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AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E CORRELAÇÃO ENTRE A CLASSIFICAÇÃO CITOLÓGICA E O PROGNÓSTICO DO TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL. Nazilton de Paula Reis Filho 3 (PIBIC/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA-UENP), Karina Maria Basso 2 , Alexandre Augusto Arenales Torres 3 , Celmira Calderón 1 (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus Luiz Meneghel/Departamento de Patologia Geral/Bandeirantes, PR. 1 Prof. Adj. do Curso de Medicina Veterinária UENP-CLM 2 Residente do Departamento de Patologia UNOESTE 3 Aluno de Graduação do Curso de Medicina Veterinária UENP-CLM Medicina Veterinária/Patologia Animal Palavras-chave: cão, oncologia, tumor venéreo transmissível Resumo: O tumor venéreo transmissível (T.V.T.) é uma neoplasia de grande frequencia que acomete cães, sendo a genitália o local mais acometido. Este estudo fez um levantamento epidemiológico baseado nos dados obtidos por um questionário. As neoplasias foram ainda citomorfologicamente classificadas segundo Amaral e colaboradores (2007), e posteriormente correlacionados ao número de casos que se obteve cura, óbito ou casos de recidiva tumoral. Os dados obtidos do questionário epidemiológico caracterizaram o cão não castrado que possui idade entre 3 e 5 anos, como o que tem a maior incidência a apresentar esta neoplasia, sendo que a principal causa de transmissão foi o acesso a rua. A classificação citomorfológica não permitiu prever diferença da resposta ao tratamento entre os diferentes grupos, entretanto estudos comparando esta classificação ao número de aplicações do quimioterápico para obter a cura pode direcionar novos estudos que orientariam na escolha da conduta terapêutica. Introdução O tumor venéreo transmissível (T.V.T.) é uma neoplasia de células redondas de ocorrência natural que geralmente acomete a genitália externa de cães (DAS & DAS, 2000) (LORIMIER, L.P.L.; FAN, T.M., 2007) (SANTOS, D.E.; et al. 2008). Cães de qualquer raça, sexo e idade são susceptíveis ao contágio embora exista a presença de um grupo de risco constituído por animais com acesso a rua (SILVA, M.C.V.; et al. 2007). Sua transmissão se dá pela Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

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AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E CORRELAÇÃO ENTRE A CLASSIFICAÇÃO CITOLÓGICA E O PROGNÓSTICO DO TUMOR

VENÉREO TRANSMISSÍVEL.

Nazilton de Paula Reis Filho3 (PIBIC/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA-UENP), Karina Maria Basso2, Alexandre Augusto Arenales Torres3, Celmira

Calderón1 (Orientador), e-mail: [email protected]

Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus Luiz Meneghel/Departamento de Patologia Geral/Bandeirantes, PR.

1 Prof. Adj. do Curso de Medicina Veterinária UENP-CLM2 Residente do Departamento de Patologia UNOESTE3 Aluno de Graduação do Curso de Medicina Veterinária UENP-CLM

Medicina Veterinária/Patologia Animal

Palavras-chave: cão, oncologia, tumor venéreo transmissível

Resumo:

O tumor venéreo transmissível (T.V.T.) é uma neoplasia de grande frequencia que acomete cães, sendo a genitália o local mais acometido. Este estudo fez um levantamento epidemiológico baseado nos dados obtidos por um questionário. As neoplasias foram ainda citomorfologicamente classificadas segundo Amaral e colaboradores (2007), e posteriormente correlacionados ao número de casos que se obteve cura, óbito ou casos de recidiva tumoral.

Os dados obtidos do questionário epidemiológico caracterizaram o cão não castrado que possui idade entre 3 e 5 anos, como o que tem a maior incidência a apresentar esta neoplasia, sendo que a principal causa de transmissão foi o acesso a rua.

A classificação citomorfológica não permitiu prever diferença da resposta ao tratamento entre os diferentes grupos, entretanto estudos comparando esta classificação ao número de aplicações do quimioterápico para obter a cura pode direcionar novos estudos que orientariam na escolha da conduta terapêutica.

Introdução

O tumor venéreo transmissível (T.V.T.) é uma neoplasia de células redondas de ocorrência natural que geralmente acomete a genitália externa de cães (DAS & DAS, 2000) (LORIMIER, L.P.L.; FAN, T.M., 2007) (SANTOS, D.E.; et al. 2008).

Cães de qualquer raça, sexo e idade são susceptíveis ao contágio embora exista a presença de um grupo de risco constituído por animais com acesso a rua (SILVA, M.C.V.; et al. 2007). Sua transmissão se dá pela

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

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implantação de células tumorais viáveis, em mucosas lesionadas ou pele com ausência de integridade (DAS & DAS, 2000).

A citologia é o método de escolha para o diagnóstico do T.V.T. por ser uma técnica simples, barata, minimamente invasiva e indolor (Das & Das, 2000). Amaral e colaboradores (2007) consolidaram uma nova nomenclatura citomorfológica baseada em características celulares do T.V.T., onde essa neoplasia é classificada em padrão plasmocitóide, linfocitóide e misto, segundo esses autores o padrão plasmocitóide apresenta um comportamento biológico mais agressivo e com maior capacidade de se desenvolver em locais extra genitais e metastatizar.

O presente estudo teve por objetivo o levantamento dos dados epidemiólgicos que possam ser relevantes quanto a forma de transmissão, sazonalidade, incidência do T.V.T., além a correlacionar influência das características citomorfológicas frente à avaliação do prognóstico quanto a cura, óbito e recidiva tumoral.

Materiais e métodos

Foram coletadas amostras de 15 animais que possuíam suspeita clínica de Tumor Venéreo Transmissível para realização do exame citopatológico pela técnica de citologia aspirativa por agulha fina (CAAF). As lâminas foram coradas pelo método de Giemsa para posterior classificação. Os dados do levantamento epidemiológico foram obtidos a partir de questionários durante a primeira abordagem do animal.

A classificação citomorfológica foi realizada segundo Amaral e colaboradores (2007) dividindo as amostras em 3 grupos, plasmocitóide, linfocitóide, e misto.

A avaliação do prognóstico foi realizada através de ligações telefônicas aos proprietários após, no mínimo, três meses do diagnóstico da neoplasia, questionando sobre a cura do animal até o presente momento, óbito ou recidiva da neoplasia.

Resultados e Discussão

O maior número de diagnósticos de T.V.T. correspondeu ao período de primavera/verão (73,3%; n=11), enquanto os casos diagnosticados no período de outono/inverno compreenderam um menor número (26,7%; n=4), Apesar da cadela ser monoestrica estacional e a latitude e fotoperiodicidade parece não exercer efeito (nem a luz natural ou artificial ) segundo Lorimier, L.P.L.; Fan, T.M. (2007) essa neoplasia tem sido observada e correlacionada a épocas de maiores índices de pluviosidade e temperatura.

Os critérios avaliados para caracterizar a incidência deste tumor foram sexo, raça e idade. Do total de 15 animais, nove (60%) eram fêmeas e seis (40%), machos. A maior parte dos autores relatam não existir predisposição sexual para o contágio da neoplasia, porém outros como DAS & DAS (2000) e SILVA, M.C.V. e colaboradores (2007), inferem uma maior ocorrência natural da doença em fêmeas, dado este baseado que um único

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macho infectado pode copular com inúmeras cadelas, além de uma fêmea poder aceitar um grande número de parceiros durante o período fértil.

Quatorze animais (93,3%) eram sem raça definida (S.R.D.), enquanto apenas um (6,7%) era da raça Boxer, dado este de acordo com a literatura, que relata grupo de risco, formado na sua grande maioria por animais mestiços (SILVA, M.C.V. et. al, 2007).

A idade do diagnóstico esteve entre um ano e meio e onze anos, onde a mais freqüente foi quatro anos. A faixa etária de três a cinco anos apresentou a maior ocorrência (53,3%; n=8), provavelmente por ser o período de maior maturidade e atividade sexual, portanto encontrou-se uma ocorrência baixa de casos com menos de dois anos de idade (13,3%; n=2) e uma significativa diminuição da incidência após oito anos de idade (13,3%; n=2) corraborando com AMARAL, A.S. et al. (2007) e SILVA, M.C.V. et al. (2007).

Dos animais atendidos, todos possuíam acesso à rua, nenhum era castrado e apenas um não possuía contactantes, tais dados podem ser explicados pois a transmissão do T.V.T. ocorre especialmente durante o coito ou pelo hábito social do cão de se lamber e farejar. SANTOS,E.D. et al. (2008) relata maior incidência da neoplasia em cães que habitam em áreas de alta densidade populacional e de grande número de animais abandonados ou com acesso a rua.

Em relação a classificação citomorfológica, o T.V.T. plasmocitóide foi o mais freqüente, representando 40% dos casos (n=6), enquanto o tipo linfocitóide e misto corresponderam a 33,3% (n=5) e 20% (n=3) respectivamente, sendo que um caso apresentou ambas as classificações (6,7%), Amaral e colaboradores 2007 obtiveram dados semelhantes, onde o padrão plasmocitóide (52,53 %) foi o mais observado, porém demonstraram divergência em relação aos padrões misto (29,11 %) e linfocitóide (18,36 %).

Ao avaliar o prognóstico observou-se que três animais não foram submetidos ao tratamento. Destes, dois vieram a óbito, um devido a opção por eutanásia e outro em decorrência de outras doenças concomitantes. O terceiro animal encontra-se vivo porém com a doença em progressão. Os demais casos (n=12) foram tratados com quimioterapia e encontram-se vivos.

Em nenhum dos casos observou-se metástase, porém as recidivas ocorreram em 13,3% dos casos (n=2), um deles após três meses do término do tratamento e outro após cinco meses, sendo que essas duas amostras foram classificadas como padrão linfocitóide, dado este que diverge do esperado. Uma das recidivas se deu pela possível permanência de células viáveis após o término do tratamento, e no outro caso não é possível descartar um caso de reimplante. O resultado encontrado por Amaral e colaboradores (2007) em seu estudo mostrou que 6,4% dos animais apresentaram recidivas e 25% metástases, porém, provavelmente essa mesma autora agrupou essas duas classes e denominou-as como tumores não-primários, devido a dificuldade em diferenciar casos de re-infecção de metástases ou recidivas. Nesse mesmo estudo a autora observou que

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tumores ditos não primários eram 41% dos casos classificados como plasmocitóides, 26% como misto e apenas 10% como linfocitóides.

Amaral e colaboradores (2007) inferem que o T.V.T. plasmocitóide, além de mais frequente, tem maior habilidade de se desenvolver em locais extragenitais e comportamento metastático mais comum, sugerindo assim comportamento mais agressivo, porém divergindo dos autores não pudemos observar tal fato já que na avaliação prognóstica não se observou uma correlação entre cura, óbito ou recidiva com as diferentes classificações citomorfológicas, pois os casos de óbitos foram devido a opção de eutanásia ou outras doenças concomitantes, ou seja, obteve-se um bom prognóstico dos animais acometidos.

Conclusões

Não foi possível observar aspecto sazonal que caracterizasse essa neoplasia, e a transmissão pelo coito justifica o maior acometimento da região genital do que em regiões extragenitais.

Ao avaliar a incidência do tumor não foi possível identificar um padrão de raça, sexo e idade onde o T.V.T. poderia ser mais frequente, contudo a principal causa de disseminação da neoplasia foi o acesso a rua.

Baseado nos resultados encontrados é possível concluir que o exame citológico se mostrou eficaz para o diagnóstico do T.V.T., permitindo ainda realizar a diferenciação e classificação citomorfológica preconizada por Amaral e colaboradores (2007) em plasmocitóide, linfocitóide e misto, entretanto novos estudos comparando a classificação e o prognóstico, bem como a resposta ao tratamento devem ainda ser realizados.

Referências

Amaral, A. S.; Bassani-Silva, S.; Ferreira, I.; Fonseca, L.S.; Andrade, F.H.E.; Gaspar, L.F.J.; Rocha, N.S. Cytomorphological characterization of transmissible canine venereal. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. 2007, 102, 253-260.Das, U.; Das, A. Review Of Canine Transmissible Verenal Sarcoma. Veterinary Research Communications. 2000, 24, 545-556.Lorimier, L.P.L.; Fan, T.M. (2007). Canine Transmissible Veneral Tumor. In: Withrow and MacEwen´s Small Animal Clinical Oncology , Withrow, S.J.; Vail, D.M., Ed.: Shelly Stringer (ed.). Philadelphia: Saunders Elsevier, 2007, 4 ed., 799-803.Santos, D.E.S.; Silva, D.T.; Toledo-Pinto, E.A.; Lot, R.F.E. Tumor Venéreo Transmissível (TVT): Revisão de Literatura. Revista Científica Eletônica de Medicina Veterinária. 2008, 10, 1-7.Silva, M.C.V.; Barbosa, R.R.; Santos, R.C.; Chagas, R.S.N.; Costa, W.P. Avaliação Epidemiológica, Diagnóstica e Terapêutica do Tumor Venéreo Transmissível (TVT) na População Canina Atendida no Hospital Veterinário da UFERSA. Acta Veterinaria Brasílica. 2007, 1, 28-32.

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.