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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SERGIPE CAMPUS NOSSA SENHORA DA GLÓRIA COORDENAÇÃO DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLIOGIA DE LATICÍNIOS AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DE DIFERENTES MARCAS DE LEITE UHT COMERCIALIZADAS NO MUNICÍPIO DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA SE Aluno: Ramon Canuto Vieira do Nascimento Nossa Senhora da Glória SE Maio 2016

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SERGIPE

CAMPUS NOSSA SENHORA DA GLÓRIA

COORDENAÇÃO DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLIOGIA DE LATICÍNIOS

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DE

DIFERENTES MARCAS DE LEITE UHT COMERCIALIZADAS

NO MUNICÍPIO DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA – SE

Aluno: Ramon Canuto Vieira do Nascimento

Nossa Senhora da Glória – SE

Maio – 2016

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SERGIPE

CAMPUS NOSSA SENHORA DA GLÓRIA

COORDENAÇÃO DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLIOGIA DE LATICÍNIOS

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DE

DIFERENTES MARCAS DE LEITE UHT COMERCIALIZADAS

NO MUNICÍPIO DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA – SE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe,

como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do

título de TECNÓLOGO EM LATICÍNIOS.

Aluno: Ramon Canuto Vieira do Nascimento

Orientador: Prof. Dr. João Batista Barbosa

Nossa Senhora da Glória – SE

Maio – 2016

RAMON CANUTO VIEIRA DO NASCIMENTO

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DE

DIFERENTES MARCAS DE LEITE UHT COMERCIALIZADAS

NO MUNICÍPIO DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA – SE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe,

como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do

título de TECNÓLOGO EM LATICÍNIOS.

Nossa Senhora da Glória, 23 de maio de 2016.

BANCA EXAMINADORA

1

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me dá a chance e a oportunidade de

desfrutar de novos conhecimentos a cada dia, de levantar e ir à unidade de ensino

sabendo que posso e vou superar todas as dificuldades. Agradeço a minha família que

me ajudou a recuperar o ânimo perdido que me distanciava dos estudos e não me

aproximava de um futuro promissor.

Agradeço a minha mãe que é sem dúvidas a peça importante nesse caminho

percorrido até aqui, sempre acreditou em meus sonhos, até mesmo os sonhos

impossíveis, me mostrou a verdade o caminho errado e me fez trilhar de forma correta,

movendo passos em que eu nunca precise andar para trás, pois ela avisa sempre que a

vida é cheia de rasteiras e tropeções. Estou eu aqui agora vencendo estes tropeções, me

desviando destas rasteiras e procurando me formar para garantir meu diploma,

demostrar meu conhecimento e contribuir para um mundo mais instruído e valorizado.

Sou grato aos meus colegas de sala e amigos da vida, José Sérgio e Ricardo da Silva,

para mim os mais sinceros e brincalhões de todos, porém de uma competência

extraordinária, sou grato por me aconselharem, por me ajudarem em matérias que

demostrava dificuldades e por ser sincero nas horas que precisei.

Sou grato ao meu professor e orientador João Batista Barbosa, que me mostrou

os erros e dificuldades com um olhar mais crítico e positivo das coisas, que me

acompanhou nessa jornada e que teve paciência com meus erros e dificuldades e até

com o meu relaxamento excessivo.

Sou muito grato a minha namorada que esteve comigo presente em todas as

dificuldades do curso, me aconselhou, ouviu meus desabafos e que foi quem sempre

esteve presente e me ajudou a respirar fundo e acreditar na minha formação.

2

RESUMO

Leite UHT é definido como o leite homogeneizado que foi submetido, durante 2

a 4 segundos, a uma temperatura entre 130ºC a 150ºC, diante de um processo térmico de

fluxo contínuo, resfriado a uma temperatura inferior a 32ºC e envasado sob condições

assépticas em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas por máquinas

especializadas neste tipo de produção. Devido ao grande consumo do leite UHT no

mundo ressalta-se a importância de avaliar sua qualidade para que o produto chegue ao

consumidor seguro e dentro dos padrões preconizado pela legislação vigente. Diante do

exposto, este trabalho teve por objetivo avaliar as características físico-químicas e

microbiológicas de três marcas de leite UHT integral comercializadas no município de

Nossa Senhora da Glória – SE. Os experimentos foram realizados no Laboratório

Multifuncional de Laticínios do Instituto Federal de Sergipe Campus Glória. Foram

utilizadas três marcas de leite UHT integral comercializadas no município de Nossa

Senhora da Glória – SE. As amostras foram adquiridas no comércio local do município

e transportadas para o Laboratório do IFS Campus Glória. As amostras foram

devidamente codificadas como “A”, “B” e “C”, para fins de manter a integridade das

empresas. Diante dos resultados obtidos nas análises físico-químicas concluiu-se que

das três marcas analisadas, a marca “A” apresentou valores de pH e índice crioscópio

inferiores do que é recomendado pela legislação vigente. As marcas “B” e “C”

apresentaram resultados dentro dos limites estabelecidos pela legislação. Em relação às

análises microbiológicas, todas as marcas analisadas atenderam os padrões

estabelecidos pela Portaria nº 370 de 1997. Sugere-se com este trabalho a importância

de padronizar o processo de fabricação a fim de atender os parâmetros preconizados

pela legislação. Além disso, a adoção de BPA, BPF e APPCC em toda cadeia produtiva

do leite.

Palavras-chave: Qualidade, tratamento térmico, consumo, longa vida.

3

Sumário

LISTA DE TABELAS .................................................................................................... 4

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 5

2 OBJETIVOS ............................................................................................................ 7

2.1 Geral .............................................................................................................................. 7

2.2 Específicos .................................................................................................................... 7

3 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................. 8

3.1 Leite e sua composição ................................................................................................. 8

3.2 Leite UHT ..................................................................................................................... 9

3.3 Aspectos Mercadológicos do Leite UHT .................................................................... 10

3.4 Estabilidade térmica do leite UHT .............................................................................. 11

3.5 Fatores que afetam a qualidade do leite UHT ............................................................. 12

3.5.1 Higiene na obtenção do leite ............................................................................... 12

3.5.2 Presença de micro-organismos no leite UHT ...................................................... 12

3.5.3 Mastite ................................................................................................................. 13

3.5.4 Falhas no processo de Leite UHT ....................................................................... 14

3.5.5 Adição e homogeneização dos sais estabilizantes ............................................... 16

3.5.6 Cálcio Iônico ....................................................................................................... 17

4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 18

4.1 Análises físico-químicas ............................................................................................. 18

4.2 Análises microbiológicas ............................................................................................ 18

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 19

5.1 Análises físico-químicas do leite UHT ....................................................................... 19

5.2 Análises microbiológicas do leite UHT ...................................................................... 20

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 22

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 23

4

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Análises físico-químicas de leite UHT 19

Tabela 2. Análises microbiológicas de leite UHT 20

5

1 INTRODUÇÃO

Leite é um alimento produzido no interior da glândula mamária das vacas.

Apesar de ser feito exclusivamente para alimentação do bezerro é de suma importância

para o homem, pois é muito nutritivo, devido à presença na sua composição de

proteínas, carboidratos, gorduras e sais minerais, todos essenciais na dieta humana.

Devido a sua rica composição química, o leite serve de matéria-prima para inúmeros

derivados lácteos, como a manteiga, iogurte, os queijos, os leites fermentados, produtos

concentrados e desidratados que possuem grande valor para economia (CHAPAVAL

2000).

O leite deve ser obtido nas fazendas com o máximo de higiene e logo após sua

retirada deve ser refrigerado para retardar a proliferação de bactérias, pois se mantido a

temperatura ambiente, logo irá acidificar e estragar rapidamente. Por ser considerado

um alimento muito perecível, há todo um cuidado a ser considerado durante seu

transporte e refrigeração, devendo sempre estar de 4 a 7°C. Os locais de ordenha devem

ser limpos, organizados e a água usada deve ser de boa qualidade. Vale ressaltar que a

falta de higiene do ordenhador e equipamento de ordenha contam como foco de

contaminação (SANTOS e FONSECA, 2007).

Ao chegar à indústria, o leite é pasteurizado para eliminação total de patógenos

que transmitem doenças e cerca de 99% da microbiota presente, além de dar segurança

alimentar ao produto. Com os avanços dos estudos sobre a resistência térmica dos

micro-organismos pôde-se criar um tratamento térmico mais brusco, para conservar o

produto por mais tempo e de forma mais segura. Existem dois tratamentos severos no

leite usados na indústria, a esterilização e a ultrapasteurização ou Ultra High

Temperature (UHT) que diferem nas temperaturas, tempo aplicado e no seu fluxograma

de processo. O leite UHT ou leite longa vida como é chamado deve ser proveniente de

leite de boa qualidade para evitar a coagulação das proteínas no equipamento, além de

garantir mais estabilidade ao produto (SILVA et al, 2001).

O leite UHT passa por uma temperatura de 130 a 150° C por 2 a 4 segundos,

devendo ser respeitado este binômio tempo/temperatura em seguida resfriado a

temperatura de no máximo 32°C e envasado em embalagem asséptica de alta segurança

alimentar, na qual protegem o alimento de contaminação, oxidação pelo ar e

rancificação pela luz, garantindo que seu armazenamento seja mais prolongado e sem

necessidade de refrigeração (BRASIL, 1997). A elevada temperatura é referente ao mais

6

resistente micro-organismo patógeno do leite, porém esta temperatura desnatura e

destrói algumas proteínas, vitaminas e carboidratos, nos quais alteram sua composição

físico-química (BASTOS, 1999). Devido a fraca estabilidade do leite após tratamento

térmico é permitido por legislação o uso de estabilizantes de no máximo 0,1%, para que

o leite permaneça estável até o fim de sua vida útil, sem ocorrência de problemas como

microfuros e deformação na estrutura da embalagem (MACHADO, 2010).

O leite UHT também passa pelo processo de homogeneização podendo

acontecer antes ou depois do aquecimento. Seu objetivo é quebrar as moléculas de

gordura em tamanhos menores e impedir a sua junção no líquido em repouso, já que a

gordura é menos densa e imiscível que os demais componentes do leite. Por ser um

produto de grande durabilidade e seguro, o leite UHT é um dos produtos mais vendidos

e consumidos no país, sendo de grande investimento devido ao seu retorno financeiro

(PINTO et al, 2002). Mas a qualidade da matéria-prima deve ser exigida ao máximo o

que é um problema ainda não resolvido na região nordeste do Brasil, precisamente no

alto sertão de Sergipe, considerada a maior bacia leiteira do estado (RIBEIRO e

BONFIM, 2011).

A falta de higiene e de Boas Práticas Agropecuárias (BPA) é visível em algumas

fazendas que produzem leite na região. É notável a quantidade de mastite subclínica nos

animais, o aumento de Contagem de Células Somáticas (CCS) e o alto número de

Contagem Bacteriana Total (CBT), o que tem grandes efeitos na qualidade do leite

obtido por esses animais. Muitos produtores não se adequaram as novas mudanças e

exigências pela Instrução Normativa 62 (BRASIL, 2011).

O governo e indústria também são considerados responsáveis por parte do

desinteresse dos produtores e falta de qualidade no leite, podendo intervir e sugerir

medidas preventivas e corretivas para melhorar a obtenção de leite na região (RIBEIRO

e BONFIM, 2011).

7

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Avaliar as características físico-químicas e microbiológicas de três marcas de

leite UHT integral comercializadas no município de Nossa Senhora da Glória – SE.

2.2 Específicos

Verificar os fatores que afetam a qualidade físico-química e microbiológica do

leite UHT, como a integridade da embalagem, a presença de possíveis fraudes e pontos

de contaminação durante seu processo;

Identificar possíveis causas de falhas cometidas no processo que podem

interferir na qualidade e integridade do produto;

Classificar as amostras analisadas quanto aos padrões estabelecidos pela

legislação vigente.

8

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Leite e sua composição

Segundo a Instrução Normativa n°62 (BRASIL, 2011) "Entende-se por leite,

sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em

condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O leite de outros

animais deve denominar-se segundo a espécie de que proceda".

O leite é um alimento que resulta em diversos derivados, entre eles está a

manteiga, o iogurte, a bebida láctea e demais produtos. Isso decorre da sua composição

físico-química que possibilita diversos processos químicos e biológicos necessários para

propiciar um novo produto. Sua gordura é usada na produção de manteiga e creme de

leite, sua proteína usada na produção de queijos e a sua lactose usada principalmente na

produção de iogurtes ou leites fermentados (LOPES, 2008). Além disso, o leite conta

com nutrientes que são essências para nosso corpo, tornando ainda mais importante o

seu consumo, entre esses nutrientes estão as proteínas, gorduras, carboidratos, sais

minerais e vitaminas.

O cálcio é o mineral mais abundante no leite e altamente essencial na

alimentação humana por fortalecer e desenvolver os ossos do corpo. Porém, ao mesmo

tempo em que esses nutrientes são importantes para os homens é também fonte de vida

para micro-organismos que também necessita de nutrientes para sua sobrevivência.

Entretanto muitos deles são prejudiciais à saúde, outros alteram a qualidade do leite e

alguns são necessários no metabolismo e na produção de alguns derivados, devido às

reações químicas e biológicas que participam (LOPES, 2008).

O leite é um alimento bem perecível, devido a quantidade de água e a sua

composição química, o alimento apresenta pequena vida útil e rápido consumo, o seu

pH é próximo ao da água e acidifica ao passar do tempo em temperatura ambiente,

devido a fermentação da lactose pelas bactérias (SANTOS e FONSECA, 2003).

Com o objetivo de aumentar a vida útil e eliminando totalmente os micro-

organismos patógenos e quase a totalidade de bactérias presentes no leite foi criado a

pasteurização, com isso o produto pode ser consumido com mais segurança pelos

consumidores, mas mesmo com esse tratamento térmico as bactérias e a má qualidade

do leite ainda eram um problema muito recorrente (SANTOS e FONSECA, 2003). Em

seguida foi criado a ultrapasteurização, um tratamento térmico que aumenta a vida útil

9

do produto em níveis maiores, eliminando totalmente os micro-organismos presentes e

aumentando a segurança no consumo do produto. Porém esse tratamento mais severo,

exigi um leite com maior qualidade e com grande estabilidade térmica, por isso mesmo

com a ultrapasteurização é essencial manter a qualidade microbiológica e físico-

química, desde a ordenha até seu beneficiamento (BRITO e BRITO, 2004).

3.2 Leite UHT

Leite UHT é definido como o leite homogeneizado que foi submetido durante 2

a 4 segundos a uma temperatura entre 130ºC a 150ºC sob um processo térmico de fluxo

contínuo, resfriado a uma temperatura inferior a 32ºC e envasado sob condições

assépticas em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas por máquinas

especializadas neste tipo de produção (BRASIL, 1997).

Segundo o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Produtos

Lácteos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 1997), o

leite UHT deve atender as seguintes características sensoriais: aspecto líquido, cor

branca, odor e sabor característicos, sem sabores nem odores estranhos e as seguintes

características físico-químicas para o leite integral: no mínimo 3% de gordura, acidez

entre 14 e 18ºD, estabilidade ao álcool de 68% e, no mínimo, 8,2% de extrato seco

desengordurado.

O leite UHT trouxe um novo modo seguro para se consumir leite, eliminando

todas bactérias e micro-organismos presentes no leite que não sejam termorresistentes

(SILVA, 2001). O processo consiste em um aquecimento seguido de um resfriamento a

temperatura ambiente e envasado por embalagens que não permitem passagem de luz e

ar (MELO JUNIOR, 2005). A ultrapasteurização pode ser de modo direto, quando o

alimento entra em contato direto com a fonte de aquecimento ou indireto quando o

aquecimento acontece em diferentes tubulações não havendo o contato direto com o

alimento e também podem ocorrer os dois tipos em um processo (LEWIS e DEETH,

2009). Sua temperatura e tempo foram definidos pelos estudos, que constatam a

destruição do micro-organismo mais termorresistentes o Bacillus sporothermodurans

(MELO JUNIOR, 2005).

O leite usado como matéria-prima deve ser de ótima qualidade, apresentar boa

estabilidade térmica, acidez no padrão para evitar floculação no equipamento e baixa

10

contagem de psicrotróficos para evitar a gelificação que é resultado da desnaturação

proteica pelas enzimas proteolíticas dando ao produto uma aparência mais viscosa com

formação de gel no fundo da embalagem. Todo leite envasado é armazenado em paletes

em temperatura ambiente e deve ser avaliado pelo laboratório do controle de qualidade

da indústria durante sete dias para sua liberação. Sua embalagem asséptica quando bem

conservada não permite a presença de micro-organismos no leite, o que somado ao

tratamento térmico aumenta a vida útil desse alimento que dura de 4 a 6 meses com

embalagem fechada e bem armazenada (DATTA e DEETH, 2001).

3.3 Aspectos Mercadológicos do Leite UHT

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Leite Longa Vida no ano

de 2009 mostrou que o leite UHT está presente em 87% das moradas brasileiras,

representando 76% do leite fluido de consumo e mais de 47% do total do leite

consumido no Brasil (IBGE, 2010). O consumo mundial de leite UHT cresceu 5,2% em

2012 (ABLV, 2011).

O uso do processo UHT pelas indústrias alimentícias é um investimento ousado,

que pode ou não trazer lucros ao empreendedor, por ser um processo caro, com

equipamentos modernos, profissionais qualificados, sistema de refrigeração,

aquecimento constante e matéria-prima com elevada qualidade. Porém seu

armazenamento e transporte são mais viáveis, pois não necessita de refrigeração e pode

ser armazenado por meses antes do seu prazo de validade, cabendo a empresa compor o

seu ciclo de vendas (BRITO e BRITO, 2004).

O leite UHT é um dos líderes quando se fala no setor lácteo, sendo mais

consumido que o pasteurizado, manteiga e outros (ABLV, 2011). Por apresentar mais

segurança alimentar, maior prazo de validade é muito consumido, mas tem

consumidores que não consomem devidos não gostarem do seu sabor e pela perda

nutricional no processo de aquecimento (PINHEIRO e MOSQUIM, 1991).

Os consumidores da atualidade se modernizaram e não só se preocupam em

apenas consumir o produto, mas avaliar sua qualidade nutricional, possíveis presenças

de bactérias e sua relação com o meio ambiente, fato que leva as indústrias a se

modernizarem mais e levar ao consumidor um produto com qualidade e que não

prejudique sua saúde (PINHEIRO e MOSQUIM, 1991).

11

3.4 Estabilidade térmica do leite UHT

Todo leite UHT passa por um rigoroso processo térmico que faz com que suas

proteínas, vitaminas, enzimas e outras substâncias termolábeis desnaturem alterando a

estabilidade térmica do leite e diminuindo sua composição nutricional (SILVA et al.,

2012).

A estabilidade térmica é a máxima resistência de uma substância em elevadas

temperaturas ou com aquecimento constante, isso faz com que uma substancia possa

desnaturar e se desintegrar no meio, é o que ocorre quando fervemos o leite UHT em

temperaturas superiores a 100° C, pois este leite já passou por um tratamento térmico

severo que desestabilizou algumas proteínas e quando o leite é aquecido novamente de

forma rigorosa, a proteína sem estabilidade desnatura provocando a coagulação (SILVA

et al., 2012).

No leite UHT o aquecimento muda toda sua composição e modifica sua

estabilidade térmica de forma positiva ou negativa. Como a temperatura na

ultrapasteurização é em torno de 130 a 145°C essa temperatura degrada boa parte da

lactose, formando ácidos por sua decomposição, a casos de aquecimentos extremos ou

longa exposição de tempo ocorrendo a reação de Maillard, que não é desejável para este

tipo de produto (BRITO e BRITO, 2004). Em temperaturas superiores a 100°C, ocorre a

desnaturação das proteínas do soro e a maioria das vitaminas. Com a desnaturação as

proteínas do soro se unem a caseína, principal proteína insolúvel do leite e responsável

pela sua estabilidade térmica (BASTOS, 1999).

Porém com a decomposição da lactose, o pH do leite diminui e sua acidez

aumenta, desestabilizando o produto, com isso é necessário a adição de sais

estabilizantes com a função de manter o produto estável até o fim de sua validade. Mas

a estabilidade térmica sempre irá depender de uma série de fatores, como a qualidade da

matéria-prima, efetividade no tratamento térmico, uso correto de estabilizantes, a saúde

do animal, embalagem integra e sem presença de adulteração no leite (PINTO et al.,

2002).

12

3.5 Fatores que afetam a qualidade do leite UHT

3.5.1 Higiene na obtenção do leite

O leite obtido na ordenha, seja ela de forma manual ou mecânica, deve ser

obtido com o máximo de higiene tanto pessoal quanto no local, a água usada deve ser de

boa qualidade e as etapas de ordenha não devem permitir a proliferação de micro-

organismos indesejáveis (TRONCO, 2008).

Uma das maiores preocupações dos estudiosos da área do setor lácteo é com a

qualidade da matéria-prima, pois não há como obter um produto final de qualidade se a

sua matéria-prima não apresenta esse requisito (LOPES, 2008). A falta de higiene na

ordenha acarreta em aumento de bactérias presentes no leite, que não é viável para sua

obtenção, pois entre as bactérias presentes a maioria é dada pelas contaminantes e

patogênicas, o que mais à frente afeta na qualidade do leite e seus derivados (TRONCO,

2008).

Para índice de higiene na obtenção do leite o CBT é a análise mais recomendada,

pois indica o número de colônias de bactérias presentes no leite, com o máximo

esperado para 300000 unidade formadora de colônia por mililitros (UFC/mL).

Ultrapassando esse número pode haver presença em grande número de bactérias

indesejáveis que podem vim a contaminar e degradar o produto e até transmitir doenças

a quem o consome.

Para o controle sanitário na ordenha todo produtor deve optar por elaborar e

cumprir as Boas Práticas Agropecuárias e seguir um padrão de higiene máximo,

evitando números altos na análise de CBT e consequentemente aumentando a qualidade

do produto final (LOPES, 2008).

3.5.2 Presença de micro-organismos no leite UHT

Todo micro-organismo tem um ambiente e uma temperatura ótima de

reprodução e atuação, devido à faixa dessa temperatura e tipos de ambientes. Entre os

micro-organismos existentes no leite se destacam os de características mesofilicas que

atuam entre 30 a 35°C, termófilicas acima de 45°C e psicrotróficas entre 20 a 25°C

(SAEKI e MATSUMOTO, 2010).

13

Mesofilos atuam melhor em temperatura ambiente, tem características de

acidificar o leite com a decomposição da lactose em ácido láctico, podem também

causar estufamentos em leite UHT devido a produção de gases em suas reações

químicas e alguns produzem toxinas termorresistentes que alteram o sabor e o pH

reduzindo a qualidade do mesmo. São facilmente eliminados na pasteurização e no

tratamento UHT, mas podem aparecer após processo térmico devido a defeitos na

embalagem asséptica como rasuras, microfuros e contaminação na máquina de envase.

Estão entre elas as bactérias lácticas, coliformes totais e fecais (SAEKI e

MATSUMOTO, 2010).

A refrigeração do leite pós ordenha contribuiu de forma estupenda para redução

da deterioração do mesmo por micro-organismos mesofilos, mas aumentou a

contaminação por psicrotróficos, que apesar de atuarem em temperaturas de 20 a 25°C

conseguem se reproduzir em pequeno número com temperaturas acima de 4°C. O

grande problema dessas bactérias é a produção de enzimas termorresistentes que acelera

a reação de proteólise e lipólise no leite UHT causando uma formação de gel de

proteínas chamada gelificação e uma alteração para um sabor rançoso que é chamado de

rancificação com a decomposição de lipídeos e ácidos graxos livres. Estas bactérias são

destruídas em tratamento térmico, mas suas enzimas resistem e causam perdas enormes

na produção de leite UHT (DATTA e DEETH, 2001). Entre um dos problemas do leite

UHT também vale ressaltar a presença de bactérias termoduricas que são bactérias que

resistem ao tratamento térmico produzindo esporos externos que aumentam o teor de

proteólise e lipólise no produto. Os termofilicos não aparecem no leite durante ordenha

ou quando refrigerado, são usados para produção de iogurtes e leites fermentados por

decompor a lactose em ácido láctico (SILVA, 2004).

3.5.3 Mastite

Mastite é uma doença contagiosa que atinge diretamente o úbere das vacas

causando perdas de qualidade e rendimento na produção de leite. Um grande problema é

a proliferação da doença que é cada vez mais rápida e intensa. A mastite é transmitida

por micro-organismos presentes no úbere do animal causando inchaço, dores e até

formação de pus nos tetos (SANTOS e FONSECA, 2007).

14

A mastite pode ser de forma clínica, quando é visível a formação de grumos e

pus no leite e pode ser de forma subclínica quando não visível a olho nu, mas detectável

por análises laboratoriais para Contagem de Células Somáticas (CCS). A clínica

depende muito da organização e higiene do ambiente em que se encontram os animais, a

subclínica depende da higiene no local, ordenhador e utensílios de ordenha (SANTOS e

FONSECA, 2007).

A análise de CCS é de extrema importância mas exigi maior custo para o

produtor, já que consiste em uma análise feita em laboratórios especializados na área de

leite. Porém existe a análise de Califórnia Mastite Test (CMT) que é mais barata de que

a CCS e assim como ela também serve para indicar a presença de mastite no leite, mas

não tem a mesma precisão. É feita em uma raquete com quatro cavidades onde são

adicionados o leite e o reagente que através do tipo de coloração e do aspecto físico que

apresentarem é dada a leitura como positiva ou como negativa para mastite (TRONCO,

2008).

Essa doença além de atingir a saúde do animal contribui negativamente para a

falta de qualidade no leite, pois ela interfere na sua composição química e altera para

níveis superiores a reação de proteólise no alimento devido ao aumento de células

somáticas no leite. A mastite reduz a produção de proteína e gordura interferindo na

estabilidade térmica do leite (LACERDA, 2010).

3.5.4 Falhas no processo de Leite UHT

O processo de ultra alta temperatura é realizado por uma máquina que utiliza

vapor para executar o aquecimento, que pode ocorre de forma direta, indireta ou os dois

tipos. A indireta é um quando a fonte de aquecimento não entra em contato direto com o

alimento, é um método mais simples e mais barato, porém seu resfriamento é mais lento

aumentando o risco de mudanças físicas e químicas no produto. No direto o alimento

entra em contato com a fonte de aquecimento, onde ocorre mais rápido e intenso a troca

de calor e seu resfriamento é a vácuo e da forma indireta, sendo mais rápido que o

indireto (ROSSI JUNIOR et al, 2006).

Seja qual for o tipo de processo, toda indústria sofre com problemas de falta de

qualidade na matéria-prima, mão de obra desqualificada e problemas com dependências

de terceiros, todos esses problemas junto com algumas falhas cometidas no processo

15

aumentam as chances de o produto final não ter uma boa qualidade, dificultando suas

vendas e regredindo a imagem da empresa (PINTO et al., 2002). Um processo como o

de leite UHT, precisa seguir dentro das normas da legislação, ter aplicação constante

das Boas Práticas de Fabricação, obedecer ao Procedimento Operacional Padrão (POP)

e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).

Um erro constante é modificar a planta do processo e reprocessar continuamente

um leite que já passou do processo de ultrapasteurização. A planta do processo obedece

a ordem exata em que o leite deve seguir evitando contaminação e assegurando a

qualidade do produto, não devendo alterar a ordem desse produto e nem expor o

produto em temperatura ambiente senão estiver em embalagem asséptica, pois ela

impede que o alimento entre em contato com o ar, luz e fontes contaminantes (ROSSI

JUNIOR et al, 2006). As embalagens que estão fora do padrão devem ser descartadas e

todas de seu lote devem ficar em observação para sua possível liberação. A embalagem

asséptica garante maior vida útil ao produto porque é formada por uma junção de

polietileno, alumínio e papel que juntas não permite o contato do alimento com o

ambiente externo, o polietileno não permite a passagem de água e ar, já o alumínio

impede a passagem de luz solar e o papel da forma e desenho a embalagem.

A embalagem asséptica deve estar em perfeito estado, pois qualquer rasura, furo

ou amaço nela, danifica o produto e permite sua contaminação microbiológica e reações

químicas. Como a temperatura é controlada de forma automática é muito improvável a

não efetividade do tratamento térmico e quando a fonte de aquecimento não conseguir

atingir a temperatura de ultrapasteurização a máquina para o processo até que se

estabilize (SILVA, 2001).

Porém se houver falha na limpeza da máquina, erro operacional ou até pequenos

furos em tubulações ou tanques que permitam o contato do alimento com o ambiente

externo, facilmente este alimento será contaminado e sua qualidade afetada. A máquina

que envasa em embalagens asséptica, esteriliza e garante a qualidade microbiológica do

leite, desde que sua limpeza seja correta e nenhuma ordem do processo seja alterada.

Mas outro problema pode interferir também na qualidade do produto final que é o

reprocesso do mesmo na planta de UHT, este leite já passou pela pasteurização e pelo

processo UHT, suas proteínas já não são tão estáveis como antes e isso faz com que

possa ocorrer com maior facilidade a coagulação em sua fervura e sedimentação no

período de estocagem (ROSSI JUNIOR et al, 2006).

16

3.5.5 Adição e homogeneização dos sais estabilizantes

Sais estabilizantes ou quelantes (sequestrantes) de cálcio, tais como citratos e

fosfatos, são frequentemente adicionados no leite e derivados para modificar suas

propriedades físicas. Esses sais podem aumentar a estabilidade térmica do leite,

diminuir a floculação nos trocadores de calor, minimizar a formação de sedimentos e

gelificação de produtos UHT, aumentar a elasticidade e derretimento em queijos e

aumentar a firmeza dos géis em produtos fermentados (TSIOULPAS et al, 2010).

Quando adicionados no leite, os sais quelantes reduzem a concentração de cálcio

iônico e o fosfato coloidal de cálcio. A adição de estabilizantes ao leite UHT é permita

pela legislação nos valores máximos de 0,1% em relação ao volume de leite (BRASIL,

1997). Volumes acimas do estabelecidos por lei ocasionam desintegração das proteínas

ocorrendo sedimentação no produto final e prejudica a saúde do consumidor, porém

valores muito baixos não estabilizam as proteínas que podem coagular no processo ou

até no armazenamento (MACHADO, 2010).

Fica para empresa que se utiliza desses estabilizantes estudarem qual o melhor

valor de adição do mesmo no leite UHT e qual tipo de estabilizante usar. Mais

aconselhável sua adição após a pasteurização devido a perda do produto no

aquecimento, já que esses estabilizantes se aglomeram com os sais e proteínas. Um

grande problema encontrado é a forma como homogeneizar o estabilizante no produto,

sempre optar pelo mais solúvel e dissolver totalmente em água ou no leite antes de

adicionar no volume total sem deixar resíduos sólidos do mesmo na diluição

(TSIOULPAS et al, 2010).

Essa falta de homogeneização do estabilizante interfere na ação do mesmo no

leite, já que ele deve ser totalmente dissolvido para realizar sua função. Por ser em pó o

estabilizante pode adquirir umidade se estiver em contato com o ar e isso reduz sua

solubilidade, o Controle de Qualidade da empresa deve medir a quantidade que é

adicionada e verificar em quarentena a efetividade do mesmo no leite. O uso do

estabilizante é de extrema importância quando dentro dos padrões estabelecidos, mas

sempre deve haver um cuidado com sua quantidade usada e entender que ele atua

estabilizando as micelas de caseínas e não conservando o produto como um inibidor de

micro-organismos contaminantes (TSIOULPAS et al, 2010).

17

3.5.6 Cálcio Iônico

O cálcio presente no leite bovino distribui-se em três fases, onde 70% estão na

fase coloidal, associados com fósforo, formando o fosfato de cálcio unido com as

micelas de caseínas, cerca de 20% estão na fase solúvel, formando sais de cálcio; e os

10% na fase iônica, ou seja, íons de cálcio livre (SILVA et al., 2012).

As micelas de caseínas, em pH normal (6,6 - 6,8), apresentam cargas negativas,

essas cargas estabilizam o leite. Estas cargas são controladas pela quantidade de cálcio

ligado e pelo nível de cálcio livre na solução. Quando aumenta a quantidade do cálcio

total no leite, aumenta a quantidade de cálcio ligado reduzindo as cargas negativas, que

irá reduzir a estabilidade do produto. O equilíbrio entre as três fases de cálcio no leite é

muito importante para a estabilidade do mesmo, pois o aumento de cálcio modifica a

estrutura do alimento tornando pouco estável e sua falta no leite causa mudança neste

equilíbrio (MACHADO, 2010).

A alimentação do gado e suas fases de lactação são de muita importância para os

níveis de cálcio no leite, um dos maiores motivos da falta de estabilidade térmica na

prova do álcool é resultado dos níveis de cálcio no leite, fazendo com que os produtores

e compradores se preocupem com a alimentação e com a composição físico-química do

leite para manter a qualidade no produto final (SILVA et al, 2012).

18

4 MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram realizados no Laboratório Multifuncional de Laticínios

do Instituto Federal de Sergipe Campus Glória e no Laboratório de uma Indústria de

Laticínios da região. Foram coletadas três marcas de leite UHT integral comercializadas

no município de Nossa Senhora da Glória – SE. As amostras foram adquiridas no

comércio local do município e transportadas a temperatura ambiente para o Laboratório

do IFS Campus Glória e para o laboratório da indústria de laticínios. As amostras foram

devidamente codificadas como “A”, “B” e “C”, para fins de manter a integridade das

empresas.

4.1 Análises físico-químicas

As análises físico-químicas foram realizadas em triplicata de acordo com a

metodologia descrita pela Instrução Normativa nº68 (BRASIL, 2006). Os parâmetros

analisados foram: pH, acidez, densidade, crioscopia, proteína, gordura, EST, ESD,

fervura/cocção e estabilidade ao álcool 68º GL.

As análises de proteína, gordura e crioscopia foram avaliadas no Laboratório de

uma indústria de laticínios da região utilizando o aparelho Ekomilk M Cap-Lab e

Crioscópio Eletrônico MK-540 Flex, as demais foram analisadas no Laboratório do

Instituto Federal de Sergipe Campus Glória.

Os resultados obtidos foram comparados com os padrões preconizados pela

portaria nº 370/1997 do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1997).

4.2 Análises microbiológicas

As amostras foram submetidas a contagem de micro-organismos aeróbios

mesófilos e a contagem de bactérias esporuladas de acordo com a metodologia descrita

pela Instrução Normativa n°62 (BRASIL, 2003). As análises foram realizadas em

triplicata para cada marca de leite UHT coletada.

Em ambas as análises se utilizou a técnica de plaqueamento por profundidade.

Os resultados obtidos foram comparados com os padrões preconizados pela portaria nº

370/1997 do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1997).

19

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Análises físico-químicas do leite UHT

Os resultados obtidos nas análises físico-químicas estão apresentados na Tabela

1. Tabela 1: Análises físico-químicas de leite UHT comercializadas em Nossa

Senhora da Glória-SE

Análises

Amostras

Legislação*

A B C

Proteína % 3,11 3,36 3,12 Mínimo 2,9*

Gordura % 3,50 3,00 3,30 Mínimo 3,0*

Estrato Seco Total (EST) % 11,71 11,46 11,52 Mínimo 11,2

Extrato Seco Desengordurado (ESD) % 8,21 8,36 8,22 Mínimo 8,2*

Densidade a 15ºC (g/cm3) 1,0286 1,030 1,031 1,028 a 1,031

Crioscopia ºH -0,556 -0,535 -0,535 -0,530 a -0,550°H

Ph 6,58 6,68 6,74 6,60 a 6,80

Acidez (ºD) 18 16 16 14 a 18 °D*

Estabilidade ao álcool 68º GL Estável Estável Estável Estável*

Fervura/Cocção Negativo Negativo Negativo Negativo

*Portaria nº 370/1997 (BRASIL, 1997).

De acordo com a Tabela 1 para as análises de gordura, proteína, extrato seco

total e desengordurado, densidade, acidez, prova do álcool 68°GL e fervura do leite

UHT, todas as marcas apresentaram valores dentro dos padrões estabelecidos pelo

regulamento técnico de leite UHT (BRASIL, 1997). No resultado de densidade a marca

“A” apresentou valor menor que às demais marcas, de acordo com Lopes (2008), isso

pode ser explicado pelo alto índice de gordura que altera para valores menores a

densidade, devido à gordura ter valor menor que a de outros componentes presentes no

leite.

No índice crioscópico apenas a marca “A” apresentou resultado inferior ao

limite estabelecido pela legislação. Segundo Machado (2010) a adição de constituintes

ao leite permitido ou não pela legislação altera os níveis de resultados de crioscopia.

20

Somente a marca “A” apresentou resultado de pH menor que o limite

estabelecido pelo regulamento técnico de leite UHT (BRASIL, 1997). Segundo

Machado (2010), resultados de Ph abaixo de 6,5 aumentam a ocorrência de

desequilíbrio salino no leite, que altera para níveis negativos a estabilidade térmica.

Porém este problema ainda não afetou o leite UHT da marca “A” que se encontra

termicamente estável, mas como o leite UHT tende a acidificar em seu armazenamento

devido ao tratamento térmico que possibilita a decomposição da lactose em ácidos

orgânicos, reduzindo seu pH e aumentando o teor de acidez, que contribui para

degradação do produto e diminui sua vida útil.

Quanto à acidez expressa em graus Dornic todas as marcas apresentaram valores

dentro do padrão estabelecido pela legislação vigente. Quanto ao teste de cocção do

leite, todas as marcas analisadas não coagularam, o mesmo ocorreu com os resultados

para teste do álcool 68 ºGL.

5.2 Análises microbiológicas do leite UHT

Tabela 2. Análises microbiológicas de leite UHT comercializadas em Nossa Senhora da

Glória-SE

Amostras Contagem de mesófilos aeróbios

(UFC/mL)

Contagem de bactérias esporuladas

(UFC/mL)

A <1,5 x 10¹ 1,0 x 100

B <1,5 x 10¹ 7,0 x 100

C 3,0 x 100 <1,5 x 10¹

Legislação* < 1,0 x 102 UFC/Ml < 1,0 x 102 UFC/mL

*Portaria nº 370/1997 (BRASIL, 1997).

Após resultados foi avaliado que a contagem de aeróbios mesófilos das três

marcas estudadas apresentou-se dentro do padrão microbiológico permitido pela

Instrução Normativa 62 (BRASIL, 2003). Segundo Rossi Junior et al (2006), a presença

destes tipos de bactérias é uma possível ocorrência de contaminação após processo,

danificação na embalagem do produto, falha no processo de esterilização da máquina de

envase e de tratamento térmico, a falta ou má aplicação de Boas Práticas de Fabricação

21

no processo produtivo ou possibilidade de existência de mesófilos com elevada

termorresistência.

Para a contagem de bactérias esporuladas todas as marcas também apresentaram

valores dentro dos padrões estabelecidos pela legislação vigente. Segundo Silva (2001),

a presença dessas bactérias termorresistentes indica a má qualidade da matéria-prima,

pois devido a sua resistência ao tratamento térmico não tem como impedir sua

proliferação quando a higiene e qualidade microbiológica do leite deixam a desejar.

Entre as bactérias termoduricas se destaca o Bacillus sporothermodurans, esta bactéria

não-patogênica resisti ao processo térmico contribuindo para o aumento dos níveis de

proteólise e lipólise no leite (ROSSI JUNIOR et al, 2006).

22

6 CONCLUSÃO

Apesar de todas as marcas analisadas apresentarem valores dentro dos padrões

microbiológicos exigidos pela legislação vigente, considerou-se que a amostra da marca

“A” não está apta para consumo por apresentar valores de índice crioscópico e pH fora

dos padrões exigidos pelo Regulamento Técnico de Leite UHT (BRASIL, 1997).

Sugere-se com este trabalho a importância de padronizar o processo de

fabricação a fim de atender os parâmetros preconizados pela legislação. Além disso, a

adoção de BPA, BPF e APPCC em toda cadeia produtiva do leite.

23

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