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i Régis Fernando Spadotim AVALIAÇÃO ECOTOXICOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DA TOXICIDADE NO RIBEIRÃO PIRES, LIMEIRA SP Limeira 2015

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    Régis Fernando Spadotim

    AVALIAÇÃO ECOTOXICOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DA

    TOXICIDADE NO RIBEIRÃO PIRES, LIMEIRA – SP

    Limeira

    2015

  • ii

  • iii

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    Faculdade de Tecnologia

    Régis Fernando Spadotim

    AVALIAÇÃO ECOTOXICOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DA

    TOXICIDADE NO RIBEIRÃO PIRES, LIMEIRA – SP

    Dissertação apresentada à Faculdade de Tecnologia da

    Universidade Estadual de Campinas como parte dos

    requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em

    Tecnologia, na área de Tecnologia e Inovação.

    Orientadora: Profa. Dra. Cassiana Maria Reganhan Coneglian

    Co-orientadora: Profa. Dra. Gisela de Aragão Umbuzeiro

    Este exemplar corresponde à versão final da

    dissertação defendida pelo aluno Régis

    Fernando Spadotim, e orientado pela Profa.

    Dra. Cassiana Maria Reganhan Coneglian

    Limeira

    2015

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    Resumo

    O ribeirão Pires é o principal afluente do ribeirão Pinhal, manancial utilizado na captação de águas

    para distribuição à população de Limeira, SP. Estudos anteriores realizados na micro bacia do

    ribeirão Pinhal apontaram toxicidade aguda apenas nas águas do ribeirão Pires, para o organismo-

    teste Ceriodaphnia dubia. Desta forma torna-se importante conhecer as fontes de contaminação,

    bem como seus contaminantes para assegurar água de qualidade para o município. No presente

    trabalho realizou-se a avaliação ecotoxicológica mediante testes de toxicidade aguda e crônica de

    amostras de água superficial coletadas no ribeirão Pires, e identificação da toxidade utilizando o

    estudo de Avaliação e Identificação da Toxicidade (AIT). O princípio desse método baseia-se no

    fracionamento das amostras por meio de uma série de processos físicos e químicos, objetivando

    eliminar ou separar grupos de compostos para verificação de seu potencial tóxico. Para realização

    do AIT utilizou-se os organismos-testes Ceriodaphnia dubia e Daphnia similis, mediante testes de

    toxicidade aguda, após a manipulação das amostras verificou-se a redução significativa da

    toxicidade com tratamento em coluna C18 em pH 9 e quelação com EDTA. Estes tratamentos de

    AIT (Fase I) apontaram respectivamente, compostos orgânicos não polares, além de metais

    catiônicos como responsáveis pela toxicidade aguda. Manipulações da Fase II utilizando

    espectrofotometria ICP-MS permitiram identificar o zinco em concentrações entre 270-1330 µg L-

    1. A caracterização e confirmação de compostos orgânicos nem sempre é necessária, visto que em

    alguns casos somente a classe dos compostos tóxicos pode fornecer informações suficientes para

    determinar o tratamento apropriado ou opções de controle da fonte da toxicidade. De acordo com

    os resultados obtidos nas análises, pode-se concluir que o zinco foi o principal agente responsável

    pela toxicidade das amostras coletadas no ribeirão Pires, para os organismos testados e a provável

    ocorrência de outros contaminantes.

    Palavras-chave: AIT; Toxicologia ambiental; ribeirão Pires; Ceriodaphnia dubia e Daphnia

    similis.

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  • ix

    Abstract

    The stream Pires is the main tributary of the stream Pinhal, source used in water catchment for

    distribution to the population of Limeira, SP. Previous studies in micro basin stream Pinhal pointed

    acute toxicity only in stream Pires of water to the organism Ceriodaphnia dubia. Thus it is

    important to know the sources of contamination and its contaminants to ensure quality water for

    the city. In the present work to review ecotoxicological by acute and chronic toxicity tests of surface

    water samples collected in the stream Pires and identification of toxicity study using the Toxicity

    Identification and Evaluation (TIE). The principle of this method is based on the fractionation of

    the samples through a series of physical and chemical processes in order to eliminate or separate

    groups of compounds to check their toxic potential. To perform the TIE was used the organism

    Ceriodaphnia dubia and Daphnia similis by acute toxicity tests after handling the samples there

    was a significant reduction in toxicity with treatment C18 column at pH 9 and chelation with

    EDTA. These treatments TIE (Phase I) indicated respectively nonpolar organic compounds, and

    cationic metal responsible for acute toxicity. Manipulations of Phase II using spectrometry ICP-

    MS permitted the identification zinc at concentrations of 270-1330 μg L-1. The characterization

    and confirmation of organic compounds is not always necessary because in some cases only the

    class of toxic compounds can provide sufficient information to determine the appropriate treatment

    or control options of the toxicity source. According to the analysis results, it can be concluded that

    zinc is the primary agent responsible for the toxicity of the samples collected in stream Pires for

    the tested organisms and the likely occurrence of other contaminants.

    Keywords: TIE; Environmental toxicology; stream Pires; Ceriodaphnia dubia and Daphnia

    similis.

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    SUMÁRIO

    1 Introdução ................................................................................................................................. 01

    2 Objetivos .................................................................................................................................... 03

    3 Revisão de literatura ................................................................................................................ 05

    3.1 Ribeirão Pires ....................................................................................................................... 05

    3.2 Contaminação da Água ........................................................................................................ 07

    3.3 Ensaios Ecotoxicológicos .................................................................................................... 08

    3.3.1 Testes de toxicidade aguda............................................................................................ 11

    3.3.2 Testes de toxicidade crônica ......................................................................................... 12

    3.4 Avaliação e identificação da Toxicidade ............................................................................. 12

    3.4.1 Avaliação e identificação da Toxicidade – Fase I ......................................................... 13

    3.4.2 Avaliação e identificação da Toxicidade – Fase II ....................................................... 16

    3.4.3 Avaliação e identificação da Toxicidade – Fase III ...................................................... 17

    3.4.4 Estudos relacionados a AIT .......................................................................................... 18

    4 Material e métodos ................................................................................................................... 21

    4.1 Material ................................................................................................................................ 21

    4.1.1 Local de coleta .............................................................................................................. 21

    4.1.2 Caracterização da área de estudo .................................................................................. 22

    4.1.3 Equipamentos, reagentes e vidrarias ............................................................................. 24

    4.2 Métodos ................................................................................................................................ 24

    4.2.1 Métodos de coleta e preservação das amostras ............................................................. 24

    4.2.2 Métodos para análises físico-químicas.......................................................................... 24

    4.2.3. Métodos dos testes ecotoxicológicos ........................................................................... 24

    4.2.4 Avaliação e Identificação da Toxicidade – AIT (Fase I) ............................................. 26

    4.2.5 Avaliação e Identificação da Toxicidade – AIT (Fase II) ............................................ 35

    4.2.6 Avaliação e Identificação da Toxicidade – AIT (Fase III) .......................................... 35

    5 Resultados e discussões ............................................................................................................ 37

    5.1 Testes de Sensibilidade ........................................................................................................ 37

    5.2 Avaliação dos parâmetros físico-químicos .......................................................................... 39

    5.3 Testes de Toxicidade ............................................................................................................ 41

  • xii

    5.3.1 Testes de Toxicidade aguda .......................................................................................... 41

    5.3.2 Testes de Toxicidade crônica ........................................................................................ 43

    5.4 Avaliação e Identificação da Toxicidade (Fase I) ............................................................... 44

    5.4.1 Recuperação da toxicidade da coluna C18 em pH 9 (Fase I) ...................................... 47

    5.5 Avaliação e Identificação da Toxicidade (Fase II) ............................................................. 49

    5.6 Avaliação e Identificação da Toxicidade (Fase III) ............................................................ 52

    Conclusões .................................................................................................................................... 55

    Referências bibliográficas ........................................................................................................... 57

    Apêndices ...................................................................................................................................... 69

    Anexos ........................................................................................................................................... 81

  • xiii

    Agradecimentos

    Agradeço, primeiramente a Deus, que tem sido minha fortaleza.

    A Orientadora Cassiana Maria Reganhan Coneglian pela amizade e apoio que me ajudou muito a

    atingir mais esse objetivo acadêmico.

    A Co-orientadora Gisela de Aragão Umbuzeiro pelo apoio.

    Ao amigo e técnico do laboratório de microbiologia, Gilberto de Almeida.

    Aos amigos do laboratório Laboratório de Ecotoxicologia e Microbiologia Ambiental Profº Dr.

    Abílio Lopes – LEAL que me apoiaram.

    Ao técnico do laboratório Físico-químico, Geraldo Dragoni Sobrinho.

    Aos membros da banca, Regina Teresa Rosim Monteiro e Clarice Maria Rispoli Botta.

    Agradeço à Capes pela bolsa concedida.

  • xiv

  • xv

    Ele fortalece ao cansado e dá grande vigor ao que está sem forças.

    Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem;

    mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam bem alto como águias;

    correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam.

    “Isaías 40:29-31”

  • xvi

  • xvii

    Lista de Ilustrações

    FIGURA 1 - Mapa das bacias hidrográficas de Limeira – SP, com destaque para o ribeirão

    Pires ..................................................................................................................................... 05

    FIGURA 2 - Microcrustáceos (a) Daphnia similis e (b) Ceriodaphnia dubia, organismos-

    teste utilizados nos ensaios de toxicidade ........................................................................... 11

    FIGURA 3 - Etapas para caracterização de substâncias tóxicas na Fase I - AIT ............... 13

    FIGURA 4 - Resultados de toxicidade encontrados em AIT, em diversas matrizes através de

    (n) artigos pesquisados nos EUA e Europa ......................................................................... 20

    FIGURA 5 - Fotografia aérea das estações de coleta de agua no ribeirão Pires ................ 22

    FIGURA 6 - Fotografias dos pontos de amostragem no ribeirão Pires .............................. 22

    FIGURA 7 - Mapeamento do entorno do ribeirão Pires baseado em possiveis fontes de

    contaminação das águas....................................................................................................... 23

    FIGURA 8 - (a) Fotografia da manipulação de graduação de pH, (b) Ilustração dos

    procedimentos aplicados...................................................................................................... 27

    FIGURA 9 - (a) Fotografia da manipulação de aeração com ajuste de pH, (b) Ilustração dos

    procedimentos aplicados...................................................................................................... 28

    FIGURA 10 - (a) Fotografia da manipulação de filtração com ajuste de pH, (b) Ilustração

    dos procedimentos aplicados ............................................................................................... 29

    FIGURA 11 - (a) Fotografia da manipulação de filtração com ajuste de pH, (b) Ilustração

    dos procedimentos aplicados ............................................................................................... 31

    FIGURA 12 - (a) Fotografia da manipulação de adição de EDTA e tiossulfato de sódio, (b)

    Ilustração dos procedimentos aplicados para a adição de EDTA, (c) Ilustração dos

    procedimentos aplicados para a adição de Tiossulfato de sódio ......................................... 34

    FIGURA 13 - Procedimento adotado em Fase II para as amostras do ribeirão Pires, baseado

    nos resultados de Fase I ....................................................................................................... 35

    FIGURA 14 - Procedimento adotado em Fase III para as amostras do ribeirão Pires, baseado

    nos resultados de Fase II ...................................................................................................... 35

    FIGURA 15 - Carta controle provisória referente à sensibilidade do organismo-teste

    Ceriodaphnia dubia ao cloreto de sódio (NaCl), em 7 dias de exposição .......................... 37

    FIGURA 16 - Carta controle provisória referente à sensibilidade do organismo-teste

    Daphnia similis ao cloreto de sódio (NaCl), em 48 horas de exposição ............................. 38

  • xviii

    FIGURA 17 - Resultados dos testes de toxicidade aguda (48 horas) realizados com as

    amostras de agua superficiais do ribeirão Pires ................................................................... 43

    FIGURA 18 - Média de neonatas de Ceriodaphnia dubia por fêmea adulta nos ensaios de

    toxicidade crônica (7 dias), realizados com as amostras de água superficial do ribeirão Pires

    ............................................................................................................................................. 44

    FIGURA 19 - Resultados de toxicidade aguda mediante o organismo-teste Daphnia similis

    obtidos na Fase I de AIT, realizados com amostras de água superficial do ribeirão Pires (E2)

    ............................................................................................................................................. 45

    FIGURA 20 - Resultados de toxicidade aguda mediante o organismo-teste Ceriodaphnia

    dubia obtidos na Fase I de AIT, realizados com amostras de água superficial do ribeirão Pires

    (E2) ..................................................................................................................................... 46

    FIGURA 21 - Resultados do ensaio de recuperação da toxicidade da coluna C18 em pH 9,

    referente a coleta do mês de Julho de 2014 ......................................................................... 48

    FIGURA 22 - Redução da toxicidade de metais para o organismos-teste Ceriodaphnia dubia

    quando tratados com Tiossulfato de Sódio e EDTA, com destaque aos resultados obtidos na

    Fase I ................................................................................................................................... 50

    FIGURA 23 - Fórmula estrutural do Zinco complexado pelo EDTA ................................ 51

    FIGURA 24 - Resultados de correlação de toxicidade relativa do zinco presente na amostra

    ............................................................................................................................................. 53

  • xix

    Lista de Tabelas

    TABELA 1 - Manipulações da Fase I e seus respectivos agentes alvo .............................. 16

    TABELA 2 - Resumo de trabalhos de AIT realizados no Brasil ........................................ 19

    TABELA 3 - Resumo dos requisitos para os ensaios de toxicidade crônica, mediante o

    organismo-teste Ceriodaphnia dubia .................................................................................. 25

    TABELA 4 - Resumo dos requisitos para os ensaios de toxicidade aguda, mediante os

    organismos-testes Daphnia similis e Ceriodaphnia dubia .................................................. 26

    TABELA 5 – Resultados de testes de sensibilidade (Toxicidade aguda) ao EDTA e

    Tiossulfato de Sódio em agosto de 2013 ............................................................................. 39

    TABELA 6 – Resultados dos parâmetros físico-químicos das amostras de água superficiais

    do ribeirão Pires coletadas de setembro de 2013 a julho de 2014 ....................................... 40

    TABELA 7 – Resultados dos testes de toxicidade aguda (48 horas) realizados com as

    amostras de agua superficiais do ribeirão Pires ................................................................... 42

    TABELA 8 – Análises dos elementos químicos realizadas por empresa terceirizada com as

    amostras de água superficial do ribeirão Pires .................................................................... 49

  • xx

  • 1

    1 Introdução

    A degradação dos recursos hídricos nunca foi tão evidente, é notável o uso abusivo e

    irresponsável do mesmo, se medidas extremas não forem tomadas esse recurso que já é escasso,

    pode em curto prazo se tornar um dos maiores problemas a ser enfrentado pela humanidade.

    Os ambientes aquáticos são extremamente complexos, devido a diversos fatores físicos,

    químicos e biológicos que se interagem, podendo tornar esse ambiente mais vulnerável a

    substâncias tóxicas. Por outro lado os contaminantes possuem características que variam em

    relação a sua capacidade de dispersão de pluma, adsorção na matéria orgânica, solubilidade,

    biotransformação, etc. Além disso, dependendo da sua toxicidade e persistência no ambiente

    aquático, essas substâncias podem interferir em processos básicos dos ecossistemas, como a

    disponibilidade de oxigênio dissolvido, a ciclagem de nutrientes, alterações em níveis tróficos, bem

    como redução de sua biodiversidade, além de outros efeitos adversos, como a dificuldade de

    tratamento com qualidade da água para o abastecimento público.

    Portanto, avaliar o potencial tóxico dos contaminantes lançados nos corpos d’água

    mediante testes de toxicidade se faz importante e identificar o composto ou grupo de compostos

    responsáveis pela toxicidade se faz necessário para tomada de medidas de controle, para tanto foi

    desenvolvido o método conhecido como Avaliação e Identificação da Toxicidade (AIT). Este

    método compreende três fases distintas: identificação, caracterização e confirmação da toxidade;

    Nessas etapas as análises químicas e os testes de toxicidade se complementam, possibilitando a

    implantação de medidas mitigadoras e efetiva redução da toxidade.

    Apesar da importância do AIT, no Brasil é pouco utilizado, sendo poucas as publicações

    utilizando essa metodologia, com isso pouco se conhece sobre a presença de contaminantes

    específicos, em ambientes aquáticos no cenário brasileiro, seu potencial tóxico voltado para a

    preservação da vida aquática, bem como a eficiência de sua remoção nas estações de tratamento de

    água, destinadas ao consumo humano.

    Sendo o ribeirão Pires o principal afluente do ribeirão Pinhal, que é utilizado como fonte

    de abastecimento para a população de Limeira – SP, a proposta deste trabalho foi avaliar e

    identificar a toxicidade no ribeirão Pires por meio de testes de toxicidade aguda e crônica,

    empregando a metodologia de Avaliação e Identificação da Toxicidade (AIT).

  • 2

  • 3

    2 Objetivos

    2.1 Objetivo Geral

    Realizar a avaliação e identificação da toxicidade de amostras de águas do ribeirão Pires,

    na micro bacia do ribeirão Pinhal, utilizando a metodologia de Avaliação e Identificação da

    Toxicidade (AIT) – Fase I e II.

    2.2 Objetivos Específicos

    Avaliar a toxicidade de amostras de água superficial em três pontos do ribeirão Pires

    utilizando testes de toxicidade aguda e crônica, mediante os organismos-testes

    Ceriodaphnia dubia e Daphnia similis;

    Caracterizar as amostras de água superficial em relação às variáveis físico-químicas (pH,

    oxigênio dissolvido e condutividade);

    Identificar os compostos ou classes de compostos responsáveis pela toxicidade aguda das amostras de água superficial do ribeirão Pires.

  • 4

  • 5

    3 Revisão de Literatura

    3.1 Ribeirão Pires

    A cidade de Limeira - SP, tem aproximadamente 294 mil habitantes (IBGE, 2014) e o

    município de Limeira localiza-se na bacia hidrográfica do rio Piracicaba, cuja área total é de 12.400

    km2, dos quais 11.020 km2 estão no estado de São Paulo e o restante em Minas Gerais (MANSOR,

    2005).

    O município abrange duas micro bacias, sendo: micro bacia do ribeirão Pinhal (uma das

    fontes de captação de água) que acolhe as águas dos ribeirões Tabajara e Pires e a do Tatu que

    acolhe as águas do ribeirão Barroca Funda e ribeirão Duas Barras. A micro bacia do ribeirão Pinhal

    desemboca no rio Jaguari, enquanto as micro bacias dos ribeirões Tatu, Graminha e Águas da Serra

    desembocam no rio Piracicaba (Figura 1).

    FIGURA 1 - Mapa das bacias hidrográficas de Limeira – SP, com destaque para o ribeirão Pires

    Fonte: Adaptado de LIMEIRA (2013).

  • 6 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    A Sub-bacia do ribeirão dos Pires pertencente à Unidade de Gerenciamento de Recursos

    Hídricos Integrada nº 5 - Piracicaba, Capivari, Jundiaí (UGRHI n º 5 - PCJ) e enquadra-se nas

    classes II e III do Conama 357/2005, encontra-se localizada na área de abrangência das bacias do

    ribeirão Pinhal, afluente direto do rio Jaguari (LIMEIRA, 2008).

    O rio Jaguari por sua vez constitui-se importante tributário do rio Piracicaba, localizado

    no centro-leste do Estado de São Paulo (MANSOR, 2005).

    A sub-bacia do ribeirão dos Pires está totalmente inserida no município de Limeira e

    localiza-se na porção leste, limítrofe à área urbana. O ribeirão dos Pires abrange uma porção dentro

    do perímetro urbano de Limeira, onde localiza-se sua nascente nas proximidades do bairro Egisto

    Ragazzo, as margens da rodovia Anhanguera, passando posteriormente pelo bairro Nova Limeira

    e por fim sua maior parte encontra-se além do perímetro urbano, percorrendo o bairro dos Pires,

    área rural do município (MANSOR, 2005).

    O uso e ocupação das terras ao redor do ribeirão Pires próximos a nascente são

    tipicamente industriais, já a jusante predomina atividades agrícolas, caracterizados

    respectivamente por citrus, pastagens e outras culturas em pequena escala como cana-de-açúcar,

    restando pouca mata ciliar (BRANDÃO, 2001).

    O ribeirão Pires é o principal afluente do ribeirão do Pinhal e possui aproximadamente 18

    km de extensão, já a área total da sua sub-bacia é de aproximadamente 49 km² (MANSOR, 2005).

    A captação de água da cidade de Limeira é realizada junto à foz do ribeirão Pinhal com o

    rio Jaguari, podendo o recurso ser captado tanto de um, como de outro manancial. A bacia do

    ribeirão Pinhal é importante e essencial para o abastecimento de água do município de Limeira –

    SP, sendo o principal curso d´água da área rural a leste do município (LIMEIRA, 2008).

    O ribeirão Tabajara está localizado em uma região de grande ocupação de chácaras de

    recreio, sendo esta uma preocupação para garantia de preservação deste manancial que apesar de

    ser o menor dos mananciais também compõe a bacia do ribeirão Pinhal (MANSOR, 2005).

    O ribeirão Tabajara possui água de melhor qualidade na bacia do Pinhal, suas nascentes

    estão localizadas nas divisas com os municípios de Limeira, Araras e Cordeirópolis, afastadas de

    aglomerados urbanos, livres de lançamentos de esgotos domésticos e com poucas habitações na

    área agrícola ocupada com cana de açúcar e pomares cítricos (BRANDÃO, 2001).

    Estudos anteriores realizados na bacia do ribeirão Pinhal apontam as águas do ribeirão

    Pires como sendo a mais tóxica para o organismo-teste Ceriodaphnia dubia. Foram realizados

  • 7 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    ensaios com amostras de água superficial do ribeirão Pires, Pinhal e Tabajara entre o período de

    2008 à 2009 e 2011 à 2012 e as amostras do ribeirão Pires coletadas próximo a Igreja Luterana no

    Bairro dos Pires, apresentaram toxicidade aguda para o organismo em questão em todos os ensaios

    (CRUZ e REGANHAN-CONEGLIAN, 2012; RUIZ et al., 2008).

    3.2 Contaminação da Água

    À medida que a humanidade aumenta seu potencial tecnológico de intervir na natureza,

    para satisfazer suas necessidades e desejos crescentes, surgem os conflitos de interesse quanto ao

    uso do espaço, dos recursos hídricos e da disposição dos resíduos no ambiente (ZAGATTO e

    BERTOLETTI, 2008).

    As principais fontes de contaminação dos recursos hídricos são os defensivos agrícolas

    que escoam com a chuva, sendo arrastados para os rios e lagos, lançamentos de esgotos sem

    tratamento, aterros sanitários que afetam os lençóis freáticos e as indústrias que utilizam os rios

    como corpos receptores de seus efluentes (YU, 2005).

    A qualidade final nos corpos d’água reflete as atividades que são desenvolvidas em toda

    a bacia e cada um dos usos do seu espaço físico produz efeito específico e característico, ou seja,

    as características dos compostos determinam a sua capacidade de percolação no solo, solubilidade,

    bioacumulação, adsorção na matéria orgânica, etc (PLAA, 1982).

    Nas últimas décadas, para atender o crescimento populacional, aumentou-se a produção

    agrícola para atender o mercado interno e externo. Este aumento agrícola contribuiu de forma

    efetiva para a contaminação das águas superficial e subterrânea, essa contaminação pode ocorrer

    através do despejo de nutrientes, como os fertilizantes a base de fósforo e nitrogênio, detritos de

    animais, que através da chuva são carreados para os recursos hídricos, e que em excesso podem

    levar ao processo de eutrofização (MACÊDO, 2002).

    De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis

    (IBAMA) o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, devido ao amplo uso em áreas

    agrícolas e urbanas. Estes apresentam diferentes graus de toxicidade, tanto para os seres humanos

    como para a biota e dependendo das características dos mesmos, como solubilidade em água,

    persistência e mobilidade no solo, podem alcançar o lençol freático por lixiviação ou os rios

    diretamente por escoamento superficial. As principais culturas da produção agrícola nacional em

  • 8 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    2008 foram: cana-de-açúcar, soja, milho, mandioca, laranja e arroz, onde cada cultura emprega

    diferentes ingredientes ativos, sendo assim a ocorrência de um praguicida no ambiente é decorrente

    da atividade agrícola existente em determinada região (IBAMA, 2010).

    Armas et al. (2007) detectaram resíduos de atrazina, ametrina, simazina, hexazinona,

    clomazona e glifosato nas águas superficiais do rio Corumbataí, afluente do rio Piracicaba - SP, no

    período entre 2004 e 2005. As concentrações de ametrina e atrazina excederam em alguns períodos

    os valores máximos permitidos, descritos nas Portaria MS 2.914/2011 (BRASIL, 2011) e na

    Resolução CONAMA 396/2008 (BRASIL, 2008).

    As atividades industrias também contribuem drasticamente, impactando os ambientes

    aquáticos, devido ao lançamento de efluentes líquidos nos corpos receptores. Esses efluentes além

    de tóxicos, são de difícil caracterização, podendo variar de acordo com a atividade industrial,

    qualidade de matéria-prima e ciclo produtivo. Assim, os efluentes gerados são formados por

    misturas complexas de substâncias químicas, muitas delas tóxicas aos organismos aquáticos e

    também aos seres humanos (ZAGATTO e BERTOLETTI, 2008).

    Através de estudos realizados com amostras de água superficial e sedimento do ribeirão

    Graminha e ribeirão Águas da Serra no município de Limeira-SP, verificou-se a presença de metais

    como ferro, cromo, níquel, cobre, zinco e paládio. As concentrações de cromo, níquel e zinco em

    algumas amostras de sedimento atingiram valores superiores ao Valor de Referência de Qualidade

    (VRQ) estabelecido como valor orientado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

    (CETESB, 2001). Estes resultados podem indicar a interferência da indústria de produção de jóias,

    uma vez que esses metais são amplamente utilizados no setor citado (FAZZA, 2007).

    Segundo a legislação brasileira CONAMA 357/2005, a qualidade da água em seus

    parâmetros físicos, químicos, microbiológicos e ecotoxicológicos deve ser monitorada, de modo a

    assegurar seus usos múltiplos que inclui a proteção das comunidades aquáticas (BRASIL, 2005).

    3.3 Ensaios Ecotoxicológicos

    A ecotoxicologia foi reconhecida mundialmente a partir dos anos 60. O Dr. Rene Truhaut,

    membro da Academia de Ciências da França criou o termo “Ecotoxicologia” em 1969 e o definiu

    como “o estudo dos efeitos adversos de substâncias químicas com o objetivo de proteger espécies

    naturais e populações” (TRUHAUT, 1977).

  • 9 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    Atualmente a ecotoxicologia é reconhecida como a ciência que estuda os efeitos tóxicos

    de agentes químicos e físicos, sejam eles naturais ou sintéticos nos organismos vivos, populações

    e comunidades, animais ou vegetais, terrestres ou aquáticos, que constituem a biosfera; esses

    estudos incluem as vias de entrada e transporte dos agentes tóxicos, bem como a sua interação e

    respostas sobre a biota (PLAA, 1982; BERTOLETTI, 1990; YU, 2005). É uma ciência

    multidisciplinar que engloba várias áreas de conhecimento, tais como biologia, ecologia, química

    (orgânica, analítica e bioquímica), anatomia, genética, fisiologia, epidemiologia, estatística entre

    outras (YU, 2005).

    Os estudos ecotoxicológicos possibilitam uma visão mais ampla dos efeitos tóxicos não

    apenas de uma substância isolada, mas também da interação e magnitude de vários agentes

    presentes em determinado ambiente. Assim, a avaliação ecotoxicológica de determinado ambiente

    passa pelo conhecimento das fontes de emissão dos poluentes, bem como de suas transformações,

    difusões e destinos no ambiente (ZAGATTO e BERTOLETTI, 2008).

    Os testes de toxicidade são ensaios laboratoriais realizados em condições experimentais

    específicas e controladas, utilizados para estimar a toxidade de substâncias, efluentes e amostras

    ambientais. Consiste em expor os organismos-teste a diferentes concentrações de uma ou mais

    substâncias durante determinado período de tempo de exposição, analisando os efeitos adversos

    observados (COSTA et al., 2008). Mediante estes ensaios é possível, por exemplo, estabelecer

    limites permissíveis para diversas substâncias químicas através de critérios de derivação. Ou seja

    valores máximos toleráveis que garantem os usos pretendidos da água definidos para condições

    genéricas de exposição, no caso de organismos aquáticos os dados podem ser usados para definir

    critérios para proteção da vida aquática (MOURA, 2009).

    Sendo assim, estes testes deveriam ser utilizados como rotina nos órgãos ambientais no

    âmbito do licenciamento e da fiscalização de atividades potencialmente tóxicas, bem como no

    monitoramento da qualidade das águas, sendo mais aplicado em ações preventivas por meio de

    bioensaios que utilizam organismos de diversos hábitos e níveis tróficos (MOURA, 2009).

    Várias espécies de organismos vêm sendo empregadas em ensaios de ecotoxicidade,

    gerando subsídios importantes para melhor compreensão dos efeitos agudos e crônicos de

    substâncias em diversas matrizes ambientais (BARBOSA, 2010).

    São exemplos de organismos-teste bactérias (i.e. Vibrio fisheri), algas

    (Pseudokirchneriella subcaptata), moluscos (Perna perna) crustáceos (Daphnia sp., Ceriodaphnia

  • 10 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    sp., Hyallela azteca, entre outros), insetos (Chironomus sp., Hexagenia sp.), peixes (Danio rerio,

    Pimephales promelas), organismos terrestres (Eisenia, sp., Folsomia sp.), além de muitas outras

    espécies de diferentes hábitos e nichos ecológicos (KEDDY et al, 1995).

    A utilização de cladóceros como organismo-teste em ensaios de toxicidade tem como

    principais vantagens: ciclo de vida relativamente curto, o que permite avaliar respostas crônicas;

    possibilidade para cultivo em laboratório; reprodução em condições normais por partenogênese,

    com descendentes geneticamente idênticos, o que assegura certa uniformidade de respostas nos

    ensaios; sensibilidade para a maioria das substâncias potencialmente tóxicas, além disso, são

    adequados para testes estáticos, semi-estáticos ou de fluxo contínuo (BORRELY, 2001; RAND e

    PETROCELLI, 1985).

    Os microcrustáceos Daphnia similis e Ceriodaphnia dubia (Figura 2) são da ordem

    Cladocera, família Daphniidae, atingem comprimento aproximado de 3 mm e 0,8 mm,

    respectivamente, em geral desempenham papel importante na cadeia alimentar, pois são

    consumidores primários, alimentam-se de algas e servem de alimento para os consumidores

    secundários, como peixes e outros vertebrados. Assim sendo, mudanças no comportamento destes

    organismos podem interferir nos outros níveis tróficos do ecossistema aquático (ALLAN, 1976;

    CETESB, 1999)

    Como em todo cladócera, o ciclo de vida da Daphnia similis e da Ceriodaphnia dubia

    consiste em fases alternadas de partenogênese. Neste tipo de reprodução, a população é composta

    apenas por fêmeas. O desenvolvimento direto, ou seja, aquele em que os indivíduos jovens são

    semelhantes aos adultos, ocorre em uma câmara incubadora dorsal. Quando o jovem deixa a

    câmara, a fêmea sofre ecdise, ou troca de carapaça, e uma nova desova é liberada na nova câmara

    incubadora (RUPPERT et al., 2005).

    Em condições desfavoráveis esses microcrustáceos adotam estratégias de sobrevivência,

    por isso no ambiente da cultura, tais como variações fora dos limites na temperatura e no

    fotoperíodo, excesso ou falta de alimento e superpopulação, interferem na reprodução desses

    microcrustáceos, favorecendo o aparecimento de machos e conseqüentemente de efípios

    (espessamento de coloração escura contendo ovos de resistência), resultantes da reprodução

    sexuada. Quando mais de um efípio surgir em um lote do cultivo, os organismos jovens produzidos

    neste lote não devem ser utilizados no ensaio e o procedimento do cultivo deve ser reavaliado

    imediatamente (ABNT, 2009).

  • 11 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    FIGURA 2 - Microcrustáceos (a) Daphnia similis e (b) Ceriodaphnia dubia, organismos-teste utilizados

    nos ensaios de toxicidade

    (a) (b) Fonte: Sakata (2013).

    3.3.1 Testes de toxicidade aguda

    O teste de toxicidade aguda é utilizado com o objetivo de estabelecer a concentração de

    determinando contaminante que produz efeitos danosos a um organismo, por meio de curto tempo

    de exposição, geralmente em intervalo de 0 a 96 horas, resultando em danos biológicos severos ou

    a morte destes. Geralmente, o efeito observado é a letalidade ou outra manifestação que a antecede,

    como o estado de imobilidade em invertebrados (PANKRATZ, 2001; MAGALHÃES e FERRÃO

    FILHO, 2008).

    Os resultados dos testes de efeito agudo são expressos em Concentração Efetiva (CE) e/ou

    Concentração Letal (CL), onde a CE e/ou CL50, são respectivamente a concentração efetiva média

    ou concentração letal média, isto é, a concentração da substância em análise que causa efeito agudo

    em 50% dos organismos testados (ABNT, 2009).

    De forma geral, os testes agudos não apresentam custos elevados, são confiáveis e simples

    de serem desenvolvidos, possuem resposta relativamente rápida, porém existem algumas

  • 12 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    limitações, tais como: não avaliam a maneira como a mortalidade aumenta após a exposição, uma

    vez que esses testes são de curta duração (MAGALHÃES e FERRÃO FILHO, 2008).

    3.3.2 Testes de toxicidade crônica

    Os testes de toxicidade crônica são ferramentas indispensáveis na ecotoxicologia, pois no

    ambiente aquático, em geral, os organismos estão expostos a níveis subletais dos poluentes que,

    embora não apresentem efeito adverso agudo, podem causar distúrbios fisiológicos e/ou

    comportamentais em longo prazo. É interpretado pela resposta a um estímulo da substância em

    análise que continua por longo tempo, geralmente por períodos que podem abranger parte ou todo

    o ciclo de vida do organismo-teste (ZAGATTO e BERTOLETTI, 2008).

    Os resultados obtidos nos testes de toxicidade crônica geralmente são expressos como

    Concentração de Efeito Não Observado (CENO), ou seja, a maior concentração testada que não

    causa efeito adverso aos organismos-teste; e tambem como Concentração de Efeito Observado

    (CEO), ou seja é a menor concentração que causa efeito estatisticamente significativo nos

    organismos-teste; Concentração de Inibição 25% (CI25) (ABNT, 2010).

    Em ambientes aquáticos os efeitos adversos crônicos são mais frequentes devido à

    concentração ser influenciada pela diluição (toxicidade crônica na maioria dos casos), e demais

    interações relacionadas diretamente a biodisponibilidade dos contaminantes presentes. Dessa

    forma, os organismos são expostos às baixas concentrações de determinados poluentes durante

    longos períodos de tempo, ocasionando efeitos crônicos a níveis subletais e até mesmo letais

    durante seu ciclo de vida (MAGALHÃES e FERRÃO FILHO, 2008).

    3.4 Avaliação e Identificação da Toxicidade

    Apesar dos testes de toxicidade serem ferramentas importantes para identificar os

    impactos de substâncias tóxicas no ambiente, eles não fornecem indicações diretas da causa ou

    origem específica da toxicidade (MELO et al., 2013; HONGXIA et al., 2004; MAGALHÃES e

    FERRÃO FILHO, 2008). Portanto, conhecer a causa da toxicidade é fundamental para o seu

    eficiente controle. Por isso a USEPA em 1991 desenvolveu um método para auxiliar na

  • 13 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    identificação de substâncias tóxicas em efluentes, esse método é conhecido como Avaliação e

    Identificação da Toxicidade (AIT).

    Os estudos de AIT têm sido desenvolvidos como parte integrante dos protocolos de

    Avaliação e Redução da Toxicidade (ART), que apresentam como objetivo a redução da toxicidade

    de efluentes ou sua manutenção em níveis aceitáveis (USEPA, 1989b). O protocolo de ART

    apresenta outros componentes, como de Investigação das Fontes (IF) e Avaliação da Tratabilidade

    da Toxicidade (ATT), que além de identificar a substância causadora da toxicidade, também avalia

    medidas mitigadoras (BLAISE e FÉRARD, 2005; MELO, 2012).

    O método de AIT compreende 3 fases distintas, sendo de caracterização (USEPA; 1991,

    1992b), identificação (USEPA, 1993a) e confirmação da toxicidade (USEPA, 1993b). O princípio

    do método de AIT baseia-se no fracionamento das amostras por meio de uma série de processos

    físicos e químicos, objetivando eliminar ou separar grupos de compostos para verificação de seu

    potencial tóxico (MELO et al., 2013).

    3.4.1 Avaliação e identificação da Toxicidade – Fase I

    As séries de manipulações da fase I tem como objetivo caracterizar a natureza físico-

    química das substâncias tóxicas presentes na amostra, identificando classes destas substâncias, ou

    seja, a amostra é dividida em diversas alíquotas que são submetidas a variadas manipulações físicas

    e/ou químicas de modo a remover, alterar ou tornar biologicamente não disponível determinado

    grupo de agentes tóxicos (USEPA; 1991,1992b).

    A Figura 3 apresenta em forma de fluxograma as manipulações realizadas nessa etapa,

    são elas: ajustes e graduação de pH, adição de EDTA, adição de tiossulfato de sódio, extração em

    fase sólida (SPE) com C18, filtração e aeração (USEPA; 1991,1992b).

  • 14 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    FIGURA 3 - Etapas para caracterização de substâncias tóxicas na Fase I - AIT (Adaptado de USEPA,

    1992b)

    pH 3pH inicial

    pH 9

    Teste de toxicidade

    inicialAmostra

    Teste de toxicidade

    Adição de tiossulfato de sódio

    Adição de EDTA

    pH 3pH inicial

    pH 11

    Aeração Filtração

    Graduação de pH (6 e 9)

    Ajuste para pH inicial

    Extração em fase sólida

    Na graduação de pH a amostra é ajustada em uma faixa fisiologicamente tolerável pelo

    organismo-teste (pH 6,0 e 9,0). Geralmente, a forma não-ionizada de algumas substâncias

    apresenta maior toxidade do que formas ionizadas, como no caso da amônia (NH3) que se forma

    em pH elevado e apresenta toxicidade mais elevada em relação a sua forma ionizada (NH4+), o

    equilíbrio iônico de sulfetos, cianetos e alguns compostos orgânicos como certos pesticidas

    também tem sua toxicidade e propriedades físico‐químicas afetadas pela graduação de pH

    (ERICKSON, 1985; USEPA; 1991, 1992b).

    No ajuste de pH os compostos catiônicos e aniônicos têm sua toxicidade alterada em

    função de sua biodisponibilidade. Pelo fato de espécies ionizadas e não-ionizadas apresentarem

    propriedades influenciadas pelo pH, por isso são realizados ajustes de pH antes de outras

    manipulações na amostra, como filtração, aeração e extração em fase sólida, visto que a

    combinação desses tratamentos poderá detectar alterações na solubilidade, volatilidade, especiação

    e estabilidade das substâncias (ERICKSON, 1985; MELO, 2012; USEPA, 1991).

    A filtração da amostra pode separar compostos tóxicos associados com sólidos suspensos

    ou material particulado em diferentes valores de pH. No caso de suspeita de metais pode-se usar

  • 15 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    filtros de acetato de celulose. Caso exista a redução da toxidade e seja necessário a confirmação da

    toxidade, pode-se realizar um ensaio de recuperação da toxicidade, onde o filtro pode ser

    ultrassonificado utilizando-se água de cultivo (USEPA, 1991).

    Na etapa de aeração substâncias oxidáveis, voláteis ou subláteis podem ser identificadas

    caso esta manipulação reduza a toxicidade. Sendo assim torna-se necessário a realização de testes

    complementares para diferenciação dos compostos, posteriormente pode-se aerar a amostra com

    nitrogênio; se ocorrer a redução da toxidade os compostos são voláteis, caso a aeração com

    nitrogênio não diminua a toxicidade os compostos presentes são oxidáveis; para detectar se os

    compostos tóxicos são subláteis é necessário lavar a parede do recipiente onde a aeração foi

    realizada e utiliza-la em um ensaio de recuperação da toxicidade (USEPA, 1991).

    A adição do ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) pode identificar a toxicidade

    relacionada a metais catiônicos. Esse agente quelante complexa os metais catiônicos reduzindo a

    toxicidade do alumínio, cadmio, bário, cobalto, cobre, ferro, chumbo, níquel, manganês, estrôncio

    e zinco. O EDTA não complexa metais aniônicos e complexa fracamente alguns metais catiônicos

    como prata, cromo e tálio. Deve- se observar que o excesso de EDTA na solução pode aumentar

    sua toxicidade e levar a falsos resultados. Portanto, deve- se avaliar a sensibilidade dos organismos

    testados e utilizar concentrações do agente quelante que não causem toxicidade intrínseca (USEPA,

    1991, 1992b, 2007; MELO, 2012).

    A adição de tiossulfato de sódio (Na2S2O3) tem por finalidade detectar a toxicidade de

    substâncias oxidantes como cloro, ozônio, bromo e íons de manganês, além de reduzir a

    biodisponibilidade de alguns metais catiônicos, como cádmio, cobre e mercúrio. Assim como o

    EDTA o tiossulfato de sódio em determinadas concentrações pode ser tóxico para o organismo

    teste, portanto, testes preliminares de sensibilidade devem ser realizados e concentrações que não

    produzam efeito adverso devem ser utilizadas nos testes de toxicidade (USEPA; 1991, 1992b).

    A extração em fase sólida ou Solid Phase Extraction (SPE) tem por objetivo identificar a

    toxicidade de compostos orgânicos apolares neutros como certos pesticidas, e em pH 3 e 9 ocorre

    a remoção de compostos orgânicos moderadamente apolares ácidos ou básicos, ou seja o composto

    que estiver predominantemente em sua forma não ionizada será adsorvido na coluna/cartucho de

    C-18 (Paschoal, 2002). Ensaios de recuperação da toxicidade podem ser realizados, pois os

    compostos retidos estão concentrados e podem ser eluídos com solventes específicos e utilizados

  • 16 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    em testes de toxicidade; desta forma é possível identificar se a coluna funcionou como extração de

    fase sólida ou apenas como filtro (DURHAN et al., 1993; BARBOSA, 2010).

    A Tabela 1 expressa de forma simplificada as manipulações da amostra fracionada na

    Fase I e seus respectivos grupos de agentes tóxicos que podem ser identificados em cada

    manipulação realizada.

    TABELA 1 - Manipulações da Fase I e seus respectivos agentes alvo (Adaptado de BURATINI et al, 2007;

    BARBOSA, 2010)

    Manipulação Agente alvo

    Graduação de pH Amônia, sulfetos, metais, cianetos, substâncias orgânicas

    ionizáveis com toxicidade influenciadas pelo pH

    Ajuste de pH Compostos orgânicos e inorgânicos (sulfetos, cianetos,

    amônia, metais) com propriedades influenciadas pelo pH

    Filtração Sólidos orgânicos filtráveis ou com solubilidade dependente

    do pH

    Aeração Voláteis (solventes orgânicos), oxidáveis (cloro) e subláteis

    (surfactantes)

    Adição de EDTA Metais catiônicos (Cr, Al, Cd, Cu, Fe, Pb, Mn, Ni, Zn)

    Adição de Tiossulfato de

    Sódio

    Oxidantes (cloro, peróxidos) e metais catiônicos (Cu, Cd e

    Hg)

    Extração em Fase Sólida Compostos orgânicos não polares (solventes, pesticidas,

    fenóis)

    3.4.2 Avaliação e Identificação da Toxicidade – Fase II

    Corresponde à fase de identificação do agente tóxico, em que as técnicas de fracionamento

    da amostra tóxica obtidas na Fase I são aplicadas em conjunto com análises químicas, voltadas à

    identificação dos contaminantes suspeitos (USEPA, 1993b).

    A redução na toxicidade após tratamento com EDTA orientam as metodologias de análises

    para identificação e quantificação de metais, podendo estas serem realizadas por

    Espectrofotometria de Absorção Atômica, Plasma Indutivamente Acoplado, Fluorescência de raio

    X ou testes complementares podem ser feitos com resinas de troca iônica, fornecendo evidências

  • 17 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    mais fortes para as análises quali‐quantitativas (BARBOSA, 2010; RESGALLA Jr, 2012;

    MOREIRA e FAZZA, 2008; USEPA, 1993a); na redução após tratamento com C18 pode-se usar

    diversas técnicas para detecção de substâncias orgânicas apolares como Cromatografia Gasosa ou/e

    acoplada a Espectroscopia de Massa (CG-MS) e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

    (HPLC), etc (BARBOSA, 2010; QUEIROZ et al., 2009; SILVA et al., 2011; USEPA, 1993a).

    Embora existam diversas técnicas é importante ressaltar que o método analítico escolhido

    na Fase II dependerá da concentração de interesse que cause toxicidade ao organismo teste utilizado

    na Fase I. Mesmo sendo frequentemente identificada a classe dos compostos responsáveis pela

    toxicidade da amostra, a confirmação de compostos individuais é mais difícil, como no caso dos

    compostos orgânicos polares (BLAISE e FÉRARD, 2005). Porém, essa confirmação nem sempre

    é necessária, visto que em alguns casos somente a classe dos compostos tóxicos pode fornecer

    informações suficientes para determinar o tratamento apropriado ou opções de controle da fonte da

    toxicidade (MELO, 2012).

    3.4.3 Avaliação e identificação da Toxicidade – Fase III

    Considerada a fase mais crítica do AIT, esta última Fase tem como finalidade confirmar

    se de fato o agente tóxico caracterizado na Fase I e identificado na Fase II é realmente o responsável

    pela toxicidade encontrada na amostra ambiental (USEPA, 1993b; BLAISE e FÉRARD, 2005;

    LEUSCH et al., 2012; MELO, 2012).

    Existem diferentes métodos para a confirmação da toxicidade: análises de correlação,

    observação de sintomas, sensibilidade comparada de espécies e adição de contaminante (spiking).

    A aplicação de mais de um método implica em maior confiança nos resultados finais da

    confirmação da toxicidade (USEPA, 1993b; LEUSCH et al., 2012).

    3.4.3.1 Análises de correlação

    Resultados dos testes de toxicidade são correlacionados com a concentração medida do

    composto suspeito de conferir toxicidade às amostras ambientais com a toxicidade relativa do

    composto suspeito. Se o composto for de fato responsável pela toxicidade, então essa comparação

    irá apresentar uma correlação significativa. A análise de correlação deve ser sempre usada com

    pelo menos um dos outros métodos descritos a seguir, pois os resultados obtidos podem ser

  • 18 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    atribuídos a um evento distinto ou a poluentes de ocorrência constante (USEPA, 1993b; LEUSCH

    et al., 2012; MELO, 2012).

    3.4.3.2 Observação de sintomas

    Este método consiste em testar a toxicidade de presumível tóxico quer in vitro ou in vivo

    para confirmar que essa exposição resulta em sintomas semelhantes a exposição para a amostra

    ambiental. Se o composto suspeito é de fato a fonte de toxicidade, os sintomas devem ser

    semelhantes (USEPA, 1993b; LEUSCH et al., 2012; MELO, 2012).

    3.4.3.3 Sensibilidade comparada de espécies

    Este método baseia-se no fato de que diferentes espécies e diferentes ensaios apresentam

    sensibilidades diferentes para a mesma substância tóxica (USEPA, 1993b; LEUSCH et al., 2012;

    MELO, 2012). Por exemplo, as microalgas Monoraphidium arcuatum são significativamente mais

    sensíveis ao arsênio V do que as microalgas Chlorella sp. Se o arsênio V for o presumível agente

    tóxico, deveria se prever que a amostra testada também seria significativamente mais tóxica para a

    M. arcuatum que para a Chlorella sp (LEVY et al., 2005).

    3.4.3.4 Método de adição de contaminantes (spiking)

    O método consiste em adicionar o composto tóxico suspeito à amostra em concentrações

    crescentes, e determinar se a toxicidade aumenta proporcionalmente à quantidade do composto

    adicionado, esse método pode revelar o comportamento geralmente inerente de certas substâncias

    frente a um tratamento específico (USEPA, 1993b; LEUSCH et al., 2012; MELO, 2012).

    3.4.4 Estudos relacionados a AIT

    Grande número de estudos científicos tem realizado o procedimento de AIT na tentativa

    de identificar compostos tóxicos, incluindo pesticidas (AMATO et al., 1992; BAILEY et al., 2005;

    BAILEY et al., 2000), metais (BURGESS et al., 1995), e compostos que estão relacionados a

    desreguladores endócrinos (HEWITT et al., 1998; QUINN et al., 2004; THOMAS et al., 2004a;

    THOMAS et al., 2004b; DESBROW et al., 1998), em uma variedade de matrizes.

    Segundo Melo (2012) os EUA é o país que apresenta maior volume de trabalhos

    científicos empregando o protocolo de AIT, seguido pela Inglaterra e Canadá. No Brasil o

  • 19 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    protocolo de AIT é pouco estudado, porém alguns estudos podem ser citados, como: em efluentes

    de indústria de cosméticos (MELO et al, 2013), efluentes de refinaria (TORRES et al., 2005),

    efluentes de fábricas de papel e celulose (FURLEY, 2009), bem como sedimentos (ARAÚJO et

    al., 2006; PASCHOAL, 2002) águas superficiais (BURATINI et al, 2007; BARBOSA, 2010).

    Estes estudos apontam que a identificação de classes químicas associadas com a toxicidade é

    frequentemente possível, mas a confirmação de compostos individuais tem sido mais difícil

    (HEWITT e MARVIN, 2005).

    A Tabela 2 apresenta de forma resumida alguns trabalhos de AIT realizados no Brasil

    com diferentes amostras e suas respectivas substâncias tóxicas encontradas.

    TABELA 2 – Resumo de trabalhos de AIT realizados no Brasil

    Amostra Substância(s) identificada(s) Referência

    Sedimento Cianobactérias MATOS et al., 2014

    Sedimento Amônia ARAÚJO et al., 2006

    Água superficial Orgânicos e pH BARBOSA, 2010

    Água superficial Zinco e orgânicos BURATINI et al, 2007

    Efluentes Orgânicos FURLEY, 2009

    Efluentes Orgânicos, voláteis e suspensos MELO et al, 2013

    Efluentes Surfactantes TORRES et al., 2005

    Sedimento Orgânicos, amônia e metais PASCHOAL, 2002

    Na Austrália os procedimentos de AIT foram utilizados com sucesso na identificação dos

    pesticidas clorfenvinfos como a causa da toxicidade aguda em águas residuais oriundas de

    tratamento de esgotos municipais. Medidas de controle na fonte poluidora foram implementadas

    com sucesso para eliminar a toxidade associada aos clorfenvinfos lançados no corpo d’água

    (BAILEY et al., 2005).

    Levantamentos realizados nos EUA e Europa apontam amônia e pesticidas como

    principais responsáveis pela toxicidade em efluentes, da mesma forma outras matrizes como água

    doce e marinha intersticial apontam combinações de diversos contaminantes; sendo a combinação

  • 20 Capítulo 3. Revisão de Literatura

    mais frequente amônia e compostos orgânicos não polares. Na Figura 4 esse cenário é

    caracterizado através de diversos artigos pesquisados (n), onde os valores de toxicidade estão

    expressos em porcentagem.

    FIGURA 4 – Resultados de toxicidade encontrados em AIT, em diversas matrizes através de (n) artigos

    pesquisados nos EUA e Europa (Adaptado de BURGESS et al., 2013)

  • 21

    4 Material e métodos

    4.1 Material

    4.1.1 Local de coleta

    Para o presente trabalho foram selecionados 3 pontos de coleta no ribeirão Pires localizados

    nas proximidades da rodovia Limeira – 340 (Figuras 5 e 6). De acordo com estudos realizados por

    Cruz e Reganhan-Coneglian (2012) e Ruiz et al. (2008) foi selecionado o ponto de coleta E2, que

    nos respectivos trabalhos sempre apresentou toxicidade aguda em ensaios de toxicidade crônica

    para o organismo-teste Ceriodaphnia dubia.

    Esta estação de coleta E2 situa-se as proximidades da igreja Luterana do Bairro dos Pires,

    existe uma rotatória no local, vestígios de mata ciliar e um bambuzeiro na margem oposta ao local

    da coleta.

    O ponto de coleta E1 situa-se próximo à estação elevatória - Pires, da empresa Odebrecht

    Ambiental. As amostras foram coletadas sobre uma ponte de madeira existente no local, próximo

    à área urbana e a montante do ponto E2.

    Por fim a jusante do ponto E2 está o ponto de coleta E3 localizado em uma estrada de

    cascalho paralela ao Km 9 da rodovia Limeira – 340. Situa-se sobre a ponte 36 do bairro dos Pires,

    apresenta sobre o entorno grande parte de mata ciliar.

    Para a realização das análises com amostras de água do ribeirão Pires foram realizadas 6

    campanhas de coletas entre o período de setembro de 2013 a julho de 2014 nas 3 estações de coleta

    conforme a Figuras 5 e 6.

  • 22 Capítulo 4. Material e métodos

    FIGURA 5 - Fotografia aérea das estações de coleta de agua no ribeirão Pires. E1 (22°33'22.89"S e

    47°21'59.68"O), E2 (22°34'15.73"S e 47°20'32.59"O), E3 (22°35'45.62"S e 47°18'59.19"O)

    Fonte: Adaptado (Google Earth)

    FIGURA 6 – Fotografias dos pontos de amostragem no ribeirão Pires

    E1 E2 E3

    Fonte: Autoria própria

  • 23 Capítulo 4. Material e métodos

    4.1.2 Caracterização da área de estudo

    Para a efetivação desse projeto foram realizadas visitas periódicas ao entorno da área de

    estudo, sendo possível demarcar as prováveis fontes de contaminação das águas do ribeirão Pires,

    conforme ilustrado na Figura 7.

    Traçou-se o trajeto da nascente até a foz do ribeirão Pires. Na nascente nota-se que a

    mesma foi aterrada e canalizada para a construção de um estacionamento de Shopping Center e no

    entorno do Shopping situa-se uma indústria de tanques de lavar roupas e outra de recipientes

    plásticos, um grande supermercado e uma loja de materiais de construção.

    Seguindo o curso d’água o ribeirão Pires ainda canalizado passa por debaixo da rodovia

    Anhanguera, forma uma pequena lagoa as margens da rodovia seguindo por uma região urbana

    onde passa a céu aberto pelo Jardim Nova Limeira.

    Encontra-se a sua margem direita uma estação elevatória de esgoto que recebe efluentes

    de várias indústrias de grande porte do ramo automotivo, e uma indústria que produz máquinas

    agrícolas.

    A seguir suas águas começam a percorrer a área rural da cidade pelo Bairro dos Pires,

    onde a plantação de pomares de laranja é a atividade agrícola predominante, seguida em menor

    proporção pelo cultivo de cana de açúcar, sendo essas as maiores responsáveis pela introdução de

    possíveis agrotóxicos ao manancial.

    Na margem direita existe um cemitério antigo situado próximo de uma churrascaria,

    posteriormente há vestígios de mata ciliar, e por fim após percorrer cerca de 18 Km suas águas

    desembocam na margem direita do ribeirão Pinhal.

  • 24 Capítulo 4. Material e métodos

    FIGURA 7 - Mapeamento do entorno do ribeirão Pires baseado em possiveis fontes de contaminação das

    águas

    Fonte: Autoria própria

    4.1.3 Equipamentos, reagentes e vidrarias

    Foram utilizados os equipamentos e vidrarias usuais do laboratório de microbiologia, de

    análises físico-químicas de águas e de ecotoxicologia aquática. Os reagentes utilizados foram de

    grau p.a., armazenados e preparados de acordo com Apha (2012).

    4.2 Métodos

    4.2.1 Métodos de coleta e preservação das amostras

    As amostras de água superficial foram coletadas de acordo com protocolos para coleta e

    amostragem de água superficial (CETESB, 2011). No local da coleta foram realizadas as análises

    de temperatura, oxigênio dissolvido e logo ao chegar ao laboratório as análises de condutividade,

    dureza e pH.

    As amostras de água foram coletadas com balde de inox e transferidas para frascos de 1

    L de polipropileno, as mesmas foram resfriadas e/ou congeladas até o momento dos testes. Para os

  • 25 Capítulo 4. Material e métodos

    testes de AIT (Fase I) as amostras foram coletadas em frascos de 5 L de polipropileno, onde

    alíquotas reservadas foram refrigeradas e/ou congeladas de acordo com a norma NBR 12713

    (ABNT, 2009) que recomenda a refrigeração das amostras utilizadas em até 7 dias e o

    congelamento das amostras utilizadas em até 40 dias. Para os testes de AIT (Fase II) as amostras

    foram coletadas em frascos de vidro âmbar de 500 mL e preservadas com 5 mL de ácido nítrico,

    refrigeradas em caixa térmica e levadas no mesmo dia da coleta a um laboratório terceirizado

    encarregado pelas análises.

    4.2.2 Métodos para análises físico-químicas

    Foram realizadas análises de temperatura, pH, Oxigênio Dissolvido (OD), condutividade e

    dureza de acordo com Apha (2012).

    4.2.3 Métodos dos testes ecotoxicológicos

    4.2.3.1 Testes de sensibilidade

    Os testes de sensibilidade foram realizados quando possível mensalmente de acordo com

    as recomendações da norma técnica (ABNT, 2009; ABNT, 2010), com a substância de referência

    cloreto de sódio (NaCl) para Daphnia similis e Ceriodaphnia dubia, para avaliar as condições

    fisiológicas do lote de organismos-teste. Os resultados devem estar compreendidos entre os dois

    desvios ‐ padrão (superior e inferior) da média acumulada de uma série de testes mensais que

    compõem a carta‐controle (USEPA, 1992a; ABNT, 2009).

    4.2.3.2. Ceriodaphnia dubia e Daphnia similis

    Os testes de toxicidade crônica utilizando-se o organismo-teste Ceriodaphnia dubia foram

    realizados de acordo com o protocolo padronizado (ABNT, 2010), o mesmo ocorreu para

    toxicidade aguda com Daphnia similis e Ceriodaphnia dubia (ABNT, 2009).

    Os resultados obtidos para toxicidade aguda foram calculados e reportados como CE50,

    acrescidos de seus respectivos intervalos de confiança com o auxílio do software Trimmed

    Spearman-Karber Method (HAMILTON, 1977).

  • 26 Capítulo 4. Material e métodos

    Para a metodologia de AIT (Fase I) após calculado a CE50 da amostra bruta (teste

    preliminar), as amostras fracionadas foram testadas em dose única (100%) e os resultados foram

    expressos em não tóxico ou tóxico e presença de toxicidade aguda quando foi o caso.

    As Tabelas 3 e 4 apresentam de forma resumidas os requisitos para os ensaios de toxicidade

    crônica, com o organismo-teste Ceriodaphnia dubia e toxicidade aguda, com os organismos-testes

    Daphnia similis e Ceriodaphnia dubia, respectivamente.

    TABELA 3 - Resumo dos requisitos para os ensaios de toxicidade crônica, mediante o organismo-teste

    Ceriodaphnia dubia

    Requisitos Condições

    Duração Aprox. 7 dias (~ 168h)

    Neonatas ≤ 24 horas

    Agua de diluição Agua deionizada reconstituída

    Volume da solução (teste) 50 mL

    Número de réplicas por diluição 10

    Número de indivíduos por replica 1

    Reposição da solução teste A cada 48h

    Alimentação A cada 48h

    Temperatura 23oC ± 2 oC

    Fotoperíodo 16 horas com luz/8 horas sem luz

    Endpoint Reprodução e sobrevivência

    Expressão dos Resultados Toxico ou não toxico

  • 27 Capítulo 4. Material e métodos

    TABELA 4 - Resumo dos requisitos para os ensaios de toxicidade aguda, mediante os organismos-testes

    Daphnia similis e Ceriodaphnia dubia

    Requisitos Condições

    Duração 48 horas

    Neonatas ≤ 24 horas

    Agua de diluição Agua deionizada ou natural reconstituída

    Volume da solução (teste) 10 mL

    Número de réplicas por diluição 4

    Número de indivíduos por replica 5

    Reposição da solução teste Sem reposição

    Alimentação Sem alimento

    Temperatura 21oC ± 2 oC

    Fotoperíodo Sem luz

    Endpoint Morte e imobilidade

    Expressão dos Resultados Toxico ou não toxico

    Realizou-se os testes de toxicidade aguda com os organismos-teste Daphnia similis e

    Ceriodaphnia dubia e toxicidade crônica com Ceriodaphnia dubia, nas amostras de água

    superficial do ribeirão Pires e nas amostras manipuladas de acordo com protocolo de AIT.

    4.2.4 Avaliação e Identificação da Toxicidade – AIT (Fase I)

    Os procedimentos descritos a seguir foram realizados na FT-UNICAMP, onde as

    manipulações foram aplicados às amostras e brancos (água de cultivo), de acordo

    com o protocolo da USEPA (1992b).

    4.2.4.1 Graduação de pH

    O pH das amostras e seus respectivos brancos foram ajustados a faixa fisiologicamente

    tolerável aos organismos teste (6 e 9) com a adição de ácido clorídrico (HCl) 1N e/ou 0,1N

    (ECIBRA) e hidróxido de sódio (NaOH) 1N e/ou 0,1N (SIGMA - ALDRICH), não permitindo

    que os reagentes adicionados ultrapassassem 10% do volume inicial da amostra. O ajuste foi

    realizado com o auxílio de um pHmetro (Marte modelo MB-10) devidamente calibrado, onde a

  • 28 Capítulo 4. Material e métodos

    amostra permaneceu sob agitação magnética até a estabilização da leitura conforme Figura 8 (a)

    e (b). Após esse processo as amostras foram armazenadas para realização dos testes de toxicidade

    conforme protocolos da CETESB (2011).

    FIGURA 8 – (a) Fotografia da manipulação de graduação de pH, (b) Ilustração dos procedimentos

    aplicados

    (a)

    pHmetro Marte modelo

    MB-10

    Agitador

    magnético

    NaOH e/ou HCl

    (1N e/ou 0,1N)

    Amostra

    armazenadaTeste de

    toxicidade

    aguda

    pH 6 e 9

    (b)

    Fonte: Autoria própria

  • 29 Capítulo 4. Material e métodos

    4.2.4.2 Aeração com ajuste de pH

    As amostras em diferentes valores de pH (3, inicial e 11) (Figura 9 a) foram dispostas em

    frascos Erlenmeyers de 500 mL. Em seguida foram posicionadas ao centro de cada recipiente com

    o auxílio de uma rolha de borracha, com diâmetro de furo aproximadamente 3 vezes maior que da

    pipeta de vidro de 5 mL, para a retirada de possíveis voláteis. O sistema foi conectado por meio

    de mangueiras de silicone a uma bomba de aquário e mantidos por 2 horas sob aeração moderada.

    Ao final do processo, as amostras foram retiradas com as mesmas pipetas utilizadas no processo

    de aeração, para que não houvesse contato com a parede interna do recipiente. Em seguida o pH

    das amostras foi ajustado ao pH inicial e as amostras foram armazenadas para realização dos testes

    de toxicidade conforme protocolos da CETESB (2011) conforme ilustrado na Figura 9 (a) e (b).

  • 30 Capítulo 4. Material e métodos

    FIGURA 9 – (a) Fotografia da manipulação de aeração com ajuste de pH, (b) Ilustração dos procedimentos

    aplicados

    (a)

    bomba

    de

    aquário

    amostras em

    diferentes valores de

    pH (3, inicial e 11)

    2 horas sob aeração

    moderada

    ajustado

    ao

    pH inicial

    Amostra

    armazenada

    Teste de

    toxicidade

    aguda

    pipeta de

    vidro de 5

    mL

    Folga na

    rolha

    (b)

    Fonte: Autoria própria

    4.2.4.3 Filtração com ajuste de pH

    Alíquotas das amostras em diferentes valores de pH (3, inicial e 11) (Figura 8 a) foram

    filtradas a vácuo com membranas esterilizadas de 0,45 µm de porosidade (SeS – ME25/21ST),

  • 31 Capítulo 4. Material e métodos

    previamente lavadas com água ultra pura. Em seguida o pH das amostras foi ajustado ao pH inicial

    e as amostras foram armazenadas para realização dos testes de toxicidade conforme protocolos da

    CETESB (2011) conforme ilustrado na Figura 10 (a) e (b)

    FIGURA 10 – (a) Fotografia da manipulação de filtração com ajuste de pH, (b) Ilustração dos

    procedimentos aplicados

    (a)

    amostras em

    diferentes valores de

    pH (3, inicial e 11)

    Bomba a

    vácuo

    membrana

    esterilizada de

    0,45 μm de porosidade

    (SeS – ME25/21ST)

    ajustado

    ao

    pH inicial

    Amostra

    armazenada Teste de

    toxicidade

    aguda

    Amostra

    filtrada

    válvula

    (b)

    Fonte: Autoria própria

  • 32 Capítulo 4. Material e métodos

    4.2.4.4 Extração em fase sólida

    Para a extração em fase sólida foram empregados cartuchos de fase-reversa C18, modelo

    C18- 55µm, 70A (Strata) com dimensões de 1000 mg X 6mL adaptados em sistema Manifold

    conectado a uma bomba de vácuo. Os cartuchos empregados foram ativados passando-se 10 mL

    de metanol 100%, seguidos de 30 mL de água ultra pura (“Mili Q”). O metanol e a água foram

    descartados e seguiu-se à extração de aproximadamente 200 mL, volume necessário para

    realização de teste de toxicidade aguda em diferentes valores de pH (3, inicial e 9) das amostras

    pela sua passagem através dos cartuchos por gotejamento contínuo e lento, para não provocar a

    perda de substâncias por carreamento.

    Para que não ocorresse sobrecarga dos cartuchos, as amostras foram filtradas em papel

    filtro modelo Qualy - maioria dos poros de 14 µm (JProlab) antes do processo de extração

    conforme a descrito anteriormente conforme ilustrado na Figura 11 (a) e (b).

  • 33 Capítulo 4. Material e métodos

    FIGURA 11 – (a) Fotografia da manipulação de filtração com ajuste de pH, (b) Ilustração dos

    procedimentos aplicados

    (a)

    amostras em diferentes valores de

    pH (3, inicial e 9) e filtradas em

    papel filtro modelo Qualy com

    maioria dos poros de 14 μm (JProlab)

    Bomba a

    vácuo

    Cartucho de fase

    reversa C18, modelo C18- 55μm, 70A

    (Strata)

    ajustado

    ao

    pH inicial

    Amostra

    Armazenada

    50 mL

    Teste de

    toxicidade

    aguda

    Amostra

    filtrada

    válvula

    ativado com 10 mL de metanol

    100%, seguidos de 30 mL de

    água ultra pura (“Mili Q”)

    (b)

    Fonte: Autoria própria

  • 34 Capítulo 4. Material e métodos

    4.2.4.4.1 Recuperação da toxicidade (metais)

    No ensaio de recuperação da toxidade dos possíveis metais retidos nos cartuchos foram

    utilizados cartuchos de fase-reversa C18, modelo C18/18% (Spe-ed SPE) com dimensões de 1000

    mg X 6mL adaptados em sistema Manifold, conectado a uma bomba de vácuo. Os cartuchos

    empregados foram ativados passando-se 10 mL de metanol 100%, seguidos de 200 mL da amostra

    de agua em pH 9, logo em seguida o metanol e a água foram descartados e seguiu-se à recuperação

    de possíveis metais utilizando 50 mL de água de cultivo (meio MS) em pH 3 com passagem através

    dos cartuchos por gotejamento contínuo e lento.

    Para provocar o maior carreamento possível de metais retidos no cartucho, logo a seguir

    a agua de cultivo extraída teve seu pH ajustado ao pH inicial da amostra, que foram armazenadas

    para realização dos testes de toxicidade aguda conforme protocolos da CETESB (2011).

    4.2.4.4.2 Recuperação da toxicidade (orgânicos)

    Neste ensaio de recuperação da toxicidade dos possíveis compostos orgânicos retidos nos

    cartuchos foram utilizados cartuchos de fase-reversa C18, modelo C18/18% (Spe-ed SPE) com

    dimensões de 1000 mg X 6mL adaptados em sistema Manifold conectado a uma bomba de vácuo.

    Os cartuchos empregados foram ativados passando-se 10 mL de metanol 100%, seguidos de 200

    mL da amostra de água em pH 9, logo em seguida o metanol e a água foram descartados e seguiu-

    se à recuperação de possíveis compostos orgânicos passando-se apenas 2 mL de metanol 100% no

    cartucho, onde este foi armazenado e posteriormente foram adicionados 150 µL deste metanol

    utilizado como solvente dos possíveis contaminantes orgânicos para cada 10 mL de água de cutivo

    (meio MS) e em seguida foram realizados os testes de toxicidade aguda.

    4.2.4.5 Adição de ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA)

    A escolha da concentração de EDTA adicionada na amostra foi baseada em testes

    preliminares de sensibilidade do organismo-teste ao EDTA (Dinâmica – Limite máximo de

    impurezas: insolúveis 0,005%, Ácido Nitriloacetico 0,1%, Metais pesados - Max. 50 ppm), onde

    utilizou-se apenas a maior concentração que não apresentou efeito em testes preliminares.

    Preparou-se a solução a partir de uma solução estoque de 2 g L-1 preparada em água destilada. A

    amostra permaneceu em contato com o EDTA sob agitação por cerca de 1 hora para possibilitar as

    reações do agente quelante, em seguida foram realizados os testes de toxicidade conforme Figura

    12 (a) e (b).

  • 35 Capítulo 4. Material e métodos

    4.2.5.6 Adição de Tiossulfato de Sódio

    De forma similar ao procedimento anterior, após testes preliminares de sensibilidade do

    organismo-teste ao tiossulfato de sódio (ECIBRA – Limite máximo de impurezas: insolúveis

    0,005%, compostos nitrogenados como N - 0,002%, sulfato e sulfito como SO4 - 0,1%, sulfite (S)

    - Passa o teste), utilizou-se apenas a maior concentração que não apresentou efeito em testes

    preliminares. A solução foi preparada a partir de uma solução estoque de 10 g L-1 preparada em

    água destilada. A amostra permaneceu em contato com o tiossulfato sob agitação por cerca de 1

    hora para que ocorresse as reações entre o reagente oxidante e a amostra, em seguida foram

    realizados os testes de toxicidade conforme Figura 12 (a) e (c).

  • 36 Capítulo 4. Material e métodos

    FIGURA 12 – (a) Fotografia da manipulação de adição de EDTA e tiossulfato de sódio, (b) Ilustração dos

    procedimentos aplicados para a adição de EDTA, (C) Ilustração dos procedimentos aplicados para a adição

    de Tiossulfato de sódio

    (a)

    maior

    concentração que

    não apresentou

    efeito em testes

    preliminares

    Agitador

    magnético

    Teste de

    toxicidade

    aguda

    Após 1 horaAmostra bruta + EDTA

    solução

    estoque

    de 2 g/L

    preparada

    em água

    destilada

    maior

    concentração que

    não apresentou

    efeito em testes

    preliminares

    Agitador

    magnético

    Teste de

    toxicidade

    aguda

    Após 1 horaAmostra bruta + Tiossulfato

    solução

    estoque

    de 10 g/L

    preparada

    em água

    destilada

    (b)

    (c)

    Fonte: Autoria própria

  • 37 Capítulo 4. Material e métodos

    4.2.5 Avaliação e Identificação da Toxicidade – AIT (Fase II)

    As análises químicas de identificação da toxicidade referentes a fase II foram realizadas

    por empresa terceirizada, de acordo com os resultados de fase I optou-se pelo método de

    espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado (Figura 13). Dados da metodologia

    utilizada encontram-se no Anexos A.

    FIGURA 13 – Procedimento adotado em Fase II para as amostras do ribeirão Pires, baseado nos resultados

    de Fase I

    CompostoTóxico

    MetalICP-MS

    (APHA,2012)

    Fonte: Autoria própria

    4.2.6 Avaliação e Identificação da Toxicidade – AIT (Fase III)

    Para a confirmação dos resultados foi utilizado o método de análise de correlação,

    utilizando o cálculo de toxicidade relativa do composto suspeito pela toxidade da amostra analisada

    conforme ilustra a Figura 14, onde as Unidades Tóxicas (UT) da amostra pura são comparadas

    com os resultados de UT do composto suspeito quantificado na Fase II.

    FIGURA 14 – Procedimento adotado em Fase III para as amostras do ribeirão Pires, baseado nos resultados

    de Fase II

    100CE50 da amostra

    UT da amostra

    bruta

    [Zn] amostra

    CE50 do zinco

    UT do zinco na amostra

    Fonte: Autoria própria

  • 38

  • 39

    5 Resultados e discussões

    5.1 Testes de Sensibilidade

    As cartas-controles provisórias obtidas nos testes de sensibilidade com os organismos-

    testes Ceriodaphnia dubia e Daphnia similis estão apresentadas nas Figuras 15 e 16. Conforme a

    norma ABNT (2010) na inexistência de 20 resultados de ensaio, deve ser calculada a média

    provisória com no mínimo cinco resultados com lotes diferentes. A carta controle de ambas as

    culturas foi elaborada a partir de testes de sensibilidade realizados entre Julho de 2013 a Novembro

    de 2014, período que todos os testes desta pesquisa foram realizados.

    Para o organismo-teste Ceriodaphnia dubia obteve-se média acumulada de CI50=0,19 g

    L-1 de NaCl expostos por de 7 dias e limites superiores e inferiores de 0,31 e 0,08 g L-1 (Figura

    15), respectivamente; para 16 testes de sensibilidade nota-se que o cultivo apresenta qualidade

    aceitável para a utilização em testes, pois os mesmos apresentaram-se dentro do limite estabelecido

    pela norma ABNT (2010).

    FIGURA 15 – Carta controle provisória referente à sensibilidade do organismo-teste Ceriodaphnia dubia

    ao cloreto de sódio (NaCl), em 7 dias de exposição

    Fonte: LEAL-UNICAMP (participação do autor)

  • 40 Capítulo 5. Resultados e discussões

    Para a Daphnia similis obteve-se média acumulada de CE50 =2,74 g L-1 de NaCl (48

    horas) e limites superiores e inferiores de 3,33 e 2,15 g L-1, respectivamente. Os valores de

    toxicidade aguda referentes a testes de sensibilidade apresentam-se próximos aos resultados de

    outros trabalhos, como o de Melo (2012) que obteve média acumulada de CE50= 2,41 g L-1 de

    NaCl. Os resultados mostram que os organismos-testes mantiveram a sensibilidade aceitável frente

    à substância de referência (NaCl), uma vez que os valores de CE50 ou CI50 permaneceram entre

    os limites estabelecidos, com exceção do teste 9 referente ao mês de março de 2014 que apresentou

    CE50 de 2,12 g L-1, resultado extremamente próximo ao limite aceitável de 2,15 g L-1 conforme

    apresentado na Figura 16.

    FIGURA 16 – Carta controle provisória referente à sensibilidade do organismo-teste Daphnia similis ao

    cloreto de sódio (NaCl), em 48 horas de exposição

    Fonte: LEAL-UNICAMP (participação do autor)

    No presente estudo, utilizou-se o teste de toxicidade aguda para avaliar as condições

    fisiológicas dos organismos-testes Daphnia similis e Ceriodaphnia dubia para o EDTA e

    tiossulfato de sódio (Tabela 5), como testes preliminares do AIT (Fase I). As concentrações foram

    testadas até encontrar a maior concentração que não apresentasse efeito de imobilidade aos

    organismos em questão, utilizando-se posteriormente a mesma concentração na amostra de água

    bruta.

  • 41 Capítulo 5. Resultados e discussões

    TABELA 5 – Resultados de testes de sensibilidade (Toxicidade aguda) ao EDTA e Tiossulfato de Sódio

    em agosto de 2013

    Organismo-teste EDTA (mg L-1) Tiossulfato de Sódio (mg L-1)

    CE50; 48h CE50; 48h

    Daphnia similis 50* 80 (70 - 90) 400* 1000 (610 – 1630)

    Ceriodaphnia dubia 40* 60 (50 – 60) 400* 760 (650 -870)

    Nota: * Maior concentração testada que não apresentou efeito de imobilidade no teste de toxicidade aguda.

    5.2 Avaliação dos parâmetros físico-químicos

    As análises físico-químicas das amostras de água superficial do ribeirão Pires, cujos

    resultados estão reportados na Tabela 6, mostraram durante todo período de coletas valores de

    temperatura médio de 22,6 oC. Os valores de pH se apresentaram dentro da faixa de tolerância para

    os organismos-testes, resultado importante já que o pH é fator limitante para manutenção da vida

    aquática. O Oxigênio Dissolvido (OD), apresentou-se em todas as coletas realizadas result