avaliação tarefa 3 (william de quadros da silva)

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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA

NO ENSINO SUPERIOR

AVALIAÇÃO:Níveis e concepções avaliativas

No Ensino Superior

Profª. Drª. Elaine Turk Faria

Esp. William de Quadros da Silva

Avaliação no Ensino Superior:

Algumas considerações iniciais críticas

a respeito da atividade avaliativa e sua relação com a função docente na Educação Superior

Introdução:

Nesta apresentação, não se pretende esgotar o tema, mas sim se fazer

breves reflexões das peculiaridades da atividade avaliativa na Educação

Superior, em distinção àquela feita na Educação Básica, e suas

repercussões na própria prática docente universitária.

Muitos conceitos aqui são de conhecimento geral, por isso, não serão

retomados, bastando sua indicação. Caso seja necessário, orienta-se o

leitor a buscar fontes externas de aprofundamento.

Universidade:

Atualmente, não se discute mais que a universidade, como instituição de

conhecimento, possui 3 (três) finalidades/missões/projetos contemporâneos,

em comparação ao modelo original do medievo:

Ensino

Pesquisa

Extensão

Este trabalho irá se focar no primeiro aspecto (ensino).

Ensino Universitário:

De igual forma, também em distinção ao papel da universidade medieval, o

conhecimento ofertado nas universidade atuais não é mais geral e universal,

mas sim atomizado e específico, direcionado, em sua maioria, à formação

de profissionais aptos a exercer sua profissão no mercado de trabalho ao

qual será inserido.

Diferenciações podem ocorrem com relação ao tipo de profissional e sua

função, variando consoante a cultura educacional e as políticas públicas do

Estado na sociedade no qual atuará.

Ensino Universitário:

Exemplos dessa discussão, embora teórica, mas com verdadeiras

consequências práticas, são os modelos de universidade conhecidos:

Francês (napoleônico)

Alemão (humboldtiano)

Norte Americano

Modelo mundial

Multiversity

Ensino Universitário:

Portanto, como é possível se falar em formato mundial de avaliação

universitária se não há um modelo global?

Como cada modelo é orientado por princípios e finalidades diferentes, a

avaliação, como parte essencial do ensino, também acaba por exercer um

função distinta em cada um desses modelos.

O mesmo não ocorre, em tese, com a Educação Básica.

Ensino Universitário:

Hoje, em pleno século XXI, é imperioso que reflitamos sobre o que

queremos quando falamos de Educação e quais são as responsabilidades

de todos os atores envolvidos: família, sociedade e Estado.

A esse último não deve ser atribuído um ônus exclusivo nesse debate.

Mas aqui, neste pequeno parênteses, a discussão se limita à Educação

Básica, cujas repercussões são inúmeras, influenciado decisivamente a

própria Educação Superior.

Ensino Universitário:

José Ortega y Gasset, em sua obra magistral e clássica, A rebelião das

massas, faz um preciso exame das consequências do advento da “massa”

como figura social no século XX; figura essa inexistente nos séculos

anteriores e que implicou a necessidade de se repensar a própria forma de

funcionamento da sociedade com o surgimento dessa nova figura.

A Educação, portanto, também seria diretamente afetada pela massa, visto

que, até pouco tempo atrás, ela era um produto caro, acessível a poucos e

paradoxalmente estimada pela massa. Ninguém negava sua importância,

mas poucos estavam dispostos a pagar por ela.

Ensino Universitário:

A transformação da Educação como direito, ao invés de um produto, veio a atender

aos anseios da massa que queriam acesso àquilo que anteriormente era um luxo

das minorias, assim como atender à demanda da própria sociedade industrial que se

consolidava e que exigia mão-de-obra capacitada, tudo isso sob o aval do Estado

que considerava tais transformações um sinal de progresso.

“Conforme Giles (1987), em meados do século XIX, são constituídos os ‘sistemas

nacionais de ensino’, organizados segundo o princípio: ‘a educação é direito de todos

e dever do Estado’. Este direito de todos à educação correspondia aos interesses da

burguesia, nova classe que se consolidara no poder.” (Ana Maria Souza)

Ensino Universitário:

Para ser um cidadão no século XX, era preciso abandonar a ignorância, sob

pena de não ser capaz de sobreviver aos novos tempos.

“Para a burguesia brasileira, influenciada pela burguesia europeia, o sonho

passa a ser a construção de uma sociedade democrática, como forma de

superar a situação de opressão, cabendo ao ensino, a partir do

esclarecimento, libertar os indivíduos da ignorância, transformando-os em

cidadãos.” (Ana Maria Souza)

Ensino Universitário:

Portanto, não é estranha a filosofia do “escolanovismo”, no qual se pretendia

equilibrar a sociedade por meio da educação escolar.

Não se adentrando no mérito da filosofia, todo mundo deveria ter os

conhecimentos e competências mínimos que a nova sociedade exigia, ou,

como prefiro dizer, pessoalmente, “saber ler, escrever fazer contas”.

Essa filosofia relaciona-se à metade do século XX, mas estará ela

ultrapassada hoje? Creio que não.

Ensino Universitário:

Por que? Porque a criança brasileira, em pleno século XXI, não “sabe ler,

escrever e fazer contas”.

“Abordagens construtivistas apontam vários problemas da avaliação nessa

concepção tradicionalista, tais como: as pessoas não aprendem igualmente,

de modo a não possuírem os mesmos pré-requisitos que possibilitariam

uma aprendizagem igual medida pelos mesmos critérios.” (Ana Teresa

Trevelin e Jaqueline Neiva)

Ensino Universitário:

Muitos adolescentes concluem o Ensino Médio sem terem o pleno domínio

dessas competências básicas.

“Assim, se as pessoas não aprendem da mesma maneira, então uma

avaliação da aprendizagem que visa apenas verificar o final do processo

torna-se ineficiente”. Ana Teresa Trevelin e Jaqueline Neiva)

As competências básicas do mundo contemporâneo são derivações e

desenvolvimentos desses saberes fundamentais, como senso crítico,

interpretação de textos, raciocínio crítico e afins.

Ensino Universitário:

Desse modo, em uma sociedade que se quer considerar desenvolvida, a

Educação Básica é uma verdadeira política de Estado.

Com saberes básicos, pode-se viver e conviver socialmente, cabendo à

educação superior novas tarefas e funções que, por sua vez, têm

consequências na complexidade da avaliação em nível universitário.

“É fundamental levar em conta o papel das variáveis contextuais no

processo ensino/aprendizagem assim como na avaliação.” (Ana Maria

Souza)

Ensino Universitário:O mesmo se pode dizer quanto à “competição” entre ensino técnico x

ensino universitário, outra discussão também urgente.

Essa é a realidade da educação brasileira, na qual a Educação Superior é

mais uma engrenagem que não pode se considerar isolada, visto que ela

influencia e é influenciada por esse todo.

Logo, como se falar em avaliação, tendo em vista todo o seu âmbito, sem se

considerar essas críticas iniciais?

No pensamento complexo atual, qualquer reducionismo intelectual e/ou

político nada mais é do que um completa temeridade irracional.

Ensino Universitário:

Assim, voltamos aos modelos de universidade e iremos relacioná-los às

políticas públicas de Educação, podendo, aí sim, inquirir o que queremos

quando tratamos da avaliação no Ensino Superior.

SE, todos os alunos, quando se formam no Ensino Médio, estejam

capacitados a exercerem plenamente sua cidadania, sem a necessidade de

formação complementar, o ensino superior assume outro viés.

E é aqui que voltamos aos modelos universitários.

Ensino Universitário:

Em muitos lugares do mundo, não é preciso se possuir um diploma universitário

para se obter uma profissão que remunere dignamente.

Às vezes, pela própria natureza do serviço a ser concretizado, um curso técnico

é o suficiente. Porém, a cultura autofomentadora do bacharelismo ainda impera

no Brasil.

“Essa nova classe social, a exemplo da aristocracia oligárquica, continua

desprezar o trabalho físico, este relegado àqueles que são algemados à

servidão e à escravidão.” (Ana Maria Souza)

Felizmente, está-se buscando retomar o ensino técnico.

Ensino Universitário:

Partindo desse quadro, o que resta ao ensino universitário?

Na Idade Média, a universidade era o centro de concentração e difusão de

todo o saber humano da época, não havendo restrições geográficas, étnicas

ou afins aos estudantes, sendo o intercâmbio de informações de diferentes

povos e culturas algo comum.

Os alunos universitários eram aqueles capazes de governar a tudo e todos,

pois iluminados pelo conhecimento que detinham, com o respectivo aval da

massa que os respeitava por isso.

Ensino Universitário:

Agora, essa mesma massa, ainda mais concentrada nos centros urbanos, é

suficientemente letrada, pois também se tornou consumidora, com acesso

suficiente, ao “produto” educação, que, com o advento de seu status de

direito, se tornou democrática e social.

“Com a escolarização obrigatória das massas no século XX, a avaliação da

aprendizagem tornou-se indissociável ao processo de aprendizagem. A

lógica da escola era oferecer oportunidades de aprender a todos e cabia a

cada um aproveitá-la.”. (Perrenoud apud Ana Trevelin e Jaqueline Neiva)

Ensino Universitário:

Desse modo, desde o século XIX, onde ocorreu um “boom” educacional por

toda a Europa, fruto de múltiplos fatores, foi preciso se pensar em políticas

públicas também voltadas à Educação Superior.

Os modelos são uma sombra dessas políticas.

O modelo napoleônico orienta-se pela formação de profissionais capazes de

atender às demandas do Estado. Aqui, há a necessidade de formação de

profissionais com capacitação técnica específica. A autonomia é menor,

com forte presença estatal na gestão universitária

Ensino Universitário:

O modelo humboldtiano, também originado do século XIX, tem suas bases

na expansão do cientificismo que dominou o pensamento intelectual

europeu naquela época, logo, a ênfase na formação científica, ao invés da

profissionalizante, é o norte deste modelo.

O modelo norte-americano, por sua vez, é característico da cultura liberal

dos Estados Unidos e do pensamento científico de matriz baconiana. Alia-se

teoria e prática, sempre com metas pragmáticas e com finalidade ao bem

social, sem demasiada teorização e abstração intelectuais.

Ensino Universitário:

O modelo mundial, de orientação do Banco Mundial, é focado na formação

dos profissionais que atendam à demanda de mão-de-obra do mercado. As

bases curriculares são feitas com base na realidade laboral e com menos

relação à construção do saber científico.

Por fim, a multiversity, é uma mescla de vários modelos. Um instituição de

Ensino Superior pode ter como objetivos demandas heterogêneas

simultâneas, respeitando-se seu tempo e lugar.

Ensino Universitário:

Feitas essas considerações a respeito das características principais do

ensino universitário, como podemos tratar do tema da avaliação, sem cair

em reducionismos e/ou fórmulas mirabolantes?

Daí, voltamos à pergunta, qual é o papel do ensino universitário hoje?

Para falarmos de avaliação, temos que limitar nosso objeto de avaliação, a

saber: o ensino universitário.

Novos rumos da avaliação universitária:

Cada um dos modelos anteriores lida com as demais questões de modo

diferentes às demais funções da universidade (pesquisa e extensão),

porém, aqui o foco é o ensino (profissionalizante?).

E é preciso de fazer essa delimitação antes de prosseguir com este

trabalho, a fim de que possamos analisar o cenário brasileiro depois.

“É por isso, que nós professores, precisamos refletir sobre a nossa prática

pedagógica e não podemos pensar na avaliação desvinculada da

epistemologia do conhecimento e dessa prática que desenvolvemos.”.

(Elaine Turk Faria)

Novos rumos da avaliação universitária:

O modelo napoleônica forma profissionais aptos às necessidades do

Estado; o modelo humboldtiano forma profissionais-cientistas; o modelo

norte-americano forma profissionais pragmáticos; o modelo mundial

abastece o mercado com a mão-de-obra exigida e a multiversity não se

limita a nenhuma dessas características.

Logo, a avaliação do ensino universitário terá por orientação cada uma

dessas finalidades desses modelos, examinando-se tanto o processo

(processo) de formação desses profissionais, quanto os mesmos (produto).

Novos rumos da avaliação universitária:

“Qualquer proposta de avaliação escolar precisa se embasar num

referencial teórico e que seja coerente com o projeto político-pedagógico da

instituição e a proposta – conscientemente seguida – do próprio professor.

Por isso, não se pode estudar a avaliação desvinculada de um contexto

educacional/pedagógico e de um posicionamento sobre a epistemologia do

conhecimento”. (Elaine Turk Faria)

Toda os aspectos da prática docente irão orbitar essas finalidades últimas

de cada modelo universitário, dentre os quais está a avaliação.

Novos rumos da avaliação universitária:

Mas todos eles possuem um ponto de convergência: o reconhecimento da

necessidade da formação de profissionais com conhecimento técnico

altamente especializado em uma área do saber muito específica.

“O mercado de trabalho exige pessoas mais qualificadas, com mais

conhecimentos, mas também com muito mais espírito de investigação,

iniciativa e criatividade.” (Elaine Turk Faria)

Mesmo que não haja demanda exorbitante de diplomados, sua existência

ainda é uma constante na sociedade em que vivemos. Porém, qual é o

papel dos profissionais com diploma universitário hoje?

Novos rumos da avaliação universitária:

“Mais do que nunca é necessário aprender a questionar, duvidar, investigar,

conviver com a incerteza e a divergência, pois vivemos em um mundo de

rápidas transformações. É o momento de refletir sobre como o aluno

aprende para, através da metodologia própria de aprender a aprender, levar

o aluno a, reconstruindo os conhecimentos, adquirir mais autonomia

intelectual.” (Elaine Turk Faria)

Cada curso universitário corresponderia a uma área do saber com

autonomia intelectual e independência profissional de outra, o que faria com

que houvesse a necessidade de um expert específico.

Novos rumos da avaliação universitária:

A Pedagogia é um exemplo. Comênius foi o precursor ao demonstrar que

ensinar não é apenas uma arte, um talento, ou uma mera tarefa, mas sim

uma tarefa que exige técnica e conhecimento para se atingir o melhor

resultado possível: fazer com que outra pessoa aprenda.

Ser professor exigiria ter professoralidade.

Com o passar do tempo, novas áreas do saber foram se desenvolvendo e

conquistando sua autonomia. Todavia, ainda carece de um verdadeiro

estudo o impacto, o valor social das profissões, de formação universitária,

em nossa sociedade contemporânea.

Novos rumos da avaliação universitária:

E esse aspecto relaciona-se à exigência de formação crítica dos bacharéis e

da responsabilidade quando de seu atuar profissional.

“Como acredita ser possível formar seres humanos agentes de

transformação da sociedade?” (Sônia Bonelli)

Haveria, realmente, uma responsabilidade social inerente a cada profissão?

Ou essa demanda é uma falácia sem base concreta?

Novos rumos da avaliação universitária:

“A avaliação é um processo que vai além da escola, que requer de todo o

corpo docente um determinado grau de comprometimento que o faça inquirir

sobre que cidadão deseja formar?” (Sônia Bonelli)

Tomemos como exemplo o sistema norte-americano. Para se ter acesso a

alguns faculdades, exige-se formação universitária prévia.

Para que se possa ser um médico ou advogado, o acesso às faculdades de

Medicina e Direito exige que se tenha concluído o college antes. Igual pré-

requisito não existe noutros cursos universitários

Novos rumos da avaliação universitária:

E quais são os motivos dessa restrição?

O valor e a responsabilidade social dessas profissões. São carreiras cujas

consequências sociais vão além da normalidade, exigindo-se profissionais

diferenciados a adaptar as rápidas transformações do dia a dia?

“Mais do que nunca é necessário aprender a questionar, duvidar, investigar,

conviver com a incerteza e a divergência, pois vivemos em um mundo de

rápidas transformações. É o momento de refletir sobre como o aluno aprende

para, através da metodologia própria de aprender a aprender, levar o aluno a,

reconstruindo os conhecimentos, adquirir mais autonomia intelectual.” (Elaine

Turk Faria)

Novos rumos da avaliação universitária:

Dessa forma, o atual cenário da avaliação não leva em consideração

apenas o resultado objetivo da avaliação, ou seja, notas, o diploma

adquirido ao final do curso, mas também o processo de formação desse

profissional. Em qualquer modelo universitário, o conhecimento técnico é

uma constante, alterando-se o modo e os porquês ele o conquista.

O que o estudante fará depois de formado?

É fácil mensurar o conhecimento, mas difícil avaliar se o aluno possui o

domínio desse conhecimento tendo em vista sua finalidade.

A avaliação universitária:

Neste trabalho, pretendemos nos focar na questão de como avaliar o

processo de aprendizagem universitário à luz da sociedade contemporânea.

Na Idade Média, a universidade era o lugar de produção, concentração e

compartilhamento do conhecimento. Ensino, pesquisa e extensão eram

uma única atividade conjunta, mas que, em razão da demanda social

advinda com o século XIX, mudou essas práticas.

A avaliação universitária:

Cada modelo universitário apontado visava atender essas demandas de um

modo diferentes, tendo em vistas, principalmente, as revoluções científicas

oriundas do pensamento moderno, fora as transformações sociais que

alteraram as relações entre as figuras e instituições, como o Estado, a

Igreja, a indústria e afins.

Porém, o conhecimento técnico é uma constante, ou seja, o aluno graduado

deve possuir domínio em suas competências profissionais,

independentemente da carreira ou modelo universitário.

A avaliação universitária:

“A universidade chega à década de 1960 entre duas grandes questões: de

um lado, com o avanço da industrialização do país, o governo começa a

reconhecer a necessidade de formação de pessoal técnico de alto nível

para atender à demanda que se apresenta; de outro lado, membros da

comunidade científica insistiam na necessidade de uma reforma global da

universidade com vistas a um desenvolvimento científico mais sólido e mais

autônomo.” (Ana Maria Souza)

A transcrição acima é um exemplo do embate entre dois claros modelos

universitários na disputa pelo território acadêmico.

A avaliação universitária:

Mas, como é próprio das contínuas metamorfoses sociais que se sucedem

desde o século XIX, o conhecimento técnico passou a ser exigido em outras

áreas além daquelas comumente ligadas às relações privadas.

Elas se tornaram questões de debate público, isto é, há um interesse

comunitário na formação desses profissionais e no destino que darão ao

conhecimento adquirido, principalmente porque se trata de um saber

especializado e essencial à manutenção do todo.

A avaliação universitária:

Médicos não deveriam se preocupar, apenas, em ganhar dinheiro

atendendo aos doentes, mas se também em se envolver com questões

sobre saúde pública, evitando que novas pessoas fiquem doentes.

Arquitetos e engenheiros não apenas construiriam casas e edifícios

conforme o gosto de seus contratantes, mas também deveriam pensar em

questões como mobilidade urbana e funcionalidade social.

Advogados deveriam pensar na tutela de direitos coletivos ao invés da

proteção exclusiva de bens individuais etc.

A avaliação universitária:

Tais discussões, entretanto, ainda são tímidas no cenário da educação

universitária brasileira. O método tradicional de ensino ainda rege as práticas

docentes em todos os seus aspectos.

“A avaliação faz parte de toda a ação pedagógica. Esta, por sua vez, é

construída sobre avaliações.” (Marlene Grillo)

“Se o professor , na universidade, vinha de uma formação estritamente

tradicional, que outra prática de avaliação poderia desenvolver que não fosse

análoga àquela pela qual passara?” (Ana Maria Souza)

E a avaliação ainda se encontra na liberdade de cátedra do professor, servindo

de instrumento a seu livre arbítrio, sem consonância com as políticas

universitárias.

A avaliação universitária:

“Como a universidade não tem um sistema de ensino e avaliação

predeterminado, cabendo ao professor esta decisão, e sendo este oriundo

de um sistema autoritário, disciplinador, sua prática de ensino estrutura-se

na transmissão do conhecimento e a avaliação, na prática do exame.” (Ana

Maria Souza)

Mas é na própria avaliação que pode-se encontrar uma resposta a essa

questão delicada, observando-a em sua totalidade.

“Mas podemos focalizar a avaliação para repensar a relação pedagógica.”

(Elaine Turk Faria)

A avaliação universitária:

Por que? Porque a avaliação possui uma dupla função na prática

educacional, seja ela na Educação Básica ou Superior. Ela serve como

instrumento de diagnóstico e mediação da docência.

“Nesses relatos, é possível perceber as duas funções da avaliação:

diagnóstico e mediação.” (Marlene Grillo)

A escolha de determinados instrumentos de avaliação dentre os múltiplos

disponíveis ao docente indicam o seu referencial teórico pedagógico, assim

como sua concepção de ensino.

A avaliação universitária:

“A avaliação configura todo o cenário pedagógico e explica a prática

desenvolvida. [...] Assim, uma tendência pedagógica marcada pela

Pedagogia Tradicional difere em todos os seus elementos de outra

influenciada pela Pedagogia Construtivista ou Progressista e não somente

no ensino ou na avaliação.” (Marlene Grillo)

No entanto, os superiores do docente possuem o direito e o dever de

fiscalizar a metodologia empregada, especialmente se ela for contrária às

diretrizes da instituição de ensino em todos os seus níveis.

A avaliação universitária:

E esse acompanhamento, supervisão e, quando for necessária, intervenção

é importante quando constado que as práticas avaliativas mostram-se

insuficientes, superadas ou inadequadas.

O estilo da pedagogia tradicional já mostrou diversas vezes sinais de seu

fracasso no Ensino Superior, mas ainda é a forma mais frequente de

avaliação, ainda não enfrentada devidamente pelos próprios professores,

pelas instituições de ensino ou autoridades estatais.

E ela esta sempre diante de nossos olhos.

A avaliação universitária:

“Independentemente do significado atribuído à avaliação pelo professor, ela

condiciona os processos de ensino e aprendizagem, e reciprocamente, o

entendimento de ensino e aprendizagem determina a forma de avaliar.”

(Marlene Grillo)

Todo professor já foi aluno um dia, portanto, sabe que o mais importante,

em um primeiro momento, é obter a média para ser aprovado na disciplina

na qual está matriculado.

A segunda etapa é saber como serão os instrumentos de avaliação e se

preparar adequadamente para ir bem neles.

A avaliação universitária:

Aprender, assimilar o conhecimento e refletir como um futuro profissional

são preocupações secundárias. O importante é “passar”.

“Os alunos, por seu turno, acomodam-se às exigências de modalidade de

avaliação vivenciada, a qual se torna a síntese de todo o processo

pedagógico.” (Marlene Grillo)

Essa filosofia deveria ser inconcebível no Ensino Superior, mas é a regra,

um sistema mantido por todos os atores: alunos, professores, direção.

A avaliação universitária:

Mas, ela é inaceitável justamente porque é contrária ao entendimento da

pedagogia crítica contemporânea, que preza por um ensino de formação

completa do profissional cuja responsabilidade não é possuir apenas o

domínio técnico, mas também compreender sua função social.

Porém, nesse sistema, sequer o domínio da técnica ela aprende.

O professor também não está interessado em saber se seus alunos

aprenderam alguma coisa, pois esse desinteresse e impessoalidade da

educação está no cerne de sua formação.

A avaliação universitária:

“O segundo aspecto destacado diz respeito à não-compreensão da

avaliação como mecanismo capaz de subsidiar a melhoria da qualidade e o

ensino, como um mecanismo para obter as notas necessárias para passar

de ano e receber um diploma.” (Ana Maria Souza)

Logo, é imperioso que haja uma revolução na própria concepção do que

seja o Ensino Superior, para que a avaliação também se transforme com

vistas a melhorar e aprimorar essa forma de ensino.

E não estamos da falar de uma simples concepção construtivista.

A avaliação universitária:

Teorias do conhecimento, como a empirista, apriorista ou a construtivista

são importantes quando estamos tratando de meios de fazer com que o

aluno assimile o saber técnico em um primeiro momento.

Entretanto, também é fundamental que o docente saiba avaliar como o

estudante irá aplicar esse conhecimento no exercício de sua profissão, seja

de forma mais tradicional ou mais social.

Mas essa é uma discussão que remete aos modelos de universidade e

pouco analisadas pelos próprios docentes em sua atividade diária.

A avaliação universitária:

Assim, independentemente da finalidade do conhecimento, o adequado, o

aconselhável é que os instrumentos de avaliação sejam relacionados ao

conteúdo ministrado, justamente para se saber, com confiança, se os

mesmos foram suficientemente aprendidos, respeitando-se a peculiaridade

de cada área do saber.

Mas, esse debate é ainda mais antigo, remontando ao clássico conflito

epistemológico entre Francis Bacon x René Descartes.

A avaliação universitária:

Como encontrar a forma de avaliação correta nas Ciências Humanas? Será

a mesma aplicada às Ciências Exatas ou às Médicas?

“Os critérios avaliativos, coerentes com essa definição, representam o que é

julgado essencial numa determinada área de conhecimento e tornam claras

as referências utilizadas para a avaliação.” (Marlene Grillo)

“Os resultados levam a supor que a avaliação da aprendizagem em curso

superior deve considerar, além das metas curriculares propostas para cada

curso, a natureza dos assuntos que serão ensinados”. (Ana Maria Souza)

A avaliação universitária:

Certamente que não.

Algumas possuem um viés mais concreto, outras, mais filosófico e assim por

diante, logo, cada área do saber possui mais familiaridade com

determinados instrumentos de avaliação que justamente são mais

adequados a ela própria e ajudam-na a se desenvolver.

Porém, a universalização de alguns desses instrumentos é fruto da difusão

do método científico tradicional a todas as áreas do conhecimento humano,

não se respeitando sua natureza e peculiaridades.

A avaliação universitária:

Para finalizar estas considerações críticas, chama atenção que cada

professor sabe, ou tem consciência, da inadequação de seus instrumentos

avaliativos quando reflete acerca da realidade da vida profissional.

Ele sabe que a vida não é uma prova onde se deve marcar um “X” na

resposta certa, ou responder tudo com “V“ ou “F”, assim como que a vida

não é um debate despropositado e sem finalidade concreta.

Então, por que ele não se transforma e abandona suas crenças tradicionais

e não pensa em prol do aluno?

A avaliação universitária:

Qual é seu medo em abrir mão do controle?

Qual é seu medo em se aprimorar? Saber que está errado?

E por que os próprios alunos também não admitem sua parcela de

responsabilidade? Talvez porque não tenham compreendido que a meta do

Ensino Superior não é a simples obtenção de um diploma universitário.

A quem compete fazê-los compreender a complexidade da formação de um

profissional completamente apto hoje?

A avaliação universitária:

Essas são algumas questões que poderiam ser fruto de pesquisas no futuro

e que certamente ajudariam a entender o real funcionamento do Ensino

Superior no Brasil, onde não há um modelo escolhido.

A universidade brasileira não possui uma identidade própria, estando alheia

ao bel prazer das temporárias políticas públicas de educação.

Instituições de ensino públicas e privadas possuem finalidades diversas,

tornando ainda mais tensa essa problemática questão.

A avaliação universitária:

Assim, se pensar em uma forma nacional de avaliação universitária justa e

adequada torna-se quase que uma utopia.

Sem se saber onde queremos chegar, jamais saberemos como chegar.

Por isso, diante de todas essas inúmeras variáveis, o que realmente importa

é a aula dada em sala de aula, pois ela representa a educação real e

concreta que pode ser objeto de estudo.

O resto é tema para outros debates.

Conclusões:

Há uma crise na Educação brasileira, que se estende por todos os seus

níveis, perpassando seus agentes, finalidades, instituições etc. O Ensino

Superior não estaria a salvo dessa crise.

A Educação, como direito básico de todos, não conseguiu se adaptar às

contínuas exigências da massa por melhorias. O “produto” ofertado ainda

está aquém do que é pedido por seus consumidores.

E a Educação, além de ser um direito, possui uma função instrumental na

sociedade em que vivemos, incluindo o Ensino Superior.

Conclusões:

Logo, para que possamos avaliar nosso estudante universitário, é preciso

que estabeleçamos o que queremos dele depois de formado.

Mas as respostas a essa pergunta não são pacíficas em nossa sociedade

brasileira, cujo pluralismo sociocultural é um fator de peso.

Assim, apenas o professor, como figura individual e concreta é a única

pessoa capaz de saber o que exigir de seus alunos, tendo em vista sua

concepção de profissional competente.

Conclusões:

E só podemos tecer alguma crítica de dessa concepção individual a partir de

seus instrumentos de avaliação, que são o espelho de sua prática

pedagógica, que é protegida pela liberdade de cátedra.

Os próprios alunos ainda se escusam em assumir seu compromisso como

futuros profissionais e adultos (dito) responsáveis, inviabilizando um exame

mais apurado da avaliação universitária.

A avaliação é um ato multilateral, portanto, sem a colaboração de todos, não

há porque se discutir a atividade educacional em si.