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PODERJUDICIARIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE BARREIRAS-BA SENTENÇA TIPO A PROCESSO N. 2008.33.03.000434-3 CLASSE: 7300 - ACÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AUTOR: MINISTÉRIOPÚBLICO FEDERAL RÉU: ANTÓNIO HENRIQUE DE SOUZA MOREIRA SENTENÇA RELATÓRIO O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, devidamente representado, propôs a presente ACÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de ANTÓNIO HENRIQUE DE SOUZA MOREIRA, sob o fundamento de que o réu, ao longo do ano de 2001, no seu primeiro mandato de prefeito, teria praticado irregularidades na gestão dos recursos públicos provenientes do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), o que restara constatado por auditoria realizada pelo TCU (Tribunal de Contas da União). As irregularidades suscitadas pelo MPF foram as seguintes: 1) celebração de contratos com as empresas RIO DE PEDRAS TRASPORTE E TURISMO LTDA. e RENA TURISMO LTDA. para prestação de serviços com inexigibilidade de licitação fora das hipóteses previstas na lei; 2) fracionamento de despesas com o intuito de fugir do procedimento licitatório, caracterizado pela realização de diversas licitações na modalidade convite e pagamentos com dispensa de licitação, que somadas, extrapolariam o limite legal permitido, contrariando o art. 23, II, "a", e art. 24, II, ambos da Lei 8.666/93; e 3) desvio de finalidade na aplicação dos recursos do FUNDEF, que as professoras do ensino infantil, ROSSELMA ROSA PIMENTEL DE MACEDO e VANEIDE VIEIRA DE SOUZA OLIVEIRA, foram remuneradas com recursos do ensino fundamental. Foi requerida a condenação do réu por ato de improbidade administrativa, nos termos do art.12, II, da Lei 8.429/1992, a saber: a) ressarcimento integral do dano sofrido pelo Fundo de Manutenção ffl Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

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Justiça Federal afasta prefeito Antonio Henrique do cargo

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PODERJUDICIARIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE BARREIRAS-BA

SENTENÇA TIPO APROCESSO N. 2008.33.03.000434-3CLASSE: 7300 - ACÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVAAUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALRÉU: ANTÓNIO HENRIQUE DE SOUZA MOREIRA

SENTENÇA

RELATÓRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, devidamente representado, propôs a

presente ACÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em facede ANTÓNIO HENRIQUE DE SOUZA MOREIRA, sob o fundamento de que o réu, ao

longo do ano de 2001, no seu primeiro mandato de prefeito, teria praticado

irregularidades na gestão dos recursos públicos provenientes do Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério (FUNDEF), o que restara constatado por auditoria realizada pelo TCU(Tribunal de Contas da União).

As irregularidades suscitadas pelo MPF foram as seguintes: 1) celebração

de contratos com as empresas RIO DE PEDRAS TRASPORTE E TURISMO LTDA. e RENATURISMO LTDA. para prestação de serviços com inexigibilidade de licitação fora das

hipóteses previstas na lei; 2) fracionamento de despesas com o intuito de fugir do

procedimento licitatório, caracterizado pela realização de diversas licitações na

modalidade convite e pagamentos com dispensa de licitação, que somadas,

extrapolariam o limite legal permitido, contrariando o art. 23, II, "a", e art. 24, II,

ambos da Lei 8.666/93; e 3) desvio de finalidade na aplicação dos recursos do FUNDEF,já que as professoras do ensino infantil, ROSSELMA ROSA PIMENTEL DE MACEDO eVANEIDE VIEIRA DE SOUZA OLIVEIRA, foram remuneradas com recursos do ensinofundamental.

Foi requerida a condenação do réu por ato de improbidade administrativa,nos termos do art.12, II, da Lei 8.429/1992, a saber: a) ressarcimento integral do danosofrido pelo Fundo de Manutenção ffl Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

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JUSTIÇA FEDERAL - SJBASUBSEÇÃO DE BARREIRASProc.: 2008.33.03.000434-3

Valorização do Magistério (FUNDEF) no total de R$ 19.333,00, referente aos contratoscelebrados com inexigibilidade de licitação, R$ 286.706,99, relativo às despesasrealizadas com fracionamento indevido de licitação e R$ 10.161,79 atinente àsdespesas realizadas com desvio de finalidade; b) perda dos bens e valores acrescidosilicitamente ao património, se ocorrer essa circunstância; c) perda da função públicaque porventura o requerido esteja exercendo a época da sentença; d) suspensão deseus direitos políticos pelo período de 5(cinco) a 8(oito) anos; e) pagamento de multacivil de até duas vezes o valor do dano; f) proibição de contratar com o Poder Públicopelo prazo de 5(cinco) anos; e g) proibição de receber benefícios ou incentivos fiscaisou creditícios, direta ou indiretamente, pelo prazo de 5(cinco) anos.

Requereu, ainda, a condenação do réu nas penalidades prevista no art.12,III, da Lei 8.429/1992, no que não conflitar como o pedido anterior.

Juntou documentos de fts. 27/651.

Decisão às fls. 654/655 indeferindo o pedido de indisponibilidade de bens edeterminando a notificação do requerido, o que ocorreu à fl. 660.

Defesa preliminar apresentada às fls. 661/671, arguindo, primeiramente, ainconstitucionalidade do art. 17 da Lei 8.429/92, com as alterações promovidas pelaMP n^. 2.225-45/2001, por violação ao comando do art. 62 parágrafo primeiro "b" daCarta Magna.

No mérito, com relação à contratação das empresas RIO DE PEDRASTRASPORTE E TURISMO LTDA. e RENA TURISMO LTDA., argumentou que ainexigibilidade de licitação deu-se em razão de inviabilidade de competição paracontratação de empresas para transporte escolar nas comunidades de Placas eCachoeira do Acaba Vidas. Acrescentou que a contratação dessas empresas teria sidoextremamente vantajosa para o município, sem ilegalidade ou lesividade.

Relativamente ao alegado fracionamento de despesas com a finalidade defraudar o processo licitatórto, sustentou que Administração, ao invés de licitar oconjunto de linha do transporte escolar, que excluiria pequenas empresas e pessoafísica, optou por licitar cada itinerário, resultando na obtenção de propostas maisvantajosas para o município. Alegou não ter tido qualquer demonstração de que ospreços eram incompatíveis com o mercado ou que os serviços adquiridos não foramefetivamente prestados.

Por fim, quanto ao alegado desvio de finalidade, afirmou que asmencionadas professoras ministravam aulas, exercendo funções inteiramentevinculadas à educação, não se configurando desvio essencial de finalidade.

A decisão de fls. 673/675 afastou a tese de inconstitucionalidade do art. 17

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da Lei 8.429/92, recebeu a inicial e determinou a citação do acionado para oferecercontestação.

Contestação apresentada pelo réu (fls. 680/689), com a reiteração dosargumentos lançados na defesa preliminar, ressaltando, em relação à contratação dasempresas RIO DE PEDRAS TRASPORTE E TURISMO LTDA. e RENA TURISMO LTDA, que"mesmo não havendo abertura de um certame licitatório, diante de uma situação queautorizava a inexigibilidade, as contratações efetivadas resultaram no atendimento deuma demanda relevante, pelo menor preço possível, o que traduz a obtenção daproposta mais vantajosa e o atendimento do interesse público".

Completou, no que se refere à acusação de fracionamento irregular dedespesas, que "os três casos de dispensa, mencionados na inicial, resultaram desituações imprevisíveis, e os valores contratados e pagos, situam-se nos limitesautorizados por lei".

Declarou que "o pagamento das professoras Rosselma Rosa Pimentel deMacedo e Vaneide Vieira de Souza Oliveira resultaram de equívocos quanto a execuçãoorçamentaria, prontamente corrigido quando contatado, não resultando de opçãodolosa ou culposa, não traduzindo tesão ao património moral ou material, mas emmera irregularidade, com mínimo potencial ofensivo, sendo incabível a aplicação dassanções previstas na lei 8.429/92".

A União ingressou no polo ativo da demanda (fls. 691/692), na qualidadede assistente litisconsorcial, conforme decisão de fl. 698. Na oportunidade, foideterminado às partes que especificassem as provas que pretendiam produzir.

Réplica do MPF à fl. 697, onde reitera a inicial.

Manifestação da União sobre a contestação e documentos às fls. 700/701.

O MPF e a União informaram que não há mais provas a serem produzidas(fls. 708 e 712, respectivamente).

Às fls. 703/704, o Requerido pugnou pela oitiva das testemunhas arroladas,duas das quais foram devidamente ouvidas por este Juízo às fls. 778/780.

Depoimento pessoal do autor colhido às fls. 766/767.

O MPF apresentou alegações finais (fls. 808/818) e o réu às fls. 823/827,sendo que a União aderiu às alegações do Parquet Federal (fl. 820).

Nova audiência designada para oitiva da testemunha Raimundo Vanks (fl.829), a despeito da decisão de fl. 804, o qual foi ouvido às fls. 854/856. Na mesma

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oportunidade, foram apreciadas questões acerca da prova, cuja decisão restouirrecorrida.

Oportunizada a complementação dos memoriais (fl. 863), o MPF e a Uniãopeticionaram às fls. 865 e 868, respectivamente. O réu não se manifestou, conformecertidão de fl. 866-verso.

Os autos vieram conclusos para sentença.

É o que há de relevante para relatar.Fundamento e Decido.

FUNDAMENTAÇÃO

Inicialmente, registro que voltei a atuar nessa Subseção a partir de27/01/2014, após prazo de trânsito deferido em razão de minha investidura no cargode Juiz Federal. Esclareço que já atuei nesse Juízo nos idos de 2007/2009, no cargo deJuiz Federal Substituto. Faço esse registro, porque a Corregedoria Regional, emnovembro de 2013 (fl. 873), já sinalizava para que fosse priorizado o julgamento dessaação, ante a data de sua conclusão.

Pois bem. A título de defesa processual, vale lembrar que a discussão sobrea constitucionalidade das alterações promovidas na Lei 8.429/92 para inclusão da fasede manifestação preliminar e juízo de admissibilidade da ação restou devidamentesuperada com a decisão de fls. 673/675, nada mais restando a ser discutido, nesteparticular.

Volto-me, portanto, à análise do MÉRITO.

A Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa tem seufundamento legal na Lei 8.429/92, bem assim suporte no art. 37, parágrafo 42 daConstituição Federal. Também é esta Carta que atribui ao Ministério Público Federal afunção de promover o inquérito civil e a ação civil pública para proteção do patrimóniopúblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, comoestatuído no seu art. 129, inciso III.

A Lei de Improbidade Administrativa tem como escopo o ressarcimento aoerário e a punição dos agentes públicos ímprobos, a teor do dispositivo constitucionalreferido. Reputa-se por ato de improbidade administrativa atentatório aos Princípiosda Administração Pública a ação ou omissão tendente a violar os deveres - aos quais sesubmetem todos os agentes públicos1 - de honestidade, imparcialidade, legalidade e

l Art. 4° da Lei n? 8429/92: "Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velarpela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoaldos assuntos que lhe são afetos."

Jade, moralidade e publicidade no trato

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lealdade, seja às instituições a que se vinculam diretamente, por razão do exercício decargo ou função, seja, em última análise, à União, Estado ou Município de que façaparte este órgão da administração direta ou indireta.

Cabe ressaltar, de logo, que a aplicação das sanções previstas nesta Lei deImprobidade Administrativa independe "do efetiva ocorrência de dano ao patrimóniopúblico, salvo quanto à pena de ressarcimento" e "da aprovação ou rejeição das contaspelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas" (art. 21, l e II).

Com efeito, "Na dicção do art. 21, lf da Lei n? 8.429/1992, [...] não sendo odano o substrato legitimador da sanção, constata-se que é elemento prescindível àconfiguração da improbidade"2,

Passo à análise do caso concreto.

Os atos imputados como ímprobos que fundam a presente Ação CivilPública correspondem a: i) celebração de contratos com as empresas RIO DE PEDRASTRASPORTE E TURISMO LTDA. e RENA TURISMO LTDA para prestação de serviços cominexigibilidade de licitação fora das hipóteses previstas na lei; ii) fracionamento dedespesas com o intuito de fugir do procedimento licitatório, caracterizado pelarealização de diversas licitações na modalidade convite e pagamentos com dispensa delicitação, que somadas, extrapolariam o limite legal permitido, contrariando o art. 23,II, "a", e art. 24, II, ambos da Lei 8.666/93; e iii) desvio de finalidade na aplicação dosrecursos do FUNDEF, já que as professoras do ensino infantil, ROSSELMA ROSAPIMENTEL DE MACEDO e VANEIDE VIEIRA DE SOUZA OLIVEIRA, foram remuneradascom recursos do ensino fundamental.

A análise individual de cada ato/conduta do réu imputada será feitasubsequentemente, da forma que segue.

li Contratações de Serviços Desvinculados de licitação

O caso presente envolve a contratação direta das empresas RIO DEPEDRAS TRASPORTE E TURISMO LTDA. e RENA TURISMO LTDA para execução de

serviços de transporte de alunos do ensino fundamental.

Pois bem. A licitação, bem se sabe, é procedimento impositivo previsto emsede constitucional para a contratação de obras, serviços, compras e alienações peloPoder Público (art. 37, XXI da Constituição Federal), rigorosamente disciplinado por leiespecífica e orientado por princípios próprios, que objetivam, no entender de CelsoAntónio Bandeira de Mello, o atendimento a três exigências públicas impostergáveis:1) proteção aos interesses públicos e interesses \governamentais; 2) respeito aos

2 GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa, p. 263. 4.ed. Rio de Janeiro:Lúmen, 2008.

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princípios da isonomia e impessoalidade (arts. 59 e 37, caput da Constituição Federal);3) e obediência aos reclamos de probidade administrativa (arts. 37, caput e 85, V daConstituição Federal)3.

De forma excepcional ao regime da obrigatoriedade de licitação, o art. 25da Lei 8.666/93 prevê algumas hipóteses em que, por conta da inviabilidade decompetição, este procedimento pode ser considerado inexigível, a teor do que segue:

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição,em especial:l - para aquisição de materiais, equipamentos, ou géneros que só possamser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo,vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividadeser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comérciodo local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, peloSindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidadesequivalentes;II-para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 destaLei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notóriaespecialização, vedada a inexigibitidade para serviços de publicidade edivulgação;III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico,diretamente ou através de empresário exclusivo, desde que consagradopela crítica especializada ou pela opinião pública.§ 1° Considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujoconceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenhoanterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento,equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados com suas atividades,permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o maisadequado à plena satisfação do objeto do contrato.§ 2- Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, secomprovado superfaturamento, respondem solidariamente pelo danocausado à Fazenda Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e oagente público responsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.

Especificamente quanto à "natureza singular" dos serviços técnicos,

aludida no inciso II acima, o art. 13 desta mesma Lei prevê, de modo não exaustivo, as

hipóteses passíveis de assim serem consideradas, ao dispor:

"Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicosprofissionais especializados os trabalhos relativos a:I - estudos técnicos, planejamentos e projètos básicos ou executivos;II - pareceres, perícias e avaliações em gafai;

3 Curso de Direito Administrativo, p. 468. 13. ed. Malheiros.

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/// - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras outributárias; IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;V- patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;VII - restauração de obras de arte e bens de valor histórico.VIU-(vetado)."

Desde que, portanto, os serviços de natureza singular elencados nosartigos 13 e 25, II da Lei 8666/93 atendam ao requisito da notória especialização.devidamente especificada pelo parágrafo primeiro do art. 25, poder-se-ia, em tese,acatar ao reconhecimento da inexigibilidade de licitação, sem ofensa à probidade emoralidade administrativa.

O conceito de "serviços de natureza singular" foi fixado por DiógenesGasparini como "aquele que é portador de tal complexidade executória que oindividualiza, tornando-o diferente dos da mesma espécie, e que exige, para suaexecução, um profissional ou empresa de especial qualificação"4.

É este mesmo doutrinador, ainda, que, a respeito dos requisitos dainexigibilidade de licitação (serviços de natureza singular e notória especialização),alerta: "a legitimidade na contratação de serviços técnicos profissionais especializadossem licitação depende da coexistência desses requisitos. A presença de apenas um nãovalida o negócio"5.

De fato, conforme contratos de n9 146 e 147 (fts. 404/405 e 408/409), oMunicípio contratou ilegalmente, sem licitação, as empresas Rio de Pedras Transportee Turismo Ltda. e Rena Turismo Ltda. para execução de serviços de transporte dealunos do ensino fundamental.

A ilegalidade da contração acima salta aos olhos, pois analisando osrequisitos exigidos para a inexigibilidade de licitação, acima descritas, observa-se queo primeiro deles, ser um dos serviços enumerados no artigo 13 da Lei 8.666/93, nãofoi sequer observado, já que o serviço de transporte escolar não se encontra no roldo referido artigo.

Ademais, o transporte escolar de alunos, que residem em zona rural, não éserviço singular, porquanto, conforme ressaltado pelo Ministério Público Federal, éuma necessidade constante, corriqueira da Administração Pública municipal dascidades do interior do Brasil, dado que grande parte desses possuem, em seuterritório, significativo contingente de moradores rui

4 Direito Administrativo, p. 475, Editora Saraiva, 9^ Edição.5. Ibidern, p. 476.

ais, que necessitam do transporte

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ofertado pela Prefeitura para poderem se locomover até as escolas situadas na zonaurbana ou em localidade rural mais próxima.

Por fim, vem a calhar à conclusão do Tribunal de Contas da União/ TCU, aoressaltar que: "Não há inviabilidade de competição, podendo ser contratada paraprestação do serviço de transporte escolar qualquer empresa ou mesmo pessoafísica que detenha capacidade para sua realização, cabendo realização de prévialicitação" (fl. 634). (grifei)

Sobre os argumentos da defesa, que a contratação foi vantajosa para aAdministração Pública, não merece acolhimento, pois "a lesividade está ínsita naconduta do agente, sendo despicienda a ocorrência de prejuízo patrimonialimediato"6, bastando que o réu tenha concorrido para inexigibilidade de licitação foradas hipóteses legais.

Quanto ao argumento que a contratação das empresas de transporte semlicitação ocorreu porque a contratação de empresas localizadas no município deBarreiras para efetuar o referido transporte oneraria o município, não possui qualquerbase legal e, a meu ver, não pode o Administrador Público, com base em cogitações,deixar de realizar licitação fora das hipóteses previstas em lei, sob pena de se violartodos os Princípios norteadores da Administração Pública, bem como os da licitação.

Com efeito, são princípios que regem a licitação o da legalidade,impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa,vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo, não podendo oAdministrador, sob o pretexto de a contratação ser vantajosa, esquecer-se de todosesses Princípios a que está submetido.

Demonstrada, igualmente, a autoria, pois os contratos foram celebradospelo acusado (fls. 261/262 e 265/266 do volume II do Anexo I), todos eles assinadospor ele enquanto gestor Municipal.

Nessa hipótese, o dolo encontra-se presente, quando o acusado anuiu comas contratações de serviços fora das hipóteses previstas em lei, descumprindo o seudever de estar atento a todos os atos administrativos que se faça, principalmente nahipótese em análise em que a ilegalidade da contratação é tão evidente.

Aqui, é importante registrar que a contratação direta deve ser vista comoexceção ao princípio da concorrência, e exceção bem delineada, sendo, no caso empauta, absolutamente ilegal não se exigir o procedimento licitatório, restandocaracterizada a livre, consciente e incondicionada i vontade do réu de praticar a

_. Improbidade Administrativa, p. 337. 4. ed. Rio de Jan ro: Lúmen, 2008.

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conduta descrita no tipo subjetivo, até porque devia conhecer a circunstância de que alicitação era exigível e que as formalidades legais não estavam sendo observadas.

Portanto, resta evidenciada a ação ímproba prevista no inciso VIII, do art.10, da Lei n^ 8.429/92, consistente em; "frustrar a licitude de processo licitatório oudispensá-lo indevidamente", (grifei).

Não posso deixar de registra que acerca desse fato, o réu, inclusive, foicondenado como incurso nas penas do artigo 89, caput, da Lei 8.666/93, em primeirograu, conforme se vê da cópia da sentença juntada à fl. 736/754 dos autos.

ii) Fracionamento de Despesas

Segundo o autor, o ex-prefeito realizou, de forma fracionada: 1)contratações de serviço mediante licitação na modalidade "Convite", quando, emverdade, deveria ter sido realizada licitação na modalidade 'Tomada de Preços"; e 2)pagamentos com dispensa indevida de licitação. As contratações referidas perfazem omontante de R$ 286.706,99 (duzentos e oitenta e seis mil, setecentos e seis reais enoventa e nove centavos), com valores individualizados às fls. 17/18 dos autos.

A primeira irregularidade apontada corresponde às contratações ajustadaspela Prefeitura Municipal de Barreiras com algumas pessoas físicas e jurídicas(Cleonice Vieira, Andrade Lima, Carlos Dean Silva Oliveira, Nivaldo Evangelista Neves,Magno Geraldo Souza, Viação Cerrados, José de Guadalupe S. Barros, José Freire deOliveira e Noélia Francisca C. da Costa) para prestação de serviço de transporteescolar, através licitação na modalidade "Convite", ao invés da licitação na modalidade"Tomada de Preços", já que o valor das contratações ultrapassaram R$ 80.000,00(oitenta mil reais), contrariando o art. 23, II, a, da Lei S.666/937.

Assim, alega o autor que houve o indevido fradonamento de despesas parafins de realização de procedimento menos formal e com prejuízo à competitividadedas possíveis partes interessadas.

O fracionamento de despesas, por si só, não é vedado por lei, sendo, aliás,permitido, consoante a previsão do parágrafo 2^ do art. 23 da Lei de Licitações eContratos Administrativos, pelo qual "Na execução de obras e serviços e nas comprasde bens, parceladas nos termos do parágrafo anter

etapas da obra, serviço ou compra, há de corresponc

7 "Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incis

a cada etapa ou conjunto de

ek licitação distinta, preservada a

l a III do artigo anterior serãodeterminadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o Jp/or estirfMf8õ~3a contratação:

II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior:a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);"

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modalidade pertinente paro a execução do objeto em licitação".

Objetiva-se, assim, com a pluralidade de procedimentos, a ampliação dacompetitividade, desde que, entretanto, observada a obrigatoriedade de adoção damodalidade pertinente à execução do contrato em seu valor global.

Hipótese diferente é a do parágrafo 5^ deste mesmo artigo, assim vazado:

"Parágrafo Quinto- É vedada a utilização da modalidade "convite" ou"tomada de preços", conforme o caso, para parcelas de uma mesma obraou serviço, ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmolocal que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente, sempreque o somatório de seus valores caracterizar o caso de "tomada de preços"ou "concorrência", respectivamente, nos termos deste artigo, exceto paraas parcelas de natureza específica que possam ser executadas por pessoasou empresas de especialidade diversa daquela do executor da obra ouserviço."

Neste caso, especificamente na segunda parte, veda-se o que seconvencionou chamar de fracionamento de despesas como burla ao devidoprocedimento licitatório, que é o enquadramento proposto nos autos.

Assim, pode-se dizer que, em se tratando de serviços de mesma natureza eno mesmo local, que possam ser realizados conjunta e concomitantemente, deve-seconsiderar o somatório dos seus valores para fixação do procedimento correto, não sepodendo utilizar da modalidade convite em detrimento da modalidade tomada depreços.

Na espécie, em análise dos documentos acostados (fls. 419/429), verifica-se que, entre fevereiro e abril de 2001, várias licitações foram realizadas, na cidade deBarreiras, para contratação de serviço de transporte escolar. Essa prática contraria oparágrafo 5? supracitado, considerando que todos os serviços possuem a mesmanatureza, no caso, transporte escolar.

Não se está a falar de serviços bastante espaçados no tempo, o quepoderia justificar a necessidade imediata da contratação, para que não houvesseprejuízo à população, antes de novo procedimento a ser realizado. O que se percebeué que foram prestados pequenos serviços sucessivos, em mínimos intervalos de tempo(alguns deles, inclusive, na mesma data), com algumas variações, indicandofortemente o intuito de fugir do procedimento licitatório "Tomada de Preços".

Também não se pode aplicar a exceção prevista no mesmo dispositivo -parcelas de natureza específica que possam ser executadas por pessoas ou empresasde especialidade diversa daquela do executor da obraiou serviço-, porquanto a mesma

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natureza dos serviços adquiridos leva à necessária inferência de que os prestadoresteriam sempre a mesma especialidade e objeto social.

Ter o gestor municipal se desviado da restrição imposta por lei (aquisiçõesde maior vulto que possam ser realizadas de uma só vez, considerando a anualidadedo orçamento) implicou, a um só tempo, em infringência à obrigatoriedade da licitaçãodevida e em possibilidade de custo adicional aos cofres públicos, eis que, como deordinário acontece, as contratações em maior escala tem preços bem mais razoáveisdo que as pequenas aquisições.

Destarte, ainda que não quantificada a economia que deixou de seraplicada ao erário em função da modalidade de licitação escolhida, verifico a existênciade dolo, materializado pela intenção deliberada de fugir do procedimento licitatório, oque enquadra o ato ímprobo no mesmo art. 10, VIII, da Lei 8429/92.

Ademais, como já dito, a lesividade está ínsita na conduta do agente,sendo despicienda a ocorrência de prejuízo patrimonial imediato.

Tocantemente à segunda irregularidade relacionada ao fracionamento dedespesas, o Ministério Público diz que o requerido dispensou indevidamente licitaçõesnos meses de março, junho e julho de 2001, que somavam R$ 15.000,00, violando oart. 24, II, da Lei 8.666/93.

As dispensas são referentes às contratações ajustadas pela PrefeituraMunicipal de Barreiras com Vilson Silveira, Angelita Natália Ferreira e José Alves Lima,no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), cada, para prestação de serviço de transporteescolar (fl. 426).

O fato está devidamente provado e a parte ré não controverte a respeitodas contratações.

A defesa cinge-se em alegar que "os três casos de dispensa, mencionadosna inicial, resultaram de situações imprevisíveis, e os valores contratados e pagos,situam-se nos limites autorizados por lei".

Pois bem. A previsão de dispensa de licitação encontra-se inserta no art. 24da Lei 8.666/93 e, para as hipóteses aplicáveis ao presente caso, obedece aosseguintes limites:

"Art. 24. É dispensável a licitação:

U - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) dolimite previsto na alínea "a", do inciso II do artigo anterior e paraalienações, nos casos previstos nesta Leij^desde que não se refiram a

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parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto quepossa ser realizada de uma só vez;"

Em interpretação conjugada com o art. 23 da Lei 8.666/93, o que se tem,então, é que a dispensa de licitação se encontra devidamente autorizada para comprase serviços de até RS 8.000,00 (oito mil reais), mediante a observância de umarestrição, qual seja: a que as aquisições não se refiram a parcelas de um mesmoserviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez.

A irregularidade verificada reside exatamente neste ponto: aquisições que,pela sua natureza, deveriam ter se dado em bloco, mediante a modalidade de licitaçãocabível, aconteceram, ao contrário, de forma fracionada, suprindo as necessidadesapenas de forma emergencial e paliativa e com burla à obrigatoriedade de licitação.

Os serviços adquiridos, ao contrário do quanto alegado pela parte ré, e naausência de contraprova ofertada, faziam parte da demanda ordinária do Município.

Da mesma forma, ter a administração municipal se desviado da restriçãoimposta por lei (aquisições de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez)implicou, a um só tempo, em violação à obrigatoriedade de licitação e custo adicionalaos cofres públicos, eis que, como de ordinário ocorrem, as contratações em maiorescala tem preços bem mais razoáveis do que as pequenas aquisições.

Portanto, caracteriza ato de improbidade que frustra a licitude do caráterlicitatório, nos termos do art. 10, VIII, da Lei 8.429/92, o fracionamento indevido dalicitação, com o objetivo de se enquadrar no limite de dispensa, quando oadministrador poderia contratar o objeto de uma só vez, em observância ao art. 24, II,da Lei de Licitações.

Mil Desvio de Finalidade na Aplicação de Recursos

O autor apontou, também, desvio de finalidade na aplicação dos recursosdo FUNDEF, já que as professoras do ensino infantil, ROSSELMA ROSA PIMENTEL DEMACEDO e VANEIDE VIEIRA DE SOUZA OLIVEIRA, foram remuneradas com recursos doensino fundamental.

A defesa, por sua vez, alegou que "o pagamento das professoras RosselmaRosa Pimentel de Macedo e Vaneide Vieira de Souza Oliveira resultaram de equívocosquanto a execução orçamentaria, prontamente corrigido quando contatado, nãoresultando de opção dolosa ou culposa, não traduzindo lesão ao património moral oumaterial, mas em mera irregularidade, com mínimo potencial ofensivo, sendo incabívela aplicação das sanções previstas na lei 8.429/92".

Afirmou, ainda, que as mencionadas l professoras ministravam aulas,

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exercendo funções inteiramente vinculadas à educação, não se configurando desvioessencial de finalidade.

O desvio de finalidade aplicável ao ramo do direito administrativo severifica, substancialmente, quando o agente pratica atos visando objetivo diverso doprevisto em tei autorizadora. Nesse ponto, cinge-se pontuar que o requerido, nacondição de prefeito municipal à época dos fatos, utilizou-se de recursos repassadospelo FUNDEF em despesas incompatíveis com o objetivo do programa de ensinofundamental (fls. 631/638), caracterizando desvio de finalidade.

No entanto, da mesma forma que entendeu o TCU (fl. 632), não se podemesmo falar na existência de má-fé da parte do réu, porque a isto os elementosproduzidos não conduzem. Com efeito, não houve, durante a instrução processual,provas que firmem o entendimento de que o réu tinha intenção se beneficiado com osreferidos pagamentos e que tenha atuado deliberadamente para favorecer, de formaindevida, terceiros.

Dito isso, e, considerando a inexistência de dolo ou culpa grave a animar aconduta do réu, não há que se falar em ato de improbidade no pagamento de apenasduas professoras do ensino infantil com verbas do ensino fundamental.

A propósito, atualmente, o próprio fundo (FUNDEB) que substituiu oFUNDEF prevê essa possibilidade. De mais a mais, em situações como essa, as verbaseram naturalmente ajustáveis, mediante glosa no orçamento seguinte.

Note-se, que a Lei de Improbidade Administrativa tem por fim, em primeirae última instância, preservar a moralidade administrativa, de modo a punir o agentepúblico desonesto, vil ou desleal, não aquele que, por razões administrativas (culpaleve), simplesmente pratica algum ato ali previsto.

Assim, somente quando presentes os elementos objetivos (e.g. dano aoerário) e o subjetivo (dolo ou culpa grave), a norma de regência incidirá, qualificando-se o ato como de improbidade, o que não verifico no caso, e relação ao pagamento dasduas professoras em questão.

iv) Conclusão e Sanções Aplicáveis.

Diante do panorama acima esmiuçado, observo que o réu praticou atos deimprobidade tipificados no artigo 10, VIM, da Lei de Improbidade, consistentes nafrustração da licitude de processo licitatório ou de sua dispensa indevida e ao desviode finalidade, razão pela qual deve ser penalizado na forma do artigo 12, II, da lei8.449/92.

Quanto às sanções a serem aplicadas, dqvfe o Magistrado considerar a

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extensão do dano, bem como a gravidade dos fatos, atento sempre para os princípiosconstitucionais da proporcionalidade e razoabilidade.

Partindo deste pressuposto, verifico que não há que se falar emressarcimento integral do dano, à míngua da prova efetiva de sua existência e aimpossibilidade de quantificá-lo objetivamente.

Em verdade, apesar da contratação direta das empresas RIO DE PEDRASTRASPORTE E TURISMO LTDA. e RENA TURISMO LTDA. e o fracionamento de despesasterem prejudicado a realização da licitação correta, o fato é que o autor não trouxe aosautos quanto efetivamente deixou a administração municipal de economizar por nãoter oportunizado a concorrência entre diversos fornecedores.

Descabida também a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente aopatrimónio, haja vista a ausência de comprovação de favorecimento pessoal epatrimonial da parte ré;

Por outro lado, inteiramente pertinentes e adequadas às penalidades deperda da função pública, suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil eproibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivosfiscais ou creditícios.

Iss porque, o réu, na qualidade de prefeito, ou seja, no exercício de seumandato político, agiu de modo ímprobo ao contratar empresas sem licitação, bemcomo fracionou despesas com finalidade clara de burlar a concorrência.

Esclareço que a perda da função pública é referente á de prefeito que,atualmente, exerce. E, que, a suspensão dos seus direitos políticos será pelo prazomínimo legalmente fixado, qual seja: 5(cinco) anos. De igual modo, a proibição decontratar ou receber benefícios ou incentivos, haja vista a ausência de comprovaçãode favorecimento pessoal e patrimonial da parte ré;

DISPOSITIVO

Posto isso, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente demanda,resolvendo o seu mérito (art. 269, l, CPC), com base nos artigos 10, VIII, c/c 12, II,ambos da Lei n5 8.429/92, para decretar a perda da função pública de prefeito do réuAntónio Henrique de Souza Moreira, bem como suspender os seus direitos políticos,pelo prazo de 5 (cinco) anos e, ainda, condena-lo na proibição de contratar com oPoder Público, de quaisquer das esferas da federação, ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio depessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 5 (cinco) anos, bem comono pagamento da multa civil no valorlde R$ 30.000,00 (trinta mil Reais), que oraarbitro, tendo como norte - á míngua de dano apurado - um percentual aproximado

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de 10% do valor total da contratação das empresas de transportes e turismo (R$19.333,00), somado ao valor dos serviços fracionados (R$ 286.706,99), devidamenteatualizada a partir da sentença e com juros de 1% (um por cento) ao mês a partir dacitação, até o efetivo pagamento.

Ante a sucumbência recíproca (art. 21, CPC), custas à proporção de50%(cinqúenta por cento) devidas pelo réu. A outra metade, sem condenação nopagamento o MPF, à míngua de litigância de má-fé, conforme prevê o artigo 17 e 18 daLei 7.347/85. Sem honorários de sucumbência a serem suportados pelas partes.

Após a certificação do trânsito em julgado, (i) oficie-se ao TribunalRegional Eleitoral da Bahia, acerca da perda da função e suspensão dos direitospolíticos do réu; (ii) oficiem-se ao Tribunal de Contas da União - TCU; aos Tribunais deContas dos Estados e do Distrito Federal; ao Banco Central do Brasil - BCB; ao BancoNacional de Desenvolvimento Económico e Social - BNDES; ao Banco do Brasil S/A; àCaixa Económica Federal - CEF; e ao Banco do Nordeste do Brasil - BNB, dando notíciadesta sentença, para que eles observem a proibição de contratar com o Poder Públicoou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

Arquivem-se os autos, oportunamente, com baixa na distribuição eanotações de praxe.

Publique-se. Registre-se. lntime(m)-se.

Barreiras, 07 de Abril de/ãoi4.

IG D MATOS ARJJuiz Federal

Subseção^udiciária de Barreiras/BAf