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AVALIAÇÃO DO ESTADO DE MANUTENÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM E DOS PONTOS ERODÍVEIS DAS TRILHAS DO CIRCUITO JANELA DO CÉU – PARQUE
ESTADUAL DO IBITIPOCA, MG.
ROCHA, Cézar Henrique Barra - D. Sc. em Geografia - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG - [email protected]; VIANA, Fernanda Maria de Freitas - Bióloga, Analista Ambiental, Mestranda em Ecologia - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG - [email protected]; RIBEIRO, Lucas Pereira - Graduando em Geografia - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG - [email protected]; PECHINCHA, Marcelle Gualtieri Honório - Graduanda em Geografia - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG - [email protected]. Eixo Temático: Turismo e impactos socioambientais.
Resumo Atualmente a procura por áreas naturais como alternativa de lazer tem aumentado exponencialmente. Esse aumento de visitação, juntamente com fatores naturais como as intempéries, acarretam uma série de impactos nestes ambientes. Neste contexto, o planejamento adequado do local de implantação das trilhas e seu monitoramento através da manutenção do sistema de drenagem e da correção dos locais onde surgem pontos erodíveis são algumas das medidas que atenuam a incidência de impactos. O Parque Estadual do Ibitipoca (MG) é uma unidade de conservação aberta a visitação, que detém elevada biodiversidade e riqueza natural. Entretanto, seus recursos naturais vem sendo ameaçados pelos impactos naturais e antrópicos. Diante disso, esta pesquisa teve como objetivo realizar uma avaliação rápida do estado de manutenção do sistema de drenagem e da incidência de pontos erodíveis no Circuito Janela do Céu do Parque de forma a auxiliar na conservação deste ambiente. Para a avaliação foi realizado um trabalho de campo nos dias 23 e 24 de Abril de 2008, como parte da pesquisa de monografia da segunda autora, sendo realizado o georreferenciamento e o registro fotográfico dos locais onde foi observada a ocorrência de problemas de drenagem e/ou pontos erodíveis. Os resultados encontrados para os trechos com problemas de drenagem e pontos erodíveis, respectivamente: Trilha Central (70m, 409m), Trilha da Lombada (18m, 1.034m) e Trilha do Meio (0m, 84m). Estes impactos apresentam uma inter-relação de ocorrência, já que, na maioria das vezes foram encontrados nos mesmos trechos e associados a degradação das trilhas e bordas do Parque. Sendo assim, é necessário o monitoramento e a correção periódica destas áreas de forma a evitar o aumento destes impactos e a reduzir os riscos aos visitantes nestes ambientes. Palavras-chave: impacto ambiental, manejo, turismo.
Abstract Currently the demand for natural areas as an alternative for leisure has increased exponentially. This increase in visitation, along with natural factors such as weather, carry a number of impacts in these environments. In this context, the planning of appropriate location for the trails and their monitoring through the maintenance of the drainage system and fix the places where they occur eroded points are some of the measures that mitigate the incidence of impacts. The Ibitipoca’s State Park (MG) is a unit of conservation open to visitation, which has high biodiversity and natural wealth. However, its natural resources is being threatened by natural and anthropogenic impacts. Thus, this research aimed to conduct a rapid assessment of the state of maintenance of drainage system and the incidence of eroded points in Janela do Céu Circuit of Park in order to assist in the conservation of the environment. For the evaluation was conducted the fieldwork on 23 and 24 April 2008 as part of the research monograph of the second author, and conducted the geoprocessing and photographic record of where it was observed the occurrence of drainage and/or eroded points. The results for the stretch with problems of drainage and eroded points, respectively: Central Trail (70m, 409m), Lombada’s Trail (18m, 1.034m) and Meio’s Trail (0m, 84m). These impacts have an inter-relationship of occurrence, since, in most cases were found in the same sections and the associated deterioration of trails and edges of the Park. It is therefore necessary to monitor and correct these areas regularly to avoid the increase of these impacts and reduce the risk to visitors in these environments. Keywords: environmental impact, management, tourism.
Introdução
O Parque Estadual do Ibitipoca (PEIb), MG é unidade de conservação criada em 1973 (IEF,
2003) com o objetivo de garantir a preservação do ecossistema, possibilitar a realização de estudos e
pesquisas científicas, oferecer condições para o turismo e a conscientização ambiental (IEF, 2009).
Inserido na Zona da Mata de Minas Gerais, o Parque tem como limites os municípios de Lima Duarte
e Santa Rita do Ibitipoca. Seu território detém uma área total de 1488 ha, entre as coordenadas
geográficas 21º40’; 21º44’S e 43º52’; 43º55’W, em altitudes que variam de 1.050 a 1.784 m (DIAS et
al., 2002).
Segundo Rodela e Tarifa (2002) a Serra do Ibitipoca encontra-se inserida entre domínios Serra
da Mantiqueira e Planalto de Andrelândia. Sua paisagem é composta, em sua maioria, por
afloramentos de rocha quartzíticos e material detrítico grosseiro. O relevo é classificado como
montanhoso, sendo que as rochas se dispõem em dobramentos expressíveis. Os solos melhor
distribuídos pela Serra são: litossolos, solos litólicos, regossolos e cambissolos, estes últimos, em sua
maioria, álicos. Tem-se ainda a ocorrência de manchas reduzidas de solo orgânico, podzol, podzólicos
amarelo e vermelho-amarelo e latossolo vermelho-amarelo.
A elevada umidade e pluviosidade que pode ser constatada são influenciadas pelo relevo
diferenciado nas áreas do Parque com cristas anticlinais destacadas dos arredores (RODELA e
TARIFA, 2002) onde nota-se a formação de mar de morros. Este último tipo de formação pode ser
encontrada em outras paisagens da Zona da Mata mineira.
Quanto a hidrologia, a Serra do Ibitipoca, age como divisor das bacias dos rios Grande e
Paraíba do Sul, sendo a Serra o local onde nascem os rios do Salto e Vermelho (MEDEIROS, 2006).
Os cursos d’água, além de serem responsáveis por uma diversidade de ambientes, são também
atrativos aos visitantes por apresentarem durante seu curso diversas cachoeiras e áreas de banho.
Em relação a fisionomia, o Parque possui uma diversidade de paisagens, a maioria de formação
rupestre (MENINI NETO, 2007), com variação em função da altitude, o que confere além de uma
elevada biodiversidade de fauna e flora, uma beleza singular ao local. Dentre estes aspectos a
distribuição dos cursos d’ água desempenha importante papel nesta diversidade, já que diversas
espécies vivem nas proximidades destes cursos e dependem destes para sua sobrevivência. Além disto,
a manutenção de um bom status de conservação das trilhas e áreas de bordas auxiliam para a
manutenção de habitats naturais e preservação das espécies que habitam áreas marginais as trilhas.
Segundo Zaidan (2002) a interação dada pela água juntamente com a gravidade age como um
condicionante dos processos geomorfológicos. No Parque tem-se a ocorrência de leitos em forma de
cânions, com encostas escarpadas. São encontrados ainda canais naturais retos associados à ocorrência
de linhas tectônicas de fraturas e falhas com alguns trechos do tipo meândrico encaixante, sendo
também encontrados leitos mais abertos. De acordo com Correa Neto et al (1993) apud Rodela e
Tarifa (2002) o controle estrutural da rocha e do relevo são os aspectos que originaram a rede de
drenagem. Esta é controlada de maneira geral pelas falhas e fraturas de direção NE-SW.
Considerando o padrão dos canais de drenagem, estes são classificados por Zaidan (2002) e
Correa Neto (1997) com predominância da classificação treliça, o qual nota-se também o padrão
paralelo em algumas áreas.
Nas trilhas do Parque, é possível a observação de numerosos pontos com problemas de
drenagem pluvial e fluvial, além da presença de focos erosivos, o que ocasiona na formação de poças
de água, pontos de alagamentos, trechos com desgaste excessivo do solo, problemas constatados nos
trabalhos de Fontoura e Simiqueli (2006), Peccatiello (2007) e Viana (2008).
Segundo Andrade (2003) o correto funcionamento do sistema de drenagem em trilhas deve
assegurar o escoamento lateral da água, evitando que a água escoe no local onde tem-se o pisoteio.
Entretanto, nas trilhas do Parque o escoamento da água se faz, na maioria das vezes, na parte central
desta. Quando ocorre nas laterais, associa-se muitas vezes a pontos erosivos, ocasionando em uma
série de impactos nestes ambientes. Em relação a presença de erosões, este fator associa-se diretamente
com a topografia do local, com o tipo de solo e com o padrão de drenagem. Pisoteio e remoção de
vegetação são aspectos que aumentam a incidência de ocorrência de erosão nas trilhas.
As trilhas de um parque desempenham importante papel na conservação de áreas naturais,
posto que, na maioria das vezes, é por meio delas que os visitantes estabelecem o contato com a
natureza. Diante disso, é válido ressaltar a importância de manutenção do leito das trilhas, assegurando
boas condições de conservação ao mesmo. A presença de impecílios que dificultem a caminhada na
trilha ocasiona impactos na mesma, geralmente estes, são conseqüências do pisoteio em um único local
ou em lugar inadequado (bordas de trilhas) para ultrapassar uma barreira. Estes desvios geralmente
levam a formação de trechos irregulares, o que acentua problemas de drenagem e favorece o
surgimento de trechos erodidos, além de outros problemas.
Com os investimentos em infra-estrutura nas áreas do Parque para manutenção de suas áreas e
atendimento ao turismo, já podem ser observados aumentos dos índices de visitação (TAB.1), o que
contribui ainda mais para a ocorrência de alterações na paisagem. Tabela 1- Número de visitantes anuais no PEIb, MG no período de 2004 a 2007.
Evolução dos índices de visitação total no Parque Estadual do Ibitipoca, MG - 2004 - 2007 Anos Número de visitantes 2004 27.582 2005 26.740 2006 31.692 2007 35.099
Fonte: IEF (2008) (Comunicação Pessoal) apud Viana (2008).
Diante do exposto, esta pesquisa teve como objetivo o levantamento das áreas com problemas
de drenagem e com susceptibilidade a erosão no Circuito Janela do Céu – PEIb, MG, como parte dos
dados de monografia desenvolvida por Viana (2008), com intuito de auxiliar estratégias de
manutenção e conservação destes ambientes.
Material e Métodos
Foi realizado um trabalho de campo durante os dias 23 e 24 de abril de 2008 em três trilhas
(Trilha Central, Lombada e Meio) pertencentes ao Circuito Janela do Céu – PEIb, MG (FIG. 1 e 2),
sendo feito o levantamento de todos os locais com registros de problemas de drenagem e de pontos
susceptíveis a erosão. Dentre os pontos com problemas de drenagem foram considerados todos aqueles
onde se observou o mau escoamento da água, a formação de poças e/ou pontos de alagamentos nas
trilhas e ainda a associação da drenagem à ocorrência de pontos susceptíveis à erosões. Para os pontos
susceptíveis a erosão considerou-se todos aqueles onde foi possível constatar o desgaste das camadas
superficiais do solo no leito e nas bordas, ou ainda, onde foi possível a verificação da presença de
sulcos, ravinas ou quaisquer aspectos que pudessem ocasionar o surgimento das erosões. O
levantamento de locais com problemas de drenagem e focos erodíveis foi realizado por meio do
georreferenciamento dos pontos (waypoints) no início e no final das ocorrências utilizando-se um
receptor GPS modelo Garmim GPSMap76CSx, que possuem altímetro (sigla S) e antena sensível para
áreas com vegetação (sigla X). Os dados de waypoints e trackpoints foram processados no Software
GPSTrackmaker Versão Free e Professional (GPSTM, 2008). Todos os pontos com problemas foram
medidos com ajuda de trena métrica de fibra de vidro (30m) modelo Sunlon e GPS, para registro da
dimensão do impacto. Ao final, estes valores foram somados e separados por cada trilha analisada.
Figuras 1-2: 1.Mapa de localização do PEIb, MG; 2.Trilhas do Circuito Janela do Céu, PEIb, MG. Fonte: 1.IEF (2009); 2.Autores (2009).
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Resultados e Discussão
O desenvolvimento do Ecoturismo tem como uma de suas finalidades estimular o contato das
pessoas com o ambiente natural, utilizando deste contato para promover a sensibilização ambiental e a
conservação de áreas naturais. Diante disto é válido ressaltar que a atividade atualmente desenvolvida
no PEIb assemelha-se mais ao turismo ecológico do que ao Ecoturismo, tendo em vista a quantidade
de impactos que podem ser constatados nas trilhas do Parque.
Vale salientar que a intensidade de uso das três trilhas é diferente. As trilhas da Lombada e
Central são as mais demandadas pelos visitantes. Consequentemente, estas apresentam impactos mais
acentuados de origem antrópica do que a Trilha do Meio que é opcional. Sabe-se que a visitação nestes
ambientes não é considerada o único agente modificador da paisagem, fatores naturais como os altos
indíces pluviométricos, a litologia e o relevo acidentado acentuam estes impactos. É válido ressaltar
que a falta de manutenção destes locais agrava ainda mais a situação de conservação do Parque.
Ladeira et al. (2007) salienta a fragilidade das áreas do Parque frente a mínimos impactos
ambientais, atribuindo como um dos fatores responsáveis pela ocorrência de impactos, o aumento dos
índices de visitação. Diante do exposto é válido ressaltar que a análise do estado de conservação dos
ecossistemas e do manejo adequado destes ambientes é de fundamental importância para conservação
da biodiversidade de áreas como o PEIb.
Apesar de ser inevitável a ocorrência de impactos em ambientes onde se tem a presença
humana, a biodiversidade destes locais torna-se ameaçada com alterações mínimas nos habitats destas
espécies. A conservação das trilhas e suas bordas diminuem os impactos oriundos dos efeitos de borda,
auxiliando para a conservação das áreas, diminuindo assim as chances de extinção de espécies.
Considerando os problemas de drenagem e pontos erodíveis avaliados para fins desta pesquisa,
é de suma importância a localização e a compreensão dos fatores que deram origem a estes impactos,
para que se tenha a manutenção adequada dos locais onde é constatada a incidência dos mesmos. Para
os locais de trilhas e bordas onde foi verificada a presença destes fatores devem ser estabelecidas
estratégias para correção e manutenção de modo a manter o bom estado destes ambientes, evitando
assim maiores impactos nas proximidades destas áreas.
Os resultados para os metros das trilhas com problemas de drenagem (TAB. 2) demonstram
que a Trilha Central é a que apresenta maior gravidade. Além dos diversos pontos com poças d’ água,
enlameados e/ou alagados (FIG. 3), ainda foram observados canais de drenagem irregulares,
acentuando focos erosivos.
A Trilha da Lombada por estar localizada em sua maioria diretamente sobre a rocha e com
predominância de fortes inclinações, possui menos pontos com este tipo de problema, apesar disto
foram constatados pontos com problemas de drenagem (FIG. 4). Entretanto, canais de drenagem agem
com maior intensidade no final dos trechos das declividades, presentes nas trilhas, onde foram
observados fragmentos de rochas oriundos de carreamento de material. Em relação a Trilha do Meio,
não foram registrados pontos de alagamentos durante os dias de trabalho de campo, embora a pesquisa
tenha sido conduzida durante um período em que ainda ocorriam chuvas com frequência no Parque.
Entretanto, é importante ressaltar que esta trilha torna-se praticamente alagada durante os dias de
chuva intensa, como foi constatado em outras visitas ao local, o que ressalta a fragilidade desta área
pela ausência de dispositivos de drenagem.
Foram observados problemas de drenagem associados ao acúmulo de sedimentos impedindo o
livre escoamento da água, drenagem coincidindo com a própria trilha (FIG. 5); e costurando-a de um
lado para o outro (FIG. 6). Uma monitoria periódica no sistema de drenagem minimizaria estes
impactos.
Em relação aos resultados para os metros das trilhas com trechos erodíveis (TAB. 2 e FIG. 7 e
8), o impacto mais acentuado apresenta-se na Trilha da Lombada. Provavelmente, estes resultados
estão associados à intensidade de uso da mesma, já que para o Circuito Janela do Céu, esta trilha é a
que dispõe de mais opções de atrativos a visitação. A ocorrência destes problemas pode ser atribuída
também ao tipo de solo da área, a declividade longitudinal, a velocidade de escoamento da água (que
provoca o desgaste das camadas superficiais do solo) e ao intemperismo a que estão sujeitas estas
áreas, pois, existem poucos trechos com cobertura vegetal, o que aumenta a exposição destes
ambientes às alterações ambientais adversas. Tabela 2: Extensão das trilhas do Circuito Janela do Céu com problemas de drenagem e focos erosivos.
Trilhas Problemas de drenagem (m) Trechos erodíveis (m) Extensão total da trilha (m)
Central 70 409 8.541
Lombada 18 1.034 7.745
Meio 0 84 2.180
Um dado importante relaciona-se a coincidência dos trechos com maiores extensões de
problemas de erosão associados as maiores declividades. Neste caso, a Trilha da Lombada é a única
trilha que apresenta níveis de acessibilidade ruim, ou seja, acentuada inclinação como constatado por
Viana (2008) (FIG. 9).
Em casos como este pode-se inferir que a variação acentuada de altitudes nas áreas do Parque
seja responsável por alguns dos problemas de drenagem e pela formação de pontos erodíveis, uma vez
que, a velocidade de escoamento da água ocasiona a formação de focos erosivos em áreas planas e no
carreamento e acúmulo de material lixiviado nestas áreas, o que acentua ainda mais a degradação do
ambiente. As áreas planas, neste caso, atuam como amortecedoras da velocidade adquirida com a
variação de altitude.
Para o PEIb, as diferenças altitudinais influenciam diretamente na ocorrência destes problemas,
pois, foi ao final das trilhas com as maiores declividades que foram observadas as ocorrências mais
acentuadas de ambos impactos. A utilização de dispositivos como descidas d’água em degraus ou a
colocação de blocos de rocha alternadas podem atenuar a velocidade da água, mitigando os impactos
na trilha. Deve-se evitar a descaracterização do local, fazendo a opção pelo uso de materiais do próprio
Parque (como rochas e troncos caídos), evitando impactos visuais na paisagem.
Para estudos de manutenção de drenagem devem ser considerados estudos em períodos secos e
chuvosos, de forma que se considere o funcionamento da drenagem durante dias de precipitação, já
que é por meio deste fator que se formam a maioria dos canais. Sendo este aspecto bem avaliado,
aumentam-se as chances de diminuição do processo erosivo oriundos da drenagem. Nas trilhas do
Circuito Janela do Céu é possível encontrar além dos problemas já mencionados, inúmeros focos
erosivos - assim chamados por estarem em processo inicial de formação de erosão - todos detectadas
associados a canais de drenagem.
Sendo assim, a escolha do traçado da trilha, torna-se uma estratégia que pode atenuar o
processo erosivo causado pela drenagem. Uma sugestão para implantação de novas trilhas seria a
implantação destas em locais não coincidentes com os canais de drenagem, em uma altitude que fosse
possível proteger a trilha, como no caso das rodovias e ferrovias. De acordo com Lechner (2006) ao se
planejar trilhas, a drenagem natural da água deve ser valorizada. Deve-se estar atento, entretanto, para
evitar que a água escoe no mesmo local da trilha ou ainda que haja fluxo de água trilha abaixo,
impedindo assim impactos indesejáveis futuros.
O levantamento dos locais onde tem-se o alagamento, mesmo que temporário das trilhas, é de
suma importância ao planejamento das mesmas: este tipo de ambiente requer maiores atenções pela
fragilidade que passa a apresentar, devendo ser evitado durante a seleção de locais para implantação de
trilhas. Em trilhas já implantadas, os locais onde são detectados estes pontos devem sofrer manutenção
corretiva por meio da melhoria do sistema de drenagem. Em relação ao Parque, foram detectados
poucos pontos de alagamento. Entretanto, é válido destacar que apesar de serem poucos, os pontos
encontrados estavam associados ao desgaste das camadas superficiais do solo nas trilhas e canais de
drenagem irregulares, impactados pelo pisoteio.
Portanto a falta de monitoramento da evolução dos impactos de drenagem no solo e de
manutenção levam a uma série de canais de drenagem irregulares e surgimento de pontos erodíveis.
Assim o monitoramento e controle dos impactos nestes ambientes devem fazer parte de um
planejamento ambiental destas áreas.
É importante destacar que os resultados obtidos nesta pesquisa dizem respeito às condições
gerais encontradas no circuito analisado, em Abril de 2008. Estudos em períodos secos e em dias mais
chuvosos devem ser conduzidos, para que se tenha a completa avaliação do sistema de drenagem.
Além disso, devem ser realizados monitoramentos contínuos de forma a acompanhar o avanço de
pequenos impactos, principalmente com relação à erosão e à drenagem nas trilhas.
Figuras: 3-4. Pontos de Alagamento: 3. Trilha Central; 4. Trilha da Lombada; 5-6. 5. Canal de drenagem irregular na Trilha Central; 6. Cruzamento da trilha com formação de pontos erodíveis na Trilha Central; 7– 8. Impactos no solo por mau funcionamento da drenagem: 7. Desgaste das camadas superficiais; 8. Carreamento de material pela drenagem. Fonte: Viana (2008).
Figura 9: Perfil da Trilha da Lombada - Janela do Céu com destaque para suas rampas ruins e algumas de suas rampas médias. Fonte: Viana (2008) com modificações.
Conclusão
É importante destacar que o monitoramento, a correção dos impactos e a manutenção adequada
das trilhas associam-se diretamente a sustentabilidade das atividades desenvolvidas nestas áreas, sendo
necessário estes procedimentos para que se tenha a conservação das áreas do Parque. Estudos devem
ser periódicos, já que o meio está sempre sujeito as alterações ambientais. É importante ressaltar ainda
que apesar da drenagem e da presença de pontos erodíveis serem fatores responsáveis por alterações na
paisagem, outros fatores modificadores da paisagem devem ser estudados, uma vez que, estes agem
conjuntamente no meio e relacionam-se entre si.
Agradecimentos
Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia Aplicada ao Manejo e Conservação dos Recursos
Naturais da UFJF, ao curso de Especialização em Análise Ambiental, ao IEF, a CAPES e FADEPE
pelo apoio financeiro e auxílio concedido durante a pesquisa.
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