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AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA EM CÃES COM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES
DE ANTICOAGULANTE EDTA (K3) EM DIFERENTES TEMPO DE
ARMAZENAMENTO
HEMATOLOGICAL EVALUATION IN DOGS WITH DIFFERENT
CONCENTRATIONS OF ANTICOAGULANT EDTA (K3) AND DIFFERENT TIME OF
STORAGE
Maria Vanuza Nunes de MEIRELES1; Ivana Cristina Nunes Gadelha LELIS2; Érikca
Natália BESSA3; José Artur Brilhante BEZERRA4; Erinaldo Freire de AMORIM5;
Higina Moreira MELO6 e Leonardo Lelis de Macedo COSTA7 1 Médica Veterinária, Especialista em Patologia Clínica Veterinária, [email protected] 2 Médica Veterinária, Doutora em Ciência Animal 3 Médica Veterinária, Residente de Patologia Clínica, Universidade Federal Rural do Semi-Árido 4 Médico Veterinário, Especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais 5 Técnico de Laboratório, Universidade Federal Rural do Semi-Árido 6 Médica Veterinária, Mestre em Ciências Fisiológicas 7 Professor do Departamento de Ciências Animais, Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Resumo:
A obtenção de resultados confiáveis é de suma importância na medicina veterinária,
uma vez que auxiliam os clínicos na conduta de seus pacientes. Diversos fatores
contribuem para a má qualidade das amostras hematológicas, dentre eles a
quantidade de sangue nos tubos de coleta, alterando a relação
sangue/anticoagulante e o tempo de estocagem.
Diante disso, buscou-se verificar alterações hematológicas em amostras sanguíneas
de cães, com diferentes concentrações de anticoagulante EDTA tripotássico (K3) e
diferentes tempos de armazenamento, em temperatura entre 4 e 8°C, por até 48
horas. Para isso utilizou-se amostras sanguíneas de 30 cães (Canis lupus familiaris),
procedentes do atendimento clínico realizados no Hospital Veterinário da UFERSA-
Mossoró-RN. Foram distribuídas em tubos de ensaio contendo 1 mL, 3 mL e 4 mL
de sangue, com uma gota (50 μL) de EDTA em cada tubo, sendo as análises
realizadas durante a primeira hora, bem como 24 e 48 horas após a coleta.
Posteriormente às análises, observou-se que as variáveis hematológicas se
mostraram estáveis ao longo do tempo e da concentração de anticoagulante, sem
diferenças significativas. Portanto os resultados do estudo revelaram que amostras
sanguíneas coletadas em EDTA tripotássico (K3), processadas em até 48 horas
após a coleta, não interfere nos parâmetros do hemograma quando submetidas em
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condições adequadas de armazenamento e processadas em analisador
hematológico Scil Vet abc™.
Palavras-chave: Hematologia. Canina. Refrigeração.
Keywords: Hematology. Dog Refrigeration.
Introdução:
A confiabilidade dos resultados liberados por laboratórios de análises clínicas é
primordial, uma vez que influenciam de forma ampla nas decisões dos clínicos e
consequentemente na conduta clínica de seus pacientes (GUIMARÃES et al, 2011).
Vários fatores contribuem para a má qualidade das amostras hematológicas, dentre
eles a quantidade de sangue nos tubos de coleta, alterando à relação
sangue/anticoagulante (OLIVEIRA et al., 2010). Os anticoagulantes são substâncias
químicas que impedem a coagulação sanguínea e adiam a deterioração celular,
contudo estão entre os maiores causadores de alterações na morfologia dos
eritrócitos (ALMEIDA et al., 2012). O ácido etilenodiaminotetracétito (EDTA) é o
anticoagulante mais utilizados para realização dos parâmetros hematológicos,
portanto, considerado o melhor conservante (ALMEIDA et al., 2012; THRALL et al.,
2015). O EDTA é indicado para a rotina hematológica, pois não interfere na
morfologia celular, conservando-a por até 24 horas quando refrigerado
adequadamente. Ele reage por meio de seus dois radicais ácidos com cálcio
plasmático, compondo um quelato com os elementos alcalino-terrosos, tornando-se
pouco solúvel, e o sal de potássio é o mais solúvel (LOPES et al., 2007). O excesso
de anticoagulante ocasiona um acréscimo de líquido no interior das hemácias,
causando fragilidade osmótica, aumento do volume corpuscular médio (VCM) e
acentuado decréscimo na velocidade de hemossedimentação das hemácias (VSH),
consequentemente ocasionando a inviabilização do resultado do exame. Outro fator
importante que causa alterações nos eritrócitos é o tempo decorrente da coleta até o
processamento da amostra, uma vez que, após 24 horas envolvidos com
anticoagulantes, ocorrerá sua destruição. O que indica a necessidade de as
amostras serem rapidamente processadas, após a coleta, mesmo que refrigeradas
(MAFUVADZE e ERLWANGER, 2007). Portanto, vê-se a importância de se
padronizar um período para a realização do hemograma (DALANHOL et al., 2009) e
testes bioquímicos após a coleta. Rotineiramente boa parte dos exames laboratoriais
solicitados na clínica médica veterinária, podem ser barrados, devido à inadequação
das amostras. Diante disso, objetivou-se realizar uma avaliação hematológica em
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cães com diferentes concentrações de anticoagulante EDTA em diferentes tempos
de armazenamento.
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Metodologia e Métodos:
Foram utilizadas amostras sanguíneas de 30 cães (Canis lupus familiaris) de
diferentes raças, a partir de um ano de idade, pesando acima de 20 kg, procedentes
do atendimento clínico realizados no Hospital Veterinário da UFERSA- Mossoró-RN.
Os proprietários foram informados sobre os objetivos da pesquisa e assinaram um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para a realização do hemograma
foram colhidos 8,0 mL de sangue circulante através de venopunção jugular ou
cefálica, após antissepsia com álcool 70%, e distribuídos em 3 tubos de ensaio
contendo 1 mL, 3 mL e 4 mL, respectivamente, com uma gota (50 μL) de
anticoagulante EDTA em cada. As amostras foram processadas no Laboratório de
Patologia Clínica do Hospital Veterinário da UFERSA e mantidas a uma temperatura
entre 4 a 8°C. Cada amostra foi analisada três vezes, sendo a primeira análise
realizada durante a primeira hora após a amostragem, e sucessivamente, em 24 e
48 horas. Para a obtenção do número de hemácias, hematócrito, hemoglobina,
plaquetas e contagem total de leucócitos, processou-se as amostras sanguíneas em
analisador hematológico Scil Vet abc™, após homogeneização de 15 minutos. Os
dados obtidos foram dispostos na forma de média e desvio padrão, assim o grupo
controle foi aquele na qual as análises foram realizadas imediatamente após a
colheita, e os grupos tratamento 24 e 48 horas após a colheita, desta forma foi
realizada distribuição inteiramente casualizada à análise da variância e as médias
comparadas entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade pelo programa de
análise estatística software R.
Resultados e Discussão:
As variáveis hematológicas mostraram-se estáveis ao longo do tempo e da
concentração de anticoagulante, sem diferenças significativas, mesmo 48 horas
após a coleta da amostra. De tal modo, o hematócrito revelou uma variação em
torno de 38,2 % a 40,0 % em relação a concentração de anticoagulante com 24
horas após a coleta e de 38,2 % a 38,9 % com 24 e 48 horas de armazenamento,
respectivamente. Na dosagem de hemoglobina as médias variaram de 13,50 a 13,99
g/dL referente a concentração de anticoagulante e de 14,00 a 13,6 g/dL referente à
24 e 48 horas após a coleta, simultaneamente. Enquanto a contagem de hemácias
variou de 6,06 a 6,25 milhões/mm3 para a concentração de anticoagulante e de 6,26
a 6,18 milhões/mm3 com 0 e 48 horas após a coleta, concomitantemente. Trabalhos
anteriores também detectaram a ausência de alterações significativas nas variáveis
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hematológicas ao longo do tempo (GUEVARA; BOUZA-MORA; ROMERO-ZÚÑIGA.
2010; FREISE et al., 2009). Embora tenha-se observado a variação de 1,8 %, na
média do hematócrito, não houve diferença estatisticamente significativa. Segundo
THRALL et al. (2015), amostras contendo excesso de EDTA, resulta em falsa
redução do hematócrito quando utilizado o método de micro-hematócrito. Deste
modo, tal resultado pode ser atribuído à metodologia adotada, bem como ao
manuseio adequado das amostras, visto que as mesmas foram acondicionadas sob
refrigeração durante o estudo, o que pode ter auxiliado a preservação dos
constituintes celulares. Com relação aos resultados apresentados para contagem
total de leucócitos também não foram observadas diferença estatística significante,
bem como se mantiveram dentro dos valores de referência. Embora a contagem
total de leucócitos tenha-se mostrado uma discreta variação das médias em torno de
13.871 a 15.167 mm3 para as amostras contendo 1 mL e 4 mL de sangue,
respectivamente, e de 12.942 a 14.589 mm3 para as amostras processadas no
tempo 0 e 48 horas, simultaneamente, não interferiu nos resultados do exame. O
mesmo foi observado para a contagem de plaquetas que variou discretamente de
255 mil/mm3 logo após a coleta para 230 mil/mm3 com 48 horas, e referente a
relação sangue/anticoagulante obteve-se menor semelhança entre os tubos de 1 mL
(236 mil/mm3) e 4 mL de sangue (254 mil/mm3), não influenciando na interpretação
clínica do laudo. Corroborando com nossos estudos, ao analisar a influência da
concentração de anticoagulante, tempo e temperatura de armazenagem sobre os
parâmetros hematológicos no hemograma automatizado, Oliveira et al. (2010)
observaram que amostras sanguíneas, conservadas à temperatura de 2 a 8ºC por
48 horas, permaneceram em condições adequadas para análise. O que permite
acreditar que as condições em que foram submetidas as amostras, a partir da coleta
e durante o armazenamento, tenham contribuído para este resultado, visto que,
após a coleta foram imediatamente processadas, não passando por nenhum tipo de
transporte que inviabilizasse tal análise.
Conclusão:
Os resultados do estudo revelaram que amostras sanguíneas conservadas em
EDTA tripotássico (K3), processadas em até 48 horas após a coleta, não interferiram
nos parâmetros hematológicos quando submetidas em condições adequadas de
armazenamento e processadas em analisador hematológico Scil Vet abc™,
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entretanto o estudo não garante que essas varáveis permaneçam inalteradas em
outras condições de armazenamento e processamento.
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Cap. 2.
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