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Avanços e polêmicas em avaliação psicológica Claudio Simon Hutz (Org.)

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Avanços e polêmicas em avaliação psicológica

Claudio Simon Hutz(Org.)

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AVANÇOS E POLÊMICASem Avaliação Psicológica

em homenagem a Jurema Alcides Cunha

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AVANÇOS E POLÊMICASem Avaliação Psicológica

em homenagem a Jurema Alcides Cunha

CLAUDIO SIMON HUTZ(Org.)

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SUMÁRIO

1 - A tradição em avaliação psicológica no Rio Grande do Sul: a liderança e a referência de Jurema Alcides Cunha ...................... 7William B. Gomes

2 - Teoria de resposta ao item: conceitos e aplicações na psicologia e na educação ............................................................................... 25Carlos Henrique Sancineto da Silva Nunes e Ricardo Primi

3 - Testes psicológicos: conceito, uso e formação do psicólogo ..... 71Ana Paula Porto Noronha

4 - Avaliação da criatividade: possibilidades e desafios .................. 93Solange Muglia Wechsler

5 - O uso da estatística na avaliação psicológica: comentários e considerações práticas .................................................................. 127Valdiney V. Gouveia, Walberto S. Santos e Taciano L. Milfont

6 - Métodos Projetivos em Avaliações Compulsórias: indicadores e perfis ......................................................................................... 157Anna Elisa de Villemor-Amaral

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7 - Avaliação psicológica e genética ............................................... 175Clarissa Marceli Trentini e Denise Balem Yates

8 - Avaliação psicológica do dependente de substâncias psicoativas .... 199Irani de Lima Argimon e Margareth da Silva Oliveira

9 - Reflexões sobre o ensino da avaliação psicológica na formação do psicólogo ................................................................................. 217Irai Cristina Boccato Alves

10 - Definições contemporâneas de validade de testes psicológicos .... 243Ricardo Primi, Monalisa Muniz e Carlos Henrique Sancineto Nunes

11 - Leonardo da Vinci, o Rorschach e o movimento.................... 267Latife Yazigi

12 - Ética na Avaliação Psicológica ................................................ 297Claudio Simon Hutz

Sobre os autores ........................................................................... 311

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1A TRADIÇÃO EM AVALIAÇÃO

PSICOLÓGICA NO RIO GRANDE DO SUL: A LIDERANÇA E A REFERÊNCIA DE

JUREMA ALCIDES CUNHA

William B. Gomes1

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

A área da avaliação psicológica foi uma das primeiras referências profissionais do psicólogo. As medidas psicológicas surgiram de princípios da psicofísica e da psicologia experimental, o que demonstra claramente as bases sólidas dessa importante área de pesquisa e prática. Equipamentos utilizados em experimentos serviram de avaliação para tempo de reação, atenção e percepção diferencial. Os mesmos princípios foram adotados na preparação de medidas para processos psicológicos superiores como o estudo da memória e da inteligência.

No Brasil, a grande divulgação da avaliação psicológica cou-be a um jornalista, o pernambucano José Joaquim de Campos da Costa Medeiros de Albuquerque (1867-1934). Professor, político,

1 Agradecimentos aos bolsistas de iniciação científica que colaboram com o Projeto Pioneiros, transcrevendo audioteipes e localizando documentos. Foram eles: Amanda da Costa da Silveira, Adriano Moraes Migliavacca e Erika Juchem. Também agradeço aos colegas Claudio S. Hutz e Clarissa M. Trentini pela leitura do manuscrito original e pelas prestimosas informações.

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literato, Medeiros de Albuquerque é considerado um pioneiro da psicologia brasileira (Campos, 2001), por vislumbrar muito cedo a importância dessa nova área de conhecimento e de suas implicações para a saúde e para a educação. No Brasil, ele sempre será lembrado por ter escrito a letra do Hino da Proclamação da República2. Foi ele quem incentivou o irmão mais novo, o médico Maurício Campos de Medeiros, a ir a Europa e estudar psicologia experimental e psiquiatria com Emil Kraepelin (1856-1926) e George Dumas (1866-1946). Ao voltar, Maurício criou um laboratório de psicologia no Hospital Nacional dos Alienados. A instalação de um laboratório de psicologia em um hospital sugeria o potencial dos equipamentos e das técnicas tanto para pesquisa quanto para avaliação psicológica. Em seu livro sobre Tests3, Medeiros e Albuquerque faz uma minuciosa descrição dos critérios utilizados na construção dos testes de inteligência para uso individual e coletivo, com fartos exemplos. Interessante ele ter mantido do verbete tests no título, pois o equivalente teste já existia na língua portuguesa desde o século XIII (Houaiss, 2001). Certamente, ele queria chamar atenção para a novidade que estava sendo apresentada.

No livro, Medeiros e Albuquerque mostra familiaridade com os trabalhos de Alfred Binet (1857-1911) e de Lewis Madison Terman (1877-1956), dedicando todo um capítulo às formulações dos testes de inteligência. A maior preocupação dele era o uso de critérios científicos de avaliação em escolas, para valorizar a apro-priação do conhecimento pelos estudantes e evitar julgamentos

2 Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade Dá que ouçamos tua voz!3 O livro foi digitalizado pelo MuseuPsi da UFRGS e está disponível em

http://www.ufrgs.br/museupsi/tests.htm

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equivocados e injustos dos professores. Suas considerações sobre avaliação continuam atuais e bem que poderiam ser levadas a sério pelos profissionais da educação.

No início dos anos 1940, os testes estavam presentes em todos os campos de atuação da nascente ciência psicológica. Com a Segunda Guerra Mundial, investiu-se muito na preparação e na aplicação de testes para recrutamento, orientação e, poste-riormente, em tratamentos de combatentes e ex-combatentes. As repercussões dessa pesquisa e aplicação foram enormes, alcançando também o Brasil. No Rio Grande do Sul, os testes chegaram dire-tamente da Europa e dos Estados Unidos, trazidos por psiquiatras como Décio de Souza, que na década de 1930 havia estudado na Europa, ou mesmo por Oscar Machado da Silva, que na década de 1920 estudara nos Estados Unidos.

A inauguração das Faculdades de Filosofia em Porto Alegre trouxe para as salas de aula o interesse pelos testes psicológicos, estimulados pelo professor psiquiatra Décio Soares de Souza (1907-1970), um grande usuário do teste de Rorschach. Para se ter ideia da importância desse teste na psiquiatria gaúcha, basta dizer que em 1949 O diagnóstico da personalidade em clínica ginecológica pelo teste de Rorschach foi título de tese de livre-docência para a cadeira de Ginecologia da UFRGS, defendida pelo médico Newton A. Prates de Lima. Foi Décio de Souza quem iniciou a prática de estágios em psicopatologia, na época frequentados por estudantes de filosofia, interessados na prática psicológica (Gomes, 2006).

O grande herdeiro da psicologia aplicada de Décio de Souza foi Nilo Antunes Maciel (1920-1993), indicado por ele para ser assistente do professor que o substituiria, quando de sua viagem a Londres para formação em psicanálise. O prof. Victor de Britto Velho (1915-) assumiu a teoria e Nilo Maciel ficou com as aulas e práticas e supervisões de estágios. Nilo Maciel passou a ser a grande referência para avaliação psicológica em Porto

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Alegre, criando serviços para organizações, como o Departamento Estadual de Estradas e Rodagens, a Carris, e a antiga Viação Aérea Rio-Grandense (Varig). Manteve um serviço de avaliação psicoló-gica, muito procurado pelos médicos psiquiatras para diagnósticos clínicos. A avaliação psicológica também prosperava nas Escolas Normais, como evidenciam os Boletins do Centro de Pesquisas e Orientação Educacionais (CPOE) da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, e a criação de Gabinetes de Psicologia nas Escolas Normais (Gomes, 2006).

Na década de 1950, o estudo de psicologia se transfere da UFRGS para a PUC-RS, com a criação de cursos de especialização em psicologia que funcionaram até a abertura do curso de gra-duação em 1962. A partir dos anos 1960, a avaliação psicológica terá nova referência em Porto Alegre, a simpática morena Jurema Alcides Cunha, que começava a se destacar com suas pesquisas sobre testes de inteligência.

Jurema Alcides Cunha nasceu em Porto Alegre (RS), em 30 de outubro de 1925, e faleceu na mesma cidade em 20 de agosto de 2003, de complicações de um infarto. Deixou duas filhas e cinco netos. Seu pai era militar, chegando ao posto de coronel do Exército, e sua mãe, professora. Seu pai também foi professor de português e latim. Seu primeiro contato com a Psicologia foi no Curso Normal do Instituto de Educação Flores da Cunha, onde estudou com Victor de Britto Velho, Graciema Pacheco (1910-1999) e Elmira Flores Cabral Pellanda. Em 1946, assumiu uma cadeira de professora primária no Grupo Escolar Rio Branco, em Porto Alegre. No mesmo período, iniciou seus estudos de filoso-fia, primeiro na Faculdade Católica (futura PUC-RS), e depois na Universidade do Rio Grande do Sul, atual Universidade Federal (UFRGS), onde concluiu o bacharelado em 1949 e a licenciatura em 1950. Sua atração pelo curso de Filosofia da UFRGS estava nas várias disciplinas relacionadas à Psicologia, como psicopatologia e

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psicodiagnóstico, incluindo testes como TAT, PMK e Rorschach. Entre os professores, estavam Victor de Britto Velho e Nilo Maciel. Em 1952, passou a lecionar psicologia para o Curso Normal do Instituto de Educação General Flores da Cunha. Na Faculdade Católica, predominava a psicologia filosófica de Armando Câmara, para quem a psicologia tinha se transferido do galinheiro (ironia ao behaviorismo) para o cabaré (ironia à psicanálise).

Cunha participou dos grandes momentos que estabeleceram a psicologia no Rio Grande do Sul. Assistiu às aulas do psicólo-go judeu-húngaro Béla Székely (1881-1955), que fora aluno de Freud e de Adler. Székely estava residindo em Buenos Aires e, no início da década de 1950, visitou algumas cidades brasileiras para proferir conferências sobre psicologia. Com estas, ele abriu um curso preparatório para a futura especialização em psicologia na PUC-RS, que antecedeu o curso de graduação. Cunha foi aluna da primeira turma do Curso de Especialização em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), o primeiro desse gênero oferecido no estado (1954-1956). Na verdade, Cunha havia sido cogitada para ser professora do curso, mas na época a PUC-RS não costumava incluir professoras em seu quadro docente. Para não deixar de participar, ela se matriculou e concluiu o curso. Ainda na década de 1950, participou dos grupos de Círculo Analítico de Psicanálise de orientação carusiana, fun-dado em Porto Alegre em 1956 com a presença do próprio Igor Caruso (1914-1981). Caruso foi um psicanalista que se afastou da ortodoxia freudiana, e com uma postura espiritualista aproximou-se da filosofia existencial, sendo bem recebido pelas instituições católicas que não cultivavam simpatias pelo materialismo de Freud. Por sua influência, abriu-se espaço em Porto Alegre para a formação psicanalítica a psicólogos, na época restrita a médicos.

Em 1963, Cunha foi aprovada em concurso para o cargo de psicólogo da Divisão Especial da Secretaria da Educação do Rio

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Grande do Sul, tornando-se logo a seguir presidente da Comissão de Pesquisa, organizada para colaborar com um projeto de pes-quisa do Instituto de Psiquiatria da Universidade de Maryland, com apoio do Foundations Funds for Research in Psychiatry e da Fullbright Comission, coordenado pelo dr. Eugene B. Brody. Por esse intercâmbio, Cunha foi, entre 1963 e 1966, professora visitante da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, em Baltimore, Estados Unidos. O projeto culminou com a publicação do livro The lost ones: Social forces and mental illness in Rio de Janeiro (Brody, 1973).

Em 1972, matriculou-se no curso de mestrado em Psicologia da PUC-RS, sob a orientação de Isacc Sprinz, concluindo-o em 1977 com a dissertação Sinais simbólicos de agressão no teste de Bender e a dimensão da normalidade – anormalidade. Ainda em 1977, defendeu sua tese de livre-docência, intitulada Suicídio e o teste de Bender. Neste mesmo ano, Cunha passou a integrar o grupo de professores fundadores do Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o segundo curso de formação em Psicologia do estado, que recebeu a primeira turma em 1972 (o primeiro foi o curso da PUC-RS, fundado em 1962). Para compor o corpo docente da Unisinos, ela convidou o psicólogo Claudio Simon Hutz, que acabara de chegar da Universidade de Haifa, em Israel, onde havia concluído o bacharelado em Psicologia. Para Hutz, o convite de Cunha foi um marco em sua vida, em dois sentidos. Foi quando começou a se interessar pela pesquisa em avaliação psicológica e também pela carreira universitária.

Em 1977, Cunha transferiu suas atividades de docência e pesquisa universitária para a PUC-RS, passando a integrar o corpo docente do curso de mestrado em Psicologia, lá permanecendo até 1998. A partir de 1999, ela passa a colaborar com os cursos de mestrado e doutorado em Psicologia da UFRGS, vinculada ao Laboratório de Mensuração, coordenado por Claudio S. Hutz.

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Com efeito, as últimas edições do celebrado Psicodiagnóstico indicavam a UFRGS como afiliação institucional.

As publicações de Jurema Alcides Cunha concentram-se na área dos testes e medidas. Realizou a padronização do Inventário de Inteligência Não Verbal de Pierre Weil (1924-2008) para escolares adolescentes do estado Rio Grande do Sul, e do Teste Projetivo Holtzman Inkblot Technique para o mesmo estado. Outros instru-mentos que receberam atenção de Cunha foram as escalas Beck, o Teste das Fábulas e o Teste Wisconsin. Ela escreveu cerca de trezentos artigos de divulgação psicológica para o jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, e traduziu vários livros muito utilizados nos cursos de graduação em psicologia no Brasil, como Ensinamentos básicos dos grandes psicólogos, de S. S. Sargent e K. R. Stafford (1969), e Psiquiatria dinâmica, de R. R. Mezer (1972), ambos pu-blicados pela Editora Globo de Porto Alegre. Em 1970, organizou um dicionário de termos psicanalíticos também publicado pela Editora Globo. Uma de suas contribuições mais importantes foi a organização do livro Psicodiagnóstico, originalmente publicado em 1986, atualmente na 5a edição, sem dúvida o mais abrangente livro do gênero no Brasil.

Na última versão do Currículo Lattes/CNPq (on line) de Jurema Alcides Cunha constavam 37 artigos, 32 capítulos de livro, doze organizações de livros e 26 orientações de disser-tação de mestrado. Uma obra expressiva na área da psicologia no Rio Grande do Sul para um pesquisador da sua geração, que acompanhou a transição da formação em cursos de filosofia para cursos psicologia propriamente. Entre os muitos psicólogos e pesquisadores influenciados por ela, gostaria de mencionar alguns nomes representativos, pelo reconhecimento alcançado tanto Rio Grande do Sul quanto no Brasil. Além de Cláudio Hutz, uma das principais referências na área da avaliação psicológica, cabe citar sua ex-orientanda de mestrado Blanca Susana Guevara Werlang,

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professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-RS, atual diretora do Instituto de Psicologia dessa universidade; e a ex-orientanda de iniciação científica Clarissa Marceli Trentini, pro-fessora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS, atual chefe do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e Personalidade. Tanto Welang quanto Trentini são exemplos re-presentativos, entre muitos outros, do trabalho de formação de pesquisadores desenvolvido por Cunha.

Um mês antes de falecer, uma semana após sofrer um infarto, Jurema Alcides Cunha foi homenageada no I Congresso Nacional de Avaliação Psicológica, realizado entre 23 e 26 de julho de 2003 na PUC-Campinas (SP). Como já estava muito doente, não pôde comparecer, sendo representadana cerimônia por Blanca Werlang. No entanto, o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (Ibap), entidade promotora do evento, fez chegar às mãos de Jurema, pouco antes de seu falecimento, o troféu e o texto da homenagem. Foi realmente um reconhecimento justo a essa pioneira da pesquisa em psicologia no Brasil. Clarissa Trentini, presente a essa singela cerimônia realizada em um quarto de hospital, disse que ela ficou muito contente com o reconhecimento.

No início dos anos 1990, visitei vários pioneiros da psicologia em Porto Alegre, entre os quais entrevistei Nilo Maciel, Graciema Pacheco, Elmira Pellanda. Em 5 de maio de 1991, em uma tarde cinza de outono meridional, fui recebido por Jurema em seu apar-tamento da avenida Independência, em Porto Alegre. Na época, ela desenvolvia intenso trabalho de pesquisa e atendia seus muitos orientandos em seu apartamento, quase não saindo de casa. Durante anos ela lutou bravamente contra o alcoolismo que lhe atormentava a vida e restringia sua mobilidade. Também fumava muito, acendendo um cigarro após o outro. Parou de beber e fumar alguns anos antes de morrer. Já não saía mais de casa, não exatamente por causa do alcoolismo ou da dependência de cigarro, mas em decorrência dos

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problemas gerados por eles. Nessa época caminhava lentamente e com alguma dificuldade. Eu poderia omitir esse lado triste de sua vida, mas não seria justo com ela e com as lições que sempre extraímos ao refletir sobre a vida e a obra desses grandes pesquisa-dores. Posso encontrar, nas muitas teorias psicológicas, explicações e interpretações para o fato, mas não é essa a questão. Todos temos dificuldades e fraquezas, mas podemos impedir que elas afetem nosso lado produtivo e a contribuição positiva que queremos deixar para a posteridade. Ainda sobre a rotina de trabalho da Jurema, Clarissa Trentini lembrou que ela acordava cedo e passava o dia no gabinete trabalhando, Todo seu trabalho era manuscrito (ou seja, escrevia todos os seus trabalhos em folhas de almaço e com lápis 2B. Depois, enviava esse material para uma datilógrafa, que acabou por se tornar sua grande amiga. Embora dominasse a informática e contasse com um computador bastante moderno em sua sala de estudo, esse era o percurso de seus escritos

A seguir reproduzo trechos da entrevista, omitindo repeti-ções e algumas das minhas perguntas, abrindo espaço para a fala e a reflexão de Jurema, que fala fala abertamente sobre a carreira profissional e alguns aspectos pitorescos de sua história de vida. Nas entrelinhas, breves menções aos bastidores do desenvolvimento da psicologia como profissão e ciência no Rio Grande do Sul. Ela conclui com uma análise, hoje consensual, sobre as dificuldades encontradas na formação, no uso e na aplicação de testes psico-lógicos no Brasil.

A entrevista

William – Como foi sua formação em Psicologia? Jurema – Comecei pela Filosofia. O primeiro ano cursei na

PUC e depois passei para UFRGS, por uma razão muito simples:

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o que me interessava era basicamente a Psicologia. Não havia curso específico de Psicologia e a UFRGS estava oferecendo um programa que satisfazia assim uma iniciação nesse sentido.

William – Como surgiu esse interesse pela Psicologia, numa época em que esse campo de estudos era pouco conhecido?

Jurema – A Psicologia, de certa maneira, se insinuou no Brasil pela educação; antes disso fiz o curso de professora primária, e tive grandes professores; naquele tempo eu os con-siderava grandes professores de Psicologia: Graciema Pacheco e Elmira Cabral Pellanda. Quem praticamente me empurrou para faculdade foi a Graciema, porque ela achava meu desempenho muito bom e viu que eu gostava muito de Psicologia. Fui fazer o vestibular sem preparar nada, e levei a única bomba na minha vida, uma bomba em latim. E isso aconteceu porque peguei o ginásio em uma época de reforma, o professor demorou a chegar e só tive uns oito meses de latim.. Quando fui fazer o vestibular, que exigia cinco anos de latim, eu só tinha estudado oito meses. Tanto que éramos 22 candidatos e só quatro, que eram padres, foram aprovados. Mas eu não desisti, passei uma semana daque-las, estudando dia e noite, preparando os textos que achávamos que entravam no vestibular. Assim que eu soube do resultado da UFGRS, lá pelas dez horas da manhã, fui me inscrever na PUCRS. E, semana seguinte, fiz a prova e saí do exame oral com elogios ao meu latim! Foi por isso que comecei na PUC, quando na verdade eu desejava estudar na UFRGS, que tinha currículo que atendia bastante minhas necessidades iniciais; nós tínhamos uma boa formação em Psicopatologia e também, vamos dizer, na linha de Psicodiagnóstico e dos testes...

William – No curso de Filosofia?Jurema – No curso de Filosofia tive Roscharch, por 1947,

1948. Quem ensinava era o Nilo Antunes Maciel. Nós tínhamos grandes professores! Britto Velho era um deles. Aliás, Britto Velho

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já havia sido meu professor no Curso Normal. Grandes professores davam aula naquela época, e nos davam uma boa base em coisas dinâmicas.

William – A psicanálise já aparecia então com muita força?Jurema – Sim, já aparecia; me lembro bem de coisas que

tivemos sobre entendimento de neurose, sobre defesas e todo me-canismo. Tudo isso eu me lembro do curso de Filosofia. Tivemos Rorscharch, acho que TAT, e também noções do PMK, todas essas coisas básicas já naquele tempo. A bibliografia estrangeira não demorava muito para chegar ao Brasil e a influência dos livros europeus era grande. Em 1952, comecei a lecionar no Curso Normal, onde dava uma boa noção de Piaget. É curioso porque no começo de 1960 eu estava nos Estados Unidos e numa discussão em aula eu tive de ir ao quadro-negro explicar alguns conceitos de Piaget, que os americanos não estavam entendendo, mas que eu já ensinava em 1952 para minhas alunas do Curso Normal.

William – Na verdade, nos Estados Unidos ocorreu um fenômeno muito curioso com o Piaget. Ele esteve lá por volta de 1930 em um grande congresso de Psicologia, e as pessoas se impres-sionaram muito com o pensamento dele. Nas primeiras edições do Manual de psicologia infantil, editado por Leonard Carmichael, ele aparece, depois nas edições seguintes desaparece, para, alguns anos depois, reaparecer.

Jurema – Ele foi redescoberto nos Estados Unidos por volta de 1960. Eu me lembro de que em 1952 fazia as minhas alunas aplicarem todas aquelas perguntinhas do Piaget em crianças, isto é, de certa maneira já havia uma larvinha de pesquisa. Em relação à minha formação, concluí o curso de Filosofia em 1949, em se-guida fiz didática, em 1950, em 1952, depois comecei a lecionar no Instituto de Educação, e foi nesse momento que começou aquele movimento na PUC-RS de fazer alguma coisa voltada para a Psicologia. Trouxeram muita gente da Europa, inclusive o Béla

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Székely, e com isso germinou na PUC-RS a ideia de um curso de Psicologia, de cuja organização participei com o Irmão Justo e com muitas outras pessoas. Trabalhei na organização desse curso, pois eu era das poucas pessoas que atuavam em Psicologia. No início eu eraprofessora do curso, mas em pouco tempo houve uma série de implicações, que nem interessa mencionar aqui, mas, naquele tempo, quase todos os professores eram padres, ou homens, e, de repente, a Edela [Pereira de Souza, 1925-2004] e eu estávamos lecionando no curso de Psicologia. Começamos a sentir certa pressão, pois diziam que éramos comunistas, entre outras coisas, e a pressão para sairmos foi aumentando até o ponto em que acabaram nos dizendo que era porque éramos mulheres. O diretor quis fazer força, quis lutar contra, mas eu disse: “Não, até por ser comunista eu posso pedir para eles me provarem o contrário, mas por ser mulher eu não vou pedir”. Então nós duas pedimos demissão em caráter irrevogável, uma situação muito chata. Em resumo, trabalhei na organização do curso, lecionei e depois de uns três meses deixei de ser professora e entrei no curso, me tornei aluna.

William – Que disciplina você começou lecionava?Jurema – Psicodinâmica da conduta, baseada em [Karl]

Jaspers [o livro era Psicopatologia geral]. Como passei a ser aluna, não apareço com professora. Já a Edela simplesmente saiu.

William – Mas o marido dela, o Chico Pedro [Francisco Pedro Pereira de Souza], continuou como professor

Jurema – Sim, continuou. Fiz os dois anos do curso e mais um estágio. Como nessa altura, eu trabalhava no Gabinete de Psicologia do Instituto de Educação, meu trabalho valeu como estágio. Naquela época eu já tinha começado a fazer pequenas pesquisas, levantamentos, coisas simples e coisas complicadas.

William – E o interesse por pesquisa formal, com método e publicação, de onde veio?

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Jurema – Sabe que eu não sei dizer? Acho que nós, dessa turma iniciante, fomos basicamente autodidatas. Houve um em-purrão inicial, mas eu já sentia que a coisa era muito incompleta. Eu e outros da minha geração trabalhamos sozinhos e estudamos sozinhos. Nosso afã de ter de descobrir as coisas, que afinal de contas é a atitude científica que leva à pesquisa, foi a atitude qu nos formou, ou a necessidade...

William – Eu, talvez, pudesse ajudar no seguinte aspecto: você, diferentemente de outros que se interessaram exclusivamente pela psicanálise, estudou psicodiagnóstico e testes psicológicos com seriedade, tomando contato com a literatura básica e com os relatos das pesquisas de onde provinha a informação.

Jurema – Evidentemente, mas acho que o fato de se fazer perguntas e ter de procurar respostas a qualquer preço certa manei-ra preparou a atitude de pesquisa. Não só havia modelos, é claro, como havia uma necessidade básica que levou a uma postura que é a necessária para se fazer ciência.

William – Ao concluir esse curso pioneiro de formação em Psicologia na PUC-RS, quais foram os passos seguintes?

Jurema – Concluí o curso em 1955 etrabalhava no Gabinete de Psicologia do Instituto de Educação, era professora do Curso Normal, e depois estive na Secretaria do Trabalho. Lá planejei um serviço que não foi adiante, pois o governo Leonel Brizola o engavetou. No entanto, José Carlos Fenianos [1930-2003] e eu fizemos um estudo sobre movimentos grevistas e levamos para um congresso no México. Eu vivia apresentando trabalhos em congressos e gostava muito disso.

William – Seu currículo lista mais de trezentas publicações em jornais e revistas. Uma produção altíssima, mesmo para hoje.

Jurema – Bom, mas nesses trezentos estão também minha pro-dução no Correio do Povo, em que u tinha uma coluna dominical.

William – E você tratava de assuntos de Psicologia?

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Jurema – Sim.William – E as pesquisas? Você já disse que começou a fazer

pesquisa muito cedo.Jurema – Sim, comecei lá pelos anos 1950. Fiz um estudo

de cinco mil e tantos casos aqui em Porto Alegre sobre as Matrizes Progressivas do Raven.

William – Chegou a fazer uma padronização?Jurema – De certa forma, sim. Naquele tempo eu já estava

encucada com aquela coisa de os alunos de melhor nível, que podiam frequentar colégio particular, davam certo e iam se de-senvolver mais que aqueles dos colégios públicos..

William – Isso foi publicado? Jurema – Sim, em um boletim da Sociedade de Psicologia do

Rio Grande do Sul. Depois presidi uma comissão de pesquisa na Secretaria de Educação. Fizemos um estudo sobre estudantes aqui no Rio Grande do Sul, na capital. Usei uma amostra representativa de Porto Alegre, e se fizemos estudos sobre vários pontos de vista, mas nessa época eu já estava colaborando com a Universidade de Maryland e com a Universidade do Texas. Foi quando padronizei o INV para o Rio Grande do Sul; uma padronização em cima dos estudantes também. Depois me envolvi em uma pesquisa inter-cultural, porque nessa ocasião o trabalho já deixava de ser apenas descritivo para começar a incluir hipóteses.

William – E que trabalho marcou essa fase?Jurema – Isso é difícil de responder. A gente sempre acha

que os últimos são os melhores. Por exemplo, agora estou traba-lhando com crianças da pré-escola. Basicamente, tenho de lidar com conceitos teóricos. Eu tenho me perguntado muito sobre coisas freudianas, especialmente quanto à ética. Tentamos uma fundamentação teórica para encontrar indicadores eos resulta-dos são bem interessantes. Nessa pesquisa temos 192 crianças, sendo 50% de famílias intactas e 50% de famílias fragmentadas.

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No outro corte da mesma amostra há 50% de nível socioeconômico baixo, outro médio; queríamos ver se aquelas coisas que Freud disse sobre a família burguesa no fim de século passado acontecem agora. E, em certo sentido, só posso achar que as últimas coisas é que estão melhores, porque, de repente, sentimos que estamos tentando, aos poucos, testar certos conceitos, eisso, evidentemente, acho um meio de pesquisa bem mais que outros.

William – Qual foi o impacto do mestrado que você fez na PUC-RS na sua formação? Quem foi seu orientador?

Jurema – Isso é meio difícil dizer. Primeiro fiz um projeto de pesquisa, orientada pelo Isacc Sprinz [médico psiquiatra e psica-nalista, por muitos anos professor da PUC-RS]. Mas, na realidade, me lembro que passei mais ou menos uma hora conversando com ele, sobre as minhas ideias. Nós conversamos e depois, creio que umas duas semanas antes de eu defender, no encontramos por mais uns quinze minutos. Ele me deu boas sugestões, mas na par-te de metodologia quem me deu uma mão foi o [Luis] Pasquali [Pasquali foi coordenador do curso de mestrado em Psicologia na PUC-RS, 1974-75].

William – E as suas viagens aos Estados Unidos?Jurema – Estive umas três vezes lá. A primeira vez quando

fui a um congresso no México e emendei com os Estados Unidos. Estive algum tempo na Universidade de Maryland. Depois voltei para visitar os principais serviços de psicologia, naquele tempo eu lidava também com reabilitação, psicologia da reabilitação, por isso me interesse por psicologia clínica e psicologia da reabilitação, listando os serviços que me interessavam. O Departamento de Estado fez todos os contatos e fui de Washington a San Francisco. Por fim, trabalhei durante três meses na Universidade de Maryland, preparando uma pesquisa que depois se desenvolveu no Rio de Janeiro, na qual eu trabalhei durante uns três ou quatro anos, ou pouco mais. Concluída a coleta de dados sociais e doenças aqui,

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estive mais uns seis meses lá, preparando o material. A pesquisa abordava a influência das forças sociais na doença mental.

William – Voltando a Porto Alegre, sei que você foi cedida pela Secretaria a Educação à UFRGS, lotada na Faculdade de Medicina.

Jurema – Exato, trabalhei cinco anos na Medicina Comunitária, inclusive dando aulas. Agora vou fazer um parêntese porque você parece interessado na minha vida Eu utilizei minha vi-da como funcionária pública como um jeito de conhecer um pouco de tudo. Estive à disposição de escolas, do serviço de reabilitação, decreched. Trabalhei algum tempo com essa parte de medicina. Usei isso para mimassim: “Isso já conheço bastante, então deixa ir para outro lugar.” Eu conseguia ser posta à disposição, ficava três, quatro anos, onde eu achava importante, para conhecer diferentes populações, diferentes áreas da psicologia. Foi muito bom, porque em geral a pessoa tem de trocar de emprego para fazer isso.

William – Ou seja, seu emprego básico durante esse tempo todo foi a Secretaria de Educação.

Jurema – Foi. Eu me aposentei como psicóloga da Secretaria da Educação.

William – E quanto ao trabalho docente na PUC-RS? Jurema – Eu comecei a dar aula na PUC-RS depois que fiz

o meu concurso de livre-docência. Antes da PUC-RS, lecionei na Unisinos. Minha dissertação de mestrado e minha tese de livre-docência foram trabalhos complementares. Na de mestrado, validei certos sinais que para mim tinham significação de agressão no Bender, e na tese de livre-docência usei esses subsídios para testar certos conceitos. Na livre-docência não havia orientação. Os exames incluíam uma prova escrita sobre um tema sorteado na hora. E podáimos levar bibliografia. Depois havia prova de títulos, prova oral e didática, e a defesa da tese. Aí você tinha o título de livre-docente e o título de doutor, era assim no meu tempo.

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William – Já que sua carreira foi toda envolvida com ava-liação psicológica, como você assistiu ao desprestigio da área nas décadas de 1970 e 1980?

Jurema – Em primeiro lugar, uma questão filosófica, influên-cia das coisas humanistas, de achar que de repente não era certo, não era correto, não se deveria lidar com o ser humano dessa forma aplicando testes. Depois, acho que o próprio descrédito. Porque os testes tiveram aquele primeiro grande impulso durante a guerra e depois as atividades de pesquisa não foram muito adequadas, ou não acompanharam o desenvolvimento em paralelo com outros tipos de atividades científicas. Acho que foi na década de 1960 e depois de 1970 que houve uma retomada. E, em terceiro lugar, digamos, pelo próprio fato de a Psicologia oferecer um leque de oportunidades de realização, então isso fez muitos psicólogos se afastarem de uma função, digamos, que lhe seria exclusiva, quan-do outras não são, mas acho que houve muita, como posso dizer, houve muitas oportunidades profissionais na Psicologia. Por outro lado, estamos de portas fechadas, apesar de haver um gravador, mas em todo caso, as faculdades preparam mal. A verdade é que o aluno sai como profissional sem saber muitas vezes manejar os testes; portanto, se há outras possibilidades, é melhor fugir do que tenho medo, não é mesmo? Acho que tudo isso contribuiu para essa situação.

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Referências

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