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III. Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 139
Formação Itamaracá) e, posteriormente, do Neocretáceo aoRecente, por uma seqüência carbonática progradante (FormaçãoMaria Farinha) e por uma seqüência siliciclástica progradantede águas profundas (Formação Calumbi).
Na região de águas profundas, a bacia é caracterizadapor uma reduzida espessura sedimentar e profundos cortesde cânions (Costa et al. 1991; Alves e Costa, 1993). O rifte écaracterizado por falhas de baixo ângulo, que aparentamdescolar em horizontes crustais profundos (Gomes et al. 2000).Também ocorrem feições interpretadas por métodos geofísicos(sísmica e métodos potenciais) como intrusões ígneas eextrusões vulcânicas. A Fig. III.48 apresenta um transect sísmicoe gravimétrico atravessando a região de águas profundas daBacia Pernambuco–Paraíba e adentrando a região de crostaoceânica.
Bacia Sergipe–Alagoas
A Bacia Sergipe–Alagoas situa-se na margem continentalnordeste do Brasil (Fig. III.22). Em sua porção terrestre abrangeuma área de aproximadamente 13.000 km² e sua porçãosubmersa uma área de cerca de 40.000 km², até a cota
batimétrica de 2.000 m. A Fig. III.49 apresenta um maparegional simplificado com as principais feições tectônicas daregião entre as bacias Sergipe–Alagoas e Camamu, mostrandotambém as principais anomalias magnéticas.
A bacia é representada por um rifte assimétrico, alongadona direção NNE/SSW e limitado a norte com a BaciaPernambuco–Paraíba, pelo Alto de Maragoji, e a sul com aBacia do Jacuípe, pelo sistema de falhas de Vaza-Barris. Divide-se em duas sub-Bacias, Alagoas e Sergipe, separadas peloalto de Jaboatã–Penedo, nas imediações do Rio São Francisco(Aquino e Lana, 1990).
Das bacias da margem continental brasileira, esta bacia éa que apresenta a mais completa sucessão estratigráfica,sendo reconhecidas quatro megasseqüências (pré-rifte, sinrifte,transicional e pós-rifte) com diferentes fases de desenvol-vimento tectono-sedimentar (Cainelli e Mohriak, 1998). Amegasseqüência pré-rifte (Paleozóico e Mesozóico), incluirochas cambrianas (Formação Estância), depósitos glaciais doCarbonífero (Formação Batinga), depósitos de sabkha costeirado Permiano (Formação Aracaré) e os sedimentos flúvio-lacustrinos do Neo-Jurássico/Eo-Cretáceo (formaçõesCandeeiros, Bananeiras, Serraria e Barra de Itiúba).
Figura III.48 – Seção sísmica na Bacia de Pernambuco–Paraíba,mostrando transição de crosta continental estirada para crostaoceânica com intrusões ígneas
Figure III.48 – Seismic section in the Pernambuco–Paraíba Basin,showing the transition from stretched continental crust to oceaniccrust with igneous intrusions
Parte I – Geologia140
A fase sinrifte, também denominada sinrifte I, desenvolveu-se entre o Neocomiano e o Barremiano, sendo caracterizadapelo sistema siliciclástico das formações Rio Pitanga, Penedoe Barra de Itiúba. A megasseqüência transicional, localmenteafetada por falhamentos, sendo designada de sinrifte II,abrange o Barremiano e Aptiano e inclui a Formação Poção, aFormação Coqueiro Seco e a Formação Maceió. Durante afase transicional, no Aptiano, iniciaram-se as primeirasincursões marinhas, com deposição de duas seqüênciasevaporíticas na Formação Muribeca (Membro Paripueira eMembro Ibura), com destaque para os evaporitos do MembroIbura (Feijó, 1994c).
A megasseqüência pós-rifte ou marinha, caracterizada porsubsidência termal, inicia-se no Albiano, com a instalação deuma plataforma carbonática (Formação Riachuelo). A fasemarinha transgressiva resultou na deposição, entre o Albianoe o Santoniano, de três faixas diferenciadas de sedimentosenglobados na Formação Riachuelo, com arenitos proximais,carbonatos de plataforma e folhelhos distais (Membro Taquarie Membro Aracaju; Feijó, 1994c). Do Campaniano ao Recente,após um período ainda dominantemente transgressivo, iniciou-se uma forte regressão onde as fácies de menor energia
Figura III.49 – Mapa tectônicoesquemático do segmento nor-deste da margem continentaldivergente brasileira, mostrandoanomalias magnéticas e alinha-mentos de zonas de fraturasoceânicas. O mapa mostra alocalização aproximada daslinhas sísmicas de Alagoas,Sergipe e Jacuípe (D1, D2, e D3,respectivamente)
Figure III.49 – Schematic tecto-nic map in the northeasternsegment of the Brazilian divergentcontinental margin, showingmagnetic anomalies and linea-ments related to transformfracture zones. The map showsthe approximate location of theseismic transects along theAlagoas, Sergipe and Jacuípebasins (D1, D2 and D3, respec-tively)
(Formação Calumbi) passaram a ser recobertas por fácies demaior energia (carbonatos da Formação Mosqueiro esiliciclásticos da Formação Marituba), com o estabelecimentode um sistema de plataforma/talude/bacia profunda. Na parteterrestre os sedimentos continentais da Formação Barreirasrecobrem todas as megasseqüências mais antigas.
A Bacia de Alagoas é caracterizada por uma espessa seçãosedimentar da fase rifte na região continental e por feiçõesassociadas à transpressão na região da plataforma e talude.A Fig. III.50 apresenta um seção sísmica entre a região daplataforma continental e a região de águas profundas, ondeocorrem intrusões ígneas (Pontes et al. 1991).
Entre as sub-Bacias de Alagoas e Sergipe ocorrem feiçõesdiapíricas em águas profundas que podem estar relacionadasà tectônica de sal (Mohriak, 1995b). A Bacia de Sergipe écaracterizada por um espesso depocentro na região do Baixode Mosqueiro, a sul de Aracaju, o qual é controlado por falhada fase rifte (Vaza-Barris–Itaporanga) que apresentareativações até o Cretáceo Superior (Cainelli e Mohriak, 1998).
A interpretação da seqüência rifte na região de águasprofundas apresenta duas principais hipóteses opcionais(Mohriak et al. 2000): a) ocorrência de espessa seqüência
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Figura III.50 – Seção sísmica na sub-bacia de Alagoas, mostrandoseqüências estratigráficas afetadas por inversão de bacia e ocorrênciade altos vulcânicos associados a zonas de fraturas transformantes
Figure III.50 – Seismic section in the Alagoas sub-basin, showingstratigraphic sequences affected by basin inversion and occurrence ofvolcanic intrusions associated with the transform fracture zones
aptiana, neocomiana e sedimentos pré-rifte até a região deáltos vulcânicos das zonas de fraturas (Pontes et al. 1991); eb) afinamento do rifte na região do talude e bacia profunda,com presença de seaward-dipping reflectors na transição paracrosta oceânica (Mohriak et al. 1995a; Mohriak et al. 2000). AFig. III.51 apresenta uma linha sísmica na região sul da sub-Bacia de Sergipe, estendendo-se desde a plataforma até aregião de águas profundas, e a Fig. III.52 a interpretação dalinha (Mohriak et al. 1998b).
Bacia de Jacuípe
A Bacia de Jacuípe localiza-se na porção marítima do litoralnorte do Estado da Bahia (Fig. III.22), entre a cidade deSalvador e o limite dos estados da Bahia e Sergipe. Alonga-se por cerca de 210 km na direção SW–NE e tem uma larguramédia de 35 km até a cota batimétrica de 2.000 m. Estende-se por uma área de aproximadamente 7.500 km2, sendo quecerca de 4.500 km2 localizam-se sob lâmina d’água de até400 m. Limita-se a norte com a Bacia Sergipe–Alagoas, pelafalha de Vaza-Barris, e a sul com a Bacia de Camamu, pelazona de transferência de Itapuã, sendo que no continente aseparação com a bacia do Recôncavo se dá pela falha daBarra (Netto et al. 1994).
O arcabouço estratigráfico da bacia atualmente conhecidoinclui duas megasseqüências, correspondentes às fases sinrifte(continental) e pós-rifte (marinha). A fase sinrifte, poucodesenvolvida na plataforma, engloba a Formação Rio de Contas(Cretáceo Inferior), composta de arenitos, conglomerados efolhelhos. A fase pós-rifte inclui a seqüência marinha
transgressiva, predominantemente carbonática, de idadealbiana-turoniana (Formação Algodões), e predominantementeargilosa da Formação Urucutuca (Cretáceo Superior). Aseqüência marinha regressiva, caracterizada por seqüênciaprogradante, é representada pelas fácies arenosa proximal elitorânea da Formação Rio Doce, carbonática de plataformada Formação Caravelas e folhelhos de talude da FormaçãoUrucutuca (Terciário–Quaternário).
O arcabouço estrutural simplificado da bacia consiste emdois domínios distintos. Adjacente à costa, na região daplataforma continental, ocorre um patamar com embasamentoraso, limitado por uma falha de grande rejeito. Esta falha,que coincide com a quebra atual da plataforma, separa opatamar de embasamento raso do domínio de embasamentoprofundo, onde a seção sedimentar pode atingir 7.000 m deespessura (Wanderley Filho e Graddi, 1995).
À semelhança da Bacia Sergipe–Alagoas, duasinterpretações opcionais têm sido propostas para a seqüênciarifte na região de águas profundas: a) ocorrência de espessaseqüência sinrifte neocomiana a aptiana (possivelmenterecobrindo sedimentos pré-rifte) até a região de altos vulcânicosdas zonas de fraturas (Pontes et al. 1991; Wanderley Filho eGraddi, 1995); e b) rotação de blocos de rifte e grandediminuição de espessura desses sedimentos na região do taludee bacia profunda, com presença de seaward-dipping reflectorsna transição para crosta oceânica (Mohriak et al. 1995a). AFig. III.53 apresenta uma linha sísmica estendendo-se desdea plataforma até a região de águas profundas da Bacia deJacuípe.
Parte I – Geologia142
Figura III.52 – Interpretação da seção sísmica na sub-Bacia deSergipe, mostrando afinamento das seqüências estratigráficas da faserifte na direção da bacia profunda e possível ocorrência de cunhasde refletores mergulhantes para o mar e intrusões vulcânicas próximodo limite entre crosta continental e crosta oceânica
Figure III.52 – Interpretation of the seismic section in the Sergipe sub-basin, showing pinch-out of syn-rift stratigraphic sequences in thedeep water region, and possible occurrence of seaward-dipping wedgesand volcanic intrusions near the continental-oceanic crust boundary
Figura III.51 – Seção sísmica na sub-Bacia de Sergipe, mostrandoseqüências estratigráficas associadas à fase sinrifte e pós-rifte eocorrência de expressivo refletor profundo na região a leste da quebrado talude continental
Figure III.51 – Seismic section in the Sergipe sub-basin, showing thesyn-rift and post-rift stratigraphic sequences and occurrence of expressivedeep seismic reflector in the region beyond the continental shelf break