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Information concepts for information science Resenha Niraldo J. Nascimento Uma das primeiras preocupações de BELKIN (1978) é quanto à importância do conceito de informação. Dessa forma, cita diferentes autores que questionam desde a dificuldade de se formular um conceito devido aos diferentes contextos em que o termo informação é utilizado, outro que defende uma definição aos moldes das ciências clássicas e outros que defendem diferentes pontos de vista sobre um conceito da mesma. Conclui Belkin que cada autor tem argumentos incompletos e orientados a algum propósito específico. Muito significativa e apropriada é a afirmação de BELKIN (1978) de que se preocupa mais com o conceito de informação do que com a definição de informação, tendo assim, liberdade para focar no uso da informação ao invés de uma definição verdadeira e universal de informação. Para tanto, investiga os requerimentos de um conceito de informação para a Ciência da Informação - CI dividindo-os em três classes: metodológico relacionado com a utilidade do conceito, comportamental relacionado fenômenos da informação que devem ser considerados e o que ele chama de “defitional”, relativo ao contexto da informação (problemas que devem ser solucionados), não sendo, contudo, exclusivos. As três classes resultam em um conjunto de oito requerimentos que servem como padrão para o julgamento dos conceitos de informação, expressos em teorias e argumentos mais significativos de outros autores em relação à CI. O próximo tópico em discussão é a respeito da recuperação da informação, concluindo pela dificuldade de se relacionar as questões abordadas nesse tópico com os oito requerimentos elencados, afirmando, entretanto, que a distinção entre relacionamento e conteúdo são cruciais para o entendimento da recuperação da informação. Em “A teoria da informação seletiva” é discutido o conceito elaborado por Shanon, o único conceito matemático e formalizado com sucesso para algum propósito, especificamente, telecomunicações, mas que acabou sendo estendido a outras áreas. O problema de aplicar o modelo de medida de informação de Shanon foi percebido por muitos cientistas preocupados com o julgamento da informação na CI. BELKIN (1978) pondera que a proposta de alguns pesquisadores de trabalhar com o conceito de Shanon depende do contexto no qual o conceito é utilizado, estabelecendo o que é a Ciência da Informação ou a relação da CI com o conceito. No que se refere ao fenômeno geral da informação, o autor vê a dificuldade de um conceito unificando todas as interpretações e usos da informação, mas que algum conceito de informação faz-se necessário para a CI. Examinando o conceito de alguns autores, BELKIN (1978) conclui que eles não atendem aos requisitos operacionais e, sendo a informação um conceito dinâmico, não faz sentido uma generalização ou predição de seus efeitos. Em continuidade à sua proposta de discussão dos contextos em que a informação é utilizada, BELKIN (1978) analisa a informação sobre a ótica da dialética materialista, que desenvolveu muitos estudos relacionados à informação como um sistema fechado e à cibernética, contudo, muito pouco foi discutido em termos de uso social da informação. No que se refere ao significado semântico da informação, a crítica recai sobre a ausência de operacionalidade da definição, uma crescente ênfase em meta-informação e a busca de um conceito mensurável, deixando de atender alguns dos requerimentos definidos. Na consideração da informação como um evento, BELKIN (1978) relaciona esse fator como concernente ao processo de comunicação. Sua crítica, novamente, recai sobre a questão do requisito da não operacionalidade. Em termos de informação e incerteza a crítica é sobre o trabalho de Wersig que segundo Belkin, embora sendo seu conceito operacional, é

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Information concepts for information science – Resenha

Niraldo J. Nascimento

Uma das primeiras preocupações de BELKIN (1978) é quanto à importância do

conceito de informação. Dessa forma, cita diferentes autores que questionam desde a dificuldade de se formular um conceito devido aos diferentes contextos em que o termo informação é utilizado, outro que defende uma definição aos moldes das ciências clássicas e outros que defendem diferentes pontos de vista sobre um conceito da mesma. Conclui Belkin que cada autor tem argumentos incompletos e orientados a algum propósito específico.

Muito significativa e apropriada é a afirmação de BELKIN (1978) de que se preocupa mais com o conceito de informação do que com a definição de informação, tendo assim, liberdade para focar no uso da informação ao invés de uma definição verdadeira e universal de informação. Para tanto, investiga os requerimentos de um conceito de informação para a Ciência da Informação - CI dividindo-os em três classes: metodológico – relacionado com a utilidade do conceito, comportamental – relacionado fenômenos da informação que devem ser considerados e o que ele chama de “defitional”, relativo ao contexto da informação (problemas que devem ser solucionados), não sendo, contudo, exclusivos.

As três classes resultam em um conjunto de oito requerimentos que servem como padrão para o julgamento dos conceitos de informação, expressos em teorias e argumentos mais significativos de outros autores em relação à CI. O próximo tópico em discussão é a respeito da recuperação da informação, concluindo pela dificuldade de se relacionar as questões abordadas nesse tópico com os oito requerimentos elencados, afirmando, entretanto, que a distinção entre relacionamento e conteúdo são cruciais para o entendimento da recuperação da informação.

Em “A teoria da informação seletiva” é discutido o conceito elaborado por Shanon, o único conceito matemático e formalizado com sucesso para algum propósito, especificamente, telecomunicações, mas que acabou sendo estendido a outras áreas. O problema de aplicar o modelo de medida de informação de Shanon foi percebido por muitos cientistas preocupados com o julgamento da informação na CI. BELKIN (1978) pondera que a proposta de alguns pesquisadores de trabalhar com o conceito de Shanon depende do contexto no qual o conceito é utilizado, estabelecendo o que é a Ciência da Informação ou a relação da CI com o conceito.

No que se refere ao fenômeno geral da informação, o autor vê a dificuldade de um conceito unificando todas as interpretações e usos da informação, mas que algum conceito de informação faz-se necessário para a CI. Examinando o conceito de alguns autores, BELKIN (1978) conclui que eles não atendem aos requisitos operacionais e, sendo a informação um conceito dinâmico, não faz sentido uma generalização ou predição de seus efeitos.

Em continuidade à sua proposta de discussão dos contextos em que a informação é utilizada, BELKIN (1978) analisa a informação sobre a ótica da dialética materialista, que desenvolveu muitos estudos relacionados à informação como um sistema fechado e à cibernética, contudo, muito pouco foi discutido em termos de uso social da informação. No que se refere ao significado semântico da informação, a crítica recai sobre a ausência de operacionalidade da definição, uma crescente ênfase em meta-informação e a busca de um conceito mensurável, deixando de atender alguns dos requerimentos definidos.

Na consideração da informação como um evento, BELKIN (1978) relaciona esse fator como concernente ao processo de comunicação. Sua crítica, novamente, recai sobre a questão do requisito da não operacionalidade. Em termos de informação e incerteza a crítica é sobre o trabalho de Wersig que segundo Belkin, embora sendo seu conceito operacional, é

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concentrado no receptor da informação, sem considerar como esse receptor se relaciona com os demais componentes do sistema de comunicação. Em relação à informação e tomada de decisão BELKIN (1978) argumenta que o conceito, embora atenda a muitos requisitos, não oferece significado para predição ou efeito. Finalmente são realizadas análises sobre a informação científica e social, a informação em substituição ao conhecimento e a informação como estrutura.

O artigo produzido por BELKIN (1978) é extremamente relevante considerando, principalmente, a clareza com que o autor delimita o método (as três classes e os requerimentos derivados), bem como o objeto de sua análise, quer seja, o conceito e não a definição de informação. Isso permitiu ao autor analisar e contrapor ao método definido uma gama relevante de estudos sobre CI, de modo a estabelecer críticas precisas. Permanece, contudo, a necessidade de analisar mais profundamente o método utilizado pelo autor, principalmente, frente a outros artigos que tomem orientação semelhante na definição ou contextualização da informação na CI. BELKIN, N. J. Information concepts for information science. Journal of Documentation, London, v. 34, n.1, p. 55-85, Mar. 1978.