ave marias

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Responde às seguintes questões: Ave Marias 1. Caracteriza o ambiente retratado no poema e justifica a sua influência no sujeito poético. 2. Opõe os sentimentos liberdade / sufoco denunciados no poema, baseando-te em expressões do texto. 3. Explicita de que forma funcionam as quarta e quinta quadras como crítica social. 4. Põe em realce a importância da cor neste poema e na poesia de Cesário. 5. A partir do texto, apresenta dois exemplos de características próprias da poesia de Cesário. II (...) Pintor nascido poeta (coisa também muito rara e preciosa, sobretudo numa poesia como a portuguesa, (...) ),Cesário Verde é um daqueles artistas para quem o mundo externo conta de modo primacial – e as suas emoções poéticas só atingem plena expansão quando preliminarmente aquecidas pela visão pictórica. A partir da citação transcrita, elabora um comentário à poesia de Cesário Verde enquanto poeta inovador e cidadão do mundo e no mundo que o rodeia. Nota: o teu comentário não deve ultrapassar trinta linhas. Proposta de resolução 1. O ambiente retratado neste poema é um ambiente melancólico e soturno, não só devido ao anoitecer, mas à própria cor monótona e londrina, característica de bairros fabris com a sua cor negra e melancólica. Naturalmente, há por parte do sujeito poético um repugno natural por este cenário, que lhe

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Page 1: Ave Marias

Responde às seguintes questões: Ave Marias

1. Caracteriza o ambiente retratado no poema e justifica a sua influência no sujeito poético.

2. Opõe os sentimentos liberdade / sufoco denunciados no poema, baseando-te em expressões do texto.

3. Explicita de que forma funcionam as quarta e quinta quadras como crítica social.

4. Põe em realce a importância da cor neste poema e na poesia de Cesário.

5. A partir do texto, apresenta dois exemplos de características próprias da poesia de Cesário.

II

(...) Pintor nascido poeta (coisa também muito rara e preciosa, sobretudo numa poesia como a portuguesa, (...) ),Cesário Verde é um daqueles artistas para quem o mundo externo conta de modo primacial – e as suas emoções poéticas só atingem plena expansão quando preliminarmente aquecidas pela visão pictórica.

A partir da citação transcrita, elabora um comentário à poesia de Cesário Verde enquanto poeta inovador e cidadão do mundo e no mundo que o rodeia. Nota: o teu comentário não deve ultrapassar trinta linhas.

Proposta de resolução

1. O ambiente retratado neste poema é um ambiente melancólico e soturno, não só devido ao anoitecer, mas à própria cor monótona e londrina, característica de bairros fabris com a sua cor negra e melancólica. Naturalmente, há por parte do sujeito poético um repugno natural por este cenário, que lhe provoca enjoo, perturbação, melancolia, chegando mesmo a despertar-lhe um desejo absurdo de sofrer, como se o próprio cenário lhe criasse um desejo masoquista de procurar a dor.

2. O cenário fabril de chaminés e edifícios causa no sujeito poético a sensação de sufoco, de aprisionamento. O céu não

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lhe parece amplo e aberto, mas sim baixo e de neblina. Naturalmente, o "eu" lírico expressa o seu desejo de evasão, seja ela espacial – Ocorrem-me em revista, exposições, países: / Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo! – ou temporal – E evoco, então, as crónicas navais: / Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!

Estas evasões utópicas simbolizam a ânsia de Cesário em querer libertar-se deste ambiente citadino que o diminui e o oprime. Por isso, evoca não só as outras capitais europeias, cujo progresso contrasta com o caos lisboeta, mas também os tempos áureos da Lisboa quinhentista.

3.  Ao observar os edifícios ainda em construção, o sujeito poético deixa transparecer a impressão que estes lhe causam, comparando-os a inacabadas gaiolas, com viveiros. Assim, põe em evidência a condição precária daqueles que futuramente os habitarão, pois estarão encarcerados em pequenas gaiolas que deveriam servir de lar e conchego.

Refere ainda os calafates e os mestres carpinteiros, operários que só ao cair das badaladas, ao cair da noite, regressam a casa, negrejando do trabalho árduo a que estão sujeitos diariamente. E, se os mestres saem só ao anoitecer, mais ênfase se dá aos calafates, que não só regressam enfarruscados, mas secos, sugados pelo trabalho, explorados e derrotados de mais um dia de trabalho.

4. A cor é importante neste poema porque é ela que nos define o ambiente retratado e o estado de espírito do sujeito poético. A predominância do negro, não só devido à altura do dia retratada, mas também ao cenário fabril, ajudam a caracterizar o ambiente soturno, melancólico perturbador e enjoativo que se respira naquele cenário.

Toda a poesia de Cesário vive essencialmente da cor, pela qual se denuncia e se retrata a realidade objectiva observada, mas também a impressão que fica da realidade. É por isso importante porque não só serve as influências parnasianista como impressionista na lírica de Cesário, como também espelham a sua alma, o seu estado de espírito.

5. Dos diversos recursos comuns na poesia de Cesário, podemos destacar os seguintes:

Page 3: Ave Marias

- dupla adjectivação, em enfarruscados, secos;

- as sinestesias, em Batem os carros de aluguer, ao fundo;

- o impressionismo, em Semelham-se a gaiolas, somente emadeiradas;

- o assíndeto, em as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia;

... ... ...

II

Cesário Verde é um poeta transtornado e perturbado pela cidade que habita. A Lisboa dos finais do século XIX é uma cidade caótica, que procura a modernização e a europeização rápida, pelo que todo este desequilíbrio citadino e social tenham afectado profundamente o poeta.

Ao deambular pela cidade, Cesário vai retratando este mundo fabril e negro que o repugna. Nada se assemelha aos ares saudáveis e amplos do campo. Muito pelo contrário. A cidade oprime, diminui o ser humano, faz dele um mero objecto de exploração que o reduz a uma mera insignificância. A palidez humana contrasta com o negro da imundice em que têm de viver e trabalhar, e este mundo civilizado repugna naturalmente Cesário. Apesar de burguês, tem uma natural simpatia por estes trabalhadores que vivem uma vida miserável e utiliza a sua condição de poeta para denunciar estes desequilíbrios.

Por este motivo, é natural que o poeta confesse que o ambiente citadino lhe crie este desejo masoquista de sofrer, pois toda a cidade apela a este tipo de sentimentos amargos e fustigantes.