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    BACIA DO RIO CATOL, BAHIA - BRASIL: BASES GEOAMBIENTAIS ESOCIOECONMICAS PARA A GESTO DA GUA E DO SOLO

    Espedito Maia Lima (Professor do Departamento de Geografia da UESB doutorando em Geografiapelo NPGEO/UFS - [email protected]).

    Josefa Eliane Santana de S. Pinto (Professora doutora do NPGEO da Universidade Federal deSergipe - [email protected]).

    RESUMO

    A bacia do Rio Catol est localizada no Estado da Bahia, abrangendo partes dosterritrios de seis municpios. A gua desta bacia responsvel pelo abastecimentohumano de mais de 300 mil habitantes, alm da irrigao de extensas plantaes decaf e de pequenas propriedades ribeirinhas. Considerando a demanda hdrica parao abastecimento humano e a irrigao, o presente trabalho tem o objetivo de discutir e propor um modelo de gesto do solo e da gua, a partir da anlise paramtricadas variveis ambientais e socioeconmicas. Considera a organizaogeossistmica e indicadores de qualidade ambiental, definidos a partir das variveissocioeconmicas, do meio fsico e do meio bitico. Para tanto, busca alicercestericos nas interaes socioambientais, transformaes das paisagens econcepo de bacia hidrogrfica como unidade bsica para o planejamento e gesto

    territorial. Analisa a forma como a agropecuria interferiu nas transformaes daspaisagens. Pautado nos princpios da gesto do territrio, so apresentadasalgumas proposies para o gerenciamento socioterritorial da rea, reafirmando queos cenrios otimistas s podero ser alcanados atravs de um esforo coletivo dopoder pblico, atravs das parcerias entre as prefeituras e o estado, o meio cientficoe tecnolgico e as comunidades envolvidas.

    PALAVRAS-CHAVE: Bacia hidrogrfica. Gesto ambiental. Recursos hdricos.

    1. INTRODUO

    O presente trabalho tem o objetivo de discutir e propor um modelo de gestodo solo e da gua, a partir da anlise paramtrica das variveis ambientais esocioeconmicas da bacia do Rio Catol, uma importante sub -bacia do Rio Pardo

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    irrigao de extensas plantaes de caf e de pequenas propriedades ribeirinhas.FIGURA 1: Mapa de localizao da rea de estudo

    Possui uma rea total de 3.101 km, sendo um importante subsistema dabacia do Rio Pardo. composta por importantes compartimentos geomorfolgicos,associados a expressivas variaes espaciais dos aspectos climticos, pedolgicose fitogeogrficos.

    A poro que corresponde ao trecho superior do rio Catol est inserida nodomnio do Planalto dos Geraizinhos, que constitudo de relevo plano, com nveistopogrficos acima dos 800 metros, com clima tropical de altitude, ondepredominantemente encontram-se os Latossolos Vermelho Amarelos em espessos

    mantos de alterao, originalmente revestidos de Floresta Estacional Decidual eSemidecidual. Forma a superfcie geomorfolgica mais antiga e estvel da bacia,fato que justifica a existncia destes solos mais evoludos.

    O trecho intermedirio da bacia corresponde ao Piemont Oriental do Planaltode Vitria da Conquista, que uma unidade geomorfolgica que interliga o Planaltode Vitria da Conquista Depresso de Itabuna -Itapetinga. Caracteriza-se pela forteinciso da drenagem, com expressivos nveis de dissecao e, por conseguinte,declividades acentuadas. Apesar das condies climticas mais midas, os solos

    desta unidade so predominantemente do tipo Argissolos Vermelho Amarelos,recobertos originalmente por Floresta Estacional Semidecidual e pequenas manchasde Floresta Ombrfila Densa. muito comum nesta unidade, a presena stone lines bem definidas e expressivas rampas de colvios, evidenciando processos sub -atuaismuito importantes na modelagem do relevo.

    A poro drenada pelo baixo curso do rio Catol corresponde ao domnio daDepresso de Itabuna-Itapetinga. Compe um subconjunto das DepressesInterplanlticas, sendo caracterizada por nveis altimtricos modestos (altitudes que

    vo de 60 a 00 metros) e relevo plano a suavemente ondulado. O clima varia desemi-rido a sub-mido, com solos predominantemente do tipo Argissolos Vermelho Amarelos, com pequenas manchas de Floresta Estacional Decidual, que revestiaoriginalmente esta regio.

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    3 BASES GEOAMBIENTAIS E SOCIOECONMICAS PARA A GESTO DOSRECURSOS NATURAIS Elementos conceituais

    O controle da qualidade ambiental uma medida necessria para aconservao dos diversos ecossistemas e depende no s das decises do poder poltico-administrativo, atravs da legislao e fiscalizao, mas tambm docomprometimento dos diversos profissionais que lidam com a rea, bem como dasatitudes de cada cidado.

    Embora o termo potencial geoambiental d a impresso de fora oumagnitude, a definio feita a partir do grau de fragilidade de cada sistemaambiental. Mesmo pautado em uma premissa sinttica, o seu enquadramento nos

    diagnsticos ambientais se d a partir da varivel de maior fragilidade que,combinada s demais, define o grau de vulnerabilidade do ambiente.

    Drew (1989, p. 8) destaca que cada aspecto de um sistema naturalapresenta um limar para alm do qual a mudana imposta se torna irreversvel e necessrio estabelecer um novo equilbrio. Destaca a idia de limiar derecuperao, argumentando que a intensidade das alteraes inadvertidas dependedo esforo aplicado ao sistema pelo homem e, tambm, do grau de suscetibilidade mudana, do prprio sistema.

    Os diferentes cenrios associados a processos de degradao ambiental,derivados das aes antropognicas ou dos mecanismos de recomposio dascaractersticas ambientais, representam situaes de busca de um novo equilbriodinmico do sistema ambiental, que quase sempre no corresponde ao estadoanterior a ao antrpica. Nesta perspectiva, Camargo afirma que,

    como a dinmica do espao geogrfico efetiva constantes mudanasnos lugares, logo cada nova paisagem torna-se um novo patamar decomplexidade, remetendo as formas geogrficas a novos contedos. A cada nova reestruturao da paisagem e, logicamente, a cadanovo reordenamento do espao geogrfico, novas possibilidadesistmicas ocorrem (CAMARGO, 005, p. 17).

    necessrio, pois, de acordo com Casseti (1991), oferecer subsdios aoconhecimento sistemtico dos sistemas naturais, procurando entend -los semprenum processo de interao e interconexo, onde o homem se faz presente.Portanto, o conhecimento dos subsistemas deve envolver questes relativas

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    atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera, tendo o homem como agente responsvelpela organizao do espao produtivo social.

    Na concepo de RossOs estudos integrados de um determinado te rritrio pressupem oentendimento da dinmica e funcionamento do ambiente natural comou sem a interveno das aes humanas. Assim, a elaborao do

    oneamento Ambiental deve partir da adoo de uma metodologiade trabalho baseada na compreenso das carac tersticas e dadinmica do ambiente natural, e do meio scio econmico, visandobuscar a integrao das diversas disciplinas cientficas especficas,por meio de uma sntese do conhecimento acerca da realidadepesquisada (ROSS, 199 ).

    Nesta mesma perspectiva AbSber (199 ) refora que preciso conhecer ofuncionamento dos fluxos da natureza e toda a sua histria e formas de ocupaodos espaos criados pelos homens, tendo em vista a previso dos impactosambientais.

    necessrio considerar que a dinmica socioambiental no segue,necessariamente, um padro uniforme. Por isso, a projeo de cenrios deveconsiderar, segundo Rauli, que:

    Os eventos exgenos obviamente interferem nas sries histricasdos indicadores de desenvolvimento, dificultando u m exercciocorreto de previses que busquem a extrapolao de dadoshistricos (novas tecnologias, epidemias, catstrofes, e etc.), mas

    no podem ser desprezados, assim como no podem inviabilizar amensurao, uma vez que tero seus impactos dimensionados egerenciados, independentemente do aspecto temporal (RAULI, 006,p. 150).

    O controle da qualidade ambiental uma medida necessria para aconservao dos diversos ecossistemas e depende no s das decises do poder poltico-administrativo atravs da legislao e fiscalizao, mas tambm docomprometimento dos diversos profissionais que lidam com a rea, bem como dasatitudes de cada um de ns enquanto cidados.

    Queiroz Neto destaca quea situao atual aponta para a necessidade de se questionar osprocessos produtivos atuais e para a busca de alternativas, tanto namaneira de produzir quanto no modo de consumir. As alternativasdevem contemplar duas condies essenciais: o abastecimentocorreto de toda a populao mundial, presente e futura, e aminimizao dos efeitos ambientais. Para isso, preciso conhecer melhor os ciclos da natureza, os processos globais que regulam asatividades da matria, da vida, no tempo e no espao. nesse

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    contexto que as aes humanas devem ser colocadas, quanto aoefeito que produzem sobre o meio fsico (QUEIRO NETO, 1993, p.108/109).

    Em funo de nosso modelo poltico-administrativo, a avaliao, oplanejamento e a gesto territorial, incluindo a gesto ambiental, tm sido praticadosdentro dos limites municipais, sem se considerar que os fluxos dinmicos danatureza extrapolam esses limites.

    H uma recomendao da ONU, que vem crescentemente sendo adotado emvrios pases, inclusive no Brasil, de planejamento e gesto ambiental a partir daorganizao dos sistemas ambientais, especialmente partindo das baciashidrogrficas como unidades bsicas de planejamento e gesto do territrio. Issoporque, dentre os mecanismos dinamizadores dos fluxos superficiais de matria eenergia, a drenagem assume papel da mais alta relevn cia, estruturando ossistemas ambientais e buscando o equilbrio morfodinmico, resultante do dialtico jogo entre as aes dos componentes estruturais e os componentes esculturais dasuperfcie.

    Neste sentido, Arajo salienta queno podemos pensar numa bacia hidrogrfica levando -se em contaapenas os processos que ocorrem no leito dos rios, porque grandeparte dos sedimentos que eles transportam oriunda de reassituadas mais a montante, vindas das encostas, que fazem parte dabacia hidrogrfica. Portanto, qualquer dano que acontea nua baciahidrogrfica vai ter conseqncias diretas ou indiretas sobre oscanais fluviais. Os processos de eroso de solos, bem comomovimentos de massa, vo fazer com que o escoamento superficialtransporte os sedimentos oriundos desses danos ambientais paraalgum rio que drena a bacia (ARAJO, 005, p. ).

    Esta argumentao aponta para um importante critrio tcnico utilizado naavaliao e planejamento ambiental, que a viso areal dos fenmenos, quepermite a espacializao de processos, mesmo que estes tenham fortes influncias

    nos mecanismos lineares.Esta considerao tem fortalecido a ideia de gerenciar este tipo de unidade

    espacial, em funo de seus atributos ecossistmicos, fato reforado por Melo,quando destaca que

    o conceito de Bacia Hidrogrfica tem sido cada vez mais expandido eutilizado como unidade de gesto da paisagem na rea deplanejamento ambiental. Basicamente at meados dos anos 80, osestudos realizados no mbito da bacia hidrogrfica abordavam qu ase

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    que exclusivamente s a questo dos recursos hdricos em trabalhosde gesto dos recursos naturais. Atualmente, vrios pesquisadoresutilizam essa unidade de forma integrada, analisando e inter -relacionando todos os componentes fsicos, biolgicos e so ciaispertencentes a uma bacia (MELO, 007, p. 7 ).

    Esta perspectiva de conjunto princpio bsico para que as baciashidrogrficas sejam utilizadas como unidades de planejamento e gesto ambiental.

    A gesto integrada de uma bacia hidrogrfica deve esta r pautada na anlisedo estado dos sistemas scio-ambientais, avaliao das condies de uso do solo eda gua, a situao ambiental da bacia e cenrios possveis, considerando osprocessos em curso.

    Tundizi salienta que tais mecanismos devem

    promover um diagnstico e avaliao, desenvolver uma viso crticado atual estado da bacia hidrogrfica e propor aes de recuperao,proteo ambiental, conservao, usos mltiplos dos recursoshdricos e alternativas econmicas para o uso sustentvel esustentado da bacia hidrogrfica (TUNDI I, 006, p. 19 ).

    O planejamento e ordenamento territorial envolvem o conhecimento tcnico,atravs de estudos detalhados do meio fsico, biolgico, scio -econmico e cultural,mas devem envolver tambm deciso poltica dos gestores e efetiva participaodas populaes locais.

    A AGRICULTURA, A PECURIA E AS TRANSFORMAES DAS PAISAGENS

    A regio em que se insere a bacia do Rio Catol teve seu processo depovoamento marcado inicialmente pela fundao do A rraial da Conquista , ainda noSculo XVIII. A ocupao territorial seguiu com o povoamento da regi o de transioentre a zona da mata e as caatingas. Desde o incio da ocupao territorial, a

    pecuria j era o carro chefe da economia regional. A maior dinamizao da economia regional se d a partir de meados do

    Sculo XX, com a expanso da pecuria na regio de Itapetinga e Itamb. Trechosexpressivos da depresso de Itapetinga foram desmatados e transformados empastagens, processo que avana posteriormente para a regio de Nova Cana,Caatiba e Planalto, incluindo reas de relevo montanhoso e topos das elevaes.

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    Por outro lado, j havia um ncleo dinmico de criao de gado bovino, comandadopor Vitria da Conquista.

    Atualmente as pastagens recobrem 7 ,3% das terras dos municpios quecompem a bacia do Rio Catol (ver Tabela 1). So compostas de pastagensplantadas, especialmente com o capim braquiria ( B rachiaria decumbens Stapf) ecapim colonio (Panicum maximum ), pastagens naturais (formadas a partir daderrubada das matas, plantio de culturas anuais e o posterior rebroto de espciesherbceo/arbustivas) e reas plantadas com forrageiras para corte.

    TABELA 1: Principais tipos de uso das terras nos municpios que compem a bacia do RioCatol, no ano de 006

    Municpio Lavouras Pastagens Matas Produtivas

    no utilizadas

    Total

    ha % ha % ha % ha %Barra doChoa

    18.101 31,1 33.891 58,1 6.111 1

    ,5 180 0,3 58. 83

    Caatiba 1.

    98 5,6 3.751 89, 1.376 5, -- -- 6.6 5Itamb .80

    3,0 80.5

    1 86,0 10.08

    10,8 178 0, 93.607Itapetinga 187 0, 90.555 95,0

    .531

    ,7 1 0,1 95.395Nova Cana 3. 83 5,1 55.

    89 86,8

    .83

    7,6 91 0,5 63.897Planalto 5.688 10,8 37. 00 70,5 8.5 7 16,1 1.388 ,6 5 .803Vitria daConquista

    1.898 11,8 106.699 57,6 53.611 8,9 3.160 1,7 185.368

    TOTAL 53.

    59 9,3

    8.1 6 7

    ,3 89.07

    15,5 5.319 0,9 575.978

    Fonte: Elaborada a partir de dados do Censo Agropecurio

    A dcada de 1970 marcada pela implantao do plo cafeeiro de Barra doChoa, ramo produtivo que hoje responde por significativa fatia das atividadeseconmicas do municpio. Da mesma forma que as pastagens, a cafeicultura foiresponsvel pelas significativas substituies de florestas por culturas. No ano de1975 o municpio contava apenas com , % de suas terras recobertas com matas,percentual que reduziu para 1 ,5% no ano de 006 (Tabela ). Na medida em que acultura cafeeira se expandiu, entre 1970 e 1996, a reduo das reas de matas,

    como tambm das reas anteriormente utilizadas com pastagens foi significativa.Embora a necessidade de manuteno de reserva legal em cada propriedade

    esteja prevista na Lei 7.803, de 18 de julho de 1989, somente por volta do ano 000 que se verifica um maior rigor na exigncia de sua manuteno. Conforme dadosconstantes na tabela , verifica-se significativa reduo da cobertura florestal domunicpio de Barra do Choa at o Censo de 1996. Em 005, o municpio de Barrado Choa contava com 0.500 ha de reas cultivadas com caf (IBGE, 005),

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    representando 78,7% de todas as reas agrcolas do municpio. Verifica-se a partir desse ano um enfraquecimento da cafeicultura regional, motivado princ ipalmentepela queda do preo do produto. Mesmo considerando que houve expanso deoutras culturas em substituio aos cafezais, como aconteceu com as pastagens, asua presso sobre as matas foi muito pequena, especialmente em funo do maior rigor que se tem em relao a manuteno da reserva legal e APPs, situao que seapresenta apenas como uma possibilidade pontual de um cenrio otimista em meioa uma vasta gama de cenrios pessimistas.

    TABELA : Principais tipos de uso das terras no municpio de Barr a do Choa - BA, noperodo de 1975 a 006

    Anos Lavouras Pastagens Matas Produtivas noutilizadas

    Total

    ha % ha % ha % ha %1975 7.

    7 1

    ,6

    .5 0

    8,3 11.

    , 7.56 1

    ,9 50.7531980 15.718 9,0 3.05

    ,5 11.571 1,3 3.906 7, 5

    .

    91996 .936 39,3 5.568

    3,9 7.

    1 ,

    .585

    ,

    58.313 006 18.101 31,1 33.891 58,1 6.111 1

    ,5 180 0,3 58. 83

    Fonte: Elaborada a partir de dados do Censo Agropecurio

    De forma geral, estas duas culturas se expandiram de forma avassaladoranos municpios citados, contribuindo fortemente para as rpidas mudanas napaisagem regional, especialmente pela escala espacial e temporal do processo.Possuem como caractersticas principais a grande abrangncia territorial e o inten soritmo das transformaes, elementos que so discutidos por Drew (1989), como osdois aspectos mais importantes da agricultura sobre as mudanas ambientais.

    Esses mecanismos contribuem sistemicamente para um processo contnuode degradao ambiental dos diferentes segmentos da bacia, afetandoquantitativamente uma importante fase do ciclo hidrolgico, como tambm aqualidade da gua, gerando conflitos entre os diversos usurios, especialmente o

    confronto entre a irrigao (principalmente da cultura cafeei ra) e o abastecimentodas cidades de Vitria da Conquista, Barra do Choa e Itapetinga. O municpio deVitria da Conquista tem populao total de 308. 0 habitantes; Barra do Choa temuma populao total de 3 . 89 habitantes no municpio, enquanto Itapet inga tem63. 3 habitantes, cuja grande maioria, depende das guas do rio Catol para oabastecimento humano.

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    Alguns aspectos se destacam como especificidades desta bacia hidrogrfica,dentre os quais podem ser destacados: 1) dela que captada a gua pa raabastecimento das principais cidades da regio, como Vitria da Conquista,Itapetinga e Barra do Choa; ) a expanso da bovinocultura a partir de meados doSculo XX, tendo como rea nuclear o municpio de Itapetinga, foi muito forte,ocupando expressivas reas do baixo e mdio curso do rio; 3) a expanso dacafeicultura, que assumiu o posto de importante atividade econmica no Planalto deVitria da Conquista a partir da dcada de 1970, ocupou muitas reas antesflorestadas, principalmente no municpio de Barra do Choa, onde situa-se o cursosuperior do rio; ) h conflitos srios em relao aos usos da gua, especialmenteno curso superior do rio, onde o abastecimento humano e a irrigao demandam as

    maiores quantidades de gua consumida em toda a bac ia.O contexto atual das condies socioambientais da bacia do rio Catol

    evidencia trs situaes: 1) a maior parte dos problemas de ordem ambiental derivada incompatibilidade entre o potencial de uso dos sistemas naturais e a presso dasatividades humanas, em completo desrespeito aos limites de tolernciaecossistmica. resultante do desconhecimento da capacidade de uso dos recursosnaturais, da falta de polticas pblicas srias para o espao agrrio, baixacapacidade de organizao dos produtores ru rais, especialmente na adoo de

    medidas coletivas, ineficcia na fiscalizao e controle das atividades impactantes,principalmente entre as dcadas de 1970 e 1990; ) Os problemas ambientais tmreflexos socioeconmicos diretos, pois as alteraes afetam a base produtiva doespao agrcola, atravs da degradao do solo, da gua e do recobrimento vegetal;3) Quando esses problemas apresentam repercusses sobre os recursos hdricos,surge uma nova situao merecedora de investigao, representada pelos con flitosde interesses entre os usurios da gua.

    Estes conflitos esto associados aos aspectos quantitativos entre o

    abastecimento humano e a irrigao, como tambm os aspectos qualitativos. Aagricultura irrigada largamente praticada na bacia do rio Catol, principalmente narea do alto curso do rio, que marcada pela intensa utilizao de produtosqumicos, na adubao e na correo do solo, como tambm no uso excessivo dedefensivos agrcolas (muitos dos quais com resduos expressivos de metaispesados, principalmente o chumbo) trazem ameaas concretas qualidade da guapara o abastecimento humano.

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    A falta de polticas pblicas sequenciais e a ausncia de um plano deordenamento territorial para a bacia redundaram em srios equvocos e problemasde ordem ambiental e social.

    Esses problemas esto imbricados de tal forma, que se estruturamespacialmente numa verdadeira retroalimentao, fato que repercute em sriasameaas a sanidade do ambiente, s belezas paisagsticas da regio, ao bem estar da populao e ao potencial econmico da rea.

    Pensar na possibilidade de melhor uso desta rea com o princpio dasustentabilidade significa repensar uma srie de prticas socioespaciais nefastasque vm sendo maciamente adotadas na regio, onde o imediatism o na busca pelolucro a qualquer custo tem sido sinnimo de degradao socioambiental.

    5 ELEMENTOS PARA A GESTO DA GUA E DO SOLO

    A bacia do rio Catol abrange ambientes de caractersticas morfodinmicasmuito distintas. O ritmo das guas comea na regio planltica, com seus pequenosriachos que drenam amplos vales alargados por uma morfognese lenta e lateral,seguindo pelos trechos de maiores gradientes topogrficos. Nesse segmento, o

    relevo marcado por vertentes ngremes permite maior energia cintica na ao linear das guas, escavando vales profundos em forma de V. O baixo curso do rio marcado pela morfologia da depresso de Itapetinga, onde a drenagem se adaptaao modelado, com baixa energia e caracterizado pelo equilbrio entre os processosde inciso da drenagem e de deposio de sedimentos.

    Estas caractersticas marcam a bacia do Rio Catol e as suas paisagens.Uma regio cuja organizao geoambiental sintetizada por um conjunto depaisagens que interligam o ambiente do Planalto de Vit ria da Conquista

    Depresso de Itapetinga, resguardando importantes singularidades geooambientais.O setor oriental do Planalto de Vitria da Conquista, que define claramente a

    abrupta passagem entre o planalto e a depresso marcado por uma escarpaestrutural submetida a processos de modelagem em um recuo paralelo, comandadopela ao dos rios e riachos da margem esquerda do Rio Pardo. Tais mecanismosdo origem a uma das paisagens mais belas da regio, com relevos fortementedissecados em colinas que se sucedem, formando verdadeiros mares de morros.

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    Por influncia da topografia, esta faixa oriental do planalto marcada por elevados ndices pluviomtricos e bioclimaticamente pela ocorrncia da FlorestaEstacional Semidecidual e da Floresta Ombrfila Densa, atualmente submetida aforte presso das atividades antrpicas, principalmente pela sua substituio pelaspastagens. nesse ambiente que a bacia do Rio Catol apresenta as maioresriquezas hdricas, e tambm apresentando, ainda, algumas manchas expre ssivas dereas conservadas, cuja manuteno se torna primordial para o equilbrio ambientalda bacia como um todo.

    Nesse sentido, os projetos agropecurios das propriedades situadas nesseambiente no s devem obedecer a legislao no que diz respeito a m anuteno daReserva Legal e a preservao das APPs, como tambm devem ser mais criteriosos

    na manuteno das reas de recargas, dada a sua importncia na definio dopotencial hdrico regional.

    Adoo de tcnicas sustentveis, especialmente em sistemas agroflorestais, juntamente com a explorao sustentvel da beleza cnica da regio peloecoturismo e o turismo rural, so medidas eficazes de gesto da gua e do solo.Para tanto, h a necessidade de incentivos por parte do poder pblico eorganizaes no governamentais para a manuteno das florestas aindaexistentes, como tambm o replantio de espcies nativas nos ambientes mais

    dinmicos e dotados de maior fragilidade.O Rio Catol e seus afluentes enriquecem as paisagens com suas cachoeiras

    que, embelezam e vitalizam o lugar. Estas caractersticas representam importantescomponentes naturais para a elevao do potencial turstico da regio,especialmente para o ecoturismo e turismo rural, entendido como o conjunto deatividades tursticas desenvolvidas no meio rural, vinculadas produoagropecuria, agregando valor aos produtos e servios, pautadas na valorizao dopatrimnio natural e cultural da comunidade. Nesse sentido, o municpio de Barra do

    Choa j experimenta a instalao de empreendimentos d essa natureza, comohotis fazenda, vinculados principalmente s belezas naturais da regio. Alm dosempreendimentos formalmente estruturados para o turismo, verifica -se que a reapossui um enorme potencial ainda no explorado, principalmente vinculando osaspectos naturais das paisagens e os socioculturais. Neste sentido, as roasespecializadas em fruticultura, como tambm no cultivo de caf, pimenta e floresrepresentam importante potencial de insero nas atividades de turismo rural.

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    A insero dessa regio no caminho do turismo rural deve estar pautada nosprincpios da sustentabilidade do turismo em espaos naturais, considerando a suaresponsabilidade ambiental, a sua aceitao social e sua viabilidade econmica.Isso considerando a necessria proteo do ambiente, os baixos impactos,ambientais e culturais, das atividades tursticas implementadas e os retornospositivos dessas atividades para a populao local. A ideia de turismo sustentvelenvolve, necessariamente, a sua manuteno dinmica no tempo, obtendo amxima rentabilidade econmica possvel, mas ao mesmo tempo protegendo osatributos naturais e sociais que o sustentam.

    A reconstituio dos cenrios passados, numa anlise evolutiva daspaisagens, o estudo detalhado do cenrio atual e a proj eo de cenrios tendenciais

    e cenrios possveis, a partir da adoo de medidas de ajustes entre o uso dosrecursos naturais e o potencial de uso de cada recorte territorial, so aesnecessrias para a gesto sustentvel do uso do solo e o uso dos recur sos hdricos.

    As medidas de ajuste implicam tambm no necessrio cumprimento dalegislao ambiental e dos instrumentos de gesto (especialmente o Plano Diretor de Bacia), na observncia das fragilidades e vulnerabilidades dos ambientes e naefetiva implantao e funcionamento de rgos colegiados de gesto, como oComit de Bacia e Conselho de Recursos Hdricos.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    O cenrio atual da bacia do Rio Catol marcado por srios descompassosentre o potencial geoambiental, o uso dos recursos naturais e os princpios dalegislao ambiental, promovendo uma srie de problemas e entraves para outrasatividades econmicas que estejam pautadas nos princpios da sustentabilidade.

    Esta situao inviabiliza ou dificulta a implementao de novas possibilidadesde uso sustentvel do territrio, especialmente a insero das comunidades locaisno uso do territrio, aproveitando as belezas cnicas de suas paisagens.

    A superao dessa situao perpassa por aes mais enrgicas dasPrefeituras no controle da qualidade ambiental, especialmente atravs de um melhor dilogo entre as Secretarias de Meio Ambiente e as Secretarias de Agricultur a, mas

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    principalmente elegendo a questo ambiental dos municpios como uma dasprioridades da gesto territorial.

    Extrapolando os limites municipais existem outras importantes aes quepodem seriamente contribuir para a recuperao ambiental e a otimiza o dos usosmltiplos e sustentveis do meio ambiente, como a formao de consrciosintermunicipais, a criao efetiva do Comit da Bacia do Rio Catol e a implantaodo Plano Diretor da Bacia.

    REFERNCIAS

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