avaliaÇÃo do crescimento e da maturaÇÃo … até 300€mg€l-1 no caso do melão (yang &...

29

Click here to load reader

Upload: lamdieu

Post on 15-Apr-2018

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO … até 300€mg€L-1 no caso do melão (Yang & Hoffman,€1984). Pouco se sabe sobre a indução da maturação em pêras depois de colhidas,

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.12, p.2399-2405, dez. 2000

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO PÓS-COLHEITA 2399

1 Aceito para publicação em 25 de janeiro de 2000.

Extraído da dissertação de mestrado, apresentada pelo pri-meiro autor à Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Apoio financeiro da CAPES.2 Eng. Agrôn., M.Sc., FAEM, UFPel, Caixa Postal 354,

CEP 96001-970 Pelotas, RS.E-mail: [email protected]

3 Eng. Agrôn., Dr., Prof. Titular, Dep. de Botânica, UFPel.4 Eng. Agrôn., Ph.D., Embrapa-Centro de Pesquisa

Agropecuária de Clima Temperado, Caixa Postal 403,CEP 96001-970 Pelotas, RS.E-mail: [email protected]

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO PÓS-COLHEITADE PÊRAS DA CULTIVAR SHINSSEIKI

SERGIO RICARDO BOLTE LOMBARDI2, DARIO MUNT DE MORAES3 e DARCY CAMELATTO4

RESUMO - O objetivo deste trabalho foi estabelecer características do crescimento e verificar os efeitospós-colheita de etileno exógeno em frutos da pereira asiática (Pyrus pirifolia) ‘Shinsseiki’. Em interva-los de 14 dias a partir da plena floração, foram medidos o comprimento e o diâmetro de 20 frutosmarcados em 10 plantas de pomar estabelecido em Canguçu, RS. Quando atingiram o máximo desenvol-vimento, 168 frutos foram colhidos e submetidos à imersão, por cinco minutos, em soluções com zero,50, 100 e 150 mg L-1 de ácido 2-cloroetil fosfônico (CEPA). Em seguida, foram armazenados por 18 diasà temperatura ambiente, e submetidos a sete avaliações, em intervalos de três dias. Durante a fase decrescimento, foram observados uma curva de crescimento do tipo sigmoidal simples, evolução do ganhode peso e dos teores dos sólidos solúveis totais (SST), redução da acidez titulável total (ATT) e dafirmeza da polpa. Nos tratamentos pós-colheita observaram-se rápida intensificação da cor na epiderme,com o aumento nas doses de CEPA, significativa perda de peso, redução na firmeza da polpa e aumentosgraduais nos valores da ATT e do SST. A relação SST/ATT manteve-se constante. As pêras da cultivarShinsseiki apresentam comportamento climatérico e a concentração de 50 mg L-1 de CEPA já é suficien-te para antecipar a maturação em 9 a 12 dias.

Termos para indexação: Pyrus pirifolia, fisiologia pós-colheita, etileno.

EVALUATION OF GROWTH AND POSTHARVEST RIPENING OF SHINSSEIKI PEARS

ABSTRACT - The objective of this work was to determine fruit development and postharvest ripeningof Asian pears cv. Shinsseiki (Pyrus pirifolia) treated with different concentrations of 2-chloroethylphosphonic acid (CEPA). Fruit growth was evaluated at 14 day intervals starting from full bloom;length and diameter of 20 marked fruits were measured in ten plants from an orchard established inCanguçu, RS, Brazil. At maximum growth, 168 fruits were harvested and submitted to immersion forfive minutes in solutions of zero, 50, 100 and 150 mg L-1 of CEPA. After the treatment, pears were heldat room temperature, for 18 days. Seven evaluations took place, at three-day intervals. ‘Shinsseiki’pears show growth curve of the simple sigmoidal type, evolution in the weight gain and total solublesolids (TSS), reduction in total titrable acidity (TTA) and flesh firmness with the complete growth.After postharvest treatments, fast evolution of the superficial color was observed, with increasingCEPA concentrations. A significant weight loss and reduction in the flesh firmness were observed.Small increases in the values of TTA and TSS and a constant ratio TSS/TTA were found. Pears of thecultivar Shinsseiki have a climacteric behavior and a 50 mg L-1 CEPA solution is enough to anticipateripening in 9 to 12 days.

Index terms: Pyrus pirifolia, postharvest physiology, ethylene.

INTRODUÇÃO

A exploração econômica da pereira no Brasil ain-da é bastante reduzida, porém é a terceira fruta maisconsumida entre as espécies de clima temperado,perdendo apenas para a maçã e o pêssego. A pereirapode ser cultivada em todas as regiões onde se cul-tiva maçã. No Brasil, é explorada especialmente naregião nordeste do RS e no planalto catarinense, ondejá existe adequada infra-estrutura para a cultura damacieira e que pode ser aproveitada para o cultivo

Page 2: AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO … até 300€mg€L-1 no caso do melão (Yang & Hoffman,€1984). Pouco se sabe sobre a indução da maturação em pêras depois de colhidas,

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.12, p.2399-2405, dez. 2000

S.R.B. LOMBARDI et al.2400

da pereira. Além desse fato, existe um mercado aber-to para o produto, pois seu valor comercial é bemsuperior ao da maçã, provavelmente pela menor dis-ponibilidade dessas frutas. Soma-se ao fato, o pou-co conhecimento de questões básicas ligadas aodesenvolvimento das frutas e ao aspecto damaturação pós-colheita. Segundo Cantillano (1987),a maturação das pêras asiáticas se dá de maneiradesuniforme na planta, e é mais lento que as pêraseuropéias.

A pêra, à semelhança do que ocorre com a maçã,apresenta quatro estádios distintos no desenvolvi-mento/crescimento dos frutos: divisão celular; dife-renciação dos tecidos; elongamento e maturação,além da própria fase de senescência. As ocorrênciasfisiólogicas nessas fases, condicionam diferençassensíveis no tamanho e peso final das frutas, emdependência ainda das cultivares e regiões produto-ras (Lallu, 1990; Box, 1992). As modificações maisnotórias que ocorrem durante a maturação são: in-tensificação da cor na epiderme, redução na firmezada polpa, liberação de substâncias voláteis, como oda pressão nos níveis de etileno interno, alteraçõesquímicas nos carboidratos, ácidos orgânicos, prote-ínas, compostos fenólicos, pigmentos e pectinas(Kingston, 1993; Argenta et al., 1995).

O etileno, por exemplo, é um hormônio que atuanas diversas fases de frutificação, como na floração,no crescimento, no desenvolvimento e nasenescência e, principalmente, no amadurecimentode frutos climatéricos (Lelièvre et al., 1997).A concentração requerida para promover o amadu-recimento é variável com as espécies e os diferentesestádios de maturação, desde 100 mg L-1 no caso dabanana, até 300 mg L-1 no caso do melão (Yang &Hoffman, 1984).

Pouco se sabe sobre a indução da maturação empêras depois de colhidas, objetivando, em essência,antecipar a colheita, uniformizar a maturação e atin-gir com antecedência o mercado consumidor. É cos-tume usar diferentes concentrações ou pressão deetileno para a climatização de bananas (Medina et al.,1996). Em outro exemplo, Prohens et al. (1996) ante-ciparam em 36 dias a maturação de “tamarillo” outomate arbóreo (Cyphomandra betacea (Cav.)Sendt., Solanaceae), pela imersão dos frutos por 10segundos nas soluções 250, 500 ou 700 mg L-1 de

ethephon. Em carambolas (Averrhoa carambola L.),Miller & McDonald (1997) aplicaram 0,1 mg L-1 deetileno a 25ºC e 90±5% de UR durante 48 horas, obten-do intensificação na coloração amarela em relação aosfrutos não-tratados. Em pêras, Puig et al. (1996) colhe-ram frutas da cultivar Bartlet no estádio de maturaçãocomercial (firmeza da polpa avaliada com a pressão de18 libras), sem armazenagem e conservadas a -1ºC du-rante duas ou quatro semanas, e então as expuseramem câmara de maturação sob temperatura de 20ºC comou sem etileno, verificando que as frutas armazenadasa -1ºC por menos de quatro semanas, não amadurece-ram após o tratamento de sete dias a 20ºC sem etileno,mas amadureceram normalmente e uniformemente,quando expostas a 100 mg L-1 de etileno.

Com a evolução da maturação das pêras, ocorre,em geral, decréscimo e estabilização da acidez(Kingston, 1993); aumento no teor de açúcares (Bellet al., 1996); intensificação da cor na epiderme, variá-vel conforme a cultivar (Kappel et al., 1995), e por fim,redução na firmeza da polpa, resultante da perda ex-cessiva de água dos tecidos, além da diminuição dapressão de turgescência em virtude da baixa umidaderelativa do ar, principalmente pela intensificação da ati-vidade enzimática (Chitarra & Chitarra, 1990).No entanto, pouco se conhece do comportamento depêras asiáticas da cultivar Shinsseiki durante o cresci-mento, e na maturação induzida de frutos, pela aplica-ção pós-colheita de etileno, nas condições climáticasdo Sul do Brasil.

Este trabalho teve como objetivos avaliar parâ-metros fisiológicos e fisico-químicos do crescimentode pêras asiáticas, da cultivar Shinsseiki ainda pen-dentes na planta, e estabelecer os efeitos da aplicaçãode etileno nas frutas, após a colheita.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em duas etapas.Na primeira, de 15 de setembro de 1997 a 3 de fevereiro de1998, foi avaliado o crescimento das frutas, em pomarcomercial estabelecido no município de Canguçu, RS. Nafloração plena, ocorrida em 15 de setembro de 1997, foramselecionadas ao acaso, 10 plantas, nas quais marcaram-secinco flores por planta, nos ramos da região externa e me-diana das pereiras. O crescimento das frutas foi avaliado,em intervalos de 14 dias, pela medição do comprimento ediâmetro, com paquímetro digital. Em cada época de avali-ação, colheram-se 20 frutas entre as 10 plantas marcadas

Page 3: AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO … até 300€mg€L-1 no caso do melão (Yang & Hoffman,€1984). Pouco se sabe sobre a indução da maturação em pêras depois de colhidas,

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.12, p.2399-2405, dez. 2000

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO PÓS-COLHEITA 2401

(duas por planta), para as determinações físico-químicasdo crescimento, em laboratório: peso da matéria fresca(PMF); peso da matéria seca (PMS); firmeza da polpa;sólidos solúveis totais (SST, em ºBrix); e acidez totaltitulável (ATT, em cmol L-1). Em virtude do pequeno de-senvolvimento inicial das frutas, as determinações da ATTe firmeza da polpa foram iniciadas 28 e 70 dias da floração,respectivamente. No total, foram realizadas 10 avaliações,no período de 1/10/97 a 3/2/98.

Por ocasião da modificação inicial da cor na epidermedos frutos, ocorrida em 2/2/98 (140 dias após a floração),realizou-se a segunda etapa, onde colheram-se 168 frutasao acaso entre as plantas marcadas, sendo, a seguir, trans-portadas ao Laboratório de Fisiologia Vegetal da Universi-dade Federal de Pelotas, e divididas em quatro grupos de42 frutas. Esses grupos foram imersos durante cinco mi-nutos em baldes contendo 10 litros de soluções para ostratamentos, contendo zero, 50, 100 e 150 mg L-1 de ácido2-cloroetil fosfônico (CEPA), preparadas com 24 horas deantecedência. Em seguida, as frutas foram retiradas dassoluções, pesadas individualmente em balança eletrônica,e armazenadas a temperatura ambiente nas bancadas dolaboratório, em bandejas de polietileno, identificadas a cadaum dos tratamentos com CEPA, utilizando-se, por repeti-ção, duas frutas por bandeja e três repetições por trata-mento. Realizaram-se em intervalos de três dias as deter-minações: cor da epiderme, perda de peso, firmeza de pol-pa, SST, ATT e relação SST/ATT, num total de sete avali-ações. A variação da cor na epiderme foi determinada pelacomparação da cor de fundo das pêras em cada época deavaliação, frente a uma tabela de cores (Wilson, 1941),atribuindo-se, para fins de análise estatística, notas às co-res da tabela, que variaram de 1 (verde) a 6 (amarela).

Os resultados foram submetidos à análise de variânciae as médias dos tratamentos ao teste de Duncan a 5%; osefeitos das doses de CEPA foram analisados pela regressãopolinomial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Crescimento da fruta

Os frutos da pereira asiática cultivar Shinsseikiapresentaram uma curva de crescimento do tiposigmoidal simples, representando graficamente asquatro fases de crescimento das pêras, concordan-do, assim, com os resultados de Lallu (1990) e Box(1992): divisão celular, até 30 - 35 dias após o inícioda floração; diferenciação dos tecidos, dos 35 aos 55dias; elongamento celular, dos 55 aos 140 dias; einício da maturação, a partir dos 140 dias (Fig. 1).

0

2

4

6

8

10

12

SS

T (

ºBri

x)

30

45

60

75

90

105

120

Firm

eza

da p

olpa

(N

)

ComprimentoDiâmetroPeso da matéria frescaPeso da matéria seca

Sólidos solúveis totais (SST)Firmeza da polpaAcidez titulável total (ATT)

Aci

dez

(cm

ol L

-1)

0

2

4

6

8

10

12

14

Dias após a plena floração

14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154

FIG . 1. Características da fase de crescimento de pê-ras asiáticas cv. Shinsseiki. Pelotas,RS, 1998.

Nos primeiros 50 a 60 dias após a floração o PMFaumentou lentamente, e logo após começou a au-mentar com rapidez. Aos 154 dias, as médias dos

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154

Pes

o da

frut

a (g

)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Dim

ensõ

es d

a fr

uta

(mm

)

Page 4: AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO … até 300€mg€L-1 no caso do melão (Yang & Hoffman,€1984). Pouco se sabe sobre a indução da maturação em pêras depois de colhidas,

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.12, p.2399-2405, dez. 2000

S.R.B. LOMBARDI et al.2402

comprimentos e diâmetros obtidos foram de 71,5 mme 80,5 mm, respectivamente.

O lento acúmulo das matérias fresca e seca nosprimeiros 60 dias ocorreu em similaridade ao menorcrescimento das frutas nesse período, corresponden-te às duas primeiras fases do crescimento. SegundoBox (1992), nessa fase é que se define o tamanhofinal da fruta, ocorrendo evidente acúmulo de amidoe açúcares. Já o rápido aumento nos PMF, PMS, com-primentos e diâmetros a partir dos 60 dias, deve-seprincipalmente à elongação e ao espessamento daparede celular, favorecido pelo rápido acúmulo deágua que ocorre nesse período. Observa-se que aos154 dias após a floração, há uma diferença de 82,33%entre os valores do PMF e PMS, correspondenteprincipalmente ao acúmulo de água pela fruta.

Há um aumento no teor de SST durante o cresci-mento da fruta, atingindo 11,30ºBrix aos 140 dias apósa floração (Fig. 1). Para Bell et al. (1996), os açúcaresparticipam de 90% da composição dos SST, o quecorresponde de 10% a 14% do peso da polpa.Na mesma figura, observa-se uma redução na firme-za da polpa com o crescimento, em que a alta firmezaconstatada dos 70 aos 84 dias da floração se deveprincipalmente aos conteúdos de amido e açúcaresacumulados na fruta nas duas primeiras fases do cres-cimento. A coesão das paredes celulares vai diminu-indo à medida que se acumula água na terceira fasedo crescimento, em face do aumento da atividadedas enzimas, que provocam a hidrólise do amido edos outros polissacarídeos. Ning et al. (1991) tam-bém observaram uma redução na firmeza da polpa depêras ‘Yali’ e ‘Nijisseiki’ na terceira fase do cresci-mento, bem como Kingston (1993), ao avaliar dife-rentes índices de maturação na análise de maçãse pêras.

Verifica-se uma redução na acidez dos frutos du-rante o período de crescimento, provavelmente de-vido à utilização dos ácidos orgânicos em reaçõesrespiratórias ou de sua conversão em açúcares(Fig. 1). Esse comportamento também foi observadopor Arfaioli & Bosseto (1993), que estudaram setecultivares de pêra em diferentes locais da Itália e con-cluíram que em todos os locais, o conteúdo de áci-dos diminuía gradativamente, com a maturação dasfrutas. Porém, Larsen et al. (1993), verificando os ín-dices mais apropriados para a colheita e o

armazenamento de oito cultivares de pêra, colheramfrutas por 10 semanas durante o desenvolvimento, eobservaram elevado valor da acidez titulável na cul-tivar Shinsseiki.

Maturação pós-colheita

Todos os tratamentos com CEPA aceleraram euniformizaram a maturação pós-colheita das pêras,influenciando na intensificação do índice da cor e naperda de peso, com redução significativa da firmezada polpa, mostrando que pêras asiáticas dacv. Shinsseiki dão respostas satisfatórias ao etilenoexógeno durante o período de maturação. Na Fig. 2,observa-se que as doses 50, 100 e 150 mg L-1 inten-sificaram a cor amarela da epiderme, em comparaçãoao tratamento testemunha, alcançando o índice decor 4 (correspondente a 60% de cor amarela naepiderme) após seis dias do tratamento com a dose150 mg L-1, nove dias após com a dose 100 mg L-1 e12 dias após, com a dose 50 mg L-1 de CEPA . Essarápida mudança da cor na epiderme deve-se à degra-dação das clorofilas por clorofilases, que, segundoKorban (1998), são estimuladas pela ação do etileno.Já a síntese de carotenóides e pigmentos que dão acor amarela à epiderme, pode ser independente, ounão, da ação do etileno (Lelièvre et al., 1997). Essesresultados assemelham-se aos obtidos por Puiget al. (1996).

Observa-se uma significativa perda de peso como avanço da maturação, em todos os tratamentoscom CEPA, provavelmente em virtude da elevadaperda de água por desidratação pelas altas tempera-turas no ambiente (Fig. 2). Jorge (1995) obteve 10% a14% de perda de peso por desidratação, em pêras dacultivar Século XX (Nijisseiki), após três dias em tem-peratura ambiente. Helbig (1998), com frutos de amei-xa, verificou perda de peso, equivalente a 4,91% e8%, nas cultivares Pluma 7 e Wade, respectivamen-te, após um período de cinco dias, simulando condi-ções de comercialização.

Assim como a perda de peso, houve grande per-da da firmeza da polpa das pêras com a evolução damaturação em todos os tratamentos (Fig. 2), maisacentuada nos tratamentos que receberam algumadose de etileno (Tabela 1). Na segunda avaliação, asfrutas tratadas com etileno já apresentavam menor

Page 5: AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO … até 300€mg€L-1 no caso do melão (Yang & Hoffman,€1984). Pouco se sabe sobre a indução da maturação em pêras depois de colhidas,

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.12, p.2399-2405, dez. 2000

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO PÓS-COLHEITA 2403

0

1

2

3

4

5

6

7

Índi

ce d

e co

r (1

-6)

30

35

40

45

50

55

60

65

70

Firm

eza

da p

olpa

(N

)

Dias após aplicação do CEPA

Zero (Y1) 50 mg L-1

(Y2)100 mg L

-1(Y3) 150 mg L

-1(Y4)

Y1 = 0,4543 + 0,535x, R2 = 0,98

Y2 = 0,5629 + 0,7771x, R2 = 0,97

Y3 = 0,3986 + 0,8775x, R2 = 0,96

Y4 = -0,2 + 1,4899x - 0,0973x2, R2 = 0,95

Y1 = 72,024 - 7,4275x - 0,4768x2, R2 = 0,88

Y2 = 62,73 - 4,1179x, R2 = 0,87

Y3 = 62,816 - 3,6814x, R2 = 0,82

Y4 = 69,501 - 5,3889x, R2 = 0,95

0

5

10

15

20

25

Per

da d

e pe

so (

g)

Y1 = -0,7129 + 2,5593x; R2 = 0,95Y2 = -1,8471 + 3,0361x; R2 = 0,98

Y3 = -1,1229 + 2,7386x; R2 = 0,96

Y4 = -5,0314 + 5,9552x – 0,4026x2; R2 = 0,99

0 3 6 9 12 15 18

TABELA 1. Efeito de doses de ácido 2-cloroetilfosfônico (CEPA) sobre os índices dematuração, nas sete avaliações pós-co-lheita. Pelotas, RS, 19981.

1 Médias seguidas por letras distintas na linha diferiram entre si pelo testede Duncan a 5% de probabilidade.

2 SST: sólidos solúveis totais; ATT: acidez total titulável.

FIG . 2. Índice de cor, firmeza da polpa e perda de pesoem pêras da cultivar Shinsseiki, em razão dasdoses de ácido 2-cloroetil fosfônico (CEPA) eépocas de avaliação. Pelotas, RS, 1998.

firmeza que a testemunha; na quarta avaliação, haviauma perda de firmeza equivalente à pressão de 17 Nnos três tratamentos com CEPA, e a 13 N no trata-mento-testemunha. Na sétima avaliação (18 dias

após), as frutas que receberam a concentração150 mg L-1 apresentavam firmeza equivalente a ape-nas 33 N, ou seja, uma redução de 51% em relação àfirmeza de polpa inicial, que era de 67,7 N. Essa ele-vada perda de firmeza da polpa com a maturação deve-se possivelmente à perda excessiva de água e con-seqüente diminuição da pressão de turgescência dascélulas, quando as frutas são mantidas em ambientecom baixa umidade relativa do ar, aliados à açãoenzimática na lamela média e parede celular, estimu-ladas pelo etileno (Awad, 1993). Jorge (1995) tambémobservou elevada perda de firmeza da polpa com amaturação de pêras da cv. Século XX, principalmen-te nas frutas armazenadas sem cobertura depolietileno. Comportamento similar foi constatado emameixas, por Kluge (1994).

Ocorreu pequeno aumento no teor de SST com aevolução da maturação das pêras, porém não houvediferença entre os tratamentos com CEPA e a teste-munha (Fig. 3). Lallu (1990) também observou que acultivar Shinsseiki apresentou leve aumento no teorde SST, intensificação na cor amarela da casca, eperda de firmeza da polpa com a maturação, à seme-lhança do ocorrido com as cultivares Nijisseiki,Hossui e Kossui. Os SST aumentam no transcorrerdo processo de maturação da fruta, por biossínteseou degradação dos polissacarídeos, favorecidos pelaação das amilases e fosforilases, que têm suas ativi-dades intensificadas com o aumento da produção deetileno (Chitarra & Chitarra, 1990).

O teor médio de ATT não apresentou diferençaentre os tratamentos com CEPA (Fig. 3), porém tendea se elevar com a maturação, semelhante ao que ocor-reu com o SST. Essa pequena elevação na acidez

Doses de CEPA (mg L-1) CVVariável2

Zero 50 100 150 (%)

Índice de cor (1 - 6) 2,60c 3,67b 3,91a 3,81a 9,25Perda de peso (g) 9,52b 10,29a 9,83b 10,73a 7,25Firmeza da polpa (N) 51,87a 46,26b 48,09b 47,95b 9,23SST (ºBrix) 11,17a 11,05a 10,99a 11,15a 3,43ATT (cmol L-1) 4,33a 4,33a 4,48a 4,48a 8,77SST/ATT 37,96a 37,86a 37,32a 37,16a 5,05

Page 6: AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO … até 300€mg€L-1 no caso do melão (Yang & Hoffman,€1984). Pouco se sabe sobre a indução da maturação em pêras depois de colhidas,

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.12, p.2399-2405, dez. 2000

S.R.B. LOMBARDI et al.2404

com a maturação contraria as observações deKingston (1993) e Larsen et al. (1993), que detecta-ram redução na acidez titulável no processo dematuração. Também discorda das observações deLallu (1990), que na Nova Zelândia registrou valoresmédios de 0,16% de ácido málico (2,39 cmol L-1) paraa cultivar Shinsseiki, com o índice de cor 4 (corres-pondente a 60% de cor amarela na epiderme da fru-ta), eis que no presente estudo constatou-se, emmédia, o dobro desse valor (4,63 cmol L-1 de ácidomálico) e as frutas apresentaram o mesmo índice decor 4. Provavelmente, esse aumento na acidez deveser atribuído à elevada desidratação sofrida pelosfrutos, ocasionando maior concentração de ácidomálico no suco celular.

A relação SST/ATT sofreu sensível oscilação emtodas as épocas avaliadas, nos quatro tratamentos comCEPA (Fig. 3), que pode ser justificada pela variaçãotambém apresentada nos valores da acidez titulávelem todos os tratamentos, enquanto os SST apresenta-ram o comportamento esperado em relação à cultivar.Segundo Chitarra & Chitarra (1990), essa relação ten-de a aumentar com o amadurecimento das frutas, pelaredução da acidez, o que é normal ocorrer com amaturação, bem ao contrário do que se registrou nopresente estudo. Em ameixas, Kluge (1994) e Helbig(1998) observaram aumento desse índice com a evolu-ção da maturação, atribuído à diminuição da ATT.

CONCLUSÕES

1. As pêras asiáticas da cv. Shinsseiki apresentamcrescimento típico das Pomáceas, com curva de cres-cimento do tipo sigmoidal simples.

2. O grau de cor da epiderme, perda de peso, firmezada polpa e sólidos solúveis totais são as característiasque melhor representam a evolução na maturação daspêras asiáticas.

3. Todos os tratamentos com CEPA antecipam euniformizam a maturação pós-colheita, sendo a imersãona dose de 50 mg L-1 suficiente para possibilitar índi-ces satisfatórios de consumo entre seis e nove diasapós o tratamento.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoalde Nível Superior (CAPES), pelo apoio financeiro;ao produtor Sr. Toshio Owarari, pelo fornecimentodas frutas.

FIG . 3. Teor de sólidos solúveis totais (SST), acideztotal titulável (ATT) e relação SST/ATT empêras asiáticas cultivar Shinsseiki, em razãodas doses de ácido 2-cloroetil fosfônico (CEPA)e da época de avaliação. Pelotas, RS, 1998.

8

9

10

11

12

13

SS

T (

ºBrix

)

Y3 = 9,8657 + 0,2832x; R2 = 0,86Y4 = 10,159 + 0,2475x; R2 = 0,84

Y1 = 10,014 +0,2886x; R2 = 0,83Y2 = 9,7571 + 0,3061x; R2 = 0,95

2,0

2,5

3,0

0 3 6 9 12 15 18

Dias após aplicação do CEPA

Rel

ação

SS

T/A

TT

Zero (Y1) 50 mg L-1(Y2)

100 mg L-1(Y3) 150 mg L-1(Y4)

Y1 = 2,1986 + 0,1587x - 0,0142x2; R2 = 0,63

Y2 = 2,632 - 0,0355x + 0,0024x2; R2 = 0,08Y3 = 2,545 - 0,0343x + 0,005x2; R2

= 0,03Y4

= 2,505 - 0,0805x + 0,0152x2; R2 = 0,49

3,83,94,04,14,24,34,44,54,64,74,84,95,0

AT

T (

cmol

L-1

)

Y1 = 0,2814 + 0,0029x; R2 = 0,24Y2 = 0,2557 + 0,0082x; R2

= 0,65

Y3 = 0,2643 + 0,0071x; R2 = 0,56Y4 = 0,2629 + 0,0237x - 0,0027x2; R2

= 0,47

Page 7: AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO … até 300€mg€L-1 no caso do melão (Yang & Hoffman,€1984). Pouco se sabe sobre a indução da maturação em pêras depois de colhidas,

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.12, p.2399-2405, dez. 2000

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DA MATURAÇÃO PÓS-COLHEITA 2405

REFERÊNCIAS

ARFAIOLI, P.; BOSSETO, M. Time changes of freeorganic acid contents in seven Italian pear (Pyruscommunis) varieties with different ripening times.Agricoltura Mediterranea, Ospedaletto, v.123, n.3,p.224-230, 1993.

ARGENTA, L.C.; BENDER, R.J.; KREUS, C.L.;MONDARDO, M. Padrões de maturação e índicesde colheita de maçãs cvs. Gala, Golden Delicious eFuji. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,v.30, n.10, p.1259-1266, out. 1995.

AWAD, M. Fisiologia pós-colheita de frutos. São Pau-lo : Nobel, 1993. 114p.

BELL, R.L.; QUAMME, H.A.; LAYNE, R.E.C.;SKIRVIN, R.M. Pears. In: JANICK, J.; MOORE,J.N. (Ed.). Fruit breeding. West Lafayette : J. Wiley,1996. v.1, p.441-515.

BOX, J.M.M. El nashi. Madrid : Mundi, 1992. 131p.

CANTILLANO, F.F. Fisiologia e manejo de pós-co-lheita em pêras européias e asiáticas. Pelotas :Embrapa-CNPFT, 1987. 13p. (CNPFT. Comunica-do Técnico, 55).

CHITARRA, M.I.F.; CHITARRA, A.B. Pós-colheita defrutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. Lavras :ESAL-Fundação de Apoio ao Ensino e Pesquisa,1990. 320p.

HELBIG, V.E. Maturação e tempo de armazenamentorefrigerado de ameixas (Prunus salicina Lindl.)cvs. Pluma 7 e Wade. Pelotas : UFPel, 1998. 54p.Dissertação de Mestrado.

JORGE, R.O. Efeito da época de colheita e sistemas deembalagem na frigoconservação de pêras asiáti-cas (Pyrus serotina, Rehder.), cv. Século XX.Pelotas : UFPel, 1995. 68p. Dissertação deMestrado.

KAPPEL, F.; FISHER, F.R.; HOGUE, E.J. Ideal pearsensory attributes and fruit characteristics.HortScience, Alexandria, v.30, n.5, p.988-993, 1995.

KINGSTON, C.M. Maturity indices for apple and pear.Horticultural Reviews, New York, v.13, p.407-432,1993.

KLUGE, R.A. Estádios de maturação e embalagem depolietileno na qualidade de três cultivares deameixas (Prunus salicina Lindl.)

frigoconservadas. Pelotas : UFPel, 1994. 107p.Dissertação de Mestrado.

KORBAN, S.S. Influence of growth regulators on fruitplant growth and development. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 15., 1998,Poços de Caldas. Conferências. Poços de Caldas :Universidade Federal de Lavras, 1998. p.56-81.

LALLU, N. Fruit growth and development. In: WHITE,A.G.; GRANWELL, D.; DREWITT, B.; HALE, C.;LALLU, N.; MARSH, K.; WALKER, J. Nashi-Asian pear in New Zealand. Wellington : Divisionof Horticulture and Processing, 1990. 85p.

LARSEN, F.E.; HIGGINS, S.S.; PATTERSON, M.E.;JANDHYALA, V.K.; NICHOLS, W. Quality,maturity, and storage of Asian pears growing in cen-tral Washington. Journal of ProductionAgriculture, Madison, v.6, n.2, p.247-252, 1993.

LELIÈVRE, J.M.; LATCHÉ, A.; JONES, B.;BOUZAYEN, M.; PECH, J.C. Ethylene and fruitripening. Physiologia Plantarum, Copenhagen,v.101, p.727-739, 1997.

MEDINA, V.M.; MORAES JUNIOR, A.T. de; BARBO-SA, K.C.; SILVA, S. de O. Climatização de bananascom ethephon. Revista Brasileira de Fruticultu-ra, Cruz das Almas, v.18, n.1, p.43-53, 1996.

MILLER, W.R.; McDONALD, R.E. Carambola qualityafter ethylene and cold treatments and storage.HortScience, Alexandria, v.32, n.5, p.897-899, 1997.

NING, B.; KUBO, Y.; INABA, A.; NAKAMURA, R.Ripening characteristics of Chinese pear ‘Yali’ fruiton and off the tree. Japanese Society forHorticultural Science Journal, Osaka, v.60, n.3,p.703-710, 1991.

PROHENS, J.; RUIZ, J.J.; NUEZ, F. Advancing the‘tamarillo’ harvest by induced postharvest ripening.HortScience, Alexandria, v.31, n.1, p.109-111, 1996.

PUIG, L.; VARGA, D.M.; CHEN, P.M.; MIELKE, E.A.Synchronizing ripening in individual ‘Bartlett’ pearwith ethylene. HortTechnology, Alexandria, v.6, n.1,p.24-27, 1996.

WILSON, R.F. The colour chart. London : The BritishColour Council, 1941. v.2.

YANG, S.F.; HOFFMAN, N.E. Ethylene biosynthesis andits regulation in higher plants. Annual Review of PlantPhysiology, Palo Alto, v.35, p.155-189, 1984.