avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

60
UNITRI – CENTRO UNIVERSITÁRIO DO TRIÂNGULO PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE GERENCIAL E GESTÃO TRIBUTÁRIA REGES RODRIGUES SANTOS AVALIAÇÃO DE EMPRESAS NO MERCADO FINANCEIRO – UMA ABORDAGEM A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA UBERLÂNDIA – 2008

Upload: regessantos

Post on 14-Jul-2016

14 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Monografia sobre leis do mercado, histórico e índices de avaliação pela análise fundamentalista

TRANSCRIPT

Page 1: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

UNITRI – CENTRO UNIVERSITÁRIO DO TRIÂNGULO PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE GERENCIAL E

GESTÃO TRIBUTÁRIA

REGES RODRIGUES SANTOS

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS NO MERCADO FINANCEIRO – UMA

ABORDAGEM A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

UBERLÂNDIA – 2008

Page 2: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

I

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS NO MERCADO FINANCEIRO – UMA

ABORDAGEM A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

REGES RODRIGUES SANTOS

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Unitri – Centro Universitário do Triangulo como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Contabilidade Gerencial e Gestão Tributária, sob a orientação do Prof. Luiz Gonzaga Ramalho Júnior.

UBERLÂNDIA – 2008

Page 3: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

II

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS NO MERCADO FINANCEIRO – UMA

ABORDAGEM A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

REGES RODRIGUES SANTOS

“Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Unitri – Centro Universitário

do Triângulo, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em

Contabilidade Gerencial e Gestão Tributária”.

Monografia aprovada em ____/___/_______

_______________________________________ Prof. Luiz Ramalho Gonzaga Júnior

(Orientador)

Page 4: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

III

LISTA DE QUADROS

Descrição das leis de regulamentação do Mercado Financeiro........................................ 12

Carteira teórica do Ibovespa para Setembro a Dezembro de 2008.................................. 24

Descrição das características dos ciclos de Kondratieff.................................................. 27

Descrição das características dos ciclos de Kitchin......................................................... 27

Modelo de Balanço Patrimonial....................................................................................... 41

Demonstração do Resultado de Exercício (Drogasil S/A)............................................... 43

Page 5: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

IV

LISTA DE FIGURAS

A história dos preços das ações de 1969 a 2001 (Ibovespa Indexado ao dólar comercial – Gráfico semanal)............................................................................................. 30

Page 6: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

V

RESUMO

A interdependência da economia internacional tem influenciado os aspectos produtivos e

financeiros das empresas. Desse modo, a eficácia das organizações, não mais se fundamenta

essencialmente na produção de bens e serviços. Este trabalho investigou os efeitos da

globalização financeira internacional sobre o desempenho das empresas, ao passo que

demonstrou a existência de método de avaliação de ativos financeiros, o qual pode ser

utilizado para proteção financeira do capital diante das incertezas, bem como a oportunidade

de diversificação de investimentos. Através de uma abordagem à Análise fundamentalista,

torna-se possível a compreensão da importância da análise de balanços e análises setoriais, da

estrutura das demonstrações financeiras e dos indicadores financeiros relacionados à liquidez,

alavancagem de capital, atividade e rentabilidade das operações.

Palavras-chave: Mercado Financeiro, Análise Fundamentalista.

Page 7: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

VI

ABSTRACT

The international economic dependence has influenced the productive and financial aspects of

the business. So, the effectiveness in organization is not more based essentially in production

of the goods and services. This work investigated the effect of the global international finance

in the business performance, while demonstrated the existence of the methods for valuation of

the financial assets, of which can be used for financial protection of the capital front of the

uncertainties and like opportunity of the diversification of the investments. Through an

approach fundamental analysis, it becomes possible to understand the importance of balance-

sheet analysis and the sectorial analysis, the structure of the financial statements and financial

indicators related to liquidity, leverage capital, activity and profitability of operations.

Keywords: Financial Market, fundamental analysis.

Page 8: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

VII

SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS..................................................................................................... 03

LISTA DE FIGURAS...................................................................................................... 04

RESUMO........................................................................................................................... 05

ABSTRACT........................................................................................................... ........... 06

INTRODUÇÃO................................................................................................................. 08

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO MERCADO FINANCEIRO............................ 11

CAPÍTULO 2 – NORMATIZAÇÃO NO MERCADO FINANCEIRO

GLOBALIZADO............................................................................................................... 14

CAPÍTULO 3 – A INTERDEPENDÊNCIA FINANCEIRA DOS MERCADOS...... 17

3.1 Histórico da Globalização Financeira........................................................................... 17

3.2 O Comportamento dos Investimentos........................................................................... 20

3.2 O Mercado de Capitais.................................................................................................. 21

3.4 Índices de Bolsa de Valores.......................................................................................... 23

3.5 A Influência dos Ciclos Econômicos nos Mercados..................................................... 26

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DAS EMPRESAS............ 32

4.1 Introdução a Análise Fundamentalista.......................................................................... 32

4.2 Análise de Balanços...................................................................................................... 34

4.3 Análise Setorial............................................................................................................. 37

4.4 A Estrutura das Demonstrações Financeiras................................................................. 39

4.4.1 Balanço Patrimonial................................................................................................... 40

4.4.2 Demonstração do Resultado de Exercício (DRE).................................................... 43

4.4.3 Análise Vertical e Horizontal.................................................................................... 44

4.5 Introdução a Análise por Índices................................................................................. 45

4.5.1 Índices de Liquidez.................................................................................................. 46

4.5.2 Índices de Alavancagem de Capital......................................................................... 48

4.5.3 Índices de Atividade................................................................................................ 49

4.5.4 Índices de Rentabilidade.......................................................................................... 51

4.5.5 Índices de Mercado.................................................................................................. 53

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 59

Page 9: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

INTRODUÇÃO

As finanças empresariais representam uma das áreas da engenharia econômica que

mais profunda evolução sofreu nos últimos anos. Instrumentos financeiros foram

desenvolvidos à medida que novos métodos de avaliação de ativos foram criados. O livre

fluxo de capitais do sistema capitalista global proporcionou grandes avanços na teoria

econômica.

Uma das principais conseqüências deste forte ritmo de inovação é a permanente

atualização dos profissionais corporativos. Esta resulta não apenas das rápidas mudanças nos

mercados financeiros e instituições, mas, sobretudo do desenvolvimento das bases teóricas

essenciais exigidas para a qualificação profissional, quer para o processo de tomada de

decisões estratégicas nas organizações, quer para assegurar a auto-realização financeira.

O aperfeiçoamento de conhecimentos avançados do mercado financeiro proporciona

a aplicação em contexto profissional dos mais recentes conceitos, instrumentos e técnicas para

o planejamento estratégico. Dentro do extenso mundo dos ativos financeiros, o entendimento

dos métodos de análise fundamentalista para escolha de ações de empresas de capital aberto,

negociadas na bolsa de valores e títulos imobiliários, proporciona o desenvolvimento da

percepção crítica dos fatores que influenciam o comportamento das empresas e as estratégias

para preservação ou maximização do capital frente às forças do mercado.

A consolidação da atual sociedade globalizada alterou significativamente os padrões

da economia mundial. Atualmente, os fatores indispensáveis para a sobrevivência das

atividades industriais e a expansão de mercados, não mais baseia-se essencialmente na alta

qualidade dos produtos/serviços, o menor custo de processamento e a garantia de satisfação

dos clientes.

Os mercados financeiros internacionais exercem hoje uma forte influência no

crescimento industrial das organizações, definindo a intensidade do desenvolvimento

Page 10: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

9

econômico de um país. A sobrevivência e a expansão das organizações dependem das forças

dominantes do mercado. Os fatores macroeconômicos, tais como: taxa de juros, preços dos

ativos financeiros (ações, índices, moedas, comoditties, etc.), índices de inflação, entre outros;

decidem a lucratividade e viabilidade econômica dos negócios empresariais.

O modelo recente do sistema capitalista global caracteriza-se pela alta mobilidade de

capitais. Esse sistema torna-se muito favorável ao capital financeiro, cuja liberdade sobrepõe

às fronteiras geográficas. Dessa forma, os países disputam entre si, de modo, a captar e a reter

os recursos financeiros dos investidores.

No capitalismo moderno, o mercado financeiro assume ainda mais a importante

função na geração de recursos para o investimento industrial. Em especial, no Brasil, apesar

da lei do mercado de capitais (4728/65) que estabelece as normas e os regulamentos básicos

para a estruturação de um sistema de investimentos destinado a apoiar o desenvolvimento

nacional e a atender a demanda de crédito ter sido promulgada há muitas décadas, ainda é

possível vislumbrar uma gama de oportunidades de geração de valor para as organizações.

Durante este trabalho, apresentam-se uma abordagem aos conceitos utilizados no

mercado financeiro, focando o funcionamento dos mercados globais e a interdependência

financeira internacional, os aspectos de normatização do mercado financeiro globalizado,

além de demonstrar as forças que interferem no comportamento dos preços dos ativos das

ações. Através da utilização de dados históricos, representados graficamente, identifica-se a

ocorrência de ciclos econômicos e aspectos estruturais de um país, que afetam positiva ou

negativamente os resultados das empresas.

Em especial, a análise fundamentalista, um dos métodos tradicionais de avaliação do

comportamento das ações, demonstra a existência de ferramentas de previsão que tem como

objetivo, o auxílio em qualquer processo decisório diante das incertezas que permeiam a

tomada de decisões de investimento.

Page 11: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

10

Em seguida, apresentam-se os conceitos mais relevantes relacionados à análise

fundamentalista: a análise de balanços, a estrutura das demonstrações financeiras, os índices

de liquidez, alavancagem de capital, índices de atividade e rentabilidade.

A pesquisa também tem como objetivo discutir também os índices utilizados pelo

mercado financeiro, a partir da análise dos fundamentos das empresas. A compreensão de tais

fatores pode contribuir com o objetivo financeiro de uma empresa de maximização do valor

do acionista e com o conceito de proteção de capital diante dos fatores macroeconômicos.

De forma geral, esta monografia busca tecer considerações sobre a teoria e conceito

do mercado financeiro, abordando a análise fundamentalista, seus principais conceitos e

utilizações; além disso, pesquisar sua aplicação como metodologia de análise de

investimentos em ambientes de grande volatilidade, visando capturar o valor advindo da

incerteza que permeia tais ambientes.

A metodologia aplicada no desenvolvimento desta monografia teve uma abordagem

nos métodos dedutivos e indutivos. Na pesquisa bibliográfica, foi utilizado o método

dedutivo, de forma a alcançar um denominador comum entre os autores; ao passo que o

método indutivo foi predominantemente utilizado para a obtenção de dados e informações do

mercado de capitais, através de sites especializados.

O trabalho foi desenvolvido basicamente através de pesquisa bibliográfica que

comprova a influência dos fatores macroeconômicos sobre o desempenho do mercado de

capitais.

Page 12: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO AO MERCADO FINANCEIRO

A conjuntura atual da sociedade globalizada promove um modelo de sistema

capitalista que se caracteriza não somente pelo livre comércio de bens e serviços, mas ainda

pelo livre fluxo de capitais.

As complexas forças do mercado financeiro internacional ditam as diretrizes da

economia mundial, gerando instabilidade ou prosperidade no foco econômico ou político dos

países. De acordo com Soros (2001, p. 175):

“por ser ainda mais volátil que o investimento físico, o capital financeiro ocupa uma posição privilegiada: pode evitar os países em que seja submetida a regulamentações ou tributações onerosas. Uma vez construída uma fábrica, é difícil tirá-la do lugar. As corporações multinacionais, sem dúvida, desfrutam da flexibilidade dos preços de transferência e são capazes de exercer pressões no momento da decisão sobre o investimento, mas sua maleabilidade não se comparara à liberdade de escolha dos investidores em carteiras internacionais. A gama de oportunidades de investimento disponíveis também se dilata pela localização no centro da economia global, em vez de na periferia. Todos esses fatores se conjugam para atrair o capital para os centros financeiros e distribuí-lo pelos mercados financeiros. Esse é o motivo pelo qual eles desempenham um papel tão dominante no mundo de hoje, e por que sua influência vem crescendo com tanta rapidez”.

A estrutura do mercado financeiro Brasileiro evolui de modo, a atender a demanda

do capitalismo global. No QUADRO 01, destacam-se algumas leis que regulamentam o

mercado financeiro.

Page 13: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

12

DESCRIÇÃO DA LEI APLICAÇÕES

Lei do Mercado de Capitais (4.728/65)

Estabelecidas normas e regulamentos básicos para a

estruturação de um sistema de investimentos

destinado a apoiar o desenvolvimento nacional e

atender à crescente demanda por crédito.

Lei da CVM – (6.385/76)

Criada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM),

transferindo do banco Central a responsabilidade

pela regulamentação e fiscalização das atividades

relacionadas ao mercado de valores mobiliários

(ações, debêntures, etc.).

Lei das S/A – (6.404/76)

Estabelecidas regras claras quanto às características,

forma de constituição, composição acionária,

estrutura de demonstrações financeiras, obrigações

societárias, direitos e obrigações de acionistas e

órgãos estatutários e legais.

QUADRO 01 – DESCRIÇÃO DAS LEIS DE REGULAMENTAÇÃO DO MERCADO FINANCEIRO -

FONTE: Elaborado pelo Autor.

O mercado financeiro proporciona aos investidores, a possibilidade de aplicação dos

recursos financeiros em produtos e serviços com características próprias que atendam as

expectativas (segurança ou risco). Títulos Públicos Federais, Títulos de Renda Fixa, CDB’s e

RDB’s, Fundos Mútuos de Investimento (Ações, Imóveis, Debêntures, etc.) e Poupança são

algumas das ofertas desse mercado.

Além disso, o mercado de capitais torna-se fundamental para o desenvolvimento das

empresas e do país. A expansão das organizações é promovida por um segmento de capital

intensivo, isto é, que precisa de investimentos constantes.

Por essa razão, muitas empresas optam pela abertura do capital na Bolsa de Valores,

que além do crescimento diretamente relacionado à captação de dinheiro a um custo mais

adequado, ainda existem diversas outras vantagens.

Page 14: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

13

A melhoria da imagem institucional em uma empresa aberta é vista com outros

olhos por seus parceiros comerciais e financeiros, nacionais ou estrangeiros, e na própria

imprensa especializada. A exigência de transparência e confiabilidade das informações facilita

os negócios e também atrai o investidor, que se sente mais seguro em colocar seu dinheiro nos

papéis da empresa. Além disso, a companhia acaba ganhando reconhecimento além de seu

setor e consegue uma visibilidade maior no mercado, dentro e até fora do país.

Por outro lado, quando as ações das empresas abertas são negociadas em bolsas com

facilidade, os acionistas aumentam a liquidez de seu patrimônio, isto é, a possibilidade de

converter seus bens em dinheiro. E essa liquidez tende a aumentar com o passar do tempo

devido ao aumento no número de compradores. E, quanto maior a liquidez, mais altos são os

preços das ações e, conseqüentemente, menor o custo de capital para a empresa.

Page 15: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

CAPÍTULO 2

NORMATIZAÇÃO NO MERCADO FINANCEIRO GLOBALIZADO

A grande transformação ocorrida no mercado financeiro globalizado proporciona

novas oportunidades de desenvolvimento industrial, ao passo que também é crescente o

potencial de crise e instabilidade financeira. Grandes desafios são enfrentados no sentido de

definir e criar regulamentos adequados de mercado visando principalmente à proteção dos

investidores, como também assegurar que os riscos serão conhecidos, para que seja possível a

criação de estratégias de gestão dos riscos pelos participantes do mercado.

Segundo Suen, Kimura, Imori e Nonaka (1996), os argumentos que realçam a

necessidade de se normatizar o setor financeiro, referem-se às questões relacionadas à

proteção do consumidor, ao risco moral e a questão do risco sistêmico.

O primeiro argumento parte do princípio de que os riscos do pequeno e médio

investidor não devem ser os mesmos de grandes investidores e instituições financeiras, visto

que não são oferecidas formas eficazes de monitoria do risco de seus investimentos.

Com o objetivo de se fornecer uma segurança financeira adequada a esses

investidores, destacam-se a necessidade de criação de mecanismos de compensação dos

investidores no caso de falência de instituições financeiras, normas estabelecidas para níveis

de alavancagem de fundos mútuos, bem como, o desenvolvimento de programas de incentivo

para a reestruturação e melhoria do segmento de instituições financeiras.

Em especial, no Brasil, observam-se a níveis bem modestos a aplicação de algumas

questões relacionadas à proteção do investidor, por exemplo, a garantia de proteção até o

valor de R$ 20.000,00 no caso de falências de instituições e/ou fundos mútuos.

O risco moral envolve a implementação de regulamentos de forma a minimizar o

investimento com riscos excessivos, apresentando perdas potenciais altas para o grupo de

Page 16: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

15

investidores. Esse fato geraria uma eventual redução dos retornos sobre investimentos, no

entanto, proporcionaria um ambiente estável e favorável à gestão dos riscos.

Devido à forte interdependência financeira mundial, as instituições financeiras

apresentam um forte vínculo umas às outras, visto que os recursos financeiros são objetos de

transações entre si. Dessa forma, um eventual colapso em uma determinada instituição

promoveria um impacto em todo o sistema financeiro, gerando uma iniciativa de resgate em

massa por parte dos consumidores e conseqüentemente uma grave recessão no sistema

financeiro.

Em especial, o ano de 2008, é marcado por uma crise mundial nos mercados de

ações, de crédito e de câmbio, com efeitos ao comércio, aos empregos e a economia global.

Sua origem relaciona-se com a supervalorização dos imóveis nos Estados Unidos e a

abundância de crédito para financiamento imobiliário fornecido pelas instituições financeiras,

tendo garantias vinculadas ao valor futuro dos imóveis.

Em busca de retornos mais elevados, os financiamentos se tornaram acessíveis até

clientes de altíssimo risco (subprime), com renda, documentação e garantias insuficientes.

Com o objetivo de alavancar os recursos, as instituições financeiras venderam títulos no

mercado que pagavam a seus compradores juros compatíveis com os juros elevados cobrados

dos mutuários de alto risco.

Porém, em função da desaceleração da economia americana, provocada pelo

aumento das taxas de juros, política monetária para combate a inflação, a valorização dos

imóveis foi interrompida e deu-se início a uma onda de inadimplência generalizada, resultado

em fortes perdas dos títulos emitidos pelas instituições e conseqüente risco de falência.

Em função dessa incerteza, de forma geral, os investidores se desfazem das ações e

migram para outros investimentos considerados mais seguros, reduzindo a oferta monetária

no mercado e levando a contração da economia, com potencial risco de recessão.

Page 17: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

16

Desse modo, a abordagem aos efeitos do risco sistêmico tem sido um forte

argumento para o estabelecimento de uma regulamentação financeira, que estabeleceria uma

forma de proteção dos sistemas financeiros da probabilidade de colapso.

Com a expansão da globalização dos mercados financeiros, tornam-se

imprescindíveis o estabelecimento de regulamentos entre centros financeiros, fornecendo uma

transparência maior na gestão dos riscos do mercado. Conforme Suen, Kimura, Imori e

Nonaka (1996, p.05):

“A tendência do mercado, tanto dos regulamentadores quanto investidores e acionistas, será, num futuro não muito distante, a exigência tanto dos relatórios usuais de resultados da empresa como também de relatórios gerenciais de riscos assumidos no período...”.

Desse modo, as tentativas do próprio mercado constituir essas regras para auto-

proteção devem ser amplamente discutidas a nível governamental e mundial, de forma a se

prevenir contra colapsos financeiros tão presentes na história moderna.

Page 18: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

CAPÍTULO 3

A INTERDEPÊNDENCIA FINANCEIRA DOS MERCADOS

3.1 – HISTÓRICO DA GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA

As relações econômicas contemporâneas apresentam uma característica de forte

interdependência entre os mercados. A vulnerabilidade econômica afeta a todos os países,

especialmente, os países menos desenvolvidos. Esses países se tornam mais frágeis em

virtude da necessidade de captação dos recursos financeiros internacionais para o

financiamento dos déficits internos e externos. Além disso, a exposição financeira dos países

possibilita os ataques especulativos dos investidores internacionais, colocando em risco a

estabilidade da economia.

O processo de globalização teve como origem os fatos que sucederam à Segunda

Guerra Mundial, marcado pela redução das barreiras ao comércio internacional. Em 1944, os

países aliados reuniram-se na cidade de Bretton Woods nos Estados Unidos da América, com

o objetivo de estabelecer medidas concretas para a criação de um sistema para assegurar a

liquidez internacional. Dentre tais medidas, incluía-se a instituição do Fundo Monetário

Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a reconstrução e o desenvolvimento

econômico (World Bank).

Segundo Carvalho e Silva (2004), a instituição do Fundo Monetário Internacional

(FMI) tornou o dólar norte americano a principal fonte de reservas dos vários países, gerando

a acumulação de dólares americanos fora do país de origem. Este conceito de “Paridade

Monetária” visava à contribuição para a estabilidade financeira e econômica do mundo, de

modo a evitar grandes flutuações no câmbio.

Page 19: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

18

Qualquer medida de desvalorização da moeda do país dependeria da aprovação do

FMI, que concederia quando realmente necessária. Isto evitaria as guerras comerciais

decorrentes da desvalorização da moeda e as formas predatórias de se conquistar os mercados

externos. O mercado seria disputado com o produto gerado e não com as manobras

monetárias.

No entanto, conforme Maia (2003), o dólar enfrentava um processo de perda de

confiança dos vários países, em razão dos seguintes fatos:

• Déficit interno sucessivos nos balanços de pagamento dos Estados Unidos,

• A guerra do Vietnã e os programas sociais do Governo Americano

desestabilizaram a economia,

• Em 1970, em decorrência das maiores taxas de juros praticadas na Europa,

ocorreu a migração dos investimentos de diversos países para a Europa.

Diante disso, os mercados mundiais acreditavam na iminente desvalorização da

moeda americana. Este fato proporcionou uma crescente substituição das reservas dos países

em dólar por ouro, e outras moedas européias.

No entanto, em conseqüência dos acordos estabelecidos em Bretton Woods, os

bancos centrais dos países eram obrigados a sustentar a paridade monetária, através da

intervenção na compra ou venda da moeda para manter a estabilidade do dólar. Entretanto, os

bancos centrais da Alemanha e da Holanda quebraram as regras de Bretton Woods e deixaram

suas moedas flutuarem, gerando as primeiras crises do sistema capitalista global em meados

dos anos setenta.

Seguiu-se a esses acontecimentos, a crise do petróleo em 1973, o que provocou uma

forte expansão da liquidez internacional, resultando no aumento dos preços da comodities.

Page 20: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

19

Isto resultou no endividamento dos países do terceiro mundo, ocasionando um processo de

tomada de créditos nos Bancos comerciais.

As taxas de juros dos empréstimos feitos aos Bancos centrais eram de formas

flutuantes e constantemente repactuadas periodicamente, o que em virtude da alta liquidez da

comodities não trazia maiores preocupações.

Contudo, ao fim dos anos setenta, os Estados Unidos optaram por uma política de

combate ao processo inflacionário, elevando as taxas referenciais de juros. Isto resultou em

uma forte captação de recursos financeiros, gerando a brusca redução da liquidez das

commodities, de forma que a dívida externa dos países devedores tornasse praticamente

impagável. O problema se agravou em 1982, quando o México declarou sua incapacidade em

honrar os compromissos assumidos, iniciando a crise da dívida externa do Terceiro Mundo.

Em especial, diversos países, como o Brasil, sofreram os efeitos da crise da dívida

externa, enfrentando enormes dificuldades para a estabilização da economia associada ao

crescimento industrial.

Além disso, o mundo enfrenta sérios desajustes sociais e econômicos. Os países em

desenvolvimento, no entanto, são os mais vulneráveis a choques externos, problemas que vem

se tornando cada vez mais traumático frente ao livre fluxo de capitais.

De acordo com Carvalho e Silva (2004, p. 260):

“Com o objetivo de aumentar a rentabilidade dos capitais, os investidores aceitam riscos elevados. No entanto, como as informações são falhas, um acontecimento qualquer pode reverter as expectativas quanto à lucratividade dos capitais investidos. Assim, até um determinado momento, um país pode ser visto como promissor e, de uma hora para outra, ser transformado em uma péssima opção para aplicações financeiras. Isso aconteceu, por exemplo, com o México em 1994, os tigres asiáticos em julho de 1997, e com o Brasil no final de 1998”.

Para promover a atratividade dos investidores financeiros internacionais, as nações

em desenvolvimento são levadas a implantar diversos planos de ajustes, envolvendo o

estabelecimento de políticas públicas, controle sobre a dívida interna e externa, necessidade

Page 21: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

20

de estabelecer um superávit na balança comercial, controle de inflação e taxa de juros, etc.

Tais planos, embora muito suscetíveis a falhas, são essenciais para promover o

desenvolvimento e o crescimento sustentável da economia.

Embora ainda detenham o poder de interferir na economia, os governos tornaram-se

cada vez mais suscetíveis às forças da competição global. Se um governo impuser condições

desfavoráveis ao capital, este abandonará o país. Assim, o sistema capitalista global consiste

em muitos Estados soberanos, cada qual com suas próprias políticas, mas todos sujeitos à

competição internacional, não apenas no comércio, mas também no capital.

3.2 – O COMPORTAMENTO DOS INVESTIMENTOS

O mercado financeiro internacional caracterizado pela forte interdependência

financeira causou profundas transformações, não apenas no comportamento das nações, mas

também, nos agentes econômicos internos e investidores.

Na transferência dos recursos financeiros, quanto maior o retorno sobre o capital

excedente, maior o risco, de modo que o investidor estrangeiro se retrai diante da perspectiva

de que os rumos da economia de um país são alarmantes. Essa situação pode ser de natureza

econômica, ou política, por exemplo, queda dos volumes de exportação, vitória eleitoral de

um partido político contrário aos interesses dos investidores. Devido às incertezas do cenário

econômico ou político, a cotação dos papéis da dívida externa do país cai, elevando assim, a

taxa de risco do país.

Com o objetivo de se reduzir os riscos das aplicações financeiras, foram criados

mecanismos financeiros, como por exemplo, os mercados futuros, swaps (contrato de troca de

pagamentos periódicos com uma contraparte) e o mercado de derivativos; bem como

estabelecidas agências internacionais para a classificação dos riscos de um país. Embora esses

Page 22: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

21

instrumentos tenham como função reduzir os riscos para o investidor ou agente financeiro,

ampliam o risco macroeconômico.

Os derivativos, em particular, foram criados com o propósito de aumentar a

segurança dos investimentos frente aos riscos de variação do preço dos ativos, sob o foco do

ponto de vista microeconômico (setorial). Entretanto, acabaram por se transformar no maior

instrumento de especulação financeira, com alto risco aos países menos desenvolvidos e a

prosperidade da economia mundial.

3.3 – O MERCADO DE CAPITAIS

O investimento financeiro é diferenciado do investimento de capital, pelo fato de

que o retorno do investimento financeiro é geralmente definido contratualmente em termos de

prazos e valores. Por outro lado, no mercado de capitais, o investimento é feito em ativos que

normalmente integram o capital próprio de uma empresa.

Diferente do investimento financeiro, o investimento de capital não tem uma data

programada de resgate e não pode oferecer uma remuneração previamente definida. No

entanto, não seria interessante para um investidor assumir posições no mercado sem liquidez.

Dessa forma, para satisfazer uma eventual necessidade de resgate por parte do investidor de

capital, os direitos sobre o negócio podem ser transferidos a outros investidores desejosos de

assumir os riscos e benefícios do negócio. Assim, a finalidade da aplicação, a variabilidade do

rendimento e a forma de reembolso são fatores específicos que caracterizam o mercado de

capitais.

As bolsas de valores são as principais instituições encarregadas de promover as

transferências do ativo entre investidores, fornecendo liquidez aos investimentos. O mercado

Page 23: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

22

de capitais abrange a oferta e procura pelos investimentos de capital primário e pelas

transferências secundárias daqueles investimentos.

O mercado primário refere-se, portanto, às aplicações diretas na atividade produtiva,

por exemplo, compra de novas ações pelo investidor quando do aumento de capital de uma

empresa em expansão.

No mercado secundário são realizadas as transferências entre investidores dos

direitos sobre estes investimentos. Outro ambiente típico de mercado secundário é o chamado

mercado de balcão. São negociações de compra e venda de ações fora das bolsas,

normalmente promovido por corretoras especializadas nesta área. O mercado de balcão é mais

apropriado para empresas de pequeno e médio porte, cujas ações não são bem conhecidas ou

que não tem volume de negociação que justifique sua movimentação através de uma bolsa de

valores.

As bolsas de valores são sociedades civis, de direito privado, sem fins lucrativos,

exercendo relevante atividade de interesse público e de importante significado econômico. Os

investidores que operam na bolsa o fazem por intermédio de suas sociedades corretoras das

quais são clientes. As corretoras cobram de seus clientes uma corretagem sobre o volume

financeiro das operações de compra/venda.

A função econômica das bolsas é prover liquidez dos títulos e valores mobiliários,

criando condições de negociação e, em conseqüência, viabilizando o mercado primário destes

títulos.

A característica do mercado de capitais é a participação do investidor no risco do

negócio ou em financiamentos de longo prazo voltados para a formação de ativos fixos nas

empresas e cujas garantias dependam fundamentalmente do retorno dos referidos ativos.

De acordo com Assaf Neto (2005), o mercado de capitais abrange ações, debêntures,

bônus de subscrição, outros valores imobiliários e financiamentos de longo prazo destinados à

Page 24: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

23

formação do patrimônio produtivo das empresas, tal como os financiamentos de projetos do

BNDES e do FINAME.

3.4 – ÍNDICES DE BOLSA DE VALORES

O desempenho do mercado de capitais é mensurado com base nos índices de Bolsa

de Valores, que representam os preços de uma suposta carteira de ações das empresas em um

determinado intervalo de tempo. Para os analistas, o que interessa, não é o valor absoluto do

índice, mas, as variações verificadas de um período para outro, entendidas como sua

rentabilidade. Desse modo, a informação relevante do índice é sua rentabilidade, e não o seu

valor monetário absoluto.

Os índices são compostos de ações com maior liquidez, que expressem de forma

mais precisa, o comportamento do mercado e a sensibilidade às oscilações nos preços de

negociação. Visto que os preços das ações seguem geralmente a mesma tendência apresentada

pelo mercado, o índice de bolsa de valores é utilizado para o estudo do comportamento do

mercado.

De uma forma geral, a composição da carteira deve priorizar as ações que tenham

maior representatividade no volume de negócios realizados na Bolsa. A cada ação selecionada

para compor o índice, é atribuído um peso, representando a sua importância no volume de

operações.

Em geral, uma parte considerável das flutuações das ações pode ser explicada pela

evolução do mercado, o que vem a refletir-se no índice da Bolsa de Valores. Além disso, o

índice do mercado de capitais reflete o comportamento dos investimentos em ações, e

conseqüentemente a tendência geral da economia. Por meio de suas variações periódicas, é

Page 25: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

24

possível distinguir certos ciclos que caracterizam o funcionamento da economia, formando as

expectativas dos investidores com relação a seu comportamento esperado.

No Brasil, o IBOVESPA (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo) é o mais

importante indicador do desempenho dos preços das ações negociadas no mercado de capitais.

O IBOVESPA foi criado em 1968, a partir de uma carteira teórica de ações, expressa em

pontos.

O objetivo básico do IBOVESPA é refletir o desempenho médio dos negócios a vista

ocorrida nos pregões da Bolsa de Valores de São Paulo. A carteira teórica do índice procura

retratar, da melhor forma possível, o perfil dos negócios realizados na BOVESPA (Bolsa de

Valores de São Paulo). É considerado um indicador do retorno total das ações que o

compõem, apurando não somente as variações dos preços, mas também a distribuição dos

proventos por parte das empresas.

Com o objetivo de atualizar a amostra, tornando-a mais representativa do mercado,

periodicamente a Bolsa de Valores procede à atualização de sua hipotética carteira de ações

teórica, incluindo os papéis mais representativos do último período e excluindo aqueles com

menor participação. O QUADRO 02 apresenta as ações que compõe o índice teórico do

IBOVESPA e a sua respectiva participação nas negociações.

Código Ação Tipo Qtde. Teórica (1) Part.(%) (2)

ALLL11 ALL AMER LAT UNT N2 43,08258045000 1,459

AMBV4 AMBEV PN 6,15897643658 1,110

ARCZ6 ARACRUZ PNB N1 46,75721178905 0,753

BTOW3 B2W VAREJO ON NM 9,57336407525 1,000

BVMF3 BMF BOVESPA ON EDJ NM 176,54285380307 3,944

BBDC4 BRADESCO PN N1 65,98925551740 3,550

BRAP4 BRADESPAR PN N1 22,87258387597 1,339

BBAS3 BRASIL ON NM 57,18070007501 2,443

BRTP3 BRASIL T PAR ON N1 3,01238773911 0,291

BRTP4 BRASIL T PAR PN N1 11,80091928155 0,445

BRTO4 BRASIL TELEC PN N1 14,02258377344 0,422

BRKM5 BRASKEM PNA N1 31,79378460914 0,667

CCRO3 CCR RODOVIAS ON NM 12,62217557907 0,676

CLSC6 CELESC PNB N2 1,68234984953 0,136

CMIG4 CEMIG PN N1 25,53637758069 1,614

CESP6 CESP PNB N1 28,85641461635 1,354

Page 26: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

25

CGAS5 COMGAS PNA 1,78302725995 0,137

CPLE6 COPEL PNB N1 14,05554275557 0,707

CSAN3 COSAN ON NM 15,70989635013 0,733

CPFE3 CPFL ENERGIA ON NM 9,01962387736 0,551

CYRE3 CYRELA REALT ON NM 33,96883273181 1,250

DURA4 DURATEX PN N1 14,19519199260 0,712

ELET3 ELETROBRAS ON N1 16,40510217482 0,869

ELET6 ELETROBRAS PNB N1 20,66603276720 0,929

ELPL6 ELETROPAULO PNB N2 12,79970181910 0,694

EMBR3 EMBRAER ON NM 28,90637129981 0,718

GFSA3 GAFISA ON NM 23,37661569156 0,980

GGBR4 GERDAU PN N1 51,97635892846 2,866

GOAU4 GERDAU MET PN N1 11,66562997323 0,869

GOLL4 GOL PN N2 37,55591373458 0,989

ITAU4 ITAUBANCO PN ED N1 57,83151072359 3,193

ITSA4 ITAUSA PN N1 134,91768863853 2,309

JBSS3 JBS ON NM 48,97555582422 0,583

KLBN4 KLABIN S/A PN N1 44,24342345995 0,398

LIGT3 LIGHT S/A ON NM 5,62962310415 0,232

LAME4 LOJAS AMERIC PN INT 68,44483941846 1,270

LREN3 LOJAS RENNER ON NM 18,05469025553 0,957

NATU3 NATURA ON NM 21,17462642279 0,722

NETC4 NET PN N2 37,01268012474 1,250

BNCA3 NOSSA CAIXA ON NM 4,85047034103 0,341

PCAR4 P.ACUCAR-CBD PN N1 10,15278534224 0,618

PRGA3 PERDIGAO S/A ON NM 13,64798676208 1,000

PETR3 PETROBRAS ON 36,82232144968 2,821

PETR4 PETROBRAS PN 245,48750518047 15,387

RDCD3 REDECARD ON NM 16,66688357442 0,869

RSID3 ROSSI RESID ON NM 32,39040245029 0,582

SBSP3 SABESP ON NM 6,56830965202 0,435

SDIA4 SADIA S/A PN N1 53,76144176861 1,040

CSNA3 SID NACIONAL ON ED 32,17904964132 3,265

CRUZ3 SOUZA CRUZ ON 6,06859685656 0,465

TAMM4 TAM S/A PN N2 14,09620057857 0,818

TNLP3 TELEMAR ON EJ 6,45478372074 0,464

TNLP4 TELEMAR PN EJ 17,31920976507 1,180

TMAR5 TELEMAR N L PNA 1,63267967418 0,249

TLPP4 TELESP PN 2,28089053902 0,190

TCSL3 TIM PART S/A ON 21,74051431732 0,236

TCSL4 TIM PART S/A PN 126,54295170287 0,816

TRPL4 TRAN PAULIST PN N1 4,06111825629 0,336

UGPA4 ULTRAPAR PN N1 3,87068564846 0,407

UBBR11 UNIBANCO UNT N1 69,97074691479 2,427

USIM3 USIMINAS ON EDJ N1 5,61082961894 0,565

USIM5 USIMINAS PNA EDJ N1 29,55026535678 3,036

VCPA4 V C P PN N1 10,90252816278 0,684

VALE3 VALE R DOCE ON N1 41,89391541015 3,271

VALE5 VALE R DOCE PNA N1 185,19456246870 12,639

VIVO4 VIVO PN 48,99869034772 0,741

Quantidade Teórica Total 2.334,56932388045 100,000

QUADRO 02 – CARTEIRA TEÓRICA DO IBOVESPA PARA SETEMBRO A DEZEMBRO DE 2008 -

FONTE: BOVESPA (www.bovespa.com.br).

Page 27: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

26

O IBOVESPA é apurado em tempo real, considerando os negócios realizados com

ações no mercado à vista, de forma instantânea e com divulgação online. Conforme Assaf

Neto (2005), o valor em pontos publicado pelo IBOVESPA é determinado pelo produto da

quantidade de cada ação que compõem a sua carteira técnica, e o seu respectivo preço de

mercado.

3.5 – A INFLUÊNCIA DOS CICLOS ECONÔMICOS NOS MERCADOS

Conforme Maia (2003, p. 443), toda a atividade econômica quer mundial ou

nacional, sempre oscila em períodos denominados de prosperidade, recessão, depressão,

recuperação e novamente prosperidade.

Na fase de prosperidade econômica, as empresas tendem a manter seus fundamentos

bem consistentes, refletindo nos preços dos ativos no mercado de capitais. Nessa fase, as

vendas são crescentes, com uma margem de contribuição lucrativa, onde os preços e salários

tendem a se elevar, gerando um otimismo generalizado.

Por outro lado, no período de recessão, a economia cresce em um ritmo menor,

provocando uma desaceleração da produção, gerando desemprego e impacto na lucratividade

das empresas. De acordo com Maia (2003, p. 443):

“Durante o período de prosperidade, as empresas mantêm estoques elevados de matéria-prima ou de produtos acabados. Em determinando momento surge a preocupação de reduzi-los; com isso, diminuem os pedidos de compra. A atividade industrial cai; há necessidade de racionalizar despesas (enxugar custos), motivos por que muitos trabalhadores são dispensados. O trabalhador desempregado precisa reduzir seus gastos, o que traz como efeito: menos vendas, menos produção e menos empregos. Os preços e os lucros caem. Os bancos, agindo com cautela, passam a restringir o crédito, o que ajuda também a reduzir a produção”.

O conceito de ciclos econômicos, especialmente os ciclos de longa duração ou de

séculos, tornou-se objeto no estudo de um dos pioneiros da economia mundial por Nicolai D.

Page 28: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

27

Kondratieff, ficando conhecido como ciclos Kondratieff. As principais características desses

ciclos são apresentadas no QUADRO 03.

CARACTERÍSTICAS DOS

CICLOS KONDRATIEFF

� Ciclos de expansão em função dos investimentos em bens de capital.

� Ciclos de declínio em função da depreciação em infra-estrutura do país (ferrovias,

portos, canais, indústrias, saneamento Básico, edificações, eletrificação, etc.).

� Ciclos de longa duração provenientes de Modificações Técnicas, guerras e revoluções,

imersão de países na economia mundial e flutuações na produção do ouro.

� Período de duração dos ciclos em média de 50 anos.

QUADRO 03 – DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS CICLOS DE KONDRATIEFF - FONTE:

Elaborado pelo Autor.

Os ciclos de pequena duração foram estudados por Joseph Kitchin, ficando

conhecidos como ciclos de Kitchin. As principais características desses ciclos são

apresentadas no QUADRO 04.

CARACTERÍSTICAS DOS

CICLOS KITCHIN

� Ciclos econômicos originários de causas aleatórias.

� Ciclos em função dos movimentos de flutuação de oferta e demanda.

� Ciclos de Caráter adaptativos e não por inovações.

� Período de duração dos ciclos em média de 02 a 04 anos.

QUADRO 04 – DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS CICLOS DE KITCHIN - FONTE:

Elaborado pelo Autor.

Page 29: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

28

Destacam-se, porém nos estudos sobre os ciclos, as teorias do economista John

Maynard Keynes, indicando que a razão entre os investimentos e a poupança define períodos

de ascensão ou declínio da economia, além disso, através da política de juros de um país

determina-se o fluxo monetário.

Uma redução na política de juros estimula o fluxo da poupança para os

investimentos, fortalecendo a atividade econômica, através do aumento do consumo,

produção e geração de empregos; ao passo que, taxa de juros maior incentiva à poupança,

reduzindo a atividade econômica de um país, promovendo indícios de recessão.

Entretanto, os ciclos econômicos não são exatamente iguais e desse modo, não são

passíveis de controle. As forças desses ciclos podem ser endógenas ou exógenas.

As forças endógenas são aquelas geradas dentro da empresa e dependem da estrutura

de produção e das decisões internas em assuntos como finanças, pessoal, matéria-prima,

marketing, tecnologia, planos de produção, sucessão e qualidade da administração. Resume-se

no planejamento estratégico da empresa, com o objetivo de gerar lucro.

A força interna da empresa pode estar alavancando ou em oposição à força externa

do mercado. Desta forma, o movimento efetivo dos preços das ações é a resultante entre os

dois vetores.

Por outro lado, as forças exógenas do mercado atuam sobre o ambiente global,

influenciando indistintamente todas as empresas. Nesse caso, destacam-se variáveis, como:

liquidez da economia taxa básica de juros, sistema cambial, inflação, legislação fiscal,

influências da economia internacional, nível de emprego e consumo, política econômica em

geral e, inclusive, o quadro político e social do país.

A crise da Bolsa de New York em 1929 tornou-se o exemplo clássico de uma

combinação duradoura de forças exógenas negativas, antecipadas por um clima de elevado

otimismo influenciando os níveis de cotação dos ativos. As forças exógenas negativas

Page 30: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

29

também foram marcantes na crise no México (1995), nos países asiáticos (1997-1999) e na

Rússia em meados de 1998.

A economia brasileira também sofreu o efeito das crises internacionais. A história da

trajetória dos preços das ações no Brasil passa por um período de aceleração a partir de 1968

que terminou num pico principal em 1971. Foram mais de doze anos de quedas influenciadas

pela crise do petróleo em 1973 e 1979 até Setembro de 1983. No ano de 1983 deu-se início a

uma grande tendência de alta que durou até o plano cruzado em 1986. Neste intervalo,

ocorreu também a volta da democracia e a eleição do presidente Tancredo Neves.

Em 1986, após o Plano Cruzado, os preços começaram a cair e em um ano e meio

havia reduzido o valor das ações brasileiras, queda essa que culminou com o crash na Bolsa

de New York ocorrida em 1987.

A tendência de alta que começou então, no final de 1987 e que testemunhou a

promulgação da constituição de 1988 e o Plano Verão em 1989. Durou apenas um ano e meio

até que o investidor Nagi Nahas desse um golpe que quase provocou um crash no mercado

financeiro brasileiro.

A maior de todas as tendências de alta do mercado de ações brasileiro foi iniciada

com o Plano Collor II em 1991, acelerada com o início da entrada dos investidores

estrangeiros em Novembro de 1991, teve uma grande correção após a eleição do Presidente

Fernando Henrique Cardoso em 1994, e houve uma queda posterior em função da crise do

México, cujo término se deu na crise Asiática em 1997.

Nesta mesma época, foi deflagrado o caso envolvendo a empresa Enron nos Estados

Unidos e a empresa de auditoria contábil Arthur Andersen, responsáveis pela falsificação dos

balanços contábeis da empresa negociada na bolsa de valores dos Estados Unidos,

apresentando lucros irreais. Tal fato gerou uma intensa desvalorização dos ativos dos

Page 31: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

30

mercados financeiros internacionais, provocado pela desconfiança generalizada dos

investidores.

Em 2008, os efeitos da crise imobiliária dos Estados Unidos refletem negativamente

no desempenho do mercado internacional, com grande potencial de risco de recessão mundial.

A história da trajetória dos preços das ações no Brasil de 1969 a 2001, bem como os

principais fatores exógenos influenciadores são demonstrados na FIGURA 01.

FIGURA 01 – A HISTÓRIA DOS PREÇOS DAS AÇÕES DE 1969 A 2001 (IBOVESPA INDEXADO AO

DOLAR COMERCIAL – GRÁFICO SEMANAL) - FONTE: BOTELHO (2003, pág. 05).

De acordo com a interpretação tradicional dos participantes do mercado acionário,

os preços das ações presumivelmente refletem os fundamentos das empresas participantes.

Porém, conforme Soros (2001, p.78), esta visão é equivocada, pois os preços de mercado

Page 32: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

31

geralmente não refletem os lucros, os balanços patrimoniais, nem os dividendos do ano

passado; antes, procuram antecipar o fluxo futuro de lucros, dividendos e valor dos ativos.

Segundo Botelho (2003), os preços dos ativos do mercado oscilam por diversas

razões:

• O conjunto de fatores fundamentais que influenciam o comportamento dos

participantes do mercado muda constantemente.

• Os participantes podem interpretar os mesmos conjuntos de fatores

fundamentais de forma diferente.

• O surgimento de um novo fator fundamental.

As oscilações de preços das ações no mercado podem também ser provocadas pela

movimentação de alguns grandes participantes do mercado, principalmente investidores

estrangeiros. Além disso, existem os investidores Insiders, ou seja, grandes investidores com

informações privilegiadas, os quais assumem posições de compra/venda das ações antes do

conhecimento dos fatores pelo público.

Page 33: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

CAPÍTULO 4

METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DAS EMPRESAS

4.1 – INTRODUÇÃO A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

A análise dos fundamentos do valor de um ativo tem como objetivo investigar as

causas que fazem com que os preços apresentem movimentos ascendentes ou descendentes.

Na análise fundamentalista, as informações utilizadas geralmente envolvem os

níveis futuros e previstos da atividade econômica nacional, setorial e da empresa, além de

considerações políticas que possam influenciar o comportamento de variáveis econômicas,

tanto a nível macro quanto micro, afetando as taxas de retorno esperadas e o grau de risco

associado.

Outro ponto de destaque na análise fundamentalista é a experiência da pessoa que

trabalha com essas informações, pois apesar de todo o cuidado que envolve a manipulação das

informações, qualquer modelo econômico está sujeito aos fatores exógenos que podem

inviabilizar as conclusões obtidas.

Os dados utilizados na análise de fundamentos estão relacionados à produção, ao

consumo, aos preços de venda dos produtos, aos custos industriais e inúmeras outras variáveis

macroeconômicas para a estimativa do retorno e risco, que justifique assumir uma posição na

compra das ações de uma determinada empresa.

O fundamentalista, além de estar constantemente informado sobre qualquer evento

que possa influenciar a empresa, a concorrência e a própria economia como um todo, utiliza

intensamente as informações contábeis da empresa, associados aos índices de desempenho

financeiro.

Page 34: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

33

O estudo dos indicadores financeiros tem como objetivo auxiliar o analista em uma

visão mais detalhada de uma série de aspectos da saúde financeira e operacional da empresa.

Weston e Brigham (2000) classificam os índices em quatro grandes classes:

• Índices de Liquidez

• Índices de Alavancagem de capital

• Índices de Atividade

• Índices de Rentabilidade

Os dois primeiros grupos estão relacionados com o risco empresarial e da concessão

de crédito, enquanto os índices de atividade e rentabilidade se relacionam mais com o retorno

sobre o capital.

Segundo Famá e Grava (2000), a análise da liquidez das empresas envolve a

compreensão de seus ativos e passivos de curto prazo, que mede a capacidade de um ativo

líquido ser vendido rapidamente sem que incorra em perdas significativas. Uma empresa com

baixa liquidez apresenta grandes riscos potenciais de inadimplência, podendo se transformar

em uma empresa insolvente. Por outro lado, a questão sobre quantos recursos manter sob a

forma de ativos líquidos tem reflexos diretos na estrutura do capital, podendo influenciar a

distribuição dos dividendos das ações.

Conforme Kiyosaki e Lechter (2002, p.347), através das demonstrações financeiras

de uma empresa torna-se possível determinar o quanto um negócio será lucrativo ou até que

ponto uma empresa está alavancada financeiramente, de forma a se obter o risco operacional

da empresa.

No entanto, os indicadores contábeis devem ser examinados em conjunto com a

situação do ramo de atividade, possibilitando uma forma de projeção dos resultados futuros

percebidos de forma diferente pelo mercado.

Page 35: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

34

As informações geradas pelas demonstrações contábeis devem propiciar aos seus

usuários, uma base segura para a tomada de decisões, dada pela compreensão do estado em

que se encontra a entidade, seu desempenho, sua evolução, riscos e oportunidades que

oferece. Visando garantir esses objetivos, os balanços divulgados pelas empresas de capital

aberto são devidamente auditados por auditores independentes com registro na Comissão de

Valores Imobiliários (CVM).

Na Bolsa de Valores, os investidores não podem comprar pelo valor contábil dos

ativos da empresa, sendo que somente podem comprar ações pelo preço de mercado. Para

analisar a subavaliação/super-avaliação dos preços das ações foram desenvolvidos índices de

mercado pelos analistas fundamentalistas.

Dentre as características da análise fundamentalista, destaca-se o tempo médio do

retorno do capital sobre o investimento. Geralmente, as análises são feitas levando-se em

consideração os resultados para um médio e longo prazo. Além disso, a análise fundamental é

consistente, coerente e racional, sendo apoiada por fatos concretos; mas também intuitiva e

subjetiva, pois envolve a interpretação do analista.

4.2 – ANÁLISE DE BALANÇOS

A utilização principal das técnicas de análise de balanços é a extração de

informações a partir das demonstrações financeiras para alimentação do processo de tomada

de decisões.

A análise de balanços preocupa-se com as demonstrações financeiras das quais

essas, precisam ser transformadas em informações para que se possa concluir como está a

administração da empresa, se tem condições de receber créditos financeiros, se há recursos ou

não para honrar seus compromissos assumidos perante terceiros, aspectos referentes à

Page 36: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

35

lucratividade, se os processos são eficientes ou ineficientes, ou seja, avaliar a continuidade

dos negócios ou riscos potenciais. Resumidamente, a análise de balanços produz as seguintes

informações:

• Situação Financeira

• Situação Econômica

• Desempenho

• Eficiência na alocação dos recursos

• Pontos fortes e fracos

• Tendências e perspectivas

• Quadro de evolução histórico

• Adequação das fontes às aplicações de recursos

• Causas das alterações na situação financeira

• Causas das alterações na rentabilidade

• Evidências de erros na administração

• Providências que deveriam ser tomadas e não foram

• Avaliação de alternativas econômico-financeiras futuras

O diagnóstico de uma empresa geralmente inicia-se após uma rigorosa análise de

balanços, tendo como finalidade determinar quais são os aspectos necessários para a solução

de problemas. Torna-se fundamental para quem pretende relacionar-se de uma forma com a

empresa.

Dentre os envolvidos, citam-se os fornecedores, os quais estão interessados em

conhecer a capacidade de pagamento de seus clientes, ou seja, sua liquidez e solvência. Os

clientes, por sua vez, analisam as informações de forma a se ter previsibilidade de um

fornecimento constante visando à segurança dos negócios.

Page 37: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

36

Para o fornecimento de créditos em curto prazo, para o financiamento das atividades

empresariais, os bancos comerciais observam a situação atual do cliente, buscando realizar

projeções a partir de informações históricas. Por sua vez, os bancos de investimento

necessitam da análise de balanços para que sejam rigorosamente calculados os riscos da

concessão do crédito.

Em função da alta competitividade, desencadeada principalmente pelo processo de

globalização, a análise de concorrentes pode ser determinantes como fator de sucesso ou de

fracasso da empresa no mercado.

As decisões de lançamento de novos produtos, penetração em novos mercados,

investimentos em imobilizados, por exemplo, a construção de uma nova fábrica, são decisões

muitas vezes tomadas em função da situação do balanço mostrado pelos concorrentes. Além

disso, é fundamental para a empresa saber qual é a sua posição em relação a seus concorrentes

e como se situa sua liquidez e rentabilidade.

De forma geral, para clientes e fornecedores, a análise de balanços proporciona bons

resultados na precisão de insolvência, evitando que fornecedores e clientes tenham enormes

prejuízos com empresas que vão à falência ou entram em concordata.

As sociedades de crédito imobiliário e o governo são ainda outros usuários

dependentes das informações geradas dos balanços. Tal análise por parte do governo é

utilizada intensamente em diversas situações, como: concorrências abertas, empresas

concessionárias de serviços públicos, setores da economia, etc.

Em especial, na análise fundamentalista, a análise de balanços é imprescindível,

pois, permite as decisões para o investimento em ações desta ou daquela empresa, sendo o

objetivo dos investidores, a maximização e preservação de seus investimentos.

Page 38: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

37

Entretanto, na análise de balanços, um fator principal consiste na comparação de

dados. A grande importância dos dados históricos é que através deles pode-se observar o

comportamento das demonstrações financeiras ao longo dos períodos em análise.

Por exemplo, o lucro de uma empresa em um determinado exercício não teria

significado se não pudesse ser comparado com os lucros obtidos no passado. Através da

análise histórica podem-se perceber as causas que levaram a empresa obter esse lucro, como

cresceu ou como diminuiu.

4.3 – ANÁLISE SETORIAL

A análise de balanços somente adquire consistência e objetividade quando esses são

comparados ao seu setor de atuação. A iniciativa por parte daqueles que se defronta com a

necessidade de análise de balanços e quer delas extrair alguma informação como desempenho

passado e principalmente fatores quanto a sua perspectiva futura, é realizar comparações.

Por exemplo, podem-se comparar o lucro líquido com o patrimônio líquido, o

investimento em imobilizados com o patrimônio líquido, ativo circulante com o passo

circulante, etc.

No entanto, a comparação do índice de uma empresa deve ser feita com as de outras

empresas de mesmo segmento ou setor de atuação, a fim de se ter uma melhor idéia do seu

desempenho em relações à média do setor a qual pertence. Segue-se alistado, alguns aspectos

importantes para uma análise setorial:

• Estrutura e Estágio de competição na Indústria (número de empresas que

participam do setor; componentes de cada empresa em termos de vendas,

ativo e patrimônio líquido; níveis de participação do mercado entre as

Page 39: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

38

empresas do segmento; subdivisão do setor; tendência para fusões e

diversificação fora do setor)

• A natureza e as perspectivas da demanda para produtos e serviços da

indústria (classificação da indústria: de crescimento, cíclica, defensiva ou em

estágio de maturidade; principais mercados e distribuição geográfica desses

mercados, inclusive exportações; determinantes da demanda; possibilidades

de crescimento da demanda em curto e longo prazo; existência de

sazonalidade de vendas)

• Comportamento dos custos e lucratividade (distribuição de custos do setor

entre custos diretos (mão de obra direta, matéria prima, etc.) e custos

indiretos de fabricação; percentual de aumento do custo de mão de obra e

produtividade; percentual de aumento dos preços dos produtos; capacidade

instalada e taxa de ocupação; necessidade de investimentos na planta

industrial visando o aumento da eficiência produtiva e competitividade;

existência de sazonalidade de compras de matérias-primas e de produção)

• Tecnologia e Pesquisa

Através da análise setorial é possível realizar projeções e definir tendências de curto

e médio prazo que permitem identificar fatores de riscos e oportunidades de negócios nos

mais diversos setores da economia. Dessa forma, a análise fundamentalista pressupõe que

haja uma interação entre a análise de balanços e a análise setorial.

Page 40: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

39

4.4 – A ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

As demonstrações financeiras possuem finalidades específicas embora todas tenham

uma finalidade comum, ou seja, resumir em um determinado momento os registros dos atos e

fatos praticados pela empresa dentro de um determinado período. Alguns desses períodos ou

momentos também são determinados por lei, outros, são definidos de acordo com o interesse

da própria organização.

Para as empresas com subscrição de capital social por ações, a lei da sociedade por

ações (6.404/76) estabelece que ao final de cada exercício, a diretoria providenciará com base

na escrituração contábil, demonstrações financeiras validadas por administradores e por

contabilistas legalmente habilitados.

As empresas com capital aberto, ou seja, que tenham as ações negociadas em bolsa

assume o compromisso de elaborar os relatórios de demonstrações trimestralmente e

disponibilizá-los ao público. Destacam-se os seguintes componentes dos relatórios:

• Relatório de administração (relatório que informa aos acionistas e terceiros

sobre fatos que se julgam importantes sobre diversos aspectos do

desempenho e perspectivas futuras da organização, relativo às estratégias de

vendas, compras, produtos, setor de atuação, efeitos conjunturais, resultados

alcançados, previsões e etc.)

• Demonstrações Financeiras (Balanço Patrimonial; Demonstração de

resultados; Mutações do Patrimônio líquido e Origem e aplicações de

recursos)

• Notas explicativas (são dados e informações que complementam as

demonstrações financeiras, como: contexto operacional da empresa,

principais práticas contábeis, taxa de juros, vencimentos e garantias de

Page 41: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

40

obrigações de longo prazo / financiamentos, avaliação de estoques,

depreciação e outras previsões, espécies de ações do capital social, eventos e

benefícios, etc. As notas explicativas contêm também um conjunto de

elementos que auxiliam o analista a fazer uma avaliação mais detalhada da

empresa).

As demonstrações financeiras geralmente possuem um número extenso de contas, as

quais necessitam ser avaliadas antes do início da análise. Suas estruturas básicas também são

regulamentadas ou normatizadas. Esta exigência faz sentido porque uma das principais

funções das demonstrações é classificar os eventos administrativos, os atos ou os fatos

contábeis em grupos representativos de eventos patrimoniais ou do próprio patrimônio.

Embora não existam modelos exigidos por lei, a praxe contábil conseguiu criar

estruturas que facilitam a leitura de tais demonstrações. Para efeito de análise em muitos casos

há a necessidade de readequar a estrutura demonstrada ou de reclassificar algumas contas ou

grupos no sentido de facilitar os trabalhos e dar valor real à análise.

A padronização consiste em condensar e criticar as contas pertencentes à

demonstração e tem como objetivo: a simplificação da análise, criar a possibilidade de

comparação, adequação aos objetivos da análise, precisão nas classificações das contas,

descoberta de erros e desenvolver uma familiaridade do analista com as demonstrações

financeiras da empresa.

4.4.1 – BALANÇO PATRIMONIAL

O balanço patrimonial é o demonstrativo que reflete a situação da empresa no

momento daquele encerramento. Composto pelas contas patrimoniais (contas que não são

Page 42: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

41

transportadas para a demonstração de resultados) e pelo resultado apurado estará refletindo

todos os bens, direitos e obrigações da empresa.

No QUADRO 05 é demonstrado um modelo de padronização do Balanço

Patrimonial.

QUADRO 05 – MODELO DE BALANÇO PATRIMONIAL - FONTE: Elaborado pelo Autor.

Na estrutura do balanço patrimonial, destacam-se os seguintes grupos de conta:

Ativo e Passivo/Patrimônio Líquido.

Page 43: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

42

No ativo são alistadas todas as contas representativa de bens e direitos de

propriedade da empresa, classificadas em ordem de liquidez decrescente, sendo destacadas:

• Ativo circulante – envolvem disponibilidades e direitos realizáveis no curso

do exercício social após o balanço. Essas contas caracterizam-se por estar em

constante giro.

• Ativo realizável a longo prazo – bens e direitos realizáveis após o término do

exercício social em questão. Além disso, podem incluir direitos derivados de

adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladoras,

diretores, acionistas ou participantes de lucro da companhia, que não

constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia.

• A conta de ativos permanentes pode ser desmembrada em investimentos,

imobilizado e diferido. Os investimentos envolvem participações em outras

sociedades e direitos de qualquer natureza, não classificáveis no Ativo

Circulante ou Realizável a Longo Prazo que não se destinem a manutenção

da atividade da empresa. Na conta de imobilizado se encontra direitos que

tenham por objeto bens destinados à manutenção das atividades da empresa

ou exercidos com essa finalidade. Em diferido, são aplicados recursos que

beneficiarão resultados de exercício futuros.

Nas contas Passivo e Patrimônio Líquido é classificado todas as contas que

originaram o capital empregado nos bens e direitos classificados no Ativo. Destacam-se:

• Passivo Circulante – obrigações da empresa exigíveis que devem ser

liquidadas no próximo exercício social após o levantamento do balanço.

• Passivo Exigível a Longo Prazo – dívidas de longo prazo ou obrigações

exigíveis que serão liquidadas com prazo superior a um ano.

Page 44: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

43

• Patrimônio Líquido – recursos dos proprietários aplicados na empresa. Os

recursos incluem o capital mais o rendimento de lucros e reservas.

4.4.2 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DE EXERCÍCIO (DRE)

As indicações sobre o detalhamento das contas de receita, despesa, lucro ou prejuízo

líquido são obtidas através da demonstração do resultado de exercício (DRE). Enquanto o

balanço patrimonial reflete a situação do patrimônio da empresa em um dado momento, a

DRE demonstra as ocorrências em certo período.

As mais importantes funções de uma DRE envolvem a geração de informações dos

resultados das operações aos stakeholders. No QUADRO 06 é demonstrado um modelo de

demonstração do resultado de exercício (DRE).

DFP - DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS PADRONIZADAS

03.01 - Demonstração do Resultado (x R$ 1000)

Código da Conta:

Descrição da Conta: 01/01/2005 a

31/12/2005

01/01/2004 a

31/12/2004

01/01/2003 a

31/12/2003

3.01 Receita Bruta de Vendas e/ou Serviços

658.543 522.886 427.207

3.02 Deduções da Receita Bruta

(119.377) (95.968) (82.534)

3.02.01 Impostos Faturados (115.401) (92.747) (80.150)

3.02.02 Abatimentos (3.976) (3.221) (2.384)

3.03 Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços

539.166 426.918 344.673

3.04 Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos

(390.000) (305.943) (237.064)

3.05 Resultado Bruto 149.166 120.975 107.609

3.06 Despesas/Receitas Operacionais

(136.529) (112.402) (98.513)

3.06.01 Com Vendas (106.849) (83.366) (71.144)

3.06.02 Gerais e Administrativas (30.926) (25.816) (24.766)

3.06.02.01 Administrativas (20.543) (16.187) (15.364)

3.06.02.02 Honorários da Administração

(1.645) (1.451) (1.329)

Page 45: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

44

3.06.02.03 Depreciações e Amortizações

(8.738) (8.178) (8.073)

3.06.03 Financeiras (2.030) (6.841) (5.721)

3.06.03.01 Receitas Financeiras 2.740 3.497 3.492

3.06.03.02 Despesas Financeiras (4.770) (10.338) (9.213)

3.06.04 Outras Receitas Operacionais

4.895 5.509 4.531

3.06.05 Outras Despesas Operacionais

(1.619) (1.888) (1.413)

3.06.06 Resultado da Equivalência Patrimonial

0 0 0

3.07 Resultado Operacional 12.637 8.573 9.096

3.08 Resultado Não Operacional

667 2.047 485

3.08.01 Receitas 1.081 2.509 823

3.08.02 Despesas (414) (462) (338)

3.09 Resultado Antes Tributação/Participações

13.304 10.620 9.581

3.10 Provisão para IR e Contribuição Social

(3.579) (2.669) (2.622)

3.10.01 Corrente (3.440) (2.710) (2.467)

3.10.02 Diferido (139) 41 (155)

3.11 IR Diferido 0 0 0

3.12 Participações/Contribuições Estatutárias

0 0 0

3.12.01 Participações 0 0 0

3.12.02 Contribuições 0 0 0

3.13 Reversão dos Juros sobre Capital Próprio

0 0 0

3.15 Lucro/Prejuízo do Exercício

9.725 7.951 6.959

QUADRO 06 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (DROGASIL SA) - FONTE:

BOVESPA (www.bovespa.com.br).

4.4.3 – ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL

Para auxiliar o processo de análise, tem-se utilizado técnicas de comparação dos

resultados, como, a análise vertical e horizontal.

O objetivo da análise vertical é observar ao longo do tempo o comportamento das

demonstrações financeiras, mostrando a participação percentual em cada exercício social de

Page 46: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

45

sub-contas em relação a uma conta base que equivale a 100%, podendo assim, estabelecer

bases para análises prospectivas.

Na análise vertical, ao contrário da análise horizontal, os valores não são

influenciados pela inflação, uma vez que se trata de contas de uma mesma demonstração

financeira, e, portanto, os valores encontram-se monetariamente em um mesmo período.

O estudo realizado através da Análise Horizontal tem por objetiva compara a

evolução individual das contas que compõe as demonstrações financeiras em períodos de

tempos consecutivos.

De forma geral, conclui-se que a combinação da análise vertical com a análise

horizontal apresenta importantes informações do comportamento das demonstrações

financeiras no passado, da situação atual, bem como fornece subsídios para projeções futuras

da empresa.

4.5 – INTRODUÇÃO A ANÁLISE POR ÍNDICES

A avaliação de uma empresa realizada através dos índices exige a comparação com

padrões e a fixação da importância de cada índice. A característica fundamental dos índices é

fornecer uma visão ampla da situação econômica ou financeira da empresa.

Os aspectos econômicos referem-se ao lucro, no sentido dinâmico de

movimentação, ao passo que de forma estática, refere-se ao patrimônio líquido.

A visão financeira da empresa permite verificar os aspectos relacionados ao fluxo de

dinheiro. De forma dinâmica, representa a variação do caixa. Estaticamente, representa o

saldo do caixa. Quando analisado de forma ampla, a visão financeira tem a ver com o capital

circulante líquido.

Page 47: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

46

O resultado econômico reflete o lucro ou prejuízo do exercício. O lucro aumenta o

patrimônio líquido, no entanto não altera a disponibilidade de dinheiro. Ao mesmo tempo em

que uma empresa pode apresentar ótima situação econômica com investimentos em

imobilizado, pode ter insuficiência de recursos financeiros para pagamento de suas dívidas.

4.5.1 – ÍNDICES DE LIQUIDEZ

O principal objeto dos índices de liquidez é realizar a medição da capacidade da

empresa em atender os seus compromissos assumidos de curto prazo através da realização de

seus ativos circulantes. Os principais índices de liquidez são alistados abaixo:

• ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE – indica quanto a empresa possui no ativo

circulante para cada $ 1,00 no passivo circulante. A Fórmula é descrita a seguir:

Caso uma empresa tenha ativos circulantes em uma determinada data o montante de

$ 5.000 e de passivos circulantes $ 3.000, o índice de liquidez apurado é de 1,7. Isso significa

dizer que a empresa para cada $ 1,00 de dívidas de curto prazo, tem $ 1,7 de bens e direitos

realizáveis no curto prazo.

• ÍNDICE DE LIQUIDEZ SECA – indica quanto a empresa possui no ativo circulante

descontados os estoques para cada $ 1,00 no passivo circulante. A Fórmula é descrita

a seguir:

Page 48: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

47

A análise da liquidez seca é importante, pois a conta de estoques representam contas

dentro do ativo circulante que são renovadas, e o índice de liquidez corrente não revela a

movimentação entre os prazos e renovação dos ativos e os prazos de vencimento das dívidas.

• ÍNDICE DE LIQUIDEZ GERAL – indica quanto a empresa possui no ativo circulante

e realizável a longo prazo para cada $ 1,00 de dívida total. A Fórmula é descrita a

seguir:

• ÍNDICE DE LIQUIDEZ IMEDIATA – indica quanto a empresa tem de disponibilidades

(caixa, bancos e em aplicações de liquidez imediata) para saldar $ 1,00 de dívidas no curto

prazo. A Fórmula é descrita a seguir:

A administração da liquidez é de extrema importância para as empresas. O saldo de

caixa deve ser suficiente para atender seus compromissos de curto prazo, tanto de despesas

correntes, bem como aos diversos pagamentos que estão programados, além de ser importante

manter uma reserva para emergências.

Em função do cenário econômico, caracterizado por juros altos, consumo fraco e

crédito limitado, as empresas devem concentrar seus recursos em ativos de alta liquidez,

aumentando assim, o seu grau de liquidez imediata. Por outro lado, um cenário com

estabilidade econômica, incentiva a aplicação dos recursos nos ativos permanentes.

Page 49: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

48

4.5.2 – ÍNDICES DE ALAVANCAGEM DE CAPITAL

Os índices de alavancagem ou de estrutura de capital mostram as grandes linhas de

decisões financeiras, em termos de obtenção e aplicação de recursos. Seguem descritos os

principais índices:

• ENDIVIDAMENTO GERAL – Indica a participação do capital de terceiros de curto e

longo prazo nos investimentos efetuados no ativo da empresa. A principal fórmula é

descrita a seguir:

Uma empresa endividada é aquela que depende da liquidação de seus ativos para

poder arcar com suas dívidas, situação em alto grau de endividamento.

Ressalta-se que uma empresa comparativamente com outras do mesmo setor, pode

apresentar um elevado grau de endividamento, porém, representar um menor risco. Isso é

possível se a empresa apresentar uma elevada capacidade de geração de recursos. Neste caso,

considera-se que as dívidas correntes de uma empresa serão saldadas pelo fluxo de recursos

gerados pelas suas operações e não pela venda de seus ativos.

• ENDIVIDAMENTO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO – Identifica qual a

proporção dos recursos de terceiros em relação aos recursos próprios existente na

empresa. A principal fórmula é descrita a seguir:

Page 50: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

49

• ENDIVIDAMENTO DE CURTO PRAZO SOBRE O ENDIVIDAMENTO TOTAL –

Indica a porcentagem do volume de dívidas da empresa que deve ser paga no curto

prazo. Trata-se de um indicador da qualidade da dívida, porém, requerendo análise das

taxas de juros a serem pagas nas dívidas de longo prazo. A principal fórmula é

descrita a seguir:

• PASSIVO ONEROSO SOBRE OS ATIVOS – Este indicador fornece a participação

das fontes externas de financiamentos captados pela empresa em relação aos capitais

próprios. A principal fórmula é descrita a seguir:

Para uma melhor avaliação, é importante observar o tipo de dívida existente, os

prazos de vencimento da dívida ao longo prazo e as taxas de juros correspondentes a cada um

desses financiamentos. Essas informações podem ser observadas junto nas notas explicativas

dos relatórios.

4.5.3 – ÍNDICES DE ATIVIDADE

A análise dos recursos investidos no giro das operações de uma empresa envolve o

cálculo dos prazos médios (índices de atividade) de renovação dos estoques, duplicatas a

receber (clientes) e de liquidez, mostrando a relação entre número de dias dos prazos e os

recursos de investimento no giro da empresa.

Page 51: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

50

• PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES (PMRE) – fornece o número

médio de dias em que os estoques ficam armazenados até sua venda. As principais

fórmulas são descritas a seguir:

O giro dos estoques mede o número de vezes em que estes são renovados ao longo

dos anos. Quanto maior o giro dos estoques da empresa, maiores serão suas vendas, salvo se a

empresa não estiver mantendo níveis baixos de estoque.

• PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DAS VENDAS (PMRV) – fornece o número

de dias em que a empresa leva para receber as suas vendas. As principais fórmulas são

descritas a seguir:

Quando as empresas necessitam elevar as suas vendas, geralmente concedem

maiores prazos de pagamentos a seus clientes proporcionando, assim, um aumento do volume

de duplicatas a receber.

O conhecimento da relação de clientes de uma empresa é de grande importância

para a análise das demonstrações financeiras, pois, o analista poderá observar se existe uma

dependência das vendas por parte da empresa para determinados clientes e avaliar a qualidade

desses clientes.

• PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DAS COMPRAS (PMPC) – fornece o tempo

médio entre o recebimento das compras de materiais de produção e/ou das

Page 52: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

51

mercadorias para revenda, e o seu respectivo pagamento. As principais fórmulas são

descritas a seguir:

A partir dos prazos médios de renovação dos estoques, recebimento das vendas e

pagamento das compras é possível entender o ciclo operacional e o ciclo financeiro da

empresa, conceitos fundamentais para compreender melhor o fluxo financeiro interno.

O ciclo operacional corresponde ao intervalo de tempo compreendido desde a

recepção dos materiais de produção ou das mercadorias para revenda (PMRE) até a cobrança

das vendas correspondentes (PMRV). Neste período são investidos recursos nas operações da

empresa sem que ocorram as entradas de caixa relativas às vendas. Parte desse capital de giro

é mantida pelos fornecedores que concedem prazos de pagamento das compras dos insumos

ou mercadorias.

Por outro lado, o ciclo financeiro ou ciclo de caixa compreende o prazo entre saídas

de caixa relativas ao pagamento dos fornecedores e as entradas de caixa provenientes dos

recebimentos das vendas. Neste período, a empresa terá de financiar suas operações em a

participação dos fornecedores. Quanto maior for o ciclo financeiro, mais capital de giro

próprio ou terceiros será necessário para sustentar as aplicações, podendo gerar custos

financeiros e afetando a rentabilidade geral da empresa.

4.5.4 – ÍNDICES DE RENTABILIDADE

Os índices de rentabilidade têm como principal objetivo a interpretação e análise dos

resultados obtidos pela empresa. São derivados do demonstrativo de resultados do exercício

Page 53: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

52

através da análise vertical e também, apurados através das vendas, e resultados operacionais

em relação aos ativos e patrimônio líquido.

• MARGEM BRUTA – Identifica o desempenho dos custos de produção. Dado que o

lucro bruto é obtido pela diferença entre as vendas líquidas e o custo dos produtos

vendidos, ou das mercadorias vendidas, um aumento deste índice significa uma

melhor eficiência produtiva da empresa, no que se refere aos seus custos. A principal

fórmula é descrita a seguir:

Um aumento na margem bruta pode também ser obtida pelo fato do crescimento dos

preços de vendas serem maior que dos custos.

Outra hipótese bastante comum que ocasiona o aumento da margem bruta é a

redução dos custos fixos em função do aumento do volume de vendas, ou seja, quanto maior

for a quantidade vendida, menor será o custo unitário de produção.

Por outro lado, uma redução na margem bruta pode ser conseqüência dos seguintes

fatos: controle de preços, redução de tarifas, maior queda da receita de vendas do que os

custos, aumento de salários, aumento dos preços dos insumos e etc.

• MARGEM OPERACIONAL – Identifica o desempenho operacional da empresa em

função de valores efetivamente utilizados em suas operações normais ou do próprio

ramo de atividade da empresa, antes dos efeitos dos resultados financeiros. A principal

fórmula é descrita a seguir:

Page 54: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

53

• MARGEM LÍQUIDA – Identifica a parte das vendas que a empresa aufere de lucro

líquido. Por exemplo, uma empresa possui uma margem líquida de 5%, isto significa

dizer que 5% das vendas líquidas realizadas permaneceram na empresa sob a forma de

lucros, e o restante foi utilizado para cobrir os custos e despesas incorridas. A

principal fórmula é descrita a seguir:

• RENTABILIDADE DO ATIVO TOTAL – Este índice mostra o retorno do total do

investimento efetuado pela empresa, ou seja, a capacidade que os ativos apresentam de

gerar lucros. A principal fórmula é descrita a seguir:

O índice de rentabilidade do ativo total indica a rentabilidade sobre toda a estrutura

de capital do ativo, considerando-se recursos próprios e de terceiros. Para a avaliação do

retorno de investimentos sobre o capital próprio (patrimônio líquido), deve-se avaliar a razão

entre o lucro líquido e o patrimônio líquido.

4.5.5 – ÍNDICES DE MERCADO

O valor de mercado de uma empresa está representado pela cotação das suas ações

em bolsa multiplicado pelo número de ações total que compõe seu capital. Para o cálculo

ideal do valor de mercado, deveriam ser consideradas as cotações em bolsa de cada tipo de

ação (ordinária e preferencial) e ponderadas pelas quantidades de cada tipo no capital da

empresa.

Page 55: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

54

Entretanto, na maioria dos casos, não há negócios com os dois tipos em bolsa,

motivo pelo qual geralmente é utilizada como referência a cotação da ação mais líquida e a

sua multiplicação pelo número total de ações.

• VALOR PATRIMONIAL DA AÇÃO – Indica quanto vale cada ação em termos de

patrimônio líquido. A principal fórmula é descrita a seguir:

A cotação de uma ação no mercado não está relacionada com o valor do patrimônio

líquido da ação, sendo esta última mais ligada diretamente com a capacidade de geração de

lucro e dividendos.

O valor patrimonial é uma informação que mede a parcela dos recursos próprios da

empresa que compete a cada ação em determinado momento, com base nos valores

acumulados no passado. Esse índice é mais bem interpretado como um indicador do potencial

de uma empresa em distribuir dividendos e de sua capitalização. Quanto maior, maior é o

potencial econômico da empresa em distribuir lucros nos exercícios futuros.

• LUCRO POR AÇÃO – Indica quanto corresponde para cada ação o lucro líquido

apurado pela empresa em determinado período. A principal fórmula é descrita a

seguir:

Page 56: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

55

• RELAÇÃO PREÇO-LUCRO – Este índice mostra o número de anos que o investidor

deve esperar para recuperar o investimento efetuado na compra de uma ação. A

principal fórmula é descrita a seguir:

Em relação à avaliação do preço-lucro da ação, tem-se que, quanto maior for o

índice de uma ação, espera-se que menor será o risco e a lucratividade do investimento. E

quanto menor for o preço-lucro da ação, maiores serão os riscos e a lucratividade da ação.

• PAY-OUT (TAXA DE DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS) – é a taxa de distribuição do

lucro da empresa para os acionistas na forma de dividendos ou juros sobre o capital

próprio. A principal fórmula é descrita a seguir:

• DIVIDEND YIELD (TAXA DE RENTABILIDADE DOS DIVIDENDOS) – Indica

quanto efetivamente o acionista embolsa para cada $ 100 investidos na aquisição de

ações segundo sua cotação. A principal fórmula é descrita a seguir:

O Yield é calculado dividindo-se o dividendo distribuído por ação pelo preço atual

da ação. Torna-se especialmente relevante se analisado a longo prazo, sendo neste caso

necessário que seja projetado os lucros e estabelecido um Pay-Out. Assim, se uma ação custa

Page 57: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

56

hoje $ 100,00 e espera-se receber $ 10,00 em dividendos, o Yield seria de 10%, podendo ser

visto como um desconto no custo de aquisição da ação.

A análise por índices resultam na necessidade de acompanhamento da evolução

histórica e a identificação de tendências que auxiliem o processo de tomadas de decisões, cujo

objetivo proporcione maior grau de precisão e assertividade.

Page 58: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos últimos anos, diversos trabalhos e pesquisas sobre os métodos para avaliação de

ativos financeiros vêm sendo publicados, trazendo a atenção dos participantes do mercado

para as oportunidades de investimentos e proteção diante das incertezas econômicas. Além

disso, incentivam na área acadêmica, estudos voltados para a análise das estruturas financeiras

das empresas, através da aplicação dos métodos de análise de investimentos reais nas mais

diversas áreas.

Devido à rápida velocidade de mudanças e do alto grau de incertezas que permeiam

os diversos ambientes de negócios no mundo, vimos que a abordagem da análise

fundamentalista proporciona uma visão geral da estrutura financeira da empresa e possibilita

por meio da construção e análise de índices, identificar tendências valiosas para

investimentos.

Um passo importante no sentido da compreensão da análise fundamentalista advém

do bom entendimento de suas premissas e conceitos de contabilidade gerencial. Neste sentido,

foram apresentadas nesta monografia as estruturas contábeis das empresas, seus aspectos

principais e a sua relação com a possibilidade de combinações de diferentes de índices para

utilização no mercado financeiro.

Este trabalho pretendeu contribuir com a compreensão dos fatores e métodos

disponíveis no mercado financeiro, em especial a aplicação e desenvolvimento da análise

fundamentalista.

Espera-se, sem esgotar o assunto que é extremamente amplo e passível de muitas

outras pesquisas, ter chamado a atenção para estes aspectos específicos e sua importância para

a gestão de investimentos e avaliação de empresas.

Page 59: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

58

Na expectativa de que o Brasil fortaleça os fundamentos tanto no setor público

quanto no setor privado, o fluxo internacional de capitais não cessará. É nesse cenário que

devem aparecer inúmeras possibilidades de investimento, principalmente em renda variável.

Assim, a relevância do mercado acionário para os investidores em geral aumentarão.

Alternativas de investimento serão mais exploradas, uma vez que a remuneração por juros

será bem menos atrativa. O setor produtivo voltará a receber mais investimentos, aquecendo o

mercado financeiro e voltando a desenvolver as Bolsas e tudo o que gira em torno delas.

Entretanto, torna-se necessário a regulamentação de normas específicas que venham

a proteger os pequenos e médios investidores diante dos riscos do mercado financeiro.

Através do conhecimento dos riscos envolvidos é possível a adoção de estratégias eficazes de

gestão de risco, que permitam aos participantes do mercado formas conscientes de

investimento.

Portanto, diante das expectativas, observa-se um bom momento para entender e

estudar esse vasto mundo financeiro, pois com a provável melhora macroeconômica nos

próximos anos, a análise fundamentalista poderá ser utilizada em grande escala pelas

empresas e investidores em geral.

Page 60: Avaliação de empresas no mercado financeiro - uma abordagem a análise fundamentalista

59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 470 p.

BOTELHO, Fausto de Arruda. Análise Técnica e Estratégia Operacional. São Paulo: Enfoque Gráfico Sistemas, 2003. 196 p. CARVALHO, Maria A. de; SILVA, Cezar R. Leite da. Economia Internacional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 300p. FAMÁ, Rubens; GRAVA, J. William; Liquidez e a Teoria dos Elementos Causadores de

Insolvência. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, vol. 1, nº. 12, p. 10-21, 2000. KIYOSAKI, Robert T.; LECHTER, Sharon L. Pai rico: o guia de investimentos: aprenda a ganhar dinheiro investindo com os ricos. Tradução de Maria José Chylar Monteiro. Rio de Janeiro: Campus, 2002. 456 p. MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 472 p. MARION, José Carlos. Análise das Demonstrações Contábeis: Contabilidade Empresarial.

3. Ed. São Paulo, Atlas, 2005. 310 p. MARION, José Carlos. Contabilidade Básica. 8. Ed. São Paulo, Atlas, 2006. 264 p. SANVINCENTE, Antônio Zoratto; MELLAGI FILHO, Armando. Mercado de capitais e

estratégias de investimento. São Paulo: Atlas, 1988. 160 p. SOROS, George. A crise do capitalismo global: os perigos da sociedade globalizada – uma visão crítica do mercado financeiro internacional. Tradução de Cristina Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 344 p. SUEN, Alberto S.; KIMURA, Herbert; IMORI, Marcelo; NONAKA, Paulo K. Aspectos de

Normatização em um Mercado Financeiro Globalizado. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, vol. 1, nº. 3, p. 1-7, 1996. TOLMASQUIM, Maurício T. O Brasil e o ciclo de Kondratieff e Juglar segundo a obra de

Ignácio Rangel. Revista de Economia Política, São Paulo, vol. 11, nº. 4, p. 27-38, 1991. WESTON, J. Fred; BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Makron Books, 2000, 1050 p. www.bovespa.com.br acessado em 20/10/08 15:00 hs.