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Avaliação do potencial de reabilitação de vãos
envidraçados para a promoção da eficiência energética e
conforto habitacional
Hugo Daniel Oliveira Reis
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Mecânica
Orientador: Prof. Paulo Manuel Cadete Ferrão
Júri
Presidente: Prof. Mário Manuel Gonçalves da Costa
Orientador: Prof. Paulo Manuel Cadete Ferrão
Vogal: Prof. António Luís Nobre Moreira
Outubro 2014
i
Agradecimentos
Em primeiro, gostaria de agradecer ao Professor Doutor Paulo Ferrão, pela oportunidade de realizar
esta tese em área de interesse pessoal e pela sua orientação, que foi fundamental para levar este
projecto a bom porto.
Em segundo, um agradecimento especial ao Doutor Armando Pinto, pela sua constante disponibilidade
e pelo seu incansável apoio e motivação, sem os quais esta dissertação não teria sido possível.
Quero agradecer ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil pelo acesso às instalações e pelo
equipamento disponibilizado para a realização dos ensaios experimentais. De igual modo a todas as
pessoas do LNEC que, de alguma forma, me apoiaram durante a realização dos ensaios,
nomeadamente, ao Carlos Saldanha, ao José Martins e à Professora Alexandra Costa, pelo
fornecimento de dados meteorológicos.
Aos meus amigos, pelo seu apoio e momentos de convívio ao longo de todos os anos de universidade.
Sem eles, chegar aqui teria sido ainda mais difícil. Em especial atenção, ao Eduardo Garcia.
À minha companheira e namorada, Ana Cláudia Castanheiro, pela sua dedicação, enorme paciência e
apoio, mas acima de tudo pelo seu amor, obrigado Ana! Por ambos estarmos na recta final dos nossos
cursos, a motivação foi mútua e constante.
Por fim, quero agradecer à minha família, principalmente, aos meus pais pelo seu apoio e incontestável
carinho ao longo de todos estes anos, e em particular, nesta fase final. Agradeço ainda ao meu irmão
pela sua ajuda, conselhos e opiniões que, por mais que eu tivesse inicialmente discordado,
revelaram-se úteis.
Sem vocês, nada disto teria sido possível.
Obrigado!
ii
Resumo
Dado o gradual envelhecimento do parque habitacional português e o aumento das necessidades de
climatização das habitações, é necessário ponderar casos de reabilitação, em particular, dos vãos
envidraçados. Os principais métodos de análise energética de edifícios existentes no mercado actual
(REH e EnergyPlus) apresentam limitações para a sua aplicação expedita. Este trabalho concentra-se
pois no desenvolvimento de um método simplificado (com menos inputs) mas rigoroso que permita
avaliar o potencial de reabilitação de vãos envidraçados, e na sua aplicação em ferramenta Excel criada
para o efeito. A ferramenta desenvolvida requer somente a introdução dos principais elementos
caracterizadores da habitação e dos envidraçados, o que a torna mais acessível. Uma análise de
sensibilidade permitiu identificar e avaliar os parâmetros mais relevantes ao seu desenvolvimento, bem
como as simplificações consideradas ou inerentes ao método regulamentar (REH).
O método Simplificado foi aplicado a dois casos de estudo em Lisboa, obtendo-se desvios médios em
comparação com o REH de 12% para as necessidades energéticas e de 16% para as temperaturas
médias interiores. Por sua vez, o método quando comparado com o EnergyPlus revelou desvios na
ordem dos 15% para as necessidades energéticas e de 5% para as temperaturas médias interiores.
Nos casos de estudo verificou-se uma melhoria da eficiência energética de climatização em 24% e um
período longo de retorno económico estimado (superior a 25 anos). Registaram-se igualmente
melhorias significativas no conforto habitacional, quantificadas em termos de conforto térmico, acústico
e de qualidade do ar, numa perspetiva holística da reabilitação de vãos envidraçados.
Palavras-Chave: Vãos envidraçados; Reabilitação; Eficiência Energética; Conforto Habitacional;
REH; EnergyPlus
iii
Abstract
Due to the continuous aging of Portuguese households and the increasing needs of heating/cooling
systems, it is necessary to take into consideration rehabilitation projects, namely, of glazing systems.
The principal methods of energy analysis of buildings available in today’s market (REH and EnergyPlus)
have limitations for its expeditious implementation. This work thus focuses on developing a simplified
method (with less inputs), but yet rigorous to assess the potential of rehabilitation of windows, as well
as creating an Excel calculation tool for its application. The developed application only requires the
inputs of the main characteristic features of the apartment and of the glazing systems. An initial
sensitivity analysis allowed to identify and evaluate the most relevant parameters for its development as
well as the simplifications considered or inherent to the regulatory method (REH).
When applied to two case studies in Lisbon, this Simplified method revealed mean differences of 12%
and 16% for heating/cooling energy needs and for average indoor temperature, respectively, in
comparison with the REH method. On the other hand, when comparing with EnergyPlus, the Simplified
method showed mean differences of 15% for heating/cooling energy needs and of 5% for average indoor
temperature. The rehabilitation of the glazing systems resulted in an improvement of energy efficiency
in the residential HVAC of about 24%, despite large payback periods (above 25 years). However, in
addition, the residential comfort also registered significant improvements, quantified in terms of thermal
comfort, acoustics and air quality, in a holistic approach of the rehabilitation of glazed areas.
Keywords: Glazing Systems; Rehabilitation; Energy Efficiency; Household Comfort; REH;
EnergyPlus
iv
Índice
Agradecimentos .........................................................................................................................................i
Resumo .................................................................................................................................................... ii
Abstract.................................................................................................................................................... iii
Índice ....................................................................................................................................................... iv
Lista de Figuras ...................................................................................................................................... vii
Lista de Tabelas ...................................................................................................................................... ix
Lista de Acrónimos ................................................................................................................................. xii
Lista de Variáveis .................................................................................................................................. xiii
Introdução
1.1 Enquadramento ....................................................................................................................... 1
1.2 Reabilitação ............................................................................................................................. 4
1.3 Métodos de Análise Energética ............................................................................................... 5
1.4 Motivação ................................................................................................................................ 5
1.5 Objectivos ................................................................................................................................ 6
1.6 Estrutura .................................................................................................................................. 6
Conceitos Teóricos e Metodologia
2.1 Métodos Detalhados ................................................................................................................ 8
2.1.1 Legislação - REH ................................................................................................................. 8
2.1.2 EnergyPlus .......................................................................................................................... 8
2.1.3 Outros Métodos Existentes ................................................................................................. 9
2.2 Conforto Habitacional ............................................................................................................ 10
2.2.1 Conforto Térmico ............................................................................................................... 10
2.2.2 Qualidade do Ar Interior .................................................................................................... 12
2.2.3 Conforto Visual .................................................................................................................. 12
2.2.4 Conforto Acústico .............................................................................................................. 13
2.3 Transmissão de Calor e Massa ............................................................................................. 13
2.3.1 Mecanismos de Transmissão de Calor ............................................................................. 13
2.3.2 Trocas de Calor na Envolvente e nos Vãos Envidraçados ............................................... 16
2.4 Necessidades Energéticas .................................................................................................... 17
2.4.1 Estação de Aquecimento ................................................................................................... 17
v
2.4.2 Estação de Arrefecimento ................................................................................................. 18
2.5 Metodologia ........................................................................................................................... 19
Método Simplificado
3.1 Introdução .............................................................................................................................. 20
3.2 Análise de Sensibilidade ....................................................................................................... 21
3.3 Estrutura do Método Simplificado.......................................................................................... 31
3.3.1 Inputs da Ferramenta ........................................................................................................ 32
3.3.2 Outputs da Ferramenta ..................................................................................................... 33
3.3.3 Considerações e Equações Utilizadas .............................................................................. 33
3.3.4 Análise Económica ............................................................................................................ 34
3.3.5 Análise Acústica ................................................................................................................ 36
3.3.6 Análise Ambiental .............................................................................................................. 37
Casos de Estudo
4.1 Introdução .............................................................................................................................. 40
4.2 Caso de Estudo 1: Apartamento num Edifício Multifamiliar .................................................. 40
4.2.1 Descrição da Habitação .................................................................................................... 40
4.2.2 Ensaios de Permeabilidade ao Ar ..................................................................................... 43
4.3 Caso de Estudo 2: Apartamento num Edifício Multifamiliar com Reabilitação dos Vãos
Envidraçados ..................................................................................................................................... 47
4.3.1 Descrição da Habitação .................................................................................................... 47
4.3.2 Ensaios de Permeabilidade ao Ar ..................................................................................... 49
Resultados e Discussão
5.1 Ensaios Experimentais .......................................................................................................... 55
5.1.1 Ensaios de Permeabilidade ao Ar ..................................................................................... 55
5.1.2 Perfís de Temperaturas Experimentais ............................................................................. 56
5.2 Avaliação do EnergyPlus ....................................................................................................... 59
5.2.1 Análise por EnergyPlus ..................................................................................................... 59
5.3 Resultados Finais .................................................................................................................. 62
5.3.1 Resultados Energéticos ..................................................................................................... 62
5.3.2 Resultados de Reabilitação e Discussão .......................................................................... 70
5.4 Retorno Económico e Social ................................................................................................. 72
vi
Conclusões e Trabalhos Futuros
6.1 Método Simplificado .............................................................................................................. 74
6.2 Resultados Experimentais ..................................................................................................... 75
6.3 Trabalhos Futuros ................................................................................................................. 76
Anexo A - Interface das Folhas de Cálculo do Método Simplificado................................................77
Anexo B - Impacto da Radiação Solar na Envolvente Opaca ......................................................... 84
Anexo C - Ensaios de Pressurização ................................................................................................ 90
Anexo D - Incerteza Experimental de Ensaios de Temperatura........................................................93
Anexo E - Cálculo do Coeficiente U Em Janelas................................................................................94
Referências .......................................................................................................................................... 96
vii
Lista de Figuras
Figura 1.1 - Energia acumulativa relacionada com as emissões de CO2 e “Carbon budget” para 2ºC [4].
................................................................................................................................................................. 2
Figura 1.2 - Consumo final total por sector, para 1971 (4.3 Gtep) e 2010 (8.7 Gtep). Dados retirados de
IEA [5]. ..................................................................................................................................................... 2
Figura 1.3 - Distribuição por país do consumo energético final no sector residencial face ao total EU-
27. Dados retirados de [7]. ...................................................................................................................... 3
Figura 2.1 - Representação esquemática de um vão envidraçado com as várias formas de transmissão
de calor. Adaptado de [27]. ................................................................................................................... 17
Figura 3.1 - Necessidades energéticas normalizadas à situação média de FF de 0.6 para o método
REH em função do valor de FF para três geometrias diferentes: a) resultados de necessidades de
aquecimento; e b) resultados de necessidades de arrefecimento. ....................................................... 23
Figura 4.1 - Planta da habitação 1, localizada na zona de Alvalade, Lisboa. ....................................... 42
Figura 4.2 - Resultados do ensaio de pressurização à envolvente do apartamento 1. ........................ 43
Figura 4.3 - Resultados do ensaio de pressurização à conduta de exaustão (perda de carga) do
apartamento 1. ...................................................................................................................................... 44
Figura 4.4 - Estimativa de permeabilidade ao ar das janelas ensaiadas do Caso de Estudo 1. As linhas
a tracejado no gráfico indicam os limites máximos para cada classe correspondente (EN 12207, 1999).
............................................................................................................................................................... 45
Figura 4.5 - Estimativa de permeabilidade ao ar das caixas de estore das janelas ensaiadas do
apartamento 1. ...................................................................................................................................... 46
Figura 4.6 - Planta da habitação 2, localizada no bairro da Boavista, Lisboa. ..................................... 48
Figura 4.7 - Resultados do ensaio de pressurização à envolvente do apartamento 2, caso inicial. .... 49
Figura 4.8 - Resultados médios dos ensaios de pressurização (pressão e depressão) às condutas de
admissão e exaustão do apartamento 2 para cada conduta e com respectiva curva característica). . 50
Figura 4.9 - Estimativa de permeabilidade ao ar das janelas ensaiadas do apartamento 2. As linhas a
tracejado no gráfico indicam os limites máximos para cada classe correspondente (EN 12207, 1999).
............................................................................................................................................................... 51
Figura 4.10 - Estimativa de permeabilidade ao ar das caixas de estore das janelas ensaiadas do
apartamento 2. ...................................................................................................................................... 52
Figura 4.11 - Resultados do ensaio de pressurização à envolvente do apartamento 2 para o caso
reabilitado. ............................................................................................................................................. 53
Figura 5.1 - Perfil de temperaturas para o Caso A, amostra de 13 dias. .............................................. 57
Figura 5.2 - Perfil de temperaturas para o Caso B, amostra de 32 dias. .............................................. 57
Figura 5.3 - Perfil de temperaturas diário para o Caso A, amostra de 13 dias. .................................... 58
Figura 5.4 - Perfil de temperaturas diário para o Caso B, amostra de 13 dias. .................................... 58
Figura 5.5 - a) desenho tridimensional do apartamento do Caso de Estudo 2 utilizado no EnergyPlus
viii
(esquerda), e b) desenho que inclui a orientação e o sombreamento existente de edifícios vizinhos
(direita)................................................................................................................................................... 60
Figura 5.6 - Resultados de simulação térmica utilizando o EnergyPlus, para as condições amostrais do
Caso A. .................................................................................................................................................. 60
Figura 5.7 - Resultados de simulação térmica utilizando o EnergyPlus, para as condições amostrais do
Caso B. .................................................................................................................................................. 61
Figura 5.8 - Variação de fluxo de calor por área de janela, em função da velocidade do vento e da
temperatura através de simulações por EnergyPlus: i) janela com coeficiente U de 5.8 W.m-2.ºC-1, e ii)
janela com coeficiente U de 2.6 W.m-2.ºC-1. .......................................................................................... 66
Figura A.1 - Interface gráfica total da primeira folha de cálculo do método Simplificado. .................... 77
Figura A.2 - Interface gráfica da primeira folha de cálculo do método Simplificado, parte 1. ............... 78
Figura A.3 - Interface gráfica da primeira folha de cálculo do método Simplificado, parte 2. ............... 79
Figura A.4 - Interface gráfica total da segunda folha de cálculo do método Simplificado. ................... 80
Figura A.5 - Interface gráfica da segunda folha de cálculo do método Simplificado, parte 1. .............. 81
Figura A.6 - Interface gráfica da segunda folha de cálculo do método Simplificado, parte 2. .............. 82
Figura A.7 - Interface gráfica da terceira folha de cálculo do método Simplificado. ............................. 83
Figura B.1 - Análogo de resistências de uma parede bidimensional. ................................................... 86
Figura B.2 - Simulação dinâmica da temperatura superficial exterior de uma parede orientada a sul e
radiação incidente para o mês de Janeiro, segundo o EnergyPlus. ..................................................... 87
Figura B.3 - Simulação dinâmica da temperatura superficial exterior de uma parede orientada a sul e
radiação incidente mensal, segundo o EnergyPlus. ............................................................................. 88
Figura B.4 - Simulação dinâmica da temperatura superficial exterior de uma parede orientada a norte e
radiação incidente mensal, segundo o EnergyPlus. ............................................................................. 88
Figura B.5 - Simulação dinâmica da temperatura superficial exterior de uma cobertura e radiação
incidente mensal, segundo o EnergyPlus. ............................................................................................ 88
Figura C.1 - Material utilizado nos ensaios de pressurização: a) Caixilharia em alumínio ajustável, b)
tecido estanque, c) ventilador centrifugo e controlador (Minneapolis Blower Door Model 4/230V), d)
tecido estanque para o ventilador, e) databox de pressão (box de aquisição de dados), f) computador,
g) tubos de leitura de pressão, h) sensor de temperatura, i) sistema da porta ventiladora totalmente
montado in situ. ..................................................................................................................................... 92
Figura D.1 - Ensaio de incerteza a sete sensores de temperatura. ...................................................... 93
ix
Lista de Tabelas
Tabela 2.1 - Índices de conforto térmico. Retirado de [19]. .................................................................. 11
Tabela 3.1 - Resultados mínimos e máximos de necessidades energéticas e temperaturas médias
interiores em relação à situação média de FF de 0.6 para a gama de valores de FF entre 0.05 e 1.14,
segundo os métodos detalhados. ......................................................................................................... 23
Tabela 3.2 - Resultados das necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média do Modelo Base para todas as combinações de zonas climáticas, segundo os métodos
detalhados. ............................................................................................................................................ 24
Tabela 3.3 - Resultados das necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média do Modelo Base para a inércia térmica, segundo o REH. ........................................... 24
Tabela 3.4 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média de radiação solar para duas combinações de orientação, segundo o REH. ............... 25
Tabela 3.5 - Características das três soluções construtivas consideradas para o parâmetro da
envolvente opaca. ................................................................................................................................. 26
Tabela 3.6 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média do Modelo Base para a envolvente opaca segundo, os dois métodos detalhados..... 27
Tabela 3.7 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média do Modelo Base para as diferentes áreas de janelas, segundo os dois métodos
detalhados. ............................................................................................................................................ 27
Tabela 3.8 - Características dos vãos envidraçados considerados. ..................................................... 28
Tabela 3.9 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média do Modelo Base (vão envidraçado 3) para os diferentes vãos, segundo os dois métodos
detalhados. ............................................................................................................................................ 28
Tabela 3.10 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média do Modelo Base para a taxa de renovação do ar, segundo os dois métodos detalhados
em estudo. ............................................................................................................................................. 29
Tabela 3.11 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média do Modelo Base para o sombreamento, segundo os dois métodos detalhados. ........ 30
Tabela 3.12 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à
situação média do Modelo Base para os ganhos internos, segundo os dois métodos detalhados. .... 30
Tabela 3.13 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores do Modelo
Base, para os dois métodos detalhados. .............................................................................................. 31
Tabela 3.14 - Avaliação do impacto ambiental de janelas para 50 anos. Dados retirados de Pinto [19].
............................................................................................................................................................... 38
Tabela 4.1– Dimensões principais do apartamento 1 em estudo. ........................................................ 41
Tabela 4.2 - Dimensões das janelas do apartamento 1. ....................................................................... 41
Tabela 4.3 - Coeficientes de transmissão térmica global dos diferentes elementos do apartamento 1 em
estudo. ................................................................................................................................................... 42
x
Tabela 4.4 - Parâmetros de caracterização da permeabilidade ao ar da envolvente do apartamento 1.
............................................................................................................................................................... 44
Tabela 4.5 - Características das caixas de estore das janelas ensaiadas do apartamento 1. ............. 46
Tabela 4.6 - Dimensões principais do apartamento 2 em estudo. ........................................................ 47
Tabela 4.7 - Dimensões das janelas do apartamento 2. ....................................................................... 47
Tabela 4.8 - Coeficiente de transmissão térmica global dos diferentes elementos do apartamento 2 em
estudo. ................................................................................................................................................... 48
Tabela 4.9 - Parâmetros de caracterização da permeabilidade ao ar da envolvente do apartamento 2,
caso inicial. ............................................................................................................................................ 50
Tabela 4.10 - Características das condutas existentes no apartamento 2. .......................................... 51
Tabela 4.11 - Características das caixas de estore das janelas ensaiadas do apartamento 2. ........... 52
Tabela 4.12 - Parâmetros de caracterização da permeabilidade ao ar da envolvente do apartamento 2
para o caso reabilitado. ......................................................................................................................... 53
Tabela 5.1 - Resultados n50 e renovação do ar (Rph) para o Caso de Estudo 2, pré e pós-reabilitação,
para os ensaios experimentais e estimativas pelo REH. ...................................................................... 55
Tabela 5.2 - Temperatura exterior e interior para dois pares de dias com condições atmosféricas
idênticas................................................................................................................................................. 59
Tabela 5.3 - Resultados estatísticos de temperaturas interiores simuladas e reais para as duas
amostragens. ......................................................................................................................................... 61
Tabela 5.4 - Necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para o Caso de Estudo 1,
segundo os três métodos: o REH, o EnergyPlus e o método Simplificado. ......................................... 62
Tabela 5.5 - Necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para o Caso de Estudo 1 para
uma situação reabilitada, segundo os três métodos: o REH, o EnergyPlus e o método Simplificado. 63
Tabela 5.6 - Necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para o Caso de Estudo 2,
situação inicial, segundo os três métodos: o REH, o EnergyPlus e o método Simplificado. ................ 63
Tabela 5.7 - Necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para o Caso de Estudo 2,
situação reabilitada, segundo os três métodos: o REH, o EnergyPlus e o método Simplificado. ........ 63
Tabela 5.8 - Comparação de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para os dois
casos de estudo, pré e pós-reabilitação, segundo dois métodos: Simplificado e REH. ....................... 64
Tabela 5.9 - Comparação de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para os dois
casos de estudo, pré e pós-reabilitação, segundo dois métodos: Simplificado e EnergyPlus. ............ 64
Tabela 5.10 - Variação das necessidades de aquecimento para as duas situações de estudo, pré e pós-
reabilitação, segundo os três métodos: Simplificado, REH e EnergyPlus. ........................................... 68
Tabela 5.11 - Variação das necessidades de arrefecimento para as duas situações de estudo, pré e
pós-reabilitação, segundo os três métodos: Simplificado, REH e EnergyPlus. .................................... 69
Tabela 5.12 - Variação das temperaturas médias interiores para as duas situações de estudo, pré e
pós-reabilitação, segundo os três métodos: Simplificado, REH e EnergyPlus. .................................... 69
Tabela 5.13 - Resultados finais energéticos e económicos, segundo o método Simplificado, para a
reabilitação dos vãos envidraçados do Caso de Estudo 1. .................................................................. 70
Tabela 5.14 - Resultados finais energéticos e económicos, segundo o método Simplificado, para a
xi
reabilitação dos vãos envidraçados do Caso de Estudo 2. .................................................................. 71
Tabela 5.15 - Poupança energética e mão-de-obra associada à reabilitação dos vãos envidraçados
para os Casos de Estudo 1 e 2. ............................................................................................................ 72
Tabela 5.16 - Distribuição média das componentes de uma empresa especializada em reabilitação de
vãos envidraçados ................................................................................................................................. 73
Tabela B.1 - Temperaturas médias exteriores de Inverno e Verão e Graus-Dias do Modelo Base,
segundo os dois métodos detalhados. .................................................................................................. 84
Tabela B.2 - Necessidades energéticas para casos simples segundo dois métodos detalhados. ...... 85
Tabela B.3 - Necessidades energéticas de aquecimento para a envolvente opaca com e sem efeito da
radiação solar para o método EnergyPlus. ........................................................................................... 89
xii
Lista de Acrónimos
ACV Análise do Ciclo de Vida
ADENE Agência para a Energia
ASHRAE American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers
BLAST Building Loads Analysis and System Thermodynamics
CEN European Committee for Standardization
DOE-2 Designing Factorial Experiments
ENU Espaço Não Útil
EPBD Energy Performance of Buildings Directive
EU-27 Primeiros 27 países da União Europeia
GEE Gases de Efeito de Estufa
HVAC Heating, Ventilating and Air Conditioning
IDF Input Data File
IEA International Energy Agency
INE Instituto Nacional de Estatística
LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
PMV Predicted Mean Vote
PNAEE Plano Nacional de Ação para as Eficiências Energéticas
PPD Predicted Percentage Dissatisfied Index
PVC Policloreto de Vinila
RCCTE Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios
RECS Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Comércio e Serviços
REH Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação
RRAE Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios
TARP Thermal Analysis Research Program
xiii
Lista de Variáveis
Variável Descrição Unidades
Aenv,ext Área da envolvente em contacto com o exterior
m2
Aext
Área exterior m2
Apav
Área de pavimento útil da habitação m2
Avão Área de vão envidraçado m2
btr Coeficiente de redução de perdas de espaços não úteis -
CE
Custo médio de exploração €
Cexp Custo de exploração
€
Cinv Custo de investimento €
COP Coeficiente de desempenho -
Cs
Coeficiente de escoamento m3.h-1.Pa-n
D2m,n Isolamento sonoro a sons aéreos dB
D2m,nT,w
Isolamento sonoro a sons aéreos da fachada padronizado dB
E
Redução energética kWh
FF Factor de forma m-1
Fg Fracção envidraçada -
G Radiação média incidente kWh.m-2.ano-1
GD Graus-dias ºC.dia-1
Gint Ganhos internos W.m-2
Gnorte Radiação média incidente para a orientação Norte kWh.m-2.ano-1
Gsul Radiação média incidente para a orientação Sul kWh.m-2.ano-1
gvi Factor solar do vidro -
h Coeficiente de transferência de calor por convecção W.m-2.ºC-1
hc Coeficiente de transmissão térmica por condução e convecção W.m-2.ºC-1
Hr Coeficiente de transmissão térmica por radiação W.m-2.ºC-1
Htr Coeficiente global de transferência de calor por transmissão W.ºC-1
Hve Coeficiente global de transferência de calor por ventilação W.ºC-1
k Conductividade térmica w.m-1.k-1
L Comprimento m
L2 Nível médio de pressão sonora medido no local de recepção m
n Expoente de escoamento -
n50 Taxa de renovação do ar medido a uma diferença de pressão de
50 Pa
h-1
xiv
Nic Necessidades nominais de aquecimento anuais kWh.m-2.ano-1
Nvc Necessidades nominais de arrefecimento anuais kWh.m-2.ano-1
P Pressão Pa
ΔP Diferença de pressão Pa
PR Período de retorno anos
Q Caudal de ar m3.h-1
q’’ Fluxo de calor por unidade de área W.m-2
Qg,v Ganhos térmicos brutos na estação de arrefecimento kWh
Qgu Ganhos térmicos úteis na estação de aquecimento kWh
Qtr Transferência de calor por transmissão na estação de
aquecimento através da envolvente dos edifícios
kWh
qv Caudal de ar que atravessa uma janela m3.h-1
Qve Transferência de calor por ventilação na estação de aquecimento kWh
r Taxa de rentabilidade de projecto %
Rj Resistência térmica da camada j m2.ºC.W-1
Rph Taxa de renovação de ar h-1
Rse Resistência térmica superficial exterior m2.ºC.W-1
Rsi Resistência térmica superficial interior m2.ºC.W-1
Rtotal Índice de redução sonora total de uma fachada dB
Rw,i Índice de isolamento sonoro do elemento i dB
Rwall Resistência térmica da parede w m2.ºC.W-1
Ss Área da fachada s m2
Si Área do elemento i da fachada m2
T Temperatura ºC
T0 Tempo de reverberação de referência s
ΔT Diferença de temperatura ºC
T∞ Temperatura de fluido ou de vizinhança ºC
Text Temperatura exterior ºC
Tint Temperatura interior ºC
Tint,ref Temperatura interior de conforto ºC
Tmi Temperatura média interior ºC
Tmi,inv Temperatura média interior no Inverno ºC
Tmi,ver Temperatura média interior no Verão ºC
Ts Temperatura na superfície ºC
Tse Temperatura da superfície exterior ºC
xv
Tsi Temperatura da superfície interior ºC
U Coeficiente de transferência térmica global W.m-2.ºC-1
Uw Coeficiente de transmissão térmica da janela W.m-2.ºC-1
Uwdn Coeficiente de transmissão térmica médio dia-noite da janela W.m-2.ºC-1
V Volume m3
v Velocidade do vento m.s-1
VAL Valor actual líquido €
W Coeficiente utilizado para a classificação das janelas -
ε Emissividade -
η Rendimento do sistema de climatização %
ηv Factor de utilização dos ganhos térmicos na estação de
arrefecimento
%
θENU Temperatura de espaço não útil ºC
θext Temperatura exterior ºC
θint Temperatura interior ºC
σ Constante de Stefan-Boltzmann W.m-2.K-4
Ԏ Factor de externalidade -
1
1.1 Enquadramento ....................................................................................................................... 1
1.2 Reabilitação ............................................................................................................................. 4
1.3 Métodos de Análise Energética ............................................................................................... 5
1.4 Motivação ................................................................................................................................ 5
1.5 Objectivos ................................................................................................................................ 6
1.6 Estrutura .................................................................................................................................. 6
Introdução
1
1.1 Enquadramento
O constante aumento das necessidades energéticas globais é uma realidade cada vez mais presente
em qualquer sociedade moderna, onde a melhoria do bem-estar das populações se traduz em
crescentes exigências energéticas. O uso eficiente e sustentável da energia surge assim como uma
das maiores preocupações nos países desenvolvidos, uma vez que a contenção e redução dos
recursos a utilizar no dia-a-dia não vão ao encontro do padrão de vida já atingido pela sociedade.
O consumo de energia primária a nível global tem vindo a aumentar ao longo das últimas décadas.
Segundo dados fornecidos pela International Energy Agency (IEA), desde 1971 até 2011, o consumo
de energia primária mundial cresceu de 6.1 Gtep para 13.1 Gtep [1], estimando-se um consumo de
cerca de 17.4 Gtep até 2030, com um crescimento anual de 1.2% [2]. A produção de energia advém
principalmente do uso de combustíveis fósseis, como é o caso do petróleo, carvão e gás natural, que,
em 2011 representaram 81.6% da energia mundial produzida [1].
Actualmente, sabe-se que o recurso intensivo aos combustíveis fósseis tem originado graves
problemas ambientais, nomeadamente, concentrações alarmantes nas emissões de gases de efeito de
estufa (GEE), como é o caso do dióxido de carbono, CO2. O aumento das emissões de GEE representa
a causa base das alterações climáticas, promovendo o aquecimento global do planeta. A emissão de
poluentes pode comprometer os elementos básicos da sobrevivência humana, tal como o acesso a
água potável, a produção de alimentos, a saúde pública, o uso e organização dos terrenos, e ainda o
capital físico e natural. É de extrema importância reduzir os custos económicos, sociais e ambientais
provocados até aqui, sendo necessária a implementação de políticas eficientes e com pegadas de
carbono inferiores, bem como a orientação dos países para trajectórias mais conscientes em relação
às alterações climáticas globais.
Numa tentativa de controlo destes problemas, surgiram estratégias como o protocolo de Quioto em
1997, em que os diferentes Estados signatários se comprometeram, em conjunto e durante o período
2008-2012, a reduzir as suas emissões de GEE em pelo menos 5%, em relação aos níveis de 1990.
Décadas antes, foi também criada uma Organização Internacional Económica, mais conhecida por
OCDE, fundada em 1961 e composta por 34 países, que visou estimular o progresso económico e o
comércio mundial. A OCDE consiste então num fórum de países, dedicados à democracia, que buscam
pela resolução de problemas comuns, identificação de boas práticas e orientação de políticas
domésticas e internacionais concordantes entre os seus membros. Inevitavelmente, a problemática do
aquecimento global e da emissão de poluentes tem sido abordada de forma constante. Estudos
recentes da OCDE demonstram que, apesar da crise económica, as emissões globais de gases de
efeito de estufa continuam a aumentar e que as energias emissoras de CO2 atingiram em 2010 um
valor máximo de 30.6 Gton [3]. Segundo a mesma fonte, caso não sejam tomadas medidas mais
ambiciosas do que aquelas actualmente em prática, as emissões de GEE irão aumentar em 50% até
2050, principalmente, devido ao crescimento expectável das emissões de CO2 provenientes da
produção e consumo de energia. Este crescimento dever-se-á a um aumento esperado em 80% na
procura global de energia.
2
Historicamente, os países da OCDE têm sido responsáveis pela maior parte das emissões, contudo,
com a modernização e consciencialização das suas populações tem vindo a verificar-se e prevê-se
alguma estabilização da energia acumulativa referente às emissões de CO2. Pelo contrário, estima-se
um crescimento constante das emissões produzidas por parte das grandes economias emergentes e
em desenvolvimento, durante as próximas décadas, derivado do seu elevado crescimento global. Esta
divergência de comportamentos é demonstrada pela Figura 1.1, retirada do World Energy Outlook
2013, IEA [4].
Figura 1.1 - Energia acumulativa relacionada com as emissões de CO2 e “Carbon budget” para 2ºC [4].
Vários factores fundamentam os resultados positivos apresentados para os países da OCDE, como,
por exemplo, o uso de energias renováveis como alternativa aos combustíveis fósseis para a produção
de energia. Os países em causa apresentam, na sua generalidade, uma elevada dependência externa
e falta de segurança relativamente ao abastecimento de energia, registando preços particularmente
dependentes dos países fornecedores de combustíveis fósseis. Enquanto esta situação se observar, o
conceito de Eficiência Energética revela-se de grande importância, remetendo para o uso racional de
energia: utilizar menos energia para fornecer a mesma quantidade de valor energético.
Para caracterizar como a energia é utilizada, é necessário fazer uma desagregação do consumo
energético pelos diferentes sectores. Os gráficos que se seguem, apresentados na Figura 1.2, fazem
referência ao consumo mundial de energia final distribuída por sectores, segundo dados da IEA [5].
Figura 1.2 - Consumo final total por sector, para 1971 (4.3 Gtep) e 2010 (8.7 Gtep). Dados retirados de IEA [5].
38%
23%
24%
8%
3% 4%1971
37%
27%
24%
8%
2% 2% 2010 Indústria
Transportes
Residencial
Comércio eserviços públicos
Agricultura
Outros
3
De acordo com Rodrigues e Gomes [6], “um dos sectores com maiores repercussões a nível energético
e ambiental é a da Construção, sendo o sector dos edifícios responsável por uma importante parte dos
consumos de energia e das emissões poluentes para o ambiente, sobretudo através dos sistemas de
aquecimento, arrefecimento e iluminação”. Esta afirmação vai ao encontro dos dados apresentados na
figura anterior, em que o sector dos edifícios é responsável por cerca de um terço do consumo
energético mundial, abrangendo o sector residencial e o sector de comércio e serviços públicos. Já em
relação aos países europeus, verifica-se uma distribuição díspar em termos do consumo energético,
sendo esperado um consumo superior no sector dos edifícios para países mais a nordeste da europa,
em que lhes é exigido um uso mais intenso dos sistemas de aquecimento de modo a fazer face ao
clima mais frio. Tendo por base os balanços energéticos emitidos pelo Eurostat [7], apresenta-se a
distribuição do consumo energético residencial final face ao consumo total de energia do consumidor,
pelos países membros da União Europeia, EU-27 (Figura 1.3), relativo ao ano de 2009-2010.
Figura 1.3 - Distribuição por país do consumo energético final no sector residencial face ao total EU-27. Dados retirados de [7].
Em Portugal, a energia final relativa ao sector residencial encontrou-se em constante crescimento até
ao ano de 2005, tendo-se verificado, a partir deste ano, uma certa estabilização e redução. Em relação
a 2010, o consumo de energia no sector dos edifícios residenciais correspondeu a cerca de 17.7% do
consumo de energia final (3.1 Mtep), enquanto o sector dos serviços apresentou um consumo de
12.0%. Em particular no sector residencial, cerca de 22.0% da energia consumida correspondeu à
energia utilizada para a climatização [8].
Para limitar o eventual crescimento dos consumos de energia de climatização e evitar patologias da
construção civil devido à qualidade térmica insuficiente nos edifícios, foi publicada uma legislação
4
nacional (RCCTE) em 1990 [9]. Esta legislação foi revista em 2006 em sequência da directiva EPBD
(Energy Performance of Buildings Directive) e actualizada recentemente em 2013 devido à EPBD
Recast. Também nesta actualização, a designação RCCTE foi alterada para REH. Dados fornecidos
pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) em parceria com o LNEC (Laboratório Nacional de
Engenharia Civil) revelaram um decréscimo de 8.7% do parque habitacional total em Portugal, entre
1980 a 2011. Além disso, a maioria das habitações existentes (cerca de 69.8% do parque habitacional,
em 2011 [10]) são antigas e anteriores aos anos noventa. No mesmo sentido, entre 2002 e 2011,
registou-se um decréscimo de 75.1% do número de fogos concluídos em construções novas [10],
contribuindo assim para o gradual envelhecimento das habitações.
Dado o elevado consumo energético associado ao sector residencial em Portugal, existe um elevado
potencial de poupança e de redução de futuras necessidades energéticas, concretizável com a
implementação de medidas que visam a promoção da eficiência energética. Em seguimento destas
medidas, em 2013 foi criado o PNAEE (Plano Nacional de Ação para as Eficiências Energéticas), que
visa a implementação de um modelo energético baseado na racionalidade económica e na
sustentabilidade pelos vários sectores [11]. Relativamente ao sector residencial, consideraram-se
medidas como a promoção de equipamentos, iluminação, janelas e isolamentos mais eficientes. A
melhoria dos equipamentos e da iluminação, os elementos mais facilmente substituíveis, resultaram já
em poupanças energéticas elevadas (148 Gep), tornando-se necessário de seguida promover a
melhoria energética dos elementos construtivos da habitação (janelas e isolamentos). Por norma, estas
medidas de eficiência energética são implementadas aquando de novas construções, contudo, face ao
envelhecimento do parque habitacional nacional, é essencial ponderar possíveis obras de reabilitação.
Os projectos de reabilitação podem ser implementados em termos da envolvente opaca (paredes,
cobertura e pavimento do edifício) e dos vãos envidraçados (janelas, portas).
1.2 Reabilitação
No âmbito das actividades de reabilitação, as janelas são normalmente os primeiros elementos
seleccionados, dada a sua facilidade de substituição e custos de instalação em comparação com uma
reabilitação à envolvente opaca da habitação [12]. Especificamente para Portugal, grande parte das
habitações ainda possuem os vãos envidraçados originais de madeira ou alumínio sem corte térmico e
com panos de vidro simples e incolor. Dados fornecidos pelo INE (referente ao ano de 2010) revelam
que cerca de 75% dos edifícios residenciais habitados possuem janelas com vidro simples e que cerca
de 23% dos alojamentos possuem janelas de vidro duplo sem corte térmico [8]. Assim, conclui-se que
os vãos envidraçados são elementos viáveis para uma implementação de melhoria da eficiência
energética, também porque tendem a apresentar um fraco desempenho térmico devido ao desgaste
contínuo dos próprios elementos constituintes. Adicionalmente, podem ainda verificar-se situações de
infiltrações de água e de ar não desejadas, bem como uma reduzida resistência ao ruído exterior.
.
5
1.3 Métodos de Análise Energética
Com o intuito de ser possível inferir acerca do impacto da reabilitação de envidraçados nas habitações
é necessário efetuar uma análise energética completa à fracção em estudo. Nos dias de hoje, existem
métodos suficientemente rigorosos para analisar o comportamento térmico da habitação ou até mesmo
para identificar situações específicas passiveis de melhoria. De entre os vários disponíveis no mercado,
existem métodos que têm por base análises em regime sazonal, como o caso do REH, ou em regime
dinâmico (periodicidade horária) através de software apropriado, sendo um exemplo disso o
EnergyPlus. Estes métodos foram aqui designados por ‘métodos detalhados’. Como referido, o REH
consiste num método legislativo implementado em Portugal. Apesar disso, para estudos mais
detalhados em habitações, regra geral, métodos horários como o EnergyPlus são os mais utilizados.
Em condições iguais, ambos os métodos (REH e EnergyPlus) são conhecidos por apresentarem
resultados semelhantes, contudo, quando efeitos dinâmicos mais complexos são tidos em conta, o
EnergyPlus distingue-se por ser um método mais rigoroso, de acordo com a norma EN ISO 13790 [13].
Estes métodos detalhados tendem a aproximar-se cada vez mais do comportamento térmico real, no
entanto, requerem uma caracterização detalhada e exaustiva da habitação em estudo e são de uso
normalmente restrito a pessoas qualificadas. Quando aplicados a casos práticos, estes métodos
revelam-se dispendiosos e demorados, não sendo capazes de fornecer uma resposta rápida em
relação à viabilidade e potencial da reabilitação dos vãos envidraçados. Faz, portanto, todo o sentido
desenvolver um método mais simplificado do que os actuais mas, ao mesmo tempo, suficientemente
rigoroso para avaliar a influência da reabilitação sustentável das janelas.
1.4 Motivação
Regra geral, os edifícios residenciais possuem uma duração média de vida elevada (superior a
quarenta, cinquenta anos), pelo que representam um investimento a longo prazo e do qual se espera
um retorno a nível do conforto habitacional e da exigência mínima possível em termos dos recursos
necessários para o seu óptimo funcionamento, nomeadamente, em termos energéticos.
Considerando o grande potencial de melhoria na qualidade e eficiência energética das habitações
através da reabilitação dos vãos envidraçados, é fundamental avaliar até que ponto essa reabilitação
pode ser viável. Para melhor compreender o conceito de viabilidade, é necessário realizar uma análise
cuidada em termos económicos, acústicos e ambientais, além da análise energética. Em suma,
pretende-se a manutenção ou melhoria dos níveis de conforto e de qualidade para com o habitante,
sem hipotecar os valores ambientais associados.
A presente dissertação tem em especial atenção o impacto energético associado à reabilitação de vãos
envidraçados em apartamentos, tendo em conta os requisitos mínimos de conforto dos habitantes.
Neste sentido e tendo em conta as limitações dos métodos detalhados actualmente no mercado (REH
e EnergyPlus), justifica-se o desenvolvimento de um método simplificado (mais rápido, acessível e com
menos inputs) mas ainda assim rigoroso, que permita avaliar o potencial da reabilitação das janelas
6
numa perspectiva holística da habitação. Deste método, assim designado por método Simplificado,
pretende-se a ponderação acerca da melhoria do conforto térmico, da redução das necessidades
térmicas, das poupanças da factura energética, do isolamento sonoro das fachadas e da ventilação da
habitação.
1.5 Objectivos
O principal objectivo deste trabalho consiste no desenvolvimento e aplicação de um método simplificado
que permita, ainda assim, fundamentar e avaliar com rigor o potencial de reabilitação de vãos
envidraçados em habitações. Este método deve permitir avaliar de uma forma simples e rápida o
potencial de melhoria do conforto habitacional e o impacto na energia de climatização. Nesta
dissertação, o conforto habitacional engloba a variação da temperatura interior, o isolamento sonoro da
fachada e o caudal mínimo de renovação de ar da fracção sob estudo. Por sua vez, o impacto da
energia de climatização deve ter em conta o desempenho energético, a viabilidade económica da
reabilitação e o impacto ambiental.
Como finalidade, pretende-se que este método constitua uma ferramenta de avaliação mais simples
(requerendo menos inputs) e rápida do que os métodos detalhados, em termos da energia de
climatização. Pretende-se que este método apresente desvios não superiores a 15% para as
necessidades energéticas e 5% para as temperaturas médias interiores.
De forma a comparar os resultados obtidos, os três métodos (detalhados e simplificado) são aplicados
a casos de estudo práticos, mais especificamente, a dois apartamentos na zona de Lisboa. Num dos
casos de estudo foi implementada a reabilitação das janelas, sendo possível avaliar experimentalmente
as alterações nas condições de conforto e na permeabilidade ao ar da envolvente, credibilizando alguns
dos pressupostos de análise das intervenções de reabilitação. A literatura nesta temática da reabilitação
dos envidraçados está normalmente associada à simulação de casos de estudo baseada em métodos
detalhados, pelo que a avaliação experimental de uma reabilitação real constitui uma abordagem
inovadora. Adicionalmente, é realizada uma avaliação do software EnergyPlus através de dados
obtidos experimentalmente, para as situações antes e após a reabilitação dos vãos envidraçados.
1.6 Estrutura
Esta dissertação encontra-se dividida em seis capítulos e cinco anexos. O primeiro e presente capítulo
trata da introdução ao documento, onde o tema e a motivação do trabalho são contextualizados, bem
como se definem os objectivos propostos.
No capítulo 2, pretende-se introduzir os métodos detalhados utilizados, bem como conceitos teóricos
relevantes. Além disto, é apresentada a metodologia de trabalho global seguida. Por sua vez, o capítulo
3 introduz e descreve de forma detalhada o desenvolvimento do método Simplificado, as simplificações
consideradas e os inputs e outputs do método.
7
O capítulo 4 apresenta uma descrição detalhada dos dois casos de estudo analisados e uma análise
dos ensaios experimentais. No capítulo 5 são analisados e discutidos os resultados obtidos, sendo que
as principais conclusões a retirar deste trabalho são apresentadas no capítulo 6, onde também se
encontra uma parte sobre possíveis trabalhos futuros.
O anexo A apresenta a interface gráfica do método Simplificado, ao passo que o anexo B trata do
impacto da radiação solar na envolvente opaca para um caso de estudo específico. No anexo C deste
documento, encontram-se descritos o procedimento e materiais utilizados nos ensaios experimentais
de permeabilidade ao ar dos casos de estudo. No anexo D encontra-se a avaliação da incerteza
experimental dos sensores de temperatura utilizados. Por último, no anexo E são apresentadas
algumas equações utilizadas para a discussão dos resultados.
2
2.1 Métodos Detalhados ................................................................................................................ 8
2.2 Conforto Habitacional ............................................................................................................ 10
2.3 Transmissão de Calor e Massa ............................................................................................. 13
2.4 Necessidades Energéticas .................................................................................................... 17
2.5 Metodologia ........................................................................................................................... 19
Conceitos Teóricos
e Metodologia
8
2.1 Métodos Detalhados
No subcapítulo 1.3, introduziram-se os métodos mais utilizados actualmente para estudos térmicos e
energéticos. Estes métodos têm por base a regulamentação térmica, REH, ou simulações em regime
dinâmico, EnergyPlus. Regra geral o termo detalhado está associado aos métodos de simulação
dinâmica hora a hora, no entanto, nesta dissertação utilizou-se este termo para representar os métodos
rigorosos que acompanham as exigências do mercado actual e que requerem uma caracterização
detalhada da fracção em estudo. Estes métodos são apresentados de seguida em maior detalhe.
2.1.1 Legislação - REH
O processo legislativo aplicável a habitações diz respeito ao RCCTE, que segue as normas inicialmente
definidas pelo Decreto-Lei 80/2006, de 4 de Abril, sujeito a revisões e alterações periódicas. Este
regulamento estabelece os requisitos de qualidade térmica e dos sistemas de climatização, para novos
edifícios de habitação e edifícios sujeitos a grandes intervenções, permitindo limitar as perdas térmicas
e controlar os ganhos solares excessivos. Impõe ainda limites às necessidades nominais de energia
primária para a climatização e a produção de águas quentes, num claro incentivo à utilização de
sistemas eficientes e de fontes energéticas com menor impacto em termos de energia primária [14]. A
última revisão geral deste método foi realizada no final do ano de 2013, a partir da qual o método
passou a designar-se por REH [15]. O REH é também utilizado para determinar a classificação
energética de uma habitação, através da caracterização completa e detalhada da envolvente dos seus
elementos construtivos e sistemas energéticos. Exemplos da informação requerida pela legislação são
os materiais de construção, a localização, orientação e a existência de elementos e edifícios adjacentes
que ofereçam sombreamento. Este método fornece resultados em termos das necessidades
energéticas nominais na habitação (ver secção 2.4), bem como respectivos valores máximos.
As necessidades energéticas de uma habitação são determinadas separadamente para as estações
de aquecimento e de arrefecimento e ainda para o aquecimento das águas sanitárias. Como resultado
final, este método detalhado fornece o valor global das necessidades de energia primária, o qual
permite determinar a classe energética da habitação em estudo. Para a presente dissertação, apenas
tem interesse avaliar o valor energético associado às necessidades de aquecimento e arrefecimento,
de forma a identificar e avaliar o impacto associado à reabilitação dos envidraçados existentes.
Para este método REH, os resultados são obtidos através de uma folha de cálculo auxiliar Excel
existente e disponibilizada pelo instituto ITeCons, em que a versão mais recente já tem em conta as
últimas alterações legislativas.
2.1.2 EnergyPlus
O segundo método detalhado tem por base um software livre, o EnergyPlus, desenvolvido pelo
Departamento de Energia dos Estados Unidos da América, a partir de outros dois softwares criados
entre as décadas de 70 e 80, o BLAST (Building Loads Analysis and System Thermodynamics) e o
DOE-2 (Designing Factorial Experiments). Este software é um programa computacional de simulação
dinâmica de análise energética e de cargas térmicas, que satisfaz os requisitos da norma ASHRAE140
9
[16] e permite a simulação detalhada em mais do que uma zona térmica. Nesta dissertação foi utilizada
a versão 8.1.
Actualmente, por ser regularmente sujeito a actualizações, o EnergyPlus começa a ser um programa
tão detalhado que permite a modelação do uso de energia de águas em edifícios, permitindo a pessoas
mais qualificadas optimizar o desempenho do edifício, de maneira a minimizar o uso de recursos. Este
programa de simulação tem por base a descrição da habitação em estudo pelo utilizador,
nomeadamente, em termos da geometria, das características dos materiais da envolvente, sistemas
mecânicos ou de climatização existentes, das condições atmosféricas exteriores e de parâmetros que
caracterizam o ambiente interior (ocupação, equipamentos, infiltrações, entre outros). Como principais
funcionalidades, apresenta ainda a simulação do balanço térmico de edifícios em regime livre e em
regime de temperatura controlada. Através do segundo regime, este método detalhado permite calcular
as cargas de aquecimento e de arrefecimento necessárias, de modo a assegurar a manutenção de
determinadas condições de conforto no interior da habitação, tal como a temperatura interior. A
introdução de dados e a obtenção de resultados é feita em formato de texto, na extensão IDF (Input
Data File).
Apesar de o programa apresentar uma interface funcional, que facilita a introdução e modificação de
todos os parâmetros característicos do edifício, a interface gráfica é pouco apelativa. Quando aplicado
a estruturas complexas, como é o caso de uma habitação, torna-se necessário recorrer a software
auxiliar, nomeadamente, o Google Sketchup e o OpenStudio. Estes programas permitem obter com
facilidade o desenho tridimensional de um caso prático, sendo possível introduzir todos os elementos
construtivos existentes na habitação e inúmeras condições específicas como, por exemplo, a
localização, a temperatura, a humidade e o vento. Em suma, este método permite fazer uso das
vantagens computacionais de simular com certa facilidade e rapidez diferentes cenários, desde que
devidamente descritos pelo utilizador (cenários que, de outra forma, dificilmente poderiam ser
estabelecidos ou analisados).
Como se pode já ter deduzido, pela descrição anterior, este será o método utilizado para a comparação
com dados experimentais, uma vez que permite a introdução de condições específicas existentes na
habitação, para um dado intervalo de tempo, e, deste modo, comparar perfis de temperatura em
condições iguais. Através deste método, pretende-se assim comparar os perfis de temperatura antes e
depois da reabilitação de vãos envidraçados.
2.1.3 Outros Métodos Existentes
Actualmente, já existem programas que vão ao encontro dos objectivos do método Simplificado, em
termos da análise energética à reabilitação de janelas, como é o caso do programa RESFEN. Este
programa, desenvolvido nos Estados Unidos da América pela Universidade da Califórnia, no ano de
2012, trata-se de um método relativamente simples que determina as necessidades energéticas de
aquecimento e arrefecimento, tal como a respectiva factura energética para uma determinada
habitação. Este programa requer os seguintes inputs:
localização;
10
características das janelas para as orientações norte, sul, este e oeste;
tipo de edifício, em termos de um ou dois andares, se é uma habitação nova ou existente e se
apresenta uma construção em armação ou em alvenaria;
tipo de sistema de climatização (caldeira a gás e ar condicionado ou bomba de calor eléctrica);
tipo de fundação, isto é, espaço abaixo do pavimento; e
custo da electricidade e do gás em função da localização.
Este programa permite considerar quantos casos se pretenda, no entanto, para um caso de reabilitação
das janelas é necessário considerar os dois casos (antes e após reabilitação) separadamente e,
posteriormente, comparar os resultados. O método, apesar de simples e intuitivo, apresenta
simplificações em termos da construção, pressupondo habitações standard, o que é tipicamente
aplicável nos Estados Unidos da América, mas não em Portugal.
2.2 Conforto Habitacional
Globalmente os vãos envidraçados exibem um impacto relevante nas condições de conforto interiores
da habitação para com os ocupantes, condicionando a saúde e bem-estar dos mesmos [17]. As
condições de conforto podem ser distinguidas em:
conforto térmico;
qualidade do ar interior;
conforto visual (iluminação natural e vista para o exterior); e
conforto acústico (isolamento a sons aéreos).
2.2.1 Conforto Térmico
O conforto térmico é a condição da mente que expressa satisfação com o seu ambiente térmico, sendo
por isso, caracterizado por uma avaliação subjectiva para com o ocupante [18]. A sensação de conforto
térmico está associada a um estado de neutralidade térmica, que é assegurado quando existe um
equilíbrio térmico entre o calor gerado pelo metabolismo humano e pelo meio que o rodeia. Assim, os
principais factores que influenciam o conforto térmico são aqueles que regem a geração ou perda de
calor como, por exemplo: o metabolismo (nível de actividade desenvolvida), o vestuário (isolamento
térmico e permeabilidade ao vapor de água do vestuário), a temperatura ambiente, a temperatura
radiante média, a velocidade do ar, a humidade relativa e parâmetros psicológicos do ocupante.
Resumidamente, como Pinto [19] refere, “o desconforto térmico sentido pelos ocupantes pode ser
provocado por uma sensação de desconforto local, ocasionada por um aquecimento ou arrefecimento
diferenciado de certas partes do corpo, ou então devido a um desconforto generalizado do corpo
associado à falta de equilíbrio térmico entre o corpo humano e o ambiente.”
Em relação ao conforto térmico, deve ainda ter-se em consideração que a sensação de conforto, além
de envolver aspectos fisiológicos relacionados com os mecanismos de termorregulação anteriormente
mencionados, é também afectada pela adaptação fisiológica, ou seja, pela componente psicológica e
pelo comportamento dos ocupantes. Por sua vez, a percepção térmica por parte dos ocupantes é
11
influenciada pelo seu historial de exposição térmica, pelas suas expectativas e por aspectos culturais
[20]. O comportamento dos ocupantes pode depois manifestar-se através de: ajustamento pessoal
(alteração de vestuário e de actividade física, ingestão de líquidos quentes ou frios e mudança de local
na fracção) ou ajustamento do ambiente térmico do local (por exemplo, abertura de janelas, activação
de sombreamento, ligar uma ventoinha e ligar sistemas de aquecimento ou arrefecimento). O
ajustamento cultural, por sua vez, diz respeito às alterações de horário de trabalho, à regulamentação
de vestuário, entre outros. Devido a esta adaptação fisiológica, considera-se que os ocupantes das
habitações podem desempenhar um papel activo na criação de condições de conforto e, por isso, na
variação das necessidades de aquecimento e de arrefecimento [19].
Dado que o tema do conforto térmico é bastante complexo e subjectivo, ao longo do tempo, foram
definidos vários índices para avaliar as condições de conforto térmico, apresentados na Tabela 2.1.
Tabela 2.1 – Índices de conforto térmico. Retirado de [19].
Índices Directos Índices Racionais Derivados Índices Empíricos
temperatura seca do ar;
temperatura de orvalho;
temperatura de bolbo
húmido;
humidade relativa;
velocidade do ar.
temperatura média radiante;
temperatura operativa;
stress térmico.
temperatura efectiva;
temperatura efectiva normalizada
PMV;
PPD.
Ao longo desta dissertação, para o caso do método detalhado EnergyPlus, a temperatura interior
apresentada corresponde à temperatura operativa. Quando se considera a temperatura interior para o
conforto térmico global do habitante e, sempre que possível, deve considerar-se a temperatura interior
como a temperatura operativa. Esta temperatura incorpora de uma forma simples a transmissão de
calor por convecção e radiação entre os ocupantes e o ambiente interior [19].
Para as análises energéticas segundo os métodos detalhados e simples, considera-se como condição
base que o conforto térmico é satisfeito para as condições de temperatura do espaço interior definidas
para as respectivas estações de aquecimento e arrefecimento (ver secção 2.4).
Conforto Térmico devido aos Vãos Envidraçados
Especificamente em relação aos envidraçados, Pinto refere que “os vãos envidraçados são um
elemento da envolvente exterior caracterizados por uma baixa inércia térmica e por um baixo
isolamento térmico, quando comparado com os elementos opacos da envolvente” [19]. Adicionalmente,
“devido a estas propriedades, a temperatura superficial dos vãos envidraçados tem uma amplitude
superior à dos elementos opacos e varia rapidamente com as solicitações térmicas exteriores, podendo
nos dias frios ou em condições de forte insolação ser causa de desconforto associado a uma
temperatura interior excessivamente baixa ou excessivamente elevada, que pode atingir valores de
cerca de 4 °C a 60 °C” [19]. As causas de desconforto associadas aos vãos podem estar relacionadas
12
com possíveis desequilíbrios térmicos entre os ocupantes e o ambiente interior (designado como
desconforto global) ou ser impulsionadas por um arrefecimento/aquecimento diferenciado de algumas
partes do corpo (assim designado por desconforto local). Normalmente, estes aspectos específicos do
comportamento térmico dos vãos envidraçados não são considerados, por serem difíceis de prever e
algo subjectivos, no entanto, podem resultar num impacto significativo na eficiência energética do
edifício, dado que para colmatar estes aspectos é requerido um aumento ou diminuição da temperatura
do ar interior [19]. Desta forma, é aceitável considerar que os vãos envidraçados, em alguns casos,
podem revelar uma influência considerável no bem-estar do ocupante a nível local, não sendo
importantes apenas em termos globais, devido à transmissão de calor.
2.2.2 Qualidade do Ar Interior
De forma a garantir o bem-estar dos ocupantes no interior da habitação, é também necessário
assegurar a qualidade do ar interior. Uma má qualidade do ar interior pode originar problemas para a
saúde do ocupante, tal como fadiga, dores de cabeça, espirros ou ainda doenças respiratórias graves,
como cancro e asma [19]. Para assegurar a qualidade do ar interior é necessário que exista uma
renovação mínima do ar, para Portugal definida pelo valor de 0.6 h-1 renovações do ar interior [15]. A
renovação do ar apresenta como finalidade garantir a remoção de poluentes, promover a admissão de
oxigénio, minimizar o risco de transmissão de doenças por via respiratória e promover condições que
estimulem o conforto e a produtividade [19]. Regra geral, deve ter-se em consideração que a existência
de poluentes se deve aos poluentes existentes no ar exterior e aos poluentes derivados de fontes/poços
de poluição no interior da habitação, como é o caso dos materiais de construção, do mobiliário, dos
equipamentos de combustão e até dos próprios ocupantes [19].
2.2.3 Conforto Visual
O conforto visual nas habitações está relacionado com vários factores, como o panorama da edificação
para o exterior e a iluminação natural (brilho e iluminância da radiação solar). Especificamente em
relação à iluminação natural, esta permite que os olhos dos ocupantes funcionem de forma mais
eficiente, dado que se trata do tipo de radiação que melhor é assimilada e menor cansaço causa durante
o trabalho. Quando utilizada correctamente, a iluminação natural cria um ambiente interior estimulante,
capaz de promover o bem-estar e aumentar a produtividade das actividades inerentes e, ao mesmo
tempo, reduzir as exigências energéticas associadas à iluminação artificial (luzes eléctricas). O
incentivo ao uso da iluminação natural pode, por vezes, reduzir as necessidades de arrefecimento,
dado que as cargas térmicas associadas às luzes eléctricas diminuem nos casos em que as janelas
possuem uma correcta protecção solar, que evitam ganhos solares excessivos. Por outro lado, a
iluminação natural, quando não controlada correctamente, possui efeitos prejudiciais, em termos dos
já mencionados ganhos solares, do brilho excessivo, da possível degradação de objectos sensíveis à
luz solar, da sua interferência com equipamentos audiovisuais e ainda no sentido de privacidade dos
ocupantes [21]. A ocorrência de condensações de vapor na superfície interior dos envidraçados, por
exemplo, apresenta-se como um factor condicionante para o conforto visual, na medida em que origina
uma redução da visibilidade e, regra geral, são consideradas desagradáveis por parte dos ocupantes.
13
2.2.4 Conforto Acústico
O conforto acústico proporcionado pela envolvente da habitação representa um factor bastante
importante para o conforto habitacional, em especial para o caso das habitações em zonas urbanas,
onde o nível de ruído é elevado e prejudicial para o ocupante. Com isto em mente, são definidos limites
para os valores de ruído permitidos. Resumidamente, segundo Decreto-Lei n.º9/2007, espaços
habitacionais (zonas sensíveis) não podem ficar expostas a ruído ambiente exterior superior a 55 dB(A)
no período diurno e entardecer (das 7 às 23 horas), e a 45 dB(A) no período nocturno (das 23 às 7
horas) [22]. Em relação aos sons aéreos, considera-se o termo D2m,n, que representa o isolamento
sonoro a sons de condução aérea. Segundo o RRAE (Regulamento dos Requisitos Acústicos dos
Edifícios) para edifícios habitacionais define-se, como exigência mínima um isolamento sonoro de D2m,n
≥ 28 dB [23].
Especificamente em relação aos envidraçados, o isolamento sonoro global específico depende tanto
das características do caixilho como do vidro. Adicionalmente, o tipo de janela também é um termo
relevante, na medida em que uma janela de batente apresenta desempenhos acústicos superiores a
uma janela de correr [24].
2.3 Transmissão de Calor e Massa
O estudo dos vãos envidraçados por si só não é suficiente, sendo necessário considerar toda a
envolvente do edifício ou habitação. Com esse propósito, a presente subsecção pretende identificar e
introduzir de que forma a energia é transferida através dos elementos construtivos da habitação,
através da introdução de alguns conceitos teóricos.
2.3.1 Mecanismos de Transmissão de Calor
A energia pode ser transmitida através de interacções (trabalho e/ou calor) de um sistema para a sua
vizinhança, sendo que, para o presente trabalho, a parcela de calor é a única a considerar. A
transmissão de calor é definida como energia térmica em transição, devido a uma diferença de
temperaturas no espaço, ou seja, sempre que exista um gradiente de temperatura num dado meio ou
entre meios, haverá necessariamente transferência de calor [25]. Os mecanismos de transmissão de
calor pelos elementos constituintes da fracção em estudo são divididos em: condução, convecção e
radiação. Adicionalmente distingue-se o termo, infiltração, associado à convecção e que apresenta uma
influência importante nas trocas de calor pela envolvente [26].
Condução
Quando se refere à transferência de calor que ocorre através de um meio estacionário, quer seja sólido,
fluido ou gasoso, usa-se o termo condução. Este é um processo que pode ocorrer dentro de um
elemento isolado ou entre elementos diferentes, caso se encontrem em contacto directo. A passagem
de calor pelo meio ocorre de um ponto de temperatura mais elevada para outro ponto de temperatura
mais baixa, devido à excitação dos seus átomos e moléculas constituintes. Tendo em conta que, a
14
temperaturas mais altas, estão associadas energias moleculares mais elevadas, quando existem
interacções entre moléculas ocorre uma transferência de energia das moléculas mais energéticas para
as menos energéticas. Desta forma, a energia é transferida para regiões adjacentes, com níveis de
energia mais baixos, ou seja, com temperatura inferior.
É possível quantificar os processos de transmissão de calor em termos de equações de fluxo energético
apropriadas. Essas equações são utilizadas para calcular a quantidade de energia que é transferida
por unidade de tempo, sendo que, para a condução térmica, a equação de fluxo é conhecida como lei
de Fourier [25] apresentada pela equação (2.1).
𝑞𝑛′′ = −𝑘
𝑑𝑇
𝑑𝑛
(2.1)
O fluxo térmico 𝑞𝑛′′ (W.m-2) representa a taxa de transferência de calor na direcção n por unidade de
área perpendicular à direcção da transferência, sendo proporcional ao gradiente de temperatura,
𝑑𝑇𝑑𝑛⁄ , nessa direcção. O parâmetro k (W.m-1.K-1) é uma propriedade de transporte conhecida como
condutividade térmica, sendo uma característica do material. O sinal menos da equação deve-se ao
facto de o calor ser transmitido no sentido de gradiente de temperatura negativo.
Convecção
O termo convecção refere-se à transferência de energia entre uma superfície e um fluido em movimento
sobre essa mesma superfície. Este termo essencialmente abrange dois mecanismos, a difusão, devido
ao movimento molecular aleatório das moléculas do fluido, como ocorre na condução, e a advecção
devido ao movimento macroscópico do fluido. A este movimento do fluido está associado a facto de
que as moléculas, apesar de manterem os seus movimentos aleatórios, movimentam-se como um
agregado que, na presença de um gradiente de temperatura, contribuem para a transferência de calor.
Utiliza-se o termo convecção para fazer referência ao transporte agregado de ambos os mecanismos
e o termo advecção para fazer referência ao transporte unicamente devido ao movimento global do
fluido.
A convecção pode ainda ser classificada de convecção natural e de convecção forçada. A convecção
natural ocorre quando o movimento é induzido por forças de impulsão, devidas a diferenças de
densidade causadas por variações de temperatura no fluido. A convecção forçada, por sua vez, ocorre
quando o escoamento é gerado por meios externos, como é o caso do vento devido a uma diferença
de pressão. A energia transferida por convecção é quantificada pela equação (2.2), designada por lei
do arrefecimento de Newton [25].
𝑞′′ = −ℎ(𝑇𝑠 − 𝑇∞) (2.2)
O fluxo de calor por convecção 𝑞′′(W.m-2), é proporcional à diferença entre as temperaturas da
superfície (Ts) e do fluido (T∞). O parâmetro h (W.m-2.K-1), por sua vez, diz respeito ao coeficiente de
transferência de calor por convecção, que depende da geometria da superfície, da natureza do
escoamento do fluido e das propriedades termodinâmicas e de transporte do fluido.
15
Infiltração
O termo infiltração (ou também designado por exfiltração) representa o caudal de ar que entra (ou que
sai) no edifício, através de fendas ou outras aberturas não intencionais. Geralmente, os elementos que
maior contribuem para as infiltrações são os vãos envidraçados e portas exteriores. O caudal de ar das
infiltrações depende da espessura das janelas e portas, da velocidade do vento exterior (gradientes de
pressão) e da altura do edifício.
Relativamente à parcela dos vãos envidraçados, esta depende de factores como:
Tipo de vãos instalados;
Tipo de isolamentos utilizados nos vãos;
Localização dos vãos no edifício;
Localização do edifício; e
Condições atmosféricas, como velocidade do vento e diferença de temperaturas devido à
pressão atmosférica [26].
De notar que o termo de infiltração é tão mais importante quanto maior for o gradiente de temperaturas
entre o interior e o exterior da habitação. A razão de infiltração pode ser assumida como sendo uma
variação linear [27]. De forma a compreender a parcela de carga térmica associada às infiltrações,
convém distinguir a mesma em dois tipos de calor, o calor sensível e o calor latente. O calor sensível é
definido como o calor que origina um aumento da temperatura da humidade do ar. O calor latente, por
sua vez, está associado à evaporação e condensação da humidade do ar, isto é, com a mudança de
fase entre os estados líquido e vapor do fluido.
O termo de infiltrações corresponde à taxa de renovações de ar por hora, Rph (h-1), ou seja, ao número
de vezes que o ar total da habitação é renovado numa hora. Para habitações, a renovação do ar pode
ser determinada através de uma folha de cálculo desenvolvida pelo LNEC [28], quer para situações de
ventilação natural, quer para situações com a existência de sistemas mecânicos de ventilação. Esta
folha de cálculo permite determinar a renovação do ar de uma forma mais exacta quando existe
informação relativa a ensaios de permeabilidade ao ar da habitação, isto é, ensaios de pressurização.
Para a presente dissertação foram considerados ensaios de pressurização para os dois casos de
estudo considerados, apresentados nas secções 4.2.2 e 4.3.2.
Os valores de caudal de ar, Q (m3.h-1), associados às janelas e portas da habitação correspondem a
valores de referência associados a um dado diferencial de pressão, que são normalmente fornecidos
pelos fabricantes [6]. Regra geral, estes valores são obtidos para uma diferença de pressão (ΔP (Pa))
de 50 Pa em relação à pressão atmosférica. Nestas condições, o coeficiente de escoamento (Cs)
obtém-se através da lei de potência (equação (2.3), retirada de [6] e [29]), que estabelece a relação
entre o caudal que passa numa abertura e a diferença de pressão entre os dois lados da mesma. O
termo n representa o expoente de escoamento, variável entre 0.5 e 1 consoante se trate de escoamento
turbulento (frinchas de pequenas dimensões) ou escoamento laminar (frinchas de grandes dimensões),
respectivamente [30].
16
𝑄 = 𝐶𝑠∆𝑃𝑛 (2.3)
Radiação
O termo radiação diz respeito à energia emitida por um corpo ou meio, com uma temperatura não nula,
devido ao movimento de ondas electromagnéticas (ou, alternativamente, fotões). Desta forma, mesmo
na ausência de um meio participante, existe transferência de calor líquida por radiação, entre
superfícies ou meios a diferentes temperaturas.
Enquanto que a transferência de energia por condução ou convecção requer a presença de um meio
material, a radiação não necessita de um. A energia transmitida por radiação (na presença de meios
não participantes) pode ser descrita pela equação (2.4), apresentada em seguida [25].
𝑞𝑟𝑎𝑑′′ = 𝜀𝜎(𝑇𝑠
4 − 𝑇𝑣𝑖𝑧4 ) (2.4)
O fluxo de calor por radiação 𝑞𝑟𝑎𝑑′′ (W.m-2), é proporcional à diferença entre as temperaturas da
superfície (Ts) e da sua vizinhança (T∞). O parâmetro σ é a designada constante de Stefan-Boltzmann
(σ=5.67х10-8 W.m-2.K-4), enquanto que o parâmetro ε é uma propriedade radiante da superfície
conhecida por emissividade, com valores na faixa de 0 ≤ ε ≤ 1. O parâmetro de emissividade fornece
uma medida da eficiência na qual uma superfície emite energia em relação a um corpo negro.
2.3.2 Trocas de Calor na Envolvente e nos Vãos Envidraçados
As pessoas passam grande parte das suas vidas em edifícios residenciais sendo por isso do máximo
interesse que estes ofereçam níveis de conforto adequados. Neste tipo de edifícios, os principais
componentes associados à transferência de energia são os próprios residentes, os sistemas de
aquecimento e de ventilação e elementos constituintes da envolvente, como é o caso das janelas.
Em suma, o impacto dos vãos envidraçados nas habitações deve-se à sua influência nos fenómenos
de transmissão de calor e de massa, nomeadamente, em termos de:
transmissão de calor por condução;
transmissão de calor por convecção (infiltração e escoamento do ar pelas aberturas das
janelas);
transmissão de calor por radiação;
transmissão da luz natural; e
transmissão de ruído.
Para o desenvolvimento deste trabalho, apenas tem interesse estudar as trocas de calor existentes
entre a habitação e o exterior, tal como as respectivas condições-fronteira. Considere-se um volume
de controlo que representa uma habitação na sua totalidade. As condições atmosféricas variam ao
longo do ano, em particular, a temperatura do ar exterior. De acordo com os mecanismos de
transmissão de calor mencionados, o ambiente interior da habitação normalmente tende para as
condições de temperatura registadas no exterior.
De uma forma geral, a condução existe nos elementos opacos da envolvente, bem como nas janelas
17
ou portas envidraçadas. A convecção, por sua vez, encontra-se representada no ar interior e exterior
do edifício, assim como nas infiltrações ou exfiltrações existentes. A radiação está relacionada com a
radiação solar incidente na habitação, que pode ou não ser transmitida para o interior, e pela radiação
emitida pela própria envolvente da habitação. A representação esquemática destes mecanismos de
transmissão de calor para a zona da envolvente onde existem vãos envidraçados é apresentada pela
Figura 2.1.
Figura 2.1 - Representação esquemática de um vão envidraçado com as várias formas de transmissão de calor. Adaptado de [27].
Em suma, estes mecanismos agrupam-se em ganhos ou perdas de energia da habitação, podendo ser
benéficos ou prejudiciais, conforme a altura do ano e as condições atmosféricas. Existe assim a
necessidade de dividir o ano em duas estações climáticas, uma de aquecimento e outra de
arrefecimento do espaço interior.
2.4 Necessidades Energéticas
2.4.1 Estação de Aquecimento
Considera-se a estação de aquecimento como a altura do ano em que é necessário aquecer o ambiente
interior da habitação, apresentando uma duração variável consoante a localização durante o Inverno.
Com a existência de condições adversas no exterior, existe a necessidade de aquecer e humedecer o
ar da habitação, de modo a manter as condições de conforto no seu interior. As designadas condições
de conforto variam de pessoa para pessoa conforme os seus hábitos, sendo definidas como uma
temperatura constante a 18°C [15]. Na estação de aquecimento, é necessário fazer face às perdas de
calor existentes para o exterior, através da envolvente opaca, das infiltrações e dos vãos envidraçados
durante a noite (infra-vermelhos).
A radiação solar representa um ganho térmico durante esta altura do ano, pelo que o seu correcto
Trocas de calor
por condução
e/ou convecção
Centro do vidro
Caixilho
Borda do vidro
Infiltrações
Caixilho
Radiação Solar
18
aproveitamento permitirá reduzir a energia necessária para aquecer o ambiente interior, ou seja,
necessidades energéticas de aquecimento. Segundo o REH, esta energia é designada de
necessidades nominais de energia útil para o aquecimento do edifício, Nic (kWh.m-2.ano-1), calculadas
em termos anuais através da equação (2.5) [15], em que:
𝑁𝑖𝑐 = (𝑄𝑡𝑟,𝑖 + 𝑄𝑣𝑒,𝑖 − 𝑄𝑔𝑢,𝑖) 𝐴𝑝⁄ (2.5)
𝑄𝑡𝑟,𝑖 - transferência de calor por transmissão na estação de aquecimento através da envolvente
dos edifícios (kWh);
𝑄𝑣𝑒,𝑖 - transferência de calor por ventilação na estação de aquecimento (kWh);
𝑄𝑔𝑢,𝑖 - ganhos térmicos úteis na estação de aquecimento resultantes dos ganhos solares através
dos vãos envidraçados, da iluminação, dos equipamentos e dos ocupantes (kWh); e
𝐴𝑝𝑎𝑣 - área interior útil de pavimento do edifício (m2).
O termo Qtr tem em conta as parcelas referentes a:
paredes externas, cobertura e pavimento;
paredes interiores e espaços não aquecidos;
perdas pelo chão; e
pontes térmicas planares.
Na equação anterior o termo de ganho térmico útil Qgu,i possui um sinal negativo, uma vez que é
considerado um termo benéfico, que reduz as necessidades energéticas da habitação. De modo a
retirar o melhor partido dos ganhos gratuitos através dos vãos envidraçados, não devem existir
obstruções dos mesmos durante o dia (caso de cortinas). Adicionalmente devem utilizar-se dispositivos
de oclusão nocturna nas janelas.
2.4.2 Estação de Arrefecimento
Considera-se a estação de arrefecimento como a altura do ano em que é necessário arrefecer o
ambiente interior da habitação, isto é, durante a estação de Verão (regra geral, as temperaturas mais
elevadas no exterior correspondem aos meses de julho e agosto). Em condições opostas à estação de
aquecimento, é necessário arrefecer o ambiente interior de modo a manter o conforto habitacional.
Nesta estação existe a necessidade de evitar um possível sobreaquecimento, o qual, após ultrapassar
um determinado limiar de temperatura, pode resultar em desconforto para com o habitante. Embora
este limiar seja função de diversos parâmetros, tal como o nível de vestuário, o tipo de actividade e a
humidade do ar, normalmente situa-se nos 25°C [15].
Nesta estação, a temperatura exterior tende a ser superior à temperatura no interior da habitação, pelo
que se verifica a transmissão de calor do exterior para o interior, através da envolvente e das infiltrações
ao qual se consideram como perdas. Por sua vez, os ganhos, tal como na estação de aquecimento
devem-se à ocupação, aos equipamentos, à iluminação e à radiação solar. Estes podem representar
um termo prejudicial, uma vez que aumentam as necessidades de arrefecimento, e em certos casos,
levam a que a temperatura interior ultrapasse os 25°C desejados.
À energia necessária para o arrefecimento do ambiente interior denomina-se de necessidades nominais
de energia útil para o arrefecimento do edifício, Nvc (kWh.m-2.ano-1) traduzida pela Equação (2.6) em
termos anuais [15], em que:
19
𝑁𝑣𝑐 = (1 − 𝜂𝑣)𝑄𝑔,𝑣 𝐴𝑝⁄ (2.6)
𝜂𝑣 - factor de utilização dos ganhos térmicos na estação de arrefecimento;
𝑄𝑔,𝑣 - ganhos térmicos brutos na estação de arrefecimento (kWh); e
𝐴𝑝𝑎𝑣 - área interior útil de pavimento do edifício (m2).
2.5 Metodologia
Atendendo à necessidade de um método simplificado, apresenta-se a metodologia e estratégias
seguidas para o desenvolvimento do mesmo. Para ser possível desenvolver o método Simplificado
pretendido, procedeu-se numa primeira fase a uma análise de sensibilidade dos vários parâmetros que
afectam o cálculo das necessidades energéticas, assim como uma avaliação das simplificações a
considerar. A ferramenta desenvolvida foi de seguida aplicada a dois casos de estudo diferentes,
paralelamente com os dois métodos detalhados já mencionados (REH e EnergyPlus), de maneira a
comparar os resultados obtidos. Com o intuito de identificar o impacto da reabilitação dos envidraçados
num caso real, foram obtidos dados experimentais para um dos casos de estudo sujeito à reabilitação.
Em suma, a metodologia seguida neste trabalho encontra-se estruturada da seguinte forma:
Análise de sensibilidade para identificar os parâmetros mais relevantes e possíveis
simplificações a considerar no método Simplificado
o Aplicação do método REH
o Aplicação do método EnergyPlus
Desenvolvimento da ferramenta de cálculo do método Simplificado
o Inputs
o Outputs
o Simplificações e equações incluídas
o Interface gráfica utilizador-ferramenta
Aplicação dos três métodos a dois casos de estudo na zona de Lisboa
Dados experimentais
Caso de Estudo 1 (Ensaio de permeabilidade ao ar)
Caso de Estudo 2 (Ensaio de permeabilidade ao ar e medição de temperatura,
pré e pós-reabilitação)
Discussão dos resultados obtidos
Parâmetros importantes caso se verifique
um desvio superior a 5 % nos resultados.
3
3.1 Introdução .............................................................................................................................. 20
3.2 Análise de Sensibilidade ....................................................................................................... 21
3.3 Estrutura do Método Simplificado.......................................................................................... 31
Método Simplificado
20
3.1 Introdução
Em primeiro lugar, é importante definir o que se entende por um método simplificado no contexto deste
trabalho. Considerando que, nos dias de hoje, o tempo computacional começa a ser um factor pouco
relevante, o termo simplificado deste método remete para a necessidade de um reduzido número de
inputs a fornecer face à diversidade de outpus apresentados.
O método Simplificado foi desenvolvido através de uma folha de cálculo Excel, o qual segue uma
metodologia idêntica à seguida pelo REH e pelas normas definidas pelo EPBD e CEN (European
Committee for Standardization) [31]. Este método incorpora a folha de cálculo Excel fornecida pelo
LNEC “Ventilação REH e RECS” que é citada no despacho n.º 15793-K/2013 do REH [15], tendo sido
adaptada para o presente método Simplificado. Adicionalmente, este método teve como ponto de
partida uma folha de cálculo Excel já existente, inicialmente desenvolvida pelo LNEC [32]. Esta folha
de cálculo possuía uma capacidade de análise relevante para a análise da influência dos vãos
envidraçados no desempenho energético das habitações. Durante a elaboração deste método, cada
parâmetro utilizado pela folha de cálculo foi sujeito a verificação e análise de sensibilidade e foram
introduzidas actualizações de forma a incorporar aspectos de conforto, económicos, acústicos e
ambientais derivados da reabilitação de vãos envidraçados. De destacar ainda o desenvolvimento da
interface da folha de cálculo para a tornar mais apta a estudos de reabilitação, de forma a apresentar
os resultados finais da reabilitação dos vãos envidraçados em termos gráficos e rapidamente
comparáveis.
De uma forma geral, os tópicos tratados para o desenvolvimento deste método encontram-se
resumidos nos seguintes pontos:
identificar e avaliar os parâmetros mais relevantes para o comportamento térmico da
habitação;
efectuar uma análise de sensibilidade em relação à influência dos parâmetros identificados
anteriormente e seleccionar apenas os parâmetros relevantes, isto é, aqueles que causam
variação superior a 5% nos resultados de necessidades energéticas segundos os métodos
detalhados;
desenvolver e actualizar a ferramenta de cálculo, de maneira a incluir aspectos económicos,
acústicos e ambientais da energia incorporada nos materiais da reabilitação;
aplicar o método a dois casos de estudo e comparar com os resultados dos métodos
detalhados;
analisar os resultados obtidos; e
melhorar a interface utilizador-ferramenta informática.
O método Simplificado é composto por três folhas de cálculo que são disponibilizadas ao utilizador. A
primeira folha tem por objectivo o input de uma série de dados relativos às características gerais da
habitação, sendo exemplos disso a localização, as dimensões da fracção, as características da
envolvente exterior e sistema de ventilação existente (ventilação natural ou mecânica). A segunda folha
inclui a especificação das características correspondentes às janelas e aos ganhos internos,
21
apresentando os resultados finais em tempo real através de uma interface intuitiva. Estes resultados
finais são apresentados em termos de variação de necessidades energéticas e temperaturas médias
interiores para as duas estações (Inverno e Verão), entre o caso base de vãos envidraçados e um caso
de reabilitação de vãos. Adicionalmente, são ainda apresentados resultados em termos económicos,
designadamente, a poupança energética, o VAL (Valor Actual Líquido) e o retorno económico. Por fim,
a terceira folha apresenta de uma forma mais detalhada os resultados finais em forma de tabela. A
interface com as três folhas de cálculo do método Simplificado é ilustrada no Anexo A, para a aplicação
do método a um caso tipo.
Neste capítulo é apresentada a análise de sensibilidade aos parâmetros mais importantes para a
análise energética de edifícios. Adicionalmente, em relação ao método Simplificado, são mencionadas
as simplificações consideradas, as principais equações, os valores utilizados e o tipo de resultados
finais fornecidos.
3.2 Análise de Sensibilidade
De forma a ser possível desenvolver um método simplificado, é imperativo avaliar a relevância dos
parâmetros usualmente utilizados em análises térmicas a habitações. Com este propósito, nesta
secção são listados e analisados todos os parâmetros considerados importantes. Esta análise é feita
com base nos resultados obtidos em termos de necessidades energéticas (Nic e Nvc) e temperaturas
médias interiores (Tmi,inv e Tmi,ver) para a estação de aquecimento e de arrefecimento, respectivamente,
obtidos na sua maioria através dos dois métodos detalhados. O EnergyPlus quando aplicado não
permite obter directamente as temperaturas médias para cada estação, pelo que foi necessário
pressupor que os meses de Janeiro e de Julho são representativos da estação de aquecimento e de
arrefecimento, respectivamente.
Para a realização desta análise de sensibilidade, foram definidos os seguintes factores como
importantes e a avaliar:
Factor de forma;
Clima;
Inércia térmica;
Orientação;
Envolvente opaca (paredes, cobertura e pavimento);
Janelas (área e tipo de janelas);
Renovação do ar;
Sombreamento; e
Ocupação.
Para avaliar a influência de cada um destes factores, foi definida uma gama de variação em torno de
um valor típico. Estes valores típicos consistem aproximadamente no valor médio da gama definida.
Desta forma, o conjunto caracterizado pelas soluções típicas para cada parâmetro foi designado de
22
“Modelo Base”. Com este modelo em mente foi realizada uma análise individual para cada parâmetro,
sendo que os restantes parâmetros são mantidos constantes. Assim, a variação dos valores obtidos
(necessidades energéticas e temperaturas médias interiores) pôde ser avaliada em relação à situação
de valores médios para cada parâmetro.
1- Factor de Forma
O parâmetro de factor de forma (FF, m-1) é definido pela equação (3.1) como sendo o quociente entre
o somatório das áreas da envolvente exterior (Aext) e interior (Aint) do edifício e o respectivo volume
interior (V), com o termo Ԏ a representar um factor de externalidade [15]. O factor de forma pretende
de certa forma normalizar as geometrias dos edifícios.
𝐹𝐹 = [𝐴𝑒𝑥𝑡 + ∑(Ԏ𝐴𝑖𝑛𝑡)𝑖] 𝑉⁄ (3.1)
O factor Ԏ pode variar entre 0 e 1, sendo que o valor 0 corresponde a uma situação em que a face
oposta da parede interior possui uma temperatura igual à temperatura interior e o valor 1 quando possui
uma temperatura igual à temperatura exterior.
Por sua vez, tem-se o termo btr (Coeficiente de redução de perdas de espaços não úteis), definido pela
equação (3.2), em que θ pode representar o valor da temperatura interior (int), da temperatura exterior
(ext) ou do espaço não útil (ENU). Este parâmetro assume o valor de 1 quando a temperatura do espaço
não útil é igual à temperatura exterior e assume o valor de 0 quando esta temperatura é igual à
temperatura interior.
𝑏𝑡𝑟 =𝜃𝑖𝑛𝑡 − 𝜃𝐸𝑁𝑈
𝜃𝑖𝑛𝑡 − 𝜃𝑒𝑥𝑡
(3.2)
Este parâmetro representa a influência das trocas de calor pela envolvente interior para espaços não
úteis (ENU) e edifícios adjacentes. Por norma, edifícios adjacentes são considerados como habitados
pelo que apresentam temperaturas idênticas. Desta forma, as trocas de calor entre edifícios habitados
pressupõem-se desprezáveis ou nulas, pelo que o parâmetro btr apenas depende das trocas de calor
para os espaços não úteis, ou espaços não habitados. Regra geral, em apartamentos, os ENU dizem
respeito apenas aos vãos de escadas, que apresentam uma área de paredes em contacto com o interior
reduzida em relação à área total. Em suma, o termo btr pode ser considerado como constante e com
valor nulo. Uma vez que a variável Ԏ varia da mesma forma que este termo, é plausível considerar
que Ԏ assume também um valor próximo de zero, logo, desprezável. Esta simplificação reduz a
equação do factor de forma à equação (3.3), abaixo apresentada.
𝐹𝐹 = 𝐴𝑒𝑥𝑡 𝑉⁄ (3.3)
Com o intuito de avaliar a importância do valor de FF, ou seja, das dimensões e características
geométricas de um edifício, três casos simples foram considerados: um caso com pavimento de
dimensões 10x10 m, um de dimensões 10x20 m e outro caso com 20x10 m, em que todos possuem
um pé direito de 2.7 m. O valor do FF varia conforme a exposição do edifício ao exterior, pelo que foram
consideradas todas as combinações possíveis entre 4 paredes, cobertura e pavimento, obtendo-se
uma gama de valores entre 0.05 e 1.14 m-1. O valor médio considerado para o Modelo Base diz respeito
a um valor de FF de 0.6 m-1, o que tipicamente corresponde a duas paredes e uma cobertura.
23
Os resultados obtidos segundo o REH são apresentados na Figura 3.1, tanto para as necessidades de
aquecimento como de arrefecimento, normalizadas em relação à situação média com FF igual a
0.6 m-1 e em função do factor de forma para os três casos considerados. Os resultados obtidos mostram
que a variação da dimensão da fracção, não tem uma influência excessiva nas necessidades térmicas
nominais (variação máxima de 6%) mas apenas o valor de factor de forma. Assim, no método
Simplificado o detalhe das dimensões solicitadas será relativamente limitado e opcional ao utilizador.
A situação de dimensões 10x10 m indicou ser a mais desfavorável, uma vez que apresentava valores
de necessidades energéticas superiores, pelo que esta foi a geometria utilizada no Modelo Base.
Figura 3.1 – Necessidades energéticas normalizadas à situação média de FF de 0.6 para o método REH em função do valor de FF para três geometrias diferentes: a) resultados de necessidades de aquecimento; e
b) resultados de necessidades de arrefecimento.
O factor de forma foi verificado como sendo um parâmetro relevante e, por isso, a incluir no método
Simplificado. Os resultados obtidos por ambos os métodos detalhados (REH e EnergyPlus) são
apresentados na Tabela 3.1. Estes resultados são apresentados para a gama de valores de FF
considerada, entre 0.05 e 1.14 m-1, ao qual se, verificou um aumento linear das necessidades de
aquecimento e uma tendência de decréscimo das necessidades de arrefecimento.
Tabela 3.1 – Resultados mínimos e máximos de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média de FF de 0.6 para a gama de valores de FF entre 0.05 e 1.14, segundo os métodos
detalhados.
Método Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
REH 16-77 1-53 2-35 1-6
EnergyPlus 8-49 9-17 1-24 1-6
2- Clima
Segundo o REH, Portugal divide-se em três zonas climáticas de inverno (I1,I2,I3) e três zonas climáticas
de verão (V1,V2,V3), as quais podem ou não coincidir com a mesma região. As zonas climáticas
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
0.0 0.5 1.0 1.5
(Nv
c F
F=
i -N
vc F
F=
0.6
)/N
vcF
F=
0.6
Factor de Forma (m-1)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
0.0 0.5 1.0 1.5
(Nic
FF
=i
-Nic
FF
=0.6
)/N
ic F
F=
0.6
Factor de Forma (m-1)
10x10m
10X20m
20x10m
24
consideradas para o Modelo Base foram as zonas médias, ou seja, I2 e V2. Os resultados obtidos para
a gama que incluiu todas as combinações possíveis entre zonas climáticas são apresentados na
Tabela 3.2. Estes resultados indicam que o parâmetro clima se trata de um parâmetro bastante
relevante, face à acentuada variação nas necessidades energéticas e temperaturas.
Tabela 3.2 – Resultados das necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média do Modelo Base para todas as combinações de zonas climáticas, segundo os métodos detalhados.
Método Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
REH 3-10% 1-125% 5-7% 10-14%
EnergyPlus 9-63% 12-135% 0-19% 1-11%
3- Inércia Térmica
A inércia térmica é um parâmetro que caracteriza o tempo de resposta da fracção às solicitações
térmicas, sendo função da massa superficial (kg.m-2) total da fracção em estudo. Regra geral, valores
superiores deste parâmetro traduzem-se numa melhoria de conforto térmico, no Inverno, por aumento
dos ganhos solares úteis e, no Verão, devido à capacidade de regulação da temperatura interior.
No REH existem três classes de inércia térmica: inércia fraca, média e forte, tendo-se considerado uma
inércia térmica média para o Modelo Base. Apenas foi possível avaliar este parâmetro com rigor
segundo o método REH, uma vez que o EnergyPlus não permite uma distinção nítida da massa
superficial total da fracção em estudo. Os resultados obtidos através do método REH são assim
apresentados na Tabela 3.3, nos quais se identificou uma variação relevante de 15% nas necessidades
de arrefecimento. Em relação às temperaturas médias interiores estas não apresentaram variações
significativas.
A variação da inércia térmica não foi tão importante quanto os resultados observados para os restantes
parâmetros, contudo, é importante notar que este termo varia consideravelmente com o gradiente de
temperatura exterior-interior, ou seja, com o clima. Trabalhos anteriores como o de Rebelo [33]
corroboram esta mesma afirmação, o que justifica o uso da inércia térmica.
Tabela 3.3 – Resultados das necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média do Modelo Base para a inércia térmica, segundo o REH.
Inércia Térmica Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
Fraca 4 15 0 0
Forte 3 15 0 0
4- Orientação
A orientação dos edifícios é normalmente um factor importante na avaliação das necessidades
energéticas e temperaturas, uma vez que a radiação solar incidente depende principalmente deste
parâmetro. Uma possível simplificação deste parâmetro consiste em considerar que a radiação solar
incidente é o valor médio da radiação proveniente de todas as orientações. Os resultados da análise
25
de sensibilidade ao parâmetro orientação são apresentados em relação aos resultados obtidos para a
radiação média incidente. Assim, caso a variação dos resultados seja baixa, poder-se-á desprezar a
orientação do edifício.
Considerem-se as características do Modelo Base descritas ao longo da presente secção. De modo a
melhor compreender a importância do parâmetro de orientação, optou-se por efectuar um estudo a
duas situações distintas. A primeira situação idêntica ao Modelo Base, mas no qual se varia a
orientação de forma a permitir estudar as orientações de forma combinada, de duas a duas orientações
(Norte-Sul e Este-Oeste). A segunda situação diz respeito ao estudo individual das orientações,
considerando que a habitação é composta por apenas uma parede opaca e uma janela que perfaz uma
área de 15 m2, semelhante ao primeiro caso. Os resultados para ambos os casos são apresentados na
Tabela 3.4, apenas segundo o método REH, uma vez que o método EnergyPlus não permite realizar
uma análise idêntica, em que se considerou a radiação média de todas as orientações.
Tabela 3.4 – Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média de radiação solar para duas combinações de orientação, segundo o REH.
Janelas Orientação Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
Duas janelas
(Avão=15m2)
N - S 2 18 1 1
E - O 1 39 1 2
Uma janela
(Avão=15m2)
N 47 74 7 7
S 7 27 10 2
E 24 8 1 1
O 24 8 1 1
O primeiro caso apenas revelou variações importantes para o termo das necessidades de
arrefecimento, facto que advém principalmente da componente da radiação solar nesta estação. Por
sua vez, o segundo caso, em que se considera uma parede e uma janela, é representativo de uma
variação evidente dos resultados com a orientação. Esta grande variação deve resultar do facto de os
resultados não estarem também dependentes de outras fachadas da envolvente do edifício. Situações
como o segundo caso raramente se verificam, uma vez que a maioria das habitações possui, pelo
menos, duas fachadas em contacto com o exterior e, muito dificilmente, apenas uma fachada em
contacto com o exterior e orientada a norte. Ainda assim, o parâmetro orientação deve ser considerado
como importante.
5- Envolvente Opaca
De modo a avaliar o impacto associado à envolvente opaca, a análise de sensibilidade foi efectuada
individualmente para os vários tipos de componentes, nomeadamente, as paredes, a cobertura e o
pavimento. Para cada componente, foram consideradas três soluções de construção segundo as
características de construção tipicamente utilizadas. A primeira, segunda e terceira solução de
construção apresentam, respectivamente, valores de coeficiente U (coeficiente de transferência térmica
global) inferior, igual e superior ao valor de referência do REH. Os valores de U foram determinados
26
com base nos valores de coeficientes de transmissão térmica indicados no ITE 50 [34].
A segunda solução representa o caso considerado para o Modelo Base e, dado que funciona como
termo de comparação para com as restantes soluções, os resultados desta solução não são aqui
apresentados. As características de cada solução são apresentadas na Tabela 3.5.
Tabela 3.5 – Características das três soluções construtivas consideradas para o parâmetro da envolvente opaca.
Elemento Solução Caracterização U (W.m-2.ºC-1)
Parede
1 Simples, alvenaria de tijolo furado de 22 cm 1.3
2 Dupla, tijolo furado de 11 cm e caixa de ar (6 cm) 1
3 Dupla, tijolo furado de 11 cm e isolante (6 cm) 0.4
Cobertura
1 Laje de betão armado de 15 cm, camada de
enchimento e betonilha de regularização 2.5
2 Laje de betão armado de 15 cm, betonilha de
regularização, isolante de 3 cm e betonilha 1
3 Laje de betão armado de 15 cm, betonilha de
regularização, isolante de 3 cm, betão de 3 cm e
camada impermeável
0.6
Pavimento
1 Laje de betão armado de 15 cm e betonilha de
regularização 3.3
2 Laje de betão armado de 15 cm, isolante de 3 cm e
betonilha de regularização 1
3 Laje de betão armado de 15 cm, isolante de 6 cm e
betonilha de regularização 0.6
Os resultados obtidos para esta análise de sensibilidade são apresentados na Tabela 3.6, para ambos
os métodos detalhados em estudo. Estes resultados indicaram que tanto as necessidades energéticas,
como as temperaturas médias interiores, variam de forma relevante com o valor do coeficiente U, pelo
que os três elementos da envolvente opaca devem ser considerados para o método Simplificado.
27
Tabela 3.6 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média do Modelo Base para a envolvente opaca segundo, os dois métodos detalhados.
Método Solução Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
Parede
REH 1 7 1 1 0
3 14 3 2 1
EnergyPlus 1 5 1 1 1
3 12 4 2 2
Cobertura
REH 1 90 23 9 1
3 23 4 4 1
EnergyPlus 1 75 30 9 0
3 27 0 6 1
Pavimento
REH 1 139 64 11 3
3 23 23 4 1
EnergyPlus 1 124 45 14 6
3 28 19 6 2
6- Janelas
Em relação às janelas foi analisada a influência da área e do tipo de janelas. O termo utilizado para
caracterizar a área das janelas refere-se ao quociente entre a área total das janelas e a área útil de
pavimento (Avão/Apav). Para o presente estudo, foram escolhidos os valores de 10%, 15% e 50%, em
que o valor utilizado no Modelo Base foi de 15% de Avão/Apav. Os resultados obtidos para este parâmetro
são apresentados na Tabela 3.7, os quais indicaram que uma área elevada das janelas (50% de
Avão/Apav) está associada a variações apreciáveis nas necessidades de arrefecimento e na temperatura
média interior de inverno.
Tabela 3.7 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média do Modelo Base para as diferentes áreas de janelas, segundo os dois métodos detalhados.
Método Avão/Apav (%) Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
REH 10 1 16 3 0
50 12 118 11 2
EnergyPlus 10 4 11 3 1
50 23 63 45 8
O tipo de janelas ou vãos pode representar uma influência considerável no valor das necessidades
energéticas, uma vez que a estes elementos estão associados maiores valores do coeficiente U que,
desta forma, apresentam uma menor resistência térmica quando comparados com os elementos
opacos típicos, por exemplo. Com o objectivo de avaliar este parâmetro foram considerados seis tipos
de vãos envidraçados diferentes. As características mais importantes dos vãos são apresentadas na
28
Tabela 3.8, tendo-se utilizado valores de coeficiente U retirados do relatório 41/2002-NCCp do LNEC,
que fazem referência ao coeficiente de transmissão térmica médio dia-noite (Uwdn) [35]. Nesta mesma
tabela, o termo gvi representa o factor solar do vidro e o termo Fg a fracção envidraçada.
Tabela 3.8 – Características dos vãos envidraçados considerados.
Vão Envidraçado Caracterização Uwdn (W.m-2.ºC-1) gvi Fg
1 Alumínio, Vidro Simples 6.2 0.88 0.70
2 Madeira, Vidro Simples 5 0.88 0.65
3 Alumínio, Vidro Duplo 4.3 0.75 0.70
4 Alumínio com Corte Térmico, Vidro duplo 3 0.75 0.70
5 PVC, Vidro Duplo 2.6 0.75 0.65
6 PVC, Vidro Duplo Baixo Emissivo (low-e) 1.9 0.65 0.65
Os resultados obtidos apresentam-se na Tabela 3.9, sendo possível verificar que a influência do tipo
de caixilho e vidro das janelas é bastante considerável, em particular, para as necessidades
energéticas. Segundo o método REH, observa-se uma variação semelhante do caso 1 e do caso 6, em
relação ao caso médio (3) para as Nic, no entanto, a variação global do caso 1 para o caso 6 é de cerca
de 31%. Isto significa que a reabilitação de vãos envidraçados com piores características (caso 1) para
vãos envidraçados de melhores características (caso 6) conduz a uma redução de 31% nas
necessidades energéticas para a estação de aquecimento.
Tabela 3.9 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média do Modelo Base (vão envidraçado 3) para os diferentes vãos, segundo os dois métodos detalhados.
Método Vão Envidraçado Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
REH
1 17 10 0 0
2 8 9 1 0
4 11 8 0 0
5 13 5 1 0
6 19 9 1 0
EnergyPlus
1 1 11 2 1
2 1 6 1 0
4 4 5 0 0
5 5 6 1 0
6 5 10 2 0
29
7- Renovação de Ar
O parâmetro de renovação do ar foi também tido em conta na presente análise de sensibilidade, em
que os valores da taxa de renovação do ar por hora (Rph) utilizados para a análise corresponderam a
0.4, 0.6 e 1 h-1. O valor médio foi o considerado para o Modelo Base (0.6 h-1), sendo que este valor
representa o valor mínimo exigido para o método do REH. Os resultados obtidos segundo ambos os
métodos detalhados são apresentados na Tabela 3.10. Estes resultados indicam que o parâmetro de
renovação de ar traduz-se numa influência importante nos valores de necessidades energéticas, em
particular, para a estação de aquecimento. Em relação às temperaturas médias interiores, a renovação
do ar influenciou apenas os resultados obtidos segundo o método EnergyPlus.
Tabela 3.10 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média do Modelo Base para a taxa de renovação do ar, segundo os dois métodos detalhados em estudo.
Método Rph (h-1) Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
REH 0.4 11 0 0 0
1.0 22 13 0 0
EnergyPlus 0.4 22 6 3 2
1.0 46 7 5 3
8- Sombreamento
O parâmetro de sombreamento representa todo e qualquer sombreamento existente na habitação
devido à obstrução da radiação solar por palas existentes na fachada ou por outros edifícios e
elementos que criam obstruções no horizonte. Com o intuito de simplificar este parâmetro foram
consideradas as regras de simplificação existentes no método REH, retirado da nota técnica
NT-SCE-01, publicado pela ADENE (Agência para a Energia) [36]. Segundo esta nota, o sombreamento
é dividido em três categorias: situação sem sombreamento, sombreamento normal e sombreamento
forte. O sombreamento foi tido em conta no factor solar dos vãos envidraçados para o método REH e
através do uso de palas horizontais para o método EnergyPlus. Os resultados obtidos para ambos os
métodos apresentam-se na Tabela 3.11, podendo verificar-se que o sombreamento é um parâmetro
relevante para as necessidades energéticas em ambas as estações e para temperaturas médias
interiores no Inverno. De destacar a elevada importância deste parâmetro em relação à temperatura
média interior na estação de aquecimento, que apresentou uma variação máxima de 11%, o que
equivale a uma variação de temperatura de cerca de 1.2°C.
30
Tabela 3.11 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média do Modelo Base para o sombreamento, segundo os dois métodos detalhados.
Método Sombreamento Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
REH Fraco 22 23 11 1
Forte 11 13 5 1
EnergyPlus Fraco 8 22 2 1
Forte 9 8 2 0
9- Ocupação
O termo de ocupação diz respeito ao comportamento dos ocupantes e aos ganhos internos existentes
na habitação devido à existência de ocupantes, de equipamentos em funcionamento e de iluminação.
Na presente dissertação, considerou-se que os sistemas de climatização funcionam durante as 24h do
dia, o que na prática é excessivo por não ter em conta o comportamento dos próprios ocupantes (por
exemplo o abrir e fechar de janelas/portas). Este comportamento pode inferir valores de ganhos e
perdas térmicas da habitação, o que pode resultar num aumento ou diminuição na energia de
climatização. Segundo a norma ISO 13790 [13], o comportamento dos ocupantes pode resultar em
variações no uso da energia de climatização de 50 a 150%. É de notar que os métodos detalhados
também não consideram a influência do comportamento dos ocupantes, dada a sua complexidade.
Segundo o REH, o parâmetro de ganhos internos (Gint) apresenta o valor médio de 4 W.m-2 para
habitações, o qual foi considerado para o Modelo Base. De forma a analisar a influência destes ganhos
foram considerados outros dois valores, de 2 e de 10 W.m-2. Os resultados obtidos são apresentados
na Tabela 3.12, indicando uma importância considerável tanto relativo às necessidades energéticas,
como às temperaturas interiores. Por exemplo, segundo o EnergyPlus, o valor de 10 W.m-2 resulta
numa variação superior a 100% (136%) para as necessidades energéticas na estação de
arrefecimento.
Tabela 3.12 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores em relação à situação média do Modelo Base para os ganhos internos, segundo os dois métodos detalhados.
Método Gint (W.m-2) Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,ver (%)
REH 2 14 28 6 1
10 34 94 18 4
EnergyPlus 2 31 35 7 3
10 67 136 22 10
Discussão de Resultados da Análise de Sensibilidade
De acordo com a análise de sensibilidade efectuada, todos os parâmetros considerados apresentaram
um impacto revelante nas necessidades energéticas e, em alguns casos, nas temperaturas médias
interiores. Desta forma, estes parâmetros devem ser considerados para o desenvolvimento do método
31
Simplificado. Para o Modelo Base considerado, os resultados obtidos são apresentados na Tabela 3.13.
Estes resultados apresentam uma discrepância notável entre os valores fornecidos pelos dois métodos
detalhados, particularmente nos valores de necessidades de aquecimento e nas temperaturas médias
interiores.
Tabela 3.13 - Resultados de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores do Modelo Base, para os dois métodos detalhados.
Método Nic (kWh.m-2.ano-1) Nvc (kWh.m-2.ano-1) Tmi,inv (ºC) Tmi,ver (ºC)
REH 60.37 16.19 10.8 23.0
EnergyPlus 25.53 15.64 12.3 27.9
De modo a compreender o motivo das disparidades entre os valores obtidos, optou-se por considerar
vários casos simples em que a influência de alguns parâmetros (tal como a renovação do ar, os ganhos
internos e a envolvente opaca) foi analisada individualmente ou de forma combinada. Esta análise
adicional é descrita no Anexo B, através da qual se verificou que os resultados são efectivamente
diferentes para a componente da envolvente opaca, concluindo-se que a radiação solar incidente
apresenta um impacto importante na estação de aquecimento. Nesta estação, a radiação solar é
considerada um ganho térmico, resultando numa redução das necessidades de aquecimento. O
método REH, apesar de ter em consideração o impacto da radiação solar nos vãos envidraçados, não
o considera para a envolvente opaca, o que, neste caso específico do Modelo Base é o factor que mais
contribuiu para a elevada diferença entre os valores obtidos com o REH e o EnergyPlus.
Além disto, deve ter-se em consideração que quando se analisa uma habitação, o que não é a presente
situação, as necessidades energéticas determinadas por ambos os métodos detalhados devem ser
relativamente semelhantes entre si, devido à existência de uma área de exposição ao exterior muito
inferior à considerada (que neste caso perfez uma área total de 154 m2). Trabalhos precedentes, como
o de Mamede [37], evidenciaram isto mesmo ao revelarem influências devidas aos ganhos solares nas
necessidades de aquecimento de apenas 15%, num edifício gaioleiro quando não considerando
qualquer sombreamento, segundo o software EnergyPlus.
3.3 Estrutura do Método Simplificado
Como mencionado, a ferramenta desenvolvida em formato Excel encontra-se dividida por três folhas
de cálculo com o intuito de apresentar uma interface para com o utilizador simples e concisa. A primeira
folha de cálculo tem por objectivo a introdução dos parâmetros de carácter mais geral da habitação,
enquanto que a segunda folha incorpora os parâmetros de entrada relativos aos vãos envidraçados,
quer para um caso base (de habitações já existentes), quer para um caso reabilitado (em que se
procede à reabilitação dos vãos envidraçados, substituindo os existentes por vãos de melhor
qualidade). Adicionalmente, é nesta segunda folha que os resultados finais são apresentados, de
maneira a que o utilizador comum possa observar directamente o impacto da reabilitação dos vãos na
eficiência energética global da habitação. Por sua vez, a terceira folha de cálculo fornece uma descrição
mais detalhada dos resultados obtidos.
32
3.3.1 Inputs da Ferramenta
Os parâmetros de entrada requeridos pela ferramenta são listados de seguida.
Primeira folha de cálculo
localização da habitação e respectivas características (município, rugosidade do local e
altitude);
dimensões da habitação (área de pavimento e pé direito);
fonte predominante de ruído;
selecção de sistema de ventilação existente (ventilação natural ou mecânica);
fracção exposta ao exterior:
o informação obtida ou a partir do número de paredes e da cobertura em contacto com
o exterior ou a partir do valor de factor de forma;
selecção de época de construção:
o permite definir o coeficiente U da envolvente através de valores de referência do REH
ou permite a introdução de dados pelo utilizador.
selecção das propriedades das paredes e da cobertura (coeficiente U);
características das aberturas de admissão de ar na fachada e tipo de grelhas;
características das condutas de ventilação natural (admissão e exaustão);
exaustão e/ou insuflação por meios mecânicos (ventilação mecânica); e
exaustão e/ou insuflação por meios híbridos de baixa pressão;
Segunda folha de cálculo
características dos vãos envidraçados para um caso base e para um caso reabilitado (Uwdn, gvi,
protecção solar e tipo de sombreamento);
existência ou não de informação do ensaio de permeabilidade ao ar n50;
permeabilidade das caixas de estore;
consideração da opção de orientação da envolvente da habitação;
o neste ponto, é fornecida a opção do utilizador escolher se pretende que os cálculos
sejam determinados por um método de cálculo simplificado ou por um método mais
detalhado em relação à orientação das fachadas e vãos envidraçados:
o método simplificado considera o valor da radiação solar como a radiação
média de todas as orientações (requer a área total dos vãos envidraçados); e
o método mais detalhado considera a radiação solar de cada orientação
individualmente. (requer a área dos vãos envidraçados e o comprimento da
fachada para cada orientação);
características de divisão mais desfavorável ao ruído exterior;
ganhos internos (opcional);
o por defeito, para as habitações e de acordo com o REH, considera-se um valor típico
de ganhos internos de 4 W.m-2; e
equipamento de climatização, referente à estação de aquecimento e de arrefecimento.
33
3.3.2 Outputs da Ferramenta
Os resultados obtidos pela ferramenta são apresentados em termos energéticos (necessidades de
climatização e temperatura média interior), em termos económicos, acústicos e ambientais.
Resumidamente, a aplicação informática do método Simplificado fornece os seguintes outputs:
variação de resultados entre o caso inicial e o caso reabilitado para as estações de
aquecimento e arrefecimento (poupança energética, diferença de necessidades energéticas e
diferença de temperatura média interior);
representação gráfica dos termos prejudiciais para os resultados finais, isto é, das perdas na
estação de aquecimento e dos ganhos na estação de arrefecimento, para cada caso
considerado ou ainda para a diferença entre os mesmos:
o perdas no aquecimento segundo a envolvente opaca, janelas e renovação do ar; e
o ganhos no arrefecimento segundo a envolvente opaca, janelas e ganhos internos;
resultados económicos, nomeadamente, poupança monetária no 1º ano, período de retorno
económico e VAL (Valor Actual Líquido para um estudo a longo prazo, de 35 anos);
resultados acústicos, ou seja, isolamento sonoro da fachada a sons aéreos para o caso base
e para o caso reabilitado; e
resultados ambientais, nomeadamente, impacto na quantidade de CO2 libertada para o
ambiente (devida à reabilitação, à reciclagem e à poupança energética) para o 1º ano e para
um estudo a 30 anos após a reabilitação.
3.3.3 Considerações e Equações Utilizadas
Necessidades Energéticas
As equações utilizadas para o cálculo das necessidades energéticas dizem respeito às equações (2.5)
e (2.6) apresentadas na secção 2.4. A metodologia de cálculo seguida para determinar os termos das
necessidades energéticas diz respeito a uma metodologia idêntica à seguida pelo método REH. Com
isto em mente apenas são mencionadas as diferenças e simplificações tidas em conta no método
Simplificado.
Para o método Simplificado, foi considerada uma inércia térmica forte da envolvente, dado que a
maioria dos apartamentos em Portugal inclui elementos construtivos, tais como: pavimento e cobertura
de betão armado ou pré-esforçado, paredes interiores de alvenaria e revestimento de cobertura,
paredes interiores e paredes exteriores em estuque ou em reboco [36]. Foi também considerada a
simplificação das pontes térmicas planas, em que se majorou o valor de U da envolvente opaca em
35% [36]. A existência de pavimento em contacto com o exterior ou com o solo foi desprezada, uma
vez que, nos apartamentos em Portugal, o pavimento encontra-se maioritariamente em contacto com
fracções adjacentes. A influência da troca de calor nas paredes em contacto com edifícios adjacentes
não foi tida em conta, uma vez que se considera que estes edifícios adjacentes são habitados e, por
consequência as temperaturas são semelhantes, não existindo trocas de calor entre as habitações.
O cálculo da renovação do ar da habitação é realizado automaticamente pela ferramenta informática
34
após a introdução dos dados de entrada das janelas, individualmente para o caso base e para o caso
reabilitado. Este cálculo tem por base a folha Excel fornecida pelo LNEC, de ventilação REH e RECS.
A folha de cálculo foi modificada ligeiramente de forma a reduzir o número de inputs necessários como,
por exemplo, o número de paredes em contacto com o exterior e a introdução da classe de
permeabilidade dos vãos envidraçados. Adicionalmente, retirou-se a apresentação do resultado da
permeabilidade da envolvente (que é apresentada nos resultados finais detalhados) e os estudos
complementares na avaliação do funcionamento de ventilação (REH), dado que não se incluem nos
objectivos deste trabalho.
Para a estação de arrefecimento considerou-se que a protecção solar apresenta-se activa para 70%
da sua área. O coeficiente de Uwdn das janelas foi considerado variável em função da estação climática,
ou seja, para o aquecimento considerou-se um coeficiente relativo ao caixilho e vidro, enquanto que
para o arrefecimento foi considerado um coeficiente inferior, devido à resistência adicional da protecção
solar (caso exista) na condução de calor. Relativamente ao factor de obstrução dos vãos envidraçados
(Fs), foi considerada a simplificação mencionada na nota técnica NT-SCE-01 [36]. O termo da radiação
solar pode ser estimado de duas formas. A primeira considera a radiação média de todas as
orientações, sendo apenas necessário definir a área total dos vãos envidraçados, ao passo que a
segunda requer a descrição detalhada das áreas dos vãos envidraçados e do comprimento da fachada
para cada orientação. Neste segundo modo, as orientações são definidas em dois conjuntos, um que
inclui as orientações norte, sul, este e oeste e outro conjunto que inclui as orientações nordeste,
sudeste, sudoeste e noroeste.
Temperaturas Médias Interiores
As temperaturas médias interiores foram obtidas a partir da equação (3.4), para as estações de
aquecimento e de arrefecimento, tendo em conta a temperatura média exterior da respectiva estação
e a diferença entre os ganhos e perdas térmicas, com:
𝑇𝑚𝑖, 𝑖 = 𝑇𝑚𝑒,𝑖 +𝑄𝑔𝑢,𝑖
(𝐻𝑡𝑟+𝐻𝑣𝑒)𝑖×𝑑𝑖 (3.4)
i – estação de aquecimento ou estação de arrefecimento;
Tmi,i – temperatura média interior da estação i (°C);
Tme,i – temperatura média exterior da estação i (°C);
Qgu,i – ganhos térmicos brutos na estação i (kWh);
Htr,i – coeficiente global de transferência de calor por transmissão na estação i (W.°C-1);
Hve,i - coeficiente global de transferência de calor por ventilação na estação i (W.°C-1); e
d – duração da estação i (h);
3.3.4 Análise Económica
A análise económica incluída no método Simplificado tem por base a poupança monetária gerada pela
redução no consumo de energia de climatização. Esta poupança é determinada em função da redução
na quantidade de energia final consumida anualmente (kWh.ano-1), do rendimento do sistema de
climatização (aquecimento e arrefecimento) e do preço actual da energia utilizada. A redução no
35
consumo de energia de climatização é obtida directamente pela soma das diferenças entre as
necessidades energéticas em função da área útil de pavimento. Nesta análise, assume-se que o
utilizador possui o equipamento de climatização em funcionamento sempre que as condições interiores
divirjam das condições de conforto para a respectiva estação (ver secção 2.4).
Período de Retorno (PR)
Geralmente, obtém-se o período de retorno (ou período de recuperação) de um projecto calculando o
número de anos que decorrerão até que a soma dos fluxos de tesouraria igualem o montante do
investimento inicial associado, neste caso, à reabilitação dos vãos envidraçados. De igual modo, este
período pode ser determinado através do quociente entre o custo de investimento inicial e o custo de
exploração (equação (3.5)) que representa a poupança associada à redução energética nas
necessidades de climatização, em que:
𝑃𝑅 =𝐶𝐼𝑛𝑣
𝐶𝑒𝑥𝑝 (3.5)
PR – período de retorno (anos);
Cinv – custo de investimento total devido à reabilitação e à manutenção dos novos vãos
envidraçados (€);
Cexp – custo de exploração médio para um estudo a 35 anos (ver equação (3.6)) (€);
𝐶𝑒𝑥𝑝 = ∑ (𝐶𝐸×𝐸
𝜂×35)
𝑖 (3.6)
i – estação de aquecimento ou estação de arrefecimento.
CE – custo médio de exploração para 35 anos, em função do tipo de energia utilizada pelo
sistema de climatização na estação i (€.kWh-1);
E – quantidade de redução energética na estação i (kWh); e
η – rendimento do sistema de climatização utilizado na estação i.
Para a determinação do custo de exploração foram considerados cenários de custo de energia
crescentes. Os valores considerados para cada tipo de energia dizem respeito às previsões fornecidas
pela Comissão Europeia [38], que estimam um aumento anual no custo da energia de 2.8% para o gás,
de 2.8% para o petróleo e de 2.0% para o carvão. Em relação ao custo de electricidade para o sector
residencial, este é caracterizado por um aumento a cada 5 anos, apresentando os valores de 0.164,
0.180, 0.191 e 0.192 €.kWh-1 para os anos de 2015, 2020, 2025 e 2030, respectivamente. Após o ano
de 2030 os valores são extrapolados até novas previsões.
O custo de investimento, por sua vez, foi obtido através da soma dos vários custos associados ao
processo de reabilitação dos envidraçados, isto é: o custo de remoção das janelas antigas, o custo das
novas janelas e dos estores, se for o caso, do transporte e montagem dos envidraçados e ainda do
custo de manutenção decenal das janelas. Este custo de manutenção considera que, a cada dez anos,
é necessário proceder a uma manutenção das janelas, tipicamente caracterizada pela substituição dos
vedantes, dos rolamentos e das ferragens para o caso de janelas de alumínio e PVC (policloreto de
vinila). Especificamente para o caso das janelas de madeira, considera-se como manutenção a
36
reparação do revestimento superficial de velatura ou pintura, com uma periocidade de cerca de 5 anos.
Adicionalmente, foi considerado o fim de ciclo de vida das janelas antigas retiradas da habitação. Tendo
em conta que alguns dos materiais destas janelas ainda possuem um valor residual, este valor foi tido
em conta e desta forma subtraído ao valor final do investimento associado à reabilitação de vãos
envidraçados. O alumínio, por exemplo, possui um valor residual, sendo assim enviado para a
reciclagem, enquanto a madeira é considerada biomassa para a produção de energia. Os restantes
materiais, como o vidro ou até mesmo o PVC, ainda que possuam algum valor residual, este é
consideravelmente baixo, pelo que estes materiais são considerados para reciclagem a custo zero pelo
fabricante de janelas (prática recorrente pelos fabricantes actuais).
Todos os custos mencionados anteriormente para a reabilitação de vãos envidraçados foram cedidos
pela empresa de caixilharia Hermínio & Manuel Reis Lda., relativamente aos vãos de alumínio e PVC.
Estes custos foram ainda comparados com um estudo do LNEC [12], sobre custos óptimos de
reabilitação em Portugal, corroborando que os custos dos envidraçados são relativamente idênticos,
com uma diferença entre 6 a 17%. Adicionalmente, quando comparados com trabalhos anteriores
como, por exemplo, a dissertação de Rebelo [33] (preços de vãos envidraçados e manutenção) e a de
Faustino [39] (preço de vidros), os custos revelaram-se semelhantes.
Valor Actual Líquido (VAL) da Energia
Um dos métodos utilizados para avaliar a viabilidade do investimento associado à reabilitação foi o
Valor Actual Líquido, que se caracteriza pela transferência, para o instante presente, de todos os
valores do custo de exploração do projecto. O critério do VAL pressupõe que 1 € disponível hoje vale
mais do que 1 € disponível amanhã, porque pode ser aplicado hoje e começar imediatamente a render
juros. O VAL foi obtido através da expressão indicada pela equação (3.7), contabilizando o investimento
inicial do projecto da reabilitação e a actualização dos custos de exploração ao longo de n anos, tendo
sido considerado um período de 35 anos, para o presente estudo. O termo r na equação representa a
taxa de rentabilidade de projecto, considerada como 2%.
𝑉𝐴𝐿 = − 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 + ∑(𝐶𝑒𝑥𝑝)
𝑖
(1 + 𝑟)𝑖
𝑛
𝑖=1
(3.7)
3.3.5 Análise Acústica
Para a análise acústica optou-se por avaliar o isolamento sonoro da fachada a sons aéreos,
padronizado, para o qual se utiliza o termo D2m,nT,w para quantificar este isolamento, expresso em
decibéis (dB). A análise é feita para o compartimento mais desfavorável da habitação, ou seja, para
aquele que possui uma maior exposição à fonte de ruído predominante, através do isolamento global
da fachada (paredes, janelas e aberturas de admissão). O termo em questão é determinado através
das equações (3.8) e (3.9), em que:
𝐷2𝑚,𝑛𝑇,𝑤 = 𝑅𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝐿2 + 10 𝐿𝑜𝑔 (𝑉
6𝑆𝑠𝑇0) (3.8)
Rtotal – índice de redução sonora total da fachada, integrando todos os elementos da fachada
37
(dB);
L2 – nível médio de pressão sonora medido no local de recepção;
V – volume do compartimento receptor (m3);
Ss – área da fachada exterior s, do compartimento receptor (m2); e
T0 – tempo de reverberação de referência (s).
𝑅𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 10 𝐿𝑜𝑔 (∑ 𝑆𝑖𝑖
∑ 𝑆𝑖10(
−𝑅𝑤,𝑖10
)𝑖
) (3.9)
i – elemento construtivo da fachada (grelhas, vãos envidraçados, ligação aro/vão e paredes);
Si – área do elemento i da fachada (m2); e
Rw,i – índice de isolamento sonoro do elemento i (dB).
Uma vez que se considera o cenário mais desfavorável possível, foi necessário adicionar ao índice
D2m,nT,w um termo de adaptação apropriado, denominado C ou Ctr. Estes termos de adaptação têm
como objectivo corrigir o índice de isolamento sonoro (Rw) dos elementos de construção da fachada,
pelo que no método Simplificado estes são determinados em função do tipo de ruído predominante,
indicado pelo utilizador de entre várias opções. Segundo Domingues [24], a curva característica
(Rw(C;Ctr)) é o parâmetro que melhor caracteriza o isolamento sono das janelas. Para os elementos de
construção (i.e. paredes) e para as grelhas de admissão de ar, os valores de redução sonora R foram
retirados de [32].
O método Simplificado apresenta os resultados acústicos em função do termo D2m,nT,w padronizado,
para a fachada da zona mais desfavorável ao ruído, tanto para o caso base como para o caso
reabilitado dos vãos envidraçados. Desta forma, facilmente se compara a melhoria do isolamento
sonoro aos sons aéreos derivada da reabilitação. Adicionalmente, deve ainda ter-se em consideração
que o valor de isolamento sonoro mínimo da fachada mais exposta ao exterior, para habitações (zona
sensível) é estipulado em D2m,nT,w ≥ 28 dB [23].
Em algumas habitações, existem grelhas de admissão de ar na fachada ou nas janelas, as quais
possuem um impacto bastante negativo na redução de isolamento sonoro quando abertas ou caso não
possuam qualquer atenuação de ruído. De maneira a ilustrar este efeito, para os casos em que existam
grelhas de admissão, o método Simplificado apresenta não só os valores de D2m,nT,w para o caso em
que as grelhas se encontram abertas, mas também quando estas estão fechadas.
3.3.6 Análise Ambiental
A Análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma metodologia analítica cujo objectivo passa por avaliar e
quantificar os recursos e os impactos ambientais associados a um produto manufacturado, ao longo de
todo o seu ciclo de vida [40], desde a extracção de matérias-primas até à deposição final do produto
na natureza, no qual são identificados e quantificados os recursos consumidos e a poluição gerada
[19]. Nesta secção, pretendeu-se avaliar o impacto ambiental derivado da reabilitação das janelas em
termos da quantidade de poluentes que desta advêm.
38
Tendo em conta que o desenvolvimento de uma ACV se afasta do âmbito principal desta dissertação,
foram considerados os impactos ambientais apresentados num outro trabalho, a dissertação de
doutoramento de Pinto [19]. Estes impactos dizem respeito apenas aos valores de CO2 resultantes dos
elementos construtivos que sofrem a reabilitação, ou seja, das janelas.
Fases do Ciclo de Vida
Para a análise ambiental são consideradas as várias fases do ciclo de vida para as janelas do caso
base (caso não reabilitado) e para as janelas do caso reabilitado. Em relação às janelas do caso
reabilitado, considerou-se uma fase cradle-to-gate (“do berço à porta”), enquanto que para o caso base
se considerou apenas a fase de fim de vida. Em suma, avaliou-se o impacto ambiental em termos de
CO2 das novas janelas instaladas na habitação, tal como o impacto associado ao fim de vida das janelas
antigas.
Fase de Reabilitação dos Envidraçados
Em relação às novas janelas na habitação em estudo, a quantidade de CO2 gerado em função da área
das janelas consideradas é apresentada na Tabela 3.14 (de notar que o termo low-e diz respeito a
vidros baixo emissivos). De destacar que, para os perfis de caixilharia, foram tidos em conta os
desperdícios de material ao longo da sua produção e que, em relação aos vidros, foi considerada uma
taxa de reciclagem de 50%. Adicionalmente, foi incluída uma distância média de transporte rodoviário
dos materiais de 100 km [19]. Desde a fábrica de produção das janelas até ao local de montagem dos
vãos envidraçados, considerou-se uma distância média de transporte rodoviário idêntica de 100 km.
Tabela 3.14– Avaliação do impacto ambiental de janelas para 50 anos. Dados retirados de Pinto [19].
Perfil Vidro kgCO2.m-2
Madeira Simples (5mm) 22.3
Madeira Duplo (6+16+4 mm) 58.1
Madeira Duplo low-e (6+16+4 mm) 59.3
Alumínio Simples (5mm) 135.0
Alumínio corte-térmico Duplo (6+16+4 mm) 217.0
Alumínio corte-térmico Duplo low-e (6+16+4 mm) 218.0
PVC Duplo (6+16+4 mm) 127.0
PVC Duplo low-e (6+16+4 mm) 128.0
Fase de Reciclagem dos Envidraçados
Para o caso das janelas antigas, é necessário distinguir os diversos fins de vida consoante cada tipo
de material. Em relação aos perfis de madeira, considera-se a incineração dos mesmos para produção
de energia. Por sua vez, os perfis de alumínio são tidos em conta com uma taxa de reciclagem de 100%
39
do material de alumínio, enquanto que qualquer outro material restante é enviado para aterro (um
exemplo disso é a poliamida, que compõe o corte térmico, as ferragens e os vedantes). Para o vidro,
como já referido, 50% desse material é reciclado e o restante enviado para aterro.
Considerando um cenário de procura crescente do alumínio, é plausível considerar que a reciclagem
do alumínio de primeira fusão das janelas antigas substitui o processo de extrusão da bauxita (mineral
da extracção de alumínio). Desta forma, apesar de ser verdade que a reabilitação dos vãos induz
sempre a um aumento na quantidade de CO2 libertada para o ambiente, uma vez que se produzem
janelas novas, a reciclagem dos perfis antigos de alumínio permite reduzir o impacto ambiental
associado à produção de novos perfis. Com esta ideia em mente, considera-se que, caso o perfil das
janelas antigas seja de alumínio, este é reciclado e fornece uma redução na quantidade de CO2
correspondente à reabilitação dos envidraçados. Esta quantidade foi considerada como sendo a
diferença da quantidade de CO2 entre perfis de alumínio não reciclado e perfis de alumínio reciclado
de primeira fusão, a que corresponde um valor aproximado de 100 kgCO2.m-2. Da mesma forma, para
a reciclagem foi tida em conta uma distância média de transporte rodoviário de 100 km desde o local
da habitação até ao local da reciclagem [19].
Resultados Relativos à Análise Ambiental
Os resultados ambientais são apresentados no método Simplificado em kg de CO2, para a fase de
reabilitação, para a fase de novos envidraçados e ainda associados à poupança energética da
reabilitação. A poupança energética reflecte uma redução na energia consumida pela habitação, o que,
por sua vez, resulta numa redução na geração anual de CO2. De forma a determinar a quantidade de
CO2 associada à produção de cada tipo de energia utilizada pelos sistemas de climatização, foram
utilizados os factores de conversão em kgCO2.kWh-1 indicados no REH [15]. Finalmente, nos
resultados, é apresentada a quantidade de CO2 total associada à reabilitação dos envidraçados, tanto
para o ano inicial em que a reabilitação é efectuada, como para um estudo a médio-longo prazo de 35
anos.
4
4.1 Introdução .............................................................................................................................. 40
4.2 Caso de Estudo 1: Apartamento num Edifício Multifamiliar .................................................. 40
4.3 Caso de Estudo 2: Apartamento num Edifício Multifamiliar com Reabilitação dos Vãos
Envidraçados ..................................................................................................................................... 47
Casos de Estudo
40
4.1 Introdução
Este capítulo tem como objectivo apresentar e caracterizar os dois casos de estudo analisados,
nomeadamente dois apartamentos na zona de Lisboa, sendo que o segundo apartamento foi sujeito a
uma reabilitação dos vãos envidraçados. Inicialmente, apresenta-se a descrição da habitação (planta
e elementos constituintes) em estudo e, de seguida, descrevem-se os ensaios de permeabilidade ao
ar realizados.
Geralmente, a caracterização da envolvente e dos sistemas de ventilação natural de um edifício é feita
por inspecção visual (para o caso das janelas e estores) ou através de valores típicos tabelados (em
termos de perda de carga nas condutas e renovação do ar). Contudo, estas metodologias podem não
fornecer valores rigorosos o suficiente, conduzindo a discrepâncias relevantes em relação ao
comportamento real.
Relativamente aos ensaios de permeabilidade ao ar, dois métodos não destrutivos podem ser
utilizados: o método de ensaio de pressurização e o método dos gases traçadores. Para a presente
dissertação optou-se por utilizar o método de ensaio de pressurização, através de uma porta
ventiladora, uma vez que este é um método fiável, de baixo custo e para o qual existem recomendações
para valores n50 destinados a limitar as infiltrações indesejáveis de ar.
Os ensaios de pressurização, já mencionados, têm o propósito de avaliar e caracterizar os elementos
constituintes do edifício em estudo como por exemplo: a classe das janelas, a classe dos estores e a
perda de carga das condutas de admissão e exaustão. Estes ensaios, efectuados através de ensaios
de pressão e de depressão, não permitem a obtenção directa do valor da taxa de renovação de ar
(Rph) em condições normais, mas sim a permeabilidade ao ar para uma diferença de pressão em
relação à atmosférica de 50 Pa (ensaio denominado de n50). O segundo método mencionado, o método
dos gases traçadores, trata-se de um método que determina directamente o valor da taxa de renovação
de ar, através da avaliação do decaimento da concentração de um gás traçador. Regra geral, este
método é efectuado utilizando CO2 como o gás traçador, pelo que se torna relativamente perigoso se
não forem tomadas as medidas de precaução necessárias.
4.2 Caso de Estudo 1: Apartamento num Edifício Multifamiliar
4.2.1 Descrição da Habitação
A habitação em estudo situa-se na zona de Lisboa, mais propriamente em Alvalade, tendo sido
concluída a sua construção nos anos cinquenta. A habitação situa-se no 1º andar de um edifício
multifamiliar com 16 metros de altura. Esta possui duas faces expostas ao exterior, a face Sul e
parcialmente a face norte, sendo que as restantes faces, o pavimento e a cobertura estão em contacto
com apartamentos vizinhos.
A envolvente exterior é composta por paredes simples de alvenaria de tijolo furado. Na envolvente,
encontram-se instaladas janelas de batente de madeira de vidro simples, de peitoril e de sacada. A
41
vedação da junta dos vidros é efectuada através de massa de vidraceiro e a vedação da junta móvel
das janelas é inexistente. Na maioria das janelas encontra-se aplicada uma persiana de réguas
plásticas com a respectiva tampa interior.
Na Figura 4.1 apresenta-se a planta do apartamento em questão, que possui uma área útil de 58 m2 e
um pé direito de 2.8 m, compreendendo um volume interior de 162.5 m3. Por sua vez na Tabela 4.1,
apresenta-se um resumo das dimensões da fracção habitacional, nomeadamente, área envolvente
exterior total, opaca e envidraçada, volume interior e classe de inércia térmica. Adicionalmente na
Tabela 4.2 tem-se um resumo das dimensões das janelas da habitação.
Tabela 4.1– Dimensões principais do apartamento 1 em estudo.
Classe de Inércia Térmica Forte
Volume Interior (m3) 162.5
Área da Envolvente Exterior (m2) 41.4
Área Opaca da Envolvente Exterior (m2) 25.8
Área Envidraçada (m2) 15.6
Área Envolvente/Área Pavimento 27%
Factor de Forma (m-1) 0.45
Tabela 4.2 - Dimensões das janelas do apartamento 1.
Tipo de Janela Dimensão do Vão
(mxm)
Área Móvel
(m2)
Comprimento de
Junta Móvel (m)
Janela de peitoril, 2 folhas de batente e 1
folha fixa 1.60x1.20 1.92 5.43
Janela de peitoril, 1 folha giratória e 2
folhas fixas 1.25x0.49 0.61 1.64
Janela de sacada, 3 folhas de batente e 2
folhas fixas 3.00x2.10 6.30 11.88
Janela de peitoril, 2 folhas de batente e 1
folha fixa 1.60x1.20 1.92 5.43
Janela de batente, 2 folhas de abrir 1.20x0.84 1.01 5.06
Janela de peitoril, fixa e quadriculada 2.30x1.65 3.80 -
Total - 15.55 29.44
42
Figura 4.1- Planta da habitação 1, localizada na zona de Alvalade, Lisboa.
Na Tabela 4.3 são apresentados os coeficientes de transmissão térmica global U para os diferentes
elementos constituintes da habitação.
Tabela 4.3 – Coeficientes de transmissão térmica global dos diferentes elementos do apartamento 1 em estudo.
Elemento Constituinte U (W.m-2.°C-1)
Parede exterior 2.04
Parede exterior sala 3.40
Parede em contacto com vão de escadas 2.46
Parede com edifício adjacente 2.30
Pavimento e cobertura (ascendente) 2.92
Pavimento e cobertura (descendente) 2.08
Viga e pilar com o exterior 2.96
Porta de entrada 2.00
Viga - caixa de estore - parede 1.79
Viga - caixa de estore 1.56
Banho
1.8 m2
Sala de jantar
3.7 m2
Arrumos
4 m2 Cozinha
6.8 m2 Quarto II
13.8 m2
Hall de entrada
4.3 m2
Quarto I
10 m2 Banho
4.1 m2
Sala de estar
9.5 m2
N
43
4.2.2 Ensaios de Permeabilidade ao Ar
Os ensaios de permeabilidade ao ar foram realizados de acordo com o procedimento experimental de
ensaios de pressurização descrito no Anexo C. Os resultados dos ensaios de permeabilidade ao ar da
envolvente, da conduta de exaustão, das janelas e das caixas de estore são apresentados na presente
subsecção. Estes ensaios foram realizados no dia 5 de Junho, tendo-se verificado uma temperatura do
ar exterior de 26°C e uma temperatura do ar interior de 24°C durante a sua realização.
Para estes ensaios é recomendada a existência de uma velocidade do vento inferior a 3 m.s-1 [29]. No
dia dos ensaios, verificou-se apenas uma brisa ligeira, pelo que, segundo a escala de Beaufort
apresentada na norma [29], a velocidade do vento é considerada aceitável e entre 1.8 e 3.1 m.s-1. De
forma a ter em conta o efeito da acção do vento, a diferença de pressão entre o interior e o exterior da
habitação foi medida no início e no fim de cada ensaio, verificando-se uma diferença de pressão inferior
a 2 Pa, para todos os ensaios. Os resultados aqui apresentados têm em conta as correcções
necessárias face às diferenças de temperatura (variação de densidade) e pressão existentes no
decorrer dos ensaios.
Envolvente
O ensaio da envolvente corresponde à medição da permeabilidade total do apartamento com a
respetiva conduta de exaustão vedada (Figura 4.2).
Figura 4.2 – Resultados do ensaio de pressurização à envolvente do apartamento 1.
Com base nos resultados do ensaio, verificou-se que a permeabilidade total da habitação em pressão
é semelhante à permeabilidade em depressão, sendo que esta foi superior até 3% para diferenças de
pressão entre 20 e 60 Pa. Na Tabela 4.4, apresentam-se os parâmetros normalmente adoptados para
apreciar a permeabilidade ao ar da envolvente dos edifícios.
y = 104.682x0.612
R² = 0.998
y = 113.847x0.583
R² = 0.999
10
100
1000
10000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Pressão
Depressão
44
Tabela 4.4 - Parâmetros de caracterização da permeabilidade ao ar da envolvente do apartamento 1.
Parâmetro Pressão Depressão Média
C (m3.h-1.Pa-n) 104.7 113.8 -
n 0.61 0.58 -
Caudal para ΔP = 50 Pa (m3.h-1) 1147 1114 1131
n50 (h-1) 7.06 6.85 6.94
Q(ΔP = 50 Pa)/Aenv ext (m3.h-1.m-2) 29.6 28.7 29.2
Conduta de Exaustão
O presente ensaio corresponde à medição da permeabilidade ao ar e desta forma, à estimativa da
perda de carga da conduta de exaustão existente na cozinha, em que a envolvente e a conduta
encontravam-se em condições normais sem qualquer vedante. Os resultados obtidos encontram-se
representados na Figura 4.3.
Figura 4.3 – Resultados do ensaio de pressurização à conduta de exaustão (perda de carga) do apartamento 1.
Subtraindo os resultados apresentados na Figura 4.2 com os da Figura 4.3, foi possível obter uma
estimativa para a perda de carga existente na conduta de exaustão e, dessa forma, obter a constante
da curva característica em condutas de ventilação natural (C) mencionada no REH de 35.5 m3.h-1.Pa-n
[15]. Considerando que a conduta possui uma altura de 12 m, um diâmetro superior a 0.2 m e uma
proporção de área livre e área da conduta superior a 70%, segundo a legislação, esta corresponde a
uma conduta com baixa perda de carga e uma constante da curva característica de 58.7.
A discrepância dos valores obtidos da constante C entre o ensaio e a legislação deve explicar-se dada
a difícil vedação da conduta de exaustão na sua totalidade e devido à obstrução da mesma pelo
acumular de produtos de combustão. Numa situação ideal, os valores de constantes C seriam mais
próximos entre si do que os obtidos.
y = 143.9x0.578
R² = 0.9765
10
100
1000
10000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Pressão
Depressão
Média
45
Janelas
Os ensaios da permeabilidade ao ar das janelas foram realizados separadamente para cada janela, em
que para cada ensaio a respectiva janela se encontrava completamente vedada, sem incluir as ligações
às caixas de estore. Na Figura 4.4 encontram-se as estimativas da permeabilidade ao ar das janelas
através da subtração dos resultados da envolvente (Figura 4.2) com os resultados de cada ensaio
relativo às janelas. De forma a simplificar os resultados apresentados, só são indicados os valores
médios entre os ensaios de pressão e de depressão para cada janela ensaiada. Os resultados foram
normalizados para a unidade de área de cada vão envidraçado. Verificou-se então que a
permeabilidade ao ar em condições de pressão foi superior à permeabilidade em condições de
depressão, entre 6 a 10% para o quarto I e entre 3 a 10% para o quarto II, para as diferenças de pressão
entre 60 e 20 Pa, respectivamente. Tendo em conta que a classificação das janelas é determinada para
uma diferença de pressão de 50 Pa, segundo os resultados obtidos, as janelas dos quartos I e II são
janelas sem classificação.
Figura 4.4 – Estimativa de permeabilidade ao ar das janelas ensaiadas do Caso de Estudo 1. As linhas a tracejado no gráfico indicam os limites máximos para cada classe correspondente (EN 12207, 1999).
Caixas de Estore
Tal como para as condutas e janelas, os ensaios da permeabilidade ao ar das caixas de estore foram
realizados separadamente para cada caixa de estore, completamente vedada. Na Figura 4.5
apresentam-se as estimativas da permeabilidade ao ar das caixas de estore, através da subtração dos
resultados da envolvente (Figura 4.2) com os resultados de cada ensaio, sendo apresentados os
valores médios entre os ensaios de pressão e de depressão. Os valores de caudal encontram-se
normalizados à unidade de comprimento (L) de cada caixa de estore.
0.1
1
10
100
1000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Quarto I
Quarto II
Sem Classificação
Classe 1
Classe 2
Classe 3
Classe 4
46
Figura 4.5 - Estimativa de permeabilidade ao ar das caixas de estore das janelas ensaiadas do apartamento 1.
Tipicamente, em condições normais, ensaios de permeabilidade a caixas de estore exibem um
comportamento linear com a variação de pressão, uma vez que a área de passagem ao ar se mantém
constante. Contudo, este comportamento não se verificou para os ensaios do quarto II, em que este
apresenta uma variação não linear, podendo se dever ao diferente comportamento das frinchas
existentes nas caixas de estore. Em suma, ensaios de pressão podem conduzir a um aumento de área
de frinchas, enquanto que ensaios de depressão podem levar a uma redução devido a obstruções
interiores.
A classe de permeabilidade de estores é determinada em função do rácio entre o caudal de ar (a uma
diferença de pressão de 100 Pa) e o comprimento da caixa de estore, variando consoante seja inferior
ou superior à unidade. Para valores de rácio inferiores à unidade os estores são considerados classe
baixa e, para valores superiores, como sendo de classe alta. Os resultados obtidos para os estores
ensaiados são apresentados na Tabela 4.5, concluindo-se que se está perante estores com classe
elevada.
Tabela 4.5 – Características das caixas de estore das janelas ensaiadas do apartamento 1.
Q (ΔP = 50 Pa)
(m3.h-1)
Q (ΔP = 100 Pa)
(m3.h-1)
L (m) Q (ΔP = 100Pa)/L
(m3.h-1.m-1)
Quarto I 30.0 32.4 1.6 20.2
Quarto II 59.7 42.2 1.6 26.4
y = 13,713x0,196
y = 104,370x-0,159
y = 10,318x0,710
10
100
1000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Quarto I
Quarto II
Sala
47
4.3 Caso de Estudo 2: Apartamento num Edifício Multifamiliar com
Reabilitação dos Vãos Envidraçados
4.3.1 Descrição da Habitação
A habitação em estudo situa-se na zona de Lisboa, mais propriamente no bairro da Boa Vista, tendo a
conclusão ocorrido no ano 1976. A habitação situa-se no rés de chão de um edifício multifamiliar com
17 m de altura. Esta possui a face nordeste e a face sudeste exposta ao exterior, sendo que as restantes
faces e a cobertura estão em contacto com apartamentos adjacentes e o pavimento em contacto com
arrecadações. A envolvente exterior é composta por paredes duplas de alvenaria de tijolo furado com
caixa-de-ar. Na envolvente encontram-se instaladas janelas de correr de alumínio com vidro simples.
A vedação da junta móvel é efectuada através de vedantes de pelúcia e a junta dos vidros com vedantes
de borracha. Na maioria das janelas encontra-se aplicada uma persiana de réguas plásticas com a
respectiva caixa de estore e tampa interior.
Na Figura 4.6 apresenta-se a planta do apartamento em questão, que possui uma área útil de 76 m2 e
um pé direito de 2.5 m, compreendendo um volume interior de 190 m3. Por sua vez, na Tabela 4.6
apresenta-se um resumo das dimensões da fracção habitacional, nomeadamente, área envolvente
exterior total, opaca e envidraçada, volume interior e classe de inércia térmica. Adicionalmente na
Tabela 4.7 apresenta-se um resumo das dimensões das janelas pertencentes à habitação.
Tabela 4.6 - Dimensões principais do apartamento 2 em estudo.
Classe de Inércia Térmica Forte
Volume Interior (m3) 190
Área da Envolvente Exterior (m2) 43.9
Área Opaca da Envolvente Exterior (m2) 32.7
Área Envidraçada (m2) 11.2
Área Envolvente/Área Pavimento 15%
Factor de Forma (m-1) 0.5
Tabela 4.7 - Dimensões das janelas do apartamento 2.
Tipo de Janela Dimensão do Vão
(mxm)
Área Móvel
(m2)
Comprimento de
Junta Móvel (m)
Janela de peitoril, 2 folhas de correr 0.88x1.15 1.01 5.11
Janela de peitoril, 2 folhas de correr 1.18x1.14 1.35 5.68
Janela de peitoril, 2 folhas de correr 1.17x1.16 1.36 5.72
Janela de peitoril, 2 folhas de correr 1.16x1.14 1.32 5.64
Janela de peitoril, 2 folhas de correr 1.67x1.16 1.94 6.72
Janela de peitoril, 4 folhas de correr 3.60x1.16 4.18 13.85
Total - 11.16 42.72
48
N
Sala
24 m2
Hall de
entrada
4.4 m2
Banho
4.3 m2
Arrumos
2 m2
Quarto I
12 m2
Quarto II
17 m2
Cozinha
6 m2
Lavandaria
3 m2
Arrumos
0.9 m2
Corredor
2.4m2
Figura 4.6 - Planta da habitação 2, localizada no bairro da Boavista, Lisboa.
Na Tabela 4.8 são apresentados os coeficientes de transmissão térmica global U para os diferentes
elementos constituintes da habitação.
Tabela 4.8 – Coeficiente de transmissão térmica global dos diferentes elementos do apartamento 2 em estudo.
Elemento constituinte U (W.m-2.°C-1)
Parede exterior 1.09
Parede exterior de sala 1.69
Parede em contacto com vão de escadas 1.78
Parede com edifício adjacente 2.41
Pavimento e cobertura (ascendente) 3.12
Pavimento e cobertura (descendente) 2.17
Viga com vão de escadas 2.59
Viga de sala com exterior 3.19
Porta de entrada 2.10
49
4.3.2 Ensaios de Permeabilidade ao Ar
Os ensaios de permeabilidade ao ar para a habitação em questão incluem os ensaios iniciais da
envolvente e das janelas, para um caso inicial com janelas antigas e para um caso reabilitado com
novas janelas. São também apresentados os ensaios para as condutas de exaustão e admissão e
ainda para as caixas de estore.
4.3.2.1 Caso Inicial
Para a situação inicial, os ensaios de permeabilidade ao ar foram realizados de acordo com o
procedimento experimental de ensaios de pressurização descrito no Anexo C. Estes ensaios foram
realizados no dia 27 de Maio, tendo-se verificado uma temperatura média do ar exterior de 19°C e uma
temperatura média do ar interior de 21°C durante os mesmos.
Para estes ensaios é recomendada a existência de uma velocidade do vento inferior a 3 m.s-1 [29]. No
dia de ensaios, o vento estava calmo, pelo que, segundo a escala de Beaufort apresentada na norma
[29], a velocidade do vento é considerada aceitável e inferior a 0.45 m.s-1. De forma a ter em conta o
efeito da acção do vento, a diferença de pressão entre o interior e o exterior da habitação foi medida
no início e no fim de cada ensaio, verificando-se uma diferença de pressão inferior a 2 Pa, para todos
os ensaios. Os resultados aqui apresentados tiveram em conta as correcções necessárias
relativamente às diferenças de temperatura (variação de densidade) e pressão existentes no decorrer
dos ensaios.
Envolvente
O ensaio da envolvente corresponde à medição da permeabilidade total do apartamento com as
respetivas condutas de admissão e exaustão vedadas (Figura 4.7).
Figura 4.7 - Resultados do ensaio de pressurização à envolvente do apartamento 2, caso inicial.
Com base nos resultados do ensaio, verificou-se que a permeabilidade total da habitação em pressão
é semelhante à permeabilidade em depressão, sendo esta superior até 3% para diferenças de pressão
entre 20 e 60 Pa. Na Tabela 4.9 apresentam-se os parâmetros normalmente adoptados para apreciar
a permeabilidade ao ar da envolvente dos edifícios.
y = 20.912x0.750
R² = 0.989
y = 22.198x0.740
R² = 0.994
10
100
1000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Pressão
Depressão
50
Tabela 4.9 – Parâmetros de caracterização da permeabilidade ao ar da envolvente do apartamento 2, caso inicial.
Parâmetro Pressão Depressão Média
C (m3.h-1.Pa-n) 20.9 22.2 -
n 0.75 0.74 -
Caudal para ΔP = 50 Pa (m3.h-1) 393.0 401.0 397.0
n50 (h-1) 2.07 2.11 2.09
Q(ΔP = 50 Pa)/Aenv ext (m3.h-1.m-2) 8.6 8.7 8.6
Condutas de Admissão e Exaustão
O ensaio às condutas permite estimar a perda de carga das mesmas. Os ensaios foram realizados para
cada conduta separadamente, sendo que a envolvente e a respectiva conduta ensaiada encontravam-
se em condições normais, ou seja, sem qualquer vedante. Os resultados obtidos encontram-se
representados na Figura 4.8.
Figura 4.8 - Resultados médios dos ensaios de pressurização (pressão e depressão) às condutas de admissão e exaustão do apartamento 2, para cada conduta e com respectiva curva característica.
Subtraindo os resultados apresentados na Figura 4.7 aos da Figura 4.8, foi possível efectuar uma
estimativa da perda de carga existente na conduta de exaustão e, dessa forma, obter as constantes da
curva característica em condutas de ventilação natural (C), mencionada no REH [15]. Ainda segundo o
REH, considerando a altura de cada conduta, o seu diâmetro e a proporção de área livre por área da
conduta, determinou-se o valor da constante C tabelado. Os resultados obtidos para as quatro condutas
existentes na habitação são apresentados na Tabela 4.10. Os resultados indicam que a conduta
presente na cozinha corresponde a uma conduta com baixa perda de carga, ao passo que as restantes
condutas apresentam uma perda de carga alta.
y = 74.02x0.593
y = 28.95x0.695
y = 30.08x0.675
y = 33.38x0.657
100
1000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Cozinha Exaustão
WC Exaustão
WC Admissão
Arrumos Exaustão
51
Tabela 4.10 - Características das condutas existentes no apartamento 2.
Condutas Q (ΔP = 100Pa) (m3.h-1) C ensaio C tabelado
Cozinha Exaustão 471 47.1 53.4
Banho Admissão 45 4.5 10.6
Banho Exaustão 11 1.1 10.6
Despensa Exaustão 22 2.3 10.6
Janelas
Os ensaios da permeabilidade ao ar das janelas foram realizados separadamente para cada janela, em
que para cada ensaio a respectiva janela encontrava-se completamente vedada, sem incluir as ligações
às caixas de estore. Na Figura 4.9 encontram-se as estimativas da permeabilidade ao ar das janelas
através da subtração dos resultados da envolvente com os resultados de cada ensaio relativo às
janelas. De forma a simplificar, os resultados apresentados só indicam os valores médios entre os
ensaios de pressão e de depressão para cada janela ensaiada. Estes resultados foram normalizados
à unidade de área de cada vão envidraçado. Verificou-se que a permeabilidade ao ar em condições de
pressão foi superior à permeabilidade em condições de depressão, até 2% para o quarto I e até 3%
para a cozinha, para diferenças de pressão entre 20 e 60 Pa, respectivamente. Contudo, o inverso foi
verificado para o quarto II, em que a permeabilidade em condições de pressão foram inferiores entre 2
a 12% para diferenças de pressão entre 20 e 60 Pa, respectivamente.
Figura 4.9 – Estimativa de permeabilidade ao ar das janelas ensaiadas do apartamento 2. As linhas a tracejado no gráfico indicam os limites máximos para cada classe correspondente (EN 12207, 1999).
Considerando novamente que a classificação das janelas é determinada para uma diferença de
pressão de 50 Pa, os resultados obtidos indicaram que as janelas da habitação são janelas sem
classificação, com excepção da janela da cozinha. Para esta janela, verificou-se um comportamento
pouco normal a baixos valores de diferença de pressão, o que indica que se trata de uma janela de
classe 1. Dado que se trata de um caso único e, tal como os restantes ensaios, sujeito a incertezas nos
ensaios, para a habitação em questão todas as janelas foram consideradas sem classificação.
0.1
1
10
100
1000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Quarto I
Quarto II
Cozinha
Sem Classificação
Classe 1
Classe 2
Classe 3
Classe 4
52
Caixas de Estore
Tal como para as condutas e janelas, os ensaios da permeabilidade ao ar das caixas de estore foram
realizados separadamente para cada caixa de estore completamente vedada. Na Figura 4.10
apresentam-se as estimativas da permeabilidade ao ar das caixas de estore, através da subtração dos
resultados da envolvente (Figura 4.7) com os resultados de cada ensaio, sendo apresentados os
valores médios entre os ensaios de pressão e depressão. Os valores de caudal encontram-se
normalizados à unidade de comprimento (L) de cada caixa de estore.
Figura 4.10 - Estimativa de permeabilidade ao ar das caixas de estore das janelas ensaiadas do apartamento 2.
Em condições normais, ensaios de permeabilidade a caixas de estore exibem um comportamento linear
com a variação de pressão, uma vez que a área de passagem ao ar se mantém constante. Contudo,
isto não se verificou para os ensaios do quarto II e da cozinha, que apresentaram uma variação não
linear. Este facto, tal como referido no caso de estudo anterior, pode dever-se ao comportamento das
frinchas presentes nas caixas de estore. Facilmente também se identificaram dificuldades em obter
resultados a baixas diferenças de pressão, pelo que os resultados obtidos a diferenças de pressão
inferiores a 30 Pa, para o caso da cozinha, foram desprezados.
Os resultados obtidos para os estores ensaiados (ver Tabela 4.11) permitiram concluir que se está
perante estores de classe de permeabilidade alta.
Tabela 4.11 – Características das caixas de estore das janelas ensaiadas do apartamento 2.
Q (ΔP = 50 Pa)
(m3.h-1)
Q (ΔP = 100 Pa)
(m3.h-1)
L (m) Q (ΔP = 100Pa)/L
(m3.h-1.m-1)
Quarto I 13.3 37.3 1.14 32.7
Quarto II 21.2 53.9 1.45 37.2
Cozinha 17.9 61.8 1.43 43.2
0.1
1
10
100
1000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Quarto I
Quarto II
Cozinha
53
4.3.2.2 Caso Reabilitado
Envolvente
O ensaio da envolvente corresponde à medição da permeabilidade total do apartamento com as novas
janelas instaladas, nomeadamente, janelas de batente de PVC com vidro duplo e grelhas de admissão
de ar manualmente reguladas. Os resultados obtidos encontram-se na Figura 4.11, com as condutas
de admissão e exaustão da habitação totalmente vedadas.
Figura 4.11 - Resultados do ensaio de pressurização à envolvente do apartamento 2 para o caso reabilitado.
Com base nos resultados do ensaio verifica-se que a permeabilidade total da habitação em pressão é
superior à permeabilidade medida em depressão, em cerca de 6 a 10% para as diferenças de pressão
entre 20 e 60 Pa. Na Tabela 4.12 apresentam-se os parâmetros normalmente adoptados para apreciar
a permeabilidade ao ar da envolvente dos edifícios.
Tabela 4.12 – Parâmetros de caracterização da permeabilidade ao ar da envolvente do apartamento 2 para o caso reabilitado.
Pressão Depressão Média
C (m3.h-1.Pa-n) 8.2 10.6 -
n 0.79 0.74 -
Caudal para ΔP = 50 Pa (m3.h-1) 178.2 191.1 183.5
n50 (h-1) 0.94 1.01 0.96
Q(ΔP = 50 Pa)/Aenv ext (m3.h-1.m-2) 3.9 4.2 4.0
Janelas
Os ensaios da permeabilidade ao ar das janelas foram realizados separadamente para cada janela
ensaiada. Para cada ensaio, a respectiva janela estava completamente vedada, sem incluir as ligações
às caixas de estore. Através da subtração dos resultados da envolvente (Figura 4.11) com os resultados
de cada ensaio, verificou-se que a permeabilidade ao ar das janelas em condições de depressão foi
y = 8,201x0,787
R² = 0,997
y = 10.567x0.740
R² = 0.997
10
100
1000
10 100
Cau
dal
(m3.h
-1)
Diferença de Pressão (Pa)
Pressão
Depressão
54
superior à permeabilidade em condições de pressão até 30%, para diferenças de pressão entre 20 e
60 Pa. Os resultados obtidos para estes ensaios não apresentaram qualquer significado físico para
diferenças de pressão diferentes de 50 Pa, pelo que, para este apartamento reabilitado, os resultados
indicaram que se está perante janelas de classe 4. É de notar a elevada dificuldade em obter resultados
para janelas de classe 4, uma vez que a esta classe correspondem valores de caudal reduzidos
(próximos do limite de capacidade de medição), além da existência de incertezas devidas ao
equipamento e software dos ensaios, ao vento e à temperatura. Para melhor compreender a razão
desta dificuldade, considere-se um caso simples de uma janela. O caudal de ar (qv em m3.h-1) que
atravessa essa janela é dado pela Equação (4.1), retirada de [15], em que:
𝑞𝑣 = 𝑊. (∆𝑃 100⁄ )0.67. 𝐴𝑣ã𝑜
(4.1)
W – coeficiente com valor 100, 50, 27, 9 ou 3 para janelas e portas sem classificação, classe
1, classe 2, classe 3 e classe 4, respectivamente;
ΔP – diferença de pressão (Pa); e
Avão – área total do vão (m2).
Considerando uma janela com uma área total de vão de 1 m2 e uma classificação de classe 4, ao qual
corresponde um valor de coeficiente W de 3, para diferenças de pressão de 10 e 60 Pa, obtém-se um
caudal de 0.64 e 2.13 m3.h-1, respectivamente. Comparando estes caudais com os caudais obtidos para
a envolvente existente no presente caso de estudo, foi possível observar que o caudal de ar desta
janela padrão representava apenas cerca de 1% dos caudais da envolvente. Este valor permite assim
explicar a dificuldade em obter resultados em ensaios de pressurização a baixas diferenças de pressão,
para janelas de classificação alta.
Grelhas de Admissão de Ar nas Janelas
Para este caso de estudo, na pós-reabilitação as janelas instaladas possuíam grelhas de admissão de
ar reguláveis manualmente. Uma vez que estas grelhas não são auto-reguláveis, não foram
considerados ensaios de permeabilidade ao ar das mesmas. Tendo em conta que na habitação existem
quatro janelas com estas grelhas de admissão de ar, foi considerada uma área livre total de abertura
de quatro grelhas de 200 cm2.
Deve ter-se em mente que o uso correcto das grelhas pode conduzir a benefícios para o utilizador, uma
vez que estas apresentam um impacto considerável no valor de renovação do ar da habitação e
permitem o controlo do mesmo. As grelhas podem ser utilizadas de forma a reduzir a taxa de renovação
do ar na estação de aquecimento (pressupondo a garantia da taxa mínima de renovação do ar de
0.4 h-1) caso se encontrem fechadas. Para a estação de arrefecimento, é pretendido que estas
promovam o aumento a taxa de renovação do ar nas horas de menores temperaturas exteriores,
através da abertura das mesmas.
5
5.1 Ensaios Experimentais .......................................................................................................... 55
5.2 Avaliação do EnergyPlus ....................................................................................................... 59
5.3 Resultados Finais .................................................................................................................. 61
Resultados
e Discussão
55
5.1 Ensaios Experimentais
Para a presente dissertação, tinha-se também como objectivo avaliar experimentalmente o impacto da
reabilitação dos vãos envidraçados num caso real, de forma a ser possível credibilizar alguns dos
pressupostos das análises das intervenções de reabilitação. Para esta avaliação optou-se por estudar
as alterações na permeabilidade ao ar da envolvente através de ensaios de pressurização e as
alterações nas condições de conforto através da medição das temperaturas interiores e exteriores. O
caso considerado diz respeito ao apartamento do Caso de Estudo 2, em que se verificou a reabilitação
dos vãos envidraçados então existentes.
5.1.1 Ensaios de Permeabilidade ao Ar
Na secção 4.3.2, foram apresentados os resultados experimentais obtidos para os ensaios de
pressurização, que por sua vez permitiram determinar a permeabilidade ao ar da envolvente do
apartamento em estudo, para uma diferença de pressão de 50 Pa (n50). Na Tabela 5.1, é novamente
apresentado o valor do ensaio experimental n50 (situação I), para os casos antes e após a reabilitação
das janelas. Identicamente para estes dois casos, é possível determinar o valor n50 da envolvente para
o método REH (situação II), através da ferramenta de cálculo do LNEC [28].
De forma a apreciar as trocas de calor devidas à renovação do ar, é necessário determinar a taxa de
renovação do ar da envolvente (Rph). Como mencionado na secção 4.1, os ensaios de pressurização
não permitem a obtenção directa do valor Rph, mas sim o valor n50 da envolvente, a partir do qual é
possível calcular o valor Rph da situação I experimental e estimar o valor Rph da situação II, por recurso
à ferramenta de cálculo do LNEC [28]. Como também aí referido, os ensaios dos gases traçadores, não
realizados durante este trabalho, são uma forma de obter directamente o valor Rph.
Tabela 5.1 - Resultados n50 e renovação do ar (Rph) para o Caso de Estudo 2, pré e pós-reabilitação, para os ensaios experimentais e estimativas pelo REH.
Pré
Reabilitação
Pós
Reabilitação
Variação
(h-1)
Variação
(%)
n50
(h-1)
I - Medido experimentalmente 2.09 0.96 - 1.13 54
II - Estimado para REH 6.60 3.02 - 3.58 54
Rph
(h-1)
I - Estimado para REH 0.69 0.46 - 0.23 33
II - Estimado para REH 1.16 0.92 - 0.24 21
Analisando os resultados obtidos, verificou-se uma diferença elevada nos valores absolutos de n50
entre as situações de pré e pós-reabilitação, mas ainda assim a variação dos mostrou-se semelhante,
indicando uma redução de 54%.
Para uma melhor apreciação dos resultados, os valores a reter dizem respeito à taxa de renovação do
ar da envolvente (Rph), os quais indicaram que quando se têm por base ensaios experimentais os
valores são relativamente inferiores comparando com os valores estimados (redução de 59% na
situação de pré-reabilitação e de 50% na pós-reabilitação). Tendo por objectivo avaliar o impacto da
56
reabilitação dos envidraçados, é essencial analisar a diferença entre o valor de Rph. Os valores de
variação (em h-1) para ambas as situações (I e II) são praticamente idênticos, pelo que se pode concluir
que a ferramenta de cálculo do LNEC [28] apresenta uma boa aproximação para a estimativa da taxa
de renovação de ar da envolvente. Em suma, para o caso de estudo considerado, verificou-se uma
redução da taxa de renovação de ar em 33%, o que, em termos das necessidades de aquecimento,
representou uma redução notável de 4.66 kWh.m-2.ano-1 (ou seja, cerca de 10% de Nic). Ainda assim,
trabalhos futuros devem considerar a validação desta ferramenta de cálculo através dos ensaios de
gases traçadores, para a determinação directa do valor Rph.
5.1.2 Perfís de Temperaturas Experimentais
Estas amostras experimentais referem-se a perfis de temperatura recolhidos na habitação, os quais
correspondem a dois conjuntos de amostras, sendo um conjunto relativo à situação de pré-reabilitação
dos vãos do apartamento (ao qual se designa por Caso A, daqui em diante) e outro conjunto relativo à
pós-reabilitação (designado Caso B). A recolha de dados foi efectuada através de registadores de
dados (HOBO U10 Temp/RH Logger), que apresentam uma incerteza de ±0.5°C segundo o fabricante
[41], e uma incerteza de ±0.3°C, de acordo o um exercício prático apresentado no Anexo D. Tendo por
base o cenário mais conservador, considerou-se a incerteza indicada pelo fabricante. Para os ensaios
de temperatura foram utilizados sete sensores no total. Três desses sensores foram colocados em
diferentes pontos no interior da habitação, tendo sido os restantes quatro distribuidos pelas zonas:
exterior, vão de escadas, andar de cima e andar de baixo.
A primeira amostra, referente ao Caso A, foi obtida num período de 13 dias completos no mês de Maio
(ver Figura 5.1). A curta duração deste período amostral deveu-se à existência das obras de reabilitação
dos vãos envidraçados, realizada por uma empresa especializada, após o último dia experimental. A
segunda amostra, referente ao Caso B, foi obtida durante um período de 32 dias completos nos meses
de Junho e Julho, sendo os dados recolhidos apresentados na Figura 5.2. Os valores de temperatura
foram recolhidos com um intervalo de tempo de 10 minutos entre eles. Durante o tempo de
amostragem, os estores exteriores estiveram permanentemente activos e dado que se trata de uma
fracção não habitada, não existiam quaisquer ganhos internos.
57
Figura 5.1 – Perfil de temperaturas para o Caso A, amostra de 13 dias.
Figura 5.2 - Perfil de temperaturas para o Caso B, amostra de 32 dias.
De forma a estudar a influência da reabilitação dos vãos envidraçados, a metodologia seguida consistiu
na comparação entre as diferenças de temperaturas diárias pré e pós-reabilitação dos envidraçados,
para casos de condições atmosféricas exteriores idênticas. Os perfis de temperaturas numa base diária
são apresentados pelas Figura 5.3 e Figura 5.4.
12
14
16
18
20
22
24
26
28
16/mai 17/mai 19/mai 20/mai 22/mai 23/mai 25/mai 26/mai 28/mai
Tem
pera
tura
(ºC
)
Data (dia-mês)
Exterior Vão de escadas Andar de baixo Andar de cima Interior
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
5/jun 8/jun 12/jun 15/jun 19/jun 22/jun 26/jun 29/jun 3/jul 6/jul
Tem
pera
tura
(ºC
)
Data (dia-mês)
Exterior Vão de escadas Andar de baixo Andar de cima Interior
58
Figura 5.3 – Perfil de temperaturas diário para o Caso A, amostra de 13 dias.
Figura 5.4 – Perfil de temperaturas diário para o Caso B, amostra de 13 dias.
As figuras anteriores dizem respeito ao período amostral mais semelhante entre os casos de pré e pós-
reabilitação, para um período igual de 13 dias. De forma a poder realizar uma comparação directa
entre as temperaturas diárias registadas, é essencial que se verifiquem condições atmosféricas
exteriores semelhantes. Para este conjunto amostral, não se observaram variações relevantes com
temperaturas exteriores idênticas, o que evidencia a grande problemática deste tipo de análise, que
requer a existência de condições atmosféricas semelhantes para diferentes alturas do ano.
Para o período amostral completo dos casos A e B, idenfificaram-se apenas dois pares de dias em que
ambos os casos verificaram condições exteriores e interiores semelhantes, como apresentado na
Tabela 5.2, para as amostas i e ii. Para cada uma destas amostras, tem-se o primeiro dia na situação
de pré-reabilitação dos envidraçados, ao passo que o segundo dia apresentado corresponde à situação
pós-reabilitação.
14
16
18
20
22
24
26
16/mai 18/mai 20/mai 22/mai 24/mai 26/mai 28/mai
Tem
pera
tura
(ºC
)
Data (dia-mês)
Exterior Vão de escadas Andar de baixo Andar de cima Interior
14
16
18
20
22
24
26
20/jun 22/jun 24/jun 26/jun 28/jun 30/jun 2/jul
Tem
pera
tura
(ºC
)
Data (dia-mês)
Exterior Vão de escadas Andar de baixo Andar de cima Interior
59
Tabela 5.2 – Temperatura exterior e interior para dois pares de dias com condições atmosféricas idênticas.
Amostra Data T exterior (ºC) T interior (ºC) ΔT (ºC)
i 17/Maio 23.61 22.25 1.36
3/Julho 23.47 21.62 1.84
ii 18/Maio 21.24 21.87 0.64
22/Junho 21.06 21.75 0.69
Para cada amostra, as diferenças de temperatura (T exterior subtraída da T interior) entre pré e pós-
reabilitação revelaram um ligeiro aumento, com 0.48 ºC e 0.05 ºC para a amostra i e ii, respectivamente.
Ainda assim, há que ter em conta que as temperaturas exteriores apresentam gradientes diferentes ao
longo do tempo (ver Figura 5.3 e Figura 5.4), o que pode condicionar os fluxos de calor na envolvente
da habitação e, de certa forma, descredibilizar os resultados da Tabela 5.2. Além disso e tendo em
conta que aos valores das amostras experimentais estão associadas inúmeras variáveis, os resultados
obtidos não são suficientemente conclusivos para identificar uma tendência de variações de
temperatura, não sendo, por isso, possível avaliar o impacto da reabilitação na temperatura interior da
habitação.
Adicionalmente, foram ainda realizadas simulações para o presente caso de estudo segundo o
EnergyPlus, como indicado na secção seguinte 5.2, com condições fronteira iguais às obtidas
experimentalmente para a pré-reabilitação, que corresponde ao caso inicial com janelas simples em
alumínio, e para a pós-reabilitação, com janelas de PVC. Para uma análise entre os dias 16 a 28 de
Maio, verificou-se uma diferença máxima de temperaturas de 0.4°C e uma média de 0.32°C, o que
evidencia uma melhoria considerável na temperatura interior devido à reabilitação dos vãos
envidraçados.
5.2 Avaliação do EnergyPlus
Adicionalmente, foi realizada a avaliação do software EnergyPlus através dos dados obtidos
experimentalmente (caso A e caso B), para as situações antes e após a reabilitação dos vãos
envidraçados. A metodologia que se segue teve como principal objectivo avaliar o software utilizado, o
EnergyPlus. Esta avalidação foi efectuada através da comparação directa entre os resultados obtidos
pelo software e os resultados experimentais, mais propriamente, através da análise dos perfis de
temperatura medidos experimentalmente no apartamento do Caso de Estudo 2 (secção 4.3). Com isto,
pretendeu-se avaliar a qualidade e o rigor da simulação dinâmica em relação ao comportamento
observado do Caso de Estudo 2.
5.2.1 Análise por EnergyPlus
Através do software auxiliar utilizado (Google Sketchup 8 e OpenStudio), foi possível obter o desenho
tridimensional do apartamento em estudo (Figura 5.5) e, posteriormente, utilizá-lo no EnergyPlus. Este
60
desenho representa as dimensões interiores inicialmente indicadas na planta descritiva do apartamento
em questão (ver Figura 4.6), tal como os respectivos materiais de construção, de forma a retratar a
habitação o mais fielmente possível.
Figura 5.5 – a) desenho tridimensional do apartamento do Caso de Estudo 2 utilizado no EnergyPlus (esquerda), e b) desenho que inclui a orientação e o sombreamento existente de edifícios vizinhos (direita).
Em função do nível de detalhe introduzido, este software permite aproximar as simulações a casos
reais. Com o intuito de comparar os resultados obtidos pelo EnergyPlus com os resultados
experimentais, foi efectuada uma simulação para avaliar a temperatura interior do apartamento,
considerando como condições-fronteira, não o parâmetro btr, (inicialmente definido pela equação (3.2))
mas sim com os valores de temperatura obtidos experimentalmente. Desta forma, não é necessário
dimensionar o parâmetro btr e consegue-se um retrato mais rigoroso do caso real. Foram assim
realizadas simulações em que o ar adjacente a cada parede segue o perfil de temperaturas do
respectivo caso, para o período amostral do Caso A (Figura 5.1) e do Caso B (Figura 5.2). Os resultados
obtidos são apresentados na Figura 5.6, para o Caso A, e na Figura 5.7, para o Caso B. Em ambas as
simulações, apresentam-se a temperatura exterior e interior recolhidas do apartamento, bem como a
temperatura interior obtida por simulação.
Figura 5.6 – Resultados de simulação térmica utilizando o EnergyPlus, para as condições amostrais do Caso A.
12
14
16
18
20
22
24
26
28
15/05 16/05 17/05 18/05 19/05 20/05 21/05 22/05 23/05 24/05 25/05 26/05 27/05 28/05
Tem
pera
tura
(°C
)
Data (dia-mês)
Exterior Interior Simulação Interior Real
N
a) b)
61
Figura 5.7 - Resultados de simulação térmica utilizando o EnergyPlus, para as condições amostrais do Caso B.
Na sua generalidade, os resultados obtidos indicaram uma temperatura interior simulada superior à
temperatura real, predominantemente, para os primeiros dias de cada amostra. Estima-se que isto se
deva à falta de informação referente aos dias precedentes à amostragem, uma vez que a simulação do
EnergyPlus é iniciada sem qualquer informação relativa à temperatura interior inicial. De forma a
analisar resultados que não estejam sujeitos a esta limitação inicial, para o Caso A, apenas foi avaliada
a amostra entre os dias 19 e 28 de Maio. Em relação ao Caso B, foi considerada a amostra a partir do
dia 20 de Junho, até porque anteriormente a esse dia só foi possível recolher informação de dois dos
três sensores utilizados, devido à leitura incorrecta de dados por parte de um dos sensores.
Um dos métodos utilizados para analisar os resultados, e assim, do próprio software, diz respeito a
uma análise estatística das diferenças entre os valores de temperaturas interior (real e simulada). Os
resultados para cada caso são apresentados na Tabela 5.3.
Tabela 5.3 – Resultados estatísticos de temperaturas interiores simuladas e reais para as duas amostragens.
Tint,simulação - Tint real (°C) Caso A Caso B
Média 0.24 0.63
Máximo 0.69 0.95
Mínimo 0.00 0.28
Desvio Padrão 0.15 0.15
Valor Quadrático Médio 0.29 0.64
Um dos resultados a destacar diz respeito ao valor máximo de temperatura, sendo que este apresentou
valores inferiores a 1°C para ambos os casos, o que é relativamente reduzido dado que se estão a
considerar temperaturas numa gama de 18 a 20°C. Deve ainda ter-se em conta que aos sensores está
associada uma incerteza de ±0.5°C, ao mesmo tempo que a caracterização rigorosa dos elementos
15
17
19
21
23
25
27
29
31
33
35
04/06 07/06 09/06 12/06 14/06 17/06 19/06 22/06 24/06 27/06 29/06 02/07 04/07
Tem
pera
tura
(°C
)
Data (dia-mês)
Exterior Interior Simulação Interior Real
62
construtivos do local de estudo é impraticável, pelo que as características construtivas consideradas
constitui sempre uma aproximação, ainda que fiel, do caso real. A incerteza dos sensores quando
comparada com o valor médio indicado na Tabela 5.3, permite rapidamente concluir que, em certos
casos, a incerteza pode tomar valores superiores às incertezas computacionais, o que o torna um
parâmetro importante e a ser considerado na comparação de resultados deste género.
O resultado mais importante a reter desta análise diz respeito ao valor quadrático médio, uma vez que
este termo tem em conta o desvio padrão e a média dos resultados analisados. Para ambos os casos,
este valor demonstrou ser inferior à unidade, logo, existe uma boa concordância entre os resultados
obtidos por simulação com o software EnergyPlus e os resultados medidos experimentalmente.
5.3 Resultados Finais
Os resultados finais e a sua discussão são apresentados para os dois casos de estudo considerados
no Capítulo 4, segundo os dois métodos detalhados, REH e EnergyPlus, e segundo o método
Simplificado. Estes resultados são apresentados em termos das necessidades energéticas e das
temperaturas médias interiores, tanto para a estação de aquecimento como para a estação de
arrefecimento, segundo os três métodos. Para o método Simplificado, foram incluídas as perdas
térmicas para os espaços não úteis, representados pelo termo btr, tal como incluído nos outros dois
métodos, com o intuito de os métodos se encontrarem perante as mesmas condições e apresentarem
resultados finais comparáveis. Adicionalmente, são apresentados os resultados da reabilitação dos
envidraçados segundo o método Simplificado, em termos energéticos, económicos, acústicos e
ambientais.
5.3.1 Resultados Energéticos
Caso de Estudo 1
Em relação ao Caso de Estudo 1, os resultados finais são apresentados na Tabela 5.4, para os três
métodos utilizados. Adicionalmente, optou-se por incluir uma situação de reabilitação dos vãos
envidraçados (ver Tabela 5.5), caracterizada por janelas de batente de PVC de vidro duplo incolor,
idêntico ao que aconteceu na realidade no Caso de Estudo 2.
Tabela 5.4 – Necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para o Caso de Estudo 1, segundo os três métodos: o REH, o EnergyPlus e o método Simplificado.
Método Nic (kWh.m-2.ano-1) Nvc (kWh.m-2.ano-1) Tmi,inv (ºC) Tmi,ver (ºC)
REH 47.97 12.69 11.40 23.13
EnergyPlus 42.38 10.82 13.03 25.36
Simplificado 47.08 13.51 13.45 26.39
Os resultados obtidos para este caso de estudo revelaram valores de necessidades energéticas
semelhantes entre os três métodos. Em relação às temperaturas interiores, identificou-se uma maior
proximidade dos valores entre o método EnergyPlus e o método Simplificado do que para o método
REH, diferenciando em 0.42ºC e 1.03ºC, para o Inverno e o Verão, respectivamente. De um modo
63
geral, da reabilitação dos vão envidraçados resultou uma diminuição das necessidades energéticas,
principalmente em termos das necessidades de aquecimento. Por outro lado, as temperaturas médias
interiores mantiveram-se praticamente constantes após a reabilitação, observando-se que os valores
de temperaturas mais semelhantes entre si provieram do EnergyPlus e do método Simplificado.
Tabela 5.5 - Necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para o Caso de Estudo 1 para uma situação reabilitada, segundo os três métodos: o REH, o EnergyPlus e o método Simplificado.
Método Nic (kWh.m-2.ano-1) Nvc (kWh.m-2.ano-1) Tmi,inv (ºC) Tmi,ver (ºC)
REH 36.48 13.45 11.44 23.24
EnergyPlus 39.18 9.29 13.06 25.21
Simplificado 34.70 12.05 13.81 26.38
Caso de Estudo 2
Em relação ao Caso de Estudo 2, os resultados finais são apresentados na Tabela 5.6 para a situação
inicial dos vãos envidraçados e na Tabela 5.7 para a situação reabilitada.
Tabela 5.6 - Necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para o Caso de Estudo 2, situação inicial, segundo os três métodos: o REH, o EnergyPlus e o método Simplificado.
Método Nic (kWh.m-2.ano-1) Nvc (kWh.m-2.ano-1) Tmi,inv (ºC) Tmi,ver (ºC)
REH 50.78 12.67 11.20 23.06
EnergyPlus 40.28 7.05 12.56 25.09
Simplificado 48.32 7.90 13.13 25.94
Tabela 5.7 - Necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para o Caso de Estudo 2, situação reabilitada, segundo os três métodos: o REH, o EnergyPlus e o método Simplificado.
Método Nic (kWh.m-2.ano-1) Nvc (kWh.m-2.ano-1) Tmi,inv (ºC) Tmi,ver (ºC)
REH 37.87 9.26 11.24 22.95
EnergyPlus 36.15 5.72 12.57 24.85
Simplificado 35.36 7.10 13.47 25.88
Para este caso de estudo, verificaram-se diferenças nos resultados de necessidades energéticas
superiores às verificadas no Caso de Estudo 1. As necessidades energéticas de aquecimento
revelaram valores superiores para o método REH e Simplificado quando em comparação com o
EnergyPlus. Por outro lado, observaram-se valores de necessidades de arrefecimento semelhantes
entre o EnergyPlus e o método Simplificado. O valor mais discrepante diz respeito ao valor das
necessidades de arrefecimento segundo o REH, que apresenta um valor bastante superior aos
fornecidos pelos outros dois métodos. Esta diferença de valores pode ser explicada, de certa forma,
pelo factor de utilização dos ganhos térmicos úteis nesta estação. Tal como no caso de estudo anterior,
em relação às temperaturas médias interiores, o método Simplificado foi aquele que apresentou os
valores mais próximos do EnergyPlus.
64
Assim como no Caso de Estudo 1, os resultados finais para a reabilitação dos envidraçados revelaram
uma evidente e superior variação das necessidades de aquecimento para os métodos REH e
Simplificado face ao EnergyPlus. As necessidades de arrefecimento, por sua vez, revelaram variações
superiores segundo o REH.
Entre Métodos
De seguida apresentam-se os resultados da comparação entre os métodos detalhados utilizados e o
método Simplificado desenvolvido. Na Tabela 5.8 é apresentado o desvio dos resultados fornecidos
pelo método Simplificado em comparação com os resultados do REH, enquanto que na Tabela 5.9 são
apresentados os desvios em comparação com o EnergyPlus.
Tabela 5.8– Comparação de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para os dois casos de estudo, pré e pós-reabilitação, segundo dois métodos: Simplificado e REH.
Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,inv (%)
Caso de Estudo 1 – Pré-Reab. 1.8 6.5 18.0 14.1
Caso de Estudo 1 – Pós-Reab. 4.9 10.4 20.7 13.5
Caso de Estudo 2 – Pré-Reab. 4.8 37.6 17.2 12.5
Caso de Estudo 2 – Pós-Reab. 6.6 23.3 19.8 12.8
Entre o método Simplificado e o REH, os resultados obtidos revelaram uma variação máxima de 7% e
de 38% para as necessidades de aquecimento e de arrefecimento, respectivamente. Em relação às
temperaturas médias, a variação máxima observada foi de 21% e de 14% para o Inverno e o Verão,
respectivamente. Em termos médios, é possível considerar um desvio de 12% para as necessidades
energéticas e de 16% para as temperaturas médias interiores.
Tabela 5.9– Comparação de necessidades energéticas e temperaturas médias interiores para os dois casos de estudo, pré e pós-reabilitação, segundo dois métodos: Simplificado e EnergyPlus.
Nic (%) Nvc (%) Tmi,inv (%) Tmi,inv (%)
Caso de Estudo 1 – Pré-Reab. 11.1 24.9 3.2 4.1
Caso de Estudo 1 – Pós-Reab. 12.9 29.7 5.7 4.7
Caso de Estudo 2 – Pré-Reab. 20.0 12.0 4.5 3.4
Caso de Estudo 2 – Pós-Reab. 2.2 2.4 7.1 4.1
Por sua vez, entre o método Simplificado e o EnergyPlus, os resultados indicaram uma variação
máxima de 20% para as necessidades de aquecimento e de 30% para as de arrefecimento. Em relação
às temperaturas médias, a variação máxima observada foi de 7% e de 5% para o Inverno e o Verão,
respectivamente. Em termos médios, determinou-se um desvio de 15% para as necessidades
energéticas e de 5% para as temperaturas médias interiores.
De um modo geral, concluiu-se que os resultados obtidos segundo o método Simplificado se encontram
dentro do desvio inicialmente pretendido de 15% para os valores de necessidades energéticas, quando
65
comparado com os dois métodos detalhados. Em relação às temperaturas médias interiores, o método
Simplificado apresentou desvios inferiores ao pretendido de 5% quando comparado com o EnergyPlus,
contudo, quando comparado com o método REH, os desvios são nitidamente superiores ao desejado.
Após uma extensa análise dos resultados, concluiu-se os desvios obtidos entre os vários métodos se
devem maioritariamente a duas situações: uma em relação à importância da radiação solar (i) nos
ganhos durante a estação de aquecimento para o REH e Simplificado, e outra em relação à variação
do coeficiente U dos elementos construtivos (ii) para o EnergyPlus. Em seguida, estas duas situações
são descritas com maior detalhe.
i. Radiação Solar
No final da secção 3.2, concluiu-se que a radiação solar nos elementos opacos apresentava uma
influência importante no valor nas necessidades de aquecimento. O método REH não tem em
consideração este termo, que, ao ser considerado, resultaria em valores de necessidades de
aquecimento inferiores aos obtidos para os dois casos de estudo. Em seguimento do que foi
mencionado na secção 3.2, trabalhos anteriores indicaram que, segundo simulações do EnergyPlus, à
consideração da radiação solar num edíficio gaioleiro, estariam associadas variações nas
necessidades de aquecimento na ordem dos 15%. Este facto justifica, em parte, os valores superiores
de necessidades de aquecimento obtidos pelos métodos Simplificado e REH em comparação com o
EnergyPlus.
ii. Variação do Coeficiente U
Uma análise detalhada dos resultados obtidos pelo método Simplificado e pelo REH permitiu verificar
que a variação energética entre uma situação de janelas existentes e uma situação de janelas
reabilitadas se deve maioritariamente à redução das perdas térmicas pela envolvente. Dada a redução
considerável do valor do coeficiente U, as janelas revelaram ser os elementos construtivos que mais
contribuíram para esta redução. Para estes dois métodos (REH e Simplificado) foram utilizados os
valores de coeficiente U de 5.8 W.m-2.ano-1 antes da reabilitação e de 2.6 W.m-2.ano-1 após a
reabilitação. Ambos os métodos pressupõem valores de coeficiente de U constantes ao longo do tempo
e, por isso, valores de resistência à transmissão de calor por convecção e radiação (resistência térmica)
constantes. Os valores de U constantes e mencionados anteriormente foram denominados de Uw. No
entanto, o EnergyPlus não considera o mesmo pressuposto e o valor do coeficiente U é variável, uma
vez que os valores das resistências também variam com as condições atmosféricas exteriores ao longo
do tempo. A determinação do valor de U de acordo com cada método é descrito no Anexo E, onde se
apresentam as expressões utilizadas para o efeito.
Com o intuito de identificar os parâmetros que mais influenciam as resistências superficiais no
EnergyPlus, foi realizado um estudo específico ao Caso de Estudo 2. Neste estudo, confirmou-se que
o valor das resistências térmicas superficiais depende principalmente da velocidade de escoamento do
ar (vento no exterior e correntes de ar no interior) e da temperatura do ar, assim como, adicionalmente,
depende do tipo de janelas (vidro simples ou vidro duplo). O software EnergyPlus distingue
automaticamente entre as situações de janelas de vidro simples e de vidro duplo, em função do valor
66
do coeficiente Uw introduzido. Uma vez que as condições de velocidade do ar e de temperatura variam
ao longo do dia, os valores de resistência térmica superficial também variam ao longo do mesmo, tanto
a resistência exterior, como a interior da superficie da fachada.
O estudo específico diz respeito à leitura do fluxo de calor por área que atravessa uma janela, sendo
que os restantes elementos construtivos da habitação, interiores ou exteriores, foram considerados
adiabáticos ou exibindo trocas de calor praticamente nulas. Neste estudo, foram também controladas
as condições atmosféricas exteriores e interiores, de forma a que fossem contantes ao longo de um dia
completo. Mais especificamente, utilizaram-se diferenças de temperatura entre o interior e exterior de
18ºC e de 8ºC, não tendo sido considerada qualquer radiação solar para ambos os casos. Desta forma,
foi possível fazer variar a velocidade do vento e as temperaturas (mantendo a diferença de temperatura
constante) para avaliar o impacto indiviual ou colectivo destes dois parâmetros. Os resultados obtidos
para este estudo são apresentados na Figura 5.8, na qual se apresenta o coeficiente U (fluxo de calor
por área das janelas e por diferença de temperatura) em função da velocidade do vento para condições
de temperatura diferentes e coeficientes de Uw diferentes. Em relação à velocidade do vento, foi
considerada uma gama de 0 a 40 m.s-1, enquanto que para a temperatura foram considerados valores
de: 0ºC e 18ºC, 32ºC e 50ºC e 10ºC e 18ºC de temperatura exterior e interior, respectivamente.
Figura 5.8 – Variação de fluxo de calor por área de janela, em função da velocidade do vento e da temperatura através de simulações por EnergyPlus: i) janela com coeficiente U de 5.8 W.m-2.ºC-1, e ii) janela com coeficiente
U de 2.6 W.m-2.ºC-1.
Os coeficientes de U introduzidos inicialmente no software foram os coeficientes Uw de 5.8 W.m-2.ºC-1,
que corresponde a uma janela de alumínio e vidro simples (caso inicial), e de 2.6 W.m-2.ºC-1, que
corresponde a uma janela de PVC de vidro duplo (caso reabilitado). Tendo em conta que os valores de
Uw, retirados de Pinto [35], foram calculados para uma diferença de temperatura de 20ºC e com o
ambiente exterior a 0ºC, a situação representada a azul na Figura 5.8 é uma situação em condições
0
1
2
3
4
5
6
7
8
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Co
efi
cie
nte
U(W
.m-2
.ºC
-1)
Vento (m.s-1)
Texterior (32ºC) e Tinterior (50ºC) para janela i Texterior (32ºC) e Tinterior(50ºC) para janela ii
Texterior (0ºC) e Tinterior(18ºC) para janela i Texterior (0ºC) e Tinterior (18ºC) para janela ii
Texterior (10ºC) e Tinterior (18ºC) para janela i Texterior (10ºC) e Tinterior (18ºC) para janela ii
67
semelhantes e comparáveis. Para o cálculo destes coeficientes de Uw, foi utilizada uma velocidade do
vento de 3.2 m.s-1 (no valor de Rse). Finalmente, e segundo este estudo, os valores de U revelaram-se
inferiores a Uw para a mesma velocidade do vento, diferenciando em cerca de 28% para a janela i) e
em 11% para a janela ii).
Os resultados revelaram uma evidente variação do coeficiente U considerado pelo EnergyPlus com a
velocidade do vento e com as temperaturas exteriores e interiores, em especial atenção para pequenos
aumentos da velocidade do vento (entre 0 a 10 m.s-1), que se traduzem em variações significantes do
coeficiente U. Adicionalmente, identificou-se uma variação do coeficiente U mais predominante para os
valores de Uw altos (vidro simples, 5.8 W.m-2.ºC-1) quando em comparação com valores baixos (vidro
duplo, 2.6 W.m-2.ºC-1), confirmando que o EnergyPlus considera condições diferentes para tipos de
vidros diferentes. Com isto em mente, justifica-se que os resultados das necessidades energéticas
obtidos através do EnergyPlus se aproximam mais dos resultados de casos em que existem janelas
com valores de Uw baixos, ou seja, de vidro duplo (janelas tipicamente utilizadas na reabilitação) dos
métodos Simplificado e REH. Remetendo para os resultados energéticos de ambos os Casos de Estudo
1 e 2, estes corroboram a conclusão acima.
Em relação às condições atmosféricas consideradas pelo EnergyPlus, estas dizem respeito aos dados
climáticos fornecidos pelo software de climas do LNEG para a cidade de Lisboa [42]. Uma análise a
estes dados climáticos revelou que a temperatura média exterior foi de 10.8ºC para a estação de
aquecimento. Uma vez que este valor é relativamente próximo do caso representado a preto na
Figura 5.8, esta variação é a mais adequada para a comparação de resultados. No entanto, é preciso
notar que a temperatura exterior varia ao longo do dia, apresentando variações entre 5 e 18ºC. Por sua
vez, em relação à velocidade do vento, os dados climáticos apresentam um valor anual de
3.23 m.s-1, o que se trata de uma boa aproximação para o valor de 3.2 m.s-1, utilizado no cálculo da
resistência térmica superficial exterior. Contudo, para a estação de aquecimento, o valor médio é de
cerca de 3 m.s-1 e para a estação de arrefecimento de 3.6 m.s-1. Adicionalmente, para a estação de
aquecimento, identificou-se uma variação diária da velocidade do vento entre 0 e 5.5 m.s-1, facto que
pontualmente faz variar o coeficiente U (ver Figura 5.8), num aumento até cerca de 0.8 W.m-2.ºC-1.
Deve ter-se ainda em consideração que o estudo anterior não considerou o efeito da radiação solar.
Este, quando tido em conta, pode representar influências significativas nos valores de resistências
superficiais exteriores da envolvente opaca, devido ao excessivo aumento pontual da temperatura
superficial (como comprovado no Anexo B) e, desta forma, significar variações superiores do coeficiente
U. Em suma, conclui-se que efectivamente o coeficiente U, tanto dos vãos envidraçados como da
envolvente opaca, pode variar bastante com as condições atmosféricas, nomeadamente, com a
velocidade do vento exterior e com a temperatura exterior e superfícial. Como exemplo, segundo o
EnergyPlus, a uma variação da velocidade do vento de 0 a 6.4 m.s-1 estão associadas variações do
coeficiente de U dos envidraçados de cerca de 1 W.m-2.ºC-1. Na prática, a esta variação estão
associadas necessidades energéticas de aquecimento de 3.7 kWh.m-2.ano-1. Ainda segundo os
mesmos dados, o EnergyPlus apresenta valores de coeficiente U inferiores aos coeficientes Uw
utilizados pelos métodos Simplificado e REH, justificando em parte os valores inferiores de
68
necessidades energéticas segundo este método, para envidraçados de fraca qualidade (vidro simples).
Resultados Energéticos da Reabilitação entre Métodos
Um dos resultados finais necessários para o cálculo da poupança na factura energética e, desta forma,
do retorno económico da reabilitação dos vãos envidraçados, diz respeito à variação dos resultados
das necessidades energéticas entre as situações pré e pós-reabilitação. Em seguimento dos resultados
obtidos na Figura 5.8 e de maneira a ser possível comparar os resultados da reabilitação entre os vários
métodos, foi necessário considerar agora um valor de Uw das janelas para situação inicial de
5 W.m-2.ºC-1. Este valor foi determinado pelo EnergyPlus, para condições atmosféricas iguais entre os
três métodos, isto é, para um vento de 3.2 m.s-1 e temperaturas de 10 e 18ºC para o exterior e interior,
respectivamente. Os novos valores de necessídades energéticas de aquecimento são apresentados
na Tabela 5.10, assim como a variação dos resultados entre as duas situações. Por sua vez, em relação
às necessidades de arrefecimento, os resultados são apresentados na Tabela 5.11. Os termos
𝜟𝑵𝒊𝒄
𝑵𝒊𝒄 − 𝐏𝐫é 𝐑𝐞𝐚𝐛. e
𝜟𝑵𝒗𝒄
𝑵𝒗𝒄 − 𝐏𝐫é 𝐑𝐞𝐚𝐛. traduzem a redução das necessidades de aquecimento e arrefecimento,
respectivamente, em relação à situação inicial, dos vão envidraçados pré-reabilitação.
Tabela 5.10– Variação das necessidades de aquecimento para as duas situações de estudo, pré e pós-reabilitação, segundo os três métodos: Simplificado, REH e EnergyPlus.
Caso de Estudo 1 Caso de Estudo 2
Simplificado REH EnergyPlus Simplificado REH EnergyPlus
Nic - Pré-Reab.
(kWh.m-2.ano-1) 43.26 44.38 42.38 45.39 47.84 40.28
Nic - Pós-Reab.
(kWh.m-2.ano-1) 34.70 36.48 39.18 35.36 38.87 36.15
ΔNic
(kWh.m-2.ano-1) - 8.56 - 7.90 - 4.13 - 10.03 - 9.97 - 3.20
𝜟𝑵𝒊𝒄
𝑵𝒊𝒄 − 𝐏𝐫é 𝐑𝐞𝐚𝐛. (%) 19.8 17.8 9.7 22.1 20.8 7.9
As variações de necessidades de aquecimento para o método Simplificado vão ao encontro das
variações obtidas com o REH, revelando uma variação semelhante de 0.6% e 8.3% para o Caso de
Estudo 2 e 1, respectivamente. Comparativamente com estes dois métodos, o EnergyPlus revelou uma
variação inferior das necessidades entre as situações antes e após a reabilitação das janelas.
Observando a variação das necessidades energéticas, verificou-se que os métodos Simplificado e
REH, em relação ao EnergyPlus, apresentaram um desvio máximo de cerca de 10 a 14% no valor Nic
após a reabilitação dos envidraçados, para os dois casos de estudo,
Em relação às necessidades de arrefecimento, estas demonstraram variações (entre a situação inicial
e a reabilitada) semelhantes entre o método Simplificado e o EnergyPlus, ao passo que o método REH
revelou algumas discrepâncias. Em termos da variação destas necessidades, concluiu-se que o
método Simplificado, em relação ao EnergyPlus, apresentou uma variação máxima de 4 a 9% no valor
69
Nvc entre a pré e pós-reabilitação das janelas. Adicionalmente, entre o método Simplificado e o REH,
verificaram-se variações superiores, de cerca de 10 a 20%, para os dois casos de estudo.
Tabela 5.11– Variação das necessidades de arrefecimento para as duas situações de estudo, pré e pós-reabilitação, segundo os três métodos: Simplificado, REH e EnergyPlus.
Caso de Estudo 1 Caso de Estudo 2
Simplificado REH EnergyPlus Simplificado REH EnergyPlus
Nvc - Pré Reab.
(kWh.m-2.ano-1) 13.51 13.50 10.82 7.90 13.39 7.05
Nvc - Pós Reab.
(kWh.m-2.ano-1) 12.05 13.45 9.29 7.10 9.26 5.72
ΔNvc
(kWh.m-2.ano-1) - 1.46 - 0.05 -1.53 - 0.80 - 4.13 - 1.33
ΔNvc / Nvc - Pré
Reab. (%) 10.8 0.4 14.1 10.1 30.1 18.8
Por fim, na Tabela 5.12 são apresentadas as variações de temperaturas interiores médias, tanto para
a estação de aquecimento (Inverno) como de arrefecimento (Verão).
Tabela 5.12– Variação das temperaturas médias interiores para as duas situações de estudo, pré e pós-reabilitação, segundo os três métodos: Simplificado, REH e EnergyPlus.
Caso de Estudo 1 Caso de Estudo 2
Simplificado REH EnergyPlus Simplificado REH EnergyPlus
ΔTmi,inv (ºC) + 0.24 + 0.02 + 0.03 + 0.24 + 0.03 + 0.01
ΔTmi,ver (ºC) + 0.01 +0.26 - 0.15 - 0.07 - 0.15 - 0.29
As temperaturas médias interiores, segundo os três métodos, demonstraram seguir a mesma tendência
de aumento para o Inverno e a mesma tendência de diminuição no Verão, com excepção dos resultados
fornecidos pelos métodos Simplificado e REH para o Caso de Estudo 1, em que se observou um
aumento da temperatura no Verão. Este aumento, na prática, deveu-se a valores superiores de ganhos
térmicos em relação às perdas para este caso de estudo. Por fim, deve ter-se em conta que, como
mencionado na secção 3.2, o EnergyPlus não permite obter especificamente as temperaturas médias
para cada estação, pelo que foi necessário pressupor que os meses de Janeiro e de Julho são
representativos da estação de aquecimento e de arrefecimento, respectivamente. Ao contrário disto,
os métodos Simplificado e REH, regra geral, só apresentam os valores médios ao longo de toda a
estação.
70
5.3.2 Resultados de Reabilitação e Discussão
Por fim, apresentam-se os resultados da reabilitação segundo o método Simplificado e para os Casos
de Estudo 1 e 2, em termos energéticos, económicos, acústicos e ambientais.
Caso de Estudo 1
Os resultados para o Caso de Estudo 1 são apresentados na Tabela 5.13, sendo detalhados para a
estação de aquecimento e de arrefecimento, quando assim se justifica. Tanto para este caso de estudo,
como para o Caso de Estudo 2, foi considerado um sistema de aquecimento por resistência electrica e
um sistema de ar condicionado para o arrefecimento.
Tabela 5.13 – Resultados finais energéticos e económicos, segundo o método Simplificado, para a reabilitação dos vãos envidraçados do Caso de Estudo 1.
Resultado Aquecimento Arrefecimento Global
Variação energética (kWh.ano-1) - 718.03 - 84.74 - 802.75
Variação de necessidades energéticas
(kWh.m-2.ano-1) - 12.38 - 1.46 - 13.84
Variação de temperatura (ºC) 0.36 -0.01 -
Poupança monetária no 1º ano (€) 114.9 5.4 120.3
Período de retorno (anos) - - 45.5
VAL após 35 anos (€) - - - 1485.3
Isolamento da fachada (dB)
do caso base - - 24.67
Isolamento da fachada (dB)
do caso reabilitado - - 28.92
CO2 de reabilitação (kg) - - 1991.1
CO2 de reciclagem (kg) - - 15.0
CO2 energético (kg) - 103.4 - 12.2 - 115.6
Total de CO2 no 1º ano (kg) - - 1890.5
Total de CO2 após 35 anos (kg) - - - 2155.3
Os resultados revelaram um grande potencial na melhoria energética para ambas as estações, de
aquecimento e de arrefecimento, observando-se uma redução de 23% das necessidades energéticas.
Por outro lado, caso o projecto de reabilitação seja avaliado somente em termos económicos, este não
se revela apelativo, pois estimou-se um período de retorno de 46 anos, período bastante superior ao
tempo de vida útil típico das janelas de PVC, de 25 a 30 anos, devido ao tempo de vida útil dos vidros
duplos [19]. Com isto em mente, a reabilitação constitui necessariamente um investimento a longo
prazo, no entanto, diversas melhorias são identificadas a curto prazo, como é o caso da melhoria do
isolamento global da fachada, que passa a apresentar valores superiores aos mínimos recomendados
de 28 dB [23]. Adicionalmente, a reabilitação revela uma mais-valia para o ambiente, na medida em
71
que permite, a longo prazo, a redução das emissões de CO2.
Caso de Estudo 2
Em relação ao Caso de Estudo 2, os resultados pelo método Simplificado são apresentados na
Tabela 5.14. Tal como para o caso de estudo anterior, os resultados finais revelaram um elevado
potencial na melhoria energética para ambas as estações, verificando-se uma redução de 25% das
necessidades energéticas. Esta reabilitação apresenta um período de retorno de cerca de 25 anos,
período idêntico ao tempo de vida útil típico das janelas de PVC, como referido anteriormente. Apesar
de a reabilitação, para este caso de estudo, constituir também um investimento a longo prazo, a curto
prazo identificaram-se novamente melhorias no isolamento global da fachada mais exposta ao ruído.
A reabilitação neste segundo caso de estudo revelou reduções de emissões de CO2 muito superiores
(superior a 100%) em relação ao caso anterior. Este facto deve-se principalmente às janelas da
habitação pré-reabilitação, compostas por alumínio simples. Com o projecto de reabilitação em curso,
o alumínio das janelas antigas é reciclado e, a médio prazo, esta reciclagem traduz-se na redução de
novas emissões de CO2 na produção de perfis.
Tabela 5.14 – Resultados finais energéticos e económicos, segundo o método Simplificado, para a reabilitação dos vãos envidraçados do Caso de Estudo 2.
Resultado Aquecimento Arrefecimento Global
Variação energética (kWh.ano-1) - 985.06 - 61.30 - 1046.37
Variação de necessidades energéticas
(kWh.m-2.ano-1) - 12.96 - 0.81 - 13.77
Variação de temperatura (ºC) 0.33 - 0.07 -
Poupança monetária no 1º ano (€) 157.6 3.9 161.5
Período de retorno (anos) - - 24.1
VAL após 35 anos (€) - - 2064.2
Isolamento da fachada (dB)
do caso base - - 23.05
Isolamento da fachada (dB)
do caso reabilitado - - 28.44
CO2 de reabilitação (kg) - - 1431.1
CO2 de reciclagem (kg) - - - 1107.8
CO2 energético (kg) - 141.8 - 8.8 -150.7
Total de CO2 no 1º ano (kg) - - 172.6
Total de CO2 após 35 anos (kg) - - - 5101.1
72
5.4 Retorno Económico e Social
A avaliação do potencial e da mais-valia da reabilitação de vãos envidraçados em larga escala deve
considerar os dividendos económicos e também sociais daí resultantes. Com base nos Casos de
Estudo 1 e 2, os resultados finais de poupança energética permitem determinar o retorno económico
associado. Por outro lado, o retorno social pode ser associado às estimativas de mão-de-obra
necessária à reabilitação dos vãos envidraçados.
Para os Casos de Estudo 1 e 2, os resultados finais de poupança na factura energética e a mão-de-
obra associada à reabilitação dos vãos envidraçados são apresentados na Tabela 5.15. Para realizar
estas estimativas foram presumidas as seguintes considerações:
Sistema de climatização composto por uma resistência eléctrica (rendimento de 100%) para o
aquecimento e por ar condicionado (COP de 2.5) para o arrefecimento. Como verificado para
os dois casos de estudo analisados e de acordo com dados do INE para 2010 [8], 95% da
energia de climatização corresponde ao aquecimento da habitação e os restantes 5% ao
arrefecimento. O custo de electricidade considerado foi de 0.16 €.kWh-1 [38].
Tempo de mão-de-obra associado à produção e montagem de vãos envidraçados de
aproximadamente 2 h.m-2 para vãos envidraçados de melhor qualidade, como é o caso de
perfis de Alumínio com corte térmico ou de perfis de PVC. Este valor resulta da consulta de
pequenas e médias empresas da indústria de transformação de caixilharias.
Tabela 5.15– Poupança energética e mão-de-obra associada à reabilitação dos vãos envidraçados para os Casos de Estudo 1 e 2.
Caso de Estudo 1 Caso de Estudo 2
Simplificado/REH EnergyPlus Simplificado/REH EnergyPlus
Poupança Energética (kWh.ano-1)
803 328 1046 344
Poupança na Factura Energética (€.ano-1)
120 51 162 53
Área dos Vãos Envidraçados (m2)
15.5 11.1
Poupança Energética por Envidraçado (€.m-2.ano-1)
7.8 3.3 14.5 4.8
Mão-de-obra (h) 31 22
Como demonstrado ao longo deste trabalho, o método Simplificado apresenta resultados semelhantes
ao método regulamentar REH, no entanto, o EnergyPlus é o método que melhor representa o
comportamento energético de apartamentos. Segundo o EnergyPlus, para os dois casos de estudo, o
projecto de reabilitação dos vãos envidraçados resultaria numa poupança na factura energética em
cerca de 50 € anuais. Apesar de revelar um período retorno económico longo para o ocupante/utilizador
individual, o projecto de reabilitação de vãos envidraçados pode resultar em retornos sociais
73
importantes, como é o caso da mão-de-obra requerida para a sua implementação.
Analisando uma pequena e média empresa de transformação de caixilharia com uma facturação anual
de 1 M€, a distribuição e organização da mão-de-obra seguida é apresentada na Tabela 5.16. Tendo
por base um custo médio de vãos envidraçados de melhor qualidade de 300 €.m-2 é possível estimar a
mão-de-obra associada à secção da transformação directa dos vãos envidraçados. Além da produção
das novas janelas, é necessário ter em conta toda a mão-de-obra e custos adicionais à transformação
directa dos vãos, nomeadamente, relativa ao transporte, montagem, parte administrativa, parte
comercial, de orçamento de projectos, entre outros.
Tabela 5.16 – Distribuição média das componentes de uma empresa especializada em reabilitação de vãos envidraçados
Percentagem (%) Mão-de-obra (h)
Administração e Comercial 15 2500
Projecto 10 1667
Transformação Directa 40 6667
Deslocações e Montagem 20 3333
Outros 15 2500
Total 100 16667
Considerando que um dia apresenta 7 h úteis de trabalho, os 253 dias úteis do ano de 2014
correspondem a 1771 h de trabalho. De acordo com a mão-de-obra total necessária, estima-se que
sejam necessários 10 trabalhadores durante um ano completo. Em suma, a investimentos de 1 M€
estão associados 10 postos de trabalho, referentes somente à indústria de transformação de caixilharia.
Segundo dados do INE [8], em 2010 existiam mais de 2 milhões de habitações portuguesas com vãos
envidraçados de fraca qualidade (vãos com vidro simples e/ou sem perfis com corte térmico), o que,
em termos de área envidraçada, corresponde a cerca de 13.3 m2.habitação-1. Em termos práticos, um
investimento de 1 M€ corresponderia à reabilitação dos vãos envidraçados de cerca de 44.3 mil
habitações em Portugal, valor aquém das necessidades de reabilitação de envidraçados no país.
Pressupondo um cenário em que os 2M de habitações seriam alvo de reabilitação, na mesma lógica,
ao longo de um período de projecto de reabilitação de 15 anos, criar-se-ia mão-de-obra estrutural em
cerca de 5 mil postos de trabalho.
Conclui-se assim que a reabilitação dos vãos envidraçados apresenta um retorno social positivo, na
medida em que pode garantir de forma sustentável um determinado número de postos de trabalho.
Convém ainda mencionar que, na realidade, a mão-de-obra associada à reabilitação seria superior à
referida, devido a todos os processos precedentes à indústria de transformação dos vãos, como, por
exemplo, a manufactura de vidros e perfis, a lacagem dos perfis e a produção de todos os acessórios
adicionais.
6
Conclusões e
Trabalhos Futuros
74
6.1 Método Simplificado
O trabalho desenvolvido nesta tese teve como objectivo principal o desenvolvimento de um método
simplificado, mas suficientemente rigoroso, que permitisse avaliar o potencial de reabilitação de vãos
envidraçados em apartamentos. A avaliação tem por base o impacto da reabilitação no conforto térmico
e na energia de climatização, assim como a viabilidade económica do projecto de reabilitação.
Adicionalmente e como forma de valorização do conforto para com o ocupante, este modelo considera
a variação da temperatura interior e a acústica da habitação.
Neste trabalho, resultados experimentais em termos de perfis de temperatura foram utilizados como
ferramenta de avaliação do software EnergyPlus, que se confirmou como um método rigoroso na
descrição do comportamento energético de habitações. O seu rigor é justificado por se tratar de uma
ferramenta de simulação dinâmica e horária. Por outro lado, ambos o método REH e o método
Simplificado desenvolvido, e aqui apresentado, constituem métodos sazonais e quasi-estáticos. O REH
consiste na legislação portuguesa que é actualmente aceite e amplamente utilizada para estudos de
eficiência energética, sendo alvo de constantes revisões e actualizações. O método Simplificado,
seguindo uma metodologia semelhante ao REH, mas com algumas simplificações, apresenta
resultados que se aproximam deste método legislativo, nomeadamente, ao estudar o impacto
energético da reabilitação de vãos envidraçados em habitações.
O método Simplificado desenvolvido em folhas de cálculo Excel apresenta uma interface simples e
intuitiva, que requer poucos dados de entrada, o que constitui uma grande mais-valia face aos inúmeros
inputs exigidos pelos métodos mais detalhados. Nesta ferramenta, destaca-se também a obtenção e
visualização imediata dos resultados, bastando qualquer alteração às características das janelas.
Tendo em conta que o método desenvolvido constitui um método mais simplificado, faz sentido que os
valores absolutos de necessidades energéticas revelem alguma diferença relativamente aos valores
obtidos segundo os métodos detalhados. Aliás, quando aplicado aos Casos de Estudo 1 e 2, o método
Simplificado em comparação com o REH, apresentou desvios médios de 12% para as necessidades
energéticas e de 16% para as temperaturas médias interiores. Por sua vez, o método quando
comparado com o EnergyPlus revelou desvios médios na ordem dos 15% para as necessidades
energéticas e dos 5% para as temperaturas médias interiores. De um modo geral, concluiu-se que os
resultados obtidos segundo o método Simplificado se encontram dentro do desvio inicialmente
pretendido de 15% para os valores de necessidades energéticas, quando comparado com ambos os
métodos detalhados. Em relação às temperaturas médias interiores, o método Simplificado apresentou
um desvio superior ao pretendido de 5% em relação ao REH, mas um desvio idêntico a 5% quando
comparado com o EnergyPlus. Uma análise aos resultados obtidos concluiu que os desvios obtidos
entre os vários métodos se devem maioritariamente a duas situações: uma pelo facto de que os
métodos REH e Simplificado não consideram o impacto da radiação solar nos elementos opacos na
estação de aquecimento, e outra devido ao EnergyPlus apresentar variações do coeficiente U dos
elementos construtivos da envolvente (janelas de vidro simples e elementos opacos) em função das
condições atmosféricas.
75
Entre as situações de pré e pós-reabilitação, o método Simplificado apresentou variações semelhantes
de necessidades energéticas de aquecimento com o REH (diferença máxima de 8%, para os dois casos
de estudo), mas superiores em relação ao EnergyPlus. Já em relação às necessidades de
arrefecimento, verificou-se que o método Simplificado apresentava variações desiguais do REH, mas
semelhantes com o EnergyPlus.
Em relação aos resultados finais da aplicação do método Simplificado, concluiu-se que o impacto da
reabilitação dos vãos envidraçados não pode ser apenas avaliado em termos energéticos, sendo
também necessário considerar o conforto térmico, visual e acústico para com o ocupante, bem como a
qualidade do ar interior. Para os dois casos de estudo, os resultados finais revelaram uma evidente
melhoria energética nas necessidades de climatização. A análise económica do projecto de reabilitação
apresentou longos períodos de retorno, superiores a 25 anos. No entanto, há que notar que a
reabilitação apresenta melhorias imediatas, nomeadamente, em termos da acústica da habitação, da
redução na transmissão de ruídos aéreos exteriores e do controlo das renovações do ar da habitação.
A reabilitação pode ainda apresentar uma mais-valia para o ambiente em termos das emissões de CO2,
através da reciclagem das janelas antigas da habitação, que em alguns casos, possuem valor residual,
e através da redução de emissões devido à redução no consumo de energia pelos sistemas de
climatização. Neste seguimento, da reabilitação dos vãos envidraçados pode resultar um retorno
ambiental positivo a médio-longo prazo.
Por fim, à reabilitação dos vãos envidraçados estão ainda associados retornos sociais consideráveis,
devido à mão-de-obra gerada ou garantida. Atendendo às necessidades de reabilitação de vãos
envidraçados em Portugal, a um cenário de reabilitação total de 2 M de habitações estão associados 5
mil postos de trabalho estruturais durante um período de 15 anos. Convém ainda mencionar que, na
realidade, a mão-de-obra associada à reabilitação seria superior à referida, devido a todos os processos
precedentes à indústria de transformação dos vãos.
Como demonstrado ao longo deste trabalho, o método Simplificado desenvolvido constitui uma
ferramenta intuitiva e expedida, capaz de avaliar e caracterizar projectos de reabilitação de vãos
envidraçados numa perspectiva holística. Além disso, o uso desta ferramenta não é restrito a técnicos
especializados e pode ser aplicado em grande escala. A reabilitação dos vãos envidraçados de fraca
qualidade térmica tem como fim a melhoria da eficiência energética das habitações e do conforto do
ocupante, favorecendo a redução global da energia residencial desperdiçada e, em última análise, o
consumo de combustíveis fósseis.
6.2 Resultados Experimentais
Os resultados experimentais da permeabilidade ao ar revelaram ser uma mais-valia, uma vez que
possibilitaram obter uma informação detalhada das infiltrações existentes, assim como de alguns dos
elementos constituintes da habitação, apresentando a vantagem de se tratarem de ensaios não
destrutivos. Para a reabilitação dos envidraçados no Caso de Estudo 2, verificou-se uma redução
experimental da taxa de renovação de ar de 33%, o que em termos das necessidades de aquecimento
representou uma redução notável de 4.66 kWh.m-2.ano-1 (cerca de 10% de Nic).
76
Os resultados experimentais de perfis de temperatura apresentaram uma boa concordância com os
resultados obtidos pelo EnergyPlus, o que permitiram confirmar uma boa proximidade das simulações
do EnergyPlus com um caso real. Por outro lado, os perfis de temperatura obtidos para os dois
conjuntos de amostragem do Caso de Estudo 2 não possibilitaram identificar uma tendência relevante
no impacto da reabilitação na temperatura interior do apartamento, dada a diferente variação das
condições atmosféricas durante os períodos de amostragem
6.3 Trabalhos Futuros
Este trabalho constituiu um passo importante no desenvolvimento de ferramentas expeditas para
avaliação do potencial de reabilitação de vãos envidraçados. A fim de garantir uma melhoria contínua
da ferramenta e do método desenvolvido deverão ser consideradas as seguintes linhas de acção em
trabalhos futuros:
I. Aplicação e experimentação para mais casos de estudo, de modo a tornar mais robusta a
componente experimental e a interface gráfica da ferramenta.
II. Melhoria da ferramenta na parte da ventilação, com a finalidade de analisar outras direcções do
vento, quer seja frontal ou lateral.
III. De forma a poder inferir acerca do potencial de reabilitação dos envidraçados a grande escala, o
método Simplificado deverá ser aplicado a casos típicos de uma área de estudo bem definida (ex.
Lisboa, Porto), com um parque habitacional envelhecido ou sujeitos a condições atmosféricas mais
adversas.
IV. Em ensaios experimentais que avaliem o efeito da reabilitação dos envidraçados, através de perfis
de temperatura, deverá ser considerada a obtenção de períodos amostrais mais longos, de forma
a aumentar a probabilidade de se verificarem condições atmosféricas semelhantes.
.
Anexos
77
Anexo A - Interface das Folhas de Cálculo do Método Simplificado
Figura A.1 – Interface gráfica total da primeira folha de cálculo do método Simplificado.
78
Figura A.2 – Interface gráfica da primeira folha de cálculo do método Simplificado, parte 1.
79
Figura A.3 – Interface gráfica da primeira folha de cálculo do método Simplificado, parte 2.
80
Figura A.4 – Interface gráfica total da segunda folha de cálculo do método Simplificado.
81
Figura A.5 – Interface gráfica da segunda folha de cálculo do método Simplificado, parte 1.
82
Figura A.6 – Interface gráfica da segunda folha de cálculo do método Simplificado, parte 2.
83
Figura A.7 – Interface gráfica da terceira folha de cálculo do método Simplificado.
84
Anexo B - Impacto da Radiação Solar na Envolvente Opaca
B.1 Introdução
Os resultados obtidos para o Modelo Base, mais propriamente, em termos das necessidades de
aquecimento e das temperaturas interiores, revelaram discrepâncias consideráveis entre ambos os
métodos detalhados. Consequentemente foram realizadas análises a alguns dos parâmetros mais
importantes, sendo descritas ao longo do presente anexo. Uma vez que a presente dissertação não
tem como finalidade uma análise pormenorizada dos métodos detalhados e apenas pretende
compreender os resultados, as análises efectuadas pretendem-se simples e rápidas, e que permitam
identificar a razão da discrepância entre os resultados. Como nota, considera-se crucial que futuros
trabalhos abordem a questão identificada na secção B.3.
B.2 Condições Atmosféricas e Outros Parâmetros
Após verificação de que todos os inputs considerados no EnergyPlus se encontravam correctamente
introduzidos, a primeira análise pretendeu identificar se os dados climáticos utilizados na simulação
estavam em conformidade com o considerado pelo método REH. Desta forma, comparam-se as
temperaturas médias exteriores (Tme,inv e Tme,ver) e o valor de Graus-Dias (GD ou ºC.dia-1), na base de
18ºC, correspondente à estação convencional de aquecimento. Os valores das temperaturas foram
retirados directamente do Energyplus, considerando os meses de Janeiro e Julho como representativos
da estação de aquecimento e de arrefecimento, respectivamente. Por sua vez, o valor de GD teve de
ser determinado uma vez que o software não permite a leitura directa do mesmo. A expressão utilizada
para este parâmetro é apresentada pela equação (b.1), obtida através do somatório dos valores
positivos entre a diferença da temperatura interior de conforto de (Tint,ref) e da temperatura exterior
(Text), a dividir pelas 24horas de cada dia. Os resultados obtidos encontram-se na Tabela B.1.
GD = ∑(𝑇𝑖𝑛𝑡,𝑟𝑒𝑓 − 𝑇𝑒𝑥𝑡)
+
24
(b.1)
Tabela B.1 – Temperaturas médias exteriores de Inverno e Verão e Graus-Dias do Modelo Base, segundo os dois métodos detalhados.
Método Tme,inv (ºC) Tme,ver (ºC) GD (ºC.dia)
REH 8.3 21.2 1555
EnergyPlus 8.3 22.5 1440
Dado que os resultados obtidos não apresentam uma diferença considerável, estes não justificam a
discrepância entre valores de necessidades inicialmente obtidos, sendo necessário avaliar outros
parâmetros. Estes parâmetros dizem respeito à renovação do ar (Rph), aos ganhos internos (Gint) e à
envolvente opaca.
Considere-se um caso mais simples com o intuito de deduzir a influência adicional nos resultados
devido a outros parâmetros não identificados, nomeadamente, um caso constituído apenas por
85
elementos opacos, de dimensões 10x10 m e um pé direito de 2.7 m, localizado nas zonas climáticas I2
e V2. Os parâmetros considerados foram analisados tanto individualmente, como de forma agrupada
por várias combinações, tendo-se considerado a envolvente opaca composta por duas paredes e a
cobertura com as características construtivas do Modelo Base. Os resultados obtidos são apresentados
na
Tabela B.2.
Tabela B.2 – Necessidades energéticas para casos simples segundo dois métodos detalhados.
Casos considerados Nic (kWh.m-2.ano-1) Nvc (kWh.m-2.ano-1)
REH EnergyPlus REH EnergyPlus
Rph – 0.6 h-1 20.55 19.6 0.00 0.00
Gint – 4W.m-2 11.75 35.03 20.55 0.00
Uma Parede (Norte) 10,00 7,83 0.01 0.00
Uma Parede (Sul) 10,00 2.44 0.09 0.28
Cobertura 37.32 21.64 2.61 2.03
Duas paredes 20.15 10.25 0.06 0.06
Duas paredes e Cobertura 57.50 29.78 1.97 1.86
Duas paredes, Cobertura, Rph - 0.6 h-1 78,00 49.03 0.85 1.83
Duas paredes, Cobertura, Gint – 4 W.m-2 38.70 13.50 10.32 10.80
Duas paredes, Cobertura, Rph - 0.6 h-1 e
Gint – 4 W.m-2 58.85 30.28 8.55 10.33
Os resultados obtidos para os parâmetros de renovação de ar e ganhos internos não diferem de forma
considerável. Para o parâmetro dos ganhos internos, o valor de Nic segundo o EnergyPlus representa
um valor para o ano inteiro, em que este equivale à soma de Nic e Nvc, segundo o método REH. Os
restantes parâmetros que caracterizam a envolvente opaca revelaram valores discrepantes,
principalmente, quando foi considerada as duas paredes e a cobertura. Desta forma, rapidamente se
identifica que a envolvente opaca é um parâmetro crítico e que pode contribuir para a discrepância
entre os valores inicialmente mencionados.
B.3 Radiação Solar na Envolvente Opaca
Com o intuito de melhor compreender a que se devem os valores inferiores de necessidades de
aquecimento para a envolvente opaca, foi realizado um estudo pormenorizado a este parâmetro.
Demonstrado que os dados climáticos considerados segundo os dois métodos são idênticos, optou-se
por avaliar a influência da radiação solar na envolvente opaca.
A radiação média incidente para a orientação Sul na estação de aquecimento (Gsul) apresenta o valor
de 140 kWh.m-2.ano-1, segundo o método REH. Para o caso do EnergyPlus, a radiação apresenta um
valor de 135.25 kWh.m-2 para Sul e de 24.43 kWh.m-2 para Norte (Gnorte), ambos os valores retirados
86
para o mês de Janeiro. Os valores de radiação média incidente são concordantes entre ambos os
métodos.
Considere-se agora a influência da radiação solar num elemento opaco de uma habitação. A radiação,
quando incidente no elemento, é dividida em duas parcelas principais. Uma parcela que representa a
radiação reflectida para o exterior (cerca de 60%, para uma parede de cor clara [43]) e uma restante
parcela que é absorvida pelo elemento opaco. A energia absorvida pelo elemento é por sua vez
distribuída em energia perdida para o exterior por convecção e energia retida pela superfície, o que
originará um aumento da temperatura superficial. Considere-se uma parede unidimensional como o
elemento opaco a estudar. Segundo a equação de condução do calor (2.1), considerando uma
temperatura interior constante de 18ºC, um aumento da temperatura superficial exterior vai traduzir-se
numa redução da diferença de temperatura, tendo-se, desta forma, uma redução de fluxo de calor
𝑞′′(W.m-2). Em suma, uma redução do fluxo de calor origina menores perdas por transmissão de calor,
o que, por sua vez, representa uma redução das necessidades energéticas de aquecimento. De forma
a justificar o raciocínio anterior, é necessário verificar se a temperatura superficial exterior apresenta
um aumento considerável. É possível determinar esta temperatura teoricamente partindo da equação
de condução de calor (2.1) e da equação análoga para as resistências, apresentado na Figura B.1,
equação (b.2).
Figura B.1 – Análogo de resistências de uma parede bidimensional.
𝐺 × α =𝑇𝑖𝑛𝑡 − 𝑇𝑠𝑒
𝑅𝑤𝑎𝑙𝑙 + 𝑅𝑠𝑖+
𝑇𝑠𝑒 − 𝑇𝑒𝑥𝑡
𝑅𝑠𝑒 (b.2)
Na equação acima, o termo G representa a radiação média incidente, o termo α a absortividade da
parede e as temperaturas dadas por Tint, Text e Tse representam a temperatura interior, exterior e
superficial exterior, respectivamente. Os restantes termos, Rse, Rwall e Rsi, dizem respeito à resistência
térmica da superfície exterior, da parede e da superfície interior respectivamente. Considerando as
temperaturas Tint como 18ºC e Text como 8.3ºC, e as resistências Rse, Rwall e Rsi como 0.04, 0.83 e
0.13 m2.ºC.W-1, respectivamente, obteve-se a temperatura superficial exterior para uma parede
G (W.m-2)
Text Tint
Tse
Rwall Rse
Exterior Interior Parede
Tsi
Rsi
87
orientada a Norte e uma a Sul. Os valores de radiação média incidente foram considerados como os
valores anteriormente obtidos pelo EnergyPlus. Tendo em conta todos estes parâmetros, foram obtidas
as temperaturas superficiais exteriores de 8.24ºC e 10.09ºC para paredes orientadas a Norte e a Sul,
respectivamente. Estes valores não apresentam uma diferença muito significativa quando comparados
com a temperatura média exterior de 8.3ºC, contudo, esta mesma análise quando aplicada ao
EnergyPlus revelou valores de temperaturas superficiais relativamente superiores. As temperaturas
obtidas apresentaram valores de 9.29ºC e 13.13ºC, para as paredes orientadas a Norte e a Sul. Para
a parede a Sul, os resultados representaram uma diferença considerável de cerca de 5ºC.
Esta simulação segundo o EnergyPlus permitiu ainda relacionar o impacto da radiação solar na
temperatura da superfície exterior das paredes. Especificamente para a parede Sul os resultados são
apresentados na Figura B.2, em que facilmente se observa uma relação directa entre a radiação solar
incidente na parede e a temperatura superficial exterior da mesma. Pontualmente, esta relação revela-
se de extrema importância, uma vez que valores de radiação incidente de 900 kWh.m -2 induzem um
aumento de temperatura superficial exterior até cerca de 20ºC, razão pela qual a temperatura superficial
exterior média mensal para o mês de Janeiro ter apresentado um valor de 13.13ºC, consideravelmente
superior à média exterior de 8.3ºC.
Figura B.2 – Simulação dinâmica da temperatura superficial exterior de uma parede orientada a sul e radiação incidente para o mês de Janeiro, segundo o EnergyPlus.
Considere-se agora uma simulação idêntica que inclua a parede orientada a sul e ainda outra parede
orientada a norte e uma cobertura. Os resultados da simulação quando analisados mensalmente para
todos os meses do ano são apresentados pelas figuras: Figura B.3 e Figura B.4 e Figura B.5, que
correspondem à parede orientada a sul, à parede orientada a norte e à cobertura respectivamente. Os
resultados demonstram que a radiação solar incidente induz um aumento considerável da temperatura
superficial exterior face à temperatura exterior durante o ano inteiro.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1/1 6/1 11/1 16/1 21/1 26/1 31/1
Rad
iação
méd
ia i
ncid
en
te (
kW
h.m
-2)
Tem
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ra (°C
)
Data (dia-mês)
Exterior Exterior Parede Sul Radiação Incidente Sul
88
Figura B.3 - Simulação dinâmica da temperatura superficial exterior de uma parede orientada a sul e radiação incidente mensal, segundo o EnergyPlus.
Figura B.4 - Simulação dinâmica da temperatura superficial exterior de uma parede orientada a norte e radiação incidente mensal, segundo o EnergyPlus.
Figura B.5 - Simulação dinâmica da temperatura superficial exterior de uma cobertura e radiação incidente mensal, segundo o EnergyPlus.
0
50
100
150
200
250
300
350
5
10
15
20
25
30
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Rad
iação
méd
ia i
ncid
en
te
(kW
h.m
-2)
Tem
pera
tura
(°C
)
MêsExterior Exterior Parede Sul Interior Radiação Incidente Sul
0
50
100
150
200
250
300
350
5
10
15
20
25
30
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Rad
iação
méd
ia i
ncid
en
te
(kW
h.m
-2)
Tem
pera
tura
(°C
)
MêsExterior Exterior Parede Norte Interior Radiação Incidente Norte
0
50
100
150
200
250
300
350
5
10
15
20
25
30
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Rad
iação
méd
ia i
ncid
en
te
(kW
h.m
-2)
Tem
pera
tura
(°C
)
MêsExterior Exterior Cobertura Interior Radiação Incidente Cobertura
89
Tendo-se então concluído que o aumento da temperatura superficial exterior se deve maioritariamente
à radiação solar incidente, torna-se importante relacionar esse efeito com as necessidades energéticas.
O software EnergyPlus possui a funcionalidade de realizar simulações sem o efeito da radiação solar.
Considerando o caso simples até aqui estudado e incluindo ganhos internos (4 W.m-2) e renovação do
ar (0.6 h-1), simularam-se diferentes casos com as duas paredes e cobertura. Os resultados obtidos em
termos de necessidades de aquecimento apresentam-se na Tabela B.3.
Tabela B.3 – Necessidades energéticas de aquecimento para a envolvente opaca com e sem efeito da radiação solar para o método EnergyPlus.
Casos considerados Nic (kWh.m-2.ano-1)
Com Sol Sem Sol
Uma Parede (Norte) 7.83 10.78
Uma Parede (Sul) 2.44 10.78
Cobertura 21.64 53.97
Duas paredes 10.25 20.94
Duas paredes e Cobertura 29.78 69.03
Os resultados acima indicam uma influência relevante da radiação solar nas necessidades de
aquecimento, pelo que este factor não pode ser totalmente desprezado, como acontece no método do
REH. Além disto, deve ter-se em consideração que quando se analisa uma habitação, o que não é a
presente situação, a diferença entre os resultados determinados por ambos os métodos detalhados
deve ser inferior, devido à existência de uma área de exposição ao exterior muito inferior à considerada
(que neste caso perfez uma área total de 154 m2). Trabalhos anteriores, como o de Mamede [37],
revelaram influências devidas aos ganhos solares nas necessidades de aquecimento em cerca de 15%,
num edifício gaioleiro e quando não considerando qualquer sombreamento, segundo o software
EnergyPlus.
90
Anexo C - Ensaios de Pressurização
C.1 Introdução
Nesta secção, pretende-se descrever resumidamente um dos tipos de ensaios experimentais
realizados, mais especificamente os ensaios de permeabilidade ao ar, ou também denominados por
ensaios de pressurização ao ar em habitações. Estes ensaios têm como objectivo estimar as infiltrações
na habitação pois, tal como Pinto refere [19], “a ventilação e as infiltrações de ar são responsáveis por
uma parte relevante das perdas térmicas dos edifícios; Na generalidade dos casos as frinchas não são
visíveis, sendo necessário recorrer ao ensaio de pressurização para avaliar a conformidade com
valores limite de permeabilidade ao ar; Através de ensaios sucessivos, nos quais são vedados alguns
elementos da envolvente e componentes do sistema de ventilação é possível determinar as curvas de
características dos mesmos.”.
Nesta secção apenas se pretende introduzir os conceitos, procedimentos e materiais dos respectivos
ensaios experimentais, uma vez que as curvas características de cada ensaio foram apresentadas ao
longo do Capítulo 4.
C.2 Conceitos
Os ensaios de permeabilidade ao ar são normalmente realizados com o auxílio de um sistema de porta
ventiladora (Figura C.1, i)), a qual permite avaliar o nível de estanquidade dos componentes da
envolvente da habitação. Os ensaios são realizados em condições de pressão e de depressão, pelo
que o resultado final obtém-se através da média dos dois ensaios.
A estanquidade da envolvente de um edifício representa a quantidade de infiltração de ar de um edifício
em relação ao seu volume. A permeabilidade ao ar de um edifício é expressa em termos de infiltração
de ar em metros cúbicos por hora e por metro quadrado da área da envolvente do edifício, quando
submetido a um diferencial de pressão de 50 Pa, pelo qual se dá o nome de ensaio n50. Esta infiltração
de ar é assim definida como um fluxo, não desejado, de ar para dentro e fora do edifício, resultante do
diferencial de pressão causado pelo vento, equipamentos de ventilação e pelo efeito chaminé [29].
As infiltrações podem depender de vários parâmetros, nomeadamente:
direcção do vento;
orientação do edifício;
tipo de ventilação (Natural ou Mecânica);
diferencial de temperatura interior/exterior; e
comportamento dos ocupantes.
91
C.3 Procedimento e Material Utilizado
De seguida descreve-se o procedimento experimental segundo a ordem de execução utilizada:
Montar a caixilharia em alumínio (Figura C.1, a)) e ajustá-la às dimensões da porta a utilizar
para a realização do ensaio de pressurização ou despressurização;
Após o ajuste colocar o tecido estanque (Figura C.1, b)) na caixilharia;
Colocar a caixilharia de alumínio à porta de ensaio e ajustar completamente;
Instalar o ventilador (Figura C.1, c)) de forma a ficar seguro e orientado de acordo com o ensaio
a realizar;
Instalar e ligar o databox de pressão (Figura C.1, e)) ao computador;
Instalar os tubos de pressão (Figura C.1, g)) à porta ventiladora e ao databox conforme o tipo
de ensaio pretendido. Os tubos de pressão permitem obter a leitura das pressões nos
diferentes locais necessários, como por exemplo: o exterior e o interior do local a ensaiar bem
como a pressão no interior do ventilador;
Ligar o computador (Figura C.1, f)), e aceder ao software de ensaios (TECTITE Express 3.1),
preenchendo as seguintes variáveis necessárias:
Volume, V (m3) – Volume da habitação, só é necessário caso se pretenda obter resultados
que requeiram o volume, como por exemplo, as renovações horarias. Se a cave for incluída
deve-se executar o ensaio com a porta aberta entre a cave e a habitação;
Área total da envolvente (m2) – Área da envolvente exterior da habitação;
Área de pavimento (m2) – Área total de todos os elementos pertencentes ao volume interior;
Pressão barométrica (kPa) – Utilizado para correção de densidades, o valor de 101,325kPa
de acordo com a norma EN13829;
Localização do operador – Permite selecionar o ensaio de pressurização ou o ensaio de
despressurização; e
Temperatura, inicial e final – Temperatura no interior e exterior da habitação no início e no
fim de cada ensaio, obtidos pelo sensor de temperatura (Figura C.1, h)).
Ligar o ventilador e proceder aos ensaios de pressurização e despressurização. Sendo que no
início e final de cada ensaio é necessário cobrir o ventilador com o tecido estanque apropriado
(Figura C.1, e)). Por fim guardar os resultados.
O software de ensaios utilizado já tem em conta as correções devidas à existência ou não de vento
(razão por se cobrir o ventilador com o tecido estanque) e à variação de temperatura que, por sua
vez, faz variar a densidade e, consequentemente, o caudal que passa através do ventilador.
Os procedimentos experimentais tiveram por base o manual de utilização do equipamento da porta
ventiladora [44] e o documento [29], em que as características do material utilizado foram retiradas
do primeiro documento, o manual de utilização.
92
Na Figura C.1, é apresentado todo o material utilizado para a realização dos ensaios de pressurização.
Figura C.1 – Material utilizado nos ensaios de pressurização: a) Caixilharia em alumínio ajustável, b) tecido estanque, c) ventilador centrífugo e controlador (Minneapolis Blower Door Model 4/230V), d) tecido estanque para o ventilador, e) databox de pressão (box de aquisição de dados), f) computador, g) tubos de leitura de
pressão, h) sensor de temperatura, i) sistema da porta ventiladora totalmente montado in situ.
Com os ensaios de pressurização, para os casos de estudo avaliados pretendeu-se avaliar a
permeabilidade e a perda de carga dos vários elementos da envolvente, destacando-se os seguintes
elementos:
permeabilidade ao ar da envolvente (n50 da fração em estudo);
caixilharia (permeabilidade ao ar das portas e janelas);
caixas de estore (permeabilidade ao ar); e
condutas de admissão e exaustão de ar (perda de carga).
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g) h)
i)
93
Anexo D - Incerteza Experimental de Ensaios de Temperatura
D.1 Incerteza
Com o intuito de estimar a incerteza existente nos sensores de temperatura utilizados (HOBO U10
Temp/RH Logger), procedeu-se a um exercício prático, em que os sete sensores utilizados foram
colocados no mesmo sítio, de modo a registarem condições de temperaturas iguais e assim ser
possível comparar os resultados obtidos. Estes resultados são apresentados na Figura D.1, para um
período de medição de cinco horas, com uma leitura de dez em dez minutos.
Figura D.1 – Ensaio de incerteza a sete sensores de temperatura.
Analisando os resultados obtidos por todos os sensores de temperatura, verifica-se que estes indicam
uma diferença entre 0.1 e 0.3 °C, podendo considerar-se uma incerteza compreendida entre estes
valores. Esta incerteza obtida é inferior ao valor fornecido pelo fabricante, de ±0.5°C [41], contudo,
seriam necessários mais ensaios para confirmar os resultados obtidos.
22.6
22.7
22.8
22.9
23.0
23.1
23.2
23.3
23.4
3/6 12:30 3/6 13:30 3/6 14:30 3/6 15:30 3/6 16:30 3/6 17:30
Tem
pera
tura
(ºC
)
Data (dia-mês hora)
Sensor 1 Sensor 2 Sensor 3 Sensor 4 Sensor 5 Sensor 6 Sensor 7
94
Anexo E – Cálculo do Coeficiente U Em Janelas
E.1 REH e Simplificado
Os valores do coeficiente U das janelas, considerados por Uw para os métodos REH e Simplificado
foram detirados da publicação do LNEC [35]. Este coeficiente é determinado pela equação geral (e.1),
[25] e [35], em que:
𝑈𝑤 =1
𝑅𝑠𝑖 + ∑ 𝑅𝑗 + 𝑅𝑠𝑒𝑗
(e.1)
Uw - coeficiente de transmissão térmica da janela (W.m-2.ºC-1);
Rj - resistência térmica da camada j (m2.ºC.W-1);
Rsi - resistência térmica superficial interior (m2.ºC.W-1); e
Rse - resistência térmica superficial exterior (m2.ºC.W-1).
Por sua vez, as resistências térmicas superficiais obtêm-se a partir da equação (e.2), com:
𝑅𝑛 =1
ℎ𝑐 + ℎ𝑟
(e.2)
Rn - resistência térmica superficial n (m2.ºC.W-1);
hc - coeficiente de transmissão térmica por condução e convecção (W.m-2.ºC-1); e
hr - coeficiente de transmissão térmica de calor por radiação (W.m-2.ºC-1).
Os valores do coeficiente de Uw em questão pressupõem resistências térmicas superfíciais de
0.04 m2.ºC.W-1 para o exterior e de 0.13 m2.ºC.W-1 para o interior. A resistência térmica superficial
exterior (Rse) é determinada através da equação (e.3), em que:
ℎ𝑒 = 10,0 + 4,1 × 𝑣
(e.3)
he - coeficiente de transmissão térmica exterior, por condução, convecção e radiação (W.m-2.ºC-1); e
v - velocidade do vento (3.2 m.s-1).
Em relação à resistência térmica superficial interior (Rsi), esta foi determinada em condições de vidro
corrente e convecção natural [35]. Desta forma, o valor do coeficiente Uw utilizado por estes dois
métodos é considerado constante e independente de condições externas.
E.2 EnergyPlus
O EnergyPlus, por sua vez, não considera os mesmos presupostos, na medida em que este método
subtrai o valor das resistências térmicas padrão (Rse - 0.04 e Rsi - 0.13 m2.ºC.W-1) ao coeficiente Uw
fornecido pelo utilizador, determinando novos valores de resistências em função das condições
exteriores e interiores horárias. Este método, utiliza ainda diferentes algoritmos para o cálculo das
resistências no exterior e no interior em função de determinadas correlações. Neste trabalho, ao longo
de todas as simulações realizadas, foram utilizados os algoritmos recomendados pelo software,
95
nomeadamente o DOE-2 (utiliza correlações por dados experimentais de Klems e Yazdanian para
superficies rugosas) e TARP (utiliza correlações de modelos desenvolvidos pela ASHRAE, por Walton
e Sparrow) para o cálculo das resistências térmicas superficiais exterior e interior, respectivamente.
Com o intuito de identificar os parâmetros que mais influenciam estas resistências no EnergyPlus,
realizou-se um estudo específico ao Caso de Estudo 2. Neste estudo, confirmou-se que, como já
referido, o valor das resistências dependem principalmente da velocidade de escoamento do ar (vento
no exterior e correntes de ar no interior) e da temperatura do ar, assim como, adicionalmente,
dependem do tipo de janelas (vidro simples ou vidro duplo). Este software distingue automaticamente
entre janelas de vidro simples ou de vidro duplo, em função do valor do coeficiente Uw. Uma vez que
as condições de velocidade do ar e de temperatura variam ao longo do dia, os valores de resistência
térmica superficial também variam ao longo do mesmo, tanto a resistência exterior, como a interior da
superficie da fachada.
96
Referências
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[2] International Energy Agency, "Special Report - World Energy Investment Outlook," 2014.
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[4] International Energy Agency, World Energy Outlook 2013, London, 2013.
[5] International Energy Agency, "Energy Balances of non-OECD Countries," 2012.
[6] A. M. Rodrigues and J. F. Gomes, "Reabilitação energética de vãos de janela," Caixiave.
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[8] INE and DGEG, "Inquérito ao Consumo de Energia no Sector Doméstico," INE, 2010.
[9] RCCTE, "Decreto-Lei 40/90 - Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos
Edifícios," Diário da República, I série - A, 2009.
[10] INE and LNEC, "O Parque Habitacional e a sua Reabilitação - Análise e Evolução," INE, 2001-
2011.
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[12] M. Panão, S. Camelo and H. Gonçalves, "Cost-Optimal Study For New Buildings in Portugal,"
DGEG, 2013.
[13] ISO EN 13790, "Energy performance of buildings – Calculation of energy use for space heating
and cooling," 2008.
[14] RCCTE, "Decreto-Lei 80/2006 - Regulamento das Características de Comportamento Térmico
dos Edifícios," Diário da República, I série - A, 2006.
[15] REH, "Decreto-Lei 118/2013 - Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação," Diário da
República, I série - A, 3 de Dezembro de 2013.
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[17] H. Almeida, "Dissertação de Mestrado - Análise do Conforto Térmico de Edifícios utilizando as
Abordagens Analítica e Adaptiva," Instituto Superior Técnico, Lisboa, 2010.
97
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[19] A. Pinto, "Dissertação de Doutoramento - Aplicação da avaliação de ciclo de vida à análise
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N.º110, 9 de Junho de 2008.
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determination of air permeability of buildings - fan pressurization method (ISO 9972:1996
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98
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transmissão térmica referentes ao mercado nacional - Proc. º088/11/14842 - Relatório 41/2002-
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de edifícios existentes no âmbito do RCCTE," 2008.
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[38] European Comission, "Guidelines accompanying Commission Delegated Regulation (EU) No
244/2012 of 16 January 2012 supplementing Directive 2010/31/EU of the European Parliament
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methodology framework for calculating cost-optimal levels of minimum energy performance
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[39] C. Faustino, "Dissertação de Mestrado - Influência dos Vãos Envidraçados do Desempenho
Energético de Edifícios," Instituto Superior Técnico, Lisboa, 2012.
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soluções construtivas, Multicomp, 2011.
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[43] "Decreto-Lei 118/2013 - Desempenho energético dos edifícios de habitação," Diário da República,
I série - A, 2013.
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Blower DoorTM - Operation Manual for Model 3 and Model 4 Systems, Minneapolis, 2012.