bacia hidrografica s. francisco

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SÃO FRANCISCO CADERNO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA

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RECURSOS HIDRICOS

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  • SO FRANCISCO

    CADERNO DA REGIO HIDROGRFICA

    CADE

    RNO

    DA RE

    GIO

    HID

    ROGR

    FICA

    DO

    SO

    FRAN

    CISCO O primeiro nome do desenvolvimento sustentvel

    necessidade: necessrio manter o ambiente natural saudvel e seus aspectos ecolgicos. Essa ao necessria condio reclamada pelas transformaes a que tem sido submetido o mundo como um todo. A perturbao climtica ingressa no processo real (natural) e o perfaz mediante eventos drsticos que atestam a necessidade da preservao da vida, tornada exigncia planetria; anal, se verdade que a natureza obra divina, no menos verdade que sua preservao obra humana. Signica dizer que cuidar e proteger a natureza tarefa exclusivamente nossa.

    Nesse sentido, a Lei n. 9.433/1997 passou a reconhecer, de modo expresso, que a gua um recurso natural limitado, dotado de valor econmico.

    Ao lado dessa premissa maior denitivamente incorporada atual gesto das guas brasileiras, a Lei de guas declara tambm que a gua um bem de domnio pblico, e que a sua gesto deve ser descentralizada e contar com a participao do poder pblico, dos usurios e das comunidades, de modo a sempre proporcionar o uso mltiplo, racional e integrado, assegurando-se, pois, s presentes e futuras geraes sua necessria disponibilidade em padres de qualidade adequados aos respectivos usos, com vistas ao desenvolvimento sustentvel.

    Os clamores da lei so inequvocos ao buscar condutas racionais e procedimentos tecnolgicos compatveis com a necessidade de harmonizar as atividades humanas e a preservao do ambiente natural indispensvel ao desenvolvimento dessas mesmas atividades socioeconmicas. A noo prtica dessa necessidade no pode ter existncia seno a partir de concepes novas e inovadoras das condies de sustentabilidade e da gesto dos recursos hdricos que se vm construindo no Pas.

    O primeiro aspecto a se vericar, no entanto, que isoladamente as leis e os planos nem sempre podem tudo. Ou seja: nenhum plano ou lei jamais

    encontrar sua efetividade seno aps sua aceitao plena e, para tanto, necessrio envolvimento e participao social desde sua construo at sua implementao.

    Da a participao social e o compartilhamento estarem presentes de forma concreta e destacada tanto no processo de elaborao quanto de implementao do Plano Nacional de Recursos Hdricos PNRH, recentemente aprovado unanimidade pelo Conselho Nacional de Recursos Hdricos CNRH, congurando marco importante da atual Poltica Nacional de Recursos Hdricos.

    Ao ensejo, pois, da proclamao da Dcada Brasileira e Internacional da gua (2005-2015), o Ministrio do Meio Ambiente publica os 12 Cadernos Regionais, bem como os Cadernos Setoriais, que, alm de se terem constitudo em valiosos subsdios para a elaborao do Plano Nacional de Recursos Hdricos, do-nos conta de informaes relevantes acerca dos recursos hdricos cujos contedos so apresentados por Regio Hidrogrca, a saber: Amaznica, Tocantins-Araguaia, Atlntico Nordeste Ocidental, Parnaba, Atlntico Nordeste Oriental, So Francisco, Atlntico Leste, Atlntico Sudeste, Paran, Uruguai, Atlntico Sul e Paraguai.

    Nos Cadernos Setoriais, a relao da conjuntura da economia nacional com os recursos hdricos vem a pblico em levantamento singular, na medida em que foi obtida a partir de informaes sobre os vrios segmentos produtivos: a indstria e o turismo, o transporte hidrovirio, a gerao de energia, a agropecuria, alm de um caderno especco sobre o saneamento.

    Assim, com satisfao que ora apresentamos ao pblico os estudos em apreo, sendo certo que o acesso s informaes disponveis e sua ampla divulgao vm ao encontro do aprimoramento e consolidao dos mecanismos democrticos e participativos que conguram os pilares do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos SINGREH.

    Joo Bosco SenraSecretrio de Recursos Hdricos

    Ministrio do Meio Ambiente

    PNRHRealizao:

    Apoio: Patrocnio:

  • CADERNO DA REGIO HIDROGRFICA DO SO FRANCISCO

    MINISTRIO DO MEIO AMBIENTESECRETARIA DE RECURSOS HDRICOS

    BRASLIA DF

  • NOVEMBRO | 2006

    CADERNO DA REGIO HIDROGRFICA DO SO FRANCISCO

  • Secretaria de Recursos Hdricos do Ministrio do Meio AmbienteSGAN 601 Lote 1 Edifcio Sede da Codevasf 4o andar

    70830-901 Braslia-DFTelefones (61) 4009-1291/1292 Fax (61) 4009-1820

    www.mma.gov.br [email protected]://pnrh.cnrh-srh.gov.br [email protected]

    Catalogao na FonteInstituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    C122 Caderno da Regio Hidrogrca do So Francisco / Ministrio do Meio Ambiente, Secretaria de Recursos Hdricos. Braslia: MMA, 2006.

    148 p. : il. color. ; 27cm

    BibliograaISBN

    1. Brasil - Recursos hdricos. 2. Hidrograa. 3. Regio hidrogrca do So Francisco. I. Ministrio do Meio Ambiente. II. Secretaria de Recursos Hdricos. III. Ttulo.

    CDU(2.ed.)556.18

  • Repblica Federativa do Brasil

    Presidente: Luiz Incio Lula da SilvaVice-Presidente: Jos Alencar Gomes da Silva

    Ministrio do Meio AmbienteMinistra: Marina SilvaSecretrio-Executivo: Cludio Roberto Bertoldo Langone

    Secretaria de Recursos HdricosSecretrio: Joo Bosco Senra

    Chefe de Gabinete: Moacir Moreira da Assuno

    Diretoria de Programa de EstruturaoDiretor: Mrley Caetano de Mendona

    Diretoria de Programa de ImplementaoDiretor: Jlio Thadeu Silva Kettelhut

    Gerncia de Apoio Formulao da PolticaGerente: Luiz Augusto Bronzatto

    Gerncia de Apoio Estruturao do SistemaGerente: Rogrio Soares Bigio

    Gerncia de Planejamento e CoordenaoGerente: Gilberto Duarte Xavier

    Gerncia de Apoio ao Conselho Nacional de Recursos HdricosGerente: Franklin de Paula Jnior

    Gerncia de Gesto de Projetos de guaGerente: Renato Saraiva Ferreira

    Coordenao Tcnica de Combate DeserticaoCoordenador: Jos Roberto de Lima

    Coordenao da Elaborao do Plano Nacional de Recursos Hdricos (SRH/MMA)

    Diretor de Programa de EstruturaoMrley Caetano de Mendona

    Gerente de Apoio Formulao da PolticaLuiz Augusto Bronzatto

    Equipe TcnicaAdelmo de O.T. MarinhoAndr do Vale AbreuAndr PolAdriana Lustosa da CostaDaniella Azevdo de A. CostaDanielle Bastos S. de Alencar RamosFlvio Soares do NascimentoGustavo Henrique de Araujo EccardGustavo MeyerHugo do Vale ChristodisJaciara Aparecida RezendeMarco Alexandro Silva AndrMarco Jos Melo NevesPercy Baptista Soares NetoRoberto Moreira CoimbraRodrigo Laborne MattioliRoseli dos Santos SouzaSimone VendruscoloValdemir de Macedo VieiraViviani Pineli Alves

    Equipe de ApoioLucimar Cantanhede Verano Marcus Vincius Teixeira MendonaRosngela de Souza Santos

    Projetos de ApoioProjeto BID/MMA (Coordenador: Rodrigo Speziali de Carvalho)Projeto TAL AMBIENTAL (Coordenador: Fabrcio Barreto)Projeto BRA/OEA 01/002 (Coordenador: Moacir Moreira da Assuno)

    ConsultorFernando Antonio Rodriguez

  • Ficha Tcnica

    Projeto Grco / Programao Visual Projects Brasil Multimdia

    CapaArte: Projects Brasil Multimdia Foto: Codevasf - Altamiro de Pina (Negro dgua-Rio Sao Francisco-Juazeiro-BA)

    RevisoProjects Brasil Multimdia

    EdioProjects Brasil MultimdiaMyrian Luiz Alves (SRH/MMA)Priscila Maria Wanderley Pereira (SRH/MMA)

    ImpressoGramaq

  • 4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogrca

    Prefcio

    O Brasil um pas megadiverso e privilegiado em termos de disponibilidade hdrica, abrigando cerca de 12% das reservas

    mundiais de gua doce, sendo que, se considerarmos as guas provenientes de outros pases, esse ndice se aproxima de 18%.

    No entanto, apresenta situaes contrastantes de abundncia e escassez de gua, o que exige dos governos, dos usurios e da

    sociedade civil, cuidados especiais, organizao e planejamento na gesto de sua utilizao.

    Neste sentido, a elaborao do Plano Nacional de Recursos Hdricos PNRH congura importante marco para a consolidao

    do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos e, conseqentemente, para a gesto sustentvel de nossas guas.

    Ademais, seu estabelecimento atende aos compromissos assumidos pelo Brasil na Cpula Mundial de Joanesburgo (Rio+10), que

    apontou para a necessidade dos pases elaborarem seus planos de gesto integrada de recursos hdricos at 2005.

    A construo do PNRH contou com a participao de todos os segmentos envolvidos na utilizao de recursos hdricos e teve

    como pressupostos a busca do fortalecimento da Poltica Nacional de Recursos Hdricos, a promoo de um amplo processo de

    envolvimento e participao social, alm da elaborao de uma base tcnica consistente.

    Para subsidiar o processo de elaborao do PNRH, foram desenvolvidos diversos estudos, dentre eles documentos de caracteri-

    zao denominados Cadernos Regionais para cada uma das 12 Regies Hidrogrcas, denidas pela Resoluo do Conselho Na-

    cional de Recursos Hdricos n. 32/2003, que conguram a base fsico-territorial para elaborao e implementao do Plano.

    importante ressaltar a efetiva colaborao das Comisses Executivas Regionais - CERs, institudas por meio da Portaria

    n. 274/2004, integradas por representantes da Unio, dos Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos, dos usurios e organiza-

    es civis de recursos hdricos.

    Neste contexto, a ampla divulgao do CADERNO DA REGIO HIDROGRFICA DO SO FRANCISCO visa contribuir para a

    socializao de informaes, bem como para o aperfeioamento do PNRH, cujo processo contnuo, dinmico e participativo.

    Marina Silva

    Ministra do Meio Ambiente

  • Sumrio

    Apresentao ........................................................................................................................................................................13

    1 | Plano Nacional de Recursos Hdricos .....................................................................................................................................15

    2 | Concepo Geral ................................................................................................................................................................17

    3 | gua: Desaos Regionais ....................................................................................................................................................19

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogrca ..................................................................................................21

    4.1 | Caracterizao Geral da Regio Hidrogrca do So Francisco .............................................................................................21

    4.2 | Caracterizao das Disponibilidades Hdricas ....................................................................................................................36

    4.3 | Principais Biomas e Ecossistemas da Regio Hidrogrca ...................................................................................................54

    4.4 | Caracterizao do Uso e Ocupao do Solo ......................................................................................................................60

    4.5 | Eventos Crticos ..........................................................................................................................................................68

    4.6 | Evoluo Sociocultural .................................................................................................................................................72

    4.7 | Desenvolvimento Econmico Regional e os Usos da gua ...................................................................................................79

    4.8 | Histrico dos Conitos pelo Uso de gua ........................................................................................................................95

    4.9 | Implementao da Poltica de Recursos Hdricos e da Poltica Ambiental ............................................................................ 104

    5 | Anlise de Conjuntura ...................................................................................................................................................... 115

    5.1 | Principais Problemas de Eventuais Usos Hegemnicos da gua .......................................................................................... 115

    5.2 | Principais Problemas e Conitos pelo Uso da gua .......................................................................................................... 116

    5.3 | Vocaes Regionais e seus Reexos sobre os Recursos Hdricos ......................................................................................... 135

    5.4 | Plano de Revitalizao da Bacia ................................................................................................................................... 138

    6 | Concluses ..................................................................................................................................................................... 145

    Referncias ......................................................................................................................................................................... 147

  • 4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogrca

    Lista de Quadros

    Quadro 1 - Participao das Unidades da Federao na Regio Hidrogrca ......................................................................................28

    Quadro 2 - Populao na Regio Hidrogrca do So Francisco ......................................................................................................28

    Quadro 3 - Nveis de diviso das regies hidrogrcas da Bacia do Rio So Francisco para efeito de planejamento e gesto ....................29

    Quadro 4 - Principais caractersticas hidroclimticas da Regio Hidrogrca do So Francisco .............................................................31

    Quadro 5 - Principais caractersticas fsicas da Bacia ...................................................................................................................33

    Quadro 6 - Situaes dos municpios da Regio Hidrogrca, por Estado, segundo os ndices de indigncia ..........................................34

    Quadro 7 - Principais caractersticas socioeconmicas e ambientais da Regio Hidrogrca ................................................................35

    Quadro 8 - Disponibilidade de gua na Regio Hidrogrca do So Francisco em relao ao Brasil .......................................................37

    Quadro 9 - Determinao das disponibilidades hdricas .................................................................................................................37

    Quadro 10 - Descrio dos elementos de representao do sistema hdrico da Regio Hidrogrca .......................................................38

    Quadro 12 - Disponibilidade hdrica por trechos .........................................................................................................................42

    Quadro 13 - Disponibilidade hdrica na Bacia ..............................................................................................................................47

    Quadro 14 - Pontos de coleta e densidade do trabalho feito pela Feam e Igam para o Estado Minas Gerais na Bacia do Rio So Francisco ...... 49

    Quadro 15 - Fontes de poluio e principais indicadores e aes necessrias para seu controle no rio So Francisco (da nascente at a foz) .. 50

    Quadro 16 - Usos da gua na Bacia do Rio Maranho, por setor econmico ......................................................................................61

    Quadro 17 - Distribuio da superfcie irrigada na Regio Hidrogrca do So Francisco por Sub 1 e mtodos utilizados (2000) ...............64

    Quadro 18 - ndices de cobertura dos servios de saneamento na Bacia ..........................................................................................78

    Quadro 19 - Investimentos exclusivos e no exclusivos na Bacia (2004-2007) ..................................................................................84

    Quadro 20 - Vazes mdias de retirada, consumo e retorno por unidades Sub 1 ................................................................................86

    Quadro 21 - Demandas por Sub-bacias que integram a diviso Sub 2 ..............................................................................................86

    Quadro 22 - Disponibilidade e demanda de recursos hdricos na Regio Hidrogrca do So Francisco ..................................................88

    Quadro 23 - Balano entre demanda (vazo de retirada) e disponibilidade hdrica supercial e subterrnea (acumulada) ........................89

    Quadro 24 - Balano entre as demandas totais pela vazo mdia acumulada para regio Sub 2 da Regio Hidrogrca do So Francisco ....90

    Quadro 25 - Desenvolvimento hidroagrcola da Bacia do So Francisco (*1.000 ha) ........................................................................ 134

  • Lista de Figuras

    Figura 1 - Caracterizao da Regio Hidrogrca So Francisco ......................................................................................................22

    Figura 2 - Provncias hidrogeolgicas do Brasil ...........................................................................................................................24

    Figura 3 - Hidrogeologia da Regio Hidrogrca So Francisco .......................................................................................................26

    Figura 5 - Unidades hidrogrcas de referncia e diviso siogrca da Regio Hidrogrca do So Francisco .......................................30

    Figura 6 - Regio semi-rida na Bacia .......................................................................................................................................32

    Figura 7 - Vazes especcas da Regio Hidrogrca do So Francisco ............................................................................................40

    Quadro 11 - Disponibilidade de recursos hdricos superciais na Regio Hidrogrca So Francisco por Sub 2 .......................................41

    Figura 8. Vazes naturais, regularizadas e por trechos ..................................................................................................................42

    Figura 9 - Provncias hidrogeolgicas da Regio Hidrogrca do So Francisco em relao sua malha hidrogrca ...............................43

    Figura 10 - Vazes mdias e especcas para poos na Provncia So Francisco ................................................................................44

    Figura 11 - Mapa Potenciomtrico do Aqfero Urucuia na Sub-bacia do Rio das Fmeas ....................................................................46

    Figura 12 - Proposta de enquadramento da Bacia do So Francisco, por regio siogrca realizado pela ANA/GEF/Pnuma/OEA (2004) .....48

    Figura 13 - Rede de monitoramento da qualidade da gua nas regies siogrcas da Bacia (Sub 1) ....................................................49

    Figura 14 - Situao da qualidade das guas da Bacia do Rio So Francisco .....................................................................................52

    Figura 15 - Relao entre carga orgnica de esgoto domstico e carga assimilvel por diluio ao longo do rio So Francisco .................53

    Figura 16 - Cobertura vegetal da Bacia do Rio So Francisco .........................................................................................................55

    Figura 17 - Situao ambiental da Regio Hidrogrca do So Francisco .........................................................................................58

    Figura 18 - Uso da terra na Regio Hidrogrca do So Francisco por suas unidades Sub 1 .................................................................67

    Figura 19 - Municpios da Bacia do Rio So Francisco com registro de enchentes (cheias) PNSB/IBGE/2000 .......................................69

    Figura 20 - Polgono da secas em relao Regio Nordeste e a Regio Hidrogrca So Francisco e distribuio da incidncia de secas na regio ...71

    Figura 21 - Evoluo das vazes de retirada, retorno e consumo montante de Xing, entre 1931 e 2001 ............................................85

    Figura 22 - Distribuio das vazes de retirada e de consumo entre os usos consuntivos na Bacia .......................................................87

    Figura 23 - Vazo de retirada (demanda) e vazes ao longo do rio So Francisco ..............................................................................89

    Figura 24 - Balano Hidrogrco da Regio do Rio So Francisco ...................................................................................................92

    Figura 25 - Disponibilidades de gua supercial na Regio Hidrogrca do So Francisco mostrada por Sub 1 .......................................93

    Figura 26 - Condicionantes para o aproveitamento da gua na Bacia ..............................................................................................94

    Figura 27 - Situao da ocupao e uso do solo da Sub-bacia do Rio das Fmeas em 2001 acompanhado da visualizao de sua rede de drenagem ...97

    Figura 28 - Trecho eutrozado do Rio Verde Grande prximo ao Municpio de Jaba MG (2003) ....................................................... 100

    Figura 29 - Trecho do Rio Verde Grande no perodo seco de estiagem em 2003. At aquele ano, no havia registro deste trecho

    ter cado completamente seco ...............................................................................................................................................100

    Figura 30 - Conitos pelo uso da gua na Regio Hidrogrca do So Francisco ............................................................................. 103

    Figura 31 - Aspectos institucionais da Bacia ............................................................................................................................. 111

    Figura 32 - Cadeia causal conito de usos de gua na Bacia ....................................................................................................... 117

  • Lista de Figuras

    Figura 33 - Cadeia causal falta de articulao institucional ...................................................................................................... 119

    Figura 34 - Cadeia causal insucincia da gua para usos mltiplos ........................................................................................... 121

    Figura 35 - Foto mostrando os bancos de areia no Baixo So Francisco, extrada do Relatrio do Sub Projeto 1.1.A. GEF So Francisco ... 123

    Figura 36 - Cadeia causal da modicao degradatria do ecossistema aqutico ............................................................................. 124

    Figura 37 - Cadeia causal fontes de poluio pontual e difusa ..................................................................................................... 126

    Figura 38 - Cadeia causal da modicao do uso e ocupao inadequada do solo ........................................................................... 128

    Figura 39 - Cadeia causal explorao desordenada da gua subterrnea, dissociada da Supercial ................................................... 130

    Figura 40 - Cadeia Causal Diculdades Navegao ................................................................................................................ 132

    Figura 41 - Vocao regional da Bacia ..................................................................................................................................... 137

    Figura 42 - Estrutura do Programa de Revitalizao da Bacia do Rio So Francisco .......................................................................... 140

  • Lista de Figuras

    AHSFRA Administrao da Hidrovia do So Francisco

    ANA Agncia Nacional de guas

    Aneel Agncia Nacional de Energia Eltrica

    BHSF Bacia Hidrogrca do Rio So Francisco

    Casal Companhia de Abastecimento de gua e Saneamento do

    Estado de Alagoas

    CBHSF Comit da Bacia Hidrogrca do Rio So Francisco

    CCPE Comit de Coordenao do Planejamento da Expanso do

    Sistema Eltrico

    Cemig Companhia Energtica de Minas Gerais

    Cepal Comisin Econmica para Amrica Latina e Caribe

    CER Comisso Executiva da Regio Hidrogrca do So Francisco

    Certoh Certicado de Avaliao da Sustentabilidade da Obra

    Hdrica

    CHESF Companhia Hidroeltrica do So Francisco

    CNRH Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    Codevasf Companhia de Desenvolvimento dos Vales do So

    Francisco e do Parnaba

    Compesa Companhia Pernambucana de Saneamento

    Conama Conselho Nacional de Meio Ambiente

    Copasa Companhia de Saneamento de Minas Gerais

    Ceptec Centro de Previso e Estudos Climticos

    DAB Diagnstico Analtico da Bacia

    DBO Demanda Bioqumica de Oxignio

    Deso Companhia de Saneamento de Sergipe

    DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral

    Embasa Empresa Baiana de guas e Saneamento

    Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    ETE Estao de Tratamento de Esgoto

    ETR Evapotranspirao

    Fundaj Fundao Joaquim Nabuco

    GEF Fundo para o Meio Ambiente Mundial

    GRH-UFBA Grupo de Recursos Hdricos da Universidade Federal

    da Bahia

    Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

    Naturais Renovveis

    IBGE Instituto Brasileiro de Geograa e Estatstica

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    IPH Instituto de Pesquisas Hidrulicas

    Lista de Siglas

    MI Ministrio da Integrao Nacional

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    MME Ministrio de Minas e Energia

    MP Ministrio Pblico

    OEA Organizao dos Estados Americanos

    OGE Oramento Geral do Estado

    OGU Oramento Geral da Unio

    ONS Operador Nacional do Sistema Eltrico

    PAE Programa de Aes Estratgicas para o Gerenciamento

    Integrado da Bacia do Rio So Francisco e da sua Zona Costeira

    PBHSF Plano Decenal de Recursos Hdricos da Bacia

    Hidrogrca do Rio So Francisco

    Planvasf Programa de Desenvolvimento Integrado do Vale So

    Francisco

    PNMT Programa Nacional de Municipalizao do Turismo

    PNRH Plano Nacional de Recursos Hdricos

    PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico

    PNUMA Programa das Naes para o Meio Ambiente

    PPA Plano Plurianual

    Probio Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da

    Diversidade Biolgica Brasileira

    Prodes Programa de Despoluio de Bacias Hidrogrcas

    Pror Programa de Financiamento da Irrigao

    Proine Programa de Irrigao do Nordeste

    Provrzeas Programa de Aproveitamento de Vrzeas

    Proni Programa Nacional de Irrigao

    RMBH Regio Metropolitana de Belo Horizonte

    Saneago Saneamento de Gois

    Seap/PR Secretaria Especial de Aqicultura e Pesca da

    Presidncia da Repblica

    SIGREHI Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hdricos

    SIN Sistema Interligado Nacional

    Sindec Sistema Nacional de Defesa Civil

    SNIS Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento

    SRH/MMA Secretaria de Recursos Hdricos do Ministrio do

    Meio Ambiente

    UFRS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    USP Universidade de So Paulo

  • Este documento tem por base os estudos regionais de-

    senvolvidos para subsidiar a elaborao do Plano Nacio-

    nal de Recursos Hdricos - PNRH.

    Os Cadernos das Regies Hidrogrcas so estudos vol-

    tados para o estabelecimento de um Diagnstico Bsico e de

    uma Viso Regional dos Recursos Hdricos de cada uma das

    12 Regies Hidrogrcas Brasileiras, destacando-se seu for-

    te carter estratgico.

    Dentro dos trabalhos do PNRH, cada Caderno de Regio

    Hidrogrca apresenta estudos retrospectivos, avaliao de

    conjuntura, e uma proposio de diretrizes e prioridades re-

    gionais. Para consubstanciar estes produtos, os documentos

    trazem uma anlise de aspectos pertinentes insero ma-

    crorregional da regio estudada, em vista das possveis arti-

    culaes com regies vizinhas.

    A elaborao deste caderno partiu de um diagnstico para

    denio da situao dos recursos hdricos da Bacia do Rio

    So Francisco e seu papel no desenvolvimento sustentvel des-

    sa Regio Hidrogrca, e do Documento de Referncia do Pla-

    no Nacional de Recursos Hdricos PNRH de novembro 2003,

    como suporte elaborao do Plano Nacional de Recursos H-

    dricos conforme determina a Lei Federal n. 9433/1997.

    O Plano Decenal de Recursos Hdricos Bacia Hidrogrca

    do Rio So Francisco PBHSF elaborado em 2004, foi capaz

    de atender a essa Lei e s Resolues no 12 (de 19 de julho

    de 2000), no 17 (de 29 de maio de 2001) e no 22 (de 24 de

    maio de 2002) do Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    CNRH, aos requisitos legais e administrativos dos Estados

    que fazem parte da Bacia, bem como ao Comit da Bacia

    Hidrogrca do Rio So Francisco CBHSF, atendendo sua

    Resoluo no 3, de 03 de outubro de 2003.

    A Bacia est bem estudada desde os seus primrdios com

    as instituies que nela atuaram como CVSF e Suvale ante-

    cessoras da Codevasf, cuja marca maior foi o PLANVASF, e

    mais recentemente com proposies bem atuais e concretas,

    com a insero de uma moderna abordagem contida no diag-

    nstico analtico DAB, feito pela ANA/GEF/Pnuma/OEA

    dentro do Projeto de Gerenciamento Integrado das Ativida-

    des Desenvolvidas em terra na Bacia do Rio So Francisco,

    como resultado de 29 estudos e projetos demonstrativos, ela-

    borado no perodo de 1998 a 2003.

    Com base nesse diagnstico foi desenvolvido o Progra-

    ma de Aes Estratgicas para o Gerenciamento Integrado

    da Bacia do So Francisco e da sua Zona Costeira PAE

    (2003), que props um programa de ao de curto prazo

    voltado para a soluo de conitos e para a revitalizao da

    Bacia e sua zona costeira. Esse programa reexo dos re-

    sultados da participao consultiva de todos os interessados

    mais representativos da Bacia.

    Nesse processo de enriquecimento do conhecimento da Ba-

    cia e de proposies para o desenvolvimento sustentvel de

    seus recursos hdricos foi concebido o Plano Decenal de Re-

    cursos Hdricos da Bacia do So Francisco PBHSF (2004-

    2013) que visou estabelecer e viabilizar, por meio de uma

    agenda transversal entre rgos da administrao pblica,

    um conjunto de aes regulatrias e programas de investi-

    mentos, que esto analisados e incorporados neste Caderno

    com contemplao de alguns aspectos e eventos que ocorre-

    ram aps a sua concluso e apreciao pelo Comit de Bacia

    Hidrogrca do Rio So Francisco aps abril de 2004.

    Este caderno est dividido em seis captulos. O primeiro

    aborda a contextualizao quanto ao processo do PNRH e

    como este caderno regional se insere nesse contexto. O segun-

    do se refere concepo metodolgica que orientou a prepa-

    rao deste caderno. O terceiro contextualiza os desaos da

    disponibilizao de gua no mbito regional para os mlti-

    plos usos. O quarto oferece um panorama da regio estudada,

    enfocando as potencialidades e os conseqentes comprometi-

    mentos e restries dos recursos ambientais principalmente a

    gua, analisados quanto ao desenvolvimento da regio.

    O quinto avalia o quadro dos usos dos recursos hdricos

    luz do panorama apresentado no captulo 4, por meio de

    Apresentao

  • uma anlise de conjuntura das questes relacionadas aos re-

    cursos hdricos e sua contribuio para o desenvolvimento

    sustentvel da Regio Hidrogrca para orientar as possveis

    necessidades de aperfeioamento do processo de gesto. O

    sexto captulo traz as concluses dos estudos.

    Conforme as diretrizes para a elaborao do Plano Nacio-

    nal de Recursos Hdricos (CNRH, 2000), mais importante

    do que se contar imediatamente com todas as informaes

    necessrias ao PNRH, com o nvel de preciso desejvel,

    programar a sua elaborao de forma a obter aperfeio-

    amentos progressivos, indicando-se sempre a necessidade

    de obteno de melhores dados. Nesse contexto, os Ca-

    dernos Regionais apresentam informaes mais detalhadas

    do que aquelas constantes da primeira verso do PNRH

    (2006), que serviro de subsdio s revises peridicas do

    Plano, previstas na resoluo CNRH n.o 58/2006. Tambm

    a integrao de bancos de dados das diversas instituies

    geradoras de informaes, conforme suas respectivas com-

    petncias, conduzir a um progressivo renamento e har-

    monizao dessas informaes, a serem incorporadas nas

    sucessivas reedies do PNRH.

  • 15

    1 | Plano Nacional de Recursos Hdricos

    A Lei n 9.433/1997 criou o Sistema Nacional de Geren-

    ciamento de Recursos Hdricos SINGREH e estabeleceu

    os instrumentos da Poltica Nacional de Recursos Hdricos,

    entre os quais se destacam os Planos de Recursos Hdricos,

    de nidos como planos diretores que visam a fundamentar

    e orientar a implementao da Poltica Nacional de Recur-

    sos Hdricos e o Gerenciamento dos recursos hdricos (art.

    6), devendo ser elaborados por bacia hidrogr ca (Plano

    de Bacia), por Estado (Planos Estaduais) e para o Pas (Pla-

    no Nacional), conforme o art. 8o da referida lei. O Plano

    Nacional de Recursos Hdricos PNRH, constitui-se em

    um planejamento estratgico para o perodo de 2005-2020,

    que estabelece diretrizes, metas e programas, pactuados so-

    cialmente por meio de um amplo processo de discusso,

    que visam assegurar s atuais e futuras geraes a necessria

    disponibilidade de gua, em padres de qualidade adequa-

    dos aos respectivos usos, com base no manejo integrado

    dos Recursos Hdricos.

    O PNRH dever orientar a implementao da Poltica

    Nacional de Recursos Hdricos, bem como o Gerenciamen-

    to dos Recursos Hdricos no Pas, apontando os caminhos

    para o uso da gua no Brasil. Dada a natureza do PNRH,

    coube SRH/MMA, a coordenao para a sua elaborao

    (Decreto n 4.755 de 20 de junho de 2003, substitudo pelo

    Decreto n.o 5776, de 12 de maio de 2006).

    O Plano encontra-se inserido no PPA 2004-2007 e con-

    gura-se como uma das prioridades do Ministrio do Meio

    Ambiente e do Governo Federal. Cabe ressaltar o carter

    continuado que deve ser conferido a esse Plano Nacional de

    Recursos Hdricos, incorporando o progresso ocorrido e as

    novas perspectivas e decises que se apresentarem.

    Com a atribuio de acompanhar, analisar e emitir pare-

    cer sobre o Plano Nacional de Recursos Hdricos, foi criada,

    no mbito do Conselho Nacional de Recursos Hdricos, a

    Cmara Tcnica do PNRH CTPNRH/CNRH, por meio da

    Resoluo CNRH n 4, de 10 de junho de 1999. Para prover

    a necessria funo executiva de elaborao do PNRH, a

    CTPNRH/ CNRH criou o Grupo Tcnico de Coordenao

    e Elaborao do Plano GTCE/PNRH, composto pela Se-

    cretaria de Recursos Hdricos SRH/MMA e pela Agncia

    Nacional de guas ANA. O GTCE/PNRH con gura-se,

    portanto, como o Ncleo Executor do PNRH, assumindo a

    funo de suporte sua execuo tcnica.

    A base fsico-territorial utilizada pelo PNRH segue as di-

    retrizes estabelecidas pela Resoluo CNRH n 30, de 11 de

    dezembro de 2002, adota como recorte geogr co para seu

    nvel 1 a Diviso Hidrogr ca Nacional, estabelecida pela

    Resoluo CNRH n 32, de 15 de outubro de 2003, que

    de ne 12 regies hidrogr cas para o Pas.

    No mbito das 12 Regies Hidrogr cas Nacionais foi

    estabelecido um processo de discusso regional do PNRH.

    Essa etapa fundamentalmente baseada na estruturao de

    12 Comisses Executivas Regionais CERs, na realizao

    de 12 Seminrios Regionais de Prospectiva e de 27 Encon-

    tros Pblicos Estaduais. As CERs, institudas atravs da Por-

    taria Ministerial n 274, de 4 de novembro de 2004, tm a

    funo de auxiliar regionalmente na elaborao do PNRH,

    bem como participar em suas diversas etapas.

    Sua composio obedece a um equilbrio entre represen-

    tantes dos Sistemas Estaduais de Gerenciamento de Recur-

    sos Hdricos, dos segmentos usurios da gua, das organi-

    zaes da sociedade civil e da Unio.

    O processo de elaborao do PNRH baseou-se num con-

    junto de discusses, informaes tcnicas que amparam o

    processo de articulao poltica, proporcionando a conso-

    lidao e a difuso do conhecimento existente nas diversas

    organizaes que atuam no Sistema Nacional e nos Sistemas

    Estaduais de Gerenciamento de Recursos Hdricos.

  • Foto: Codevasf/Altamiro de Pina (Barragem de Sobradinho, Petrolina-PE)

  • 17

    2 | Concepo Geral

    Na elaborao deste documento foi levantado todo o

    acervo de estudos e trabalhos mais atualizados bem como

    procurou-se aproveitar todo o conhecimento dos integran-

    tes da CER, numa perfeita interao com o CBHSF, lanan-

    do-se num amplo processo de debates interativos.

    Dessa anlise procurou-se enfocar os lados mais crticos e

    efetivos de acordo com a viso do Comit de Bacia Hidro-

    gr ca do Rio So Francisco CBHSF aps a elaborao do

    Plano Decenal de Recursos Hdricos da Bacia do Rio So

    Francisco (2004-2013) PBHSF; as iniciativas do Minis-

    trio Pblico Rio da Integrao Nacional So Francisco:

    a Bacia Hidrogr ca como unidade para a atuao minis-

    terial; a criao de Coordenaria Interestadual, do poder le-

    gislativo; a atuao da Comisso Interestadual Parlamentar

    de Estudos para o Desenvolvimento Sustentvel da Bacia

    do Rio So Francisco (CIPE So Francisco); os avanos do

    projeto de integrao das guas do rio So Francisco com as

    do Nordeste Setentrional, do Programa de Revitalizao da

    Bacia do Rio So Francisco; e do Plano Estadual de Recur-

    sos Hdricos do Estado da Bahia.

    O documento de referncia foi o PBHSF por ter de nido

    uma agenda para a Bacia Hidrogr ca, identi cando aes

    de gesto, programas, projetos, obras e investimentos

    prioritrios, num contexto que incluiu os rgos governa-

    mentais, a sociedade civil, os usurios e as diferentes ins-

    tituies que participam do gerenciamento dos recursos

    hdricos, de modo a contribuir com o desenvolvimento

    sustentvel da Bacia.

    Este Caderno espelha o estado atual da Bacia com suas

    proposies e desa os, diante de uma anlise de sua agen-

    da previamente de nida, por isso foi imprescindvel ou-

    vir-se os Conselhos Estaduais, os Comits de Bacia e ou-

    tros atores identi cados durante as reunies da CER e do

    Seminrio Regional.

    imprescindvel destacar a efetiva e pronta participao

    dos membros da CER que por escrito apresentaram suas

    crticas, sugestes e contribuies para o aperfeioamento

    deste Caderno.

  • Foto: Codevasf/Jos Luiz de Oliveira (Lavadeiras no So Francisco, Pirapora-MG)

  • 19

    3 | gua: Desa os Regionais

    Esta Bacia um dos bons exemplos onde se pratica todo o

    tipo de uso possvel da gua, extensa e complexa, drenan-

    do sete Unidades da Federao, entre elas parte do Distrito

    Federal, todas autnomas, que exige um modelo de gesto

    de muita interao, integrao e negociao para que a gua

    no venha se constituir em fator restritivo ao desenvolvi-

    mento sustentvel dessa importante regio do Pas.

    A gua do So Francisco representa cerca de 2/3 da disponibili-

    dade de gua doce do Nordeste brasileiro segundo o Projeto ri-

    das (1995), da sua importncia e as presses a que est sujeito.

    No m dos anos 1990, j haviam desaparecido 66% das

    matas originais na Bacia do Rio So Francisco e a reduo da

    produo pesqueira no Baixo So Francisco em 90% devido

    aos sucessivos barramentos no curso do rio. Alm do des-

    matamento, trs fatores exercem presso sobre a qualidade

    da gua: a crescente urbanizao, a expanso da indstria e

    a mecanizao da agricultura.

    De acordo com o estudo de Fernando Snchez Albavera,

    diretor da diviso de recursos naturais e infra-estrutura da

    Cepal, a con uncia desses fatores leva exigncia de maior

    cobertura dos servios pblicos de saneamento e aumenta

    a necessidade de substncias qumicas para tratamento da

    gua. A baixa capacidade de investimento dos governos da

    regio, no entanto, compromete aes voltadas para melho-

    rar a qualidade da gua.

    Desde o PBHSF se incluiu a sustentabilidade ambiental

    dentro de suas metas, por meio do acolhimento da trans-

    versalidade dos temas ambientais em suas intersees com

    a gesto dos recursos hdricos.

    Nesse sentido, o PBHSF que incorporou os componentes

    do Programa de Revitalizao da Bacia do Rio So Francisco

    concedeu ateno especial ao uso sustentvel dos recursos

    hdricos e recuperao ambiental da Bacia1, abrigando, en-

    tre outras, aes de conservao e recuperao da ictiofauna

    e biodiversidade; aes de manejo orestal, recomposio

    vegetal, preservao de vegetao remanescente; controle e

    reduo de riscos de contaminao de guas devido a ati-

    vidades de minerao; controle e manejo de sedimentos;

    ordenamento das atividades de extrao de areia e garimpo.

    O apoio s prticas conservacionistas de manejo do solo

    tambm foi considerado. Por m, a sustentabilidade hdri-

    ca do semi-rido, tanto no que respeita ao abastecimento

    de gua de populaes rurais, como a acumulao de gua

    para suporte as atividades econmicas.

    Isto mostra que do ponto de vista da preocupao com a

    sustentabilidade dos corpos de gua e dos instrumentos ne-

    cessrios ao planejamento da gesto dos recursos hdricos

    e do uso do solo o Pas est bem capacitado, mas, quanto a

    sua implementao, as limitaes de recursos e mesmo ins-

    titucionais, se mostra extremamente sem fora, ainda mais

    quando se coloca como uma Bacia estratgica, potencial-

    mente doadora de gua para outras regies.

    Diante dessas restries, torna inevitvel a cobrana pelo

    uso da gua tirada dos rios e mananciais que integram a Ba-

    cia. A cobrana pelo uso da gua plenamente defensvel,

    mas deve ser inserida dentro de um conjunto de aes. Alm

    da recuperao de matas ciliares e investimentos maiores

    em tratamento de esgoto, sendo, portanto, imperativo esta-

    belecer um sistema de pactuao com a sociedade civil, as

    instituies federais envolvidas e os governos das Unidades

    Federadas que integram a Bacia. Alm disso, necessrio se

    estabelecer um competente sistema de scalizao em que

    os usurios sejam parte efetiva do mesmo.

    1 A Lei no 9.433/1997 reconhece a importncia e a especi cidade dos recursos hdricos, criando um sistema independente para o seu gerenciamento em atendimento ao disposto na Constituio Federal de 1988. Entretanto, as interfaces com o Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA so claras, especialmente no que se refere ao controle da quali-dade das guas, evidenciando a necessidade de integrao.

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    20

    A pactuao est intimamente relacionada com a harmo-

    nizao das vazes, a alocao e a outorga, o que demanda

    um forte e claro entendimento entre as partes, e ela im-

    plica na celebrao do Convnio de Gesto Integrada en-

    tre a Unio e os Estados da Bacia, com a intervenincia do

    CBHSF constituindo-se na mais importante atividade, pois

    permitir o equacionamento, em bases comuns, de temas

    centrais para a gesto dos recursos hdricos na Bacia (a alo-

    cao de gua, a descentralizao da gesto, a scalizao

    e a cobrana). O Pacto da gua permitir compatibilizar

    demanda e disponibilidade e, assim, promover o desenvol-

    vimento sustentvel.

    Esse Pacto da gua proposto ser, portanto, um grande

    acordo envolvendo a Unio, os entes federados e o Comit

    da Bacia. Nesse acordo, cada um dos seis Estados e o DF de-

    vero se comprometer com uma condio mnima de qua-

    lidade e quantidade para a entrega de gua dos a uentes,

    sob sua jurisdio, no rio So Francisco, cabendo Unio a

    gesto das guas sob seu domnio. O pacto das guas reco-

    mendado pelo PBHSF , portanto, um instrumento relevan-

    te e imprescindvel gesto dos recursos hdricos da Bacia,

    mas ele, alm de bem embasado tecnicamente, tem que ver

    respeitados os princpios federativos, sem impor solues

    de cima para baixo.

    O pacto das guas s poder ser efetivado depois de con-

    cludo o cadastro, revista as outorgas concedidas e estabe-

    lecidos os critrios de retorno e das vazes asseguradas que

    os tributrios devero verter na calha principal.

    Nunca demais ressaltar o que j foi observado pelo

    PBHSF do qual o Comit da Bacia a massa crtica e base

    decisria do Sistema Integrado de Gerenciamento de Re-

    cursos Hdricos e o ambiente para a participao, negocia-

    o e busca do consenso, que so imperativos elaborao

    e implementao do Plano.

  • 21

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    A caracterizao desta Bacia estratgica para o desenvol-

    vimento de importantes regies brasileiras feita de modo a

    focar a questo dos recursos hdricos e os diversos recursos

    naturais necessrios ao seu desenvolvimento sustentvel

    por intermdio de suas inter-relaes com todo o processo

    evolutivo de ocupao da Regio Hidrogr ca, que abor-

    dada no item 4.6.

    A base da caracterizao aqui apresentada foi do PBHSF,

    acrescida de aclaramentos ou sugestes emanadas da CER.

    4.1 | Caracterizao Geral da Regio Hidrogr ca do So

    Francisco

    Essa regio se situa entre as coordenadas 717 a 2050

    de latitude sul e 3615 a 4739 de longitude oeste e for-

    mada por diversas Sub-bacias que desguam no rio So

    Francisco, e este por sua vez no oceano Atlntico, em divisa

    com os Estados de Alagoas e Sergipe.

    Apresenta 638.323km (8% do territrio nacional),

    abrange 503 Municpios (e parte do Distrito Federal,

    1.277km2 representando 0,2% da Bacia) e sete Unidades

    da Federao: Bahia (307.794km2, 48,2%), Minas Gerais

    (235.635km2 , 36,9%), Pernambuco (68.966km2, 10,8%),

    Alagoas (14.687km2, 2,3%), Sergipe (7.024km2, 1,1%) e

    Gois (3.193km2, 0,5%).

    Essa Regio Hidrogr ca est dividida em quatro regies

    siogr cas, que constituem as Sub 1 na base do PNRH: So

    Francisco Alto; So Francisco Mdio; So Francisco Sub-M-

    dio; e, So Francisco Baixo conforme mostrado na Figura 1.

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    22

    Figura 1 - Caracterizao da Regio Hidrogr ca So Francisco

  • 23

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    Geologia da Regio Hidrogr ca

    A Bacia do Rio So Francisco est constituda por vrias uni-

    dades litoestratigr cas e estruturais, que compem a geologia

    da regio, desde o Pr-Cambriano Indiferenciado at os sedi-

    mentos e coberturas inconsolidadas do Quaternrio.

    As rochas mais antigas do Pr-Cambriano fazem parte

    do escudo brasileiro, representados por rochas gneas de

    alto grau de metamor smo, que se encontram principal-

    mente nas partes nordeste e leste da Bacia. Para melhor

    compreenso da geologia, as unidades litoestratigr cas

    foram analisadas regionalmente, por regies siogr cas

    (Sub 1) da seguinte forma.

    Alto So Francisco

    A maior parte desta rea compreendida desde as nascen-

    tes do rio So Francisco at a altura da localidade de Pirapo-

    ra e Montes Claros (MG), est representada em grande parte

    pelas rochas mais antigas do Pr-Cambriano Indiviso (P) e

    em menor proporo; pelas rochas calcrias do Grupo Bam-

    bu (PAb) distribudas por toda a rea.

    Com menor representao e situadas na parte oeste,

    encontram-se rochas das Formaes Cretceas da Mata

    da Corda (kmc) e Areado (Ka) entre os rios Paracatu e

    So Francisco.

    Por outra parte os sedimentos Tercirios-Quaternrios

    (TQ) encontram-se distribudos irregularmente e com me-

    nor representatividade, principalmente na parte central e

    noroeste desta rea, na parte aluvional dos rios Paracatu,

    So Francisco e das Velhas.

    Mdio So Francisco

    Este trecho compreende a maior parte da Bacia, e est

    representada predominantemente por rochas cristalinas do

    Pr-Cambriano e rochas calcrias do Grupo Bambu (PAb)

    ocupando geralmente a parte centro e leste da mesma. J na

    parte oeste e sul, a predominncia dos arenitos Cretcicos

    da Formao Urucuia (Ku).

    As rochas calcrias do Grupo Bambu (PAb), ostentam

    uma representao signi cativa nesta rea, junto com as ro-

    chas carbonatadas da Formao Salitre (PAst), estas porm,

    em menor escala, ocupam a parte norte e leste da rea.

    Outras formaes presentes so os sedimentos Tercirios-

    Quaternrios (TQ) de coberturas detrticas inconsolidadas,

    que ocupam a parte norte e sudoeste deste trecho.

    Sub-Mdio So Francisco

    Nesta regio, compreendida entre o reservatrio de So-

    bradinho (Remanso) e Paulo Afonso, o domnio das ro-

    chas gneas e metamr cas do Pr-Cambriano Indiferen-

    ciado (P) com algumas reas de ocorrncias dos calcrios

    do Grupo Bambu (PEAb) e dos calcrios Quaternrios da

    Formao Caatinga na margem direita do So Francisco.

    As coberturas Tercirias-Quaternrias ocupam a parte

    norte e sudoeste. Por outro lado, a regio norte constitu-

    da pela Chapada do Araripe, onde ocorrem localmente os

    arenitos cretcicos da Formao Exu e os siltitos e folhelhos

    calcferos da Formao Santana.

    J nas proximidades de Paulo Afonso, na margem direita

    do So Francisco, observa-se uma grande rea de Formao

    Mariza, constituda de arenitos Cretcicos que fazem parte

    da regio conhecida como o Raso da Catarina.

    Do outro lado, na margem esquerda, existem ocorrn-

    cias das coberturas detrticas Tercirias-Quaternrias (TQ),

    acompanhadas por unidades Siluro-Devonianas da Forma-

    o Taracatu (SDt).

    Por outra parte, e em ambas as margens capeando ro-

    chas mais antigas, encontram-se as Formaes Jurssicas do

    Grupo Brotas e Formao Aliana, e as Formaes Cretci-

    cas do Grupo Ilha e Formao Candeias.

    Baixo So Francisco

    Mais de 80% do trecho compreendido entre Paulo Afonso

    e Prpria esto representadas por rochas do Pr-Cambriano

    Indiviso (P) sendo que os 20% restantes, distribudos de

    Prpria at a Foz, se encontram representados por rochas

    Cretceas do sub-Grupo Coruripe Indiviso (Kco); da mes-

    ma forma e em igual proporo (10%), que os depsitos

    inconsolidados do Quaternrio (Q). Finalmente os 10%

    restantes, esto constitudos pelos sedimentos Tercirios-

    Quaternrios da Formao Barreiras (TQb).

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    24

    Provncias hidrogeolgicas

    Os grandes sistemas aqferos do Pas foram classi -

    cados em dez Provncias e 13 Sub-Provncias hidrogeo-

    lgicas, em funo de suas caractersticas prprias cuja

    representao encontra-se publicada pelo Departamento

    Nacional da Produo Mineral DNPM / Ministrio das

    Minas e Energias MME no Mapa Hidrogeolgico do

    Brasil, 1983. A Figura 2 uma modi cao simpli cada

    desse mapa, onde se pode ver a distribuio espacial des-

    ses principais sistemas no Brasil.

    Figura 2 - Provncias hidrogeolgicas do Brasil

    Fonte: www.mma.gov.br/port/srh/pas/aguassub/agbrasil.html

    As trs grandes reservas de gua subterrnea conhecidas,

    que se localizam em parte na Regio Hidrogr ca do So

    Francisco so: a Bacia Tucana (Tucano-Jatob), na fronteira

    da Bahia com Pernambuco; a Chapada do Araripe, entre

    Cear, Pernambuco e Piau; a Chapada do Urucuia, com

    parte na Bahia e Minas.

    As questes da capacidade de drenabilidade foram estu-

    dadas por Ferrante (1990) que fornece uma importante vi-

    so desse comportamento na Regio Hidrogr ca.

    Drenabilidade aparente

    A drenabilidade aparente uma forma representativa do

    comportamento do substrato litoestratigr co da bacia, consi-

    derando-se principalmente as coberturas residuais existentes,

    os efeitos e conseqncias resultantes dos esforos tectnicos e

    estruturais provocados nas rochas da regio.

    Desta forma foram de nidas seis classes de drenabilidade:

    Alta Drenabilidade

    Esta particularidade est representada pelos depsitos alu-

    viais do Quaternrio, e por depsitos aluviais inconsolidados

    e terraos aluviais de areias mdias a nas. Estes sedimentos

    geralmente apresentam uma permeabilidade de (K>10-2cm/s)

    e com um coe ciente de porosidade mdia de 13%.

    Geralmente so aqferos livres de extenses limitadas e

    com espessura mdia saturada de captao de uma dezena

    de metros. Encontram-se localizados ao longo do rio So

    Francisco e principais tributrios.

  • 25

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    Mdia a Alta Drenabilidade

    observada em coberturas areno-argilosas inconsolida-

    das com nveis conglomerticos intercalados e sedimentos

    arenosos mdios, siltosos e caulinticos com intercalaes de

    folhelhos na maior parte so constitudos por sedimentos e

    coberturas eluvionares de idade Terciria-Quaternria.

    Apresentam uma permeabilidade com um valor em torno

    de (K10-3cm/s), e um coe ciente de porosidade mdia de

    5%. Podem ser identi cados como aqferos livres e cont-

    nuos de extenses variveis, com espessura mdia saturada

    de captao de 10 a 50 metros.

    A sua maior incidncia esta concentrada na maior parte do

    mdio So Francisco, na Bahia, e na regio noroeste de Minas

    Gerais no Alto So Francisco, ocupando uma extenso aproxi-

    madamente de 20% da rea da Regio Hidrogr ca.

    Mdia Drenabilidade

    Esta drenabilidade foi inferida a sedimentos arenosos m-

    dios a nos; argilitos siltosos e caulinticos; conglomerados

    e arenitos com intercalaes de siltitos e folhelhos. Consti-

    tuem extensos chapades, geralmente de idade cretcica.

    Apresentam uma permeabilidade em torno de (K10-4cm/

    s) e um coe ciente mdio de porosidade igual a 4%.

    Estas litolgicas constituem aqferos livres, contnuos ou

    semicon nados, com extenses variveis e espessuras satu-

    radas de captao entre 10-150 metros.

    A rea desta classe corresponde a aproximadamente 18%

    da Bacia, e se encontra distribuda principalmente no M-

    dio So Francisco na regio do oeste baiano e com menor

    relevncia ocorre no noroeste mineiro entre os rios So

    Francisco e Paracatu.

    reas menos representativas so identi cadas na regio

    do Sub-Mdio e Baixo So Francisco.

    Mdia a Baixa Drenabilidade

    Esta caracterstica observada principalmente em aqfe-

    ros livres descontnuos, constitudos geralmente por calc-

    rios qumicos carsti cados e associados a fraturas sub-verti-

    cais dominantes e planos de estrati cao.

    Geralmente so rochas carbonatadas e pelitos-carbona-

    tados com intercalaes de siltitos e litos do Grupo Bam-

    bu de idade Pr-Cambriana e Quaternria respectivamente

    (PAb, PAst, Qca).

    A permeabilidade nesta classe est abaixo de (K10-5cm/s) e

    com um coe ciente mdio de porosidade de 3%. Estas rochas

    constituem reas planas e dissecadas de extenses variveis e

    com espessuras saturadas de captao entre 100-150 metros.

    Esta classe esta representada em aproximadamente 10%

    da rea; se encontra distribuda irregularmente em toda a

    Bacia, com exceo do Baixo So Francisco.

    Baixa Drenabilidade

    A baixa drenabilidade esta condicionada geralmente s ro-

    chas do Pr-Cambriano Indiferenciado sem fraturas ou pouco

    fraturado, constitudo de rochas metamr cas e gneas entre as

    quais gnaisses quartzitos, micaxistos, granitides e migmatitos.

    Estas rochas constituem aqferos livres descontnuos condi-

    cionados a fraturamentos ou ssuramentos locais.

    Estes aqferos apresentam uma permeabilidade menor

    do que (K

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    26

    Fonte: Codevasf, Feirante (1990)

    Figura 3 - Hidrogeologia da Regio Hidrogr ca So Francisco

  • 27

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    Os sistemas de aqferos dominantes na Regio Hidrogr-

    ca, de forma agrupada, esto mostrados na Figura 4.

    Fonte: Bases do PNRH (2005)

    Figura 4 - Sistema de aqferos dominantes na Regio Hidrogr ca So Francisco

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    28

    Diviso poltico-administrativa e demogra a

    A populao total na Regio Hidrogr ca do So Francis-

    co, no ano 2000, era de 12.823.013 habitantes, sendo que a

    populao urbana representava 74,4%. A densidade demo-

    gr ca mdia na Bacia de 20,0 hab/km2, enquanto a mdia

    brasileira de 19,8 hab/km2. Do total de 503 Municpios,

    451 tm sede na Bacia. No Quadro 1 so indicados as reas,

    os Municpios e o nmero de habitantes correspondentes a

    cada Unidade da Federao que compe a Bacia.

    Unidade da FederaoPopulao rea Municpios

    Urbana Rural Total km2 % n.o %

    Minas Gerais 6.755.036 847.369 7.602.405 235.635 36,9 239 47,5

    Gois 74.185 4.804 78.989 3.193 0,5 3 0,6

    Distrito Federal - 20.826 20.826 1.277 0,2 - 0,2

    Bahia 1.134.958 1.149.670 2.284.628 307.794 48,2 114 22,7

    Pernambuco 898.030 742.014 1.640.044 68.966 10,8 69 13,7

    Alagoas 457.211 465.685 922.896 14.687 2,3 50 9,7

    Sergipe 115.954 130.340 246.294 7.024 1,1 28 5,6

    Total 9.435.374 3.360.708 12.796.082 638.576 100 503 100

    Quadro 1 - Participao das unidades da Federao na Regio Hidrogr ca

    Fonte: IBGE Censo Demogr co 2000

    No que se refere distribuio populacional por Sub 1, no

    Alto So Francisco destaca-se a regio metropolitana de Belo

    Horizonte com cerca de 4,5 milhes de habitantes. O Quadro

    2, mostra a distribuio da populao por regio da Bacia.

    Quadro 2 - Populao na Regio Hidrogr ca do So Francisco

    Unidade hidrogr caPopulao (hab) Urbanizao

    (%)Urbana Rural Total

    Alto 5.919.830 464.711 6.384.541 93

    Mdio 1.526.179 1.067.323 2.593.502 59

    Sub-Mdio 1.196.987 1.023.595 2.220.582 54

    Baixo 821.207 803.181 1.624.388 51

    Total 9.464.203 3.358.810 12.823.013 74

    Fonte: ANA (2002a)

    Caractersticas hidroclimticas

    No Quadro 3 mostrada uma segunda subdiviso, a

    Sub 2, dentro de cada Sub 1, sendo que o Plano de Ba-

    cia Hidrogrfica do So Francisco foi dividida em 34

    unidades para efeito de planejamento, as quais esto

    espacialmente visualizadas na Figura 5. Cabe ressal-

    tar que na base fsica-territorial utilizada pelo PNRH

    a Regio Hidrogrfica do So Francisco est dividida

    em 24 Sub 2.

  • 29

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    Quadro 3 - Nveis de diviso das regies hidrogr cas da Bacia do Rio So Francisco para efeito de planejamento e gesto

    Sub 1 Sub 2 km2

    So Francisco Alto

    Jequita 9.075,69

    Par 12.095,34

    Paraopeba 12.191,13

    So Francisco 01 15.777,40

    So Francisco 02 5.319,27

    Velhas 27.647,19

    So Francisco Mdio

    Carinhanha 17.031,80

    Corrente 34.323,79

    Grande SF 01 33.231,18

    Grande SF 02 44.923,99

    Pacu 10.858,05

    Paracatu 12.560,87

    So Francisco 03 14.447,08

    So Francisco 04 24.026,16

    So Francisco 05 24.472,86

    Urucuia 25.367,12

    Verde Grande 31.193,13

    So Francisco Sub-Mdio

    Brgida 13.617,05

    Moxot 9.814,31

    Paje 16.789,13

    So Francisco 06 60.577,10

    So Francisco 07 74.155,12

    So Francisco 08 41.805,38

    So Francisco Baixo So Francisco 09 23.546,32

    Fonte: SRH/ANA/SPR (2004); PBHSF (2004)

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    30

    Figura 5 - Unidades hidrogr cas de referncia e diviso siogr ca da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    Fonte: Base PNARH (2005); SRH/ANA/SPR (2004); PBHSF (2004)

  • 31

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    O trecho principal do rio So Francisco possui 2.696km.

    Na Regio Hidrogrfica do So Francisco, por oca-

    sio da elaborao do PBHSF, foram identificadas

    12.821 microbacias, que devero ser as unidades de

    atuao a serem trabalhadas no futuro com o envolvi-

    mento cada vez maior da Municipalidade. A superfcie

    ocupada pela gua na Bacia corresponde a 600.000 ha,

    ou seja, 6.000km2, 0,9% da Bacia, superior rea do

    Distrito Federal.

    As principais caractersticas hidroclimticas da Regio Hi-

    drogr ca do So Francisco esto sumarizadas no Quadro 4

    para cada uma de suas regies siogr cas.

    Quadro 4 - Principais caractersticas hidroclimticas da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    (*) Na parte mais seca da Bacia e do semi-rido brasileiro, esse valor atinge extremo de 2.700 mm/ano.Fonte: ANA/SPR, Programa de Aes Estratgicas PAE (ANA/GEF/Pnuma/OEA)

    Caracterstica

    Regies Fisiogr cas

    Alto Mdio Submdio Baixo

    Clima predominanteTropical mido e Temperado de altitude

    Tropical semi-rido e Sub-mido seco

    Semi-rido e rido Sub-mido

    Precipitao mdia anual (mm)2.000 a 1.100 (1.372)

    1.400 a 600 (1.052)

    800 a 350 (693) 350 a 1.500 (957)

    Temperatura mdia (C) 23 24 27 25

    Insolao mdia anual (h) 2.400 2.600 a 3.300 2.800 2.800

    Evapotranspirao mdia anual (mm) 1.000 1.300 1.550(*) 1.500

    Trecho principal (km) 702 1.230 550 214

    Declividade do rio principal (m/km)0,70 a 0,20 0,10 0,10 a 3,10 0,10

    Contribuio da vazo natural mdia (%) 42,0 53,0 4,0 1,0

    Vazo mdia anual mxima (m3/s)Pirapora 1.303 em fevereiro

    Juazeiro 4.393 em fevereiro

    Po de Acar 4.660 em fevereiro

    Foz 4.999 em maro

    Vazo mdia anual mnima (m3/s)Pirapora 637 em agosto

    Juazeiro 1.419 em setembro

    Po de Acar 1.507 em setembro

    Foz 1.461 em setembro

    Vazo espec ca l/s/km2 11,89 3,59 1,36 1,01

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    32

    montante de Xing (no Alto, Mdio e Submdio), o tri-

    mestre mais chuvoso de novembro a janeiro, contribuindo

    com 53% da precipitao anual, enquanto o perodo mais

    seco de junho a agosto. Porm, existe uma diferena mar-

    cante na ocorrncia do perodo chuvoso no Baixo So Fran-

    cisco, que se estende de maio/junho a agosto/setembro.

    Ainda relacionada ao clima, cabe destacar uma rea re-

    levante, a qual extrapola o mbito da Bacia, que o semi-

    rido. Este um territrio vulnervel e sujeito a perodos

    crticos de prolongadas estiagens, que apresenta vrias zo-

    nas geogr cas e diferentes ndices de aridez. As freqentes

    e prolongadas estiagens da regio tm sido responsveis por

    xodo de parte de sua populao. A regio semi-rida ocu-

    pa cerca de 57% da rea da Bacia, abrange 218 Municpios

    que possuem sede na Bacia. Situam-se majoritariamente na

    Regio Nordeste do Pas, alcana um trecho importante do

    norte de Minas Gerais (Figura 6).

    Somente trs Municpios da regio semi-rida tm popu-

    lao superior a 100.000 habitantes: Petrolina (PE), Arapi-

    raca (AL) e Juazeiro (BA).

    Figura 6 - Regio semi-rida na Bacia

    Fonte: PBHSF (2004)

    Principais caractersticas fsicas da Regio Hidrogr ca

    As principais caractersticas fsicas da Regio Hidrogr ca

    So Francisco, para cada uma das suas regies siogr cas

    (Sub 1), esto sumarizadas no Quadro 5.

  • 33

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    Quadro 5 - Principais caractersticas fsicas da Bacia

    CaractersticaRegies Fisiogr cas

    Alto Mdio Submdio Baixo

    rea (km2) 100.076 (16%) 402.531 (63%) 110.446 (17%) 25.523 (4%)

    Altitudes (m) 1.600 a 600 1.400 a 500 800 a 200 480 a 0

    Geologia

    Rochas mais antigas do Pr-Cambriano Indiviso (P) e em menor proporo; pelas rochas calcrias do Grupo Bambu (PAb)

    Rochas cristalinas do Pr-Cambriano e rochas calcrias do Grupo Bambu (PAb) ocupando geralmente a parte centro e leste da mesma. J na parte oeste e sul, a predominncia dos arenitos Cretcicos da Formao Urucuia (Ku).

    Rochas gneas e metamr cas do Pr-Cambriano Indiferenciado (P) com algumas reas de ocorrncias dos calcrios do Grupo Bambu (PEAb) e dos calcrios Quaternrios da Formao Caatinga na margem direita do So Francisco.

    Rochas do Pr-Cambriano Indiviso (P), rochas cretcicas do sub-Grupo Coruripe Indiviso (Kco); e sedimentos Tercirios-Quaternrios da Formao Barreiras (TQb).

    Principais acidentes topogr cos

    Serras da Canastra e Espinhao

    Serra Geral de Gois, Chapada da Diamantina, Chapadas das Mangabeiras e Serra da Tabatinga

    Chapada do Araripe e Serras dos Cariris Velho e Cgados

    Serras redonda e Negra

    Principais bacias sedimentares So Francisco So Francisco e Jacar

    Araripe, Tucano e Jatob

    Costeira Alagoas e Sergipe

    Solos

    Latossolos, argilossolo vermelho, alissolo crmico, cambissolos hplico, areias quartzosas e litossolos

    Latossolos, argilossolo vermelho e alissolo crmico

    Latossolos, argilossolo vermelho, alissolo crmico, cambissolos hplico, areias quartzosas e litossolos

    Argissolos, alissolos, latossolos, hidromr cos, litossolos, areias quartzosas e espodossolos

    Reservas minerais em % das reservas nacionais

    100% de algamatito e cdmio60% de chumbo75% de enxofre e zinco30% de colomito, ouro, ferro, calcrio, mrmore e urnio

    60% de cobre30% de cromita

    Vegetao predominante Cerrados e fragmentos de orestas

    Cerrado, caatinga e pequenas matas de serra

    CaatingaFloresta estacional semidecidual, mangue e vegetao litornea

    Ictiofauna

    Curimat-pacu, dourado, surubim, matrinx, mandi-amarelo, mandi-au, piau-verdadeiro, trara, piranha-vermelha, piranha-preta e tucunar

    Curimat-pacu, dourado, surubim, matrinx, mandi-amarelo, mandi-au, piau-verdadeiro, trara, piranha-vermelha e piranha-preta

    Curimat-pacu, dourado, surubim, matrinx, mandi-amarelo, mandi-au, piau-verdadeiro, trara, piranha-vermelha piranha-preta, tucunar, tilpia e bagre africano

    Pira, Curimat, pacu, dourado, surubim, matrinx, mandi-amarelo, mandi-au, piau-verdadeiro, trara, tambaqui

    Fonte: ANA/SPR; Programa de Aes Estratgicas PAE (ANA/GEF/Pnuma/OEA)

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    34

    Panorama socioeconmico da Regio Hidrogr ca

    A Regio Hidrogr ca do So Francisco possui acentu-

    ados contrastes socioeconmicos, abrangendo reas de

    acentuada riqueza e alta densidade demogr ca e reas de

    pobreza crtica e populao bastante dispersa.

    Com base em dados do IBGE (Censo Demogr co 2000), os

    seguintes aspectos socioeconmicos podem ser evidenciados:

    A populao total da Bacia (12.823.013 habitantes)

    encontra-se distribuda de forma heterognea nas re-

    gies siogr cas: Alto So Francisco (48,8%); M-

    dio So Francisco (25,3%); Submdio So Francisco

    (15,2%); e Baixo So Francisco (10,7%);

    A populao predominantemente urbana: 50% da

    populao da Bacia vivem em 14 Municpios com

    populao urbana maior que 100.000 habitantes, lo-

    calizados nos seguintes Estados: Minas Gerais (Belo

    Horizonte, Contagem, Betim, Montes Claros, Ribei-

    ro das Neves, Santa Luzia, Sete Lagoas, Divinpolis,

    Ibirit e Sabar); Bahia (Juazeiro e Barreiras), Alagoas

    (Arapiraca) e Pernambuco (Petrolina);

    90% do total de Municpios da Bacia so de pequeno por-

    te, com populao urbana inferior a 30.000 habitantes;

    No Alto So Francisco encontra-se a Regio Metropo-

    litana de Belo Horizonte RMBH, polarizada pela ca-

    pital do Estado de Minas Gerais. Com 26 Municpios,

    rea de 6.255km2 e representando menos de 1% de

    toda a Bacia, concentra mais de 3.900.000 habitan-

    tes, em 2000, correspondendo cerca de 29,3% da

    populao de toda Bacia;

    A populao rural da Bacia corresponde a 25,6% do total;

    A regio do semi-rido abrange 57% da rea total da

    Bacia, com cerca de 361.825km2, compreendendo

    218 Municpios e mais de 4.737.294 habitantes, sen-

    do 52,4% populao urbana e 47,6% rural;

    No semi-rido, apenas 3 Municpios possuem popu-

    lao urbana com mais de 100.000 habitantes: Jua-

    zeiro (BA), Petrolina (PE) e Arapiraca (AL).

    Em 1993, o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada -

    Ipea, realizou o estudo: O Mapa da Fome III, utilizando

    metodologia da Cepal, classi cou os Municpios brasileiros

    por ndice de indigncia, qual seja, a quantidade de famlias

    cuja renda monetria no permite obter uma alimentao

    adequada. Esse conceito d uma idia da amplitude e do al-

    cance da pobreza no territrio nacional. A situao dos Mu-

    nicpios que integram o vale do So Francisco alarmante.

    O Quadro 6, a seguir, apresenta a situao dos Municpios

    da Regio Hidrogr ca, com relao ao grau de indigncia.

    Estado N. de Municpios no Vale

    Percentual de Famlias Indigentes

    Abaixo da MN (*) Entre a MN e 40% Entre 40 e 50% Com mais de 50%

    Minas Gerais 206 27 163 16 0

    Bahia 114 1 2 46 65

    Distrito Federal 1 1 0 0 0

    Gois 3 0 3 0 0

    Pernambuco 65 0 5 29 31

    Sergipe 27 0 1 24 2

    Alagoas 49 0 1 23 25

    Total 465 29 175 138 123

    Quadro 6 - Situaes dos municpios da Regio Hidrogr ca, por Estado, segundo os ndices de indigncia

    (*) Mdia nacional de famlias indigentes por Municpio 24,4%Fonte: Programa Comunidade Solidria Exposio Comisso Especial do Senado Federal para o Desenvolvimento do Vale do So Francisco (1998)

  • 35

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    O Quadro 7 resume algumas caractersticas socioe-

    conmicas da Regio Hidrogrfica, com destaque para

    os aspectos relacionados com os setores usurios de

    recursos hdricos.

    CaractersticaRegies Fisiogr cas

    Alto Mdio Submdio Baixo

    Populao (hab) 6.247.027(48,8%)3.232.189(52,3%)

    1.944.131(15,2%)

    1.372.735(10,7%)

    Urbanizao (%) 93 57 54 51

    Nmero de Municpios (*) 167 167 83 86

    Densidade demogr ca (hab/km2) 62,9 8,0 16,8 68,7

    IDH 0,549 a 0,802 0,343 a 0,724 0,438 a 0,664 0,364 a 0,534

    Disponibilidade (m3/hab/ano) 6.003 14.820 1.692 880

    Abastecimento de gua (%) ** 97,6 94,9 88,5 82,4

    Coleta de esgotos (%) ** 77,7 35,5 57,8 23,4

    Coleta de lixo (%) ** 92,6 82,3 80,4 87,7

    rea irrigada (ha, %) 44.091(12,9)170.760(49,8)

    93.180(27,2)

    34.681(10,1)

    Principais barragens hidreltricas (MW) ***

    Trs Marias 396 R. das Pedras 9,3 Cajuru 7,2 Queimados 105 Parana 4,1

    Sobradinho 1.050 Pandeiros 4,2 Correntina 9,0 R. das Fmeas 10,0

    Paulo Afonso I, II, III e IV- 3.986 Moxot 440 Itaparica 1.500 Xing 3.000

    -

    Vias navegveis (km)-

    1.243 entre Pirapora e Petrolina/Juazeiro 104 no Paracatu 155 no Corrente 351 no Grande

    60 entre Piranhas e Belo Monte

    148 de Belo Monte foz

    Principais atividades econmicasIndstria, minerao, pecuria e gerao de energia

    Agricultura, pecuria, indstria e aqicultura

    Agricultura, pecuria, agroindstria e gerao de energia e minerao

    Agricultura, pecuria e pesca/ e aqicultura

    Sedimentos (106 t/ano) e rea (km2)

    Pirapora 8,3 (61.880)

    Morpar 21,5 (344.800)

    Juazeiro 12,9 (510.800)

    Propri 0,41 (620.170)

    Antropizao (%) 90 80 85 98

    Quadro 7 - Principais caractersticas socioeconmicas e ambientais da Regio Hidrogr ca

    Fonte: ANA/SPR; PAE (ANA/GEF/Pnuma/OEA)* O total soma 538 Municpios ao invs de 503, pois, alguns Municpios esto computados em mais de uma regio siogr ca** % da populao atendida*** MW Potencial de produo de energia

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    36

    Segundo o Programa Comunidade Solidria Exposio

    Comisso Especial do Senado Federal para o Desenvolvimento

    do Vale do So Francisco (1998), a despeito dos avanos das

    ltimas dcadas, particularmente dos anos 1970, em muitos

    dos indicadores sociais da regio, as desigualdades interpesso-

    ais de renda se agravaram fortemente: os coe cientes de Gini1

    cresceram de 0,59 em ns da dcada de 1960 para 0,64 ao

    nal da dcada passada, com os urbanos evoluindo de 0,60

    para 0,64, e os rurais, de 0,47 para 0,54.

    Mais da metade das famlias do semi-rido dessa Regio Hi-

    drogr ca vive em situao de pobreza crtica, com rendimen-

    to per capita anual de US$ 214. No nordeste como um todo

    so quase 22 milhes de pessoas, das quais mais de 12 milhes

    no meio rural, sendo que na regio em tela 3 milhes.

    Os pobres do Nordeste agrrio correspondem a 63% da po-

    breza rural do Pas e a 32% dos pobres brasileiros. Eles so 9%

    dos brasileiros, mas recebem menos de 1% da renda familiar

    nacional. Seu nmero seria hoje certamente muito maior no

    fossem as grandes migraes rural-urbanas veri cadas ao lon-

    go das ltimas dcadas, que operaram, o mais das vezes, meras

    transferncias inter e intrarregionais de pobreza.

    4.2 | Caracterizao das Disponibilidades Hdricas

    O Plano de Recursos Hdricos conforme de nido na Lei No

    9.433/1997 implica numa avaliao da situao atual dos re-

    cursos hdricos, na anlise da evoluo do desenvolvimento,

    inclusive dos padres de ocupao do solo, na elaborao do

    balano entre disponibilidades e demandas, com identi cao

    de con itos, no estabelecimento de metas de racionalizao do

    uso e aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos re-

    cursos hdricos disponveis, em proposio de criao de reas

    sujeitas a restrio de uso, entre outros.

    Na Bacia do Rio So Francisco existem regies que apre-

    sentam de cincias de gua utilizvel pela sociedade, no em

    quantidade, mas em qualidade, principalmente em grandes

    concentraes urbanas, o que ocorre em outras regies do

    Pas. Exemplos esto em capitais como Rio de Janeiro que uti-

    liza gua do rio Paraba do Sul, So Paulo que utiliza a do rio

    Piracicaba, Aracaju que usa gua do prprio rio So Francisco,

    mesmo estando em outra Bacia Hidrogr ca.

    A caracterizao das disponibilidades s tem sentido quan-

    do analisada e avaliada quanto quantidade e qualidade.

    Disponibilidade quantitativa

    Esta disponibilidade foi avaliada tanto do ponto de vista

    das guas super ciais como subterrneas.

    Consideraram-se os mesmos critrios adotados pelo

    PBHSF, estabelecendo-se que a disponibilidade hdrica de

    guas super ciais igual vazo natural com permanncia

    de 95% (Q95

    ), para rios e trechos sem regularizao.

    No Quadro 8 so apresentadas as disponibilidades de

    gua da Regio Hidrogr ca comparadas com as do Pas.

    Nos trechos do rio So Francisco que possuem grande

    capacidade de regularizao, a disponibilidade hdrica foi

    considerada como sendo a vazo regularizada acrescida da

    vazo Q95

    . O Quadro 9 mostra a determinao das disponi-

    bilidades por trecho da Regio Hidrogr ca.

    2 Coe ciente para indicar a concentrao de renda ou riqueza, parte da considerao de que se toda a renda estivesse na mo de uma nica pessoa seria igual unidade.

  • 37

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    Regio Hidrogr ca Pop.(hab)rea

    (km2)Qm

    (m3/s)Q95

    (m3/s)

    Q(L/

    s.km2)R95

    P(mm)

    Q(mm)

    ETr(mm)

    ETr/P(%)

    So Francisco 12.823.013 638.323 3.037 1.077 4,8 0,36 1.036 150 886 86

    Brasil 169.542.392 8.532.770 160.067 77.873 18,8 0,48 1.800 592 1.208 67

    Valores referentes poro em territrio brasileiro. Se considerada na totalidade, a Regio Hidrogr ca Amaznica apresenta um incremento na vazo mdia da ordem de 85.700 m3/s.

    Regio hidrogr ca: Unidades de referncia para o PNRH

    rea (km2) rea de contribuio em territrio brasileiro

    Qm (m3/s) Vazo mdia natural de longo termo

    Q95 (m3/s) Vazo excedida 95% das vezes. Denominada vazo crtica de referncia e adotada como disp. hdrica

    q (L/s.km2) Vazo espec ca mdia

    r95: Relao entre a vazo crtica de referncia Q95 e a Qm

    Pm (mm) Precipitao mdia, em milmetros

    Qm (mm) Vazo mdia, em milmetros

    ETr (mm) Evapotranspirao real (estimada com base no balano simpli cado: ETr = Pm Qm, desprezando outras eventuais perdas e os usos consuntivos)

    Quadro 8 - Disponibilidade de gua na Regio Hidrogr ca do So Francisco em relao ao Brasil

    Fonte: Informaes PNRH Regio Hidrogr ca do So Francisco (maio de 2005)

    Elemento Disponibilidade Hdrica

    reas de contribuio 1 a 5 Q95 (1)

    Trecho 1 Q95 (1)

    Trecho 2 Qreg Trs Marias

    Trecho 3 Qreg Trs Marias + Q95 (3)

    Trecho 4 Qreg Trs Marias + Q95 (3) + Q95 (4) + Q95 (5)

    Trechos 5, 6 e 7 Qreg Sobradinho

    Quadro 9 - Determinao das disponibilidades hdricas

    Q95 (i) = vazo mdia mensal natural com 95% de permanncia no tempo referente rea de contribuio iQreg Trs Marias = vazo regularizada pelo reservatrio Trs MariasQreg Sobradinho = vazo regularizada pelo reservatrio Sobradinho

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    38

    Os trechos mencionados no Quadro 9 apresentam suas

    caractersticas no Quadro 10.

    Elemento Descrio Caractersticas

    rea de contribuio 1 Rios a uentes ao rio So Francisco at o ponto de controle Porto da Barra No regularizados Alta variabilidade de vazes

    rea de contribuio 2 Rios a uentes ao reservatrio Trs Marias No regularizados Alta variabilidade de vazes

    rea de contribuio 3 Rios a uentes ao rio So Francisco entre os pontos de controle Trs Marias e Manga No regularizados Alta variabilidade de vazes

    rea de contribuio 4 Rios Carinhanha No regularizado Mdia variabilidade de vazes

    rea de contribuio 5 Rios a uentes ao rio So Francisco pela margem esquerda entre os pontos de controle Manga e Pilo Arcado No regularizados Pequena variabilidade de vazes

    Trecho 1 Rio So Francisco montante do ponto de controle Porto da Barra No regularizado Mdia variabilidade de vazes

    Trecho 2 Reservatrio Trs Marias Regularizado Pequena variabilidade de vazes

    Trecho 3 Rio So Francisco entre os pontos de controle Trs Marias e Manga Regularizado Pequena variabilidade de vazes

    Trecho 4 Rio So Francisco entre os pontos de controle Manga e Pilo Arcado Regularizado Mdia variabilidade de vazes

    Trecho 5 Reservatrio Sobradinho Regularizado Pequena variabilidade de vazes

    Trecho 6 Rio So Francisco entre os pontos de controle Juazeiro e Piranhas Regularizado Pequena variabilidade de vazes

    Trecho 7 Rio So Francisco entre os pontos de controle Piranhas e Foz Regularizado Pequena variabilidade de vazes

    Quadro 10 - Descrio dos elementos de representao do sistema hdrico da Regio Hidrogr ca

    Fonte: Estudo Tcnico de Apoio ao PBHSF No 16 Alocao de gua ANA/GEF/Pnuma/OEA (2004)

    Em relao s guas subterrneas na Bacia, admitiu-

    se que a disponibilidade explotvel de 20 % das re-

    servas renovveis, desconsiderando a contribuio das

    reservas permanentes.

    Consta nesse balano hdrico simplificado s esti-

    mativas da evapotranspirao real mdia na Regio

    Hidrogrfica. Do exame desses dados percebe-se que

    o So Francisco apresenta significativos valores de ETr

    em termos relativos, superando 85% da precipitao

    mdia e levando, conseqentemente, aos menores per-

    centuais de escoamento superficial efetivo. Esse valor

    perfeitamente compatvel com as caractersticas cli-

    mticas, nos casos das Regies Hidrogrficas que en-

    globam o semi-rido nordestino.

    guas Super ciais

    A estimativa da disponibilidade de recursos hdricos su-

    per ciais na Bacia utilizada no PBHSF foi baseada princi-

    palmente nos resultados do projeto Reviso das Sries de

    Vazes Naturais nas Principais Bacias do Sistema Interliga-

    do Nacional SIN (ONS 2003). Tais estudos foram com-

    plementados, onde necessrio, com a base de dados das

    Regies Hidrogr cas Brasileiras (SPR/ANA 2003).

    A vazo natural mdia anual do rio So Francisco de

    2.850 m3/s. Entre 1931 e 2001 esta vazo oscilou entre

    1.461 m3/s e 4.999 m3/s. Ao longo do ano, a vazo mdia

    mensal pode variar entre 1.077 m3/s e 5.290 m3/s. Na Bacia,

    as descargas costumam ter seus menores valores entre os

    meses de setembro e outubro. Em 95 % do tempo, a vazo

  • 39

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    natural na foz do So Francisco maior ou igual a 854 m3/s.

    As maiores descargas so observadas em maro.

    Considerando o perodo estudado de 1931 a 2001, a me-

    nor descarga anual na Bacia ocorreu no ano de 2001, quan-

    do a vazo natural mdia anual, em Xing, foi de apenas

    1.400 m3/s. Por outro lado, a maior cheia ocorreu no ano

    de 1979, em que a vazo natural mdia anual, em Xing,

    alcanou 5.089 m3/s.

    O perodo entre 1999 e 2001 foi crtico na Bacia do So

    Francisco, em termos de disponibilidade de gua, coincidindo

    com a crise energtica que o Pas enfrentou e que culminou

    com o racionamento de energia durante o ano de 2001. Este

    perodo implicou em mudanas nas mdias histricas.

    Considerando a srie de vazes naturais estimadas para

    o perodo compreendido entre 1931 e 2001, os novos re-

    gistros dos valores da vazo passaram a ser inferior esti-

    mativa anterior (considerada para o perodo 1931 a 1998),

    que era de 2.022 m3/s. A Bacia do So Francisco tem uma

    disponibilidade hdrica na foz de 1.849 m3/s (vazo regula-

    rizada em Sobradinho, mais a vazo incremental com per-

    manncia de 95 % entre Sobradinho e a foz). jusante de

    Trs Marias, a vazo regularizada da ordem de 513 m3/s,

    e no trecho jusante de Sobradinho, a vazo regularizada

    da ordem de 1.815 m3/s.

    Esses valores foram adotados, em carter provisrio, pela

    Deliberao CBHSF no 08, indicando a necessidade de um

    aprofundamento dos estudos e de entendimentos entre to-

    das as partes envolvidas, de forma a permitir sua con rma-

    o ou alterao na futura reviso do Plano.

    O CBHSF, considerando a avaliao apresentada pelo

    PBHSF, que indicou como alocvel 380 m3/s, decidiu pelos

    seguintes aspectos:

    a vazo mdia diria de 1.300 m3/s foi adotada como

    a vazo mnima ecolgica para a foz do rio So Fran-

    cisco, enquanto que a vazo mdia anual de 1.500

    m3/s foi adotada como a vazo remanescente na foz.

    Esses valores foram con rmados, provisoriamente,

    na Deliberao CBHSF no 08/2004, at que seja feita

    nova reviso do Plano;

    a operao dos reservatrios do setor eltrico se cons-

    titui em um processo complexo e sujeito a contingn-

    cias que podem afetar as vazes e uentes, reduzindo

    a disponibilidade hdrica na calha;

    a determinao das disponibilidades hdricas possui

    imprecises e aproximaes inerentes avaliao de

    variveis representativas de fenmenos naturais;

    a garantia da sustentabilidade da Bacia impe que seja

    estabelecida uma reserva estratgica tanto para fazer

    face aos eventos hidrolgicos crticos, como para per-

    mitir a viabilizao de novos empreendimentos no

    previstos no horizonte do Plano; e

    adotou, provisoriamente, como vazo mxima de con-

    sumo alocvel na Bacia, o valor de 360 m3/s, constante

    da Deliberao CBHSF no 08/2004. Observa-se que esse

    valor, mesmo inferior aos 380 m3/s propostos, tambm

    permite o atendimento de todos os consumos efetivos

    previstos para o horizonte do Plano Decenal.

    O PBHSF identificou que j existem 335 m3/s outor-

    gados, e muitos deles sem utilizar at o momento, o

    que mostra a importncia de se efetuar sua reviso e

    reavaliao. O modelo adotado pelo Estado da Bahia,

    como uma efetiva e competente fiscalizao, checa pe-

    riodicamente os dados, inclusive com as coordenadas

    e se o usurio no estiver ainda utilizando na plenitu-

    de d-se um prazo de um ano para que se efetive ou

    ento o que no est sendo utilizado retorna dispo-

    nibilidade para novas concesses.

    Deve-se destacar que cerca de 73,5% da vazo natural

    mdia do rio So Francisco (2.850 m3/s) proveniente do

    Estado de Minas Gerais. A Bahia contribui com 20,4%,

    Pernambuco com 3,2%, Alagoas com 0,7 %, Sergipe com

    0,4%, Gois com 1,2% e o Distrito Federal com 0,6%.

    O Alto So Francisco tem uma vazo natural mdia

    de 1.189 m3/s, que representa 42% da vazo natural da

    bacia. As Unidades Hidrogr cas de expressiva contri-

    buio nesta regio, em termos de vazo, so o rio das

    Velhas e os a uentes mineiros do Alto So Francisco.

    O Mdio So Francisco tem uma vazo natural mdia de 1.519

    m3/s, 53% do total, e abrange rios importantes na margem esquer-

    da do So Francisco, como o Paracatu, Grande e Urucuia.

    Os recursos hdricos de superfcie da regio oeste da

    Bahia se constituem na maior e mais importante fonte de

  • Caderno da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    40

    alimentao de gua do Mdio So Francisco, em sua mar-

    gem esquerda, sendo responsvel por cerca de 75% do

    aporte hdrico do referido rio, no Estado da Bahia. So rios

    e riachos que nascem nas veredas encontradas no Chapa-

    do Ocidental, resultado da grande capacidade de armaze-

    namento hdrico pluvial dos arenitos da formao Urucuia,

    da armadilha estrutural desses arenitos com as rochas do

    Grupo Bambu, que vai permitir o a oramento das guas.

    A formao das veredas, o tipo de vegetao particular

    que a se desenvolve e o acmulo de matria orgnica vege-

    tal que vai formar os horizontes orgnicos e as turfas so os

    reguladores naturais do uxo das guas nas nascentes, par-

    ticularmente no perodo seco, devido ao poder de esponja

    caracterstico desse material residual orgnico.

    Assim, a partir das veredas do Chapado, e compondo

    uma rede de drenagem paralela, se formam as trs Sub-

    bacias mais importantes da regio oeste da Bahia: do rio

    Grande, rio Correntina e rio Carinhanha, que, at sua foz

    no So Francisco, vo cruzar as unidades dos patamares do

    Chapado, vo do So Francisco, Serras Setentrionais e as

    Vrzeas e Terraos Aluviais.

    O Submdio contribui com 104 m3/s, 4% do total, e o Bai-

    xo com 38 m3/s, apenas 1% do total. Os rios Paracatu (14%),

    das Velhas (13%), Grande (9%) e Urucuia (9%) so os princi-

    pais formadores da vazo natural mdia (2.850 m3/s).

    Figura 7 - Vazes espec cas da Regio Hidrogr ca do So Francisco

    Fonte: PNRH - Panorama por Regio Hidrogr ca

  • 41

    4 | Caracterizao e Anlise Retrospectiva da Regio Hidrogr ca

    No que se refere s disponibilidades hdricas por unidades

    Sub 2 da Regio Hidrogr ca mostrada no Quadro 11.

    Quadro 11 - Disponibilidade de recursos hdricos super ciais na Regio Hidrogr ca So Francisco por Sub 2

    Fonte: Bases para o PNRH (2005)

    Sub 1 Sub 2Nome Sugerido para Sub 2

    Qm m3/s

    mdiaQma m

    3/sMdia acumulada

    Q95m3/s

    ALTO

    Jequita 45,28 1.091,56 7,65

    Par SF 165,72 165,72 38,10

    Paraopeba 152,36 152,36 35,25

    So Francisco 01 Canastra 224,94 224,94 51,72

    So Francisco 02 Trs Marias 146,00 689,02 27,62

    Velhas 357,26 357,26 101,40

    MDIO

    Carinhanha 160,95 160,95 96,57

    Corrente 136,95 136,95 82,03

    Grande SF 01 Alto Grande 113,98 113,98 68,46

    Gran