avaliação e tratamento precoces na artrite reumatóide: impacto … · trabalho organizado de...

45
Maria Inês Póvoa Castanheira Abreu Avaliação e tratamento precoces na Artrite Reumatóide: impacto no prognóstico 2011/2012 março, 2012

Upload: lediep

Post on 13-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Maria Inês Póvoa Castanheira Abreu

Avaliação e tratamento precoces na Artrite

Reumatóide: impacto no prognóstico

2011/2012

março, 2012

2

Maria Inês Póvoa Castanheira Abreu

Avaliação e tratamento precoces na Artrite

Reumatóide: impacto no prognóstico

Mestrado Integrado em Medicina

Área: Reumatologia

Trabalho efetuado sob a Orientação de:

Professor Doutor Carlos Cabral Vaz

Trabalho organizado de acordo com as normas da revista:

Arquivos de Medicina

março, 2012

3

4

5

Avaliação e tratamento precoces na Artrite Reumatóide: impacto no prognóstico

Early evaluation and treatment in Rheumatoid Arthritis: impact on prognosis

* Abreu, Maria Inês Póvoa Castanheira

* Estudante do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina na Faculdade de Medicina da

Universidade do Porto

Correspondência:

Rua Tratado de Tordesilhas, 204

4425-697 Pedrouços

Telemóvel: 911080155

E-mail: [email protected]

Agradecimentos: Agradeço ao Professor Doutor Carlos Jorge Cabral Vaz, meu orientador,

pela sua disponibilidade e espírito crítico ao longo de todo o processo de elaboração do

presente trabalho.

Contagem de palavras

Resumo: 234 palavras.

Abstract: 208 palavras.

Texto principal: 4711 palavras.

6

Resumo

A Artrite Reumatóide é uma doença heterogénea tanto na apresentação clínica como em

termos de prognóstico. Em alguns pacientes a doença pode ser pouco erosiva e pouco

sintomática, enquanto noutros pode ser mais grave e persistente, conduzindo a danos

articulares graves e incapacitantes em poucos anos.

Os novos critérios de classificação da ACR/EULAR focam características presentes em

estádios precoces da doença, permitindo identificar pacientes cuja duração dos sintomas é

relativamente curta.

Avaliando o prognóstico precocemente, poderão ser identificados os pacientes que

progredirão para formas mais agressivas da doença e que podem beneficiar de tratamentos

mais intensivos, melhorando assim a gestão das terapêuticas disponíveis.

Atualmente os reumatologistas estão sensibilizados para a existência de uma “janela de

oportunidade terapêutica” (por volta dos 3 meses de sintomas) durante a qual o tratamento

intensivo se associa a uma melhoraria do prognóstico da doença a longo prazo.

Vários estudos têm surgido no sentido de compreender qual a constituição do tratamento

ideal da Artrite Reumatóide Inicial, fazendo comparações entre DMARDs em combinação e

monoterapia; entre tratamento intensivo e convencional; entre combinações de DMARDs e

agentes biológicos com os mesmos em monoterapia e entre o início imediato de uma

combinação ou apenas quando a monoterapia falha.

O diagnóstico rápido e acertado, o tratamento precoce e intensivo (incluindo DMARDs ou

agentes biológicos) e a monitorização apertada da atividade da doença são a chave para o

tratamento eficaz dos pacientes com Artrite Reumatóide.

Palavras-chave: artrite reumatóide inicial, diagnóstico, tratamento, DMARDs, agentes

biológicos, prognóstico

7

Abstract

Rheumatoid arthritis is a heterogenous disease in both clinical presentation and prognosis.

In some patients the disease may be less erosive and symptomatic while in others it may

present as more severe and persistent, leading to important and disabling joint damage in a

few years.

The new ACR / EULAR classification criteria focus on features at early stages of the

disease, permitting the identification of patients whose symptoms’ duration is relatively short.

Early prognosis’ evaluation may identify patients who would progress to more aggressive

forms of the disease who might benefit from more intensive treatments, thereby improving

the therapeutic management of the disease.

Currently, rheumatologists are aware of the existence of a "window of opportunity" (around 3

months of symptoms), during which intensive treatment is associated with long-term

outcome improvement.

Several studies have emerged in order to understand the constitution of the ideal treatment,

making comparisons between DMARDs combination therapy versus monotherapy; intensive

versus conventional treatment; combination of DMARDs and biologic agents versus both in

monotherapy; and the prompt initiation of combination therapy or only when monotherapy

fails.

Prompt and accurate diagnosis, early and intensive treatment (including DMARDs or

biologic agents) and close monitoring of disease activity are the key to effective

management of patients with Rheumatoid Arthritis.

Key-words: initial rheumatoid arthritis, diagnostic, treatment, DMARDs, biologic agents,

prognosis

8

Índice

Lista de abreviaturas e siglas..................................................................................................9

Introdução..............................................................................................................................11

Métodos.................................................................................................................................13

Definição de Artrite Reumatóide Inicial..................................................................................14

Diagnóstico Precoce..............................................................................................................16

Novos critérios da ACR/EULAR.................................................................................17

Prognóstico da Artrite Reumatóide Inicial..............................................................................19

Tratamento Precoce..............................................................................................................21

Qual é o tratamento ideal?....................................................................................................23

Combinação de DMARDs convencionais versus monoterapia.................................23

Tratamento intensivo versus tratamento de rotina.....................................................25

DMARDs convencionais e agentes anti-TNF-α.........................................................26

Iniciar de imediato tratamento de combinação ou apenas quando a monoterapia

falha?.........................................................................................................................30

Novas perspetivas.................................................................................................................32

Diagnóstico pré-clínico da Artrite Reumatóide...........................................................32

Conclusão..............................................................................................................................33

Referências............................................................................................................................34

Apêndice................................................................................................................................42

9

Lista de abreviaturas e siglas

ACR – American College of Rheumatism

Anti-CCP – Anti-peptídeo citrulinado cíclico

AR – Artrite Reumatóide

ASPIRE – The Active-Controlled Study of Patients Receiving Infliximab for the Treatment of

Rheumatoid Arthritis of Early Onset study

BeSt – Behandel Strategieen trail

CAMERA – The Computer-Assisted Management in Early RA trial

CDAI – Clinical Disease Activity Index / Índice de atividade clínica da doença

COBRA – Combinatietherapie Bij Reumatoide Artritis trial

COMET – The Combination of Methotrexate and Etanercept in Active Early RA trial

DAS – Disease Activity Score / Score da atividade da doença

DMARD – Disease-modifying antirheumatic drugs / Fármacos antirreumáticos

modificadores da doença

EULAR – European League Against Rheumatism

FIN-RACo – The Finnish Rheumatoid Arthritis Combination Therapy study

FR – Fator Reumatóide

HAQ – Health Assessment Questionnaire

LERA – Late Early Rheumatoid Arthritis / Artrite Reumatóide Inicial Tardia

PCR – Proteína C Reativa

10

RMN – Ressonância Magnética Nuclear

SDAI – Simplified Disease Activity Index / Índice de atividade da doença simplificado

SJC – Swollen Joint Count / Contagem das articulações inchadas

SWEFOT – The Swedish Pharmacotherapy trial

TEAR – The Treatment of Early Aggressive RA trial

TICORA – The Tight Control of Rheumatoid Arthritis study

TJC – Tender Joint Count / Contagem das articulações dolorosas

TSS – Sharp Score Total

US – Ultrassonografia

VERA – Very Early Rheumatoid Arthritis / Artrite Reumatóide Muito Inicial

VS – Velocidade de Sedimentação

11

Introdução

A Artrite Reumatóide é a mais comum das artrites inflamatórias, afetando cerca de 0.5 a 1%

da população mundial, sendo a sua ocorrência observada em todos os grupos étnicos (1).

Devido à presença de autoanticorpos, tal como o Fator Reumatóide (FR) e o Anti-peptídeo

Citrulinado Cíclico (anti-CCP) cuja presença pode preceder as manifestações da doença

em vários anos, a Artrite Reumatóide é considerada uma doença autoimune (2). É

nitidamente mais frequente no sexo feminino (cerca de 2.5 a 3:1 em relação ao sexo

masculino), acometendo principalmente pacientes entre a 4ª e 6ª décadas de vida (1).

É uma doença bastante heterogénea tanto na apresentação clínica como em termos de

prognóstico. Em alguns pacientes a doença pode ser pouco erosiva e pouco sintomática,

enquanto que noutros pode ser mais grave e persistente, conduzindo a danos articulares

graves e incapacitantes em poucos anos (3).

A AR (Artrite Reumatóide) pode conduzir a uma grande morbilidade e o índice de

afastamento do trabalho pode ser superior a 60% após 15 anos de início da doença (4).

Sendo também uma doença sistémica, com envolvimento pulmonar e cardiovascular, a AR

condiciona uma diminuição da esperança de vida. Como um grupo, os pacientes com AR

sofrem mais de doença cardiovascular do que os que não têm AR (5).

Nas últimas décadas houve uma enorme evolução no conhecimento da fisiopatologia da

doença, acarretando grandes mudanças na forma de abordagem e na terapêutica da AR

(6). Ao mesmo tempo, desenvolveram-se e melhoraram-se os métodos laboratoriais e de

imagem que contribuíram para o diagnóstico e determinação do prognóstico mais

precocemente. Para além disso, foi reconhecido que uma intervenção terapêutica mais

precoce melhora o prognóstico e reduz a progressão das lesões e a incapacidade funcional

dos doentes (8,9).

12

Atualmente está generalizado o conceito de AR inicial ou precoce e da existência de uma

“janela de oportunidade terapêutica” (período de tempo durante o qual a instituição de

terapêutica adequada determina melhoria clínica a longo prazo), firmando a noção de que o

diagnóstico e tratamento precoces podem modificar o prognóstico (6). É por isso necessária

uma avaliação da atividade da doença e estabelecimento do seu prognóstico

precocemente, de forma a reduzir ou mesmo prevenir a progressão da doença através de

um tratamento adequado (10).

13

Métodos

Foi efetuada uma pesquisa bibliográfica de artigos publicados entre janeiro de 2001 e 20 de

agosto de 2011, na base de dados MEDLINE, através do motor de busca PubMed. As

palavras-chave utilizadas foram rheumatoid arthritis e early, com obtenção de 3360

correspondências. A seleção dos artigos foi feita inicialmente com base nos títulos e

resumos e depois com base nos fulltexts. A esta pesquisa foram adicionados,

periodicamente até 2 de janeiro de 2012, os artigos mais recentes e ainda artigos de

interesse referenciados por artigos “de base”. Foram incluidos 56 artigos nesta revisão.

14

Definição de Artrite Reumatóide Inicial

Atualmente, os reumatologistas esperam avaliar um paciente com sintomas articulares o

mais cedo possível, pois seria ideal iniciar o tratamento num período em que fosse ainda

possível prevenir os danos articulares. A definição de artrite reumatóide inicial compreende

as primeiras semanas ou meses de sintomas (menos de 12 meses), sendo os primeiros 3

meses de manifestações classificados como AR muito inicial (VERA – do inglês Very Early

Rheumatoid Arthritis) e o período compreendido entre mais de 3 meses e menos de 12

meses é denominado de AR inicial tardia (LERA – do inglês Late Early Rheumatoid

Arthritis) (11).

Vários estudos têm sugerido que, entre os pacientes com AR inicial, uma proporção

significativa entrará em remissão espontânea e que, entre aqueles com sintomas

persistentes, somente alguns progredirão para artrite reumatóide propriamente dita (cerca

de um terço), enquanto outros permanecerão com uma forma de artrite indiferenciada ou

irão desenvolver outras doenças reumatológicas (3,12).

É consensualmente aceite que deixar doentes com AR inicial não-diagnosticados ou não-

tratados aumenta o risco de dano articular progressivo e incapacidade funcional. Contudo,

tratar agressivamente pacientes com formas leves da doença e que provavelmente

entrariam em remissão espontânea, ou outros que nem sequer progredirão para AR, expõe

estes pacientes a riscos sem benefício. Assim sendo, é fulcral determinar marcadores

clínicos, serológicos ou genéticos que permitam a distinção dos pacientes que irão evoluir

para formas graves de AR e que portanto podem beneficiar de tratamento intensivo e

precoce (6).

Dixon e Symmons (13) sugeriram em 2005 que os pacientes com AR inicial deveriam

apenas ser classificados após um seguimento por alguns meses ou mais, pois só nessa

altura é possível decidir qual o diagnóstico final (AR seropositiva, seronegativa ou outros).

Defendem ainda que o “ciclo de vida” da AR está dividido em 4 fases: a primeira fase sendo

15

um período que precede o início da artrite no qual ocorrem os fenómenos que

desencadeiam o seu início; a segunda fase corresponde a um período durante o qual a

persistência ou remissão da artrite é determinada; a terceira fase sendo a evolução para

uma forma específica de artrite e a última fase que corresponde ao desfecho da doença. Os

autores defendem que em alguns doentes estas quatro fases sucedem-se rapidamente,

enquanto noutros prolongam-se durante meses ou anos, o que revela a influência de

fatores genéticos e ambientais. Os autores sugeriram também que em vez de usar o

conceito de AR inicial, os doentes deveriam ser classificados como tendo AR estabelecida

ou uma artrite inflamatória indiferenciada, defendendo que o termo AR inicial não é

adequado.

16

Diagnóstico precoce

Compreendendo que a instituição terapêutica precoce na AR é importante e que constitui

um objetivo alcançável, faz sentido investir no seu diagnóstico precoce. A deteção dos

anticorpos anti-CCP (anticorpos anti-Peptideo Citrulinado Cíclico) oferece uma

especificidade superior à do FR (Fator Reumatóide), mantendo a mesma sensibilidade, no

diagnóstico da AR. Além disso, a pesquisa simultânea dos dois fatores revela uma maior

exatidão diagnóstica do que os mesmos separadamente (14).

Antes do desenvolvimento da RMN (Ressonância Magnética Nuclear), os médicos

dependiam obrigatoriamente da história clínica, exame físico e das radiografias

convencionais para fazer o diagnóstico da AR. Contudo, as radiografias demonstram

apenas as alterações tardias da AR. Por sua vez, a RMN consegue detetar alterações

precoces e em muitos casos, na RMN observam-se erosões enquanto as radiografias não

demonstram qualquer alteração (15). A ultrasonografia de alta resolução tem a capacidade

de detetar sinovite e erosões clássicas 6.5 vezes mais do que a radiografia convencional

(16).

Um estudo de 2006 (17) comparou a radiografia convencional com a US (ultrasonografia) e

a RMN no diagnóstico e follow up da AR. No início do estudo a radiografia convencional

detetou erosões em 5/128 (4%) das articulações, a US detetou 12/128 (9%) e a RMN

detetou 34/128 (27%).

Alguns estudos sugerem que o edema medular, detetado por RMN, tem valor preditivo do

desenvolvimento de erosões, que se desenvolvem mais tardiamente no decurso da doença

(10). A RMN contrastada é um método excelente para a observação de sinovites e

tenosinovites, sendo ambas manifestações iniciais comuns da AR (18). Desta forma, muitos

autores consideram a RMN o método mais sensível para a deteção de erosões em estado

inicial (15). A realização de uma RMN durante a apresentação inicial da doença poderá

17

ajudar a avaliar o prognóstico radiológico dos pacientes e, deste modo, permitir o

tratamento adequado dos pacientes com formais mais agressivas de AR (19).

Nos últimos anos, a US tem-se revelado promissora no diagnóstico das doenças

reumatológicas, principalmente devido a oferecer uma boa visualização dos tecidos moles e

erosões ósseas iniciais (16).

• Novos critérios da ACR/EULAR (20)

Os critérios de classificação da Artrite Reumatóide de 1987 da American College of

Rheumatology foram vastamente criticados pela sua falta de sensibilidade em relação à AR

inicial. Com os tratamentos modernos, o objetivo é prevenir os pacientes de atingir o estado

crónico e avançado que é exemplificado nos critérios de 1987.

Os novos critérios podem ser aplicados apenas se dois requisitos forem preenchidos. Deve

existir evidência da presença atual de sinovite (tumefação) em pelo menos uma articulação

e essa sinovite não pode ser melhor explicada por outro diagnóstico. Assim sendo, a

classificação de um doente como tendo definitivamente AR é baseada nestes dois

requisitos e na aquisição de 6 ou mais pontos (de 10 possíveis) através da pontuação

individual em 4 domínios: número e local de articulações envolvidas (pontuação de 0 a 5),

resultados serológicos – FR e/ou anti-CCP (pontuação de 0 a 3), resposta de fase aguda –

PCR e/ou VS (pontuação de 0 a 1) e duração dos sintomas – mais ou menos de 6 semanas

(pontuação de 0 a 1). Um paciente com pontuação inferior a 6 não pode ser classificado

como tendo definitivamente AR mas pode vir a preencher os critérios algum tempo mais

tarde.

Este novo sistema de classificação foca características presentes em estádios mais

precoces da doença, permitindo identificar pacientes cuja duração dos sintomas é

relativamente curta e que podem beneficiar de uma instituição precoce de DMARDs ou

18

entrar em ensaios clínicos com novos fármacos que podem vir a alterar o desenvolvimento

da doença.

19

Prognóstico da Artrite Reumatóide Inicial

A avaliação dos fatores relacionados com mau prognóstico na AR inicial pode ajudar a

identificar pacientes que tenham AR mais agressiva, a qual pode progredir mais

rapidamente para a destruição articular. Estes doentes poderão ser bons candidatos ao

tratamento precoce e intensivo com metotrexato e um agente biológico logo à partida em

vez da sua adição apenas mais tarde (21). Este conceito é também importante do ponto de

vista médico-económico, pois os agentes biológicos apesar da sua eficácia na diminuição

da progressão da doença, têm um custo bastante elevado e por vezes associam-se a

efeitos adversos, não devendo ser prescritos a pacientes em que a probabilidade de

desenvolvimento de erosões é nula (19). Desta forma, é importante tentar definir que

pacientes com artrite indiferenciada irão progredir realmente para AR.

Devido à complexidade da doença, o seu prognóstico não pode ser definido por apenas um

teste laboratorial, necessitando de uma combinação de vários parâmetros (22). Foram

criados alguns modelos, utilizando vários fatores de prognóstico, com o objetivo de criar um

modelo de prognóstico para a AR (23,24). Um destes modelos foi desenvolvido através da

utilização de dados da Leiden Early Arthritis Clinic. Foram selecionados 570 pacientes com

Artrite Indiferenciada e foi monitorizada a sua progressão durante um ano de follow up.

Foram identificadas as características com valor preditivo independente do

desenvolvimento de AR: sexo, idade, localização dos sintomas, rigidez matinal, TJC (tender

joint count), SJC (swollen joint count), nível de PCR, FR positivo e anti-CCP positivo. Com o

conjunto destes fatores criaram um modelo preditivo com um score possível de 0-14, em

que os valores preditivos positivo e negativo dependem do cutoff selecionado. Quando os

cutoffs superior e inferior foram 8 e 6, os correspondentes valores preditivo positivo e

negativo foram 84% e 91%, respetivamente. 25% dos pacientes encontravam-se entre 6 e

8, sendo neles igual a probabilidade de desenvolver AR ou não. Um grupo independente de

pacientes com Artrite Indiferenciada foi usado para validação externa do modelo. Os

20

autores concluíram que o risco de desenvolvimento de AR pode ser avaliado, permitindo

decisões terapêuticas mais individualizadas (24).

21

Tratamento precoce

Desde há várias décadas que os reumatologistas têm o conhecimento de que as erosões

ósseas, a tradução radiográfica da AR, ocorrem cedo no decurso da doença, muitas vezes

durante os primeiros dois anos após o início dos sintomas articulares (25).

Os novos métodos de imagem, tal como a RMN, provaram que as lesões articulares e

ósseas ocorrem bastante antes de nas radiografias se observarem as típicas erosões da

AR. Vários estudos revelam que as lesões articulares podem ocorrer, em muitos pacientes,

apenas 4 meses depois do aparecimento dos sintomas iniciais, demonstrando a

importância de intervir mais cedo no decurso da doença e, assim, melhorar o seu

prognóstico (26). Tem vindo a ser demonstrado que o atraso na implementação terapêutica

na AR é prejudicial a nível da progressão radiológica da doença e também da resposta ao

tratamento (27). Num estudo de 2002, um atraso de apenas 4 meses reduziu a capacidade

do tratamento convencional com monoterapia induzir remissão em doentes com AR inicial

(28).

Um estudo Austríaco de 2004 (11) comparou o tratamento em doentes com AR muito inicial

(VERA) com o tratamento em doentes com AR inicial tardia (LERA). Vinte pacientes VERA

foram comparados com 20 pacientes LERA (que esperaram em média 12 meses para

iniciar o tratamento com DMARDs). Aos 3 meses de tratamento, tanto a atividade da

doença como as lesões radiográficas eram significativamente melhores no grupo VERA. No

final do estudo, o grupo VERA teve uma melhoria no DAS de 2.8 enquanto que o grupo

LERA teve uma melhoria no DAS de 1.7 (P<0.05). Também os Larsen Scores

demonstraram uma diminuição da progressão radiográfica significativamente superior no

grupo VERA comparativamente ao LERA. Os autores defendem a existência de uma janela

de oportunidade terapêutica para o tratamento da AR, durante o primeiro ano, mas

especialmente durante os primeiros 3 meses de tratamento.

22

Atualmente está generalizado o conceito de “janela de oportunidade terapêutica” durante a

qual a instituição de tratamento intensivo trará benefícios a longo prazo (29). As dimensões

exatas desta janela não estão bem determinadas, mas é bastante claro que o mesmo

tratamento é mais eficaz quando aplicado precocemente no decurso da doença do que

mais tarde (28,29). Foi demonstrado que a resposta inicial ao tratamento (por volta dos 4

meses) é preditor da remissão a longo prazo (30). Com base em publicações que

demonstram a eficácia do tratamento precoce, os reumatologistas estão neste momento

sensibilizados para o início do tratamento com DMARDs o mais precocemente possível

(31,32).

23

Qual é o tratamento ideal?

Embora seja cada vez mais aceite que o tratamento intensivo da AR deve começar o mais

precocemente possível, é necessário definir a sua constituição. Foram feitos diversos

estudos nesse sentido, comparando a eficácia das várias opções terapêuticas e suas

combinações.

Sabia-se já, desde os anos 50, que altas doses de corticosteroides orais melhoravam

rapidamente a sinovite e reduziam a progressão radiológica, contudo, com excessiva

toxicidade e efeitos laterais. Corticosteroides em baixas doses têm menos efeito nos

sintomas mas reduzem a progressão das erosões, com menor toxicidade (12). O primeiro

estudo a analisar este tema demonstrou que 7.5mg diários de predisolona oral, associada a

outros tratamentos (definidos pelos reumatologistas dos pacientes do estudo) por um

período de 2 anos, reduziram substancialmente a progressão radiológica em doentes com

AR inicial (33).

• Combinação de DMARDs convencionais versus monoterapia:

Vários estudos têm sugerido que o tratamento com combinações de DMARDs

convencionais é superior ao seu uso em monoterapia na diminuição da progressão

radiológica e na supressão da atividade da doença (34-36).

COBRA (Combinatietherapie Bij Reumatoide Artritis trial) (37)

O ensaio clínico COBRA procurou esclarecer a importância da combinação terapêutica no

tratamento intensivo da AR inicial. Neste estudo com 155 pacientes, a mediana da duração

dos sintomas era de 4 meses. A um grupo de doentes foi administrada sulfasalazina

(2g/dia), metotrexato (7.5mg/dia) e prednisolona (numa dose diária inicial de 60mg que foi

24

sendo diminuída rapidamente até aos 7.5mg/dia às 6 semanas). O metotrexato e a

prednisolona foram sendo diminuídos até serem retirados após as 28 semanas de

tratamento. Ao segundo grupo foi administrada apenas sulfasalazina (2g/dia). Foi

demonstrado que a combinação terapêutica implementada precocemente conduz a um

melhor controlo da doença a nível clínico e radiográfico.

Os efeitos benéficos persistiram por mais de 5 anos. Estes achados demonstram que um

período inicial de tratamento intensivo, de cerca de 6 meses, que inclua altas doses de

corticosteroides, resulta numa supressão sustentada da progressão radiográfica em

doentes com AR inicial (38).

FIN-RACo (The Finnish Rheumatoid Arthritis Combination Therapy study) (35)

Este estudo finlandês comparou a combinação de DMARDs (sulfasalazina, metotrexato e

hidroxicloroquina) mais prednisolona com DMARD em monoterapia com e sem

prednisolona, em 195 doentes com AR inicial. Verificou-se que a terapêutica combinada

oferecia melhores resultados aos 2 anos, sem maior toxicidade. Aos 2 anos, 37% dos

pacientes que receberam terapêutica combinada entraram em remissão, em comparação

com apenas 18% no grupo que recebeu DMARD em monoterapia (P=0.003).

O’Dell et al. (39) avaliaram 3 combinações de DMARDs convencionais em 171 pacientes

com AR inicial que nunca tinham sido tratados metotrexato ou cujo seu uso tinha falhado,

mas que nunca tinham sido sujeitos a nenhuma das combinações do estudo. Os pacientes

foram randomizados de forma a constituir 3 grupos que receberiam metotrexato e

hidroxicloroquina, metotrexato e sulfasalazina ou a combinação dos três. Todos os

tratamentos foram bem tolerados.

25

O grupo que recebeu a combinação dos três fármacos obteve as melhores respostas

ACR20 - 78% vs 60% no grupo metotrexato-hidroxicloroquina (P=0.05) e 49% no grupo

metotrexato-sulfasalazina (P=0.002).

• Tratamento intensivo versus tratamento de rotina:

Alguns estudos compararam o tratamento intensivo (através de um controlo estreito da

atividade da doença) com o tratamento convencional, procurando demonstrar que desta

forma o prognóstico pode ser melhorado. Na prática clínica, o tratamento intensivo consiste

na intensificação da terapêutica quando a atividade da doença não é inferior a um

determinado nível pré-definido (idealmente o da remissão) (40).

TICORA (The Tight Control of Rheumatoid Arthritis study) (41)

Este estudo comparou o tratamento intensivo com o tratamento de rotina em 110 pacientes

com AR inicial. O tratamento intensivo constituía na administração escalada de DMARDs

baseada na avaliação mensal com base na atividade da doença, enquanto que o

tratamento de rotina era decidido pelo médico, ajustado de 3 em 3 meses, sem medição

formal da atividade da doença.

Aos 18 meses de tratamento, os pacientes que recebiam o tratamento intensivo alcançaram

uma descida no DAS28 de -3.5 para o tratamento intensivo e de -1.9 para o tratamento

convencional (P<0.0001), e uma maior taxa de remissão comparativamente ao grupo em

tratamento de rotina (65% versus 16% [P<0.0001]), contudo demonstrava ainda uma

significante progressão radiográfica. Assim, mesmo com um controlo intensivo, utilizando

DMARDs convencionais, continua a existir importante progressão radiográfica.

26

Uma possível explicação para esta situação é que os DMARDs convencionais não

suprimem completamente a sinovite, mesmo estando os pacientes em remissão, permitindo

a contínua progressão radiográfica (40).

CAMERA (The Computer-Assisted Management in Early RA trial) (42)

O estudo CAMERA comparou um tratamento intensivo com metotrexato (baseado na

utilização de um protocolo estrito e de um programa de decisão computorizada) com o

tratamento convencional com metotrexato em monoterapia, num grupo de 299 pacientes

com AR inicial. No grupo de tratamento intensivo, a terapêutica foi ajustada pelo programa

de decisão computorizada, mensalmente. Os pacientes em tratamento convencional foram

seguidos de 3 em 3 meses, tendo sido a sua terapia ajustada de acordo com o critério do

reumatologista. Era adicionada ciclosporina no caso de os pacientes demonstrarem

resposta inadequada a doses máximas de metotrexato.

Cerca de 50% dos pacientes do grupo de tratamento intensivo atingiram, pelo menos, um

período de remissão durante os 2 anos do estudo, comparativamente com 37% no grupo

de tratamento convencional (P=0.03). Os resultados demonstraram que, através da

intensificação da terapêutica, é possível aumentar substancialmente a eficácia do

tratamento no início do decurso da doença, permitindo aos pacientes atingir a remissão

com maior frequência, rapidez e por um maior período de tempo.

• DMARDs convencionais e agentes anti-TNF-α

O TNF-α tem um papel central no desenvolvimento da sinovite nos pacientes com AR e os

agentes que inibem a sua ação têm eficácia demonstrada na AR estabelecida (43,44).

Vários estudos procuram avaliar o seu desempenho ao nível da AR inicial e compara-los

27

com os DMARDs convencionais, com o objetivo de compreender qual será a melhor opção

terapêutica para a AR inicial.

ERA (Etanercept in Early RA trial) (45)

Foi o primeiro estudo a comparar o metotrexato em monoterapia com um agente biológico,

no tratamento da AR inicial. Neste estudo, 632 pacientes com AR inicial, que nunca tinham

recebido metotrexato, foram randomizados para o tratamento com etanercept (10 ou 25 mg,

duas vezes por semana) ou metotrexato oral semanalmente (média 19mg/semana),

durante 12 meses. Os pacientes que receberam etanercept (25mg) sofreram uma

progressão radiográfica significativamente menor do que o grupo de tratamento com

metotrexato, resultados que se mantiveram por mais de 2 anos.

Na extensão do estudo verificou-se ainda que 72% dos pacientes que receberam

etanercept (25mg) alcançaram uma resposta ACR20 aos 2 anos, comparativamente com

59% no grupo que recebeu metotrexato (P=0.005). Este estudo revelou que uma

terapêutica supressiva precoce, com o uso de um agente biológico, conduz a melhores

resultados radiológicos comparando com metotrexato em monoterapia (46).

ASPIRE (The Active-Controlled Study of Patients Receiving Infliximab for the Treatment of

Rheumatoid Arthritis of Early Onset study) (47)

Este estudo comparou a combinação de infliximab e metotrexato com metotrexato em

monoterapia em 1049 pacientes com AR inicial. Os pacientes foram randomizados para o

tratamento com infliximab (3mg/Kg ou 6mg/Kg às semanas 0, 2, 4 e depois de 8 em 8

semanas) mais metotrexato ou metotrexato em monoterapia (20mg/semana). Às 54

semanas, uma percentagem significativamente superior dos pacientes que receberam

qualquer uma das doses de infliximab associado a metotrexato atingiu os níveis de

28

resposta ACR-N do que os pacientes em monoterapia com metotrexato (38.9% e 46.7%

versus 26.4% respetivamente; P<0.001 para todas as comparações). Os pacientes que

receberam infliximab também apresentaram uma menor progressão radiográfica do que os

que receberam apenas metotrexato.

Os autores concluíram que na AR em estádio precoce, a terapêutica de combinação com

infliximab e metotrexato permite um melhor controlo clínico, radiográfico e funcional do que

a monoterapia com metotrexato.

BeSt (Behandel Strategieen trail) (48)

O estudo BeSt comparou diretamente terapêuticas convencionais com biológicas, utilizando

4 diferentes estratégias terapêuticas, num grupo randomizado de 508 pacientes

Holandeses com AR há menos de 2 anos. As 4 diferentes estratégias consistiram em:

grupo 1 – monoterapia sequencial; grupo 2 – terapia step up; grupo 3 – combinação inicial

de DMARDs e prednisolona; grupo 4 – combinação de metotrexato com infliximab. O

tratamento foi ajustado a cada 3 meses, baseado no DAS; os pacientes com scores ≥2.4

avançavam para o passo seguinte do protocolo terapêutico. Se um paciente atingisse um

DAS inferior a 2.4 por mais de 6 meses consecutivos, o tratamento podia ser reduzido a um

único DMARD.

Aos 12 meses, uma significativamente maior proporção de pacientes dos grupos 3 e 4

mantinham o seu regime de tratamento inicial, comparado com os dos primeiros 2 grupos,

para além de apresentarem mais precoce melhoria clínica e menor progressão radiológica.

O aumento médio no Sharp Score Total (TSS) foi de 2.0, 2.5, 1.0 e 0.5 nos grupos 1-4,

respetivamente (P<0.001).

29

Quando o estudo foi prolongado por mais um ano verificou-se que 33%, 31%, 36% e 53%

dos pacientes nos grupos 1-4, respetivamente, estavam a receber tratamento com um

único fármaco (49).

PREMIER (50)

Este estudo comparou a combinação de adalimumab e metotrexato com adalimumab ou

metotrexato em monoterapia em 799 pacientes com AR inicial que nunca tinham recebido

tratamento com metotrexato. Os pacientes foram randomizados para o tratamento com

adalimumab (40mg/semana) mais metotrexato, adalimumab (40mg/semana) em

monoterapia ou metotrexato em monoterapia. O tratamento de combinação foi superior à

monoterapia em todos os outcomes avaliados. Ao fim de 1 ano de tratamento, mais

pacientes do grupo em tratamento de combinação atingiram o ACR50 (62%) do nos grupos

que receberam metotrexato ou adalimumab em mototerapia (46% e 41%, respetivamente;

P<0.001 para ambas as comparações).

COMET (the Combination of Methotrexate and Etanercept in Active Early RA trial) (51)

O estudo COMET comparou um grupo de pacientes tratados com etanercept mais

metotrexato com outro grupo tratado com metotrexato em monoterapia, em 542 doentes

com AR inicial que nunca tinham recebido tratamento com metotrexato. Dos pacientes sob

terapia de combinação, 50% tinham atingido a remissão clínica, após um ano de tratamento

(definida por DAS28<2.6), comparativamente com 28% no grupo que recebeu monoterapia

com metotrexato (P<0.0001). Verificou-se ainda que uma percentagem muito maior dos

pacientes que receberam etanercept mais metotrexato, alcançou a não-progressão

radiográfica (TSS≤0.5), comparativamente ao grupo em monoterapia com metotrexato (80%

vs 59%; P<0.0001), ao fim de um ano de tratamento.

30

Os autores concluíram que a remissão e a não-progressão radiográfica são objetivos

alcançáveis ao fim de um ano de tratamento combinado com etanercept e metotrexato, em

pacientes com AR inicial.

• Iniciar de imediato tratamento de combinação ou apenas quando a

monoterapia falha?

TEAR (The Treatment of Early Aggressive RA trial) (52)

Este estudo procurou determinar se é melhor iniciar logo à partida uma terapêutica de

combinação ou utiliza-la apenas quando a monoterapia falha. Comparou ainda a

combinação de metotrexato e etanercept com uma terapêutica tripa de DMARDs

convencionais. Os pacientes foram randomizados em 4 grupos distintos: metotrexato,

sulfasalazina e hidroxicloroquina; metotrexato e etanercept; metotrexato em monoterapia,

sequindo-se a adição de sulfasalazina e hidroxicloroquina se DAS28≥3.2 às 24 semanas; e

metotrexato em monoterapia seguindo-se a adição de etanercept se DAS28≥3.2 às 24

semanas. Aos 6 meses de tratamento, as respostas ACR20, 50 e 70 foram

significativamente superiores nos grupos que iniciaram o tratamento com a combinação.

Contudo, aos 2 anos de tratamento, não havia diferenças significativas a nível do DAS28.

Assim se conclui que o uso inicial de metotrexato em monoterapia, com adição após 6

meses, se necessário, de sulfasalazina e hidroxicloroquina ou de etanercept, é uma

estratégia terapêutica razoável, com resultados semelhantes aos 2 anos.

Apesar de não existirem diferenças no DAS28 aos 2 anos, os dados do estudo indicam que

o tratamento inicial de combinação conduz a uma melhoria mais rápida a nível clínico, mas

ainda não se sabe se esta mais rápida melhoria poderá refletir-se em melhores resultados

radiográficos e funcionais a longo prazo (21).

31

SWEFOT (The Swedish Pharmacotherapy trial) (53)

Este estudo comparou adição de infliximab com a adição de sulfasalazina e

hidroxicloroquina em 258 pacientes com AR inicial que não tinham conseguido atingir um

DAS28<3.2 após 3 a 4 meses de tratamento com metotrexato em monoterapia. Doze

meses após esta adição significativamente mais pacientes que receberam infliximab

atingiram uma boa resposta EULAR (DAS≤3.2 e melhoria no DAS de ≥1.2)

comparativamente ao grupo tratado com a combinação de DMARDs convencionais (39% vs

25% respetivamente; P=0.016). Verificou-se também que os pacientes que receberam

infliximab sofreram menos progressão radiográfica aos 24 meses. Estes resultados

sugerem que em pacientes em que o tratamento com metotrexato em monoterapia falha, a

adição de um agente biológico, como o infliximab, conduz a melhores resultados do que a

adição de outros DMARDs convencionais.

32

Novas perspetivas

Neste momento ainda não existe consenso sobre qual a estratégia de tratamento ideal.

Vários autores acreditam que todos os pacientes deveriam iniciar o tratamento com os

fármacos mais potentes e depois reduzi-los assim que a remissão seja atingida (49,54).

Outros defendem que se consegue uma boa resposta ao tratamento com combinações de

DMARDs convencionais, não sendo necessário o tratamento inicial com agentes biológicos

(52). A solução passaria por tentar identificar precocemente que pacientes irão progredir

para uma AR mais agressiva, necessitando de tratamento mais intensivo, e por outro lado

tentar prever a sua resposta ao tratamento, de forma a melhorar a acuidade terapêutica

(55).

• Diagnóstico pré-clínico da Artrite Reumatóide:

Vários estudos demonstram que níveis mínimos de inflamação e autoanticorpos podem

estar presentes até 10 anos antes do início dos sintomas articulares (2). Seria ideal poder

identificar estes pacientes antes do desenvolvimento dos sintomas, permitindo o tratamento

ainda mais precoce da doença. Futuramente, os centros de AR inicial deverão estar aptos a

diagnosticar os pacientes o mais cedo possível no decurso da doença, de forma a iniciar o

tratamento apropriado antes do desenvolvimento das lesões (40). A identificação e o estudo

dos pacientes com AR pré-clínica permitiriam o aumento dos conhecimentos acerca dos

fenómenos que ocorrem nos estádios mais iniciais da doença. Os maiores desafios são

principalmente o recrutamento de um número suficiente de indivíduos e o prolongamento

do estudo tempo suficiente para conseguir resultados significativos a um custo aceitável

(56).

33

Conclusão

Com base em publicações que demonstram a eficácia do tratamento precoce, os

reumatologistas estão neste momento sensibilizados para o início do tratamento com

DMARDs o mais precocemente possível.

De acordo com os estudos sobre o tratamento da AR inicial conclui-se que: o tratamento

precoce e intensivo conduz a uma diminuição da progressão radiográfica da doença a

longo prazo; a combinação de DMARDs é superior ao seu uso em monoterapia; os agentes

anti-TNF-α quando combinados com DMARDs convencionais conduzem a uma melhoria

mais rápida a nível clínico e a uma diminuição acentuada da progressão radiográfica; a

adição de um agente biológico, em pacientes em que a monoterapia com DMARD falha,

conduz a melhores resultados do que a adição de outros DMARDs convencionais.

Avaliando o prognóstico precocemente, poderão ser identificados os pacientes que

progredirão para formas mais agressivas da doença, os quais podem beneficiar de

tratamentos mais intensivos, melhorando assim a gestão das terapêuticas disponíveis.

O diagnóstico rápido e acertado, o tratamento precoce e intensivo (incluindo DMARDs ou

agentes biológicos) e a monitorização apertada da atividade da doença são a chave para o

tratamento eficaz dos pacientes com Artrite Reumatóide.

34

Referências

1. Silman AJ, Pearson JE. Epidemiology and genetics of rheumatoid arthritis. Arthritis Res.

2002;4 Suppl 3:S265-72. Epub 2002 May 9.

2. Rantapää-Dahlqvist S, de Jong BA, Berglin E, Hallmans G, Wadell G, Stenlund H et al.

Antibodies against cyclic citrullinated peptide and IgA rheumatoid factor predict the

development of rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum. 2003 Oct;48(10):2741-9.

3. Hitchon CA, Peschken CA, Shaikh S, El-Gabalawy HS. Early undifferentiated arthritis.

Rheum Dis Clin North Am. 2005 Nov;31(4):605-26.

4. Sokka T. Work disability in early rheumatoid arthritis. Clin Exp Rheumatol. 2003 Sep-

Oct;21(5 Suppl 31):S71-4.

5. del Rincón ID, Williams K, Stern MP, Freeman GL, Escalante A. High incidence of

cardiovascular events in a rheumatoid arthritis cohort not explained by traditional cardiac

risk factors. Arthritis Rheum. 2001 Dec;44(12):2737-45.

6. Mota LM, Laurindo IM, Santos Neto LL. Early rheumatoid arthritis: concepts. Rev Assoc

Med Bras. 2010 Mar-Apr;56(2):227-9.

7. Majithia V, Geraci SA. Rheumatoid arthritis: diagnosis and management. Am J Med. 2007

Nov;120(11):936-9.

8. Bukhari MA, Wiles NJ, Lunt M, Harrison BJ, Scott DG, Symmons DP et al. Influence of

disease-modifying therapy on radiographic outcome in inflammatory polyarthritis at five

years: results from a large observational inception study. Arthritis Rheum. 2003

Jan;48(1):46-53.

9. van Dongen H, van Aken J, Lard LR, Visser K, Ronday HK, Hulsmans HM et al. Efficacy

of methotrexate treatment in patients with probable rheumatoid arthritis: a double-blind,

randomized, placebo-controlled trial. Arthritis Rheum. 2007 May;56(5):1424-32.

35

10. Palosaari K, Vuotila J, Takalo R, Jartti A, Niemelä RK, Karjalainen A et al. Bone oedema

predicts erosive progression on wrist MRI in early RA--a 2-yr observational MRI and NC

scintigraphy study. Rheumatology (Oxford). 2006 Dec;45(12):1542-8. Epub 2006 May 2.

11. Nell VP, Machold KP, Eberl G, Stamm TA, Uffmann M, Smolen JS. Benefit of very early

referral and very early therapy with disease-modifying anti-rheumatic drugs in patients with

early rheumatoid arthritis. Rheumatology (Oxford). 2004 Jul;43(7):906-14. Epub 2004 Apr

27.

12. Scott DL. Early rheumatoid arthritis. Br Med Bull. 2007;81-82:97-114. Epub 2007 May

31.

13. Dixon WG, Symmons DP. Does early rheumatoid arthritis exist? Best Pract Res Clin

Rheumatol. 2005 Feb;19(1):37-53.

14. Nishimura K, Sugiyama D, Kogata Y, Tsuji G, Nakazawa T, Kawano S et al. Meta-

analysis: diagnostic accuracy of anti-cyclic citrullinated peptide antibody and rheumatoid

factor for rheumatoid arthritis. Ann Intern Med. 2007 Jun 5;146(11):797-808.

15. Suter LG, Fraenkel L, Braithwaite RS. Role of magnetic resonance imaging in the

diagnosis and prognosis of rheumatoid arthritis. Arthritis Care Res (Hoboken). 2011

May;63(5):675-88.

16. Wakefield RJ, Gibbon WW, Conaghan PG, O'Connor P, McGonagle D, Pease C et al.

The value of sonography in the detection of bone erosions in patients with rheumatoid

arthritis: a comparison with conventional radiography. Arthritis Rheum. 2000

Dec;43(12):2762-70.

17. Scheel AK, Hermann KG, Ohrndorf S, Werner C, Schirmer C, Detert J et al. Prospective

7 year follow up imaging study comparing radiography, ultrasonography, and magnetic

resonance imaging in rheumatoid arthritis finger joints. Ann Rheum Dis. 2006

May;65(5):595-600. Epub 2005 Sep 28.

36

18. Tehranzadeh J, Ashikyan O, Anavim A, Tramma S. Enhanced MR imaging of

tenosynovitis of hand and wrist in inflammatory arthritis. Skeletal Radiol. 2006

Nov;35(11):814-22. Epub 2006 Apr 26.

19. McQueen FM, Benton N, Perry D, Crabbe J, Robinson E, Yeoman S et al. Bone edema

scored on magnetic resonance imaging scans of the dominant carpus at presentation

predicts radiographic joint damage of the hands and feet six years later in patients with

rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum. 2003 Jul;48(7):1814-27.

20. Aletaha D, Neogi T, Silman AJ, Funovits J, Felson DT, Bingham CO 3rd et al. 2010

Rheumatoid arthritis classification criteria: an American College of Rheumatology/European

League Against Rheumatism collaborative initiative. Arthritis Rheum. 2010 Sep;62(9):2569-

81.

21. Haraoui B, Pope J. Treatment of early rheumatoid arthritis: concepts in management.

Semin Arthritis Rheum. 2011 Apr;40(5):371-88. Epub 2011 Feb 4.

22. da Mota LM, Laurindo IM, de Carvalho JF, dos Santos-Neto LL. Prognostic evaluation of

early rheumatoid arthritis. Swiss Med Wkly. 2010 Sep 20.

23. Visser H, le Cessie S, Vos K, Breedveld FC, Hazes JM. How to diagnose rheumatoid

arthritis early: a prediction model for persistent (erosive) arthritis. Arthritis Rheum. 2002

Feb;46(2):357-65.

24. van der Helm-van Mil AH, le Cessie S, van Dongen H, Breedveld FC, Toes RE, Huizinga

TW. A prediction rule for disease outcome in patients with recent-onset undifferentiated

arthritis: how to guide individual treatment decisions. Arthritis Rheum. 2007 Feb;56(2):433-

40.

25. Möttönen TT. Prediction of erosiveness and rate of development of new erosions in

early rheumatoid arthritis. Ann Rheum Dis. 1988 Aug;47(8):648-53.

37

26. McQueen FM, Stewart N, Crabbe J, Robinson E, Yeoman S, Tan PL et al. Magnetic

resonance imaging of the wrist in early rheumatoid arthritis reveals a high prevalence of

erosions at four months after symptom onset. Ann Rheum Dis. 1998 Jun;57(6):350-6.

27. Finckh A, Liang MH, van Herckenrode CM, de Pablo P. Long-term impact of early

treatment on radiographic progression in rheumatoid arthritis: A meta-analysis. Arthritis

Rheum. 2006 Dec 15;55(6):864-72.

28. Möttönen T, Hannonen P, Korpela M, Nissilä M, Kautiainen H, Ilonen J et al. Delay to

institution of therapy and induction of remission using single-drug or combination-disease-

modifying antirheumatic drug therapy in early rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum. 2002

Apr;46(4):894-8.

29. Keating R, Tramontini N, Curran J. Early Diagnosis and Treatment of Rheumatoid

Arthritis. US Musculoskeletal Review. 2008;3(2):21-23

30. Verschueren P, Esselens G, Westhovens R. Predictors of remission, normalized

physical function, and changes in the working situation during follow-up of patients with early

rheumatoid arthritis: an observational study. Scand J Rheumatol. 2009 May-Jun;38(3):166-

72.

31. Emery P, Breedveld FC, Dougados M, Kalden JR, Schiff MH, Smolen JS. Early referral

recommendation for newly diagnosed rheumatoid arthritis: evidence based development of

a clinical guide. Ann Rheum Dis. 2002 Apr;61(4):290-7.

32. Lard LR, Visser H, Speyer I, vander Horst-Bruinsma IE, Zwinderman AH, Breedveld FC

et al. Early versus delayed treatment in patients with recent-onset rheumatoid arthritis:

comparison of two cohorts who received different treatment strategies. Am J Med. 2001 Oct

15;111(6):446-51.

38

33. Kirwan JR. The effect of glucocorticoids on joint destruction in rheumatoid arthritis. The

Arthritis and Rheumatism Council Low-Dose Glucocorticoid Study Group. N Engl J Med.

1995 Jul 20;333(3):142-6.

34. Verhoeven AC, Boers M, Tugwell P. Combination therapy in rheumatoid arthritis:

updated systematic review. Br J Rheumatol. 1998 Jun;37(6):612-9.

35. Möttönen T, Hannonen P, Leirisalo-Repo M, Nissilä M, Kautiainen H, Korpela M et al.

Comparison of combination therapy with single-drug therapy in early rheumatoid arthritis: a

randomised trial. FIN-RACo trial group. Lancet. 1999 May 8;353(9164):1568-73.

36. Möttönen TT, Hannonen PJ, Boers M. Combination DMARD therapy including

corticosteroids in early rheumatoid arthritis. Clin Exp Rheumatol. 1999 Nov-Dec;17(6 Suppl

18):S59-65.

37. Boers M, Verhoeven AC, Markusse HM, van de Laar MA, Westhovens R, van Denderen

JC et al. Randomised comparison of combined step-down prednisolone, methotrexate and

sulphasalazine with sulphasalazine alone in early rheumatoid arthritis. Lancet. 1997 Aug

2;350(9074):309-18.

38. Landewé RB, Boers M, Verhoeven AC, Westhovens R, van de Laar MA, Markusse HM

et al. COBRA combination therapy in patients with early rheumatoid arthritis: long-term

structural benefits of a brief intervention. Arthritis Rheum. 2002 Feb;46(2):347-56.

39. O'Dell JR, Leff R, Paulsen G, Haire C, Mallek J, Eckhoff PJ et al. Treatment of

rheumatoid arthritis with methotrexate and hydroxychloroquine, methotrexate and

sulfasalazine, or a combination of the three medications: results of a two-year, randomized,

double-blind, placebo-controlled trial. Arthritis Rheum. 2002 May;46(5):1164-70.

40. Emery P. Treatment of rheumatoid arthritis. BMJ. 2006 Jan 21;332(7534):152-5.

39

41. Grigor C, Capell H, Stirling A, McMahon AD, Lock P, Vallance R et al. Effect of a

treatment strategy of tight control for rheumatoid arthritis (the TICORA study): a single-blind

randomised controlled trial. Lancet. 2004 Jul 17-23;364(9430):263-9.

42. Verstappen SM, Jacobs JW, van der Veen MJ, Heurkens AH, Schenk Y, ter Borg EJ et

al. Intensive treatment with methotrexate in early rheumatoid arthritis: aiming for remission.

Computer Assisted Management in Early Rheumatoid Arthritis (CAMERA, an open-label

strategy trial). Ann Rheum Dis. 2007 Nov;66(11):1443-9.

43. Weinblatt ME, Kremer JM, Bankhurst AD, Bulpitt KJ, Fleischmann RM, Fox RI et al. A

trial of etanercept, a recombinant tumor necrosis factor receptor:Fc fusion protein, in

patients with rheumatoid arthritis receiving methotrexate. N Engl J Med. 1999 Jan

28;340(4):253-9.

44. Moreland LW, Baumgartner SW, Schiff MH, Tindall EA, Fleischmann RM, Weaver AL et

al. Treatment of rheumatoid arthritis with a recombinant human tumor necrosis factor

receptor (p75)-Fc fusion protein. N Engl J Med. 1997 Jul 17;337(3):141-7.

45. Bathon JM, Martin RW, Fleischmann RM, Tesser JR, Schiff MH, Keystone EC et al. A

comparison of etanercept and methotrexate in patients with early rheumatoid arthritis. N

Engl J Med. 2000 Nov 30;343(22):1586-93.

46. Genovese MC, Bathon JM, Martin RW, Fleischmann RM, Tesser JR, Schiff MH et al.

Etanercept versus methotrexate in patients with early rheumatoid arthritis: two-year

radiographic and clinical outcomes. Arthritis Rheum. 2002 Jun;46(6):1443-50.

47. St Clair EW, van der Heijde DM, Smolen JS, Maini RN, Bathon JM, Emery P et al.

Combination of infliximab and methotrexate therapy for early rheumatoid arthritis: a

randomized, controlled trial. Arthritis Rheum. 2004 Nov;50(11):3432-43.

48. Goekoop-Ruiterman YP, de Vries-Bouwstra JK, Allaart CF, van Zeben D, Kerstens PJ,

Hazes JM et al. Clinical and radiographic outcomes of four different treatment strategies in

40

patients with early rheumatoid arthritis (the BeSt study): a randomized, controlled trial.

Arthritis Rheum. 2005 Nov;52(11):3381-90.

49. Goekoop-Ruiterman YP, de Vries-Bouwstra JK, Allaart CF, van Zeben D, Kerstens PJ,

Hazes JM et al. Comparison of treatment strategies in early rheumatoid arthritis: a

randomized trial. Ann Intern Med. 2007 Mar 20;146(6):406-15.

50. Breedveld FC, Weisman MH, Kavanaugh AF, Cohen SB, Pavelka K, van Vollenhoven R

et al. The PREMIER study: A multicenter, randomized, double-blind clinical trial of

combination therapy with adalimumab plus methotrexate versus methotrexate alone or

adalimumab alone in patients with early, aggressive rheumatoid arthritis who had not had

previous methotrexate treatment. Arthritis Rheum. 2006 Jan;54(1):26-37.

51. Emery P, Breedveld FC, Hall S, Durez P, Chang DJ, Robertson D et al. Comparison of

methotrexate monotherapy with a combination of methotrexate and etanercept in active,

early, moderate to severe rheumatoid arthritis (COMET): a randomised, double-blind,

parallel treatment trial. Lancet. 2008 Aug 2;372(9636):375-82.

52. Moreland LW, O'Dell JR, Paulus H, Curtis JR, Bridges SL, Zhang X et al. TEAR:

Treatment of Early Aggressive RA: A Randomized, Double-Blind, 2-Year Trial Comparing

Immediate Triple DMARD Versus MTX Plus Etanercept to Step-up From Initial MTX

Monotherapy [abstract]. Arthritis Rheum 2009;60 Suppl 10 :1895

53. van Vollenhoven RF, Ernestam S, Geborek P, Petersson IF, Cöster L, Waltbrand E et al.

Addition of infliximab compared with addition of sulfasalazine and hydroxychloroquine to

methotrexate in patients with early rheumatoid arthritis (Swefot trial): 1-year results of a

randomised trial. Lancet. 2009 Aug 8;374(9688):459-66.

54. van der Bijl AE, Goekoop-Ruiterman YP, de Vries-Bouwstra JK, Ten Wolde S, Han KH,

van Krugten MV et al. Infliximab and methotrexate as induction therapy in patients with early

rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum. 2007 Jul;56(7):2129-34.

41

55. Conaghan PG. Predicting outcomes in rheumatoid arthritis. Clin Rheumatol. 2011

Mar;30 Suppl 1:S41-7.

56. Liao KP, Costenbader KH. Getting them even earlier: Identifying individuals before

clinical presentation with rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum. 2009 Dec 15;61(12):1620-2.

42

Normas de publicação da revista científica de referência: “Arquivos de Medicina”

43

44

45