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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE EM PERNAMBUCO. LEILA MARÇAL BENÍCIO TEIXEIRA RECIFE 2012

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Page 1: AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS PARA ... · avaliação de como os Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde têm sido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS

PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA

POLÍTICA DE SAÚDE EM PERNAMBUCO.

LEILA MARÇAL BENÍCIO TEIXEIRA

RECIFE 2012

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LEILA MARÇAL BENÍCIO TEIXEIRA

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS

PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA

POLÍTICA DE SAÚDE EM PERNAMBUCO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Ana Cristina de Souza Vieira

RECIFE 2012

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Catalogação na Fonte

Bibliotecária Rejane Ferreira dos Santos, CRB4-839

T266a Teixeira, Leila Marçal Benício Avaliação do processo de implementação dos parâmetros para atuação

de assistentes sociais na política de saúde em Pernambuco / Leila Marçal

Benício Teixeira. – Recife: O Autor, 2012.

108 folhas : il. 30 cm.

Orientador: Prof. Dra. Ana Cristina de Souza Vieira.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal de

Pernambuco. CCSA, 2012.

Inclui referências.

1. Política de saúde. 2. Serviço social. I. Vieira, Ana Cristina de Souza

(Orientadora). II. Título.

362 CDD (22.ed.) UFPE (CSA 2014 – 155)

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LEILA MARÇAL BENÍCIO TEIXEIRA

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE EM

PERNAMBUCO

ATA DE APROVAÇÃO: 14/09/2012

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Profª Drª Ana Cristina de Souza Vieira

(Orientadora)

_____________________________________________

Profª Raquel Cavalcante Soares

(Examinadora Externa)

_______________________________________________

Profª Drª Valdilene Pereira Viana Schmaller

(Examinadora Interna)

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por me conduzirem na vida a partir de valores éticos e de justiça social e me encaminharem ao mundo dos estudos.

A Marcus pela paciência desprendida nos momentos de minhas angústias, sempre apoiando e incentivando à minha produção. Ainda, pelo entendimento do que não pudemos vivenciar juntos durante esse período, mas que só foi adiado para momentos futuros.

A Daniel e Felipe pela compreensão da ausência de todos os inúmeros momentos em que, apesar de necessário, não foi possível estarmos juntos. Não tenham dúvida do meu amor por vocês, meus filhos.

À Ana Vieira pela dedicação e compromisso permanentes durante todo o percurso desse estudo. Por acreditar na minha capacidade de superação dos obstáculos (muitas vezes mais do que eu mesma). Mais que uma orientadora, você foi uma amiga leal, não deixando de estar atenta às minhas possibilidades e aos meus limites, sendo uma pessoa decisiva na conclusão desse trabalho.

À Raquel Soares e Alexandra Ximenes pelas ricas contribuições na qualificação do meu projeto de pesquisa, realizadas de forma tão precisa e ao mesmo tempo tão delicada.

Aos professores da Pós-Graduação que contribuíram com a minha formação profissional, abrindo novas possibilidades de reflexão sobre o meu estudo.

À equipe de Serviço Social do IMIP pelo entendimento da minha ausência, me deixando livre para produzir e tocando os nossos projetos profissionais de maneira séria e comprometida. Em especial à Adriana Luna e à Juliana Alves, por me substituírem tão bem nas atividades de coordenação.

À Luciana Espíndola e Mayara Mendes pela disponibilidade na execução do grupo focal e ajuda valiosa na realização desse trabalho, através da escuta qualificada e das pertinentes sugestões.

À Mônica Regina, Carla Cassiane, Fabiana Costa, Marina Assunção, Juliana Renara e Heloísa Bandeira, por fazerem parte do grupo focal piloto, como experimento desse estudo, contribuindo para o aperfeiçoamento do mesmo.

Às assistentes sociais, companheiras de luta profissional que fizeram parte do grupo focal, trazendo subsídios para a minha pesquisa, cujos nomes não serão referidos com o objetivo de preservar o anonimato. Meu carinho e admiração.

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A todos os amigos que estiveram comigo nesse percurso me apoiando e me incentivando em toda essa trajetória.

Aos usuários, fonte de inspiração de toda a minha trajetória profissional e acadêmica, o meu mais profundo respeito.

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RESUMO

Tendo por objetivo uma melhor definição das atribuições do assistente

social que trabalha na saúde devem incorporar na sua prática profissional, a partir de uma reflexão crítica e, desta forma, planejar a sua intervenção criando estratégias que se contraponham ao modelo neoliberal vigente, o conjunto CFESS/ CRESS publicou os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde (2010). Porém, mesmo após a criação do referido documento, tem-se observado a continuidade de demandas ao assistente social não condizentes com os princípios defendidos pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social. Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo geral realizar uma avaliação de como os Parâmetros vêm sendo implementados em Pernambuco e de que forma ele tem se constituído como elemento fundamental para uma prática profissional condizente com os seus objetivos profissionais, reconhecendo os limites e possibilidades de sua efetivação.

Inicialmente foi realizado um estudo sobre a saúde pública no Brasil, apresentando os avanços da política de saúde no período de redemocratização pelo qual o país passou na década de 1980, e de como o modelo neoliberal vem repercutindo na saúde pública, de forma cerceadora de direitos, até os dias atuais. Esse trabalho mostra ainda quais as repercussões da atual configuração da saúde na prática profissional do assistente social, ressaltando o retorno de práticas conservadoras no exercício profissional do assistente social na saúde.

A partir da utilização da técnica de grupo focal realizada com seis assistentes sociais que atuam na saúde em Pernambuco foi realizada uma avaliação de como os Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde têm sido implementado, trazendo reflexões sobre o direcionamento da profissão em Pernambuco, na referida área. PALAVRAS-CHAVE: Política de Saúde, Serviço Social, Parâmetros.

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ABSTRACT

With the objective to better define the responsibilities of the social worker

who works in health services must incorporate into their professional practice, from a critical and planning your intervention strategies to counter the prevailing neoliberal model, the set CFESS / CRESS published the Parameters for performance of social workers in health policy (2010). But even after the creation of the document, there has been continuity of the social demands inconsistent with the principles espoused by the Project Ethical-Political of Social Work. Thus, the present study aims to conduct a general assessment of how the Parameters are being implemented in Pernambuco and how this document has constituted an essential element for professional practice consistent with their professional goals, recognizing the limits and possibilities of its effectiveness.

Initially a study about public health services in Brazil, with the advances in health politics in the period of democratization in the 1980s, and how the neoliberal model has repercussions on public health, restricting rights until the present day. This work also shows the repercussions of the current configuration of professional practice in health services, underscoring the return of conservative practices in the professional practice of social workers in health.

From the use of the technique of focus group with six social workers who work in healthcare in Pernambuco was an assessment of how the Parâmetros for practicing social workers in health politics have been implemented, bringing thoughts about the direction of the profession at Pernambuco, in that area. KEYWORDS: Health Politics, Social Service, Parameters.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................11

CAPÍTULO 1 - A Saúde Pública no Brasil no Contexto Neoliberal

...........................................................................................................................16

1.1 - O desmonte da política social na contrarreforma do Estado.....................16

1.2 O sucateamento da saúde pública hoje.......................................................20

1.3 O controle social como ferramenta de garantia de direitos no

SUS....................................................................................................................31

.

CAPÍTULO 2 - O rebatimento da nova configuração da saúde pública na

prática do Serviço Social: a reatualização do velho e a incorporação do

novo...................................................................................................................38

2.1 - A construção do projeto ético-político do serviço social............................38

2.2 A prática profissional do assistente social ante às novas investidas

neoliberais .........................................................................................................42

2.3 - O Serviço Social na saúde e a construção dos Parâmetros para a Atuação

do Assistente Social na Política de Saúde........................................................51

CAPÍTULO 3 - Avaliação dos Parâmetros para a atuação do assistente social

na Política de Saúde de

Pernambuco.......................................................................................................56

3.1 - A política de saúde atual......................................................................63

3.2 - Serviço Social e saúde..........................................................................68

3.3 - Atuação do assistente social na saúde.................................................75

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................98

REFERÊNCIAS...............................................................................................102

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ANEXOS..........................................................................................................107

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação, elaborada durante o Curso de Mestrado do Programa de Pós-

Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE,

se refere à implementação dos Parâmetros para atuação de assistentes sociais

na política de saúde, no estado de Pernambuco.

O presente estudo parte das observações da prática profissional e das

discussões de assistentes sociais que trabalham neste setor no referido estado

e participam das reuniões da Comissão de Seguridade Social no Conselho

Regional de Serviço Social – CRESS 4ª região, problematizando a prática e

propondo ações coletivas.

A fim de compreender os motivos do contexto que se estabelece na política de

saúde atual, repercutindo em novas exigências ao assistente social, faz-se

necessário a compreensão histórico-processual da realidade, entendendo os

determinantes estruturais e conjunturais que os condicionam.

A política de saúde, compreendida como política pública de Seguridade Social

obteve, no marco legal, grandes avanços durante o período de redemocratização

do país, mais notadamente no final da década de 1970 e na década de 1980

(momento de grande efervescência política). Essas conquistas foram fruto da

organização coletiva de sujeitos sociais que discutiam sobre as condições de

vida da população, com destaque para profissionais de saúde, o movimento

sanitário, partidos políticos de oposição e os movimentos sociais urbanos,

contribuindo significativamente para a ampliação do debate sobre a saúde

brasileira a toda sociedade civil, propondo não somente um Sistema Único de

Saúde, mas a Reforma Sanitária, conforme aponta Bravo (2006).

Um dos espaços de grande relevância no debate sobre a saúde no Brasil foi a

8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, que teve como temas

centrais “A saúde como direito inerente à personalidade e à cidadania,

Reformulação do Sistema Nacional de Saúde e Financiamento setorial”.

Tais discussões levaram à elaboração de um documento com reivindicações a

serem introduzidas na pauta da Assembleia Constituinte. Dentro de um processo

de grandes disputas políticas entre as forças que apoiavam a Reforma Sanitária

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e os grupos empresariais, foram aprovadas na Constituição (1988) importantes

conquistas para a população1, como direito universal à saúde e o dever do

Estado na garantia do mesmo, ações e serviços de saúde considerados de

relevância pública, constituição de um Sistema Único de Saúde (com rede

hierarquizada, regionalizada, descentralizada, de atendimento integral, com a

participação da comunidade), participação da rede privada de forma

complementar e proibição do comércio de sangue e seus derivados, tais como

Bravo (2006) assinala.

Após a conquista formal desses direitos, na década de 1990 o país iniciou um

processo de profundas transformações de ordem política e econômica,

redirecionando o papel do Estado, a partir das propostas neoliberais, trazendo

um impacto significativo à implementação das garantias sociais presentes na

Constituição Federal.

Essas propostas tinham como objetivo principal a abertura do mercado ao setor

privado para a o estabelecimento de novas possibilidades de obtenção de lucro

em face da crise estrutural vivenciada pelo capital. Com esse intento, o Estado

estabeleceu medidas relacionadas às políticas sociais de caráter privatista, de

focalização (através da ênfase em políticas não universalizantes), restringindo

os direitos conquistados com grande dificuldade no plano formal. A política de

saúde pública também sofreu os impactos do neoliberalismo, observando-se o

sucateamento dos serviços públicos paralelo ao incentivo do Estado aos setores

privados, a exemplo do financiamento de instituições de saúde privada com o

orçamento público.

Nos anos 2000, o país viveu momentos de grande esperança de uma guinada

política para o favorecimento da classe trabalhadora, através da vitória nas

eleições presidenciais de um representante desse seguimento popular. Porém,

tal expectativa não aconteceu, verificando-se uma continuidade no governo Lula

da Silva de ações voltadas para o mercado.

Na saúde pública assistiu-se a novas formas de sua mercantilização, através da

abertura de parcerias público-privadas ao gerenciamento dos serviços,

apresentando o discurso de que a administração pública se fazia ineficaz. Em

1 Embora a maioria das reivindicações tenha sido garantida, existiram vários cortes no texto original do documento encaminhado à Assembléia Constituinte.

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nome da eficiência, possibilita-se estabelecer uma série de medidas que

impactam negativamente na qualidade da atenção oferecida aos usuários (com

ênfase em ações de caráter assistencial e emergencial, não priorizando um

atendimento aprofundado nos determinantes do adoecimento da população) e

nas relações de trabalho do profissional de saúde (através de contratação sem

concursos públicos, de vínculos trabalhistas frágeis, redução de quadro

funcional, entre outros problemas).

No governo Dilma Roussef, presencia-se uma continuidade das propostas

orientadas ao mercado, com a abertura de novas instituições públicas

gerenciadas pelo setor privado e a falta de investimento em medidas que

incorporem os princípios do SUS, conforme pensado no Movimento de Reforma

Sanitária.

Apesar do enfraquecimento dos movimentos sociais que vem ocorrendo no país,

algumas forças de oposição a esse modelo de saúde incorporado pelo governo

vêm resistindo, a exemplo do Conselho Nacional de Saúde, que apesar das

diferentes posições políticas que se confrontam internamente, vem mantendo

um posicionamento hegemônico que se contrapõe aos ideários neoliberais.

Outros movimentos de combate às novas configurações da saúde vêm

paulatinamente surgindo, como a Frente contra a privatização da saúde,

alimentando a luta pelo SUS de qualidade.

A atual configuração da saúde traz novas equisições aos profissionais, incluindo

o assistente social. Requisições estas que pretendem responder aos interesses

do capital, mencionados anteriormente.

No intuído de realizar uma prática condizente com os princípios do Projeto Ético-

Político, que se contrapõem à lógica da política de saúde atual, o Conselho

Federal de Serviço Social – CFESS elaborou um documento intitulado

Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde que

respalda o fazer profissional do assistente social voltado aos interesses da

classe trabalhadora.

O documento realiza um resgate da luta pela construção e legalização do

Sistema Único de Saúde - SUS universal, equânime, integral e participativo,

através do Movimento de Reforma Sanitária, na década de 1980, explicitando a

relevância que os movimentos sociais tiveram nas conquistas obtidas nesse

campo. Menciona a importância do afinamento da prática do assistente social

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com o projeto Ético-Político e seus aportes teóricos e legais, fala das

competências e atribuições do assistente social e sinaliza um conjunto de ações

com o objetivo de orientar este profissional na realização das suas atividades.

Os Parâmetros constituem um documento de extrema relevância aos assistentes

sociais para o embasamento das suas atividades profissionais, fornecendo a

possibilidade de facilitar o desempenho destas.

Porém, passados dois anos da sua elaboração, faz-se necessário avaliar a

implementação deste documento, em Pernambuco, identificando as demandas

que são postas ao Serviço Social no contexto atual e relacionando estas

demandas com as referências para a intervenção profissional presentes nos

Parâmetros. É imperativo ainda identificar e analisar as dificuldades e estratégias

desta implementação. E este é o objetivo deste estudo.

Para fins de obtenção dos dados, foi realizada a técnica de grupo focal e

posteriormente uma análise qualitativa dos dados, comparando as falas dos

participantes, identificando as diferenças e semelhanças existentes nas opiniões

obtidas, buscando formular explicações para estes pontos comuns e

divergentes, conforme descrito minunciosamente no 3º capítulo deste trabalho.

O estudo está organizado em capítulos que se relacionam entre si, mantendo a

coerência do texto.

No 1º capítulo encontra-se os aspectos conjunturais das políticas públicas,

incluindo a saúde e sua relação com a estrutura social.

O 2º capítulo apresenta o rebatimento que a configuração da saúde atual impõe

ao Serviço Social, ao mesmo tempo que identifica aspectos contraditórios do

Projeto Ético Político do Serviço Social ante a esta política de saúde e algumas

estratégias de enfrentamento, como a elaboração dos Parâmetros.

O 3º capítulo é composto pelo desenho da pesquisa, apresentando os objetivos

e métodos do estudo, assim como a avaliação da implementação dos

Parâmetros para a atuação do assistente social na política de saúde de

Pernambuco.

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Na conclusão deste estudo encontra-se os principais achados e algumas

reflexões para proposições futuras.

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CAPÍTULO 1 - A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL NO CONTEXTO

NEOLIBERAL

1.1 - O desmonte da política social na contrarreforma do Estado.

Desde 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e

posteriormente, de forma mais acelerada nos governos Lula da Silva e Dilma

Roussef, o Brasil vive alguns momentos de grandes reformas2 orientadas para o

mercado, desprezando as conquistas3 obtidas no terreno das políticas sociais

indicadas na Constituição de 1988. Configurou-se, paulatinamente, em um

estado máximo para o mercado e mínimo para os trabalhadores.

Behring (2003), ao realizar uma análise das políticas sociais, observa que desde

a década de 1990, no governo de FHC, o Brasil presencia o desmonte e a

destruição do Estado brasileiro numa espécie de transformação do mesmo para

a adaptação passiva ao capital, implementando reformas com o argumento de

que o problema está localizado no Estado e por isso se faz necessário reformá-

lo para as novas requisições, havendo com isso uma forte tendência à

desresponsabilização pelas políticas sociais (em nome da qual se faria a

reforma).

2 Na verdade o termo reforma foi utilizado de forma imprópria já que este representava qualquer mudança sem se importar com o sentido, as consequências sociais e sua direção sócio-histórica, como sempre foi utilizado pela esquerda que lutava por direitos para a classe trabalhadora, sendo muitas vezes o seu movimento comandado pela social-democracia. Esta, no entanto, se afastou cada vez mais desta luta, aproximando-se dos ideais neoliberais passando a trair as suas próprias reformas adotando políticas neoliberais em vários países. Desta forma, no Brasil pode se falar de uma contrarreforma em curso entre nós, retirando, porém, a possibilidade de reformas mais profundas que visem de fato os interesses da classe trabalhadora, segundo aponta Behring (2003).

3 Tais conquistas foram fruto de lutas sociais realizadas na década de 1980, no chamado período de redemocratização, quando movimentos sociais se organizaram, contestando a política existente no país num período de fim do regime autocrático pós-64. Um dos movimentos de maior relevância nessa época foi o da Reforma Sanitária, que discutia um projeto democrático e participativo para a saúde pública.

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A política social foi capturada pela lógica da adequação ao novo contexto, daí

decorre o trinômio do neoliberalismo para as políticas sociais: privatização

(repassando a responsabilidade de execução das políticas públicas para o setor

privado, propiciando um lugar lucrativo para o capital), focalização (através de

ações pontuais e compensatórias) e descentralização (desresponsabilização do

Estado), em detrimento da universalização destas políticas.

Tudo isso ocorre justamente num período em que a resistência das forças

políticas de esquerda se encontra fragilizada, principalmente o movimento dos

trabalhadores em função do desemprego, precarização e flexibilização das

relações de trabalho e dos direitos, trazendo impactos desastrosos para a

sociedade brasileira, dramatizando as expressões da questão social4.

Outro aspecto de relevância existente nas políticas neoliberais, iniciado na era

FHC foi a regulamentação do terceiro setor para a execução de políticas públicas

combinado com o serviço voluntário que desprofissionaliza a intervenção através

do trabalho não remunerado, tendência esta que vem sendo amplamente

difundida na saúde, com os hospitais filantrópicos.

A vitória de Lula da Silva nas eleições presidenciais reavivou as esperanças das

camadas populares em todo o país, pois pela primeira vez o Brasil teria um

presidente advindo da classe operária e das lutas sindicais, conforme aponta

Bráz (2004).

No entanto, essas expectativas foram frustradas, já que se observou uma

continuidade dos parâmetros macroeconômicos do governo de FHC, trazendo

impactos importantes para a população.

O governo Lula, seguindo a linha do governo anterior, reduziu os gastos com as

políticas sociais, centrando as suas ações em políticas focalizadas, a exemplo

4 De acordo com Iamamoto (2003, p.27), questão Social é o “conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade”.

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da criação do Programa Bolsa-Família5, tendo como objetivo o combate à

miséria, através da unificação de todos os programas sociais e a criação de um

cadastro único de beneficiários. Vale ressaltar que o referido Programa mostra-

se insuficiente aos seus propósitos, já que não foi associado a outras políticas

sociais (BEHRING, 2004).

Outro ponto de análise importante que revelou perdas à população no governo

Lula foi a reforma da Previdência Social, com ações restritivas de direitos

anteriormente conquistados pela população.

A proposta da reforma tributária (elaborada ainda no governo Lula) traz

consequências diretas ao financiamento das políticas sociais, quebrando a

garantia de benefícios e programas sociais e serviços públicos, sendo

comprometida a capacidade de financiamento da Seguridade Social.

Bravo e Menezes (2011) indicam que no governo Lula, apesar de ter havido um

aumento dos canais de participação, esta ficou reduzida à estratégia de

governabilidade. Presenciou-se também um forte desrespeito à autonomia da

sociedade civil.

No governo Dilma Roussef, presenciamos cortes orçamentários, restrição de

investimentos públicos e privatização em vários setores, a exemplo de

aeroportos e do petróleo. O que se verifica é que o atual governo não tem

priorizado o social, assim como, o governo anterior. Ao contrário, percebe-se um

direcionamento ainda maior relacionado a manutenção do modelo econômico.

Outros aspectos relevantes no governo Dilma, segundo Bravo e Menezes

(2011), é a crescente insatisfação de grupos sociais, ocorrendo várias

manifestações em todo o país por melhores condições de trabalho, contra

aumento de passagens de ônibus, pela melhoria da qualidade da educação e da

saúde, contra a privatização de setores públicos.

A política social no contexto do capitalismo em sua fase madura não é capaz de

reverter este quadro. Contudo, levar as políticas sociais ao limite de cobertura

5O Programa Bolsa-Família se constitui um programa de governo, não havendo nenhuma garantia da sua permanência, já que não se trata de um direito legalmente conquistado.

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numa agenda de luta dos trabalhadores é tarefa de todos os que têm

compromissos com a emancipação política e a emancipação humana, tendo em

vista elevar o padrão de vida das maiorias e suscitar necessidades mais

profundas e radicais.

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1.2 - O sucateamento da saúde pública hoje.

Tendo em vista o sucateamento das políticas sociais vivenciado nos dias atuais,

observamos que a política de saúde pública não se distancia deste contexto,

pelo contrário, a saúde nos últimos anos vem sendo um campo de profundos

conflitos e contradições, em que se difunde massivamente a expansão do

mercado em decorrência dos projetos que vêm favorecendo o capital e

minimizando cada vez mais as ações voltadas para atender aos interesses da

classe trabalhadora.

A dificuldade de implementação do SUS vem ocorrendo desde o início da

contrarreforma neoliberal na década de 1990 e, segundo analisa Soares (2010),

piorando no governo Lula pela forma precarizada e fragmentada como as

políticas sociais têm sido tratadas, pela facilidade de aprovar deliberações

devido ao alto índice de aceitação do seu governo pela população, pelo

transformismo de lideranças que anteriormente assumiam uma defesa dos

princípios defendidos pelo Movimento de Reforma Sanitária, modificando essa

posição de acordo com conveniências político-partidárias, pela continuidade da

política econômica conservadora, pela centralidade da política de assistência

social restritiva (não universal) e focalizada prioritariamente nos programas de

transferência de renda.

Ao realizar uma análise da saúde no primeiro mandato do governo Lula,

verificou-se que esta política continuou separada da assistência social e da

previdência, visto que não ocorreu uma valorização da seguridade social.

Bravo (2006) assinala a existência de uma expectativa de fortalecimento do

Projeto de Reforma Sanitária, elaborado nos anos 1980 e antagônico ao projeto

privatista, vinculado ao mercado.

O atual governo, entretanto, apesar de explicitar como desafio a incorporação da agenda ético-política da reforma sanitária, pelas suas ações, tem mantido a polarização entre os dois projetos. Em algumas proposições, procura fortalecer o primeiro projeto e, em outras, mantém o segundo projeto, quando as ações enfatizam a focalização e o desfinanciamento (BRAVO: 2006, p.102).

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A autora aponta ainda os aspectos inovadores da política de saúde em relação

ao governo FHC, assim como os aspectos que demonstram uma continuidade

do modelo voltado para o capital, a saber:

Aspectos inovadores: retorno da discussão da concepção de Reforma Sanitária,

escolha de profissionais comprometidos com essa luta (da Reforma Sanitária)

para ocupar o segundo escalão do Ministério da Saúde, convocação

extraordinária da 12ª Conferência da Saúde e sua realização (que apesar da

grande expectativa, não avançou no fortalecimento da Reforma Sanitária nem

da Seguridade Social, além de suas deliberações não influenciarem na

elaboração das diretrizes a serem seguidas na Política de Saúde), participação

do Ministério da Saúde nas reuniões do Conselho Nacional de Saúde, escolha

de representante da Central Única dos Trabalhadoras - CUT para gerenciar a

Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Saúde e modificações na

estrutura organizativa do referido Ministério (com a criação da Secretaria de

Gestão do Trabalho em Saúde, tendo em vista enfrentar o problema de recursos

humanos no SUS; da Secretaria de Atenção à Saúde para unificar as ações de

atenção básica, ambulatorial e hospitalar; e a Secretaria de Gestão Participativa

para fortalecer o controle social e a comunicação com os outros níveis de

governo e a sociedade e realizar as conferências de saúde).

Aspectos de continuidade (da política de saúde do governo FHC): ênfase na

focalização (a exemplo da centralidade do Programa de Saúde da Família – PSF,

não sendo contemplados os princípios da universalidade nem da integralidade

na forma como o mesmo foi inicialmente estruturado), na precarização e

terceirização dos recursos humanos (com a ampliação da contratação de

agentes comunitários de saúde6 e de outras categorias profissionais não

regulamentadas), no desfinanciamento da saúde (principal problema, associado

ao gasto social do governo que foi determinante para o sucateamento da política)

6 Apesar da profissão de Agentes Comunitários de Saúde haver sido regulamentada, não existe uma definição das suas atribuições. Além disso, a sua contratação ocorre sem a existência de concurso público, com base em indicações político-partidárias.

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e na falta de vontade política para tornar viável a Seguridade Social (com as

políticas de saúde, previdência social e assistência social desarticuladas).

Assim, fazendo uma breve avaliação de como se deu a política de saúde no

primeiro mandato do governo Lula, Bravo (2006, p.106-107) sinaliza que

Não obstante ter conseguido alguns avanços, o SUS real está muito longe do SUS constitucional. Há uma enorme distância entre a proposta do movimento sanitário e a prática social do sistema público de saúde vigente. O SUS foi se consolidando como espaço destinado aos que não têm acesso aos subsistemas privados, como parte de um sistema segmentado. A proposição do SUS inscrita na Constituição de 1988 de um sistema público universal não se concretizou.

Em nome do desenvolvimento, o governo Lula cria programas na saúde como o

Pacto pela Saúde (2006) que engloba os programas Pacto pela Vida, Pacto pelo

SUS e Pacto de Gestão. Em 2007, cria o Mais Saúde, que constitui o PAC

(Programa de Aceleração do Crescimento) da Saúde.

O segundo mandato do governo Lula não apresentou compromisso com a

Reforma Sanitária, apesar do Ministro escolhido, José Gomes Temporão, haver

participado, na década de 1980, da elaboração do referido Projeto,

demonstrando a sua mudança de posicionamento frente aos direcionamentos

político-partidários atuais, afirmando haver um tensionamento entre o ideário do

Projeto da Reforma Sanitária da década de 1980 e do Projeto real em

construção, assim como aspectos culturais e ideológicos em disputa, conforme

apontam Bravo e Menezes (2011).

Desta forma, conforme afirma Soares (2010), verifica-se na saúde brasileira a

existência de projetos distintos em disputa: o projeto da reforma sanitária, o

projeto privatista e ainda um terceiro projeto, com fortes traços do privatista – o

do SUS possível.

O projeto da reforma sanitária foi construído pelos movimentos sociais na época

da redemocratização e trazia uma proposta de ruptura com o modelo de saúde

vivenciado no país, voltado apenas para o trabalhador contribuinte, sem

participação da população nas decisões de gerenciamento da saúde. Esse

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projeto consolidou direitos com a conquista e implementação de um Sistema

Único de Saúde - SUS universal, integral, resolutivo, equânime e participativo

presente na Constituição de 1988 e regulado através das leis 8.080 (1990) e

4.182 (1990).

O projeto privatista veio atender aos interesses do capital, de forma mais

explícita, a exemplo da expansão dos planos de saúde, do crescimento das

indústrias farmacêuticas e das construções de grandes complexos hospitalares

privados.

O projeto do SUS possível foi impulsionado principalmente pelo transformismo

de lideranças dos trabalhadores que passaram a defender posições coerentes

com o neoliberalismo e interesses do grande capital de maneira camuflada,

pregando uma falsa modernização e aperfeiçoamento do SUS.

Apesar de o ministro Temporão ter trazido para o debate questões polêmicas

como a legalização do aborto, restrições de publicidade relacionadas às bebidas

alcoólicas, restrições de farmácias com algumas medidas de quebra de patente

relacionada a um medicamento de tratamento à AIDS, não avançou no

fortalecimento da concepção de Seguridade Social nem no desenvolvimento da

Política de Recursos Humanos.

Tendo por objetivo impulsionar as reformas relacionadas ao gerenciamento e

apresentando o discurso que o problema da saúde era a incompetência das

instituições públicas em gerenciar seus serviços, o governo cria um novo modelo

de gestão para a rede pública de hospitais - o Projeto das Fundações Estatais

de Direito Privado7, Lei 92/2007 através do qual possibilita esse tipo de

instituição administrar as instituições públicas, conferindo ao setor privado a

autonomia na decisão dos gastos públicos, como descreve Bravo e Menezes

(2011).

7 Apesar do projeto das Fundações haver sido fortemente relacionado à saúde pública, a intenção do governo era de atingir todas as áreas que não fossem exclusivas do Estado, a saber: saúde, educação, ciência e tecnologia, cultura, meio ambiente, desporto, previdência complementar, assistência social, dentre outras.

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Esse projeto vai radicalmente de encontro aos princípios e diretrizes defendidos

pelo Movimento de Reforma Sanitária da década de 1980 e do que foi legalmente

aprovado na Constituição Federal8 (1988), após vários anos de luta coletiva para

a obtenção desses direitos duramente conquistados.

A proposta descaracteriza o SUS constitucional nos seus princípios fundamentais e todas as proposições que o Movimento Popular pela Saúde e o Movimento de Reforma Sanitária sonharam construir em suas lutas desde meados dos anos setenta. Substitui-se o interesse público por interesses particularistas numa privatização perversa do Estado brasileiro, o que infelizmente não é novidade na cena pública nacional. Todas essas modificações, entretanto, são ancoradas em valores que foram resignificados, como a democracia, a qualidade, a transparência, a eficiência e a eficácia (Bravo e Menezes: 2011, p.21).

A proposta do projeto das fundações traz a defesa de questões extremamente

afinadas com o projeto neoliberal, demonstrando a continuidade do movimento

de contrarreforma do Estado, tal como assinalam Bravo e Menezes (2011):

• Contratação de pessoal pela Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT,

• Não existência de conselhos gestores nas instituições, mas de conselhos

curadores (não defendendo, desta forma, o controle social),

• Desconsideração da luta em defesa do Plano de Cargos, Carreira e

Salário dos trabalhadores de saúde (criando Plano dessa natureza por

Fundações),

• Desprezo às proposições da 3ª Conferência Nacional de Gestão do

Trabalho e Educação na Saúde, de 2006.

Bravo e Menezes (2011) ressaltam que os movimentos sociais não se

apresentaram acomodados com essas proposições, traçando estratégias de

defesa do SUS público, Estatal, Universal e de Qualidade, se manifestando

contrários às Fundações. Ainda na 13ª Conferência Nacional de Saúde foi

reprovada essa forma de gestão, o que aponta para algumas questões

importantes como a necessidade de aprovação do PLP 01/2003 da Câmara dos

8 Já assinalado anteriormente, no item 1.1 desse estudo.

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Deputados (atual Emenda Constitucional nº 29), que trata do financiamento da

saúde.

Negando as indicações da referida Conferência, o ministro continuou

defendendo o Projeto das Fundações, que foi aprovado em vários Estados, a

partir de 2007, inclusive em Pernambuco. Em 2009, a proposta das Fundações

Públicas de Direito Privado foi reapresentada ao Congresso Nacional, em caráter

de urgência.

As prioridades da saúde no segundo mandato do governo Lula, de acordo com

Bravo e Menezes (2011), ocorreram basicamente em quatro áreas: a Estratégia

de Saúde da Família, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, a

ampliação da atenção em saúde bucal e o Programa Farmácia Popular.

Esta última prioridade viabilizou o acesso da população a medicamentos

vendidos a baixo custo, sendo realizada inicialmente para essa finalidade a

abertura de farmácias estatais gerenciadas através da Fundação Oswaldo Cruz

ou da parceria com estados e municípios. Num segundo momento, o Programa

ampliou o número de farmácias para o referido atendimento, através do

credenciamento de farmácias privadas, chegando a mais de seis mil

estabelecimentos em 2008. Tal programa colide com as diretrizes do SUS que

prevê atendimento integral à saúde, incluindo a assistência farmacêutica. Outro

problema é a parceria público-privada, com a estratégia utilizada a partir de 2006,

com o Estado subsidiando as farmácias comerciais, reforçando o caráter

privatista da saúde.

As autoras apontam um aspecto relevante a ser ressaltado no segundo mandato

do governo Lula de que, embora os movimentos sociais tenham se posicionado

contrários às investidas neoliberais presentes, foi observado um afastamento de

parte destes do referencial teórico embasado na teoria social crítica, tão presente

nas reflexões do Movimento de Reforma Sanitária dos anos 1980, o que se

apresenta como um retrocesso na luta pela saúde pública e de qualidade.

Observam-se produções teóricas que apresentam reflexões sobre promoção da

saúde, cuidado e auto-cuidado, humanização, problemas do cotidiano, sem

trazer a perspectiva de totalidade social, de historicidade, nem as categorias

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presentes na luta de classe. Há nos textos uma certa responsabilização do

indivíduo pela sua saúde, retirando o encargo do Estado.

Vale ressaltar que alguns sujeitos permaneceram na direção da teoria social

crítica, se opondo de forma mais radical ao movimento de privatização existente,

denunciando as perdas sofridas nos últimos anos, a exemplo das principais

questões levantadas pela Plenária Nacional de Conselhos de Saúde, conforme

Bravo e Menezes (2011) apontam:

• Desestruturação da rede de atenção primária;

• Não regulamentação da Emenda Constitucional nº 29 (que trata do

subfinanciamento da saúde);

• O avanço da privatização do SUS em detrimento do serviço público

eminentemente estatal;

• A precarização dos serviços públicos e das relações de trabalho (baixos

salários, grandes diferenças salariais, sem a incorporação de um Plano

de cargos, carreiras e salários para os profissionais do SUS).

A referida Plenária se posicionou também radicalmente contrária ao Projeto de

Lei n 92/2007 que cria as Fundações Públicas de Direito Privado.

As Organizações Sociais (OSs) têm se espraiado em todo o país, dando a

possibilidade de instituições privadas gerenciarem os serviços públicos de

saúde, assim como tem acontecido com o Projeto das Fundações. Esse tipo de

gestão (por OSs) vem se difundindo em Pernambuco de forma acelerada nos

últimos anos, tendo atualmente 04 hospitais e 12 Unidades de Pronto-

Atendimento sendo geridos por essa modalidade.

No último dia do seu mandato (31/12/2010), o governo Lula apresentou a Medida

Provisória (MP) 520, que autoriza o poder executivo a criar a Empresa Brasileira

de Serviços Hospitalares (EBSERH), tendo por objetivo restaurar os Hospitais

Universitários (HUs) federais, a partir da gestão privada.

No governo Dilma Roussef, embora ainda no seu discurso de posse a presidente

tenha se manifestado a favor da consolidação do SUS, afirmando ser esta uma

das suas prioridades de governo, o que se verifica é a continuidade de medidas

favoráveis ao mercado. Neste mesmo discurso a presidente indica ainda que

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fará parcerias com o setor privado na área da saúde pública (BRAVO E

MENEZES: 2011).

O ministro da saúde indicado, Alexandre Padilha sinaliza que as suas prioridades

serão a garantia do acesso dos usuários aos serviços e o atendimento de

qualidade, defendendo que a saúde ocupe o lugar central na agenda do

desenvolvimento.

Dentre as ações desenvolvidas por esse governo encontram-se: a atenção à

saúde da mulher e da criança, através da implantação da Rede Cegonha,

atenção ao tratamento de câncer de mama e de colo uterino, a oferta de

medicamentos para o controle da hipertensão e diabetes, através do Programa

“Aqui tem Farmácia Popular”, combate à dengue, enfrentamento do crack e

outras drogas, luta antimanicomial.

Algumas questões polêmicas vêm sendo tratadas como a realização de um

diagnóstico para a melhoria da gestão, promovido pela Gerdau (empresa

privada) e o título de “Parceiro da Saúde“ dado ao Mac Donald`s, demonstrando

a afinidade do governo com o mercado.

Outra ação desenvolvida foi a criação de Unidades de Pronto-Atendimentos –

UPAs em todo o Brasil, desenvolvendo ações emergenciais, de média

complexidade, reforçando aqui o modelo de saúde hospitalocêntrico, voltado

para as ações curativas, em detrimento da atenção básica com enfoque de

prevenção à saúde.

O mesmo traz como desafios a regulamentação da Emenda Constitucional nº

29, a definição de regras claras ao financiamento da saúde e a necessidade de

aprimorar a gestão, ficando claro que esse aperfeiçoamento se daria através das

Parcerias Público-Privadas (PPPs), representando a continuidade de

desconstrução de princípios e diretrizes do SUS realizada também no governo

Lula.

Tem-se visto a ampliação dos modelos de gestão que privatizam a saúde como as Organizações Sociais (OSs), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), Fundações Estatais de Direto Privado e os problemas que estas ocasionam

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para os trabalhadores da saúde e usuários (BRAVO E MENEZES: 2011, p.23).

Correia (2011) apresenta alguns argumentos que justificam o posicionamento

contrário a esses novos modelos de gestão, a saber:

• Integra o processo de contrarreforma do Estado, direcionando este para

a racionalização dos gastos sociais e para o fortalecimento do setor

privado, na oferta de bens e serviços coletivos;

• Privatiza o que é público, demonstrando as novas investidas do capital

que, não satisfeito apenas com o livre mercado da saúde, busca, por

dentro do Estado, se apropriar dos recursos destinados à política pública

de saúde;

• Ameaça os direitos sociais garantidos legalmente através dos serviços

sociais públicos. Um exemplo do grande risco que os novos modelos de

gestão trazem para a saúde pública relaciona-se à tendência de

diminuição da oferta de serviços à população, visto que, como as

Organizações Sociais trabalham por contrato de metas, se houver uma

demanda maior do que se estabeleceu na contratualização, estas podem

vir a serem negadas, pois para os serviços privados, o lucro está acima

de qualquer necessidade das pessoas. Outro exemplo que reflete os

prejuízos aos direitos sociais relacionados à saúde, tão arduamente

garantidos é a permissão da venda de 25% dos leitos de hospitais

públicos de alta complexidade de São Paulo geridos por OSs para

pacientes particulares e de convênios médicos privados, através da Lei nº

1.131/2010, conhecida como “Lei da Dupla Porta”, que contraria a

legislação do Sistema Único de Saúde, já que a Constituição Federal (no

seu artigo nº 19, inciso 1) e a Lei Orgânica da Saúde nº 8080/90 (nos

artigos 24 a 26) só admitem a prestação de serviços privados para a

saúde pública como atividade fim, de forma complementar, e não

substitutiva como vem acontecendo nesses novos modelos de gestão. A

Constituição Federal (1988) também afirma a responsabilidade do Estado

ante aos serviços de saúde.

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Observa-se que é inconstitucional e ilegal as formas de terceirização dos serviços de saúde propostas, já que a Constituição Federal, em seu atr. 196, estabelece que a saúde seja “direito de todos e dever do Estado”, o que impede o Estado de se desresponsabilizar da prestação desses serviços, restando ao setor privado o papel apenas de complementariedade (CORREIA: 2011, p.46).

• Prejudica aos trabalhadores com a eliminação de concursos públicos,

favorecendo práticas clientelistas; com a flexibilização dos vínculos, não

assegurando todos os direitos trabalhistas e previdenciários; com a

concessão de servidores públicos do Estado (mesmo concursados) para

realizarem a sua prática profissional em entidades privadas através do

contrato por OSs; com a incorporação de contratos de trabalho das pela

CLT (forma possível de contratação nas Fundações) ao invés do Regime

Estatutário, apontando para a quebra da estabilidade; com o

enfraquecimento da organização do trabalhador que não se reconhece

enquanto categoria de funcionário público; com o abandono do projeto de

um Plano de Cargos, Carreiras e Salários único para os servidores

públicos.

• Limita o controle social e propicia o desvio de recursos públicos. As OSs

não são obrigadas a realizarem licitações para a compra de material e

cessão de prédios, o que se mostra ilegal. Assim, o descontrole sobre os

recursos públicos repassados para as OSs é tão grande que os estados

e municípios encontram dificuldades nas auditorias públicas de verificar

se tais recursos estão sendo gastos adequadamente.

Em todos os estados e municípios onde esse tipo de gestão já foi instalado existem denúncias de desvios de recursos públicos sendo investigadas pelo Ministério Público Estadual e/ou pelo Ministério Público Federal (CORREIA: 2011,p.46).

Outro ponto relevante sobre os recursos públicos repassados para as

gestões privadas é que o seu progressivo aumento demonstra que o

argumento de que os novos modelos de gestão garantiriam o

enxugamento do dinheiro público é um engodo.

Por ter se esgotado o prazo para a votação da Medida Provisória nº520 (que

trata da possibilidade dos Hospitais Universitários serem gerenciados por uma

empresa privada), o governo recolocou a questão da EBSERH como Projeto de

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Lei (PL) nº 1749/2011, mantendo a proposta em quase sua originalidade,

segundo Bravo e Menezes (2011).

Numa análise minimalista sobre o desempenho do governo Dilma em relação à

saúde pública pode-se apontar que vem sendo mantidas estratégias neoliberais,

havendo um direcionamento à privatização, focalização e cooptação dos

movimentos sociais.

Bravo e Menezes (2011) apontam algumas dificuldades existentes na saúde

pública atual que se distancia cada vez mais da construção e consolidação dos

princípios da reforma sanitária, construídos na década de 1980, a saber: a lógica

macroeconômica atual de valorização do capital financeiro e subordinação da

política social à mesma, a inviabilização da seguridade social, o

subfinanciamento da saúde e as distorções dos gastos públicos, a não

concretização da universalização da saúde, a precarização das relações de

trabalho, os poucos resultados do controle e participação social, a ênfase do

modelo de saúde curativo, o modelo de gestão vertical, burocratizado,

terceirizado, o avanço da privatização através das PPPs, a falta de prioridade na

atenção básica.

A política de saúde conforme se apresenta na atualidade possui grandes

limitações que desencadeiam em um nó cada vez mais difícil de desatar: o do

adoecimento da população sem uma perspectiva de melhoria do quadro, muito

menos de resolução/ superação do problema.

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1.3 - O controle social como ferramenta de garantia de direitos no SUS.

Uma das alternativas para o enfrentamento de todas essas questões que se

apresentam na atualidade em relação à política de saúde é o fortalecimento do

controle social.

Segundo Menezes (2012), uma das conquistas no plano formal de grande

relevância ocorrida através da Constituição Federal (1988) foi a ampliação do

modelo de democracia, com proposta de participação da sociedade na esfera

pública.

A participação social se mostra como um elemento primordial para a preservação

dos direitos sociais, construção da cidadania e fortalecimento da sociedade civil

e tem como uma de suas expressões a ideia desta sociedade controlando o

Estado, através da fiscalização deste, para o impedimento dos da sua

transgressão frente às políticas sociais.

Segundo a autora, a concepção de controle social como mecanismo de

participação da população na elaboração, implementação e fiscalização das

políticas sociais tem como marco o processo de redemocratização da sociedade

brasileira, através do aprofundamento das reflexões sobre a democracia. O

controle social corresponde a um direito conquistado a partir da Constituição

Federal (1988), sendo garantidas duas instâncias formais: os conselhos e as

conferências9.

Os conselhos constituem espaços de participação da sociedade nas decisões

do Estado, contribuindo para a democratização da relação Estado-sociedade.

São órgãos políticos formais de controle social que integram representantes dos

setores organizados da sociedade civil, sendo, desta forma, um campo de

confronto de ideias e interesses10, conforme afirma Menezes (2012).

9 Apesar de existir outros espaços de controle social não inscritos nessa legislação.

10 Segundo a perspectiva Gramsciana. Alguns autores entendem esse como um espaço de consensos, não levando em conta a correlação de forças existentes. Há autores que consideram

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Os conselhos de saúde se configuram como espaços deliberativos, de caráter

permanente e paritário, compostos por representantes dos trabalhadores da

saúde, de gestores, dos prestadores públicos e privados e dos usuários, tendo

por objetivo discutir, elaborar e fiscalizar a política de saúde em cada uma das

esferas de governo, estabelecendo parâmetros para o governo, decidindo o que

deve ser realizado e avaliando essas realizações (idem).

Observam-se no contexto atual alguns obstáculos ao funcionamento dos

conselhos, relacionados a uma cultura política, historicamente estabelecida no

país, de impedimento da criação de espaços de participação na gestão das

políticas sociais, sendo constatado o predomínio da burocracia, práticas políticas

de favor, patrimonialistas, de cooptação da população, populistas e clientelistas.

Essas características advêm do autoritarismo do Estado brasileiro, do distanciamento da sociedade civil organizada dos partidos e da falta de articulação da sociedade civil na atualidade causada pelas modificações na forma de produção e gestão do trabalho frente às novas exigências do mercado (BRAVO, 2006).

Como já mencionado, a troca de favores existente em alguns conselhos de

saúde é um fato nos dias atuais, sendo observada entre todos os seus membros,

segundo Pereira Neto11. Tem como objetivo a obtenção de ganhos individuais,

através de benefícios pecuniários ou de outra ordem para si, seus familiares,

amigos e/ou protegidos, fugindo assim dos reais propósitos destes órgãos da

garantia de conquistas coletivas. Segundo o autor

o que parece haver é uma troca recíproca de favores entre as partes envolvidas: o “político”, o representante do usuário e o cidadão. Todos os três vivem em constante negociação visando atender seus interesses e satisfazer suas necessidades particulares(2012,p.113).

Essa constatação coloca em xeque o controle social na saúde, permitindo o

questionamento sobre os conselhos serem de saúde ou de favores.

o conselho como espaço de cooptação da sociedade civil por parte do poder público, havendo ainda os que não aceitam esse espaço.

11 O autor tem com base de dados uma pesquisa realizada com um número limitado de conselheiros, não sendo os resultados possíveis de generalização, embora traga reflexões relevantes a respeito do assunto tratado.

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O autor levanta a possibilidade de algumas causas dessa situação: o

enfraquecimento dos movimentos sociais, perceptível nos últimos anos e a

cultura da impunidade pela utilização do que é público para uso privado que

historicamente assola o país, fator este demonstrado pela forma natural como

essa troca de favores é realizada nos conselhos, demonstrando a banalização

da execução dessas práticas.

Bravo e Menezes (2012), a partir de pesquisa realizada no estado do Rio de

Janeiro, indicam ainda a despolitização de alguns desses espaços, trazendo

uma perspectiva de apatia dos movimentos sociais e participação destes de

forma colaboracionista, limitando as possibilidades de mudanças.

No entanto alguns desses espaços se mostram em outra direção. O Conselho

Nacional de Saúde - CNS vem se posicionando em defesa da saúde pública aos

moldes de como esta foi idealizada pelo Movimento de Reforma Sanitária, se

constituindo em um espaço de luta pelo SUS e de resistência ante às reformas

neoliberais defendidas pelo governo12, como a mercantilização dos serviços

públicos, a exemplo dos novos modelos de gestão da saúde pública, conforme

aponta Correia em relação à época do governo Lula:

Pode-se afirmar que o sentido político predominante no Conselho Nacional de Saúde foi o de defesa do SUS e de seus princípios e de resistência às orientações do Banco Mundial para a política de Saúde brasileira, demonstrando que os interesses das classes subalternas se sobrepuseram sobre os demais nesse espaço, durante o período estudado (2005,p.294).

Este Conselho atualmente, dentre os conselhos de política e de direito, é o que

tem mais elaborado propostas em defesa dos direitos sociais, muito embora não

tenha conseguido avançar em bandeiras de âmbito mais geral como na garantia

da Seguridade Social, nem realizado uma articulação mais expressiva com os

12 Embora o Ministro Alexandre Padilha tenha sido eleito presidente do Conselho Nacional de Saúde (o que foi considerado um retrocesso, visto que a sua tendência é de não se confrontar com o governo, do qual ele faz parte).

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conselhos estaduais e municipais, fundamental para o enfrentamento ante às

investidas neoliberais.

Apesar deste importante posicionamento do Conselho Nacional de Saúde, os

conselhos não podem ser supervalorizados, nem subvalorizados. São

fundamentais para as políticas sociais, precisando, entretanto, que sejam

consideradas as várias arenas de conflitos em que se travam a disputa pelo

poder no país (MENEZES, 2012).

O outro espaço formal de controle social, conforme citado anteriormente é o das

conferências, coordenadas pelos conselhos. Em 2011, a 14ª Conferência

Nacional de Saúde teve como tema “Todos usam o SUS! SUS na Seguridade

Social – Política Pública, Patrimônio do Povo Brasileiro”, onde os delegados

rejeitaram, em maioria arrebatadora, todas as formas de privatização da saúde.

A Conferência afirmou o desejo da maioria da população brasileira da garantia

do acesso universal, equânime e integral aos serviços de saúde, com gestão

direta do Estado. Defendeu o aumento do financiamento para o SUS solicitando,

em caráter de urgência, a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29,

assim como a destinação de 10% da Receita Corrente Bruta para a saúde e,

principalmente, que esses recursos sejam aplicados na ampliação da rede

pública em todos os níveis de atenção à saúde, com instalações, equipamentos,

medicamentos e assistência farmacêutica essencialmente pública.

A referida Conferência defendeu ainda a realização de concursos públicos, a

definição de pisos salariais e de Planos de Cargos e Salários para todos os

trabalhadores, assim como melhores condições de trabalho. Fez a defesa ainda

da efetivação de serviços de saúde mental na lógica da Reforma Psiquiátrica

Antimanicomial, rejeitando a internação compulsória e as comunidades

terapêuticas, assim como outras propostas em prol do fortalecimento do SUS,

conforme defendido pelo Movimento de Reforma Sanitária, dos anos de 1980.

Um fato ocorrido ao final da Conferência foi a apresentação de uma “carta

síntese” pelo Governo Federal ao final da plenária, que não traduziu o teor

político das conferências e lutas travadas no cotidiano pelos militantes, usuários

e trabalhadores da saúde, com a finalidade de demonstrar um falso consenso,

excluindo importantes pontos em que o governo foi derrotado, como a defesa do

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SUS 100% público e estatal e a rejeição de todas as formas privadas de gestão.

Esta atitude revela, mais uma vez, o desrespeito do governo ao controle social.

Ressalta-se que o produto da Conferência foi apresentado no seu relatório final,

estando documentados todos os posicionamentos definidos (FRENTE

NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE, 2012).

Tal situação ocorrida demonstra mais uma vez a arena de conflitos e

contradições em que se constituem os conselhos, existindo uma série de

desafios a serem realizados, conforme aponta Correia (2012):

• Manutenção da Independência e autonomia dos movimentos perante a

gestão;

• Fortalecimento dos movimentos sociais;

• Construção da autonomia dos conselhos e conferências ante ao poder

executivo;

• Criação de uma articulação entre os vários conselhos (gestores,

estaduais e municipais, com agenda única para o enfrentamento dos

determinantes das expressões da questão social);

• Articulação das deliberações dos conselhos, suas denúncias e lutas em

torno dos direitos sociais com as diversas instâncias, na perspectiva de

efetivação do controle social;

• Articulação dos conselhos com a sociedade para o fortalecimento e

representatividade de seus membros e para evitar a cooptação destes

pela burocracia estatal;

• Criação de espaços alternativos de controle social, envolvendo os setores

da sociedade representantes dos interesses dos grupos sociais

subalternos;

• Inserção de uma agenda de luta e proposições relacionadas às políticas

públicas, estatais, universais e de qualidade, articuladas à transformações

na sociedade.

Embora sejam estratégicos na defesa das transformações políticas e sociais,

podendo provocar modificações importantes na relação entre Estado e

sociedade, os conselhos não se apresentam como os únicos espaços de

controle social. É necessária a articulação das forças políticas que representam

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os interesses das classes subalternas tendo em vista um projeto societário que

se oponha aos interesses do capital.

De acordo com Menezes, pode-se afirmar que

Nessa direção, reafirma-se que os conselhos junto com os movimentos sociais e os partidos políticos podem contribuir na formação de uma vontade coletiva hegemônica que relaciona-se diretamente à reforma intelectual e moral para a construção de um novo projeto societário, sem dominação econômica, social e política (2012,p.270).

Tem-se observado que, assim como alguns conselhos de saúde, outros

movimentos de resistência pela defesa de uma saúde pública universal e de

qualidade vêm se organizando coletivamente, tais como movimentos estudantis,

entidades de representação de profissionais de saúde, sindicatos, partidos

políticos, entre outros, que vem realizando conferências, seminários, fóruns, atos

públicos, a partir de pautas de luta, obtendo resultados relevantes no cenário da

saúde, coforme aponta Bravo e Menezes (2011).

O desafio posto na atual conjuntura que tem por objetivo superar as profundas desigualdade sociais existentes em nosso país e que foram aprofundadas no governo Lula da Silva é um amplo movimento de massas que retome as propostas de superação da crise herdada e avance em propostas concretas (BRAVO E MENEZES: 2012,p.278).

Ressalta-se que o aprofundamento das desigualdades sociais também se

perpetua no governo Dilma Roussef.

Um desses movimentos de grande repercussão surgido em 2010 e que vem até

os dias atuais mantendo a resistência, não se deixando abater diante das

investidas neoliberais é a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde, tendo

por objetivo defender o SUS público, estatal, sob a administração direta do

Estado, gratuito e para todos; lutar contra a privatização da saúde e defender a

reforma sanitária formulada nos anos de 1980 (FRENTE NACIONAL CONTRA

A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE, 2011). O referido movimento tem realizado

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37

diversas ações, mobilizando a criação de Fóruns de Saúde em vários estados e

municípios. Esse movimento se opõe às Organizações Sociais (OSs) e é

contrário à procedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº

1923/98, que se opõe à Lei nº 9637/98 que cria as Organizações Sociais.

Considera-se, portanto, na atual conjuntura, fundamental a articulação nacional através da frente entre os diversos fóruns de saúde com vistas à construção de um espaço que fomente a resistência às medidas regressivas quanto aos direitos sociais e contribua para a construção de uma mobilização em torno da viabilização do Projeto de Reforma Sanitária construído nos anos oitenta no Brasil tendo com horizonte a emancipação humana (BRAVO E MENEZES: 2011, p. 26).

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CAPÍTULO 2 - O REBATIMENTO DA NOVA CONFIGURAÇÃO DA SAÚDE

PÚBLICA NA PRÁTICA DO SERVIÇO SOCIAL: A REATUALIZAÇÃO DO

VELHO E A INCORPORAÇÃO DO NOVO.

2.1 - A construção do projeto ético-político do serviço social.

As novas configurações que as políticas sociais, incluindo a saúde pública

vivencia na contemporaneidade incidem diretamente na prática profissional do

assistente social. Elas estão relacionadas às novas formas de investidas do

capital perante a sua crise estrutural de, não apenas criar possibilidade de

ampliar seus lucros através do mercado privado, como também de expandir os

seus negócios para as áreas tradicionalmente operacionalizadas através de

políticas públicas, tal como vem ocorrendo.

A repercussão desse novo contexto no Serviço Social se expressa tanto através

das difíceis condições de trabalho que o assistente social, assim como toda a

classe trabalhadora, vivencia, como também na relação direta com o usuário que

necessita dessas políticas públicas devastadas pela sua mercantilização.

Nesse contexto, o assistente social necessita, antes de tudo, de se apropriar dos

fundamentos da sua profissão, através da apreensão do Projeto Ético-Político

do Serviço Social, hegemônico na categoria, compreendendo todo o processo

histórico e político da sua construção, assim como as suas principais bandeiras

de luta hoje traçadas, a fim de buscar estratégias para a implementação do

mesmo no seu cotidiano profissional.

De acordo com Netto (2006), a construção do Projeto ético-Político do Serviço

Social inicia-se na transição das décadas de 1970 e 1980, período de relevância

para o Serviço Social no Brasil pelo enfrentamento e denúncia do

conservadorismo profissional. A crítica e recusa desse conservadorismo

constituem as raízes do novo Projeto Ético-Político.

Segundo o autor, o início da década de 1980 foi marcado pelo ressurgimento de

demandas democráticas e populares reprimidas que trouxeram à tona a

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exigência de profundas transformações políticas e sociais. A luta pela

democracia na sociedade brasileira encontrou eco no corpo profissional, criando

um quadro necessário para romper com o quase monopólio do conservadorismo

do Serviço Social. Assim, a derrota da ditadura foi a primeira condição – condição

política – para a construção de um novo projeto profissional.

Nem todo o corpo profissional se comportou igual, mas os segmentos

democráticos se mobilizaram fortemente, alguns se vinculando ao movimento

dos trabalhadores, conseguindo instaurar o pluralismo político na profissão (um

marco destas mobilizações foi o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

- CBAS, conhecido como “Congresso da Virada”). Pela primeira vez, no interior

do corpo profissional, havia projetos societários diferentes daqueles que

correspondiam ao interesse das classes dominantes (idem).

A abertura de cursos de pós-graduação em Serviço Social, nas décadas de 1970

e 1980 (no Brasil nos anos seguintes), abriu caminho para a produção de

conhecimentos na área de Serviço Social, formando uma massa crítica

considerável. A acumulação teórica incorporou vertentes críticas

(destacadamente inspiradas na tradição marxista) compatíveis com a ruptura do

conservadorismo profissional, conforme assinala Netto (2006).

O autor mostra que nas décadas de 1980 e 1990, as modalidades prático-

interventivas tradicionais foram sendo modificadas e foram surgindo novos

campos de intervenção, legitimados tanto pela produção do conhecimento,

quanto pelo reconhecimento profissional dos usuários. Essa ampliação dos

campos de intervenção se deu também e, sobretudo, pela conquista de direitos

cívicos e sociais ligados a diversas categorias sociais que acompanhou a

abertura democrática na sociedade brasileira.

Um momento basilar para a formação do projeto ético-político do Serviço Social

no Brasil foi o Código de Ética Profissional (1993), coroando o rompimento com

o conservadorismo na explicitação do compromisso profissional com a classe

trabalhadora. Ele possui a liberdade como valor central, daí o seu compromisso

com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais.

Vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem

social, sem exploração/ dominação de classe, etnia e gênero. Defende

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intransigentemente os direitos humanos e o pluralismo e repudia qualquer forma

de preconceito. Posiciona-se a favor da equidade, da justiça social, da

universalização dos bens e serviços. A ampliação e a consolidação da cidadania

são entendidas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes

trabalhadoras. Declara-se democrático, sendo a favor da socialização da

participação política e da socialização da riqueza socialmente produzida.

Defende o compromisso com a competência profissional, a partir do

aperfeiçoamento profissional. Preocupa-se com a qualidade dos serviços

oferecidos aos usuários e com a necessidade de articulação com os segmentos

de outras categorias profissionais que compartilham de propostas similares e

com os movimentos sociais que se solidarizam com a luta geral dos

trabalhadores.

O projeto ético-político do Serviço Social se consolidou na década de 90,

conquistando sua hegemonia, não podendo afirmar, entretanto, que ele esteja

consumado ou que seja o único no corpo profissional. A hegemonia conquistada

foi impulsionada por dois elementos: o crescente envolvimento do corpo

profissional nos espaços de discussões e nos eventos profissionais e o fato das

suas linhas fundamentais estarem sintonizadas com as linhas dos movimentos

das classes trabalhadoras (NETTO, 2006).

Nessa mesma época, o neoliberalismo irrompia no país, freando o movimento

democrático e instaurando a liquidação dos direitos sociais, a privatização do

Estado, o sucateamento dos serviços públicos, através de uma política macro-

econômica que penaliza a classe trabalhadora até os dias atuais (Idem).

Por possuir posicionamentos tão antagônicos ao neoliberalismo, o projeto ético-

político do Serviço Social vem sofrendo sérias ameaças. Do ponto de vista

neoliberal, o mesmo é visto como um atraso. A preservação e o aprofundamento

deste projeto depende não só do corpo profissional, mas do fortalecimento do

movimento democrático e popular, tão enfraquecido nos últimos anos.

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2.2 - A prática profissional do assistente social ante as novas investidas

neoliberais.

Para se falar dos desafios postos ao Serviço Social, é necessário entender as

condições objetivas e subjetivas que se colocam no cotidiano da prática

profissional do assistente social na atualidade, apreendendo as determinações

sócio-históricas que influenciaram e influenciam a implementação do Projeto

Ético-Político Profissional, numa sociedade onde as relações sociais são

fundadas na exploração do trabalho e na permanente reprodução da

desigualdade social.

O sistema do capital, perante a sua atual crise, vem encontrando saídas para a

sua reprodução, recompondo o seu processo de acumulação através de um

novo arranjo nas relações entre o Estado, a sociedade e o mercado.

Para Mota (2012, p.35)

O que está posto no horizonte é uma nova cultura social e moral por parte da burguesia que se expressa tanto na participação do setor privado na implementação de políticas sociais, como na desresponsabilização parcial do Estado, particularmente por meio de estratégias “contrarreformistas” no âmbito da Seguridade Social, da Habitação Popular e da Educação, isto para falar apenas dos mais destacados.

O que se assiste no cenário contemporâneo brasileiro é um conjunto de

intenções restritivas ao social e de ampliação da lucratividade do setor privado,

a partir da desresponsabilização do Estado em assegurar a proteção social

através da implementação das políticas sociais formalmente garantidas. Essas

intenções se traduzem em várias tendências presentes nos dias atuais,

conforme aponta Mota (2006):

• Regressão das políticas públicas redistributivas em prol de políticas

compensatórias de combate à pobreza, de caráter seletivo e temporário;

• Privatização e mercantilização dos serviços sociais, com a existência da

figura do cidadão-consumidor, serviços de proteção básica para o

cidadão-pobre e programas sociais de exceção para o cidadão-miserável;

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• Incorporação de novos protagonistas na efetivação de ações próprias do

Estado, tais como empresa socialmente responsável, voluntariado,

empreendedores sociais, entre outros;

• Despolitização das desigualdades sociais de classe, através do discurso

de inclusão social dentro do sistema;

• A incorporação de políticas de emprego e renda, como uma modalidade

de atendimento às necessidades imediatas dos trabalhadores em

substituição a outras como o caso do seguro-desemprego e das garantias

sociais e trabalhistas que marcam o trabalho protegido.

Segundo Montaño apud Guerra (2007), as novas investidas do capitalismo têm

provocado alterações significativas no mundo do trabalho que se traduzem nas

particularidades históricas do Serviço Social, redimensionando as políticas

sociais como espaço de atuação dos assistentes sociais, decorrentes de novas

e mais complexas relações entre Estado e sociedade civil, de onde advêm novas

formas de enfrentamento da questão social, como por exemplo, medidas focais

e paliativas de combate à pobreza, estabelecimento de redes de proteção social,

crescimento do terceiro setor e práticas voluntárias e voluntaristas. Este contexto

forja novas formas de sociabilidade e vê no capitalismo, o único modo de vida

em sociedade.

De acordo com Santos (2010), na atualidade todo esse processo de exploração

e desigualdade se agudiza em forma de desemprego, condições de trabalho

precárias, várias formas de violência, criminalização dos movimentos sociais e

de suas lideranças, criminalização da pobreza, e outras expressões da questão

social.

Para Guerra,

O que se pode apreender da maneira como a chamada questão social está sendo enfrentada é que o Estado, paralelamente à assistencialização das políticas sociais, de um lado, e da mercantilização e privatização do outro, adota medidas repressivas de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais (2010, p.723).

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As novas configurações que as políticas sociais assumem na atualidade

requerem do profissional, mais especificamente do assistente social, uma

postura profissional de flexibilização e adaptação a esse novo contexto, postura

essa muitas vezes antagônica às diretrizes apontadas no Projeto Ético-Político

do Serviço Social.

De acordo com Guerra (2010), como a ideia central é a expansão do capital em

detrimento das políticas públicas, um dos problemas que o assistente social se

depara em sua prática profissional é a quantidade reduzida de profissionais em

relação à demanda para a realização das atividades (que acontece objetivando

enxugamento da máquina, e com isso a redução dos custos), fazendo com que

não haja tempo suficiente para o profissional realizar um atendimento mais

aprofundado e de melhor qualidade13.

Na imediaticidade do cotidiano no qual o assistente social atua, as intervenções

são realizadas de formas pontuais, não buscando a essência dos fatos que se

apresentam, realizando uma intervenção focalizada na aparência (a exemplo de

uma usuária que procura o Serviço Social a fim de obter orientações sobre

acesso ao tratamento de saúde por se encontrar com o braço quebrado. Numa

atuação profissional não aprofundada o assistente social poderia deixar de

perceber os determinantes que levaram a usuária à situação de saúde em que

se encontra, como a possibilidade da mesma estar sendo vítima de violência

doméstica, ter sofrido um acidente de trabalho por falta de equipamentos de

proteção necessário, por ter caído em esgoto a céu aberto na frete de sua casa,

entre outras possibilidades. O exemplo evidencia situações muito mais

complexas e intervenções que extrapolam a política de saúde requerendo um

acompanhamento mais duradouro e respostas intersetoriais).

Essa intervenção a partir da aparência faz com que muitas vezes o usuário

necessite buscar suas próprias soluções para suas necessidades e, quando este

não possui as condições objetivas e/ou subjetivas para este fim, acaba sendo

13 Um dos princípios básicos previsto no Código de Ética do Assistente Social (1993) é o de fornecer ao

usuário um atendimento de boa qualidade. Ao realizar um atendimento de qualidade inferior, o

profissional está cerceando um direito garantido legalmente.

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culpabilizado pelo seu próprio fracasso retirando a responsabilidade do Estado

no suprimento dessas necessidades (um exemplo dessa circunstância são as

situações de negligências contra crianças e adolescentes cujos pais são

considerados culpados por não proverem as necessidades materiais dos seus

filhos quando, em muitas situações, os mesmos não possuem as condições

econômicas para suprir tais necessidades por motivo de desemprego ou falta de

inserção em programas assistenciais).

Um outro aspecto que se apresenta à prática do assistente social relaciona-se

a escala de trabalho para o cumprimento de carga horária por plantões, fazendo

com que haja uma falta de continuidade do atendimento do profissional que deu

início ao mesmo (já que estes plantões são intercalados por períodos de

descanso – dias ou turnos, de acordo com as leis trabalhistas), acarretando

numa ausência de profissional de referência para o usuário e na fragmentando

da ação. Por mais que se construam instrumentos para superar essa dificuldade,

através de livro de passagem de plantão, há aspectos da intervenção que se

perdem (a exemplo de uma usuária que é acompanhada em um Centro de

Referência de Assistência Social – CRAS sem a continuidade do seu

atendimento pelo mesmo profissional, precisando recomeçar o seu

acompanhamento todas as vezes que retorna ao referido equipamento social).

Guerra (2010) sinaliza que uma das demandas solicitadas ao assistente social

pela instituição é a realização de práticas de caráter fiscalizatório, tendo por

objetivo conferir se o usuário se enquadra nos critérios de acessibilidade do

serviço, como é o caso do Benefício de Prestação Continuada – BPC ou se ele

se encontra adequadamente em condições objetivas e subjetivas para a sua

permanência na instituição (como vestuário adequado e estado de sobriedade).

Para a instituição, é necessário preservar a sua imagem a fim de adquirir maior

credibilidade das suas ações, mesmo que para isso seja necessário regular ou

até tirar do local os usuários que não estejam de acordo com a ordem

estabelecida pelo serviço. Esse tipo de prática se confronta não só com os

princípios éticos profissionais14do assistente social, como também com a Própria

14 O Código de Ética do Assistente Social (1993) assinala em seus princípios o repúdio a qualquer tipo de

descriminação.

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Constituição Federal (1988), que determina a igualdade de todas as pessoas,

sem que haja qualquer forma de discriminação.

A autora sinaliza ainda para as requisições institucionais, presentes

principalmente na área da saúde mental, para que o assistente social realize

uma prática ligada à subjetividade, através de intervenções de ordem

terapêuticas ou clínicas, a fim de prover uma adaptação de comportamento ou

amenizar conflitos. Tal indicação segue a linha da adaptação ao contexto e do

conformismo, sendo contrária aos princípios do Serviço Social na sua defesa e

luta pela melhoria das condições de vida da classe trabalhadora.

Guerra (2010) ressalta que a crise do capital impõe cada vez mais metamorfoses

no mundo do trabalho, que exige um perfil profissional capaz de lidar com a

desvalorização e superexploração da força de trabalho para a continuidade da

reprodução ampliada deste capital, mediante altas taxas de desemprego.

O sistema do capital requer um trabalhador que se adapte a esses processos de

precarização, às frequentes perdas de qualidade no trabalho e que esteja flexível

às mudanças que se façam necessárias, se convertendo num empresário de si,

transferindo para este a responsabilidade pela manutenção do seu emprego.

Segundo Guerra (2010),

Com o exercício profissional dos assistentes sociais não poderia ser diferente. Esse tem na flexibilização uma forma de precarização do seu trabalho tanto como segmento da classe trabalhadora quanto como profissional que atua no âmbito dos serviços, das políticas e dos direitos sociais. A precarização do exercício profissional se expressa por meio de suas diferentes dimensões: desregulamentação do trabalho, mudanças na legislação trabalhista, subcontratação, diferentes formas de contrato e vínculos que se tornam cada vez mais precários e instáveis, terceirização, emprego temporário, informalidade, jornadas de trabalho e salários flexíveis, multifuncionalidade ou polivalência, desespecialização, precariedade dos espaços laborais e dos salários, frágil organização profissional, organização em cooperativas de trabalho e outras formas de assalariamento disfarçado, entre outras.

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Ainda outra dificuldade que a autora observa para o assistente social (como para

outros profissionais também) é o aumento de profissionais com mais de um

vínculo empregatício ocasionado pelo sucateamento das condições salariais,

conforme descrito anteriormente, fazendo com que este tenha uma jornada de

trabalho muito extensa (e dessa forma desgastante). Em muitas vezes

acumulam trabalhos relacionados a duas ou mais políticas sociais.

Mais uma forma de precarização das condições de trabalho encontrada por

Guerra (2010) é a terceirização travestida de assessoria e empreendedorismo,

sem nenhum tipo de proteção social.

Essas diferentes formas de contratação fragmentam a categoria e desagregam

a equipe profissional, num universo em que coexistem contratos sob

modalidades diferenciadas e diferentes salários para profissionais com

atividades similares.

Outra exigência observada na atualidade é a obrigatoriedade do cumprimento

de metas quantitativas, dando prioridade ao esforço individual ante ao empenho

da equipe, levando ao comprometimento da qualidade dos serviços prestados e

à competitividade entre o grupo, assim como um desgaste físico e mental cada

vez maior. (Guerra, 2010).

Essa precarização do trabalho, com demandas não condizentes com os

objetivos profissionais e péssimas condições de atuação levam muitas vezes o

assistente social ao adoecimento.

Dessa forma pode-se observar que as novas formas de produção e reprodução

do capital se expressam em várias dimensões da prática profissional do

assistente social. Essas modalidades passam a exigir do profissional novas

requisições técnicas, éticas e políticas.

As condições objetivas e subjetivas impostas pelo capital à classe trabalhadora

e à vida social são determinações que definem o modo de ser e de viver das

pessoas. No entanto não se pode deixar de reconhecer as contradições que

estão postas no cotidiano, dando possibilidades, a partir de uma reflexão crítica

da realidade por parte da classe trabalhadora, de se construir estratégias para o

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enfrentamento dessas expressões da questão social que estão postas na cena

contemporânea, como assinala Santos (2010).

É no reconhecimento das contradições presentes na sociedade que se encontra

a possibilidade de materialização do Projeto Ético-Político do Serviço Social.

Diante desse contexto, o projeto social crítico, atualmente hegemônico entre os

assistentes sociais, aparece como uma possibilidade dos profissionais tomarem

consciência dos fundamentos sobre os quais a prática profissional se

desenvolve, de imprimirem qualidade técnica às suas ações com uma direção

crítica clara em defesa dos direitos sociais e humanos e adotarem estratégias de

aliarem-se às lutas dos trabalhadores em oposição à barbárie capitalista.

Para realizar uma prática profissional comprometida com os interesses da classe

trabalhadora, faz-se necessário o aprofundamento técnico-operativo, teórico-

metodológico e ético-político, assim como uma postura investigativa pautada na

busca constante do conhecimento da realidade, procurando ir além da

aparência, transcendendo a mera cotidianidade. É necessário compreender a

sociedade capitalista para além de sua aparente neutralidade, suposta liberdade

e igualdade de condições, como assinala Guerra (2007).

Mota coloca como uma das principais estratégias para a implementação do

Projeto Ético-Político do Serviço Social a ampliação das construções teóricas na

linha do pensamento crítico.

É nesta encruzilhada que se reivindica a necessidade de fortalecimento do pensamento crítico, particularmente no que tange à relação entre questão social, Serviço Social e Projeto ético-político profissional. Daí decorre a necessidade de se fortalecer o núcleo teórico, estratégico e político do Serviço Social, não restringindo sua ação profissional e intelectual aos limites da intervenção possível. Se, em determinadas conjunturas, não é possível avançar no plano prático operativo, certamente o será no plano intelectivo, de modo a se construírem aportes teóricos e propostas estratégicas e táticas que fortaleçam as práticas sociais e profissionais (2012, p.37-38).

Para Guerra (2007), é fundamental, numa concepção crítica, entender as

instituições nas quais os assistentes sociais desenvolvem a sua prática

profissional como um espaço de mediação, percebendo que as singularidades

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presentes nas demandas só se explicam a partir de referências à totalidade

social, que é a sociedade burguesa. Neste sentido, o assistente social deverá

apanhar as contradições do real, captando as suas possibilidades de

intervenção.

Para Iamamoto, uma das estratégias relacionadas à universalização das

políticas públicas está em promover articulação política com a sociedade civil

organizada tendo em vista o fortalecimento e mobilização dos sujeitos coletivos.

Assim, coloca a importância de “reassumir o trabalho de base, de educação,

mobilização e organização popular, que parece ter sido submerso do debate

profissional ante o refluxo dos movimentos sociais” (2004, p.23).

Behring e Boschetti (2007) compartilham da mesma idéia da necessidade de

articulação e fortalecimento dos movimentos sociais, acrescentando mais dois

caminhos: a necessidade de uma visão histórico-processual da realidade,

conhecendo os limites e as possibilidades de modificação que estão postos; e o

reconhecimento do Estado e da sociedade como espaços contraditórios onde o

assistente social pode intervir no seu cotidiano profissional.

De posse de um projeto que clarifique os objetivos e valores profissionais, que

tenha um referencial teórico-metodológico que permita fazer a crítica do

cotidiano, da ordem burguesa e dos fundamentos conservadores que persistem

na profissão, que orienta para uma direção social em favor da classe

trabalhadora, o assistentes social está apto a ocupar os espaços de trabalho,

visando à implementação e ampliação dos direitos numa perspectiva de

universalização, democratizando o acesso pela via da informação, a fim de

fortalecer os sujeitos coletivos, pesquisando e conhecendo os sujeitos que

demandam as ações profissionais, estabelecendo alianças com eles e

conquistando legitimidades a partir destes, estabelecendo o compromisso com

as denúncias e efetivando um trabalho de organização popular. Desta forma é

possível falar em competência profissional (Guerra, 2007).

É mister pensar nessas estratégias não somente de forma individual, procurando

efetivá-las no cotidiano profissional dos vários espaços sócio-ocupacionais,

assim como no coletivo da categoria.

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Ao refletir sobre direcionamentos estratégicos que se fazem necessários para se

contrapor às demandas que o novo contexto neoliberal impõe, na direção da

implementação do Projeto Ético-Político do Serviço Social percebe-se que eles

precisam ser concretizados em todas as políticas sociais, inclusive na política de

saúde.

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2.3 - O serviço social na saúde e a construção dos parâmetros para a

atuação de assistentes sociais na política de saúde.

Tendo por objetivo uma melhor definição das atribuições que o assistente social

que trabalha na saúde deve incorporar na sua prática profissional, a partir de

uma reflexão crítica e, desta forma, planejar a sua intervenção criando

estratégias que se contraponham ao modelo neoliberal vigente, o conjunto

CFESS/ CRESS publicou os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais

na Política de Saúde (2010).

Esse documento aponta as diversas dimensões profissionais impactadas pela

nova configuração da política de saúde ao Serviço Social (a saber: nas

condições de trabalho, na formação profissional, nas influências teóricas, na

ampliação da demanda, e na relação com os demais profissionais e movimentos

sociais). Fala das modificações pelas quais a profissão passou a partir da década

de 1980, representando a intenção de ruptura com o conservadorismo e sua

aproximação com a teoria marxista.

Ressalta a problemática do retorno de práticas conservadoras no exercício

profissional do assistente social na saúde, a partir do modelo neoliberal, com o

discurso da dicotomia entre teoria e prática, descrença nas políticas públicas e

construção de um saber específico da área, que se afasta da formação do

Serviço Social15, sendo realizadas, desta forma, atividades inadequadas aos

objetivos profissionais como seleção socioeconômica dos usuários, atuação

psicossocial com aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos

de saúde, assistencialismo, predomínio de práticas individualizantes, entre

outras.

15 O Serviço Social na saúde passa pela compreensão dos determinantes sociais, econômicos e culturais que interferem na saúde, procurando estratégias político institucionais para o enfrentamento dessas questões (CFESS, 2010).

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Alertando para a possibilidade preocupante do Serviço Social não cair na

armadilha do possibilismo, flexibilizando os princípios defendidos pelo Projeto

Ético Político e pelo Projeto da Reforma Sanitária, o referido documento sinaliza

algumas competências profissionais do assistente social que atua na saúde,

como: articulação com o movimento dos trabalhadores e usuários na luta pela

implementação do SUS, conhecimento da realidade dos usuários e seus

determinantes sociais, possibilidade de acesso dos usuários aos serviços de

saúde, propriedade em desenvolver atuação interdisciplinar, estímulo à

intersetorialidade das políticas de seguridade social, construção de espaços que

garantam a participação da população e dos trabalhadores da saúde nas

decisões, qualificação permanente, assessoria aos movimentos sociais e

conselhos.

Os Parâmetros (2010) indicam ainda a proximidade dos princípios e aportes

teóricos do Projeto Ético Político do Serviço Social com os do Projeto da Reforma

Sanitária e descrevem as ações dos assistentes sociais como sendo de caráter:

socioassistencial, de articulação com a equipe de saúde, socioeducativo, de

mobilização, participação e controle social, de investigação, planejamento e

gestão e de assessoria, qualificação e formação profissional.

Porém, mesmo após a criação do referido documento, tem-se observado a

continuidade de demandas não condizentes com o exercício profissional,

relatadas em reuniões regulares da Comissão de Seguridade do CRESS 4ª

Região16 e observadas no âmbito do cotidiano profissional.

Dessa forma, faz-se necessário avaliar como vêm sendo implementados os

Parâmetros, quais as dificuldades encontradas, e de que maneira eles têm se

constituído como elementos fundamentais para uma prática profissional

condizente com os objetivos profissionais, reconhecendo os limites e

possibilidades de sua efetivação.

16 Composta por assistentes sociais que atuam nos três eixos desta política (saúde, assistência Social e Previdência), que se reúnem sistematicamente para discutir assuntos de relevância no contexto da profissão.

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Ao referir os impactos gerados pelo contexto da saúde pública atual na prática

profissional do assistente social é necessário entender não somente o processo

de modificação que a profissão perpassou e quais práticas persistem em nosso

cotidiano profissional que ainda possuem vestígios de um modelo conservador,

como também perceber o contexto histórico em que estamos inseridos e que nos

impõe novas demandas.

Desta forma, conforme afirma Iamamoto

é necessário transpor o universo estritamente profissional, isto é, romper com uma visão endógena da profissão, prisioneira em seus muros internos. E buscar entender como essas transformações atingem o conteúdo e direcionamento da própria atividade profissional, as condições e relações de trabalho na qual se realiza; como afetam as atribuições, competências e requisitos da formação do assistente social (2006,p.167).

O primeiro impacto com que o assistente social se depara no novo contexto da

saúde, conforme analisado no capítulo 1 desta dissertação, deve-se ao

sucateamento das relações de trabalho. Com os novos modelos de gestão a

partir da parceria público-privada (PPP) torna-se possível a contratação de

profissionais sem concurso público, privilegiando os acordos políticos locais

através de indicações. Em algumas instituições é realizado um processo de

seleção simplificada, sem haver, contudo nenhuma gerência e fiscalização dos

critérios elegidos. Assim sendo, não se tem a garantia de profissionais críticos

atuantes nessas instituições, tão indispensáveis para a reflexão e proposições

de estratégias de ações contra o modelo neoliberal que se confronta com os

interesses da classe trabalhadora, para quem deve trabalhar o assistente social.

A fim de apresentar eficiência na gestão, as instituições tendem a solicitar a

intervenção profissional com enxugamento de custos e isso recai em poucos

profissionais para atender às demandas, e assim na superexploração do

trabalho e comprometimento na qualidade do serviço prestado. A esse

profissional, segundo aponta Soares (2010) “cabe toda a responsabilidade pelo

bom atendimento e, caso ele não se enquadre no serviço”, as portas estarão

reabertas para a sua substituição. A oferta de trabalho tem aumentado para o

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assistente social, pois novos serviços (principalmente na média e alta

complexidade) são abertos, mas estes não conseguem atender à classe

trabalhadora que adoece cada vez mais pela falta de condições que a

desigualdade social e a pobreza advinda do sistema lhe impõe, sendo a saúde

o escoadouro desse público que procura o profissional de Serviço Social de

forma emergencial.

Outro impacto de relevância, conforme analisa Soares (2010), é o lugar de

prioridade que a assistência oferecida ao usuário e a emergência têm assumido

frente às demandas postas ao Serviço Social na saúde, fruto de uma política

social que prioriza ações focalizadas apenas para os mais pobres, através de

programas assistenciais. Segundo a autora

Assim, mesmo tendo incorporado ao longo de sua trajetória histórica outras competências que extrapolam a assistência propriamente dita, o assistente social tem sido comumente requisitado a priorizar o espaço da assistência numa política cujo conteúdo assistencial, fragmentado e focalizado tem sido uma de suas tendências mais presentes (2010,p.353).

Essa prioridade de práticas assistenciais e emergenciais tem se constituído um

retrocesso para o Serviço Social, retomando velhas intervenções existentes

desde a época do conservadorismo, impedindo a realização de outras atividades

de aprimoramento profissional necessárias a um atendimento de qualidade.

Ainda de acordo com Soares (2010), foi identificado que os assistentes sociais

que trabalhavam em instituições gerenciadas por organizações sociais (OSs) ou

por fundações eram requisitados a prestar assessoria, divulgar as normas,

rotinas, benefícios e vantagens desse modelo, numa espécie de propaganda do

mesmo.

Mais um impacto às demandas do Serviço Social é a função de gerenciamento,

assessoria ou encaminhamento para as ouvidorias. De forma contraditória ao

objetivo do controle social, tem muitas vezes servido de espaço de conformação,

de individualização das queixas, não dando a oportunidade de coletivizar as

Page 54: AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS PARA ... · avaliação de como os Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde têm sido

54

reivindicações nos espaços existentes para esse fim, como os conselhos,

conferências e movimentos sociais.

Impacto significante é o da nova estruturação das emergências com modelo de

classificação de risco que traz como principal objetivo o de priorizar o

atendimento do usuário com situação de maior gravidade. Aparentemente tal

modelo apresenta-se lógico e coerente. Contudo, o que se observa na essência

é que nem todos os usuários têm a garantia de atendimento na rede, já que esta

é insuficiente para atender toda a demanda. O assistente social é chamado a

intervir nesses espaços servindo de mediador de conflitos. Para a instituição, é

o profissional que tem a capacidade de dizer que o usuário não terá os seus

direitos constitucionais garantidos, de forma gentil e educada.

Os desafios impostos ao assistente social são inúmeros. Inicialmente se faz

necessária uma qualificação teórico-metodológica, ético-política e técnico-

operativa, conforme aponta Iamamoto (2006), que o torne capaz de perceber a

essência de todas as transformações que vem passando a saúde pública para

pensar em estratégias de enfrentamento contra a ordem burguesa que se

entranha no cotidiano. Posteriormente é necessário perceber as contradições

existentes e explorá-las. Ocupar espaços de luta coletiva através dos conselhos

de saúde e de movimentos sociais, fortalecendo-os. Por fim, acreditar que essa

luta é apenas transitória e que não acaba nessa ordem vigente.

Page 55: AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS PARA ... · avaliação de como os Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde têm sido

55

CAPÍTULO 3 - AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS

PARA A ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE.

Apesar da construção dos Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na

política de saúde, em 2009, que traça um direcionamento profissional com base

nos princípios éticos e políticos do Serviço Social, tem sido observado na prática

profissional, que os assistentes sociais são comumente solicitados a

desempenharem atividades não condizentes com os objetivos e princípios

profissionais. Observa-se que algumas dessas ações são desempenhadas pelo

assistente social e outras são negadas, a muito custo, por esse profissional. É

como se o assistente social tivesse de constantemente estar afirmando e

reafirmando seu papel junto às instituições, quer aos gestores, quer aos

profissionais de outras categorias, quer aos próprios usuários. Outra

preocupação com a intervenção profissional são as demandas que são

legítimas, mas não chegam até o assistente social, ficando dessa forma o

usuário sem o atendimento que necessita. Observa-se ainda nesse cotidiano

profissional que algumas atribuições pertinentes ao assistente social não são

realizadas pela inexistência de condições objetivas para a realização destas,

como tempo insuficiente, falta de local adequado, entre outras.

Partindo dessas observações da prática profissional, comum a espaços de

atuação do assistente social na política de saúde, esta categoria vem procurando

refletir coletivamente sobre as causas e os impactos dessas problemáticas,

buscando estratégias de enfrentamento dessas situações. Um dos espaços

onde vem acontecendo debates sobre a prática do assistente social na política

de saúde em Pernambuco é a Comissão de Seguridade Social do CRESS 4ª

região, que acontece uma vez a cada mês na sede do referido órgão, sendo

todos os assistentes sociais inscritos, convidados a participarem das discussões.

No entanto, apesar dessas reuniões serem apropriadas para essas reflexões,

verifica-se a necessidade de uma sistematização dos principais pontos

abordados para a realização de uma análise mais aprofundada dando a

possibilidades de proposições futuras.

Page 56: AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS PARA ... · avaliação de como os Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde têm sido

56

Portanto, tendo os Parâmetros sido construídos há cerca de dois anos e tomando

como ponto de partida a prática do assistente social na política de saúde no

contexto atual, entendemos a relevância da realização de uma avaliação sobre

a implementação deste referido documento, objetivo deste estudo.

Para fins didáticos faz-se necessário apresentar alguns elementos que

compõem o desenho deste estudo, facilitando a compreensão dos passos

realizados para a obtenção e análise dos resultados.

OBJETIVOS

• Geral: Avaliar a implementação dos Parâmetros para Atuação de

Assistentes Sociais na Política de Saúde em Pernambuco no contexto

atual.

• Específicos:

o Identificar as demandas que chegam ao serviço social dos serviços

de saúde em Pernambuco.

o Analisar a relação das demandas ao Serviço Social com as

referências para a intervenção profissional presentes nos

Parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de

saúde.

o Identificar e analisar as dificuldades e estratégia, na relação com

as condições objetivas da instituição e da política de saúde, bem

como do próprio Serviço Social, de implementação dos

Parâmetros.

METODOLOGIA

Foi realizada uma avaliação do processo de implementação dos Parâmetros

para atuação de assistentes sociais na política de saúde em Pernambuco após

os dois anos da publicação do referido documento. Sua realização ocorreu numa

Page 57: AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS PARA ... · avaliação de como os Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde têm sido

57

abordagem qualitativa, sem preocupação com a generalização dos resultados,

dando a possibilidade de identificar e aprofundar os elementos considerados

relevantes.

A Avaliação de Processo, segundo Aguilar e Ander-egg (1994) fornece

informações sobre o andamento do programa. Seu objetivo básico é avaliar as

mudanças situacionais, saber até que ponto se está cumprindo e realizando o

programa de acordo com a proposta inicial. Permite fazer juízo sobre os

pressupostos em que se apoia a formulação do programa e tomar a decisão de

continuar ou não o mesmo ou redefinir os objetivos e metas.

Sulbrandt (1993) ressalta a possibilidade de, através da avaliação de processo,

conhecer os mecanismos pelos quais o programa está tendo êxito ou

fracassando, identificando as estratégias que possam ser tomadas a respeito.

Carvalho (2000) indica a necessidade de examinar, na avaliação de processo,

outras variáveis do tipo organizacional, social e cultural que afetam

consideravelmente a execução do programa.

A análise da implementação dos Parâmetros para atuação de assistentes sociais

na política de saúde em questão pode fornecer explicações sobre os sucessos

e fracassos existentes, assim como indicar reflexões sobre as novas estratégias

a serem tomadas.

Como forma de obter os dados necessários para a análise, foi realizado um

grupo focal com assistentes sociais que atuam na política de saúde em

Pernambuco que participaram das discussões realizadas pela Comissão de

Seguridade Social e/ou antiga Comissão de Saúde do CRESS 4ª região.

A pesquisa foi aprovada em Comitê de Ética e teve a anuência formal da gestão

do CRESS para a realização da mesma, sendo solicitada a utilização das

instalações físicas do referido Conselho para a realização do grupo focal.

A composição do grupo foi formada seguindo os critérios estabelecidos para a

aplicação da técnica de grupo focal onde, segundo Barbour (2009), os membros

deverão ter algo em comum (assistentes sociais que trabalham na política de

saúde em Pernambuco, no atendimento ao SUS) com experiências ou

perspectivas variadas para fomentar o debate (profissionais de instituições

diferentes). Desta forma, a escolha dos membros se deu de forma intencional. O

motivo da escolha desses sujeitos ocorreu pelo conhecimento dos mesmos em

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58

relação ao tema abordado tanto pela experiência profissional, quanto pelas

reflexões coletivas a partir das reuniões da Comissão acima citada. Foram

selecionados assistentes sociais que atuam em instituições de saúde com

diferentes perfis, como tipo de complexidade (alta ou média)17 e de gestão

(pública ou privada)18.

A caracterização das instituições cujos assistentes sociais pesquisados atuam

permitiu uma maior compreensão em relação às respostas dadas. Estes

profissionais foram identificados por nomes de flores, como forma de preservar

o anonimato dos mesmos, ao mesmo tempo em que facilita o entendimento e

análise dos dados.

Identificação dos sujeitos pesquisados (fictícia):

o Magnólia: atua em instituição pública, da esfera administrativa

federal, que atende à alta complexidade, hospital-escola.

o Margarida: atua em instituição pública, da esfera administrativa

estadual, que atende à alta complexidade, hospital-escola.

o Rosa: atua em instituição pública, da esfera administrativa

estadual, que atende à alta complexidade.

o Violeta: atua em instituição da esfera administrativa estadual, que

atende à média complexidade em saúde mental.

o Acácia: atua em unidade gerenciada por Organização Social, da

esfera administrativa estadual, que atende à média complexidade.

o Dália: atua em unidade gerenciada por Organização Social, da

esfera administrativa estadual, que atende à média complexidade.

17 A escolha dos assistentes sociais que atuam na política de saúde na alta e média complexidade deve-se ao número reduzido de assistentes sociais que atuam na atenção básica em Pernambuco.

18 Diante da nova configuração da saúde pública de Pernambuco, descrita no capítulo 2 desse estudo, verificou-se a pertinência de ter assistentes sociais que atuam em instituições com esses dois tipos de gestão fazendo parte do grupo focal.

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59

Tendo também como objetivo facilitar a discussão durante o grupo focal, foi

elaborado um guia de tópicos (roteiro), com breves questões (em anexo). Os

assuntos foram agrupados de acordo com os tópicos presentes nos Parâmetros,

a saber: ações socioassistenciais; ações de articulação com a equipe de saúde;

ações socioeducativas; ações de mobilização, participação e controle social;

ações de investigação, planejamento e gestão; ações de assessoria,

qualificação e formação profissional.

Quanto a operacionalização do grupo focal, inicialmente, foi formada a sua

composição, sendo realizado contato prévio para verificar a aceitação dos

membros em participarem da sessão, tendo sido também antecipadamente

escolhidos e contactados o colaborador (que se encarregou de fazer as

anotações necessárias) e o observador (responsável por resolver qualquer

questão de ordem doméstica, livrando o moderador dessa função).

O moderador, responsável por estimular a discussão nas sessões, perceber os

consensos, explicar, interpretar as mensagens, incentivar a conclusão das

sentenças, explorar as divergências de opiniões, buscar esclarecimentos, a fim

de obter o material de análise necessário, segundo Barbour (2009), foi a própria

pesquisadora.

Foi agendada a data para a sessão, com duração de quatro horas e reservada

a sala, nas instalações do CRESS 4ª região, por ser um local de fácil acesso

para os participantes, onde o silêncio, a privacidade e a confidencialidade foram

garantidos.

Para facilitar a captação do que foi discutido, utilizou-se recurso de gravação. O

gravador foi colocado em uma mesa central. A sala foi preparada com

antecedência de 02 horas, sendo retirada da mesma qualquer material que

pudesse influenciar os participantes. Esta proporcionou conforto suficiente

(cadeiras cômodas, ar refrigerado, etc.) facilitando o aproveitamento da sessão.

Os participantes foram identificados por crachás, promovendo uma melhor

interação entre eles.

No início do grupo, foi realizada uma rodada de apresentações dos participantes,

além de explicações sobre o propósito do grupo, instruções de funcionamento e

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60

concordância de todos sobre a confidencialidade. Nesse momento foram

preenchidos e assinados pelos participantes o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

O roteiro foi composto por questões abertas, tendo sido utilizadas intervenções

para a obtenção de maiores explicações sobre os tópicos abordados e fazendo

com que o participante expandisse seu comentário.

Embora o colaborador tenha realizado o registro necessário, o moderador

também fez algumas anotações que julgou pertinentes, registrando suas

observações imediatas sobre a discussão do grupo logo após o término deste,

incluindo suas impressões sobre os tópicos, participantes mais engajados e

outros aspectos relevantes.

O colaborador realizou a transcrição. Nesta, foi contidas as formas de linguagem

verbal ou não-verbal, como entonações, pausas, linguagem corporal.

Foi realizada uma análise qualitativa dos dados, comparando os comentários

dos participantes, procurando identificar as diferenças e semelhanças existentes

nas opiniões evidenciadas e buscando formular explicações para estes pontos

comuns e divergentes.

A análise das informações colhidas foi dividida em três tópicos básicos: a política

de saúde atual, serviço social e saúde e a atuação do assistente social na política

de saúde.19

Já na análise dos dados obtidos, foi verificada a inexistência de registro da

referida Comissão sobre as reuniões existentes (como livro de pautas e atas)

dificultou a escalação dos assistentes sociais que iriam participar da pesquisa,

sendo necessário a ajuda de participantes para se obter essa informação.

Durante a formação do grupo, verificou-se a ausência de grande parte dos

assistentes sociais que atuam na política de saúde nas reuniões da Comissão,

identificando-se a dificuldade destes em participar de atividades que extrapolem

19 A referida divisão foi realizada por questões didáticas, com o propósito de facilitar o entendimento sobre o assunto, embora os subitens elencados estejam permanentemente atrelados.

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61

os limites institucionais, o que representa uma perda em termos da construção

coletiva e atualização profissional20.

Outro aspecto relevante foi a dificuldade de encontrar assistentes sociais com

disponibilidade para participar da pesquisa, seja pela falta de tempo pelos vários

vínculos empregatícios necessários à sobrevivência pela condição dos baixos

salários oferecidos, seja pela fragilidade desses vínculos, havendo uma

dificuldade de autorização por parte das instituições empregadoras.

Estando o grupo formado por seis assistentes sociais, identificou-se ainda a

existência de outro elemento que revelava a heterogeneidade do grupo

elencado: as diferenças de tempo de formação profissional entre eles, com a

presença de assistentes sociais advindas da graduação com diferentes

currículos com embasamento mais crítico ou não21, conforme apontado na

seguinte fala:

“a gente vem de uma formação que estudou caso, grupo e comunidade, então vem numa história de formação e de prática profissional como o desejo de estar bem guiada e orientada pelo projeto ético-político profissional, buscando uma direção social-crítica da nossa prática” (Magnólia).

Apesar desta diferença foi observado uma preocupação com a atualização profissional.

20 Foram contatados 09 assistentes sociais que atuam na política de saúde, mas nunca participaram das reuniões da Comissão de Seguridade Social do CRESS 4ª região.

21 Apesar da heterogeneidade da graduação, identificou-se formas de atualização profissional por parte das assistentes sociais advindas de outras grades curriculares, revelando o compromisso com a formação permanente.

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3.1 - A política de saúde atual.

Nos dados obtidos através do grupo focal realizado encontramos a relevância

que o grupo pesquisado mostra relacionada à concepção que os Parâmetros

trazem da saúde pública vinculada aos propósitos das antigas bandeiras de luta

do movimento de reforma sanitária, iniciado nos fins da década de 1970 e início

da década de 1980, para a construção de um sistema único de saúde gratuito,

integral, equânime, de qualidade, com a participação da população nas suas

decisões e não de uma saúde pública com traços privatistas que acomete o país

nos dias de hoje, mais notadamente Pernambuco. Nessa concepção, os

Parâmetros definem com clareza a sua defesa intransigente dos interesses da

classe trabalhadora, apesar de todas as investidas que o capital tem realizado

em relação à política de saúde, conforme os relatos descritos a seguir: “o que

tem de significativo, apesar de que a gente tem também outro referencial, que é

a Lei que regulamenta a profissão, é que os Parâmetros trazem a concepção de

saúde do SUS e da reforma sanitária” (Rosa).

.

A gente ainda vê que é um processo que vai continuar, que são as saídas de hoje, dentro dos marcos da Reforma Sanitária, dentro dos marcos da saúde como direito, apesar de todas as ofensivas que querem destruir isso, a gente conseguiu construir um referencial (Magnólia).

.

A maior preocupação que a saúde pública traz hoje às assistentes sociais

pesquisadas é a sua privatização através das Parcerias Público-Privadas –

PPPs, que vem se espraiando em Pernambuco, colocando nas mãos dos

setores privados a gestão dos serviços públicos, acarretando assim, o

sucateamento das condições de trabalho ( com vínculos frágeis, ingresso sem

concurso público, decisões verticalizadas), a continuidade de distorções nos

gastos públicos, a pouca participação da população nas decisões políticas, entre

outras perdas apontadas no capítulo 1, recuperando a lógica do máximo para o

capital e mínimo para o social (NETTO, 1996).

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63

O grupo pesquisado menciona como um dos entraves vivenciados na saúde

pública atual, a existência do terceiro setor nos serviços públicos, demandando

ações inapropriadas ao assistente social. O terceiro setor se coloca como mais

uma forma de privatização dos serviços, onde o estado ao invés de oferecer a

assistência que o usuário necessita, repassa essa incumbência às instituições

prestadoras de serviços cujo objetivo único é, na maioria das vezes, a obtenção

de lucro mesmo que, do ponto de vista legal, muitas das entidades não tenham

fins lucrativos.

Apesar das investidas neoliberais vivenciadas na política de saúde atual, é

possível afirmar alguns aspectos positivos existentes durante as últimas

décadas, a exemplo da ampliação e melhoria da qualidade da atenção básica,

trazendo novas possibilidades de articulação com a rede de serviços que

anteriormente não existia, como os Programas de Saúde da Família - PSF, os

Núcleos de Atenção à Saúde da Família – NASF e os Centros de Referência da

Assistência Social - CRAS. Vale ressaltar que embora se verifique tais avanços

na atenção básica, ainda há muitos entraves na efetivação dessa rede que

precisam ser superados, a exemplo do sucateamento desses equipamentos

sociais, com instalações físicas precárias, número de equipamentos insuficiente,

número de profissionais insuficiente.

A esse respeito Albuquerque (2011) refere que em relação à Atenção Básica em

Saúde – ABS, no Brasil, em 2002, havia 16 mil equipes implantadas em mais de

quatro mil municípios, apresentando uma cobertura de mais de 50 milhões de

pessoas. Até fevereiro de 2011, haviam sido implantadas 31.883 equipes de

saúde da família, em 5.290 municípios (do total de 5.564 municípios brasileiros),

com cobertura populacional de aproximadamente 62,8% (BRASIL, 2011b). Em

Recife, a autora assinala que no período de 1994 a 2000, o município do Recife

contava com 27 equipes de saúde da família, distribuídas em 16 unidades. De

2001 até 2004, houve um aumento de 611% passando de 27 equipes para 192,

elevando a cobertura populacional de 6,5% para 45%, sendo atendidas pela ESF

aproximadamente 660 mil pessoas (Recife, 2005). No final de 2008 havia 240

equipes implantadas, com 113 equipes de saúde bucal, perfazendo uma

cobertura de, aproximadamente, 54% da população, ou seja, em torno de 840

mil pessoas eram assistidas pela ESF.

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64

Segundo a autora, Recife, em 2011 apresentava um total de 2.982 trabalhadores

de saúde que compõem as equipes de saúde da família e o PACS, o que refletia

uma quantidade significativa de profissionais atuando na ESF; embora, ainda

respondesse por uma cobertura inferior a 60% da população residente,

demonstrando-se não haver universalidade do acesso e sim seletividade

(focalização), em detrimento da proposta de universalização previsto pelo SUS.

Foi observado ainda excesso de trabalho, sendo desenvolvido de forma

individualizada, não havendo canais de participação e de comunicação entre

eles, com alguns profissionais se mostrando apáticos/acomodados,

desmotivados e muitas vezes submissos e dependentes de outros profissionais.

Os salários se apresentavam diferenciados, com todos os vencimentos

diferentes, inclusive no mesmo nível de instrução (Idem).

Outra preocupação frequente relacionada à atenção básica é a pouca atuação

na prevenção, mantendo-se o foco nas ações curativas.

Ao vivenciar uma melhoria na atenção básica relacionada à cobertura oferecida

à população, mas com lacunas na sua qualidade, verifica-se um movimento de

aumento de demanda para a média e alta complexidade sem condições de

abarcá-la. Ao não conseguir atender a demanda que chega à instituição, o

assistente social é chamado para resolver esse impasse, conforme aponta uma

assistente social pesquisada:

Tem muito ainda que ser feito na atenção básica, mas a atenção básica com todas as suas dificuldades, ela avançou hoje mais do que o que a gente vem vendo na média e na alta complexidade. E essa atenção básica tem gerado uma demanda para a sequência da assistência, que vai cair na gente. E essa demanda, e essa oferta reduzida de serviços é que gera um tensionamento, e esse tensionamento, dependendo do local que a gente esteja dentro do hospital, o assistente social é reconhecido como aquele que vai administrar essa questão (Magnólia).

O Ministério da Saúde tem implantado o Sistema de Classificação de Risco nos

serviços públicos, inclusive em Pernambuco. A essência do sistema segue uma

lógica coerente, priorizando o atendimento ao usuário com maior gravidade e

encaminhando para os níveis de menor complexidade as demandas que não

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necessitam de um serviço de maior complexidade, realizando-se a referência e

a contra-referência. No entanto, o que presencia-se atualmente são serviços

com demandas excessivas, sem condições de atender aos usuários que chegam

e sem ter para onde referenciá-lo. Em algumas situações, o que se observa é a

existência de marcação administrativa, sem classificação de risco, reforçando

uma política do favor. As instituições que atendem aos outros níveis de

complexidade também encontram-se superlotadas e sucateadas, ficando o

usuário sem o atendimento que legalmente lhe é de direito.

A demanda excessiva é outro dado apontado pelo grupo pesquisado. A grande

quantidade de atendimentos deveria ser equiparada ao número de profissionais

contratados, mas essa não vem sendo a lógica do novo modelo de saúde

pública. Tal dado tem a ver com a precarização das condições de trabalho e

afeta diretamente o usuário que tem a qualidade do seu atendimento

comprometida ou, em algumas situações, o atendimento negado. É repassada

toda a responsabilidade da qualidade do atendimento ao profissional de saúde,

sem verificar as condições oferecidas a ele para a efetivação da assistência. “O

problema é a precarização do Serviço, é a sobrecarga de trabalho dos

profissionais, o número de leitos que cada profissional precisa dar conta. O

chamado se vira nos 30”. (Margarida). É o enxugamento da máquina estatal para

diminuir os custos e apresentar eficiência, às custas da qualidade do serviço

oferecido.

No tocante a gestão das instituições, foi apontada a elaboração das decisões,

sem possibilidade de diálogo crítico, diferentemente das práticas gerenciais

adotadas em gestões anteriores. Há, no plano formal de alguns serviços, o

indicativo da construção de um planejamento institucional formulado através de

um colegiado, mas o que se tem verificado é que as ações não são discutidas

democraticamente, conforme as determinações pelo SUS.

Em poucos serviços existem conselho gestor, construídos com muita dificuldade,

num processo de avanços não linear. Apesar de representar uma possibilidade

de construção de um controle social foram apontados vários percalços que

demonstram a dificuldade de aprovação dos indicativos apontados em um

momento onde a política de saúde não prioriza a participação popular, de acordo

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66

com o que estabelece a lei n 4.182, de 1990, que trata do controle social na

saúde.

Uma das assistentes sociais que participou do grupo focal relatou a intenção da

formação de um conselho gestor na instituição em que atua, através da

elaboração de um projeto para esse fim, não sendo viabilizado pela falta de

interesse por parte da gestão em proporcionar um espaço para o controle social,

cerceando a participação dos usuários nas decisões da mesma.

A estagiária que eu tinha de Serviço Social ela fez um projeto de intervenção, foram oficinas de sensibilização ao controle Social com funcionários e usuários e familiares para construção do conselho gestor. Foi todo realizado o projeto, foi feito uma ata de solicitação à instância do distrito para construção do Conselho Gestor e a ideia se perdeu porque o distrito não constituiu, não operacionalizou a eleição para que o conselho gestor fosse construído (Violeta).

Outra característica do modelo de saúde atual apontada é o foco quase exclusivo

na assistência, não sendo priorizadas as ações de ensino pesquisa e extensão,

tão importantes no processo de aperfeiçoamento da prática profissional. Essas

atividades são desempenhadas com muita dificuldade, sem o necessário

incentivo para a sua realização. No novo modelo, prevalece o que é aparente, o

que demonstra superficialmente uma eficácia, sem que haja uma análise mais

aprofundada dos impactos que a nova configuração tem causado na população.

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67

3.2 - Serviço Social e saúde.

As assistentes sociais que participaram do grupo focal afirmaram ter o

conhecimento de todo o conteúdo presente nos Parâmetros, sendo o referido

documento considerado um instrumento de grande relevância na prática

profissional, como forma de nortear as ações do cotidiano de trabalho na saúde.

Essas profissionais vêm estudando o documento, tendo por objetivo o

aprimoramento da prática através da implementação de novas estratégias frente

aos entraves vivenciados nos dias atuais na política de saúde.

Vale ressaltar que foi unânime a percepção de que os Parâmetros têm ajudado

na prática profissional do assistente social, embora se saiba da existência de

profissionais que se mostram contrários à construção de parâmetros para outras

políticas, com o discurso de que o documento em questão não se constitui uma

“receita de bolo”, algo definitivamente pronto para ser seguido ao pé da letra.

Existe um grande equívoco em afirmações dessa natureza, já que é a construção

teórica que respalda a prática e esta dá subsídios à construção de novas

proposições teóricas. Negar esse processo dialético significa ir de encontro ao

aperfeiçoamento. Negar o movimento é se colocar aprisionado a padrões pré-

estabelecidos. “É mais uma questão de mostrar que essas são as nossas ações

em saúde, que essas são as questões, que a gente se norteia por essas e essas

visões, por esses e esses caminhos” (Acácia).

Na pesquisa realizada foi identificada pelas assistentes sociais a relevância do

processo de construção do referido documento, a partir de uma ação coletiva

coordenada pelo conjunto CFESS/ CRESS que possibilitou o envolvimento de

toda a categoria profissional, realizada através de várias discussões

descentralizadas nacionalmente e do Seminário Nacional de Serviço Social na

Saúde, ocorrido em 2009, em Recife22, totalizando aproximadamente 5.700

assistentes sociais envolvidos no processo de elaboração do documento

(CFESS, 2009). Essa construção coletiva representa a intenção do conjunto em

dar um direcionamento às ações da prática profissional na saúde.

22 Parte das assistentes sociais pesquisadas participou do referido Seminário.

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68

Apesar dos encontros descentralizados para a elaboração dos Parâmetros terem

iniciado a partir de 2008, algumas assistentes sociais informaram haver

participado anteriormente de reuniões da Comissão de Saúde23, ainda na

década de 1990, com o objetivo de sistematizar a prática profissional na política

de saúde em Pernambuco. Esse dado revela ser esta uma preocupação mais

antiga que veio tornando-se cada vez mais necessária no decorrer da história24,

fazendo parte, atualmente, de um processo de maturação na perspectiva da

direção social crítica, conforme aponta o Projeto Ético-Político do Serviço Social.

“foi uma construção que nasceu dos atores que estavam naquelas unidades de

saúde. Elas foram fazendo uma massa critica que foi materializada nos

parâmetros” (Rosa).

...na hora que a gente vai conseguir materializar uma luta que vem se arrastando há tanto tempo, em algo concreto que está ajudando... isso é uma vitória muito grande, é um contentamento muito grande, de a gente estar materializando naquele documento, uma luta que não é de hoje. Esses Parâmetros a gente não pode esquecer, que é fruto de uma construção social da profissão (Magnólia).

Vale ressaltar que o documento em tela não se esgota em si, devendo ser

implementado de acordo com o processo histórico que a profissão passa e à luz

de uma leitura crítica da realidade, levando-se em consideração todos os

elementos que interferem na prática profissional. Segundo as assistentes sociais

pesquisadas, os Parâmetros não têm uma proposta normativa. A sua

materialização dependerá da perspectiva teórica do assistente social que se

refletirá no concreto do cotidiano, cabendo ao profissional se apropriar das

dimensões técnico-operativa, teórico-metodológica e ético-política como forma

23 Atual Comissão de Seguridade Social.

24 Cabe aqui relembrar que o Serviço Social vem historicamente precisando reafirmar constantemente os seus objetivos profissionais desde a época da reconceituação, após o seu rompimento com o conservadorismo. No entanto, o contexto neoliberal agudizou essa necessidade pela posição política assumida pelo estado ser cada vez contraditória aos interesses da classe trabalhadora, e assim, aos princípios e diretrizes do Serviço Social, conforme já apontado no capítulo 1.

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de aperfeiçoamento profissional e afinamento com o Projeto Ético-Político do

Serviço Social, conforme aponta Iamamoto (2006).

Uma das características notória dos Parâmetros é que apesar dele traçar

diretrizes que norteiam a prática do assistente social na política de saúde, ele

serve de referência para direcionar também as intervenções do profissional nos

demais campos de atuação, já que a sua elaboração não se detém somente à

especificidade da saúde, possuindo diretrizes que se coincidem com as do

projeto hegemônico da categoria.

Embora hegemônico, a perspectiva social crítica não é unânime nos espaços

profissionais da saúde, conforme indicaram as assistentes sociais pesquisadas.

No entanto, existe um esforço coletivo de aperfeiçoamento profissional que

instigam aos demais assistentes sociais refletirem sobre a forma como cada um

está desenvolvendo a sua prática, tendo em vista os interesses da classe

trabalhadora.

Tem aquelas colegas que pelo engajamento político, pelo compromisso com o projeto ético-político profissional terminam sendo as que levantam mais a bandeira, tem outras que não, que foram oriundas de outra formação profissional que faziam uma leitura diferente do que a gente tem hoje. Vocês estão vivendo uma geração diferente. Então as colegas mais antigas que fizeram uma formação de Serviço Social diferente, uma construção de Serviço Social diferente, elas ainda têm muito do conservador presente, mas não quer dizer que não estão querendo se atualizar, até mesmo porque o grupo como está muito alimentado de um outro olhar, de um outro conhecimento, então termina levando a outra, mas não é homogêneo não (Magnólia).

O que se sobressai é sim um esforço de seguir na direção social-crítica, um esforço da gente estar buscando a capacitação para estar se atualizando, um esforço para a gente estar tentando compreender os limites da nossa prática para além do individuo (Magnólia).

Outro aspecto discutido foi que, apesar de existirem nos espaços de atuação

profissional, assistentes sociais que vieram de uma formação com currículos

diferentes, existe uma intenção de atualização por parte das assistentes sociais

mais antigas, como forma de buscar desenvolverem uma prática coerente com

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o Projeto Ético-Político atual. “Eu trabalhei com três códigos de ética, então eu

consigo ver esse sujeito que me foi posto quando eu estava na graduação, e

hoje como ele tá inserido pela nossa categoria” (Rosa).

Uma preocupação que apareceu no grupo focal foi a formação acadêmica

realizada através do ensino a distância, sem a possibilidade de uma debate mais

aprofundado, e faculdades particulares sendo abertas sem nenhum afinamento

da grade curricular com os princípios do Projeto Ético-Político atual, visando

exclusivamente o lucro. Essas formas de ensino vem se espraiado

paulatinamente no Serviço Social.

Segundo Silva (2011), no início dos anos 2000, 46 cursos de nível superior

passaram a ser ofertados na modalidade à distância, totalizando cerca de 29.702

matrículas. Em 2009, a quantidade desses cursos multiplicou-se para 843,

alcançando o contingente de 838.125 matrículas, ofertadas por instituições

predominantemente privadas. Segundo a autora, em 2009 o Serviço Social

ocupa o terceiro lugar em número de matrícula de cursos à distância no país,

ficando atrás apenas dos cursos de pedagogia e administração.

Tudo Isso faz com que esses profissionais necessitem de um esforço individual

maior para traçar as suas ações pautadas nos Parâmetros. A realidade que está

posta desafia constantemente a uma desconstrução da nossa prática. Para

continuarmos resistindo, persistindo nos propósitos que a profissão nos norteia

faz-se necessário uma formação sem interferências ideológicas relacionadas a

interesses que se mostram antagônicos à qualidade do ensino.

Contraditoriamente a esse movimento de atualização por parte das assistentes

sociais mais antigas existem assistentes sociais jovens que assumem uma

postura de acomodação frente à expansão das investidas do capital e aumento

da desigualdade social que só poderá ser superada em outra ordem vigente.

Não podemos deixar de realizar uma leitura crítica da realidade, percebendo os

limites que o sistema nos impõe. Mas, assim como afirma Iamamoto (2004)

precisamos reconhecer as possibilidades de atuação que estão postas nos

nossos espaços profissionais, reconhecendo a contradição existente a cada

momento, seja no atendimento individual, seja na construção de alianças, seja

no movimento da categoria, seja na luta mais ampla em prol da classe

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trabalhadora. “Nem o otimismo da vontade, nem o pessimismo da razão”

(Gramsci apud Iamamoto, 2008).

Outra dificuldade que as assistentes sociais pesquisadas apontaram frente à

implementação dos Parâmetros relaciona-se com a precariedade das condições

de trabalho e a fragilidade do trabalhador não concursado, que vê seu emprego

ameaçado caso se oponha a lógica vigente, perfil este que vem se ampliando

rapidamente nesse novo modelo de gestão da saúde pública, conforme indicado

no item 3.1. “a determinação da nossa profissão não vem só pelo trabalhador. A

gente também tem que dar resposta para o capital. Esse é o grande desafio da

gente, e a nossa grande dificuldade” (Magnólia).

Os Parâmetros vêm sendo utilizado como instrumento de barganha,

potencializando a argumentação frente às instituições para a construção de

novas estratégias de intervenção.

O gestor e outros profissionais de outras profissões querem impor a gente, assistente social, passam uma atribuição que não é nossa competência... Então os Parâmetros são muito importantes mesmo nesse debate: “não, mas aqui eu tenho como provar que eu não posso fazer isso, que não é atribuição da gente” (Dália).

As assistentes sociais pesquisadas informaram não terem participado de

nenhuma reunião ou evento para a discussão dos Parâmetros após a sua

elaboração, muito embora tenham relatado estarem constantemente se referindo

ao documento no cotidiano profissional, já que o mesmo contempla as ações e

o direcionamento da profissão de Serviço Social. “ele dá um norte, ele serve de

prumo, caminho, ele abre estradas menos sofridas do que foi antes, quando a

gente não tinha os Parâmetros” (Rosa). A ausência em discussões envolvendo

a temática deve-se à falta de tempo para a participação em reuniões e eventos,

pela ênfase maior nas práticas assistenciais e emergenciais solicitadas pelas

instituições empregadoras.

Em relação à prática realizada nos serviços de saúde pelo assistente social,

verifica-se uma possibilidade de desenvolver um trabalho mais aprofundado,

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ampliando a qualidade do serviço oferecido, nos ambulatórios e enfermarias.

Nestes locais há um trabalho de equipe, coletivo, mais horizontal. Os assistentes

sociais conseguem participar de todos os momentos da assistência ao usuário:

do planejamento, da intervenção e da avaliação das ações, desde a admissão,

até a alta hospitalar do usuário, praticando-se uma abordagem integral, com

enfoque coletivo, de equipe, em conformidade com os princípios do SUS.

Porém, o que se tem observado é a expansão da contratação do assistente

social plantonista, como forma de enxugamento do quadro de profissionais,

precarizando a assistência ao usuário através de intervenções mais pontuais e

menos aprofundadas, já que o assistente social plantonista não poderá realizar

o acompanhamento diário do usuário assistido. A lógica da produtividade é a que

prevalece, existindo em alguns serviços o monitoramento do tempo de

atendimento do profissional para cada usuário, negando a necessidade muitas

vezes de um nível de aprofundamento da intervenção que vai desde o

conhecimento da realidade social que permeia o usuário, elaboração de laudos

e pareceres, discussão com a equipe técnica para o planejamento coletivo das

ações, articulação com outros equipamentos sociais, entre outras ações.

Outro aspecto negativo relacionado à modalidade de trabalho por plantão é a

fragmentação da equipe. Os assistentes sociais não se reúnem nos seus

espaços profissionais pela incompatibilidade de horários de trabalho. Muitos

assistentes sociais plantonistas têm mais de um vínculo empregatício para suprir

as necessidades materiais devido aos baixos salários25, inviabilizando reuniões

sistemáticas com a equipe em outros horários. Apenas uma das assistentes

sociais afirmou haver reunião semanal com a equipe de assistentes sociais. A

maioria relatou que as reuniões acontecem mensalmente ou de forma

extraordinária. O que tem ocorrido é o desenvolvimento de atividades não

planejadas coletivamente e a inexistência de um único direcionamento da equipe

frente aos embates provocados pela gestão das instituições para a incorporação

de atividades não condizentes com os objetivos profissionais do assistente

social, fragilizando ainda mais as relações de trabalho. A reunião se mostra como

uma das estratégias de maior relevância para o fortalecimento da equipe e a

25 Conforme apontado no item 3.1.

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implementação de ações que possuam o mesmo direcionamento do Projeto-

Ético-Político do Serviço Social.

Uma estratégia que tem sido adotada em serviços que possuem poucos

assistentes sociais lotados em enfermarias é o trabalho com protocolos para

determinados perfis de usuário como violência contra crianças e adolescentes,

contra a mulher, contra o idoso, onde todos os assistentes sociais podem atuar

sem que seja necessário estar acompanhando permanentemente o usuário,

seguindo as diretrizes indicadas nos protocolos. Esse tipo de ação é realizada

como paliativo pela falta de um profissional permanente para realizar um trabalho

mais aprofundado, interferindo na qualidade da assistência oferecida tanto para

aqueles usuários que procuram espontaneamente ou é encaminhado por outro

profissional da equipe para as intervenções a serem realizadas pelo assistente

social, como para os usuários cuja a necessidade de intervenção do assistente

social nem chegou a ser percebida por outros, ficando desta forma o usuário sem

o atendimento que necessita.

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3.3 - Atuação do assistente social na saúde.

De acordo com os Parâmetros, buscou-se no grupo focal identificar as

atribuições e competências gerais do assistente social, assim como as ações

que estão sendo realizadas que competem e que não competem a esse

profissional inserido na política de saúde.

Dentre as ações que são demandadas ao assistente social e que são

reconhecidas pelos Parâmetros (2010) como específicas do Serviço Social

encontram-se:

A garantia do acesso aos Serviços Institucionais, orientando o usuário sobre as

formas e possibilidades de atendimento.

• Orientações sobre os programas e benefícios da seguridade social, de

acordo com a possibilidade de inserção, informando o usuário sobre as

condicionalidades e locais de acesso do mesmo.

• Articulação com os serviços existentes no território, encaminhamento

para a rede de referência socioassistencial e de saúde como Secretarias

de Saúde para acesso aos serviços existentes como o TFD, PSF, NASF,

CRAS, Conselho Tutelar, outro serviço de saúde cujo usuário será

transferido, a fim de dar prosseguimento às intervenções já realizadas

pelo Serviço Social.

• Orientações e encaminhamentos relacionados à situação de violência

contra a criança, adolescente, mulher e idoso para os serviços da rede

socioassistencial e de apoio a essas realidades, de acordo com cada

situação apresentada. “A gente termina sendo um agente que vai garantir

o acesso a esses serviços” (Rosa).

• Encaminhamentos às instâncias judiciais nos casos da violação dos

direitos do usuário, como delegacias e coordenadorias especializadas,

ministério público, entre outros.

Todas essas orientações e encaminhamentos são realizados de acordo com a

realidade do usuário, identificando suas necessidades e os determinantes destas

a fim de estabelecer uma intervenção adequada.

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O assistente social é muitas vezes solicitado a realizar tarefas de caráter

estritamente administrativo que são demandadas ao Serviço social, já que não

há funcionário destacado para responder especificamente a elas, conforme

descritas a seguir:

• Entrega de crachás para a identificação de pessoas que transitam no

hospital e não fazem parte do corpo funcional, tais como visitantes dos

usuários, representantes de laboratórios, profissionais de outros serviços

que integram a rede de atendimento ao usuário (de saúde,

socioassistencial, jurídica ou educacional), entre outros.

• Localização de usuário para verificar se ele foi admitido na instituição, em

que enfermaria se encontra ou se já recebeu alta hospitalar. Essa

informação é frequentemente solicitada pela família que não sabe o

destino do seu parente. Como não há um sistema de cadastro adequado,

cabe ao funcionário realizar contatos telefônicos com todos os setores

existentes. A gestão do hospital entende que na falta de um profissional

contratado para essa finalidade, o assistente social deveria executar a

referida atividade.

• Organização do livro de remoção e transferência de usuários para outros

serviços de saúde, através de uma relação diária composta dos locais

onde os usuários deverão ser levados pelo motorista da instituição para a

realização de exames e tratamentos complementares ou para serem

transferidos para outros serviços.

• Solicitação de ambulância às esferas públicas para remoção e

transferência quando esse serviço não é realizado com o transporte do

próprio hospital ou em situação de alta hospitalar do usuário, retornando

o mesmo ao seu destino de origem.

• Realização de contatos com funcionários da instituição de destino do

usuário, para os casos em que o mesmo necessite realizar o

procedimento de saúde em outro estado, por motivo da inexistência do

tratamento indicado na sua localidade. Para esses casos o usuário será

transferido através do Programa de Tratamento Fora Domicílio – TFD

interestadual. É solicitado ao assistente social assegurar a hospedagem

do usuário e do seu acompanhante (quando assegurado legalmente o

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direito a este) na localidade onde a intervenção de saúde será realizada,

sendo necessário o contato prévio com o assistente social do serviço que

receberá o usuário ou com hospedarias e pensões em caso dele não ser

internado imediatamente a sua locomoção. A secretaria estadual de

saúde, ao autorizar a realização do procedimento em outro estado,

deveria se responsabilizar pela garantia da permanência do usuário (e

seu acompanhante) na localidade indicada, sabendo que, a falta de

alojamento para estes, impossibilitará a realização do tratamento.

• Fornecer declarações de comparecimento dos usuários na Instituição

para fins trabalhistas ou qualquer outra situação em que o mesmo tenha

que comprovar a sua permanência no serviço. Tal documento deveria ser

fornecido por qualquer profissional que realizasse algum tipo de

atendimento, seja o médico, o assistente social, o psicólogo, ou qualquer

outro funcionário.

• Orientações sobre o preenchimento do termo de responsabilidade pela

desistência do tratamento clínico pelo usuário. Quando o adulto, em plena

consciência, deseja interromper o seu tratamento por não se sentir

satisfeito com a assistência oferecida ou por qualquer outro motivo, ele

necessita assinar um documento afirmando que apesar de haver sido

informado dos riscos que sofrerá pelo desligamento do seu tratamento ele

decidiu interrompê-lo. Como as orientações sobre os riscos clínicos só

podem ser fornecidas pelo médico, este profissional seria o mais indicado

a realizar tal atividade. No entanto, o médico ao justificar excesso de

trabalho em relação ao tempo disponível, pelo reduzido número de

profissionais dessa categoria contratatos, não prioriza a referida atividade,

sendo a função repassada ao assistente social, sem que haja uma

explicação consistentes para tal.

• Diante da situação de falecimento do usuário existe em algumas

instituições um Programa de estímulo à doação de órgãos e tecidos, com

uma equipe técnica formada para realizar todo o processo de intervenção

necessário, desde o contato com os familiares da pessoa falecida,

fornecendo as informações necessárias e sensibilizando-os à doação, até

os contatos com as instituições competentes que farão a retirada dos

órgãos e conduzirão os mesmos para serem posteriormente

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transplantados. Porém, em algumas instituições onde não existe essa

equipe especializada a equipe de saúde do próprio serviço fornece

informações sobre a doação de córneas e, no caso a família autorizar a

doação, é realizado o preenchimento de Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido – TCLE para a realização do referido procedimento. Essas

instituições de saúde têm demandado ao assistente social a

responsabilidade desse processo, por não haver outro profissional para

realizar a atividade no serviço.

• Procura de macas retidas em outros serviços é solicitada ao assistente

social. Quando o usuário necessita ser transferido para outra instituição,

essa ação é comumente realizada através de ambulância própria do

serviço de origem. O que tem ocorrido frequentemente é uma

superlotação das instituições que não comportam a quantidade de

usuários, não possuindo acomodações suficientes para receber o usuário

transferido. Para que os mesmos não sejam deixados em cadeiras, ou até

mesmo no chão, muitas vezes esses serviços retêm a maca da

ambulância pela qual ele ingressou, deixando o usuário nessas

acomodações. Assim o transporte retorna ao seu serviço sem a maca,

sendo solicitado ao assistente social procurar o referido equipamento.

• Providencia de cadeiras para os acompanhantes. O direito ao

acompanhante para os usuários crianças, adolescentes, idosos e

pessoas com deficiência nos serviços de saúde é garantido por lei, de

acordo com as legislações específicas de cada um desses segmentos,

cabendo às instituições proporcionar as condições adequadas

necessárias à permanência dos mesmos durante todo o processo de

internação do usuário. O Ministério da Saúde inclusive garante o repasse

aos serviços do recurso gasto com o acompanhante. No entanto, o que

tem sido observado é a falta de condições adequadas a essa

permanência em relação à alimentação, espaços físicos que comportem

o acompanhante, locais para repouso como cadeiras ou camas. Quando

existem cadeiras ou camas são em quantidade reduzida ou estão

danificadas. Habitualmente é solicitado ao assistente social providenciar

essas instalações, procurando nas outras enfermarias, negociando o

empréstimo desta a outros setores.

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• Preenchimento da APAC, (guia de acompanhamento da internação do

usuário) que deve ser encaminhada à secretaria de saúde do estado. A

princípio este documento deveria ser preenchido pelo médico pelo tipo de

informações clínicas solicitadas (incluindo o Código de Informação da

Doença – CID). No entanto esse problema, apesar de já haver sido

problematizado pela assistente social26não é resolvido pela gestão. Um

aspecto aqui presente que merece relevância é a relação de poder que o

médico exerce em relação aos demais membros da equipe, relação essa

reforçada pela gestão que, ao repassar uma atribuição específica de um

profissional a outro, não reconhece horizontalmente a importância de

todas as categorias profissionais presentes numa equipe de saúde.

Todas essas atividades não são reconhecidas pelos Parâmetros como

atribuições do assistente social. Observa-se desta forma que as instituições têm

demandado a esse profissional uma intervenção com um direcionamento

divergente dos princípios e diretrizes apontados pelo Projeto Ético-Político do

Serviço Social. Vale ressaltar que a maioria dessas demandas inadequadas ao

assistente social tem sido problematizada pelas equipes de Serviço Social, que

têm realizado várias estratégias de negá-las, se utilizando, inclusive, dos

Parâmetros como instrumento de barganha.

O discurso das instituições é sempre o de que, como há poucos profissionais

para uma grande quantidade de demanda nos serviços, cada profissional fará

que realizar um pouco (ou muito) a mais do que as suas atribuições específicas

(para o qual o mesmo foi contratado). É uma forma de tentar sanar um problema

relacionado às mudanças ocorridas no trabalho a partir desse novo modelo de

saúde, com características privatistas onde, em nome da eficiência toma-se uma

série de medidas de redução de custos, a exemplo do enxugamento de gastos

com pessoal (redução de concursos públicos, contratação de profissionais

abaixo da necessidade).

O que se constata ainda é a falta de organização dos serviços em relação a

algumas atividades sem a delimitação de um setor responsável pelas mesmas,

26 Situação ocorrida com a assistente social que trabalha na saúde mental.

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recaindo erroneamente como atribuições para o assistente social. A justificativa

que a gestão dos serviços aponta para essa distorção é de que essas atividades

são realizadas em prol do direito do usuário e o assistente social é o profissional

que irá garantir o acesso a esse direito. Assim, todas as lacunas existentes na

instituição, seja relacionadas à falta de organização da gestão, seja por falta de

profissionais para a realização das atividades, seja pela escassez de recursos

materiais, seja pela superlotação das instituições frente à má administração

pública da saúde, tudo passa a ser considerado pela gestão das instituições um

“problema social” e como tal deverá ser resolvido pelo assistente social.

Para a instituição esta estratégia de repasse de todas essas atividades ao

assistente social se mostra extremamente eficaz: ao mesmo tempo em que

enxuga a máquina administrativa, sem a contratação de profissionais específicos

para a realização de tais atividades, resolve as lacunas de ordem administrativa,

mesmo que parcialmente e de forma precarizada.

Em algumas situações o assistente social é convocado a responder demandas

que não se configuram como sendo da competência desse profissional, mas que

historicamente, foram realizadas por ele, sem problematizá-las, a exemplo da

marcação de consultas médicas para os usuários. Ao realizar práticas não

condizentes com os objetivos da profissão, esses profissionais acabam por

dificultar o processo de negação dessas atividades por outros assistentes

sociais, e consequentemente a implementação dos Parâmetros, existindo

sempre o discurso por parte da gestão das instituições de que em outro serviço

aquela atividade é realizada por um assistente social.

Algumas demandas que os usuários trazem ao assistente social advêm da

negação do acesso aos direitos, como a falta de acesso a consultas e

medicações causadas pela inadequação entre a procura e a oferta de serviços,

gerando uma demanda reprimida. Essa situação é comumente vivenciada nas

instituições de alta e média complexidade, pelas condições insuficientes dos

serviços (como o número de leitos e de profissionais reduzidos) e a ineficácia da

referência e contra-referência dos serviços da atenção básica que, ainda

vivenciam uma inadequação da assistência oferecida frente às necessidades da

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população (número de serviços e funcionários insuficientes, falta de

equipamentos para o atendimento, entre outros).

Nessas situações, o assistente social é convocado pela instituição para ser o

mediador dos conflitos. Ele é solicitado a, da forma mais atenciosa possível,

informar ao usuário que ele não vai ser atendido, devendo, desta forma, procurar

outro serviço. Cabe salientar que as outras instituições também apresentam

deficiências, não sendo assim assegurado o atendimento através da rede

pública de serviços de saúde de Pernambuco.

Essa dificuldade de acesso aos serviços públicos recai em outra particularidade

existente na saúde do estado: os usuários que, não tendo mais nenhuma opção

garantida de acesso à saúde através do SUS, se vê obrigado a custear as

consultas e/ou serviços (como exames de sangue e de imagem), procurando

para isso a rede particular, tendo de pagar muitas vezes um valor alto pelo bom

atendimento ou, quando o custo deste não cabe no seu orçamento, paga-se

menos por um atendimento nem sempre bem referenciado. Cabe aqui observar

a existência e ampliação dos polos médicos em Pernambuco, com território

definido no bairro da ilha do leite onde observa-se a criação de grandes centros

empresariais de luxo, contraditoriamente em uma região cercada por

comunidades extremamente pobres27, ficando escancarado o retrato da

desigualdade social presente que incide diretamente na saúde da população. Os

usuários que têm dificuldades financeiras ficam sem o atendimento que

necessitam, aumentando a gravidade do processo de adoecimento. Ressalta-se

ainda que muitas destas instituições médicas privadas recebem ou receberam

recursos públicos para a implementação dos seus serviços, conforme aponta

Morais (2002) no quadro abaixo:

Tabela 1: Financiamento do BNDES para estabelecimentos de saúde privados

em Pernambuco (anos oitenta e noventa).

27 A Ilha do Leite é um bairro localizado na Região Político-Administrativa RPA 1 do Recife e se caracteriza pela expansão do polo médico e a de proximidade com comunidades pobres da cidade como dos Coelhos, Coque e Cabanga).

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Hospital Número do projeto

Ano da Obtenção

Casa de Saúde e Maternidade Joaquim Figueiredo 12520 1985 450558 1995

*Centro Médico de Urgência de Boa Viagem **Centro Ortop.de Garanhuns 7028 1982 Clin. Ortopédica de Acidentados 534035 1997 *Clinica de Urgência de Piedade Clinica Santa Cecília 47295 1995 Clínica Santa Lúcia 184890 1990 *Clínica Uniplástica do Recife HEMOPE 115512 1987 HOPE 18824 1986 Hospital Albert Sabin 273481 1986

Hospital de Olhos do Recife

256617 1992 338499 1993 498618 1996 517690 1997 570733 1998/1999

Hospital Geral de Urgência 251219 1992 **Hospital Geral de Vitória 11450 1984

** Hospital Memorial de Arcoverde 428278 1994 479415 1996

Hospital Mulher (UNIMED) 477110 1995 *Hospital Nelson Chaves * Hospital Português

Hospital Progresso (SEMEPE) 9448

298115 1995 *Hospital Santa Catarina (SEMEPE) Hospital Vitória Régia 179330 1990

*IGASE - Golden - Med (Inst. Geral de Assist Social Evangélico)

IMIP 559095 1998 656003 1999

Instituto de Neurocirurgia e Neurologia do Recife

10729 13558 1985

441390 1994 Instututo de Olhos do Recife 2720988 1992 * NEFROCLÍNICA Pediatras Associados 536685 1997 Pronto Clínica Oftalmológica 4284 1983 *Prontolinda PRONTO-RIM 559195 1997

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Santa Joana 355434 1994 São Lucas - Pronto Socorro Urológico 338497 1993

*Unicordis 1998 1999

UNIRIM 647340 1999 (1) Para os casos assinalados (*) estão disponíveis apenas os valores dos financiamentos,

não constando o número do projeto, tampouco o ano da obtenção. (2) Os duplamente assinalados (**) indica serviços localizados em cidades do interior do

Estado.

Um aspecto notório apresentado no grupo pelas assistentes sociais que atuam

em instituições gerenciadas por Organizações Sociais foi a proibição de

encaminhamentos dos usuários às ouvidorias ou a outras instâncias de controle

social, cerceando as possibilidades de dar visibilidade e resolução aos entraves

que os usuários vivenciam na negação dos direitos previstos pelo SUS, de

acordo com os princípios do Movimento de Reforma Sanitária. Ao invés de se

investir no controle social, o que se vê são ações que interrompem esse

processo e possibilitam um controle do usuário e dos trabalhadores por parte da

gestão. É o controle social às avessas.

Historicamente, a categoria controle social foi entendida apenas como controle do Estado ou do empresariado sob às massas. É nessa acepção que quase sempre o controle social é utilizado na Sociologia clássica, ou seja, no seu sentido coercitivo sobre a população. Entretanto, o sentido de controle social inscrito na Constituição, é o da participação da população na elaboração, implementação e fiscalização das políticas sociais (MENEZES: 2012, p.259).

Essas situações ocorrem por parte de gestores de instituições que atendem à

média complexidade, em particular das Unidades de Pronto-Atendimento –

UPAs, criadas em Pernambuco nesse novo modelo de gestão da saúde, com o

gerenciamento sendo realizado por organizações sociais.

Ainda como forma de controlar com maior eficácia as ações promovidas pelos

profissionais, a gestão de algumas UPAs tem restringido a elaboração de

materiais educativos pelo assistente social, solicitando que estes passem por

uma aprovação da organização social contratada para o gerenciamento das

unidades, com o discurso de que se faz necessário padronizar todo o material a

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ser divulgado pela instituição. No entanto, o objetivo real é o de facilitar a

fiscalização frente às ações realizadas.

A incorporação das UPAs na atenção à saúde em Pernambuco trouxe alguma

melhoria para a população, uma vez que anteriormente havia menos serviços

descentralizados e os que já existiam apresentavam várias lacunas, conforme

apontado anteriormente. Além da precariedade da atenção à saúde nessas

localidades os serviços da rede socioassistencial que poderiam servir de suporte

a uma melhoria das condições de vida da população atendida também

funcionavam de forma insatisfatória (quando funcionavam).

Esses problemas por sua vez não foram resolvidos e como forma de obter uma

melhor aprovação perante a população foram criadas as UPAs a fim de diminuir

as falhas já existentes. Porém, a lógica dessas Unidades é de atendimentos

emergenciais, de atendimento às demandas mais imediatas, sem o

aprofundamento dos determinantes que levaram o usuário ao adoecimento,

aprofundamento este possível a partir da ampliação dos serviços ambulatoriais

que não vem sendo priorizada nesse novo modelo de gerenciamento da saúde.

Outro aspecto preocupante em relação à criação de UPAs em Pernambuco diz

respeito às interferências políticas por parte dos gestores locais, já que o

processo de gestão incorporado foi o de administração por organizações de

saúde, com a possibilidade de contratação de funcionários indicados inclusive

pela administração da localidade, sem concurso público, com vínculos

fragilizados e, dessa forma, com dificuldades desses profissionais se oporem a

práticas inapropriadas. Assim, observa-se em algumas UPAs o medo dos

assistentes sociais em se manifestarem contrários às demandas inadequadas

encaminhadas ao Serviço Social e serem demitidos, mesmo eles concordando

com as indicações que estão postas nos Parâmetros.

Eu acho que o debate vai para a precarização do trabalho. Como eu estou inserida em uma UPA, então as minhas colegas, algumas delas, o que eu percebo na conversa é que: “isso aí é muito bonito, a escrita é muito bonita, mas nunca vai acontecer e se a gente for brigar, a gente vai ser demitida”. Essa questão do trabalho precarizado, de que se você for argumentar, você

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pode ser demitida a qualquer momento, então você vai pisando em ovos em tudo o que você for falar, em tudo o que você for fazer. Então, não é porque elas não achem que os Parâmetros estão certinhos, é que a gente queria fazer realmente o que está escrito ali, mas por precisar daquele vínculo acaba se submetendo a algumas questões que já estão impostas (Dália).

Outra demanda que é interpretada comumente pela gestão das instituições

como sendo do Serviço Social é a normatização dos usuários, a fim de ajustá-

lo, enquadrá-lo dentro do serviço, estabelecendo as regras e fiscalizando o seu

cumprimento, como vestuário adequado para transitar nas dependências da

instituição, organização dos acompanhantes que terão acesso às refeições,

fiscalização proibitiva de qualquer aproximação mais íntima por parte dos

usuários e acompanhantes, solicitação de silêncio aos usuários para a

manutenção da ordem e tranquilidade do serviço. Todas essas regras são

solicitadas a serem impostas ao usuário pelo assistente social, sem que haja

qualquer identificação dos determinantes das situações conflituosas. Muitas

vezes o usuário não segue as normas da instituição por falta de condições

econômicas, por incompatibilidade com a sua cultura, e até mesmo pela negação

dos seus direitos enquanto usuário do SUS pela própria instituição. Como

estratégia de se contrapor a essa atribuição que lhes é repassada, alguns

assistentes sociais têm utilizado espaços como reuniões de grupo que deveriam

servir para o repasse das normas e rotinas institucionais, para a discussão de

temas ligados à saúde e aos direitos.

Há instituições que demandam ao assistente social a responsabilidade de

autorizar a visita fora do horário regulamentar, sendo discutido com a gestão a

não atribuição do assistente social para realizar tal atividade, que passa a ser

desenvolvida pelos responsáveis pela portaria da instituição. Embora não se

traduza em uma atribuição do assistente social, verifica-se aí a oportunidade de

se quebrar as regras impostas pela instituição, identificando as dificuldades de

segui-las, favorecendo o acesso dos visitantes.

Frequentemente o assistente social é chamado para assumir um papel de

pessoa solidária ao sofrimento alheio, como representante da instituição, numa

perspectiva de caridade e assistencialismo. Ele é convocado a dar uma palavra

de consolo, a oferecer a ajuda, numa visão distorcida de humanização. É a

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imagem da instituição que necessita ser preservada ante as suas próprias falhas.

“Hoje em dia o que sempre vem da gestão: espera-se que o assistente social

seja a missão humanizadora da unidade, aquele profissional que vai fazer com

que o usuário não saia indignado da UPA” (Acácia).

O usuário também é encaminhado ao Serviço Social quando está descontrolado

emocionalmente, representando mais uma demanda inadequada ao referido

setor. O assistente social reencaminha este usuário ao setor de psicologia,

informando aos demais membros da equipe as suas competências e atribuições,

mas logo que aparece outra demanda semelhante, é realizado o mesmo tipo de

encaminhamento.

Também foi identificado no grupo focal que pacientes que apresentam certas

características socialmente conflituosas são encaminhados ao Serviço Social

antes mesmo de ser identificada qualquer demanda a ser atendida. São

considerados os “pacientes problemáticos”, a exemplo de dependentes químicos

e moradores de rua, já que eles não seguem a ordem e os bons costumes da

sociedade, pois esta mesma tratou de excluí-los. Muitas vezes são considerados

perigosos, criminalizando-os de forma preconceituosa. Normalmente esse

usuário necessita de uma intervenção social como encaminhamentos à rede

socioassistencial e de saúde, mas essas ações não precedem o atendimento

clínico pelo qual ele procurou a instituição.

A esse respeito Guerra (2010) aponta que a criminalização da pobreza, a

exemplo da identificação do pobre como perigoso, sujeito à repressão e extinção

é um fenômeno que se apresenta no contexto atual, desqualificando e afastando

o mesmo da sua condição de cidadão com direitos garantidos.

Uma demanda que é habitualmente encaminhada ao Serviço Social, segundo

relatos no grupo focal, relaciona-se aos óbitos ocorridos nas instituições. É

solicitado ao assistente social comunicar o falecimento do usuário à família,

tarefa esta que deveria ser realizada por toda a equipe, cabendo ao médico

assistente prestar todas as informações sobre a situação clínica do usuário antes

do seu falecimento e ao assistente social exclusivamente prestar orientações

sobre benefícios assistenciais (tais como serviços gratuitos de sepultamento

através da prefeitura do município) e previdenciários (como pensão por morte).

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Outra demanda ao Serviço Social relacionada aos óbitos nas instituições é a

liberação de uma guia de autorização de entrega dos corpos à funerária. Desta

forma, após o falecimento do usuário, a família é orientada a contratar um serviço

de funerária (público ou privado) para realizar o sepultamento. Quando a

funerária chega à instituição, ela é orientada a procurar o Serviço Social que,

após verificar a documentação apresentada lhe fornecerá uma autorização para

que ela receba do funcionário responsável o corpo a ser sepultado. Mais uma

vez a instituição, por não possuir um funcionário habilitado às demandas de

origem administrativa, designa essa função ao assistente social.

Uma reflexão pertinente na saúde hoje relaciona-se ao trabalho em equipe

multiprofissional. A maioria das ações realizadas atualmente é desenvolvida de

forma isolada, sem o aprofundamento das discussões a partir de uma interação

dos membros da equipe, através de reuniões ou visitas técnicas nas enfermarias

com todos os membros da equipe e com os usuários e seus acompanhantes.

As reuniões são realizadas na maioria das vezes com profissionais da mesma

profissão, não se discutindo os outros aspectos da vida do usuário para a tomada

de decisões sobre as estratégias de intervenção. As visitas ao leito são também,

na sua maioria, realizadas com uma só categoria profissional (normalmente pela

equipe médica) ou com algumas outras poucas, sendo ainda assim o diálogo

muito restrito. Os usuários são muitas vezes esquecidos nesse momento, não

havendo possibilidade de diálogo com o grupo que está lhe atendendo.

Algumas assistentes sociais que participaram do grupo focal informaram haver

um trabalho de equipe mais fortalecido nas enfermarias com projetos de

intervenção discutidos coletivamente, conforme apontado no item 3.2. Esse

espaço profissional permite um melhor entrosamento do grupo do que nos

serviços de emergência, já que nesse o atendimento se dá de maneira pontual,

não havendo tempo para um maior aprofundamento do atendimento.

Outro aspecto que interfere nas ações de equipe é a forma de contratação dos

profissionais como diaristas ou plantonistas. Observa-se a existência de uma

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fragmentação maior nas discussões entre as equipes quando estas são

formadas por plantonistas28.

Sobre esse assunto, Guerra assinala:

A descontinuidade no/do exercício profissional, já que muitos trabalham em regime de plantão, incentiva intervenções pontuais, de caráter eventual, visando respostas imediatas, sem continuidade. Essa descontinuidade não permite a apreensão do processo no qual o exercício profissional se realiza, limitando o conhecimento da totalidade dos elementos que constituem a situação(2010,p.721).

A interação que a equipe tem está relacionada também com as alianças políticas

presentes mais em uns setores do que em outros. Nos setores em que as

relações de poder são mais horizontalizadas, há uma maior possibilidade de uma

construção mais coletiva.

Em alguns serviços é respeitada a alta social do usuário, ou seja, mesmo o

usuário estando em condições de alta hospitalar do ponto de vista clínico, só é

dado alta ao mesmo se o assistente social confirmar essa possibilidade do ponto

de vista social. Essa decisão evidencia a importância que algumas equipes dão

ao trabalho desenvolvido pelo assistente social, mas não demonstra a interação

dos seus membros na tomada de decisão de forma coletiva.

Em algumas instituições, mesmo não havendo assistente social lotado em

alguns setores, são reconhecidas por parte do restante da equipe as atribuições

desse profissional. Assim, ele é chamado para a realização das intervenções

sociais sempre que for reconhecida pela equipe essa demanda, como nos casos

de violência contra crianças e adolescentes.

No entanto, essas intervenções ainda assim são fragmentadas, umas vez que

nem todas as demandas pertinentes ao assistente social chegarão até ele pela

falta de conhecimento técnico suficiente por parte do restante da equipe, como

28 O que acontece com frequência nos serviços de emergência.

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por exemplo, muitas vezes pode existir numa enfermaria uma situação de

possibilidade de acesso de um usuário a algum programa assistencial que um

médico ou enfermeiro desconhece e, desta forma, o assistente social não vai ser

chamado a intervir. Outro aspecto prejudicial nessa forma de atuação é que o

assistente social que não encontra-se vinculado permanentemente numa

enfermaria terá muito menos disponibilidade para o usuário procurá-lo quando

que necessitar da sua intervenção.

Nas UPAs existe uma tendência maior à fragmentação das ações em equipe,

não havendo uma ação conjunta entre as categorias profissionais, ocasionada

tanto pelas relações de poder estabelecidas, a exemplo de que é dado ao

enfermeiro, pelo cargo de gestão que lhe é proferido, a faculdade de opinar em

questões específicas das demais categorias profissionais, inclusive do Serviço

Social, indicando a estes o que eles podem ou não realizar de atividade dentro

da instituição, como também pela estrutura de contratação de plantão ser bem

maior, não existindo a identificação dos profissionais da equipe, além da

fragilidade do grupo de assistentes sociais não ter espaço de decisões coletivas,

conforme já indicado anteriormente. “Isso é teu, isso é meu...então cada um faz

o seu, cada um no seu quadrado (Dália).

Um ponto que aparece na pesquisa, mais especificamente relacionado à saúde

mental é que, apesar de todos os casos serem resolvidos em articulação com a

equipe, pela própria metodologia que a instituição propõe, há uma movimento

constante de negação da especificidade das profissões por parte de algumas

equipe, provocando distorções nos atendimentos. Configura-se uma estratégia

de construção de velhas práticas com nova roupagem como tendência de

adaptação à atual configuração da saúde, a exemplo da escassez de

profissionais, apontada anteriormente. Algumas equipes presentes na saúde

mental consideram o assistente social como um técnico de referência,

apresentando um discurso de promoção da interdisciplinaridade e retirando

deste a sua especificidade profissional. O modelo passado pela gestão é o de

que qualquer técnico de referência, inclusive o assistente social, pode realizar

todo tipo de atendimento de ordem psicológica e social. Existe uma tendência de

“psicologização” da prática, utilizando-se da tônica da subjetividade. “Em saúde

mental, você tem uma tônica forte nessa subjetividade, infelizmente, isso vem

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sendo um entrave, na minha opinião, aqui em Recife, a uma direção crítica da

profissão” (Violeta).

Assim, o assistente social que atua na saúde mental tem dificuldade que o

usuário chegue até ele para que seja realizada a sua intervenção de acordo com

a necessidade apresentada. “Então é o tempo inteiro a sedução para mudar de

rota, todo dia você tem que dizer que é uma assistente social” (Violeta).

Outro ponto que indica essa distorção das atribuições em algumas equipes de

saúde mental é a atividade de articulação da instituição com as políticas e os

movimentos sociais ser direcionada aos redutores de danos ou à gerência e não

ao assistente social. Essas articulações são realizadas a partir de uma política

do favor, pelo conhecimento pessoal do profissional, com um enfoque

clientelista. Assim, o usuário é inserido nas políticas e programas sociais, não

por uma questão de direito ao acesso a estas, mas porque determinado

profissional o ajudou a inserir-se.

Todas as assistentes sociais pesquisadas relataram o entendimento de que as

ações de caráter educativo perpassavam toda a prática profissional do Serviço

Social, sejam nas ações individuais ou coletivas, voltadas aos usuários ou aos

profissionais e estudantes, de Serviço Social e de outras categorias, embora os

Parâmetros descrevam essas ações uma por uma com o objetivo de facilitar o

seu entendimento.

Reconhecem também os limites de uma prática educativa nas instituições de

saúde, na conjuntura atual, com a realização de ações mais pontuais, sem o

aprofundamento de temáticas trazidas pelo usuário de acordo com o seu

interesse e necessidade, já que esses espaços não favorecem a ampliação

dessa dimensão numa intenção emancipatória.

Algumas assistentes sociais apontaram a possibilidade de uma melhor qualidade

de uma prática educativa nas enfermarias, a partir de ações coletivas, com a

participação de outros membros da equipe interprofissional do que nos outros

espaços onde as intervenções acontecem de forma individualizada. Nesses

grupos são discutidos temas trazidos pelos próprios usuários ou pela equipe, de

relevância para os participantes como estatuto da criança e do adolescente,

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violência contra a mulher, direitos do idoso, infecção hospitalar, acidentes

domésticos, entre outros.

Outra forma de desenvolvimento de práticas educativas apresentada foi a

utilização de vídeos educativos em sala de espera, possibilitando o repasse de

informações de interesse dos usuários. No entanto, de acordo com a tônica da

padronização das instituições gerenciadas por organizações sociais conforme já

descrito anteriormente, uma das assistentes sociais afirmou a proibição de

vídeos que não fossem indicados pela organização social contratada.

Em alguns serviços são realizadas práticas educativas com temáticas alusivas à

datas comemorativas do calendário estadual e/ou municipal, propiciando uma

reflexão e mobilização dos profissionais e usuários junto aos movimentos

sociais, a exemplo da mobilização no Dia da Mulher.

A dimensão de uma ação educativa através de atividades de grupos é distorcida

em alguns serviços, segundo o grupo pesquisado, mais especificamente na

saúde mental, negando-se a dimensão da reflexão e conscientização dos

usuários sobre a estrutura e conjuntura social, os determinantes da saúde, os

direitos legalmente garantidos aos usuários, a importância do controle social,

entre outros assuntos.

Outro ponto de questionamento é o trabalho de grupo, que em alguns serviços

é entendido como uma atividade lúdica, ou de inserção social, considerando-se

erroneamente que instalações de grupos operativos, oficinas de culinária e de

bijuterias são capazes de inserir o usuário dentro de um sistema que o exclui o

tempo todo, já que ele faz parte da superpopulação relativa.29Os assistentes

sociais são convocados a colaborar ou monitorar tais grupos pela gestão

considerá-los incentivadores da inserção social. Além do equívoco de que esses

cursos irão promover a inserção desses usuários, esses profissionais não

possuem necessariamente nenhuma aptidão técnica para o desempenho da

29 Trata-se de uma população excedente, formada por grupos amplos e heterogêneos – flutuante, latente, estagnada – que ultrapassa as necessidades médias da expansão do capital, tornando-se supérflua dentro da fábrica. É, pois, necessária à acumulação e ao desenvolvimento da riqueza no sistema capitalista (MARANHÃO, 2006).

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função solicitada. Dessa forma, o assistente social acaba deixando de executar

as atividades que lhe competem, trazendo prejuízos aos usuários por estes

ficarem sem a intervenção especializada para o qual esse profissional está

habilitado.

O grupo pesquisado também referiu a dificuldade realizar uma articulação com

os movimentos sociais existentes, pela priorização das instituições às ações

emergenciais. Ao sair da instituição para promover uma maior aproximação com

outras instâncias de interesse do usuário, a gestão da instituição entende que o

assistente social deixará o usuário desassistido naquele momento. O que

importa à instituição é ter o profissional lá dentro, gerando atendimento,

produzindo. Essa lógica contribui para o isolamento das ações, perdendo a

dimensão da integralidade destas.

A mobilização social é reconhecida pelas assistentes sociais pesquisadas como

a atividade mais difícil de ser realizada, pela desmobilização dos movimentos

sociais na conjuntura atual30, embora seja reconhecida como uma das principais

estratégias para se construir uma saúde nos moldes do que foi proposto pelo

Movimento de Reforma Sanitária.

O caminho da saída é o caminho mais difícil da gente hoje, porque a gente tem visto na história o que é organização Social, é o controle Social que tem garantido avanços na consolidação dos direitos. E eu entendo que a gente tem essa dificuldade de estar atuando porque o cenário também é de negação da mobilização e da organização social. A dificuldade da gente no hospital é reflexo de toda uma conjuntura macro social, da inflexão dos movimentos sociais, da não participação dos grupos sociais organizados (Magnólia).

Há uma referência de incentivo ao usuário na sua inserção junto aos movimentos

sociais e órgãos de controle social, como conselhos gestores e conselhos de

direitos através da realização de grupos, democratizando as informações

necessárias à participação deste nesses espaços.

30 Conforme já assinalado no capítulo 3.

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Ao ser discutida a atribuição das ouvidorias internas das instituições, esse setor

não foi identificado pelo grupo focal como espaço utilizado legitimamente como

controle social. Sabe-se que as respostas oferecidas pela ouvidoria se traduzem

muitas vezes em uma forma pacífica da instituição responder (ou não) às

inquietações dos usuários, sem problematizar e sem coletivizar as discussões,

não trazendo mudanças significativas para aquelas demandas referidas pelo

usuário.

Em estudo recente realizado no estado do Rio de Janeiro, Bravo e Menezes

(2012) ressaltam que um dos mecanismos para o enfraquecimento do controle

social por parte do governo tem sido o de incentivo da utilização de ouvidorias

para esse fim em substituição do espaço dos conselhos de saúde. Esse

mecanismo tem por finalidade possibilitar uma ilusão da participação (já que

esses espaços não são deliberativos), flexibilizar o controle democrático

existente e individualizar as questões.

Foi relatada ainda no grupo focal a participação de assistentes sociais em

espaços internos à instituição de organização social como Comissão Interna de

Prevenção de Acidentes – CIPA e conselho gestor. Nenhuma das assistentes

sociais participantes do grupo focal mencionou a participação de algum membro

do Serviço Social em movimentos sociais ou órgãos de controle social externo à

instituição, fato esse correspondente à dificuldade já apresentada anteriormente.

O que muitas vezes é apontado, de forma equivocada, como mobilização social

realizada pelas instituições são, na realidade, ações de encaminhamentos às

instituições de controle social ou instâncias jurídicas para a defesa do direito

negado a um usuário ou a um grupo reduzido. Essa atividade, embora

significativa, não se constitui mobilização social, conforme os moldes do

Movimento de Reforma Sanitária. Este indica uma luta coletiva em prol de um

segmento da população ou de toda a classe trabalhadora na garantia dos direitos

adquiridos legalmente e/ou na expansão desses direitos

Então, as saídas que a gente tem feito são essas que estão sendo apontadas, é uma mobilização institucionalizada, é uma mobilização pontual de agregar alguns usuários que estão reivindicando uma demanda pontual, resolveu aquilo ali morreu

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a mobilização. Eu acho que não é esse sentido da mobilização que a gente está defendendo no Parâmetro não. Também não acho que o caminho da judicialização também é alternativa. A judicialização é a busca de interesses particulares e não é [mobilização social], entendeu? Mas é o que a gente tem feito (Magnólia).

A participação dos assistentes sociais na gestão das instituições tem sido quase

nula ou nenhuma, já que as preocupações da gestão pública hoje nem sempre

consideram os interesses da classe trabalhadora, interesses estes indicados

como prioridade no Projeto Ético-Político do Serviço Social e referenciado nos

Parâmetros e isso tem provocado barreiras no diálogo com a gestão. Assim, o

assistente social não é chamado a contribuir no planejamento da instituição,

cabendo exclusivamente a este o cumprimento do que já foi determinado.

“Planejamento e gestão a gente nem chega junto, as reuniões são: coordenador

de enfermagem, financeiro, médico e coordenação geral. Serviço Social, não”

(assistente social 5 participante do grupo focal).

Em gestões anteriores havia certa abertura por parte de algumas instituições em

o Serviço Social apresentar proposições ou discutir sobre o planejamento dos

serviços, tendo voz também para se manifestar contrário a alguns aspectos sem

que fosse cerceada a sua fala.

Há uma demanda bem marcada, e um reconhecimento dos gestores da importância do SS na elaboração da política institucional, e essa participação do SS (e eu estou lá há 8 anos) a gente viu que ela ganhou uma importância diferenciada em dois momentos bem marcantes, uma quando o gestor era uma pessoa que acumulava o entendimento da importância da política daquele hospital na formação para o SUS e direcionava o planejamento das ações do SUS, marcadamente pelos referenciais da Reforma Sanitária, então nesta ocasião, a direção tinha no SS um importantíssimo aliado, capaz de estar acumulando a discussão crítica do problema da saúde, pontuando, aliado como um parceiro importante na reconstrução de um modelo assistencial, e a gente era muito constante. Então, o SS nessa época tinha uma agenda semanal com a direção. Já mais recentemente, com essa nova política que a gente está vivendo hoje no hospital, com privatização, de desconstrução, de desmembramento da universidade, a lógica mercantilista, a direção já não conhece a gente como um aliado de peso. Pelo contrário, agora, até por conta da greve, a participação mais ativa da gente na greve, e os posicionamentos da gente mais firmes e públicos, eles pensam que a gente vai tumultuar o projeto deles (Magnólia).

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Todas as assistentes sociais participantes do grupo focal mencionaram a

existência de sistematização da prática profissional do assistente social em seus

espaços de trabalho, mesmo que em algumas instituições essa atividade seja

realizada sem muito aprofundamento, através de relatórios técnicos. Há o

reconhecimento da relevância desta atividade por todas as equipes de Serviço

Social onde os membros do grupo focal atuam, pelo reconhecimento de que esta

traz elementos para a reflexão do fazer profissional e, consequentemente, uma

construção de novas estratégias de intervenção através da elaboração de ações

planejadas.

Apesar disto, em algumas instituições não há um planejamento das ações do

Serviço Social pela inexistência de tempo designado para a sua realização, já

que se observa a prioridade de ações de caráter emergencial por parte da

gestão, sendo solicitado ao assistente social que ele produza em larga escala,

em menos tempo, com o menor custo possível, como a nova configuração da

saúde aponta e sem que haja nenhuma problematização sobre esse assunto

nem o reordenamento adequado dessas ações.

A falta de planejamento dessas ações acarreta em mais precarização das

condições de trabalho, Em algumas instituições observa-se a existência de um

planejamento do serviço social, construído anualmente, que possibilita um

direcionamento das ações consonantes com o Projeto Ético-Político do Serviço

Social e com os Parâmetros, de forma mais organizada, dando mais

possibilidade de realização das ações estrategicamente pensadas.

No que se refere à formação profissional, todos os membros do grupo focal

informaram que não existia nenhum incentivo nem cobrança das gestões à

qualificação, ficando esta a depender do perfil de cada profissional ou da equipe

do Serviço Social. Apesar disto, foi observado que a maioria dos assistentes

sociais das instituições em que as assistentes sociais que participaram do grupo

focal atuam tem interesse na formação, sendo realizado um esforço individual e

coletivo para essa finalidade. A promoção e participação dos assistentes sociais

em congressos, seminários e outros eventos da categoria ou de temas

pertinentes à prática profissional, assim como a realização de cursos de pós-

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graduação e capacitação revelam essa importância. Em uma das instituições o

Serviço Social criou uma comissão de formação com o objetivo de estímulo à

atualização do assistente social, através da promoção e participação do Setor

em cursos viabilizados pela instituição, após intensa reivindicação do mesmo.

Então tem um pacto entre a gente interno de apoio e solidariedade para as colegas fazerem mestrado, fazer especialização, capacitação e inclusive se protegendo das dificuldades institucionais. Então o hospital não libera o ponto vamos assim dizer e a gente segura a onda, “fulaninha”, vá que a gente segura o seu Serviço (Magnólia).

Nos hospitais-escolas observa-se também um incremento de atividades ligadas

à formação dos discentes através de atividades dirigidas por assistentes sociais

ou profissionais de outras categorias como seminários, rodas de conversa, clube

de revista31, entre outros. A preocupação com a formação dos alunos se faz

presente pelos assistentes sociais, no entanto, embora todos os profissionais,

de diferentes categorias, reconheçam o assistente social como o profissional

mais habilitado para realizar as discussões de forma mais crítica, não há outra

vez estímulo institucional na qualidade dessa atividade, postura esta

contraditória a uma instituição de ensino.

Em relação à assessoria profissional, algumas assistentes sociais informaram

que o Serviço Social das instituições em que trabalham é assessorado por

professores ou por outros assistentes sociais por uma decisão da própria equipe,

acreditando na importância de um direcionamento das atividades por

profissionais especializados, que possam contribuir com o aperfeiçoamento da

prática. Vale salientar que não foi relatada nenhuma proposta nem incentivo por

parte das gestões dos serviços para essa atividade, com exceção do serviço de

saúde mental que oferece a assessoria por parte de um profissional de

Psicologia.

Uma das assistentes sociais informou que a sua equipe costuma dar uma

espécie de assessoria a outras instituições de mesmo perfil, não sendo relatado

31 Grupo formado com a finalidade de discutir artigos científicos sobre determinada área.

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porém, nenhuma programação para tal finalidade, nem discussões mais

aprofundadas, tratando-se de orientações mais pontuais. Em outras instituições

inexistem qualquer forma de assessoria.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo foi projetado procurando conhecer como vem acontecendo o

processo de implementação dos Parâmetros para a Atuação de Assistentes

Sociais na Política de Saúde, em Pernambuco, após dois anos da sua

elaboração, a partir da observação de alguns obstáculos que se apresentam no

cotidiano profissional, de ordem estrutural, conjuntural e do âmbito da categoria

de assistentes sociais que dificultam a sua implementação.

Ressalta-se aqui a relevância do referido documento que tem se constituído

como um instrumento norteador de uma prática comprometida com os interesses

da classe trabalhadora, conforme as indicações do Projeto Ético-Político do

Serviço Social, trazendo em seu conteúdo, construído coletivamente, elementos

fundamentais a serem seguidos.

Às observações do cotidiano profissional somaram-se às informações obtidas

através da realização de um grupo focal com a participação de assistentes

sociais que atuam em diferentes instituições de saúde de Pernambuco, de níveis

de complexidade distintos (média e alta complexidade), que trouxe elementos

significativos para que pudéssemos traçar algumas reflexões relevantes sobre o

assunto.

Os assistentes sociais que participaram do grupo focal conhecem os

Parâmetros, havendo alguns que contribuíram com o seu processo de

elaboração, e ressaltaram a sua relevância para o direcionamento da prática

profissional, sendo utilizados inclusive como instrumento de negociação perante

as instituições. Constatam, entretanto, uma dificuldade de implementar as

orientações contidas no mesmo em seus espaços sócio-ocupacionais. Essas

dificuldades variam em maior ou menor grau de acordo com o perfil da instituição

em que o assistente social encontra-se inserido.

Um dos aspectos mais presente em todo o estudo são as repercussões que as

novas investidas do capital têm trazido para a cena contemporânea, através da

privatização dos serviços públicos, do sucateamento das relações de trabalho,

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da mercantilização das políticas sociais, afetando diretamente o assistente

social, na sua condição de trabalhador que implementa as políticas sociais.

Na saúde tem sido observado um contexto semelhante ao de outras políticas

sociais, com particularidades que merecem atenção. Em todo o país e

notadamente em Pernambuco, além dos serviços públicos apresentarem-se

sucateados pela falta de investimento e enxugamento da máquina estatal, tendo

como objetivo a redução de gastos públicos (fato que vem sendo constatado em

todas as políticas públicas), o gerenciamento de instituições públicas de saúde

tem sido repassado ao setor privado.

Verifica-se um distanciamento cada vez maior da política de saúde na atualidade

com os princípios defendidos pelo Movimento de Reforma Sanitária, na década

de 1980 e legitimados através do Sistema Único de Saúde – SUS, como

universalidade, equidade, integralidade e participação social.

Segundo Soares (2010) a existência de três projetos em disputa na saúde - o

projeto privatista, voltado explicitamente ao mercado, o projeto da Reforma

Sanitária, voltado para atender aos interesses da população e o Projeto do SUS

possível, que aparece em cena mais recentemente e que possui fortes traços do

projeto filiado ao mercado -, com predominância desse último, tem rebatido tanto

nos profissionais como nos usuários da saúde. Os trabalhadores, inclusive os

assistente sociais, convivem atualmente com ausência de concursos públicos,

vínculos empregatícios frágeis, gerando instabilidade e falta de proteção social,

demandas excessivas pela redução/ não contratação de profissionais de acordo

com a demanda de usuários para o atendimento, entre outras dificuldades que,

em algumas situações, chegam a provocar o adoecimento dos mesmos.

Os usuários lidam constantemente com enormes filas para marcação de

consultas, alto tempo de espera para o atendimento, falta de medicamentos, falta

de profissional e/ou equipamentos necessários, não atendimento no serviço e

em outras instituições da rede, ocasionando, em algumas circunstâncias a piora

do estado de saúde.

Em relação às demandas encaminhadas ao Serviço Social, observa-se uma

prioridade nas de caráter assistencial e emergencial, seguindo a lógica da nova

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configuração da saúde. A imediaticidade é a tônica da prática profissional

solicitada pelas instituições, sem que seja possível o aprofundamento do

atendimento com um acompanhamento voltado aos determinantes da demanda

inicial, às reais necessidades dos usuários dos serviços.

Outro aspecto que aparece na atualidade é a primazia da forma de contratação

por sistema de plantões, não possibilitando a continuidade do atendimento de

forma adequada, dificultando o trabalho em equipe e fragilizando o grupo em

relação aos tensionamentos realizados em prol da melhoria da qualidade de

trabalho e de atendimento.

Constatou-se ainda que os assistentes sociais não possuem tempo de trabalho

voltado para a qualificação profissional, necessitando realizar estratégias

individuais e/ou coletivas para tal atividade, mesmo nas instituições que também

executam atividades na área de ensino. A investigação segue esse mesmo

caminho.

Foi identificado que a gestão das instituições não tem dado abertura para a

discussão do seu planejamento com o Serviço Social, como acontecia

anteriormente em algumas instituições que possuíam uma administração com

maior afinidade com o Projeto da Reforma Sanitária. O direcionamento das

ações do Serviço Social é realizado, sem que haja nenhum incentivo por parte

da instituição quanto a sua implementação.

A mobilização social é reconhecida como a ação de maior relevância pelo

assistente social, por se tratar de uma saída para a construção de uma nova

forma de sociabilidade, sendo também a mais difícil de ser realizada, pois requer

tempo, organização dos usuários e profissionais, tão pouco valorizado ou

negado nos últimos tempos.

Verifica-se assim que os assistentes sociais têm encontrado um terreno pouco

fértil para o desenvolvimento da sua prática profissional com o direcionamento

do Projeto Ético-Político hegemônico, apesar do esforço permanente, havendo

porém possibilidades a serem trilhadas nas contradições que o cotidiano coloca.

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100

Faz-se necessário buscar estratégias de fortalecimento do Projeto Ético-Político

e nesse cenário, a publicação dos Parâmetros constitui elemento importante

desse fortalecimento.

É estratégico construir mais espaços de discussão coletiva sobre essa prática

profissional e fortalecer os já existentes, como a Comissão de Seguridade do

CRESS.

A mobilização social precisa ser priorizada pelos assistentes sociais dentro dos

seus locais de trabalho e fora deles, como forma de intensificar a luta pela

garantia da implementação dos direitos já conquistados formalmente na saúde,

não perdendo a direção traçada em 1980 pelo Movimento de Reforma Sanitária.

Por fim, deve-se ter uma postura crítica e reflexiva sobre as situações adversas

que estão postas, procurando compreender os determinantes dessas situações,

tendo sempre uma visão histórico-processual da realidade, entendendo esta

dentro de uma totalidade. É fundamental o adensamento das construções

teóricas embasadas na teoria crítica que possam iluminar a prática profissional.

E esse trabalho se traduz em mais uma possibilidade dessa reflexão.

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ANEXO

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ROTEIRO DA PESQUISA: Avaliação do processo de implementação dos

Parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de saúde em

Pernambuco.

1. Vocês conhecem os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na

Política de Saúde?

2. Já leram os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política

de Saúde?

3. Já participaram de alguma reunião para a discussão dos Parâmetros para

Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde?

4. O que mais chama a atenção dos assistentes sociais que trabalham na

sua unidade nos Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de

Saúde?

5. Quais as principais demandas dos usuários ao assistente social que atua

na saúde em Pernambuco no contexto atual?

6. Quais as principais demandas institucionais ao assistente social que atua

na saúde em Pernambuco no contexto atual?

7. Dentre as atribuições e competências elencadas nos Parâmetros para

Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde, quais as ações que vocês

e seus pares executam e como elas vêm sendo implementadas, levando-se em

conta os seguintes tópicos:

o Ações socioassistenciais

o Ações de articulação com a equipe de saúde

o Ações socioeducativas

o Ações de mobilização, participação e controle social

o Ações de investigação planejamento e gestão

o Ações de assessoria, qualificação e formação profissional

8. Os assistentes sociais executam ações que não são reconhecidas como

atribuições da sua profissão? Por que as realizam?

9. Quais os fatores (internos e externos à instituição) que contribuem para a

implementação dos Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política

de Saúde?

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10. Quais os fatores (internos e externos à instituição) que dificultam a

implementação dos Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política

de Saúde?

11. A elaboração dos Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na

Política de Saúde tem contribuído para o desempenho das atribuições dos

participantes nas prática profissional?

12. Já foi conversado com a direção da Instituição em que vocês trabalham

sobre os Parâmetros?

Se não, por quê?

Se sim, qual o impacto desta ação?

13. Os principais pontos nos Parâmetros são hegemônicos entre os

assistentes sociais da Instituição em que vocês atuam?

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