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Câmara Municipal de Lisboa Vereação do Licenciamento Urbanístico e Reabilitação Urbana BAIXA POMBALINA PEDIDO DE INCLUSÃO NA LISTA INDICATIVA NACIONAL PARA CANDIDATURA A PATRIMÓNIO MUNDIAL VOL. 1/2

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Câmara Municipal de Lisboa Vereação do Licenciamento Urbanístico e Reabilitação Urbana

BAIXA POMBALINA

PEDIDO DE INCLUSÃO NA

LISTA INDICATIVA NACIONAL PARA CANDIDATURA

A PATRIMÓNIO MUNDIAL

VOL. 1/2

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ÍNDICE DESCRIÇÃO ..............................................................................................................5 JUSTIFICAÇÃO DE “VALOR UNIVERSAL EXCEPCIONAL”..........................15

1. Primeiro critério (i) ...........................................................................................15 2. Segundo critério (ii) ..........................................................................................19 3. Terceiro critério (iii) .........................................................................................24 4. Quarto Critério (iv) ...........................................................................................28 5. Quinto critério (v)..............................................................................................42 6. Sexto Critério (vi) ..............................................................................................46 7. O critério de autenticidade e integridade .........................................................53

7.1. Garantias de autenticidade e integridade....................................................53 7.1.1. A protecção e o enquadramento legislativo no quadro administrativo português .......................................................................................................53 7.1.2. Envolvimento de todos os actores interessados no processo de classificação...................................................................................................58

7.2. Garantias de conservação do sítio a classificar. O plano de gestão ...........63 7.2.1. INVENTÁRIO E ANÁLISE...............................................................63

7.2.1.1. Reclassificação das áreas de valor arqueológico..........................63 7.2.1.2. Recolha de indicadores para a gestão do sítio. O livrete do edifício...................................................................................................................66 7.2.1.3. Sistema geo-referenciado e campanhas de vistorias ....................66

7.2.2. CONSOLIDAÇÃO..............................................................................67 7.2.2.1. Intervenção de consolidação arquitectónica de urgência .............67

7.2.3. CONSERVAÇÃO ...............................................................................68 7.2.3.1. Revitalização e atracção de novos residentes...............................68 7.2.3.2. Incentivos aos comerciantes .........................................................69 7.2.3.3. O programa “Lisboa a Cores” ......................................................70 7.2.3.4. O Plano cromático da Baixa.........................................................71 7.2.3.5. Melhoria do espaço público e racionalização da distribuição das infra-estruturas básicas ..............................................................................72

7.2.4. MANUTENÇÃO.................................................................................73 7.2.4.1. Fundo Remanescente do Chiado ..................................................73 7.2.4.2. Grafitis e brigadas de limpeza periódica ......................................73 7.2.4.3. O programa “Lisboa Alerta” ........................................................74

7.2.5. MONITORIZAÇÃO ...........................................................................74 7.2.5.1. Rede de piezómetros e de marcas de nivelamento topográfico ...74 7.2.5.2. Controlo da qualidade do ar, do tráfego e dos agentes de deterioração ...............................................................................................76

7.2.6. PROTECÇÃO .....................................................................................79 7.2.6.1. Regulamento próprio ....................................................................79 7.2.6.2. Unidade de projecto da Baixa-Chiado..........................................79

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7.2.6.3. Controlo do tráfego e criação de alternativas de transporte público...................................................................................................................80 7.2.6.4. Redução da vulnerabilidade sísmica do edificado .......................81 7.2.6.5. Sistema de protecção civil ............................................................81

7.2.7. VALORIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO...........................................84 7.2.7.1. Desafectação.................................................................................84 7.2.7.2. Centro de interpretação do sítio e Museu Pombalino ..................84 7.2.7.3. Animação......................................................................................85

ILUSTRAÇÕES E MAPAS TEMÁTICOS ..........................................................................87 Mapas temáticos....................................................................................................87

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................89

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PEDIDO DE INCLUSÃO NA

LISTA INDICATIVA NACIONAL PARA CANDIDATURA

A PATRIMÓNIO MUNDIAL

Nome do País: PORTUGAL

Lista preparada pela: Comissão Portuguesa da UNESCO Data: Janeiro de 2004

Nome do sítio histórico: BAIXA POMBALINA

Posição geográfica (UTM): 38º 42' 27,10" N

(centróide da estátua de D.José I) -9º 8' 11,28" W

DESCRIÇÃO

Conjunto histórico monumental por excelência e zona emblemática

da Cidade de Lisboa e de Portugal.

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Sítio ocupado desde há 2000 anos, cidade denominada Felicitas Julia

Olisipo desde época romana, com ocupação árabe, centro comercial do antigo

império marítimo português nos séculos XV a XVIII, lugar histórico de

intercâmbio de culturas, capital da nação portuguesa. Entre 1580 e 1640,

quando Portugal e Espanha constituíram uma unidade política, foi (em 1581-

1583 e 1619) centro da corte ibérica.

Fig. 1 - Aspecto do Terreiro do Paço na visita de Filipe III em 1619.

Fig. 2 – Partida da Infanta Catarina de Bragança para se tornar

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Rainha de Inglaterra em 25 de Abril de 1662. (Dirk Stoop)

Depois do terramoto de 1 de Novembro de 1755, a sua reconstrução

sob o governo do Marquês de Pombal serviu, na Europa e no Mundo, para a

criação da primeira cidade moderna do Ocidente.

Fig. 3 - Representação da Baixa antes e durante o terramoto de 1755

(gravura alemã do séc.XVIII).

Inovadora nas soluções viárias, de construção sobre estacas e sobre

novos aterros sobre o rio, de soluções estruturais anti-sísmicas, anti-incêndio,

de saneamento e de salubridade pública.

Esta nova cidade é a concretização maior da escola urbanística

portuguesa que influenciou a construção de um grande número de novas

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cidades, na África, Ásia, Oceânia e América, várias delas já classificadas

como Património da Humanidade.

Fig. 4 – Plano de Eugénio dos Santos de 1758 sobreposto à disposição anterior ao terramoto.

A racionalidade deste sistema e a sua capacidade de pré-fabricação

traduziu-se quase contemporaneamente na edificação de Vila real de S.

António, situada no Sul de Portugal.

Fig. 5 – Alçado do Cartulário Pombalino de 1756 e esquema estrutural da gaiola pombalina (J.

Appleton).

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Conjunto riquíssimo de monumentos públicos, religiosos, escultóricos,

sítio arqueológico romano, feito da integração de edifícios medievais,

renascentistas e barrocos.

Fig.6 – Aspecto actual da Praça do Rossio (D. Pedro IV) e de parte da Rua Augusta.

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Estilo dominante classicista com exemplos tardo-barrocos, neo-

clássicos, eclécticos, arte-nova, art-deco e modernistas.

Fig. 7 – Outro aspecto da Praça do Rossio, depois da

reposição do antigo desenho de pavimento.

Fig. 8 - Aspecto actual da Rua Augusta com tráfego unicamente pedonal.

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Centro do poder durante a Monarquia e a República, sala de visitas e

de aparato da cidade de Lisboa, centro de representação política, de

revoluções, de embarque e desembarque de monarcas, dignatários, de tropas

invasoras e de invasão, de paradas militares, recepção de heróis,

manifestações políticas pacíficas e mais violentas, regicídios, proclamação da

República Portuguesa, motivo de inspiração poética e literária portuguesa e

estrangeira.

Fig. 9 – Recepção do Presidente Loubet da França em 1907.

A área histórica proposta para classificação é a delimitada no plano em

anexo (mapa 1) e corresponde morfologicamente ao plano de reconstrução

da cidade, aprovado em 1758 (fig. 4), incluindo a Baixa entre o antigo Terreiro

do Paço (hoje Praça do Comércio), alargada à colina do Chiado e à Freguesia

de S. Paulo, adjacente ao Rio.

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Fig. 10 – Vista aérea da Baixa Pombalina (anos 1930, espólio Eduardo Portugal).

A área proposta foi até ao terramoto de 1 de Novembro de 1755, centro

político e comercial da cidade, onde se situava o palácio real rodeado de um

emaranhado medieval de ruas repletas de comércios tradicionais e de novos

produtos permitidos pelas Descobertas e pelo comércio com as Índias. Apesar

de ter sofrido um terramoto, um maremoto e um incêndio que ficaram nos

Anais da História como o primeiro “desastre moderno” e referência

internacional de uma gravíssima destruição e perda de pessoas e de

patrimónios incalculáveis, esta ocupação humana e civilizacional foi

restabelecida.

A reconstrução, iniciada em 1756, foi executada segundo um plano

ortogonal totalmente inovador, fruto único e paradigmático da escola

urbanística portuguesa. O plano, desenvolvido sob o regime autocrático

iluminado do Marquês de Pombal, foi proposto por Manuel da Maia (General e

Engenheiro-Mor do Reino) e concretizado sob a direcção dos engenheiros

militares Eugénio dos Santos, Carlos Mardel.

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Fig.11 – “O Marquês de Pombal entrega aos Architectos o plano de reedificação de Lisboa” (Jean

Philippe le Bas, Biblioteca Nacional de LisboaI). Em baixo, da esquerda para a direita,as ruínas do

Teatro da Ópera, da Igreja de S. Niclolau e da Patriarcal (gravuras de 1756).

A área (mapa 1, em anexo) é limitada a:

• Norte - pelo Largo Latino Coelho, Calçada do Duque, Largo do Duque

de Cadaval, Largo do Regedor, Praça D. João da Câmara, Largo de

São Domingos, Rua Barros Queirós, Rua D. Duarte e Rua João das

Regras;

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• Sul - pela Rua da Ribeira Nova, Praça da Ribeira Nova, pequeno troço

da Avenida 24 de Julho junto ao Mercado da Ribeira, Avenida Ribeira

das Naus, Praça do Comércio e pequeno troço da Avenida Infante D.

Henrique até à esquina do Ministério das Finanças;

• Poente - pela Rua da Moeda, Rua de S. Paulo, Rua do Alecrim e Rua

da Misericórdia;

• Nascente – pela Rua do Arco do Marquês de Alegrete. Poço de

Borratém, Rua da Madalena, Rua de S. Mamede, Calçada do Correio

Velho, Rua da Padaria, Rua dos Bacalhoeiros e Rua dos Arameiros.

A superfície total é de 64,5 hectares, ou seja de pequena-média

dimensão.

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JUSTIFICAÇÃO DE “VALOR UNIVERSAL EXCEPCIONAL”

Critérios que respeita:

O sítio proposto respeita todos os seis critérios de classificação.

1. Primeiro critério (i) “O bem proposto deve representar uma obra-prima do génio da criatividade humana”.

A Baixa Pombalina representa uma obra-prima do génio da criatividade

humana, porque pode ser considerada como a “primeira cidade moderna do

mundo ocidental”1. A primeira, porque antes de qualquer outra foi concebida e

executada segundo os critérios e a metodologia integrada que hoje continuam

a basear o planeamento urbano de todas as novas cidades que se pretenda

construir ou renovar. Esta metodologia soube combinar e responder:

1. aos critérios de desenho e concepção, com:

• uma imposição modular arquitectónica de possível adaptação a

diversos tipos de ocupação (comercial, residencial, religioso,

público) e a diversas interpretações estéticas;

• dimensionamento viário adaptado a um crescimento previsto da

população e do tráfego;

• a criação de espaços públicos de comércio, lazer e

representação.

2. às exigências de segurança:

• estrutural de fundações;

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• de resistência aos sismos;

• de resistência ao fogo.

3. às exigências de higiene e salubridade, com:

• o projecto e execução de sistemas de drenagem de águas

residuais e pluviais.

• O projecto e execução de um sistema de recolha de lixos.

Pela qualidade e importância do seu plano, pôde manter grande parte

da sua integridade e assimilar a contribuição de séculos de História, de estilos

e de vontades, constituindo hoje um sítio monumental único no Mundo.

Paralelamente, a criatividade humana reflectida em todo este sítio

monumental comporta a contribuição plural de uma nação que, na época do

plano original, detinha um importante papel geo-estratégico, capaz de integrar,

de forma excepcional as influências plurais da Europa e do Mundo.

Fig. 12 – Vista panorâmica da Praça do Comércio.

Por estas razões, a Baixa constitui uma obra-prima do génio da

criatividade humana que se traduz hoje num sítio histórico-monumental único

para a História da Humanidade. Ela é o resultado do esforço de um povo e de

161 FRANÇA José-Augusto, Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Lisboa, Livros Horizonte, 1965.

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uma vontade política que soube executar o plano de uma cidade moderna,

exemplar nas suas soluções metodológicas e tecnológicas, revolucionárias

para a época, e que, com o tempo, se enriqueceu com as melhores

contribuições que essa nação, pelo seu universalismo, lhe pôde acrescentar.

A Baixa é a concretização da vocação universalista de Lisboa no

contexto do seu tempo e constitui simultaneamente um monumento do

Iluminismo Europeu e um monumento visionário da cidade progressista do

séc. XIX.

Comparação com outros sítios similares (i):

Enquanto que em outras cidades, como S. Petersburgo e Washington,

onde as regras de uma “cidade moderna” foram importadas, na Baixa

Pombalina esta primeira cidade do Ocidente, construída com regras coerentes

e integradas pela primeira vez de forma original e revolucionária, foi realizada

por vontade política e com os recursos de uma Escola Urbanística própria.

Fig.13 - Palácio de Verão em S. Petesburgo, desenhado para Pedro o Grande.

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Fig. 14 – Vista actual de Washington D.C.

A Candidatura da Baixa Pombalina, no limiar da comemoração dos 250

anos do seu planeamento, pela seu valor de originalidade impõe-se sem

nenhuma dúvida ou menos direito do que S. Petesburgo (cujo centro já foi

classificado pelo Comité Mundial do Património) ou do que a provável

candidatura de Washington.

Fig. 15 – O Marquês de Pombal e o novo plano de Lisboa depois do Terramoto (Louis Michel Van

Loo, óleo sobre tela, 1766, Câmara Municipal de Oeiras).

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2. Segundo critério (ii) “O bem proposto deve testemunhar uma considerável troca de influências

durante um dado período ou numa área cultural determinada, no domínio do

desenvolvimento da Arquitectura ou da Tecnologia, das artes monumentais,

da planificação das cidades ou da criação de paisagens”.

A Baixa constitui um marco na História da planificação das cidades. Um

marco porque, antes de mais, foram inicialmente equacionadas cinco

possibilidades de intervenção, entre as quais a reconstrução à l’identique. De

forma deliberada, optou-se pela solução de maior complexidade de realização

que implicava demolir a cidade baixa e, sobre os entulhos, fundar uma nova

cidade, melhorada nas suas condições de drenagem pluvial e das águas

fluviais. Esta opção implicou a criação de uma zona onde não era permitida a

iniciativa avulsa e onde as diversas especialidades seriam subordinadas à

visão sistemática do plano.

Fig. 16 - Planta da cidade anterior ao terramoto, delineada por João Nunes Tinoco, 1650

(Biblioteca Nacional de Lisboa)

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Por outro lado, o planeamento de uma nova cidade sobre as ruínas de

uma existente com a imposição de uma ordem arquitectónica e a

regulamentação do processo de gestão para assegurar a efectiva

concretização da obra, constituiu um facto inédito para a época.

A concretização de um plano urbanístico tão vasto foi levada a cabo

com uma capacidade técnica e administrativa incomparáveis. Um

planeamento urbanístico integrado que combinou a contribuição

multidisciplinar, através das seguintes medidas e condicionantes:

- demolição total da maioria dos edifícios que tinham resistido ao

terramoto;

- reparcelamento perequacionado da propriedade imobiliária, de forma

a libertar o desenho urbano do condicionamento cadastral;

- obrigação da observância do plano de reconstrução por parte dos

particulares;

- redução do risco de incêndio com um regulamento que obrigou a

altear as paredes das empenas para impedir a comunicação entre os

telhados;

- garantia do direito de propriedade privada e de viabilidade financeira

do empreendimento;

- construção de edifícios públicos e de serviços para revitalização

social e económica do centro da cidade;

- estabelecimento de programa detalhado de recolha de lixos, rede de

esgotos e condução de água potável a fontanários.

- redução do risco sísmico com o alargamento das ruas e diminuição

da altura dos edifícios;

- definição de projectos-tipo capazes de serem interpretados por

gramáticas arquitectónicas diferentes;

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- exigência de rigor formal com regulamento detalhado de altura de

pés-direitos, sistema construtivo geral, desenho de vãos e

guarnições, integração de estruturas de madeira e alvenaria;

- incorporação da localização e da toponímia de actividades

comerciais pré-existentes anterior ao terramoto (sapateiros,

correeiros, ourives, prateiros, douradores, etc);

- concentração das actividades comerciais no rés-do-chão e

residências nos andares superiores;

- reserva da principal praça sobre o rio (do Comércio) para centrar a

Administração do Reino.

Comparação com outros sítios similares (ii):

O plano da Baixa reflecte as teorias mais eruditas do seu tempo

relativamente ao planeamento urbano, mas é no seu projecto e concretização

que se revela totalmente inovador e original.

Um plano informado e moderno em relação aos princípios urbano-

arquitectónicos vigentes nessa época, que se apoiavam essencialmente na

estruturação do novo desenho sobre uma base constituída pelos pontos mais

significativos da cidade já existente. Dentro desses princípios, a Norte da zona

a reconstruir, foi planeada a construção do Passeio Público, de acordo com

uma tipologia urbana que se vinha afirmando desde finais do séc. XVII.

(Peyrou-Montpellier).

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Fig. 17 – Projecto de uma rua com inclinação (Cartulário Pombalino).

Mas o plano da Baixa foi bem mais além dos princípios vigentes na

época. Ele é sobretudo percursor da atenção teórica e prática aplicada ao

planeamento urbanístico que, só no final do século XVIII e ao longo do século

XIX, será desenvolvido no contexto dos movimentos higienistas. Desta

corrente nascerão os planos de L’Enfant em Washigton (1791), a renovação

de Paris por Haussmann e a expansão de Barcelona de Cerdà em 1859.

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Fig.18 - Trabalhos da operação de Haussmann na zona da Ópera (Pierre Yves-Bouillac).

Este planeamento dá pois uma atenção às soluções a adoptar,

avançadas em relação à Europa de então, que se concentravam na

concepção de grandes parques fora da cidade sobre paisagens rústicas.

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3. Terceiro critério (iii) “O bem a classificar deve fornecer um testemunho único ou pelo menos

excepcional sobre uma tradição cultural ou uma civilização viva ou

desaparecida”.

A Baixa Pombalina constitui um elemento emblemático da cultura

portuguesa e a imagem da sua projecção internacional.

Desde a sua criação, a Baixa Pombalina foi palco de uma

importantíssima movimentação e intercâmbio dos diversos movimentos

ideológicos, políticos e literários. Como exemplos importantes, podem citar-se

a discussão de ideias de liberalismo na transição entre os séculos XVIII e XIX

e a celebração do regime liberal com a inauguração da estátua de D. Pedro

IV, primeiro Imperador do Brasil, a que o empedrado de Mar Largo alude.

Fig. 19 – Inauguração da estátua de D. Pedro IV no Rossio

(daguerreótipo estereoscópico, 1870).

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No que se refere ao Chiado, a sua estrutura urbana e cultural foi feita

em torno do Teatro da Ópera de S. Carlos e das residências dos aristocratas

e burgueses opulentos. Nessa zona foram instalados, durante o século XIX e

até ao período modernista do Estado Novo, os teatros, hotéis, clubes,

grémios, livrarias e cafés literários e de tertúlia, onde as ideias e as novas

modas circularam e se discutiram.

Simultaneamente, a Baixa integra conceitos de salvaguarda do

património que hoje são universalmente aceites mas que nesse período

histórico nunca tinham sido tomados em conta a uma tão grande escala.

O plano pombalino teve a sensibilidade de procurar integrar a memória,

as presenças e as ocupações que coexistiam nesta zona da cidade, antes do

terramoto. Constitui uma iniciativa de grande erudição e visão histórica, num

período em que estas preocupações tinham sido apenas afloradas na primeira

lei de salvaguarda do património promulgada na Europa por D. João V, mas

que estavam muito longe de ser consideradas num plano de reconstrução de

uma cidade.

Esta conservação e continuidade da memória da cidade foi obtida

através de métodos vários:

• contenção da malha do novo plano nos limites dos antigos bairros da

Mouraria, Alfama, Castelo e Graça, onde quase nada foi demolido;

• demolição e reconstrução da zona do Chiado para levar a nova malha

da Baixa até aos limites da malha regular do Bairro Alto planeada e

executada no séc. XVI;

• interrupção da malha de ruas orientadas no sentido Norte-Sul de forma

a integrar fisicamente a memória de eixos importantes antes do

terramoto, como a Rua Nova d’el Rei ou a Rua Nova;

• recontextualização de portais e outros elementos arquitectónicos de

antigas igrejas nas fachadas ou nos interiores das novas igrejas;

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• modelação da malha de forma a integrar monumentos e importantes

edifícios que tinham sobrevivido à catástrofe, como o Convento do

Corpus Christi.

Por outro lado, A Baixa constitui a conjugação perfeita entre

arquitectura e urbanismo, como fruto do planeamento de uma cidade que

desejava também ser planeamento de uma sociedade.

Esta correspondência constitui uma ambição própria do Iluminismo e do

Absolutismo esclarecido. A avaliação e previsão das diversas actividades

económicas e da sua implantação geográfica de forma regrada e

regimentada, corresponderam mais do que a um projecto urbanístico, também

a um projecto social único no seu tempo. A nova regularidade urbana

implicava uma disciplina renovada e um novo civismo.

Comparação com outros sítios similares (iii):

A Baixa constitui um testemunho único no Mundo porque é o exemplo

mais emblemático da capacidade de intercâmbio multi-étnico e multicultural do

Povo Português, que durante séculos manteve um empório marítimo e

comercial que se estendeu por todo o Globo. Muitos dos sítios históricos já

classificados pela UNESCO, têm-no sido porque exemplificam testemunhos

únicos de reds de cidades que pertenceram a sistemas comerciais que

marcaram de forma decisiva o intercâmbio e a formação de culturas, nações,

gostos, modas e novas descobertas científicas. É o caso das cidades da

denominada Liga Hanseática, como Tallinn (Estónia), Riga (Letónia), Torun

(Polónia), Bryggen (Noruega) e Visby (Suécia).

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A Baixa Pombalina foi a sede de um sistema baseado numa rede de

cidades e possessões espalhadas desde a América à África, Ásia e Oceânia.

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Um sistema que permitiu fornecer à Cultura Ocidental produtos alimentares

como as especiarias da Índia e do Golfo Pérsico destinadas a serem

distribuídas por toda a Europa, implicando a decadência de Veneza (também

classificada Património da Humanidade); recursos minerais como o ouro de

África ou o ouro e diamantes do Brasil (a partir de 1700) que invadiram

através de Antuérpia e Amsterdão todo o Mundo do século XVIII, alterando

profundamente para sempre gostos, hábitos, culturas e mercados financeiros

internacionais.

Fig. 20 – Modo de minerar e retirar os diamantes,

(anónimo, séc. XVIII, Arquivo Histórico Ultramarino).

Não existe nenhum sítio histórico classificado como Património da

Humanidade que tenha conseguido, desde uma época tão remota:

• reconstruir um sítio destruído em grande parte por um grande

cataclismo;

• dar continuidade às mais diversas actividades humanas que

anteriormente o constituíam;

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• integrar preocupações de conservação do património numa acção

urbanística tão vasta.

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Mais recentemente, a reconstrução, por exemplo, da cidade de

Varsóvia do pós-guerra (classificada Património da Humanidade) não

conseguiu tão eficazmente restabelecer a continuidade das actividades

comerciais e do carácter intrínseco existente anteriormente, apesar das

operações de reconstrução à “l’identique” de 85 % da cidade.

4. Quarto Critério (iv) “O bem a classificar deve oferecer um exemplo eminente de um tipo de

construção ou de conjunto arquitectónico ou tecnológico ou de paisagem

ilustrando um ou vários períodos significativos da história humana”.

iv-a) A excepcionalidade da Baixa Pombalina como exemplo eminente de

conjunto arquitectónico que ilustra um período significativo da história humana

Este critério está patente a três níveis: o plano, o método e a acção. Estes três

níveis podem ser analisados segundo os seguintes tópicos:

• A Baixa como um documento único da afirmação e da maturidade

da Escola Urbanística Portuguesa caracterizada por uma

universalidade de experiências e mútuas influências, obtidas com

a expansão marítima;

• A Baixa como imagem esclarecida de uma metrópole-capital que

vinha a ser preparada muito antes do terramoto, segundo

informação recolhida através das mais importantes experiências

urbanísticas europeias precedentes;

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• A Baixa apoiada numa metodologia de execução baseada num

sistema de pré-fabricação excepcional que se traduziu na

exportação do modelo para outras cidades.

Segundo o primeiro tópico, a Baixa surge no contexto evolutivo do

Urbanismo Português. Este plano excepcional e inovador corresponde à

afirmação da maturidade da Escola Portuguesa de Urbanismo e da

Engenharia Militar, entendida à escala de um “império” universalista e

espalhado por todo o mundo.

A Baixa constituiu o ponto de chegada de um processo de

aperfeiçoamento testado e amadurecido no Norte de África, na Índia e

essencialmente no Brasil, através do desenho e construção de “Cidades-

Vilas”, iniciadas a partir sobretudo da década de 50 do século XVIII.

Fig. 21 - Carta topográfica do Rio de Janeiro

(André Vaz Figueira, 1750, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)

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Simultaneamente, o plano pombalino concretizou a imagem urbanística,

plástica e monumental de uma capital já preconizada por Francisco de

Holanda, quando Lisboa passou a ter uma importância mundial ao nível do

comércio global.

Esta ideia de Capital Ocidental Moderna Cosmopolita continuou a ser

maturada por vontade de D. João V. Lisboa era desejada como uma nova

Roma e para esse fim foi levado a cabo um levantamento cartográfico

exaustivo do existente e do projectado para que a futura zona ocidental da

cidade fosse abastecida pelo Aqueduto das Águas Livres, segundo um plano

de Manuel da Maia de 1728. Nesta zona construíra-se entretanto outros

importantes núcleos como o Palácio das Necessidades.

Para reforçar o valor da Baixa como exemplo eminente de conjunto

arquitectónico, é importante referir a excepcionalidade da normalização da

métrica e dos sistemas construtivos e de composição. Desde as cantarias, às

portas e caixilharias, passando pelas telhas e os azulejos tudo associado a

um originalíssimo processo de pré-fabricação.

Comparação com outros sítios similares (iv-a):

30

O valor excepcional da Escola Urbanística Portuguesa de que a Baixa

constitui o exemplo emblemático, tem vindo a ser usado como base principal

de justificação da classificação como Património da Humanidade de muitos

centros históricos espalhados pelo Mundo, à semelhança das escolas

espanhola, inglesa ou holandesa. São várias as cidades da Ibero-América que

foram classificadas porque também são fruto da escola urbanística espanhola

dos séculos XVI-XVIII, como o Porto de Colômbia, Santa Cruz de Mompox, S.

Domingo, Quito, Cuenca, San Juan de Porto Rico, Cidade do México, Oaxaca,

Puebla, Guanajato, Morelia, Campeche ou Lima. No caso da herança

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britânica, Lunenburg no Canadá, da herança holandesa, Willemstad e

Curaçao.

O valor da Escola Urbanística Portuguesa tem sido usado na

classificação de centros históricos situados não apenas em países lusófonos

como o Brasil (Salvador da Baía, São Luís, Diamantina, Góias) mas também

noutros onde a língua portuguesa não é a oficial. É o caso da cidade de Galle

no SriLanka (fundada pelos portugueses) no séc. XVI, ou a Colónia do

Sacramento no Uruguai fundada também pelos portugueses em 1680, nas

margens do Rio da Prata.

Fig. 22 - Vista de Galle no Sri Lanka, já classificada Património da Humanidade (1988),

pelo facto de também reflectir a herança urbanística portuguesa (foto UNESCO).

Um valor que se traduz na adaptação das regras europeias aos

materiais e condições climáticas locais, integrando e interagindo com as

técnicas, culturas e tradições locais.

A reconstrução após o terramoto serviu para pôr em prática um plano e

uma estratégia moldados nesta escola. Este planeamento integrou a

informação que ia chegando ao reino de duas importantes operações

urbanísticas europeias precedentes; as de Turim (1673 e 1712-1714) através

dos contactos com Filipe Juvarra; e as de Londres, possivelmente pela

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intensificação das relações com a Grã-Bretanha através da D. Catarina de

Bragança, rainha britânica à época do grande incêndio de 1666.

A Baixa constitui por isso uma síntese consciente, original e

paradigmática no quadro dos modelos urbanísticos da segunda metade do

século XVII, onde deve ser colocada em evidência a visão da articulação do

novo com o antigo e com a topografia.

Para além de poder apresentar alguns aspectos semelhantes a Reims,

Nancy, Lyon (classificada Património Mundial) e Bordéus, são importantes as

semelhanças com o plano de Edimburgo (também classificado Património

Mundial) aprovado em 1766, dez anos depois do da Baixa que adoptou com a

mesma toponímia das ruas principais da capital portuguesa (as ruas do Rei,

da Rainha, do Príncipe e da Princesa).

Fig. 23 – Vista actual da Princess Street em Edimburgo, cujo plano e toponímia

foram aprovados em 1766, dez anos após o Plano da Baixa de 1756.

O processo de pré-fabricação e o revolucionário nível de

industrialização atingido, permitiu produzir no próprio estaleiro da Baixa e

exportar rapidamente por via marítima a “nova cidade” de Vila Real de S.

António, na então longínqua província dos Algarves, 150 milhas a Sul de

Lisboa.

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A originalidade e a rapidez de execução na Baixa Pombalina de um

plano tridimensional particularmente eficaz nos sistemas tipológicos

estandardizados, é inovador e inédito ao contrário de experiências

semelhantes como a da Place Vendôme ou a da Rue Royal em Paris, que

durante o reinado de Luís XV, não dispunham de um modelo tridimensional

para a sua realização.

iv-b) A excepcionalidade da Baixa Pombalina como exemplo eminente de

conjunto tecnológico que ilustra um período significativo da história humana

A Baixa Pombalina constitui um bem universal excepcional por se tratar

não só de um exemplo eminente de tipologias de construção, mas também

um conjunto arquitectónico-tecnológico, onde as soluções técnicas se

combinaram de forma complexa e original. Reconhecer este valor é

reconhecer a génese do planeamento deste sítio que se propõe como

candidato a Património da Humanidade.

A solução adoptada para a reconstrução foi a que tecnicamente

apresentava maiores dificuldades, do ponto de vista de infra-estruturas.

Na verdade, a zona tinha sido duramente atingida pelo maremoto. Do

ponto de vista geológico, apresentava más condições para a execução de

novas fundações pelo facto de se situar na zona lodosa e aluvionar da antiga

confluência de duas ribeiras. Para a melhoria dessas condições, foi

fundamental a utilização de estacas de comprimentos entre 1 e 6 metros, que

mais do que transmitirem as cargas dos novos edifícios ao solo apto à

fundação situado a profundidades consideráveis, terão servido à compactação

dos solos superficiais de aterro e de lodo aumentando assim a sua

capacidade resistente e portante.

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Para resolver de forma original o problema das infra-estruturas, a

solução adoptada para as fundações foi completada por uma rede infra-

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estruturada de ruas e esgotos, em que foi prevista a condução e esgotamento

das águas residuais dos edifícios e a condução subterrânea do escoamento

das duas bacias hidrográficas constituídas pelos dois vales situados a Norte

da zona reconstruída.

Este primeiro conjunto integrado de soluções tecnológicas para as infra-

estruturas usado pela primeira vez de forma sistemática numa área urbana

tão considerável, foi tecnologicamente inovador. Tal como o foi, pela

coordenação dimensional baseada no palmo como medida padrão, usada a

todos os níveis do projecto e a todas as escalas do planeamento volumétrico:

• a uma grande escala, em planta, pela introdução do conceito de

quarteirão que funcionava como um único edifício, agrupando vários

lotes, cuja dimensão se baseava no palmo;

• a uma escala média, em elevação, pela imposição de uma

regularidade das fachadas, em comprimento e altura, que

implicavam uma distribuição homogénea e regular de resistência

mecânica;

• a uma escala média, em planta, pela organização interior dos

edifícios determinada pela subdivisão da profundidade dos lotes por

paredes de frontal paralelas às fachadas. Esta normalização

determinava o número de divisões interiores dos edifícios, entre

malhas ortogonais de paredes de frontal;

• a uma escala mais reduzida, na normalização das dimensões dos

elementos em cantaria, da distância entre prumos e travessanhos,

dos elementos estruturais de madeira, ou mesmo das dimensões

dos acabamentos como as caixilharias ou os azulejos.

Esta coordenação dimensional traduziu-se num processo de

industrialização dos materiais de construção nacionais que foi único na

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História. Um processo que se caracterizou pela fabricação em série de todos

os elementos construtivos necessários a uma operação urbanística de tão

importantes dimensões.

Tecnologicamente inovador foi também o uso racional integrado e

sistemático de soluções construtivas que se sabia poderem reduzir a

vulnerabilidade sísmica dos edifícios. A solução da “gaiola pombalina” que

combinava a flexibilidade da madeira e a rigidez das alvenarias, baseada num

reticulado de frontais compostos de prumos travessanhos e escoras com os

seus interstícios preenchidos por alvenaria de pedra ou tijolo, não é em si

inovadora.

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Fig. 24 – Detalhes do sistema da gaiola pombalina (João Appleton, 2003).

O que foi inovador na gaiola pombalina foi a sistematização do seu uso

com aperfeiçoamentos e regras de aplicação destinados a aumentar a sua

eficiência. Estes aperfeiçoamentos consistiram:

• na imposição de regras de simetria, para redistribuir uniformemente

esforços provocados por acções sísmicas;

• no detalhe da execução das interligações entre:

o frontais ortogonais;

o frontais ortogonais e as paredes de alvenaria, com

interposição de gaiolas de madeira e elementos metálicos;

o paredes e pavimentos, através de frechais e contra-frechais.

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Comparação com outros processos tecnológicos similares (iv-b):

A solução da “gaiola pombalina”, que combina uma estrutura flexível de

madeira com um enchimento rígido de alvenaria, foi desde a Antiguidade,

conhecida pelos Romanos como opus craticium. Contemporaneamente à

reconstrução pombalina, eram aplicadas em Espanha estruturas similares

denominadas “entramados”, em França as construções em “collombage” e, na

Península Itálica, a construção tipo “barracata”.

O que foi inovador na gaiola pombalina foi a sistematização do seu uso

com aperfeiçoamentos e regras de aplicação destinados a aumentar a sua

eficiência.

Esta inovação e característica tecnológica é única no Mundo na sua

aplicação estandardizada e na sua difusão como modelo construtivo em

Portugal e em todos os territórios que estavam então sob hegemonia

portuguesa, do Brasil à África e à Índia.

iv-c) Um exemplo eminente de conjunto arquitectónico, ilustrando vários

períodos significativos da história humana.

O projecto inicial para a Baixa Pombalina, de 1756 e a actuação da

Intendência Geral das Obras Públicas, responsável pela concretização do

Real Decreto de 1769, foram sofrendo modificações ao longo dos cerca de

cem anos da concretização do plano.

A Baixa reflecte por isso o dinamismo e a vontade de moldar a cidade

fora das normas estritas, unificadas e centralizadas da reconstrução. Sem lhe

construir alternativa, esse dinamismo introduziu o pulsar de uma sociedade

que, incipientemente, se preparava para proclamar os direitos de cada um.

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Estes vários períodos significativos da história humana foram

essencialmente três: o período de gestão pombalina, até 1777; o Iluminismo

Mariano e o período do Romantismo.

Logo desde o início da concretização do plano, a Baixa sofreu

alterações que permitiram enriquecer o “estilo frio” do projecto inicial, com

objectivos duplamente estilísticos e económicos. Durante este período, e até

ao afastamento do Marquês de Pombal do poder, a edificação estava ainda

muito longe de concluída, á excepção da Rua Augusta.

No que se refere às influências estilísticas, neste primeiro período

assistiu-se a um compromisso entre a tendência predominante classicista e

marcas barrocas e rococó.

Fig. 25 – A Praça do Rossio com o Teatro Nacional D. Maria II, no início do séc. XX.

Por seu lado, o factor económico implicou várias alterações, entre as

quais a substituição do 4º andar das mansardas por um andar adicional com

“varanda geral”, de forma a rentabilizar futuros alugueres.

No período do Iluminismo Mariano assiste-se às primeiras realizações

de prospectos pombalinos em declive na zona do Chiado, reservada à

edificação de casas nobres e palácios, fora da malha quadriculada da zona

plana da Baixa. Nestes prospectos começa a evidenciar-se, uma “segunda

arquitectura pombalina”, caracterizada por uma tratamento especial de pisos

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térreos, das lojas e sobrelojas com uma emolduração erudita e recursos

decorativos, de influências ainda barrocas e outras já neo-clássicas .

Esta diferenciação e diversificação dos prospectos singulares através

de elementos decorativos que era simultaneamente reabsorvida pela

regularidade global das fachadas, continuou a ser levada a cabo até ao final

do século XVIII, com o acentuar do eclectismo.

Ao período mariano, caracterizado por uma continuidade do gosto ante-

terramoto e por uma estética neo-clássica italianizante, seguiu-se um período

essencialmente caracterizado pelas influências românticas. Influenciado

economicamente pela independência do Brasil, pela revolução de 1820 e pela

abolição das Ordens Religiosas em 1834, este período é caracterizado pela

remodelação de interiores e adaptação a novos usos, pela mutiplicação de

marcas eclécticas que vão sendo dispersas pelos prospectos, com novos

elementos decorativos, revestimentos de azulejos e alteração dos pisos

térreos para as vitrinas de novos comércios.

Este período dos cem anos de concretização do projecto, termina com a

efectivação do remate das duas praças principais que delimitam a Baixa

Pombalina (Rossio e Praça do Comércio).

A Norte, este remate foi conseguido com o portão de acesso ao novo

Passeio Público e, sobretudo, com a construção do novo Teatro D. Maria II

em estilo neo-clássico romântico que emoldurou a Praça do Rossio e passou

a constituir o principal centro de simetria. Posteriormente, esta praça foi

enriquecida com a estátua central D. Pedro IV em 1870 e com o seu

calcetamento em “mar largo”.

A Sul, o remate final foi concluído, também nesse período, com a

inauguração do arco triunfal da Rua Augusta, cerca de 1870, dando unidade

às alas oriental e ocidental da grande Praça do Comércio, aberta sobre o rio

Tejo, que também no final do século XIX, acabou por ser calcetada.

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Fig. 26 –. Na página anterior, o limite Norte da Baixa Pombalina: o passeio público em 1851 e o

portão do passeio público c. 1883. Nesta página, o limite Sul da Baixa em que a Praça do Comércio é

apresentada com um dos arcos projectados. Em baixo, a Rua Augusta no início do séc. XIX sem o

arco triunfal terminado.

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5. Quinto critério (v) “O bem a classificar deve constituir um exemplo eminente de fixação humana

ou de ocupação do território tradicional representativo de uma cultura (ou de

várias culturas) sobretudo quando o mesmo se torna vulnerável sob o efeito

de mutações irreversíveis”.

A Baixa Pombalina constitui um dos principais elementos emblemáticos

da cultura portuguesa e um núcleo irradiante fundamental para a sua

projecção internacional, apesar de se situar numa zona vulnerável

(sísmicamente) sob o efeito de mutações irreversíveis.

A Baixa é a imagem de um valor excepcional de persistência e de

permanência que está implícito na evolução do sítio antes e depois do

terramoto. Estes dois valores foram responsáveis pela continuidade na fixação

da ocupação humana apesar de ter sido sujeita a um tão grande cataclismo.

Uma fixação baseada sobretudo na actividade comercial e lugar simbólico de

governo da nação.

A zona da Baixa, no século XV, foi o lugar escolhido para a construção

do Palácio Real, como sinal da opulência da época de D. Manuel I. No final do

século XVI, esse palácio foi enriquecido e embelezado com o torreão

delineado por Filippo Terzi, destinado a albergar Filipe II. Durante esses

mesmos períodos, a zona da Baixa foi o centro mercantil de uma nação geo-

estratégica e geo-referenciada, onde as riquezas do comércio internacional

eram descarregadas e trocadas para eventualmente serem reembarcadas e

distribuídas pela Europa.

42

A reconstrução, depois do terramoto, necessitou de 340 decretos e

outros instrumentos legislativos, publicados entre 1755 e 1838, para repor e

melhorar esta mesma ocupação que tradicionalmente existia na zona

destruída.

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Com o objectivo de restabelecer a função de sede de poder, o torreão

filipino constituiu fonte de inspiração para o desenho da nova Praça do

Comércio como “arquétipo ordenador da monumentalidade da Baixa

Pombalina”. A Praça começou por recuperar primeiro a função de espaço

cerimonial e logo a seguir a de centro de poder, com a construção da estátua

equestre de D. José I, com a instalação dos serviços centrais de governação e

da Bolsa de Valores.

A Norte, a Praça do Rossio albergou o novo Palácio da Inquisição

situado simetricamente ao Arco da Bandeira, sinal da classe de negócios e do

poder burguês.

Uma ocupação territorial pluri-social, para a qual existiu uma

coordenação inédita de interesses públicos e privados, dominada pela vida

social e cultural. Uma ocupação que permitiu um novo tipo de sensibilidade e

vontade que levou à transformação do bem comum e público, em

representação espacial e dimensão estética.

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O restabelecimento da função comercial constituiu um processo mais

complexo e baseou-se num dos decretos da primeira hora após o terramoto, o

de Novembro de 1760. Nele foi definida uma “lógica hierárquica das

actividades comerciais, criando um monopólio para a Baixa”. As antigas

actividades comerciais e profissionais existentes antes do terramoto foram

redistribuídas por ruas com toponímias idênticas às outrora existentes, mas

segundo um novo ordenamento produtivo, esclarecido e moderno. A cada

uma das seguintes actividades foi atribuída a totalidade ou uma parte bem

determinada de uma rua: capelistas, mercadores de loiça da Índia, de chá, de

fazendas, mercadores de lã e seda, ourives de ouro, ourives da prata,

relojoeiros, livreiros, mercadores de fancaria, de quinquilharia, douradores,

lorneiros, latoeiros, bate-folhas, tendeiros, taberneiros, correeiros, seleiros,

sapateiros, algibebes, retroseiros, sirgueiros, chapeleiros e outros diversos

mesteres do povo.

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Fig. 27 – Na página anterior, detalhe da malha pombalina com a denominação

das várias actividades comerciais (Filipe Folque, 1856) e a planta

com as ruas dedicadas a cada tipo de comércio antes do terramoto.

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A Baixa constitui com toda a certeza um exemplo eminente de fixação

humana e de uma cultura, exposta a um elevado grau de vulnerabilidade

como o provocado pela horrível catástrofe do terramoto. Uma catástrofe que é

ainda hoje uma referência como um dos mais destruidores terramotos da

História, que arrasou o centro de poder e de comércio de uma nação e

provocou uma percentagem elevadíssima de mortos.

Comparação com outros sítios similares (v):

Ao contrário de outras reconstruções de cidades como Pompeia,

Londres, Varsóvia, ou Frankfurt, a de Lisboa, na Baixa Pombalina, foi a única

que deu lugar a uma reinvenção da sua própria alma.

O detalhe e a elevadíssima precisão no plano de reconstituição do

tecido económico e do tecido administrativo do coração da cidade, totalmente

destruído por uma catástrofe de tão grandes proporções, é inédito e

incomparável. Este detalhe funcionou como exigência de qualidade para uma

fixação humana e uma ocupação de um território sem comparação no Mundo,

no período histórico em que ela ocorreu.

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6. Sexto Critério (vi) “O bem a classificar deve estar directa ou materialmente associado a

acontecimentos ou a tradições vivas, a ideias, a crenças, ou a obras artísticas

e literárias com um significado universal excepcional”.

“A Baixa existiu sempre em milhares de situações e testemunhos de

cultura”, numa cidade considerada por João Brandão, um primeiros

olissipógrafos do século XVI, como a “frol de todas as flores”.

A Baixa, era já antes do terramoto, tema de descrição, de inspiração

literária e testemunho da civilização portuguesa.

Na Relação em que se trata e faz uma breve descrição dos arredores

mais chegados à Cidade de Lisboa, publicada em 1625, são descritos

edifícios e locais emblemáticos da Baixa directamente conotados com as

riquezas e produtos vindos do Oriente, como os armazéns da Casa da Índia,

ou fulcrais para a vida da cidade, como o Mercado da Ribeira.

Mais tarde, a tragédia do terramoto inspirou poetas nacionais e

estrangeiros, da Inglaterra à Hungria. Voltaire escreveu o Poème sur le

désastre de Lisbonne algumas semanas depois do terramoto e, alguns anos

depois, em 1759, uma importante parte da sua obra “Candide” é ambientada

em Lisboa, no ano do terramoto, com a descrição de um auto da fé, a meio da

grande aventura do protagonista Pangloss.

A catástrofe de Lisboa marcou profundamente a consciência europeia e

estabeleceu a importância da reconstrução como uma referência cultural e

civilizacional. A Baixa passou a ser considerada como um monumento à

razão, como contraponto às utopias urbanas precedentes e posteriores. Por

seu lado, o episódio da tragédia do terramoto foi tema recorrente da ficção

portuguesa, desde o Abade de Jazente até Agustina Bessa-Luís e Hélia

Correia.

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Para além da inspiração literária, não deve ser esquecido como o

terramoto de 1755 serviu para variadíssimas discussões durante a época das

Luzes. Filosóficas através de contributos como os de Voltaire, Rousseau e

Kant e científicas, com, por exemplo, os estudos do astrónomo Tobias Mayer

ou dos matemáticos Johann Friederich Jacobi e Johann Gottlob Krüger.

Foi também tema de representação pictórica e iconográfica do flagelo

sísmico, na pior e mais destruidora das suas acepções, que percorreu o

Mundo e constituiu imagem de referência do primeiro “desastre moderno”.

Num tempo cultural em que a atracção pelo Horror concretiza a emergência

do Romantismo.

A partir do terramoto, a Baixa passou paralelamente a ser o centro de

inspiração literária da cidade, começando com o texto de Amador Patrício de

Lisboa, de 1758, sobre as medidas pombalinas para a reconstrução,

passando pela inauguração da estátua de D. José no centro da Praça do

Comércio, e por outros episódios, galanterias, devoções, mundanismos,

calamidades, casamentos principescos, festas e até crimes e suplícios.

No século XIX, inspirou escritores românticos como Guilherme de

Azevedo, Gomes Leal e Cesário Verde. O Martinho do Rossio, foi local de

reunião de poetas como Nicolau Tolentino e Bocage.

Na segunda metade desse século, o escritor Eça de Queirós usou a

Baixa e principalmente o Chiado, com o Grémio Literário, a Casa Havaneza e

o Hotel Bragança, como cenário dos seus romances onde a grande burguesia

e o poder jogavam os papéis principais.

No século XX, a grande produção literária lisboeta, nas artes, nas letras

e no jornalismo, ficou intimamente ligada aos locais do século XIX e a outros

novos, como a Brasileira do Chiado, a Livraria Bertrand, o Martinho da Arcada

ou o Café do Gelo, onde se reuniram Aquilino Ribeiro, Fernando Pessoa,

Alexandre O’Neil ou David Mourão-Ferreira.

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Fig. 28 - Fernando Pessoa na Baixa.

A Baixa foi descrita sucessivamente como espaço de tédio, de

interioridade, de conspiração, de combate proletário, de memória pitoresca, de

surrealismo e pós-surrealismo, pós-modernismo e minimalismo. Sempre, e

hoje em dia, a Baixa continua a inspirar grandes vultos literários como José

Saramago, António Lobo Antunes ou Cardoso Pires.

Outro aspecto fundamental da representatividade da Baixa é a de ter

sido o palco de importantes acontecimentos históricos e políticos. Constituiu o

palco de muitos autos da fé, de embarques, de desembarques, de recepções

de monarcas e dignatários, de manifestações, de um regicídio, de cerimónias

militares, da proclamação da República, de funerais, de revoluções e de

tantos outros momentos da sala de visitas e da encenação política de toda

uma nação.

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De forma a fundamentar esta ideia, deve ser recordado, que antes do

terramoto o Terreiro do Paço chegou a funcionar como sede do poder do

Reino Unido Ibérico durante os dois anos que durou a estadia em Lisboa de

Filipe II e os dez meses de Filipe III. Depois da Restauração, a Baixa viu partir

a Infanta D. Catarina de Bragança para se tornar Rainha de Inglaterra e levar

como dote de casamento Bombaim e Tanger; viu depois do terramoto o

prodígio tecnológico do transporte, elevação e colocação da pesadíssima

estátua de bronze de D. José I, que constituiu para Portugal uma empresa da

engenharia nacional equivalente à instalação do obelisco vaticano na Praça

de S. Pedro.

Pode ainda recordar-se, as paradas das tropas francesas no Rossio,

Fig. 29 - Parada das tropas napoleónicas no Rossio.

o embarque do General Junot do Cais do Sodré, o desembarque no

Terreiro do Paço de D. João VI regressado do Brasil, a inauguração da

estátua de D. Pedro IV no Rossio ou a inauguração do mercado da Figueira,

importante modernidade permitida pela arquitectura do ferro.

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Fig. 30 - Inauguração do mercado da Praça da Figueira com a presença

do Rei D. Luís I e da Rainha D. Maria Pia (meados do séc. XIX).

Ou ainda o funeral de D. Luís I e o casamento de D. Carlos I na Igreja

de S. Domingos. O ciclo de desembarques e recepções no Cais das Colunas

do Kaiser Guilherme da Alemanha, do rei Eduardo VII de Inglaterra, de Afonso

XIII de Espanha, da Rainha Alexandra de Inglaterra, do Presidente Loubet da

França. Os bota-abaixo com presença real na Doca do Arsenal, a partida de

corpos expedicionários para as colónias, o regicídio de D. Carlos e D. Luís

Filipe, o seu funeral, a proclamação da República da varanda dos Paços do

Concelho, a chegada do General Mendes Cabeçadas à cabeça do movimento

revolucionário de 28 de Maio de 1926 que abriu caminho ao regime de

Salazar, as comemorações anuais dessa mesma revolução, as cerimónias do

dia de Portugal e as condecorações aos militares da Guerra Colonial no

Terreiro do Paço, a recepção de aviadores portugueses depois dos seus raids

prodigiosos pelo Mundo, o desembarque da rainha Isabel II de Inglaterra, a

revolução do 25 de Abril, as manifestações pela liberdade, concertos,

instalações artísticas e tantas outras manifestações públicas.

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Fig. 31 – Proclamação da Républica em 1910 da varanda dos Paços do Concelho.

Fig. 32 – Comemoração da Revolução do 28 de Maio em 1939.

A lista é quase infindável mas demonstra bem a importância da Baixa

Pombalina como palco de acontecimentos históricos fundamentais para a

cultura e a história de Portugal.

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Comparação com outros sítios similares (vi):

A Baixa foi descrita e serviu de inspiração literária a muitíssimos

escritores estrangeiros que a compararam com as suas cidades de origem,

louvando-a, admirando-a e “lendo a imagem” da nação portuguesa espelhada

na vida e actividade da Baixa e Chiado Pombalinos. É o caso de autores

como os ingleses William Costigan (1761-1837) e Lord Byron (1788-1824), a

francesa Laura Junot (1784-1838), o sueco Carl Israel Ruders (1761-1837) ou

o espanhol Miguel de Unamuno (1864-1936). Através de um inumerável

número de obras literárias, nacionais e estrangeiras, a Baixa Pombalina

constitui uma referência internacional histórica e de ambientação literária.

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7. O critério de autenticidade e integridade

7.1. Garantias de autenticidade e integridade

A autenticidade e a integridade da Baixa Pombalina baseia-se e deverá

continuar a basear-se em quatro pilares fundamentais:

1. A protecção e o enquadramento legislativo no quadro administrativo

português;

2. O envolvimento de todos os actores interessados no processo de

classificação e valorização;

3. O controlo de padrões físicos que permitam a monitorização do nível

de conservação do sítio;

4. A aplicação sistemática e contínua de um plano de gestão destinado

à conservação do sítio.

7.1.1. A protecção e o enquadramento legislativo no quadro administrativo português

Em relação a toda a área proposta já foram estabelecidas medidas

legislativas e administrativas que garantem a protecção e a salvaguarda do

sítio.

A totalidade da Praça do Comércio está já classificada no seu conjunto

como monumento nacional2.

532 Dec. 16-06-1910, DG 136 de 23 Junho 1910

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Fig. 33 - Mapa de classificação do Instituto do Património Arquitectónico.

Para além da Praça do Comércio estão classificados como

monumentos nacionais as Lápides Romanas das Pedras Negras (séc. I d.C.),

a Igreja de S. Domingos (fundada no séc. XIII), a Muralha Fernandina (séc.

XIV), a Igreja do Carmo (séc. XIV), a Igreja da Conceição Velha (séc.XVI a

XVIII), a Igreja de S. Roque (séc. XVI), o Teatro Nacional de S. Carlos (séc.

XVIII), o Pelourinho de Lisboa (séc. XVIII), e o Ascensor de S. Justa, de um

discípulo de Eiffel (séc. XIX).

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Fig.34 - Elevador de Santa Justa de Raoul Mesnier du Ponsard

Fig. 35 – Ruínas da Igreja do Carmo (séc. XIV) na malha urbana do Chiado.

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Fig. 36 – Teatro Nacional de S. Carlos (foto Alfredo Rocha, Teatro Nacional de S. Carlos)

A quase totalidade da Baixa está já classificada como imóvel de

interesse público3 (mapas 2 e 3), incluindo edifícios como o Animatógrafo do

Rossio, um dos primeiros cinemas em Portugal (1907) em estilo Arte-Nova,

Fig. 37 – Animatógrafo do Rossio (1907)

563 Decreto Lei. 95/78, DR 210, de 12 Setembro 1978.

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a Igreja da Madalena (séc. XVI/XVIII), a Igreja de S. Paulo (séc. XVIII), o

Edifício dos Banhos de S. Paulo (séc. XIX), o Palácio do Barão de Quintela e

Conde de Farrobo (séc. XIX), o Convento de S. Francisco da Cidade (séc.

XVIII), o teatro S. Luiz (séc. XIX), a Igreja de Nossa Sra dos Mártires (séc.

XVIII), o Edifício da Livraria Bertrand, o Edifício da Rua Garret 54 a 62, onde

se encontra instalada a “Casa Gardénia”, o Edifício na Rua Garret 100 a 122,

onde se encontra instalado o café “A Brasileira”, a Casa do Ferreira das

Tabuletas (séc. XIX), etc.

Um elevado número de edifícios foi acrescentado ao Inventário

Municipal do Património para que faça parte do novo plano Director Municipal

em fase final de aprovação (mapa 4).

Para além da classificação já em vigor, desde há vários anos, outras

medidas foram já levadas a cabo para conciliar os esforços da Câmara

Municipal, do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), do

Instituto Português do Património Arqueológico (IPA), Da Direcção Geral de

Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), dos residentes, comerciantes e

de todas as instituições públicas e privadas que directa ou indirectamente têm

a ver com a preservação do sítio. Esta articulação, que se espera constitua

um modelo, garantirá a sua continuidade no tempo, independentemente dos

ciclos políticos.

Este modelo de gestão da Baixa Pombalina (ver. 7.2), deverá estar

plenamente integrado no projecto global de gestão da cidade de Lisboa.

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7.1.2. Envolvimento de todos os actores interessados no processo de classificação

Para a determinação do Valor Universal Excepcional VUE, e para a

discussão aberta das necessidades da gestão da Baixa, foram realizados em

Outubro de 2003, dois intensos dias de Jornadas públicas. Com estas

Jornadas de Estudo foram obtidas as bases fundamentais para justificar a

candidatura da Baixa Pombalina à Lista do Património Mundial. Estes

resultados foram obtidos de forma transparente e colocando em aberto, ao

debate público, os diversos aspectos desta complexa iniciativa.

Fig. 38 – Anúncio dos dois dias de Jornadas organizadas pela Câmara Municipal de Lisboa

sobre a “Baixa e a sua importância para o Património Mundial”.

Este debate que contou com a presença do Presidente do Instituto

Português do Património Arquitectónico e Arqueológico, do Vice-Director

Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, da representação do Presidente

da Comissão Nacional da UNESCO, da Secretária do Comité Mundial do

Património, de grande número dos técnicos das Unidades de Projecto dos

Bairros Históricos da CML, de representantes dos comerciantes da Baixa, de

residentes e trabalhadores na área. Cada painel de comunicações foi sempre

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seguido de comentários, perguntas e respostas que permitiram o

esclarecimento e a discussão do público presente.

Fig. 39 – Aspecto da mesa e do público que assistiu às Jornadas sobre a Baixa Pombalina e

a sua importância para o Património Mundial.

Obteve-se assim uma série articulada de depoimentos inéditos em torno

do objectivo principal desta Candidatura, que consistia em demonstrar o Valor

Universal Excepcional da Baixa Pombalina.

Para atingir este fim, foram importantes os depoimentos de grande valor

e significado elaborados pelo grupo de estudiosos e profundos conhecedores

deste sítio histórico, convidados para integrar os vários painéis das

comunicações.

De forma integrada e exaustiva, ao longo das diversas comunicações

apresentadas, todos os critérios de classificação exigidos pelo Comité Mundial

do Património foram sendo sucessivamente abordados.

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7.1.3. A autenticidade da Baixa e os padrões para a sua avaliação

• A Baixa é fruto de um modelo e de um conjunto de circunstâncias e

vontades que se foram juntando ao projecto inicial ao longo de quase

um século que levou à sua reconstrução;

• O aspecto actual da Baixa não pode ser confrontado com um modelo

ideal inicial pois esse modelo foi logo na primeira fase de trabalhos do

séc. XVIII adaptado e alterado pelos seus autores.

Por outras palavras, a Baixa deve ser considerada como ela

verdadeiramente é, ou seja, um sítio histórico monumental por excelência que

revela uma sobreposição de épocas, vontades e estilos que estão na base da

sua excepcionalidade como fruto de uma civilização.

A gestão da Baixa Pombalina deverá saber equacionar as modificações

introduzidas com o tempo, relativamente ao que foi planeado e realmente

executado, e integrá-las como experiências sedimentares que não afectem a

sua integridade e autenticidade.

O poder de sobrevivência do plano da Baixa Pombalina reside na

versatilidade funcional dos espaços. Ao longo dos tempos, muitos deles

foram-se adaptando a residências, a sedes de bancos, diferentes comércios

ou de serviços públicos.

60

Esta versatilidade tem sido posta à prova nos momentos mais

traumáticos da sua história. Na verdade, e por exemplo, alguns incêndios

pontuais de teatros ou de edifícios mistos de residência e comércio como os

ocorridos sobretudo no século XIX, foram seguidos por uma reconstrução

mimética, respeitadora da volumetria, do ritmo de vãos e da imposição da

cornija do 3º andar. O incêndio de 1988 do grande edifício do Grandela foi

seguido pela conservação das fachadas e pela renovação dos interiores

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destruídos pelo fogo. Aproveitou-se para dotar a zona traumatizada com

novas infra-estruturas, restabelecer e melhorar circuitos pedonais, respeitando

ou reinterpretando o “plano pombalino” original. Uma operação dirigida por

Siza Vieira, o arquitecto português mais reconhecido internacionalmente.

Fig. 40 – Rua do Carmo e edifício do Grandela depois da reconstrução de Siza Vieira.

Como parâmetros ou padrões físicos para medir a autenticidade do sítio

histórico ao longo do tempo, serão usados indicadores intimamente

relacionados com a natureza única da Baixa Pombalina:

a) A conservação da cornija ao nível do 3º piso, que tem vindo a ser

respeitada apesar de se terem crescido alguns andares acima (já desde

o início da execução do plano, como foi demonstrado) (mapa 5);

b) A percentagem da superfície de vãos conservados em relação à

totalidade da superfície das fachadas (mapa 6);

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c) O estado de conservação das escadas comuns interiores aos edifícios

(mapa 7);

d) A observância e aplicação do Regulamento Municipal de Conservação

da Baixa Pombalina (em fase de apreciação jurídica), com especial

atenção:

o ao Plano Cromático;

o à interdição de novos elementos dissonantes e à eliminação dos

existentes;

o ao controlo da sinalética e da iluminação;

o ao respeito pela caixilharia e fenestração própria de cada período

histórico;

e) A limitação dos níveis de qualidade do ar relativamente aos agentes de

deterioração;

f) A observância de um plano progressivo de redução e controlo do

tráfego viário destinado a:

o limitar a emissão de poluentes e garantir os parâmetros de

qualidade do ar dentro de limites inferiores aos limiares de

protecção da saúde, da vegetação e da conservação da pedra

calcária;

o garantir níveis de ruído e de conforto indispensáveis à qualidade

de vida de residentes, trabalhadores e visitantes, próximos de

níveis que permitam a fruição de um sítio monumental de

importância mundial.

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7.2. Garantias de conservação do sítio a classificar. O plano de gestão

O plano de gestão do sítio é articulado segundo os seguintes

capítulos principais:

1. Inventário e análise 2. Consolidação 3. Conservação 4. Manutenção 5. Monitorização 6. Protecção 7. Interpretação e valorização

7.2.1. INVENTÁRIO E ANÁLISE

7.2.1.1. Reclassificação das áreas de valor arqueológico

De maneira a melhorar a protecção do património arqueológico (mapas 8 e 9) presente na Baixa Pombalina, na nova Planta do Inventário Municipal

do Património (novo Plano Director Municipal de Lisboa), foram delimitadas

Áreas de Valor Arqueológico que se classificam em:

a) Área de Nível 1 de Intervenção: áreas de valência patrimonial

arqueológica consolidada (Termas dos Cassius / Largo da Madalena;

Troços das Cercas Medievais de Lisboa; Galerias Romanas; Núcleo

Arqueológico da Rua dos Correeiros);

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b) Área de Nível 2 de Intervenção: Área de Potencial Elevado Valor

Arqueológico - Centro Histórico delimitado pela Muralha Femandina (a

vermelho na figura);

c) Área de Nível 3 de Intervenção: Área Condicionada de Potencial

Valor Arqueológico;

d) Área de Nível 4 de Intervenção: Restantes Áreas, condicionadas à

Lei Geral do Património Cultural em vigor.

Nas Áreas de Nível 1 deverá promover-se a consolidação e valorização

do uso patrimonial e científico arqueológico, estando os projectos sujeitos a

parecer prévio dos órgãos competentes da administração central e do

município.

Nas Áreas de Nível 2 e 3, os projectos de obra deverão ser

acompanhados obrigatoriamente, de estudo prévio, realizado por arqueólogo,

que descreva e fundamente as acções.

Nas Áreas de Nível 2, o licenciamento de projecto fica sujeito à

aprovação do estudo prévio, podendo a realização das obras ser

condicionada à prévia realização de trabalhos arqueológicos, de acordo com

parecer dos órgãos competentes da administração municipal.

Nas Áreas de Nível 3, as obras que impliquem alteração da topografia

ou movimento do subsolo, deverão ser acompanhadas pelo arqueólogo

referido no ponto 3, salvo casos devidamente fundamentados, o qual deverá

assegurar o desenvolvimento das acções previstas.

a) O serviço licenciador deverá dar imediato conhecimento do

licenciamento aos órgãos da administração municipal com competência

arqueológica.

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Os Projectos de Ordenamento, de Urbanização ou outros que

impliquem alteração profunda da topografia e da paisagem, quer se localizem

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em espaços públicos ou privados, deverão ser acompanhados de elementos

cartográficos e descritivos que identifiquem áreas ou elementos de interesse

arqueológico e as acções cautelares a adoptar.

a) deverão ser realizados trabalhos arqueológicos prévios de sondagem

e/ou prospecção;

b) poderão as obras ser condicionadas ao acompanhamento por técnico

especializado ou à prévia realização de escavações arqueológicas.

Aquando do achado fortuito de elementos arqueológicos, deverá a

entidade fiscalizadora dar imediato conhecimento aos serviços do município

com competência arqueológica, conforme a lei geral.

Fig. 41 - Níveis arqueológicos proposto no novo Plano Director Municipal.

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7.2.1.2. Recolha de indicadores para a gestão do sítio. O livrete do edifício

Em Setembro de 2003, foi elaborado um protótipo de um instrumento de

recolha de indicadores destinados à gestão da Baixa Pombalina. Este

instrumento denominado “livrete do edifício”, consiste num questionário

constituído por 8 fascículos. Inspirado no “fascicolo del fabbricato” italiano que

se limita a avaliar a situação estrutural, o livrete do edifício é um instrumento

mais ambicioso, composto por 8 fascículos dedicados aos dados gerais do

edifício, à sua evolução histórica e estilística, à sua situação jurídica-legal,

segurança estrutural, estado de conservação arquitectónica, nível de

equipamentos e instalações, segurança a incêndio, acessibilidade de

deficientes, condições higiénico-sanitárias e de salubridade. Este questionário

tem servido desde então, como lista dos campos da base de dados do

sistema de informação da Unidade de Projecto da Baixa-Chiado. Estes

campos estão a ser preenchidos com os resultados das vistorias sistemáticas

e temáticas que têm vindo a ser feitas em toda a zona delimitada pela

Unidade de Projecto.

7.2.1.3. Sistema geo-referenciado e campanhas de vistorias

Toda a informação recolhida relativa a indicadores obtidos pelas

vistorias sistemáticas que têm sido efectuadas, é introduzida num sistema de

Arcview e base de dados Access, associado ao sistema geo-referenciado

usado pela Câmara Municipal em todas as suas direcções e departamentos.

Fica assim garantida a forma de unificar e melhorar a facilidade de acesso,

consulta e intercâmbio de informação.

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As vistorias têm sido levadas a cabo pelos dois organismos da Câmara

Municipal de Lisboa criados para a gestão exclusiva da área proposta para

classificação: a Unidade de Projecto Baixa-Chiado (dependente da Direcção

Municipal de Reabilitação Urbana) e o Fundo Remanescente do Chiado

(mapa 10). Estas vistorias (mapa 11) tiveram antes de mais como objectivo a

actualização do cadastro de forma a conhecer exactamente os limites de

propriedade (mapa 12), a tipologia dos proprietários (mapa 13) e os edifícios

que constituem propriedade total ou parcial da Câmara Municipal de Lisboa

(mapa 14).

Qualquer representação de documentos relativos à evolução e controlo

dos projectos e obras em curso (mapa 15).

7.2.2. CONSOLIDAÇÃO

7.2.2.1. Intervenção de consolidação arquitectónica de urgência

Estão actualmente em curso 5 frentes de obra, para as quais estão

disponibilizados 4.172.703,20 Euros através de uma mega-empreitada e

parte do Fundo remanescente do Chiado. Estas frentes de obra, que têm

um prazo limite de execução de 700 dias, consistem na intervenção de

uma centena de imóveis que apresentavam necessidades de intervenção

urgente:

• Acção prioritária em curso - 37 edifícios na Rua da Madalena, 6 na Rua

da Prata, 2 na Rua dos Douradores, 1 na Rua da Conceição e 1 na

Rua dos Fanqueiros (mapa 16);

• Acção prioritária em curso juntamente com o Fundo Remanescente do

Chiado – Eixo Alecrim / Misericórdia (mapa 17);

• Acção prioritária em curso – Largo do Corpo Santo (mapa 18);

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• Acção prioritária a iniciar brevemente – Largo de São Paulo (mapa 19).

Estas acções foram implantadas depois de abertos concursos públicos

internacionais para escolha de um único empreiteiro por zona.

Os trabalhos têm como objectivos principais colocar “a seco” os

imóveis, eliminando as zonas de infiltração de águas e que constituem grande

parte das causas principais de degradação. Sempre que necessário, são

executados trabalhos de reforço estrutural de modo a reduzir a vulnerabilidade

sísmica.

Esta acção é inédita em Lisboa não só pela importância de meios

financeiros, humanos e tecnológicos utilizados, como também pelo facto de se

actuar na totalidade dos edifícios de uma rua. Os resultados obtidos terão um

impacto pedagógico importante nas populações, direccionado para a criação e

implantação de uma cultura da conservação e manutenção.

7.2.3. CONSERVAÇÃO

7.2.3.1. Revitalização e atracção de novos residentes

A Câmara Municipal de Lisboa tem lançado programas publicitários de

incentivo ao regresso de residentes aos bairros históricos de Lisboa, em

particular à Baixa Pombalina (mapas 20 e 21). Para o efeito, estão a ser

criadas linhas de crédito especiais.

Também já foi posto a discussão pública, o regulamento do programa

de reabilitação de Imóveis em mau estado de conservação do concelho de

Lisboa. Este programa prevê a cedência gratuita a jovens, agrupados em

pessoas colectivas sem fins lucrativos ou cooperativas de construção e

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habitação, do direito de superfície, por 30 anos, sobre edifícios municipais em

mau estado de conservação e devolutos. Na presente data o regulamento

deste programa, depois de ter sido submetido a um período de discussão

pública, está a ser ultimado com as sugestões dos munícipes e da Federação

Nacional de Cooperativas de Habitação Económica.

Para além deste incentivo aos jovens residentes, foi reforçado o

incentivo à utilização dos fundos dos programas nacionais de reabilitação do

edificado (RECRIA, RECRIPH, SOLARIS), na zona da Baixa em particular.

No que se refere a outros incentivos legais para a conservação dos

edifícios, tem-se procedido de forma sistemática à vistoria e notificação de

todos os proprietários, no caso de serem indispensáveis obras de manutenção

e reabilitação. Nos casos em que estas obras coercivas não sejam levadas a

cabo num determinado limite de tempo, a Câmara Municipal tem procedido à

tomada de posse administrativa dos edifícios e à execução dos trabalhos. A

administração dos edifícios será restituída aos proprietários depois de se

terem obtido receitas com o seu aluguer, que compensem os valores

investidos pela Câmara Municipal nas obras coercivas (mapa 22).

A esperada lei de liberalização dos contratos de arrendamento, cuja

publicação está prevista para Junho de 2004, permitirá também uma

renovação do mercado imobiliário, tornando mais atractiva a fixação da

população residente na Baixa que disporá mais facilmente dos meios de

conservação e manutenção dos seus edifícios.

7.2.3.2. Incentivos aos comerciantes

Têm vindo a ser identificados e ajudados pontualmente, caso a caso, os

estabelecimentos comerciais que histórica ou arquitectonicamente

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apresentem grande valor para a Baixa Pombalina. É o caso da preservação

total da loja David & David na Rua Garrett e o presente acompanhamento da

recuperação da antiga Alfaitaria Rosado Pires, na Rua Augusta.

Foram criados eixos preferenciais para actividades de restauração e

esplanadas, como as longitudinais Rua dos Correeiros e Rua dos Douradores

e as transversais Rua de S. Nicolau e a Rua da Vitória. Espera-se com esta

medida contribuir para animar e fixar a ocupação durante as horas que se

seguem ao encerramento das actividades dos bancos e comércio de retalho.

7.2.3.3. O programa “Lisboa a Cores”

Este programa destina-se a financiar obras de pintura de fachadas,

renovação de caixilharias, trabalhos pontuais de correcção e eliminação de

elementos dissonantes nas fachadas. A maior parte dos custos destes

trabalhos são comparticipados por mecenas privados que colocaram verbas à

disposição da Câmara Municipal de Lisboa (CML) para esse fim. Em 25 de

Fevereiro de 2004 foi aprovado em Assembleia Municipal, assinatura de um

protocolo entre a CML e a EPUL (Empresa de Urbanização de Lisboa) para a

pintura das fachadas de 600 edifícios, entre os quais diversos situados na

Baixa. Os edifícios que serão objecto de intervenção deste programa deverão

já “estar a seco” para que a intervenção seja garantida por uma boa

durabilidade.

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7.2.3.4. O Plano cromático da Baixa

Com o objectivo de recolher a informação necessária à elaboração do

Plano Cromático das fachadas e ruas incluídas na UP Baixa-Chiado, foi

proposto que:

• a análise estratigráfica, descrita sinteticamente segundo procedimentos

internos à Câmara Municipal de Lisboa, fosse executada

sistematicamente para todos os edifícios em curso de projecto e em

curso de obra;

• se procedesse à recolha de reproduções de todas as representações

iconográficas disponíveis relativamente às ruas e praças situadas na

zona de intervenção da Unidade de projecto;

• se procedesse a provas de melhoria/substituição de barramentos e

camadas exteriores de rebocos com argamassas à base de cal

hidráulica natural, cal aérea e areia;

• se avaliassem todas as fichas técnicas disponíveis por fabricantes

nacionais de forma a listar as tintas mais idóneas e aplicar nas fachadas

dos edifícios situados na Baixa Pombalina, sendo de eliminar à partida

as tintas acrílicas e vinílicas e de preferir tintas estabilizadas à base de

cal.

Paralelamente, está a ser elaborado um estudo cromático da Baixa pelo

Gabinete do Arq. Siza Vieira.

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7.2.3.5. Melhoria do espaço público e racionalização da distribuição das infra-estruturas básicas Foi realizado um levantamento de todas as artérias viárias e pedonais,

relativamente a sinalização, tipo de pavimentação e iluminação da via pública

de modo a elaborar um plano de racionalização dos pavimentos, da sinalética,

do mobiliário urbano e da iluminação de vias públicas e edifícios, ou

elementos cuja distinção visual possa contribuir para valorizar o espaço

público.

Foi também iniciado o diálogo com as diversas concessionárias

(telefones, tv por cabo, água, gás e electricidade) para que sejam planeadas e

executadas as redes de distribuição, por quarteirão, de cada uma das infra-

estruturas referidas. Esta acção destina-se a eliminar gradualmente os cabos

que actualmente se encontram suspensos das fachadas, simplesmente ao

serviço das concessionárias e interferindo gravemente com a fruição estética

dos edifícios.

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7.2.4. MANUTENÇÃO

7.2.4.1. Fundo Remanescente do Chiado

Para revitalizar e sobretudo financiar as acções de manutenção na zona

do Chiado, foi criado o Fundo Remanescente do Chiado, com 45.000.000 de

euros sobrantes do Fundo FEARC que retornaram à autarquia. O FEARC

(Fundo Extraordinário de Apoio à Reconstrução do Chiado), tinha sido

instituído após o incêndio de 1988 e tinha sido extinto por caducidade (mapa 23).

7.2.4.2. Grafitis e brigadas de limpeza periódica

Foi aberto um concurso público internacional para a “Prestação de

serviços de limpeza de graffiti e cartazes, protecção das superfícies tratadas e

manutenção das mesmas”. Os trabalhos foram iniciados no presente ano e

implicam o uso de produtos compatíveis com as superfícies a limpar, não

tóxicos, não corrosivos, não abrasivos, não inflamáveis, ecológicos, bio-

degradáveis e com baixo grau de evaporação.

Os produtos a aplicar devem ser microceras adequadas à superfície a

proteger, anti-graffiti e facilitar a operação de descolagem de cartazes,

reduzindo posteriores limpezas e manutenção, à aplicação de água quente a

pressão e temperatura controladas, sem necessidade de recorrer a solventes

ou outros produtos. Os produtos a aplicar também não deverão alterar as

características do suporte, deverão ser incolores, não provocar o

amarelecimento das superfícies nem alterar o seu aspecto final. Estes

produtos devem ainda ser bio-degradáveis e impermeáveis permitindo, no

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entanto, a evaporação da humidade interna. Devem ainda ser reversíveis,

permitindo a sua total retirada quando necessário, antiaderentes evitando a

incrustação de sujidades, resistentes às chuvas ácidas e alcalinas, a produtos

de limpeza e às agressões químicas da poluição atmosférica.

7.2.4.3. O programa “Lisboa Alerta”

Em 17 de Fevereiro de 2004, foi criada uma linha telefónica especial da

Câmara Municipal de Lisboa destinada à denúncia, por parte dos residentes,

da existência de buracos no pavimento, perdas e infiltrações de água. A

autarquia, que “garante uma resposta rápida, no prazo máximo de 24 horas”.

Depois de classificar as intervenções, que podem ser “urgentes”, “muito

urgentes” ou “emergências”, uma das equipas segue para o local referenciado

pelos munícipes ou pelos “Olheiros”. Os “Olheiros – Smart” são equipas de

funcionários que circulam pela cidade para verificar se existem outros

problemas não referidos pelos cidadãos.

7.2.5. MONITORIZAÇÃO

7.2.5.1. Rede de piezómetros e de marcas de nivelamento topográfico Depois de terem sido verificados alguns assentamentos localizados durante

as obras do metropolitano, foi instalado pelo Departamento de Planeamento

de Infra-estrturas, Divisão de Ordenamento da Rede de Subsolo, um sistema

de monitorização (mapa 24):

• do nível freático na zona da Baixa Pombalina;

• da evolução altimétrica relacionada com possíveis assentamentos das

fundações e detecção de eventuais deslocamentos verticais em

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edifícios com fundação directa, ou fundação em estacas de madeira e

betão;

• da análise da evolução da maré em zona baixa e o seu limite de

influência.

Em 1 de Março de 2004 foi concluída a 1ª leitura regular mensal de marcas

de nivelamento e réguas. Em 15 de Março, foi entregue o relatório da 1ª

leitura. Estão a ser feitas leituras mensais de nivelamento até 1 de Agosto do

presente ano.

No que se refere à monitorização de níveis freáticos, foi elaborado em

Fevereiro um relatório da instalação e leitura de zeragem, com análise

química das águas e ensaios granulométricos das amostras. Estão a ser

realizadas leituras semanalmente até à ao fim de Abril de 2004.

Fig. 42 – Marcas de referência – “bench-mark” e marcas de superfície para o nivelamento topográfico

e marcas de superfícies.

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Fig. 43 – Tipologia dos piezómetros instalados na Baixa Pombalina.

7.2.5.2. Controlo da qualidade do ar, do tráfego e dos agentes de deterioração

Têm sido efectuados diversos estudos destinados a avaliar a qualidade do

ar na zona da Baixa, bem como o impacto da redução do tráfego rodoviário

actual associado ao incremento dos tráfegos de transportes públicos. O mais

recente foi efectuado pelo Departamento de Ambiente e Ordenamento da

Universidade de Aveiro, no âmbito do projecto de investigação “SUTRA”.

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Fig. 44 – Gráfico dos campos de dispersão do vento (predominante de Noroeste com 1<v<6 m/s)

associado a monóxido de carbono, obtido em 8.7.1997, às 18.00, no quarteirão de 26 edifícios

entre a Rua da Betesga e a Travessa de S. Nicolau.

Fig. 45 – Gráfico dos campos de dispersão do vento (predominante de Noroeste com 1<v<6 m/s)

associado a monóxido de carbono, previsto para 2030 na mesma área com um cenário em que

as melhorias da demografia, economia, uso do solo e tecnologia permitem a redução do

consumo de combustíveis fósseis e emissões de NOX.

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De forma muito sintética, os resultados permitem justificar a necessidade

de redução de emissões devidas ao tráfego rodoviário. Consequentemente, a

necessidade de gradualmente tornar pedonal a zona da Baixa Pombalina, que

dispõe actualmente dos lugares de estacionamento indicados no mapa 25 e

que disporá brevemente de uma nova linha de Metro com uma estação a

Oriente da Praça do Comércio (mapa 26).

A partir do dia 20 de Julho de 2003 iniciou-se a primeira fase de

encerramento ao trânsito do Chiado. Aos fins-de-semana, entre as 10 horas

de Sábado e as 22 horas de Domingo, passou a ser só possível a circulação

de veículos de moradores, veículos oficiais, veículos prioritários e transportes

públicos. Durante este período, um mini-bus da Carris fará a ligação entre os

parques de estacionamento existentes na zona: Praça do Município, Praça da

Figueira e Restauradores. Nestes parques, os preços de estacionamento

foram reduzidos em 50%.

Foi também recentemente sujeita a condicionamento do tráfico, a Rua do

Crucifixo, depois de ser objecto de obras de repavimentação com calçada.

A estação de medição da qualidade do ar mais próxima está situada desde

1994, a 300 metros do limite Norte da Baixa, na avenida da Liberdade, e é

capaz de medir a concentração de:

• partículas inferiores a 10 µm (PM10);

• dióxido de azoto (NO2);

• óxidos de azoto (NOx);

• monóxido de carbono (CO);

• monóxido de azoto (NO);

• ozono troposférico (O3)

Considera-se a instalação na zona da Baixa Pombalina, de pelo menos

uma nova estação de medição da qualidade do ar. Esta deverá ser equipada

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também de forma a medir a concentração de aerosois e poluentes iónicos da

atmosfera.

7.2.6. PROTECÇÃO

7.2.6.1. Regulamento próprio

Encontra-se em fase de finalização e correcção do ponto de vista legal

e jurídico, a proposta de Regulamento para as intervenções arquitectónicas e

conservação da Baixa Pombalina. Elaborado por um grupo multidisciplinar de

trabalho, o Regulamento será usado como instrumento executivo nas fases de

projecto e execução de obras de conservação arquitectónica. Aborda

aspectos genéricos como a metodologia de elaboração do projecto e

pormenores de detalhe como os relativos a tipos de caixilharia, de telhas ou

de serralharias.

7.2.6.2. Unidade de projecto da Baixa-Chiado

A Unidade de Projecto da Baixa-Chiado, dependente da Vereação do

Licenciamento Urbanístico e Reabilitação Urbana, constitui um departamento

municipal operacional, sediado no coração da Baixa Pombalina. Esta Unidade

é responsável pela elaboração e acompanhamento de todos os projectos de

conservação e reabilitação na zona a classificar como Património Mundial.

A Unidade é composta, em média, por 11 arquitectos, 4 engenheiros

civis, 2 historiadores, 2 juristas, 1 sociólogo, 1 licenciado em Serviço Social, 1

topógrafo, 3 fiscais de obras e 8 elementos administrativos.

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7.2.6.3. Controlo do tráfego e criação de alternativas de transporte público

Com o objectivo de reduzir as emissões de partículas, gases e

aerossóis poluentes, encontra-se em fase de estudo um plano de redução

gradual do tráfego em articulação com o plano de circulação a aprovar no

novo Plano Director Municipal. Uma das estratégias possíveis implicará a

pedonalização da Praça do Comércio e o desejado acesso pedonal ao Cais

das Colunas, depois de terminadas as Obras do Metropolitano. Esta primeira

fase deverá ser seguida do condicionamento gradual do tráfego de Sul para

Norte até obter uma circulação tangencial à Baixa: a Norte com a Praça dos

Restauradores a servir de zona rotatória de descarga e recolha de

passageiros, a Sul com a Avenida da Ribeira das Naus como eixo de

passagem tangencial, eventualmente rebaixada no troço correspondente à

Praça do Comércio e depois de efectuado um estudo geotécnico detalhado

das condições de fundação dessa zona do aterro da Baixa.

Tangencialmente a Oeste, já foi condicionado o tráfego na Rua Garrett

de forma a obter um corredor de passagem pela Rua do Alecrim e Rua da

Misericórdia.

Internamente à malha ortogonal da Baixa será gradualmente reduzido o

tráfego com a introdução de pilaretes recolhidos automaticamente como já

aplicado no Bairro Alto e Alfama. Este condicionamento será seguido da

remoção do asfalto e de operações de calcetamento em pedra, mais aptas ao

uso pedonal. Estas operações deverão ser acompanhadas por serviços de

transporte internos para residentes como o de “Lisboa porta a porta” já

implantado para outros bairros históricos da cidade.

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7.2.6.4. Redução da vulnerabilidade sísmica do edificado

Encontra-se em fase de concretização, no campo da redução da

vulnerabilidade sísmica do edificado, um protocolo de colaboração entre a

Câmara Municipal de Lisboa e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil

(LNEC), assinado em 2003. As linhas que foram propostas para esta acção,

destinam-se a tornar concreto e prático o conhecimento científico de forma a

colocá-lo ao serviço de casos práticos de reabilitação nos bairros históricos

em geral ,e na Baixa Pombalina em particular. Prevê-se:

• a elaboração de directivas de projecto a adoptar sempre que se deseje

consolidar ou reforçar um edifício;

• o acompanhamento por parte de técnicos do LNEC, dos projectos de

conservação em curso, através de reuniões periódicas com os

projectistas de cada unidade de projecto da Câmara Municipal e em

especial com a Unidade de Projecto da Baixa-Chiado.

7.2.6.5. Sistema de protecção civil

Depois do incêndio do edifício do Grandela em 1988, uma inspecção

sistemática foi realizada pelos Bombeiros de modo a identificar as deficiências

em termos de segurança ao fogo. O plano de emergência em caso de

incêndio tem vindo a ser melhorado em função das conclusões então obtidas.

Por se situar numa zona de elevado risco sísmico, o Departamento de

Protecção Civil da Câmara Municipal de Lisboa, conjuntamente com o Instituto

Superior Técnico, desenvolveu um software para toda a cidade de Lisboa

denominado “Simulador sísmico” destinado à:

• caracterização do Risco Sísmico

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• definição de Cenários de Danos

• identificação de Áreas Críticas de Risco Sísmico

Este software baseou-se nos seguintes parâmetros:

• zonas Sismogénicas e registos dos sismos históricos;

• resposta Sísmica dos Solos;

• vulnerabilidade do Edificado;

• vulnerabilidade das Infra-estruturas;

• dinâmica Espaço-temporal da População ;

• vulnerabilidade dos Pontos Vitais;

• vulnerabilidade dos Pontos de Risco Acrescido.

Fig. 46 - Áreas onde a concentração de danos é quase sistematicamente superior ao resto da cidade,

com base na simulação de sismos do catálogo de sismos do LNEC, com magnitude >= 6.0 Richter.

Actualmente, pretende-se passar à aplicação, na área específica da

Baixa Pombalina, do referido software com obtenção de informação mais 82

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detalhada sobre os efeitos sob diversos cenários sísmicos. Esta simulação

deverá ser feita de forma articulada com o estudo de casos concretos a

efectuar pelo LNEC, durante as obras em curso.

Foi proposto ao Departamento de Protecção Civil o estudo aprofundado

do plano de evacuação e emergência nos vários cenários de risco sísmico,

em particular a definição de eixos prioritários de circulação a conservar,

desobstruídos, meios de desobstrução, localização de hospitais de campanha

e de evacuação de feridos.

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7.2.7. VALORIZAÇÃO E INTERPRETAÇÃO

7.2.7.1. Desafectação

Na Praça do Comércio, foi iniciado pela Câmara Municipal de Lisboa e

pelo Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro, o processo de desafectação das

repartições administrativas de vários Ministérios que ocupam grande parte dos

edifícios classificados como Monumentos Nacionais. Na ala Norte, é o caso

do Ministério da Justiça e Supremo Tribunal de Justiça; na ala Ocidental, dos

Correios, Tribunal da Relação e instalações do Ministério da Defesa, e na ala

Oriental, Ministério das Finanças.

Esta acção permitirá libertar a maioria dos espaços e pátios interiores

deste enorme complexo de modo a que possam vir a ser ocupados por

equipamentos culturais, de restauração de apoio a turistas e visitantes e ao

futuro Museu Pombalino e Centro de Interpretação da Baixa Pombalina.

7.2.7.2. Centro de interpretação do sítio e Museu Pombalino

Encontra-se em fase de estudo a criação de um centro de interpretação da

Baixa Pombalina como sítio histórico-monumental, destinado a visitantes e

estudiosos interessados a conhecer a génese e evolução do sítio do ponto de

vista histórico, arquitectónico, de conservação e de salvaguarda.

Este centro deverá ser articulado com a constituição do Museu dedicado à

reconstrução pombalina de Lisboa, a cargo da Vereação da Cultura, que se

prevê vir a ser instalado num dos espaços brevemente desafectados da Praça

do Comércio.

No âmbito do centro interpretativo e da presente candidatura, está em fase

de organização uma exposição integrada na comemoração dos 250 anos da

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Baixa Pombalina, de gravura, pintura e fotografia, com o objectivo de

identificar o público português com a História da Baixa e a sua própria visão

da História de Portugal. Estas imagens procurarão reflectir sobre a maioria

dos eventos históricos mais importantes que ocorreram na Baixa nos últimos

250 anos.

7.2.7.3. Animação

A Baixa Pombalina e a Praça do Comércio em particular, têm servido

sempre de cenário para variadíssimas manifestações musicais, de teatro, de

dança e de arte.

São frequentes os espectáculos de rua, as feiras temáticas, os

concertos e espectáculos que regularmente são organizados em colaboração

com a Câmara Municipal.

Fig. 47 - Iluminação da estátua de D. Pedro IV em Dezembro de 2003.

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Uma das últimas iniciativas levadas a cabo pela CML para animação da

Praça do Comércio consistiu num espectáculo de luz e som que pôs em

evidência a monumentalidade do espaço público.

Para as comemorações da Baixa Pombalina em 2005 estão a ser

preparadas diversas conferências, publicações e eventos que certamente

contribuirão para reforçar o sentimento nacional de pertença deste património

que se pretende também de toda a Humanidade.

Lisboa, Paços do Concelho, 22 de Abril de 2004 O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa Dr. Pedro Santana Lopes A Vereadora do Pelouro do Licenciamento Urbanístico e Reabilitação Urbana Dra. Maria Eduarda Napoleão Coordenação técnica e redacção Coordenação científica Dr. Eng. João Mascarenhas Mateus Profª. Drª. Raquel Henriques da Silva

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Ilustrações e Mapas temáticos Mapas temáticos Mapa 1 - Delimitação da área a classificar correspondente à Unidade de

Projecto CML Baixa-Chiado

Mapa 2 – Imóveis de Interesse Público, Monumentos Nacionais e de Valor

Concelhio

Mapa 3 – Zonas de Protecção dos Imóveis

Mapa 4 – Imóveis a acrescentar ao Inventário Municipal do Património (novo

PDM)

Mapa 5 – Planta de número de pisos

Mapa 6 – Tipologias de fachadas

Mapa 7 – Tipologia de escadas

Mapa 8 – Sobreposição da planta anterior ao terramoto com a actual malha

da Baixa Pombalina

Mapa 9 – Áreas de potencial valor arqueológico segundo o antigo PDM

Mapa 10 – Delimitação das áreas da Unidade de Projecto CML Baixa-Chiado

e da área abrangida pelo Fundo Remanescente do Chiado

Mapa 11 – Edifícios cujo cadastro de propriedade está actualizado e

introduzido no SIG

Mapa 12 – Imóveis vistoriados detalhadamente durante o ano de 2003

Mapa 13 – Tipologia de proprietários

Mapa 14 – Imóveis que são propriedade da Câmara Municipal de Lisboa

Mapa 15 – Estado de Conservação dos Imóveis

Mapa 16 - Acção prioritária em curso - Rua da Madalena

Mapa 17 – Acção prioritária em curso – Largo do Corpo Santo

Mapa 18 – Acção prioritária em curso – Largo de São Paulo

Mapa 19 – Acção prioritária em curso – Eixo Alecrim / Misericórdia

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Mapa 20 – Total de residentes por subsecção estatística Mapa 21 – Situação relativa ao emprego da população residente

Mapa 22 – Obras municipais, particulares e coercivas em curso (Janeiro

2004)

Mapa 23 (a,b,c,d,e,f) – Obras em curso na zona do Fundo Remanescente do

Chiado (FRRC)

Mapa 24 – Rede de piezómetros, de bench-mark e de marcas de superfície

para controlo topográfico

Mapa 25 – Estacionamentos e número de lugares disponíveis

Mapa 26 – Linha do Metropolitano (troço oriental em construção)

Mapa 27 – Atlas da carta topográfica de Lisboa de Filipe Folque 1856

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Bibliografia

Nota prévia – A elaboração do presente texto é devedora às comunicações

apresentadas nas Jornadas sobre “A Baixa Pombalina e a sua importância para o

Património Mundial”, que ocorreram de 9 a 10 de Outubro de 2003, no Welcome

Centre da Câmara Municipal de Lisboa. Agradece-se aos seus autores:

Prof. José-Agusto França

Prof. Sidónio Pardal

Prof. Walter Rossa

Engº João Appleton

Prof.ª Raquel Henriques da Silva

Dr. Vasco Graça-Moura

Dr. José de Monterroso Teixeira

Dra. Manuela Oliveira

Arq. João Manuel de Belo Rodeia

Dra. Benedicte Selfslagh

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SOUSA, Francisco Luís pereira de, Ideia Geral dos Effeitos do Magasismo de 1975

em Portugal, Lisboa, Typ. do Comercio, 1914. Tese para o concurso do 2.º

Assistente do 1.º Grupo da segunda secção da Faculdade de Ciências de Lisboa.

Texto Policopiado.

92