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Este trabalho foi recebido pela Comissão Cientifica e pertence aos anais do Congresso. O conteúdo do trabalho é de inteira responsabilidade do autor.
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AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL EM PROCESSO DE RERREFINO DE ÓLEO USADO VISANDO A IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL
Rosilene Felício1, Camila C. Amorim2*
1 – Especialista em Saneamento e Meio Ambiente – UFMG. Analista Ambiental da Manserv Facilities. Mariana-MG, 35.420-000.
2 – Professora Adjunta. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte – MG, 31.270-901.
* e-mail: [email protected]. Fone: +55 31 3409-3677. Fax: + 55 31 3409-1879.
RESUMO
O processo de reciclagem do óleo lubrificante usado contaminado denominado rerrefino consiste no destino mais adequado para esse resíduo classificado como perigoso pela NBR 10004/2004. Apesar de ser a técnica mais adequada em termos de destinação, o processo produtivo de rerrefino apresenta aspectos/impactos ambientais, os quais devem ser gerenciados de tal forma que não tragam prejuízos à saúde pública e ao meio ambiente. O trabalho objetiva a identificação e avaliação desses impactos utilizando a técnica denominada “Matrizes de Interação”, donde foram contemplados as atividades do processo e os respectivos aspectos/impactos. O resultado da correspondência entre as ações do empreendimento e os fatores ambientais serviu como base para estabelecer diretrizes e orientações para a elaboração de medidas mitigadoras e coincidentemente a proposição dos objetivos e metas para a implantação de um sistema de gestão ambiental para um processo de rerrefino de óleo usado.
PALAVRAS-CHAVE: Rerrefino de óleos lubrificantes, avaliação de impacto ambiental, sistema de gestão ambiental.
INTRODUÇÃO
O óleo lubrificante é um dos subprodutos gerados do processo de refino do petróleo, na etapa de destilação atmosférica. É considerado um produto versátil com diferentes formulações para diferentes aplicações como combustível industrial, combustível para navios, utilização para manutenção de veículos de pequeno e grande porte, lubrificação de maquinários utilizados em diversos setores da indústria e lubrificação de peças. Para a produção do mesmo, utilizam-se os óleos lubrificantes básicos que podem ser de dois tipos: óleo lubrificante básico mineral e óleo lubrificante básico sintético, correspondendo de 80% a 90% da composição do óleo lubrificante acabado. Apesar de grande utilidade em nosso cotidiano, o óleo lubrificante se transforma em um resíduo de óleo lubrificante contaminado após sua utilização. Tal resíduo é classificado como
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resíduo perigoso de acordo com a NBR 10004/2004 (ABNT, 2004). Segundo essa norma, um resíduo perigoso apresenta características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade, o que faz com que o destino inadequado desses resíduos cause sérios problemas de saúde pública, bem como danos ambientais irreversíveis. Para diminuir esses impactos, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) e o Ministério Nacional de Meio Ambiente através do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) estabeleceram requisitos legais para o controle da destinação final desse resíduo. De acordo com a Resolução do CONAMA n°362 de 27 de junho de 2005 (BRASIL, 2005) o óleo lubrificante usado deve ser obrigatoriamente encaminhado para o processo de rerrefino, que consiste em retirar os contaminantes do óleo e transformá-lo novamente em óleo lubrificante básico para produzir o óleo lubrificante acabado. O processo de rerrefino mais utilizado no Brasil é denominado Thermo-Cracking e pode ser dividido nas seguintes etapas, sendo elas: termocraqueamento, evaporação, tratamento ácido, clarificação e filtração (JULIÃO, 2011). Além desse processo, existe também o processo através da Destilação Flash e o processo denominado desasfaltamento com propano, sendo que pode ser encontrado no Brasil as três formas de rerrefino incorporadas em um mesmo processo de rerrefino de óleo lubrificante. Apesar de ser um processo de reciclagem do óleo, o qual garante que o óleo não seja destinado incorretamente, o processo de rerrefino gera aspectos ambientais, que devem ser devidamente levantados e investigados a fim de minimizar os impactos ambientais associados. Segundo Sanchéz (2008) a Avaliação de Impacto Ambiental é uma ferramenta de análise dos prováveis efeitos ambientais de um projeto consorciado com medidas a serem adotadas para proteger o ambiente. A AIA é atualmente bastante difundida sendo utilizada na elaboração de estudos ambientais, para formalização de licenciamento ambiental, como base para tomada de decisões em diferentes setores da sociedade, na avaliação de produtos e processos produtivos através do Sistema de Gestão Ambiental ou ainda através da Análise do Ciclo de Vida de produtos e processos. Quando é utilizada na implantação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) a AIA é aplicada na fase de operação do empreendimento, diferentemente da avaliação que objetiva a elaboração de um Estudo de Impacto Ambiental, a qual é aplicada em todas as fases (implantação, operação e desativação) (Sanchéz, 2008). As etapas para a avaliação dos ambientais podem ser dividas em três fases: identificação, sintetização e avaliação propriamente dita. A avaliação da significância dos impactos é fundamental no sentido de que a partir dos resultados, é proposta a tomada de ações que possam garantir a minimização dos impactos negativos e/ou planejar ações futuras para os impactos considerados positivos, estabelecidos nos Planos de Gestão Ambiental. É extremamente importante a escolha de critérios de avaliação, os quais descrevem os principais atributos vinculados a cada impacto, ou seja, deve estar bem definido, por exemplo, o que caracteriza um impacto de pequena ou grande magnitude; severidade pequena, média ou grande; significativo ou não significativo; impacto atual ou planejado e nível de abrangência. (Sanchéz, 2008). Além da escolha dos atributos, a fase de combinação entre os mesmos também deve ser realizada de forma que atenda aos objetivos do trabalho, tentando minimizar dessa forma a possível subjetividade que poderia influenciar no resultado final.
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O presente trabalho visa identificar os principais aspectos/impactos ambientais de um processo de rerrefino do óleo usado. A avaliação foi feita somente para a etapa de operação do empreendimento, uma vez que se pretende avaliar os principais objetivos e metas para implantação de um SGA para um empreendimento de rerrefino ainda não certificado na ISO 14000.
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METODOLOGIA
Para o presente trabalho, desenvolveu-se uma metodologia de avaliação de impactos ambientais do processo de rerrefino de óleo usado, baseada na utilização de uma Matriz de Interação onde foi relacionado às ações do processo em questão levantamento dos aspectos ambientais e seus respectivos impactos, por atividade dentro do processo produtivo de rerrefino de óleo lubrificante. Nessa matriz foram considerados os seguintes atributos: situação operacional, escala espacial, enquadramento legal, temporalidade, frequência, severidade e partes interessadas. Na determinação da significância dos impactos ambientais esses atributos foram divididos em dois blocos e combinados de forma a fornecer os respectivos potenciais de consequência ambiental, sendo a interação destes o resultado da significância dos impactos ambientais. Dessa forma, uma vez que o enquadramento legal é um requisito do SGA proposto na Norma ISO 14001 e deve estar explícito na Política Ambiental da empresa, os atributos enquadramento legal e abrangência espacial foram combinados em uma matriz (Tabela 1 a 3), resultando no potencial de consequência 1. Já os atributos severidade e frequência foram combinados segundo a metodologia proposta por Sánchez (2008) (Tabelas 4 a 6), resultando no potencial de consequência 2. A escolha do atributo concernente às partes interessadas objetiva a avaliação da interferência das atividades do processo nas comunidades do entorno, visando o comprometimento da empresa com estas, uma vez que, está previsto na implantação do SGA. O atributo da situação operacional foi usado a fim de se identificar os impactos ambientais em situações normais, anormais e de manutenção do processo.
Tabela 1 - Escala para o atributo "Enquadramento Legal".
Nível Características
4 Regulamentado mediante lei ou qualquer outro diploma legal.
3 Regulamentado mediante lei ou qualquer outro diploma legal, entretanto
com instalação de sistema de controle ambiental eficiente.
2 Prática empresarial e/ou política empresarial: conduta usualmente
adotada pela empresa ou por outras, embora não codificada e não existir exigência legal.
1 Não há regulamento ou diretriz sobre o assunto.
Fonte: Block (1999 pg. 25 citado por Sánchez, 2008).
Tabela 2 - Descrição para o atributo "Abrangência espacial".
Abrangência espacial Descrição Impactos
Global Impactos que excedem os
limites do Estado, do Brasil ou do mundo, com potencial para
Destruição da camada de ozônio; chuva ácida; efeito estufa
(aquecimento global); poluição do
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Abrangência espacial Descrição Impactos
comprometer a qualidade ambiental desses níveis.
ar por veículos.
Regional Impacto que ocorre dentro dos
limites da região ou estado
Locais de despejo de resíduos sólidos (ativos e inativos);
desmatamento; destruição da biodiversidade; poluição da água
por resíduos industriais; vazamentos de óleo; consumo de
recursos naturais; radiação proveniente de resíduos nucleares;
vazamento de tanques para o subsolo; contaminação de água no mar na costa; poluição da água por
estações de tratamentos de esgotos e efluentes; contaminação de água potável; contaminação do
solo por resíduos de defensivos agrícolas (herbicidas, pesticidas,
etc).
Local Excede os limites da empresa
causando incômodos à comunidade
Desmatamento; destruição da biodiversidade; consumo de
recursos naturais; descarte de resíduos não perigosos (ocupação
de aterro); erosão do solo; alteração da qualidade do ar por ruídos ou vibrações; alteração da qualidade do ar por emissão de
materiais particulados.
Fonte: Seiffert, 2007.
A conjugação dos dados das Tabelas 1 e 2 resulta nos dados contemplados na Tabela 3 que definirão o Potencial de Consequência 1 (Tabela7).
Tabela 3 - Critério para combinar enquadramento legal e abrangência espacial (Potencial de Consequência 1).
Abrangência espacial
Enquadramento Legal Local Regional Global
1 NS NS S
2 NS NS S
3 NS S S
4 S S S
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Nota: o símbolo "S" indica potencial de impacto significativo.
O símbolo "NS" indica potencial de impacto não significativo.
Fonte: Adaptado de Sanchéz, 2008.
Tabela 4 - Critério para combinar severidade de ocorrência dos Impactos.
Severidade Critério Pontuação
Sem efeito Nenhum efeito ambiental identificável. 0
Baixa Impacto de magnitude desprezível/Restrito ao local de
ocorrência/ Totalmente reversível com ações imediatas/Consequências financeiras desprezíveis.
1
Média
Impacto de magnitude considerável/Contaminação/reclamação única/Uma
violação de critério legal/ Reversível com ações mitigadoras.
2
Localizada Descarga limitada de substâncias de toxicidade
conhecida/repetida violação de padrões legais/ efeitos observados além dos limites da empresa.
3
Alta
Impacto de grande magnitude/grande extensão/ necessidade de grandes ações mitigadoras para
reverter a contaminação ambiental/violação continuada de padrões legais.
4
Muito alta
Impacto de grande magnitude/grande extensão com consequências irreversíveis, mesmo com ações
mitigadoras/grande perda econômica para a empresa/violação alta e constante padrões legais.
5
Fonte: Sanchéz, 2008.
Tabela 5 - Frequência de Ocorrência de Impactos.
Frequência Critério Pontuação
Muito Baixa Muito improvável de ocorrer/Não há registro no mundo A
Baixa Improvável de ocorrer/Ocorreu em indústria similar B
Média Provável de ocorrer/Ocorreu pelo menos uma vez na
empresa (f<1 vez/ano) C
Alta Muito provável de ocorrer/Ocorre mais de uma vez/ano
na empresa (1 vez/ano<f<1 vez/semestre) D
Muito Alta Esperado que ocorra/Ocorre mais de uma vez por
semestre na empresa (f> 1 vez/semestre) E
Fonte: Sanchéz, 2008.
A conjugação dos dados das Tabelas 4 e 5 resulta nos dados mostrados na Tabela 6 que definirão o Potencial de Consequência 2 (Tabela7).
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Tabela 6 - Frequência versus Severidade de Impactos (Potencial de Consequência 2).
Frequência
Severidade A B C D E
0 NS NS NS NS NS
1 NS NS NS NS S
2 NS NS NS S S
3 NS NS S S S
4 NS S S S S
5 S S S S S
Nota: o símbolo "S" indica potencial de impacto significativo.
O símbolo "NS" indica potencial de impacto não significativo.
Fonte: Adaptado de Sanchéz, 2008.
A Tabela 7 é o exemplo da matriz elaborada para a avaliação da significância dos impactos
do processo de rerrefino de óleo usado. A matriz contempla as atividades do rerrefino, os
aspectos relacionados com cada atividade, os impactos correspondentes a cada aspecto e os
atributos dos impactos.
Tabela 7 - Modelo de Matriz de Interação para avaliação da significância dos impactos.
Matriz de Avaliação de importância do impacto ambiental
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Para a definição do resultado geral, conjugam-se os potenciais de consequência (1) e (2) conforme Tabela 8.
Tabela 8 - Conjugação entre potencial de consequência (1) e (2).
Potencial de consequencia (1) Potencial de consequencia (2) Resultado geral
Significativo Significativo Significativo
Significativo Não significativo Significativo
Não significativo Significativo Significativo
Não significativo Não significativo Não significativo
RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da análise do fluxograma geral do processo de rerrefino (Figura 1) assim como das entradas e saídas do processo de rerrefino de óleo lubrificante usado, foi possível identificar os principais aspectos ambientais inerentes dessa atividade (Tabela 9).
Figura 1 - Fluxograma do processo de rerrefino de óleo usado.
FONTE: Adaptado de Françolim (2009).
Diante dos resultados apresentados na Figura 1 e Tabela 9 o rerrefino de óleos lubrificante usado produz uma grande quantidade de resíduos classe I e em menor quantidade os
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resíduos classe II (não perigosos) (NBR 10004/2004) (ABNT, 2004). Os resíduos perigosos constituem um dos maiores problemas para uma empresa rerrefinadora de óleo usado, com probabilidade de tornar-se um problema ambiental, caso não seja tomada medidas sistemáticas. Identificou-se também que os principais resíduos sólidos intrínsecos são gerados na etapa de sulfonação, clarificação/neutralização e filtração, os quais contêm argila, metais pesados, óleo não passível de recuperação e, são resíduos que geram um quantitativo considerável, necessitando de grandes áreas para a estocagem temporária. Os efluentes líquidos industriais gerados em processos de rerrefino necessitam de tratamentos específicos (pré-tratamentos, tratamentos primários, tratamentos biológicos, unidades de pós-tratamento e polimento) para prioritariamente objetivar o reuso e/ou lançamento do mesmo em cursos d’água de acordo com a legislação ambiental vigente (Conama n°430 de 13 de maio de 2011) (BRASIL, 2011). Os efluentes líquidos domésticos que são gerados nas etapas auxiliares (refeitórios, banheiros, escritórios), analogamente necessitam de tratamento de modo que atendam à legislação ambiental específica de lançamento e/ou reuso. Os efluentes atmosféricos consistem naqueles cuja composição apresenta material particulado, dióxidos de enxofre, gases de combustão e compostos orgânicos voláteis, os quais lançados sem o devido tratamento alteram a qualidade do ar no entorno do empreendimento e ainda contribuem para o efeito estufa que é o caso do dióxido de enxofre. Portanto, a gestão dos aspectos ambientais identificados deve ser feita tomando-se como referência a importância em consorciar medidas de controle com alternativas de produção mais limpa como a mudança de base energética do processo, minimização da geração de resíduos e efluentes, além das tradicionais tecnologias de fim de tubo de controle ambiental.
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Tabela 9 - Check list das atividades do processo de rerrefino e os respectivos aspectos ambientais.
Atividades
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ção
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Consumo de Recursos Naturais
xx x
x
xx xx x x x x x Água
Emissões Hídricas
x
x
x Geração de efluentes líquidos domésticos
x x xx
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x x Geração de efluentes líquidos industriais
Emissões Atmosféricas
xx xx
x
Emissão de material particulado
x
x x
x
x
Emissão de gases de combustão
xx xx Emissão de dióxido de enxofre
Liberações para o solo
xx xx xx xx xx xx xx xx x x
x
Vazamentos de óleos
x x x
x x Geração de resíduos classe I
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x x x Geração de resíduos classe II
Outras Emissões
xx
xx xx xx xx xx xx
xx xx xx
xx x Emissão de ruídos
Aspectos sócio-econômicos
x
x
Aumento do tráfego de caminhões
Legenda:
x Aspecto Significativo
xx Aspecto pouco Significativo
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Os impactos ambientais considerados significativos com potencial de consequência (1) e (2) de acordo com a metodologia aplicada foram: redução da disponibilidade hídrica, alteração da qualidade de águas superficiais, alteração da qualidade do ar, aumento do índice de acidentes rodoviários, contaminação do solo e das águas subterrâneas. A Figura 2 apresenta o quantitativo dos impactos ambientais que foram considerados significativos com potencial de consequência (1) e (2) em cada etapa do processo do rerrefino de acordo com a metodologia. Os impactos ambientais considerados significativos com relação aos requisitos legais são aqueles em que os controles devem ser mais restritivos e, consequentemente onde os objetivos e metas, assim como as ações de melhoria contínua em um SGA devem ser priorizados.
Figura 2 – Quantitativos dos impactos considerados significativos.
A Figura 3 apresenta o percentual de ocorrência dos impactos que foram considerados significativos de acordo com a metodologia proposta, onde é possível observar que o impacto ambiental de alteração a qualidade das águas superficiais teve maior ocorrência entre as atividades do processo de rerrefino de óleo usado, uma vez que este está associado às operações de retirada de água presente no resíduo do óleo lubrificante, possíveis vazamentos, refeitórios, escritórios, vestiários e chuveiros, manutenção dos veículos, além da geração de borra ácida e a torta de filtração, resíduos diversos, recicláveis, não recicláveis, que podem contaminar as águas superficiais se não forem tratados de maneira adequada. A demanda hídrica deve-se à necessidade de produção do vapor, limpeza de pisos e tanques e manutenção/lavagem dos caminhões, utilização em áreas administrativas,
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refeitórios e higiene. Em relação à contaminação da qualidade do solo, conclui-se que o mesmo está associado à geração de resíduos sólidos e efluentes.
Figura 3 – Porcentagem de ocorrência por tipo de impacto.
CONCLUSÕES
A partir do desenvolvimento do trabalho, foi verificado que a metodologia proposta para avaliação dos impactos atendeu de maneira satisfatória a um dos objetivos do trabalho. A técnica das matrizes de interação possibilitou estabelecer a significância dos impactos ambientais decorrentes do processo de rerrefino de óleo usado por etapa de processo.
Foi verificado também que através da avaliação de impactos ambientais foi possível elaborar os objetivos e metas da fase de planejamento para a implantação de sistema de gestão ambiental para um processo em operação em fase de implantação de sistema de gestão ambiental.
Com os objetivos e metas bem definidos, o empreendedor precisa após essa fase estabelecer um planejamento específico, caso seja almejado a implantação do sistema de gestão ambiental na empresa, consciente de que, o atendimento aos objetivos e metas propostos, não seja meramente uma ação para atendimento aos requisitos legais, mas uma
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oportunidade de melhoria no processo operacional, aumentando o desempenho em relação aos controles ambientais.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio concedido pela Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG, a FAPEMIG e ao Programa de Pós-Graduação SMARH-UFMG.
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REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS
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