sustentável das cadeias da ovinocultura e da caprinocultura de corte. Será necessário que essas ações sejam estabelecidas verticalmente (entre setores) e horizontalmente (dentro de setores). Elas, também, devem ser iniciadas de forma que os produtores te-

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nham maior participação nas associações de classe ou em cooperativas setoriais. A in-tegração horizontal é mais fácil de se estabelecer nos setores da indústria e do comércio pelo maior grau de organização que eles possuem.

2.3. perfil e participação da indústria frigorífica

A indústria frigorífica no Brasil tem baixa participação no desenvolvimento das cadeias de agronegócios da ovinocaprinocultura de corte. Dessa forma, contribui pouco para sua organização. São poucos os frigoríficos operando no abate de ovinos no Brasil, e há apenas três frigoríficos, em toda a região Nordeste, que possuem SIF (Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura) e que se dediquem, prioritariamente, a essa atividade.

As estatísticas no Brasil estimam que 90% dos abates de ovinos e caprinos na Região Nordeste sejam realizados fora das estruturas formais (abate clandestino). As carnes e alguns derivados são ofertados em diferentes pontos de venda sem nenhuma garantia de qualidade nem inocuidade, já que são provenientes de processos de abate, transformação e comercialização à margem dos padrões mínimos exigidos para que se tenha segurança alimentar. A falta de inspeção e, consequentemente, a falta de segurança no alimento se constitui em mais um dos fatores determinantes para a baixa participação dessas carnes na gastronomia familiar.

Segundo os representantes da indústria frigorífica, a pouca participação desse setor deve--se a alguns fatores, como a falta de organização da cadeia agroindustrial da carne de ovinos e caprinos; irregularidade na entrega de animais com sazonalidade da oferta; falta de qualidade em escala comercial dos animais encaminhados pelo setor produtivo; falta de maior comprometimento comercial para a entrega de produtos no curto, médio e longo prazo, bem como a pouca disponibilidade das informações sobre o consumo.

O setor não conta com um Sistema de Classificação e Tipificação de Carcaças de Ovinos e Caprinos, o que impede a elaboração de políticas de comercialização com a especificação de qual tipo de carcaça é a mais rentável para cada mercado, estabelecendo remuneração diferenciada pelas especificações exigidas.

O uso de um sistema como esse permite a melhoria e a padronização de carcaças consi-deradas inferiores por falta ou excesso de qualidade ou acabamento (teor de gordura). A

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implementação de um modelo de tipificação e classificação certamente trará, como con-sequência, uma maior fidelidade comercial e um maior compromisso entre os setores de produção, de processamento e de comercialização.

Melhorar as condições técnicas do abate e do processamento é outro aspecto fundamen-talmente necessário por parte da indústria frigorífica que participa da cadeia agroindustrial das carnes de ovinos e de caprinos no Brasil. Promover a apresentação dos produtos e seus benefícios tende a contribuir muito para uma maior aceitação por parte do consumidor.

2.4. mercado doméstico e incentivo ao consumo

O consumo das carnes de ovinos e de caprinos é de, aproximadamente, 1,1 kg/habitante/ano, dos quais, em média, 700g são carnes de ovinos e 400g carnes de caprinos. Em comparação com as outras carnes, esses valores estão muito distantes dos 44 kg de carne de frango, 35 Kg de carne bovina e 14 kg de carne suína consumidos por habitante/ano no Brasil (MAPA, 2012)4 .

O baixo consumo (ainda mais reduzido nas populações urbanas e jovens) das carnes de ovinos e de caprinos deve-se, principalmente, à falta de informação sobre o consumo dessas carnes, o que provoca a falta do hábito alimentar.

A oferta de carne de ovinos, em pontos de consumo como bares e restaurantes, tem aumentado em algumas regiões do país. Porém, nos supermercados (principal canal de distribuição e abastecimento das famílias), a oferta de carne de qualidade continua sendo muito baixa e ainda é apresentada de forma pouco atrativa, o que não desperta a atenção de novos consumidores.

A falta de consistência de oferta, a carência de padronização e de qualidade dos produtos, os preços elevados em relação a cortes de carnes tradicionalmente aceitas pela imensa maioria da população, a deficiência de apresentação, a pouca oferta de porções para núcleos familiares de 2-3 pessoas (os socialmente predominantes) e o elevado grau de desconhecimento sobre as alternativas gastronômicas, tudo isso, agravado pela insegu-

4 Brasil, Projeções do Agronegócio 2011/2012 - 2021/2022, Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil,2012.

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rança alimentar das carnes ofertadas na maioria dos pontos de venda no país, dificulta o desenvolvimento deste mercado e prejudica toda a cadeia da ovinocultura e da caprino-cultura brasileira.

O consumo atual se baseia na tradição gastronômica das famílias, na importância dessas espécies em cada região, sobretudo em datas especiais e eventos sociais.

A falta de informações atualizadas sobre o perfil do consumidor de carnes e do grau de conhecimento que o mesmo possui sobre as opções gastronômicas das carnes de ovinos e de caprinos impede que se realize um zoneamento do mercado. Este fato é agravado pela baixa socialização dessas informações pelos atores da cadeia produtiva da ovinocaprinocultura no país, impedindo, assim, a implementação de estratégias eficazes de produção, comercialização e distribuição.

2.5. sistemas de produção e sanidade animal

Um país de dimensões continentais, com sete biomas, diversidade cultural e socioeco-nômica, reconhecida variabilidade genética entre raças e dentro das mesmas, tudo isso somado às tradições e vocações de produção pecuária ajudam a formar o complexo cenário do Brasil. Esta realidade exige que a produção de ovinos e caprinos seja pensada e planejada para as dimensões do país. Porém, a fim de aproveitar essas diferenças de forma sustentável, é necessário desenhar modelos de produção específicos e apropria-dos para a realidade de cada região.

Como mencionado anteriormente neste relatório, nos últimos 20 anos, o “mapa” da ovi-nocultura mudou, uma vez que a região Nordeste passou a ser líder nacional na produ-ção de ovinos e quase absoluta na produção de caprinos.

Como resultado da crise mundial da fibra de lã, principal responsável pela mudança da distribuição populacional da ovinocultura nacional, os tradicionais modelos de produção do Rio Grande do Sul passaram por um longo período de transição. Persiste, ainda, a indefinição do principal produto final (lã ou carne) e, em cada um deles, as características do produto (lãs finas x lãs grossas) e o tipo de animal (idade x peso x genótipo) que se-riam os principais formadores do rebanho produtor de carne. Na região Sul do país, por exemplo, não estão claras essas definições, e continuam sendo os modelos de produção

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mistos (bovino de corte x ovinos) os predominantes a utilizar as bases forrageiras tradi-cionais com pouco uso estratégico de concentrados para os ovinos.

A escolha da carne como principal produto final exige investimentos, principalmente da base, e princípios de utilização forrageira que possam sustentar a introdução de genóti-pos mais exigentes que os especializados para a produção de lã. Continua sendo a raça de “duplo propósito”, Corriedale, a base racial com o objetivo de preservar a produção de lãs de média “finura”. Nos últimos anos, registra-se um avanço crescente da utilização de genótipos das raças especializadas na produção de carnes (principalmente a Texel) que são utilizadas em cruzamentos com os rebanhos de produção de lã.

Existem algumas características, próprias do sistema de produção de duplo propósito, que caracterizam o manejo dos rebanhos sul-rio-grandenses. Uma delas é a marcada estacionalidade reprodutiva das ovelhas (época de cobertura determinada pelo fotoperí-odo do final de verão-outono), o que condiciona a época dos nascimentos e faz com que ocorra uma maior oferta de cordeiros para abate nos meses de novembro e, principal-mente, dezembro. A concentração da oferta deixa a demanda não atendida em grande parte do ano. Uma característica marcante é o fato da grande maioria das propriedades adotarem o manejo conjunto e complementar da criação de ovinos e bovinos de corte. Outro aspecto favorável para a ovinocultura na Região Sul é a mão de obra rural com uma alta capacitação para o manejo dessa espécie, somado ao tradicional conhecimento por parte dos próprios criadores.

Também, na Região Sul, o Estado do Paraná apresenta avanços no estabelecimento de sua cadeia produtiva desde o início da década de 90. Tal avanço tem sido fomentado pelo forte apoio dos governos estaduais, das universidades de Ponta Grossa e de Maringá, da Associação Estadual Emater e, sobretudo, pelas cooperativas de produtores espalhadas por diversas regiões do Estado. A falta de competitividade frente às outras atividades do agronegócio e a marcada carência de mão de obra qualificada fazem com que os inves-timentos percam impactos, e a maioria dos empreendimentos envolvendo as atividades de ovinocultura e caprinocultura estão sendo encerrados.

Um aspecto muito positivo da ovinocultura no Paraná é a marcante participação do siste-ma cooperativo. Lentamente, essa forma de produção aumenta sua participação no se-tor de ovinos e, certamente, integrará a atividade a sistemas de produção que utilizam o aproveitamento de áreas de agricultura e de resíduos agrícolas (integração lavoura-pecuária).

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Na Região Nordeste, atualmente, maior polo de criação de ovinos no país, os sistemas de produção possuem, como característica marcante, a predominância de animais com base genética denominada SPRD (sem padrão racial definido), deslanados e formados por cruzamentos que envolvem a raça Santa Inês. Durante vários anos, houve tentativas mal sucedidas na introdução de reprodutores especializados para a produção de car-caças com maior e melhor produção de carne das raças: Texel, Suffolk, H. Down, Ile de France. Os resultados negativos apresentados indicam erros no planejamento técnico de melhoramento genético e manejo nutricional de alimentos e suplementos necessários. Nos últimos anos, nesta região, estão sendo promovidos os cruzamentos com reprodu-tores da raça Dorper, que provêm de uma região da África do Sul com muita semelhança com o semiárido nordestino.

Nesses estados, a produção de ovinos e caprinos é basicamente uma atividade da agri-cultura familiar, ocupando áreas de baixa produtividade e com rebanhos nos quais a utilização de técnicas de manejo é muito reduzida. Nessas condições, os sistemas de produção são também caracterizados pela falta de planejamento produtivo, uma vez que o fotoperíodo apresenta influência marcada no desempenho reprodutivo das ovelhas e possibilita que o mesmo possa ser realizado ao longo de quase todo o ano, diferente-mente de grande parte das demais regiões do país.

Em contrapartida, os períodos de estiagem, em algumas áreas do semiárido, podem se prolongar por mais de 12 meses, tornando-se um fator limitante em quantidade e qualidade do aporte forrageiro encontrado no bioma Caatinga, que é predominante nesta região. Como a utilização estratégica de reservas forrageiras é muito pouco utilizada, o manejo nutricional deficitário é o principal responsável pelos baixos índices produtivos e reprodutivos da ovinocultura e da caprinocultura de corte na Região Nordeste do Brasil.

Na Região Sudeste, o Estado de São Paulo possui as condições necessárias para ser um dos principais polos de produção de ovinos em quantidade e qualidade, devido à im-portância do seu mercado consumidor que, além do tamanho, é o mercado que melhor remunera os produtos oriundos da ovinocultura e da caprinocultura. O Estado conta com uma associação de criadores atuante e com o aporte científico de instituições de pesqui-sa e ensino reconhecidos mundialmente.

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No início, o sistema de produção da região utilizava, predominantemente, animais com base genética de raças laneiras. Posteriormente, raças de produção de carne de origem europeia passaram a ser criadas. Em seguida, a raça Santa Inês passou a ser a mais utilizada e, nos últimos anos, tem sido constante a presença e multiplicação de animais da raça Dorper.

A região Centro-Oeste apresenta o maior crescimento do rebanho ovino em todo o país. Importantes investimentos têm sido promovidos nas atividades da indústria frigorífica, nas instituições de ensino e pesquisa e no desenvolvimento de alternativas de manejo que sejam apropriadas à região. O fortalecimento da atividade com o desenho de mode-los de produção sustentável, que potencializa a aptidão da região no sentido de aumentar a utilização do suporte nutricional disponível, o aproveitamento da infraestrutura frigo-rífica instalada e a utilização dos subprodutos do processamento de grãos são oportuni-dades a serem exploradas nesta parte do país.

Alguns aspectos que, com maior ou menor intensidade, são comuns a todas as áreas são os elevados índices de mortalidade de cordeiros, baixa eficiência reprodutiva, defici-ência no manejo nutricional do rebanho e ausência de um programa nacional de melho-ramento genético com ajustes que atendam às peculiaridades de cada região. Não existe padronização de produtos e, como consequência, a cadeia não consegue fornecer pro-dutos com regularidade e/ou qualidade para a indústria. Esta é a principal consequência da falta de um sistema de classificação e tipificação de carcaças, que poderia contribuir para a produção de carcaças uniformes, viabilizando o desenvolvimento de cortes e pe-ças de alta qualidade, atributos fundamentais para a ampliação de mercados e garantia de melhores preços de venda.

Outra característica comum a todas as regiões do Brasil é a pouca utilização da escritu-ração zootécnica entre os produtores. Assim, estatísticas sobre o setor e melhor enten-dimento sobre os níveis de produtividade são praticamente impossíveis de serem obtidos no cenário atual.

Finalmente, sabe-se que o sistema de produção é dissociado da gestão administrativa da atividade, gerando pouca ou nenhuma informação sobre o resultado econômico da mesma que, em geral, não é encarada como negócio e não faz parte das atividades sig-nificativamente importantes para o agronegócio brasileiro.

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2.6. pesquisa, assistência técnica e extensão rural.

Uma das maiores potencialidades das cadeias agroindustriais da carne de ovinos e capri-nos é o conteúdo qualificado, abrangente e atualizado do acervo de conhecimento e tecno-logia produzido pelas instituições brasileiras de ensino, pesquisa e extensão. As equipes de pesquisadores das empresas federais e estaduais de pesquisa agropecuária, das uni-versidades e das empresas privadas do setor têm elaborado e concluído inúmeros projetos de pesquisa em todas as áreas do conhecimento aplicadas aos diferentes elos da cadeia.

Além disso, a capacitação técnica e o permanente intercâmbio entre técnicos brasileiros com profissionais de outros países posicionam o nível de conhecimento técnico nacional em um patamar que possibilitaria resultados no mesmo nível dos países mais avançados do mundo.

Porém, não houve avanços significativos nas áreas de transferência de tecnologia e mes-mo na extensão, o que tem ocasionado um baixo grau de apropriação do conhecimen-to, principalmente pelos atores do setor produtivo. As atividades de capacitação têm uma abrangência limitada, comprovada pelos dados do presente estudo, mostrando que 64,9% dos produtores da Região Nordeste e 55,3% dos produtores da Região Sul do Brasil nunca participaram de nenhum programa de extensão rural.

Dessa forma, ainda que o ambiente científico no Brasil promova avanços tecnológicos e comprove sua capacidade técnica de pesquisa, a dificuldade de disseminação da informa-ção a todos os elos da cadeia, principalmente aos produtores, evidencia a necessidade de uma maior aproximação entre a pesquisa e a extensão. Dessa forma, é fundamental conferir à extensão a importância devida como o “tradutor” do setor produtivo, que deve levar ao conhecimento dos pesquisadores as reais necessidades dos principais usuários do conhecimento e da tecnologia gerada, os produtores.

A falta de uma maior comunicação e integração entre os diferentes setores é, em boa par-te, responsável pela manutenção de modelos de produção defasados, de baixa produtivida-de, que reduzem as chances para que o setor se consolide de forma definitiva.

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3.RELATÓRIOBENCHMARKING INTERNACIONAL

R elatório final da ação de Benchmarking produzida para o Estudo do Complexo Agroin-dustrial da Ovinocaprinocultura Brasileira realizado pelo Sebrae-PB - Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Estado da Paraíba, para o MDIC - Ministério do

Desenvolvimento Indústria, Comércio Exterior, sobre os elos que integram a cadeia produ-tiva da carne de ovinos, através da realização de duas missões técnicas internacionais nos complexos de carne ovina no Uruguai, Nova Zelândia, Austrália, Reino Unido e Espanha.

Os países escolhidos para a realização da Missão representam alguns dos principais players do mercado mundial de carne ovina, com elevado consumo interno e alto volume exportado, fonte para a realização do benchmarking necessário para a compreensão e elaboração de estratégias para contornar os problemas enfrentados pela cadeia produti-va e permitir melhores oportunidades à carne de ovino produzida no Brasil.

Buscar as melhores práticas em países que conduzem seus Complexos Produtivos ao desempenho superior, identificar instituições e empresas, comparar os indicadores rela-cionados para compreensão dos modelos analisados e suas referências em cada um dos países visitados, levará a soluções para o desenvolvimento da cadeia da ovinocultura no Brasil, implicando melhorias significativas dos índices analisados na atividade.

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3.1. INDICADORES ANALISADOS

a. Colaboração e coordenação institucional – governançab. Integração da cadeia produtiva c. Perfil e atuação dos frigoríficosd. Mercado doméstico e incentivo ao consumoe. Pesquisa, assistência técnica e extensãof. Sistemas de produção g. Sanidade animal

3.2. INSTITUIÇÕES VISITADAS

3.2.1 - Reino Unido

Ì Eblex – Warwickshire - Inglaterra Ì The British Texel Society - Warwickshire – Inglaterra Ì Signet Breeding Services - Warwickshire – Inglaterra Ì Innovis ltd – Malvern – Inglaterra Ì National Sheep Association – Malvern – Inglaterra Ì Quality Meat Scotland – Edimburgo – Escócia

3.2.2 - Espanha

Ì Oviaragón – Grupo Cooperativo Pastores – Zaragoza

3.2.3 - Uruguai

Ì Instituto Nacional de Carnes –INAC- Montevidéu Ì Frigorífico Nirea – Canelones Ì Secretariado Uruguayo de la Lana – Sul, Montevidéu Ì Central Lanera Uruguaya – Clu – Montevidéu

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3.2.4 - Austrália

Ì Meat & Livestock Austrália – Sydney New South Wales Ì Sheep Genetics Austrália, Sydney.

3.2.5 - Nova Zelândia

Ì Alliance Group limited Lorneville – Invercargill Ì Sheep improvement ltd – Christchurch Ì Headwaters nz limited - Wanaka Ì Abacusbio ltd. - Dunedin Ì Taratahi - Masterton Ì Wairere - Masterton Ì Beef + Lamb New Zeland - Wellington

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O Reino Unido é o principal país consumidor e exportador de carne de ovino da Europa. São 21.400 produtores com rebanho de cerca de 32,2 milhões de cabeças.

As fazendas médias criam 700 animais e a produção mé-dia é de 01 cordeiro/ovelha/ano. Considerando que os cor-deiros preferidos pelos mercados são animais de 40-45 kg

peso vivo, a valores de final de Abril 2014 (£ 2,4/kg peso vivo) a receita estimada para os produtores é de, aproximadamente, £ 95/cordeiro o que representa, em valores atuais, em torno de US$ 185/cordeiro. Desse total, o produtor paga £0,60 para a Agriculture e Horticulture Development Board (AHDB) e os frigoríficos e exportadores contri-buem com £ 0,20/cordeiro.

A AHDB é uma organização financiada por agricultores, produtores e outros atores das cadeias produtivas. A gestão é totalmente independente, tanto dos setores do governo, quanto da indústria e do comércio. A AHDB atua nas mais diversas atividades desde a produção até a comercialização junto aos produtores de suínos, bovinos de corte, bovi-nos de leite, ovinos, cereais, oleaginosas, batatas e horticultores comerciais.

Na Inglaterra, a ovinocultura é coordenada pela organização denominada English Beef and Lamb Executive - Eblex, que tem como objetivo incrementar a sustentabilidade e a rentabilidade da ovinocultura. Até 2006, a Comissão para a Produção de Carnes (MLC) coordenava as atividades da ovinocultura em todo o Reino Unido. Após a criação do EBLEX, organizações similares e com os mesmos objetivos foram formalizadas no País de Gales -Hybu Cig Cymru Meat Promotion Wales - e na Escócia - Quality Meat Scotland – (QMS). Em todo o Reino Unido, as fazendas sofrem com predadores e com a falta de novos pastores e, como consequência, veem o crescimento das grandes pro-priedades sobre as pequenas.

3.3. REINO UNIDO

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A base da alimentação dos animais, no Reino Unido, são as pastagens, e a suplementa-ção é utilizada com feno, silagem e concentrados. O uso de fertilizantes na instalação e manutenção das pastagens é intenso, bem como a divisão de áreas com a utilização de cercas elétricas é habitual.

Em relação aos recursos genéticos animais, o Reino Unido apresenta alta variabilidade ge-nética com numerosas raças nativas adaptadas desde as montanhas até as áreas mais bai-xas, acrescidas pela introdução de algumas raças exóticas. As raças estão agrupadas em: 1) de montanha; 2) de fibra de lã longa; 3) maternas ou de duplo propósito e 4) terminais. A cadeia produtiva funciona de forma integrada sob a coordenação da EBLEX, da QMS e da HYBU, CIG, CYMRU com a participação ativa dos setores de produção, da indústria, do comércio, de organismos oficiais, de empresas privadas e de instituições técnicas (Uni-versidades e Centros de Pesquisa), atuando de forma integrada e com objetivos muito claros do produto final necessário.

As informações e os registros de produção são tratados com muita atenção e transpa-rência. Os dados de mercado e as estatísticas são disponibilizados, e a sua utilização é estimulada, gerando confiabilidade e segurança para toda a cadeia produtiva.

O uso da genética foi o responsável pela definição dos produtos com elevado padrão de quali-dade, e seu uso vem crescendo no país a taxas de 15% ao ano entre os produtores comerciais.

O modelo de produção baseado na classificação e tipificação de carcaças desenvolvido no país continua valorizando o produto e colocando o preço pago por quilo entre os maiores do mundo. As atenções com os produtos de carne ovina e seu efetivo controle de quali-dade e desenvolvimento aconteceram a partir das exigências criadas por mercados con-sumidores locais, e a qualidade do produto é identificada pelo selo Quality Stand Lamb.

O conjunto dos atores da cadeia da carne de ovinos é o principal “responsável” pelo pro-fissionalismo e visão empresarial da ovinocultura no Reino Unido.

Dentro desse contexto, três pilares básicos se destacam e influenciam, diretamente, a padronização das carcaças, a maior estabilidade da oferta e a qualidade reconhecida in-ternacionalmente das carnes de cordeiros dos países do Reino Unido.

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O primeiro desses pilares é o “Programa Maior Rentabilidade” com o lema “Conheça o mercado, selecione os Cordeiros, incremente a Lucratividade”- que orienta os produto-res sobre:

As estratégias de manejo para atingir, com carcaças de diferentes pesos, os vários seg-mentos do mercado consumidor:

Ì Supermercados- carcaças de 16-21 kg; Ì Açougues e casas de carnes- 16-22 kg; Ì Exportação- 12-19 kg;

1. Análises constantes dos dois mercados são utilizadas para a comercialização de cordeiros nos tipos: Peso Vivo ou Peso Carcaça. Em 2012, 58% da comer-cialização foi realizada por peso vivo, sendo que 52% dos cordeiros e 97% das ovelhas de descarte foram ofertadas a este mercado;

2. Neste período, as vendas por peso de carcaças representaram 42% do total comercializado, e 48% dos cordeiros e 3% das fêmeas adultas foram vendidas nesta opção de comercialização;

3. Acompanhamento sistêmico das tendências de mercados e custos de produção;

4. Utilização da grade de classificação das carcaças por classes de Conformação (E-U-R-O-P) e as classes de Gordura (1-2-3L-3H-4L-4H-5). A clara definição do tipo de carcaça preferencialmente demandada pelo mercado e a utilização da grade de classificação possibilitaram que, em 2012, na Inglaterra, quase 53% das carcaças fossem classificadas pela classe de gordura como 3L, e 67% delas dentro da classe R de conformação. Deve-se destacar que se estabele-cem valores diferenciados, favorecendo as carcaças que estejam dentro das classes preconizadas (R3L). Dessa forma, os produtos identificados como: En-gland Lamb, Wales Lamb ou Scotch Lamb são reconhecidos comercialmente pela padronização das carcaças e pela alta qualidade das mesmas.

O segundo pilar é o desenvolvimento de programas de melhoramento genético para as diversas raças, que são coordenados, nas áreas de produção da Inglaterra, Escócia e País de Gales, pela empresa Signet Breeding Services. É essa coordenação que realiza as avaliações e as análises dos dados, a identificação dos reprodutores comprovadamente

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melhoradores, a disseminação organizada e a socialização dessa genética, permitindo o aumento de produtividade e a eficiência dos animais.

O terceiro pilar de impacto significativo sobre o processo produtivo é a realização de ações coordenadas e programadas de transferência de tecnologias e conhecimentos para o setor produtivo. Este processo é realizado através de ações de extensão em dias de campo, publicações com conteúdo técnico apresentadas em linguagem accessível aos produtores, atuação da National Sheep Association maior associação de criadores do Reino Unido e das associações de raças a ela vinculadas. Tudo isso permite uma perma-nente interação com os produtores que alimentam, com suas demandas, as atividades de pesquisa e desenvolvimento.

O mercado interno, bastante desenvolvido no Reino Unido, é responsável pelo consumo de quase toda a produção nacional. A oferta em pontos de consumo, como bares e restaurantes, é elevada, e existe bastante oferta de carne resfriada nos pontos de consumo, tipo supermer-cado. O resultado é uma média de consumo de carne/habitante/ano em 2012 de 1,9 kg.

Há também a oferta de cortes congelados, com posicionamento de preço como os principais cortes de boi. Apresenta portfólio de produtos em pratos prontos e porções individualizadas, que representam 30% do volume total consumido, importados, principalmente da França.

A indústria frigorífica tem elevada participação no desenvolvimento da cadeia produtiva. São 162 frigoríficos autorizados para o abate de ovinos no Reino Unido, sendo que 50 destes com autorização para exportação.

O total de ovinos abatidos no Reino Unido, em 2012, foi de 13,7 milhões de cabeças, dos quais 11,9 milhões foram cordeiros e 1,8 milhões eram ovelhas e machos adultos. São animais 100% certificados, com média de 110 dias de idade, vivo médio de 40 kg, e 19,1 kg de carcaça. Os principais produtos são carcaças (70%) e cortes inteiros (30%).

Isso representa uma produção de 226 mil toneladas de carne de ovino. Essa carne tem preço médio de U$ 9,80 por kg, movimentando U$ 2,2 bilhões; 30% são exportados para a França, Grécia, Itália, China e Oriente Médio; e investimentos são feitos para a abertura de mercados asiáticos, principalmente a China.

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Resumo Executivo da Missão ao Reino UnidoINTEGRANTES: Milton Daniel Benitez Ojeda e Carlos Frederico LacerdaPERÍODO: 29 de setembro a 5 de outubro de 2013

British Livestock Genetics Consortium, Milton Keynes ENTREVISTADO: Henry Lewis.Temas discutidos: a formação da cadeia produtiva, a substituição do MLC a partir de 2006, o desenvolvimento da classificação e tipificação das carcaças e a busca pelo me-lhor produto.

No Eblex – Ahdb Agriculture & Horticulture Development Board, Stoneleigh Park ENTREVISTADOS: Paul Heyoe - especialista de Mercado de Carne de Boi e de Cordeiro, Jean-Pierre Garnier - diretor de Exportação e Susana Morris, Executiva de Mercado.

Os temas discutidos foram: modelo de governança participativa, controle de qualidade e sanidade animal, mercados internacionais, capacitação profissional e extensão, estraté-gias de marketing.

SIGNET – Beending Services, Stoneleigh ParkENTREVISTADO: Samuel Bloom, Gerente Técnico Geral.O tema principal abordado foi o desenvolvimento das avaliações genéticas e a imple-mentação dos Programas de Melhoramento Genético bem como as estratégias utiliza-das para incentivar a participação consciente dos produtores nessas avaliações e a uti-lização preferencial de genética superior como alavanca para uma maior lucratividade.

The British Texel Sheep - Basco, Stoneleigh ParkENTREVISTADO: John Yates, Chefe Executivo da Associação.Os temas discutidos foram o aumento da participação da raça TEXEL nos rebanhos britâ-nicos, melhoria da produtividade nos rebanhos pela participação no programa de melho-ramento genético, oportunidades, sustentabilidade para o produtor e futuro do mercado de carne de ovinos.

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Innovis Ltd’s, MalvernENTREVISTADA: Abi Stanley, Veterinária Chefe. O principal tema tratado foi a situação atual da utilização das biotecnologias na reprodu-ção animal como multiplicadores da genética superior.

NSA – Sheep Association, Sheep Center, Malvern ENTREVISTADA: Sra. Joanne Pugh, Executiva de Comunicação. O tema tratado foi o associativismo como forma de sobrevivência para os pequenos pro-dutores, promovendo redução de custos de assistência técnica, disseminação e transpa-rência nas informações.

QMS – Quality Meat Scotland, Edimburgo ENTREVISTADO: Stuart Ashworth, Chefe de Serviços Econômicos e Qualidade de Carne.Os temas abordados foram aumento de demanda nos mercados internacionais, exi-gências de qualidade de produto para acesso aos principais mercados e registro de dados estatísticos.

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3.4. ESPANHAN a Espanha, os resultados do Censo Pecuário

de 2012 mostram que, nesse ano, a população ovina espanhola era de 16,8 milhões de cabe-

ças (no ano 2000 foram 24 milhões), das quais 3,3 milhões eram cordeiros, 300 mil reprodutores e 13,2 milhões ovelhas em idade reprodutiva. Essa popu-

lação nacional representava, nesse ano, 20% do total de ovinos dos 27 países de União Européia, sendo superada somente pelo Reino Unido com 27%.

Desse total, 79% se concentram nas Comunidades Autônomas de Extremadura, Castilla la Mancha, Castilla y León, Andalucia e Aragón. Comparativamente com o ano de 2009, houve uma diminuição de 17% no total de ovinos e 19% na categoria fêmeas em idade reprodutiva.

O total de propriedades dedicadas à criação de ovinos era de, aproximadamente, 112 mil (em 2007 foram 122 mil), com rebanhos médios de 120 fêmeas em produção, e a produ-ção média foi de 1,3 cordeiro/ovelha em idade reprodutiva/ano. A receita estimada para os produtores é de U$ 200 por animal abatido, deste valor, cerca de U$ 36 são pagos, como subsídio, pelo governo a programas de incentivos e conservação das raças nativas da União Européia.

A migração das populações mais jovens das áreas rurais para as urbanas faz com que a mão de obra utilizada para trabalhar junto aos rebanhos seja escassa e de idade avan-çada, fato que compromete, em muito, o futuro do setor. As propriedades que utilizam tecnologias avançadas, com maior automação e com um perfil meramente empresarial, estão avançando significativamente, ao tempo em que as propriedades familiares vêm, dia a dia, compreendendo que as dificuldades de subsistência no setor se acentuam ain-da mais quando os produtores não estão inseridos em entidades de classe, como as-sociações de raças, ou não trabalham integrados com cooperativas locais ou regionais.

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A alimentação dos rebanhos nas épocas de primavera e de verão são basicamente as pastagens nativas e, em menor quantidade, as cultivadas nas épocas de frio, principal-mente nas regiões de montanha. Quando os períodos de neve são mais prolongados, a utilização de forragens conservadas, principalmente feno, são estratégias usadas pela maioria dos estabelecimentos.

A produção total de carnes de ovinos em 2012 foi de 122,7 mil toneladas (peso carcaça), correspondente a um abate de 10,5 milhões de ovinos, dos quais 9,9 milhões eram cor-deiros e 600 mil eram animais adultos de descarte.

O peso médio das carcaças dos cordeiros foi de 10,9 kg e o dos animais adultos foi de 21,8 kg. A análise da distribuição das quantidades de cordeiros abatidos por classes de pesos de carcaças mostra, claramente, o objetivo do setor de produzir carcaças, prefe-rencialmente, entre 10.1 kg e 13 kg. Do total de 9,9 milhões de cordeiros abatidos, 2,5 milhões eram de carcaças com menos de 7 kg (cordeiro lechal) com um total de 15,2 mil toneladas; 1,1 milhões foram animais que produziram carcaças entre 7.1 kg e 10 kg, perfazendo um total de 9,1 mil toneladas de peso carcaça; 3,9 milhões foram animais que produziram carcaças entre 10.1 kg e 13 kg, as que representaram 45,6 mil toneladas e 2,4 milhões de cordeiros eram com peso de carcaças acima de 13 kg, que perfizeram um total de 36,2 mil toneladas.

Em comparação com o ano anterior, houve uma redução de 6% na produção de carnes. As Comunidades Autônomas com maior participação nesses abates foram as de Castilla y León com 25,3 %, Castilla la Mancha com 16,4%, Cataluña com 14,3% e Aragón com 11%.

Desse total de carne produzida, aproximadamente 38 mil toneladas foram exportadas, das quais 30 mil toneladas para outros países da União Europeia. Sendo que o valor total das quais carnes de ovinos exportadas representou, em 2012, 135 milhões de euros.

Em relação ao consumo interno de carnes frescas de ovinos e caprinos, não existem da-dos oficiais separando as duas espécies. Comparando os anos de 2006 e 2012, observa--se que, no primeiro ano, o total consumido foi de 119 mil toneladas o que representou um consumo per capita/ano de 2,7 kg.

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Já em 2012, o total de carnes de ambas as espécies consumidas foi de 87 mil toneladas (71% do total produzido), o que representou um consumo per capita/ano de 1,9 kg, ca-racterizando perda de espaço no consumo doméstico.

A indústria frigorífica tem elevada participação no desenvolvimento da cadeia produtiva, são 22 frigoríficos autorizados para o abate de ovinos.

A cadeia produtiva funciona de forma integrada aos setores da produção: indústria, co-mércio, organismos oficiais e instituições técnicas, com uma clara participação, e , como facilitador, o Ministério de Agricultura e Meio Ambiente. As informações e os registros dos animais de raças puras são realizados pelas associações de raças, que estão inte-gradas sob a coordenação da Federação de Raças Puras (FEAGAS), que realiza a interfa-ce junto aos atores públicos nacionais e internacionais.

A participação do Ministério se caracteriza, também, na normatização de processos de controle de qualidade dos produtos, boas práticas de produção e industrialização e na coordenação do sistema de identificação eletrônica, que está implantado desde 2008 e que permite que toda a população ovina espanhola esteja sendo rastreada, seja através dos animais e/ou produtos. Esta rastreabilidade tem sido de fundamental importância para aumentar a confiabilidade na comercialização dessas carnes tanto em nível nacional como internacional.

Outro fator estruturante de fundamental importância para a integração entre os setores produtivos da industrialização e do comércio é a clara definição de que tipo de animal (idade/peso) se procura. Isto fica claramente evidenciado quando 95% do total de ani-mais abatidos são cordeiros com idades prioritárias entre 4-5 meses, e com peso de carcaças no eixo dos 12 kg. O produto final decidido pelo setor são CORDEIROS, entre os quais 25% são os denominados “lechais”, que são cordeiros alimentados exclusivamen-te a leite, o que faz disso um produto altamente valorizado e de qualidade seleta. Para essa definição de objetivos de produto final, é de fundamental importância a utilização do sistema de classificação e tipificação de carcaças que possibilita a remuneração diferen-ciada e a padronização dos lotes.

Dentro do sistema de produção escolhido pela maioria dos produtores que trabalham integrados com associações ou cooperativas para a terminação dos cordeiros e a padro-

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nização dos mesmos, é fundamental a presença dos Centros de Terminação. Os cordeiros são enviados pelos produtores a estes Centros, onde a cooperativa, ou associação, os ma-nejam de forma diferenciada, conforme as diferentes demandas da indústria, possibilitan-do, assim, a formação de grandes lotes perfeitamente padronizados e identificados por origem, o que permite a caracterização dos produtos de forma constante ao longo do ano.

A intensificação dos controles de qualidade e a implementação dos programas de ras-treabilidade, controle de qualidade e bem estar animal foram originadas, principalmente, a partir do começo do século XXI pelos problemas sanitários que a pecuária Européia atravessou nos anos 2000 a 2002.

O mercado interno é bastante desenvolvido e a oferta em pontos de consumo como ba-res e restaurantes é elevada, bem como está disponível nos grandes centros de distri-buição como redes de supermercados. Para a promoção da utilização da carne de ovinos na gastronomia, tanto familiar como em restaurantes, é de extrema importância a as-sociação cultural e social que se faz entre o produto final com a raça produtora e a sua região de origem.

Existe um acentuado localismo gastronômico, e isso é muito bem aproveitado pelas as-sociações de raças que, com excelentes trabalhos de marketing, promovem e identi-ficam, como apelo comercial, os produtos locais (Lechazo de Castilla e Leon; Cordero Manchego, Ternasco de Aragón; Cordeiro de Extremadura; Cordero de Navarra). Estas “marcas locais” estão registradas como de Identificação de Origem Protegida (IOP) ou como Denominações de Origem Conhecidas (DOC) todas reconhecidas pela União Euro-péia, o que preserva os nichos comerciais e protege os produtos já que os mesmos são identificados por selos padronizados para todos os países da EU-27.

Para isso, além das características diferenciadas de cada região ou comunidade autôno-ma, incentiva-se muito, pelas autoridades nacionais e da União Européia, a conservação das raças nativas, existindo um aporte comunitário para os criadores que continuam na criação dessas raças. A Espanha, entre raças nativas e exóticas, tem um valioso patri-mônio genético ovino representado pelas 52 raças que detém.

Finalmente, o principal fator para o desenvolvimento integrado e com perfil profissional e empresarial da cadeia de carnes de ovinos na Espanha é a marcante participação da

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filosofia associativista ou em cooperativas. Destacam-se as Cooperativas de Oviaragón – Grupo Pastores com mais de 1.200 produtores e quase 500.000 cordeiros abatidos anualmente, e a recém-formalizada união comercial entre duas cooperativas de segundo grau, uma de Andaluzia e outra de Extremadura, que possibilitará trabalhar com quase 2.800 propriedades e ofertar em torno de 850.000 cordeiros/ano. O presente e o futuro da ovinocultura de carne espanhola passam pelas cooperativas e associações.

Resumo executivo da missão à EspanhaINTEGRANTES: Milton Daniel Ojeda e Carlos Frederico Lacerda PERÍODO: 02 a 04 de outubro de 2013

Cooperativa Oviaragón - Grupo Pastores . Zaragoza/Aragón ENTREVISTADO: Antonio Olivan - Diretor Operativo de I+DTEMAS DISCUTIDOS: Formação da cadeia produtiva; a visão do sistema cooperativista sobre as estratégias para as inovações para o desenvolvimento do setor; o desenvol-vimento do sistema de classificação e tipificação das carcaças; identificação de nichos comerciais e desenvolvimento de novos produtos; controle de qualidade e sanidade ani-mal; capacitação profissional e extensão; estratégias de marketing; futuro do mercado de carne de ovinos e centros de terminação nutricional.

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complexo agroindustrial da

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A Austrália é o principal produtor e um grande ex-portador de carne de ovino do mundo. São 31 mil produtores com rebanho de cerca de 70 mi-

lhões de cabeças.

As fazendas médias criam 2.500 animais, e a produção média é de 1,4 cordeiro/ovelha/ano. Considerando que os cordeiros produzidos são animais de 38-42 kg peso vivo, e a receita estimada para os produtores é de aproximadamente U$ 175/cordeiro. Desse to-tal, o produtor paga U$ 2,00 por animal abatido para a MLA - Meat & Livestock Austrália.

MLA - Meat & Livestock Austrália é uma organização financiada por produtores. A ges-tão é totalmente independente, tanto dos setores do governo, quanto da indústria e do comércio. A MLA atua nas mais diversas atividades desde a produção até a comercializa-ção junto aos produtores de bovinos de corte, bovinos de leite, ovinos e caprinos.

A base da alimentação dos animais, na Austrália, são as pastagens, e a suplementação é utilizada com concentrados e grãos. O uso de fertilizantes na instalação e manutenção das pastagens é restrito, bem como a divisão de áreas com utilização de cercas elétricas.

Em relação aos recursos genéticos animais, a Austrália apresenta alta variabilidade genética com numerosas raças nativas adaptadas às montanhas e descendo até as áreas mais baixas, acrescidas pela introdução de algumas raças exóticas. As raças estão agrupadas em: de montanha; de fibra de lã longa; maternas ou de duplo pro-pósito e terminais.

A cadeia produtiva funciona de forma integrada sob a coordenação da MLA com a par-ticipação ativa dos setores de produção, da indústria, do comércio, de organismos ofi-ciais, de empresas privadas e de instituições técnicas (Universidades e Centros de

3.5. AUSTRÁLIA

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Pesquisa), atuando, de forma integrada e com objetivos muito claros, em relação ao produto final necessário.

As informações e registros de produção são tratados com muita atenção e transparên-cia. Os dados de mercado e as estatísticas são disponibilizados e a sua utilização estimu-lada, gerando confiabilidade e segurança para toda a cadeia produtiva.

O uso da genética foi responsável pela definição dos produtos com elevado padrão de qualidade. Na Austrália seu uso vem crescendo com taxas de 18% ao ano, entre os pro-dutores comerciais.

O novo modelo de produção baseado na classificação e tipificação de carcaças, desenvol-vido desde 2010 no país, aumentou o peso médio para 21kg, e 55% dos animais abatidos obedecem a esse padrão, valorizando o produto e incrementando o crescimento em 9% do rebanho em 2013.

As atenções com os produtos de carne ovina e seu efetivo controle de qualidade e desen-volvimento aconteceram a partir das exigências criadas pelos mercados consumidores locais e pelo mercado europeu, americano e árabe.

O conjunto dos atores da cadeia da carne de ovinos é o principal “responsável” pelo pro-fissionalismo e visão empresarial da ovinocultura na Austrália. Dentro deste contexto, três pilares básicos se destacam e influenciam, diretamente, na padronização das carca-ças, em uma maior estabilidade da oferta e na qualidade reconhecida internacionalmente das carnes de cordeiros.

O primeiro desses pilares é a atuação da MLA na promoção de acesso a novos mercados para a carne australiana, nas ações de promoção dos produtos de ovinos australianos e no aprimoramento da competitividade e sustentabilidade do setor, orientando os produ-tores sobre:

1. Estratégias de manejo para atingir a padronização das carcaças, maior esta-bilidade da oferta e a qualidade reconhecida internacionalmente das carnes de cordeiros pelos países importadores;

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2. Análises constantes dos dois mercados, doméstico e internacional, que são utilizadas para a comercialização de cordeiros;

3. Acompanhamento sistêmico das tendências de mercados e dos custos de produção;4. Utilização da grade de classificação das carcaças por Classes de Conformação.

A clara definição do tipo de carcaça, preferencialmente demandada pelo mercado, e a mudança nos padrões da grade de classificação possibilitaram que, a partir de 2011, a produção de cordeiros, na Austrália, apresentasse 55% das carcaças classificadas pela melhor classe de gordura e peso.

O segundo pilar são os programas de melhoramento genético para as diversas raças, que são coordenados, nas áreas de produção da Austrália, pela empresa Sheep Gene-tics Austrália. Essa coordenação realiza as avaliações e as análises dos dados, a iden-tificação dos reprodutores comprovadamente melhoradores e realiza a disseminação organizada e a socialização dessa genética, permitindo o aumento de produtividade e a eficiência dos animais.

O terceiro pilar de impacto significativo sobre o processo produtivo são as ações coor-denadas e programadas de transferências de tecnologias e conhecimentos para o setor produtivo. Este processo é realizado através de ações de extensão em dias de campo, publicações com conteúdo técnico apresentado em linguagem accessível aos produtores e a atuação da MLA e das associações de raças a ela vinculadas. Tudo isso permite uma permanente interação com os produtores que alimentam, com suas demandas, as ativi-dades de pesquisa e desenvolvimento.

O mercado interno é bastante desenvolvido na Austrália é responsável pelo consumo de 50% da produção. A oferta em pontos de consumo, como bares e restaurantes, é eleva-da, e existe bastante oferta de carne resfriada nos pontos de consumo, tipo supermer-cado. O resultado é uma média de consumo de carne/habitante/ano em 2012 de 10,8 kg.

Na Austrália, há também oferta de cortes congelados, com posicionamento de preço similar ao dos principais cortes de boi. A indústria frigorífica tem elevada participação no desenvolvimento da cadeia produtiva. São 57 processadores autorizados para o abate de ovino, na Austrália, quase todos exportadores.

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O total de ovinos abatidos em 2012 foi de 26,1 milhões de cabeças, dos quais 24 milhões foram cordeiros e 2,1 milhões de ovelhas e machos adultos. São animais 100% certifica-dos, com média de 110 dias de idade, vivo médio de 40 kg e 21 kg de carcaça. Os princi-pais produtos são carcaças (70%) e cortes inteiros (30%).

Isso representa uma produção de 520 mil toneladas de carne de ovino. Essa carne tem preço médio de U$ 6,50 por kg, movimentando U$3,3 bilhões. 57% da produção são ex-portados para EUA, China e Oriente Médio.

Resumo Executivo da Missão à AustráliaINTEGRANTES: Bruno Santos, Carlos Frederico Lacerda e Breno GuerraPERÍODO: 04 de Novembro a 07 de Novembro de 2013.

MLA - Meat & Livestock Austrália, SidneyENTREVISTADO: Matthew CostelloTemas discutidos foram: formação da cadeia produtiva, substituição das diversas insti-tuições, desenvolvimento da classificação e tipificação das carcaças, busca pelo melhor produto, mercado doméstico e mercado internacional.

Sheep Genetics Austrália, SidneyENTREVISTADO: HAMISH CHANDLERTemas discutidos: crescimento da utilização de programas genéticos e ganho de produ-tividade no rebanho.

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A Nova Zelândia é o principal país exportador de carne ovina do mundo. São aproximadamente 25.000 produtores com área média de 248 hectares e um rebanho de cerca de 31,2 milhões

de cabeças. A atividade baseia-se nas exportações que, anualmen-te, movimentam em torno de 300 mil toneladas de carne de cordei-

ro, gerando valores de mais ou menos U$ 2,5 bilhões de dólares.

As fazendas de médio porte possuem um rebanho de 4.000 animais, e a produção é de 1,22 cordeiro/ovelha/ano. Considerando que os cordeiros preferidos pelos mercados são animais de 35-40 kg, peso vivo, a receita estimada para os produtores fica em torno de U$ 170 cordeiro. Desse total, o produtor contribui com aproximadamente U$ 0,60 por cordeiro abatido para o Beef+Lamb New Zealand.

O Beef+Lamb New Zealand é a entidade que representa os produtores de ovinos, bovi-nos de corte e cervos na Nova Zelândia. Tal representação envolve as áreas denomina-das como Farm (produção, extensão rural, melhoramento genético, pesquisa e desen-volvimento), Market (acesso a mercados, promoção e inteligência), People (formação e capacitação de recursos humanos) e Information (informação, estatísticas do setor e análises econômicas em diversos níveis).

A entidade é responsável pelo planejamento e condução da cadeia produtiva e é fi-nanciada com recursos dos próprios produtores rurais. Sua gestão é totalmente inde-pendente dos setores do governo, da indústria e do comércio, sendo que as práticas administrativas e de governança seguem os padrões empresariais corporativos.

Em toda a Nova Zelândia, a atividade enfrenta sérios desafios, como a alta no preço das terras, causada pela competição com outras atividades pecuárias, sobretudo a bovinocultura leiteira e, como consequência, transfere as criações de cordeiros

3.6. NOVA ZELÂNDIA

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para as regiões de montanha. Isto acarreta a supremacia das grandes propriedades sobre as pequenas.

A base da alimentação dos animais na Nova Zelândia são as pastagens. Os animais re-cebem suplementação na forma de forragens conservadas na época de escassez de ali-mento, principalmente no inverno. O uso de fertilizantes é intenso, bem como a subdivi-são de áreas com a utilização de cercas convencionais e elétricas.

Em relação aos recursos genéticos animais, a Nova Zelândia apresenta alta variabilidade genética com a utilização de diversas raças e seus cruzamentos. Tal fato permite que se trabalhe com animais especificamente adaptados às montanhas, descendo até as áreas mais baixas, onde existe uma maior oferta de alimentação de qualidade. Basicamente, as raças estão agrupadas em 1) maternas ou de duplo propósito e 2) terminais.

A cadeia produtiva funciona de forma integrada sob a coordenação do Beef+Lamb New Zealand, com a participação dos setores de produção: indústria, comércio, organismos oficiais e instituições técnicas públicas e privadas (universidades, empresas do setor e centros de pesquisa) atuando de forma integrada e com objetivos muito claros e bem definidos. De maneira geral, todo o esforço conjunto é voltado para a obtenção de um produto final de qualidade, através de um processo eficiente e absolutamente necessário que possibilite lucratividade para o produtor rural. É importante ressaltar que não existe nenhum tipo de subsídio fornecido ao produtor rural neozelandês.

As informações e registros de produção são tratados com muita atenção e transparên-cia. Os dados de mercado e estatísticas são disponibilizados, e a sua utilização estimula-da, gerando confiabilidade e segurança para toda a cadeia produtiva.

O uso da genética, através dos programas de melhoramento genético com o objetivo de elevar a eficiência e a produtividade, foi responsável pelo estabelecimento do atual mo-delo que possibilita a obtenção de produtos com elevado padrão de qualidade. A adoção dos princípios de genética e melhoramento vem crescendo no país a taxas de 18% ao ano (utilização de reprodutores provados) entre os produtores comerciais.

O modelo de produção baseado na classificação e tipificação de carcaças, desenvolvido no país, continua valorizando o produto e direcionando a produção. As atenções com os

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produtos de carne ovina e seu efetivo controle de qualidade e desenvolvimento acon-teceram a partir das exigências criadas pelos mercados consumidores internacionais, e a qualidade do produto é identificada pelo selo que permite a sua exportação para o Reino Unido desde a década de 30.

O conjunto dos atores da cadeia da carne de ovinos é o principal “responsável” pelo profissionalismo e pela visão empresarial da ovinocultura na Nova Zelândia.

Dentro deste contexto, a produção, incluindo a padronização das carcaças, a estabili-dade de oferta (consistência) e a qualidade dos cortes cárneos de cordeiro, reconhecida internacionalmente, são influenciadas diretamente por três pilares básicos.

O primeiro desses pilares é a atuação do Beef+Lamb New Zealand na promoção de acesso a novos mercados, nas ações de promoção dos produtos de ovinos e no aprimoramento da competitividade e sustentabilidade do setor, orientando os produtores sobre:

1. As estratégias de manejo para atingir a padronização das carcaças, a maior estabilidade da oferta e a qualidade reconhecida internacionalmente das car-nes de cordeiros pelos países importadores;

2. As análises constantes dos mercados utilizadas para a comercialização de cordeiros (sobretudo o mercado internacional);

3. Acompanhamento sistêmico das tendências de mercados e custos de produção;4. Sistema de classificação e tipificação das carcaças por classes de Conformação;5. A clara definição do tipo de carcaça, preferencialmente demandada pelo merca-

do, possibilitou que a produção de cordeiros na Nova Zelândia apresentasse 58% das carcaças classificadas pela melhor classe de gordura e peso;

6. Ressalta-se, neste aspecto, que o sistema de classificação conta com a tecno-logia, sobretudo, considerando a utilização de ferramentas como o ViaScan®, equipamento instalado no final das linhas de abate que acessa as proporções de músculo, osso e gordura em regiões distintas das carcaças. Desta forma, todos os animais abatidos nessas linhas são objetivamente verificados e in-fluenciam os preços mais altos pagos aos melhores produtores, incentivando toda a cadeia produtiva.

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O segundo pilar são os programas de melhoramento genético para as diversas raças, que são coordenados, nas áreas de produção da Nova Zelândia, pelo Sheep Improve-ment Ltd. (SIL), uma subsidiária do Beef+Lamb New Zealand e por empresas como a Abacusbio. A coordenação das ações entre essas e outras instituições possibilita realizar as avaliações genéticas e as análises dos dados que permitem a identificação dos reprodutores comprovadamente melhoradores, culminando com a disseminação organizada e a socialização dessa genética, proporcionando o aumento de produtivida-de e o incremento da eficiência de produção.

O terceiro pilar de impacto significativo sobre o processo produtivo está relacionado com as ações coordenadas e programadas de transferência de tecnologia e de conhe-cimento para o setor. Este processo é realizado através das ações de extensão em dias de campo, publicações com conteúdo técnico apresentado em linguagem accessível aos produtores, e a atuação do Beef+Lamb New Zealand. Tudo isso permite uma per-manente interação com os produtores que alimentam, com suas demandas, as ativi-dades de pesquisa e desenvolvimento.

O mercado interno é desenvolvido na Nova Zelândia e é responsável pelo consumo de aproximadamente 2% da produção. A oferta em pontos de consumo, como bares e res-taurantes, é elevada, e existe, também, a oferta de carne resfriada nos pontos de consu-mo, tipo supermercado. O resultado é um índice de aproveitamento per capta de 12 kg.

Há, também, oferta de cortes congelados, com posicionamento de preço similar aos principais cortes de bovino, entretanto não se verifica a presença de um portfólio de produtos em pratos prontos ou porções individualizadas.

A indústria frigorífica tem elevada participação no desenvolvimento da cadeia produti-va. São 17 frigoríficos autorizados para o abate e processamento de carne de ovino na Nova Zelândia todos com autorização para exportação. As maiores empresas de abate e processamento são as cooperativas de produtores.

O total de ovinos abatidos na Nova Zelândia em 2013 foi de 25,6 milhões de cabeças, dos quais 21,3 milhões foram de cordeiros e 4,3 milhões de ovelhas e de machos adul-tos. São animais 100% certificados, sendo os cordeiros abatidos com reduzida idade

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e peso vivo médio de 40 kg e 18 kg de carcaça. Os principais produtos de exportação são cortes cárneos de cordeiro (94%) e carcaças de animais adultos ou Mutton (6%).

Isso representa uma produção de 400 mil toneladas de carne de ovino (2013), com pre-ços médios de U$ 6,80 por kg, movimentando U$ 2,7 bilhões, 97% exportada, sendo que os maiores volumes são destinados para a China, Reino Unido e Europa. A base que sustenta a cadeia produtiva de ovinos na Nova Zelândia possui um aspecto de extrema importância que é a lucratividade para o produtor. Nos últimos dois anos, a lucratividade apresentou grande variação, o que causou sérios danos para a atividade, considerando que os custos de produção seguem crescendo e que a competitividade do setor é bastante reduzida, quando comparada à atividade leiteira.

Nos anos de 2012 e 2013, a lucratividade média das fazendas de ovinos e bovinos foi de U$ 160.448,00 e U$ 84.500,00 respectivamente. Esses valores expressivos são muito inferiores aos lucros promovidos pela produção de leite que foi, em média, de U$ 369.196,80 e U$ 258.030,00 respectivamente para os anos de 2012 e 2013.

Sem dúvida, o maior entrave para a cadeia produtiva de ovinos na Nova Zelândia é man-ter a competitividade e os retornos econômicos dentro de um ambiente em constante transformação e altamente desafiador.

Resumo Executivo da Missão à Nova ZelândiaINTEGRANTES: Bruno Santos, Carlos Frederico Lacerda E Breno GuerraPERÍODO: 27 de outubro 2013 a 09 de Novembro de 2013

Abacusbio, DunedinENTREVISTADO: Simon Glennie, Diretor Técnico.TEMAS DISCUTIDOS: formação da cadeia produtiva, modelos de produção, importân-cia das instituições como Beef+ Lamb New Zealand em cada elo da cadeia para o seu perfeito funcionamento.

Indústria Processadora Alliance Lorneville, Invercagil ENTREVISTADO: Geoff Proctor

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TEMAS DISCUTIDOS: participação da indústria na organização da cadeia produtiva, remuneração do produtor, modelos de contrato, produtores, classificação eletrônica via scanner para carcaças. Visita técnica a todas as áreas de produção da indústria, com enfoque no abate apropriado para exportação a países de população mulçumana e trata-mento de vísceras para o mercado chinês.

Lindsay Farming, DiptonENTREVISTADOS: John e Sra. Mary Lindsey e Simon SaundersHead Watters Limited, Associação de Produtores Tops, WanakaTEMAS ABORDADOS: elevado investimento em programas genéticos, modelo de criação, diversidade de culturas, melhoramento constante da terra e das pastagens, produção em escala e produtividade e desenvolvimento de mercado para produtos de qualidade diferenciada.

Beef+Lamb New Zeland, WellingtonENTREVISTADOS: Nick Beeby, Gerente de Projetos Estratégicos; CRAIG FINCH, Geren-te Geral Market e Richard Wakelin, Gerente Geral FarmTEMAS DISCUTIDOS: Histórico e modelo de desenvolvimento da cadeia produtiva de ovinos, modelo de governança, gestão e investimentos de recursos financeiros e tecno-lógicos, capacitação e assistência técnica, mercado doméstico, mercado internacional, crescimento da classe média na China, modelos de produção e associativismo.

Taratahi agricultural training for new zeland, mastertonENTREVISTADOS: Paul Crick, Coordenador de Campo e Miekes Buckley, Coordenadora Pedagógica da Unidade.TEMAS DISCUTIDOS: modelos de capacitação profissional e formação de fazendeiros no desenvolvimento da atividade pecuária na Nova Zelândia, programas de curso, ativi-dades práticas, preços e currículos.

Wairere Romneys - Principal Criação De Reprodutores, WairapapaENTREVISTADO: Derek DaniellTEMAS DISCUTIDOS: transferência genética através dos reprodutores TOP, manuten-ção de peso do rebanho com base nos programas genéticos, busca do equilíbrio entre barrigas duplas e saúde das ovelhas.

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O Uruguai é o principal país exportador de car-ne de ovino da América do Sul. São 12.500 produtores com rebanho de cerca de 8,2 mi-

lhões de cabeças.

As fazendas médias criam 250 animais, e a produção média é de 1 cordeiro/ove-lha/ano. Considerando que os cordeiros preferidos pelos mercados são animais de 30-35 kg peso vivo, a receita estimada para os produtores é de U$ 120, por animal abatido, desse valor, cerca de U$ 9,60 (8,2%) por animal são proporcionados pela lã. Esse esforço de seleção e padronização de carcaças é chamado de Cordeiro Pesado.

Nos últimos anos, foram acrescentadas duas variantes ao Cordeiro Pesado - CP Tradicional, que são o Cordeiro Precoce Pesado -CPP- animais com menos de 7 meses de idade, peso mínimo de 32 kg (carcaças de 13 a 16 kg) e pode ser com lã ou, são tosquiado, deve ter, no mínimo, 1 cm de comprimento de lã. A outra variante é o Cordeiro Superpesado -CS- animais com peso vivo superior a 45 kg (carcaças com mais de 20 kg). Tanto o CPP, como o CS deverá atender às mesmas exigências que o CP tradicional.

Para fortalecer as ações do Operativo Cordeiro Pesado, foram de extrema impor-tância, além da participação do Secretariado Uruguaio da Lã, a Cooperativa Central Laneira Uruguaia e o Instituto Nacional de Carnes - INAC.

O Instituto Nacional de Carnes – INAC - é integrado por representantes do Governo Nacional, por produtores e pela indústria frigorífica, coordenando os trabalhos de organização das atividades industriais e comerciais, bem como a promoção, em ní-vel mundial, de todas as carnes uruguaias, neste caso, especificamente, as carnes dos cordeiros pesados.

3.7. uruguai

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Para isso, o INAC participa das principais feiras mundiais de carnes e realiza permanen-tes promoções, principalmente nos mercados asiáticos. A presença do INAC no mercado de carnes ovinas concentra-se nas atividades de monitoramento de mercados, certifi-cação de qualidade, promoção, divulgação das estatísticas de abates e dos destinos de mercados, classificação de carcaças, capacitação dos diferentes atores do processo e inovação de cortes comerciais.

Em relação às instituições, que desde diferentes posições atuam de forma preponderante ao longo dos últimos 50 anos no desenvolvimento e posterior reorganização da ovinocultura uruguaia, destaca-se o Secretariado Uruguaio da Lã - SUL- considerado, em nível mundial, uma das mais atuantes instituições na organização, principalmente, da etapa produtiva das lãs e das carnes de ovinos.

Desde 1966, a missão do SUL é promover o desenvolvimento sustentável da produção ovina no país, e é dirigida e financiada pelos ovinocultores através do pagamento de taxas em rela-ção aos produtos comercializados.

As ações principais realizadas pelo SUL, neste meio século, são: a pesquisa; a transfe-rência de tecnologias pelos agentes de assistência técnica aos produtores; a promoção dos produtos; a capacitação tanto dos trabalhadores rurais quanto dos industriais da carne e da lã, bem como os demais serviços técnicos de campo e laboratoriais presta-dos aos produtores de ovinos.

A atuação do SUL na elaboração e na gestão técnica do Operativo Cordeiro Pesado foi e é determinante para o sucesso produtivo e econômico desta fonte de ingresso para os ovino-cultores. Se existe mercado de carnes ovinas de qualidade, de forma padronizada e com a in-tegração vertical e horizontal entre os diferentes atores, deve-se à atuação e gestão do SUL.

Em todo o Uruguai as fazendas sofrem com predadores e com a falta de novos e capaci-tados pastores e, como consequência, vê-se o crescimento das grandes propriedades em relação às pequenas.

A base da alimentação dos animais no Uruguai são as pastagens e a suplementação é utili-zada em pouca quantidade e feita apenas de concentrados. O uso de fertilizantes é restrito, e a principal raça utilizada por 80% dos produtores é a Corriedale.

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A cadeia produtiva funciona de forma integrada aos setores da produção: indústria, co-mércio, organismos oficiais e instituições técnicas. As informações e os registros de produção são tratados com muita atenção e transparência. Os dados de mercado e as estatísticas são disponibilizados e a sua utilização estimulada, gerando confiabilidade e segurança para toda a cadeia produtiva.

O modelo de produção Cordeiro Pesado, desenvolvido no Uruguai, continua valorizando o produto lã e colocando o país na 2ª posição como o maior produtor mundial do produto e 1º lugar em Lã Top. As atenções com os produtos lã e carne ovina e seu efetivo controle de qualidade e desenvolvimento aconteceram a partir das exigências impostas para a importação e criadas por mercados consumidores, como Israel, ainda na década de 70.

Fortalecendo as atividades de assistência técnica e transferência de conhecimentos, tec-nologias e tendências de mercados, elementos preponderantes e de destaque da ovino-cultura uruguaia, existem outras instituições que realizam essas atividades, nas diferen-tes frentes de atuação. Uma delas é o Plano Agropecuário, instituição com a participação do setor público e privado, que realiza atividades de extensão e capacitação junto aos produtores rurais, principalmente os da agricultura familiar.

O Plano Agropecuário também realiza ações de transferência à Federação Uruguaia de Grupos CREA – FUCREA, que dá assistência aos produtores agrupados regional-mente e por produto.

Dentro do setor público, atua na geração de conhecimentos e no desenvolvimento de novas tecnologias, ou na adaptação delas. O ponto de destaque é o Instituto Nacional de Investigação Agropecuária –INIA – responsável pela pesquisa agropecuária em nível nacional. Um dos setores com maior número de pesquisadores altamente qualificados é o Programa Nacional de Pesquisa de Carnes e Lãs que realiza valiosos aportes de P&D+i para a ovinocultura nacional tanto no desenvolvimento de ações para a carne quanto para a lã.

O mercado interno é pouco desenvolvido e é responsável pelo consumo de apenas 5% da produção. A oferta em pontos de consumo como bares e restaurantes é baixa, com oferta restrita, apenas, a casas especializadas em carnes.

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Existe pouca oferta de carne resfriada nos pontos de consumo tipo supermercado. A oferta mais regular é de cortes congelados, com posicionamento de preço similar ao dos principais cortes de boi.

A indústria frigorífica tem elevada participação no desenvolvimento da cadeia produti-va por 21 frigoríficos autorizados para o abate de ovinos, sendo que 08 deles possuem autorização pelo NAFTA – North American Free Trade Agreement, bloco formado pelos Estados Unidos, Canadá e México para facilitar o comércio, reduzir o custo e regular padrões de qualidade.

O abate em 2012 foi de 1,2 milhões de cabeças (15% do rebanho). São animais 100% certificados, com média de 11 meses de idade, momento em que o animal pesa, em média, 34 kg em pé e tem aproveitamento total de 16 kg de carne e 3 kg de lã. Os prin-cipais produtos são carcaças e cortes inteiros. Apresenta bons resultados em pratos prontos e porções individualizadas.

O Uruguai produz 18 mil toneladas de carnes de ovinos, com preço médio de U$ 6,70 por kg, movimentando U$ 120 milhões. No país, 95% dessa produção é exportada, sendo 45% para o Brasil e o resto para outros 50 mercados, com destaque para o México e Canadá, através do NAFTA, colocando o país como fornecedor do bloco em relação à carne de ovino.

O uso da genética foi responsável pela definição dos produtos com elevado padrão de qualidade, e seu uso vem crescendo no país. Programas de assistência técnica, capaci-tação e extensão se constituem na principal preocupação das instituições que contro-lam o desenvolvimento do setor, com investimentos direcionados para a formação de mão de obra qualificada, principalmente de jovens.

Do ponto de vista técnico, durante os últimos 45 anos, inúmeras ações têm fortaleci-do o setor ovino. Uma delas, talvez uma das três mais importantes, é a existência de programas de avaliações genéticas dos rebanhos, desde 1969 (Flock Testing) e desde 1995 (as Centrais de Testagem de Progênies). Essas avaliações possibilitaram que os produtores de ovinos recebessem orientações em relação aos reprodutores mais apro-priados para a obtenção de carnes e de lãs de qualidade e padronizadas.

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Da mesma forma que nos demais países visitados, a existência de programas de melho-ramento genético são pilares básicos de sustentação e de desenvolvimento qualificado no setor de ovinos.

Outra ação técnica de relevância para atender às tendências mundiais que, já naquela época, sinalizavam que as lãs mais finas e mais brancas teriam nichos diferenciados de demandas, em 1998, o INIA iniciou os trabalhos com o Núcleo de Merino Fino e, poste-riormente, com o Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento de Merino Fino.

Em outra linha de trabalho, surge um conceito divergente sobre que tipo de cordeiro ne-cessita o Uruguai para abrir novos mercados no exterior. Os pesquisadores da Faculdade de Agronomia do Uruguai defendem a utilização de raças tipo carne em cruzamentos com as ovelhas de raças produtoras de lã(laneiras) para a produção de cordeiros, com maior velocidade de crescimento e melhor acabamento em menor tempo. Essa opção encontra adeptos, principalmente, entre os produtores que não têm rebanhos de lãs, e têm uma grande dificuldade com o reduzido número de reprodutores das raças de carne, principalmente H. Down, Texel e Suffolk.

Em nível de governança e estabelecimento de políticas de médio e longo prazo, as lide-ranças institucionais, técnicas e políticas, com atuação relevante e formadoras de opi-nião sobre a ovinocultura uruguaia, com o objetivo de estabelecer linhas de atuação e metas a serem atingidas, elaboraram o Plano Estratégico 2008-2015 para a ovinocultura que, além do diagnóstico setorial, estabeleceu as diretrizes para atingir, na produção de lãs e carnes de ovinos, os objetivos necessários para o desenvolvimento setorial.

Neste sentido, deve-se destacar a atuação das associações de criadores de raças puras que têm decisiva participação na gestão do setor por ter voz ativa nos diferentes foros de discussão e planejamento.

Atuação semelhante corresponde às inúmeras Cooperativas que atendem, de diversas formas (serviços, insumos, gestão, comercialização), aos produtores de ovinos.

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Resumo Executivo da Missão ao Uruguai INTEGRANTES: Milton Daniel Ojeda, Jucieux Palmeira Lucena, Carlos Frederico Lacer-da, Breno Guerra.PERÍODO: 22 a 26 de outubro 2013

INAC - Instituto Nacional De Carnes, MontevidéuENTREVISTADOS: Pablo Caputi Aguirre e o Eng. Agr. Jorge Acosta Soto, responsáveis pelas áreas de Análises Econômicas e de Informação, respectivamente. O Dr. Fernando Rovira Braga e o Dr. Ricardo Piegas, diretores de Controle e Desenvolvimento de Qualidade. Temas discutidos: modelo de governança participativa, controle de qualidade de carnes, sanidade animal, mercados internacionais, mercado Brasil, capacitação profissional e de extensão e estratégias de marketing para o desenvolvimento de novos mercados.

ALLFLEX - Uruguai. MontevidéuENTREVISTADO: Eng. Agr. Hugo Durán Martinez, responsável técnico pelo programa de identificação eletrônica para o uso da rastreabilidade como forma de atender às exi-gências de confiabilidade para os mercados internacionais. Frigorífico San Jacinto - Nirea, CanelonesENTREVISTADOS: Gastón Scayola Piedra Cueva, Vice-Presidente do Grupo Nirea; Cr. Rodrigo Cabañas Bogue, Gerente Geral; Eng. Agr. Rodrigo Morales, Chefe de Controle de Abate e Transformação. Além de uma criteriosa visita técnica sobre controle de qua-lidade na produção de carne de ovino, outros temas discutidos foram: mercado Brasil e suas oportunidades, sustentabilidade para o produtor, modelos de comercialização, preço garantido, classificação de carcaças e animais, registros, informações e futuro do mercado de carne de ovinos.

SUL - Secretariado Uruguaio de La LanaENTREVISTADOS: Administrador de Empresas Joaquim Martinicorena, Presidente; Eng. Agr. Valentín Javier Otero. Os principais temas tratados foram: a atuação do SUL no Operativo Cordeiro Pesado, situação atual e projeções em médio prazo para as indústrias de lãs e de carnes, mercado internacional de lã e a participação direta dos produtores na gestão da cadeia produtiva.

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4.SOLUÇÕES ENCONTRADAS NA AÇÃO DE

BENCHMARKING INTERNACIONAL

4.1. introdução - cenário internacional

P ara a realização da Ação de Benchmarking foram escolhidos, em três continentes, os países que, durante os últimos anos, têm-se destacado mundialmente pela efici-ência demonstrada nas cadeias agroindustriais de ovinos e caprinos.

Essa liderança no mercado mundial de carne ovina não surge somente pelos elevados índices e volumes de produção e exportação. Esses índices são consequência de cadeias agroindustriais muito bem organizadas que possuem, sem exceção:

Ì Governança definida; Ì Continuidade nas ações de médio e longo prazo; Ì Objetivos claros e definidos, em conjunto, por todos os elos da cadeia; Ì Integração entre os atores e definição clara dos papéis de cada elo; Ì Mercados com remuneração diferenciada por qualidade; Ì Produtores com capacitação constante, Ì Elevada participação das instituições de pesquisa e ensino nas ações de PD&I.

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Com base nesse perfil, a Ação de Benchmarking foi realizada no Reino Unido (Inglaterra e Escócia), Espanha, Uruguai, Nova Zelândia e Austrália. Em todos esses países, foram realizadas entrevistas com lideranças das instituições públicas e privadas, entidades de classes dos criadores, produtores rurais, indústrias de processamento e referenciais do setor técnico. O objetivo das visitas foi coletar dados sobre as soluções encontradas nes-ses países para equacionar os pontos de entrave ao desenvolvimento do setor, similares aos identificados no Estudo das Cadeias da Ovinocaprinocultura no Brasil.

Em cada país visitado, a produção de ovinos apresenta características específicas e di-ferentes modelos de produção, de atuação e de promoção nos mercados internos e de exportação, de associativismo, pesquisa, extensão e assistência técnica. Apesar de o contexto internacional apresentar, de uma maneira geral, uma redução nos rebanhos em todos os países, as soluções encontradas têm mantido a ovinocultura em pleno funcio-namento de forma atualizada, participativa e sustentável.

tabela 1cenário da produção 2012

CENÁRIO PRODUÇÃO

PAÍS REBANHO TOTAL(MIL CABEÇAS)

ABATE(MIL CABEÇAS)

PESO MÉDIO(CARCAÇA KG)

PREÇO VENDA(US$/KG DE CARCAÇA)

Espanha 16.400 10.520 18 9,50

Reino Unido 32.200 11.900 19 9,80

Austrália 74.700 26.100 19 6,50

Nova Zelândia

31.200 23.000 19 8,79

Uruguai 8.200 1.120 16 6,70

Fonte: Ação de benchmarking internacional - FEA/UFBA - IM3

Na Europa, os países do Reino Unido somam um rebanho de 32,2 milhões de ovinos, dos quais foram abatido, em 2012, 11,9 milhões de animais, com carcaça de peso médio de 19 kg e preço de mercado valendo US$ 9,80/kg. Já na Espanha, o rebanho, em 2012,

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somou 16,4 milhões de cabeças, das quais 10,5 milhões foram processadas. Neste país, o peso médio das carcaças dos cordeiros é de 18 kg, e o preço de mercado da carne é US$ 9,50/kg

Dentre os países analisados, a Austrália apresenta-se como o maior produtor, com reba-nho total de 74,7 milhões de animais, dos quais foram abatidos, em 2012, 26,1 milhões. Os cordeiros da Austrália são processados, na sua maioria, com um peso médio de car-caça de 19 kg, e a carne é vendida a preço médio de US$ 6,50/kg.

Na Nova Zelândia, o rebanho foi estimado pelas instituições locais em 31,2 milhões de animais, e o abate foi de 23 milhões. Os cordeiros de lá foram abatidos com uma carcaça com peso médio de 19 kg, e a carne é comercializada no mercado a US$ 8,80/kg.

No Uruguai, o rebanho identificado pelas autoridades locais foi de 8,2 milhões de cabe-ças, com abate anual de 1,1 milhão. São animais com carcaças que produzem, em média, 16 kg e têm preço médio de US$ 6,70/kg no mercado mundial de carnes de ovinos.

Paralelamente, durante as visitas técnicas, foi possível conhecer alguns dos melhores processos em cada elo da cadeia agroindustrial, bem como ideias inovadoras e procedi-mentos de operações mais eficazes.

Todas essas informações, se ajustadas às peculiaridades regionais do Brasil, poderão ser importantes instrumentos de gestão técnica, administrativa e comercial para alcan-çar um melhor desempenho no setor da carne de ovinos e caprinos, permitindo vislum-brar um futuro mais promissor para essas atividades.

4.2. coordenação institucional e governança

Conforme registrado no relatório da Ação de Benchmarking Internacional, embora re-conhecendo diferenças entre os países visitados, suas diversidades culturais, realidades socioeconômicas, importância da atividade no PIB do setor primário e suas condições estruturais, uma característica comum a todos eles é a constatação de que as cadeias das carnes de ovinos possuem sistemas de governança muito bem estabelecidos. A so-

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lidez política e a representatividade das instituições que representam o setor lhes pos-sibilitam planejar, implementar, coordenar e monitorar diretrizes e políticas setoriais de médio e longo prazo.

Essas ações são permanentemente monitoradas e sofrem ajustes conforme a conjuntu-ra de mercado. Tais ajustes se referem às variações cambiais de moedas fortes (Euro e Dólar) e, nos últimos anos, um novo cenário comercial foi estabelecido pela forte parti-cipação da China, tradicional importadora de lã que, ultimamente, passou a ser um dos principais mercados importadores de carnes de ovinos.

As instituições responsáveis pela governança do setor, em cada um dos países pesqui-sados, também têm em comum o permanente diálogo entre os participantes da cadeia produtiva. Esta dinâmica estabelece um fluxo contínuo de informações atualizadas sobre as necessidades, prioridades e limitações de cada elo, aproximando-os e criando siner-gias que almejam objetivos comuns.

Outra característica encontrada nos países visitados é que, em diferentes níveis e atu-ando direta ou indiretamente, a administração pública facilita e cria condições para uma governança independente da ovinocaprinocultura.

Além das ações de elaboração e implementação de políticas públicas internas, as insti-tuições de governança do setor de carnes de ovinos nos países da União Europeia agem dentro do marco da Política Agrária Comum (PAC) em ações de âmbito comunitário es-tabelecido para a região.

Entre essas ações, destacam-se os incentivos aos produtores dos países europeus que criam raças em risco de extinção, o estabelecimento de políticas tarifárias, intercedendo junto à OMC para padronizar e facilitar a comercialização intracomunitária dos selos de IGP – Indicação Geográfica Protegida e DOP – Denominação de Origem Protegida, para produtos derivados dessas raças, regiões e sistemas de produção diferenciados. Assim, em cada país, procuram fortalecer os produtores de ovinos e caprinos pelo reconheci-mento internacional de seus produtos.

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tabela 2cenário de governança

GOVERNANÇA

PAÍS INSTITUIÇÕES

Eespanha Corderex, Oviaragon

Reino Unido Eblex, nsa, qms

Austrália meat&livestock austrália (MLA)

Nova Zelândia beef + lamb new zealand (b+lnz)

Uruguai inac, sul, clu

Fonte: ação de benchmarking internacional - FEA/UFBA – IM3

Na Ação de Benchmarking, evidenciou-se a atuação de governança marcante de ins-tituições como: Beef and Lamb New Zealand (B+LNZ) e Meat and Livestock Austra-lia (MLA), da Quality Meat Scotland (QMS) e da Scotland’s Rural College (SRUC) na Escócia. Na Inglaterra, ressalta-se a atuação da Agriculture and Horticulture Deve-lopment Board (AHDB) através do English Beef and Lamb Executive (EBLEX), que é direcionada para as ações técnicas de produção, processamento, transferência e capacitação, e da Meat and Livestock Commission (MLC) para as ações comerciais.

No Uruguai, destaca-se o Secretariado Uruguayo de la Lana, do Instituto Nacional de Carnes (INAC) e do Instituto Nacional de Investigación Agropecuária (INIA) jun-tamente com a indústria frigorífica e as cooperativas. Na Espanha, é marcante a atuação de cooperativas de primeiro grau (Oviaragón), de segundo grau (Oviso) e de terceiro grau (OVISPAIN), bem como as associações de raça, além do Ministério de Agricultura e Alimentación.

A participação dessas instituições é decisiva e abrangente, com ações que vão desde a gestão técnica e administrativa dos rebanhos até as campanhas de marketing e pesquisas de mercado. São também realizadas ações de interface entre a produção,

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a transformação e a comercialização, além de ações ligadas à inteligência e acesso a mercados e à manutenção dos bancos de dados que possibilitam a divulgação de dados comerciais, estatísticas e informações em toda a cadeia agroindustrial. Inclui--se aí a condução dos programas de melhoramento genético.

Este fluxo de informações possibilita que sejam conhecidas as estatísticas do se-tor, índices produtivos e comerciais permitindo, assim, uma maior compreensão do funcionamento dessas cadeias produtivas e favorecendo as análises e os ajustes necessários em tempo e forma.

No Reino Unido, por exemplo, a disseminação do conhecimento sobre o mercado atual e as tendências de produção e preços incentivam a indústria frigorífica a melhor utilizar os sistemas de classificação e tipificação de carcaças. Este processo permite remunerar os produtores, de forma diferenciada, pela qualidade, atendendo melhor aos diferentes nichos de mercado interno e externo.

Este cenário internacional de coordenação institucional e governança, organizado, participativo e comprometido, difere bastante do cenário atual no Brasil e é um dos principais responsáveis pelo sucesso obtido em cada uma das cadeias produtivas de ovinos e caprinos analisadas.

4.3. integração da cadeia produtiva

Em todas as atividades, independente do setor, das diferenças estruturais e dos mo-mentos conjunturais, evidenciam-se as deficiências de cada elo da cadeia produtiva. Dessa forma, percebe-se que a união desses elos, por meio do entendimento de que ações conjuntas entre os diferentes atores, são necessárias para o desenvolvimento de todos e essenciais para o desenvolvimento completo de um setor. É com essa visão que cadeias agroindustriais de alimentos têm se firmado no cenário mundial.

Isto se confirma nos complexos internacionais visitados, nos quais as cadeias pro-dutivas de ovino e caprinocultura são caracterizadas pelo comprometimento da grande maioria dos atores e pela necessidade de somar as capacidades e os re-cursos humanos, físicos e financeiros. Além disso, o compartilhamento das lições

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aprendidas é fundamental para atender à demanda, em tempo e forma, com o me-lhor produto possível.

Uma das características de maior destaque em todos os países visitados é que a in-tegração é “bidirecional”, ou seja, existe a integração vertical (entre os setores), que é geralmente mais conhecida e, também, a integração horizontal (dentro de setor), que tem grande impacto, mas que, frequentemente, é tida como de menor impor-tância. A forma e o grau de integração entre os elos variam dentro dos continentes e entre os países.

Na Inglaterra e na Escócia, quem lidera e integra o setor com abrangência quase que total junto aos diferentes elos são as instituições EBLEX e QSM. Na missão de cada uma delas, enfatiza-se: “atuamos para aumentar a rentabilidade e a sustentabilidade das cadeias agroindustriais das carnes inglesas de ovinos e bovinos, agregando va-lor a estes produtos”.

Essa filosofia coloca em evidência o objetivo geral que é o crescimento e o fortaleci-mento do setor como um todo e não de um elo em particular. Se essas cadeias são bem sucedidas, em grande parte, é devido a uma gestão sistêmica.

No Uruguai, a integração setorial, historicamente, tem sido impulsionada pelo Se-cretariado Uruguaio da Lã (SUL). Esta instituição, desde 1995, coordena o Projeto Cordeiro Pesado, no qual estão integrados o setor produtivo e a indústria frigorífica. Numa ação conjunta com outra instituição, a Central Laneira, os técnicos do SUL capacitam e fazem o trabalho de extensão junto aos produtores.

Neste projeto, a indústria frigorífica é o ícone referencial nas fases de transforma-ção e comercialização, sendo que a coordenação macro do setor é realizada pelo Instituto Nacional de Carnes (INAC). A Missão deste Instituto é: “Desenvolver ações de natureza coletiva que promovam atividades e formulem políticas que adicionem valor e contribuam para o desenvolvimento socioeconômico da cadeia de carnes”. Enfatizando que as ações devem ser de natureza integradora.

Este instituto é a fonte oficial das informações dos mercados de carnes, incluindo o cenário atual e as tendências futuras, divulgando, em tempo real, essas informações

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a todos os elos. O INAC também estabelece as diretrizes que orientam o setor, par-ticipa de eventos internacionais para a promoção das carnes uruguaias e promove campanhas de marketing para captar novos mercados internacionais.

Uma característica comum ao Reino Unido e ao Uruguai é a baixa integração dentro do setor produtivo. Situação oposta é a que acontece na Espanha, onde a forte integra-ção dos produtores tem fortalecido os sistemas cooperativos de primeiro, segundo e terceiro grau que integram a maioria dos elos do setor.

Um dos alicerces dessa integração é a Cooperativa Ovino do Sudoeste (OVISO), de segun-do grau, que reúne treze cooperativas de primeiro grau, 1.400 produtores que integram o processo, aproximadamente 800.000 ovelhas. Existe, também, o Grupo Cooperativo Pastores (OVIARAGON) que congrega 1.200 produtores com um rebanho composto de pouco mais de 500.000 ovelhas.

Um claro exemplo da filosofia integradora do setor de carnes de ovinos da Espanha é a da OVIARAGON:“com uma visão global da ovinocultura, trabalha-se por e para o produtor, ajudando-o a melhorar a rentabilidade da propriedade através da assistência técnica e dos insumos necessários”.

Outra característica de destaque na integração setorial, em todos os países visitados, é a decisiva participação das instituições de ensino e pesquisa, disponibilizando conheci-mento, tecnologia e participando de todas as fases da elaboração das diretrizes do setor.

Essa integração entre os órgãos setoriais, associada à existência de um plano nacional estratégico para o desenvolvimento do setor, cujo conhecimento é disseminado para toda a cadeia produtiva, promove o crescimento e o fortalecimento sustentável da atividade.

4.4. perfil e atuação da indústria frigorífica

Existem diferenças muito significativas no perfil de atuação da indústria frigorífica nos complexos internacionais analisados. Em comum, há o fato de a indústria frigorífica ter elevada e decisiva participação no desenvolvimento da cadeia produtiva de carne. Tais ações relacionam-se à qualidade dos processos e da gestão interna, aplicação direta dos sistemas de classificação e tipificação de carcaças e remuneração dos produtores

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com bases nessas diretrizes. Dessa forma, a indústria frigorífica age sobre toda a cadeia agroindustrial transferindo os benefícios para os produtores e demais elos da cadeia.

tabela 3cenário de governança e participação da indústria

GOVERNANÇA

PAÍSES VISITADOS PARTICIPAÇÃO PRODUTOR PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA

Espanha 18.650 22 frigoríficos abatem cordeiro

Reino Unido 21.400 162 frigoríficos abatem cordeiro

Austrália 43.760 97 processadores/exportadoresNova Zelândia 27.000 17 processadores/exportadores

Uruguai 12.50021 frigoríricos abatem cordeiros

80 habilitados para NAFTA

Fonte: Ação de Benchmarking Internacional - FEA/UFBA – IM3

O número de indústrias de processamento de carnes de ovinos nos países visitados indi-ca que existem em torno de 22 unidades na Espanha, 21 no Uruguai, sendo que 08 des-sas unidades são habilitadas para exportar para o bloco de países da América do Norte que integram a NAFTA. Na Nova Zelândia, são 17 indústrias. Importante destacar que Nova Zelândia e Uruguai são países que possuem área e população inferiores a 5% do Brasil. No Reino Unido, existem 162 frigoríficos, enquanto na Austrália são 97.

A atuação da indústria frigorífica tem promovido o desenvolvimento integrado de toda a cadeia produtiva nesses países. Segundo informações recebidas, não existe abate in-formal e todos os animais abatidos são devidamente inspecionados. O setor industrial se responsabiliza pela melhoria na eficiência do processamento, além de existir ampla colaboração com as instituições governamentais responsáveis pelo controle sanitário dos produtos.

Em todos os países visitados, foi possível verificar que as ações da indústria frigorífica não se limitam ao abate e ao processamento. O setor tem ampliado sua atuação nas eta-pas de pré e pós abate como forma de ter maior controle sobre a qualidade do produto produzido. Essa atuação permite que os animais tenham maior padronização, possibili-

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tando aumentar o valor da oferta, utilizando melhor a matéria-prima recebida e garantindo melhores produtos e resultados.

As indústrias frigoríficas nos países visitados estão diretamente ligadas aos programas de melhoramento genético e fomento da produção. Afim de elevar a integração com os pro-dutores, muitas empresas disponibilizam assistência técnica ao produtor durante todo o processo de produção. Soma-se, ainda, a garantia de uma remuneração diferenciada con-forme a qualidade do produto, o que também inclui a logística de transporte dos animais da propriedade até o local do abate e do processamento.

Um fator de extrema importância para a indústria frigorífica é poder assumir compromis-sos comerciais junto a mercados internacionais com a certeza de que poderá atender aos mesmos. Para isso, é determinante que a indústria tenha a garantia de fornecimento ne-cessário, em quantidade e qualidade, por parte do setor produtivo.

No Uruguai, o programa chamado Operativo Cordeiro Pesado encontrou formas de asse-gurar a fidelidade do produtor a partir do planejamento. No começo de cada ano, a indústria frigorífica e seus parceiros informam ao setor produtivo as bases da comercialização para o ano, oferecendo atrativos aos produtores que assumirem o compromisso de comerciali-zação, entre os atrativos, destacam-se o adiantamento de até US$ 40/cordeiro, garantia de preço base mínimo entre US$ 3,00 e US$ 3,30/kg, conforme o período de abate (que poderá ser corrigido de acordo com o mercado), presença autorizada para acompanhar o abate e acréscimo de US$ 0,10/kg para cordeiros de raças de carne e suas cruzas.

Outra ação da indústria frigorífica junto ao setor produtivo nos países visitados é a parti-cipação efetiva na elaboração dos Sistemas de Classificação e Tipificação de Carcaças. No Reino Unido e na Espanha, por exemplo, a tabela utilizada é a EUROP para conformação e cobertura de gordura com padrões de 1 a 5, possibilitando aos produtores identificar e produzir o tipo e o padrão mais adequados para o seu modelo e recursos. A comunicação é feita através de programas específicos como a publicação e a distribuição de cartilhas, como a “Entendendo cordeiros e carcaças para aumentar a rentabilidade”. A utilização pela indústria desses sistemas de classificação informa claramente aos produtores as carac-terísticas que deverão ter as carcaças para justificar uma remuneração diferenciada, bem como as características indesejáveis, que poderão fazer com que as carcaças sejam pena-lizadas por déficit ou excesso de gordura, por exemplo.

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Em relação às ações pós-abate, destacam-se o constante processo de pesquisa e o de-senvolvimento de novos cortes e de novos produtos que demandem menor tempo e que sejam adequados para a sociedade moderna, com pouco tempo disponível para o preparo das refeições.

Concluindo, constata-se a decisiva importância da indústria frigorífica nos países que lideram o setor de carnes de ovinos no mundo, bem como na consolidação e integra-ção das cadeias produtivas dessas carnes. Reiteramos que essas ações são realizadas há vários anos com sucesso reconhecido mundialmente para as carnes de bovinos, suínos e aves.

4.5. Mercado doméstico e incentivo ao consumo

Conforme os dados coletados durante a missão, o consumo de carnes de ovinos na In-glaterra é de 1,9 kg por habitante por ano, na Escócia é de 0,8 kg e 11,5 kg na Austrália. No Uruguai, durante 2013, dos 101,2 kg/hab/ano de carne consumidos, 4,3 kg foram de carne ovina (mais 0,3% em relação a 2012). Este valor por habitante/ano, no Uruguai, está fortemente influenciado pelo elevado consumo no interior do país onde a tradição é muito forte; diferente das zonas urbanas, onde o consumo é significativamente menor, em especial, nas famílias jovens e sem tradição gastronômica.

tabela 4 cenário do mercado consumidor

MERCADO CONSUMIDOR

PAÍSES VISITADOS

TOTAL PRODUZIDO

Mil (t)

MERCADO INTERNO

Mil (t)EXPORTAÇÃO PRINCIPAIS

CLIENTES

Espanha 121 72,6 (60%) 48,4 (40%) França, Itália, Oriente Médio

Reino Unido 275 277 (98%) 100 (36%) França, Grécia e Itália

Austrália 640 277,5 (43%) 362,5 (57%) USA, China, Oriente Médio

Nova Zelândia 450 36 (8%) 414 (92%) China, UK, Europa

Uruguai 18 1 (5%) 17 (95%) Israel, Canadá, Brasil e Europa

Fonte: Ação de benchmarking internacional - FEA/UFBA – IM3

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Na Espanha, as estatísticas oficiais não separam carnes de ovinos e de caprinos. Dessa for-ma, em 2012, em média, cada habitante consumiu 2,1 kg dessas carnes a um custo médio de €$ 21,70, o que, em relação a todas as carnes, representa 4% do consumo e 6,4% das despesas. Considerando que a carne de ovinos e de caprinos é um produto que tem preço compatível com o preço de cortes bovinos denominados de primeira e, devido à situação econômica por que atravessa a Espanha, estima-se que esteja acontecendo uma migração de parte dos consumidores dessas carnes para outras de menor valor, como a de frango.

Na Nova Zelândia, o consumo doméstico1 de carne ovina é de 10,3 kg por habitante por ano. Destes, 73% referem-se a carnes de cordeiros e 27% a carnes de animais adultos. É comum o consumo de carnes de ovinos nas residências, bares e restaurantes, bem como em eventos e encontros sociais. É possível encontrar produtos nos supermercados e res-taurantes com facilidade e faixa de preço compatível aos cortes nobres das outras carnes.

Na Austrália, o consumo médio de carne ovina2 é de 10,0 kg por habitante/ano (9,7 kg cordeiro e 0,3 kg animais adultos). Da mesma forma que na Nova Zelândia, o consumo é difundido, e os produtos podem ser encontrados, frequentemente, em diversas formas e nos mais variados canais de distribuição de pontos de venda e consumo.

Característica em comum ao Uruguai, Espanha e Reino Unido no comportamento de mercado do produto carne ovina é o consumo ocasional, como em festas e finais de semana. Segundo relatado, o produto não é considerado de fácil preparo e se caracteriza por ser encontrado em pontos de venda em cortes de grande volume e peso e com pre-ços considerados elevados.

Na Espanha, destaca-se o esforço de mercado, realizado pela OVIARAGON, com o de-senvolvimento de portifólio de cortes dimensionados para o consumo individual ou de pequenas famílias e, também, de pratos prontos, enquanto que, no Reino Unido, esse tipo de produto tem como origem marcas francesas.

Na Austrália e na Nova Zelândia, a promoção da carne ovina é frequente em programas de culinária, em campanhas de propagandas veiculadas no horário nobre e em outros ve-

1Compendium of New Zealand Farm Facts 2014. Beef + Lamb New Zealand – April 2014 2Meat and Livestock Australia, http://www.mla.com.au/Cattle-sheep-and-goat-industries/Industry-overview/Sheep

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ículos de comunicação. Assim, busca-se incentivar o hábito de consumo entre as mulheres e entre os jovens, introduzindo os produtos no hábito alimentar das famílias. As campa-nhas também visam manter a percepção da alta qualidade dos produtos junto aos consu-midores, posicionando a carne de cordeiro como diferenciada entre as opções do mercado.

Nesses complexos de ovino e caprinocultura, toda a cadeia produtiva detém um conheci-mento estratégico sobre o perfil social, gastronômico e dos hábitos de compra do consu-midor final e dos consumidores corporativos (food-service). Este conhecimento permite a criação de produtos que atendam às principais exigências dos novos modelos de con-sumo da sociedade contemporânea.

É consenso entre todas as lideranças institucionais que o conhecimento do perfil sócio- econômico e as preferências gastronômicas do consumidor de carnes, sob o ponto de vista científico e de mercado, são a base estruturante das ações planejadas para a iden-tificação de novos mercados e incentivo ao consumo. São vários os exemplos dessas ações de mercado em alguns dos países visitados.

A organização EBLEX (Inglaterra) publicou, em 2012, um estudo de mercado denominado“The shopping decision process for meat. Decoding consumer data to maxi-mize category opportunity”. Na apresentação do documento, enfatiza-se que compreen-der o consumidor é o eixo central que orientará todas as estratégias de varejo e que so-mente com tal conhecimento e discernimento pode-se estimular o consumo e entregar ao consumidor o que ele exige.

Em 2013, na Espanha, a INTEROVIC, que é uma organização integrada por representan-tes da produção, da transformação e da comercialização e que tem a visão de que “é o próprio setor que deve decidir seus rumos e as mudanças que considere necessárias”, também realizou, em 2013, um amplo e detalhado estudo denominado “Estudo da per-cepção do consumidor em relação às carnes de cordeiro e de cabrito”.

Algumas conclusões deste estudo mostram que, durante 2012, houve consumo de car-nes de cordeiros/cabritos em 62% dos lares espanhóis e que, durante o último trimestre do ano, o consumo ocorreu em 51% dessas famílias. Outra conclusão é que 70% dos consumidores consultados consideram que as carnes dessas espécies são alimentos inócuos. Os resultados desse estudo servem de base para a elaboração de campanhas de promoção e incentivo ao consumo que deverão ser veiculadas.

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O setor também recebe atenção no âmbito da União Européia e, a partir de julho de 2013, as carnes de ovinos e caprinos foram incluídas na campanha denominada “Promoção dos produtos agrícolas europeus”. Assim, as campanhas de promoção de produtos poderão receber um auxílio financeiro da comunidade européia no valor de 50% a 80% dos custos totais. Para isso, as campanhas deverão ter atuação geográfica bem ampla e deverão contar com a participação de vários países, com valores de até um milhão de euros.

Em alguns países da UE, a estratégia de incentivo ao consumo tem sido a valorização das raças nativas que, após serem identificadas as características únicas em seus produtos, tem possibilitado sua caracterização como produtos de valor agregado, com os selos comunitários IGP - Indicação Geográfica Protegida e DOP - Denominação de Origem Pro-tegida, autorizados pela União Europeia.

Assim, na Espanha surgem o Lechazo de Castilla, Cordeiro Manchego, Cordeiro de Na-varra, Cordeiro de Extremadura, Cabrito Malaguenho e Ternasco de Aragón. No Reino Unido, cada país identifica seus produtos com os selos British Lamb, Scotch Lamb e Welsh Lamb. O Uruguai tem posicionado seus produtos no mercado como Cordeiro Pesado, e isso tem sido importante para que o consumidor identifique o produto que melhor lhe agradar. Todas essas estratégias de mercado são determinantes para man-ter os produtos em evidência, ampliar e melhorar a sua participação nos principais mercados consumidores.

4.6. sistemas de produção e sanidade animal

A nutrição e a sanidade animal são tratadas com muita atenção pelas autoridades sani-tárias em todos os países visitados. Esses países atendem a mercados domésticos e de exportação com elevado nível de exigência sobre a qualidade do produto consumido e, para atender a essas exigências, devem garantir a qualidade e a inocuidade dos mesmos.

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tabela 5 cenário de produção animal - insumos

INSUMOS

PAÍSES VISITADOS

BASE ALIMENTAÇÃO SUPLEMENTAÇÃO

ADUBOS, SEMENTES E

FERTILIZANTES

REPRODUTORES E MATRIZES

Espanha PastagensFeno, silagem, concentrados

Uso muito restritoRaças nativas

e naturalizadas

Reino Unido PastagensFeno, silagem,concentrados

Uso intensoRaças nativas adaptadas a cada

região e cruzas

AustráliaPastagem/

suplementaçãoConcentrado

grãosUso restrito

Base Merino, raças terminais e maternas

Nova Zelândia

PastagemForragens

conservadasUso intensivo

Base Romney, raças terminais maternas

Uruguai Pastagens Concentrados (pouco) Uso médio a alto Base CorriedaleFonte: Ação de benchmarking internacional - FEA/UFBA – IM3

Nos países visitados pela ação de Benchmarking, os insumos utilizados são a combinação entre a capacidade natural da terra de produzir alimentos e a utilização da pesquisa para proporcionar a suplementação e o abastecimento do rebanho de matrizes e reprodutores que permitam a melhoria constante da produção e, consequentemente, dos resultados.

O uso de adubos e fertilizantes possui tratamento diferenciado em função das legislações de cada país. A utilização restrita desses produtos na Espanha contrasta com o uso de mé-dio a alto observado no sistema de produção do Uruguai. Outro contraste ocorre entre Aus-trália e Nova Zelândia, onde, no primeiro, o uso é restrito e, no segundo, o uso é intensivo.

Na Europa, os problemas sanitários do início do século (surtos de encefalopatias espon-giformes e de febre aftosa) foram um marco na produção animal de alguns países, como os do Reino Unido, nos quais houve queda significativa do consumo de carnes e perda de credibilidade junto aos consumidores.

Estes valores só foram recuperados, ao menos em parte, pelas garantias sanitárias que os governos oferecem em todas as etapas da cadeia agroalimentar de carnes. Assim, em todos os países, a qualidade dos produtos é resultado de um processo integrado de

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fiscalização, conscientização e controle que contam com a participação das autoridades, dos processadores e dos produtores sob a permanente fiscalização dos consumidores locais e das autoridades sanitárias dos países importadores.

Os sistemas de produção nos complexos de ovino e de caprinocultura visitados têm como características em comum:

a. Clara definição do produto final a ser alcançado e ofertado à indústria e ao mercado; b. Avançado nível de apropriação de tecnologia e de conhecimento; c. Efetiva participação das instituições de pesquisa e desenvolvimento, atendendo às

necessidades e às demandas do setor produtivo; d. Qualificada e atuante assistência técnica fazendo a interface entre produto-

res e pesquisa; e. Manejo nutricional estratégico das fêmeas em todas as fases, com a clara visão de

que todo o sucesso do processo depende do correto manejo das fêmeas; f. Utilização preferencial de pastagens e reservas forrageiras estratégicas como

base nutricional; g. Permanente controle dos custos de produção como forma de assegurar a viabili-

dade econômica do sistema; h. Utilização, em larga escala, de genética melhoradora, identificada por instrumentos

de controle eficazes que compõem os programas de melhoramento. Essa utilização é priorizada pelos rebanhos comerciais e disseminada pelos grupos de reprodução que trabalham em estreita coordenação com os grupos de melhoristas e geneticistas;

i. Complementariedade genética através de cruzamentos raciais, fazendo uma cor-reta gestão dos recursos genéticos presentes nos diferentes países;

j. Padronização de produtos como consequência da utilização de reprodutores com genética superior, selecionados pelo desempenho próprio e de suas progênies nas características importantes para produção de carne;

k. Aplicação, pelos produtores e pela indústria, de sistemas de classificação e de tipificação de carcaças que permitam classificar, de forma objetiva, as carcaças mais valorizadas pelos mercados;

l. Maior especialização do setor produtivo, com a participação ativa das universida-des e de especialistas em determinadas atividades do ciclo produtivo. Utilização de estruturas coletivas (centros de terminação) que realizam, unicamente, a etapa de acabamento dos cordeiros, em estreita relação com as indústrias frigoríficas;

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m. Programas de manejos sanitários sérios e bem conduzidos; n. Fundamental importância da participação na gestão administrativa e financeira de

todo o sistema; o. Permanente utilização das informações dos preços de mercado divulgadas por

diferentes instituições e que determinam os necessários ajustes aos sistemas; p. Escrituração zootécnica rigorosa na propriedade rural que possibilite ações de

manejo, como a seleção dos animais que permanecerão nos rebanhos e os que serão descartados; além de estabelecer os indicadores produtivos, reprodutivos e econômicos da propriedade, referentes às diferentes raças e seus cruzamentos, às regiões e ao país;

q. Identificação individual confiável dos animais, incluindo a identificação eletrônica e outras formas de identificação como brincos convencionais

4.7. pesquisa, assistência técnica e extensão rural

Em todos os complexos da produção de carnes de ovinos e caprinos visitados existem renomadas instituições de pesquisa, desenvolvimento e inovação que aportam conheci-mento e tecnologia para todos os elos das cadeias agroindustriais dessas espécies.

tabela 6 cenários de modelos de produção

MODELOS DE PRODUÇÃO

PAÍSES VISITADOS ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO

Espanha Das cooperativas e seus cooperados

Reino UnidoDa mais alta qualificação e abrangência com participação

ativa das universidades

AustráliaExtremamente difundida com participação ativa das universidades.

(Modelo privado e conjunto)

Nova Zelândia Extremamente difundida (Modelo privado e conjungo)

Uruguai Base fundamental do desenvolvimento e qualificação do setor

Fonte: Ação de benchmarking internacional - FEA/UFBA – IM3

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Entre elas citamos, na Nova Zelândia, o Beef + Lamb Genetics consortiun (BLG), o In-ternational Sheep Centre (Massey University), AgResearch e AbacusBio; na Austrália, o Cooperative Research Centre (CRC), o Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO), a University of New South Wales (UNSW), a University of New En-gland (UNE), o Cooperative Research Centre for Sheep Industry Innovation (Sheep CRC); no Reino Unido, o Scotland’s Rural College, o Roslin Institute; a Aberystwyth University; no País de Gales, que tem ativa participação nas atividades da Inglaterra e da Escócia; no Uruguai, o Instituto Nacional de Investigación Agropecuária (INIA), que coordena o Programa Nacional de Carne e Lã, e a Faculdade de Agronomia da Universidade da Re-pública; na Espanha, as Universidades de Córdoba, Zaragoza, o El Centro de Investigación y Tecnología Agroalimentaria de Aragón (CITA), o Instituto Agronómico Mediterráneo de Zaragoza (IAMZ) que integra o Centro Internacional de Altos Estudios Agronómicos Me-diterráneos (CIHEAM).

Os acervos de conhecimentos e tecnologias que foram e são disponibilizados por cada uma dessas instituições, em seus respectivos países, têm sido altamente utilizado por suas cadeias produtivas. Essa tecnologia é, inquestionavelmente, uma das bases para o desenvolvimento sustentável e, em muitos casos, é a responsável pela reestruturação dos setores de produção e industrialização das carnes de ovinos e de caprinos.

Nos complexos visitados, toda informação é transformada em conhecimento para o pro-dutor, e são inúmeras as ferramentas de transferência desse conhecimento, incluindo os programas de extensão, publicações periódicas, cartilhas e web sites. Além disso, é muito comum a existência dos programas de extensão contínuos que visam capacitar o produtor de maneira prática e eficaz, sem assistencialismo e que possibilita uma troca de experiência entre os produtores, além do benchmarking direto entre os mesmos.

Os programas de extensão são os grandes responsáveis pelo constante desenvolvimen-to da tecnologia de produção nos complexos visitados. Na Nova Zelândia, programas de extensão promovidos exclusivamente pelo Beef + Lamb NZ, que envolvem grupos de até 15 produtores, debatem, frequentemente, em encontros mensais ou bimestrais, as melhores práticas encontradas para os problemas comuns, demonstrando a aplicação das técnicas e apresentando os resultados para o grupo. Tudo de forma transparente e com a segurança de que os outros produtores vizinhos também estejam implementando as melhores práticas.

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Os debates técnicos entre todos os elos da cadeia, com uma visão mais sistêmica e com o objetivo de analisar a situação presente, as tendências e as lições aprendidas são re-alizados em inúmeros eventos como Workshops, Simpósios e Congressos. Entre esses eventos, destacamos o organizado no Uruguai e denominado de “Do Campo ao Prato”, no qual se debatem e apresentam propostas de ações para toda a cadeia de carnes, in-clusive a de ovinos.

É necessário destacar que, além das instituições já mencionadas, existem outras que desempenham diversas atividades para o setor da ovinocultura e caprinocultura nos países visitados. Entre essas atividades estão a pesquisa aplicada e a transferência de tecnologia, que formam redes integradas de instituições ligadas ao conhecimento, todas buscando benefícios para os setores de ovinos e caprinos.

Existem vários programas de extensão contínuos que visam capacitar o produtor de ma-neira prática e eficaz e que possibilitam a troca de experiência entre os produtores. Os programas de extensão são, em boa parte, responsáveis pelo constante desenvolvimen-to da tecnologia de produção nos complexos visitados.

Em todos os países visitados na Ação de Benchmarking, a permanente participação dos produtores extensionistas e pesquisadores na elaboração das prioridades de pesquisa, bem como na liderança pelas ações de transferência de conhecimentos são determinan-tes para o processo de desenvolvimento e consolidação do setor e pela elevada apropria-ção das informações geradas pela cadeia produtiva.

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5. COMENTÁRIOS FINAIS E

LIÇÕES APRENDIDAS

T odos os estudos nacionais e internacionais com projeções de médio e longo prazo são unânimes em evidenciar uma demanda crescente da produção de ali-mentos. Este crescimento é consequência do aumento populacional, da contínua

migração para as áreas urbanas, das mudanças socioeconômicas (com maior inten-sidade nos países em desenvolvimento) e da deficiência de distribuição de alimentos ao redor do mundo.

Existe um déficit de produção de alimentos e, por diversos motivos, esse déficit deverá ser suprido pelos países com economias em transição, uma vez que as fronteiras agríco-las e pecuárias, nos países desenvolvidos, já foram estabelecidas.

Isso posiciona o Brasil em uma situação estratégica privilegiada pelas suas dimensões continentais, diversidade de ecossistemas e opções de produção. O alto nível dos princi-pais parques agroindustriais e a determinação constante dos governos federal, estadu-ais e municipais em desenvolver o setor primário, devido à sua importância para o país, evidenciam a evolução que os setores da agropecuária têm mostrado nos últimos anos, destacando o Brasil no cenário internacional do agronegócio.

Desta forma, o cenário é altamente favorável para uma profunda mudança na realidade produtiva e econômica das cadeias agroindustriais das carnes de ovinos e caprinos. É possível inserir esses setores no cenário do agronegócio brasileiro, sem que isso impli-que descaracterizar o perfil de produção da base familiar e possibilite a otimização das características regionais das diferentes áreas do país onde essas atividades já existem, ou podem vir a ser desenvolvidas.

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Para tanto, os exemplos verificados indicam que o primeiro passo necessário é fazer com que a ovinocultura e a caprinocultura deixem de ser encaradas somente como atividades de subsistência e que passem a ser consideradas como mais um setor produtivo. É funda-mental criar condições para que esses setores sejam geridos por princípios empresariais e sustentáveis, reconhecendo e respeitando a importância sociocultural, econômica e am-biental que eles possuem.

O segundo passo seria reunir as ações já realizadas e as que continuam sendo desenvol-vidas pelas diversas instituições públicas e privadas, organizar a forma como elas podem interagir entre si e como poderão ser implementadas de forma efetiva. Os projetos reali-zados com planejamento e qualidade técnica geram as informações necessárias para a estruturação das cadeias produtivas de ovinos e caprinos no Brasil.

O aspecto comum entre todas as ações deve ter o objetivo de desenvolver e fortalecer esses setores, como forma de possibilitar aos produtores que neles trabalham uma me-lhor qualidade de vida. Deve-se mostrar à sociedade que, através de resultados efetivos, a criação de ovinos e caprinos, se encarada de forma empresarial, é uma atividade com rentabilidade e com boas perspectivas.

Existe também a necessidade de conhecer e avaliar os impactos conseguidos por cada uma das ações até então realizadas junto às cadeias produtivas de ovinos e caprinos no Brasil. É importante obter os ensinamentos por elas deixados e, de forma objetiva, utilizá-los de maneira a evitar a repetição dos erros, ampliando a abrangência dos benefícios alcançados.

Paralelamente, com base nos estudos realizados e no conhecimento das lideranças so-bre a realidade do setor, existe a necessidade de se definirem as prioridades dos dife-rentes elos das cadeias produtivas de caprinos e ovinos. Assim, ações de curto prazo deverão ser implementadas para que o processo de transição dos setores para uma nova realidade possa ter início.

As cadeias agroindustriais da ovinocultura e da caprinocultura de corte possuem diversos aspectos positivos que vêm sendo construídos ao longo dos anos. Dar continuidade ao processo de estruturação dessas cadeias é uma questão de responsabilidade e o compro-misso deve ser assumido pelas lideranças do setor.

Para aumentar as possibilidades de êxito das ações futuras, adaptar à realidade nacional alguns dos diversos exemplos de sucesso colhidos na Missão de Benchmarking é um dos passos importantes e será um marco estruturante essencial para o futuro do setor.

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6. PROPOSTA DE AÇÕES PARA AS

CADEIAS PRODUTIVAS DA CAPRINOCULTURA E DA OVINOCULTURA DE

CORTE NO BRASIL 6.1. introdução

A elaboração desta proposta se baseia nas informações sobre a atividade produtiva da ovinocultura e da caprinocultura de corte apresentadas no ESTUDO DO COMPLEXO DA OVINOCAPRINOCULTURA NO BRASIL e nas experiências de sucesso dos com-

plexos internacionais visitados na AÇÃO DE BENCHMARKING INTERNACIONAL.

A partir das análises de informações contidas em ambos os relatórios, é possível con-cluir que os problemas identificados no Brasil são os mesmos vivenciados no passado por países que hoje são referência no mercado mundial das carnes ovina e caprina. Esses países vivenciaram e solucionaram problemas comuns à realidade hoje encontrada no nosso país. O atual cenário internacional é positivo para as cadeias produtivas dessas espécies, existindo um enorme potencial produtivo no Brasil, porém os esforços até aqui realizados não foram suficientes para proporcionar o desenvolvimento necessário.

Para inserir, de forma abrangente e sustentável, os setores da caprino e ovinocultura no agronegócio brasileiro, faz-se necessário realizar algumas ações estruturantes e, ao

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mesmo tempo, estratégicas e prioritárias para que os problemas que impedem o desen-volvimento da cadeia produtiva possam ser superados.

As ações propostas neste documento certamente representam o consenso do grupo de técnicos que realizaram a Ação de Benchmarking Internacional e podem ser realizadas em complemento às diversas ações em execução por diversas instituições públicas e privadas e, em curto prazo, com um possível impacto em todo o setor.

Esta proposta de ações estratégicas parte da premissa de que as políticas públicas para o desenvolvimento da ovinocultura e da caprinocultura precisam ser executadas integran-do os esforços das diversas entidades envolvidas com o setor. Para ter êxito, é necessá-rio gerar novas oportunidades de negócio entre todos os elos da cadeia.

Com o objetivo de promover o desenvolvimento do setor em todas as áreas analisadas, as ações propostas a seguir podem colaborar com a estruturação das cadeias produtivas de ovinos e caprinos de forma integrada.

6.2. ações propostas

1. Formação de um grupo gestor executivo com a participação e o comprometi-mento formal de representantes e lideranças de todos os elos da cadeia produti-va para estabelecer a estrutura de governança do setor e elaborar e acompanhar a implementação de um Plano Nacional Estratégico Plurianual para o desenvol-vimento sustentável das cadeias agroindustriais das carnes de ovinos e caprinos.

2. Realizar um estudo de mercado, específico das carnes de ovinos e caprinos, para estabelecer, através de metodologia científica de mercado, o real potencial de consumo, o perfil dos consumidores, suas preferências e peculiaridades em cada região do país, atraindo investimentos para a indústria e para a distribui-ção e comercialização do produto.

3. Elaborar um Sistema Brasileiro de Classificação e Tipificação de Carcaças de ovinos e de caprinos, utilizando as informações do estudo de mercado acima descrito.

4. Estruturar um banco de dados que envolva a produção, o desempenho repro-dutivo e econômico de rebanhos em todo o Brasil e que seja a base de integra-ção para implantar uma rotina de avaliações genéticas, integrada aos sistemas

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já existentes, e que faça parte de um Programa Nacional de Melhoramento Ge-nético de ovinos e caprinos de corte.

5. Realizar o zoneamento nacional da ovinocultura e da caprinocultura, conside-rando os fatores ambientais e os ecossistemas das diversas regiões, os genó-tipos predominantes, a infraestrutura, as potencialidades e as limitações que possam orientar a implantação de projetos-piloto de modelos de produção nas diferentes regiões do Brasil.

6.3. desenvolvimento das ações propostas

6.3.1 . Formação de um grupo gestor executivo com a participa-ção e o comprometimento de representantes e lideranças de todos os elos da cadeia produtiva para estabelecer a estrutura de governança do setor e elaborar um Plano Nacional Estratégico Plurianual para o desenvolvimento sustentável das cadeias agroindustriais das carnes de ovinos e de caprinos.

Os três principais objetivos do Grupo Gestor Executivo serão: a) exercer as ações iniciais de estruturação da governança das cadeias produtivas de caprinos e ovinos b) definir qual instituição ou grupo de instituições (públicas e privadas) será responsável pela go-vernança dos diferentes setores; c) coordenar a elaboração, da forma mais participativa e integradora possível, do Plano Nacional Estratégico Plurianual. Tais objetivos são con-siderados imprescindíveis para dar início à implementação das novas estratégias de que o setor necessita.

A definição da estrutura de governança possibilitará que os elos da cadeia produtiva co-nheçam de forma clara as funções e as inter-relações entre os segmentos e as institui-ções que, direta e indiretamente, influenciam o setor.

É de suma importância salientar a inclusão das organizações que vêm trabalhando para o desenvolvimento dos setores, como a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos, coordenada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA); bem como as Câmaras Setoriais de âmbito estadual.

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É de fundamental importância a participação da Embrapa Caprinos e Ovinos e das Em-presas Estaduais de Pesquisa Agropecuária que têm atuação marcante nesses setores, como a Emepa da Paraíba, a FAPERGS do Rio Grande do Sul, o APTA Paulista, a UFBA e todas as que, em conjunto, poderão ser atores fundamentais do Grupo Gestor Executivo.

Deverão participar, também, os representantes dos produtores comerciais, dos produto-res de animais puros (ARCO e ABCC), dos setores da indústria e do comércio e os analis-tas de mercados de commodities agropecuários.

Além disso, recomenda-se a presença de especialistas do setor, no Brasil e em países de destaque no cenário internacional, e das cadeias produtivas de ovinos e caprinos. Por fim, considera-se necessária a participação de experts em gestão empresarial agrope-cuária, representantes de agentes financeiros e entidades de classe, como cooperativas e grupos de produtores.

Escolhida a estrutura de governança e o Grupo Gestor Executivo, os trabalhos devem ser iniciados no sentido de elaborar uma proposta para o Plano Nacional Estratégico Pluria-nual, com as diretrizes de curto, médio e longo prazo para o desenvolvimento dos setores.

Uma vez que o Plano Estratégico seja validado pelos diversos elos das cadeias produti-vas, passará a ser o documento que servirá como referência para o setor em todas as etapas ao longo da cadeia, produção, industrialização e comercialização.

O Plano Estratégico visa orientar a implementação das políticas e investimentos ligados ao desenvolvimento do setor. Por exemplo, o plano deve incluir programas de incentivo, com juros diferenciados, à produção e industrialização, que melhorem, significativamen-te, a capacidade instalada nesses elos da cadeia, possibilitando a aplicação do conheci-mento e das tecnologias.

Áreas que demandem recursos, como a implantação de pastagens, conservação de for-ragens, aquisição de reprodutores geneticamente avaliados e retenção e aquisição de fêmeas, deverão ser cuidadosamente planejadas e definidas com base nas recomenda-ções do plano. Também devem estar incluídas, no documento, as diretrizes para pesqui-sa e desenvolvimento, promoção e divulgação dos produtos e, sobretudo, o planejamen-to sanitário e genético dos rebanhos caprinos e ovinos do Brasil.

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A definição da estrutura de governança será o primeiro passo para integrar os setores. Em seguida, a elaboração do Plano Estratégico implicará uma mudança significativa na forma como as ações de cada um dos elos são planejadas e executadas. Assim, as ações isoladas e pontuais deverão ser substituídas por iniciativas que envolvam um contexto coletivo, aumentando as chances de sucesso.

6.3.2 Realizar um estudo de mercado específico das carnes de ovinos e caprinos, para estabelecer, através de metodo-logia científica de mercado, o real potencial de consumo, o perfil dos consumidores, suas preferências e peculiari-dades em cada região do país, atraindo investimentos na indústria, na distribuição e na comercialização do produto.

A realização do estudo de mercado sobre hábitos de consumo das carnes de caprinos e ovinos e do perfil dos consumidores tem por objetivo compreender a realidade dos mer-cados nacional e regionais, possibilitando planejar, com precisão, o posicionamento dos produtos dessas espécies no mercado.

O estudo faz parte de uma ação estruturante de grande impacto setorial, que deverá envolver o consumidor final, o comprador corporativo e os demais envolvidos no seg-mento do mercado. Conhecer o potencial de mercado nas diversas regiões é um passo importante e que poderá ser realizado, à semelhança dos exemplos citados nas Ações de Benchmarking na Espanha e no Reino Unido.

O estudo se justifica pelo tamanho do mercado no Brasil, um dos maiores mercados consumidores do ocidente e líder absoluto na América do Sul, com mais de 174 milhões de pessoas com hábito rotineiro de consumo de carne vermelha como fonte de proteína . Conhecer os hábitos de compra das principais linhas de produtos do setor possibilitará identificar e projetar as tendências de consumo e distribuição, gerando oportunidades de negócio para todos os elos da cadeia.

O estudo proposto poderá servir como documento referência para orientar toda a cadeia produtiva. Incluem-se neste cenário as etapas de produção e os responsáveis por gerar conhecimento e tecnologia. Neste sentido, os modelos de sistemas de produção e os programas de melhoramento genético poderão se basear em informações que possibi-

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litem definir os objetivos de seleção e orientem os produtores sobre as soluções gené-ticas e técnicas produtivas a serem utilizadas para padronizar os produtos e atender às especificações do mercado.

O documento também poderá ser referência de grande utilidade para os responsáveis pelos programas de nutrição animal. Compreender as especificações de conformação, peso dos cortes e grau de acabamento que o mercado demanda será fundamental para desenhar os programas de manejo nutricional mais apropriados para esses fins.

O estudo de mercado também exercerá papel de suporte para a gestão administrativa, possibilitando ajustes dos custos de produção em função da capacidade de pagamento de consumidores das diversas regiões, além de auxiliar a simulação de cenários diferentes por região e época do ano. Além disso, o estudo será uma importante ferramenta de inte-ligência de mercado, necessária para o desenvolvimento da cadeia através de ações que visem adaptar o portfólio de produtos às necessidades dos principais grupos de consumo.

Essas informações servirão como base para a elaboração e a implementação de um plano de marketing para estimular o mercado consumidor. A ativação de um mecanis-mo que promova o consumo das carnes e dos produtos derivados da ovinocultura e da caprinocultura no Brasil possibilitará agregar valor e aumentar a rentabilidade de todas as etapas da cadeia.

6.3.3 Elaborar um Sistema Brasileiro de Classificação e Tipifica-ção de Carcaças de ovinos e caprinos, utilizando as infor-mações do estudo de mercado.

Esta é mais uma ação baseada no estudo de mercado das carnes de caprinos e ovinos. Trata-se de um processo que tem origem no conhecimento das exigências do mercado e culmina com a elaboração de um sistema de classificação e tipificação de carcaças de ovinos e de caprinos.

Sistemas como este são utilizados nos países da União Européia que lideram a produção de carnes há mais de 40 anos e, desde o começo da implementação, têm provocado profundas mudanças em todos os elos das cadeias agroindustriais de carnes. A Nova Zelândia e a Austrália fazem uso deste tipo de classificação desde a época do pós-guerra, quando se iniciaram as exportações com destino à Europa.

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Em todos os países visitados pela Ação de Benchmarking Internacional, foram desenvol-vidos sistemas que possibilitam avaliar as carcaças de forma objetiva (muitas vezes com alta tecnologia) e padronizada, aumentando as garantias comerciais e evitando, assim, os problemas ligados à desconfiança, muito comuns entre frigoríficos e produtores no Brasil.

Uma das prerrogativas da implementação desses sistemas é a necessidade de estreitar a relação entre os setores de produção e a indústria, além da necessidade de conhecer as preferências do mercado.

A diferença entre o Brasil e os países analisados está relacionada ao grau em que os sistemas são utilizados pela indústria e pelo compromisso dos produtores, sendo que, no Reino Unido e na Oceania, os produtores lideram essas ações.

O sistema proposto deverá contemplar as raças ovinas deslanadas e lanadas, bem como os produtos originados pelos diversos cruzamentos com raças exóticas de corte, consi-derando os diversos rebanhos nas diferentes regiões do Brasil.

Raciocínio similar deve ser seguido para os caprinos, sobretudo aqueles originados dos cru-zamentos das fêmeas SPRD (sem padrão de raça definido) com as raças exóticas para corte. O sistema também se caracteriza por ser dinâmico e permitir ajustes e revisões periódicas.

A implantação de sistemas de classificação e tipificação inicia-se com o entendimento das preferências dos consumidores. Em seguida, definem-se quais características (das carcaças) melhor atendem aos elos da produção e da indústria sob o ponto de vista pro-dutivo e econômico. As orientações são, então, transferidas aos melhoristas, nutricio-nistas e demais responsáveis pela gestão dos processos, incluindo os administrativos e financeiros, de forma a envolver os aspectos de produção e econômicos.

A credibilidade gerada pela utilização desses sistemas é um dos grandes estímulos para que os produtores invistam em conhecimento, tecnologia, genética especializada e pro-gramas de nutrição, pois as diferenças de remuneração entre as melhores carcaças (de-nominadas bonificadas) e as piores (denominadas penalizadas) são significativas, e os investimentos necessários para produzir animais diferenciados, muitas vezes, são recu-perados em curto espaço de tempo.

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Esta é mais uma ação que engloba uma visão sistêmica do setor, integrando e gerando benefícios a todos os elos da cadeia.

6.3.4 - Estruturar um banco de dados que envolva a produção, o desempenho reprodutivo e econômico de rebanhos em todo o Brasil: que seja a base de integração para implantar uma rotina de avaliações genéticas, integrado aos sistemas já existentes e que faça parte de um Programa Nacional de Melhoramento Genético de ovinos e caprinos de corte.

Partindo do pressuposto de que as exigências do mercado, em relação às características dos produtos, são conhecidas por todos os elos da cadeia, e que as necessidades nutricio-nais e sanitárias dos rebanhos sejam atendidas, os recursos genéticos irão proporcionar a obtenção dos resultados pretendidos.

As seleções dentro dos rebanhos, com base nas avaliações genéticas, possibilitam iden-tificar, para cada ambiente e sistema de produção, os genótipos, ou grupos genéticos a serem disseminados.

Para que se possam iniciar ações de avaliações genéticas, o primeiro e imprescindível passo é a implantação da prática de escrituração zootécnica, que possibilita a formação de bancos de dados com registros produtivos, reprodutivos e, quando possível, com os custos de produção. Tais informações são de crucial importância para a gestão das ca-deias produtivas.

Esses registros devem ser confiáveis e, para isso, a correta identificação dos animais e da transcrição das informações (do campo para as bases de dados) é determinante para o bom resultado a ser obtido a partir das avaliações.

Um fator determinante para a reduzida abrangência dos programas de melhoramento ge-nético é a falta de integração entre os grupos ligados ao melhoramento e os grupos que atuam na área da reprodução animal. Este fato impossibilita as ações de disseminação da genética comprovadamente melhoradora, limitando a difusão do melhoramento nas popu-

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lações comerciais. O desconhecimento dos princípios básicos de genética e melhoramento, por parte dos produtores, também é um fator de extrema importância no cenário atual.Assim, é fundamental iniciar ações de capacitação e conscientização da importância de uma correta escrituração zootécnica, seguida pela formação dos bancos de dados, com todas as informações coletadas nas propriedades rurais.

Com essas duas ações estruturadas e em funcionamento, será necessário formular, implementar e conduzir um Programa Nacional de Melhoramento Genético de Ovinos e Caprinos de Corte, que envolva a participação de representantes do setor produtivo, industrial e comercial.

Esta sequência de ações, que integram os vários elos das cadeias produtivas, é imprescin-dível e urgente para começar a traçar os caminhos que conduzam à profissionalização do setor. Este caminho é o mesmo pelo que transitaram, no Brasil, os setores da avicultura, suinocultura e bovinocultura de corte.

Um dos grandes benefícios dos programas de melhoramento, quando bem planejados e executados, é a redução dos custos de produção e o aumento da eficiência, uma vez que os animais improdutivos são rapidamente identificados e eliminados dos rebanhos.

Além disso, os benefícios oriundos desses programas são distribuídos entre a maioria dos atores da cadeia agroindustrial, e os ganhos produtivos são acumulativos e permanentes, já que são provenientes de ganhos e de progresso genético e não de melhorias ambientais que sofrem variações constantes.

Por fim, é fundamental ressaltar que a necessidade de coleta e armazenamento de dados gera oportunidade de criar um fluxo de informações que é crucial para a estruturação da cadeia produtiva. Estatísticas do setor e mensuração dos resultados devem ser viabili-zados com a estrutura necessária para a implementação de práticas de melhoramento genético animal.

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6.3.5 Realizar o zoneamento nacional da ovinocultura e da capri-nocultura, considerando fatores ambientais, os ecossiste-mas das diversas regiões, os genótipos predominantes, a infraestrutura, as potencialidades e as limitações que pos-sam orientar a implantação de projetos-piloto de modelos de produção nas diferentes regiões do Brasil.

A dimensão territorial, a diversidade de biomas e de ecossistemas, as diferenças so-cioeconômicas e culturais, a variabilidade genética e as tradições gastronômicas exi-gem ações que considerem as diferenças entre as regiões do Brasil.

Não existe um modelo único de produção, uma vez que as cinco regiões do Brasil apresentam diferentes combinações de ambiente. As consequências envolvem uma gama de diferenças em termos de genótipos, potencial forrageiro e hídrico, dentre outras que podem ser consideradas durante a implantação dos sistemas produtivos em cada região.

O desenho e a implantação de modelos de produção são umas das ações mais impor-tantes para a integração dos setores e necessitam a expertise dos diferentes elos da cadeia produtiva, bem como ações diversas de cada área do conhecimento. Destaca--se, também, a necessidade do conhecimento gerado pelo estudo de mercado, consi-derando-se a importância de definir as características do produto demandado.

Desta forma, a ação proposta inclui a implementação, em curto prazo, de quatro (04) modelos de produção, com o perfil de projetos-piloto nas diferentes regiões, Sul, Su-deste, Centro-Oeste e Nordeste, proporcionando otimizar o aproveitamento de proje-tos já em andamento no setor, em todas as regiões onde já existem esforços conjuntos.

Os projetos-piloto devem ser includentes, favorecendo a participação de criadores comerciais das regiões e permitindo a distribuição dos benefícios do programa a todos os interessados em se comprometer com as bases de produção estabeleci-das. No projeto, devem participar, de forma intensa, as associações e cooperativas de produtores, ao menos uma indústria frigorífica em cada região, além dos elos comerciais, das instituições de ensino, pesquisa e extensão locais, incluindo profis-sionais do setor privado.

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Para a fase produtiva, o modelo contemplará a implementação das ações de manejo reprodutivo, nutricional, sanitário, gestão dos recursos genéticos e a integração com as ações de escrituração zootécnica e avaliação de carcaças, de administração de em-presas e monitoramento de mercados.

A base de dados proposta servirá como ferramenta básica de coleta, armazenamento e fluxo de dados produtivos e possibilitará, sobretudo, monitorar os resultados obtidos nos diversos programas regionais.

O zoneamento produtivo deve ser discutido e apreciado pelo Plano Nacional e sua im-plementação servirá como referência para o desenvolvimento de novos projetos envol-vendo a caprinocultura e a ovinocultura de corte.

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7. CONCLUSÃO

A s cinco ações propostas atendem, de forma integrada, aos principais problemas identificados no estudo dos setores da ovinocaprinocultura nacional. As ações pro-postas compreendem alicerces fundamentais para somar competências e recursos

que possibilitarão uma maior integração entre todos os elos das cadeias agroindustriais das carnes de ovinos e caprinos.

Modificar o perfil desses setores, reconhecidos pela sua importância social, cultural, econômica e ambiental, é um passo de extrema necessidade para o país.

Diferentemente do cenário brasileiro, nos países utilizados para o estudo, as instituições responsáveis pela governança do setor contam com a participação ativa dos produtores e da indústria de processamento. Em todos os países visitados, várias instituições públi-cas e privadas promovem a conexão entre todos os elos da cadeia.

O resultado de esforços isolados que não promovem o desenvolvimento sustentável do setor tem sido a baixa produtividade e a evasão de potenciais produtores, mas, sobre-tudo, uma enorme perda de potencial produtivo e econômico que poderia estar contri-buindo para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Existe uma série de ações absolutamente necessárias para que o setor seja fortalecido e que podem promover de-senvolvimento e gerar riqueza para o Brasil.

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8. REFERÊNCIAS DE PESQUISA

Ì BEEF + LAMB. Compendium of New Zealand Farm Facts 2014; New Zealand, AUS, 2014.

Ì New Zealand, AUS, April /2014.

Ì DATAMÉTRICA- Consultoria Pesquisa Telemarketing. Estudo do Complexo da Ovinocaprinocultura no Brasil; Recife 2012.

Ì DINÂMICA DAS IMPORTAÇÕES DE CARNE OVINA NO BRASIL: análise dos componentes temporais, 2013.

Ì Espacios. Integração de preços entre o Rio Grande do Sul, Uruguai, Brasil e Aus-trália nos mercados da carne ovina e da lã. v.33, n.7, New Zealand, AUS, 2012.

Ì FEA/UFBA- Fundação Escola de Administração de Empresas da Universida-de Federal da Bahia. Ação de Benchmarking Internacional; Salvador 2013.

Ì FEA-UFBA- Fundação Escola de Administração de Empresas da Universida-de Federal da Bahia; IM3- Instituto Mercator de Monitoramento de Mercado. MONITORAMENTO DE MERCADO 2013, Salvador 2013.

Ì MEAT AND LIVESTOCK AUSTRALIA, www.mla.com.au/Cattle-sheep-and--goat-industries/Industry-overview/Sheep

Ì Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil. Brasil, Proje-ções de Agronegócio 2011/2012, Brasília, DF,2012.

Ì Ozaki VA, et al. Revista da Política Agrícola; Ano XIX, n. 1, p. 71 – 83, Brasília, DF, 2010.

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