batalha de aljubarrota

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ANÁLISE DO EPISÓDIO Batalha de Aljubarrota

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Page 1: Batalha de aljubarrota

ANÁLISE DO EPISÓDIO Batalha de Aljubarrota

Page 2: Batalha de aljubarrota

A Batalha de Aljubarrota

Canto IV - Narração

Page 3: Batalha de aljubarrota

NARRAÇÃO (canto IV)28

Deu sinal a trombeta Castelhana,

Horrendo, fero, ingente (forte) e temeroso; (adjectivação)

Ouviu-o o monte Artabro, (Cabo da Galiza) e

Guadiana

Atrás tornou as ondas de medroso;

Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana; (além

do Tejo)

Correu ao mar o Tejo duvidoso; (inseguro)

E as mães, que o som terribil escuitaram,

Aos peitos os filhinhos apertaram. (símbolo do terror

e do medo deste som de guerra)

Page 4: Batalha de aljubarrota

A trombeta castelhana deu o sinal do

combate. Ouviu-se longe, no extremo da

Galiza e no Guadiana, no Douro e no

Alentejo.

O Tejo hesitou no seu curso.

As mães apertaram os filhos contra o

peito.

Page 5: Batalha de aljubarrota

“Deu sinal a trombeta castelhana”est.28/ v.1 anuncia o início da Batalha

“Horrendo, fero, ingente e temeroso”

Adjectivação expressiva

Tanto a natureza como o ser humano reagem ao som horrível.

Ouviu-o o monte Artabro, (Cabo da Galiza) e Guadiana Atrás tornou as ondas de medroso; Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana

Personificação e Hipérbole

Page 6: Batalha de aljubarrota

29

Quantos rostos ali se vem sem cor,

Que ao coração acode o sangue amigo!

Que, nos perigos grandes, o temor

É maior muitas vezes que o perigo;

E se o não é, parece-o; que o furor

De ofender ou vencer o duro imigo

Faz não sentir que é perda grande e rara,

Dos membros corporais, da vida cara.

Page 7: Batalha de aljubarrota

Muitos empalidecem, porque o sangue

reflui ao coração. Nestas ocasiões o medo

é maior do que o perigo. Pelo menos

assim parece às pessoas, pois na fúria do

combate, o perigo de perder os membros

ou a própria vida é tido em pouca conta.

No ardor do combate, o perigo é

inexistente para a consciência do

combatente.

Page 8: Batalha de aljubarrota

Estrofes 28 e 29

O poeta assinala o terrível efeito

provocado na natureza e nas pessoas,

pelo espantoso sinal lançado pela

trombeta castelhana para o começo da

batalha.

Page 9: Batalha de aljubarrota

Começa-se a travar a incerta guerra:

De ambas partes se move a primeira ala; (avança a

primeira linha de ambos os exércitos)

Uns leva a defensão da própria terra,

Outros as esperanças de ganhá-la;

Logo o grande Pereira, (Nuno Álvares Pereira) em quem

se encerra

Todo o valor, primeiro se assinala: (Nuno Álvares Pereira é

o primeiro a assinalar-se.)

Derriba e encontra, (ataca) e a terra enfim semeia

Dos que a tanto desejam, sendo alheia. (Embate e

derruba aqueles que queriam apoderar-se da terra que não era sua, semeia-a com os corpos dos

invasores.)

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Page 10: Batalha de aljubarrota

“De ambas as partes se move a primeira ala”

PORTUGUESES E CASTELHANOS

D. Nuno Álvares Pereira

Destacou-se pela bravura na Batalha

“…o grande Pereira, em quem se encerra/ Todo

o valor…”

Page 11: Batalha de aljubarrota

Síntese dos motivos da Batalha:

Uns leva a defensão da própria terra, Outros as esperanças de ganhá-la;

desejo de defender a terra (Portugueses)

esperança de conquistá-la (Castelhanos)

Page 12: Batalha de aljubarrota

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Já pelo espesso ar os estridentes

Farpões, setas e vários tiros voam;

Debaxo dos pés duros dos ardentes

Cavalos treme a terra, os vales soam;

Espedaçam-se as lanças, e as frequentes

Quedas co’as duras armas, tudo atroam;

Recrecem os imigos sobre a pouca

Gente do fero Nuno, que os apouca.

Page 13: Batalha de aljubarrota

O ar fica espesso com a grande quantidade dearmas de arremesso, que retinem.Acumulam-se os inimigos à volta da poucagente de D. Nuno, mas ele diminui-lhes aquantidade.

Movimento aterrador, confuso e barulhentoda luta, expressivamente transmitido pelosadjectivos e pelos verbos.

Page 14: Batalha de aljubarrota

Estrofe 31

Adjectivação Expressiva: “…espesso ar…” (carregado)

“…estridentes farpões…”

“…frequentes quedas…”

“…duras armas…”

“…pouca gente…”

Verbos Expressivos: “ …voam…”

“…treme..”

“…soam…”

“…espedaçam-se…”

“…atroam…” (fazer estremecer)

“…recrecem…”

“…apouca…” (reduzir)

Page 15: Batalha de aljubarrota

Est. 31 (cont.) Aliteração

• Repetição do “R

“…espesso ar e os estridentes/farpões…”

“…vários tiros…”

“…treme a terra…”

“…duras armas tudo atroam”

• Repetição do “S”

“…espesso ar e os estridentes/farpões, setas e vários

tiros…”

“Debaixo dos pés duros dos ardentes/ cavalos …os vales

soam”

“Espedaçam-se as lanças, e as frequentes/ Quedas co’as duras

armas…”

“Recrecem os imigos sobre…”

Estrofe Onomatopaica

Page 16: Batalha de aljubarrota

Est. 31 (cont.)

• Visualidade e Impressionismo

Esta estrofe é como que o “filme” da Batalha.

As palavras valem quase tanto pelo seu

corpo fónico (significante) como pelo

seu significado, na construção da

mensagem.

Page 17: Batalha de aljubarrota
Page 18: Batalha de aljubarrota

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Eis ali seus irmãos (D. Diogo e D. Pedro Pereira) contra

ele vão,

(Caso feio e cruel!) mas não se espanta,

Que menos é querer matar o irmão,

Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:

Destes arrenegados muitos são

No primeiro esquadrão, que se adianta

Contra irmãos e parentes (caso estranho!)

Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.

Page 19: Batalha de aljubarrota

Avançam contra ele os seus irmãos, mas elenão se espantam, porque é pior revelar-secontra o rei e a pátria do que querer matar opróprio irmão. Há muitos renegados destes noprimeiro esquadrão, que avança contra irmãose parentes, como sucedeu nas guerras entreCésar e Pompeu.

Page 20: Batalha de aljubarrota

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Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,

Catilina, (Sertório, Coriolano, Catilina: militares que, na antiguidade, pegaram

em armas contra a pátria.) e vós outros dos antigos,

Que contra vossas pátrias, com profano

Coração, vos fizestes inimigos,

Se lá no reino escuro de Sumano (reino de Plutão,

inferno pagão)

Receberdes gravíssimos castigos,

Dizei-lhe que também dos Portugueses

Alguns tredores houve alguas vezes.

Page 21: Batalha de aljubarrota

Sertório, Coroliano e Catilina aliaram-se comnações estrangeiras para combater Roma, istoé, combateram sacrilegamente a própriapátria. Se por isso foram castigados noinferno, podem alegar a seu favor que atémesmo entre os Portugueses houve traidores.

Page 22: Batalha de aljubarrota

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Rompem-se aqui dos nossos os primeiros,

Tantos dos inimigos a eles vão!

Está ali Nuno, qual pelos outeiros

De Ceuta está o fortíssimo leão, (comparação)

Que cercado se vê dos cavaleiros

Que os campos vão correr de Tutuão: (praça

forte situada no sul de Ceuta)

Perseguem-no com as lanças, e ele iroso,

Torvado um pouco está, mas não

medroso.

Page 23: Batalha de aljubarrota

35

Com torva vista os vê, mas a natura

Ferina (feroz) e a ira não lhe compadecem (consentem)

Que as costas dê, mas antes na espessura

Das lanças se arremessa, que recrecem.

Tal está o cavaleiro, (D. Nuno) que a verdura

Tinge co'o sangue alheio. (inimigo) Ali perecem

Alguns dos seus, que o ânimo valente

Perde a virtude contra tanta gente.

Page 24: Batalha de aljubarrota
Page 25: Batalha de aljubarrota

A primeira linha portuguesa abre brecha,cedendo à grande quantidade de inimigos.Nuno Álvares está como o leão que se vêcercado nas colinas de Ceuta pelos cavaleirosque correm a planície de Tetuão: o olhar turva-se, mas o instinto não o deixa fugir: arremessa-se no meio das lanças cada vez maisnumerosas. Assim Nuno Álvares faz correr osangue dos inimigos no campo verde. Algunsdos seus morrem, porque a valentia não ébastante contra tanta gente.

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Sentiu Joane a afronta que passava

Nuno, que, como sábio capitão,

Tudo corria e via, e a todos dava,

Com presença e palavras, coração. (coragem)

Qual parida leoa, fera e brava, - comparação

Que os filhos que no ninho sós estão,

Sentiu que, enquanto pasto lhe buscara,

O pastor de Massília (nómada salteador da zona desértica, de que

falam vários poetas antes de Camões) lhos furtara;

Page 27: Batalha de aljubarrota

João, que como bom capitão vigiava e corria ocampo animando todos com presença epalavras, sentiu o aperto em que estava Nuno.Logo, com um punhado de cavaleiros, acorreuà primeira linha, como a leoa que pariu esente que o pastor lhe roubou as crias, correfuriosa, atroando os montes. Falou aoscompanheiros exortando-os a defender a terracom a lança.

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Corre raivosa e freme, (treme) e com bramidos

Os montes Sete Irmãos (montes do Norte de África) atroa

e abala:

Tal Joane, com outros escolhidos

Dos seus, correndo acode à primeira ala:

Apóstrofe -Ó fortes companheiros, ó subidos

Cavaleiros, a quem nenhum se iguala,

Defendei vossas terras, que a esperança

Da liberdade está na vossa lança.

Page 29: Batalha de aljubarrota

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Vedes-me aqui, Rei vosso, e companheiro,

Que entre as lanças, e setas, e os arneses (armaduras completas)

Dos inimigos corro e vou primeiro:

Pelejai, verdadeiros Portugueses!"-

Isto disse o magnânimo guerreiro,

E, sopesando (balançando) a lança quatro vezes,

Com força tira; (arremessa) e, deste único tiro,

Muitos lançaram o último suspiro. (eufemismo)

Page 30: Batalha de aljubarrota

Mostra-lhes como ele próprio corria à frentede todos, não só como Rei, mas tambémcomo companheiro de armas, no meio dosinimigos. E depois de dizer isto, balançandoquatro vezes a lança, arremessou-a com talforça que muitos morreram.

Page 31: Batalha de aljubarrota

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Porque eis os seus acesos novamente

Duma nobre vergonha e honroso fogo,

Sobre qual mais com ânimo valente

Perigos vencerá do Márcio (batalha, guerra, de Marte)

jogo,

Porfiam: (disputam) tinge o ferro o sangue

ardente;

Rompem malhas primeiro, e peitos logo:

Assim recebem junto e dão feridas,

Como a quem já não dói perder as vidas.

Page 32: Batalha de aljubarrota

Por causa disto, os soldados, novamenteanimados de brio e ambiciosos de honra,disputam competindo entre si sobre qual delesserá o mais valente guerreiro. O fogo da paixãofaz as armas tingirem-se no sangue dosinimigos. Primeiro cortam as malhas de aço edepois os corpos. Recebem e dão golpes comose a vida valesse pouco.

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A muitos mandam ver o Estígio lago, (lago dos

infernos dos Antigos) (eufemismo)

Em cujo corpo a morte e o ferro entrava:

O Mestre morre ali de Santiago,

Que fortissimamente pelejava;

Morre também, fazendo grande estrago,

Outro Mestre cruel de Calatrava;

Os Pereiras também arrenegados

Morrem, arrenegando o Céu e os Fados.

Page 34: Batalha de aljubarrota

Mandam para o país dos mortos muitos querecebiam golpes mortais. Morrem ali o mestrede Santiago, o mestre de Calatrava e tambémos Pereiras traidores, maldizendo a sua sorte.

Page 35: Batalha de aljubarrota

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Muitos também do vulgo vil (anónima) sem nome

Vão, e também dos nobres, ao Profundo,

Onde o trifauce Cão (cão de três cabeças, o Cerbero, que estava de

guarda às portas do Inferno e recebia as almas dos mortos.) perpétua fome

Tem das almas que passam deste mundo.

E porque mais aqui se amanse e dome

A soberba do amigo furibundo,

A sublime bandeira Castelhana

Foi derribada aos pés da Lusitana.

Page 36: Batalha de aljubarrota

Morrem muitos de quem não se sabe o nome ,tanto do povo como da nobreza. E, parahumilhação do inimigo, foi derrubada a altivabandeira castelhana.

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Aqui a fera batalha se encruece

Com mortes, gritos, sangue e cutiladas;

A multidão da gente que perece

Tem as flores da própria cor mudadas;

Já as costas dão e as vidas; já falece

O furor e sobejam as lançadas;

Já de Castela o Rei desbaratado

Se vê, e de seu propósito (objectivo de conquistar Portugal)

mudado

Page 38: Batalha de aljubarrota

O combate torna-se mais feroz. Há grandemultidão de mortos com as faces sem cor. OsCastelhanos viram as costas deixam-se matarsem resistência. Esmorece a fúria dossoldados e as lançadas tornam-se inúteis. Orei de Castela, desbaratado, vê desfeita a suaambição.

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O campo vai deixando ao vencedor,

Contente de lhe não deixar a vida.

Seguem-no os que ficaram, e o temor

Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.

Encobrem no profundo peito a dor

Da morte, da fazenda despendida,

Da mágoa, da desonra, e triste nojo

De ver outrem triunfar de seu despojo.

Page 40: Batalha de aljubarrota

Deixa o vencedor o campo, feliz por salvar avida. Acompanhado dos que escaparam fogecomo se tivesse asas. No fundo do coração, osfugitivos choram os seus mortos, a riquezaperdida, a ofensa e a desonra recebidas, odesgosto de ver o inimigo exibir em triunfo osdespojos que deixaram.

Page 41: Batalha de aljubarrota

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Alguns vão maldizendo e blasfemando

Do primeiro que guerra fez no mundo;

Outros a sede dura vão culpando

Do peito cobiçoso e sitibundo, (ambicioso)

Que, por tomar o alheio, o miserando

Povo aventura às penas do Profundo,

Deixando tantas mães, tantas esposas

Sem filhos, sem maridos, desditosas.

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Alguns maldizem quem inventou a guerra.Outros deitam a culpa à sede da ambição, quepara se apoderar do alheio arrisca o povo aossuplícios infernais e sacrifica as mães e asesposas.

Page 43: Batalha de aljubarrota

DESFECHO DA BATALHA VITÓRIA DOS PORTUGUESES

• Reflexões sobre a guerra

Crítica aos que, por cobiça da terra alheia, arrastaram muitos homens para a morte, fazendo órfãos, viúvas e mães infelizes.

• Alguns vão maldizendo e blasfemando

• Outros a sede dura vão culpando/ Do peito cobiçoso e sitibundo…

• Deixando tantas mães, tantas esposas,/ Sem filhos, sem maridos, desditosas

Page 44: Batalha de aljubarrota

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O vencedor Joane esteve os dias

Costumados no campo, em grande glória;

Com ofertas despois, e romarias,

As graças deu a Quem lhe deu vitória.

Mas Nuno, que não quer por outras vias

Entre as gentes deixar de si memória

Senão por armas sempre soberanas,

Para as terras se passa Transtaganas.

Page 45: Batalha de aljubarrota

João esteve os três dias habituais no campo davitória, e seguidamente deu graças a Deuscom ofertas e romarias. Todavia, NunoÁlvares, que só pretende a glória da guerra,passa além do Tejo.

Page 46: Batalha de aljubarrota

Est.45 ATITUDES DOS HERÓIS

• D. João I

Recebeu as glórias do povo e fez romarias, dando graças a Deus:

O vencedor Joane esteve os dias/ Costumados no campo, em grande glória;/ Com ofertas, despois, e romarias/ As graças deu a quem lhe deu vitória.

• D. Nuno Álvares Pereira

Parte para as terras do Alentejo, depois de cumprido o seu dever na Batalha, pois não quer grandes festas, mas deseja apenas ser lembrado pelo valor das suas armas:

Mas Nuno, que não quer por outras vias/ Entre as gentes deixar de si memória/ Se não por armas sempre soberanas,/ Pera as terras se passa transtaganas.

Page 47: Batalha de aljubarrota

Episódio da Batalha de Aljubarrota

• Divisão do episódio em três partes:

• 1ª est. 28 e 29 preparativos para a Batalha

• 2ª est.30 à 42 descrição da Batalha

• 3ª est. 42 à 44 desfecho dos acontecimentos

Page 48: Batalha de aljubarrota

Plano da História de Portugal

• Est.28 à 44

Episódio de Natureza

Bélica - Batalha

• Est. 45

Acontecimentos

que sucedem a

Batalha

Lurdes Martins