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Avaliação dos resíduos gerados em Pesque-Pagues da bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu Évellyn Apª Espindola1,2; Márcia Noélia Eler 1; Evaldo L. Gaeta Espindola 1 ; Amandio de
Menezes Nogueira1
1.Núcleo de Estudos em Ecossistemas Aquáticos (NEEA/CRHEA/SHS/EESC/USP) 1,2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental
1.ev.espí[email protected]
ABSTRACT
Evaluation of the waste generated by catch-and-pay in the Mogi Guaçu river basin
despite the expansion of catch-and-pay there is a lack of information on the functioning
and possible environmental impacts, like the pollution of water resources, of the waste
generated by this kind of enterprises. To counter this, the Project of Evaluating the
Environmental Impact of catch-and-pay in the Mogi Guaçu river basin was undertook
under the coordination of researchers of CRHEA/USP (Center for Aquatic Resources
and Applied Ecology), with the support of FAPESP, which did part of the research. The
above mentioned research took place between 2003 and 2005, being realized in April,
May and June 2004, and focused at qualifying and quantifying the solid waste generated
by fishing establishments of catch-and-pay. The waste doesn´t differ much from other
such establishments; constituting of paper, cardboard, PET bottles, glass and plastic
packaging, metal and mainly organic waste (food scraps, fish innards, pruning and
weeding).In the analysis of the generated waste, a significant portion of contributors was
observed, noting everything that was generated in equal time intervals during which the
fish remained in the lake environment. Misinformation and lack of awareness of owners
and users were some of the principle problems connected with catch-and-pay.
Key words: Catch-and-pay; Environmental impact; Solid Waste.
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RESUMO
Apesar da expansão dos Pesque-Pague, nota-se a carência de informações sobre o
funcionamento e possíveis impactos ambientais, como a poluição dos recursos hídricos
por resíduos gerados por esse tipo de empreendimento. Diante dessa realidade surge o
Projeto de Avaliação de Impacto Ambiental de Pesque Pague, na Bacia do Rio Mogi
Guaçu, coordenado por pesquisadores do CRHEA/USP (Centro de Recursos Hídricos e
Ecologia Aplicada – Universidade de São Paulo), com o apoio FAPESP, e da qual faz
parte esta pesquisa. O referido projeto foi desenvolvido de 2003 a 2005, sendo esta
pesquisa realizada nos meses de Abril, Maio e Junho de 2004 e teve por objetivo a
qualificação e quantificação de resíduos sólidos gerados pelos estabelecimentos de
Pesque- Pague. Os resíduos não se diferenciam muito de um para outro nos três
estabelecimentos pesquisados, sendo estes constituídos por papel/papelão, garrafas PET,
embalagens plásticas, metais, embalagens de vidro e principalmente os orgânicos (restos
de comida, vísceras de pescado, poda e capina).Na análise dos resíduos gerados,
observou-se a parcela significativa da contribuição dos usuários, tendo em vista que
tudo que é gerado pelos mesmos durante a pesca é deixado no entorno dos lagos. A
desinformação e a falta de conscientização de proprietários e usuários são alguns dos
itens principais dos vários problemas ligados aos pesque-pagues
Palavras-chave : Pesque-Pague ; Impactos ambientais; Resíduos sólidos
1. INTRODUÇÃO
O crescimento populacional, a necessidade de aumento de produção de
alimento e bens de consumo, ocasionou também uma maior geração de resíduo. No
Brasil, são toneladas diárias, sendo grande parte desse lixo (76%) disponibilizados a céu
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aberto, em grandes terrenos denominados lixões, lixeiras ou vazadouros, nos quais
proliferam vetores de doenças, como moscas, mosquitos, baratas, ratos e urubus.
De acordo com a ONU (Organização Mundial das Nações Unidas),
aproximadamente 5,2 milhões de pessoas (das quais 4 milhões são crianças) morrem a
cada ano, vitimadas por enfermidades relacionadas ao lixo. Em conseqüência, tem-se
também a degradação ambiental, com a liberação de gases e de chorume que se forma
da decomposição do lixo, poluindo os recursos hídricos. Segundo Tundisi (2003), “os
recursos hídricos poluídos por descargas de resíduos humanos e de animais
transportam grande variedade de patógenos, entre eles bactérias, vírus, protozoários
ou organismos multicelulares, que podem causar doenças gastrointestinais”.
Medidas preventivas, corretivas e de controle das atividades já existentes e das
que estão por vir já estão sendo preconizadas, como por exemplo, a Agenda 21 que em
seu capítulo 18, enfoca a importância da proteção aos recursos hídricos para que se
possam assegurar as ofertas adequadas de água, que em virtude da escassez em
quantidade e qualidade deixou de ser um bem livre e passou a ter valor econômico.
Água de boa qualidade está cada vez mais difícil e cara e a legislação atual prevê a
cobrança desse recurso através da lei 9433/97. A utilização dos recursos naturais requer,
portanto, autorização, licença de execução, concessão ou registro dos órgãos e entidades
competentes.
Dentre as várias utilizações dos recursos hídricos, encontram-se os
estabelecimentos de pesque-pague, que surgiram com o crescente desenvolvimento da
aqüicultura no Brasil, em sua maioria, funcionando de forma irregular e não cadastrados
devidamente junto aos órgãos ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), por exemplo. Outro problema
é o manejo inadequado, tornando os viveiros, fonte de doenças que além de
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comprometer a saúde e o desenvolvimento dos peixes, contamina a água que
inevitavelmente será devolvida a sua fonte natural, uma vez que “um efluente
quando lançado sem qualquer tratamento no corpo receptor promove alterações físicas
e químicas e, conseqüentemente, modificações na biota aquática. Além do efluente
produzido pelos processos naturais e pelo enriquecimento de nutrientes, fezes e ração
não consumida, a piscicultura também lança os resíduos de produtos químicos, os quais
são utilizados na desinfecção, controle de pestes e predadores, tratamentos de doenças,
hormônios para induzir as reproduções, reversões sexuais, anestésicos para transporte,
dentre outros”. ELER (2004).
2. METODOLOGIA 2.1. Caracterização da área de pesquisa 2.1. O Rio Mogi-Guaçu
A Bacia Hidrográfica do Rio Mogi- Guaçu localiza-se na região
Sudoeste do estado de Minas Gerais abrangendo 12 municípios e 42 no Nordeste do
estado de São Paulo. O rio, principal afluente do rio Pardo, nasce em Minas gerais, no
município de Bom Repouso, na Serra da Mantiqueira (Figura 1). Um outro estudo,
conduzido por técnicos do IBAMA, estabelecem que o rio nasce em Minas Gerais, no
Morro do Curvado, no município de Bom Repouso/MG. A intensa atividade agrícola
que se apresenta na Bacia do Rio Mogi-Guaçu, destacando-se as culturas de cana de
açúcar, laranja, eucalipto, algodão, soja, amendoim, morango, batata e tomate, tornam
essa área responsável por grande parcela da produção agropecuária do estado.
Recentemente a piscicultura e os empreendimentos de pesque-pague surgiram como
mais uma atividade que contribui para o impacto e a deteriorização da qualidade das
águas do Mogi-Guaçu.
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Figura 1. Mapa da bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu. Fonte: Brigante e Espindola (2003)
Além do seu surgimento como nova fonte de renda, os pesque-pagues
também cresceram e se fortaleceram como forma de lazer e turismo. Um fator que
contribuiu para esse fortalecimento foi a necessidade e a busca do homem
moderno por uma melhor qualidade de vida e pelo lazer junto à família. Mas, o
manejo inadequado (incluindo os dos resíduos gerados), o desrespeito aos preceitos
e as normas legais, aliado à ampliação das atividades paralelas, sem a observância
da capacidade de suporte do local, converge para o surgimento de problemas
ambientais.
2.2. Breve perfil dos empreendimentos de Pesque-Pague
Com as transformações na economia nacional, e mesmo mundial, surgem
mudanças nos mercados de trabalho e novos setores vão sendo descobertos. O meio
rural também foi exposto a essas mudanças e, as atividades turísticas nesse meio foram
se tornando valiosas como novas fontes de renda e com isso a implantação de pesque-
80km0 40 60
46º47º
22º
23º
47º
21º
Rea
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I
2040km
CBH - MOGI
LOCALIZAÇÃO DO CBH-MOGINO ESTADO DE SÃO PAULO
48º
49º
23º
22º
21º
49º
48º
Limite fisiográfico
Alto Mogi
Peixe
Jaguari Mirim
Médio Mogi Superior
Médio Mogi Inferior
Guariba Pradópolis
Pontal
Sertãozinho
Barrinha
Pitangueiras
Guatapará
Rincão
Santa Lúcia
Motuca
Américo Brasiliense
Jaboticabal
Taquaral
Socorro
Águas de Lindóia
Lindóia
Serra Negra
Espírito Santo do Pinhal
Águas da Prata
Santo Antônio do Jardim
Itapira
São João da Boa Vista
Aguaí
Moji-Mirim
Estiva Gerbi
Moji-GuaçuConchal
Engenheiro Coelho
Santa Cruz das Palmeiras
Pirassununga
Leme
Araras
Santa Rita do Passa Quatro
Porto FerreiraDescalvado
Santa Cruz da Conceição
Luís Antônio
Dumont
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pague cresceu muito, aliada a busca do homem moderno pela qualidade de vida e
pelo lazer junto á família. De acordo com a definição de Garutti (2003), “pesque-
pague é a atividade exercida por pessoa física ou jurídica que mantenha
estabelecimento constituído de tanques ou viveiros com peixes para exploração
comercial de pesca amadora” (Figuras 2 e 3).
Figuras 2 e 3: Exemplos de estabelecimentos de pesque-pague localizados na bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu. Fotografia: Evaldo Espindola (2005)
Para regularização desse tipo de empreendimento é necessário que os mesmos
tenham licenças federais, estaduais ou municipais. Vários órgãos ligados ao meio
ambiente, como Departamento de Proteção aos Recursos Naturais ( DPRN) e IBAMA,
concedem alvará de funcionamento. O DAEE (Departamento de Àguas e Energia do
Estado) é quem fornece a licença para construção dos tanques. Em muitos casos, o
pesque-pague não tem registro próprio, ou seja, são classificados nos órgãos
competentes (prefeituras, por exemplo), como bares e lanchonetes. Grande parte dos
proprietários de pesque-pague alegam que além dos custos financeiros, providenciar as
documentações exigidas, protocolar solicitações, aguardar deferimento torna-se um
processo desgastante, altamente burocrático, inviabilizando a abertura do negócio.
Normalmente, esses empreendimentos são provenientes de infra-estrutura pré-
existentes e da vontade dos produtores rurais ampliarem a sua atividade econômica,
sendo locais particulares, de organizações familiares. Geralmente, estão localizados
próximos a centros urbanos, com telefonia, eletrificação e bom acesso, o que contribui
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para um maior número de freqüentadores. Os Pesque-Pague recebem de 50 a 200
pessoas entre pescadores e acompanhantes, funcionando das 8:00hs as 20:00 hs, de
terça a domingo, pois as segundas- feiras são reservadas para limpeza e manutenção.
Neles são construídos lagos ou viveiros, povoados com peixe de várias espécies
(Tilápias, Pacus, Bagres, Carpas, etc), disponibilizados para a pesca.
Os pesque-pague variam quanto ao porte, estrutura, área hídrica, oferta de
serviços, pois foram em sua maioria, como observado anteriormente, desenvolvidos a
partir de estruturas pré-existentes . O estoque de peixes é produzido no próprio
estabelecimento ou na maioria dos casos, proveniente de fornecedores externos. Na sua
versão mais simples, os usuários pagam uma entrada e os preços correspondentes ao
quilo de peixe pescado. Outros vão se especializando, ampliando as estruturas, criando
novas formas de lazer, como trilhas ecológicas, passeios a cavalo, camping,
restaurantes/lanchonetes e serviços de beira de lago. Quase todos os estabelecimentos
têm uma lanchonete simples, onde são servidos lanches, bebidas e mais raramente
almoço, com variações nos preços praticados.
Colocam também novas modalidades como opção ao usuário: pesque-solte e
pague e pesque. Na primeira, como o próprio nome diz, o peixe é capturado e
posteriormente solto. É a considerada pesca esportiva pelos usuários, porém, esse tipo
de modalidade não é bem vista e nem aplicada por muitos proprietários. Segundo eles, o
sistema pesque-solte não é viável financeiramente, pois, ocasiona nos peixes,
traumatismo/ferimentos na retirada dos anzóis e conseqüentemente a morte dos peixes.
Não existe em muitos casos a preocupação em prejuízo ambiental, mas sim a
preocupação do financeiro. Na versão pague e pesque, os usuários pagam uma entrada
(que varia quando homem, mulher ou criança) e pescam a vontade. Nessa modalidade
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os usuários reclamam, por alegarem pouco peixe nos lagos. Alegação não
confirmada, mas também não descartada (ESPINDOLA,2008).
3. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho de pesquisa surge a partir de estudos iniciais de ELER &
ESPINDOLA (2001) em projeto financiado pela FAPESP e intitulado “Avaliação do
Impacto Ambiental de Pesque-Pague na Bacia Hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu”,
que teve por objetivo a avaliação dos impactos gerados pelo segmento dos pesque-
pague instalados na referida bacia. A pesquisa a campo do citado projeto iniciou-se
em abril de 2001, estendendo-se até janeiro de 2004, tendo como uma 1ª etapa
visitas aos empreendimentos, entre os oficialmente cadastrados, com implantação
recente ou não, bem como aqueles indicados pelos habitantes dos municípios. Esses
empreendimentos estavam distribuídas em 44 municípios localizados no alto Mogi-
Guaçu, Médio Mogi-Guaçu e Médio Mogi-Guaçu Inferior, sendo 11 no estado de
Minas Gerais e 33 no Estado de São Paulo.
Foram visitados 39 estabelecimentos distribuídos nas regiões do Alto, Médio e
Baixo Mogi, onde empregou-se a 39 proprietários, o questionário do Projeto
PNUD/BRA/97//12MMA/IBAMA/EMBRATUR (Venturieri,1999) cedido pelo
CEPTA/IBAMA. O questionário com proprietários constou de itens que vão desde a
identificação da propriedade, situação legal, abastecimento do pesqueiro, informações
sobre o manejo utilizado, principais problemas e dificuldades, destino do lixo, etc.
Com o decorrer do projeto a avaliação do perfil do usuário se fez necessária,
uma vez que durante as visitas realizadas observou-se comportamentos inadequados
de muitos de seus usuários e acompanhantes, como, por exemplo: utilização
descontrolada de ração (o que poderia estar influenciando na qualidade da água dos
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lagos) e geração de resíduos durante a pesca. Foram realizadas 100 entrevistas
com usuários, onde avaliou-se o perfil socioeconômico e a percepção ambiental
destes.
A geração de resíduos mereceu um estudo qualitativo e quantitativo, após
observação da quantidade gerada nos pesque-pague tendo em vista que durante o
desenvolvimento da pesquisa, ainda na primeira fase, verificou-se que a disposição
dos resíduos gerados era um problema adicional nos empreendimentos, sendo
comum a queima e disposição junto às áreas distantes dos viveiros ou até mesmo em
áreas próximas a nascentes Adiciona-se ainda, o lançamento de vísceras e carcaças
do pescado diretamente nos lagos de pesca, situação comum em vários
empreendimentos (Figuras 4,5 e 6)
Figuras 4,5 e 6 . Lixo gerado por usuários; disposição de lixo em área de nascente e área de limpeza do pescado com tubulações para lançamento de vísceras e carcaças diretamente nos lagos de pesca. Dos estabelecimentos visitados, foram escolhidos 09 (distribuídos nas 03
regiões) para monitoramento mensal pelo projeto citado. Considerou-se para a pesquisa
de qualificação e quantificação, a geração de resíduos em apenas 03 (tres), pelo fato de
ser um período de baixa temporada (inverno), o que reflete em um número bem menor
de freqüentadores. Nos meses de alta temporada (verão), o fluxo de usuários é bem
maior, o que significa maior geração de resíduos, bem como significa também, jogar nos
lagos diferentes tipos de iscas. Durante a pesquisa aos 03 pesque-pagues, todo material
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coletado e posteriormente quantificado e qualificado, estava acondicionado em
tambores ou sacos plásticos (Figuras 7e 8).
Figura 7 e 8 - Coleta e separação dos resíduos em um pesque-pague (Fotografia: Evaldo Espíndola – 2004)
Após a coleta, feita em sacos plásticos de 100 l verificou-se o volume e o peso
total e em seguida a separação e a pesagem por composição física, que é essencial para
definição das providências a serem tomadas com os resíduos, desde sua coleta até seu
destino final, considerando que cada setor da sociedade gera resíduos diversos. Os
resultados finais são apresentados abaixo:
4.RESULTADOS
A manutenção da boa qualidade das águas é o fator mais importante para o
sucesso dos pesque-pague, sendo esta qualidade influenciada por vários fatores como a
fonte de abastecimento (nascentes, córregos, rios), a lixiviação dos solos e o manejo
alimentar. O florescimento de algas altamente tóxicas pode ser oriundo de restos não
consumidos do arraçoamento, o que leva a mortandade de peixes e lançamento de
efluentes de péssima qualidade nos corpos receptores, como o que está acontecendo no
Mogi-Guaçu ou afluentes deste. Na piscicultura, segundo Watanabe (2001), “um dos
grandes problemas é a matéria orgânica que entra nos viveiros oriunda principalmente
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do arraçoamento, a qual é responsável pelo grande consumo de oxigênio
dissolvido e degradação da água, pois entra em processo de decomposição”.
Outros impactos observados nos Pesque-Pague são: as retiradas de vegetações
naturais para construção dos viveiros ou lagos; desvio de corpos d´água; canalização das
nascentes; introdução indiscriminada de espécies exóticas; uso inadequado de
medicamentos nem sempre desenvolvidos exclusivamente para piscicultura, os quais
são aplicados indiscriminadamente, sendo os peixes disponibilizados ao consumo
humano, em período inferior ao prazo de carência (22 dias); e a grande quantidade de
lixo gerado diariamente nos estabelecimentos, principalmente os de origem orgânica.
De acordo com dados coletados durante a pesquisa, no que se refere ao lixo estes não se
diferenciam muito de um estabelecimento para outro, onde os resíduos gerados são
constituídos por papel/papelão, materiais descartáveis (copos/pratos), garrafas PET,
embalagens plásticas e de celofane, embalagens de vidro e principalmente os orgânicos
(restos de comida, vísceras de pescado, poda e capina). Apresenta-se com um volume
maior a categoria papel/papelão, destacando-se no peso os orgânicos. Coloca-se
novamente em observação que a pesquisa foi feita em época de baixa temporada, onde o
fluxo de usuários é bem menor (Figura 9 e Tabela 1).
21
3
6,5
12,6
34,5
39,8
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Qua
ntid
ade
em K
g
Plástico PET Papel Metais Vidro Orgânico
Tipos de residuos
Figura 9 – Tipos e quantidades de resíduos gerados nos três estabelecimentos de pesque-pague pesquisados
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Tabela 01 – Caracterização e quantificação dos resíduos gerados em tres Pesque-Pagues da Bacia Hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu (obs : sacos = 100 litros; peso=Kg
Os resíduos gerados nos pesque-pague são quase comuns em todos os
estabelecimentos, onde alguns são coletados por empresas ligadas as prefeituras,
podendo ser enterrados ou queimados nos próprios terrenos ou ainda na grande maioria
dos estabelecimentos visitados, dispostos de forma inadequada. Quando queimados,
ficam armazenados em valas a céu aberto e quando coletados, são acondicionados em
sacos plásticos. Em sua maioria todo lixo seco é queimado, coletado e em raros casos,
os considerados recicláveis são vendidos ou doados a entidades filantrópicas. Os
orgânicos (restos de comida e vísceras) são enterrados e muitas vezes oferecidos a
animais domésticos como porcos e galinhas, sendo também jogados nos lagos de pesca
e nos viveiros de engorda como forma de alimentação ao pescado. Muito dos
estabelecimentos pesquisados faz as margens dos lagos toda a limpeza do pescado, o
que significa jogar diretamente na água, vísceras, escamas, sangue. Em outros, a parte
sólida (vísceras) é enterrada, mas o que é gerado da lavagem do pescado (sangue)
escorre a céu aberto ou em canos que vão cair diretamente em corpos receptores.Quando
Estabelecimento X
(Categoria A)
Estabelecimento Y
(Categoria C)
Estabelecimento Z
(Categoria D)
Total Geral
X, Y, Z
Material
Sacos %Vol Peso %Peso Sacos %Vol Peso %Pes
o
Sacos %Vol Peso %Pes
o
Sacos %Vol Peso %Pes
o
Plástico 2 e 1/2 45,45 12,0 21,81 1 22,22 3,0 12,76 1 e
1/2
12,5 6 14,6
3
5(500L) 20,83 21 17,88
PET - - - - - - - - 4 28,57 3 7,69 4(400L) 16,66 3 2,55
Papel 1 e 1/2 27,27 6,0 10,90 1/2 11,11 0,5 2,12 - - - - 2(200L) 8,33 6,5 5,53
Metais 1/2 9,09 2,0 3,63 1/2 11,11 0,6 2,55 5 35,71 10 25,6
4
6(600L) 25 12,6 10,73
Vidro 1/2 9,09 2,0 3,63 1/2 11,11 12,5 53,64 3 e
1/2
29,16 20 48,7
8
4 e ½(450L) 18,75 34,5 29,38
Orgânico 1/2 9,09 33,0 60,0 2 44,44 6,8 28,93 -- - - - 2 e ½(250L) 10,41 39,8 33,90
TOTAL 5 e 1/2 100,0 55,0 99,97 4 e 1/2 99,99 23,5 100,0 14 99,98 39 ,0 99,9
9
24(2400L) 99,98 117,4 99,97
13
indagados, os proprietários ignoram ou dizem ignorar os riscos dessa prática, a qual
pode ocasionar contaminação da água.
Felizmente, nem todos os proprietários utilizam-se dessa prática. Um dos
estabelecimentos pesquisados faz a separação do lixo reciclável, que é vendido, e o
aproveitamento de parte dos orgânicos (restos de comida) em minhocários, cujo produto
é revendido aos usuários do Pesque-Pague. O couro do peixe é tratado, curtido, tingido e
transformado em carteiras, bolsas cintos, sandálias, bonés. O restante dos resíduos é
coletado pela empresa ligada a prefeitura do município.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
As ações dos indivíduos sobre o ambiente natural ou construído afetam de uma
maneira ou de outra a qualidade de vida de outras gerações. Diariamente são produzidos
em residências e estabelecimentos comerciais, uma quantidade muito grande de lixo –
restos das atividades humanas – e muitos desses resíduos ainda vão parar em terrenos
baldios, e em muitos casos córregos, represas ou rios.
Com base nas informações levantadas, percebe-se claramente a necessidade de
um maior comprometimento dos proprietários de pesque-pague, frente as suas
obrigações com o meio ambiente. Que este atenda as legislações através de um processo
de conscientização, de uma convicção própria, protegendo adequadamente o meio das
situações de poluição que sua atividade possa trazer. A água é retirada dos rios, córregos
e como produto imprescindível á sobrevivência dos pesqueiros e do próprio homem, não
é vista como tal, recebendo diariamente diversos tipos de resíduos poluidores - como
vísceras e sangue dos pescados - e retornando ao seu leito natural em estado lastimável.
O interesse e a conscientização em relação aos problemas ambientais podem ser mais
incentivados através de um trabalho em conjunto entre os empreendimentos (na figura
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do proprietário), usuário, ONGs, órgãos competentes, comitês de bacia. Algumas
medidas possíveis de serem implementadas podem ser levadas aos
empreendimentos, através de cursos, programas, e entre elas cita-se:
� Informação das melhores técnica de manejo aos proprietários, com treinamento a
todo pessoal envolvido;
� Esclarecimento ao proprietário sobre a legislação ambiental pertinente, ou seja,
as leis, as autorizações, etc;
� Colocação de forma clara da importância do auxilio de um profissional
habilitado, como um engenheiro agrônomo, sanitarista, geólogo, etc; que irá
auxiliá-lo sobre as medidas preventivas e mitigadoras dos possíveis impactos
sobre fauna, vegetação, solo, a serem causados, pois, todo empreendimento
ligado a piscicultura, quando mal planejado pode produzir efluentes poluentes,
� Incentivo a implantação da coleta seletiva nos empreendimentos, bem como a
implantação de programas de educação ambiental dentro dos empreendimentos,
tendo como alvo os usuários. Atitudes simples (aliada a informação da
importância disso) como acrescentar um número maior de lixeiras pode
diminuir, e muito, o que é deixado no entorno dos lagos;
Conclui-se após a pesquisa realizada, que a desinformação e a falta de
conscientização são alguns dos itens principais dos vários problemas ligados aos
empreendimentos de pesque pague. Retroceder no tempo, sem poluições, sem gerações
de resíduos, sem a necessidade de reciclagem é praticamente impossível, pois desde o
inicio da caminhada do homem rumo ao progresso, qualquer retorno seria no mínimo
utópico. Resta apenas o bom senso aliado a ações apropriadas, rumo a um
desenvolvimento sustentável, para que as próximas gerações consigam conviver em
harmonia com o meio, criando a consciência de que fazem parte dele.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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