babélia 21

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Publicação experimental do curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS - Junho de 2014 - Edição 21 Ateliês mantêm produção calçadista de Parobé Militares pressionaram anunciantes de jornal Decreto 477 permia expulsão de alunos Em Bento, jiu-jítsu faz parte do currículo Quanto maior a oferta, maiores os problemas Maconha plantada em casa semeia polêmica Lixo vira arte em escola de meio rural 4 e 5 6 14 7 21 23 22 Empesas que fecharam ou se transferiram abriram espaço para ex-funcionários iniciarem seu próprio negócio, gerando 3,5 mil empregos no município Considerado uma das publicações mais importantes na resistência ao regime ditatorial, o Coojornal sucumbiu ante problemas financeiros e ideológicos No período da ditadura cívico- militar no Brasil, o chamado “AI-5 das universidades” autorizava a exclusão de estudantes considerados subversivos Escolas da rede municipal introduziram também a oferta de skate e corda bamba nos currículos do ensino fundamental Impulsionada pelo crédito, a construção civil entrega imóveis frenecamente, mas, ao entrar na casa própria, muitos moradores já precisam fazer reformas Movimento defende o culvo domésco da erva como forma de evitar o tráfico. Para a polícia, connua sendo crime – e dá cadeia No interior de Santo Antônio da Patrulha, crianças do ensino fundamental do educandário José Telmo Marns transformam casca de ovo e jornais em presépios CRISTIANO VARGAS THIAGO SANTOS

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Jornal experimental Babélia (edição 21). A publicação é produzida por alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos (campus São Leopoldo/RS). Veicula notícias e reportagens de assuntos gerais, além de uma galeria de fotos. Com 32 páginas, é impresso em preto e branco. A tiragem é de 1.000 exemplares, que são distribuídos pela universidade.

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Page 1: Babélia 21

Publicação experimental do curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS - Junho de 2014 - Edição 21

Ateliês mantêm produçãocalçadista de Parobé

Militares pressionaramanunciantes de jornal

Decreto 477 permitiaexpulsão de alunos

Em Bento, jiu-jítsufaz parte do currículo

Quanto maior a oferta,maiores os problemas

Maconha plantada em casa semeia polêmica

Lixo vira arte emescola de meio rural

4 e 5

6

14

7

21

23

22

Empesas que fecharam ou se transferiram abriram espaço para ex-funcionários iniciarem seu próprio negócio, gerando 3,5 mil empregos no município

Considerado uma das publicações mais importantes na resistência ao regime ditatorial, o Coojornal sucumbiu ante problemas financeiros e ideológicos

No período da ditadura cívico-militar no Brasil, o chamado “AI-5 das universidades” autorizava a exclusão de estudantes considerados subversivos

Escolas da rede municipal introduziram também a oferta de skate e corda bamba nos currículos do ensino fundamental

Impulsionada pelo crédito, a construção civil entrega imóveis freneticamente, mas, ao entrar na casa própria, muitos moradores já precisam fazer reformas

Movimento defende o cultivo doméstico da erva como forma de evitar o tráfico. Para a polícia, continua sendo crime – e dá cadeia

No interior de Santo Antônio da Patrulha, crianças do ensino fundamental do educandário José Telmo Martins transformam casca de ovo e jornais em presépios

CRISTIAN

O VAR

GAS

THIA

GO

SAN

TOS

Page 2: Babélia 21

Política

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Linha Direta:E-mail:

Reitor:Vice-reitor:

Pró-reitor Acadêmico:Diretor de Graduação:

Gerente de Bacharelados:Coord. Curso de Jornalismo:

Universidade do Valedo Rio dos SinosSão Leopoldo e Porto Alegre/RS

(51) 3591 [email protected]

Marcelo Aquino José Ivo FolmannPedro Gilberto GomesGustavo Borba Gustavo FischerEdelberto BehsE

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Da RedaçãoEm 2014, quando a nação lembra os

50 anos do Golpe de 1964, o Brasil sedia o Campeonato Mundial de Futebol. Política, repressão e futebol caminharam de mãos dadas em vários momentos da história hu-mana. Na América Latina, tanto a ditadura cívico-militar brasileira como o governo repressor da Argentina tiraram proveito de vitórias das suas seleções nacionais.

Os dois eventos – Golpe e Copa - ga-nham espaço nessa edição do Babélia. O jornalista Elmar Bones, 70 anos, um dos fundadores do Coojornal, vivenciou a falta de liberdade de expressão antes e depois do Ato Institucional número 5 (AI-5). Antes, quando militava no movimento estudantil e depois por publicar matéria reportando a fragilidade do Exército. Teve, por isso, diá-rias na cadeia.

Na análise do jornalista, a grande im-prensa foi uma das grandes apoiadoras do Golpe. Aliás, na época não se falava em Golpe, mas em Revolução Redentora. Mais tarde a imprensa foi vítima de quem ela apoiou. Depois do AI-5 a censura ater-rissou em redações de jornais.

Consequências dos anos de chumbo são notadas ainda hoje. O professor Pedro Osório e a professora Christa Berger des-tacam a proibição da leitura de certos te-mas, proibidos pela ditadura. Christa traz exemplos de apreensões surreais, como o confisco de livros sobre o cubismo porque militares achavam que seu conteúdo se reportava a Cuba. Talvez resida aí a forma-ção de uma geração acrítica ou que recor-re a lugares comuns para papagaiar o que a mídia lhe dita.

O complexo de vira-lata, conceito cunhado pelo escritor e dramaturgo Nel-son Rodrigues quando o Brasil perdeu o jogo, e a Copa, para o Uruguai, em 1950, está de volta. O conceito refere-se a esse sentimento de inferioridade em que o próprio brasileiro se coloca frente aos de-mais povos e países. Por isso é que a nossa corrupção é a maior do mundo, o brasileiro não sabe planejar, os materiais aqui produ-zidos não prestam e por aí afora.

Claro que a organização brasileira para abrigar a Copa do Mundo tem falhas, hou-ve desvio de recursos, a nossa oferta em saúde e educação deixa a desejar... Mas daí a colocar todas as atuais mazelas brasi-leiras na conta dos investimentos alocados para a realização da Copa é, talvez, uma espécie de golpe, não de caráter cívico-mi-litar, mas, sem dúvida, político. Até parece que antes do anúncio da Copa o Brasil era um paraíso!

Por isso é sóbria a análise do profes-sor Igor de Morais, do Mestrado de Eco-nomia da Unisinos, ao frisar que a anun-ciada crise que arautos preveem para depois dos jogos mundiais de futebol não é culpa da Copa. A crise tem a ver com vários fatores que geram o desequilíbrio macroeconômico.

Se a corrupção relacionada à constru-ção de estádios tem o tamanho do infor-mado, é chegada a hora de apontar cor-ruptos e corruptores.

Vejamos se, depois da Copa e depois das eleições de outubro, esse clima de co-brança perdurará. A primeira batalha per-manente a ser enfrentada é o combate à secular impunidade presente na sociedade brasileira. Deixamos aqui o convite para a leitura dessas análises.

Maior parte da mídia apoiouo golpe, avalia Elmar Bones

REPÓRTER, QUE FOI UM DOS FUNDADORES DA COOJORNAL E TRABALHOU EM GRANDES JORNAIS E REVISTAS DA ÉPOCA, ANALISA A INTERFERÊNCIA DO REGIME MILITAR NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Ariane Laureano

“Se houver outro golpe, a imprensa vai apoiar nova-mente”. A frase é

do jornalista Elmar Bones, que teve sua vida modificada pela ditadura militar. Para ele, a maior parte da imprensa foi favorável ao regime instaurado em 1964, com a justificativa de “salvar o país do comunismo”. Manchetes de grandes jornais da época pe-diam por uma “intervenção mi-litar contra a baderna”. Faz meio século que o presidente João Goulart, mais conhecido como Jango, foi deposto e os resquícios daquela época ainda sobrevivem na sociedade atual.

Bones participava do movi-mento estudantil, em Livramen-to, engajado num projeto de educação de adultos, patrocina-do pelo governo de Jango. Com a deposição do presidente, houve também a proibição dos manifes-tos estudantis.

No início de 1965, quando foi para Capital prestar vesti-bular, ocorreu a sua primeira prisão. Bones e seus antigos co-legas do movimento estudantil foram capturados pelo DOPS (Departamento de Ordem Po-lítica e Social). Naquela época, o regime fez o que chamou de “limpeza”, prendendo quem não era a favor do governo.

Em 1968, a censura aumen-tou no país, a partir do Ato Insti-tucional Número Cinco (AI-5). Foi nessa época que Bones sentiu que estava vivendo num regime militar. Antes de uma reporta-gem ser publicada, o material passava por uma avaliação da censura, que decidia o que podia

ou não ser publicado. Segundo o jornalista, a avaliação era muito aleatória, o que proporcionava um ambiente desanimador nas redações.

Para Bones, uma das maiores apoiadoras e vítimas da censura foi a mídia. Não dá para esque-cer, que foi nesse período que grandes grupos surgiram. O acor-do consistia em não se falar em ditadura e sim em revolução. Te-mas como anistia, tortura e pre-sos políticos estavam proibidos dentro das redações.

Entre 1974 e 1975, a censura foi para dentro das redações. Jor-nalistas que não eram confiáveis ou que não concordavam em se autocensurar foram expurgados das redações, como Mino Carta, da revista Veja, Cláudio Abramo, da Folha de São Paulo, Aloysio Biondi, do Estadão.

Esse período também ficou marcado pelos movimentos contra a ditadura. A população estava inquieta, pois não se no-ticiava nada sobre o que acon-tecia no país. Foi então que sur-giram os jornais alternativos, que criticavam e denunciavam o regime militar.

Um deles foi o Coojornal, fundado por Bones, dentro da

Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. A censura passou longe do jornal, porque a coo-perativa era composta por vários membros, alguns favoráveis à di-tadura. Porém, uma reportagem publicada por Bones, em 1980 , mostrava a fragilidade do Exérci-to, através da formação de uma guerrilha, liderada por Carlos Lamarca, no Vale do Ribeira, no estado de São Paulo, na década anterior. Na época, o jornalista estava a serviço da revista Veja, onde a matéria foi censurada.

A publicação da reportagem pelo Coojornal levou à prisão de Bones e de mais três colegas: Os-mar Trindade, Rosvita Saueressig e Rafael Guimarães - que passa-ram 20 dias detidos no Presídio Madre Pelletier, em Porto Alegre.

O jornalista, que nunca so-freu nenhuma tortura física, conta que a maior era a psicoló-gica. “O lugar onde eles nos co-locaram era horrível, havia um corredor que dava acesso às ce-las, lá no final eram executadas as torturas. Me colocaram numa

cela onde eu ouvia tudo.”Bones se dedica hoje ao

Jornal JÁ e à Revista JÁ, ambos de sua criação. Ele acredita que a censura ainda existe, porque em 2001, ao publicar uma re-portagem, no JÁ, denunciando um desvio de aproximadamen-te R$ 800 milhões – em valores atualizados – pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), foi condenado por da-nos morais. Quem estava en-volvido no caso era Lindomar Rigotto, irmão do ex-governa-dor Germano Rigotto. Segundo o jornalista, sua reportagem não tinha erros, porém a ques-tão danos morais é um meio de censura atual.

Atualmente, Bones está en-gajado na publicação de três edições especiais sobre o golpe militar de 1964 na Revista Já. A primeira edição, já publicada, tra-tou do período que antecedeu ao golpe, a segunda será sobre o re-gime e a terceira, o seu desfecho.

(Mais Política na página 6)

Jornal produzido semestralmente pelos alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos - São Leopoldo/RS

Textos:

Imagens:

Projeto gráfico:

Diagramação:

alunos das disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Redação Jornalística I e II, e Redação para Relações Públicas II. Orientação: professores Anelise Zanoni, Edelberto Behs, Felipe Boff e Luiz Antônio Nikão Duarte.

alunos da disciplina de Fotojornalismo. Orientação: professora Beatriz Sallet.

alunos Fabiano Gil, Juliana dos Santos, Roseli Santos e Tainá Hessler, da Turma 2012/2 da disciplina de Planejamento Gráfico. Orientação: professor Everton Cardoso.

Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Diagramação: estagiária Gabriele Menezes. Supervisão: jornalista Marcelo Garcia.

São Leopoldo l Junho/2014 l Edição 21

Jornalista lembra que imprensa apoiou mas também foi vítima da censura. Temas como anistia, tortura e presos políticos estavam proibidos dentro das redações

Atualmente, Bones se dedica à publicação da Revista JÁ

ARIANE LAUREANO

Page 3: Babélia 21

São Leopoldo/RS l Julho/2014 l Edição 21Economia

Copa não gera crise nemtira o Brasil da pobreza

Inflação causa impactono campus da Unisinos

Bancos apostamem clientes jovens

DESEQUILÍBRIO ECONÔMICO OCORRERÁ DEVIDO A PROBLEMAS CÍCLICOS DE GASTOS PÚBLICOS, QUE SE POTENCIALIZAM APÓS AS ELEIÇÕES, SEGUNDO ECONOMISTA DA UNISINOS

Bianca Ferrão de Oliveira

A Copa do Mundo não pode ser culpada pela iminen-te crise econômica que atingirá o Brasil, segundo

o economista Igor de Morais. Para ele, a causa é a herança da política econômica praticada no país nos últimos anos. A deficiência no pla-nejamento dos investimentos afeta setores como o de Turismo e reduz a expectativa de desenvolvimento gerada pelo evento.

Doutor em Economia e pro-fessor do Mestrado Acadêmico em Economia da Unisinos, Morais ressalta que dentre tantas aborda-gens sobre o assunto é importante separar o que é “Copa” do que é a economia como um todo e avaliar a herança do país: “Se fala mui-to de uma crise pós-Copa, porém essa crise não tem nada a ver com o evento. Ela tem conexão com ou-tros aspectos, com a política eco-nômica adotada nos últimos anos que é uma soma de fatores que nos conduzem a um ambiente de desequilíbrio, chamado de dese-quilíbrio macroeconômico. Esses fatores se somam e estouram em um determinado momento. Não é que esse momento seja o pós-copa e sim o pós-eleições”. O econo-mista também aponta que não há nenhuma comissão para avaliar a efetividade dos investimentos realizados após o evento: “Tivemos um problema de dimensionamen-to, ficamos muito deslumbrados com esse evento e esquecemos de todo o resto. A herança é ruim desse ponto de vista e acho que ela fica pior ainda sob a percepção de que como sociedade brasileira nós não soubemos planejar.”

Em abril, quando faltavam pou-co mais de 40 dias para o início do evento do Brasil, pesquisa realiza-da pelo Fórum de Operadores Ho-teleiros do Brasil – FOHB, revelou que 40% dos quartos de hotéis ainda estavam vagos. São Paulo é a cidade com menor percentual de diárias reservadas, apenas 24%. Já o Rio de Janeiro tem o maior per-centual de diárias vendidas, che-gando a 93% na final dos dias 12 e 13/7. Dos jogos da primeira fase, Brasil X Camarões, que ocorre no dia 23 de junho em Brasília, conta com valor de hospedagem médio de R$ 959,00, um dos mais caros, conforme levantamento da triva-go. Igor destaca dois elementos como possíveis justificativas para a baixa procura: a desistência dos

turistas por conta da imagem nega-tiva do país no exterior - que teve repercussão ampliada nas últimas semanas e o excesso de otimismo que levou a altos investimentos. “O pessoal do Turismo tem uma ex-pectativa boa, mas não é em todo o Brasil, são determinadas regiões.

Pode ser um evento bom, mas com decepção”, diz ele.

O plano de investimentos da Copa totaliza R$ 25,6 bilhões, segun-do o último balanço divulgado pelo Portal da Copa, em setembro do ano passado. Estão sendo aplicados R$ 12,78 milhões em Porto Alegre.

A inflação de 6,3%, a maior desde 2003, se reflete no campus São Leopoldo. “Está terrível. As taxas de inflação nas passagens aéreas e pacotes de intercâmbio são imensas, fazendo com que to-dos fiquem em casa e adiem pla-nos de passar um tempo no exte-rior”, diz Josiane Rosa, gerente da Agência de Viagens CI.

Também há constante infla-ção sobre medicamentos, apesar da venda de produtos higiênicos na farmácia localizada na Unisi-nos ser maior. Andreia Ferreira, farmacêutica da filial da Agafar-ma, afirma que há muitas recla-mações, por parte dos consumi-dores. Ainda mais neste primeiro

semestre, quando o IPCA teve um aumento de 10,76%.

Quem não sofre tanto com essa inflação é o setor alimentício, em que os representantes cum-prem uma tabela de valores, para que nenhum estabelecimento destoe de preço. “Já que trabalha-mos dentro de uma universidade privada, não temos baixa no con-sumo e raramente recebemos re-clamações”, diz o gerente do Res-taurante Fratello, Gilnei Oliveira.

Segundo a vendedora da Loja Ouze, Juciara Freitas, o baixo con-sumo está ligado à estação do ano e não ao preço, por se tratar de clientes de classe média-alta.”

(Ana Alice Meireles)

Os bancos apostam cada vez mais em jovens e oferecem a conta universitária, sem cobrança de taxas. Também colocam limites acima dos ganhos e, desse modo, conseguem algumas vantagens. Bancos como o Banrisul oferecem limites mais favo-ráveis na conta corrente e cartão de crédito com teto acima de salários. Outros, como Itaú, exageram nos ju-ros, o que afasta jovens. O Bradesco foca em uma forma de ajudar os uni-versitários, muitos em seu primeiro emprego, a controlar seu dinheiro.

Mariana Batista, 23 anos, es-tudante de Relações Públicas da Unisinos, reclama das condições de encerramento da conta. Os al-tos juros do cartão de crédito tam-

bém são um perigo para os jovens contribuintes. O HSBC e Santander são hoje os bancos com taxas mais altas. Já o Banrisul tem os menores juros para estudantes e isenção de taxas durante o primeiro ano.

Cassiano Koning, 25 anos, funcio-nário do Bradesco, diz que o banco é bastante procurado. Para ele, a gran-de jogada em atrair os universitários é que no futuro serão funcionários bem sucedidos e buscarão fazer in-vestimentos em quem os apoiou.

Cassiano acredita que o endi-vidamento dos jovens acontece porque muitos nunca tiveram conta corrente com limite de cheque es-pecial, cartão de crédito.

(Aline Krüger)

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Comerciantes avaliam efeitos da alta de preços

Com 90 hectares, o Cam-pus Central abriga um amplo comércio. São mais de 50 pontos de prestação de ser-viços ou comércio. As lancho-netes e centros de fotocópias lideram o ranking de serviços. Os acadêmicos também po-dem contar com farmá-cia, bancos, correios e salão de beleza.

O administra-dor e gerente do Bar Taberna do DCE, Fábio Fogaça, diz que apesar de o ponto ser novo, de março para abril já houve um aumento de 25% na de-manda e se mostra confiante. Ele e seu sócio Márcio Pagaes pensam em ideias inovadoras. “Nós temos um ponto bem localizado. Quando tem apre-sentação aqui, os estudantes

vêm, sentam e aproveitam. Futuramente queremos agre-gar serviços e atividades, como incorporar no nosso cardápio a tapioca e também abrir um espaço para expor fotografias e desenhos dos es-

tudantes”, diz Fábio.Já a gerente da loja

de calçados Mundi, Carla Cúnico, fala que os horários de maiores mo-vimentos são ao meio-dia - para

funcionários da Uni-sinos - e à noite - com

os estudantes. Geraldo Endres, feirante

de artigos de couro, diz que sempre expõe seus produtos nas datas comemorativas, pe-ríodo em que é aberto o es-paço para a feira na Unisinos.

(Karen Reis)

Visão crítica sobre o legadoAlguns dos investimentos realizados não serão aproveitados após

o evento esportivo, pois são de utilidade pontual. Segundo o entre-vistado, isso é uma questão importante, pois toda estrutura pública é determinada para atender o nível médio de necessidade e não picos.

Estádios: Igor afirma que do ponto de vista econômico os es-tádios não têm muita utilidade: “É um volume de recursos que seria suficiente para construir muito mais museus, outros tipos de lazer educativo. Não estou dizendo que o futebol não seja cultura, porém isso reflete, apenas, a situação em que se encontra a cultura brasileira, enquanto prioriza esse tipo de coisa. Em algum momento, como a população vai demandar recursos de oferta de infraestru-tura pública, vai ter que ser feito esse investimento futuro”.

Hotéis: no setor de Turis-mo foram investidos R$ 2 bilhões através do programa BNDES ProCopa que tem por objetivo financiar a cons-trução, reforma, ampliação e modernização de hotéis, aumentando a capacidade e qualidade de hospedagem. O preocupante é que no retorno do fluxo normal de hóspedes, com o término da Copa do Mundo, esses estabelecimentos ficarão com um excedente de vagas que não será habitualmente ocupado.

Page 4: Babélia 21

Economia

Ateliês de calçados crescem no vácuo deixado por grandes empresasPAROBÉ CONTA COM CERCA DE 300 MICROEMPREENDIMENTOS DO RAMO COUREIRO-CALÇADISTA, SEGUNDO SINDICATO

Cristiano Vargas

Eles estão em todos os luga-res. Basta andar um pouco pela cidade para vê-los im-provisados em garagens ou

cômodos de casas, quintais, pré-dios grandes ou pequenos. Os ate-liês de calçados marcaram o início da produção industrial em Parobé e hoje, depois da ascensão e que-da de empresas, voltam a ocupar espaço no cenário municipal. É nos tubos de cola para sapato e do barulho das máquinas de costura que muitos calçadistas recebem seus salários.

A indústria do sapato é uma das marcas de Parobé. Ela está no brasão da cidade, representada pelo couro e a engrenagem, e tam-bém na vida de muitos morado-res. Como afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados, João Nadir Pires, “o calçado faz parte da histó-ria municipal”.

Com o fechamento e transfe-rência de grandes empresas da cidade, Pires salienta que alguns ex-funcionários decidiram montar seus próprios negócios, come-çando com a ajuda de familiares e crescendo aos poucos. Atual-mente, ele afirma haver cerca 300 microempreendimentos do setor coureiro-calçadista no município, responsáveis por gerar 3,5 mil em-pregos formais.

Apesar de não falar em nú-meros precisos, Pires garante que houve um crescimento acentuado nos últimos dez anos na criação de pequenos empreendimentos do ramo. A geração de empregos é um dos fatores mais importan-tes na opinião dele, revelando que mais de 90% dos ateliês fazem ser-viços terceirizados para empresas da região e da cidade, sendo que a costura é a atividade mais realiza-da nestes moldes. “O trabalhador de Parobé, seja de empresa grande ou pequena, conhece toda a pro-dução de um calçado. A nossa mão de obra tem condições de produzir todos os tipos de sapatos”, atesta.

O empreendimento no ramo coureiro-calçadista é o de maior expressão em Parobé, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Samuel Ruiz Mosmann. Referindo-se ao microempresário que está à frente dos ateliês que operam para grandes indústrias, lembrou que muitos destes têm grande parte de seu tempo de-mandado na atividade operacional, e que lhes falta noções de gestão. “Por isto, no ano passado, a Secre-taria lançou o programa Empreen-dedor de Sucesso, no qual desen-volvemos projetos para dar suporte

de finanças, administração, conta-bilidade”, informa Mosmann.

Além disso, o secretário afirma que sua pasta oferece assessoria empresarial gratuita por meio de parcerias com as Faculdades Inte-gradas de Taquara (Faccat) e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Es-tamos preparados para ajudar o mi-croempreendedor individual a for-malizar seu negócio, com um custo de manutenção baixo”, garante. A entidade também possui uma li-nha de micro-crédito, que contribui para compra de equipamentos ou aplicação no capital de giro.

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A indústria do sapato é uma das marcas de Parobé. Ela está no brasão da cidade, representada pelo couro e a engrenagem, e também na vida de muitos moradores

Quase todos os ateliês fazem serviços

terceirizados para empresas da região

FOTOS CRISTIANO VARGAS

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Ateliês de calçados crescem no vácuo deixado por grandes empresasA indústria nos laços da família Da garagem vem o

complemento na renda

O sonho da marca própria

Foi da cozinha de uma pe-quena casa que Cláudio Edinger, 47 anos, sua esposa, Maristela Edinger, 43, e o irmão dele deci-diram empreender pela primeira vez no ramo coureiro-calçadista, há duas décadas. O negócio ex-pandiu, mas acabou sucumbindo com uma crise em meados de 1990, forçando-os a desistir tem-porariamente e voltar às empre-sas de sapato, de onde iniciaram suas experiências profissionais.

No retorno ao negócio pró-prio, ele relembra que precisou alugar algumas máquinas. Pas-sados mais de 20 anos, hoje ele garante que o ateliê da família é bem montado, com equipamen-tos próprios e de qualidade. A Edinger Calçados conta com 45 funcionários em um prédio pró-prio e responde pela preparação e costura de aproximadamente 2,5 mil pares de sapatos femi-ninos por dia. “Para crescer é preciso ter muita garra e força de vontade. Por muitas vezes, trabalhei 15 horas por dia para conseguir tirar um pouco a mais no final do mês”, garante ele, concluindo que o segredo para o bom negócio é saber guardar o dinheiro para o amanhã.

Os filhos Igor Edinger, 19

anos, e Mateus Edinger, 16, cria-ram-se entre as mesas de costura e preparação de calçados, e hoje ajudam Cláudio e Maristela na produção. O empresário argu-menta que trabalhar com os fi-lhos por perto foi essencial para acompanhá-los no crescimento e monitorá-los com maior fre-quência. “A cada choro, a cada tombo, eu estava ali presente!”, lembra. Além dos dois meninos, o casal tem uma filha chamada Cláudia Vitória, de três anos.

Cláudio comenta que “a concorrência é grande, há buro-cracia e dificuldades administra-

tivas. É um ramo muito instável, sempre com altos e baixos”. Ele diz ter pouco estudo e que sa-pato é tudo o que sabe fazer. “O meu maior sonho sempre foi estar perto dos meus filhos. Não adianta você ter bens e dinheiro, mas os filhos estarem perdidos pelo mundo. A educação que consegui dar a eles é o desejo de qualquer pessoa”, orgulha-se.

Um dia de tra-balho tem mais de oito horas para as amigas e coma-dres Gesika Simone Machado, 22 anos, e Jécica Andressa Prado, 23. As duas moram juntas e, assim que chegam das fábricas em que trabalham, concentram-se na garagem de casa para produ-zir calçados. A atividade é feita pelo menos três vezes por se-mana, de acordo com a deman-da de serviços.

A produção se reveza com os cuidados do pequeno Gustavo Henrique Brocco, de três anos, fi-lho de Gesika Machado. Enquan-to uma faz parte dos trabalhos, a outra cuida dos afazeres domés-

ticos e do menino. “Nós pagamos alu-guel, e precisáva-mos de um dinheiro extra. Foi quando decidimos fazer ser-viços em casa”, re-lembra Jécica Prado.

O serviço delas é temporá-rio, e prestado para um ateliê, do qual recebem R$ 0,28 por par de calçado produzido. “Para mim, é um trabalho normal, como qualquer outro. Já tentei outras coisas, mas gosto mes-mo é de calçado”, destaca Jécica Prado, que está no ramo desde os 14 anos. As amigas traba-lham por conta e aproveitam o momento juntas para, além de trabalhar, conversar, ouvir mú-sicas e tomar chimarrão.O casal Carlos Binello de Sou-

za, 43 anos, e Clenir Rodrigues de Souza, 42, tem um sonho: produzir a sua própria marca de calçados. Para isso, os dois vêm há sete anos se empenhando em conquistar maquinários e, aos poucos, já começam a dar seus primeiros passos. “Desde novembro do ano passado, esta-mos fazendo alguns pares, e ven-do como eles estão sendo acei-tos no mercado”, revela o Carlos. Ambos já foram funcionários de

grandes empresas de sapatos, atuando nos setores de produ-ção, supervisão e chefia.

O objetivo com a marca própria é conquistar a indepen-dência na comercialização do produto. Souza diz que o empre-endimento fará todo o processo de produção do calçado, como uma mini-fábrica. Ele e a mulher almejam investir na linha femini-na e fabricar cerca de 30 pares por dia. “Trabalhamos neste pro-jeto aos finais de semana para

atender aos pedidos de algumas pessoas. Queremos produzir um produto mais artesanal, com a mesma qualidade que muitas empresas oferecem”, destaca.

Proprietários e administra-dores da empresa CWC Binello Beneficiamento de Calçados Limitada, que conta com nove funcionários e opera nos fundos de casa, Souza e Clenir chegam a produzir mil pares da pré-produ-ção de uma bota. O trabalho do casal é em conjunto: ela cuida da produção interna, enquanto ele faz os trabalhos de rua, além de cuidar da qualidade. “Se não for assim, dividindo as tarefas, não conseguimos fazer dar certo”, destaca o microempreendedor, lembrando que algumas pessoas investem em ateliê, mas, quando não conseguem obter lucro em curto prazo, decidem desistir de tudo. “Quem quer um negócio próprio tem que ir devagar, com os pés no chão”, aconselha.

Trabalhando junto, família consegue vencer os desafios do dia a dia

Depois do expediente na

fábrica, as amigas concentram-se na garagem de

casa para produzir calçados

Casal divide-se nas tarefas do pequeno empreendimento

Linha do tempo

Década de 40Um grupo de jovens inaugura uma nova era: a das primeiras fábricas

1949Criação da Bibi Calçados

Década de 60 e 70Grande crescimento de empresas

1985Criação da Bottero Calçados

Década de 90Fechamento Calçados Simpatia, Rio de Luz, Hong Kong

Anos 2000Começa a crise pela concorrência com a China

Julho de 2005Azaleia demite 90 funcionários

Julho de 2007Azaleia demite 600 funcionários

De janeiro a março de 2009Azaleia demite 900 funcionários

Julho de 2009Azaleia dispensa 600

Maio de 2011VulcabrasAzaleia demite 800 funcionários

Page 6: Babélia 21

Política

Coojornal pagou caro por enfrentar ditadura

Lembranças vivas de quem esteve em lados opostos

JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DA CUNHA LEMBRA A CRIAÇÃO DE UM IMPRESSO INDEPENDENTE, QUE LUTAVA PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NOS TEMPOS DE REPRESSÃO

Lurdenir Matos

O desejo de liberdade, o des-contentamento com a ação dos censores e a vontade de produzir um conteúdo sério

levaram 66 jornalistas a fundarem a Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre (Coojornal), em 24 de agosto de 1974. Data que José Antônio Vieira da Cunha, um de seus fundadores, jamais esquecerá. Segundo ele, não foi fácil produzir um jornalismo sério e inde-pendente. “O lançamento do primeiro jornal levou mais de um ano”, conta. Por falta de recursos, os filiados à coo-perativa pagavam cotas mensais para arrecadar fundos e poder abrir o jornal, até que foi publicado pela primeira vez em novembro de 1975.

A iniciativa teve repercussão na-cional, com o Coojornal sendo con-siderado uma das publicações mais importantes do Brasil em sua época. O escritor Bernardo Kucinski, em seu livro “Jornalistas Revolucionários”, classificou o Coojornal como um dos cinco mais importantes veículos in-dependentes do país. O fator que fa-zia com que o jornal se sobressaísse aos outros era seu posicionamento sério. Enquanto outras publicações usavam sarcasmos e ironias, a coope-rativa se comprometia com a notícia veiculada na íntegra.

Quando o então deputado Alencar Furtado (MDB-PR), líder da oposição na Câmara Federal, foi cassado, em 1977,

o Coojornal lançou a lista completa de cerca de quatro mil políticos priva-dos de mandato durante a ditadura. A matéria recebeu como resposta um baque financeiro irreversível. Os mili-tares do governo do general Ernesto Geisel bateram de porta em porta nos patrocinadores do jornal e apenas dois desses patrocínios não abandonaram a cooperativa. O trabalho e as dificulda-des não pararam por aí.

Em fevereiro de 1980, durante o governo do general João Figueiredo, o jornal divulgou documentos secre-tos do regime, que mostravam o des-preparo dos militares na guerrilha do Araguaia. Uniformes que não prote-giam adequadamente, soldados que morreram por falta de cuidados médi-cos, além de medicamentos vencidos, distribuídos nos quartéis do Norte do país eram alguns dos fatos revelados.

Essa publicação levou à prisão de qua-tro colegas de Vieira. “Foi ao estilo da época, sem qualquer julgamento. Meus colegas simplesmente foram presos e, mesmo os homens, ficaram 19 dias no Presídio Feminino Madre Peletier”, relembra. Além disso, Vieira foi pressionado a abandonar o traba-lho através de ligações anônimas fei-tas à sua esposa que prometiam “uma resposta” caso ele não parasse com o trabalho da Coojornal.

Apesar do medo natural, as ameaças só fortaleceram o desejo de publicar as verdades que eram escondidas da população brasileira. Sob a presidência do jornalista e com cerca de 450 profissionais filiados, 100 deles trabalhavam unicamente para a publicação. Vieira foi presi-dente da Coojornal por sete anos. Se ainda existisse, a cooperativa estaria completando 40 anos em 2014. Di-versos problemas financeiros e ide-ológicos fizeram com que o jornal encerrasse seus trabalhos no dia 28 de março de 1983. Hoje José Antônio Vieira da Cunha é sócio diretor da revista eletrônica Coletiva.net e colu-nista do Jornal do Comércio.

Era madrugada do dia 2 de abril de 1964 quando os generais Olímpio Mourão Filho e Odílio Denys ordenaram aos militares que levassem o sargento Ney de Moura Calixto, juntamente com os demais presos, para uma ilha no estado do Rio de Janeiro, onde passariam quatro meses.

O MILITANTE

Calixto estava nessa condição porque em 1961, com outros sar-gentos e oficiais da Base Aérea de Canoas, se negou a cumprir or-dens para bombardear o Palácio Piratini, em Porto Alegre. “Nos re-voltamos e assumimos o coman-do da base, esvaziamos os pneus dos aviões, colocamos caminhões de bombeiros na pista e ordena-mos que nenhum avião decolas-se. Evitamos um desastre”.

No dia 1º de abril de 1964, após o golpe militar e a renún-cia de João Goulart, os militares da Aeronáutica que assumiram o governo cassaram e decretaram a prisão do sargento Calixto e de to-dos que participaram da rebelião de 1961. “Fomos presos, expulsos da Força Aérea Brasileira, cassa-dos e torturados. Sinceramente, não sei como não me mataram, eu tinha certeza que iria morrer. Paguei um preço caríssimo, fiquei desempregado e tive que vender

jornal para pagar os estudos da minha filha”. Para Calixto, muitas pessoas, inclusive soldados, não tinham conhecimento do que se tratava o golpe.

O MILITAR

A ditadura persuadiu os sol-dados novatos, que não sabiam o que fazer. Antônio Carlos de Souza Cardona, soldado em 1967, rece-beu ordens para cumprir prisões de padres, jornalistas e qualquer pessoa que se manifestasse con-tra o novo regime. “Naquela épo-ca, tudo foi censurado. Tinha que saber o que dizer e não se citava abertamente as coisas. Nós ape-nas cumpríamos ordens. O Exérci-to foi usado pela ditadura. Se não fizéssemos o que era determina-do, éramos presos também”.

Tanto Ney de Moura Calixto quanto, Antônio Carlos de Souza, foram vítimas do golpe de 1964. Foi uma época onde a sociedade não tinha vez. Hoje, Calixto com 85 anos e Antônio Carlos com 65, lembram-se do passado como épocas difíceis. Para o soldado, experiência, aprendizado e matu-ridade. Para o sargento, a luta e o pior momento de sua vida. “An-tes um país com uma democracia precária do que um país com uma ditadura boa”.

(Dankiele Tibolla)

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“Foi ao estilo da época,

sem qualquer julgamento. Meus colegas simplesmente foram presos e, mesmo os homens, ficaram 19 dias no Presídio Feminino Madre Peletier”

José A. Vieira da CunhaFundador da Coojornal

Rafael Guimarães, Elmar Bones, Rosvita Saueressig e Osmar Trindade foram os jornalistas presos devido à divulgação de documentos que o Exército pretendia manter secretos

José Antônio Vieira da Cunha

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

Resistir foi a opção adotada por Galvani

Com 30 anos de idade e nove de profissão à época do golpe militar, Walter Galvani teve que encarar, juntamente com seus colegas da redação do jornal Folha da Tarde, a pri-vação da liberdade de expres-são imposta pelo novo regi-me. Atualmente com 80 anos e compatibilizando a profissão original com a literatura, con-ta que jamais passou pela sua cabeça desistir do jornalismo; apenas, resistir. “As opções eram trabalhar ou abandonar o emprego. Fui obrigado a me conformar; fui me mantendo, levando a situação”.

Ele lembra que as formas de se praticar o jornalismo foram se modificando duran-te a ditadura, inclusive a ma-neira como a repressão atin-gia os profissionais e como eles lidavam com ela. Segun-do Galvani, as intromissões dos militares se tornaram recorrentes, transformando a rotina da redação. “Com o tempo, passamos a conviver com a presença de um cen-sor, que aprovava ou repro-vava cada matéria”.

Galvani recorda com de-talhes o pior momento vivi-do por ele nessa época. Foi quando chefiava a redação do jornal Folha da Manhã e rece-beu, pela primeira vez, ordens para não publicar certas ma-térias. “Tive que explicar para os redatores que o produto feito com tanto cuidado, em-polgação e profissionalismo não seria publicado. Foi real-mente difícil”.

Galvani mantém uma ofici-na online de criação literária e escreve crônicas semanais para jornais como o ABC Domingo, do Grupo Editorial Sinos.

(Manoela Petry)

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

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São Leopoldo/RS l Julho/2014 l Edição 21Educação

Bento adota skate e jiu-jítsu na escola

Biblioteca de Farroupilha informatiza seu cadastro

Voluntária faz “ronda” para ajudar cães de rua

A Biblioteca Pública Olavo Bilac, de Farroupilha, recebeu 55 mil reais do governo do Estado por meio de projeto promovido pela Secretaria da Cultura. A verba foi entregue pelo secretário, Luiz Antônio de Assis Brasil, na segunda se-mana de abril. A Olavo Bilac foi contemplada em quarto lugar no projeto de modernização de bibliotecas municipais.

Segundo a secretária de Educação do município, Elaine Giuliato, o valor será destina-do a melhorias. A execução dessas atividades está a cargo do poder público municipal, afirmou a responsável pela

biblioteca Silvana Balbinot. ‘’A prefeitura tem papel impor-tante desde a contrapartida dada ao projeto até as refor-mas em geral’’, explicou.

O objetivo da Olavo Bilac é facilitar o cadastro dos usuá-rios. Desde sua fundação, há 74 anos, a retirada de livros é feita manualmente. Em média, 100 leitores passam pela biblioteca diariamente. ‘’O usuário que está em casa poderá pesquisar, reservar e renovar livros sem se deslocar até o centro da cida-de’’, observou. Por enquanto, o software para a informatização ainda está em fase de testes.

(Maiandre Lazzari)

Depois de realizar o primeiro resgate de um cão de rua há dois anos em Cachoeirinha, a técnica em farmácia Manoele Raffone, 34 anos, envolveu-se na atividade de prote-tora voluntária na cidade.

“Eu cresci vendo meu avô cui-dando de vários vira latas, dando polenta com osso. Os cães viviam felizes, livres. Resolvi de fato atu-ar quando na minha rua via as ca-delas parindo até dez filhotes nas calçadas. Muitos morriam com sarna, atropeladas, com frio e as pessoas não faziam nada”.

Manoele passou a fazer. Informou-se como encaminhar bichos para a castração, como conseguir pessoas que adotem

animais abandonados, equipou a rua com casinhas para cães e ex-pandiu a atividade ao bairro.

Na avaliação da técnica farma-cêutica, a falta de políticas públicas e a ausência de fiscalização geram o quadro de abandono dos animais em ruas e avenidas. Na “ronda” di-ária ela leva sempre consigo uma sacola contendo ração, antisséptico, unguento, luvas e potes para água.

Ao incentivar pessoas a serem parceiras na defesa dos animais, Manoele deixa um recado: “Para salvar 100 animais, comece cas-trando um. Proteção animal é uma causa, não um negócio”. A atividade envolve um processo educativo.

(Thayná Bandasz)

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Artes marciais ajudam na melhoria das relações interpessoais

JOÃO PAULO MILESKI

Espaço “natureza” incentivaa consciência ambiental

O “Ciência e Natureza”, em Sapucaia do Sul, é um local destinado à diversi-dade animal, vegetal e ge-ológica da região. Mantido pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA), o espaço já recebeu mais de 4 mil vi-sitas. O objetivo do projeto é tra-zer conhecimen-to às crianças do município.

O lugar pos-sui dois ambientes, um para o público infan-til e uma área especifica para o público adulto, que apresenta conteúdo mais avançado e equipamentos científicos. Além do espaço destinado à aprendizagem, as escolas municipais des-

senvolvem projetos de pre-servação ecológica.

O município está prepa-rado para manter um lugar limpo e ecologicamente correto, porém ainda en-frenta dificuldades, “Le-

vamos informações aos jovens através de di-

versas ações, mas ainda não conse-guimos reeducar os adultos, este é o nosso desa-fio.”, relatou o

geólogo e secretá-rio Ivan Matte. Devi-

do ao bom desempenho do Espaço Ciência e Natu-reza e uma relação conso-lidada com as crianças, a SEMA planeja criar novos projetos e focar na cons-cientização de adultos.

(Fabiano S. Ferraz)

AS MODALIDADES VÃO INTEGRAR O CURRÍCULO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS A PARTIR DO SEGUNDO SEMESTRE. PROFESSORES VÃO SER CAPACITADOS

Priscila Boeira

As aulas de educação físi-ca ficarão mais dinâmicas em Bento Gonçalves, na Serra – a 92 quilômetros

da Unisinos, a partir do segundo semestre. Além das modalidades atuais como futebol, vôlei, han-debol e rugby, cerca de 6,5 mil alunos da rede municipal poderão optar por aulas de skate, slackline e jiu-jítsu.

As modalidades passarão a integrar o currículo escolar como forma de descobrir novas habili-dades. “O esporte é ferramenta muito importante para auxiliar o desenvolvimento das potencia-lidades do aluno, o que se refle-te positivamente dentro da sala de aula”, afirmou a secretária de Educação, Iraci Luchese Vasques.

De acordo com o secretário de Juventude, Esporte e Lazer, Gustavo Sperotto, os professores passarão por capacitações. “Estamos nego-ciando com profissionais das três áreas para formatar um curso pre-paratório. As modalidades foram escolhidas levando em conta seus benefícios e a popularidade entre os jovens”, comentou.

De acordo com o levantamen-to realizado em 2012 pelo Institu-to Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE), Bento tem 111.384 habitantes. Destes, 18.368 são

estudantes de Ensino Pré-Escolar a Ensino Médio, e 6.982 cursam Ensino Superior.

As aulas de Educação Física não são encaradas apenas como descontração para o mestre de jiu--jítsu Eduardo Veríssimo, referên-cia da arte marcial em Bento e no país. Ao longo dos últimos 20 anos ele conquistou títulos como cam-peão sul-brasileiro, sul-americano, tri-campeão gaúcho, campeão Asian Open e Miami Open. Em 1998, fundou a Garra Team, escola cujo objetivo é “formar pessoas de bem e aptas a praticar artes mar-ciais de forma consciente”.

Veríssimo explicou que a arte marcial envolve coordenação motora, agilidade mental e cog-nitiva. “Os relatos dos profes-sores e dos pais é de que a me-

lhora é geral, principalmente no campo disciplinar. A arte oriental também transmite valores que influenciam diretamente as rela-ções interpessoais”, garantiu.

Atualmente a Garra Team, em parceria com a prefeitura, desen-volve um trabalho no contraturno escolar, ensinando jiu-jítsu para 500 crianças provenientes de nove núcleos.

“O esporte é ferramenta

importante para auxiliar o desenvolvimento das potencialidades dos alunos, o que se reflete na sala de aula.”

Iraci Luchese Vasquessecretária de Educação

Conheça as modalidades

n Jiu-jítsu é a arte marcial ja-ponesa que utiliza golpes de articulação para imobilizar o oponente. Melhora o preparo físico, a consciência corporal, a autoconfiança e a disciplina interior. Também ensina valo-res como respeito, honestida-de, humildade e dignidade.

n Skate desenvolve consci-ência corporal, tônus mus-cular e flexibilidade, além de melhorar a concentração e estimular a criatividade.

n Já o Slackline, também conhecido como corda bam-ba, significa “linha folgada”. Consiste em uma fita elástica esticada entre dois pontos fixos, o que permite ao pra-ticante andar e fazer mano-bras tendo a fita como apoio. Fortalece todos os músculos do corpo, principalmente os membros inferiores e a região abdominal. O slackline traba-lha também alguns atributos psicológicos, como equilíbrio e concentração.

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21Educação

A inclusão começa pela escolaALUNOS COM DEFICIÊNCIA ESTÃO ENTRANDO NAS ESCOLAS REGULARES. MAS ESTAMOS PREPARADOS?

Lucas Schardong

Uma mente lúcida presa em uma casa que não consegue controlar: o próprio corpo. Essa é a realidade vivida

por Yasmin Paz. A garota de quatro anos tem paralisia cerebral, o que a impede de se movimentar e falar completamente. Além dessas difi-culdades, a mãe de Yasmin aponta a falta de acessibilidade. “Na cidade, é bem complicado, quase impossí-vel encontrar locais com rampas de acesso”, diz Marion Rodrigues Paz. Desde o início não foi fácil para a mãe de Yasmin: “Ela tem um proble-ma que não se trata com remédio, só com estímulos. Foi um desafio, mas eu enfrentei e encontrei os médi-cos”. Marion deixava a filha em uma creche que não tinha qualquer tipo de acessibilidade ou professores es-pecializados. Durante uma sessão de fisioterapia na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), foi sugerido que Marion colocasse a fi-lha em uma escola regular que tives-se uma Sala de Recursos.

Para auxiliar os alunos com de-ficiência dentro das escolas regula-res, em 2007 o Ministério da Edu-cação (MEC) desenvolveu o projeto Salas de Recursos Multifuncionais. Nele, alunos com diversos tipos de deficiência têm atendimento espe-cial durante o contraturno da aula regular. A escola recebe equipa-mentos tecnológicos e cursos para que os professores possam traba-lhar com os alunos.

“Busco trabalhar com ela como trabalho com todas as outras crian-ças, mas confesso que é um desa-fio. Ela é uma criança meiga e ca-rinhosa, apresentou uma tranquila adaptação. Às vezes é complicado, pois, como ela não fala, fica difícil saber o que está acontecendo”, afirma Tassiana Munari, profes-sora de Yasmin no turno regular. Por isso, Tassiana busca a Sala de Recursos. “Para auxiliar e acom-panhar o desenvolvimento dela, a Sala de Recursos tem me dado muito suporte, pois junto com a professora (especializada) tenho buscado ajuda e aprendido muito”, conta. Entretanto, Tassiana obser-va que ainda faltam melhorias: “A infraestrutura da escola também é um obstáculo. Não temos rampa de acesso à pracinha, à biblioteca, à quadra de esportes, muitas vezes temos que carregá-la no colo”.

De acordo com a mãe de Yas-min, o fraco apoio do governo é algo que preocupa. “A prefeitura não dá incentivo para os alunos deficientes estudarem em esco-las regulares. Por exemplo: é de direito da Yasmin ter um profes-sor auxiliar especializado dentro da sala de aula, e o governo não providencia isso.”

Para a professora Isabel Cristi-na, essa participação do aluno de-ficiente na aula regular é essencial para colaborar com a inclusão e o desenvolvimento. “Estudando com os outros alunos e convivendo com os desiguais, aumenta a probabili-dade do desenvolvimento deles. E mesmo com a dificuldade de comu-

nicação, ela (Yasmin) se dá muito bem com os colegas, eles a ado-ram”, afirma. Isabel é professora na Escola Municipal Afonso Gomes de Carvalho, de Portão, onde traba-lha há 11 anos e, desde o início de 2014, atua na Sala de Recursos.

Não cabe somente aos profes-sores coordenar os trabalhos com os alunos deficientes e a Sala de Re-cursos. A orientadora educacional Karine Della Nina vê o espaço como um lugar de importantes oportuni-dades: “Os alunos têm situações de aprendizagem através da ludicida-de, atividades desafiadoras, em que a socialização e o desenvolvimento da autonomia estarão presentes”. Karine trabalha como orientadora na Secretaria de Educação de Por-tão, órgão responsável pela identi-ficação e seleção das escolas com demanda mais expressiva.

Mas nem todos concordam que alunos deficientes devam es-tudar em escolas regulares. De acordo com outra professora da Afonso Gomes de Carvalho, Jaque-line Martins, a estrutura precária e a falta de incentivos do governo são razões para os alunos procura-rem alternativas. “A proposta da inclusão é excelente, mas os in-vestimentos do governo são insu-ficientes para atender à demanda das escolas. Além disso, acredito que a estrutura física da minha es-cola não atende às necessidades dos alunos”, avalia.

Existem opções, como as Apa-es, por exemplo. “A Apae é uma

excelente instituição e, de acordo com a deficiência do aluno, somen-te os profissionais dela para aten-der”, afirma Jaqueline.

Para a mãe de Yasmin, a esco-la regular está sendo uma grande e positiva experiência: “É bom para ela estar na escola. Antes ela não tinha contato com outras crianças. Agora ela brinca mais, se interessa mais. Acredito que ela terá um grande progresso ao longo dos anos”.

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“Estudando com os

outros alunos e convivendo com os desiguais, aumenta a probabilidade do desenvolvimento deles. E mesmo com a dificuldade de comunicação, ela (Yasmin) se dá muito bem com os colegas, eles a adoram”

Isabel CristinaProfessora

Na Escola Afonso Gomes de Carvalho, Yasmin participa normalmente das aulas com os colegas; professora do turno regular, Tassiana também aprende com Yasmin na Sala de Recursos

FOTOS LUCAS SCHARDONG

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São Leopoldo/RS l Julho/2014 l Edição 21Saúde

Comitê ataca crise nohospital de Farroupilha

Dois Irmãos aguarda recursos para Postão

Vacina antigripal leva até dez dias para atuar

COM UMA DÍVIDA DE 15 MILHÕES DE REAIS, NOVA DIREÇÃO, APOIADA PELA PREFEITURA, QUER PAGAR CONTAS EM DIA, SEM ATRASAR SALÁRIOS

Jéssica Arilde Fabro

Após dois meses sob ad-ministração do novo Co-mitê Gestor, o Hospital Beneficente São Carlos

(HBSC), de Farroupilha, já apresen-ta melhorias. A nova direção quer mudanças e planeja ações para o avanço da instituição. Entretanto, o maior desafio que tem pela fren-te é sanar as dívidas da casa.

O HBSC, único do município, tem passado por um período difí-cil devido a uma dívida de cerca de 15 milhões de reais. A instituição privada enfrentou graves proble-mas de gerenciamento nos últimos anos. Só em 2013, a coordenação mudou quatro vezes. O atraso dos salários virou rotina. A organização já não tinha mais licença da vigi-lância sanitária e o pagamento dos impostos estava atrasado. A Pre-feitura Municipal emitiu o decreto N.º 5.555 e interveio no hospital.

Com o intuito de gerenciar a crise financeira e administrati-va, o prefeito Claiton Gonçalves nomeou um Comitê Gestor, com apoio do Governo do Estado, integrado por três membros: o vereador Vandré Fardin, o em-presário Geraldo Alexandrini e o médico Paulo Kratz.

Para o presidente do Comitê, Vandré Fardin, o principal ponto de partida da comissão é a me-lhoria da gestão do hospital, com

a implantação de sistema de infor-mação que consiga apurar as des-pesas de cada procedimento reali-zado para encontrar uma maneira de racionalizar custos.

Uma tarefa nada fácil par um hospital do tamanho do São Car-los, que conta com 102 leitos, 409 funcionários e 70 médicos. “Se nós não sanarmos a questão financei-ra, não resolveremos o problema do hospital”, admitiu Fardin, Ele ressaltou que, no momento, quitar a dívida antiga não é o mais im-portante, mas sim pagar as novas contas em dia e não atrasar os sa-lários. Problemas passados serão resolvidos no futuro.

A psiquiatra Karen Letti ficou sem receber pagamento durante

oito meses. É cedo, entende, para dizer se a nova gestão está suprin-do as necessidades dos funcioná-rios do HBSC, mas a expectativa é de a nova gestão acertará o passo.Muitas coisas ainda carecem de melhorias por causa das crises políticas e financeiras que a ins-tituição viveu. “É preciso dar um tempo para as coisas se organiza-rem. Houve prejuízo no emocional de muitos funcionários do hospital por questões de entraves e ideias contrárias”, observou Letti.

Enfermeira do centro cirúrgico há 20 anos, Janete de Lima asse-gurou que a constante transição de gestões atrapalhou muito o progresso da entidade. Quando os projetos estavam sendo encami-nhados, a administração mudava e quem a substituía não continuava com o projeto.

Em todo esse tempo em que ela trabalha no hospital, contou Lima, nunca ocorreram reuniões com os funcionários, nem para sa-ber como estavam se sentindo em relação à empresa, ou o que eles esperavam da instituição. Nunca houve incentivo, reconhecimento e comunicação. “Podemos fazer muitas coisas sem dinheiro, não precisa de milhões para atender bem ou incentivar um funcioná-rio, não precisa nem de aumento de salário, o reconhecimento e a atenção já mudaria tudo”, desa-bafou Janete.

Emancipado em 1934, Farrou-pilha tem 63,6 mil habitantes, que encontram atendimento de saúde no São Carlos e em 11 postos de saúde espalhados pelo município. Em 2012, a prefeitura arrecadou 160,3 milhões de reais.

A Prefeitura de Dois Irmãos aguarda a liberação de 1 milhão de reais, recurso dos governos fe-deral e estadual, para dar início à construção de um novo centro de saúde. O projeto do “Postão” está concluído e a área que o abrigará escolhida, no centro da cidade.

Para uma população de 30 mil habitantes, o sistema de saúde de Dois Irmãos prestou 183 mil atendimentos em 2013, entre consultas, internações e exames. Ainda assim, o espaço físico hoje existente na cidade, no hospital e postos, é insuficiente para a aqui-sição de novos instrumentos de traumatologia, endocrinologia e reumatologia, especialidades que

precisam de equipamentos de ponta, além de profissionais.

Ainda assim, o sistema de saúde dois-irmãosense, gratuito para os seus moradores, é supe-rior inclusive aos planos de saú-de privados, assinalou o secre-tário da Saúde e vice-prefeito, Jerri Meneghetti.

O presidente da Câmara de Vereadores, professor Jailton de Lima Proença, concorda que a construção de um novo cen-tro de saúde é uma medida cor-reta e necessária. Ele destacou que o município investe, hoje, mais de 25% do seu orçamento em saúde pública.

(Roque Vieira Vilande)

A campanha de vacinação contra a gripe, programada para terminar em 9 de maio, foi prorrogada por mais duas semanas. A Secretaria Estadual da Saúde contabilizou 1,8 mi-lhão de pessoas vacinadas até a data inicial, o que representa uma cobertura de 56% do pú-blico, a terceira maior do país.

Em Canoas, apenas 41,7% da população alvo – pessoas com mais de 60 anos de idade, pro-fissionais da área da saúde, in-dígenas, gestantes, presidiários, crianças até cinco anos e porta-dores de doenças crônicas não transmissíveis – tinham procura-do, até o dia 9 de maio, uma das

26 Unidades Básicas onde a vaci-na estava sendo aplicada.

A técnica em Enfermagem, Luciane Biasi Sousa, funcionária do Centro de Atendimento Es-pecial de Canoas, informou que, apesar de terem ampliado a vaci-nação para crianças de 0 a 5 anos, quando em anos anteriores era de 0 a 2 anos, a procura caiu em 2014. Uma das explicações: mães não ficaram sabendo dessa am-pliação da faixa etária.

O diretor da Vigilância em Saúde, o médico Paulo Zuba-ran, alertou que a vacina leva dez dias para criar anticorpos na pessoa que foi vacinada. (Amanda Mendonça Moura)

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“ Quitar a dívida

antiga não é, de momento, o mais importante, mas honrar salários. Se o lado financeiro não for sanado, o problema do São Carlos não será resolvido.”

Vereador Vandré FardinComitê Gestor

São Carlos teve várias administrações, até a intervenção da prefeitura

JÉSSICA ARILDE FABRO

Saúde de Osório é referência no Estado

O Posto de Saúde de Osó-rio precisou de cinco anos para ser visto como exem-plo aos municípios vizinhos. Através da implantação de seu sistema de atendimento, em 2009, Osório virou mo-delo e proporcionou uma oferta mais ágil e qua-lificado à população pelo Sistema Úni-co de Saúde (SUS).

O sistema con-tribuiu com avan-ços como a otimi-zação de recursos, facilidade de acesso às informações de pacientes e diminuição das filas de espe-ra. Na prática, essas mudan-ças significaram uma redu-ção de 30% dos gastos com medicamentos, somente de-vido à melhora do controle.

Os números chamaram

a atenção até de outras regiões do Estado. No mês de abril, representantes da Prefeitura de Santa Cruz do Sul estiveram em Osório para conhecer o sistema informatizado e

seus benefícios.“Municípios que es-

tão iniciando o pro-cesso de confecção de seus editais para este mesmo serviço têm nos visitado e buscado

informações sobre o sistema de atendi-

mento informatizado, como foi o caso de Santa Cruz. Ofe-recemos hoje uma estrutura que serve como modelo para região”, disse o secretário municipal da Saúde, Emerson Magni da Silva.

(Arthur Isoppo)

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

A “jovem” terceira idadeNOVOS HÁBITOS, COMO ACADEMIA E INCLUSÃO SOCIAL, LEVAM IDOSOS A VIVER MAIS E MELHOR

Guilherme Rossini

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-ca (IBGE) diz que há sete décadas tínhamos

como expectativa de vida no país a seguinte marca: 41,3 anos. Em 2014, a previsão é de que cada brasileiro poderá viver por mais de 74 anos. E, até 2050, projeta--se que a população alcance uma expectativa de vida superior a 80 anos. Mas como está vivendo essa “nova terceira idade”?

Segundo a enfermeira Cris-tiane Maria Schneider Wie-derkehr, vários fatores são fun-damentais para se ter uma vida plena e uma velhice sadia. For-mada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Cristiane atua há mais de 25 anos nessa área, que, segundo ela, melhorou consideravelmen-te. “As vacinas evoluíram muito com o passar do tempo, e isso foi uma coisa que ajudou bas-tante nesse crescimento da ex-pectativa de vida”, aponta.

No entanto, Cristiane enfati-za que é preciso tomar algumas medidas para que se tenha saú-de em uma idade mais avançada. Em sua maioria, ações simples,

como controle da alimentação, exercício físico regular, hidrata-ção e cuidados com a pele e com a saúde bucal. “Essas são coisas que todos sabem, porém, muita gente se esquece de fatores mui-to importantes: dar atenção e alimentar o intelecto dessas pes-soas”, complementa a enfermei-ra. Segundo ela, os idosos devem ler e, principalmente, conversar. “Sentir-se incluído socialmente é algo fundamental para uma ve-lhice plena”, conclui.

Segundo Ivone Dunker, 64 anos, cuidar tanto da saúde físi-ca quanto mental é fundamental para levar uma boa vida. A apo-

sentada caminha três vezes por semana e, à mesa, evita gordu-ra, doces e sal em excesso. “Se a gente come tudo isso e ainda não faz nenhuma atividade físi-ca, engorda demais e perde saú-de”, alerta.

Ivone mantém sua vida social participando de um grupo cha-mado Associação da Terceira Ida-de Sempre Jovens. Como diz o nome, elas fazem tudo o que os jovens fazem. Viajam, organizam almoços e vão a bailes todo o fim de semana. Ivone não perde um, pois neles as amigas se encon-tram, conversam, dançam e até namoram de vez em quando.

José Getulio Machado Fran-co, 65 anos, é proprietário de uma academia em Feliz há 10 anos. Popularmente chamado de Getulio, o professor de educação física exerce a profissão há 42 anos, sendo 40 dedicados a le-cionar em escola pública. A aca-demia de Getulio é uma das três existentes na cidade de pouco mais de 12 mil habitantes, loca-lizada a 90 quilômetros de Porto Alegre. Porém, destaca-se por dar atenção especial aos idosos. “Tenho duas pós-graduações e mais de 20 cursos que me habili-tam a trabalhar com pessoas de mais idade”, diz Getulio.

O professor recebe muitas pessoas acima dos 50 anos. Em geral, com problemas de saúde a serem amenizados ou apenas

o desejo de deixar de lado o se-dentarismo. “Solicito exames médicos antes de qualquer ati-vidade, e então vejo quais exer-cícios são melhores para cada pessoa”, explica.

Um dos casos é o de João Lo-tário Freiberger, 61 anos. Há oito anos, Lotário sofreu um aciden-te de carro e, com isso, teve de mudar totalmente seus hábitos. Com uma grave lesão na coluna, passou a sofrer limitações em movimentos comuns de seu co-tidiano. Após algum tempo de fisioterapia, ele ainda se via limi-tado. “Eu sentia muita dor, então o médico me indicou a opção de entrar numa academia. Frequen-to-a há sete anos, três vezes por semana. Faço todos os exercícios e me sinto muito bem, me sinto normal”, relata Lotário.

Enfim, a “nova terceira ida-de” pretende tomar conta de todas as áreas, eliminando a barreira da velhice. Cuidar da saúde física e mental, sentir-se incluído na sociedade e se diver-tir são fatores que determinam se os idosos estarão vivendo ou sobrevivendo. Hoje, pouco mais de 5% da população brasileira tem mais de 60 anos. Até 2050, a expectativa é de que mais de 30% da população seja forma-da por pessoas dessa faixa etá-ria. Uma meta para consolidar a ideia de que, após os 60 anos, a vida continua.

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Há sete décadas, a expectativa de vida no país beirava os 40 anos. Mas, com o avanço da medicina e novos métodos preventivos, hoje chegamos à marca de 74 anos

Professor de educação física, Getulio, 65 anos,

compartilha a própria receita de saúde com os

clientes acima dos 50

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Saúde

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Depressão pós aposentadoriaPRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS E LAZER PODEM SER ALIADOS NO COMBATE À DOENÇA

Camila Hugenthobler

S entada na cadeira de ba-lanço, Edi Kohlrausch, 55 anos, não consegue segu-rar as lágrimas nos olhos

verdes ao se lembrar da doença que a acompanha desde crian-ça, e que se intensificou com o tempo e a aposentadoria. A depressão está presente no co-tidiano, e as consequências da síndrome fizeram com que ela buscasse alternativas para ame-nizar os sintomas da doença.

A aposentadoria chegou cedo, aos 41 anos, após traba-lhar e contribuir com a Previ-dência Social durante 25 anos. A jornada de trabalho começou na roça, seguiu como empregada doméstica e continuou como fa-xineira. Mesmo aposentada, Edi não pára de trabalhar por dois motivos: primeiro, por indica-ções médicas. Segundo, porque o salário de aposentada não cobre as despesas com os remédios da depressão e pressão alta.

Frequentes dores nas cos-tas, nas pernas, dificuldades em caminhar e levantar-se, o desânimo para realizar tarefas simples do dia a diae a negação da presença da depressão em sua vidafizeram com que ela-procurasse ajuda. Por incenti-vo da família e de conhecidos, há quatro anos, ela faz parte do Grupo da Amizade, progra-ma da Prefeitura Municipal de Nova Hartz, cidade em que re-side.Lá são oferecidas aulas de aeróbica, oficinas de artesanato e informática, entre outras ati-vidades, de forma gratuita.

Atualmente, ela participa to-das as quintas-feiras das aulas de aeróbica realizadas no centro comunitário do bairro onde vive, Campo Vicente. “Parece que a quinta-feira demora a chegar”, conta Edi com sorriso no rosto. “Para mim, esse dia da semana é sagrado. Eu não trabalho nas quintas à tarde, ela é reserva-da para eu ir nas aulas”, afir-ma. Animada,ela define o grupo como uma benção em sua vida. “Eu quase não caminhava, era uma pessoa introvertida, hoje não. Fiz muitas amizades lá, não consigo mais viver sozinha, pre-ciso de gente na minha volta, preciso das minhas amigas”, diz. “Desde que comecei a frequen-tar as oficinas sinto que minha saúde melhorou, não digo 100, mas certamente 80%”.

Formada há 27 anos e tra-balhando com pacientes acima dos 50 há mais de uma década, a médica Carla Brenner, espe-cialista em medicina interna, destaca que com a aposentado-

ria e a quebra repentina de uma rotina de serviço, uma pessoa acostumada a trabalhar desde muito cedo pode apresentar sintomas de envelhecimento precoce físico e mental. Den-tre as principais consequências deste processo de transição, a doutora enfatiza o isolamento social, que pode levar o pacien-te a um estágio de depressão. “Nesta etapa, é essencial o con-vívio social. A pessoa precisa de amizades, passeios, mudanças na rotina”, afirma Carla. Para a médica, outro fator que ajuda no combate à depressão pós--aposentadoria é a leitura, que estimula o raciocínio. Ela desta-ca ainda que a música auxilia na prevenção ao envelhecimento, e a prática continua de exercí-cios e hobbies, como artesana-to e dança, evita problemas ar-ticulares e cardíacos, bem como o sedentarismo.

Uma das principais motiva-doras de dona Edi na busca por ajuda no combate à depressão, atende pelo nome de Luisa Ko-hlrausch, 22 anos. Segunda filha do casamento que já dura 34 anos, foi ela quem incentivou e incentiva a mãe a continuar com as visitas periódicas ao psiquia-tra e ao psicólogo. Hoje, o princi-pal motivo para ela continuar lu-tando contra a doença silenciosa tem menos de um metro, e de

um ano de idade. O seu primeiro neto, Igor, renovou a esperança de momentos bons na vida da aposentada. “Pensei por muitas vezes em desistir de tudo, ago-ra não penso mais, meu netinho trouxe muita alegria. Tenho uma família linda, amigas, emprego, não tenho mais motivos para ser triste”, completa Edi.

OS SINTOMAS DA DEPRESSÃO

A depressão pode ser defi-nida como um sentimento de tristeza constante, de vazio na vida. Ela afeta de maneira di-reta a rotina de uma pessoa, tirando dela a vontade de re-alizar atividades que antes lhe eram prazerosas, deixando-a, de certa forma, incapaz de exe-cutar tarefas simples do dia a dia, como por exemplo, ir ao su-permercado ou conversar com amigos e familiares.

Junto com a sensação de tris-teza constante, os sentimentos de culpa, impotência e desespe-rança podem ser notados clara-mente em pessoas depressivas. Agitação, irritabilidade e pen-samentos de morte estão, por muitas vezes, presentes no coti-diano delas.Pessoas depressivas também podem apresentar do-res crônicas de cabeça, estôma-go, insônias e falta de apetite,

ou excesso de ambas,além de dificuldades de concentração.

A doença pode manifestar-se de diferentes modos dependendo do paciente. Às vezes, ela se jus-tifica por questões hereditárias, quando familiares, nos quais se tem contato frequente e direto, são portadores da doença. Em outras ocasiões, a depressão pode apare-cer depois de acontecimentos de perda, como falecimento de entes queridos, demissão, término de re-lacionamentos amorosos, ou queda no padrão financeiro de vida.

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“Eu quase não caminhava,

era uma pessoa introvertida. Hoje sou diferente. Fiz muitas amizades, não consigo mais viver sozinha, preciso de gente na minha volta, preciso das minhas amigas”

Edi Kohlrauschfaxineira aposentada

Edi Kohlrausch (primeira da esquerda para direita) busca minimizar a doença frequentando periodicamente grupos de dança e de exercícios aeróbicos para aposentados

DJENIFER IENSE

SaúdeSão Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

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Saúde

Quando viver vira um transtorno A ANSIEDADE É UM DOS DISTÚRBIOS MENTAIS QUE ACOMETEM PELO MENOS 700 MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO E PODE ATINGIR GRAVEMENTE O ESTILO DE VIDA DE QUEM SOFRE COM ELA

Fernanda Fauth

Maria da Silva, 59 anos, adora falar. Seja por telefone, sozinha ou pessoalmente com

outras pessoas. O apartamento dela, de 80 metros quadrados, parece grande para ela e a ca-delinha poodle. “Por me sentir sozinha, acabo falando com a Kate ou comigo mesma”, comen-ta olhando para os lados, com feição triste no rosto. Ela gesti-cula com as mãos e com a cabe-ça enquanto profere frases. “Às vezes acontece de eu estar tão entusiasmada com o papo que esqueço o que ia dizer e começo a tentar demonstrar algo com as mãos”, diz a funcionária pública da rede estadual de saúde.

A conversa poderia durar o dia inteiro. Durante a entrevista, ela recebeu visitas e telefonemas de colegas de trabalho e parentes. Maria, um nome fictício criado a pedido da entrevistada, adora essa atenção extra. Até que mais para o final do dia, perto das 18h, ela recebe uma ligação.

Não consegue achar o tele-fone. Quando o encontra, a liga-ção já havia encerrado. Era o ex--marido. Ela tenta retornar, mas não consegue. Maria entra em pânico. Pensa em histórias terrí-veis, acidentes, mortes e outras coisas relacionadas ao ex. Eles são grandes amigos, apesar de separados. Tiques nervosos com a boca, as mãos e os pés tomam conta dela. As suas feições tam-bém mudam. Ela está com medo e assustada. São os sintomas da ansiedade e da síndrome do pâ-nico se manifestando.

A funcionária pública, Ma-ria da Silva, não está sozinha. Segundo dados do ano passa-

do divulgados pela Organização Mundial da Saúde, estima-se que 700 milhões de pessoas no mun-do tenham transtornos mentais. As doenças mais frequentes são a ansiedade e a depressão. De acordo com a médica psiquiatra e psicoterapeuta Lis Elisa Vian-na Schäffer, a partir do momen-to em que a ansiedade tem um alto nível de intensidade, vira um transtorno. “Depende o quanto interfere na vida da pessoa. Há necessidade, em todos nós, de certa ansiedade para irmos em direção a situações novas, reali-zarmos mudanças, evoluirmos, mas em excesso pode ser parali-sante”, afirma a doutora.

No caso de Maria da Silva, ela prefere não procurar ajuda médica. “Gosto de viver assim. Sei que tenho problemas, meus familiares falam, mas não sin-to que esteja preparada”, diz a funcionária pública. Contudo, quem tem ansiedade ou qual-quer outro transtorno associado à mesma pode ficar tranquilo: existe tratamento.

Um recurso terapêutico é trabalhado na pesquisa de mes-trado de Andressa Behenck, en-fermeira psiquiátrica do ambula-tório de psiquiatria do Hospital de Clínicas. O foco dos estudos é avaliar os fatores terapêuticos que surgem na terapia cogniti-vo comportamental em grupo (TCCG) – psicoterapia - para o

transtorno obsessivo-compulsi-vo, mais conhecido como TOC, e para o transtorno do pânico. Em grupo, os voluntários têm a oportunidade de compartilhar experiências com outros pacien-tes que apresentam os mesmos problemas, ajudando a diminuir a percepção de estar sozinho.

Segundo a especialista em saúde mental, a eficácia da psi-coterapia para o tratamento do pânico já é comprovada. “Tra-balha-se corrigindo pensamen-tos distorcidos e resignificando o medo irracional. Também são exercitadas técnicas comporta-mentais, planejando o enfren-tamento gradual de situações evitadas”, afirma Andressa. A equipe é composta por cinco pes-quisadores e 28 pacientes, sendo 12 sessões de terapia em grupo. A cada sessão semanal com dura-ção de duas horas, os pacientes respondem a um questionário. Serão feitos até o final 336 ques-tionários. A pesquisa será reali-zada até março de 2015.

EXERCÍCIO FÍSICO AJUDANO CONTROLE

Muito se fala sobre como os exercícios físicos são fundamen-tais para uma boa qualidade de vida. Contudo, eles também devem ser lembrados quanto à saúde mental. Segundo artigo publicado pela Revista Brasileira

de Atividade Física e Saúde, uma pesquisa realizada com 26 jovens mostrou que, independente do nível de ansiedade que os pa-cientes tinham, o exercício feito de forma moderada ou alta foi benéfico para o bem estar. O re-sultado mostrou ainda que hou-ve um efeito calmante nos volun-tários após exercitarem-se.

Marcelli Pedroso, 20 anos, es-tudante de Jornalismo da Unisi-nos, acredita que ter uma rotina de atividades ajuda no controle dos sintomas. Diferentemente de Maria da Silva, Marcelli ouviu os familiares e vai mensalmente à psiquiatra. “Exercícios sempre me deixaram bem, fazendo com que, de certa forma, eu esqueça o mundo”, afirmou a jovem.

De acordo com Darlen Portal, professora em uma academia e especialista em Nutrição Espor-tiva, o exercício físico, se feito com regularidade e de forma moderada à intensa, pode ajudar no controle da ansiedade. “Você passa a ter um novo foco, um novo objetivo”, explica. Segundo Darlen, a sensação do bem estar vem das chamadas endorfinas, hormônios que ajudam a reduzir dores e até o sofrimento. “Quan-to maior for a carga de exercícios, mais endorfinas são produzidas, por isso, as atividades mais reco-mendáveis são os aeróbios, como natação, corrida e ciclismo”, afir-ma a personal trainer.

De acordo com a médica psiquiatra e psicoterapeuta Lis Elisa Vianna Schäffer, a partir do momento em que a ansiedade tem um alto nível de intensidade, vira um transtorno

Maria da Silva vive sozinha em seu

apartamento, no centro de Porto Alegre

FERNANDA FAUTH

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São Leopoldo/RS l Julho/2014 l Edição 21Geral

Baixa procura para capacitação do inglês

Torcedores argentinos terão apoio na Copa

Projeto social motiva alunos ao voluntariado

CURSOS DE INGLÊS DO PROJETO TCHÊQUALIFICA NÃO ATRAÍRAM MUITOS PROFISSIONAIS. A CAPACITAÇÃO FOI OFERECIDA SOMENTE EM JANEIRO

Ana Paula Zandoná

Para capacitar profissionais envolvidos na Copa do Mundo de 2014, a Secre-taria de Turismo (SETUR/

RS) abriu vagas, em dezembro do ano passado, em cursos de inglês no TchêQualifica. O público-alvo eram taxistas, garçons, comerci-ários, recepcionistas da Grande Porto Alegre. Apesar da iniciativa, o idioma ainda é uma das grandes preocupações desses profissio-nais em relação à Copa.

Muitos profissionais presta-dores de serviço nunca chegaram a fazer um curso de inglês. O gar-çom Lauro de Lima trabalha por mais de dois anos em restaurante em Canoas – que preferiu omitir o nome -, e não lhe foi oferecida a capacitação no idioma. “Nunca ouvi falar do TchêQualifica. Só sei meia dúzia de palavras em inglês!”. Ele já serviu estrangei-ros, mas não conseguiu conver-sar com eles. O taxista Oldair de Almeida disse que ficou sabendo dos cursos oferecidos pela prefei-tura, mas que não teve interesse em se especializar: “Na hora, eu me viro”, comentou.

Outro problema é que os programas de capacitação foram organizados tardiamente. Em te-oria, os profissionais interessados teriam apenas seis meses para

“aprender”, e isso é insuficien-te. A diretora do curso Challen-ge Centro de Idiomas, Maria da Graça Galinatti Flach, de Canoas, duvida de programas de idiomas de curta duração. “O que é o in-glês para a Copa? Ensinar meia dúzia de palavras? Para conse-guir diálogo na língua, é preciso fluência, tempo. Eu não creio no inglês dissociado dessa maneira,” afirmou. Ela alertou que o nível de interesse do brasileiro é muito baixo: “Aqui, nós somos muito di-ferentes da Europa, por exemplo. Nem mesmo em alguns hotéis e postos de informações turísticas

há quem domine o idioma”, disse.Segundo pesquisa da Edu-

cation First (EF), o Brasil ocupa a 46ª posição em fluência no inglês, numa pesquisa que con-siderou 54 países. O Rio Gran-de do Sul teve um desempenho considerado “muito baixo”. Na Copa do Mundo, os brasileiros terão a oportunidade de perce-ber que precisam aprender um idioma para estabelecer relações com outros países. “As pessoas não dão muita atenção porque o mercado interno é forte, e parece que basta negociar internamente, na língua local”, apontou Michael Lu, diretor-sênior da EF. “Menos inglês significa menos inovação, comércio e receita”, concluiu.

Canoas faz parte do grupo de cidades que pretende rece-ber um número elevado de visi-tantes. A cidade está na lista de cidade com possiblidade de abri-gar treinamento de seleções visi-tantes para a Copa da FIFA, atra-vés do Centro Esportivo da Ulbra. É a cidade-natal do técnico Luiz Felipe Scolari e, por isso, atrai tu-ristas curiosos.

Em entrevista ao Diário de Canoas, a gerente-comercial do Hotel Metropolitan, Daniela Och-senhofer, garantiu que já contam com 60 reservas para grupos de estrangeiros: “Na capital, os valo-res dos hotéis são mais elevados. E para cá o deslocamento é bem fácil. Estamos mais próximos do aeroporto do que hotéis da zona Sul da capital”, comparou. De acordo com o Ministério do Turis-mo, o Rio Grande do Sul estima receber mais de 260 mil visitan-tes durante o período.

A alguns dias do início da Copa do Mundo no Brasil, o Consulado Argentino em Porto Alegre prepara um esquema es-pecial para atender turistas do seu país que deverão se dirigir à capital gaúcha para acompa-nhar o jogo entre Argentina e Nigéria, no dia 25 de junho. Se-rão instalados postos de aten-dimento no Aeroporto Salgado Filho e na rodoviária. Eles aten-derão os torcedores entre os dias 20 e 28 de junho.

“Sabemos que muitos dos nos-sos conterrâneos virão até aqui (Porto Alegre) de avião e de ônibus. Por isso temos que estar presentes para atendê-los, tanto na rodovi-

ária como no aeroporto”,afirmou Lisandro Parra, cônsul adjunto da Argentina na capital gaúcha.

Segundo o cônsul, nesses pos-tos haverá informações aos turistas sobre hotéis, restaurantes, bares, festas e atividades culturais. Tam-bém será possível realizar a emis-são de documento de identificação provisório que permita o argentino regressar ao seu país em caso de perda do original. Parra afirmou que, em um caso extremo, o con-sulado pode providenciar também o retorno do turista para a Argen-tina se ocorrer extravio da passa-gem de volta, ou sanar outros im-previstos que possam ocorrer.

(Anderson Guerreiro)

“Um olhar para o outro”, programa social da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo, incentiva o trabalho voluntá-rio de alunos do Ensino Médio, que visitam entidades carentes e buscam melhorias para a vida das pessoas atendidas.

Na intenção de realizar o exercício da cidadania, os estu-dantes escolhem um professor orientador e decidem qual enti-dade querem visitar, onde pas-sam a promover atividades e or-ganizar apresentação de todas as vivências sociais adquiridas.

A aluna Eduarda Oliveira e seu grupo decidiram fazer o tra-balho na Escola de Educação In-

fantil da Paz, pertencente à Asso-ciação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial (Abefi). “Acha-mos legal a ideia de trabalhar com alunos entre 2 e 4 anos., pois temos muita afinidade com crianças”, relatou.

Para a professora Júlia Wolff, que auxiliou o grupo, esse pro-jeto é fundamental aos alunos. “Aprender a ser humilde e a en-xergar o outro são as principais lições desse programa”, opinou. A diretora da entidade, Monika Maier, também acredita na efi-cácia das atividades. “As crianças ficam felizes em receber atenção e carinho”, sublinhou.

(Bárbara Bengua)

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“O que é o inglês para

a Copa? Ensinar meia dúzia de palavras? Para conseguir diálogo na língua, é preciso fluência, tempo. Eu não creio no inglês dissociado dessa maneira.”

Maria da Graça Galinatti Flachdiretora do Challenge Centro de Idiomas

O garçom Lauro de Lima sequer soube da existência do projeto

ANA PAULA ZANDONÁ

Escada rolante do trem está parada há meio ano

Os usuários da Trensurb das Estações Unisinos e São Leopol-do nem lembram mais quando foi a última vez que encontraram as escadas rolantes em funcio-namento. Inoperantes desde de-zembro de 2013, tornaram-se um obstáculo para quem usa o trem diariamente. A situação se agrava para os passa-geiros que têm neces-sidades especiais.

O cadeirante Ré-gis Viegas, estudante de Jornalismo, 31 anos, não pode usar o elevador da Estação Uni-sinos porque o equipamento só atende o segundo e o terceiro andares. Com a escada rolante estragada, resta apenas a rampa de acesso. Porém, ele necessita do auxílio de alguém, pois a rampa fica longe do local onde pega o ôni-bus para ir à universidade. “É preci-

so que alguém me ajude a atraves-sar a rua com a cadeira de rodas. Nem sempre há funcionários do trem para fazer isso. Eles alegam que o trabalho deles é apenas da Estação para dentro. Dependo da boa-vontade das pessoas que pas-

sam por mim”, conta Viegas.A assessoria de im-

prensa da Trensurb informa que as escadas rolantes foram desativadas por questão de se-gurança. Como são

de um modelo que foi abandonado pelo

fabricante, a reforma não é possível. A empresa conta com um projeto para substi-tuí-las e aguarda disponibili-dade orçamentária para sua execução. Por enquanto, não há previsão de troca.

(Germana Zanettini)

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Vida universitária na ditaduraHÁ POUCO MENOS DE 30 ANOS, LIVROS ERAM CENSURADOS, ALUNOS E PROFESSORES ERAM PRESOS E TORTURADOS POR SUAS OPINIÕES E HAVIA AMEAÇA CONSTANTE DE EXCLUSÃO PERMANENTE DE TODO O SISTEMA UNIVERSITÁRIO BRASILEIRO

Mailsom Portalete

Os estudantes universitá-rios enfrentam, muitas vezes, problemas na luta e na garantia de seus di-

reitos. Entretanto, houve uma épo-ca em que não existiam direitos e não se podia nem lutar por eles. Ve-jamos alguns relatos de quem viveu a recente e trágica história brasilei-ra. Vamos tentar entender como era ser um universitário e como funcionava o ambiente acadêmico na época da ditadura.

“Só cursávamos a faculdade pela obtenção do diploma. Eram raríssi-mas as aulas que nos proporcionas-sem alguma satisfação. A falta de espírito crítico nos cursos de gradu-ação decorre desta época”, conta o professor da Unisinos, Pedro Osório. Ele diz ainda que “os limites presen-tes na democracia do Brasil e a pró-pria falta de consciência política da população atual” se devem ao que foi feito com os cursos de graduação na época da ditadura. O que, segun-do ele, tem consequências até hoje

em todos os setores da sociedade.Pedro Luiz da Silveira Osório,

60 anos, professor da Unisinos, iniciou a vida acadêmica em 1973, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Em plena ditadura, ser líder estudantil em uma univer-sidade de extrema direita, “criada sob as bênçãos do regime”, não era nada fácil. Ele recorda que os alu-nos eram “extremamente vigiados,

desde a sala de aula até a Casa do Estudante”. Era muito difícil fazer política. Pedro Osório é Presidente da Fundação Cultural Piratini – Rá-dio e Televisão (FM Cultura e TVE).

Ele é especializado em Socio-logia, Mestre em Comunicação e Doutor em Ciência Política pela UFRGS. Além disso, é presidente da Associação Brasileira das Emisso-ras Públicas Educativas e Culturais (ABEPEC). O professor conta que os diretórios acadêmicos (por curso) foram extintos. No lugar, criaram-se diretórios acadêmicos por centros. Desta forma, era impossível juntar as pessoas e mobilizá-las em torno de um propósito comum.

Inclusive foi naquela época que se acabou com o conceito de turma (o mesmo grupo de alunos cursando as mesmas disciplinas todos os dias da semana). Outro método para evitar a criação de vínculos emocionais mais fortes entre os estudantes. O golpe mais duro veio com o decreto 477. Co-nhecido como “o AI-5 das universida-des”, esta determinação possibilitava a expulsão dos subversivos não só da universidade, mas de todo o sistema acadêmico brasileiro. Na prática, este tipo de aluno estaria proibido, para sempre, de frequentar qualquer ins-tituição de ensino superior em todo o território nacional.

“Os estudantes e os intelectu-ais ficavam submetidos a quem era muito ignorante”, lembra a profes-sora Christa Berger. Professora da Unisinos e jornalista, Ela tem 64 anos, é mestre em Ciências Sociais

e doutora em Comunicação. Ela fala sobre os livros censurados e confis-cados. “Uma coisa que me marcou muito é que a minha geração e pos-teriores foram privadas de muitas leituras fundamentais. Isto é bem grave e tem consequências até hoje na nossa formação política”.

A censura não se restringia a Karl Marx e a pensadores de es-querda. Muitos livros de literatura também eram proibidos, como O Vermelho e o Negro de Stendhal, por acharem que teria algo rela-cionado ao comunismo. Ou ainda absurdos, como quando os mili-tares entravam nas casas e “viam na estante livros sobre o cubismo, os recolhiam então por pensarem que se relacionava a Cuba”, recorda Christa. Sociólogos, antropólogos, economistas, jornalistas, entre ou-tros são profissionais que, segundo a professora Christa, necessitam ler textos críticos como, por exemplo,

sobre o marxismo. Então, no Brasil “toda uma geração destes profis-sionais foi proibida de ler determi-nados textos fundamentais”.

Christa fez Jornalismo na PUC. Também cursou Sociologia na UFRGS. Apesar de não ter se for-mado no último curso. Foi na UFR-GS que participou de forma mais atuante nos movimentos estudan-tis. Ela conta que na PUC a repres-são era maior. Parte desta repres-são existia porque havia espiões infiltrados nas salas de aula. Eles delatavam os colegas que fossem contra o regime, conta a professo-ra. Embora que “nas minhas salas de aula nós sabíamos quem eram os infiltrados e, às vezes, até ban-cávamos certo enfrentamento”, completa Christa. Da mesma for-ma, havia professores que apoia-vam a ditadura e “brigavam com os alunos, em sala de aula, caso fossem contra o regime”.

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“Uma coisa que me

marcou muito, é que a minha geração e a posterior foram privadas de muitas leituras fundamentais. Isto é bem grave e tem consequências até hoje na nossa formação política”

Christa Bergerprofessora da Unisinose jornalista

Durante período de pouca liberdade,

livros e artistas foram censurados

Professor Pedro Osório Professora Christa Berger

SAMUEL GAMBOHAN

Geral

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ATA MACH

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Encarte daEdição 21 dojornal Babélia

São Leopoldo/RSJunho de 2014

Uma casa do fundo do baúVILLA ANTONIETTA, EM SAPUCAIA, UNE MÓVEIS ANTIGOS E OBRAS DE ARTE, RESGATANDO A HISTÓRIA DA FAMÍLIA EM CADA DETALHE DECORATIVO

Karla Oliveira

A expressão conhecida como fundo do baú, se refere à coisas velhas que, ao invés de serem jogadas

fora, ficam guardadas em caixas e acabam esquecidas com o tempo. Da carta de amor aos livros antigos, tudo que é velho tem um valor afeti-vo incomparável a qualquer joia pre-ciosa. Mas o que fazer quando essas coisas não são do tamanho adequa-do para se guardar em caixas? Para Lucia e Marco Paixão, a resposta é simples! Montar uma casa que abri-gue todas estas velharias.

DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO

Com mais de mil metros qua-drados de área construída, o lar do casal, que fica em meio a uma região arborizada de Sapucaia, esconde em seu interior a verdadeira virtude. A residência que se parece mais com um antiquário se comparada às casas tradicionais, traz em seu interior mó-

veis herdados de parentes e velhos amigos do casal, que iam se mudan-do e queriam se desfazer de seus per-tences. Com entusiasmo, Lucia, 60 anos, mãe de família e artista plástica autodidata, conta que o gosto pelo antigo não surgiu do nada, começou na infância quando sua mãe a levava junto para comprar objetos em anti-quários. “Minha mãe sempre foi liga-da às antiguidades, comprava muito e eu sempre ia junto. Desde pequena, eu tenho este encanto por coisas an-tigas”, conta. Mas a convivência com as antiguidades, só se concretizou na vida adulta.

Hoje, a casa dela combina obras de arte, quadros pintados pela pró-pria dona e móveis herdados da mãe. Peças do tempo da vovó, como guar-da-roupas, cômodas, cadeiras, pente-adeiras e até algumas louças, fazem parte do seu interior. Como um cená-rio de filme, a decoração transporta o

visitante a diferentes épocas.O renascimento ressurge a par-

tir das várias imagens e esculturas de santos, anjos e corpos humanos nus, expostos ao longo da residência. A arte ocidental também ganha desta-que com os vasos de cerâmica, sem falar nas réplicas dos ovos Fabergé, ovos de Páscoa conhecidos como obras-primas produzidas pelo joa-lheiro Peter Carl Fabergé, em 1885, na Rússia. Estes, dividem espaço com esculturas barrocas de figuras brasileiras, em cima de uma peque-na mesa. Ícones pops, como Mari-lyn Monroe, Elvis Presley, Buda e Audrey Hepburn, ilustram os porta--retratos pendurados nas paredes ao lado dos filhos e netos de Lucia.

Em alguns casos, o brega ganha funcionalidade dentro do lar do casal. As coisas que ficariam isoladas sem nenhuma utilidade, ganham nova vida. Sapatos, pratos quebrados, discos arra-

nhados que servem de decoração dão ares provinciais e vintage a casa, resga-tando itens que iriam para o lixo. Cria-dos por Lucia, estas peças surgem de uma mente criativa e ansiosa. “Estou sempre pensando em alguma coisa. Meu dia nunca pode ser igual ao outro, senão eu fico nervosa. É só reparar na casa, nas peças, nada é igual. Eu estou sempre criando e transformando as coisas em algo diferente,” diz.

Na entrada da casa, em frente à porta, é possível encontrar o berço que balançou várias gerações de be-bês. Com pelo menos 100 anos, o berço tem passado ao longo dos tem-pos de pais para filhos, como uma herança de família. Já o armário que tem em sua parte superior gravado o ano de 1889, ganhou um ar mais despojado com o sapato estilo scar-pin, colado na sua porta, ao lado da maçaneta. A mesa e as cadeiras à Luís XV, dispostas ao longo da antiga sala,

datam mais de 200 anos. Para o es-pecialista em antiguidades, Flávio de Lorenzini, o local poderia realmente ser um antiquário, devido a raridade das peças expostas. Ele ainda destaca a importância histórica e cultural que ela abriga, “Vemos cadeiras da Indo-nésia, quadros abstratos e móveis que tem um século de existência e tudo muito conservado, é uma riqueza cul-tural imensa. A nostalgia de épocas passadas que a casa passa é tão gran-de que supera até alguns museus que visitamos”, comenta.

(Continua na página 2)

“Minha mãe sempre

foi ligada às antiguidades, comprava muito e eu sempre ia junto. Desde pequena, eu tenho este encanto por coisas antigas”

Lucia Paixãoproprietária da casa

JULIANA MUTTI

Casa com mais de mil m2 guarda relíquias de decoração

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Babélia l Edição 21 l São Leopoldo/RS l Junho/20142 Capa

Nome e ares de rainhaSETE QUARTOS, UMA ADEGA, COZINHA, ESCRITÓRIO E GAZEBO COMPÕEM OS AMBIENTES DA CASA QUE É ALUGADA PARA EVENTOS

Karla Oliveira

Dois hectares de terra, cheios de árvores, flores e uma charmosa casa, hoje, mostram gravados

nas placas espalhadas o nome do local, Villa Antonietta. Ele lembra imediatamente a famosa rainha da França, Maria Antonieta e o verde dominante, recordam os Jardins de Versailles, conhecidos como o Do-mínio da Rainha, oferecidos a ela como presentes por seu marido o Rei Luís XV.

Mas tudo isso é mera coincidên-cia. Segundo Lucia Paixão, proprietá-ria da casa, o nome surgiu a partir da avó do marido, que morava no local e tinha o mesmo nome da rainha da França. A avó era carinhosamente conhecida como Voca. Ela criava ani-mais, cultivava horta e plantou as ár-vores frutíferas que hoje tomam conta da área, na época o espaço era chama-do de Villa Netta. Como uma forma de homenageá-la, o lugar foi batizado de Villa Antonietta, “o nome é forte, é bonito e tudo pertenceu a ela, nada mais justo”, ressaltou Lucia.

Sem filhos morando junto, em uma residência com o total de nove banheiros, sete quartos, uma adega, um escritório, uma cozinha, e mais um gazebo, o casal decidiu abrir as portas para realização de eventos no local. A ideia surgiu de Lucia, que viu que o lar que comporta cerca de 140 pessoas, vazio, poderia causar tristeza e solidão.

“A casa é muito grande, tudo ia ficar muito triste, porque o dia a dia vai te consumindo se tu não fazes nada, ou se está sozinho. Então, tive a ideia”, relata. A casa antiquário, rece-be eventos, festas de casamento e for-maturas, com um ambiente acolhedor e cheio de história. Karen Brasil, foi uma das noivas que realizou seu ca-samento na Villa Antonietta. Segun-do ela, o lugar faz com que todos se sintam em sua própria residência, “A sensação era que estávamos receben-do as pessoas em nosso lar. A casa tem alma”, afirma.

Ao olhar o lugar de perto, é fácil enxergar o seu potencial enriquecedor. Cheio de diversidade e originalidade, o lar do casal, mostra sua beleza sem can-sar os apreciadores, cativando os olhos mais atentos, que a cada minuto podem descobrir um novo detalhe, uma nova perspectiva do local. A casa confirma que as antiguidades têm estilo e perso-nalidade, que os objetos com história valem muito mais do que um Nov. Afi-nal, pode-se encontrar verdadeiras pre-ciosidades no meio de velharias.

“A nostalgia de épocas

passadas que a casa passa é tão grande que supera até alguns museus que visitamos”

Flávio Lorenziniespecialista em antiguidades

FOTOS KARLA OLIVEIRA

Boa parte das peças usadas na decoração vieram do Exterior

O QUE SE ENCONTRA NA CASA

n Armário de madeira de 1889

n Conjunto de mesa e cadeiras Luís XV, com mais de 200 anos

n Cadeira de ratâ da Indonésia

n Cristaleiras de vidro de cris-tal bisotê

n Penteadeira vermelha dos anos 50

n Espelhos de cristal venezia-no

n Sofá dos anos 70

n Berço de 1910, herança de família

n Cadeira branca com braços dos anos 50

n Mesa de madeira com rodas de bicicleta cromada

n Abajures e tapetes persas

n Queijeiras antigas

n Bergeres

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Pós-música do barulhoPROJETO COM RAÍZES EM SÃO LEOPOLDO CONTESTA E REDEFINE CONCEITOS A PARTIR DO RUÍDO

Caubi Scarpato

Uma casa noturna parca-mente iluminada. Pouco mais de 20 pessoas pre-sentes. Uma noite úmi-

da em um dia de semana. Sobre o palco, um kit de bateria, guitar-ra, baixo e amplificadores. Junto à parafernália sonora, instrumentos não convencionais como carrinho de mão, martelo e guarda-chuva. O estranhamento inicial causado pelo aparato se acentua, definitivamente, com a chegada de indivíduos vestin-do sacolas plásticas cobrindo o ros-to. O figurino inclui ainda bobinas desenroladas de papel, manequim de loja e, orgulhosamente trajadas, camisetas do Clube Esportivo Ai-moré. O show vai começar. Mace-dusss e As Desajustados Bando está no palco, e eles são, autoproclama-dos, “a única possibilidade!”.

A experimentação e o ruído estão presentes na música desde os seus primórdios. O renomado compositor John Cage, um dos próceres da experimentação, salien-ta com propriedade em seu livro Silence que “não importa onde este-jamos, a maior parte do que ouvi-mos é ruído. Quando o ignoramos, nos perturba, quando o escutamos com atenção, ficamos fascinados”. Dentro dessa perspectiva é indis-pensável citar “um álbum seminal, que inaugura uma espécie de ‘es-tética do ruído’”, na descrição do pesquisador Fabrício Silveira em seu livro Rupturas Instáveis. Trata-se do disco Metal Machine Music, lança-do por Lou Reed em 1975, no qual o músico “munido apenas de duas guitarras, dois amplificadores e um gravador de quatro canais deu cor-po e forma àquela escultura sonora explorando ruídos à exaustão”, ex-plica Silveira.

“Nós somos a única possibili-dade. E a única possibilidade é a possibilidade de incompreensão”, brada o vocalista sobre o palco onde cada um parece tocar sua própria música. É a demonstração ao vivo daquilo que Daniel Mitt-mann, cabeça pensante do projeto Macedusss, qualifica como pós--música: “é algo que não pode ser compreendido pelos simples seres afeitos ao normal, à norma. Somos pós tudo isso”. A pós-banda capi-taneada por Mittmann existe desde 2002, dispensando canções, discos e ensaios periódicos. Nas apresen-tações não há um setlist ou músicas identificáveis, apenas uma potente massa hipnótica composta de ru-

ídos, distorções, riffs desconexos e inserts atonais. O único membro fixo do grupo é seu próprio funda-dor, que no caso de eventuais shows arregimenta músicos aleatórios que podem ser, inclusive, espectadores do evento.

Mesmo uma proposta tão inusi-tada como essa está inserida em uma “cena”, ainda que o noise se distinga pelo seu caráter fragmentado e ins-tável, tendendo a refutar qualquer tipo de rotulagem. Caracterizando esse fenômeno, Fabrício Silveira identifica: “são eventos persistentes, de público pequeno, mas fiel. Além disso, há o trabalho individual de alguns com seus pequenos selos”. Para Daniel Villaverde, músico e ati-

vista underground, “existem bandas e selos bem representativos. Os shows ocorrem todo mês, interagindo com bandas de outras cenas, como hardco-re, punk, metal etc.”.

O caráter transgressor, a busca pelo novo e a constante redefinição de regras parecem ser os propulso-res do noise enquanto possibilidade limite dentro da experiência musi-cal. Para Villaverde, “o músico que se aventura nesse submundo busca apenas exorcizar seus demônios internos com o barulho! É mais honesto e barato do que pagar um psiquiatra, não?”, conclui ironi-camente. “Toda música, a rigor, é ‘noise’. Fazemos uma música que chama a atenção justamente por colocar os simples viventes em si-tuação de limite de entendimento”, explica Mittmann, enquanto Kowa Kowala, dono do selo independen-te Kowala Records, saúda a própria despretensão do gênero: “noise dá a possibilidade de fazer o que quiser sem ser julgado e sentenciado. Noise é livre!”.

Vinte intensos minutos depois, a apresentação é encerrada, o re-cado está dado. Uma satisfação incrédula paira no semblante dos presentes. “A única possibilidade é a possibilidade de incompreensão.” O som da casa começa a tocar um hardcore, agora já é tudo melodia, o turbilhão passou, um enebriante es-tranhamento ficou.

“Nós somos a única

possibilidade. E a única possibilidade é a possibilidade de incompreensão”

Daniel MittmannFundador e vocalista da Macedusss e As Desajustados Bando

EVE RAMOS

Grupo utiliza instrumentos inusitados, como martelo, no palco; Daniel Mittmann busca levar as pessoas ao “limite do entendimento”

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Babélia l Edição 21 l São Leopoldo/RS l Junho/2014 3Som

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Babélia l Edição 21 l São Leopoldo/RS l Junho/2014 EnSaio4

DesesperançaCarolina Engelmann(Texto e fotos)

Vi em um trabalho para a disciplina de Fotografia no Jornalismo, ministrada pela professora Beatriz

Sallet, no curso de Fotografia da Uni-sinos, a oportunidade de levar mais longe um dos assuntos que mais me assusta: o total descaso com a educa-ção no nosso país.

A escola do meu bairro – localiza-da na cidade de Estância Velha –, Dom Pedro I, onde estudei quando criança e por onde hoje passo frequentemente, foi interditada pelo Ministério Público em junho de 2012 devido à precarieda-de de suas dependências.

Passados dois anos, a única coisa que ocorreu na escola foi a sua mu-nicipalização, o que não estancou o aumento da deterioração de toda sua estrutura. Agora, aliás, a escola sofre também com o vandalismo ao qual fica sujeito um local público abandonado.

Aproveito a motivação do traba-lho na disciplina para denunciar a mi-nha crescente desesperança no rumo de meu país. É irônico, mas, enfim...

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Segredos da Galeria MalconOS 27 ANDARES DA GALERIA MALCON EM PORTO ALEGRE ABRIGAM SENTIMENTOS E HISTÓRIAS DE VÁRIAS VIDAS QUE AINDA NÃO SABEM PORQUE FORAM VIVIDAS

Guilherme Rovadoschi

Para quem enxerga ao longe, os imponentes 27 andares da Galeria Malcon chegam a impressionar. Um dos maio-

res prédios do Centro Histórico de Porto Alegre é marcado pelas lem-branças de quem por ali passou em mais de 40 anos de existência do local. Lugar onde muitos se escon-dem e outros despem as máscaras da alma, o número 1560 da Rua dos Andradas abriga todos os sen-timentos e tipos possíveis: da aten-dente com expressão fechada à ale-gria do sorriso de quem já não tem dentes. Um espaço onde gremistas e colorados, ateus e religiosos, tra-balhadores e desempregados con-vivem bem. Ou melhor, conviviam.

PRÉDIO MALDITO

A harmonia entre os habi-tantes, que até o final da déca-da de 90 era pacífica, tornou-se o principal empecilho para quem trabalha no prédio. Prostitutas e ambulantes dividem clientes na base do grito e do marketing pessoal. Compradores de cabelo, vendedores de aparelhos orto-dônticos e intermediadores de perfumes de qualidade duvidosa disputam a clientela com moças de aparência pálida e abatida, reflexo das marcas de uma vida de quem ainda não viveu o que sonhou viver.

Pior ainda é para quem tem empresa ou loja fixa na galeria há tempos, como é o caso de ad-vogados, contadores e empresá-rios. O prédio, que permaneceu como referência de ambiente co-mercial no Centro de Porto Ale-gre, hoje é um pastiche do que já foi. Segundo o advogado Luis Pedro Moniazzi, a clientela dele que, por muitos anos, era de 20 pessoas por dia, hoje não passa de dois por semana. “Os tempos são outros. As pessoas têm medo de entrar aqui. Virou um prédio maldito, sombrio, sem luz”, ava-liou o advogado. Sem medo de combater o que ele chama de “falta de vergonha na cara e na bunda”, Moniazzi já foi agredido pelos cafetões do local por três vezes. “Eu sempre encarei essa bandalheira que acabou com a minha vida e com meu emprego. Isso era um ambiente de família. Vai ver se a mãe de alguma des-sas meninas visita a galeria?”, in-daga o senhor do alto de seus 74 anos, com uma das mãos apoiada em uma bengala cor de creme, com a coragem que parece não ter mais forças para ter.

UM DRINQUENO INFERNINHO

Ao mesmo tempo que a Gale-ria Malcon tornou-se um ponto de prostituição, a busca pelo prazer e pela exposição humana é o que mantém o local vivo. As portas, de números nem sempre sequen-ciais, surpreendem quem procura pelo prazer de um momento fu-gaz. Corpos que se vendem por, no máximo, R$ 50, estão em quartos sem ventilação, ambientes mal-

cheirosos e pouco iluminados, com garrafas de álcool espalhadas pelo chão e cortinas de seda que dariam inveja a música “Menina Veneno”, do cantor oitentista Ritchie.

As salas, que antes eram co-merciais, hoje são chamadas de “inferninhos”. Os mantenedores do espaço, chamados de cafe-tões, tentam angariar clientes para suas companheiras das ma-neiras mais agressivas e malé-volas possíveis. Desde puxões direto para dentro das salas, até

ameaças verbais reverberadas à quem dispensa os serviços. Tran-sitar, principalmente pelo sétimo andar, é sentir-se em um corre-dor polonês. Com poucas chances de não levar um encontrão.

Na sala 414, encontra-se um desses casos. Há 12 anos na pros-tituição, Andrea, que assumiu seu nome de guerra, vive há sete anos na Galeria Malcon. A escuridão se repete não só no ambiente, mas também na alma dela. A mágoa na carne fica exposta para quem con-

versa com ela por poucos minutos. Aos 32 anos, não faz pausas para a troca de cigarro enquanto fala de forma urgente. Sem vírgulas, des-pejando palavras de conformismo com o rumo que tomou. “Eu entrei nessa porque quis, ninguém me obrigou a isso. Abandonei família, filha pequena. Nunca mais quis ver ninguém. As escolhas foram minhas”, resignou a se lembrar de suas memórias, do tempo em que se dizia feliz. “Eu já fui feliz. O que eu aparento hoje é só sofrimento, é pura dor. Mas eu me afastei de tudo por medo daquela felicidade que eu não entendia o que era”, refletiu, com os olhos marejados e sendo pressionada por seu “com-panheiro” para realizar o próximo programa.

Ao lado, no 415, vive outro caso. Morgana, 52 anos, nem lem-bra há quanto tempo se prostitui, mas busca nas lembranças a infeli-cidade que habita o quarto. “Eu já vivi tudo que eu podia viver aqui. É tanta angústia, tanta falta de amor. Daria tudo por outra vida”, conta a senhora, de 52 anos, que parece não aguentar as dores da troca carnal.

“Muitas meninas chegam aqui muito jovens e usam drogas para conseguir aguentar essa vida. Eu já cansei, meu tempo tá acabando e eu não vejo saída”, declarou, áspe-ra, com a dignidade de quem não pretende esconder os erros come-tidos. “Eu me arrependo de quase tudo. Mas um orgulho eu tenho: consegui dar um bom futuro para as minhas filhas. Tudo com o di-nheiro que ganhei aqui”, ressaltou, segura da escolha que fez.

A Galeria Malcon transcende o espaço físico. É um ambiente da alma, é a busca pelo prazer cons-ciente e a fuga da rotina cons-ciente. Os 27 andares retratam as vicissitudes do corpo, o eterno esconderijo, o terno abrigo de um local onde os que adentram qualquer porta do edifício podem encontrar qualquer coisa. Menos encontrar a si mesmos.

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“Eu entrei nessa porque

quis, ninguém me obrigou a isso. Abandonei família, filha pequena. Nunca mais quis ver ninguém. As escolhas foram minhas”

AndreaGarota de programa

Prédio abriga comerciantes, profissionais liberais, prostitutas e histórias que o tempo não ousou apagar

MARIANA CARLESSO

GeralSão Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21Geral

Cidade amiga dos animaisALVO DE DENÚNCIAS EM 2012, O CANIL MUNICIPAL DE GRAVATAÍ PASSA POR MUDANÇAS E OFERECE ABRIGO SEGURO A CÃES E CAVALOS DA REGIÃO

Thais Montin

Os cães podem não saber falar, mas transmitem sua felicidade de ma-neira muito clara: aba-

nam os rabos e latem, mostrando como é bom estar em um local onde recebem tantos cuidados quanto se estivessem em um verdadeiro lar. E é exatamente isso que o Canil Municipal de Gravataí, após tantas reformas, tornou-se para eles.

O canil é mais velho do que as funcionárias conseguem se lem-brar. Porém, o tratamento vip é recente. Desde 2012, o local pas-sou por uma reestruturação com-pleta e agora conta com baias para cães e cavalos, espaços des-tinados a tratamentos, depósitos para rações e uma nova sede ad-ministrativa. Tudo isso contribuiu para uma impressionante melho-ra na qualidade de vida dos ani-mais recebidos na instituição.

“Ver essa mudança emocio-na todo mundo aqui”, afirma Cleber dos Reis, tratador que trabalha há quatro anos no canil da cidade. O lugar, antes cons-truído com madeiras velhas, tampas de caixa d’água e outros materiais, que para tantos são considerados lixo, agora possui um brilho diferente. Ninguém sabe afirmar se ele vem das novas estruturas ou da alegria emanada pelos animais.

Orgulhoso, dos Reis - funcio-nário mais antigo do local - narra histórias de superação vivencia-das dentro dos portões. “Havia casos em que o bichinho chega-va aqui sem conseguir se mexer e, com o nosso esforço, ganhava uma vida nova”, conta o tratador, que diariamente alimenta, exa-mina e dá carinho aos mais de 400 animais abrigados pelo canil.

UMA LUTA DE MUITOS

Demorou, mas a administra-ção municipal comprou a briga e fez de tudo para construir uma boa casa para os animais. “Nosso canil era abandonado. Só con-seguimos mudar essa realidade com fortes investimentos e muita boa vontade”, relata Claudia Cos-ta, diretora-presidente da Funda-ção Municipal de Meio Ambiente (FMMA). A prefeitura da cidade desembolsou cerca de R$ 2 mi-lhões para as obras. Segundo Costa, a próxima etapa é a edifi-cação de um gatil, para receber os felinos da região.

O primeiro passo para a che-gada de melhorias foi dado pelo promotor de Justiça Daniel Mar-

tini, titular da Promotoria Espe-cializada de Gravataí, que solici-tou uma intervenção judicial no canil em março de 2012. A justiça nomeou Jackson Müller, atual-mente biólogo da FMMA, como interventor e responsável pelas novas estruturas do local. “Um canil de uma cidade de grande porte como Gravataí não deve funcionar como depósito de ani-mais”, frisa Müller, afirmando que, agora, a instituição é mode-lo para todo o estado.

A maior dificuldade, porém,

é o alto custo da alimentação e higienização do local. Por mês, são gastos cerca de 210 sacos de 25kg de ração para cães, 60 sacos de 40kg de ração para ca-valos e uma tonelada de alfafa. “Usamos em média 350 litros de produtos desinfetantes por semana, pois a limpeza é reali-zada duas vezes por dia”, calcula a coordenadora do Canil, Márcia Becker. Toda a verba provém dos cofres públicos.

QUE TAL AJUDAR?

O Canil Municipal de Gravataí precisa de ajuda. O maior ape-lo vindo dos funcionários é que a população adote os cães que já foram tratados e esperam, há tanto tempo, por um lar de ver-dade. “Quem tem condições para cuidar e oferecer carinho para um destes bichinhos, não deve hesitar na hora de adotar”, des-taca Cláudia Costa, contando que os cachorros são dóceis e meigos.

Os animais para doação são microchipados – para fácil iden-tificação em caso de fuga - e cas-trados. Ao novo dono é dada a responsabilidade pela aplicação de vacinas e de vermífugos, cui-dados essenciais para os animais domésticos. Depois, é só apro-veitar a companhia e a amizade proporcionada por eles.

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“Havia casos em

que o bichinho chegava aqui sem conseguir se mexer e, com o nosso esforço, ganhava uma vida nova”

Cleber dos Reistratador

A reestruturação do canil contribuiu para a qualidade de vida dos animais

THAÍS MONTIN

Canil Municipal

Linha do tempo

Endereço: Estrada Leonel Cabeleira Bitelo, 271, Costa do IpirangaTelefone: 3486-0229E-mail: [email protected]

2003Instaurado inquérito civil para apurar denúncias de descaso da pre-feitura quanto à situação dos animais do canil. Na época, foi relata-do que os cães não recebiam alimentos suficientes nem cuidados adequados dentro da instituição.

2007A Prefeitura de Gravataí assina um Termo de Ajustamento de Con-duta (TAC), no qual a cidade assume o compromisso de acolher animais abandonados em local adequado, alimentá-los e oferecer assistência veterinária.

2012Um vídeo, divulgado por moradores das imediações do canil, mos-tra cenas de uma violenta briga entre um grupo de cães. Falsas de-núncias de canibalismo entre os animais foram lançadas pela mídia, chocando todo o país.

2013Obras de reestruturação são realizadas, ampliando a área de aco-lhimento. A reforma, que custou cerca de R$ 600 mil, traz profissio-nais para atender em turno integral e uma nova rotina, tanto para alimentação quanto para aplicação de medicamentos.

HOJEApós investimentos de mais de R$ 2 milhões, o resultado positivo é visível e comemorado. Os cães recebem, além dos cuidados bási-cos, amor e carinho dos funcionários.

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Geral

Boom imobiliário: sonho e incômodoCONSTRUÇÃO CIVIL EM ALTA ESTÁ FACILITANDO A VIDA DE MUITA GENTE, MAS TAMBÉM VÊM DANDO DOR DE CABEÇA

Thiago Santos

Josué dos Santos da Silva se preparou, guardou dinheiro e esperou. Quando surgiu a oportunidade, comprou a

casa própria. Escolheu na planta, a localização era boa e o projeto, uma maravilha, conforto e tran-quilidade. Só que a história não foi bem assim. A casa iria ficar pronta em um ano. Demorou quase dois. Concluído o imóvel, Josué se man-dou para o novo lar. E foi aí que os problemas começaram.

Rachaduras dentro e fora da casa, reboco caindo, lajotas soltas, rejunte de cimento, portas e jane-las tortas. Mas ainda havia mais. A caixa d’água, além de ser ins-talada em cima de forro, apoiada em madeira, transbordava porque não tinha sistema de evacuação. As telhas de barro haviam sido mal instaladas e, quando chovia, a casa virava um campo minado de baldes. Não bastasse isso, o box do banheiro fora construído sem caimento. Quando alguém tomava banho, já podia levar o rodo junto pra escoar a água depois.

Mas Josué não foi o único a pas-sar pela situação. Lisiane Lutz ajeita as coisas no pátio enquanto fala sobre seu imóvel. O terreno é em declive, mas a casa está no nível da rua, apoiada por vigas que já deram e ainda dão certa dor de cabeça à esteticista. Com expressão de de-sânimo, Lisiane conta os problemas que já teve com a residência nova: “Quando nos entregaram a casa, as janelas e portas emperravam, não havia reboco em algumas partes, as vigas embaixo davam medo”.

Lisiane comprou a casa na plan-ta. Deveria receber o imóvel em quatro meses, mas demorou oito. Quando chegou à residência, per-cebeu vazamento no banheiro. Em uma semana, notou que não era só o banheiro. Todo o sistema de esgoto da casa estava condenado. “Tivemos de abrir tudo e refazer.” A esteticista reclamou à imobiliária. “Eles queriam mandar o pessoal que construiu para arrumar, mas a gente não queria.”

Josué e Lisiane tiveram que lidar com falhas em casa. Porém, quando se trata de apartamento, os problemas “caseiros” podem ser coletivos. Moradora de um condomínio inaugurado há qua-tro anos, próximo ao centro de São Leopoldo, Maritania Molinari Gunschnigg já deparou com racha-duras nas paredes do imóvel e nas escadas. Algumas calçadas do con-domínio estão cedendo. Mas Mari-tania não tentou recorrer à imobi-liária ou à construtora. Optou por fechar os olhos para as brechas e imaginar o futuro.

Segundo o pedreiro Adair Cha-gas Echeverria, muitas vezes o construtor é chamado para reparar o que outros supostamente termi-naram. Porém, nem tudo é sim-ples. Adair já passou por situações em que até o essencial teve de ser refeito. “Me chamaram porque as tesouras do telhado estavam fora da medida. A gente teve que desmontar tudo.” Para o pedreiro, esses casos têm uma explicação prática: “O pessoal está construin-do mais, daí precisa de pedreiro. Quem pode pagar mais consegue

os pedreiros mais experientes. Quem não tem condições pega al-guém com menos experiência, e as obras são feitas na corrida, para já fazerem a próxima”.

Mas, quando o assunto é cons-trução civil, não é só o cliente e o construtor que enfrentam pro-blemas. Marilene Frota, correto-ra de imóveis em São Leopoldo, faz careta para o tema: “Quando lançaram o programa Minha Casa Minha Vida, houve aquela busca por construtores e empreiteiras. A gente começou a indicar sem-pre três empresas que conhecía-mos. Em um ano, já indicávamos só duas. Hoje, só sugerimos uma empresa para construção”.

O fenômeno observado por Marilene e Adair é causado pelo boom da construção civil. O dou-tor em Economia e professor da Unisinos Igor Alexandre Clemente de Morais explica melhor. “Pode-mos ver que há fatores de impulso pelo lado do mercado de trabalho e pelo lado financeiro. No primei-ro caso, destaca-se a evolução do emprego e do salário real, que, combinados, geraram uma de-manda aquecida para o setor imo-biliário. O segundo ponto contem-pla maior oferta de recursos para financiamento, além das políticas governamentais.” Mas, se por um lado a construção civil está aque-cida, por outro há falta de mão de obra qualificada para a demanda.

Para a diretora do Procon de Sapucaia do Sul, Miriam Gresa, his-

tórias como essas vêm ocorrendo com mais frequência nos últimos anos. “Esses casos aumentaram, mas realmente não é todos os dias que aparecem.” Miriam orienta os consumidores a procurar a entida-de sempre que se sentirem lesados ou prejudicados na aquisição do imóvel. A diretora também escla-rece as primeiras ações tomadas pelo órgão nessas situações. “O que o Procon tenta fazer primeiro é uma mediação entre o cliente e a empresa. Se essa mediação não der certo e o cliente continuar se sentindo lesado, ele tem o respal-do para apelar à Justiça.”

Josué conseguiu recorrer à imobiliária. “Tive que ir lá várias vezes.” Quando solicitada, a em-presa atendeu a todos os pedidos do cliente. O caso de Lisiane não teve o mesmo desfecho. Alguns de seus pedidos foram atendidos, mas as vigas que sustentavam a casa ficaram por conta da proprietária.

Agora, Josué tem um novo pro-blema: um buraco no box do ba-nheiro, que já está sendo reparado pela imobiliária. Experiente, ele adverte: “Quando comprar uma casa, vá na obra, olhe como está sendo feita”. Para Lisiane, a solução passa pelo mesmo remédio. O cer-to é que o boom pode ocorrer em qualquer área. No ramo imobiliá-rio, ele aqueceu os negócios, trou-xe investimentos e o lar para muita gente. Mas também revelou outro lado: a falta de preparo de alguns profissionais para o trabalho.

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“Quando nos entregaram

a casa, as janelas e portas emperravam, não havia reboco em algumas partes, as vigas embaixo davam medo”

Lisiane LutzEsteticista

Problemas hidráulicos

obrigaram Josué, de São Leopoldo, a refazer o banheiro

da casa nova

THIAGO SANTOS

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21Geral

Os caminhos da adoçãoPERSISTÊNCIA E FLEXIBILIDADE SÃO IMPORTANTES PARA QUEM QUER ADOTAR CRIANÇAS

Karina de Freitas

Diagnosticada com endo-metriose na adolescência, a jornalista Camila Arócha, 31 anos, conviveu com

as dores e a rotina do tratamen-to de uma doença que ameaça a fertilidade feminina. O sofrimento maior, porém, veio após a revela-ção dos médicos de que não po-deria engravidar, mesmo com os tratamentos de fertilização.

A impossibilidade de ter seu filho gerado do próprio ventre não fez Camila, casada há oito anos com Ederson Negri, desistir. Inscrito no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) desde 2010, o ca-sal não foi chamado. A jornalista telefonava a diversos abrigos do país, buscando crianças para ado-ção, até que encontrou uma me-nina, na cidade de Itambacuri, no interior de Minas Gerais.

Com dez meses, a menina continuava no abrigo em virtude de uma deficiência. Ela nasceu com uma síndrome, artrogripose múltipla congênita, caracterizada por contraturas articulares – no caso dela, nos pés. Por isso, pas-sava os dias deitada no berço, sem caminhar. Não tinha cabelo, e pesava oito quilos.

Logo encaminharam os do-cumentos para adoção. Passados cinco meses, o casal recebeu a no-tícia de que poderia buscar a filha. “Quando fomos buscá-la, tudo já estava organizado. Minha Ana Vitó-ria chegou com um ano e três me-ses”, relembra Camila.

CONTA QUE NÃO FECHA

Dados divulgados pelo Cadastro Nacional de Adoção indicam que existem cerca de 5,4 mil menores de idade cadastrados para serem adotados. Entretanto, há 30 mil pretendentes a fazer a adoção no Brasil. A assistente social Taís Hanh explica que esses números não têm uma lógica matemática.

Alguns detalhes são decisivos para as famílias continuarem na busca da adoção. Como o caso do jornalista Silvestre Silva Santos, 56 anos, criado por pais adotivos. Ele pretendia seguir o exemplo, pois sua mulher não pode ter filhos. A possibilidade de adoção foi cogita-da, mas, aos poucos, eles desisti-ram do sonho. Segundo Silvestre, em virtude da demora do processo. “A burocracia e a falta de flexibili-dade inibem os casais de procurar a adoção. O processo mais rápido ajudaria as crianças a saírem das ruas, ganhando um lar com um fu-turo garantido”, desabafa.

Para Taís, o perfil do filho adoti-vo que as famílias buscam é funda-mental. “Os casais querem crianças

pequenas, com determinadas ca-racterísticas. Em geral, as crianças para adoção possuem mais idade e muitas vezes não têm traços físicos da família”, explica.

A habilitação para adoção não segue um período específico. Se-gundo a assistente social, o perí-odo aproximado é de um ano. Os pretendentes à adoção passam

por análises objetivas, materiais, sociofamiliares, revisão das moti-vações da adoção e condição emo-cional para receber um filho. Du-rante o convívio das crianças em suas novas casas é aconselhado o acompanhamento de um profissio-nal de psicologia. De acordo com o psicólogo Michel Mansur, as fa-mílias não devem omitir a origem dos filhos adotivos. “Não pode ser escondida a verdade, pois outra pessoa, de forma acidental, pode falar, e a criança se sentirá engana-da pelos pais”, alerta.

Para o cadastro do CNA é ne-cessário ser maior de idade e ter no mínimo 16 anos a mais do que o menor. Não é necessário ser ca-sado. Não é permitida a habilitação de avós ou irmãos dos menores no processo de adoção.

TENTATIVA DE RETORNO

Os menores retirados do conví-vio familiar por ordem judicial são levados aos abrigos municipais e recebem acompanhamento social e psicológico. De acordo com o con-selheiro tutelar Joelson Cardoso, as tentativas de retorno à família biológica não são descartadas pelo Judiciário. “Existe a família exten-siva, os avós e tios. Quando essas expectativas não são atendidas, as crianças são encaminhadas para adoção”, explica.

A equipe multiprofissional do Serviço de Acolhimento é respon-sável pelo acompanhamento dos

menores visando ao trabalho de retorno à família biológica, preco-nizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Juizado da Infância e da Juventude é que tem o poder de definir a desti-tuição familiar, encaminhando as crianças para adoção.

“Acredito que a questão judici-ária de fato é demorada, mas não vejo que a Justiça dificulte. Porém, sabemos que a fila de pessoas ap-tas à adoção é extensa”, analisa o presidente da Comissão dos Direi-tos da Criança e do Adolescente de Gravataí, vereador Dimas Costa.

SER MÃE É TUDO

Ana Vitória completou três anos. Seguindo os tratamentos e acompanhamentos profissionais de que necessitava, hoje ela con-segue caminhar, pular, correr, fazer balé e capoeira.

Segundo Camila, o tratamento da filha será por toda a vida. A fisiotera-pia é três vezes por semana, mas já foram seis sessões semanais. A meni-na passou por três cirurgias, e ainda serão necessárias mais operações.

Logo após a adoção, Camila teve outra grande surpresa. Superando as expectativas médicas, de forma natural, sem qualquer tratamento, Camila engravidou de Luana. “Não consigo imaginar nada melhor do que ser mãe. Amo ser mãe das mi-nhas pequenas, que vieram de ma-neiras diferentes, mas são tudo na minha vida”, conclui.

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“A burocracia e a falta

de flexibilidade inibem os casais de procurar a adoção. O processo mais rápido ajudaria as crianças a saírem das ruas, ganhando um lar com um futuro garantido”

Silvestre SantosJornalista

Depois de ter ido a Minas Gerais para adotar Ana Vitória (D), Camila foi novamente presenteada com o inesperado nascimento de Luana (E)

ANDREIA KLEIN/DIVULGAÇÃO

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Geral

Culto à maconha vira cultivoATIVISTAS DE PORTO ALEGRE DEFENDEM A LEGALIZAÇÃO DA ERVA EM PLANTAÇÕES DOMÉSTICAS

José Francisco Ribeiro Júnior

O consumo de maconha é crime? O combate à erva funciona contra o narcotráfico de forma

mais efetiva do que o cultivo ca-seiro da planta? A lei de proibição da maconha no Brasil é constitu-cional? Essas questões são deba-tidas por ativistas de todo o país. Usuários entendem que consumir cannabis não deve ser considera-do crime. Em diferentes nações, grupos se reúnem em torno do mesmo assunto: a legalização.

“O ativismo se define por aquilo que você representa. Na questão da cannabis, o precon-ceito é tão grande que só defen-der a descriminalização já é ativis-mo. Assumir que é usuário é uma exposição”, relata o publicitário Charles (nome fictício), 33 anos.

Com o crescimento da in-ternet e o surgimento das redes sociais, grupos começaram a se aglutinar em razão da mesma de-manda. Diversas pessoas interes-sadas no cultivo da planta foram se aproximando. O meio virtual foi o facilitador desse movimento, permitindo a troca sem qualquer tipo de exposição.

O Growroom atua há 12 anos, promovendo a integração de cul-tivadores de cannabis, dialogando com a sociedade civil e prestando auxílio jurídico a seus membros. O movimento vem promovendo debates, congressos e a Marcha da Maconha. Influenciados por ele, ativistas da capital gaúcha se mobilizam a favor da liberação.

“Mesmo que na maioria das vezes o cultivo se destine ao au-tossustento, cultivadores têm sido presos por todo o Brasil, com quantidades de pés ínfimas, que não produziriam o suficiente para uma pessoa fumar por uma sema-na. A má vontade da polícia é fun-damental para que esse cenário continue”, afirma Charles.

No início do ano, a polícia gaú-cha passou a investigar um grupo que teria sido responsável pela or-ganização da 2ª Copa Growroom, realizada no fim de 2013, em Porto Alegre. O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) desaprovou o vídeo pu-blicado na internet com imagens do encontro.

O diretor de Investigações do Denarc, Heliomar Franco, consi-dera um deboche as manifesta-ções ativistas: “Eles se expõem cada vez mais. Além de praticar algo ilícito, estão cometendo o grande equívoco de se identi-ficar. Esses grupos promovem competições e transportam a droga de diversos locais. Se cada um tivesse a sua droga para con-

sumo próprio, seria posse de entorpecentes, mas não é isso que acontece. Existe um comér-cio e uma exposição. O tráfico é responsável por grande parte da violência das ruas”.

Entre os ativistas, há muitos motivos para a legalização da ma-conha. De acordo com entrevista-dos, a ideia do cultivo surge aos usuários que se cansam de fre-quentar as “bocas de fumo”, da má qualidade e da violência pro-porcionada pela ilegalidade.

“O cultivo é disseminado pela própria vontade do pretendente

a ativista. A internet fornece as informações para o cultivo. Cada um que planta é um a menos que compra. A maconha do mercado negro brasileiro é uma das piores do mundo. Esses são motivos para trocar o hábito de comprar de traficantes pelo ato de cultivar”, comenta o empresário Fernando (nome fictício), 29 anos.

Recentemente, o Estado ame-ricano do Colorado e o Uruguai legalizaram a planta. Conforme nota publicada , o Colorado visa arrecadar com a maconha legal impostos acima do esperado no

próximo ano. A estimativa duran-te a campanha de legalização pro-jetava uma arrecadação de US$ 70 milhões, mas deverá chegar a US$ 98 milhões. O consumo não é controlado pelas autoridades, porém, parte da arrecadação é destinada à redução de danos à saúde. Do lado uruguaio, a lega-lização é vista como uma alterna-tiva de controle da criminalidade no país. O projeto é estritamente nacional, controlado e licenciado pelo governo.

O reflexo desses desdobra-mentos, principalmente com a

liberação no país vizinho, é de mobilização. Atualmente, esses grupos têm seus interesses re-presentados na Câmara dos De-putados. O deputado federal Jean Wyllys (PSOL/RJ) protocolou em março o projeto de lei da regula-mentação da maconha no Brasil.

Conforme Wyllys, o projeto de lei visa a regulação da produção, comercialização e descriminali-zação da maconha para consumo pessoal. O projeto vem ao encon-tro da opinião de juristas que con-sideram a criminalização da ma-conha inconstitucional, utilizando como argumento o princípio de lesividade, que, nesse caso, con-sidera que o sujeito que se droga só pode fazer mal a ele mesmo.

Jean Wyllys pontua que “o Brasil precisa mudar o paradigma, porque as políticas atuais jamais surtirão efeito, como hoje não surtem. Se avaliarmos a eficiên-cia dessas políticas em relação ao dinheiro empregado nelas, o erro fica evidente”.

O psiquiatra Renato Spagnoli, no entanto, considera a maconha o passaporte de entrada para a dependência química. “A maioria dos pacientes que atendo ingres-sa no mundo das drogas experi-mentando drogas lícitas, como álcool, e ultrapassa a barreira da proibição com a maconha. Mes-mo os que mantêm o hábito de fumar maconha correm sérios riscos de saúde. O uso diário de maconha pode causar alterações no cérebro semelhantes à esqui-zofrenia”, alerta o médico.

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“Esses grupos promovem

competições e transportam a droga de diversos locais. Se cada um tivesse a sua droga para consumo próprio, seria posse de entorpecentes, mas não é isso que acontece. Existe um comércio e uma exposição ”

Heliomar FrancoDiretor de Investigaçõesdo Denarc

JOSÉ FRANCISCO RIBEIRO JÚNIOR

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Em um dos grows,cultivador utiliza um armário, papel laminado e iluminação artificial

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Trem facilita transporteem Novo Hamburgo

Inscrições do Passe Livre estudantil seguem abertas

Tarifa de ônibus entre municípios é reduzida

Cidades se preparam para a Balada Segura

ESTAÇÕES INDUSTRIAL, FENAC E NOVO HAMBURGO INCIARAM OPERAÇÕES NA CIDADE EM DEZEMBRO DE 2013 E EM MAIO PASSOU A COBRAR PELA PASSAGEM

Mariana Blauth

O começo das operações em três novas estações da Tren-surb em Novo Hamburgo modificou a rotina das pes-

soas. Até o início de maio, o trem fun-cionava em horário integral, e o passe era livre. Agora, a tarifa é cobrada ao valor de R$ 1,70 em todos os espaços, incluindo os pontos de parada Indus-trial, Fenac e Novo Hamburgo.

Lucas Lindenmeyer, 24 anos, traba-lha em Porto Alegre e opta pelo trem para chegar à cidade. Ele desembarca na estação Farrapos, de segundas às sextas-feiras e no último sábado do

mês. Antes, precisava de ônibus para ir e voltar da estação Santo Afonso. Ago-ra, como mora perto de um dos novos pontos de parada, pode ir a pé até o local. Para Lindenmeyer, os gastos em transporte foram reduzidos em R$ 120 no período do passe livre.

Além disso, Lindenmeyer gasta menos tempo para transporte. “Pela manhã, ganho aproximadamente cinco minutos, mas na volta para casa, economizo de 30 a 40 minutos”, afirma. De acordo com ele, ter mais estações na cidade também tonou mais eficaz locomoção nas terças--feiras, quando cursa Gestão Finan-ceira no pólo da ULBRA em Novo Hamburgo.

EMPRESAS DE TRANSPORTE

De acordo com a assessoria de imprensa da Trensurb, houve queda no acesso de usuários pela estação Santo Afonso após a abertura dos novos pontos de parada em Novo

Hamburgo. Segundo dados, em no-vembro de 2013, a média de acessos por dias úteis no local era de 6.398. Em fevereiro deste ano, o número diminuiu em 56,37%, chegando a 2.792. No terminal Novo Hamburgo, a média de acessos aumentou em 405,45% de dezembro a fevereiro. A Trensurb ainda não tem como prever se a cobrança das passagens afetará o comportamento dos usuários e o re-flexo financeiro na operação do me-trô. Em relação às linhas de ônibus, o gerente operacional da empresa de viação Hamburguesa, Ricardo Ferraz, acredita que a queda do número de passageiros, durante o passe livre do Trensurb, e as mudanças financeiras foram insignificantes.

De acordo com ele, não existe um levantamento oficial. Como o trem funcionava na modalidade gra-tuita, não era possível ter certeza se o passageiro migraria ou não. A partir de agora, a empresa ficará atenta ao número de usuários de ônibus.

As inscrições para o programa Passe Livre Estudantil, que benefi-cia com a gratuidade no transporte público estudantes que residam em uma cidade e estudam em ou-tra e tenham renda de até 1,5 sa-lário mínimo, permanecem abertas por tempo indeterminado.

Foram necessárias algumas adaptações nos sistemas de trans-portes intermunicipais para a utilização do benefício. Segundo Brunilda Werner, assessora da Metroplan, muitos municípios não têm a estrutura para o sistema de bilhetagem eletrônica. “Encon-tramos algumas dificuldades no passe livre. E uma delas foi a falta das catracas e leitoras eletrônicas

em vários municípios do interior”. Mesmo com o processo de adap-tação, o programa está em funcio-namento. Ao todo são 447 cidades beneficiadas. O ingresso no Passe Livre Estudantil é gratuito, havendo apenas o custo para confecção das carteirinhas de identificação.

Para o ingresso no programa é necessária a apresentação dos se-guintes documentos: formulário cadastral (disponível no site www.ueers.org.br), comprovante de matrí-cula em instituição regular de ensino, documento de identificação do estu-dante; comprovante de residência, comprovante de renda do beneficiá-rio e dos membros do grupo.

(Vanessa Ferrão)

Uma simplificação tarifária reduziu o preço das passagens de ônibus entre cidades do eixo norte da Região Metropolitana em até 46%. A mudança beneficia cerca de 250 mil passageiros.

A viagem entre os municípios de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Ham-burgo ficou com o valor de R$ 2,65, e o trajeto deles até Porto Alegre agora custa R$ 3,15. Os descontos entraram em vigor no dia 19 de março. Segundo o co-brador de um dos ônibus da linha NH – POA, da empresa Central Transportes, Francisco Antônio Corrêa, o ajuste recuperou parte do número de usuários que ha-

viam deixado de usar o serviço com a inauguração de três novas estações da Trensurb na cidade.

O superintendente da Metro-plan, Oscar Escher, diz que com a alta na procura pelo serviço, as em-presas poderiam renovar a frota. A redução tarifária vale para a linha comum das empresas Real Rodo-vias, Central Transportes e Vicasa.

Para os passageiros, a mudan-ça agradou. A dona de casa San-dra Pereira, de Novo Hamburgo, justifica a preferência pelo ônibus em relação ao trem dizendo achar o primeiro mais confortável. “E tem a vantagem de passar no bairro, pertinho de casa”, declara.

(Laura Pavessi)

Estação Fenac, novo ponto de parada, teve quase dois mil acessos nos dias úteis de fevereiro

MARIANA BLAUTH

Trânsito aborrece quem chega à Unisinos

Congestionamentos e grandes filas aborrecem alu-nos, professores e funcioná-rios na chegada à Unisinos. O movimento intenso ocorre das 8h às 8h30 e das 19h às 19h30.

Principal via de acesso, com três entradas do cam-pus, a Avenida Unisinos tem apenas uma pis-ta de acesso para quem vêm no sen-tido Capital-São Le-opoldo. O conges-tionamento inicia na curva de entrada para a Avenida, que se divide em três pistas para re-ceber mais de 20 mil alunos.

Estudante de Jornalismo, Artur Cardoso, 18 anos, che-ga às 19h na estação. “Este ano as filas estão maiores. Além disso, está sempre cheio e demoro 15 minutos

para descer”, conta.De acordo com Cristian

Lehmann, coordenador de transporte e trânsito da Uni-sinos, não faltam vagas para estacionar. Devido à troca das cancelas, os alunos chegam às

vagas nos centros mais cedo, mas para quem chega

às 19h a impressão é de que faltam. Prédios garagem, a solução, não são prioridade, afirma Lehmann.

Para diminuir a fila do circular, dois

ônibus são abertos simulta-neamente. Mas, se o veículo não lotar, não pode sair até o horário-tabela. O aumento na fila tem a ver também com novas estações do trem em Novo Hamburgo.

(David Farias)

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Atualmente, 15 cidades se preparam para efetuar ações próprias da operação Balada Segura.

A Operação é uma blitze de fiscalização para combater e educar motoristas alcooli-zados. Nos três anos da ope-ração, houve redução de 37% dos acidentes com vítimas fa-tais, segundo Renato Wendorff Júnior, diretor de Planejamen-to de Políticas Públicas de São

Leopoldo. De maio de 2012 a maio de 2013, houve a conten-ção de 18% no número de aci-dentes em Esteio.

O alerta é que a combina-ção de álcool com direção é mortal. Diovanni Martins tem 19 anos e é estudante de Psi-cologia. Ele percebeu que o comportamento dele e dos amigos mudou com a blitze. “Quando saio com meus ami-gos, sempre há o motorista da

rodada”, pontua . O condutor consciente faz com que o traje-to seja mais seguro, ele evitará riscos e nem será causador de acidentes e lesões.

“Beber não é o problema – o que está proibido é dirigir após beber, pois o motorista fica com reflexos alterados e pode colocar sua vida e de to-dos os outros em perigo”, res-salta Renato Wendorff Júnior. (Patrícia Dutra Martins)

Trânsito

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Diferentes caminhos até o Beira-RioA ROTINA DOS GAÚCHOS VAI SER ALTERADA PELA COPA DO MUNDO

Joellen Soares

Muitos pés circulam por Porto Alegre atu-almente. Os que vão trabalhar, pegar ôni-

bus, que estão passeando, uns com mais pressa e outros nem tanto. A capital dos gaúchos já é movimentada. Na Copa do Mun-do, muitas nacionalidades dife-rentes estarão espalhadas pelas ruas, conhecendo a cidade e seus pontos turísticos e, principalmen-te, assistindo aos jogos da Copa do Mundo no estádio Beira-Rio.

Os trabalhadores que dirigem por Porto Alegre terão que mu-dar de rotina devido a Copa na cidade. É o caso do taxista Celso da Silveira Fernandes, 47 anos, que encontrará muitas ruas blo-queadas nos dias de jogos e que também levará muitos turistas para o evento.

De acordo com Fernandes, os trajetos que são feitos hoje serão mudados nos dias de jogos. Ape-sar disso, o taxista destaca: “Porto Alegre terá um movimento muito maior do que hoje, e o nosso tra-balho aumentará 40% no tempo que os turistas ficarão na cidade”.

Nos dias de jogos, ruas es-tarão bloqueadas para os torce-dores poderem se deslocar a pé até o estádio. A partir da Aveni-da Ipiranga, não haverá acesso de veículos, como também pelas avenidas Edvaldo Pereira Paiva e Padre Cacique. A Avenida Borges de Medeiros ficará bloqueada do centro de Porto Alegre, ao lado do Mercado Público, até o estádio.

Nos estacionamentos, mais de 900 vagas em um espaço aberto, controlados por agentes, serão destinadas a ônibus e excursões. Trezentas vagas estarão disponí-veis na Av. Borges de Medeiros até Av. Praia de Belas. E outras 600 vagas estarão liberadas na re-gião do Cais Mauá.

Os torcedores que irão de carro terão duas opções de es-tacionamento. A primeira é na área da PUCRS e a segunda é no Hipódromo do Cristal. Os dois locais disponibilizarão para os torcedores um transporte até próximo ao estádio e do estádio para os estacionamentos.

A frota de ônibus será a mesma que a Capital mantém atualmente, 1.704 veículos. Nos dias de jogos, a EPTC conseguiu estruturar as li-nhas de ônibus, sendo que sete atenderão do Centro Histórico até o estádio, além das linhas do Ae-roporto e outros pontos da capital. Para Vanderlei Cappellari, diretor--presidente da EPTC, haverá uma grande oferta de transporte cole-tivo na cidade, onde a população não deve encontrar problemas de deslocamento até o estádio.

OBRAS E SINALIZAÇÕES

Para receber a Copa do Mundo em Porto Alegre foram implantadas 14 grandes obras com o objetivo de re-cepcionar melhor os turistas e também com o intuito de criar um legado para os moradores da Capital. Segundo o Secretário de Gestão de Porto Alegre, Urbano Schimitt, conseguiu-se a opor-tunidade para melhorar a mobilidade dentro da cidade. Ele salienta que as obras ligadas à Copa: Av. Edvaldo Perei-ra Paiva, entorno do estádio Beira-Rio, Complexo da Rodoviária, estarão pron-tas antes da abertura do evento.

Além das possíveis melhorias para o próprio morador, a mobilida-de urbana da cidade também passou por fases de aperfeiçoamento. A Em-presa Pública de Transporte e Circu-lação (EPTC) capacitou os agentes com cursos de línguas estrangeiras para atender aos turistas com infor-

mações necessárias. Das 174 placas bilíngues previstas, mais de 100 já foram implantadas em diversas vias do Centro Histórico, Arena do Grê-mio, entorno do estádio Beira-Rio, Av. Edvaldo Pereira Paiva, rodoviária, aeroporto, entre outros pontos.

Além destas, outras sinalizações

indicativas também estão sendo im-plantadas nas mesmas regiões. Já foram instaladas mais de 1,5 mil pla-cas, de um total de 2.151 previstas, indicando zonas de interesse, rotas, bairros e áreas turísticas, como mu-seus, parques, entre outros.

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“Porto Alegre terá

um movimento muito maior do que hoje, e o nosso trabalho aumentará 40% no tempo que os turistas ficarão na cidade”

Celso da Silveira Fernandestaxista

KARLA OLIVEIRA

TrânsitoSão Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

A Avenida Padre Cacique será uma das vias bloqueadas para que pedestres possam se deslocar a pé em torno do estádio

Cultura Gaúcha Rotas até o estádio

A cidade de Porto Alegre se prepara para a Copa desde que foi escolhida como uma das cidades-se-de. A Capital recepcionará os estrangeiros com even-tos culturais e amostras, de acordo com o Prefeito José Fortunati. “Em termos de atividades, queremos mostrar a cultura do gaú-cho oferecendo o Acam-pamento Extraordinário da Copa. Será uma mini

edição daquele que temos tradicionalmente no mês de setembro, porém, com cerca de 100 piquetes. Neste espaço, o turista aprenderá fazer chimar-rão, as danças típicas e co-nhecerá outros elementos que fazem parte da nossa cultura. São eventos que mostrarão um pouco da nossa capital para aproxi-mar os turistas com o povo gaúcho”, salienta.

n O motorista que vem da Free Way, iniciando o trajeto em Osório, deve seguir viagem até a entrada de Porto Alegre, acessando a Avenida Castelo Branco. Seguindo pela Rua da Concei-ção, pegando a Av. Osvaldo Aranha, entra na Av. João Pessoa segue pela Av. Venâncio Aires que vira Av. Aure-liano de Figueiredo Pinto e acessando a Av. Praia de Belas que podem esta-cionar nesta área.

n O motorista que vem da BR-290, do Interior, pode fazer o mesmo tra-jeto. Saindo pela Ponte do Guaíba e acessando a Avenida Castelo Bran-co. Seguindo pela Rua da Conceição, pegando a Av. Osvaldo Aranha, entra na Av. João Pessoa segue pela Av. Ve-nâncio Aires que vira Av. Aureliano de Figueiredo Pinto e acessando a Av. Praia de Belas que podem estacionar nesta área.

Para o turista que irá assistir algum jogo no estádio Beira- Rio, separamos algumas opções

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DIVU

LGAÇÃO

/ PMPA

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Meio Ambiente

Empresa reutiliza plásticospara produzir matéria-prima

Moradores provocam queimadas em Parobé

Trabalhar em prol do meio am-biente é a tarefa diária de uma fábrica localizada em São Vendelino, municí-pio do interior do Rio Grande do Sul. A Wendelplast, que faz referência ao nome da cidade na língua alemã, é responsável pela reutilização de plás-ticos e fabricação de matéria- prima.

O trabalho passa por algumas etapas: primeiramente, são com-prados os resíduos das indústrias, que são moídos pela compactadora e transformados em matéria prima, sem perder sua propriedade. Assim, o produto passa a ser novo e pode ser reutilizado, voltando a ser vendi-do pela indústria.

Para o sócio da empresa Renê Nestor Freitas, a iniciativa é dar um

novo rumo ao lixo descartado de forma irregular. “Tudo que era des-cartado, ou jogado em depósitos passa a ser utilizado novamente, o que colabora tanto com o meio ambiente quanto para as indústrias que podem reaproveitá-lo”. Ele ain-da salienta que são transformadas aproximadamente 100 toneladas de plástico por mês.

Para o funcionário Márcio Schmitz, este processo é funda-mental para o cuidado e a valori-zação do meio ambiente. “Apesar de ser um trabalho pouco incenti-vado, ele demonstra que é possí-vel dar um novo rumo ao lixo de forma correta”, finaliza.

(Nicole Fritzen)

Neste ano, têm sido constante as queimadas causadas por moradores do bairro Laranjeiras, em Parobé. O município, que foi considerado capital da Natureza Limpa, pelo cuidado que tinha com o lixo, hoje é poluído por pequenas indústrias. Também perdeu o posto devido a atitudes inadequa-das dos moradores.

“Tinha muita fumaça e fedor al-tamente sufocante”, disse a moradora Cristina Matte, 31 anos. Ela conta que ligou para os bombeiros reclamando do fogo. A corporação disse que não havia o que fazer, pois as chamas esta-vam no terreno vizinho. Cristina ligou para a Brigada e não obteve retorno. Irritada, entrou em contato com a Se-cretaria do Meio Ambiente, que disse

que não podia fazer nada. “O município passa por mudan-

ças. Tivemos problemas ambientais deixados pelo mandato anterior”, explica Celso Luís Abreu, secretário de meio ambiente. Segundo ele, a fiscalização não era feita por gestores, geólogos e biólogos como é agora. “O município controla um sistema que aplica multas e penalidades aos in-fratores, juntamente com a ajuda da polícia ambiental”, disse.

Cássio Grovermann, gestor am-biental, afirma que as queimadas são crimes previstos no Código Ambiental do Município, que defende a conser-vação de área natural em terreno pú-blico ou privado.

(Felipe da Silva)

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DIVULGAÇÃO

Bairros de São Leopoldo são perturbados por urubus

Viver com a presença de aves que se alimentam de ma-térias em decomposição e que gostam de pousar em lugares al-tos é a realidade dos moradores do bairro São João Batista, em São Leopoldo. Próxima ao zo-ológico de Sapucaia do Sul, a área é ponto de encontro das aves que se aproximam principalmente do conjunto habi-tacional Acapulco.

Felipe Rosa Oli-veira, 25 anos, resi-dente do condomínio, relata que há cerca de um ano os urubus visitam o local. “Certa vez, saí e deixei as janelas abertas para ventilar. Quando voltei, encontrei um urubu na janela da sala”, relata.

Segundo o biólogo especia-lizado em aves e que atua no

laboratório de ornitologia da PUCRS, Márcio Repenning, o urubu-de-cabeça-preta é a es-pécie mais observada em áreas urbanas ou suburbanas. Lixões e locais onde a população descar-

ta restos de animais mortos atraem a espécie, que

encontra oferta de comida pelo olfato apurado.

Matar um urubu é crime ambiental e pode

resultar em mul-ta e até um ano de

prisão. O ornitólogo explica que, para afastá-

-los, o ideal é manter a cidade e a periferia livre de depósitos de lixo e carcaças de animais.

Os urubus habitam as terras do zoológico, e a instituição não quis prestar esclarecimentos.

(Paula Ferreira)

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Comunidade faz arte com o que seria lixo

Benefícios para donos de imóveis históricos

PROJETO DO INTERIOR DE SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA INCENTIVA A REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS E INCLUI MORADORES PARA AUXILIAR NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Israel Silveira

Deixar um mundo novo para as crianças. Mais do que isso, incentivá-las a cuidar do meio ambiente para usufruir de

suas belezas. Por esse pensamento, é que a Escola Municipal de Ensino Fun-damental José Telmo Martins, locali-zada no interior de Santo Antônio da Patrulha investe na Educação Ambien-tal. Os projetos, que têm por objetivo a reutilização de diversos materiais, atende alunos do 5ª ao 9ª ano e conta

com a participação de toda a comuni-dade escolar.

Segundo a coordenadora peda-gógica da Secretaria Municipal de Educação, Eliane Beatriz da Silva, estes projetos foram implementados na escola devido à grande dificulda-de de locomoção dos alunos para a sede do município. “Eles aproveitam a vida no meio rural para cuidar do meio ambiente”. Ela lembra ainda que a Escola em 2014 recebe o Pro-jeto Mais Educação, levando diversas atividades em turno inverso ao da aula, como arte, música e esportes.

Os alunos reutilizam diversos materiais, como jornal e casca de ovo, para construírem outros produ-tos, como árvores de natal e bone-cos de pano. Além disso, no turno in-verso às aulas, eles fazem ainda mais pelo meio ambiente: através de saí-das a campo, eles visitam novas loca-

lidades, deixando mudas de árvores frutíferas em cada espaço verde.

A diretora da escola e biólo-ga Anália Carvalho acredita que as ações estão envolvendo também a comunidade. “Os pais dos alunos e vizinhos da escola participam dos projetos e auxiliam na confecção dos trabalhos em casa. A partir dis-so, o Sertão do Cantagalo (localida-de onde a escola está situada) está aprendendo a ser mais ecológico, tornando o meio rural ainda mais limpo e saudável”.

O projeto é reconhecido a ní-vel estadual. Em 2008, a Fundação Educando lançou um livro sobre In-clusão Social no qual o projeto de educação ambiental da Escola José Telmo Martins foi citado como mo-delo para as demais instituições de ensino. Iniciativas como estas é que mudam o mundo.

Durante o turno inverso ao das aulas, estudantes produzem tinta caseira para pintar os trabalhos

A compra dos índices cons-trutivos, em São Leopoldo, é van-tajosa para as construtoras, que podem renegociar o limite de al-tura nos seus edifícios. O poten-cial construtivo é a capacidade e limites de construção das áreas, terrenos ou imóveis, que passa a ser comercializada separadamen-te do imóvel neste caso.

“É uma medida que será utili-zada para que os proprietários te-

nham alguma vantagem e poder de barganha sobre o imóvel con-siderado patrimônio. Para isso te-mos que ir contra o plano diretor original, o que pode gerar outros problemas”, lembra Maristela Schmidt, membro do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural como representante da Associa-ção de Arquitetos e Engenheiros de São Leopoldo.

Atualmente, existe um inventá-

rio com 135 prédios considerados patrimônio histórico leopolden-se, protegidos pelo COMPAC. Os imóveis da lista precisam passar por autorização do conselho para qualquer tipo de reforma ou nego-ciação que envolva o prédio. Para evitar burocracia, muitos proprie-tários são negligentes e realizam reformas indevidas nos prédios, ou deixam que sejam depredados.

(Letícia Gedrat)

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Arborização é foco em Sapucaia do SulPROJETO DE TRÊS ESTUDANTES VISA AUMENTAR BIODIVERSIDADE DO MUNICÍPIO COM PARTICIPAÇÃO DE ESCOLAS

Dominique Nunes

Dias muito quentes e abafa-dos no verão são comuns na rotina de quem mora em Sapucaia do Sul. Quan-

do as sombras são raras, as árvores são a saída para amenizar o calor e purificar o ar que guarda a carbu-ração de tantos carros. A falta de arborização na cidade, motivou três estudantes do Instituto Fede-ral Sul-Rio-grandense (IFSul) a criar um programa que incentiva o plan-tio de mudas nativas no município.

A constatação da carência sur-giu a partir da experiência das pro-fessoras de biologia do instituto Cristiane Forgiarini, Lacina Maria Teixeira Freitas e Daniele Gervazo-ni Viana. Há alguns anos, as profis-sionais notavam o grande número de espécies exóticas de árvores plantadas nas vias públicas da ci-dade. O primeiro esboço do pro-jeto chamado ‘O uso de espécies nativas no ambiente urbano e sua contribuição para a biodiversida-de’ surgiu com Cristiane em 2012, quando trabalhou como professo-ra substituta no IFSul Campus Sa-pucaia do Sul.

As jovens Kássia Scharlau (16), Débora Demoliner (17), e Giorda-na Pereira Scherer (17) iniciaram o projeto com as professoras en-quanto estavam no 1º ano do téc-nico em Gestão Cultural, integrado no IFSUL Campus Sapucaia do Sul. “Não tínhamos conhecimento so-bre a área botânica e teremos o conteúdo este ano. Portanto, foi uma iniciativa própria sem víncu-lo com nenhuma disciplina, e sim como uma forma de conhecimen-to”, destaca Kássia.

PLANEJAMENTO

Kássia afirma que o projeto deve ser apresentado ao longo do ano em pelo menos uma turma de cada uma das 27 escolas do município, com atividades lúdicas para facilitar o entendimento dos alunos. Em um primeiro momen-to, foram plantadas cerca de 20 árvores às margens do arroio José Joaquim, entre elas mudas de Pi-tangueira, Aroeira Vermelha, Ingá e Guajuvira.

As três estudantes apresen-taram o projeto em reunião com todos os diretores das escolas do município - incluindo municipais, estaduais e particulares - para que tivessem a aprovação do projeto em cada instituição. “Começamos pela escola Otaviano Silveira, plan-tando cinco árvores nativas doa-das pela prefeitura com alunos do 6º ano. Agora, pretendemos conti-nuar com todas as escolas de Sa-

pucaia”, anuncia a estudante.O Secretário Municipal de Meio

Ambiente de Sapucaia do Sul, Car-los Eduardo Santana, afirma que há outras plantações realizadas com árvores vindas de compensa-ção ambiental. “Estas árvores são utilizadas para plantio em passeio e áreas públicas e para a recupera-ção de áreas degradadas”, explica Santana. Segundo o secretário, o projeto será contínuo.

DESENVOLVENDO O PROJETO

A partir de uma pesquisa feita observando as principais ruas da cidade, as alunas organizaram os dados e produziram gráficos para mostrar a diferença de quantidade de espécies existentes no municí-pio. Foi constatado que apenas 28% das plantas eram nativas e 72% de exóticas, ou seja, provenientes de fora da flora original local.

Cristiane Forgiarini fala que, juntamente com a professora Lacina Maria Teixeira, será con-feccionado um livro de espécies nativas para uso popular, onde ela está responsável mais direta-mente pela publicação. A profes-sora Lacina ajudará Cristiane na elaboração do livro, mas foi ela quem primeiramente entrou em contato com a Secretaria do Meio Ambiente e da Educação e que or-ganizou palestras para professo-res e alunos do município. Quem assume a partir de agora mais diretamente as ações de sensibi-lização da comunidade escolar é a professora Daniele.

INICIATIVA GANHOU DESTAQUE NACIONAL

As orientadoras incentivaram as jovens a inscreverem o trabalho na Feira Brasileira de Ciências e En-genharia (FEBRACE), realizada na Universidade de São Paulo (USP) todos os anos. Estudantes de todo

país inscrevem suas produções e concorrem a uma vaga para parti-cipar, e os finalistas são chamados para apresentar seus trabalhos na mostra. Na edição deste ano, que ocorreu de 17 a 21 de março, a ini-ciativa concorreu com 331 projetos do Brasil inteiro e as levou às apre-sentações finais.

Kássia acredita que, além de ver muitas pesquisas diferentes, cada uma com a sua importância, conhecer e conviver com pesso-as de todo o país não teve preço. “Era uma mistura de várias cultu-ras, cada participante representava um pedacinho do Brasil. A FEBRA-CE acontecia dentro da USP, então além de conviver com quem estava lá para participar, também estáva-

mos no meio da rotina de uma uni-versidade onde tinham pessoas de estilos e culturas muito diferentes. Com certeza voltamos pra casa com algo diferente, com uma bagagem a mais”, considera a estudante.

POPULAÇÃO INSERIDA

Para o secretário, o projeto visa proporcionar a educação e conscientização ambientais além do bem estar proporcionado pela vegetação. “Queremos que a popu-lação perceba a importância destas ações e as insiram em seu dia a dia. Nosso objetivo é que ações como estas não partam só do poder pú-blico, mas que sejam constantes na comunidade”, considera.

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Segundo o secretário, há outros projetos que se preocupam com o ambiente da cidade, como a recuperação de margens de arroios pertencentes à preservação permanente e a recuperação de avenidas e praças

Primeira a receber mudas nativas foi a

Escola Otaviano Silveira. Em frente ao ginásio de

esportes, cresce uma cerejeira do rio grande

DOMINIQUE NUNES

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Espécies nativasSaiba quais árvores serão plantadasna cidade nos próximos meses:

Pequeno porte:

n Pitangueiran Cerejeiran Araçán Ipê amarelon Camboimn Araticumn Topete de cardeal

Médio porte:

n Cocãon Aroeira vermelhan Chá de bugren Pata de vacan Capororocan Uvaian Ingá feijãon Chal chaln Guabiroba

Grande porte:

n Ipê-roxon Açoita cavalon Guabijún Caroban Cedron Canjeranan Guajuvira

Meio Ambiente

Page 28: Babélia 21

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Acampamento na Copa prioriza segurança

Furtos e roubos de veículos aumentam em cidades do RS

Assaltos deixam cidades do Vale do Sinos em alerta

PARA SE DIFERENCIAR ENTRE AS CIDADES-SEDES DURANTE A COPA, SECRETARIAS MUNICIPAIS DE CULTURA E TURISMO ORGANIZAM EDIÇÃO ESPECIAL DO EVENTO

Gabriele Gomes

Com a proposta de fazer uma edição extra do Acampamento Farroupilha em Porto Alegre durante o período da Copa,

está sendo preparada segurança espe-cial e rigorosa para receber os visitantes e turistas estrangeiros. O projeto ocorre entre os dias 12 de junho a 13 de julho, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia), em dias de jogos o horário de funcionamento das 9h às 0h. Aos sá-bados das 9h às 2h, nos domingos, 9h às 0h, e demais dias das 10h às 22h.

A segurança do local contará com a proteção de todos os órgãos de se-gurança pública, além da contratação de serviços privados. A contratação será feita de junho a setembro, perío-do que incide na Semana Farroupilha todos os anos.

A ideia do acampamento extra é aproximar os visitantes estrangeiros da cultura gaúcha. A edição oferecerá uma estrutura com praça de alimentação, feira de artesanato, palco de shows e es-paço fazendinha. São cerca de 115 Gal-pões Típicos que estarão desenvolven-do atividades culturais que irão compor a programação do projeto Turismo de Galpão, com oficinas, palestras abertas ao público em geral que queiram conhe-cer o cotidiano do gaúcho.

Uma das novidades será um espa-ço para receber turistas e visitantes, oferecendo equipe capacitada em atender em outros idiomas, fornecen-

do informações sobre o turismo da cidade de Porto Alegre e mesmo das atividades do acampamento. Além disso,nesta edição é a determinação de apenas duas entradas de acesso de pessoas e veículos. Será feito um con-trole rigoroso pela segurança no local para evitar o ingresso de armas e ou materiais considerados perigosos.

“O acampamento, por ser um evento municipal, deve ser inserido em todos os protocolos de segurança”, diz Giovani Tubino, o coordenador de Tra-dição e Folclore da Secretaria Municipal de Cultura em Porto Alegre e organiza-dor do evento. Dessa forma, de acordo com o coordenador, a preparação sen-do feita pelo comitê local e secretaria de Segurança do Estado, tornando assim ainda mais rígida e com alta prioridade a segurança no parque. O motivo desse controle é por causa do Acampamento ficar na Rota Protocolar e o Caminho do Gol, duas vias importantes que levam os turistas e autoridades ao estádio.

Com a preocupação da seguran-

ça dos visitantes estrangeiros, haverá uma palestra com a delegada do Turista para prestar informações pertinentes de como proceder em atendimento ao turista caso aconteça alguma coisa.Foi-também oficializada a Chefia da Polícia Federal com Sede na capital para que se instalasse dentro do Parque assim como os outros órgãos de segurança.

Para Giovani Tubino, acredita que este evento será o diferencial dentre todas as Cidades-sedes dessa Copa de 2014. “Colocando definitivamente a nossa capital na Rota de Turismo do Mundo tendo o Acampamento Far-roupilha como expressão da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul”, en-cerraTubino.

O número de furtos e roubos até março de 2014 mostra aumento na criminalidade das principais cidades do Estado, incluindo Porto Alegre. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o número de furtos e roubos em Novo Hamburgo e São Le-opoldo aumentou em relação a 2013.

Na Capital houve, no primeiro trimestre, 985 furtos e 1467 roubos - enquanto ano passado foram 932 e 1812. Novo Hamburgo foi a campeã dos crimes: 333 furtos e 213 roubos e, em 2013, 270 furtos e 155 roubos no mesmo período. Em São Leopoldo, 165 furtos e 130 roubos contra 99 fur-tos e 110 roubos de 2013.

O comandante da BM de Novo Hamburgo, o tenente-coronel Cláu-

dio Rieger, afirma que esses números aumentaram devido ao sistema falho do país. “Muitos acusados já estão presos, porém aproveitam as falhas do sistema para cometer crimes”, diz.

Rieger lembra que um dos prin-cipais motivos que leva o bandido a roubar um carro é o desmanche. “De-ve-se desconfiar quando é oferecida uma peça de veículo por um preço mais baixo que o convencional, que pode ter sido retirada de um carro roubado. A pessoa pode estar incen-tivando um mercado ilegal”, alerta.

Após verificar o furto ou roubo do veículo, a BM deve ser comunicada pelo telefone 190, facilitando o proces-so de busca e apreensão do veículo.

(Elen Guimarães)

Mateus Martins foi surpreen-dido por dois assaltantesna última sexta-feira de carnaval, em Novo Hamburgo. O fato aconteceu duran-te a visita do rapaz a casa da namo-rada, Alessandra Mattos. O jovem, em meio a coronhadas, foi levado pelos bandidos até um dos quartos, onde Alessandra e sua cunhada, Amanda,estavam amarradas. En-quanto aprisionados no quarto, os ladrões fizeram uma verdadeira “lim-pa” no resto da casa. Levaram televi-são, rádio e carros.

Depois de algum tempo tranca-dos, percebendo que não havia mais ninguém por lá, Amanda,mesmo amarrada conseguiu mandar uma mensagem para o celular de sua mãe,

Suzana, que imediatamente foi em direção à casa junto da polícia. “Foi pior que cena de cinema”, relata Ma-teus Martins, após o susto.Não foram encontrados vestígiosdos assaltantes e nem um dos pertences.

Assaltos na região são cada vez mais frequentes, principalmente em São Leopoldo.De acordo com o secretário de Segurança Pública de São Leopoldo, Carlos Azeredo, os assaltos no município estão con-tidos, mas pede aos leopoldenses que tomem mais cuidado ao chegar e sair de suas residências. “Prestem atenção em tudo que for anormal. Qualquer dúvida ligue190”, ressalta Carlos Azeredo.

(Máico Pereira Martins)

Uma das novidades será um espaço para receber turistas e visitantes, oferecendo equipe capacitada em atender em outros idiomas, fornecendo informações sobre turismo da cidade

Prefeitura contratará serviço privado e público para garantir segurança aos visitantes durante 30 dias

DIVULGAÇÃO/PMPA

Dispositivos móveis são porta para crimes virtuais

Segundo pesquisa realizada pela Symantec em 2013, 57% dos usuários de smartphone no Brasil foram vítimas de crime virtual em dispositivo móvel. O estudan-te de Sistemas da Informação Thalison Carneiro, 19, é um dos casos. Ele conta que recebeu um e-mail desconhecido e fez o download do anexo. Depois, não conseguiu mais aces-sar algumas de suas contas na web.

Elói Junior, com mais de 14 anos de experiência em atuação na área de Tecnologia da Infor-mação, comenta que a maior fragilidade do usuário está num simples fator: a curiosidade. “Os golpes mais comuns simulam notícias de celebridades, fotos polêmicas ou escandalosas e provocações que fazem o usuário

acreditar que poderá saber quem visualizou o seu perfil”, diz Elói.

O aumento dos crimes virtu-ais em dispositivos móveis é uma consequência do crescimento de aparelhos em circulação no país. De acordo com o relatório

da Symantec, ocorreram mais de 22 milhões destes

crimes entre agosto de 2012 a agosto de 2013. Ao encontro disto, desde o ano passado, uma nova legislação se faz váli-

da - 12737/12 -. Invadir computadores ou dispo-

sitivos como smartphones e tablets se tornou crime com pena cabível de multa e até detenção de três meses a um ano. A Polícia Federal disponibiliza o e-mail [email protected] para que sejam feitas denúncias.

(Isnei Júnior)

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

BM promove cursos preparatórios

Com o objetivo de manter a ordem pública, principal-mente em possíveis mani-festações, a Brigada Militar promove cursos preparató-rios para a Copa do Mundo. Os soldados e sargentos recebem treinamentos di-ferenciados para agir neste período. A primeira edição, que ocorreu em abril na Serra gaúcha, ofereceu o curso de Especialização de Operações de Choque, nível multiplicador. Contou com a participação de diversos policiais renomados e tam-bém com oficiais de outros estados. No conteúdo estão disciplinas de direitos hu-manos, uso moderado da força e treinamento físico.

(Gilvana Dias)

Polícia

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Para mudar a realidade dos presídiosCOMPLEXO CARCERÁRIO CONSTRUÍDO NO BAIRRO GUAJUVIRAS, EM CANOAS, BUSCARÁ REABILITAÇÃO DE PRESOS POR MEIO DE CONTATO COM FAMILIARES E OFICINAS DE TRABALHO E ESTUDO

Rafaella Rosar

Um olhar de desconfiança cerca os moradores do Bair-ro Guajuviras, em Canoas. Quem passa pela Avenida

do Nazário ainda se espanta com a construção do novo Complexo Pri-sional do Estado. O local, distante das áreas movimentadas da cidade, receberá a maior parte dos detentos do Presídio Central de Porto Alegre, após a sua desocupação, prevista para o final deste ano.

Fruto da parceria entre a Su-perintendência dos Serviços Pe-nitenciários (Susepe), prefeitura municipal e o governo do Estado, iniciada ainda em 2010, o Presídio Estadual de Canoas tem 95% das obras concluídas. A área, de 250 hectares, ainda receberá mais duas casas prisionais que integrarão o complexo e, somadas, disponibi-lizarão 2.808 novas vagas carcerá-rias. Com recursos do governo do Estado, foram investidos quase R$ 18 milhões na obra.

Segundo o superintendente da Susepe, Gelson Treiesleben, cerca de 1,6 mil apenados da Comar-

ca de Canoas serão transferidos do Presídio Central para as novas detenções e, com isso, iniciará a possibilidade de humanização das famílias que precisam se deslocar até Charqueadas ou ao Presídio Central na Capital. “É uma nova perspectiva para o Estado, e Cano-as dá um passo à frente em relação à segurança e ressocialização da população carcerária”, disse.

A ressocialização dos apenados, uma das principais características dos presídios construídos sob o modelo da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC), também foi

destacada pelo secretário de Segu-rança Pública e Cidadania da cidade, Guilherme Pacífico. “Dialogando com a sociedade e com as empresas perce-bemos que o complexo trará bastante visibilidade para nossa cidade, à me-dida que propomos a reabilitação da massa carcerária com trabalho e es-tudo,” explicou Pacífico. Serão ofere-cidos aos detentos estudo e trabalho, como uma forma de estímulo à queda nos índices de reincidência.

A oportunidade de melhorias tra-zidas para o bairro com a construção da nova unidade prisional é destaca-da por grande parte da população. Embora haja divergência de opiniões quanto ao método APAC de adminis-tração de presídios, os habitantes do Guajuviras se mostram favoráveis à instalação do novo complexo.

“Vai ser bom para o nosso bair-ro”, disse a moradora Carine Luz, 23 anos. Para ela, o maior benefício que a construção do novo presídio trará será no âmbito de segurança. A jovem lembrou que o bairro já foi pioneiro no país com a implantação do projeto Território de Paz, e desde 2009 redu-ziu significativamente o número de homicídios na região. “Acredito que a construção dessa nova unidade pode ser a continuação desta mudança”, diz. Para ela, o principal objetivo do presídio é a possibilidade de trazer o apenado de volta à sociedade e evitar a reincidência de crimes, e não neces-sariamente resolver o problema de falta de vagas carcerárias.

Também morador do bairro, Die-

go Pinheiro, 27 anos, diz ser favorável até certo ponto. “Acredito na possibi-lidade de melhorias no bairro, porém, ainda não confio no formato da APAC, que opta por não ter guardas ou po-liciais, trabalhando apenas a autodis-ciplina ou que os próprios apenados tenham a responsabilidade de contro-le. Não consigo assimilar essa ideia de forma positiva”, afirmou.

CENTRAL SERÁ DESOCUPADO ATÉ O FINAL DO ANO

Com 4,5 mil presos e 2.069 vagas, o Presídio Central de Porto Alegre fun-ciona, há anos, com contingente bem acima de sua capacidade. A superlo-tação rendeu ao local o 1º lugar no ranking dos piores presídios do país, segundo relatório feito pela CPI do Sistema Carcerário. Para definir a lista, foram usados como critérios a super-lotação, insalubridade, arquitetura prisional, ressocialização por meio do Estado e do trabalho, assistência mé-dica e maus-tratos.

De acordo com o chefe de Gabi-nete da Susepe, Jairton Santos, até o final deste ano a maior parte do presí-dio será desocupada e a outra parte já estará em processo de desocupação. Ainda, segundo o dirigente, a transfe-rência dos detentos para as novas ca-sas prisionais se dará de acordo com o andamento das obras e será feita de forma gradativa.

Quanto ao destino do espaço onde hoje fica a unidade, Santos expli-ca que ainda não existe uma definição

a respeito do que será feito com a área do Central após ele ser desativado, mas comenta que existe a possibilida-de de ser construído um novo presídio – porém, para abrigar no máximo 900 presos. “Não vamos nos desfazer da-quela área sem um aproveitamento que seja extremamente benéfico para a população de Porto Alegre”, projeta.

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“É uma nova perspectiva

para o Estado, e Canoas dá um passo à frente em relação à segurança e ressocialização da população carcerária”

Gelson Treieslebensuperintendente da Susepe

Com 95% das obras concluídas, Penitenciária Estadual de Canoas deve receber detentos do Presídio Central até o final deste ano

JUAREZ D

E AND

RAD

E JÚN

IOR

PolíciaSão Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Características dos presídios APAC

n Proporcionam aos presos contato constante com suas famílias e comunidade.Ensinam aos detentos novas profissões - como a carpintaria e o artesanato.

n Não há polícia, nem agentes penitenciários (au-sência de armas), mas sim a vigilância pelos próprios apenados, com auxílio de funcionários, voluntários e diretores das entidades.

n São dotados de infraes-trutura para prover, além de trabalho, assistência e saúde, informática, projetos educacionais e profissionali-zantes, bem como possibili-tar a remissão da pena por estudo regular.

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Latrocínios assustam populaçãoCOMBATE À VIOLÊNCIA ESTÁ SENDO FEITO PELAS FORÇAS DE SEGURANÇA, GARANTE SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO RIO GRANDE DO SUL

Leonardo Severo

Mesmo sendo referência em combate à violên-cia na área de agressão contra a mulher, a lista

de vítimas de crimes no Estado do Rio Grande do Sul aumenta a cada dia. É só ir às ruas e perguntar. De cada dez pessoas, pelo menos três já sofreram algum tipo de roubo, assalto ou tentativa.

A constatação ocorre não por motivos simples. Há sempre um contexto envolvido. Há o da pes-soa distraída que fica “teclando” no celular em um local onde não há segurança da Brigada Militar. O da pessoa que rouba para sobrevi-ver, seja pra trocar por comida, ou pagar uma dívida com traficantes. E há, ainda aquele que rouba para sustentar o vício, ter posse, ou pra-ticar um crime mais vantajoso às custas dos outros.

Um dos crimes mais comuns no Estado é justamente o assalto. À mão armada, ou não, o crime tem sido o grande receio da população da cidade. Mas um tipo em especial tem chamado atenção tanto da po-pulação, do governo e da socieda-de cada vez mais o latrocínio, roubo seguido de morte.

O que mais chamou a atenção da população nos últimos tempos foi a morte, ocorrida em fevereiro, com requintes de crueldade e à queima roupa, do publicitário José Lair Kunzler, 68 anos. O crime ocor-reu na porta do condomínio onde ele morava, no bairro Cavalhada, zona sul da cidade.

Segundo informações colhidas pela imprensa à época, o publici-tário chegou a ser socorrido e le-vado ao Hospital de Pronto Socor-ro (HPS), em Porto Alegre, onde deu entrada, mas não resistiu ao ferimento, um tiro na cabeça, e morreu.

O crime desencadeou uma sé-rie de questões relativas à capaci-dade da polícia em garantir a segu-rança da população já que, como depois provado, o suspeito da morte de Kunzler havia cometido outro crime de igual circunstância no ano de 2004.

Segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Esta-do do Rio Grande do Sul os índices de latrocínio em todo o Estado são de 91 casos “consolidados”, confor-me os últimos dados, que são do ano de 2012. Mas, conforme diz a própria secretaria, muitas ocorrên-cias são registradas, equivocada-mente, como homicídio, por falta da prova que a motivação da mor-te seja justamente o fato de poder roubar a vítima.

Mesmo com o número alto,

a Secretaria de Segurança Públi-ca afirma que a estratégia de re-pressão tem refletido em avanços, evitando o crescimento tanto dos roubos quanto dos latrocínios. Segundo a entidade, o Estadoa-presenta, desde 2010, queda nos números de roubos seguidos de morte.

Questionada sobre a falta de dados finais sobre o ano de 2013, a secretaria afirmou que em maio os mesmos devem ser disponibili-zados em breve.

Conforme o secretário da Se-gurança Pública, Airton Michels, a repressão das forças de segurança está sendo ampliada, e os bandidos mais perigosos estão sendo afasta-dos das ruas. “Estamos tentando chegar aos maiores responsáveis pelos delitos, prendendo os res-ponsáveis pelos crimes. Isso é ex-tremamente necessário.” Michels também acredita que esse tipo de repressão confere maior eficácia na resolução de crimes e evita a super-lotação das prisões.

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“Estamos tentando

chegar aos maiores responsáveis pelos delitos, prendendo os responsáveis pelos crimes. Isso é extremamente necessário”

Airton MichelsSecretário de Segurança Pública

Polícia

Mudança na código penal pode ser solução

O código penal (instituíto por Getúlio Vargas na década de 1940) é falho. A legislação abre brechas para que os bandidos cometam crimes, como afirma a publicitária Mirian Coelho, que mora na Cida-de Baixa. Ela aponta que se sente insegura no bairro porque só vê as viaturas da Brigada Militar nos dias de protesto contra o aumento das passagens de ônibus. Ela reclama do clima de receio que toda a po-pulação vive.

“Eu sinto que as pessoas vi-vem com medo. Eu, realmente vivo com medo. Moro a quadras da Redenção e vejo pessoas sendo assaltadas nas proximidades qua-se diariamente”, afirma. “E, quan-to à polícia, não se vê quase nunca ali [na Cidade Baixa], sempre apa-

rece nos protestos, mas não faz nada. Fui assaltada duas vezes no meu trajeto daqui do Mercado até em casa”, revela.

Para a auxiliar de limpeza Ja-queline dos Santos, moradora do bairro Passo d’Areia, na Zona Norte, a Brigada Militar faz a parte dela, de prender os bandidos, mas a falta de espaço para manter os bandidos presos é um entrave.

“O que adianta a Brigada ir lá prender e esses ‘cara’ ir pro [Presídio] Central. Dias depois tem que soltar porque tá lotado. Não adianta nada. E mesmo que prenda, fica um tempinho preso, depois já soltam. Não dá tem que mudar o tempo das penas e colo-car quem mata na cadeia pro resto da vida”, opina Jaqueline.

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São Leopoldo/RS l Julho/2014 l Edição 21Esporte

Aimoré quer ficarna elite do Gauchão

Complexo Esportivo abertoaos alunos e à comunidade

Atraso em obras na Arenadá sobrevida ao Olímpico

APÓS O RETORNO À PRIMEIRA DIVISÃO, DIREÇÃO PLANEJA MANUTENÇÃO DO PLANTEL DE JOGADORES E INVESTIMENTOS VISANDO IMPULSIONAR O CLUBE PARA A PRÓXIMA TEMPORADA

Alan Gressler

O Clube Esportivo Aimoré, que retornou à Primeira Di-visão do Campeonato Gaú-cho este ano, quer agora se

manter na elite. Para isso, superados os problemas financeiros das últimas décadas, a atual direção busca manter o elenco, campeão da Segunda Divi-são em 2013, e investir na infraestru-tura do estádio.

O diretor de futebol, André Luiz Schu, relata que sabe bem das dificul-dades que o clube pode encontrar pelo caminho. Segundo ele, são os mesmo desafios enfrentados no passado.

- Trabalhei junto com o Felipe Becker (atual presidente) em 1987, quando conquistamos a segunda divi-são. Foi o último título antes da crise que levou o clube a fechar as portas em 1997. Acompanhei de perto o triunfo do clube e a dificuldade finan-ceira encontrada nos anos seguintes. Não é fácil administrar as dívidas quando você investe e os resultados não vêm mais.

André lembra com pesar de qua-se tudo dessa época, com exceção de uma coisa: sua relação com o presi-dente.

- Foi graças a nossa boa relação na época que o Felipe me convidou para ser seu vice de futebol em 2012. Nós pensamos muito parecido. Ele me co-nhece bem. Com certeza isso ajudou a obter as vitórias que tivemos.

Sobre a fórmula do sucesso frente ao Índio Capilé – como os torcedores chamam carinhosamente o clube – o dirigente diz não haver segredos. É preciso trabalhar sério e ter engaja-mento.

- O primeiro desafio é evitar os erros que já passamos. Hoje o clube tem uma dívida pequena, bem ad-ministrada, mas que também não permite descuidos. É preciso usar bem o dinheiro que temos, para po-dermos contratar reforços e pagar a folha salarial em dia. Nosso principal compromisso é manter o elenco atu-al, que garantiu nossa permanência na primeira divisão. Porém, isso não é tão fácil, porque atualmente sabemos que todo clube precisa vender jogado-res para se sustentar.

Quanto aos investimentos para o futuro, André Schu revela o novo pro-jeto de reformulação do estádio no Cristo Rei.

- Estamos com ótimos planos para o futuro. Nossa principal aposta agora está na reforma do estádio João Cor-rea da Silveira. Estamos em negocia-ções avançadas com um investidor, porém ainda buscamos recursos para viabilizar as obras. Acreditamos que com a reformulação e expansão das nossas instalações, nós conseguire-mos atrair mais sócios e patrocinado-res. Assim nos tornaremos grandes. Esse será provavelmente o foco do clube para o próximo ano.

A direção encerrará seu comando no final dessa temporada, junto com a atual gestão, uma das mais vitoriosas da história do Aimoré. Questionado sobre sua permanência, André deixa isso a cargo das próximas eleições.

- Para quem assumir agora, com certeza será um presente. Mas vamos ver o que vai acontecer. Minha vonta-de, sem dúvida, é ficar.

Alunos e comunidade podem utilizar o Complexo Esportivo da Unisinos, em São Leopoldo. Basta fazer um cadastro, ter força de von-tade e ir aos locais onde se desen-volvem as práticas.

Os monitores são todos acadê-micos de Educação Física. Eles se-lecionam os alunos que participam das competições entre estudantes de outras universidades, como o JUGS (Jogos Universitários Gaúchos), além de amistosos, campeonatos regionais e a própria Copa Unisinos, que acontecerá em outubro.

Mateus Tegner, de Engenharia de Produção, treina futebol de cam-po todas as quintas-feiras. “O bom é juntar o útil ao agradável e não pre-

cisar se deslocar. Se a Unisinos nos oferece essa estrutura, por que não aproveitar? Saio de casa mais cedo, pratico esporte e depois vou à aula, é bem mais prático”.

A pista atlética e a academia estão sempre abertas para a co-munidade, esta última com co-brança de mensalidade. As equi-pes se encontram de duas a quatro vezes por semana, dependendo da modalidade. O quadro completo com os horários, contatos e a indi-cação de onde acontecem as prá-ticas esportivas pode ser conferido através do endereço unisinos.br/institucional/estrutura/complexo-de-esporte-e-lazer.

(Lucas Girardi Ott)

O Estádio Olímpico vai receber algumas das Seleções em disputa pela Copa do Mundo, que passa-rão pela capital. Além do Olím-pico, já estavam definidos como campo de treinamentos a própria Arena do Grêmio e o SESC Cam-pestre. Com o atraso nas obras, o Centro de Treinamento (CT) da Arena Grêmio foi cortado.

A CBF chegou a ofereceu um empréstimo ao clube, mas os juros eram altos. O mais viável é usar os gramados do Olímpico, que já estão prontos, e fazer apenas alguns re-paros nas imediações do estádio. A implosão do Olímpico já estava mar-cada, mas, com o imprevisto, segue sem definição.

As assessorias de imprensa do Grêmio e da OAS informam que não está definida nenhuma data final para a demolição do Estádio Olímpico. Douglas Lunardi, do Grêmio, acres-centa: “Terá uma reunião entre o Grê-mio e a construtora Ramos Andrade para definir a data final da implosão”.

Carlos Nascimento, de 36 anos, está triste com a demolição do estádio. “É lastimável saber que o lugar onde tive fortes emoções vai virar pó”. O torcedor lembra com carinho de Jardel, Paulo Nunes e o goleiro Danrlei. “Até as derrotas eram emocionantes. Espero que com essa nova casa o Grêmio ve-nha a ter grandes conquistas”.

(Letícia Santana)

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“Estamos com ótimos

planos para o futuro. Nossa principal aposta agora está na reformulação do estádio João Correa da Silveira. Estamos em negociações avançadas com um investidor”

André Luiz Schudiretor de futebol do Aimoré

Empate com o Juventude garantiu a permanência do Índio Capilé na primeira divisão do Gauchão

LURDENIR MATOS

POA Pumpkins jogaEstadual e Nacional

O Porto Alegre Pumpkins disputa neste ano o Campe-onato Gaúcho e o Campe-onato Brasileiro de Futebol Americano (CBFA). A equipe porto-alegrense conquistou a classificação para a final do Gauchão após vencer o San-ta Cruz Chacais por 21 a 6, no dia 18 de maio, em Porto Alegre.

A fórmula do Campeonato Gaú-cho é de todos contra todos, em turno único. Os dois mais bem classificados disputam o Gaúcho Bowl, no dia 1° de junho, com mando de campo do time de melhor campanha. Assim como no ano anterior, os adversários da equipe são o Santa Maria Soldiers, que é o atual cam-peão gaúcho, e o Santa Cruz

Chacais que competem pelo título estadual da temporada.

“O Campeonato Gaúcho é muito disputado por toda a rivalidade dos times. Este ano temos muitos jogadores no-vos e um treinador america-

no que esta colocando uma filosofia e estilo de

jogo diferente, por-tanto, temos mais chances de vencer o Gauchão.”, diz Guilherme Marra, jogador de defe-

sa do Porto Alegre Pumpkins. Acerca do

Campeonato Brasileiro, Marra afirmou que existem times nacionais com muito potencial, como o Cuiabá Ar-senal e o Coritiba Crocodiles, que tornam a disputa pelo tí-tulo nacional mais difícil.

(Dyessica Abadi)

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Skate, brincadeira de profissionalO UNIVERSO DE QUEM VIVE DE UM DOS ESPORTES QUE MAIS CRESCEM NO BRASIL E NO MUNDO

Virginia Machado

Logo nas primeiras horas da ma-nhã, o barulho das rodinhas em atrito com o cimento já pode ser ouvido. No decorrer do dia,

meninos e meninas vão arriscando novas manobras e logo o espaço é completamente ocupado. A Praça Coração de Maria, em Esteio, é o lu-gar preferido de Héricles Fagundes, 17 anos, conhecido por Malhação. Quando vivia em Sapucaia do Sul, cidade vizinha, ele acordava todos os dias, pegava o skate e ia treinar na pista. Essa é uma rotina comum para quem, como ele, sonha em ser profissional do skate.

Conforme pesquisa do Datafo-lha, em 2010 eram mais de 3,8 mil skatistas no Brasil, 20% a mais do que em 2006. A situação era bem diferente há 25 anos, quando Allan Mesquita, hoje com 38, começou a praticar as primeiras manobras em Cabo Frio (RJ). O atleta se tornou profissional em 1996, em um cam-peonato em Piracicaba (SP), quando recebeu a primeira premiação em dinheiro e resolveu que ganharia a vida assim. Segundo ele, não era fá-cil viver do skate, pois o esporte era discriminado e o mercado, peque-no. Foi quando decidiu ir para São Leopoldo em busca de oportunida-des que recebeu os primeiros patro-cínios e suporte. “Viajei quase todo o planeta em cima do meu skate, vi-vendo o meu sonho”, completa ele.

É fácil notar o crescimento do skate no Brasil e no mundo. Muitas cidades têm uma ou mais pistas e cada vez mais adeptos. Malhação começou a andar de skate com 10 anos e, aos 13, já participava de competições. Hoje mora em Flo-rianópolis (SC), onde, afirma, ficam as melhores pistas e muitos cam-peonatos de Bowl (pistas em for-mato de piscinas redondas). Ele se mantém por meio de patrocínios de marcas de skate e premiações. Atualmente, compete na categoria amador, e quando se sentir pron-to para competir com profissionais deve comunicar à Confederação Brasileira de Skate (CBSk), que faz uma avaliação baseada na trajetória do atleta. “Amo o skate, ele mudou a minha vida. Conheço pessoas incrí-veis e vou a lugares que só ele pode me levar. A adrenalina é enorme, e quebro barreiras a cada manobra que executo com sucesso”, explica.

O mundo do skate não se resume a manobras radicais e campeonatos. Segundo a CBSk, a modalidade ocu-pa hoje o segundo lugar no merca-do esportivo, só perdendo para o futebol. Além dos shapes, existem marcas de roupas e meios de comu-nicação que abordam exclusivamen-te esse esporte. Novos segmentos surgem, e mais pessoas trocam pro-fissões tradicionais pela paixão pelas

rodinhas. Cansado de fazer a parte comercial de uma skateshop online, Guilherme Abe, 23 anos, teve uma ideia inovadora. O criador do canal Sobreskate, que hoje conta com mais de 228 mil inscritos, queria fa-zer algo diferente, e pensou em res-ponder perguntas sobre o tema. Dos quase 4 mil skatistas do Brasil hoje, 80% são iniciantes, e não havia uma mídia que fizesse isso.

Há um ano no ar, o Sobreskate já é o maior canal de skate do país, e Abe recebe mais de 150 pergun-tas por dia. Além de respondê-las, faz a edição dos vídeos, contando com a ajuda de um amigo cinegra-fista. O único retorno financeiro são os anúncios do Google, que lhe rendem 60% dos lucros de acessos, ou seja, alguns centavos por clique. Além disso, realiza par-cerias com marcas e lojas especia-lizadas. Abe explica que ainda não dá para viver só do canal, mas faz planos para expandir a ideia. “Ja-mais imaginei que daria tão certo, e hoje não poderia estar mais feliz com o resultado. Eu me divirto gra-vando, e o retorno que tenho do público é a recompensa.”

Como o futebol, o skate exige treino e, para entrar para “os gran-des times”, é preciso determinação e investimento. É o que tem feito o atleta Malhação. Depois de con-quistar o terceiro lugar no Mundial Red Bull Skate Generation, em abril, em Santa Catarina, ele quer dispu-tar campeonatos na Europa. Para

juntar os R$ 9 mil necessários, está vendendo rifas. Segundo Abe, isso ocorre porque o skatista não é valo-rizado no Brasil e, para ter sucesso, é preciso sair do país. “Skatistas ga-nham fora o que um jogador de fu-tebol ganha aqui. Em campeonatos como o Street League, os prêmios chegam a US$ 150 mil, equivalentes a mais de R$ 300 mil, o que é muito diferente da realidade brasileira.”

Para se inserir no meio, as multi-nacionais de artigos esportivos utili-zam a imagem dos skatistas a fim de conquistar o público do skateboard,

mas sem investir de verdade no es-porte. Foi o que pensou Rafael Rus-so, 32 anos, um dos idealizadores da marca Liga Trucks. Ele queria ofere-cer suporte aos skatistas. Lançada oficialmente em 2011, a Liga come-çou a desenvolver seus produtos oito anos antes. Profissionais como Danilo Dandi, Daniel Crazy, Gui Zolin e Gui da Luz integram a marca, que é uma das principais apoiadoras dos skatistas brasileiros, realizando cam-peonatos e patrocinando jovens que sonham em ser profissionais.

Assim como Russo, Allan Mes-quita fundou a marca Devotion, uma das mais conhecidas do mundo do skate. “É uma missão difícil, devido à concorrência, mas estamos indo bem, por sermos skatistas de verda-de. Fazemos por amor”, enfatiza. Se-gundo ele, o mercado brasileiro tem tudo para ser o maior do mundo, já que atualmente só perde para o dos Estados Unidos. A aceitação da mar-ca é grande, pois o empresário busca trazer ideias inovadoras e autênticas e dar um toque brasileiro às confec-ções, firmando a identidade dos atle-tas em cada roupa ou shape.

Apesar das dificuldades, prin-cipalmente no início da carreira, Allan explica que, com dedicação e persistência, são muitas as chances de ser um profissional consagra-do. “Sou realizado com o que faço. Ando de skate e consigo ajudar jo-vens que têm o mesmo sonho que eu. Não conseguiria me imaginar fazendo outra coisa”, diz ele.

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“É uma missão difícil, devido

à concorrência, mas estamos indo bem. O mercado brasileiro tem tudo para ser o maior do mundo, já que atualmente só perde para os Estados Unidos”

Allan MesquitaEmpresário e skatistaprofissional

Mesmo morando em SC, quando vem para Esteio, Héricles vai praticar na praça. A manobra da vez é o Back Side Melon, que ele realiza no half

RO

CHELE PIR

ES

Esporte

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Invasão feminina nos tatamesPARA COMPROVAR QUE MULHER NÃO É SEXO FRÁGIL, ELAS ESTÃO INDO À LUTA, MAS DESSA VEZ, NAS ACADEMIAS DE ARTES MARCIAIS

Franciélen Severo

As mulheres se empenha-ram muito na busca pela igualdade e a cada dia deixam isso mais evidente

ao conquistarem postos que até então pertenciam ao universo mas-culino, não se importando muitas vezes em deixar traços de vaidade de lado. Agora, os esmaltes duram pouco nas unhas por causa do atri-to com o kimono. As saias foram substituídas por calças, para escon-der os hematomas das lutas. A cha-pinha reveza com os coques e nem isso tira a feminilidade das mulhe-res que, muitas vezes por prazer ou como uma forma de se proteger, encontram nas artes marciais não somente uma segurança, mas um estilo de vida.

A modalidade nem sempre é aceita pelas famílias devido à falta de conhecimento, mas não é o que ocorreu com Caroline da Rocha, coordenadora financeira. “Quan-do eu era adolescente minha mãe obrigou eu e meu irmão a fazermos um esporte, optamos pelo judô. Eu gostava muito”. Ela conta que ini-ciou cedo a praticar artes marciais e acredita que foi fundamental para a formação da sua personali-dade, devido à disciplina e respeito que sempre estiveram presentes nas aulas.

Há cerca de cinco anos treinan-do duas vezes por semana, e ter conquistado a faixa verde, Caroline teve que se afastar por um tempo do judô pra se dedicar à faculdade de Economia que cursava na época. Há um ano, a partir da indicação de seu irmão, ela passou a treinar muay thai, mas o foco era melhorar os próprios padrões estéticos.

Passados alguns meses, perder peso já não era mais o seu único objetivo e as aulas passaram a ter outras motivações. Para quem trei-nava duas vezes por semana em uma turma apenas de mulheres, passou a treinar três vezes por se-mana em turma mista. E ela queria mais. Queria competir.

Treinar todos os dias e estar ciente de que não haveria distin-ções nos treinos por ser mulher foram um dos requisitos para Ca-roline se tornar atleta. Ela já possui duas lutas amadoras e afirma que não vai parar por aí. “Eu pretendo continuar lutando muay thai até adquirir bastante experiência e de-pois quero ir para as artes marciais mistas (MMA)” diz empolgada.

AS MULHERES NO MMA

As artes marciais mistas, como o nome sugere, é a união de diver-sas artes marciais em uma luta só.

É cada vez mais comum ver mulhe-res estreando nesta modalidade. O ano de 2013 evidenciou isso ao trazer ao maior evento de MMA do mundo, o Ultimate Fighting Cham-pionship (UFC), a primeira luta fe-minina, sendo a principal atração na edição 157 do evento.

As competidoras foram Ronda Rousey e Liz Carmouche, que bri-lharam na noite ao disputar o cin-turão do peso galo do UFC, que é o peso até 61,2kg.

Entre elas, muitas outras mu-lheres passaram a se destacar nes-se meio, como Miesha Tate, Sara Macmann, que também foram adversárias de Ronda em outros evento do UFC e a conhecida aqui no Brasil Cris Cyborg, e são essas mulheres corajosas que servem de inspiração para as meninas que es-tão iniciando.

MOTIVAÇÃO

Em meio a tantas atividades físicas que visam fugir do seden-tarismo, proporcionar uma maior resistência física e o tão desejado corpo perfeito, as artes marciais passaram a fazer parte dos interes-ses destas mulheres, que sonham com a forma ideal.

A Equipe Hawks, de Esteio, tem três modalidades de lutas, sendo elas o jiu jitsu, Muay Thai e o MMA. Segundo Hugo Krug, professor da equipe e integrante da diretoria da Federação Riograndense de Muay Thay, a mais procurada por mulhe-

res, é o muay thai, que ele não tem dúvidas que é uma escolha geral nas academias de artes marciais.

De acordo com o professor, 40% de seus alunos são mulheres e a média de faixa etária é 25 anos. “O muay thai é um atrativo por que nesta modalidade conforme a intensidade, em um único treino o aluno pode queimar mais de 1000 calorias”, destaca Hugo.

Na academia Hawks existem duas turmas de muay thai, a mista, em que homens e mulheres prati-cam, e a feminina, onde a esposa de

Hugo, Lis Antunes, bicampeã gaú-cha nessa modalidade, é instrutora. Ele explica que essa divisão ocorre porque algumas meninas não se sentem a vontade em treinar com homens ou até mesmo pela falta de ritmo que elas entendem que não acompanharam o grupo.

Contudo, o empresário relata que quase a metade dos grupos fe-mininos ou passa permanentemen-te para a turma mista ou intercala com as duas turmas em busca de um treino mais intenso.

Tratando-se de competição, o instrutor avisa: “Quando o aluno chega no professor e pede para competir, é perdida a distinção de sexo. Não temos mais meninos ou meninas, temos atletas.” Ou seja, as meninas treinam de igual para igual, fazem as mesmas atividades, e para ele só assim estarão prepara-das para qualquer combate.

Para finalizar, Hugo Krug re-comenda que não apenas as mu-lheres, mas qualquer pessoa que queira praticar uma arte marcial, pesquise o histórico de cada aca-demia, que com a popularidade das artes marciais, em especial do MMA, é natural que surjam pesso-as não qualificadas se aproveitando deste momento. “E para as mulhe-res que querem realizar uma ativi-dade física a arte marcial sempre será uma boa pedida, uma ativida-de que não gera monotonia, sem-pre terá exercícios diferentes a cada aula e a perda de peso será apenas uma consequência”, conclui.

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“Quando o aluno chega

no professor e pede para competir, é perdida a distinção de sexo. Não temos mais meninos ou meninas, temos atletas”

Hugo Krugempresário

Cuidar do corpo é só um dos atratativos do muay thai, que tem treinos de resistência física e concentração

LAURA KUNZ

EsporteSão Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

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São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

O caminho de um sonho douradoEQUIPE DE FUTSAL, QUE POR MEIO DE PARCERIAS OBTEVE RECURSOS PARA MONTAR UM PROJETO QUE EM CINCO ANOS, A COLOCOU NA SÉRIE OURO DE FUTSAL, A ELITE GAÚCHA

Paloma Griesang

O Um ginásio praticamente lotado. O azul que predo-mina o lugar agora dá es-paço para o preto, branco

e dourado. Cerca de 2 mil pessoas reunidas por um único motivo, por um único time, o Teutônia Futsal (ASTF). Na quadra, a equipe não poupa esforços para recompensar a torcida. Time e torcida jogam juntos.

O jogo é contra a ACBF de Car-los Barbosa, um dos principais ti-mes da modalidade. A disputa é significativa no que diz respeito ao momento atual da ASTF: a Série Ouro do Gauchão de Futsal.

ASTF, um time jovem, de uma cidade com cerca de 30 mil habi-tantes, em quatro anos conseguiu alcançar a elite do futsal estadual. Para contar essa história é preciso voltar até a criação da Associação.

Até 2009, Teutônia não tinha entidade responsável pelo futsal da cidade. O radialista Cristiano Stape-nhorst Schwarz lembra que pediu em seu programa que as lideranças da cidade se reunissem para criar a entidade. Em 2007, pessoas se le-vantaram e pagaram a inscrição do time na série bronze. Uma equipe foi montada em parceria com a es-

cola de Futsal Juventus. Jogadores tomaram a liderança para viabilizar a manutenção do time, mas não foi o suficiente. Em 2008, o futsal na ci-dade ficou totalmente parado.

Ressurgiu então a necessidade de criar uma entidade responsá-vel pelo futsal. Em 2 de fevereiro de 2009, em reunião, cerca de 22 pessoas criaram a Associação Teu-toniense de Futsal (ASTF). Cristia-no Stapenhorst Schwarz foi eleito o primeiro presidente.

Um grupo de trabalho foi montado e iniciou a busca por patrocínios. Mobilizaram-se as três grandes cooperativas da cidade, Languiru, Certel e Sicre-di, a Auto-Viação Estrela e em-presas para dar o suporte. De acordo com o atual presidente do clube Valdair Kliks, diretor de esportes na época, o plano era de que em cinco ou seis anos o time chegasse na Série Ouro. O plano parecia ambicioso, mas se confirmou. “Sempre acredi-tei no time pela força que tinha, mas não esperava ser tão rápi-do. Porém o trabalho foi sendo aperfeiçoado e aconteceu”, de-clara Vanderlei Rogério Weiand, o Peixe, jogador e incentivador do futsal na cidade.

A entidade começou simples, com pouco recurso. O foco era os jogadores da região e que jogavam no futebol de campo. Os atletas se dividiam entre os treinos e outras atividades. Tudo era feito de acor-do com os recursos disponíveis. “Sempre fizemos tudo com os pés no chão”, afirma Kliks.

ASCENSÃO PARA A SÉRIE OURO

O time jogou por 4 anos a Série Prata, e foi trabalhado para se tornar competitivo. “Estivemos em evolução constante, tanto em quadra, quanto a diretoria” afirma Kliks.

Em 2012 o time não apresentou boa campanha e teve uma baixa re-ceita. Surgiu a necessidade de profis-sionalizar. Foram feitas reuniões de mobilização para obter patrocínio maior, possibilitando a contratação de atletas.

A partir de 2013, os jogadores passaram a jogar exclusivamente para a ASTF. Evoluiu também os par-ceiros. Em 2013, durante a Série Pra-ta, a receita anual da Associação foi de R$ 220 mil.

Todos os esforços refletiram den-tro de quadra. A Teutônia Futsal che-gou até a final da disputa. O título es-capou, mas a vaga para a Série Ouro foi garantida. Reforços com experiên-cia em grandes times do Estado foram contratados. Como o técnico Morru-ga, um dos principais na categoria.

Hoje a estimativa para a receita anual do time este ano é de R$ 650 mil, 50% do custo vem do patrocí-nio, entre R$ 350 mil a 400 mil. Os outros 50% vêm da bilheteria, só-cios e do bingo.

Segundo o presidente Valdair Kliks, o trabalho em equipe e o en-tendimento das cooperativas aju-daram a dar um salto de qualida-de no time. “Evoluímos em tudo”, declara. Segundo Peixe, a união da diretoria foi fundamental. “Todos

pegaram junto e seguiram junto. A força da ASTF é a união”.

A equipe treina em dois turnos com toda estrutura. De acordo com Kli-ks, devido às parcerias, proporcionam serviços de fisioterapia, médicos, apar-tamentos, restaurantes e a parte logís-tica. “A diretoria proporciona estrutura para o atleta dar o melhor, não há atra-so de salário, é cumprido exatamente o combinado” destaca o ala esquerda, Marcos Adriano. “A diretoria trabalha sem medir esforços para profissionali-zar a equipe” acrescenta Morruga.

O time tem boa qualidade nos jogos, mas resultados tímidos. Se-gundo o técnico “Ainda estamos nos conhecendo para poder formatar uma equipe”.

Os objetivos são, no primeiro se-mestre, classificar entre os oito pri-meiros da Série Ouro. Para o segundo semestre, chegar à disputa do título da Copa Lupicínio Rodrigues.

OLHOS NO FUTURO

Os objetivos não param na Série Ouro. Uma das metas é criar uma equipe forte, para nos próximos anos disputar o título e a Liga Nacional de Futsal. “Temos estrutura para isso. Estamos trabalhando para conseguir alcançar”, afirma Kliks. “Não está lon-ge, não acreditavam que chegaríamos à Série Ouro e chegamos.”, diz Peixe.

A ASTF também vai lançar um projeto social que visa levar o es-porte a crianças carentes e captar novos talentos. A diretoria trabalha na captação de recursos e encami-nhou um projeto para a Lei de In-centivo ao Esporte.

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“Sempre acreditei no

time pela força que tinha, mas não esperava ser tão rápido. Porém, o trabalho foi aperfeiçoado e aconteceu”

Vanderlei Rogério Weiand – o PeixeJogador

Equipe que disputa a Série Ouro é composta

por jogadores novos e veteranos, alguns

conhecidos pela torcida

DEIVID RAFAEL TIRP / ARQUIVO FOLHA POPULAR

Esporte

NovosídolosA ASTF cresceu, subiu, e Teutônia agora tem novos ídolos. Uma cidade inteira, sem mais distinção de bairro ou rivalidade, grita que “estamos na elite”. A torcida perde a vergonha de vibrar. A cada jogo a cidade vive em uma só voz a nova emoção de viver um sonho dourado.

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Esporte

Sonho de muitos, realidade de poucosMUITOS JOVENS ALMEJAM O FUTEBOL PROFISSIONAL, MAS MUITOS ACABAM FICANDO PELO CAMINHO

Thomas Bauer

O sol brilha alto sobre o campo de futebol, em Es-tância Velha. Como sem-pre, um grupo de amigos

reúne-se para a tradicional pela-da. Calçam chuteiras coloridas e vestem calções surrados pelo uso. Quando garotos, todos pensaram ao menos uma vez em ser um joga-dor de futebol. Hoje, a paixão pelo esporte ainda é cultivada, no mo-mento sagrado no final de semana.

A bola rola no gramado e a par-tida começa. Em meio aos lances, em que se nota o amadorismo, um jogador baixinho e certamen-te acima do peso, faz jogadas que se destacam. Ele recebe um lança-mento, mata no peito e coloca a bola no ângulo, sem chances para o goleiro. O chute não é mais tão potente como antigamente, e a velocidade da juventude já não existe mais. Porém, Maicon Jaeger, conhecido entre os amigos como Maldini, chegou perto de ser um jogador profissional.

Assim como ele, muitos me-ninos tentam tornar-se jogadores e acabam ficando pelo caminho. Afinal, no país do futebol, tornar--se um profissional não é nada fácil. Seleções realizadas em todo Brasil, as famosas “peneiras”, aproveitam apenas 1% dos candidatos, como afirma Élio Carravetta, preparador físico do Internacional.

UM CAMINHO NADA FÁCIL

A maioria dos jogadores que fica pelo caminho acaba atuando em peladas e campeonatos ama-dores, assim como Maldini, hoje com 29 anos. Ao fim da partida, ele senta na beira do gramado e conta sua história. Um pouco acima do peso, ele joga hoje somente com os amigos, mas conta que quando adolescente teve várias chances de se tornar profissional e jogar gran-des equipes do sul: Grêmio e Inter-nacional. “Realizei várias peneiras, mas sempre aparecia um problema e acabei sendo cortadas várias ve-zes”, explica Jeager.

Ele começou jogando nas ca-tegorias de base do Esporte Clube Novo Hamburgo, onde se destacou por sua velocidade na meia cancha, pelos passes precisos para o ata-que, além dos chutes de efeito da perna canhota. “Eu me destaquei num grupo que contava com mais três jogadores e fomos levados para realizar um teste no grêmio”, relembra Maldini.

O sonho foi frustrado pela primei-ra vez logo após ele ser aprovado na peneira gremista. Ao passar nos tes-tes, ele foi chamado até a sala de um cartola do time, que pediu algo além das habilidades do então garoto.

“Era uma sala enorme, fiquei lá sentado vendo um diretor do Grêmio me pedir R$ 5 mil para seguir no time. Meu pai não tinha condições de bancar isso”, lamenta Maldini. “É complicado competir contra isso”, enfatiza.

Ele teve outras chances de se tornar profissional. No Grêmio, recebeu uma nova oportunidade após a insistência de seu pai com membros da comissão técnica. En-tretanto, uma lesão fez com que a chance se perdesse por entre seus dedos e acabou o afastando por certo tempo dos campos.

Após recuperar-se, ele tentou

mais uma vez. No Internacional, conseguiu entrar para as categorias de base e destacou-se nos treina-mentos. Contudo, acabou frustrado novamente. Uma entrada violenta rompeu os ligamentos do tornozelo e acabou com os sonhos do garoto.

Atualmente, Maldini presta as-sistência técnica em uma operado-

ra de internet, mas afirma que até hoje pensa nas chances que acaba-ram passando. Enquanto ele des-pejava suas histórias sobre seus tempos de jovem promessa, ainda pode se notar a paixão pelo fute-bol nos olhos, que até hoje quando se fecham pensam em como seria entrar num estádio lotado e fazer

um gol no maior adversário.“Até hoje, sempre que jogo,

imagino como poderia ser e que perdi a chance de me tornar pro-fissional, sempre fica esse senti-mento”, afirma Maldini em pala-vras que são iguais a milhares, quem sabe milhões que passaram por situações iguais a dele.

Tolerância com a frustração

O preparador físico da equipe principal do Internacional, Élio Carravetta, afirma que qua-lidade técnica e força de vontade são essen-ciais para se tornar profissional. O professor é especialista em analisar o potencial de jogado-res, sejam eles jovens promessas ou profissio-nais. “O caminho é longo e o jovem enfrenta várias barreiras até o profissionalismo. Além disso, é um número muito pequeno que chega a um grande clube”, explica Carravetta.

Segundo ele, para se entrar em um grande clube é necessário passar por uma “peneira”, onde o jogador realiza vários testes para entrar para o time. É também onde muitos acabam sendo barrados, pois são poucas vagas para muitos jovens atletas, que não têm um nível técnico para tornarem-se profissionais. Por isso, o índice de rejeição é alto. “É necessário que o jovem atleta tenha tolerância à frus-tração, pois será rejeitado em um número indeterminado de peneiras para ser aprovado”, afirma o preparador.

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“Era uma sala enorme.

Fiquei lá sentado vendo um diretor do Grêmio me pedir R$ 5 mil para seguir no time. Meu pai não tinha condições de bancar isso”

Maicon Jaegertécnico em redes

Maldini (dir.) ainda joga futebol aos sábados com

os amigos

JÉSSICA BRITZKE

São Leopoldo/RS l Junho/2014 l Edição 21

Ilusões e falsas promessas

Existem muitos relatos como o de Maldini sobre casos onde o dinheiro e a ganância de empresários e cartolas do futebol se sobre-põem ao talento dos jogadores e acaba termi-nando com os sonhos de muitos jovens.

Cristiano Kehl, 27 anos, joga no time da Universidade Feevale. Ele também já foi treina-dor de camadas jovens no interior e conhece bem a realidade nos bastidores do mercado da bola. “Todos sabem que hoje o futebol é uma máquina de dinheiro, e que infelizmente a questão financeira é algo importante para se abrirem as portas”, comenta Kehl.

Ele sabe de algumas situações de atletas que, para prosseguirem em determinado clu-be, precisaram desembolsar um determinado valor e também conhece alguns professores de escolinhas que fazem promessas exorbitantes paras as crianças, acabando somente iludindo os jovens e sua família. “Infelizmente existem muitos picaretas querendo tirar vantagem da ingenuidade das pessoas”, lamenta Kehl.

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Unisinos - São Leopoldo/RSEdição 21 Junho/2014

O que não é silêncio é música

O ruído é a raiz da proposta artística de uma “pós-banda” nascida em São Leopoldo 3

JULIANA MUTTI

Villa Antonietta

abre as portaspara receber

festas decasamentos

e formaturas

Abandonode escolamotivaolharfotográfico

Em área de dois hectares, rodeada de

árvores, casa antiquário abriga peças que vão de

obras de arte e móveis a réplicas dos ovos

Fabergé

Capa e página 2

Desde a interdição da escola Dom Pedro I, de Estância Velha, definida em junho de 2012 pelo Ministério Público, o estado de desleixo só aumentou

Ensaio fotográfico

CAROLINA ENGELMANN