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AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DOS POSTOS DE TRABALHO DE UMA EMPRESA DE TRANSPORTE DE CARGAS EM MACAÉ/RJ Rayane da Silva Pinto (UFF) [email protected] Nathalia Erasmi de Souza Pereira (UFF) [email protected] Ludmilla Cardoso Martins (UFF) [email protected] NISSIA CARVALHO ROSA BERGIANTE (UFF) [email protected] O presente artigo apresenta os resultados de uma avaliação ergonômica dos postos de trabalho de uma empresa que atua no setor de transportes de cargas em Macaé. O estudo foi baseado na metodologia da ergonomia de correção e teve como objetiivo principal a avaliação ergonômica dos postos de trabalho já existentes com a proposição de melhorias. O processo de análise do sistema de trabalho foi realizado a partir de dados levantados em entrevistas, questionários e visitas técnicas onde se pode constatar que os motoristas de munck apresentavam maior potencial de contribuição para a pesquisa sendo portanto escolhidos como ponto crítico. A partir dos resultado da atividade de pesquisa foram diagnosticados cinco problemas principais que ocasionavam dores aos trabalhadores estudados e como resultado, algumas soluções de melhoria foram propostas. Palavras-chaves: Avaliação ergonômica, Transporte de Carga, Motorista, Munck. XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DOS

POSTOS DE TRABALHO DE UMA

EMPRESA DE TRANSPORTE DE

CARGAS EM MACAÉ/RJ

Rayane da Silva Pinto (UFF)

[email protected]

Nathalia Erasmi de Souza Pereira (UFF)

[email protected]

Ludmilla Cardoso Martins (UFF)

[email protected]

NISSIA CARVALHO ROSA BERGIANTE (UFF)

[email protected]

O presente artigo apresenta os resultados de uma avaliação

ergonômica dos postos de trabalho de uma empresa que atua no setor

de transportes de cargas em Macaé. O estudo foi baseado na

metodologia da ergonomia de correção e teve como objetiivo principal

a avaliação ergonômica dos postos de trabalho já existentes com a

proposição de melhorias. O processo de análise do sistema de trabalho

foi realizado a partir de dados levantados em entrevistas, questionários

e visitas técnicas onde se pode constatar que os motoristas de munck

apresentavam maior potencial de contribuição para a pesquisa sendo

portanto escolhidos como ponto crítico. A partir dos resultado da

atividade de pesquisa foram diagnosticados cinco problemas principais

que ocasionavam dores aos trabalhadores estudados e como

resultado, algumas soluções de melhoria foram propostas.

Palavras-chaves: Avaliação ergonômica, Transporte de Carga,

Motorista, Munck.

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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1. Introdução

De forma geral, as empresas entendem de forma equivocada o conceito de Ergonomia como

sendo apenas uma análise de avaliação postural. A Ergonomia não se limita só a isto, ela

abrange questões comuns da realização de serviços, o que pode incluir o modo como será

feito e/ou como evitar acidentes na realização destes.

A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem, e este trabalho abrange não

apenas aqueles executados com máquinas e equipamentos, mas também todas as situações em

que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva. O estudo também

abrange os diversos fatores que influenciam no desempenho do sistema produtivo procurando

reduzir a fadiga, estresse, erros e acidentes, proporcionando segurança, satisfação e saúde aos

trabalhadores, durante o relacionamento com este sistema produtivo (LIDA, 2005).

Medidas ergonômicas eficazes resultam na redução dos esforços e desconforto no

desempenho da tarefa, conseqüentemente há um aumento da rentabilidade das empresas pela

maior produtividade, diminuição do custo operacional, sem considerar a economia das

despesas públicas com a saúde e seguridade social (CODO e ALMEIDA, 1998 apud

TEIXEIRA, 2008).

Lida (2005) classifica a Ergonomia conforme o contexto em que é aplicada. Segundo o autor

ela pode ser de: concepção, correção, conscientização e participação. De forma resumida, a

ergonomia de concepção ocorre quando a contribuição ergonômica se faz durante o projeto do

produto, da máquina, ambiente ou sistema. A ergonomia de correção é aplicada em situações

reais, já existentes, para resolver problemas que se refletem na segurança, fadiga excessiva,

doenças de trabalhador ou quantidade e qualidade da produção. A ergonomia de

conscientização procura capacitar os próprios trabalhadores para a identificação e correção

dos problemas do dia-a-dia. E a ergonomia de participação procura envolver o próprio usuário

do sistema na solução de problemas ergonômicos (LIDA, 2005).

2. Objetivos

Este estudo propõe-se a analisar o local de operações e os escritórios de uma empresa de

transporte, localizada no município de Macaé. Esta empresa trabalha exclusivamente com o

transporte de cargas tais como, contêineres, caixas e kits que possuem materiais, provenientes

de plataformas. A empresa recolhe todo o material no Porto de Macaé e transporta para sua

base de trabalho, na qual espera até o momento que a empresa destinatária libere o

recebimento desses equipamentos para a realização do serviço. Assim o objetivo é fazer uma

análise de ergonomia de correção, com foco em propor melhorias a um posto de trabalho já

existente.

Atualmente o quadro funcional da empresa estudada, conta com 26 colaboradores, possui uma

sede de 2500m2 e uma considerável carteira de clientes, que exigem uma frota renovada com

manutenções preventivas e corretivas, profissionais qualificados e treinados seguindo as

normas de seguranças assim como a conscientização da preservação do meio ambiente, e

tributação e encargos sociais em dia.

Pode-se classificá-la como empresa de médio porte, tendo como principal produto a prestação

de serviço de transporte de cargas offshore, transporte de produtos perigosos, locação de

equipamentos offshore e movimentação de cargas.

A escolha dessa empresa foi motivada pelo tipo de operação que realiza, que inclui

movimentação de carga pesada e perigosa que pode gerar vários problemas relacionados à

saúde do trabalhador. Neste sentido, o presente artigo tem como proposta apresentar algumas

possíveis melhorias no processo da realização destas atividades laborais de forma a contribuir

com as questões de saúde e segurança dos trabalhadores.

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3. Metodologia do estudo

O processo de análise do sistema de trabalho foi realizado a partir de dados levantados em

entrevistas, questionários e visitas técnicas de forma a alcançar dois objetivos importantes:

(1) compreender a situação de trabalho, pelo grupo pesquisador e (2) caracterizar os

problemas segundo a ótica dos trabalhadores. A metodologia se constitui portanto de

observações diretas e indiretas (filmagens, fotografias, relatos, etc.) para avaliação das

condições ergonômicas da empresa.

Para um estudo do ambiente de trabalho da empresa foi aplicado o Questionário Nórdico dos

sintomas músculo-esquelético aos trabalhadores da empresa (Anexo A) proposto por Lida

(2005), sobre três aspectos com relação as partes do corpo com problemas ocasionados pelo

trabalho: nos últimos 7 dias, nos últimos 12 meses e se houve afastamento nos últimos 12

meses. Porém, os dados referente aos ultimos 7 dias foram desconsiderados por não serem

relevantes na análise proposta.

O questionário aplicado abrangeu perguntas iniciais relacionadas à capacitação, condições de

trabalho e experiência profissional dos trabalhadores, seguido de perguntas que objetivavam a

especificação de membros do corpo com maior freqüência de dor, as quais serviram como

possíveis indicadores de disfunções nas atividades laborais realizadas e neste sentido

poderiam ser utilizados como ponto de partida para uma análise ergonômica mais

aprofundada e objetiva.

Apesar do quadro funcional da empresa contar com 26 colaboradores só foi possível a

aplicação do questionário com uma amostra de 16 colaboradores (aproximadamente 61,54%)

que exercem diferentes funções tais como:

Funções

Motorista de Carreta;

Motorista de Munck;

Assistente Administrativo;

Financeiro Administrativo;

Analista de Recursos Humanos;

Técnico de Logística;

Ajudante.

Tabela 1: Tipos de funções exercidas na empresa estudada

Para uma melhor compreensão da análise dos resultados as funções dos trabalhadores

pesquisados foram divididas em dois setores: escritório e operacional. O setor de escritório

abrange as funções da área administrativa, logística e recursos humanos e é composta por 5

funcionários dentre 16 pesquisados. O setor operacional se compõe pelas funções dos

motoristas e ajudantes com um total de 11 funcionários.

A amostra de funcionários foi composta por 4 mulheres e 12 homens com idades entre 25 e 50

anos, os quais possuem entre 2 meses e 6 anos no exercício da função dentro da empresa e

entre 2 meses e 20 anos de experiência no cargo.

4. Resultados

Analisando os questionários e os gráficos 1,2 e 3, pode-se perceber que das partes do corpo

selecionadas, as que causaram maiores incômodos nos últimos 12 meses (29/10/2009 –

29/10/2010) foram no pescoço com 31% seguido dos ombros com 25%, punhos e mão com

18,75% e a coluna lombar, coluna dorçal, quadril ou coxas ambas com 12,5%. Apesar das

ocorrências, o que mais afetou os trabalhadores impossibilitando-os de trabalhar foram os

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problemas com a coluna dorsal, como relataram 19% dos entrevistados, a lombar e os

tornozelos e/ou pés com 13%.

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Gráfico 1: Ocorrência de dores nos últimos 12

meses nos membros

Gráfico 2 : Ausência no trabalho em consequência

da dores apresentadas nos membros

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Gráfico 3 : Comparação entre os setores em relação a qualquer tipo de dor

Feita tal análise percebeu-se que os mais afetados por dores são os trabalhadores do setor

operacional, visto que os setores administrativo, financeiro, de RH e de Logística não

apresentaram nenhum tipo de dor causado pelo trabalho realizado na empresa, com exceção

de uma reclamação de dor no ombro nos últimos 12 meses. Já os motoristas de carreta e os

motoristas de munck sentiram diferentes tipos de dores tais como, nos pés devido ao contato

diário com pedais pesados dos caminhões, as manivelas para operar as cargas e as condições

de trabalho ao permanecerem várias horas dirigindo, e/ou em pé realizando operações em

posições desfavoráveis fazendo juz a grande reclamação das dores no pescoço.

Embasado nestas constatações, ficou evidente que a situação crítica da empresa na área de

trabalho está relacionada às atividades operacionais, tornando-se assim o objeto de estudo

deste trabalho. Em função desse resultado foram realizadas ainda outras entrevistas com estes

trabalhadores a fim de determinar possíveis situações críticas específicas deste setor.

Com os resultados encontrados nos relatos, entrevistas e questionários, o grupo pode constatar

que os motoristas de munck apresentavam maior potencial de contribuição para a pesquisa e

proposições de melhorias.

5. Estudo da análise crítica

5.1 Caracterizações das condições ambientais de trabalho

Como o local de operação não possui cobertura, os trabalhadores realizam suas funções

expostos a sol, chuva e vento. Além disso, os caminhões disponíveis para o trabalho

apresentam pedais pesados.

Dentro do local de operações da empresa ocorre falta de visibilidade na área em que farão à

suspensão do material (contêineres, caixas e cestas). Os operadores são obrigados a ficar com

o corpo retorcido durante a realização do trabalho, devido a má utilização do layout do pátio

assim como a disposição das alavancas no caminhão de munck, o que ocasiona fortes dores

após a operação.

5.2 Trabalho Preescrito x Trabalho Real

Segundo o Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde, os estudos sistemáticos das

situações de trabalho têm como objetivo compreender como o trabalhador faz para

desenvolver ou realizar a sua tarefa. A análise ergonômica coloca em evidência que as tarefas

são variáveis ao longo da jornada de trabalho e que o indivíduo, ele mesmo, é submetido às

variações do seu estado interno. Ainda segundo o Manual, os fatores de risco devem ser

avaliados no contexto organizacional onde o trabalhador está inserido

Com base nisto, a partir da identificação da situação crítica de trabalho dentro da empresa,

pode-se iniciar o estudo desta atividade procurando compreendê-la de forma mais detalhada,

para em seguida aplicar os conceitos enunciados pela ergonomia de correção.

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O primeiro passo foi o levantamento de informações que teve como principal objetivo

compreender melhor sobre o que se trata a profissão motorista de munck e como funciona a

sua principal ferramenta de trabalho, o caminhão munck.

Segundo o WWN Transportes (2010), o caminhão munck é um equipamento hidráulico

utilizado para carregamento, descarregamento, transporte e movimentação de máquinas e

peças pesadas. Sendo assim, o motorista de munck é responsável pela parte da direção do

caminhão até a parte de movimentação de cargas através das alavancas que fazem parte da

estrutura física do caminhão.

Para uma compreensão das operações deste trabalho, pela ótica dos trabalhadores foram

realizadas observações no posto de trabalho, procurando-se compreender mais

detalhadamente as atividades que os mesmos realizam em sua rotina de trabalho.

A partir dos relatos dos motoristas de munck pode-se conhecer todo o processo do trabalho

prescrito. É importante ressaltar que na realização do trabalho o motorista de munck pode

realizar as tarefas junto a um ajudante, que o auxilia em determinadas etapas do processo, ou

trabalhar sozinho executando todas as operações.

Para o estudo do trabalho real, ou seja, do trabalho que é efetuado na prática, foi realizada

uma entrevista filmada. A entrevista foi concedida por um motorista de munck que explicou

as etapas do processo de carregamento e descarregamento de cargas. Esta entrevista teve

como objetivo principal observar como é a execução do trabalho na prática e entender

detalhadamente como todas as etapas são executadas.

Avaliando cada etapa do processo de carregamento de carga, é possível fazer um quadro

comparativo com as situaçãos mais divergentes:

Etapa Trabalho Prescrito Trabalho real

Manejo das alavancas A movimentação deve ser feita com

corpo reto de frente para as alavancas

O trabalhador mantém o corpo

retorcido, pois ao ficar de frente para

as alavancas, estará de costas para o

equipamento que será içado

Prender o Gancho, posicionar a

carga, abrir a lança

O Ajudante auxilia o motorista

prendendo o gancho, posicionando a

carga e dando sinais para abrir e

fechar a lança.

Em algumas ocasiões, o motorista de

munck é obrigado a executar estas

etapas, por estar sozinho no posto de

trabalho.

Calçar as patolas Dar a volta para verificar o que está

acontecendo do outro lado do

caminhão

Muitas vezes o motorista de munck

agacha-se para verificar o que ocorre

do outro lado em vez de dar a volta.

Carregamento/

Descarregamento da Carga

Informações sobre o peso dos

equipamentos que serão carregados/

descarregados são informados ao

motorista pela empresa solicitante do

serviço.

O motorista muitas vezes tem que

verificar o peso do material que será

içado pela falta de informações

fornecida pela empresa solicitante.

Subida no caminhão Subir através da escada dianteira

Algumas etapas, principalmente

quando a carga já está na carroceria

dificulta o acesso do

motorista/ajudante, se o mesmo subir

pela escada dianteira. Isto faz com que

subam por outros meios, tais como:

pneus, patolas ou por escadas que

algumas empresas (clientes)

fornecem.

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Tabela 2: Diferença do trabalho prescrito para o trabalho real

Pode-se perceber que a analise feita na Tabela 2, expõem que há divergê ncias entre o que

deveria ser feito e o que de fato é realizado diariamente pelos trabalhadores em questão. Ao

transcorrer deste trabalhado serão analisados mais profundamente os problemas que tais

situações ocasionam.

5.3 Problemas Identificados

Ao analisar todo o procedimento de trabalho, foram levantados cinco problemas principais

que acabam ocasionando mais dores durante e depois dos procedimentos: (a) o alcance visual

do funcionário ao movimentar o material, (b) a dor que este sente nos pés ao acelerar o

caminhão, (c) as posições em que permanece durante toda a operação, isto é, com o corpo

torcido, (d) as posturas inadequadas ao subir no caminhão e, (e) o levantamento inadequado

de cargas.

5.3.1 Dificuldades no campo visual durante as operações

O funcionário precisa ter noção de todo seu entorno para realizar sua função, porém, todos os

equipamentos envolvidos – caminhão, contêineres, guindastes – são um grande obstáculo

visual para ele, o que impede uma melhor desempenho no trabalho.

Segundo Lida (2005), os olhos do ser humano têm grande mobilidade, porém, quando se

exige atenção em um campo visual mais amplo se estabelece uma Hierarquia das Tarefas

Visuais.

Níveis de Hierarquia Visuais Detalhes dos Níveis

Nível 1: Visão Ótima Os objetos podem ser visualizados,

praticamente sem nenhum movimento dos olhos.

Nível 2: Visão Máxima É a visão que se consegue, movimentando-se

os olhos, sem movimentar a cabeça.

Nível 3: Visão Ampliada Campo visual que só se consegue atingir

movimentando a cabeça.

Nível 4: Visão Estendida

Neste exigem-se movimentos corporais

maiores, como “estender” o pescoço, girar o tronco

ou levantar (da cadeira, por exemplo).

Fonte: LIDA (2005)

Tabela 3: Hierarquia das Tarefas Visuais

O trabalho realizado pelos motoristas de munck está de acordo com o nível 4 da Hierarquia

das Tarefas Visuais, o que requer um maior esforço corporal por parte desses funcionários,

havendo mais gastos energéticos. Esses maiores esforços produzem fadiga, e, por

conseqüência, o empregado acaba simplificando o seu serviço, gerando um menor

rendimento.

5.3.2 Desconforto nos pés

Para que o caminhão de munck inicie seu funcionamento, o trabalhador precisa deixar o carro

ligado e acelerá-lo. De modo semelhante, pelo trabalho envolver o transporte do materiral à

empresa destinária,o acionamento do pedal torna-se movimento constante. Entretanto, o pedal

do acelerador é muito pesado e duro, causando dor nos pés dos funcionários, que são

motoristas e dependem deste pedal para realizar seu serviço.

Segundo Lida (2005), o pé é considerado como um tipo de alavanca do corpo. Os relatos dos

funcionários mostram que é preciso fazer grande força para o correto funcionamento desse

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pedal, gerando-lhes muitas dores nos pés ao final do dia, por causa do desgaste repetitivo com

este membro do corpo

5.3.3 Torções no Corpo

Segundo Lida (2005), existem três situações principais em que a má postura pode produzir

conseqüências danosas: trabalhos estáticos que envolvem uma postura parada por longos

períodos; trabalhos que exigem muita força; e trabalhos que exigem posturas desfavoráveis,

como o tronco e pescoço torcidos.

O trabalho dos funcionários, da empresa em estudo, envolve a primeira e terceira situação, já

que eles desenvolvem todo seu serviço em pé, às vezes estático, com o corpo e o pescoço

torcido, para poder movimentar as alavancas do caminhão e ainda ver o material sendo içado

da forma correta, como pode ser vista nas figura 1 e 2.

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Figura 1 – Tronco e Pescoço torcidos

Figura 2 – Tronco torçido

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5.3.4 Posturas inadequadas ao subir no caminhão

Os caminhões disponíveis para as operações só possuem escadas na parte traseira, fazendo

com que os empregados subam de outras formas para agilizar o serviço, o que prejudica a

saúde destes, a longo prazo, causando dores na coluna por causa de posturas inadequadas.

Além disso, o fato de subirem apoiando-se em pneus e outras partes do caminhão, aumentam

os riscos de quedas e acidentes na área de trabalho, como mostra as figuras 3 e 4.

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Figura 3 – Subida inadequada utilizando a dianteira

do caminhão

Figura 4 - Subida inadequada utilizando as rodas do

caminhão

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5.3.5 Levantamento de cargas

O manuseio de cargas é responsável por grande parte dos traumas musculares entre os

trabalhadores. Aproximadamente 60% dos problemas musculares são causados por

levantamentos de cargas (BRIDGER, 2003 apud LIDA, 2005). Segundo Lida (2005), as

situações de trabalho quanto ao levantamento de pesos podem ser classificados em dois

tipos. Um deles refere-se ao levantamento esporádico de cargas, que está relacionado

com a capacidade muscular. O outro ao trabalho repetitivo com levantamento de cargas,

onde entra o fator de duração do trabalho.

Durante a operação de carregamento de cargas o motorista de munck realiza um levantamento

de carga (gancho) para ser posicionada a lança. O “peso” deste gancho depende do tipo de

material que irá içar e pode chegar a mais de 10 kg. Como é uma etapa do processo de curta

duração, a situação crítica em estudo enquadra-se na primeira classificação definida por Lida

(2005).

Ao levantar um peso com a mão, o esforço é transferido para a coluna vertebral descendo pela

bacia e pernas, até chegar ao piso. A coluna vertebral é extremamente frágil para forças que

atuam perpendicularmente ao seu eixo, assim recomenda-se que o levantamento de cargas

seja realizado sempre com a coluna na posição vertical, usando-se as musculaturas das pernas,

que são mais resistentes (LIDA, 2005).

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Figura 5 – Postura correta para levantamento de

carga (Fonte: UFRRJ)

Figura 6 – Postura incorreta para levantamento

de carga

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Como pode ser visto na figura 6, o motorista de munck realiza a postura incorreta para

levantamento do gancho ao agachar-se curvando a coluna. Pela figura 5 têm-se o

procedimento correto onde ao não inclinar a coluna, o profissinal preserva sua estrutura

resultando em não aparecimento de dores após a realização do trabalho.

6. Resultados

Após um amplo estudo sobre a funcionalidade e dinâmica dos empregados da empresa foram

levantados alguns aspectos que na ótica da ergonomia, não são adequados, principalmete na

área operacional, onde atuam os motoristas de caminhão munck.

No caso dos motoristas de caminhão munck, as soluções são mais difíceis em função da

gravidade das situações estudadas pois a maneira ideal de realização da tarefa expõe, por si

só, o trabalhador a outros riscos uma vez que reduz o seu campo de visão dificultando a

visualização da tarefa pelo operário. O ideal é que esses controles fossem ajustados à postura

do trabalhador.

As dores dos pés provocadas pelos duros aceleradores dos caminhões não podem ser

minimizadas com nenhuma técnica ergonômica por se tratar de um componente específico do

caminhão. Uma solução seria que a empresa, quando fosse realizar a aquisição de novos

caminhões, procurasse por equipamentos mais adequados aos funcionários, inclusive

envolvendo-os no momento da escolha e permitindo o teste antes da formalização da compra.

Quanto às torções no corpo que o funcionário vê-se obrigado a fazer quando está manejando

as alavancas e movimentando as cargas, mesmo que não seja possível mudar a atividade,

recomenda-se uma melhor rotatividade de funcionários a cada operação, para não

sobrecarregar apenas um. Outra sugestão é sempre que possível um ajudante auxiliar o

motorista de munck nas operações evitando que o mesmo fique sobrecarregado com

atividades que não lhe correspondem.

Com relação à subida do funcionário nos caminhões, o ideal seria que houvesse escadas

também na parte dianteira, porém, sabe-se que esta situação independe da empresa, pois os

caminhões vêm com especificações fixas. O que poderia ser feito é sempre ter disponíveis

escadas móveis para colocar na parte dianteira do caminhão, como solução rápida, mesmo não

sendo o ideal. Essa pode ser uma situação bem próxima ao ideal. Podem ser escadas seguras,

que não se apoiassem no caminhão, mas fossem bem estruturadas, disponibilizadas no pátio

do trabalho.

Considerando a parte do processo para o levantamento de carga, identificou-se uma postura

inadequada dos funcionários ao realizarem este tipo de atividade. Para não trazer prejuízos à

saúde do trabalhador devem ser intensificadas os treinamentos e conscientizações com

respeito às posturas adequadas que o trabalhador deve desempenhar ao longo de seu turno de

trabalho. Uma solução seria disponibilizar placas explicativas no ambiente de trabalho, sobre

posturas corretas ao realizar as atividades exigidas ou até mesmo equipamentos como suporte

abdominal lombar.

7. Considerações Finais

Algumas limitações deste trabalho podem ser destacadas. A primeira é que a não

disponibilidade desde equipamento para medir algumas variáveis, como por exemplo,

luxímetro, fitas antropométricas, compasso de dobras cutâneas e balanças de pesagem, fez

com que o trabalho só pudesse abordar fatos visíveis e medições aproximadas. Quanto à

entrevista, o grupo não teve acesso aos trabalhadores que realizavam serviços fora do local de

operação da empresa, o que acarretou na ausência de alguns funcionários para a entrevista,

fazendo com que os dados coletados não representem 100% da empresa.

Em relação à parte dos escritórios, os problemas identificados são tão sutis que os próprios

empregados os reconhecem, mas não percebem a gravidade desses problemas em longo

prazo. O fato de que algumas mesas são pequenas e não tem espaço suficiente para colocar o

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teclado, o mouse e o monitor em distâncias adequadas em longo prazo podem gerar dor nos

punhos, no pescoço e na coluna dos usuários. A cadeira de alguns funcionários não possui

regulagem e nem todos têm apoio para os pés, o que pode gerar dores nos mesmos e nas

perdas, provocando também problemas de circulação. A sala mesmo tendo luzes fluorescentes

e teto forrado de cor branca, gera em alguns pontos pouca luminosidade, causando problemas

nos olhos e dores de cabeça, pois o funcionário sem nem perceber, força muito a vista quando

está trabalhando, principalmente nos monitores de computadores que não possuem uma tela

de proteção.

Para resolver tais problemas seria necessário um estudo com equipamento próprio para

verificação da adequação dos níveis de iluminância para interiores (NBR-5413) a fim de

evidenciar a necessidade de colocação de mais pontos de luz no teto. A compra de telas para

os monitores de todos os computadores dos escritórios, assim como armário para

armazenagem de documentos, livrando a mesa dos funcionários para que possam ter mais

espaço para colocar o que realmente importa. Cadeiras reguláveis são boas, mas podem ser

substituídas por apoios de pés, desde que a altura do monitor, do teclado e do mouse, consiga

se ajustar a altura do funcionário, sem que as pernas deste fiquem pressionadas.

Em relação à parte operacional, a solução crítica exige um estudo mais aprofundado e

minucioso para que sejam possíveis recomendações mais apropriadas e viáveis, para os

trabalhadores e para a empresa. Assim, para trabalhos futuros pode-se mencionar uma análise

mais aprofundada nos problemas identificados neste trabalho contemplando o que as

conseqüências psicoemocionais ocasionadas por esta atividade de trabalho geram na

produtividade do trabalho e um estudo mais aprofundado nas atividades de trabalho realizado

nos escritórios.

Referências

BRIDGER, R. S. Introduction to ergonomics. 2ª ed. London: Taylor e Francis, 2003, p.548.

DOENÇAS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E DO TECIDO CONJUNTIVO RELACIONADAS

COM O TRABALHO in Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde - Capítulo 18. Disponível em:

<www.segurancanotrabalho.eng.br/ergonomia/9.doc> Acesso em 08 de Novembro de 2010.

LIDA, I. “Ergonomia Projeto e Produção” 2ª Ed. Editora: Edgard Blücher, 2005.

TEIXEIRA, M. F. A.“A Importância Fisioterapêutica na Utilização do Questionário Bipolar de Couto na

Avaliação de Fadiga em Conjunto com A Análise das Interrupções de Trabalho em Operadores de Telefonia

(Call Center): Estudo Preliminar”. Universidade Veiga de Almeida – Rio de Janeiro, 2008.

UFRRJ, ”Riscos ergonômicos - Transporte de cargas”. Disponível em http://www.ufrrj.br/institutos

/it/de/acidentes/ergo.htm. Acesso em 07 de Novembro de 2010.

WWN Transporte, “Guindastes e Transportes Pesados”. Disponível em: http://www.wwntransportes.com.br/

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Page 17: AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DOS POSTOS DE TRABALHO DE … · AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DOS POSTOS DE TRABALHO DE UMA EMPRESA DE TRANSPORTE DE CARGAS EM MACAÉ/RJ Rayane da Silva Pinto (UFF)

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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ANEXO A – Questionário Nórdico dos sintomas músculo-esquelético

Fonte: Lida (2005)