avaliação dos resíduos gerados em pesque-pagues da bacia … · conduzido por técnicos do...

15
1 Avaliação dos resíduos gerados em Pesque-Pagues da bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu Évellyn Apª Espindola 1,2 ; Márcia Noélia Eler 1 ; Evaldo L. Gaeta Espindola 1 ; Amandio de Menezes Nogueira 1 1.Núcleo de Estudos em Ecossistemas Aquáticos (NEEA/CRHEA/SHS/EESC/USP) 1,2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental 1.ev.espí[email protected] ABSTRACT Evaluation of the waste generated by catch-and-pay in the Mogi Guaçu river basin despite the expansion of catch-and-pay there is a lack of information on the functioning and possible environmental impacts, like the pollution of water resources, of the waste generated by this kind of enterprises. To counter this, the Project of Evaluating the Environmental Impact of catch-and-pay in the Mogi Guaçu river basin was undertook under the coordination of researchers of CRHEA/USP (Center for Aquatic Resources and Applied Ecology), with the support of FAPESP, which did part of the research. The above mentioned research took place between 2003 and 2005, being realized in April, May and June 2004, and focused at qualifying and quantifying the solid waste generated by fishing establishments of catch-and-pay. The waste doesn´t differ much from other such establishments; constituting of paper, cardboard, PET bottles, glass and plastic packaging, metal and mainly organic waste (food scraps, fish innards, pruning and weeding).In the analysis of the generated waste, a significant portion of contributors was observed, noting everything that was generated in equal time intervals during which the fish remained in the lake environment. Misinformation and lack of awareness of owners and users were some of the principle problems connected with catch-and-pay. Key words: Catch-and-pay; Environmental impact; Solid Waste.

Upload: phungdien

Post on 07-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Avaliação dos resíduos gerados em Pesque-Pagues da bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu Évellyn Apª Espindola1,2; Márcia Noélia Eler 1; Evaldo L. Gaeta Espindola 1 ; Amandio de

Menezes Nogueira1

1.Núcleo de Estudos em Ecossistemas Aquáticos (NEEA/CRHEA/SHS/EESC/USP) 1,2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental

1.ev.espí[email protected]

ABSTRACT

Evaluation of the waste generated by catch-and-pay in the Mogi Guaçu river basin

despite the expansion of catch-and-pay there is a lack of information on the functioning

and possible environmental impacts, like the pollution of water resources, of the waste

generated by this kind of enterprises. To counter this, the Project of Evaluating the

Environmental Impact of catch-and-pay in the Mogi Guaçu river basin was undertook

under the coordination of researchers of CRHEA/USP (Center for Aquatic Resources

and Applied Ecology), with the support of FAPESP, which did part of the research. The

above mentioned research took place between 2003 and 2005, being realized in April,

May and June 2004, and focused at qualifying and quantifying the solid waste generated

by fishing establishments of catch-and-pay. The waste doesn´t differ much from other

such establishments; constituting of paper, cardboard, PET bottles, glass and plastic

packaging, metal and mainly organic waste (food scraps, fish innards, pruning and

weeding).In the analysis of the generated waste, a significant portion of contributors was

observed, noting everything that was generated in equal time intervals during which the

fish remained in the lake environment. Misinformation and lack of awareness of owners

and users were some of the principle problems connected with catch-and-pay.

Key words: Catch-and-pay; Environmental impact; Solid Waste.

2

RESUMO

Apesar da expansão dos Pesque-Pague, nota-se a carência de informações sobre o

funcionamento e possíveis impactos ambientais, como a poluição dos recursos hídricos

por resíduos gerados por esse tipo de empreendimento. Diante dessa realidade surge o

Projeto de Avaliação de Impacto Ambiental de Pesque Pague, na Bacia do Rio Mogi

Guaçu, coordenado por pesquisadores do CRHEA/USP (Centro de Recursos Hídricos e

Ecologia Aplicada – Universidade de São Paulo), com o apoio FAPESP, e da qual faz

parte esta pesquisa. O referido projeto foi desenvolvido de 2003 a 2005, sendo esta

pesquisa realizada nos meses de Abril, Maio e Junho de 2004 e teve por objetivo a

qualificação e quantificação de resíduos sólidos gerados pelos estabelecimentos de

Pesque- Pague. Os resíduos não se diferenciam muito de um para outro nos três

estabelecimentos pesquisados, sendo estes constituídos por papel/papelão, garrafas PET,

embalagens plásticas, metais, embalagens de vidro e principalmente os orgânicos (restos

de comida, vísceras de pescado, poda e capina).Na análise dos resíduos gerados,

observou-se a parcela significativa da contribuição dos usuários, tendo em vista que

tudo que é gerado pelos mesmos durante a pesca é deixado no entorno dos lagos. A

desinformação e a falta de conscientização de proprietários e usuários são alguns dos

itens principais dos vários problemas ligados aos pesque-pagues

Palavras-chave : Pesque-Pague ; Impactos ambientais; Resíduos sólidos

1. INTRODUÇÃO

O crescimento populacional, a necessidade de aumento de produção de

alimento e bens de consumo, ocasionou também uma maior geração de resíduo. No

Brasil, são toneladas diárias, sendo grande parte desse lixo (76%) disponibilizados a céu

3

aberto, em grandes terrenos denominados lixões, lixeiras ou vazadouros, nos quais

proliferam vetores de doenças, como moscas, mosquitos, baratas, ratos e urubus.

De acordo com a ONU (Organização Mundial das Nações Unidas),

aproximadamente 5,2 milhões de pessoas (das quais 4 milhões são crianças) morrem a

cada ano, vitimadas por enfermidades relacionadas ao lixo. Em conseqüência, tem-se

também a degradação ambiental, com a liberação de gases e de chorume que se forma

da decomposição do lixo, poluindo os recursos hídricos. Segundo Tundisi (2003), “os

recursos hídricos poluídos por descargas de resíduos humanos e de animais

transportam grande variedade de patógenos, entre eles bactérias, vírus, protozoários

ou organismos multicelulares, que podem causar doenças gastrointestinais”.

Medidas preventivas, corretivas e de controle das atividades já existentes e das

que estão por vir já estão sendo preconizadas, como por exemplo, a Agenda 21 que em

seu capítulo 18, enfoca a importância da proteção aos recursos hídricos para que se

possam assegurar as ofertas adequadas de água, que em virtude da escassez em

quantidade e qualidade deixou de ser um bem livre e passou a ter valor econômico.

Água de boa qualidade está cada vez mais difícil e cara e a legislação atual prevê a

cobrança desse recurso através da lei 9433/97. A utilização dos recursos naturais requer,

portanto, autorização, licença de execução, concessão ou registro dos órgãos e entidades

competentes.

Dentre as várias utilizações dos recursos hídricos, encontram-se os

estabelecimentos de pesque-pague, que surgiram com o crescente desenvolvimento da

aqüicultura no Brasil, em sua maioria, funcionando de forma irregular e não cadastrados

devidamente junto aos órgãos ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), por exemplo. Outro problema

é o manejo inadequado, tornando os viveiros, fonte de doenças que além de

4

comprometer a saúde e o desenvolvimento dos peixes, contamina a água que

inevitavelmente será devolvida a sua fonte natural, uma vez que “um efluente

quando lançado sem qualquer tratamento no corpo receptor promove alterações físicas

e químicas e, conseqüentemente, modificações na biota aquática. Além do efluente

produzido pelos processos naturais e pelo enriquecimento de nutrientes, fezes e ração

não consumida, a piscicultura também lança os resíduos de produtos químicos, os quais

são utilizados na desinfecção, controle de pestes e predadores, tratamentos de doenças,

hormônios para induzir as reproduções, reversões sexuais, anestésicos para transporte,

dentre outros”. ELER (2004).

2. METODOLOGIA 2.1. Caracterização da área de pesquisa 2.1. O Rio Mogi-Guaçu

A Bacia Hidrográfica do Rio Mogi- Guaçu localiza-se na região

Sudoeste do estado de Minas Gerais abrangendo 12 municípios e 42 no Nordeste do

estado de São Paulo. O rio, principal afluente do rio Pardo, nasce em Minas gerais, no

município de Bom Repouso, na Serra da Mantiqueira (Figura 1). Um outro estudo,

conduzido por técnicos do IBAMA, estabelecem que o rio nasce em Minas Gerais, no

Morro do Curvado, no município de Bom Repouso/MG. A intensa atividade agrícola

que se apresenta na Bacia do Rio Mogi-Guaçu, destacando-se as culturas de cana de

açúcar, laranja, eucalipto, algodão, soja, amendoim, morango, batata e tomate, tornam

essa área responsável por grande parcela da produção agropecuária do estado.

Recentemente a piscicultura e os empreendimentos de pesque-pague surgiram como

mais uma atividade que contribui para o impacto e a deteriorização da qualidade das

águas do Mogi-Guaçu.

5

Figura 1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu. Fonte: Brigante e Espindola (2003)

Além do seu surgimento como nova fonte de renda, os pesque-pagues

também cresceram e se fortaleceram como forma de lazer e turismo. Um fator que

contribuiu para esse fortalecimento foi a necessidade e a busca do homem

moderno por uma melhor qualidade de vida e pelo lazer junto à família. Mas, o

manejo inadequado (incluindo os dos resíduos gerados), o desrespeito aos preceitos

e as normas legais, aliado à ampliação das atividades paralelas, sem a observância

da capacidade de suporte do local, converge para o surgimento de problemas

ambientais.

2.2. Breve perfil dos empreendimentos de Pesque-Pague

Com as transformações na economia nacional, e mesmo mundial, surgem

mudanças nos mercados de trabalho e novos setores vão sendo descobertos. O meio

rural também foi exposto a essas mudanças e, as atividades turísticas nesse meio foram

se tornando valiosas como novas fontes de renda e com isso a implantação de pesque-

80km0 40 60

46º47º

22º

23º

47º

21º

Rea

lizad

o po

r A

dria

na C

aval

ieri

- C

RE

UP

I

2040km

CBH - MOGI

LOCALIZAÇÃO DO CBH-MOGINO ESTADO DE SÃO PAULO

48º

49º

23º

22º

21º

49º

48º

Limite fisiográfico

Alto Mogi

Peixe

Jaguari Mirim

Médio Mogi Superior

Médio Mogi Inferior

Guariba Pradópolis

Pontal

Sertãozinho

Barrinha

Pitangueiras

Guatapará

Rincão

Santa Lúcia

Motuca

Américo Brasiliense

Jaboticabal

Taquaral

Socorro

Águas de Lindóia

Lindóia

Serra Negra

Espírito Santo do Pinhal

Águas da Prata

Santo Antônio do Jardim

Itapira

São João da Boa Vista

Aguaí

Moji-Mirim

Estiva Gerbi

Moji-GuaçuConchal

Engenheiro Coelho

Santa Cruz das Palmeiras

Pirassununga

Leme

Araras

Santa Rita do Passa Quatro

Porto FerreiraDescalvado

Santa Cruz da Conceição

Luís Antônio

Dumont

6

pague cresceu muito, aliada a busca do homem moderno pela qualidade de vida e

pelo lazer junto á família. De acordo com a definição de Garutti (2003), “pesque-

pague é a atividade exercida por pessoa física ou jurídica que mantenha

estabelecimento constituído de tanques ou viveiros com peixes para exploração

comercial de pesca amadora” (Figuras 2 e 3).

Figuras 2 e 3: Exemplos de estabelecimentos de pesque-pague localizados na bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu. Fotografia: Evaldo Espindola (2005)

Para regularização desse tipo de empreendimento é necessário que os mesmos

tenham licenças federais, estaduais ou municipais. Vários órgãos ligados ao meio

ambiente, como Departamento de Proteção aos Recursos Naturais ( DPRN) e IBAMA,

concedem alvará de funcionamento. O DAEE (Departamento de Àguas e Energia do

Estado) é quem fornece a licença para construção dos tanques. Em muitos casos, o

pesque-pague não tem registro próprio, ou seja, são classificados nos órgãos

competentes (prefeituras, por exemplo), como bares e lanchonetes. Grande parte dos

proprietários de pesque-pague alegam que além dos custos financeiros, providenciar as

documentações exigidas, protocolar solicitações, aguardar deferimento torna-se um

processo desgastante, altamente burocrático, inviabilizando a abertura do negócio.

Normalmente, esses empreendimentos são provenientes de infra-estrutura pré-

existentes e da vontade dos produtores rurais ampliarem a sua atividade econômica,

sendo locais particulares, de organizações familiares. Geralmente, estão localizados

próximos a centros urbanos, com telefonia, eletrificação e bom acesso, o que contribui

7

para um maior número de freqüentadores. Os Pesque-Pague recebem de 50 a 200

pessoas entre pescadores e acompanhantes, funcionando das 8:00hs as 20:00 hs, de

terça a domingo, pois as segundas- feiras são reservadas para limpeza e manutenção.

Neles são construídos lagos ou viveiros, povoados com peixe de várias espécies

(Tilápias, Pacus, Bagres, Carpas, etc), disponibilizados para a pesca.

Os pesque-pague variam quanto ao porte, estrutura, área hídrica, oferta de

serviços, pois foram em sua maioria, como observado anteriormente, desenvolvidos a

partir de estruturas pré-existentes . O estoque de peixes é produzido no próprio

estabelecimento ou na maioria dos casos, proveniente de fornecedores externos. Na sua

versão mais simples, os usuários pagam uma entrada e os preços correspondentes ao

quilo de peixe pescado. Outros vão se especializando, ampliando as estruturas, criando

novas formas de lazer, como trilhas ecológicas, passeios a cavalo, camping,

restaurantes/lanchonetes e serviços de beira de lago. Quase todos os estabelecimentos

têm uma lanchonete simples, onde são servidos lanches, bebidas e mais raramente

almoço, com variações nos preços praticados.

Colocam também novas modalidades como opção ao usuário: pesque-solte e

pague e pesque. Na primeira, como o próprio nome diz, o peixe é capturado e

posteriormente solto. É a considerada pesca esportiva pelos usuários, porém, esse tipo

de modalidade não é bem vista e nem aplicada por muitos proprietários. Segundo eles, o

sistema pesque-solte não é viável financeiramente, pois, ocasiona nos peixes,

traumatismo/ferimentos na retirada dos anzóis e conseqüentemente a morte dos peixes.

Não existe em muitos casos a preocupação em prejuízo ambiental, mas sim a

preocupação do financeiro. Na versão pague e pesque, os usuários pagam uma entrada

(que varia quando homem, mulher ou criança) e pescam a vontade. Nessa modalidade

8

os usuários reclamam, por alegarem pouco peixe nos lagos. Alegação não

confirmada, mas também não descartada (ESPINDOLA,2008).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho de pesquisa surge a partir de estudos iniciais de ELER &

ESPINDOLA (2001) em projeto financiado pela FAPESP e intitulado “Avaliação do

Impacto Ambiental de Pesque-Pague na Bacia Hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu”,

que teve por objetivo a avaliação dos impactos gerados pelo segmento dos pesque-

pague instalados na referida bacia. A pesquisa a campo do citado projeto iniciou-se

em abril de 2001, estendendo-se até janeiro de 2004, tendo como uma 1ª etapa

visitas aos empreendimentos, entre os oficialmente cadastrados, com implantação

recente ou não, bem como aqueles indicados pelos habitantes dos municípios. Esses

empreendimentos estavam distribuídas em 44 municípios localizados no alto Mogi-

Guaçu, Médio Mogi-Guaçu e Médio Mogi-Guaçu Inferior, sendo 11 no estado de

Minas Gerais e 33 no Estado de São Paulo.

Foram visitados 39 estabelecimentos distribuídos nas regiões do Alto, Médio e

Baixo Mogi, onde empregou-se a 39 proprietários, o questionário do Projeto

PNUD/BRA/97//12MMA/IBAMA/EMBRATUR (Venturieri,1999) cedido pelo

CEPTA/IBAMA. O questionário com proprietários constou de itens que vão desde a

identificação da propriedade, situação legal, abastecimento do pesqueiro, informações

sobre o manejo utilizado, principais problemas e dificuldades, destino do lixo, etc.

Com o decorrer do projeto a avaliação do perfil do usuário se fez necessária,

uma vez que durante as visitas realizadas observou-se comportamentos inadequados

de muitos de seus usuários e acompanhantes, como, por exemplo: utilização

descontrolada de ração (o que poderia estar influenciando na qualidade da água dos

9

lagos) e geração de resíduos durante a pesca. Foram realizadas 100 entrevistas

com usuários, onde avaliou-se o perfil socioeconômico e a percepção ambiental

destes.

A geração de resíduos mereceu um estudo qualitativo e quantitativo, após

observação da quantidade gerada nos pesque-pague tendo em vista que durante o

desenvolvimento da pesquisa, ainda na primeira fase, verificou-se que a disposição

dos resíduos gerados era um problema adicional nos empreendimentos, sendo

comum a queima e disposição junto às áreas distantes dos viveiros ou até mesmo em

áreas próximas a nascentes Adiciona-se ainda, o lançamento de vísceras e carcaças

do pescado diretamente nos lagos de pesca, situação comum em vários

empreendimentos (Figuras 4,5 e 6)

Figuras 4,5 e 6 . Lixo gerado por usuários; disposição de lixo em área de nascente e área de limpeza do pescado com tubulações para lançamento de vísceras e carcaças diretamente nos lagos de pesca. Dos estabelecimentos visitados, foram escolhidos 09 (distribuídos nas 03

regiões) para monitoramento mensal pelo projeto citado. Considerou-se para a pesquisa

de qualificação e quantificação, a geração de resíduos em apenas 03 (tres), pelo fato de

ser um período de baixa temporada (inverno), o que reflete em um número bem menor

de freqüentadores. Nos meses de alta temporada (verão), o fluxo de usuários é bem

maior, o que significa maior geração de resíduos, bem como significa também, jogar nos

lagos diferentes tipos de iscas. Durante a pesquisa aos 03 pesque-pagues, todo material

10

coletado e posteriormente quantificado e qualificado, estava acondicionado em

tambores ou sacos plásticos (Figuras 7e 8).

Figura 7 e 8 - Coleta e separação dos resíduos em um pesque-pague (Fotografia: Evaldo Espíndola – 2004)

Após a coleta, feita em sacos plásticos de 100 l verificou-se o volume e o peso

total e em seguida a separação e a pesagem por composição física, que é essencial para

definição das providências a serem tomadas com os resíduos, desde sua coleta até seu

destino final, considerando que cada setor da sociedade gera resíduos diversos. Os

resultados finais são apresentados abaixo:

4.RESULTADOS

A manutenção da boa qualidade das águas é o fator mais importante para o

sucesso dos pesque-pague, sendo esta qualidade influenciada por vários fatores como a

fonte de abastecimento (nascentes, córregos, rios), a lixiviação dos solos e o manejo

alimentar. O florescimento de algas altamente tóxicas pode ser oriundo de restos não

consumidos do arraçoamento, o que leva a mortandade de peixes e lançamento de

efluentes de péssima qualidade nos corpos receptores, como o que está acontecendo no

Mogi-Guaçu ou afluentes deste. Na piscicultura, segundo Watanabe (2001), “um dos

grandes problemas é a matéria orgânica que entra nos viveiros oriunda principalmente

11

do arraçoamento, a qual é responsável pelo grande consumo de oxigênio

dissolvido e degradação da água, pois entra em processo de decomposição”.

Outros impactos observados nos Pesque-Pague são: as retiradas de vegetações

naturais para construção dos viveiros ou lagos; desvio de corpos d´água; canalização das

nascentes; introdução indiscriminada de espécies exóticas; uso inadequado de

medicamentos nem sempre desenvolvidos exclusivamente para piscicultura, os quais

são aplicados indiscriminadamente, sendo os peixes disponibilizados ao consumo

humano, em período inferior ao prazo de carência (22 dias); e a grande quantidade de

lixo gerado diariamente nos estabelecimentos, principalmente os de origem orgânica.

De acordo com dados coletados durante a pesquisa, no que se refere ao lixo estes não se

diferenciam muito de um estabelecimento para outro, onde os resíduos gerados são

constituídos por papel/papelão, materiais descartáveis (copos/pratos), garrafas PET,

embalagens plásticas e de celofane, embalagens de vidro e principalmente os orgânicos

(restos de comida, vísceras de pescado, poda e capina). Apresenta-se com um volume

maior a categoria papel/papelão, destacando-se no peso os orgânicos. Coloca-se

novamente em observação que a pesquisa foi feita em época de baixa temporada, onde o

fluxo de usuários é bem menor (Figura 9 e Tabela 1).

21

3

6,5

12,6

34,5

39,8

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Qua

ntid

ade

em K

g

Plástico PET Papel Metais Vidro Orgânico

Tipos de residuos

Figura 9 – Tipos e quantidades de resíduos gerados nos três estabelecimentos de pesque-pague pesquisados

12

Tabela 01 – Caracterização e quantificação dos resíduos gerados em tres Pesque-Pagues da Bacia Hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu (obs : sacos = 100 litros; peso=Kg

Os resíduos gerados nos pesque-pague são quase comuns em todos os

estabelecimentos, onde alguns são coletados por empresas ligadas as prefeituras,

podendo ser enterrados ou queimados nos próprios terrenos ou ainda na grande maioria

dos estabelecimentos visitados, dispostos de forma inadequada. Quando queimados,

ficam armazenados em valas a céu aberto e quando coletados, são acondicionados em

sacos plásticos. Em sua maioria todo lixo seco é queimado, coletado e em raros casos,

os considerados recicláveis são vendidos ou doados a entidades filantrópicas. Os

orgânicos (restos de comida e vísceras) são enterrados e muitas vezes oferecidos a

animais domésticos como porcos e galinhas, sendo também jogados nos lagos de pesca

e nos viveiros de engorda como forma de alimentação ao pescado. Muito dos

estabelecimentos pesquisados faz as margens dos lagos toda a limpeza do pescado, o

que significa jogar diretamente na água, vísceras, escamas, sangue. Em outros, a parte

sólida (vísceras) é enterrada, mas o que é gerado da lavagem do pescado (sangue)

escorre a céu aberto ou em canos que vão cair diretamente em corpos receptores.Quando

Estabelecimento X

(Categoria A)

Estabelecimento Y

(Categoria C)

Estabelecimento Z

(Categoria D)

Total Geral

X, Y, Z

Material

Sacos %Vol Peso %Peso Sacos %Vol Peso %Pes

o

Sacos %Vol Peso %Pes

o

Sacos %Vol Peso %Pes

o

Plástico 2 e 1/2 45,45 12,0 21,81 1 22,22 3,0 12,76 1 e

1/2

12,5 6 14,6

3

5(500L) 20,83 21 17,88

PET - - - - - - - - 4 28,57 3 7,69 4(400L) 16,66 3 2,55

Papel 1 e 1/2 27,27 6,0 10,90 1/2 11,11 0,5 2,12 - - - - 2(200L) 8,33 6,5 5,53

Metais 1/2 9,09 2,0 3,63 1/2 11,11 0,6 2,55 5 35,71 10 25,6

4

6(600L) 25 12,6 10,73

Vidro 1/2 9,09 2,0 3,63 1/2 11,11 12,5 53,64 3 e

1/2

29,16 20 48,7

8

4 e ½(450L) 18,75 34,5 29,38

Orgânico 1/2 9,09 33,0 60,0 2 44,44 6,8 28,93 -- - - - 2 e ½(250L) 10,41 39,8 33,90

TOTAL 5 e 1/2 100,0 55,0 99,97 4 e 1/2 99,99 23,5 100,0 14 99,98 39 ,0 99,9

9

24(2400L) 99,98 117,4 99,97

13

indagados, os proprietários ignoram ou dizem ignorar os riscos dessa prática, a qual

pode ocasionar contaminação da água.

Felizmente, nem todos os proprietários utilizam-se dessa prática. Um dos

estabelecimentos pesquisados faz a separação do lixo reciclável, que é vendido, e o

aproveitamento de parte dos orgânicos (restos de comida) em minhocários, cujo produto

é revendido aos usuários do Pesque-Pague. O couro do peixe é tratado, curtido, tingido e

transformado em carteiras, bolsas cintos, sandálias, bonés. O restante dos resíduos é

coletado pela empresa ligada a prefeitura do município.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ações dos indivíduos sobre o ambiente natural ou construído afetam de uma

maneira ou de outra a qualidade de vida de outras gerações. Diariamente são produzidos

em residências e estabelecimentos comerciais, uma quantidade muito grande de lixo –

restos das atividades humanas – e muitos desses resíduos ainda vão parar em terrenos

baldios, e em muitos casos córregos, represas ou rios.

Com base nas informações levantadas, percebe-se claramente a necessidade de

um maior comprometimento dos proprietários de pesque-pague, frente as suas

obrigações com o meio ambiente. Que este atenda as legislações através de um processo

de conscientização, de uma convicção própria, protegendo adequadamente o meio das

situações de poluição que sua atividade possa trazer. A água é retirada dos rios, córregos

e como produto imprescindível á sobrevivência dos pesqueiros e do próprio homem, não

é vista como tal, recebendo diariamente diversos tipos de resíduos poluidores - como

vísceras e sangue dos pescados - e retornando ao seu leito natural em estado lastimável.

O interesse e a conscientização em relação aos problemas ambientais podem ser mais

incentivados através de um trabalho em conjunto entre os empreendimentos (na figura

14

do proprietário), usuário, ONGs, órgãos competentes, comitês de bacia. Algumas

medidas possíveis de serem implementadas podem ser levadas aos

empreendimentos, através de cursos, programas, e entre elas cita-se:

� Informação das melhores técnica de manejo aos proprietários, com treinamento a

todo pessoal envolvido;

� Esclarecimento ao proprietário sobre a legislação ambiental pertinente, ou seja,

as leis, as autorizações, etc;

� Colocação de forma clara da importância do auxilio de um profissional

habilitado, como um engenheiro agrônomo, sanitarista, geólogo, etc; que irá

auxiliá-lo sobre as medidas preventivas e mitigadoras dos possíveis impactos

sobre fauna, vegetação, solo, a serem causados, pois, todo empreendimento

ligado a piscicultura, quando mal planejado pode produzir efluentes poluentes,

� Incentivo a implantação da coleta seletiva nos empreendimentos, bem como a

implantação de programas de educação ambiental dentro dos empreendimentos,

tendo como alvo os usuários. Atitudes simples (aliada a informação da

importância disso) como acrescentar um número maior de lixeiras pode

diminuir, e muito, o que é deixado no entorno dos lagos;

Conclui-se após a pesquisa realizada, que a desinformação e a falta de

conscientização são alguns dos itens principais dos vários problemas ligados aos

empreendimentos de pesque pague. Retroceder no tempo, sem poluições, sem gerações

de resíduos, sem a necessidade de reciclagem é praticamente impossível, pois desde o

inicio da caminhada do homem rumo ao progresso, qualquer retorno seria no mínimo

utópico. Resta apenas o bom senso aliado a ações apropriadas, rumo a um

desenvolvimento sustentável, para que as próximas gerações consigam conviver em

harmonia com o meio, criando a consciência de que fazem parte dele.

15

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ESPINDOLA, E.A. Os pesque-pagues da bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu: uma análise do perfil socioeconômico e da percepção ambiental de seus usuários. 2008. 147f. Dissertação (mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, universidade de São Paulo, São Carlos, 2008. ELER, M. N.; - Avaliação de Impacto Ambiental de Pesque-Pague na Bacia do Mogi-Guaçu – Projeto FAPESP, 2004. GARUTTI, V.; - Piscicultura Ecológica, São Paulo, Editora UNESP, 2003. TUNDISI, J.G.; Água no século XXI: Enfrentando a Escassez – São Carlos , RiMa, IIE, 2003, 248 p., ISBN 85-86552-51-8 VENTURIERI, R. Pesque-pague no estado de São Paulo: vetor de desenvolvimento da piscicultura e opção de turismo e lazer. São paulo:ECO, Associação para Estudos do Ambiente, 2002, 165 p WATANABE, M.; - Resíduo de cervejaria na ração para recria de Tilápias do Nilo (Oreochromis Niloticus L.) em tanque-rede, Pirassununga, SP: produção e qualidade. Dissertação – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – Universidade de São Paulo, 2001. 5.1. Obras consultadas ALMEIDA, J. R.; - Planejamento Ambiental: caminho para participação popular e gestão ambiental para nosso futuro comum: uma necessidade, um desafio. Rio de janeiro, THEX Editora Ltda, 1999 ESTEVES, K.E.;SANT’ANNA,C.L. (Org). Pesqueiros sob uma visão integrada de meio ambiente, saúde pública e manejo – um estudo na região metropolitana de São Paulo. São Carlos, Editora RiMa, 2006. 228p BRIGANTE, J.; ESPINDOLA, E.L.G.; - Limnologia Fluvial – Um estudo no Rio Mogi Guaçu. São Carlos , Editora RiMa, 2003