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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA
DANIELLY LAÍS PEREIRA LIMA
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO FUNCIONAL, DO SONO E DESCRIÇÃO DA REDE DE SAÚDE UTILIZADA POR CRIANÇAS COM SÍNDROME CONGÊNITA
DO ZIKA VÍRUS
Recife 2017
DANIELLY LAÍS PEREIRA LIMA
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO FUNCIONAL, DO SONO E DESCRIÇÃO DA REDE DE SAÚDE UTILIZADA POR CRIANÇAS COM SÍNDROME CONGÊNITA
DO ZIKA VÍRUS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco como requisito para obtenção do título de Mestre em Fisioterapia. Linha de Pesquisa: Desempenho físico-funcional e qualidade de vida. Orientadora: Karla Mônica Ferraz Teixeira Lambertz Co-orientadora: Carine Carolina Wiesiolek
Recife 2017
“AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO FUNCIONAL E DESCRIÇÃO DA REDE DE SAÚDE UTILIZADA POR CRIANÇAS COM SÍNDROME CÔNGENITA DO ZIKA VÍRUS”
DANIELLY LAÍS PEREIRA LIMA
APROVADO EM: 25/04/2017 ORIENTADORA: PROFª. DRª. KARLA MÔNICA FERRAZ TEIXEIRA LAMBERTZ COORIENTADORA: PROFª. DRª. CARINE CAROLINA WIESIOLEK COMISSÃO EXAMINADORA:
PROFª. DRª. ANDREA LEMOS BEZERRA DE OLIVEIRA – FISIOTERAPIA/ CCS/ UFPE
PROFª. DRª. BERNADETE PEREZ COÊLHO – MEDICINA SOCIAL/ CCS/ UFPE
PROFª. DRª. CRISTIANA MARIA MACEDO DE BRITO – CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE/ UNICAP
Visto e permitida à impressão
_______________________________________________ Coordenadora do PPGFISIOTERAPIA/DEFISIO/UFPE
Porém, como dizem as Escrituras
Sagradas: "O que ninguém nunca viu
nem ouviu, e o que jamais alguém
pensou que podia acontecer, foi isso o
que Deus preparou para aqueles que o
amam." (1 Coríntios 2:9).
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que me proporcionou oportunidades,
experiências e momentos singulares ao longo destes dois anos de mestrado.
Agradeço a Sua generosidade e por nunca me desamparar. Ao meu esposo Brunno
Gomes, companheiro de todas as horas, agradeço toda a paciência, amor e apoio. À
minha mãe Maria Jeane, dedico minha vitória, nunca chegaria onde cheguei sem seu
incentivo e amor incondicional. Ao meu pai Daniel Lima, ao meu tio Alexandre da Silva
e aos meus irmãos (Daniel, Danietty e Lala Lima), agradeço por tudo que fazem para
mim e ao amor que me dedicam. Ao cunhado Kelsen Gomes e sogro José Gomes
agradeço a atenção e o companheirismo. À Karla Mônica Ferraz, minha orientadora
da vida, o seu amor e atenção levarei para sempre no meu coração. À Carine
Wiesiolek toda minha gratidão e carinho, sua presença foi um presente enorme que
Deus me deu.
Às minhas queridas amigas (Ariádne, Dayana e Leandra), todo meu carinho,
tudo foi mais fácil com o apoio de vocês. À Milena Monteiro, meu “obrigada por tudo”,
você foi a surpresa que o mestrado me proporcionou. Aos funcionários do
departamento (Edvaldo, Dalva, Edna, Alexandre, Rafael, Niege e Carminha) a vida foi
mais fácil com a atenção e generosidade de vocês. Aos meus mestres Alberto Galvão
de Moura Filho, Andrea Lemos, Cinthia Vasconcelos, Caroline Wanderley e Karla
Mônica Ferraz, a minha admiração, vocês me inspiraram durante a graduação e serão
sempre meus exemplos.
Às minhas amigas de fé que sempre me acompanham em oração (Angélica,
Isis, Fabiana e Tia França), obrigada pelo carinho. Aos meus ICs queridos Ana
Carolina Lucena, Alysson Santos e Camila Lima, só quero dizer que vocês serão
sempre lembrados com enorme carinho. Aos amigos (alunos e mestrandas) de Leped,
só queria lembrar que foi um prazer participar de momentos tão bons, regados de
conhecimento e união.
Às alunas de graduação em Fisioterapia do projeto de extensão, quero registrar
que este projeto é um pedacinho de mim que fica para o Leped, espero ele seja tão
especial para vocês, como é para mim.
Aos meus colegas de sala, como foi bom partilhar com vocês dois anos de
aprendizado, aos meus amigos André Terácio, Camila Almeida e Robson Arruda,
vocês colocaram mais alegria nestes dois anos. E a Ana Irene por toda a paciência e
atenção que teve comigo. À CAPES, pelo apoio financeiro em forma de bolsa de
estudos durante um ano do mestrado.
Aos locais que me aceitaram, HC (em especial a Patrícia Ribeiro, por tudo que
ela me ensinou), GERES e a Clínica Pepita Duran, obrigado por me receberem de
braços abertos. Um agradecimento especial à ONG AMAR, lá eu fui mais que
acolhida, fui recebida com carinho e atenção, agradeço grandemente às mães
Pollyana Dias e Luciana por todo carinho.
Por fim, agradeço às mães e crianças, com vocês eu aprendi a praticar a
paciência, a relevar pequenas indelicadezas (afinal só vocês sabem o que passam),
obrigada por me ensinarem a ter mais atenção pelo outro, a olhar todos como iguais,
mesmo sabendo que cada um de nós é único e especialmente raro, termino dizendo
minha célebre frase: Depois de vocês eu sou “mais gente” e eu me tornei um ser
humano melhor. Obrigada.
RESUMO
O aumento abrupto no número de casos suspeitos de microcefalia em recém-nascidos vivos em Pernambuco despertou a atenção dos profissionais de saúde do estado. Alguns estudos descrevem esta condição como Síndrome Congênita do Zika (SCZ), a partir de diversos achados sobre o sistema neurológico e visual. Posteriormente, com a verificação de um quadro de alterações neurológicas de grande impacto sobre o sistema locomotor e dos relatos de irritabilidade acentuada nas crianças acometidas, aspectos como funcionalidade e sono passaram a ser motivo de inquietação. O conhecimento sobre estes aspectos é relevante para a elaboração de propostas terapêuticas e a descrição da rede de saúde é necessária para um melhor planejamento da assistência à saúde dada a crianças com SCZ. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho funcional e o sono de crianças com SCZ entre 6 e 18 meses de idade e descrever a rede de saúde utilizada por crianças com SCZ do interior de Pernambuco. Realizou-se um estudo de delineamento transversal e um segundo um estudo descritivo, tipo série de casos. Foram incluídos nos estudos casos confirmados de SCZ e casos prováveis por STORCH (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes simples) associados ao Zika. O instrumento utilizado para a avaliação do desempenho funcional foi o PEDI - Pediatric Evaluation of Disability Inventory, e, para a avaliação do sono, o questionário Brief Infant Sleep Questionnaire (BISQ). A descrição da rede de saúde foi realizada por meio de um questionário semiestruturado. Para a avaliação do desempenho funcional e sono, 79 crianças com SCZ foram analisadas. Na avaliação das habilidades funcionais, foi observado que 100% da amostra apresentou atraso na área de mobilidade. Na avaliação quanto ao autocuidado e função social, houve predomínio maior de atraso na faixa etária de 12-18 meses, quando comparado com a faixa etária de 6-11 meses. Para as faixas etárias 6-11 meses e 12-18 meses, houve diferença significativa para os escores brutos entre para crianças adequadas nos domínios autocuidado (p = 0,042) e função social (p < 0,001) e para crianças atrasadas nos domínios autocuidado e função social (p < 0,001). Não houve diferença significativa para o domínio mobilidade entre as faixas etárias (p= 0,836). Para a descrição da rede de saúde utilizada, foram realizadas 26 entrevistas em 11 municípios, onde foi relatado: uma rede de profissionais de saúde com cerca de 20 profissionais de saúde diferentes; renda mensal de 2 ou menos salários mínimos em mais de 90% das famílias; mais de 50% da amostra realiza sessões de reabilitação fora do seu município sendo que 96% realizam consultas com especialidades médicas na capital; 57 % das crianças espera por algum serviço de reabilitação. Na avaliação do desempenho funcional e sono, as crianças apresentaram um comportamento que sugere estagnação das etapas motoras e pobreza de movimentação ativa. Em relação à rede de saúde, a amostra apresentou uma grande demanda de serviços, que muitas vezes não estão disponíveis nos seus municípios.
Palavras-chave: Microcefalia. Desempenho Psicomotor. Sono. Síndrome congênita do zika vírus. Redes de atenção à saúde
Abstract
The abrupt increase in the number of suspected cases of microcephaly in newborns in the state of Pernambuco attracted the attention of its health professionals. Some studies describe this condition as Congenital Zika Syndrome (CZS), based on several findings about the neurological and visual system. Subsequently, with the verification of the presentation of neurological alterations with a great impact on the locomotor system and reports of marked irritability in children affected, aspects such as functionality and sleep became a cause for concern. The knowledge about these aspects is relevant for the elaboration of therapeutic proposals and the description of the health network is necessary for a better planning of the health care given to children with CZS. The objective of this study was to evaluate the functional and sleep performance of children with CZS between 6 and 18 months old and to describe the health network used by children with CZS in the State of Pernambuco up-country. A cross-sectional study was carried out and a second one, a descriptive study, series of cases kind, also. Included in the studies were confirmed cases of CZS and probable cases by STORCH (syphilis, toxoplasmosis, rubella, cytomegalovirus, herpes simplex) associated with Zika. The instrument used for the evaluation of functional performance was the Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI) and, for the evaluation of sleep, the Brief Infant Sleep Questionnaire (BISQ). The description of the health network was performed through a semi-structured questionnaire. For the evaluation of functional performance and sleep, 79 children with CZS were analyzed. In the evaluation of the functional abilities, it was observed that 100% of the sample presented delay in the area of mobility. In the evaluation of self-care and social function, there was a greater prevalence of delay in the age group of 12-18 months, when compared to the age group of 6-11 months. For the age groups 6-11 months and 12-18 months, there was a significant difference for the gross scores among suitable children in the self-care domains (p = 0.042) and social function (p <0.001) and for delayed children in the self-care and function domains (P <0.001). There was no significant difference for the mobility domain between the age groups (p = 0.836). For the description of the health network used, 26 interviews were carried out in 11 municipalities, where it was reported: a network of health professionals with about 20 different health professionals; Monthly income of 2 times or less minimum wages in more than 90% of households; More than 50% of the sample performs rehabilitation sessions outside of their municipality, 96% of which have consultations with medical specialties in the capital; 57% of children are waiting for some rehabilitation service. In the evaluation of functional performance and sleep, the children presented a behavior that suggests stagnation of the motor stages and active movement poverty. In relation to the health network, the sample presented a great demand for services, which are often not available in its municipalities.
Keywords: Microcephaly. Psychomotor Performance. Sleep. Congenital zika syndrome. Healthcare network
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AS – Administração do Serviço
BISQ – Brief Infant Sleep Questionnaire
CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
CNS - Conselho Nacional de Saúde
CRAS – Centros de Referência de Assistência Social
eAB/SF – Equipes de Atenção Básica/Saúde da Família
ECC – Estadual Conveniado Clínica
ECF – Estadual Conveniado Filantrópico
EP – Estadual Público
GERES - Gerência Regional de Saúde
LEPED - Laboratório de Estudos em Pediatria
MC – Municipal Conveniado
MP – Municipal Público
MS – Ministério da Saúde
NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família
NS – Número de Serviços Utilizados
SP- Serviço Privado
ONG – Organização Não Governamental
PC – Perímetro Cefálico
PEDI – Pediatric Evaluation of Disability Inventory
PSF – Programa de Atenção à Saúde da Família
RAS – Redes de Atenção à Saúde
SCZ – Síndrome Congênita do Zika Vírus
SNC – Sistema Nervoso Central
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
SUS – Serviço Único de Saúde
STORCH – Sífilis, Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus, Herpes Simples
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO.......................................................................................... 13
2 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 14
3 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................. 16
3.1 Zika vírus, Microcefalia e Síndrome Congênita do Zika ...........................16
3.2 Funcionalidade, incapacidade e Pediatric Evaluation of Disability
Inventory (PEDI)................................................................................................ 20
3.3 Sono e Brief Infant Sleep Questionnaire (BISQ) ....................................... 21
3.4 Rede de serviços de saúde e Redes de Atenção à Saúde......................... 22
4 HIPÓTESE ..................................................................................................... 25
5 OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 25
5.1 Objetivos Específicos ................................................................................. 25
6 MÉTODOS ..................................................................................................... 26
6.1 Desenho do estudo ...................................................................................... 26
6.2 Local e período do estudo............................................................................ 26
6.3 Critérios de elegibilidade ............................................................................. 26
6.3.1 Critérios de inclusão ................................................................................... 26
6.3.2 Critérios de exclusão................................................................................... 27
6.4 Coleta de dados............................................................................................ 27
6.4.1 Avaliação do desempenho funcional .......................................................... 27
6.4.2 Triagem do sono......................................................................................... 28
6.4.3 Descrição da rede de saúde....................................................................... 28
7 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ....................................................................... 29
7.1 Variáveis dependentes ............................................................................... 29
7.2 Variáveis independentes ............................................................................. 29
7.3 Variáveis de controle ................................................................................... 29
8 CÁLCULO AMOSTRAL ................................................................................. 30
9 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................. 30
10 ASPECTOS ÉTICOS ...................................................................................... 30
11 RESULTADOS ............................................................................................... 32
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 33
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 34
Apêndice A – Carta de Anuência Hospital das Clínicas ................................. 42
Apêndice B – Carta de Anuência ONG AMAR ................................................. 43
Apêndice C – Carta de Anuência II GERES-PE ................................................. 44
Apêndice D – Carta de Anuência XII GERES-PE .............................................. 45
Apêndice E – Formulário para Coleta de Dados .............................................. 46
Apêndice F – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................... 47
Apêndice G – Artigo Original 1 ......................................................................... 49
Apêndice H – Artigo Original 2 ......................................................................... 67
Anexo 1 – Questionário de Desempenho Funcional ....................................... 85
Anexo 2 – Breve Questionário sobre o Sono na Infância ............................... 91
Anexo 3 – Parecer Consubstanciado do CEP ................................................. 93
13
1 APRESENTAÇÃO
Esta dissertação faz parte da linha de pesquisa “Desempenho Físico-funcional e
Qualidade de Vida” do Programa de Pós-graduação Strictu Sensu em
Fisioterapia, nível mestrado, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Este estudo integra o grupo de pesquisa
“Fisioterapia na Atenção à Saúde Individual e Comunitária” e foi realizado com o
apoio do Laboratório de Estudos em Pediatria (LEPED), do Departamento de
Fisioterapia da UFPE. O estudo teve por objetivo investigar o desempenho
funcional e o sono de crianças com Síndrome Congênita do Zika Vírus, assim
como a rede de saúde utilizada por estas crianças, a fim de elucidar algumas
lacunas que existem sobre o assunto. A motivação deste trabalho foi a
necessidade de compreensão e acompanhamento desta nova condição clínica,
que está sendo compreendida pouco a pouco e que, com o avançar da idade
das crianças comprometidas, está trazendo novas dúvidas e desafios. Os
achados deste estudo devem, assim, contribuir de forma significativa para o
planejamento de diretrizes, protocolos e ações para estas crianças, além de
despertar um novo olhar para as dificuldades apresentadas pelas crianças e
seus familiares. A dissertação foi elaborada de acordo com as normas vigentes
do Programa de Pós-graduação e a partir de seus resultados foram elaborados
dois artigos originais abordando aspectos relacionados à criança com Síndrome
Congênita do Zika Vírus: o primeiro relatando o desempenho funcional e o sono
em crianças até 18 meses, intitulado "AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
FUNCIONAL DE CRIANÇAS COM SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA", que
será submetido à revista Developmental Medicine and Child Neurology (conceito
A2 na área 21 do CAPES); o segundo, descrevendo a rede de serviços de saúde
utilizada pelas crianças, intitulado "SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA: UM
DESAFIO A SER ENFRETADO PELAS REDES DE SAÚDE”, que foi submetido
à revista Ciência e Saúde Coletiva (conceito B1 na área 21 do CAPES).
14
2 INTRODUÇÃO
O aumento abrupto no número de casos suspeitos de microcefalia em
recém-nascidos em Pernambuco, ocorrido a partir de agosto de 2015, despertou
a atenção dos profissionais dos sistemas público e privado de saúde do estado
(SOUZA et al., 2016). Em novembro de 2015, o Ministério da Saúde (MS)
divulgou este aumento no número de casos de microcefalia e uma possível
associação desta com a infecção pelo Zika vírus durante a gestação. No mesmo
ano a Organização Pan-Americana de Saúde emitiu um alerta sobre esta nova
epidemia no Brasil (SCHULER-FACCINI et al., 2016).
Inicialmente, alguns estudos começaram a descrever a condição, que
passou a ser denominada de Síndrome Congênita do Zika (SCZ), a partir de
diversos achados sobre o sistema neurológico e visual (MOORE et al., 2016;
VAN DER LINDEN; FILHO; et al., 2016; VAN DER LINDEN; PESSOA; et al.,
2016). Outros estudos começaram destacar a necessidade de uma equipe
multidisciplinar para o acompanhamento destas crianças, diante gravidade dos
achados neurológicos e visuais (BRUNONI et al., 2016; SICHIERI et al., 2016).
A partir de então, várias ações visando medidas preventivas de
intervenção e organização das redes de saúde para o enfrentamento da infecção
pelo Zika vírus foram propostas pelo MS (BRASIL, 2015b, 2016a, b, e). Contudo,
para nortear diretrizes e orientações para o acompanhamento destas crianças,
incluindo diagnóstico, evolução e a rede de serviços de saúde utilizadas, é
necessário descrever melhor essa nova síndrome, trazendo uma avaliação
clínica mais funcional destas crianças e, para o aperfeiçoamento das redes de
saúde é necessária uma descrição detalhada da rede, onde estas crianças estão
inseridas.
Em nossas buscas, não encontramos estudos que relatassem a rede de
saúde utilizadas por estas crianças e, até o momento, pouco se sabe sobre as
redes de saúde que estas crianças estão inseridas e se seguem ou não, o
modelo proposto pelo MS. Também observamos que, na literatura, pouco se
sabe quanto às alterações comportamentais exibidas pelas crianças, bem como
sobre seu desempenho funcional e influência desta condição sobre o sono. Na
infância, um instrumento utilizado para avaliação detalhada do desempenho
15
funcional é o PEDI (Pediatric Evaluation of Disability Inventory). Trata-se de
questionário, traduzido e validado para a realidade brasileira, aplicado por meio
de uma entrevista com o cuidador, através do qual é possível avaliar o
desempenho funcional e a independência nas atividades de vida diária de
crianças (MANCINI, 2005).
Acredita-se que, aspectos como funcionalidade e sono são fundamentais
para o norteamento e elaboração de propostas terapêuticas a curto, médio e
longo prazo e que a descrição da rede de saúde é necessária para um melhor
planejamento e aperfeiçoamento da assistência à saúde dada às crianças com
SCZ. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho
funcional e o sono de crianças com SCZ, entre 6 meses e 18 meses de idade e
descrever a rede de saúde utilizadas por crianças com SCZ do interior de
Pernambuco.
16
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Zika vírus, Microcefalia e Síndrome Congênita do Zika
O Zika vírus é um arbovírus de ácido ribonucléico (ARN) de sentido
positivo do gênero Flavivírus da família Flaviviridae (YUN; LEE, 2017). O Zika
vírus foi identificado pela primeira vez na Uganda em 1947, contudo apenas de
forma esporádica. Em 2007 o vírus foi detectado fora da África e se alastrou
pelos Estados Unidos, América Central e Caribe, em 2013 foi detectado o
primeiro grande surto na Polinésia Francesa, sendo associado com o aumento
em mais de 20 vezes a incidência da Síndrome de Guillain-Barré. Entretanto, só
é relatado no Brasil no início de 2015, após exames realizados em residentes do
Nordeste que apresentaram sintomas comuns de febre, erupção cutânea,
mialgias / artralgia e conjuntivite (WANG et al., 2017; YUN; LEE, 2017).
A microcefalia é considerada um sinal clínico e não uma doença. Ela é
definida como uma condição em que o bebê tem a cabeça menor, quando
comparada com os outros bebês da mesma idade e sexo (WHO, 2016). O MS
utilizou a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) baseada na
tabela de Estudo Internacional de Crescimento Fetal e do Recém-Nascido:
Padrões para o Século 21 (Intergrowth), que considera, (i) recém-nascidos com
um perímetro cefálico inferior a -2 desvios-padrão, ou seja, mais de 2 desvios-
padrão abaixo da média para idade gestacional e sexo, como microcefalia e (ii)
recém-nascidos com um perímetro cefálico inferior a -3 desvios-padrão, ou seja,
mais de 3 desvios-padrão abaixo da média para idade gestacional e sexo, como
microcefalia grave (BRASIL, 2016a; VAN DER LINDEN; PESSOA; et al., 2016;
WHO, 2016).
O termo Síndrome Congênita do Zika, é um termo utilizado por alguns
artigos e citado nas orientações do MS (BRASIL, 2016e; MOORE et al., 2016;
VAN DER LINDEN; FILHO; et al., 2016; VAN DER LINDEN; PESSOA; et al.,
2016). Este termo foi adotado por uma revisão de estudos de coorte, caso-
controle e observacionais que listou vários sinais e características clínicas como:
diminuição do volume cerebral, ventriculomegalia, calcificações subcorticais,
hipoplasia ou ausência do corpo caloso e diminuição da mielina, além de
alterações visuais e presença de artrogripose (MOORE et al., 2016).
17
No informe sobre a incidência de dezembro de 2016, o MS relata 10.867
casos notificados, com 2.366 casos investigados e confirmados. Dos casos
confirmados por Zika, 697 seguem o critério laboratorial específico para vírus
Zika, técnica de LCR (líquido cefalorraquidiano) e sorologia; e os demais foram
considerados casos sugestivos de infecção congênita pelo Zika vírus e outros
vírus (BRASIL, 2015b, 2016d).
O MS até o momento tem usado o seguinte esquema de classificação:
notifica no primeiro momento os casos de crianças com mais de 48h que se
encaixam na classificação de Síndrome Congênita e que se enquadrem em um
ou mais dos seguintes critérios (BRASIL, 2016e):
1 - Critério antropométrico
Pré-termo (idade gestacional menor que 37 semanas): circunferência
craniana menor que -2 desvios-padrão, segundo a curva de crescimento
da intergrowth, de acordo com a idade gestacional e sexo.
A termo ou pós-termo (idade gestacional igual ou maior que 37 semanas):
circunferência craniana menor que -2 desvios-padrão, segundo a OMS,
de acordo com a idade gestacional e sexo.
2 - Critério clínico
Desproporção craniofacial (macro ou microcrania em relação à face);
Malformação articular dos membros (artrogripose);
Observação da persistência de duas ou mais manifestações neurológicas,
visuais ou auditivas, quando não houver outra causa conhecida,
independente do histórico materno;
Duas ou mais manifestações neurológicas, visuais ou auditivas, mesmo
não persistente, de mãe com histórico de suspeita/confirmação de sífilis,
toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes simples (STORCH) +
Zika durante a gestação;
Alteração do crescimento/desenvolvimento neuropsicomotor (escala de
Denver disponível na caderneta da criança), sem causa definida,
independentemente do histórico clínico de infecção na gestação.
18
Após este primeiro momento de notificação de casos com Síndrome
congênita as crianças podem ser classificadas com infecção congênita sem
identificação etiológica ou com identificação etiológica.
1- Infecção congênita sem identificação etiológica
a) Caso confirmado de infecção congênita sem identificação etiológica:
Caso com laudo descrevendo duas ou mais manifestações neurológicas,
visuais ou auditivas, com relato de exantema ou febre, sem causa definida
durante a gestação e que apresentar um dos seguintes critérios: Sem
resultado laboratorial, por falta ou erro na coleta da amostra da mãe ou RN;
Resultado laboratorial negativo para STORCH+Zika, realizados em amostra
da mãe ou RN, de acordo com os protocolos específicos para cada doença
e disponibilidade dos testes.
b) Caso provável de infecção congênita sem identificação etiológica:
Caso que possuir duas ou mais manifestações neurológicas, visuais ou
auditivas, de mães sem relato de exantema ou febre, sem causa definida
durante a gestação e que apresentarem um dos seguintes critérios: Sem
resultado laboratorial, por falta ou erro na coleta da amostra da mãe ou RN;
Resultado laboratorial negativo para STORCH+Zika realizados, em amostra
da mãe ou RN, de acordo com os protocolos específicos para cada doença
e disponibilidade dos testes.
2- Infecção congênita com identificação etiológica
c) Caso confirmado de infecção congênita pelo Zika vírus:
Caso com manifestações neurológicas, visuais ou auditivas com resultado
positivo ou reagente para o Zika vírus no teste com melhor desempenho, se
cumprida as exigências de qualidade para realização do teste (coleta até o
8º dia de vida, tipo de material e processamento).
d) Caso confirmado de infecção congênita por STORCH
Caso com manifestações neurológicas, visuais ou auditivas resultado
positivo ou reagente para sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus ou
19
herpes simples no teste com melhor desempenho, se cumprida as
exigências de qualidade para realização do teste (momento da coleta, tipo
de material e processamento)
e) Caso provável de infecção congênita por STORCH+Zika
Caso de mãe com relato de exantema ou febre, durante a gestação, sem
causa definida e que o recém-nascido apresente manifestações
neurológicas, visuais ou auditivas. E seu resultado laboratorial seja
inconclusivo para STORCH+Zika em amostras do recém-nascido ou da mãe,
dentro das primeiras 48 horas de vida.
As manifestações neurológicas, visuais ou auditivas foram listadas nas
orientações do MS, como exposto abaixo (BRASIL, 2016e):
Alterações físicas: desproporção craniofacial, alteração de
PC/hidrocefalia pela expansão da fontanela anterior, visuais (desatenção
visual/ estrabismo manifestos/nistagmo), hipertonia, luxação congênita de
quadril.
Alterações funcionais: refluxo gastroesofágico/disfagia,
epilepsia/espasmos, irritabilidade, alterações visuais,
hipertonia/persistência dos reflexos arcaicos (reflexo de retificação
cervical assimétrico).
Alterações neurossensoriais: alterações estruturais do SNC (calcificação,
dismorfias do corpo caloso e ventriculomegalia), alterações do BERA
(exame do potencial evocado auditivo do tronco encefálico), alterações no
mapeamento de retina/ reflexo olho vermelho / foto documentação digital
da retina.
Na atualidade, os achados da SCZ são descritos mais especificamente
baseados em exames de imagens como: tomografia computadorizada e
ressonância magnética (ARAGÃO et al., 2016; BACKES; COLON; HOFMAN,
2013; BAPTISTA; QUAGHEBEUR; ALARCON, 2016; CAVALHEIRO et al., 2016;
MIRANDA-FILHO et al., 2016; MOORE et al., 2016; MOURA DA SILVA et al.,
2016; VAN DER LINDEN; FILHO; et al., 2016; VAN DER LINDEN; PESSOA; et
al., 2016) e os achados visuais utilizam exames de imagem como tomografia por
20
coerência óptica e exames de fundoscopia(VENTURA; MAIA; et al., 2016;
VENTURA; VENTURA; et al., 2016), os quais trazem achados utilizados pelo MS
como as manifestações neurológicas e visuais (BRASIL, 2016e).
3.2 Funcionalidade, incapacidade e Pediatric Evaluation of Disability
Inventory (PEDI)
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
(CIF), tem como objetivo geral proporcionar uma linguagem unificada e
padronizada para a descrição da saúde e de estados relacionados com a saúde.
Neste sentido, a CIF oferece uma abordagem ampla que reflete a interação entre
as condições de saúde e os fatores contextuais, considerando o funcionamento
de órgãos ou estruturas corporais e possíveis limitações na execução de
atividades e participação social no meio em que a pessoa vive (LEMOS; DE LA;
VERÍSSIMO, 2016; OMS, 2004).
Segundo a CIF, a funcionalidade e a incapacidade de um indivíduo são
concebidas como uma interação dinâmica entre os estados de saúde (doenças,
perturbações, lesões, traumas, etc.) e os fatores contextuais (pessoais e
ambientais). O termo funcionalidade pode englobar as funções do corpo em sua
totalidade e seus aspectos, tanto na perspectiva individual como social de uma
pessoa. O termo incapacidade inclui deficiências e limitações em alguma
atividade ou restrição na sua participação (OMS 2004). Influenciada pela CIF,
surge o PEDI, com o propósito de fornecer uma descrição detalhada do
desempenho funcional da criança (MANCINI, 2005).
O PEDI é um instrumento de avaliação que tem como característica
principal, coletar informações a respeito da capacidade e desempenho em três
áreas de atividades: habilidades funcionais (consiste em aquisições da criança
nas áreas de autocuidado, mobilidade e função social), assistência do cuidador
(mesmas subáreas citadas anteriormente, porém avalia o quanto de ajuda a
criança precisa receber do cuidador para realizar a atividade) e modificações
(corresponde às adaptações necessárias para que a criança realize as
atividades, por exemplo, uso de órteses, próteses ou outro tipo de adaptação no
ambiente. Neste caso sendo específica para criança com deficiência ou
21
modificação geral para qualquer criança, outro exemplo seria o uso de
engrossador na colher para criança com deficiência e o uso de redutor de vaso).
Para a análise das habilidades funcionais, são avaliadas 73 atividades de
autocuidado, 59 de mobilidade e 65 de função social, perfazendo um total de 197
atividades nas quais cada criança é considerada capaz, pontuando 1, ou
incapaz, não pontuando. Para a determinação da necessidade de assistência
por parte do cuidador, há avaliação de oito subáreas do autocuidado, sete da
mobilidade e cinco da função social, sendo o grau de dependência caracterizado
como sendo total (pontuação = 0, a criança não participa ou antecipa a
atividade), máximo (1, a criança reconhece o ambiente e mostra que identifica a
situação), moderado (2, participa com alguma vocalização ou movimentação),
mínimo (3, realiza movimentação com auxílio em pontos chave, por exemplo),
necessita apenas supervisão (4, é necessário que tenha algum cuidador
presente que o relembre de alguns passos na tarefa, por exemplo) e é
independente (5, realiza sem a necessidade da atividade ser refeita por um
adulto). O PEDI foi desenvolvido nos Estados Unidos, mas foi validado para a
população brasileira (HALEY et al., 1992; MANCINI, 2005).
3.3 Sono e Brief Infant Sleep Questionnaire (BISQ)
O sono durante a infância é marcadamente diferente do sono na idade
adulta. Um recém-nascido dorme em média 16-17 horas por dia. Aos 6 meses
de idade, o sono geralmente diminui para 13-14 horas por dia, e o período
contínuo de sono mais longo é de cerca de 6 horas. A partir dos 12 meses de
idade aumenta o período de sono contínuo, que chega a cerca de 8-9 horas em
média (ANDERS; KEENER, 1985; EDNICK et al., 2009). Os métodos de
avaliação do sono variam desde a polissonografia noturna, gravações de vídeos,
almofadas sensíveis a pressão até observação e relatos diretos, entretanto, uma
revisão comenta que, cada técnica tem suas próprias limitações e depende
fortemente do objetivo e recursos da pesquisa (EDNICK et al., 2009).
A BISQ é uma medida única multidimensional adequada para uso com
crianças, que foi desenvolvido com base em uma revisão de estudos clínicos
sobre a condição de sono em crianças. É uma ferramenta de triagem relatada
pelos pais ou cuidador que avalia em 13 itens problemas de sono em crianças
22
com idades entre 0-29 meses. Sua aplicação tem duração de cerca de 5 a 10
minutos e já foi traduzida para o português com preservação dos itens da escala
original.
A avaliação é realizada através do relato do responsável, sobre os
seguintes itens: duração noturna do sono, duração do sono, número de acordes
noturnos, duração da vigília durante a noite; tempo de início do sono noturno,
tempo de assentamento (latência para adormecer durante a noite); método para
adormecer; localização do sono dentro da casa; posição do corpo preferido para
dormir, idade e sexo da criança; ordem de nascimento; papel do respondente
(NUNES, M. L.; KAMPFF; SADEH, 2012; SADEH, 2004).
3.4 Rede de serviços de saúde e Redes de Atenção à Saúde
No processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS), o termo
“rede” por muitas vezes é utilizado com o intuito de descrever um grupo de
serviços semelhantes (BRASIL, 2009) e, neste estudo, este termo irá descrever
os serviços de saúde utilizados por crianças com SCZ. Entretanto, as Redes de
Atenção à Saúde (RAS) são redes específicas. As RAS são organizações
poliárquicas de serviços de saúde agrupados em conjuntos, interligados entre si
por uma missão única, por objetivos comuns e interdependentes, que ofertam a
uma determinada população uma atenção contínua e integral, coordenada pela
atenção primária à saúde (MENDES, 2010).
As RAS têm diversos atributos, entre eles, a atenção básica estruturada
como primeiro ponto de atenção e principal porta de entrada do sistema. Dentre
os seus princípios, podemos ressaltar cuidado realizado por equipes
multiprofissionais, monitoramento e avaliação da qualidade dos serviços por
meio de indicadores, humanização da atenção e atuação territorial a partir das
necessidades de saúde das respectivas populações (BRASIL, 2013; MENDES,
2010).
A organização das RAS é elaborada para nortear conceitos como a
metodologia Paideia, onde os conceitos da organização estão inseridos no eixo
de apoio matricial e equipe de referência. Este eixo busca levar a lógica da
cogestão e do apoio das relações interprofissionais, para substituir as
modalidades tradicionais de relação burocrática e com grande desequilíbrio de
23
poder, a partir da contribuição das organizações em RAS (CAMPOS et al., 2014),
mostrando assim o quanto essa organização pode ser importante e singular para
os serviços de saúde.
Ao observarmos as diretrizes, orientações e portarias relacionadas ao
cuidado com a criança, começamos a compreender uma linha de cuidado que
está sendo desenvolvida a partir de políticas que já existem (BRASIL, 2010,
2012, 2013). Tais políticas buscam se ajustar às particularidades que a SCZ
apresentou (BRASIL, 2015b, 2016a, b), assim tentando reparar a falta de
investimento e atenção para o cuidado das crianças com necessidades
especiais.
Estudos discutem a organização e comentam sobre a má distribuição
geográfica dos serviços de saúde mais complexos (LIMA et al., 2012; PESSÔA
et al., 2016; SÁ et al., 2015), onde observamos que determinados serviços não
chegam a todos que precisam. Este ponto levanta uma série de discussões
sobre a regionalização na saúde, no tocante da sua distribuição geográfica,
quando olhamos a realidade da saúde da criança.
Em 2006, foi estruturado um documento contendo as diretrizes do Pacto
pela Saúde, que incluía três dimensões: pela Vida, em Defesa do SUS e de
Gestão (LIMA et al., 2012). O documento “Pacto de Gestão”, trouxe discussões
sobre a regionalização na saúde, com o objetivo de garantir a resolutividade das
ações e a universalidade de acesso aos serviços de saúde (BRASIL, 2005).
Entretanto, a dificuldade de acesso aos serviços de reabilitação de pacientes
que residem longe dos grandes centros urbanos, ainda se mostra preocupante
(SÁ et al., 2015). A portaria interministerial Nº - 405/2016 do MS define, na
estratégia de ação rápida, que cada criança com microcefalia deve ser
encaminhada, de acordo com suas necessidades, aos serviços assistenciais
mais adequados, provendo a assistência desde a puericultura e estimulação
precoce até a atenção especializada (BRASIL, 2016f).
O MS comenta que, a partir da organização em RAS, a atenção primária
a saúde deve promover orientação, acolhimento, acompanhamento por ações
intersetoriais e proporcionar uma continuidade ao cuidado da criança (BRASIL,
2016e), tendo a atenção básica como coordenadora e ordenadora do cuidado
24
(BRASIL, 2014). Podemos destacar a atuação das equipes de Atenção
Básica/Saúde da Família (eAB/SF), que devem atuar acolhendo dúvidas e
angústias por meio de escuta qualificada das famílias, assim como oferecendo
apoio psicossocial. Contando com o apoio das ações propostas pelos Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS) e com as equipes do núcleo de
saúde da família (NASF), que também devem auxiliar as eSF visando ampliar o
cuidado as crianças, com ações que vão desde o pré-natal até a reabilitação
(BRASIL, 2016e). Assim, entendemos que o cuidado deve ser partilhado entre
os diversos pontos da rede, sendo integrados entre si, buscando potencializar o
modelo da RAS para o cuidado da criança com SCZ (BRASIL, 2016e).
25
4 HIPÓTESE
Crianças com SCZ apresentam baixos índices de desempenho funcional
e má qualidade do sono.
5 OBJETIVO GERAL
Avaliar o desempenho funcional e o sono de crianças com SCZ entre 6 e
18 meses.
5.1 Objetivos específicos
Artigo 1:
Descrever os dados sociodemográficos das crianças com SCZ
Avaliar o desempenho funcional de criança com SCZ através do
instrumento PEDI
Avaliar o sono de criança com SCZ através da escala BISQ
Correlacionar o desempenho funcional com a idade em meses
Artigo 2:
Descrever a rede de serviços de saúde utilizada por famílias com crianças
com SCZ de 11 municípios do interior do Estado de Pernambuco.
Descrever os dados sociodemográficos das crianças com SCZ
Descrever as especialidades profissionais utilizadas pelas crianças com
SCZ
Descrever a oferta de serviços no interior
26
6 MÉTODOS
6.1 Desenho do estudo
Realizou-se um estudo de delineamento transversal e um segundo um
estudo descritivo tipo série de casos, com crianças entre 6 e 18 meses de idade
com SCZ.
6.2 Local e período do estudo
Foram selecionados hospitais, serviços de reabilitação, organizações não
governamentais (ONG) que prestassem atendimento a crianças com infecções
congênitas, além das Gerências Regionais de Saúde do Governo do Estado de
Pernambuco. Foi realizado um contato com estes serviços e após o recebimento
da carta de anuência foi iniciado o recrutamento pesquisa. As crianças foram
recrutadas nos setores de puericultura do Hospital das Clínicas da Universidade
Federal de Pernambuco (APÊNDICE A), na ONG Alianças de Mães e Famílias
Raras (AMAR) (APÊNDICE B) durante as reuniões e debates da ONG e nas
visitas domiciliares dos apoiadores de microcefalia da II Gerência regional de
saúde (APÊNDICE C) e XII Gerência regional de saúde (APÊNDICE D) ambas
de Pernambuco. Que acompanham as seguintes cidades: Goiana, Aliança,
Camutanga, Condado, Ferreiros, Itambé, Itaquitinga, Macaparana, São Vicente
Ferrer, Timbaúba, Bom Jardim, Buenos Aires, Carpina, Casinhas, Cumaru, Feira
Nova, João Alfredo, Lagoa de Itaenga, Lagoa do Carro, Limoeiro, Machados,
Nazaré da Mata, Orobó, Passira, Paudalho, Salgadinho, Surubim, Tracunhaém,
Vertente do Lério e Vicência. As coletas foram realizadas entre os meses de
setembro de 2016 a março de 2017.
6.3 Critérios de elegibilidade
6.3.1 Critérios de inclusão
Foram selecionados lactentes entre 6 e 18 meses de vida, diagnosticados
com SCZ ou Infecção Congênita por STORCH+Zika que obedeceram às
seguintes definições:
Caso confirmado de infecção congênita pelo Zika vírus: Caso com
manifestações neurológicas, visuais ou auditivas com resultado positivo
ou reagente para o Zika vírus no teste com melhor desempenho, se
27
cumprida as exigências de qualidade para realização do teste (coleta até
o 8º dia de vida, tipo de material e processamento).
Caso provável de infecção congênita por STORCH+Zika: caso de mãe
com relato de exantema ou febre durante a gestação, sem causa definida,
e que o recém-nascido apresente manifestações neurológicas, visuais ou
auditivas. Seu resultado laboratorial deve ser inconclusivo para
STORCH+Zika em amostras do recém-nascido ou da mãe, dentro das
primeiras 48 horas de vida (BRASIL, 2016e).
6.3.2 Critérios de exclusão
Foram excluídas crianças com infecção congênita confirmadas para
STORCH, e crianças que foram submetidas a processo cirúrgico para fixação
articular.
6.4 Coleta de dados
6.4.1 Avaliação do desempenho funcional
O instrumento utilizado para a avaliação do desempenho funcional foi o
PEDI - Pediatric Evaluation of Disability Inventory, em sua versão validada para
a população brasileira (ANEXO 1). Para sua aplicação, foi utilizado o método de
entrevista com os cuidadores (mãe, pai ou responsável), que responderam às
perguntas estabelecidas no questionário em um local reservado (HALEY et al.,
1992; MANCINI, 2005).
Esse instrumento de avaliação tem como característica principal coletar
informações a respeito da capacidade e desempenho funcional. Neste estudo,
foi utilizada apenas a Parte I - habilidades funcionais que consistem em
aquisições da criança em três áreas: Área autocuidado - avalia as habilidades
de alimentação, cuidado pessoal, vestir-se e uso de toalete; Área mobilidade -
avalia transferência e mobilidade em ambientes internos e externos; Área função
social - agrupa capacidade de comunicação, interação social e tarefas
domésticas e da comunidade (HALEY et al., 1992; MANCINI, 2005).
Ao final da pontuação de cada área, é produzido um escore bruto que
informa sobre o desempenho das crianças nas áreas avaliadas. A transformação
do escore bruto em escore normativo permite a classificação quanto ao
28
desempenho funcional. Escores normativos com valores entre 30 e 70 são
indicativos de desempenho funcional adequado ou esperado para crianças
brasileiras com desenvolvimento típico. Valores abaixo de 30 são classificados
como desempenho funcional atrasado ou desempenho significativamente
inferior ao demostrado por crianças da mesma faixa etária (MANCINI, 2005).
6.4.2 Triagem do sono
O questionário Brief Infant Sleep Questionnaire (BISQ) (ANEXO 2) é uma
ferramenta de triagem que utiliza informações relatadas pelos pais ou cuidador,
que avalia alterações do sono em crianças com idades entre 0-29 meses. Sua
aplicação que dura cerca 5 a 10 minutos, apresenta 13 itens e foi traduzida para
o português preservando os mesmos 13 itens da escala original.
A avaliação é realizada através do relato do responsável, sobre os
seguintes itens: duração noturna do sono; duração diurna do sono; número de
vezes que desperta no período noturno; duração da vigília durante a noite; tempo
de início do sono noturno, tempo de assentamento (latência para adormecer
durante a noite); método para adormecer; localização do sono dentro da casa;
posição do corpo preferida para dormir, idade e sexo da criança; ordem de
nascimento; papel do respondente (NUNES, M. L.; KAMPFF; SADEH, 2012;
SADEH, 2004).
6.4.3 Descrição da rede de saúde
A coleta de dados seguiu o seguinte protocolo: (i) contato telefônico, onde
a mãe ou responsável recebia um convite verbal para responder a pesquisa e se
aceitava a presença de um pesquisador durante a visita domiciliar de rotina do
apoiador de microcefalia; (ii) a visita domiciliar era agendada seguindo a rotina
da regional de saúde; (iii) a entrevista era realizada com a mãe ou responsável
da criança, utilizando um questionário semiestruturado, contendo informações
sobre o histórico obstétrico e ginecológico, período pré-natal e perinatal,
manifestação infecciosa durante a gestação, variáveis sociodemográficas e
antecedentes epidemiológicos da mãe. Em relação à criança, foram coletadas
informações sobre exames realizados, medicamentos e serviços de saúde
utilizados, tipo de alimentação, entre outras (APÊNDICE E).
29
7 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS
7.1 Variáveis dependentes:
Variável Medida Tipo
Desempenho funcional Adequado Atrasado
Qualitativa ordinal
Sono Descritiva Descritiva
7.2 Variáveis independentes:
Variável Medida Tipo
Idade Meses Quantitativa contínua
Sexo Feminino, Masculino Qualitativa nominal
Peso Gramas (g) Quantitativa contínua
Idade Gestacional Meses Quantitativa contínua
Perímetro Cefálico Centímetros (cm) Quantitativa contínua
Tipo de parto Normal, Cesária Qualitativa nominal
Consultas no pré-natal Numérica Quantitativa discreta
7.3 Variáveis de controle:
Variável Medida Tipo
Idade materna Anos Quantitativa contínua
Número de filhos Numérica Quantitativa discreta
Rash cutâneo Presente, ausente Qualitativa nominal
Ocupação Trabalham fora, Ocupadas com o lar
Qualitativa nominal
Renda Menor que um salário mínimo,
Entre 1 e 2 salários mínimos,
Acima de 3 salários mínimos
Qualitativa ordinal
Estado civil Solteira, casada, união estável, separada e
viúva
Qualitativa nominal
30
8 CÁLCULO AMOSTRAL
Para se obter o tamanho da amostra, um cálculo foi realizado pelo site
Openepi, utilizando o tamanho amostral para frequência em uma população
(amostras aleatórias). Foram realizados cálculos para as frequências de atraso
do desempenho funcional de cada área avaliada, com uma amostra piloto de 31
crianças de uma população relatada de 378 casos confirmados e investigados
(BRASIL, 2016c). Foi admitido um nível de confiança de 95% e um erro relativo
de 10%, utilizando-se a frequência do evento: 35% de atraso na área de
autocuidado, 99% na área de mobilidade e 19% na área função social. Foram
encontrados os seguintes tamanhos de amostra para as áreas de autocuidado,
mobilidade e função social respectivamente, 72 crianças, 4 crianças e 52
crianças. Por fim, ao maior tamanho amostral foi adicionado 10% para possíveis
perdas, resultando assim numa amostra de 79 crianças.
9 ANÁLISE DOS DADOS
Utilizamos para a análise de dados o pacote de software estatístico
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows (Versão 16.0).
As variáveis categóricas foram expressas como frequências relativas e
absolutas. As variáveis contínuas foram expressas como média e desvio padrão
(DP), as variáveis discretas foram expressas por mediana e quartis. Para a
análise do desempenho funcional, foram formados dois grupos de crianças de
acordo com a idade, de 6-11 meses e de 12-18 meses, que seguiu a divisão dos
grupos por faixa etária do manual do PEDI (MANCINI, 2005). A distribuição de
normalidade das variáveis contínuas foi realizada por meio do teste de
Kolmogorov-Smirnov, e a hipótese de igualdade de variâncias pelo teste F de
Levene. Os resultados foram considerados significativos com valor de p < 0,05.
10 ASPECTOS ÉTICOS
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (ANEXO 3) da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (CAAE - 47494115.3.0000.5208).
Todos os responsáveis pelas crianças foram orientados e esclarecidos sobre a
pesquisa e seus objetivos, assim como do sigilo de suas informações, além de
receberem orientações sobre desenvolvimento motor, adequação da postura
sentada, em calças e cadeiras de posicionamento de baixo custo. Os
31
responsáveis legais dos voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE F), conforme a resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS), dando ciência de ter conhecimento dos passos da
pesquisa. Todos os dados coletados foram registrados em um computador de
uso privativo da pesquisadora, para garantir o sigilo destas informações.
32
11 RESULTADOS
Artigo Original 1 (APÊNDICE G)
Artigo Original 2 (APÊNDICE H)
33
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em crianças com SCZ na faixa etária entre 6 e 18 meses foram
observados altos índices de atraso para desempenhar habilidades funcionais
nas áreas de autocuidado, que envolve habilidades de alimentação e cuidado
pessoal, e função social, que agrupa capacidades de comunicação e interação
social. Para a área de mobilidade, que avalia transferências e mobilidade em
ambientes internos e externos, a totalidade da amostra apresentou atraso no
desempenho. Os hábitos de sono das crianças avaliadas foram considerados
dentro de um padrão de normalidade. Sobre a rede de serviços de saúde
utilizada por uma amostra de crianças com SCZ do interior de Pernambuco, foi
observado que, quando comparada à Rede de Atenção à Saúde proposta pelo
MS, a rede de serviços de saúde utilizada se apresentou fragmentada, com uma
demanda de muitos profissionais de saúde que não se comunicam entre si e com
uma rede restrita de serviços de reabilitação estadual e municipal, que não
contam com a coordenação adequada dos serviços pela atenção básica.
Outros resultados paralelos foram alcançados neste período da pós-
graduação, que implicaram na formação profissional e no benefício à população
acometida pela SCZ: duas capacitações foram ministradas para os profissionais
de saúde das gerências regionais de saúde, com ênfase na avaliação do
desenvolvimento neuropsicomotor; uma capacitação foi ministrada junto ao
Grupo de Trabalho da Fisioterapia para crianças com Síndrome Congênita do
Zika Vírus, do Conselho Regional de Fisioterapia - 1ª Região, com ênfase na
aplicação de técnicas de terapias manuais como um recurso a ser utilizado em
fisioterapia pediátrica. Outros desdobramentos, como: encaminhamentos de
crianças com SCZ ou de qualquer doença rara, para centros de reabilitação e
clínicas escolas que estivessem recebendo pacientes; organização de um
projeto de extensão com o objetivo de acolher crianças que não conseguiram
vagas de fisioterapia em outros serviços, além de propiciar aos alunos de
fisioterapia uma vivência com essas crianças; adequação de cadeiras para
fornecer às famílias uma opção e orientação de melhor postura e manutenção
da posição vertical, também foram frutos deste trabalho de pesquisa.
34
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42
APÊNDICE A – Carta de anuência Hospital das Clínicas
43
APÊNDICE B – Carta de anuência ONG AMAR
44
APÊNDICE C – Carta de anuência II GERES-PE
45
APÊNDICE D – Carta de anuência XII GERES-PE
46
APÊNDICE E – Formulário para coleta de dados
Ficha de avaliação
Nome:_______________________________________________________________
Data:_______________Escolaridade: _________________ Estado Civil:__________
Endereço: ____________________________________________________________
Nº de Filhos: ________ Profissão:__________________________ DN: ___/___/___
Idade: ____ Telefones: __________________Cidade : _________________________
Nome da criança: _____________________________________________________
Data de nascimento: __/__/____ Sexo: ( )Masculino ( ) Feminino
Ordem de nascimento da criança: ( )Mais velho ( ) Do meio ( ) Mais novo
Já sabia do diagnóstico: sim ( ) não ( ). Quantos meses:_____________
Nº de consultas no pré natal: ________ IG (sem): __________
Local do parto:_____________________________Tipo de parto: Cesárea ( ) Normal( )
Uso de: ( ) Álcool ( ) Tabagismo ( ) Drogas PC: __________ Peso ao nascer: ________g
( ) Diabetes ( ) Hipertensão ( ) D. cardíaca ( ) ITU Outras: _________________________
Uso de medicamentos: ( ) Sim ( ) Não, Quais? _________________________________
Sintomas de Arboviroses: sim ( ) não ( ) Quais:_____________________ Mês:________
Sorologia: positiva ( ) negativa ( ) Renda:______________ Beneficio: _______________
Medicação: _____________________Leite: ______________Órtese: _____________
Casa: _________Nºquartos___________Puericultura (local):____________________
Visita NASF:______PSF:_____ACS:______CRAS:______
Psicóloga:______________
Neuro:____________ Pediatra:_______________Oftalmol:____________________
Gastro:______________ Ortopedia:_________________Otori:___________________
Fisioterapia: _________________________/_________________________________
Fonoaudiologia: _________________________/______________________________
Terapia Ocupacional: _____________________/______________________________
Alteração Visual: SIM ( ) NÃO ( )
Alteração auditiva: SIM ( ) NÃO ( )
47
APÊNDICE F - Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (PARA RESPONSÁVEL LEGAL PELO MENOR DE 18 ANOS - Resolução 466/12) Solicitamos a sua autorização para convidar o (a) seu/sua filho (a) (ou menor que está sob sua responsabilidade) para participar, como voluntário (a), da pesquisa com título: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO FUNCIONAL DA CRIANÇA DE 6 MESES A 18 MESES COM SÍNDROME CONGÊNITA ZIKA VÍRUS. Esta pesquisa é de responsabilidade da pesquisadora Danielly Laís Pereira Lima Gomes (Endereço: Rua Padre Carapuceiro 537, Boa Viagem, Recife-PE, CEP: 51020-280, e-mail: [email protected]; Tel: 81 99873-9946) Caso este Termo de Consentimento contenha termos difíceis de compreender, suas dúvidas podem ser esclarecidas com o entrevistador. Quando todos os esclarecimentos forem dados, caso concorde que o (a) menor faça parte do estudo pedimos que rubrique todas as folhas e assine ao final deste documento, que está em duas vias: uma lhe será entregue e a outra ficará com o pesquisador responsável. Caso não concorde não haverá penalização nem para o (a) Sr. (a) nem para o/a voluntário/a que está sob sua responsabilidade. O (a) Sr. (a) poderá retirar seu consentimento a qualquer momento, também sem qualquer penalidade. INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Descrição da pesquisa: o estudo tem como objetivo avaliar o desempenho funcional (capacidades e independência da criança) e a qualidade do sono, através do relato da mãe ou cuidador. A coleta das informações será realizada através de entrevista com mãe/ cuidador no Laboratório de Estudos em Pediatria - UFPE. Riscos: A pesquisa apresentará riscos mínimos de um possível desconforto da mãe/cuidador em responder as questões, que será minimizado por uma entrevista em uma sala reservada. Benefícios: Os benefícios consistem na avaliação do desempenho funcional e qualidade do sono da criança. Assim como a orientação e aconselhamento aos pais ou responsáveis sobre a capacidade e independência da criança, proporcionando uma orientação específica caso seja identificado alterações no desempenho ou alterações do sono. As informações desta pesquisa serão confidenciais e serão divulgadas apenas em eventos ou publicações científicas, não havendo identificação dos voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo assegurado o sigilo sobre a participação do/a voluntário (a). Os dados coletados nesta pesquisa, ficarão armazenados em pastas de arquivo e computador pessoal, sob a responsabilidade do pesquisador no endereço acima informado, pelo período mínimo de 5 anos. O (a) senhor (a) não pagará nada e nem receberá nenhum pagamento para ele/ela participar desta pesquisa, sendo de forma voluntária. Em caso de dúvidas relacionadas aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da UFPE no endereço: (Avenida da Engenharia s/n – Prédio do CCS - 1º Andar, sala 4 - Cidade Universitária, Recife-PE, CEP: 50740-600, Tel.: (81) 2126.8588 – e-mail: [email protected])
48
CONSENTIMENTO DO RESPONSÁVEL PARA A PARTICIPAÇÃO DO/A VOLUNTÁRIO Eu, _____________________________________, CPF_________________, abaixo assinado, responsável por _______________________________, autorizo a sua participação no projeto AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO FUNCIONAL DA CRIANÇA DE 6 MESES A 18 MESES COM SÍNDROME CONGÊNITA ZIKA VÍRUS, como voluntário (a). Fui devidamente informado (a) e esclarecido (a) pela pesquisadora sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes da participação dele (a). Foi-me garantido que posso retirar o meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade (ou interrupção de seu acompanhamento/ assistência/tratamento) para mim ou para o (a) menor em questão.
Recife, ____ de ____________ de 2016. Assinatura do (da) responsável:
_______________________________________________ Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar. 02 testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores):
Nome: Nome:
Assinatura: Assinatura:
49
APÊNDICE G – Artigo original 1
Este artigo será submetido à revista Developmental Medicine and Child
Neurology (conceito A2 na área 21 do CAPES).
Resumo
Desde o aumento notório no número de casos suspeitos de microcefalia em recém-
nascidos vivos notificado ao Ministério da Saúde em 2015, associadas ao vírus Zika e
denominadas Síndrome Congênita do Zika – SCZ vários estudos começaram a descrever
outras características nas crianças afetadas, além da microcefalia. O objetivo deste
trabalho foi avaliar o desempenho funcional e descrever os hábitos de sono nestas
crianças. Foi um estudo de delineamento transversal e natureza descritiva. Foram
selecionadas crianças entre 6 e 18 meses deidade diagnosticados com SCZ ou Infecção
Congênita por STORCH+Zika. Avaliou-se o desempenho funcional utilizando o
PEDI/Pediatric Evaluation of Disability Inventory e as alterações do sono pelo Brief
Infant Sleep Questionnaire (BISQ), além de questionário para caracterização da amostra.
Foram incluídas 79 crianças com SCZ. Na avaliação das habilidades funcionais, 100% da
amostra apresentou atraso na área de mobilidade. Na avaliação quanto ao autocuidado e
função social, houve predomínio maior de atraso na faixa etária de 12-18 meses,
comparado com 6-11 meses. Comparando as duas faixas etárias, houve diferença
significativa para os escores brutos entre para crianças adequadas nos domínios
autocuidado (p = 0,042) e função social (p < 0,001) e para crianças atrasadas nos domínios
autocuidado e função social (p < 0,001). Não houve diferença significativa para o domínio
mobilidade entre as faixas etárias (p= 0,836), o que sugere estagnação das etapas motoras
e pobreza de movimentação ativa. Sobre o sono, 75,9% das mães não consideraram o
sono do seu filho um problema. Isto pode ser justificado por mais de 88,5% da amostra
não acordarem ou acordarem apenas uma vez durante o sono noturno e 67% dormirem
entre 8 e 12 horas por noite. Dada a severidade do acometimento funcional nestas
crianças, faz-se necessário levantar discussões sobre planejamentos terapêuticos
especializados, propostas de políticas públicas de saúde para acompanhamento e respaldo
a direitos de saúde e sociais como oferta de tratamento especializado a longo prazo, de
caráter multiprofissional e oferta de órteses e dispositivos de mobilidade, bem como
garantias de assistência e acompanhamento das mais diversas, que atendam a criança e
sua família na sua integralidade.
Palavras chave: Criança, Síndrome Congênita do Zika, Desempenho Funcional e Sono.
50
Abstract
Since the notorious increase in the number of suspected cases of microcephaly in
newborns notified to the Ministry of Health in 2015, several studies have begun to
describe other characteristics in affected children, in addition to microcephaly. The
objective of the study was to evaluate functional performance and to describe sleep habits.
This is a cross-sectional study with a descriptive nature. We selected children between 6
and 18 months of age diagnosed with CZS or Congenital Infection by STORCH + Zika.
A functional performance evaluation was performed using the PEDI / Pediatric
Evaluation of Disability Inventory and evaluation of sleep disturbance through the Brief
Infant Sleep Questionnaire (BISQ), in addition to a questionnaire for characterization of
the sample. 79 children with CZS were included in this study. In the evaluation of the
functional abilities, it was observed that 100% of the sample presented lagging in the area
of mobility. In the assessment of self-care and social function, there was a greater
prevalence of lagging in the age group of 12-18 months, when compared to the age group
of 6-11 months. For the age groups of 6-11 months and 12-18 months, there was a
significant difference for the gross scores among suitable children in the self-care
domains (p = 0.042) and social function (p <0.001) and for lagging children in the self-
care and function domains (P <0.001). There was no significant difference for the
mobility domain between the age groups (p = 0.836). Thus, these children present a
behavior that suggests stagnation of the motor stages and active movement poverty.
Regarding sleep results, 75.9% of mothers did not report considering their child's sleep
as a problem. This can be justified by long sleep duration of these children, since more
than 88.5% of the sample wakes up only once or does not wake up during nighttime sleep
and 67% sleep between 8 and 12 hours a night. Given the relevance of the functional
impairment observed in these children, it is necessary to raise discussions on specialized
therapeutic planning, public health policy proposals for follow-up and support to health
and social rights as a long-term specialized treatment offering, of a multiprofessional
nature and Provision of orthoses and mobility devices, as well as assurances of assistance
and accompaniment of the most diverse, that will attend the child and his family in their
entirety.
Keywords: children, congenital zika syndrome, functional performance, sleep
51
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO FUNCIONAL E DO SONO DE CRIANÇAS
COM SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA
Introdução
Em 2015 aconteceu em Pernambuco, um estado do nordeste do Brasil, um
expressivo aumento no número de casos suspeitos de microcefalia em recém-nascidos,
sendo tal fato notificado pelo Ministério da Saúde (MS) 1. A partir de novembro deste
mesmo ano foi apresentada pelo Centro de Controle de Doenças da União Europeia, a
hipótese da possível associação da infecção pelo Zika vírus com os casos de microcefalia
congênita no Brasil 2. Em dezembro de 2015 o MS divulgou o aumento do número de
casos de microcefalia e como causa possível a infecção pelo Zika vírus durante o período
gestacional. No último informe de incidência, os números divulgados atingiram 10.867
casos notificados no Brasil, com 2.366 casos investigados e confirmados 3.
Estudos começaram a descrever outras características, além da microcefalia, nas
crianças afetadas. Foram relatados achados neurológicos, como a diminuição do volume
cerebral, ventriculomegalia, calcificações subcorticais, hipoplasia ou ausência do corpo
caloso e diminuição da mielina 4,5. Também foram descritas alterações visuais 6,7,
associadas às características acima relatadas, mas sem necessariamente, apresentar a
condição de microcefalia 8. Foi a partir destes achados, associados ou não à presença de
microcefalia, que passou a ser utilizado o termo Síndrome Congênita do Zika (SCZ) 4,5.
As alterações neurológicas e visuais descritas sobre estas crianças são de grande
extensão e podem ser acompanhadas de espasticidade ou hipertonia, hiperreflexia e
irritabilidade excessiva 9–12.De acordo com Van Der Linden e colaboradores, crianças
com SCZ podem apresentar incapacidades motoras significativas, consistentes com uma
paralisia cerebral (PC) mista 8.
52
Diante de tantos sinais clínicos, há possibilidades de repercussões negativas sobre
o desempenho funcional e o sono das crianças com SCZ, fazendo com que, estes aspectos
devam ser mensurados e descritos através de avaliações específicas. Até o momento,
estudos que envolvam estes parâmetros não estão disponíveis. Assim, o presente estudo
pretende contribuir para o entendimento dessa nova condição clínica, buscando avaliar o
desempenho funcional e descrever os hábitos de sono, contribuindo assim, para o
planejamento e acompanhamento terapêutico destas crianças.
Métodos
Trata-se de um estudo de delineamento transversal e natureza descritiva. Para a
sua realização foram contactados serviços de reabilitação, hospitais, organizações não
governamentais (ONG) e Gerências Regionais de Saúde do Governo do Estado de
Pernambuco. Após anuência dos locais, as crianças foram recrutadas no Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, na ONG Alianças de Mães e Famílias
Raras e nas visitas domiciliares dos apoiadores de microcefalia da II e XII Gerências
Regionais de Saúde, que acompanham 31 cidades do estado de Pernambuco. As coletas
foram realizadas entre os meses de setembro de 2016 a março de 2017.
Participantes
Foram selecionadas crianças entre 6 e 18 meses de vida, diagnosticados com SCZ
ou Infecção Congênita por STORCH+Zika que obedecessem às seguintes classificações
do MS13: caso confirmado de infecção congênita pelo Zika vírus ou caso provável de
infecção congênita por STORCH (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes
simples) + Zika, sendo respectivamente descritas da seguinte forma: caso com
manifestações neurológicas, visuais ou auditivas, com resultado laboratorial positivo ou
reagente para o Zika vírus e caso de mãe com relato de exantema ou febre durante a
53
gestação, sem causa definida, e que o recém-nascido apresente manifestações
neurológicas, visuais ou auditivas com resultado laboratorial inconclusivo para
STORCH+Zika em amostras do recém-nascido ou da mãe 13. Foram excluídas crianças
com microcefalia decorrentes de causas não congênitas ou quaisquer outras causas 6
A entrevista foi realizada após a assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Pernambuco (CAE- 47494115.3.0000.5208). Baseado numa população de 378 casos
confirmados e investigados de síndromes congênitas 14, um cálculo amostral foi realizado
pelo site Openepi, utilizando-se a frequência do evento (atraso nas áreas de autocuidado,
mobilidade e função social). Estimou-se um erro absoluto de 10% e um nível de confiança
de 95%, utilizando a maior amostra das 3 áreas que foi 72 crianças, que com o adicional
de 10% para prevenir possíveis perdas, totalizou 79 crianças participantes.
Foi utilizada para a análise de dados, o software estatístico Statistical Package
for the Social Sciences (SPSS) para Windows (Versão 16.0). Para análise descritiva, as
crianças foram classificadas em dois grupos de acordo com a faixa etária: crianças de 6
a 11 meses e de 12-18 meses, essa divisão seguiu os grupos por faixa etária de acordo
com o manual do PEDI 15. As variáveis sociodemográficas e antropométricas foram
descritas por meio da distribuição de frequência para as variáveis categóricas e por média
e desvio padrão (DP) para as variáveis contínuas. A distribuição de normalidade das
variáveis contínuas foi realizada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov, e a hipótese
de igualdade de variâncias pelo teste F de Levene. Os resultados foram considerados
significativos com valor de p < 0,05.
54
Avaliação do desempenho funcional
O instrumento utilizado para a avaliação do desempenho funcional foi o PEDI -
Pediatric Evaluation of Disability Inventory, em sua versão validada para a população
brasileira. Para sua aplicação, foi utilizado o método de entrevista com os cuidadores
(mãe, pai ou responsável), que responderam às perguntas estabelecidas no questionário
em um local reservado 15,16.
Esse instrumento de avaliação tem como característica principal coletar
informações a respeito da capacidade e desempenho funcional. Neste estudo, foi utilizada
apenas a Parte I - habilidades funcionais, que consistem em aquisições da criança em três
áreas: Área de autocuidado - avalia as habilidades de alimentação, cuidado pessoal, vestir-
se e uso de toalete; Área mobilidade - avalia transferência e mobilidade em ambientes
internos e externos; Área de função social - agrupa capacidade de comunicação, interação
social e tarefas domésticas e da comunidade 15,16.
Ao final da pontuação dos itens de cada área é produzido um escore bruto que
informa a quantidade total pontuada nas áreas avaliadas. A transformação do escore bruto
em escore normativo permite a classificação quanto ao desempenho funcional. Escores
normativos com valores entre 30 e 70 são indicativos de desempenho funcional adequado
para crianças brasileiras com desenvolvimento típico. Valores abaixo de 30 são
classificados como desempenho funcional atrasado ou desempenho significativamente
inferior ao demostrado por crianças da mesma faixa etária 15.
Triagem do sono
O questionário Brief Infant Sleep Questionnaire (BISQ) é uma medida única
multidimensional adequada para uso com crianças. É uma ferramenta de triagem relatada
pelos pais ou cuidador que avalia alterações do sono em crianças com idades entre 0-29
55
meses. Sua aplicação que dura cerca 5 a 10 minutos, apresenta 13 itens e foi traduzida
para o português preservando os mesmos 13 itens da escala original.
A avaliação é realizada através do relato do responsável, sobre os seguintes itens:
duração noturna do sono; duração diurna do sono; número de vezes que desperta no
período noturno; duração da vigília durante a noite; tempo de início do sono noturno,
tempo de assentamento (latência para adormecer durante a noite); método para
adormecer; localização do sono dentro da casa; posição do corpo preferido para dormir,
idade da criança; sexo da criança; ordem de nascimento; papel do respondente 17,18.
Resultados
Foram convidadas a participar deste estudo 88 mães, das quais 3 foram excluídas
por apresentarem filhos com sorologia positiva para STORCH, duas por apresentarem
crianças com idade superior a 18 meses, duas por diagnóstico de microcefalia após quadro
sugestivo de Chikungunya gestacional e duas por não apresentarem sorologia positiva
para o Zika vírus, nem relato de rash cutâneo durante gestação, além de não apresentarem
exames de imagens sem alterações sugestivas de infecção congênita. No total, foram
incluídas neste estudo 79 crianças com SCZ, todas nascidas no estado de Pernambuco,
das quais 43 crianças são oriundas da região metropolitana do Recife e 36 do interior do
estado.
A tabela 1 apresenta a caracterização da amostra, com dados maternos e das
crianças divididas por faixa etária, agrupadas da seguinte forma: primeiro grupo de 6 a
11 meses de idade; segundo grupo de 12 a 18 meses.
56
Tabela1. Caracterização da amostra por crianças e mães.
Características
da criança
6-11
meses
12-18
meses
Características
Maternas
6-11 meses 12-18
meses
Sexo
Masculino
Feminino
15(48,4)
16(51,6)
18(37,5)
30(62,5)
Rash cutâneo
Não relatado
Relatado
1º trimestre
2º trimestre
3º trimestre
8/31(25,9)
23/31(74,1)
14/23(60,9)
8/23(34,8)
1/23(4,3)
19/48(39,6)
29/48(60,4)
20/29(69)
7/29(24,1)
2/29(6,9)
Tipo de parto
Normal
Cesárea
11(35,5)
20(64,5)
33(68,8)
15(31,2)
Diagnóstico de
microcefalia
durante a gestação
Não
Sim
2º trimestre
3º trimestre
15/31(48,4)
16/31(51,6)
4/16(25)
12/16(75)
29/48(60,4)
19/48(39,6)
7/19(36,8)
12/19(63,2)
Idade*
Média /DP
10,3/1,25
14,46/1,77
Ocupação
Não trabalham
Ocupação formal
24(77,4)
7(22,6)
43(89,6)
5(10,4)
PesoФ
Média/DP
2736,65/
527,71
2612,71/
626,46
Número de filhos
Mediana/Q1:Q3
2
(Q1:1/Q3:2)
2
(Q1:1/Q3:2)
Idade
GestacionalП
Média/DP
38,49/
2
38,01/ 2,62
Idade maternaδ
Média/DP
30,29/ 7,27
26,3/6,63
Perímetro
cefálicoϯ
Média/DP
29,05/
2,32
28,15/ 2,63
Números de
consulta
no pré-natal
Mediana/Q1:Q3
8,5
(Q1:7/Q3:10)
8
(Q1:6,5/Q3:9)
Valores apresentados em (%), * (meses), Ф (gramas), ϯ (centímetros), П (semanas), δ (anos).
57
Na avaliação das habilidades funcionais, foi observado que 100% da amostra
apresentou atraso na área de mobilidade. Na avaliação quanto ao autocuidado e função
social, houve predomínio maior de atraso na faixa etária de 12-18 meses, quando
comparado com a faixa etária de 6-11 meses (tabela 2).
Tabela 2. Classificação das crianças pelo PEDI – Habilidades funcionais (escores normativos)
Faixa etária/classificação
Autocuidado
(%)
Mobilidade
(%)
Função social
(%)
6-11 meses Adequado 22(71) 0(0) 27(87)
N=31 Atrasado 9(29) 31(100) 4(13)
12-18 meses
N=48
Adequado 3(6,2) 0(0) 8(16,7)
Atrasado 45(93,8) 48(100) 40(83,3)
Os resultados das pontuações de cada grupo foram expressos em gráficos de
boxplot (figura 1).
Figura 1. Bloxpot dos grupos de 6-11 meses e 12-18 meses. O eixo Y apresenta a
pontuação dos itens de cada área.
58
A partir dos escores brutos de cada área foram calculadas as médias e desvios
padrão. As crianças classificadas como adequadas, obtiveram as seguintes médias de
escores brutos: para autocuidado 4,77(2,54 DP) em crianças de 6-11 meses e 8 (0 DP) em
crianças de 12-18 meses; para função social, 4,85 (1,43 DP) nas crianças de 6-11 meses
e 6,5 (0,76 DP) nas de 12-18 meses. No domínio mobilidade, toda a amostra apresentou
atraso. As crianças classificadas como atrasadas, obtiveram as seguintes médias de
escores brutos: para autocuidado, 1,78(0,44 DP) nas crianças de 6-11 meses e 3,76 (1,58
DP) nas de 12-18 meses, para mobilidade, 0,87 (0,35 DP) aos 6-11 meses e 0,85(0,36 DP)
aos 12-18 meses; para função social, 1,75 (0,5 DP) nas de 6-11 meses e 3,98 (1,14 DP)
nas de 12-18 meses. Houve diferença significativa entre as faixas etárias para crianças
adequadas nos domínios autocuidado (p = 0,042) e função social (p < 0,001) e para
crianças atrasadas nos domínios autocuidado e função social (p < 0,001). Não houve
diferença significativa para o domínio mobilidade entre as faixas etárias (p= 0,836).
A tabela 4 apresenta os dados detalhados da descrição dos hábitos de sono das
crianças avaliadas.
59
Tabela 4. Avaliação do sono pela Triagem BISQ
Local do sono noturno
Posição para dormir Como adormece Média de vezes que acorda durante a noite
Considera o sono um problema
Berço em quarto separado
6 (7,5) Decúbito ventral
20 (25,3) Sendo alimentado
7 (8,8) Não acordam 40 (50,6) Muito grave 6 (7,5)
Berço no quarto pais
30 (37,9) Decúbito lateral 50 (63,3) Sendo embalado 29 (36,7) 1 vez 30 (37,9) Pouco grave 13 (16,6)
Na cama dos pais
36 (45,6) Decúbito dorsal 9 (11,4) No colo 16 (20,3) 2 vezes 6 (7,6) Não considera
60 (75,9)
Berço no quarto dos irmãos
5 (6,3) - Sozinho na sua cama
19 (24) 3 ou mais vezes 3 (3,9) -
Cama de solteiro 2 (2,5) - Na cama perto dos pais
8 (10,2) - -
Horas de sono (19h-07h)
Horas de sono (07h-19h) Horas acordado entre (22h-6h)
Tempo para adormecer Horário do início do sono noturno
Menos de 4h59min
3 (3,9) Não dormem 4 (5) Não acordam 25 (31,6) 0h 19 (24) 18h-19h59min
15 (19)
5h-7h59min 23 (29,1) 0h01min-4h59min
58 (73,4) 00:01-01h59min 30 (37,9) 01min-30min 47 (59,5) 20-21h59min 36 (45,6)
8h-12h 53 (67) 5h ou mais 17 (21,6) 02h-03h59min 14 (17,8) 31min-01h 12 (15,2) 22h-23h-59min
22 (27,9)
- - 04h ou mais 10 (12,7) 01h01min ou mais 1 (1,3) 24h ou mais 6 (7,5)
Total da amostra 79/ Valores expressos em Número da amostra (%)
60
Discussão
Nosso estudo relata o desempenho funcional e as características do sono de 79
crianças com SCZ. Nossos resultados concordam com estudos que relataram que mais de
60% das mães que tiveram sintomas de arbovirose na gestação, apresentaram rash cutâneo
no primeiro trimestre de gravidez, e mais de 80% dos bebês nasceram com no mínimo 37
semanas de gestação 5,9,12.Na amostra, mais 39% das mães relataram já ter conhecimento
da condição de microcefalia dos seus filhos durante a gestação. Este resultado pode ter
uma associação com o número médio de 8 consultas de pré-natal relatados pelas mães,
uma vez que este número é superior as 6 consultas preconizadas pelo MS 19.
Através da avaliação pelo PEDI, as áreas de autocuidado e de função social
obtiveram uma maior predominância de crianças classificadas com atraso na faixa etária
de 12-18 meses. Ao avaliarmos a média dos escores brutos, observamos que os valores
médios das faixas etárias de 6 a 11 meses e 12 a 18 meses apresentam uma pequena
variação. Para as comparações entre as idades, observamos que nas áreas de autocuidado
e função social encontramos diferenças estatísticas entre as faixas etárias, demostrando
assim, que crianças mais velhas apresentam diferentes pontuações do que as mais novas.
Entretanto, a evolução das atividades diárias ainda é pequena, pois ao
observarmos a evolução das atividades cotidianas, por exemplo, mastigar e deglutir,
verificamos que crianças mais novas em sua maioria pontuaram apenas na alimentação
amassada ou coada, já as crianças da segunda faixa etária, pontuaram para alimentação
coada e em alguns casos para alimentação moída. Mas, pouquíssimas crianças pontuaram
no item alimento picado, pois para pontuar este item, as crianças precisam apresentar a
habilidade de morder ou triturar 15. Tal fato pode estar associado aos relatos da literatura
de que estas crianças podem apresentam disfagia 4,8. Isto sugere que as crianças mais
61
velhas, mesmo apresentando uma pontuação superior, apresentam desempenho funcional
semelhante às crianças mais jovens.
Neste estudo, a totalidade da amostra apresentou atraso para a área de mobilidade:
as mães não relataram atividades simples, como: mover-se intencionalmente em um
ambiente interno, puxando ou empurrando qualquer objeto, ou qualquer atividade que
exigisse o mínimo nível de transferência da criança de um local para outro. Para as
comparações entre as idades, observamos que somente a área de mobilidade não
apresentou diferença estatísticas entre as faixas etárias, indicando que crianças de 12-18
meses, pontuam os mesmos itens encontrados nas crianças com idade entre 6-11 meses,
apresentando assim um comportamento que sugere estagnação das etapas motoras e
pobreza de movimentação ativa.
Até o momento, não encontramos estudos que avaliassem o desempenho
funcional ou desenvolvimento motor de crianças com SCZ. Desta forma, buscamos
comparar nossos resultados com evidências sobre mobilidade e transferências de crianças
com paralisia cerebral por apresentarem um comportamento motor mais semelhantes as
crianças avaliadas neste estudo 8.
Assim, ao observamos crianças com PC, classificadas entre 3 e 5 no Sistema de
Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS) 20, a literatura aponta que a
mobilidade reduzida faz com que as crianças sejam mais propensas a dor, tenham maior
correlação para distúrbios do sono e necessidade de suporte nutricional via enteral de
maneira mais frequente 21–24. Sabe-se também que crianças PCs com mobilidade
reduzida, exibem menores níveis de atividade física, risco maior de apresentarem baixa
densidade mineral óssea e alterações do crescimento ósseo por fatores neurotróficos
negativos 21,25–27.
62
De forma geral, os danos neurológicos apresentados pelas crianças infectadas
pelo Zika vírus incluem uma grande alteração no desenvolvimento cerebral e na sua
estrutura após o nascimento, podendo repercutir em alterações de tônus e contrações
involuntárias 4,5,11,12, os quais podem justificar os índices de atraso no desempenho
funcional encontrados no nosso estudo, consequentemente prováveis comprometimentos
graves sobre o desenvolvimento destas crianças.
Em relação aos resultados do sono, 75,9% das mães não relataram considerar o
sono do seu filho um problema. Isto pode ser justificado por longos períodos de duração
do sono destas crianças, pois mais de 88,5% das crianças pesquisadas, acordam apenas
uma vez ou não acordam durante o sono noturno e 67% dormem entre 8 e 12 horas por
noite. Estes resultados demostram que as crianças avaliadas ,em sua maioria, apresentam
hábitos saudáveis de sono com uma quantidade mínima de 13 horas de sono por dia, o
que é considerada adequado pela literatura e MS 28,29.
Estes resultados também podem sugerir que relatos de crises epiléticas e
irritabilidade excessiva em crianças com SCZ 5,10,12,30 estejam mais relacionadas as
crianças mais jovens, e que em crianças com mais de 6 meses de idade, esta irritabilidade
tenha diminuído e as crises epiléticas já estejam controladas por medicação, não sendo
capazes de interferir negativamente nos hábitos de sono quando comparamos estes
resultados à nossa amostra. Outra possibilidade é que o instrumento utilizado, por ser uma
ferramenta de triagem, não tenha conseguido expressar um resultado mais fidedigno, já
que estudos com crianças PCs com níveis semelhantes de imobilidade relatam que estas
crianças podem apresentar distúrbios de sono 23,31.
É importante ressaltar que trabalhos anteriores 4–6,9 tem descrito os achados destas
crianças, sob o ponto de vista de exames de neuroimagem ou de avaliação visual, mas
outros estudos também começam a descrever estas crianças no âmbito das habilidades
63
funcionais e/ou desenvolvimento motor, a partir da avaliação de poucos casos 11 ou
apenas relatam os sinais clínicos encontrados 9 sem uma avaliação funcional específica.
Entretanto, ao relatarmos índices de desempenho funcional é possível fornecer
dados de qualidade para que haja um planejamento terapêutico especializado, com
possíveis propostas de políticas públicas na área da saúde que proporcionem a melhoria
do tratamento especializado. Estes índices também podem favorecer a ampliação da
aquisição de órteses e outros dispositivos de mobilidade.
Nosso estudo teve algumas limitações. O PEDI pode não ter expressado de
maneira fidedigna os resultados encontrados, por ter escores normativos pouco
específicos ou muito amplos, com intervalos amplos de escores (entre 30 e 70) para
classificar a criança com um desempenho adequado. Contudo, está limitação foi
minimizada ao analisarmos os escores brutos de forma global e estratificada por idade. O
BISQ também foi uma limitação por ser um instrumento de triagem, mas a escolha desta
ferramenta pode ser justificada, dada a dificuldade de recrutamento e realização de uma
avaliação mais específica do sono em uma população tão restrita como as de crianças com
SCZ.
Diante disto, nosso estudo retrata o desempenho funcional e hábitos do sono de
crianças com SCZ entre 6 e 18 meses de idade, que apresentaram em sua maioria baixa
capacidade de desempenhar habilidades funcionais nas áreas de cuidados pessoais,
mobilidade entre ambientes, comunicação e interação social, e hábitos do sono dentro de
um padrão típico de desenvolvimento infantil. Estes resultados a princípio, podem indicar
o grau de cronicidade desta patologia, o quanto estas crianças se tornarão dependentes,
com necessidade de auxílio multiprofissional e de uma rede de apoio extensível as suas
famílias.
64
Referências
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65
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66
Interventions. Children 2, 78–88 (2015).
67
APÊNDICE H – Artigo original 2
Este artigo foi submetido à revista Ciência e Saúde Coletiva (conceito B1 na área
21 do CAPES).
Resumo
Em outubro de 2015, a Secretaria Estadual de Pernambuco solicitou o apoio do Ministério
da Saúde após notificar surgimento súbito de 29 casos de microcefalia sob investigação.
Neste cenário, o estado de Pernambuco registrou o maior número de casos notificados de
microcefalia no Brasil. O objetivo deste trabalho foi apresentar dados sociodemográficos
e descrever a rede de serviços de saúde utilizada por famílias com crianças com Síndrome
Congênita do Zika (SCZ) do interior do Estado de Pernambuco. Realizou-se um estudo
descritivo tipo série de casos com crianças entre 6 e 18 meses diagnosticadas com SCZ
ou Infecção Congênita por STORCH+Zika. Foi utilizado um questionário
semiestruturado que coletou dados sociodemográficos e sobre os serviços de saúde
utilizados pelas crianças. Foram realizadas 26 entrevistas em 11 municípios. Foi relatado
o uso de uma rede de profissionais de saúde com cerca de a 19 professionais de saúde
diferentes, mais de 90% das famílias tem uma renda mensal de 2 ou menos salários
mínimos, mais de 50% da nossa amostra realiza sessões de reabilitação fora do seu
município e 96% realizam consultas com especialidades médicas na capital, mas 57 %
das crianças ainda espera por algum serviço de reabilitação. Nossa amostra apresentou
uma grande demanda de serviços de saúde, serviços os quais não foram estruturados, não
conseguem ser coordenados de forma plena pela atenção básica e que por muitas vezes
não estão disponíveis nos seus municípios. Mesmo buscando uma integralidade no
cuidado, os serviços parecem não conseguir seguir às estratégias de organização no
modelo de redes de atenção à saúde proposta pelo Ministério da Saúde.
Palavras chave: Criança, Síndrome Congênita do Zika, Rede de Atenção à Saúde.
68
Abstract
In October of 2015, the State Secretariat of Pernambuco requested the support of the
Ministry of Health after notifying the sudden onset of 29 cases of microcephaly under
investigation. In this scenario, the state of Pernambuco recorded the highest number of
reported cases of microcephaly in Brazil. The objective was to present sociodemographic
data and to describe the network of healthcare services used by families with children
with Congenital Zika Syndrome (CZS) in the up-country of the state of Pernambuco. A
descriptive study, series of cases, was carried out with children between 6 and 18 months
old diagnosed with CZS or Congenital Infection by STORCH + Zika. A semi-structured
questionnaire was used to collect socio-demographic data and the health services used by
the children. Twenty-six interviews were carried out in 11 municipalities, where a
network of health professionals was reported reaching 19 different health professionals.
More than 90% of families have a monthly income of 2 or less minimum wages, more
than 50% of our sample take part in rehabilitation sessions outside their municipality and
96% hold consultations with medical specialties in the capital, 57% of the children
waiting for some rehabilitation service. Our sample presented a great demand for
healthcare services, services that were not structured, cannot be fully coordinated by
primary care and that are often not available in their municipalities. And even seeking an
integrality in care, they do not appear to be able to obey organizational strategies in the
model of health care networks proposed by the Ministry of Health.
Keywords: children, congenital zika syndrome, healthcare network.
69
SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA: UM DESAFIO A SER ENFRENTADO
PELAS REDES DE SAÚDE
Introdução
Em outubro de 2015, a Secretaria Estadual de Pernambuco solicitou o apoio do
Ministério da Saúde (MS) após notificar surgimento súbito de 29 casos de microcefalia
sob investigação 1. Neste cenário, o estado de Pernambuco registrou o maior número de
casos notificados de microcefalia no Brasil 2. Em 2016 surge o termo Síndrome Congênita
do Zika (SCZ), que define este novo quadro clinico além da presença de microcefalia, a
qual engloba características como alterações neurológicas e visuais 3,4.
Diante das alterações apresentadas por estas crianças como calcificações corticais
e subcorticais e diminuição do volume cerebral e da gravidade do quadro clínico 3–6,
estudos começaram a apontar a necessidade de uma equipe multiprofissional que
realizasse o acompanhamento, incluindo não somente neuropediatras, mas terapeutas das
áreas motora e de linguagem, assim como um suporte educacional e psicológico para
essas crianças e suas famílias 7,8.
Tendo em vista todas essas necessidades, um aspecto importante a ser discutido
neste contexto é a rede de serviços de saúde utilizada por estas crianças atualmente. O
termo “rede” é comumente utilizado para descrever um grupo de serviços semelhantes
(BRASIL, 2009), e neste estudo descreverá um grupo de serviços de saúde semelhantes.
Em uma ampla busca na literatura, não foram identificados artigos que descrevessem a
rede de serviços saúde utilizada pelas crianças com microcefalia.
Em suas orientações o MS descreve, que o cuidado integral que articula os
serviços da atenção básica e especializada na Rede de Atenção à Saúde (RAS), pode
favorecer a conquista de uma criança mais funcional e uma maior inclusão social, a partir
70
da organização destes serviços 9. A RAS pode ser definida como: conjuntos de serviços
de saúde vinculados por objetivos comuns e por ações interdependentes que permitam
ofertar uma atenção contínua e integral a uma determinada população 10. Logo, a
organização da RAS é de fundamental importância para uma atenção integral e de
qualidade para as crianças com SCZ e seus familiares.
Até o momento, não foram encontrados dados disponíveis que separassem a
incidência de casos entre a região metropolitana do Recife e o interior do estado.
Entretanto, segundo o informe técnico nº 05/2017 do Estado de Pernambuco, a primeira
Gerência Regional de Saúde, composta por todos os 14 municípios da região
metropolitana do Recife e mais 6 municípios do interior, apresenta 51,1% dos casos
notificados. As demais Gerências Regionais de Saúde, compostas pelos demais
municípios do interior, apresentam 49,9% destas crianças 11.
Contudo, não se sabe se a rede de serviços de saúde utilizada pelas crianças do
interior atende suas necessidades e se essa rede está disponível somente na capital ou
também no interior do estado. Alguns estudos discutem a organização e distribuição
geográfica dos serviços de saúde mais complexos, entre eles a reabilitação, 12–14,
entretanto não encontramos qualquer discussão ou planejamento de serviços de saúde que
visem à assistência às crianças com SCZ residentes no interior.
Diante disto, nosso estudo tem como objetivo apresentar dados sociodemográficos
e descrever a rede de serviços de saúde utilizada por famílias com crianças com SCZ de
11 municípios do interior do Estado de Pernambuco.
71
Métodos
Realizou-se um estudo descritivo tipo série de casos com crianças diagnosticadas
com SCZ ou Infecção Congênita por STORCH (sífilis, toxoplasmose, rubéola,
citomegalovírus, herpes simples) +Zika 9. Para a sua realização foram contatadas as
Regionais de Saúde do Governo do Estado de Pernambuco que acompanhavam as cidades
da Zona da Mata e Agreste de Pernambuco.
Das cinco regionais que acompanhavam as cidades da Zona da Mata e Agreste,
foram escolhidas por conveniência duas Regionais de Saúde, a II e XII. Após anuência
das regionais, a coleta de dados seguiu o seguinte protocolo: (i) contato telefônico, onde
a mãe ou responsável recebeu um convite verbal para participar da pesquisa e dar
consentimento quanto à presença de um pesquisador durante a visita domiciliar de rotina
do apoiador de microcefalia da regional; (ii) agendamento da visita domiciliar, de acordo
com a rotina da regional; (iii) realização da entrevista com a mãe ou responsável da
criança.
Foram incluídas no estudo crianças entre 6 e 18 meses de vida diagnosticadas com
SCZ ou Infecção Congênita por STORCH+Zika. Foi considerado SCZ os casos
confirmados de infecção congênita pelo Zika vírus: crianças com resultado laboratorial
positivo ou reagente para o Zika vírus e com manifestações neurológicas, visuais ou
auditivas. E para Infecção Congênita por STORCH+Zika, foi considerado: crianças que
apresentem manifestações neurológicas, visuais ou auditivas, mães com relato de
exantema ou febre durante a gestação sem causa definida e com resultado laboratorial
inconclusivo para STORCH+Zika em amostras da própria mãe ou da criança9. Foram
excluídas crianças com microcefalia decorrentes de causas não congênitas ou quaisquer
outras causas 15.
72
Foi utilizado um questionário semiestruturado, contendo informações sobre o
histórico obstétrico e ginecológico, período pré-natal e perinatal, manifestação infecciosa
durante a gestação, variáveis sociodemográficas e antecedentes epidemiológicos da mãe.
Em relação à criança, foram coletadas informações sobre exames realizados,
medicamentos e serviços de saúde utilizados, tipo de alimentação, entre outras. A
entrevista foi realizada após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido,
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco
(CAE- 47494115.3.0000.5208). As coletas foram realizadas entre os meses de dezembro
de 2016 e março de 2017.
Foi utilizado para a análise de dados o pacote de software estatístico Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows (Versão 16.0). As variáveis
categóricas foram expressas como frequências relativas e absolutas. As variáveis
contínuas foram expressas como média e desvio padrão (DP).
Resultados
Foram convidadas para participar da pesquisa 27 mães. Uma criança foi excluída
por apresentar mais de 18 meses de idade. Assim, foram realizadas 26 entrevistas nos
seguintes municípios (Figura1): Goiana (cinco), Limoeiro (quatro), Aliança (três), Itambé
(três), Surubim (três), Paudalho (duas), Carpina (duas), São Vicente Ferrer (uma),
Condado (uma), Timbaúba (uma) e Lagoa do Carro (uma).
73
Figura 1. Distribuição geográfica dos municípios de Pernambuco incluídos no estudo.
74
A tabela 1 apresenta a caracterização da amostra, com dados maternos e das crianças.
Tabela1. Caracterização da amostra por crianças e mães
Características da criança
N=26
Características Maternas
N=26
Sexo
Masculino
Feminino
7 (26,9)
19 (73)
Rash cutâneo
Não relatado/Não soube relatar
Relatado
1º trimestre
2º trimestre
3º trimestre
10/26(38,5)
16/26(61,5)
10/16(62,5)
4/16(25)
2/16(12,5)
Tipo de parto
Normal
Cesárea
19 (73)
7 (26,9)
Estado civil
Casada/União estável
Solteira
17(65,4)
9(34,6)
Idade*
Média /DP
14,77/1,66
Ocupação
Não trabalham
Ocupação formal
25(96,2)
1(3,8)
PesoФ
Média/DP
2637,04/
445,59
Número de filhos
Mediana/1º e 3º quartis
2(Q1:1,25/Q
3:2,75)
Idade GestacionalП
Média/DP
38,55/
1,72
Idade maternaδ
Média/DP
27/ 7,52
Perímetro Cefálicoϯ
Média/DP
28,42/ 2,69
Números de consulta
no pré-natal
Mediana/1º e 3º quartis
7(Q1:6/
Q3:8)
Valores apresentados em %(*) meses, (Ф) gramas, (ϯ) centímetros, (П) semanas, (δ) anos.
A entrevista foi realizada com 24 (92,3%) mães biológicas e 2 (7,7%) mães
adotivas. Sobre a condição social e financeira, 21 (80,7%) das mães recebiam benefício
financeiro para a criança e 5 (19,2%) ainda o aguardavam. Sobre a renda familiar, 13
(50%) das mães relataram receber 1 salário mínimo ou menos, 11 (42,3%) entre 1 e 2
salários mínimos e 2 (7,7%) das mães relataram 3 salários mínimos.
Em relação a moradia, 9 (34,6%) das famílias vivem em casas alugadas, 7 (26,9%)
em casas cedidas por familiares e 10 (38,5%) em casa própria. Destas casas, 2 (7,7%)
apresentavam apenas um quarto, 20 (76,9%) tinham dois quartos e 4 (15,4%), três
quartos.
75
Em relação aos serviços de saúde utilizado, 22 (84,6%) nasceram em
maternidades ou hospitais públicos, dos quais 7 (26,9%) s nasceram em hospitais públicos
do interior e 15 (57,7%) em hospitais públicos na capital ou região metropolitana; apenas
4 (15,4%) crianças nasceram em hospitais privados na capital ou região metropolitana.
Em relação à rede de profissionais utilizada, da equipe Saúde da Família (eSF)
foram citados o médico, o enfermeiro e agente comunitário de saúde, e as seguintes
especialidades de profissionais de saúde: neurologistas pediátricos, pediatras,
infectologistas, geneticistas, ortopedistas, oftalmologistas, otorrinolaringologistas,
urologistas, gastropediatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais,
psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas Totalizando 19 profissionais de saúde
diversos que acompanham, ou pelo menos consultaram uma vez estas crianças. Na tabela
2 apresentamos os dados individuais detalhados dos principais serviços de saúde citados.
A amostra deste estudo recebe acompanhamento em locais diversos, variando de
2 a 4 centros de atendimento. Quatro crianças (15,4%) fazem fisioterapia ou terapia
ocupacional em 2 ou 3 serviços, apresentando duplicidade ou triplicidade do mesmo tipo
de serviço ofertado. Do total da amostra, 10 (38,5%) crianças não são acompanhadas pela
eSF, das quais seis não fazem este acompanhamento com a justificativa de não terem
interesse neste serviço pois já fazem acompanhamento em outros serviços. Duas alegam
deslocamento diários para acompanhamento de saúde em outras cidades (centros de
reabilitação) e duas acusam a demora no agendamento das consultas.
Em relação aos serviços básicos de saúde, 16 (61,5%) crianças são acompanhadas
pelas eSF e 7 (26,9%) são acompanhadas pelo Núcleo de apoio à saúde da família
(NASF). Das 26 crianças, 15 (57,7%) fazem algum tipo de reabilitação semanal na capital
do estado, sendo 25 (96,2%) em acompanhamento por pediatras na capital e apenas 1
(3,8%) é acompanhada por pediatra no seu próprio município. 15 (57,7%) crianças estão
76
em fila de espera para reabilitação e 5 (19,2%) crianças esperam por uma vaga semanal
de atendimento, pois recebem atendimentos não-individualizados e com frequência
quinzenal. 16 (61,5%) fazem uso de alguma órtese de posicionamento e 19 (73%) fazem
uso de medicações anticonvulsivantes, porém nenhuma criança recebe estas medicações
por qualquer esfera do governo.
77
Tabela 2: Descrição detalhada da rede de serviços de saúde utilizados
Criança Fisioterapia Fonoaudiologia Terapia ocupacional Pediatria Neuropediatria Ortopedia Oftalmologia Puericultura Acomp. eSF Acomp. NASF CRAS NS Local NS Local NS Local NS Local NS Local NS Local NS Local NS Local - - -
1 1 ECF 1 ECF Não - 1 EP 2 ECF/EP 1 ECF 1 ECF 1 MP Não Não Não
2 3 ECF/MC 1* ECF 1* ECF 1 EP 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 MP Não Não Sim
3 1 ECF 1 ECF Não - 1 ECF 1 ECF Não - 1 ECF Não - Não Não Não
4 1 ECF Não - Não - 1 ECF 2 ECF Não - 1 ECF Não - Não Não Não
5 1 MC 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF Não - 1 ECF 1 MP Sim Sim Não
6 1 MP 1 ECF Não - 1 ECF 1 ECF Não - 1 ECF 1 MP Sim Sim Sim
7 1 MC Não - Não - Não - 1 ECF Não - 1 ECF 1 MP Sim Sim Sim
8 1* ECF 1* ECF Não - 1 EP 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 MP Não Não Não
9 1 MP Não - Não - 1 EP 2 ECF/EP 1 ECF 1 ECF 1 MP Sim Sim Sim
10 1 EP 1 EP 1 EP 1 EP 2 ECF/EP 1 EP 1 ECF Não - Não Não Não
11 Não - Não - Não - 1 MP 1 ECF Não - 1 ECF 1 MP Não Não Não
12 1 MP Não - Não - 1 ECF 1 EP Não - 1 ECF 1 MP Sim Não Não
13 1 MP 1 ECF Não - Não - 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 MP Sim Não Não
14 2 ECF/MC 1 ECF 2 ECF/MC 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF Não - Não Não Sim
15 1 MP 1 MP 1 MP 1 ECF 1 ECF Não - 1 ECF 1 MP Sim Sim Sim
16 1 MP 1 MP 1 MP 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 MP Sim Sim Sim
17 2 ECF 2 ECF 2* ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 MP Sim Não Sim
18 1 ECF Não - Não - 1 ECF 1 ECF Não - 1 ECF 1 MP Não Não Sim
19 1 ECF 1 EP 1 EP 1 EP 2 ECF/EP Sim ECF 1 ECF 1 MP Sim Não Sim
20 Não - 1* ECF Não - 1 ECF 2 ECF/EP Não - 1 ECF 1 MP Sim Não Sim
21 1 UP Não - Não - 1 SP 1 EP Sim ECF 1 ECF 1 EP Não Não Sim
22 1* MP 1* MP Não - 1 ECF 1 ECF Não - 1 ECF 1 MP Sim Não Não
23 1 SP 1 MP Não - 1 EP 1 ECF Não - 1 ECF 1 EP Sim Não Não
24 2 ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF Sim ECF 1 ECF 1 MP Sim Não Sim
25 1 ECF 1 ECF 1 ECF 2 ECF 2 ECF Sim ECF 1 ECF 1 MP Sim Não Sim
26 1 ECF 1* ECF 1* ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 ECF 1 MP Sim Sim Sim
*(reabilitação em grupo, com orientação quinzenal); NS (Número de Serviços Utilizados); Acomp. (Acompanhamento); ePF (Equipe de Saúde da Família); NASF (Núcleo de apoio à saúde da
família); EP (Estadual Público); ECF (Estadual Conveniado Filantrópico); ECC (Estadual Conveniado Clínica); MP (Municipal Público); MC (Municipal Conveniado); SP (Serviço Privado-pago pela
família).
78
Discussão
Nosso estudo teve como objetivo descrever os dados sociodemográficos e a rede de
serviços de saúde utilizada por crianças com SCZ e seus familiares. Nossos resultados apontam
que a maioria das crianças nasceram de parto normal e termo, a maioria das mães apresentaram
rash cutâneo durante a gestação e apresentam um número médio de 7 consultas de pré-natal,
semelhante ao achado em outros estudos que observaram os mesmos aspectos 6,16,17.
Entre as famílias da nossa amostra, mais de 90% tem uma renda mensal de 2 ou menos
salários mínimos e podem ser classificadas, segundo o Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos, como classe baixa e miserável 18. Assim, o Zika vírus
parece ser mais um indicador da desigualdade que persiste no Brasil, trazendo à tona outros
aspectos como problemas de saneamento, de abastecimento de água e necessidade de políticas
de urbanização sustentável e ressaltando condições que afetam muito mais a população de
baixa renda 7,19,20.
Mais de 50% das crianças da nossa amostra realiza sessões de reabilitação fora do seu
município e 96% realizam consultas com especialidades médicas na capital, demostrando assim
que, para a população estudada, serviços de rotina como reabilitação semanal e consultas ao
pediatra, não são oferecidas no seu município ou em regiões próximas. O MS, em seu
documento “Pacto de Gestão”, comenta da importância da regionalização na saúde, visando a
universalidade do acesso e a resolutividade das ações e serviços de saúde 21. Entretanto, estudos
relatam a falta ou dificuldade de acesso para serviços de saúde mais complexos, ofertados pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) 12–14.
No que diz respeito à RAS disponível a estas crianças, o MS aponta como função da
atenção básica: acolhimento, acompanhamento, desenvolvimento de ações intersetoriais e a
continuidade do cuidado à criança 9, com destaque para as ações desenvolvidas pelos Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS). Já as equipes de Atenção Básica/Saúde da Família
79
(eAB/SF) deverão oferecer às famílias apoio psicossocial sempre que necessário, acolhendo
dúvidas e angústias por meio de uma escuta qualificada 9 de modo que a Atenção básica deva
atuar como coordenadora e ordenadora do cuidado 22.
As equipes do NASF devem atuar de maneira integrada, com o objetivo de ampliar as
ações e contribuir, dessa forma, para a resolutividade do cuidado. Nesse sentido, o NASF e as
eAB/eSF assumem responsabilidades compartilhadas no cuidado às crianças, desde o pré-natal
até a reabilitação. Desta forma, as crianças com SCZ deveriam ter um acompanhamento
adequado e longitudinal na atenção básica e nos ambulatórios de especialidades, unidades
hospitalares e serviços de reabilitação. O cuidado destas crianças deve ser compartilhado e o
trabalho dos diversos pontos da rede integrados entre si, devem potencializar a eficiência da
RAS 9.
É inegável o esforço de todas as esferas de saúde do Brasil, na busca por melhorias nas
redes e na capacitação dos profissionais com a produção de protocolos e diretrizes que vão,
desde o diagnóstico e avaliação do desenvolvimento infantil até a estimulação precoce das
crianças acometidas pelo Zika Vírus 23–25.
Entretanto, quando verificamos os dados sobre a rede de serviços de saúde utilizada
pelas famílias de nossa amostra e comparamos com a proposta pelo MS, entendemos que a
população estudada apresenta uma demanda de diversos profissionais de saúde, com mínima
oferta de centros de reabilitação estaduais ou municipais (destaca-se que estes serviços em sua
maioria, são filantrópicos). Existe também a utilização em duplicidade de serviços de saúde por
parte da criança e sua família. Ainda pode ser constatado que boa parte da amostra espera por
alguma especialidade profissional, como também parte desta população não é acompanhada
pelos serviços de atenção básica. Assim, pode ser observado que a rede utilizada por estas
crianças ainda apresenta defasagem quanto à assistência proposta pelo MS.
80
Para dar suporte à afirmação anterior, 57 % da nossa amostra espera por algum serviço
de reabilitação, enquanto 15% fazem o mesmo serviço de reabilitação em dois ou mais centros,
42% nunca teve contato com o CRAS, 38% não são acompanhadas pelas eSF e 73% não são
acompanhadas pelo NASF. Os resultados descritos demostram um acesso limitado aos serviços
de saúde, o que é condizente com estudos que expõem que crianças com necessidades especiais
se deparam com dificuldades no acesso aos serviços de saúde, e falhas no sistema de referência
e contra referência, já que estes serviços, muitas vezes não estão disponíveis no setor primário
de saúde 26,27.
Um estudo que reflete a atenção especializada em reabilitação no Brasil, comenta que
por muito tempo os programas de reabilitação não eram de competência de nenhuma esfera
governamental, ficando a cargo da filantropia 12, entretanto nossos resultados ainda apontam
que os serviços de reabilitação ainda são pautados em serviços filantrópicos com poucos centros
de reabilitação estaduais ou municipais.
Um estudo de revisão destacou que o motivo mais relevante para que existisse uma
maior preferência por unidades de maior densidade tecnológica, seria a confiança nos
profissionais destas unidades 27. Essa informação pode justificar o fato de que parte da nossa
população não se interessa pelos serviços disponíveis na atenção básica, já que todas são
atendidas em serviços de saúde da capital, que por muitas vezes conta com uma maior equipe
profissional e melhor estrutura. O mesmo estudo concluiu que quanto mais distantes das
estratégias da saúde da família (ESF), estas famílias estiverem, mais afastadas estarão da
integralidade da saúde e dificultarão ainda mais a coordenação da atenção à saúde 27.
Já foi relatado que a ESF por muitas vezes não consegue articular as ações entre a
atenção primária de saúde, a média e a alta complexidade, contrapondo-se aos atributos da
81
atenção básica como ordenadora e coordenadora do cuidado e da organização proposta pelas
RAS 28.
Nosso estudo apresentou algumas limitações, como o pequeno tamanho amostral, que
se justifica por ser um relato de uma série de casos. Outro ponto, foi a utilização de um
questionário semiestruturado para a descrição da rede de serviços de saúde utilizada, e não uma
ferramenta validada para este fim, além de não avaliar a qualidade dos serviços de saúde apesar
do objetivo deste trabalho ser descritivo, a especificação da qualidade dos serviços poderia
enriquecer a interpretação do leitor. Entretanto, entendemos que nosso estudo é um primeiro
passo para que outros estudos sejam desenvolvidos, visando otimizar os cuidados ofertados às
crianças com SCZ, tanto no âmbito da descrição como na avaliação dos serviços utilizados, já
que estas crianças necessitarão de cuidados a curto, médio e longo prazo.
Nossa amostra apresentou, de forma global, uma população de baixa renda que demanda
uma grande quantidade de serviços de saúde, serviços os quais não foram estruturados, não
conseguem ser coordenados de forma plena pela atenção básica e não estão disponíveis nos
seus municípios. Além disso, mesmo buscando uma integralidade no cuidado, não aparentam
conseguir obedecer às estratégias de organização no modelo de RAS proposta pelo MS.
Entendemos que estes dados, por serem restritos a uma pequena população, não podem
ser generalizados, porém apresentam um olhar mais específico para redes de serviços de saúde
utilizadas por crianças com SCZ residentes no interior do estado de Pernambuco e podem ser
utilizados para nortear a organização de políticas de saúde para estas famílias na intenção de
melhorar a assistência e resolutividade da rede ofertada.
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82
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85
Anexo 1 – Questionário do desempenho funcional ( PEDI)
86
87
88
89
90
91
Anexo 2 – Breve Questionário sobre Sono na Infância (BQSI)
Nome do entrevistado:
___________________________________________________________
Data: __/__/____
Parentesco do entrevistado:
( ) Pai ( ) Mãe ( ) Avó/Avô ( ) Outro(especificar)
_____________________
Nome da criança:
___________________________________________________________
Data de nascimento: __/__/____ Sexo:( )Masculino( )Feminino
Ordem de nascimento da criança:
( )Mais velho ( ) Do meio ( ) Mais novo
Organização para dormir:
( ) Berço em um quarto separado
( ) Berço no quarto dos pais
( ) Na cama dos pais
( ) Berço no quarto com irmãos
( ) Outro (especificar): _________________
Em que posição seu(sua) filho(a) dorme na maior parte das
vezes?
( ) Barriga para baixo
( ) De lado
( ) De costas
92
Quanto tempo seu(sua) filho(a) passa dormindo durante a NOITE
(entre 7 da noite e 7 da manhã)?
Horas: _____ Minutos: ______
Quanto tempo seu(sua) filho(a) passa dormindo durante o DIA
(entre 7 da manhã e 7 da noite)?
Horas: _____ Minutos: ______
Média de vezes que seu(sua) filho(a) acorda por noite:
______________
Durante a noite (entre 10 da noite e 6 da manhã) quanto tempo
seu filho permanece acordado(a)?
Horas: _____ Minutos: ______
Quanto tempo você leva para fazer seu(sua) filho(a) adormecer
à noite?
Horas: _____ Minutos: ______
Como o seu bebê adormece?
( ) Sendo alimentado
( ) Sendo embalado
( ) No colo
( ) Sozinho na sua cama
( ) Na cama perto dos pais
A que horas normalmente seu filho(a) adormece à noite? Horas:
_____ Minutos: ______
Você considera o sono seu(sua) filho(a) um problema?
( ) Um problema muito grave
( ) Um problema pouco grave
( ) Não considera um problema
93
Anexo 3 – Parecer Consubstanciado do CEP.
94
95