avaliação qualitativa dos riscos ltcat - energia elétrica
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1. AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS
CONTATO COM ENERGIA ELÉTRICA
JUSTIFICATIVAS PARA CARACTERIZAÇÃO DO ADICIONAL À TRABALHADORES
QUE ATUAM EM SITUAÇÕES DE RISCO DE CONTATO COM ENERGIA.
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE PARA ATIVIDADES COM ENERGIA ELÉTRICA
O trabalho com eletricidade exige procedimentos padronizados e treinamento
específico e é bastante vulnerável à ocorrência de acidentes, inclusive fatais.
A Constituição Federal em seu Art. 7º, inciso XXIII prevê como matéria constitucional,
devidamente regulamentada, o pagamento de adicional de remuneração para as
atividades classificadas como perigosas: “Art. 7º: São direitos dos trabalhadores
urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXIII –
adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na
forma da lei.”
Em 14 de Outubro de 1986, entrou em vigor o Decreto Nº93.412, instituindo o salário
adicional para empregados do setor de energia elétrica, em condições de
periculosidade, conforme exposto em seu texto, que, recentemente, foi incorporado
com poucas modificações como Anexo 4 - Atividades e operações perigosas com
energia elétrica à Norma Regulamentadora-NR 16 - Atividades e operações perigosas,
sancionado através da Portaria N.º 1.078, de 16 de Julho de 2014.
“ANEXO 4
ATIVIDADES E OPERAÇÕES PERIGOSAS COM ENERGIA ELÉTRICA
1. Têm direito ao adicional de periculosidade os trabalhadores:
a) que executam atividades ou operações em instalações ou equipamentos elétricos
energizados em alta tensão; b) que realizam atividades ou operações com trabalho em
proximidade, conforme estabelece a NR-10; c) que realizam atividades ou operações
em instalações ou equipamentos elétricos energizados em baixa tensão no sistema
elétrico de consumo - SEC, no caso de descumprimento do item 10.2.8 e seus
subitens da NR10 - Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade; d) das
empresas que operam em instalações ou equipamentos integrantes do sistema
elétrico de potência - SEP, bem como suas contratadas, em conformidade com as
atividades e respectivas áreas de risco descritas no quadro I deste anexo.
2. Não é devido o pagamento do adicional nas seguintes situações:
a) nas atividades ou operações no sistema elétrico de consumo em instalações ou
equipamentos elétricos desenergizados e liberados para o trabalho, sem possibilidade
de energização acidental, conforme estabelece a NR-10; b) nas atividades ou
operações em instalações ou equipamentos elétricos alimentados por extra-baixa
tensão; c) nas atividades ou operações elementares realizadas em baixa tensão, tais
como o uso de equipamentos elétricos energizados e os procedimentos de ligar e
desligar circuitos elétricos, desde que os materiais e equipamentos elétricos estejam
em conformidade com as normas técnicas oficiais estabelecidas pelos órgãos
competentes e, na ausência ou omissão destas, as normas internacionais cabíveis.
3. O trabalho intermitente é equiparado à exposição permanente para fins de
pagamento integral do adicional de periculosidade nos meses em que houver
exposição, excluída a exposição eventual, assim considerado o caso fortuito ou que
não faça parte da rotina.
4. Das atividades no sistema elétrico de potência - SEP.
4.1 Para os efeitos deste anexo entende-se como atividades de construção, operação
e manutenção de redes de linhas aéreas ou subterrâneas de alta e baixa tensão
integrantes do SEP:
a) Montagem, instalação, substituição, conservação, reparos, ensaios e testes de:
verificação, inspeção, levantamento, supervisão e fiscalização; fusíveis, condutores,
para-raios, postes, torres, chaves, muflas, isoladores, transformadores, capacitores,
medidores, reguladores de tensão, religadores, seccionalizadores, carrier (onda
portadora via linhas de transmissão), cruzetas, relé e braço de iluminação pública,
aparelho de medição gráfica, bases de concreto ou alvenaria de torres, postes e
estrutura de sustentação de redes e linhas aéreas e demais componentes das redes
aéreas; b) Corte e poda de árvores; c) Ligações e cortes de consumidores; d)
Manobras aéreas e subterrâneas de redes e linhas; e) Manobras em subestação; f)
Testes de curto em linhas de transmissão; g) Manutenção de fontes de alimentação de
sistemas de comunicação; h) Leitura em consumidores de alta tensão; i) Aferição em
equipamentos de medição; j) Medidas de resistências, lançamento e instalação de
cabo contra-peso; k) Medidas de campo eletromagnético, rádio, interferência e
correntes induzidas; l) Testes elétricos em instalações de terceiros em faixas de linhas
de transmissão (oleodutos, gasodutos etc); m) Pintura de estruturas e equipamentos;
n) Verificação, inspeção, inclusive aérea, fiscalização, levantamento de dados e
supervisão de serviços técnicos; o) Montagem, instalação, substituição, manutenção e
reparos de: barramentos, transformadores, disjuntores, chaves e seccionadoras,
condensadores, chaves a óleo, transformadores para instrumentos, cabos
subterrâneos e subaquáticos, painéis, circuitos elétricos, contatos, muflas e isoladores
e demais componentes de redes subterrâneas; p) Construção civil, instalação,
substituição e limpeza de: valas, bancos de dutos, dutos, condutos, canaletas,
galerias, túneis, caixas ou poços de inspeção, câmaras; q) Medição, verificação,
ensaios, testes, inspeção, fiscalização, levantamento de dados e supervisões de
serviços técnicos.
4.2 Para os efeitos deste anexo entende-se como atividades de construção, operação
e manutenção nas usinas, unidades geradoras, subestações e cabinas de distribuição
em operações, integrantes do SEP:
a) Montagem, desmontagem, operação e conservação de: medidores, relés, chaves,
disjuntores e religadoras, caixas de controle, cabos de força, cabos de controle,
barramentos, baterias e carregadores, transformadores, sistemas anti-incêndio e de
resfriamento, bancos de capacitores, reatores, reguladores, equipamentos eletrônicos,
eletromecânico e eletroeletrônicos, painéis, pararaios, áreas de circulação, estruturas-
suporte e demais instalações e equipamentos elétricos; b) Construção de: valas de
dutos, canaletas, bases de equipamentos, estruturas, condutos e demais instalações;
c) Serviços de limpeza, pintura e sinalização de instalações e equipamentos elétricos;
d) Ensaios, testes, medições, supervisão, fiscalizações e levantamentos de circuitos e
equipamentos elétricos, eletrônicos de telecomunicações e telecontrole.”
O pagamento da remuneração adicional ficou restrito à exposição eventual, que,
segundo o referido Decreto exclui o direito à percepção do acréscimo indenizatório,
conforme expresso no § 1º do artigo 2º:
“Art.2º. § 1º O ingresso ou permanência eventual em área de risco não geram direito
ao adicional de periculosidade”.
Sendo cessado o direito, através de perícia, conforme § 1º do artigo 4º do referido
Decreto:
“Art.4º. § 1º A caracterização do risco ou da sua eliminação far-se-á através de perícia,
observando o disposto no artigo 195 e parágrafos da Consolidação das Leis do
Trabalho”.
Revendo o artigo 195, caput, da CLT:
Art.195. A caracterização e classificação da insalubridade e da periculosidade,
segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através da perícia a cargo de
Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho.
É assegurado o adicional de periculosidade apenas aos empregados que trabalham
em sistema elétrico de potência em condições de risco, ou que o façam com
equipamentos e instalações elétricas similares, que ofereçam risco equivalente, ainda
que em unidade consumidora de energia elétrica.
Ao perito, fica a responsabilidade de levantar o real enquadramento do trabalhador
nas atividades e áreas de risco incluídas no quadro anexo ao Decreto 93.412/86,
confirmando se a exposição ocorre efetivamente em condições de periculosidade,
conforme definido no artigo 2º, § 2º do referido Decreto:
“Art. 2º § 2º São equipamentos ou instalações elétricas em situação de risco aquelas
de cujo contato físico ou exposição aos efeitos da eletricidade possam resultar
incapacitação, invalidez permanente ou morte”.
Quanto à expressão “sistemas elétricos de potência”, utilizada no Decreto 93.412/86,
ela encontra sua melhor definição na Norma Técnica da ABNT que tem por título esta
mesma expressão: NBR 5460 Sistemas Elétricos de Potência - Terminologia.
Desta Norma, transcreve-se, na íntegra o item que trata da definição da expressão,
acompanhado da nota que é parte integrante do texto:
3.613 Sistema Elétrico (de potência )
3.613.1 Em sentido amplo, é o conjunto de todas as instalações e equipamentos
destinados à geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.
3.613.2 Em sentido restrito, é um conjunto definido de linhas e subestações que
assegura a transmissão e/ou a distribuição de energia elétrica, cujos limites são
definidos por meio de critérios apropriados, tais como, localização geográfica,
concessionário, tensão, etc..
Nota: Por exemplo, sistema de geração, sistema de transmissão, sistema de
distribuição. Podem ser ainda considerados sistemas menores, desde que
perfeitamente caracterizados, tais como, sistema de geração hidrelétrica, sistema de
transmissão em x kV, sistema de distribuição da cidade X, etc..
Entretanto, somente o pagamento do adicional de periculosidade não será suficiente
para garantir a vida e integridade física dos trabalhadores; quando se trata de energia
elétrica, sabe-se que alguns riscos estão implícitos, tais como, choque elétrico,
indução, arco elétrico e descarga atmosférica.
O risco de choque elétrico dar-se-á através de contato com equipamento/circuito
energizado, ou equipamento/circuito desenergizado que, por indução, tenha
acumulado carga estática.
A indução ocorre devido ao campo de força gerado durante a passagem da corrente
elétrica pelo condutor. Este campo pode induzir um circuito próximo provocando um
acúmulo de carga que, no momento que uma pessoa efetuar contato, esta carga
escoará para terra, provocando-lhe o que denomina-se choque estático; pois a mesma
se tornou o contato direto entre o condutor e a terra.
O arco elétrico é produzido quando a diferença de potencial na abertura da chave
seccionadora consegue romper o dielétrico do ar. Este fenômeno produz luz e calor
intensos, capazes de provocar queimaduras graves em quem estiver próximo a este
equipamento.
As descargas atmosféricas nada mais são que o equilíbrio de cargas entre as nuvens
e a terra, podendo ser transmitidas pela Linha de Transmissão mesmo que
desenergizada, que energizará tudo que estiver conectado à ela (equipamentos,
barramentos, pórticos)
Portanto, mais importante que o pagamento do adicional de periculosidade para
trabalhadores que exerçam atividade dentro de área energizada ou em suas
proximidades, é a adoção de medidas de proteção coletiva e a conscientização dos
trabalhadores quanto aos riscos e medidas de controle, através de treinamentos,
conforme exposto nos itens abaixo extraídos da Norma Regulamentadora – NR 10:
“10.6.1.1. Os trabalhadores de que trata o item anterior (item 10.6.1) devem receber
treinamento de segurança para trabalhos com instalações elétricas energizadas, com
currículo mínimo, carga horária e demais determinações estabelecidas no Anexo II
desta NR.”
“10.6.1. As intervenções em instalações elétricas com tensão igual ou superior a
50Volts em corrente alternada ou 120 Volts em corrente contínua somente podem ser
realizadas por trabalhadores que atendam ao que estabelece o item 10.8 desta
Norma”.
“10.8. Habilitação, Qualificação, Capacitação e Autorização dos Trabalhadores
10.8.1 É considerado trabalhador qualificado aquele que comprovar conclusão de
curso específico na área elétrica reconhecido pelo Sistema Oficial de Ensino.
10.8.2 É considerado profissional legalmente habilitado o trabalhador previamente
qualificado e com registro no competente conselho de classe.
10.8.3 É considerado trabalhador capacitado aquele que atenda às seguintes
condições, simultaneamente: a) receba capacitação sob orientação e responsabilidade
de profissional habilitado e autorizado; e b) trabalhe sob a responsabilidade de
profissional habilitado e autorizado.
10.8.4 São considerados autorizados os trabalhadores qualificados ou capacitados e
os profissionais habilitados, com anuência formal da empresa”.
Como se comprova na redação, os profissionais destacados no subitem 10.6.1.1
devem necessariamente ter algum conhecimento na área elétrica para receber o
Treinamento referido no Anexo II da Norma Regulamentadora – NR 10. Para os
demais trabalhadores, o subitem 10.8.9 cita:
“10.8.9 Os trabalhadores com atividades não relacionadas às instalações elétricas
desenvolvidas em zona livre e na vizinhança da zona controlada, conforme define esta
NR, devem ser instruídos formalmente com conhecimentos que permitam identificar e
avaliar seus possíveis riscos e adotar as precauções cabíveis”.
Além desta medida, serão adotados Equipamentos de Proteção Coletiva, tais como:
- Delimitação da área de trabalho, sendo preferencialmente, locada na zona livre,
conforme raios definidos no Anexo I da Norma Regulamentadora – NR 10, impedindo
o acesso inadvertido de trabalhadores não autorizados.
- Detecção da ausência de tensão antes de efetuar contato físico com
equipamento/barramento desenergizado, mas que tenha possibilidade de energização
acidental.
- Sinalização de advertência e impedimento de acesso.
- Proteção dos elementos energizados nas zonas vizinhas.
- Estudo da altura dos barramentos para viabilizar tipo de equipamento a ser utilizado
a fim de evitar proximidade com os barramentos/equipamentos energizados.
- Aterramento temporário, inclusive de maquinas e equipamentos.
Como para algumas atividades, mesmo adotando medidas de proteção coletiva, os
riscos elétricos ainda podem estar presentes, deverão ser utilizados Equipamentos de
Proteção Individual compatível com a classe de tensão a que estarão expostos, tais
como, uniforme antichamas, luva isolante de alta tensão.
No entanto, para todos os trabalhadores serão fornecidos capacete classe B e botina sem biqueira metálica.