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V | Período: 8 a 14 de março Balcão de redação − Tema 2 − 2010 Corrupção Orientações para o professor O tema corrupção é sempre uma reflexão necessária para o vestibu- lando, seja como tema de redação, ou argumentação, ou como análise da sociedade, visando a uma transformação do status quo que nos é apresen- tado. Escândalos em campanhas políticas, operações reveladoras da Polícia Federal, cassações e renúncias no Congresso... tudo acaba “em pizza” e nós nos acostumamos a simplesmente ignorar tais fatos. Deixemos de banalizar tal assunto e aproveitemos a oportunidade para trocarmos ideias e soluções com os colegas e professores. Texto 1 Corrupção [Do lat. corruptione.] S. f. 1. Ato ou efeito de corromper; decomposição, putrefação. 2. Fig. Devassidão, depravação, perversão. 3. Fig. Suborno, peita. [Var.: corrução; sin. ger.: corrompimento.] Dicionário Aurélio. Texto 2 Assim se designa o fenômeno pelo qual um funcionário público é le- vado a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favore- cendo interesses particulares em troco de recompensa. [...] A corrupção não está ligada apenas ao grau de institucionalização, à amplitude do setor público e ao ritmo das mudanças sociais; está também relacionada com a cultura das elites e das massas. Bobbio, Norberto. Dicionário de Política. Texto 3 Pacote anticorrupção Na segunda-feira 8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encami- nhou ao Congresso um projeto que visa combater a corrupção contra a administração pública. O texto prevê, na esfera administrativa, a aplicação de multas de até 6 milhões de reais ou 30% do faturamento das empre- sas que fraudarem licitações, pagarem propinas a funcionários públicos, superfaturarem ou maquiarem serviços e produtos vendidos ao governo. Essas companhias também podem ter o contrato rescindido ou serem impe- didas de participar de novos processos de licitação. Os processos administrativos devem ser concluídos em até 180 dias. Além disso, a Justiça poderá determinar o fechamento de empresas envol- vidas em casos de corrupção mais graves. Pelo projeto, as companhias também podem ser obrigadas a ressarcir os prejuízos causados aos cofres públicos. Confira, abaixo, a entrevista com o ministro Jorge Hage, da Con- troladoria Geral da União (CGU), um dos idealizadores da proposta. CartaCapital: Qual é a principal mudança prevista no projeto? Jorge Hage: O projeto prevê punições pela via administrativa, sem ter que depender do Judiciário. Essa é a principal garantia de eficácia da nossa luta contra a impunidade. Garante que o processo começa e termina. O que não ocorre no Judiciário, e não por culpa dos magistra- dos. Eu sou juiz aposentado e sei que o problema reside na infinidade de recursos que a legislação brasileira permite, bem como na interpreta- ção dos tribunais superiores, que não permitem o cumprimento da pena antes do transitado e julgado, o que não acontece nunca. CC: Já não havia punições administrativas às empresas? JH: Atualmente, a punição administrativa é a declaração de inido- neidade da empresa, o que pode impedi-la de participar de licitações pú- blicas por algum período. Essa punição está prevista na Lei de Licitações. Criamos no nosso site um cadastro das empresas que receberam esta san- ção, para que todos os órgãos públicos saibam quais são as companhias envolvidas com corrupção. Essa lista suja tem mais de 1,4 mil empresas inidôneas, que não podem fechar novos contratos com o poder público. CC: As empresas são, de fato, impedidas de participar de licitações? JH: Isso não é rigorosamente respeitado pelas prefeituras, isso a gen- te sabe. Mas nós estamos estimulando os governos estaduais a aderir ao nosso cadastro e vários deles já aderiram, como São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Pernambuco. Eles nos informam a base de dados deles, das em- presas que eles punem, e nós juntamos essas informações com as nossas, para ampliar o cadastro e torná-lo visível a todos. Mas essa é a única forma de punição hoje existente, além das multas contratuais. Só que essas multas são limitadas, coisa entre 5% e 10% do valor do contrato, o que não chega a inibir as grandes empresas de incorrer em práticas de corrupção. Então, o projeto de lei cria muitas outras formas de penalidade na esfera administrativa. E prevê punições maiores aplicáveis por decisão judicial. CC: O que muda na esfera administrativa? JH: Pela via administrativa, está prevista uma multa de 1% a 30% do faturamento bruto da empresa. O que é uma pena elevadíssima. No caso de não se conseguir informações fidedignas sobre o faturamento, aplicam-se multas de 6 mil a 6 milhões de reais. Segundo, a declaração de inidoneida- de englobará não apenas ilícitos cometidos em contratos, como é hoje, mas todas as formas de ilícitos em sua relação com a administração pública, incluindo pagamento de propinas. Terceiro, a empresa pode ser condenada a reparar integralmente o dano causado ao Erário. Hoje, não temos meios, pela via administrativa, de chegar ao patrimônio da empresa corruptora. Criamos a base legal para isso. Além disso, essas empresas ficariam impe- didas de tomar empréstimos e financiamentos em bancos oficiais. CC: Qual é a punição mais severa? Ela dependerá do aval da Justiça? JH: A extinção da empresa é a punição mais extrema, prevista so- mente em casos muito graves, como a criação de empresas laranjas, cons- tituídas para lavar dinheiro, fazer remessas ilegais de valores e proteger seus beneficiários. A extinção dessas empresas só será possível por decisão judicial. Além disso, também o confisco dos valores obtidos com a vanta- gem ilícita, o confisco de bens dos beneficiários, a suspensão ou interdição parcial das atividades da empresa. Todas são medidas que competem ao Judiciário, por provocação do Ministério Público ou da Advocacia Geral da União, das procuradorias estaduais e municipais. CC: E se a empresa for condenada antes pela Justiça? JH: Dificilmente ocorrerá a hipótese de existir um processo na Jus- tiça, com condenação em primeira instância, antes da nossa autuação administrativa. Será muito mais rápido por aqui. Nós temos uma punição prevista para, no máximo, 180 dias. No Judiciário, nada acontece antes de 180 dias. Mas a pena aplicada pela administração pública pode, evi- dentemente, ser contestada pela empresa judicialmente. E isso já acontece hoje. Nós temos vários casos de declarações de inidoneidade que foram contestadas judicialmente, inclusive com mandados de segurança. Só que até agora nós, da CGU, nunca perdemos uma ação dessas. CC: Todas essas 1,4 mil declarações de inidoneidade? JH: Não. Esse número é a somatória de todas as declarações expedidas pela União, bem como pelos estados e municípios que aderiram ao cadastro. Não sei informar quantas dessas empresas recorreram ao Judiciário, mas to- dos os processos que eram da nossa competência foram vencidos pela União. CC: E no caso das empresas brasileiras com atuação no exterior? JH: O projeto também prevê a punição de empresas brasileiras com

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V | Período: 8 a 14 de março

Balcão de redação − Tema 2 − 2010Corrupção

Orientações para o professor

O tema corrupção é sempre uma reflexão necessária para o vestibu-lando, seja como tema de redação, ou argumentação, ou como análise da sociedade, visando a uma transformação do status quo que nos é apresen-tado. Escândalos em campanhas políticas, operações reveladoras da Polícia Federal, cassações e renúncias no Congresso... tudo acaba “em pizza” e nós nos acostumamos a simplesmente ignorar tais fatos. Deixemos de banalizar tal assunto e aproveitemos a oportunidade para trocarmos ideias e soluções com os colegas e professores.

Texto 1

Corrupção [Do lat. corruptione.] S. f. 1. Ato ou efeito de corromper; decomposição, putrefação. 2. Fig. Devassidão, depravação, perversão.

3. Fig. Suborno, peita. [Var.: corrução; sin. ger.: corrompimento.]Dicionário Aurélio.

Texto 2

Assim se designa o fenômeno pelo qual um funcionário público é le-vado a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favore-cendo interesses particulares em troco de recompensa.

[...]A corrupção não está ligada apenas ao grau de institucionalização, à

amplitude do setor público e ao ritmo das mudanças sociais; está também relacionada com a cultura das elites e das massas.

Bobbio, Norberto. Dicionário de Política.

Texto 3

Pacote anticorrupção

Na segunda-feira 8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encami-nhou ao Congresso um projeto que visa combater a corrupção contra a administração pública. O texto prevê, na esfera administrativa, a aplicação de multas de até 6 milhões de reais ou 30% do faturamento das empre-sas que fraudarem licitações, pagarem propinas a funcionários públicos, superfaturarem ou maquiarem serviços e produtos vendidos ao governo. Essas companhias também podem ter o contrato rescindido ou serem impe-didas de participar de novos processos de licitação.

Os processos administrativos devem ser concluídos em até 180 dias. Além disso, a Justiça poderá determinar o fechamento de empresas envol-vidas em casos de corrupção mais graves. Pelo projeto, as companhias também podem ser obrigadas a ressarcir os prejuízos causados aos cofres públicos. Confira, abaixo, a entrevista com o ministro Jorge Hage, da Con-troladoria Geral da União (CGU), um dos idealizadores da proposta.

CartaCapital: Qual é a principal mudança prevista no projeto? Jorge Hage: O projeto prevê punições pela via administrativa, sem

ter que depender do Judiciário. Essa é a principal garantia de eficácia da nossa luta contra a impunidade. Garante que o processo começa e termina. O que não ocorre no Judiciário, e não por culpa dos magistra-dos. Eu sou juiz aposentado e sei que o problema reside na infinidade de recursos que a legislação brasileira permite, bem como na interpreta-ção dos tribunais superiores, que não permitem o cumprimento da pena antes do transitado e julgado, o que não acontece nunca.

CC: Já não havia punições administrativas às empresas? JH: Atualmente, a punição administrativa é a declaração de inido-

neidade da empresa, o que pode impedi-la de participar de licitações pú-blicas por algum período. Essa punição está prevista na Lei de Licitações. Criamos no nosso site um cadastro das empresas que receberam esta san-ção, para que todos os órgãos públicos saibam quais são as companhias envolvidas com corrupção. Essa lista suja tem mais de 1,4 mil empresas inidôneas, que não podem fechar novos contratos com o poder público.

CC: As empresas são, de fato, impedidas de participar de licitações? JH: Isso não é rigorosamente respeitado pelas prefeituras, isso a gen-

te sabe. Mas nós estamos estimulando os governos estaduais a aderir ao nosso cadastro e vários deles já aderiram, como São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Pernambuco. Eles nos informam a base de dados deles, das em-presas que eles punem, e nós juntamos essas informações com as nossas, para ampliar o cadastro e torná-lo visível a todos. Mas essa é a única forma de punição hoje existente, além das multas contratuais. Só que essas multas são limitadas, coisa entre 5% e 10% do valor do contrato, o que não chega a inibir as grandes empresas de incorrer em práticas de corrupção. Então, o projeto de lei cria muitas outras formas de penalidade na esfera administrativa. E prevê punições maiores aplicáveis por decisão judicial.

CC: O que muda na esfera administrativa? JH: Pela via administrativa, está prevista uma multa de 1% a 30% do

faturamento bruto da empresa. O que é uma pena elevadíssima. No caso de não se conseguir informações fidedignas sobre o faturamento, aplicam-se multas de 6 mil a 6 milhões de reais. Segundo, a declaração de inidoneida-de englobará não apenas ilícitos cometidos em contratos, como é hoje, mas todas as formas de ilícitos em sua relação com a administração pública, incluindo pagamento de propinas. Terceiro, a empresa pode ser condenada a reparar integralmente o dano causado ao Erário. Hoje, não temos meios, pela via administrativa, de chegar ao patrimônio da empresa corruptora. Criamos a base legal para isso. Além disso, essas empresas ficariam impe-didas de tomar empréstimos e financiamentos em bancos oficiais.

CC: Qual é a punição mais severa? Ela dependerá do aval da Justiça? JH: A extinção da empresa é a punição mais extrema, prevista so-

mente em casos muito graves, como a criação de empresas laranjas, cons-tituídas para lavar dinheiro, fazer remessas ilegais de valores e proteger seus beneficiários. A extinção dessas empresas só será possível por decisão judicial. Além disso, também o confisco dos valores obtidos com a vanta-gem ilícita, o confisco de bens dos beneficiários, a suspensão ou interdição parcial das atividades da empresa. Todas são medidas que competem ao Judiciário, por provocação do Ministério Público ou da Advocacia Geral da União, das procuradorias estaduais e municipais.

CC: E se a empresa for condenada antes pela Justiça? JH: Dificilmente ocorrerá a hipótese de existir um processo na Jus-

tiça, com condenação em primeira instância, antes da nossa autuação administrativa. Será muito mais rápido por aqui. Nós temos uma punição prevista para, no máximo, 180 dias. No Judiciário, nada acontece antes de 180 dias. Mas a pena aplicada pela administração pública pode, evi-dentemente, ser contestada pela empresa judicialmente. E isso já acontece hoje. Nós temos vários casos de declarações de inidoneidade que foram contestadas judicialmente, inclusive com mandados de segurança. Só que até agora nós, da CGU, nunca perdemos uma ação dessas.

CC: Todas essas 1,4 mil declarações de inidoneidade? JH: Não. Esse número é a somatória de todas as declarações expedidas

pela União, bem como pelos estados e municípios que aderiram ao cadastro. Não sei informar quantas dessas empresas recorreram ao Judiciário, mas to-dos os processos que eram da nossa competência foram vencidos pela União.

CC: E no caso das empresas brasileiras com atuação no exterior? JH: O projeto também prevê a punição de empresas brasileiras com

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V | Período: 8 a 14 de março

Balcão de redação − Tema 2 − 2010Corrupção

atuação no exterior por suborno transnacional. Esse é um compromisso do Brasil na convenção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvol-vimento Econômico), um dos últimos aspectos que o país ainda precisa cum-prir do acordo que é signatário. Trata-se da criação da norma jurídica para permitir a punição de empresas brasileiras que atuam globalmente, por atos de corrupção de funcionários estrangeiros ou de organismos internacionais.

CC: O senhor acredita que o empresariado será favorável à medida? JH: O objetivo é buscar a transparência nas relações do setor pú-

blico com o setor privado, de forma a combater a corrupção, que também traz danos para as empresas. O Instituto Ethos de Responsabilidade Social, que congrega um grande número de empresas, por exemplo, já manifes-tou apoio ao projeto. Nada é mais nocivo para livre competição do que a corrupção, o pagamento de propina, as fraudes em licitações públicas. As empresas sérias e idôneas têm todo o interesse de ver um projeto des-ses ser aprovado, porque terão condições de competir em pé de igualdade com qualquer outra empresa. E elas também não se sentirão estimuladas a participar de esquemas de corrupção, tendo em vista as punições previstas aos infratores.

CC: E o lobby das empresas que se beneficiam da corrupção? JH: Eu acredito que essas empresas terão dificuldade de manifestar

à luz do dia, às claras, esse tipo de resistência. Porque as boas entidades empresariais, que cobram tanto do poder público regras limpas e claras, não têm como ficar contra o projeto. E imagino que elas vão pressionar os congressistas pela aprovação de qualquer medida mais forte no combate à corrupção.

Martins, Rodrigo. Revista CartaCapital, 11/fev./2010.

Texto 4

Projeto do UNODC Brasil contra a corrupção

Parceiros: Controladoria Geral da União Duração: Abril 2005 - Março 2009Doadores: Brasil e UNODCSituação: Em andamento

DescriçãoEm linha com as estratégias do UNODC para o período 2003-2006,

esse projeto tem por objetivo apoiar o governo brasileiro na implementa-ção de medidas preventivas para o enfrentamento da corrupção. Em sua primeira fase, o projeto desenvolveu o IV Fórum Global de Combate à Cor-rupção, realizado em Brasília, em junho de 2005. A segunda fase envolve-rá a capacitação da Controladoria Geral da União (CGU) em modernas técnicas de auditagem e investigação, a melhoria do Sistema Nacional de Integridade e o planejamento de uma estratégia nacional anticorrupção. Outras medidas de prevenção, como a mobilização da sociedade civil, tam-bém serão implementadas pelo projeto.

UNODC – Brasil e Cone Sul – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes. <www.unodc.org/brazil/pt/programasglobais_

corrupcao_projeto.html>.

Texto 5

O deputado Leonardo Prudente (sem partido), filmado colocando di-nheiro nas meias, renunciou ontem ao cargo, um dia após a Câmara do DF abrir processo de quebra de decoro contra o parlamentar. Assim, ele escapou de perder os direitos políticos por cinco anos.

Folha de S.Paulo, 27/fev./2010.

Texto 6

Uma câmera por perto

Com a ilustração acima, a Economist publica o texto “A trilha do dinheiro”, com o subtítulo “Muitos escândalos de corrupção no Brasil de-rivam do alto custo da política e das regras rígidas e irrealistas de finan-ciamento de campanha”. Diz que a maior diferença do caso José Roberto Arruda foi ter uma câmera por perto. E que “o Brasil provavelmente não é mais corrupto que outros de tamanho e riqueza similares”, citando que a Transparência Internacional vê o país à frente de China e Índia.

Encerra com pessimismo, dizendo que a maior lição de Arruda, para os colegas, é que devem passar a checar seus escritórios, atrás de “câme-ras ocultas”.

Sá, Nelson de. Folha de S.Paulo, Toda Mídia, 26/fev./2010.

Texto 7

Em 1993, a Fuvest adotou como norte da redação um trecho (trans-crito abaixo) do conto “A Igreja do Diabo”, de Machado de Assis. Este descreve a necessidade que o homem teria de regras que lhe digam o que fazer e como se comportar. Uma vez conseguido isso, ele passaria a violar secretamente as normas que tanto desejou.

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V | Período: 8 a 14 de março

Balcão de redação − Tema 2 − 2010Corrupção

Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a ideia de fundar uma Igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde sécu-los, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vi-via, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. [...] Está claro que (o Diabo) combateu o perdão das injúrias e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calúnia, mas induziu a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie. [...] A Igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo.

Um dia, porém, longos anos depois, notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. [...] Certos glu-tões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano [...] muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo ros-to dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros. [Nota: embaçar: lograr, enganar]

Proposta de redação

Baseado nos textos apresentados e em sua bagagem de leitura, redija uma dissertação em prosa, analisando a frase a seguir:

“Quando desvia fundos destinados ao desenvolvimento, a corrupção fere desproporcionalmente ao pobre, mina, portanto, a capacidade dos go-vernos de fornecerem serviços básicos, alimenta a iniquidade e a injustiça, e, por fim, desencoraja os investimentos e amparos internacionais”.

Kofi Annan, Ex- Secretário Geral das Nações Unidas.

www.sistemapoliedro.com.br