avaliaÇÃo do desempenho ambiental com aplicaÇÃo

67
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS LIMPAS ESPECIALIZAÇÃO EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO ELMO BOMFIM CALASANS AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO AUTÔNOMA: Estudo de caso sobre ganhos ambientais Salvador 2005

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Page 1: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA

ESCOLA POLITÉCNICA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS LIMPAS

ESPECIALIZAÇÃO EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO

PROCESSO PRODUTIVO

ELMO BOMFIM CALASANS

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL

COM APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO

AUTÔNOMA: Estudo de caso sobre ganhos ambientais

Salvador

2005

Page 2: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

2

ELMO BOMFIM CALASANS

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL

COM APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO

AUTÔNOMA: ESTUDO DE CASO SOBRE GANHOS

AMBIENTAIS

Monografia apresentada ao Curso de

Especialização em Tecnologias limpas da

Universidade Federal da Bahia, como

requisito parcial para a obtenção de grau de

Especialista em Tecnologias Ambientais no

Processo Produtivo.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Kálid

Salvador

2005

Page 3: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, por minha vida e por tudo de bom que a mim

me tem proporcionado.

Aos meus pais e irmãos, pelo tanto que generosamente

contribuíram para que eu pudesse concluir com êxito

mais esta fase de estudos.

Ao meu orientador, Professor Doutor Ricardo Kálid,

pelos ensinamentos, firme orientação, lealdade, presença

amiga e paciência.

Aos meus colegas e amigos, pelas horas de estudo e

partilhas, imprescindíveis ao meu crescimento pessoal e

profissional.

À minha namorada, Aline Dias, que tão pacientemente

soube compreender minhas ausências nesse período.

Page 4: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

4

RESUMO

Com o desenvolvimento deste trabalho, procurou-se conhecer a evolução do

sistema de gestão ambiental, programas aliados, os pré-requisitos à implantação eficiente

da manutenção autônoma com foco em meio ambiente, o escopo de treinamento para a

formação do operador mantenedor com foco em ganhos ambientais e redução de

emissões, os ganhos ambiental e de produção decorridos da aplicação da manutenção

autônoma, e um estudo de caso em que é abordada a implantação da manutenção

autônoma aliada a procedimentos operacionais, com o objetivo de verificar os ganhos

ambientais vinculados à implantação da manutenção autônoma. O trabalho teve como

base a experiência do autor da presente Monografia sobre implantação da manutenção

autônoma, bem como o aperfeiçoamento e adequação às necessidades de treinamento dos

operadores mantenedores. Foram feitos estudos in loco e pesquisa bibliográfica quanto

aos ganhos históricos e de impacto ambiental pela equipe de manutenção. Os Ganhos

reais relativos à melhoria do desempenho ambiental puderam ser mensurados através de

dados históricos de geração de resíduos (inventário anual de resíduo da empresa foco do

estudo de caso). Os resultados, evidenciados com o implemento da manutenção

autônoma, apresentaram aumento da disponibilidade operacional da fábrica, redução dos

custos com a manutenção, com a geração de resíduos e tratamento, além da redução

direta dos impactos ambientais, seja na geração ou na gestão, ou ainda pela não geração

de resíduos. Registrou-se um acréscimo de 7,1% de disponibilidade da planta e uma

redução de 12% da geração anual de resíduos do tipo classe 1. O estudo também indica

que o sistema de capacitação da mão-de-obra e valorização dos funcionários inserem-se

fundamentalmente nos sistemas de desenvolvimento, pois leva a mudanças de

Page 5: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

5

pensamento e comportamentos pela ampliação de consciência com respeito à importância

das mudanças propostas e da responsabilidade individual e de grupo quanto a ganhos e

conseqüências das operações.

PALAVRAS-CHAVE: Manutenção Autônoma. Impactos Ambientais. Melhoria de

Desempenho Ambiental. Desenvolvimento Sustentável. Capacitação e Treinamento.

Page 6: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

6

LISTA DE FIGURAS

1 - Evolução de um Sistema de Gestão 24

2 - Importância crescente da manutenção 40

3 - Fases da Implementação da Manutenção Autônoma 47

Page 7: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

7

LISTA DE GRÁFICOS

1 –Resíduo Perigoso Gerado 2003/2004 59

2 – Resíduo Perigoso Gerado 2004/2005 61

Page 8: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

8

LISTA DE QUADROS

1 – Módulos Integrados do Modelo Winter 28

2 – Evolução da Manutenção 38

3 Treinamento para Manutenção Autônoma 51 - 52

4 – Resíduo Classe 1 2003/2004 58

5 – Resíduo Classe 1 2004/2005 60

Page 9: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

9

LISTA DE ABREVIATURAS

E SIGLAS

ABIQUIM Associação Brasileira de Indústrias Químicas

ACV Avaliação de Ciclo de Vida

AIA Avaliação de Impactos Ambientais

API American Petróleo Institute

BSI British Standards Institution

CE Comunidade Européia

CMA Chemical Manufactures Association

CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNUCED Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento

CONSEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente

CRA Centro de Recursos Ambientais

CT Comitê Técnico

DDS Diálogo Diário de Segurança

EIA Estudos de Impactos Ambientais

EMAS Eco-Management and Audit Scheme

Page 10: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

10

EUA Estados Unidos da América

GAP Distancia da meta

HH Homem Hora

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

ISO International Organization for Standardization

NBR Normas Brasileiras Regulamentadoras

OHSAS Occupational Health and Safety Assessments Series

ONU Organização das Nações Unidas

PAR Programa de Atuação Responsável

PNUMA Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas

RAP Relatórios Ambientais Preliminares

RIMA Relatórios de Impactos ao Meio Ambient

SAGE Strategic Advisory Group on Environment

SGA Sistemas de Gestão Ambiental

SGI Sistema de Gestão Integrada

STEP Strategies for Today’s Environmental Partnership

UFBA Universidade Federal da Bahia

UICN Conservação da Natureza

WWF World Wide Fund For Nature (Fundo Mundial para Vida

Selvagem).

Page 11: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

11

SUMÁRIO

I N T R O D U Ç Ã O

1 3

1 O B J E T I V O S 1 5

1 . 1 G E R A I S

1 . 2 E S P E C Í F I C O S

2 O MEIO AMBIENTE E SUA RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO

INDUSTRIAL

1 6

3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1 8

3.1 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AUDITORIAS AMBIENTAIS 2 0

3.2 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AVALIAÇÕESE ESTUDOS DE

IMPACTOS AMBIENTAIS

2 6

3.3 OS PRIMEIROS PRINCÍPIOS E SISTEMAS DE GESTÃO

AMBIENTAL

2 8

3.3.1 Programa de Atuação Responsável 2 9

Page 12: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

12

3.3.2 A Norma Britânica BS 7750 3 3

3.3.3 Sistema Europeu de Eco-gestão e auditoria 3 4

3.3.4 Strategies for Today’s Environmental Partnership (STEP)

3 5

4 RETROSPECTIVA E EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO

38

5 METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DA

MANUTENÇÃO AUTÔNOMA

46

5.1 CAPACITAÇÃO DO GESTOR E DO COMITÊ DE

IMPLEMENTAÇÃO

46

5.2 FASES DA IMPLEMENTAÇÃO DA MANUTENÇÃO

AUTÔNOMA

47

6 MÉTODOS

54

7 APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO AUTÔNOMA

54

CONCLUSÃO

62

REFERÊNCIAS 64

Page 13: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

13

INTRODUÇÃO

A década de 80 foi marcada pelo surgimento de metodologias que visavam à

identificação dos principais impactos ambientais causados ao meio ambiente pelas

organizações. Tal processo foi impulsionado por grandes tragédias ambientais, como

acidentes e derramamentos. O acidente ocorrido com a Usina de Chernobyl marcou a

época, sinalizando para a gravidade da situação face aos efeitos ecológicos em amplas

proporções.

Inicialmente surgiram as Auditorias Ambientais e os Instrumentos de Avaliação

de Impactos Ambientais, que tinham a função de identificar aspectos e impactos

ambientais, complementados com estudos e definição de medidas que pudessem

minimizá-los.

Entre o final da década de 80 e inícios dos anos 90, surgiram os chamados

Sistemas de Gestão Ambiental (SGA). Os SGA buscavam prover as organizações com

instrumentos adequados para o gerenciamento dos seus aspectos e impactos ambientais

mais significativos. Partiam, inicialmente, da identificação e priorização destes aspectos e

impactos, desenhando em seguida um sistema voltado à melhoria contínua dos processos,

com base no controle desses impactos.

Entretanto, embora seja inegável a importância e contribuição dos SGA, as

organizações atualmente encontram-se inseridas num mercado cada dia mais competitivo

e globalizado e, por isso, não devem se limitar apenas à identificação e à minimização

dos impactos ambientais que suas atividades causam ao meio ambiente. Para

sobreviverem neste novo cenário, tais organizações necessitam investir em performance

ou desempenho respaldado no princípio da auto-sustentabilidade, sob cujas orientações

Page 14: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

14

os novos mercados tendem a se encontrar conciliando aspectos sócio-ambientais a

estratégias, objetivos e metas organizacionais.

Como o principal objetivo das metodologias de avaliação de desempenho é

estabelecer o grau de evolução ou estagnação de seus processos, nada mais natural,

portanto, que tais princípios, metodologias ou sistemas de avaliação de desempenho

sirvam de instrumentos na adoção das novas posturas, desde que devidamente inseridos

nos sistemas de gestão ambiental. Assim é que os indicadores de desempenho devem

estar alinhados às estratégias e objetivos da organização, de forma a rever e redirecionar

não só decisões, mas também procedimentos.

Historicamente, os sistemas de avaliação de desempenho das empresas tendiam a

optar por um enfoque mais financeiro. Na última década do século XX, todavia,

começaram a surgir algumas metodologias ou sistemas de avaliação de desempenho

também envolvendo questões outras, além do privilégio financeiro, tais como

desempenho dos processos, qualidade dos processos e produtos, satisfação dos clientes,

motivação dos funcionários e questões ambientais.

A relação entre produção e preservação ambiental sempre se apresentou de difícil

conciliação e, sob alguns aspectos, até mesmo antagônica. A humanidade, a título de

justificar-se frente às necessidades de auto-sobrevivência, vem provocando a destruição –

paulatina e irracional - dos recursos naturais disponíveis no planeta, atingindo todas as

formas de vida. Assim agindo, esquece-se de que provoca, ela própria, a aridez do solo e

o desequilíbrio da natureza, de forma irreversível. As indústrias que não investem em

tecnologia limpa, por exemplo, ignoram que a ineficiência dos processos, eleva o

consumo e os custos sob os mais diversos ângulos, e faz com que matérias primas e ou

subprodutos permaneçam estocados, ou ainda sejam descartados na natureza, quando

poderiam ser reaproveitados por si ou por outra empresa. Inadvertidamente, por falta de

conhecimento ou comprometimento, considera o descarte de resíduo como parte normal

do processo de produção, perdendo não só a oportunidade de maiores lucros em seus

negócios, mas, principalmente, gerando danos ao meio ambiente.

No caso específico da manutenção autônoma com foco em ganhos ambientais e de

produção e redução de emissões, a idéia básica implica utilizar com mais eficácia os

Page 15: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

15

recursos naturais existentes, demandando a redução na utilização de recursos naturais e

no fluxo de materiais, além da redução ou eliminação de desperdício em forma de

resíduos. Na base dos processos geradores de mudanças, apresentam-se os treinamentos e

o trabalho de conscientização dos envolvidos.

1 OBJETIVOS

1.1 GERAL

O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o processo de implantação e

utilização do sistema de manutenção autônoma como ferramenta gerencial em uma

empresa química.

1.2 ESPECÍFICOS

Abordar os principais aspectos que levam à implantação da manutenção autônoma

e a ganhos ambientais.

Acompanhar as mudanças ocorridas através dos registros de controle de impactos

ambientais dos processos produtivos e de manutenção, bem como dos ganhos

ambientais vinculados à implantação da manutenção autônoma.

Analisar os pré-requisitos que direcionam a manutenção autônoma no sentido de

reduzir as perdas para o meio ambiente.

Propor uma metodologia de implantação da manutenção autônoma com foco em

ganhos ambientais.

Page 16: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

16

2 O MEIO AMBIENTE E SUA RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Apesar de a agricultura ter contribuído ao longo de séculos com significativa

parcela para a ocorrência de impactos ambientais ao planeta em decorrência,

principalmente, dos desmatamentos e do uso indiscriminado de agrotóxicos, foi na Era

Industrial, entretanto, que a exploração inadequada de recursos naturais e a poluição

resultante do avanço tecnológico impuseram um ritmo mais acelerado à degradação

ambiental.

No período, as organizações objetivavam, como principal meta, produzir seguindo

as exigências do progresso, bem como para atender às emergentes sociedades de

consumo nas mais diferentes regiões do planeta. Em sentido inverso aos princípios do

trabalho produzido manual e artesanalmente na era pré-industrial, a indústria moderna,

seguida da contemporânea, consolidou a produção em escala. A possibilidade de

utilização da energia para a produção fez com que os homens e a sua recente invenção, a

máquina, trabalhassem vinculados, seduzidos aqueles por ganhos financeiros amplos e

imediatos e imputando ao seu semelhante o poder de um novo mando senhorial para se

produzir em escala crescente. Apoiada no discurso da sobrevivência e do

desenvolvimento sócio-econômico inevitável, a humanidade, desde então, vem se

utilizando de ações comprometedoras para o meio ambiente, sem se dar conta que, mais

cedo ou mais tarde, os resultados afetariam a qualidade de vida do Planeta. Decorridos

alguns anos de intensas discussões, concluiu-se que o grande desafio não é lutar contra o

desenvolvimento, mas torná-lo sustentável, ou seja, evoluir sem agressões ou destruições

ao meio ambiente. (CMMAD, 1988).

No século XX, fortaleceram-se novas e mais acertadas posturas resultantes dos

investimentos originários de várias frentes, ao mesmo tempo em que acidentes ecológicos

e importantes conferências alternavam-se, tendo como centro discussões sobre o tema.

Em 1957 ocorre o primeiro acidente com um reator nuclear, em Tcheliabinski (antiga

União Soviética), justamente num momento em que o crescimento econômico contribuía

sobremaneira para o consumo e que a descoberta de possíveis usos da energia nuclear

Page 17: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

17

tornava remota quaisquer preocupações com a escassez de recursos, principalmente a

escassez energética. Ainda nos anos 50, assinala-se, em Minamata, Japão, um outro

desastre tendo no topo do desafio o derramamento de mercúrio, e cujo saldo apresentou–

se lastimável diante dos 700 mortos e 9.000 doentes crônicos (PONTING, 1991).

A Reunião do Clube de Roma, em 1968, que culminou com a publicação do

documento Limites do Crescimento (The Limits to Growth), ocorreu quando o mundo

experimentava um possível emergir da Guerra Fria e também presenciava o terror dos

holocaustos, a guerra do Vietnan e as conquistas tecnológicas empregadas na fabricação

de armamentos. O documento previa uma incontrolável mortandade da população por

volta dos anos 2050, provocada pelo esgotamento dos recursos naturais, conseqüência do

aumento desmedido e irresponsável da produção industrial e de alimentos para atender ao

crescimento exponencial da população. O tom alarmista de "Limites ao Crescimento"

desencadeou várias avaliações contrárias, mas o impacto foi inequívoco: a questão, a

partir desse momento, faria parte da teoria econômica, tanto em nível dos insumos, como

dos efluentes rejeitos (TAYRA, 2002).

Um pouco mais adiante, em junho de 1972, ocorre em Estocolmo, Suécia, a

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, onde foram levantadas questões

envolvendo desde os direitos fundamentais do homem a condições de vida adequadas e

dignas. Foi enfatizada a obrigatoriedade do ser humano de proteger e melhorar o meio

ambiente para as gerações presentes e futuras. Houve ainda a inserção do conceito de

Meio Ambiente. A conferência contou com representantes de 113 países, 250

organizações não-governamentais e vários organismos da ONU.

A Conferência foi reconhecida como a mais importante sobre o assunto, a ponto

de estabelecer a distinção para o estudo do meio ambiente em “antes” e “depois” de

Estocolmo. Para além dos aspectos técnico-científicos, pela primeira vez foram discutidas

questões sociais, políticas e econômicas ligadas ao tema, o que sinalizou para um grande

avanço sócio-econômico, político e ambiental no campo da produção.

Desta Conferência adveio a criação do Programa de Meio Ambiente das Nações

Unidas (PNUMA), a partir do qual, para maior tranqüilidade dos países em

Page 18: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

18

desenvolvimento, os conceitos de crescimento zero postulados pelos países ricos

começaram a ser substituídos por “metas de desenvolvimento sustentável”.

Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, sucede a Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUCED), a RIO-92, como ficou conhecida.

Dentre os compromissos acordados, constam a convenção sobre a mudança do clima e

biodiversidade, e uma declaração sobre florestas. A conferência aprovou, entre outros,

documentos de objetivos mais abrangentes e de natureza mais política: a Declaração do

Rio e a Agenda 21. Ambos endossam o conceito fundamental de desenvolvimento

sustentável, produto das aspirações compartilhadas por quase todos os países, e

relacionado à idéia de progresso econômico e usos de materiais. No contexto das

propostas, incluiu-se a necessidade de uma consciência ecológica.

Em dezembro de 1997 foi realizado em Kioto, Japão, um evento que contou com

um contingente de cerca de 10.000 representantes de países, observadores e jornalistas. A

Conferência culminou com a decisão, por consenso, de se adotar um protocolo, definido

como Protocolo de Kioto, segundo o qual os países industrializados reduziriam suas

emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis

de 1990, até o período compreendido entre 2008 e 2012. Com vinculação legal, envolve

compromisso de uma reversão da tendência histórica de crescimento das emissões

iniciadas nesses mesmos países, há cerca de 150 anos. Data de 16 de março de 1998 a

abertura do Protocolo de Kioto, para as assinaturas devidas.

3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Segundo Starke (1991), o termo desenvolvimento sustentável surge pela primeira

vez em 1980, no documento “Estratégia de Conservação Mundial: conservação dos

recursos vivos para o desenvolvimento sustentável”. Esse documento foi assinado pela

União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), pelo Fundo Mundial para

Vida Selvagem (WWF) e pelo PNUMA. Segundo o documento:

Page 19: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

19

“[...] para ser sustentável, o desenvolvimento precisa levar em

conta fatores sociais e ecológicos, assim como econômicos; as

bases dos recursos vivos e não-vivos; as vantagens de ações

alternativas, a longo e a curtos prazos.” (STARKE, 1991, p. 67)

Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CMMAD) elaborou um novo significado para o termo. Para a Comissão,

desenvolvimento sustentável passa a ser “[...] aquele que atende às necessidades do

presente, sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem às suas

próprias necessidades.” (CMMAD, 1988).

Em junho de 1992, no Rio de Janeiro, na CNUCED, reconheceu-se a importância

de se assumir a idéia de sustentabilidade em qualquer programa ou atividade de

desenvolvimento. LELÉ (1995) afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável

ocupa uma posição central dentro do ambientalismo, particularmente após a publicação

do relatório Nosso Futuro Comum.

“[...] nos últimos anos, o antigo debate dos anos 70, que de certa forma

separava as questões ambientais do desenvolvimento, é substituído por

outro mais convergente e otimista, preocupado centralmente na questão

de como fazer para alcançar um desenvolvimento sustentável.” (VIOLA

apud LELÉ, 1995, p. 73).

Baroni (1992) acrescenta que há um consenso por parte dos autores que abordam

o termo, ao sugerir que desenvolvimento sustentável implica em buscar o fim da pobreza,

acrescido da preocupação em reduzir a poluição ambiental e o desperdício no uso dos

recursos.

Pode-se perceber, portanto, que o termo desenvolvimento sustentável, por si só,

não traz respostas ou soluções ao conflito existente entre a necessidade de crescimento e

a preservação dos recursos naturais que ainda restam. Considerando que as organizações

Page 20: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

20

produzem bens vastamente consumidos pelas sociedades contemporâneas, e que algumas

destas sociedades assumem estes bens como de suma importância para a sua

sobrevivência, torna-se inegável o relevante papel que estas organizações de produção de

bens precisam adotar na busca pela prática de um desenvolvimento sustentável.

O fato é que a produção dos bens consumidos pelas sociedades gera poluição de

toda ordem, nos mais diferentes níveis, danos que acabam atingindo direta ou

indiretamente a própria humanidade. Por outro lado, a mesma sociedade parece não

querer abrir mão do conforto e comodidade proporcionados por muitos destes bens.

A busca de soluções para este conflito deverá passar por mudança de valores da

sociedade, tanto da parte dos responsáveis pela produção, quanto por aqueles que se

encontram no papel de consumidores dos produtos. Além disso, os sistemas

organizacionais deverão ser reorientados com vistas à minimização de danos e impactos

ambientais negativos, normalmente causados pela produção de bens de consumo. Para

tanto, faz-se necessário conhecer tais danos e impactos ambientais, identificando suas

origens, meios de expansão, conexões e magnitude, e as conseqüências diretas e indiretas

dos mesmos por metas adequadas a cada situação.

Dentro deste enfoque, os itens subseqüentes pretendem apresentar duas ferramentas

que têm por objetivo a identificação de danos ou impactos ambientais associados às

atividades das organizações e que tiveram grande parcela de contribuição no surgimento

das ferramentas e modelos dos sistemas de gestão ambiental: as auditorias ambientais e

as avaliações de impactos ambientais.

3.1 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AUDITORIAS AMBIENTAIS

As primeiras auditorias ambientais nasceram em meados da década de 70, nos

EUA. Seu surgimento baseou-se na necessidade de criação de um instrumento de

controle que auxiliasse empresas a verificar se as mesmas cumpriam ou não as

regulamentações ambientais legais, tal como acontecia com as auditorias contábeis, muito

difundidas na época.

Page 21: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

21

Com o decorrer dos anos, as auditorias foram se tornando não apenas um

instrumento importante para demonstrar a conformidade com relação às leis ambientais,

mas também passaram a ser definidas como processos sistemáticos para se obter, avaliar

e registrar fatos, buscando conformidade com determinados padrões estabelecidos, os

quais poderiam ser até mais restritivos do que a legislação aplicável. (KUHRE, 1996, p.

42)

Atualmente, existem diversos tipos de auditorias ambientais, que variam de

acordo com os objetivos estabelecidos para a sua realização. De um modo geral, as

auditorias ambientais podem ser classificadas como auditorias de primeira, de segunda ou

de terceira parte. As de primeira parte, algumas vezes conhecidas como auditorias

internas, são realizadas por membros da própria organização. Já as de segunda, também

conhecidas por auditorias de fornecedores, são aquelas realizadas por algum membro

externo à organização, mas com alguma relação com ela, como por exemplo, um cliente,

um fornecedor ou um parceiro. As auditorias de terceira parte, ou externas, assim se

definem porque são realizadas por um membro externo à organização e sem nenhuma

relação com esta, como por exemplo, uma certificadora.

As auditorias foram e são bastante utilizadas como ferramentas para verificação

de conformidades no processo de gestão de produção, processo de manutenção e

ambiental. O seu relatório final constitui-se como um bom indicativo de pontos de

melhoria e ganho. O processo como um todo, inclusive a manutenção, pode e deve ser

alvo de auditorias e inspeções periódicas para que se possa gerar um meio mensurável

dos resultados, bem como um histórico dos levantamentos e ações a serem evidenciadas.

De acordo com ASTM (1994), alguns dos tipos mais importantes e conhecidos de

auditorias ambientais assim se classificam:

Auditoria Fase I - auditorias ambientais com o propósito de identificar, na

propriedade auditada e em seu entorno, condições que possam vir a ser não

conformidades ambientais, tais como contaminações de qualquer espécie. São

consideradas muito importantes na área de manutenção, pois procuram marcas de

Page 22: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

22

vazamento, manchas de óleo e qualquer outro indício de derrames ou

contaminação por destinação incorreta de resíduos.

Auditoria Fase II - auditorias ambientais com a finalidade de investigar, na

propriedade auditada ou em seu entorno, as condições normalmente identificadas

na Fase I, visando caracterizar melhor a magnitude da não conformidade

identificada.

Auditoria de Conformidade Legal - realiza avaliação verificando a conformidade

em relação às exigências legislativas ambientais aplicáveis.

Auditoria Due Diligence, de Aquisição e Alienação - normalmente realizada por

comprador, intermediário ou cessionário em uma transação comercial, tal como

fusões, aquisições ou compras de ações. O principal objetivo deste tipo de

auditoria é o de evitar que sejam assumidos riscos ou passivos ambientais em

transações de compra e venda.

Auditoria de SGA - essas auditorias são realizadas com o intuito de verificar a

eficiência e eficácia do sistema de gestão ambiental de uma organização, isto é,

verificar a conformidade do sistema com os critérios estabelecidos.

Auditorias de Desempenho Ambiental - procuram verificar especificamente o

desempenho ambiental da organização, considerando todos os setores envolvidos

e a integração entre eles.

Auditorias Corporativas - realizadas por membros ou empresas de uma mesma

corporação, visando checar conformidade contra os padrões legais e de

desempenho estabelecidos normalmente pela própria corporação.

Auditorias de Fornecedores - realizadas em clientes ou fornecedores relacionados

às atividades da organização. Dependendo do escopo desejado, podem ser de

conformidade legal ou de desempenho. Normalmente esta auditoria de segunda

parte é conduzida visando assegurar que as atividades desses clientes ou

fornecedores não comprometam de alguma forma a reputação da organização.

Page 23: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

23

As auditorias foram algumas das ferramentas utilizadas antes da implementação da

manutenção autônoma, já que têm grande valia na detecção e conhecimento dos pontos

prioritários de implementação do programa. A experiência nos mostra que as auditorias

devem ser constantemente realizadas para acompanhamento e monitoração de todo o

processo de implementação. Dentre os fatores que impulsionaram as auditorias

ambientais, pode ser mencionado o reconhecimento por parte das empresas dos

benefícios de se avaliar de forma sistemática sua conformidade contra os padrões

estabelecidos, bem como a possibilidade de estimar os riscos e responsabilidades

potenciais no caso do não cumprimento dos requisitos legais.

No final da década de 70, com o avanço das propostas na área ambiental empresarial

produtivo, algumas empresas dos setores químico, petroquímico, de geração de energia e

de mineração, estabeleceram metodologias específicas e programas de auditoria

ambiental, que muitas vezes eram realizados em conjunto com as avaliações nas áreas de

saúde ocupacional e segurança do trabalho. Tudo isso sinaliza mais uma vez a crescente

preocupação com o meio ambiente.

Na década de 80, ampliaram-se as pressões da opinião pública e dos órgãos de

regulamentação para que as empresas divulgassem, através de relatórios, informações

sobre o seu desempenho ambiental. Assim, corporações internacionais como Allied

Signal, Union Carbide, Monsanto, Rhône Poulenc, entre outras, vêm publicando

relatórios sobre sua atuação na área ambiental.

Além dos relatórios publicados, a crescente tendência de aquisições e fusões de

empresas industriais no país vem incentivando a realização de auditorias para avaliação

do desempenho ambiental, dos riscos associados a passivos ambientais, e até mesmo de

alguns impactos ambientais associados.

As auditorias ambientais, ao tornarem transparente a existência ou não de

impactos ambientais dentro das organizações, podem auxiliar investidores e acionistas

quando das avaliações das empresas relativa aos passivos ambientais e/ou desempenho

ambiental, ou ainda levá-las a rever rotinas e traçar planos com medidas de ações

corretivas e preventivas. O setor de manutenção em indústrias, geralmente terceirizado,

Page 24: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

24

funciona com menor inserção da cultura e valores organizacionais, pela não existência de

funcionários diretos da corporação.

Na atualidade, surge a filosofia da manutenção autônoma, onde funcionários da

produção iniciam a sua atuação também na manutenção, em decorrência de uma série de

fatores, indicados inicialmente pelas auditorias. Os sistemas de gestão, porém, que não

estejam bem estruturados - sejam eles da qualidade, de saúde, segurança ou ambientais -

fazem com que as auditorias se tornem instrumentos pouco eficazes e punitivos. As

organizações passam a temer as auditorias e só promovem melhoria no sistema para o

evento, relaxando tão logo finalize a auditoria e novamente se mobilizando quando em

outra oportunidade análoga. A Figura 1 demonstra o comportamento organizacional

descrito anteriormente através de um “gráfico serra”, que indica, por intermédio do GAP,

(distância da referência) ser possível verificar que o resultado final é o de melhoria,

porém com fases de quedas bruscas normalmente interrompidas pelos eventos das

auditorias.

Melhorias instáveis/auditorias

GAP

Auditoria Auditoria Auditoria Auditoria

Figura 1: Evolução de um sistema de gestão tipo “serra”.

Assim, o ideal é que as auditorias sejam introduzidas no sistema enquanto

ferramentas para auxiliar na identificação de oportunidades de melhoria. Seus objetos

estão dispostos nas normas ISO 14001 e BS 7750.

Page 25: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

25

No caso específico da ISO 14001, as auditorias do SGA devem determinar se o

sistema está em conformidade com as disposições planejadas, se o que foi implementado

está sendo mantido e, ainda, fornecer à organização informações sobre os resultados das

auditorias. De posse destes resultados, a organização pode, através de uma análise crítica,

rever as metas, objetivos e os programas de gestão.

No ano de 1980 foi criada no Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente, sendo

a primeira de uma série de iniciativas governamentais que viriam a acontecer. Em 1983,

em São Paulo, foi criado o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA), pedra

fundamental da futura Secretaria do Meio Ambiente.

Ainda nos anos 80, o Brasil e o mundo viram a cidade de Cubatão ganhar fama,

como uma das cidades mais poluídas do mundo. Um grande número de indústrias

instalou-se de maneira desordenada, sem que a cidade possuísse tecnologia e

conhecimento necessários para abrigar tamanha estrutura.

Com a Constituição de 1988, avançou-se para o estabelecimento da política

ambiental. Pela primeira vez formulava-se um capítulo inteiro da constituição dedicado

ao meio ambiente. Um ano depois foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que passaria a ser o monitor dos recursos

naturais, ao difundir atividades de fiscalização por todo o país.

Na Bahia, com a finalidade de executar a Política Estadual de Administração dos

Recursos Ambientais e promover o fortalecimento dos instrumentos de controle

ambiental, como a avaliação, o licenciamento e a fiscalização das atividades

potencialmente capazes de causar impactos sobre o meio ambiente, foi criado a 3 de

Março de 1983, através da Lei Delegada nº 31, o Centro de Recursos Ambientais (CRA).

Desde então, as empresas inseridas no Pólo Petroquímico de Camaçari são monitoradas e

orientadas pelo CRA, com relação às suas atividades associadas a desempenho ambiental

e impactos ambientais.

Page 26: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

26

3.2 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AVALIAÇÕES E ESTUDOS DE IMPACTOS

AMBIENTAIS

Segundo a NBR ISO 14001 (1996), impacto ambiental pode ser definido como “[...]

qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em

parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização”.

Em linhas gerais, a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) visa à identificação

dos principais impactos associados ao evento, que pode ser um novo empreendimento,

um novo projeto, um novo processo, uma nova atividade, um novo produto, um novo

programa ou até mesmo uma nova política, visando subsidiar avaliações sobre a

magnitude deste impacto no meio ambiente em que está inserido e apresentar as medidas

mitigadoras ou de solução mais viáveis.

As primeiras avaliações de impactos ambientais – AIA - datam do início da década

de 70, através de iniciativas do National Environmental Protection Act. Porém, os

primeiros métodos de AIA foram considerados documentos pouco aplicáveis a situações

reais. Isto porque a quantidade de fatores de influências diretas e indiretas e a

complexidade das mesmas tornavam estas avaliações complexas e, por vezes, muito

longas.

A partir de 1976, os métodos AIA passaram por um período de evolução no sentido

de melhor compreender as relações de causa e efeito das ações dos projetos e seus

impactos associados, levando em conta a dinâmica dos sistemas ambientais. Ou seja, as

avaliações de impactos ambientais tornaram-se mais aplicáveis à realidade.

Na década de 80 surge o que se pode chamar de base conceitual para a abordagem

científica da avaliação de impacto ambiental. A Universidade Federal da Bahia (UFBA),

comprometida com pesquisas e meio-ambiente, passa a desenvolver estudos técnico-

científicos sobre o assunto em forma de monografias, dissertações e teses. Além disso, é

criado um curso de pós-graduação cuja matriz curricular tem como base o conhecimento

e a aplicação de tecnologias limpas, onde os aspectos e impactos ambientais são alvos

constante de estudos e pesquisas. Publicações científicas do período procuraram

Page 27: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

27

demonstrar e destacar a importância da AIA, mostrando que este tipo de avaliação pode,

entre outros aspectos:

• Compreender as características funcionais dos ecossistemas potencialmente

afetados;

• Considerar a variação natural dos sistemas no espaço e no tempo;

• Compreender como respondem os sistemas às interferências humanas;

• Reconhecer limitações técnicas;

• Considerar critérios sociais, culturais e ambientais.

As avaliações de impactos ambientais permitem, portanto, às partes interessadas

(dirigentes das organizações, comunidade, governo etc), uma visão ampla das influências

positivas e negativas que cada empreendimento possa causar ao meio ambiente, ao meio

social e à sua vizinhança. Neste sentido, a AIA pode ser considerada como uma

componente integrada no desenvolvimento de projeto e parte do processo de decisão,

proporcionando uma retro-alimentação contínua entre a concepção e as conclusões da

proposta.

Os principais instrumentos que atualmente viabilizam a execução das avaliações de

impactos ambientais são os Estudos de Impactos Ambientais (EIA), os Relatórios de

Impactos ao Meio Ambiente (RIMA) e os Relatórios Ambientais Preliminares (RAP).

No Brasil, os EIA/RIMA, bem como o RAP, foram implementados pela Lei Federal

6938/81, e pela Resolução número 001/86 do Conselho Nacional do Meio (CONAMA).

Estes instrumentos estão vinculados aos sistemas de licenciamento de propostas. Ou,

ainda, a projetos de atividades poluidoras ou modificadoras do meio ambiente a cargo das

organizações governamentais dos Estados e, em casos especiais, do (IBAMA).

Os EIAs são ferramentas de grande importância no dimensionamento do setor ou

setores que mais geram impacto ambiental durante a sua atuação. A partir de definições

de prioridades e dimensões dos impactos, podem-se traçar objetivos e metas a serem

Page 28: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

28

cumpridas. Essas ferramentas devem ser utilizadas também para dimensionar os impactos

causados pela área de manutenção e, além de suas medidas mitigadoras, servem ainda à

redução do impacto por mudança de tecnologia, procedimentos e ou re-qualificação do

seu corpo de funcionários.

O termo desenvolvimento sustentável, como se pode depreender desses estudos,

ainda que complexo, parece ser o caminho para a convivência pacífica entre o progresso

e a proteção do meio ambiente. Pode-se afirmar ainda que tanto as auditorias ambientais

quanto os instrumentos de AIA foram e são de grande contribuição no processo de

evolução ambientalista apresentado.

3.3 OS PRIMEIROS PRINCÍPIOS E SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL

Segundo Donaire (1999), um dos primeiros sistemas de gestão ambiental existente

foi o Sistema Integrado de Gestão Ambiental, também conhecido por Modelo Winter.

Este sistema foi desenvolvido em 1972, pela empresa Ernest Winter & Sonh. Tal modelo

procura descrever o sistema por meio do estabelecimento de 20 módulos integrados cujos

objetivos incluem: facilitar a sua implantação, definir prioridades e definir o cronograma.

Os módulos integrados, apresentados no quadro 1, segundo ainda o autor citado, definem

o papel completo da gestão ambiental da empresa. Quando conhecidos, deverão ser

avaliados pelo administrador e implementados segundo propostas ambientalistas e

obedecendo a critérios de planejamentos e prioridades.

Quadro 1: Módulos Integrados do Modelo Winter

1) Motivação da Alta Administração 11) Gestão de Materiais

2) Objetivos e Estratégia da Empresa 12) Tecnologia de Produção

3) Marketing 13) Tratamento e Valorização de Resíduos

4) Disposições Internas em Defesa do 14) Veículos da Empresa Ambiente

Page 29: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

29

ambiente

5) Motivação e Formação 15) Construção da Instalação/equip

6) Condições do Trabalho 16) Finanças

7) Alimentação dos Funcionários 17) Direito

8) Aconselhamento Ambiental Familiar 18) Seguros

9) Economia de Energia e Água 19) Relações Internacionais

10) Desenvolvimento do Produto 20) Relações Públicas

Fonte: DONAIRE, 1999

Além do modelo Winter, muitos outros sistemas de gestão ambiental surgiram,

sobretudo nas décadas de 80 e 90. Dentre os principais sistemas de gestão ambiental

existentes, os que mais contribuíram para o surgimento da norma ISO 14001 foram o

Responsible Care Program, a BS 7750 e o Eco-Management and Audit Scheme (EMAS).

Estes e alguns outros sistemas serão discutidos a seguir.

3.3.1 Programa de Atuação Responsável

O Programa de Atuação Responsável - Responsible Care Program - é considerado

por Culley (1998) como o primeiro modelo de gestão ambiental formal. Surgiu no

Canadá, em 1984, através de uma iniciativa das indústrias químicas formalizada pelo

Chemical Manufactures Association (CMA). Apesar de ser um programa voluntário,

tornou-se requisito exigido àqueles que participam do CMA. O Programa consiste

essencialmente de:

• Princípios Diretivos, equivalentes a uma declaração de propósitos.

• Códigos de Práticas Gerenciais, com metas genéricas que permitem a cada

organização estabelecer as formas para alcançá-las (os seis códigos estão

apresentados a seguir).

Page 30: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

30

• Painel Público Consultivo, composto por membros de diferentes segmentos da

sociedade que colaboram com a indústria química na elaboração de práticas

gerenciais e a ajudam a compreender as preocupações da comunidade.

• Grupos de Liderança, formados por executivos das empresas participantes,

aquelas que se adequam aos princípios do Responsable Care, para discutir as

experiências, trocar informações e identificar necessidades de melhorias e

assistência mútua.

Os seis códigos do Programa de Atuação Responsável são:

• Conscientização da comunidade e programa de emergência - este código requer

da organização que esta inicie e mantenha um programa de comunicação com a

comunidade respondendo abertamente questões relativas à saúde, segurança e

meio ambiente e fornecendo informações sobre atividades, como minimização de

resíduos, emissões e efeito de produtos químicos sobre a saúde.

• Prevenção de poluição - este código visa auxiliar a organização na redução de

suas emissões e na minimização dos resíduos gerados. As empresas devem medir

ou estimar as suas emissões e o volume de resíduos gerados; elaborar um plano de

redução; medir o progresso obtido e atualizar anualmente seu inventário de

resíduos.

• Segurança de processos - objetiva a prevenção de acidentes através de

levantamentos e análises dos riscos dos processos, de manutenção e inspeção, do

estabelecimento de padrões operacionais e treinamento de pessoal.

• Distribuição de produtos - são qualificações para a seleção de transportadoras,

distribuidores e outros fornecedores de serviços externos.

• práticas: gerenciamento de riscos, segurança da transportadora, manuseio e

segurança, ação em emergências, revisão crítica e treinamento.

Page 31: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

31

• Saúde e segurança ocupacional - requer o comprometimento com fornecimento de

recursos e mecanismos para a identificação e avaliação de riscos associados à

saúde e segurança dos trabalhadores, bem como seu controle e prevenção,

requerendo ainda a elaboração de um programa específico e o treinamento de

funcionários.

• Responsabilidade pelos produtos (productstewardship) - enfoca aspectos do

produto associados à saúde, segurança e meio ambiente, desde a concepção até a

disposição final do mesmo. Inclui projetos de produtos de baixo risco,

informações aos consumidores sobre os usos corretos dos produtos, estudos de

usos alternativos e suas possíveis conseqüências.

No Brasil, o Programa de Atuação Responsável, adotado a partir do ano de 1990, é

coordenado pela Associação Brasileira de Indústrias Químicas (ABIQUIM). Os

princípios diretivos adotados pela indústria brasileira são:

• Assumir o gerenciamento como expressão de alta prioridade empresarial, através

de um processo de melhoria contínua em busca de excelência.

• Promover, em todos os níveis hierárquicos, o senso de responsabilidade individual

com relação ao meio ambiente, segurança, saúde ocupacional e o senso de

prevenção de todas as fontes potenciais de risco associados a suas operações,

produtos e locais de trabalho.

• Ouvir e responder às preocupações da comunidade sobre seus produtos e

operações.

• Colaborar com os órgãos governamentais e não governamentais na elaboração e

aperfeiçoamento de legislação adequada, segurança da comunidade, locais de

trabalho e meio ambiente.

• Avaliar previamente o impacto ambiental de novas atividades, processos e

produtos.

• Monitorar os efeitos ambientais de suas operações.

Page 32: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

32

• Buscar continuamente a redução de resíduos, efluentes e emissões atmosféricas

para o ambiente.

• Cooperar com a solução de impactos negativos ao meio ambiente, decorrentes das

disposições inadequadas de produtos ocorridas no passado.

• Transmitir às autoridades, clientes, funcionários e à comunidade informações

adequadas quanto aos riscos à saúde, segurança e meio ambiente de seus produtos

e operações, e recomendar medidas de proteção e emergência.

• Orientar fornecedores, transportadores, distribuidores, consumidores e o público

para que transportem, armazenem, usem, reciclem e descartem os seus produtos

com segurança.

• Exigir que o contratado, trabalhando nas instalações da empresa, obedeça a

padrões adotados pela contratante em segurança, saúde e meio ambiente.

• Promover a pesquisa e o desenvolvimento de novos processos e produtos

ambientalmente compatíveis.

• Promover os princípios e a prática da atuação responsável, compartilhando

experiências e oferecendo assistência a outras empresas para a produção,

manuseio e transporte, uso e disposição de produtos, principalmente as pequenas

e médias empresas.

A grande diferença entre o Programa de Atuação Responsável e a Norma

Internacional ISO 14001, detalhada mais adiante, é que o primeiro consiste de uma série

de iniciativas específicas de gerenciamento, enquanto o segundo é um SGA. Isto é, as

iniciativas do Programa de Atuação Responsável podem ou não ser sistematizadas. A

adesão de indústrias químicas ao Programa de Atuação Responsável não significa que

automaticamente estas possuam os requisitos normativos necessários para uma

certificação, mas encontrar-se-ão num estágio muito mais adiantado para tanto.

A implementação da filosofia da manutenção autônoma encontra grande apoio no

Programa de Atuação Responsável (PAR) onde estão previstos, em vários dos seus

princípios, a redução de resíduos, e a estimativa destes, bem como um plano para seu

Page 33: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

33

acompanhamento e arrefecimento, seja com treinamento dos funcionários, seja através da

adoção de boas práticas por estes e pelos contratados.

3.3.2 A Norma Britânica BS 7750

A BS 7750 - Specifications for Environmental Management Systems - teve sua

primeira edição publicada em março de 1992, entrando em vigor em janeiro de 1994.

Trata-se de um marco importante para a gestão ambiental, pois é uma forte referência

para quase todos os sistemas existentes.

A norma foi encomendada pelo Environmental and Pollution Standard Policy

Committe of British Standard Institution a um comitê técnico formado por 38 instituições

inglesas representando os mais variados setores da economia, tais como a Associação de

Consultores Ambientais, a Corporação Britânica de Carvão e a Real Academia de

Química. Trata-se de uma especificação para o desenvolvimento, implementação e

manutenção de um sistema de gestão ambiental voltada a assegurar e demonstrar

conformidade com as declarações da empresa quanto à sua política, objetivos e metas

relativos ao meio ambiente.

A norma supracitada não estabelece um cumprimento absoluto quanto ao

desempenho ambiental. Exige, porém, atendimento às normas legais locais e o

comprometimento com a melhoria contínua. Estipula, ainda, que a organização formule

políticas e objetivos que levem em conta as informações relativas aos efeitos ambientais

significativos decorrentes de suas atividades. Resumidamente, pode-se dizer que a norma

preconiza que a organização deve estabelecer e manter um sistema de gestão ambiental

como mecanismo para garantir que os efeitos de suas atividades, produtos ou serviços,

estejam em conformidade com sua política ambiental.

Page 34: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

34

3.3.3 Sistema Europeu de Eco-Gestão e Auditorias

O Sistema Europeu de Eco-Gestão e Auditorias EMAS, estabelecido pelo

Regulamento da Comissão da Comunidade Européia nº1836/93, definiu os critérios para

certificações ambientais de processos industriais. A estes critérios foi incluído,

posteriormente, um sistema de gestão e de auditoria, padrões de desempenho,

verificações por terceiros, e declarações públicas após revisão ambiental inicial e

conclusão de cada auditoria.

O Sistema EMAS entrou em operação a partir de 1995 e, basicamente, permite às

empresas que desenvolvem atividades industriais nos países membros da Comunidade

Européia (CE) obter registros de suas fábricas junto a uma comissão da CE. Anualmente,

é publicada no jornal oficial da CE uma lista de todas as instalações industriais

registradas. Tal registro pode ser considerado, portanto, como um "certificado" de bom

desempenho ambiental para quem o obtiver.

Os requisitos para a obtenção de tal registro são:

• Adoção de uma política ambiental que, entre outros requisitos, inclua um

compromisso com o avanço contínuo do desempenho ambiental da empresa

através do uso das melhores tecnologias práticas disponíveis.

• Realização de um levantamento do sistema de gestão ambiental considerando, em

síntese, os instrumentos relacionados à gestão ambiental na empresa, ou seja:

o políticas, objetivos e programas ambientais;

o organização e pessoal;

o definição de responsabilidades pelas atividades de controle ambiental;

o avaliação e registro dos efeitos ambientais;

o controles operacionais;

Page 35: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

35

o registros ambientais e auditorias ambientais;

• Instituição de um programa de gestão ambiental que vise cumprir os objetivos

estabelecidos na política ambiental da empresa;

• Efetuar auditorias ambientais periódicas;

• Fixação de objetivos de melhoria contínua do desempenho ambiental;

• Elaboração de uma declaração ambiental;

• Proceder análises críticas periódicas da política, dos programas e do sistema de

gestão ambiental;

• Comunicação dos dados da declaração ambiental ao organismo ambiental do país

onde se situa a unidade industrial.

3.3.4 Strategies for Today’s Environmental Partnership (STEP)

Em 1990, a American Petróleo Institute (API), instituto fundado em 1919 pela

indústria de petróleo norte-americana, criou o STEP. Como o principal objetivo do STEP

era desenvolver um guia para a indústria de petróleo americana que possibilitasse um

aprimoramento de seu desempenho ambiental, de saúde e segurança, foi então criado o

American Petroleum Institute Environmental, Health and Safety Mission and Guiding

Principles. Em linhas gerais, este documento tem como princípios: prevenção da

poluição, conservação dos recursos naturais, relação de parceria e acordos com a

comunidade, entre outros. Cabe salientar, ainda, que a maioria dos princípios

apresentados abaixo tem estreita relação com os requisitos normativos e a filosofia da

norma ISO 14001.

Os princípios básicos do American Petroleum Institute Environmental Health and

Safety Mission and Guiding Principles são:

• Reconhecer e responder à comunidade quaisquer reclamações sobre matérias-

Page 36: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

36

primas, produtos ou operações nas companhias de petróleo.

• Operar plantas e fábricas e manusear matérias primas e produtos protegendo o

meio ambiente, a saúde e segurança dos funcionários, bem como de toda

comunidade envolvida e dos clientes.

• Considerar prioritárias as questões relacionadas à saúde, segurança e meio

ambiente nos planejamentos, e no desenvolvimento de produtos e processos.

• Comunicar prontamente aos funcionários, clientes, órgãos oficiais, e todo o

público envolvido, quaisquer questões relacionadas a danos ambientais, de saúde

e segurança, e recomendar medidas pró-ativas.

• Contribuir na capacitação de funcionários, clientes, terceiros, transportadores e

outros envolvidos quanto ao manuseio, transporte e disposição final de matérias-

primas, produtos e resíduos.

• Desenvolver e produzir economicamente recursos naturais e conservá-los

utilizando a energia de forma eficiente.

• Sempre buscar aumentar conhecimentos através de pesquisas nas áreas que

afetam o meio ambiente, saúde e segurança dos produtos, matérias-primas,

processos e resíduos.

• Comprometer-se em reduzir a geração de resíduos e emissões.

• Trabalhar em parcerias para resolver problemas criados pelo manuseio e

disposição de substâncias perigosas geradas nas operações.

• Participar com entidades governamentais e outras entidades na criação de leis

responsáveis, regulamentações e normas para salvaguardar a comunidade, os

locais de trabalho e o meio ambiente.

• Promover estes princípios e praticá-los, dividindo experiências e oferecendo

assistência a todos que produzam, manuseiem, utilizem, transportem ou

disponham matérias-primas similares, produtos e resíduos derivados de petróleo.

Page 37: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

37

A ISO, sensibilizada por todas as ações, em nível internacional, citadas

anteriormente, e sentindo a ausência da avaliação de questão ambiental de forma mais

abrangente, iniciou uma investigação para avaliar a necessidade de normas internacionais

para gestão ambiental. Em agosto de 1991 criou o Strategic Advisory Group on

Environment (SAGE). Este grupo tinha por finalidade:

Promover uma abordagem comum à gestão ambiental semelhante à gestão da

qualidade.

• Aperfeiçoar a capacidade das organizações para alcançar e medir melhorias no

desempenho ambiental.

• Facilitar o comércio e remover barreiras comerciais.

Em 1992, o SAGE deu o sinal verde para o Conselho Técnico da ISO, que então

encarregou um novo Comitê Técnico, o TC 207, do desenvolvimento de normas

internacionais para gestão ambiental. Os membros do comitê são representantes oficiais

de cerca de 40 países, incluindo representantes da indústria, organizações normativas,

governamentais e ambientais. O conjunto de normas conhecido como ISO 14000 abrange

cinco áreas: SGA, Auditoria Ambiental, Avaliação de Desempenho Ambiental,

Avaliação do Ciclo de Vida e Rotulagem Ambiental.

A norma ISO 14000 hoje é alvo de muitas críticas, pois se esperava que as normas

de rotulagem ambiental e de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) do produto

contribuíssem para iniciativas mais pró-ativas das empresas. Ou seja, agissem de maneira

a eliminar na fonte o problema e não apenas corrigir ou remediar os erros.

Furtado et al. (2000) criticam os Sistemas de Gestão Ambiental que se apóiam na

Norma ISO 14001 que sejam restritos a sistemas administrativos sem maiores

compromissos com as questões ambientais. Defendem o emprego de Princípios de

Produção Limpa, ou de Produção Mais Limpa, além da re-qualificação dos funcionários,

colocando a geração de resíduo como o problema central dos impactos ambientais.

Page 38: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

38

A atual tendência dos sistemas de gestão ambiental é a utilização do recurso da

redução ou eliminação dos impactos na fonte, apoiados no Princípio da Produção Limpa.

A norma ISO 14000 deveria espelhar-se neste sentido, pois dentro do conceito da auto-

sustentabilidade este é o caminho a ser seguido.

Os sistemas de auditoria e gestão, por sua vez, não destacam a questão da

manutenção e da manutenção autônoma como itens passivos de se obter ganhos através

do foco ambiental. Todavia, estes são pontos a serem levados em consideração devido

aos impactos que estas atividades trazem ao meio ambiente.

4 RETROSPECTIVA E EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO

A manutenção é uma tecnologia chave para o chamado desenvolvimento

sustentável. A idéia basilar é utilizar com mais eficácia os recursos existentes, tais como

matéria-prima, equipamento e energia necessários para produzir bens e serviços,

provocando assim uma redução do fluxo de materiais, de recursos naturais e do

desperdício. Isso exige a presença das seguintes características: ciclos de produção

fechados; longevidade dos produtos; influência no período de vida (ou ciclo de vida) dos

produtos; otimização na limpeza dos meios disponíveis de produção (ou aumento da

produtividade dos recursos); reutilização antes da reciclagem. O quadro 2, a seguir,

mostra um breve histórico da evolução da manutenção.

Page 39: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

39

Quadro 2: Manual Pedagógico Pronaci Fonte: BRITO, Mário/ Eurisko

A economia de energia, a conservação do meio ambiente, a renovação dos

equipamentos e das instalações, a confiabilidade, a manutenção, a eficácia, a otimização

dos processos industriais, a qualidade da mão-de-obra e a valorização dos seus técnicos

são quesitos que se tornaram indispensáveis à manutenção. Evidencia-se, também,

através da figura 3, uma importância crescente da manutenção como um dos vetores

fundamentais da economia das empresas.

1ª Geração

- Reparar quando quebrar

1940 1950 1960 1970 1980 2000...

2ª Geração

- Elevada responsabilidade

- Longa vida dos equipamentos

- Baixos Custos

3ª Geração

- Elevada disponibilidade

- Elevado grau de segurança

- Melhor qualidade do produto

- Sem danos ao Meio Ambiente

Page 40: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

40

Figura 3 A Importância crescente da manutenção: Manual pedagógico PRONACI (BRITO, Mário/Eurisko)

A manutenção autônoma é o conceito mais atual de manutenção e exige a

participação de todos os elementos da cadeia operativa, desde o operador do equipamento

até os níveis superiores de gestão, passando pelos elementos da manutenção e pelas

chefias intermediárias. Significa, basicamente, iniciativa de solução - o mais

imediatamente possível - para problemas ocorridos em qualquer ponto da cadeia

produtiva pelos responsáveis de plantão, os quais são identificados por mantenedores.

A aplicação da metodologia Manutenção Autônoma tem trazido resultados

significativos, segundo arquivos interno das empresas pesquisadas e resultado de análises

do histórico de geração de resíduos tanto no processo produtivo (custos, processo, meio

ambiente) quanto no administrativo, elevando a produtividade, reduzindo as falhas e

Esgotamento de matérias-primas Preservação e proteção ambiental

Importância Crescente da Manutenção

Deterioração da resistência ao desgaste dos equipamentos Aumento dos custos de manutenção

Exigência crescente da qualidade dos

equipamentos e da manutenção em

particular

Segurança das pessoas, dos equipamentos e do patrimônio. Melhoria da qualidade de vida

Automação crescente. Desenvolvimento tecnológico dos equipamentos

Page 41: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

41

defeitos nos equipamentos em que a metodologia foi aplicada. Os dados constantes do

referido histórico foram disponibilizados pela empresa pesquisada, através do setor de

saúde segurança e meio ambiente, objetivando análise e comparação dos registros antes e

depois da aplicação da manutenção autônoma, análise esta efetuada pelo autor da

presente monografia. O acesso aos dados e respectiva análise trouxeram referências

imprescindíveis à implementação pretendida pela empresa.

Como principais características citam-se:

• Maximização da eficiência global das máquinas, através da eliminação das falhas,

defeitos, desperdícios e obstáculos à produção.

• Participação e integração de todos os departamentos envolvidos, tais como o

planejamento, a produção e a manutenção.

• Envolvimento e participação de todos, da direção de topo até os operacionais.

• Colaboração através de atividades voluntárias desenvolvidas em pequenos grupos.

• Busca permanente de economias (eliminar perdas e falhas, proporcionar lucros).

• Ser um sistema integrado.

• Manutenção espontânea executada pelo próprio operador.

Desde a sua concepção, a manutenção autônoma vem passando por um processo de

evolução: tendo sido inicialmente desenvolvida para uso em indústria de manufatura, é

adotada atualmente em indústrias de processo.

A aplicação dos princípios básicos da manutenção autônoma visa à eliminação das

perdas por toda a empresa. Os diversos fatores que influem nos resultados empresariais

são: redução de falha nos equipamentos, no tempo de pequenas paradas, nos estoques,

nas perdas para o meio ambiente e nos custos, minimização dos tempos em que os

equipamentos operam sem produzir ou com restrições na produção, diminuição nos

defeitos dos produtos, elevação da produtividade e eliminação dos acidentes.

Page 42: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

42

Com a aplicação da manutenção autônoma, o desenvolvimento das capacidades dos

funcionários passa a ter maior importância a partir do momento em que estes deixam de

realizar apenas atividades operacionais, passando a ter liberdade para decidir e agir,

atuando na prevenção de maneira pró-ativa. Para que os funcionários se sintam aptos a

colaborar com a empresa, fazem-se necessárias mudanças comportamentais, de forma a

direcionar suas capacidades e habilidades no sentido de contribuir com os objetivos

organizacionais. Cada funcionário deve conhecer profundamente os processos internos da

organização, bem como os produtos e serviços oferecidos por ela, de forma a ser um

colaborador ativo do processo de mudanças.

O desempenho eficaz de atividades num ambiente competitivo demanda que os

funcionários detenham informações precisas sobre clientes, processos internos e até

mesmo sobre algumas informações financeiras. O feedback sobre produtos e serviços

fornecidos pela empresa tem-se tornado cada vez mais valioso. Por tudo isso, tais

informações precisam fluir de forma rápida e precisa:

Mesmo funcionários habilitados, que dispõem de excelente acesso às

informações, não contribuirão para o sucesso organizacional se não

forem motivados a agir no melhor interesse da empresa, ou se não

tiverem liberdade para decidir ou agir. (KAPLAN e NORTON, 1997, p.

81).

Além de aptos, portanto, os funcionários devem estar motivados e ter autonomia

para influenciar e agir em prol das mudanças e nos resultados organizacionais.

Dentro do conceito de qualificação e competência dos funcionários, Kaplan e Norton

(1997) propõem que seja investigado o que os autores denominam de Base Comum de

Medidas Essenciais. Tal conjunto de medidas é composto pelos seguintes fatores:

• Satisfação dos Funcionários: a satisfação dos funcionários é de extrema

importância para o sucesso de toda e qualquer organização, pois somente

Page 43: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

43

funcionários satisfeitos poderão ajudar uma empresa a manter clientes satisfeitos,

melhorar processos internos e, conseqüentemente, alcançar as metas e objetivos

financeiros.

Assim, para se medir a satisfação dos funcionários, podem ser utilizadas pesquisas

com questões relacionadas não só com o nível de envolvimento em decisões, mas

também reconhecimento pela realização de bons trabalhos, acesso a informações que

auxiliem no desempenho de suas tarefas, e incentivo ao uso da criatividade, entre outros

• Retenção dos Funcionários: preocupa-se em reter funcionários nos quais a

empresa tem interesse a longo prazo. Dessa forma, evita-se que a empresa perca

aqueles em quem vem investindo e que serão úteis na busca por seus objetivos. A

retenção dos funcionários pode ser medida através do nível de rotatividade de

pessoas-chave para a organização.

• Produtividade dos Funcionários: relaciona-se ao aumento na produtividade, o que

pode ser conseguido através do aumento no nível de satisfação e de capacitação

dos funcionários. Pode, ainda, ser influenciado por inovações, melhorias nos

processos internos ou nas relações com os clientes. Tal produtividade pode ser

mensurada a partir do nível de produção e da quantidade de funcionários para se

atingir esse nível.

Dentre as medidas disponíveis, Kaplan e Norton (1997) sugerem que seja

utilizada a receita gerada por funcionário, considerando os custos necessários para gerar

essa receita. O operador da indústria química tem participação decisiva no resultado da

empresa. Por sua vez, o conhecimento exato dos riscos ambientais da cada rotina facilita

o controle das operações e do processo da planta, segundo ÁVILA (1998).

Manter as rotinas limpas nas operações da indústria é uma atividade que auxilia

na estabilização dos processos e deve envolver toda a equipe de operação em mudanças

de padrão e de procedimentos. O compromisso com o meio ambiente, enquanto política

da empresa, deve ser implementado no chão de fábrica e defendido pela alta

Page 44: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

44

administração. Vários programas de controle ambiental não conseguem chegar até o chão

de fábrica; com isso, muitas vezes boa parte das emissões de poluentes não é sequer

comunicada à chefia imediata, ou anotada no livro de registro de ocorrências; em outras

oportunidades, deixa de ser mensurada adequadamente, fazendo com que não se tenham

informações precisas sobre as emissões. As perdas não acompanhadas por

monitoramento contínuo, por exemplo, ocorrem com maior freqüência à noite e nos finais

de semana, normalmente por falta de acompanhamento e manutenção. Além disso,

existem falhas de comunicação, bem como imperícia em dimensionar o ocorrido e as

perdas atreladas. Em decorrência, há informações incorretas, podendo ainda ocorrer

omissões em casos de incidentes.

Para uma implantação eficaz da manutenção autônoma, sugere-se treinamento de

qualificação dos funcionários, e de preferência que os operadores tenham uma formação

técnica específica e diversificada, ou seja, que se tenham operadores técnicos em

mecânica, instrumentação, elétrica (eletrotécnica) e química, para que num grupo de

turno exista sempre um técnico de cada especialidade operando e mantendo a unidade

fabril. Os operadores devem estar capacitados para descobrir anormalidades, providenciar

tratamento e recuperação, definir as condições do equipamento cumprir as normas para

manter a operação e a produção sempre em condições operacionais.

Para o bom andamento do plano de manutenção autônoma, deve-se definir todo o

escopo de trabalho dos operadores mantenedores, limitando-os aos serviços que não seja

necessário grande número de pessoas, considerando a dimensão da atividade e o Homem

Hora (HH) requerido. Deve-se definir criticidade dos equipamentos, considerando-se

aspectos referentes à qualidade do produto, segurança, saúde e meio ambiente.

A partir da definição de criticidade dos equipamentos, as necessidades de

manutenção são definidas para assegurar a disponibilidade e confiabilidade dos mesmos.

Os planos de manutenção preventiva e preditiva são executados pelos próprios

operadores, sendo que a segunda inclui análise de vibração e termografia do sistema

elétrico. As análises de óleos lubrificantes e isolantes devem ser executadas por empresas

especializadas nestas áreas.

Page 45: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

45

Estes planos devem estar também baseados nas recomendações dos fabricantes e

no histórico dos equipamentos, coletado tanto na fábrica como em outras unidades

semelhantes. Baseado nestes mesmos critérios de verificação e análise, qualquer

equipamento, além dos problemáticos, poderá ser incluído nas conferências relativas à

manutenção, visando assegurar confiabilidade ao processo produtivo como um todo e, à

fábrica, menor custo de manutenção e menores perdas para o meio ambiente No caso dos

equipamentos estáticos (vasos, tubulações críticas, válvulas de segurança, alívio e discos

de ruptura), os planos de manutenção devem ser baseados nas exigências mais

conservativas, a exemplo da NR-13, Norma regulamentadora que rege segurança em

caldeiras e vasos de pressão.

Os planos de manutenção devem ser gerenciados de preferência através de

software específicos. As manutenções preventivas e/ou preditiva relacionadas aos

equipamentos e instrumentos críticos deverão ser realizadas periodicamente. Deve ser

elaborada a programação semanal, em conjunto com a operação, definindo-se desse

modo as atividades que serão realizadas na semana seguinte, elaborando rotas com

equipamentos e pontos definidos de inspeção, onde uma lista de verificações deve ser

preenchida sendo verificada a manutenção preventiva e corretiva, caso necessário,

devendo tudo ser registrado e arquivado no sistema de gerenciamento de ativos, para

formação do histórico do mesmo.

Se alguma anormalidade for detectada na inspeção do equipamento, e caso não

seja possível correção imediata, deve-se emitir uma recomendação através de Ordem de

Serviço para que seja feita a programação de retificação devida, especificando se a

execução será feita pela contratada ou pelos operadores.

No momento da definição da lista de verificação, especial atenção deve ser dada a

inspeções quanto aos itens que se refiram ao Meio ambiente, com o intuito de evitar ou

reduzir situações impactantes, geradoras de desperdício ou resíduo.

Page 46: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

46

5 METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DA

MANUTENÇÃO AUTÔNOMA

O êxito da Manutenção Autônoma, entre outras, depende da capacidade de se

conhecer perfeita e continuamente o funcionamento do equipamento, e das melhores

condições de operação para prevenir perdas e falhas.

A Manutenção Autônoma faz parte de uma mudança cultural, portanto, as

modificações estruturais e comportamentais necessárias não ocorrerão automaticamente

da noite para o dia, sendo variável em cada empresa, dependendo de sua cultura,

envolvimento, comprometimento da alta gerência, do porte, do nível tecnológico, da

capacidade do gestor, do comitê de implementação, e dos mantenedores.

O comitê de implementação, bem como o gestor, deve dominar na sua plenitude

todas as fases de implementação do programa, tendo sempre em vista que os resultados

favoráveis da manutenção deverão resultar também do envolvimento responsável e

competente de toda a equipe.

5.1 CAPACITAÇÃO DO GESTOR E DO COMITÊ DE IMPLEMENTAÇÃO

O gestor da Implementação da Manutenção Autônoma deve ser um profissional

devidamente experiente em gestão de processos (produção, manutenção, engenharia,

qualidade, just-in-time, lean manufacturing, kaizen, etc.). Ele pode dedicar-se

exclusivamente ou não, a depender do porte e das características da empresa.

O comitê de implementação deve ser composto preferencialmente por integrantes

das áreas de produção, manutenção, engenharia e recursos humanos, devendo dedicar

apenas parte do seu tempo às tarefas estratégicas da implementação.

A capacitação, iniciada através de um treinamento mínimo de 24 horas, é

complementada por leituras e visitas a outras empresas. Uma consultoria externa

normalmente é a responsável para capacitar o comitê e orientá-lo na escolha da literatura

Page 47: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

47

e programação das visitas. O comitê pode analisar softwares de manutenção utilizados no

mercado, os padrões de monitoramento usados nas empresas e Benchmarkings existentes

em literaturas ou divulgados pelas empresas.

5.2 FASES DE IMPLEMENTAÇÃO DA MANUTENÇÃO AUTÔNOMA

A implantação da manutenção autônoma consiste de quatro fases: Preparação,

Introdução, Implantação; e Consolidação. O fluxograma abaixo indica as etapas e as fases

de implementação, seguidas de explicações pertinentes.

Manutenção Autônoma

Preparação Fase 01

Introdução Fase 02

Implantação Fase 03

Consolidação Fase 04

Declaração de

implantação

Educação Trein.

Divulgação

Objetivos e diretrizes

Plano Mestre

Melhoria especifica

Mant. Autônoma

Mant. Planejada

Educação e Treinamento

Figura 3 Fluxograma fases da Implementação da Manutenção Fonte: Própria

• Fase 1 Preparação: A fase de preparação é composta por quatro etapas.

• Etapa 1 – Declaração de implantação

Quando a alta direção formula este compromisso, deve deixar clara sua intenção

de implementar a manutenção autônoma, até a sua finalização. Deve,

paralelamente, envolver, informar, discutir procedimentos e decisões com todos

Page 48: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

48

os setores e funcionários, de forma a conquistar adesões e fortalecer o processo,

garantindo que a direção compreende o valor estratégico e que facilitará o apoio

físico e organizacional necessário para resolver ou encaminhar os diversos

problemas que inevitavelmente surgirão durante a implementação.

• Etapa 2 – Educação, Treinamento e Divulgação.

Devem ser planejadas e executadas todas as atividades de divulgação

dentro da empresa, bem como os treinamentos de sensibilização, levando à

percepção da importância do processo de implementação e envolvendo todos nas

atividades em busca dos melhores resultados. Deve-se definir o escopo do

treinamento a partir da limitação de atividades propostas pela implantação da

manutenção autônoma.

• Etapa 3 – Estabelecimento de objetivos e diretrizes

Devem-se estabelecer as diretrizes básicas e os objetivos que se quer

alcançar com a implementação da manutenção autônoma, fazendo, a seguir, uma

avaliação das demandas do ambiente interno e externo.

• Etapa 4 – Elaboração do plano mestre para desenvolvimento.

Após a identificação e mensuração das perdas do processo, ou seja, as paradas de

produção por quebra de equipamento, vazamento de produto, ou emanações

indesejáveis, deve ser criada uma árvore de perdas e atribuir-lhe valores de acordo

com a importância dada às perdas. Outro cuidado devido refere-se à elaboração do

plano mestre, que consiste no planejamento das fases de implantação e

consolidação.

Nesta etapa, especial atenção deve ser dada à mensuração das perdas quanto ao

seu grau de significância, pois atribuições e valorações errôneas podem direcionar

indevidamente esforços para um lado menos prioritário, o que ocasionará perda de

Page 49: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

49

tempo e aumento de custos operacionais e financeiros. Estes riscos, por si só,

impõem à empresa a criação da árvore de perdas, que é o registro sistemático em

moldes especiais adequados à própria empresa.

• Fase 2 – Introdução

Cumprida a fase anterior, deve-se verificar o comprometimento gerencial com a

implementação, o conhecimento dos empregados sobre a implementação, o grau e

o limite de envolvimento, e se os objetivos, metas e estratégias estão coerentes

com os objetivos traçados pela alta administração.

Os líderes da operação neste momento são muito importantes, no sentido de

alavancar o processo, pois é importante que pessoas motivadas abracem a causa.

• Fase 3 - Implantação

Nesta fase, devem ser implantadas as atividades referentes aos pilares de

melhorias específicas, manutenção autônoma, manutenção planejada, educação e

treinamento, apresentadas a seguir:

• Melhoria específica trata das melhorias que serão implantadas com o

objetivo de aumentar a eficiência operacional com a conseqüente eliminação ou

redução das grandes perdas do sistema produtivo, ou seja, é a hora de estudar e

resolver os pontos levantados lá na árvore de perdas, a qual foi dimensionada

cuidadosamente.

• Manutenção autônoma. Atua com o enfoque no homem de operação,

mudando sua visão sobre trabalho desenvolvendo a capacidade dos operadores

Page 50: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

50

para a execução de pequenos reparos e inspeções, mantendo o processo de acordo

com padrões estabelecidos, antecipando-se aos problemas potenciais,

capacitando-o para uma administração autônoma de seu equipamento, sua rotina e

possíveis ganhos.

• Manutenção planejada. - Com a implantação da Manutenção Autônoma, as

atividades mais simples de inspeção e manutenção passam a ser de

responsabilidade da equipe de operação da planta. É necessário, neste momento, o

estabelecimento do escopo de atuação do operador na manutenção; faz-se

necessária a mensuração do tempo que o operador dispõe para dedicar-se à

manutenção, não se esquecendo das atividades rotineiras de operação para a

produção da empresa. Este fato depende diretamente das características da

empresa, como por exemplo se o processo é de produção contínua ou por

bateladas; depende ainda do nível de automatização da empresa, do número de

atividades manuais que o operador necessite desenvolver para produzir. A equipe

de manutenção fica responsável pelo desenvolvimento de tarefas de manutenção

mais complexas, que exijam conhecimentos mais profundos e desmontagens mais

difíceis de serem executadas pela equipe de Manutenção Autônoma.

• Educação e treinamento - Este pilar propicia aprendizado aos operadores e

mantenedores. A Manutenção Autônoma é baseada na mudança de

comportamento das pessoas e na aplicação do conhecimento adquirido nos

treinamentos, daí a importância de um treinamento bem formulado e executado

com objetivos específicos e metas mensuráveis. Ainda que se centre inicialmente

nos equipamentos, seu objetivo é estabelecer condições que reflitam a idéia de

que as plantas são sistemas homens-máquina, compostas por máquinas e pessoas.

A seguir o autor sugere, com base nas necessidades levantadas na implementação,

treinamento para formação do operador mantenedor com foco em ganhos

Page 51: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

51

ambientais, o qual deve ser dividido em módulos e direcionado para a maior

criticidade da fábrica.

O treinamento deve ser ministrado por uma instituição reconhecida e capaz de

atender ao escopo do treinamento de qualificação. O quadro a seguir apresenta

uma estrutura treinamento por módulos, com carga horária e assuntos definidos,

mas que poderão ser alterados, segundo critérios e necessidades da empresa.

Módulo Básico I

Disciplinas

Carga

horária

Matemática (Funções, gráficos, estatísticas) 40 h

Física (Mecânica) 44 h

Química (Reações químicas) 68 h

Físico-química 42 h

Carga horária total 194 h

Módulo Básico II

Equipamentos rotativos 26 h

Utilidades 42 h

Mecânica dos fluidos 16 h

Controle ambiental, tratamentos de efluentes e aplicação de tecnologias

limpas. 80 h

Combustão 20 h

Agitadores e misturadores 20 h

Corrosão e materiais de construção 44 h

Tancagem 10 h

Carga horária total 256 h

Page 52: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

52

Módulo Avançado: Manutenção autônoma

Ferramentas manuais e instrumentos de medição 10 h

Ferramentas pneumáticas 4 h

Refrigeração industrial 10 h

Bombas compressores agitadores e sopradores 50 h

Válvulas de segurança, alivio e disco de ruptura. 4 h

Noções de soldagem 4 h

Tubulações industriais 40 h

Leitura e interpretação de desenho técnico 30 h

Eletrotécnica e eletrônica básica 54 h

Eletricidade básica 36 h

Eletricidade técnica / NR10 48 h

Instrumentação aplicada 36 h

Meio Ambiente saúde e Segurança 40 h

Boas práticas operacionais 40 h

Carga horária total 406 h

Quadro 3 – Matriz de treinamento para manutenção autônoma

O total de carga horária da capacitação fica em torno de 860 h sendo que a

metodologia enfatiza a articulação entre a teoria e prática.

• Fase 4 - Consolidação

Esta etapa tem por objetivo a análise da manutenção autônoma depois de atingido

os seus objetivos e metas, sendo necessária a aplicação do Ciclo PDCA (P (Plan =

Planejar), D (Do = Executar), C (Check = Verificar), A (Action = Agir)) para

análise, medição manutenção e melhoria contínua do programa. É interessante que

se tenha uma sistemática bem definida de acompanhamento e execução das

manutenções nos diversos turnos de trabalho, através de rotinas de manutenção

Page 53: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

53

preventiva que devem ser elaboradas e emitidas para execução. Outra estratégia é a

divulgação das estatísticas de execução por turno, para motivação dos grupos.

Page 54: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

54

6 MÉTODOS

Definiram-se novos métodos após diagnóstico das práticas em curso. Utilizaram-

se, para este trabalho de pesquisa bibliográfica, visitas técnicas, reuniões participativas

com grupos de manutenção, acompanhamento de planejamento semanal, quinzenal e

mensal de manutenção; e também levantamento de dados, além de: análise de dados

históricos do setor de saúde, segurança e meio ambiente de empresa com manutenção

autônoma implementada; levantamento dos principais equipamentos que apresentaram

problemas nos últimos dois anos com os principais motivos, visando análise da

formulação da árvore de perdas; levantamento do histórico com relação à geração de

resíduos antes da mudança dos procedimentos (implantação da manutenção autônoma); e

o levantamento da geração do resíduo após a modificação, tendo–se a preocupação de

limitar o estudo às atividades de manutenção que são desempenhadas pelos operadores e

possuem periodicidade de execução.

Após este procedimento foi apresentado, como sugestão, um programa de

treinamento com foco em ganhos ambientais para qualificação do mantenedor; após

identificadas as atividades padrão desempenhadas pelo operador mantenedor, e a criação

de proposta com fluxograma para a implementação da manutenção autônoma.

7 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO DA

MANUTENÇÃO AUTÔNOMA

O perfil da empresa escolhida para o estudo de caso permite caracterizá-la como

uma indústria química com capacidade de produção de 320 t/dia, localizada no Pólo

Petroquímico de Camaçari, Bahia, a aproximadamente 50 km da cidade de Salvador. A

sua atividade no Brasil teve início nos anos 50, quando suas matérias-primas começaram

a ser comercializadas no país. Uma década depois, a companhia estabeleceu oficialmente

Page 55: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

55

um escritório de vendas em São Paulo e, em 1976, inaugurou sua fábrica em São José dos

Campos, onde produzia herbicidas, aditivos para borracha, poliestireno e fosfatos.

Quando o Brasil se consolidou como o segundo maior produtor de grãos do mundo,

abaixo apenas dos Estados Unidos, o mercado brasileiro também passou a ser

considerado como o segundo maior mercado mundial para produtos agrícolas. Isso fez

com que a empresa decidisse ampliar seus investimentos no país através da criação da

recente unidade em Camaçari.

A unidade de Camaçari tem como produto final o princípio ativo de produção de um

defensivo agrícola, e possui as seguintes características:

• Produção: é constituída por duas áreas intermediárias que alimentam a área de

produto final. A Produção é responsável pelo recebimento, manuseio e

armazenamento de matérias-primas e insumos, operação dos sistemas,

acompanhamento de processo e da produção, e operação do sistema de efluentes.

• Suporte à Produção: a área de manutenção é responsável por assegurar a

confiabilidade dos equipamentos da planta e continuidade operacional. Nela, os

equipamentos são classificados em função do impacto em qualidade, meio

ambiente, segurança e saúde, o que orienta os planos de manutenção preventiva e

preditiva. Os operadores desta área contribuem com a manutenção autônoma.

Desta área fazem parte a automação e o laboratório, apresentados a seguir:

• A área de automação é responsável pela confiabilidade dos sistemas relacionados

à operação, controle e segurança do processo. Esses sistemas contemplam a base

de dados em tempo real, o sistema digital de controle distribuído e os

computadores de processo.

• O laboratório realiza as análises para assegurar o monitoramento de matérias-

primas, produto em processo / finais e efluentes para suportar a operação

Page 56: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

56

sustentável da planta e assegurar a qualidade dos produtos fornecidos aos clientes.

Os dispositivos utilizados na medição e monitoramento do processo produtivo e

dos produtos são identificados individualmente e verificados / calibrados em

intervalos estabelecidos, a fim de assegurar a exatidão das medidas.

A empresa possui Sistema de Gestão Integrada (SGI) e considera o atendimento aos

requisitos de qualidade, meio ambiente, segurança e saúde aplicáveis à produção de toda

a fábrica e aos demais processos de suporte desenvolvidos na Unidade de Camaçari. O

sistema foi planejado, desenvolvido e implementado com base nas referências normativas

NBR ISO 9001: 2000, NBR ISO 14001: 1996, e OHSAS 18001: 1999.

Em relação à análise de tarefas visando à saúde ocupacional, segurança e o meio

ambiente, a empresa possui um número específico de treinamentos para cada funcionário.

Além disso, possui um intenso programa com seus funcionários e contratados quanto à

verificação de Aspectos e Impactos das Atividades. Todos são treinados em termos de

avaliação de aspectos e impactos das atividades. Os treinamentos buscam desenvolver o

censo crítico de todos e principalmente dos envolvidos direto nas tarefas geradoras de

impacto.

A unidade de estudo possui 126 instruções de trabalho e procedimentos operacionais.

No ano de 2003, após o término de uma série de treinamentos oferecidos aos funcionários

sobre manutenção autônoma, todos os procedimentos citados foram revisados com a

intenção de adaptá-los à nova realidade da manutenção autônoma, incluindo-se os

relativos à geração de resíduo em manutenção e paradas de manutenção. Os

procedimentos ganharam um novo formato incluindo campos referentes à manutenção,

geração de resíduo e gestão do resíduo.

Entretanto, a dimensão da tarefa e as necessidades de recursos impõem limites na

manutenção. Por exemplo, manutenções onde se requer um grande número de mão de

obra e de tempo não são possíveis de serem desenvolvidas pelos operadores.

As atividades desempenhadas pelos operadores treinados em manutenção autônoma

levantadas pelo presente estudo foram: inspeção em trocadores de calor / vasos de

pressão, torqueamento de equipamentos e tubulações, manutenção / inspeção em bombas

centrífugas / diafragmas, manutenção sistema de selagem (troca de selo cartucho),

Page 57: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

57

Inspeção / manutenção básica em ponte rolante (troca de óleo), lubrificação de

equipamentos, inspeção/ montagem tubulações e acessórios, inspeção / substituição de

juntas de expansão, instalação disco de ruptura, substituição de gaxeta de válvulas,

manutenção preventiva bombas verticais, manutenção preventiva em condensadores a ar,

manutenção/inspeção sistema de refrigeração freon, manutenção de bombas de

diafragma, inspeção geral de itens críticos com identificação de causas de falhas,

avaliação de performance de equipamentos, manutenção preventiva ventiladores radiais,

inspeção e montagem em telas de filtros de produtos, inspeção e substituição de telas das

centrífugas, inspeção de equipamentos vitrificados e revestidos, montagem de

equipamentos vitrificados, instalação disco de ruptura em grafite, manutenção preventiva

centrífugas, inspeção/manutenção preventiva em agitadores.

Tais atividades eram desempenhadas pela empresa contratada para realizar a

manutenção dos equipamentos antes da implantação da manutenção autônoma, e isto

influenciava muito para o impacto geral que a unidade fabril causava em relação à

geração dos resíduos.

Analisando dados históricos de geração de resíduos da unidade de estudo, temos o

levantamento total da fábrica, ressaltando que foram considerados apenas os resíduos

classe 11. Tais resíduos são classificados como perigosos, segundo a Norma Brasileira

Registrada NBR 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT2.

A tabela 1 demonstra os dados da geração de resíduo do tipo classe I da empresa

pesquisada, entre os anos de 2003 a 2004.

Page 58: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

58

Tab. 1 - Resíduo classe 1, 2003/2004

Fonte: Arquivo interno SSMA

Mês Resíduo/ Kg

Janeiro 3191,2

Fevereiro 1055,27

Março 1254,55

Abril 2186,2

Maio 1065

Junho 2468,27

Julho 3453,2

Agosto 1435,25

Setembro 1705,35

Outubro 2175,55

Novembro 1029,47

Dezembro 1256,4

Janeiro 2004 3144,55

Total 25420,26

Page 59: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

59

Fig 4 - Total de 25420,26 Kg de resíduo perigoso gerado na empresa

Fonte: Arquivo interno SSMA, 2003, 2004

O registro da quantidade de resíduos (Fig.4) encontrado durante o diagnóstico foi

originado das unidades operacionais, tais como: os processos estáveis e as rotinas de

manutenção preventiva implementadas; o arquivo de contrato da transportadora de

resíduos para a central de tratamentos, onde obrigatoriamente está relatada a quantidade e

especificação de todo e qualquer resíduo transportado.

O serviço de manutenção preventiva e corretiva foi planejado de modo a se obter

um maior rendimento e aproveitamento dos equipamentos, implicando em maior tempo

de operação em condições normais, e com menos perdas e paradas devido a quebras ou

não conformidades.

Advindo da implantação do Sistema de Manutenção Autônoma, implantou-se uma

sistemática assistida por um software de gerência de manutenção, onde diariamente é

emitida ordem de manutenção preventiva ou corretiva, especificando equipamento, parte

a ser verificada, fotos das peças e um passo-a-passo do que é, e como deve ser feita a

Geração de Resíduos kg/mes

0 500

1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan

Page 60: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

60

manutenção, de maneira que gere menos resíduo. A tabela a seguir indica a mudança nos

resultados de geração de resíduos classe 1, após a implantação da Manutenção

Autônoma, junto à empresa objeto de estudo.

Tabela. 2 Resíduo classe 1, 2004/2005

Mês Resíduo Kg

Janeiro 3144,5

Fevereiro 1005,20

Março 1154,50

Abril 1826,2

Maio 958.5

Junho 2268,7

Julho 3011,8

Agosto 1415,55

Setembro 1409,20

Outubro 2071,30

Novembro 919,44

Dezembro 1151,21

Janeiro 2004 3001

Total 22378,6

Fonte: Arquivo interno SSMA

Page 61: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

61

Fig 5 Total de 22378.6 Kg de Resíduo perigoso gerado.

Fonte: Arquivo interno SSMA, 2004 e 2005

De acordo com os dados históricos e de avaliação da unidade fabril, com a

implementação da manutenção autônoma, além dos ganhos ambientais, houve também

um acréscimo de 7,1% de disponibilidade (Availability) de planta que quer dizer

percentual entre o tempo em que a fábrica esteve disponível para operar e o tempo

calendário, passando de 82,5 % para 89,6 %, registrando-se apenas alguns poucos

desvios.

Geração de Residuos kg/mes

0 500

1000 1500 2000 2500 3000 3500

Jan Fev Mar Abr MaioJun Jul Ago Set Out Nov jan Dez

Page 62: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

62

CONCLUSÕES

Durante o período de análise do estudo de caso, o principal programa

desenvolvido e de implementação planejada na empresa estudada foi a Manutenção

Autônoma. Os procedimentos pertinentes ao mesmo geravam registros não confiáveis,

devido à eliminação de possíveis informações ou resultados advindos de outros

programas ou ainda de outras atividades.

A partir da implementação da manutenção autônoma aliada às instruções

operacionais e de produção, considerou-se a confiabilidade dos dados, demonstrando que

através do controle e manutenção dos equipamentos, podem ser controladas com eficácia

as perdas de produção, ficando evidenciado que com este conhecimento é possível

reduzi-las ou elimina-las. Conseqüência disso é o aumento da disponibilidade operacional

e redução dos custos com manutenção, custo com geração de resíduos e tratamento, e

ainda de impactos ambientais, seja na redução, seja na eliminação de geração de resíduos,

tendo em vista a inovação da gestão.

O sistema de capacitação da mão-de-obra, de valorização do funcionário, desde

que passou ao fazer parte de todo o sistema de desenvolvimento, tornou-se também parte

fundamental, pois levou à mudança de comportamentos, de atitude pessoal e profissional,

e propiciou conscientização a respeito da importância da mudança e responsabilidade

individual quanto a ganhos e qualidade de vida.

Constatada a redução sensível em quantidade gerada de resíduo perigoso, o

percentual de 12% da geração anual, significou também menores gastos com transporte

do resíduo, tratamento e disposição e, por conseqüência, menos perda de matéria prima e

menor geração de impacto.

Um simples gesto preventivo como uma troca de lubrificante, por exemplo, pôde

evitar perdas indesejáveis, bem como maior geração de resíduo ou de pequenos

Page 63: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

63

incidentes. Portanto, a adoção da manutenção autônoma, baseada em treinamentos para

qualificação e capacitação dos operadores, proporcionou ganhos de produção, saúde,

segurança e melhoria do meio ambiente. Estas informações foram colhidas em quadros e

gráficos indicados por dados históricos e levantamentos estatísticos do setor de gestão da

produção e manutenção da unidade fabril. Tais resultados representam ganhos reais para

o meio ambiente e comunidade em geral, podendo ainda servir de indicativo para que

outras empresas utilizem o sistema de manutenção autônoma com ganhos ambientais.

Assim, faz-se necessária uma atitude sistemática de reconhecimento dos

funcionários, de modo a manter a auto-estima do grupo e o protagonismo na resolução de

problemas. A comunicação é um outro item a ser levado a sério: o ir e vir das

informações desempenha um papel muito importante na busca de resultados e de

direcionamento dos esforços. Informações que façam uso do Diálogo Diário de

Segurança (DDS), passagens de turnos, e-mail e reuniões, devem ser explorados ao

máximo para o trânsito de conhecimentos.

Page 64: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO

64

REFERÊNCIAS

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14000:

Gestão Ambiental. Diretrizes para seleção e uso. Rio de Janeiro, Outubro 1996a

______ NBR ISO 14001: Sistemas de Gestão Ambiental. Especificação e diretriz para

uso. Rio de Janeiro: 1996b

______ NBR ISO 9001: Sistema de Gestão da Qualidade. Requisitos Rio de Janeiro,

2000

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