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XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.
AVALIAÇÃO DO CONTROLE DE PRAGAS URBANAS ADOTADO
POR SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO LOCALIZADOS NO DISTRITO
SANITÁRIO VI, RECIFE-PE
Vládima Virgínea Mendes Santos1, Fernanda Maria Lino de Moura
2 e Jean Carlos Ramos Silva
3
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1. Primeiro Autor é Médica Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE.
CEP 57171-900. E-mail: [email protected]
2. Segundo Autor é Mestranda do curso de Pós-Graduação em Ciência Animal Tropical e bolsista pela CAPES, Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE. CEP 57171-900. 3. Terceiro Autor é Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Recife, PE. CEP 57171-900.
Introdução
A preocupação com a saúde desperta nas pessoas o
interesse em consumir alimentos de boa qualidade.
Porém, muitas vezes o julgamento de um alimento
como sendo de boa qualidade é baseado apenas nas
características organolépticas apresentadas (aspecto,
odor, cor e sabor). Na realidade, o alimento para ser
considerado de boa qualidade deve apresentar todos os
nutrientes necessários ao desenvolvimento da vida e
não ter agentes ou substâncias prejudiciais à saúde [1].
Com as necessidades cada vez maiores de
atendimento aos requisitos de segurança alimentar, a
legislação brasileira vem sendo aprimorada ao longo
dos anos acrescentando novas exigências visando
melhorar as condições nutricionais e higiênico-
sanitárias dos alimentos. Assim, em 26 de novembro de
1993 o Ministério da Saúde (MS) publicou a Portaria
1.428 abordando pela primeira vez a exigência do
controle de vetores e pragas urbanas nos serviços de
alimentação [2].
Segundo a RDC 18 [3], publicada pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 29 de
fevereiro de 2000, pragas urbanas são “animais que
infestam ambientes urbanos podendo causar agravos à
saúde e/ou prejuízos econômicos”. Nos serviços de
alimentação, estes agravos à saúde ocorrem porque as
pragas agem como vetores, isto é, seres vivos capazes
de veicular agentes patogênicos que podem contaminar
os alimentos e ocasionar toxinfecções alimentares [4].
Os serviços de alimentação referem-se aos
estabelecimentos que realizam: produção, manipulação,
preparação, fracionamento, armazenamento,
distribuição, transporte, exposição à venda e entrega de
alimentos preparados ao consumo, como cantinas,
bufês, confeitarias, cozinhas industriais, refeitórios de
empresas, delicatéssens, lanchonetes, padarias,
supermercados, pizzarias, restaurantes e congêneres
[5].
As pragas urbanas estão sempre em busca de
alimento e abrigo a fim de garantir a sobrevivência e
reprodução de sua espécie [6]. Logo, nos serviços de
alimentação problemas relacionados à falta de higiene
como o mau acondicionamento e destino do lixo,
presença de entulho que possa servir de abrigo,
alimentos mal acondicionados, resíduos de alimentos
espalhados pelo chão, paredes e equipamentos sujos,
dentre outros, são um atrativo formidável para as
pragas. Atraídos pela presença de alimento, as pragas
acabam desvendando todos os meios disponíveis para
penetrarem nestes ambientes. Geralmente, a entrada das
pragas nos serviços de alimentação ocorre de forma
espontânea, aproveitando-se de descuidos [1].
De acordo com o levantamento das denúncias
recebidas pela Vigilância Sanitária do Distrito Sanitário
VI (DS VI), feitas por munícipes à Ouvidoria da
Secretaria de Saúde do Recife, as baratas e os ratos
destacam-se como as pragas que apresentam maior
dificuldade de controle nos serviços de alimentação.
Para o controle das pragas urbanas, durante muitos
anos o termo “dedetização” foi usado no Brasil. Este
termo foi originado a partir do nome do dicloro-difenil-
tricloroetano (DDT), bastante utilizado no país durante
a década de 70 para o combate as pragas da agricultura.
Em 21 de outubro de 2002, a ANVISA publicou a
RDC 275 instituindo o Controle Integrado de Vetores e
Pragas Urbanas, cujo diferencial está em estabelecer
que é dever de todo serviço de alimentação adotar de
forma contínua medidas preventivas e corretivas que
impeçam o acesso ou a instalação das pragas e, se
necessário, o controle químico pela aplicação de
produtos usados de forma racional [7].
Neste sentido, em 15 de setembro de 2004, a
ANVISA publicou a RDC 216, Legislação Federal da
área de alimentos que regula atualmente as atividades
desenvolvidas nos serviços de alimentação de todo
Brasil. Esta RDC reitera que no caso do controle de
pragas “o controle químico deve ser empregado apenas
quando as medidas de prevenção adotadas não forem
eficazes” [8]. Tais medidas preventivas compreendem a
implementação das Boas Práticas de Fabricação (BPF),
conjunto de procedimentos de higiene, organização e
limpeza que todo estabelecimento deve implantar e
que, quando bem executado, combate as pragas
praticamente dispensando a necessidade de contratar
uma empresa para realizar o controle químico.
Seja qual for o método (físico e/ou químico) de
controle de pragas adotado pelo estabelecimento, este
deve estar descrito no Manual de Boas Práticas e nos
Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) os
quais todo serviço de alimentação deve elaborar. As
orientações registradas nestes documentos devem ser
seguidas fielmente na rotina de trabalho dos
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estabelecimentos e estarem disponíveis aos
funcionários e às autoridades sanitárias sempre que
solicitado.
Desta forma, objetivou-se com este trabalho avaliar
se o programa de controle de pragas adotado por
serviços de alimentação do Distrito Sanitário VI da
Prefeitura do Recife atendiam a Legislação Federal -
RDC 216/04-ANVISA.
Material e métodos
A pesquisa foi realizada em 16 estabelecimentos de
serviços de alimentação, nos meses de abril e maio de
2009, nos bairros de Boa Viagem, Brasília Teimosa,
Pina, Ipsep, Imbiribeira, Ibura, Jordão e Cohab, que
compõem o Distrito Sanitário VI da cidade do Recife-
PE. Foram visitadas nove padarias, quatro
mercadinhos, dois restaurantes e uma lanchonete.
A escolha dos estabelecimentos amostrados
(amostra) foi por conveniência, tendo sido solicitado
aos inspetores sanitários que identificassem em suas
respectivas áreas de atuação aqueles estabelecimentos
que apresentassem dificuldade para o controle de
pragas e fizessem o controle químico pela contratação
de uma empresa especializada.
Para a coleta dos dados realizou-se uma pesquisa
qualitativa apoiada na análise documental e na
observação do ambiente (serviços de alimentação).
Foram analisados os seguintes documentos:
Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs),
Manual de Boas Práticas de Fabricação e Certificado
de execução do serviço emitido pela empresa
especializada no controle de vetores e pragas urbanas.
Os dados pesquisados foram registrados em
planilhas específicas e posteriormente analisados pelo
software Excel.
A análise documental foi realizada com base na RDC
216/04 da ANVISA e a partir da constatação da
existência de coerência ou não entre as informações
registradas nos documentos e a realidade observada.
Resultados e Discussão
- Análise do Manual de Boas Práticas e dos
POPs do Controle de Pragas
Em relação a análise do Manual de Boas Práticas,
dos 16 estabelecimentos inspecionados apenas 5
(31,2%) apresentaram o referido documento, mas não
cumpriam na íntegra as orientações nele registradas.
Quanto aos POPs do controle de pragas, apenas 1
(6,25%) estabelecimento apresentou o documento e
não cumpria nenhuma de suas orientações.
De acordo com a RDC 216 [8], o Manual de Boas
Práticas deve descrever de forma detalhada as
operações higiênico-sanitárias realizadas no
estabelecimento. Assim, o Manual deve apresentar, por
exemplo, como e quando é feita a higienização das
instalações, móveis, equipamentos e utensílios. No
entanto, tais informações estavam registradas apenas no
papel e não eram postas em prática sendo observado
nos estabelecimentos bastante falta de higiene que
acabava atraindo as pragas.
Já os POPs, por sua vez, devem apresentar de forma
objetiva e sistematizada as medidas preventivas e
corretivas, adotadas rotineiramente, destinadas a
impedir a atração, o acesso, o abrigo e a proliferação de
vetores e pragas urbanas.
Na RDC 216 [8], as medidas preventivas referem-se
à organização, higiene e o uso de barreiras físicas
como: ralos com sistema de fechamento, telas
milimétricas nas janelas e combogós, portas ajustadas
ao piso e caixa de gordura fora da área de manipulação.
Enquanto as medidas corretivas dizem respeito à
instalação de armadilhas e, caso necessário, uso do
controle químico.
Os resultados demonstraram a falta de importância
que é atribuída ao Manual e aos POPs uma vez que, de
acordo com a RDC 216 [8], todo serviço de
alimentação deve possuí-los, mantê-los em local de
fácil acesso aos funcionários e monitorar se as
orientações neles registradas estão sendo cumpridas
durante o desenvolvimento das atividades de rotina.
Pelo que foi observado, os estabelecimentos que
apresentaram os documentos os possuíam apenas para
cumprir uma exigência da legislação, tendo em vista a
necessidade de apresentá-los às autoridades sanitárias
quando solicitado.
- Análise do documento emitido pelas
controladoras de pragas
Dos 16 estabelecimentos inspecionados, todos
faziam uso de produtos químicos para o controle de
pragas, mas 3 (18,7%) não apresentaram o documento
de execução do serviço. Dos 13 (81,2%) que
apresentaram apenas 4 (25%) documentos satisfaziam
as exigências da legislação sanitária específica,
enquanto os outros 9 (56,2%) eram apenas notas fiscais
ou certificado de execução do serviço e não
apresentavam nenhuma das informações exigidas pela
legislação.
Conforme exigência da RDC 216 [8], os
documentos emitidos pelas controladoras devem
atender a RDC 18 e apresentar informações a respeito
das pragas alvo, produtos químicos utilizados,
concentração, locais de aplicação, dosagem, antídoto e
número do telefone do Centro de Informação
Toxicológica mais próximo.
O descaso identificado durante a análise dos
documentos emitidos pelas controladoras de pragas
deixou claro que muitas destas empresas não
realizavam sequer uma análise prévia das reais
necessidades do estabelecimento quanto a alteração da
população das espécies infestantes, necessidade de
mudança do princípio ativo utilizado, locais mais
apropriados de colocação dos venenos etc.
A preocupação com a adoção criteriosa do controle
químico visa prevenir o uso indiscriminado destes
produtos, que além de não solucionar o problema,
ainda podem causar efeitos colaterais como: risco de
contaminação ambiental, contaminação dos alimentos,
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risco de intoxicações, diminuição das espécies não alvo
e problema de resistência nas espécies alvo.
Assim, conclui-se que o programa de controle de
pragas adotado pelos serviços de alimentação
inspecionados neste trabalho, não atendeu a Legislação
Federal (RDC 216/04-ANVISA) uma vez que a adoção
do controle químico foi feita prioritariamente em
detrimento das Boas Práticas de Fabricação.
Referências [1] RIEDEL, G.2005. Controle sanitário dos alimentos. São Paulo,
Atheneu. 455p.
[2] BRASIL. Ministério da Saúde. 1993. Portaria n. 1.428, de 26 de
novembro de 1993. Aprova na forma dos textos anexos o
“Regulamento Técnico para Inspeção Sanitária de Alimentos”,
as “Diretrizes para o Estabelecimento de Boas Práticas de
Produção e de Prestação de Serviços na Área de Alimentos” e
o “regulamento Técnico para o Estabelecimento de Padrão de
Identidade e Qualidade (PIQ) para Serviços e Produtos na
Área de Alimentos”. Diário Oficial da União, Brasília.
[3] BRASIL. Ministério da Saúde. 2000. Resolução da Diretoria
Colegiada n. 18, de 29 de fevereiro de 2000. Dispõe sobre
Normas Gerais para funcionamento de Empresas
Especializadas na prestação de serviços de controle de vetores
e pragas urbanas. Diário Oficial da União, Brasília.
[4] GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S.. Higiene e
vigilância sanitária de alimentos. 2 ed. São Paulo: Livraria
Varela, 2001. 655 p.
[5] BRASIL. 1969. Decreto Lei n. 968, de 21 de outubro de 1969.
Institui o Código Brasileiro de Alimentos. Diário Oficial da
União, Brasília.
[6] SILVA JUNIOR, E. A. 2002. Manual de controle higiênico
sanitário dos alimentos. São Paulo, Varela. 475 p.
[7] BRASIL. Ministério da Saúde. 2002. Resolução da Diretoria
Colegiada n. 275, de 21 de outubro de 2002. Dispõe sobre o
regulamento técnico de procedimentos operacionais
padronizados aplicados aos estabelecimentos
produtores/industrializadores de alimentos e a lista de
verificação das boas práticas de fabricação em
estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos.
Diário Oficial da União, Brasília.
[8] BRASIL. Ministério da Saúde. 2004. Resolução da Diretoria
Colegiada n. 216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre
regulamento técnico de boas práticas para serviços de
alimentação. Diário Oficial da União, Brasília.
XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.