avaliação de empresas e criação de valor - aplicação prática das abordagens do dcf, eva e mva

63
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA, DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO AVALIAÇÃO DE EMPRESAS E CRIAÇÃO DE VALOR: APLICAÇÃO PRÁTICA DAS ABORDAGENS DO FLUXO DE CAIXA DESCONTADO, ECONOMIC VALUE ADDED E MARKET VALUE ADDED GUILHERME CERQUEIRA DE SOUZA SÃO PAULO - SP 2010

Upload: cerqueiraguilherme

Post on 29-Jul-2015

223 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

TCC Finanças Guilherme Cerqueira de Souza, PUC-SP 2010

TRANSCRIPT

Page 1: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO,

CONTABILIDADE E ATUÁRIA,

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS E CRIAÇÃO DE VALOR:

APLICAÇÃO PRÁTICA DAS ABORDAGENS DO FLUXO DE CAIXA

DESCONTADO, ECONOMIC VALUE ADDED E MARKET VALUE

ADDED

GUILHERME CERQUEIRA DE SOUZA

SÃO PAULO - SP

2010

Page 2: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

GUILHERME CERQUEIRA DE SOUZA

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS E CRIAÇÃO DE VALOR:

APLICAÇÃO PRÁTICA DAS ABORDAGENS DO FLUXO DE CAIXA

DESCONTADO, ECONOMIC VALUE ADDED E MARKET VALUE

ADDED

Trabalho de Orientação de Estágio II apresentado ao Departamento

de Administração, da Faculdade de Economia, Administração,

Contabilidade e Atuária da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, como pré-requisito para a obtenção do título de Bacharel em

Administração de Empresas, sob orientação do Prof. Dr. Flavio

Estevez Calife.

SÃO PAULO - SP

2010

Page 3: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

ii

AVALIAÇÃO: ..........................................................................................................

ASSINATURA DO ORIENTADOR: ......................................................................

Page 4: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

iii

Aos meus pais, Amilton e Denise, e à minha avó,

Cida (in memoriam), por sua paciência e dedicação,

e por terem sido a base de tudo.

Page 5: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

iv

AGRADECIMENTOS

Sem dúvida, acredito que as pessoas refletem e são influenciadas por aqueles que as

cercam, e principalmente, se inspiram naqueles que admiram. Assim, se concluo mais uma

etapa importante na vida, não poderia deixar de agradecer a todos aqueles que me

influenciaram e inspiraram.

À minha família, àqueles com quem convivo diariamente, e àqueles que mesmo não

estando no meu cotidiano, estão sempre por perto, e que certamente colaboraram de

diversas maneiras para que este momento fosse possível. É a coisa mais importante que

alguém pode ter na vida.

Aos meus amigos, que ficam apesar de o tempo passar, e com quem aprendo e

sorrio em todas as oportunidades. São uma segunda família (incluem-se neles Daniel e

Felipe, amigos de residência, já que moramos sob o mesmo teto).

A todos os professores que já me ensinaram algo, sendo através de sua atividade

profissional ou não. São pessoas especiais que se dedicam a multiplicar o conhecimento.

Neste caso, especialmente aos professores da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, entre eles José Roberto Martins Ferreira, Gabriel Muricca Galipolo, Hiroco Fuita,

Marcio Shoiti Kuniyoshi, Ivan Ricardo Peleias, Gézio Duarte Medrado, Sylmara Lopes

Francelino Gonçalves Dias, Flavio Estevez Calife, Cláudio Capp Pacheco, Waldomiro

Piedade Filho, José Odálio dos Santos, Amauri Pedroso Catropa, Lawrence Chung Koo e

Fabio Gallo Garcia.

Page 6: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

v

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

1. A EMPRESA ................................................................................................................... 12

1.1 CONCEITO, HISTÓRIA E EVOLUÇÃO ........................................................................... 12

1.2 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO ........................................................................................ 14

1.2.1 A SOCIEDADE POR QUOTAS COM RESPONSABILIDADE LIMITADA ....................... 14

1.2.2 A SOCIEDADE ANÔNIMA POR AÇÕES ................................................................. 15

1.3 OBJETIVOS ................................................................................................................. 18

2. CRIAÇÃO DE VALOR .................................................................................................. 21

2.1 O SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CRIAÇÃO DE VALOR ........................ 21

2.2 A CRIAÇÃO DE VALOR E SEUS EFEITOS SOBRE A SOCIEDADE .................................... 23

2.3 A GESTÃO BASEADA EM VALOR ................................................................................ 25

2.4 MENSURAÇÃO DA CRIAÇÃO DE VALOR ..................................................................... 26

2.4.1 VETORES DE VALOR ........................................................................................... 26

2.4.2 INDICADORES FINANCEIROS ............................................................................... 27

2.4.3 VALOR INTRÍNSECO............................................................................................ 28

2.4.4 DESEMPENHO DO PREÇO POR AÇÃO ................................................................... 29

3. AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ..................................................................................... 31

3.1 OBJETIVO ................................................................................................................... 31

3.2 MODELO DE FLUXO DE CAIXA DESCONTADO EMPRESARIAL (DCF) .......................... 31

3.2.1 TAXA DE DESCONTO .......................................................................................... 32

3.2.1.1 CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO (kps, ke) ......................................................... 33

3.2.1.2 CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS (kd) ...................................................... 36

3.2.2 FLUXO DE CAIXA LIVRE PARA A EMPRESA (FCFF) ............................................ 37

3.2.3 ESTIMATIVA DA SÉRIE FUTURA DE FLUXOS DE CAIXA LIVRE PARA A EMPRESA 38

3.3 ECONOMIC VALUE ADDED (EVA) ............................................................................... 39

3.4 MARKET VALUE ADDED (MVA) .................................................................................. 40

4. ESTUDO DE CASO: ALL - AMÉRICA LATINA LOGÍSTICA .................................. 42

4.1 OBJETIVO ................................................................................................................... 42

4.2 A EMPRESA ................................................................................................................ 42

4.2.1 ESTRUTURA ACIONÁRIA ..................................................................................... 43

4.2.2 ESTRATÉGIA ....................................................................................................... 43

4.3 METODOLOGIA........................................................................................................... 44

4.4 ANALISANDO O PASSADO: EVA HISTÓRICO – 2005 A 2009 ....................................... 45

4.5 PROJETANDO E ANALISANDO O FUTURO: DCF E MVA ............................................. 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 55

APÊNDICE A – ALL: CÁLCULO DO COEFICIENTE BETA (β) .................................. 57

APÊNDICE B – CÁLCULO DO PRÊMIO PELO RISCO DE MERCADO ..................... 59

ANEXO A – ALL: BALANÇO PATRIMONIAL.............................................................. 61

ANEXO B – ALL: DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ................ 62

Page 7: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – A empresa e seus stakeholders ........................................................................... 19 Figura 2 – Medidas de valor ................................................................................................ 26 Figura 3 - Efeitos do tamanho da carteira sobre o risco da carteira de ações médias ......... 35

Page 8: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Criação e destruição de valor baseado em ROIC e taxa de reinvestimento ...... 29 Tabela 2 – ALL: EVA ......................................................................................................... 46 Tabela 3 – ALL: Premissas para análise DCF e MVA........................................................ 48 Tabela 4 – ALL: WACC ..................................................................................................... 48 Tabela 5 – ALL: Fluxo de caixa descontado ....................................................................... 49 Tabela 6 – ALL: MVA ........................................................................................................ 49 Tabela 7 – ALL: Valor da ação ........................................................................................... 50 Tabela 8 – ALL: Análise de sensibilidade do valor da empresa ......................................... 51 Tabela 9 – ALL: Análise de sensibilidade do MVA projetado ........................................... 51

Page 9: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

viii

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Quantidade de ofertas públicas na BM&FBOVESPA ...................................... 17 Gráfico 2 - ALL: Estrutura acionária .................................................................................. 43 Gráfico 3 - ALL: Evolução e relação entre ROIC, WACC e EVA ..................................... 52

Page 10: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

ix

RESUMO

O objetivo desta monografia foi estudar, sob o prisma financeiro, o conceito de

criação de valor dentro das organizações com fins lucrativos. Para tal, o autor se baseou na

moderna teoria de finanças corporativas e nos princípios de governança corporativa que

refletem as melhores práticas no contexto atual. A criação de valor ocorre quando o

administrador investe o capital da empresa a taxas de retorno acima de seu custo de capital.

Como base para aplicação prática da teoria em questão, foi estudada a empresa América

Latina Logística, cuja análise demonstrou que a empresa, na média do período de 2005 a

2009, não foi capaz de criar valor aos seus acionistas, porém com importantes ressalvas a

serem consideradas. Com base em projeções de importantes players do mercado financeiro

para empresa e no preço corrente de sua ação ordinária, foi constatado de que há

expectativa de que a empresa seja capaz de criar valor aos seus acionistas no futuro.

Este trabalho se divide em quatro capítulos. Na primeira parte busca-se

compreender o conceito de “empresa” por meio da evolução das organizações, e como elas

se configuram atualmente. Em seguida, na segunda parte, é exposto o conceito e teoria

sobre criação de valor nas empresas sob o aspecto financeiro. Na terceira parte, são

estudados os métodos de avaliação de empresas e criação de valor que norteiam este

trabalho: o fluxo de caixa descontado (DCF), economic value added (EVA) e market value

added (MVA). Em sua quarta parte, é feita uma análise prática da empresa América Latina

Logística sob o conceito de criação de valor.

Palavras-chave: avaliação de empresas, criação de valor, economic value added, EVA,

market value added, MVA, fluxo de caixa descontado, DCF, América Latina Logística.

Page 11: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

x

ABSTRACT

This work was carried out in order to study the concept of value creation in the

companies from the financial perspective. As theoretical framework, the study was

grounded on the modern corporate finance theory and on the corporate governance

principles which best reflect the current practices. The value creation takes place as the

administrator manages to invest the capital of the company at rates of return above its cost

of capital. In order to perform a practical approach of the theory exposed, the financials of

the company América Latina Logística were analyzed and the results evidenced that the

company was not able on average to create value to its shareholders in the period 2005-

2009. Nevertheless, there are relevant observations which must be considered when

analyzing such results. Grounded on estimates from important financial market players on

the company and on the current price of its common share, it was found that there are

expectations that the company will be able to create value to its shareholders in the future.

This work is divided into four chapters. The first one is intended to investigate the

concept of “company” and the way organizations evolved throughout time until they

reached their current configuration. The second chapter exposes the concept of value

creation from the financial perspective. On the third chapter the valuation and value

creation methods on which this work is based are examined: the discounted cash flow

(DCF), economic value added (EVA) and market value added (MVA). On the fourth and

last chapter an empirical analysis of the company América Latina Logística is carried out

from the value creation perspective.

Keywords: business valuation, value creation, economic value added, EVA, market value

added, MVA, discounted cash flow, DCF, América Latina Logística.

Page 12: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

INTRODUÇÃO

As empresas, de maneira geral, ocupam um espaço de maior relevância nas

sociedades contemporâneas. Desde o surgimento das corporações de ofício na idade média,

passando pelo estudo da divisão do trabalho realizada por Adam Smith e pelas teorias mais

recentes de Taylor, Weber e Fayol (que sistematizou e divulgou o princípio de que

administrar é planejar, organizar, executar, liderar e controlar), estas organizações vêm se

aprimorando, e assim proporcionam diversos benefícios às sociedades em que estão

inseridas. Dentre estes benefícios pode-se citar (i) produtos e serviços cada vez mais

evoluídos, com melhor qualidade e mais acessíveis, aumentando significativamente a

qualidade de vida das populações; (ii) a contratação de colaboradores, que lhes permite um

meio de subsistência e crescimento econômico e, (iii) quando organizadas através de

sociedades limitadas ou anônimas, e bem administradas, o aumento de riqueza para os

quotistas ou sócios que nelas investiram através da criação de valor.

A criação ou maximização de valor pelas empresas, através do exercício de sua

missão, é o objetivo maior de seus administradores. Tal criação de valor não apenas cria

riqueza para seus investidores, mas também é fundamental para a existência e continuidade

da própria empresa. Apesar disto, a importância deste ponto referencial é constantemente

relegada a segundo plano, ou mesmo desconhecida por parte dos administradores, que

negligenciam os efeitos que suas decisões exercem sobre o valor de uma empresa. Ainda,

há situações em que interesses divergentes entre investidores e administradores direcionam

a empresa para rumos tortuosos.

Este trabalho tem como intuito estudar como o valor de uma empresa pode ser

maximizado, e tão importante quanto isto, como a criação de valor pode ser mensurada.

Neste sentido, é fundamental aplicar ferramentas que permitam avaliar uma empresa e

quais os efeitos que as ações da administração e outros fatores exercem sobre seu valor.

Para tal fim, serão aplicados os métodos de avaliação por fluxo de caixa descontado,

economic value added (EVA) e market value added (MVA), abordagens amplamente

estudadas e empregadas nos meios acadêmico e profissional. O estudo da teoria destas

abordagens, abrangendo suas metodologias e aspectos positivos e negativos, juntamente

com sua aplicação em um caso prático, a empresa América Latina Logística, permitiu ao

autor chegar às conclusões que são objeto deste trabalho.

Page 13: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

12

1. A EMPRESA

1.1 CONCEITO, HISTÓRIA E EVOLUÇÃO

As organizações, de maneira geral, remontam ao ano de 3000 a.C., na

Mesopotâmia, onde a civilização suméria organizou templos nos quais eram registrados o

recebimento, armazenamento e desembolso de produtos. Obviamente, o modelo da época

apresentava significante diferença e objetivo em relação às organizações atuais em seu

modelo de exercício, no entanto, a essência de uma organização continua a mesma, sendo

“um sistema de recursos que procura realizar um objetivo (ou um conjunto de objetivos).”

(MAXIMIANO, 2005, p. 4). Para atingir estes objetivos, que são traduzidos no

atendimento das necessidades das pessoas, as organizações necessitam ser bem

administradas e utilizar corretamente seus recursos, baseando-se nos conceitos de

eficiência e eficácia. Sob o prisma econômico-financeiro contemporâneo, dentre estes

recursos encontra-se o capital provido por investidores, objeto deste trabalho a ser

analisado com mais profundidade adiante.

Passando pelos diversos momentos da história, os egípcios se destacaram como

sociedade avançada em torno do conceito de organização, dado que foram capazes de

mobilizar, organizar e administrar enormes quantidades de recursos para a construção de

seu legado arquitetônico, constituído durante o período entre 3000 a.C. e 1070 a.C., e

existente até os dias de hoje. O império romano (século VIII a.C. a IV A.D.) chegou a

controlar em seu auge 50 milhões de pessoas em vastos territórios, comandar extensos

exércitos, e desenvolveu instituições presentes até hoje nas sociedades modernas, sendo

assim de grande importância para o desenvolvimento das organizações.

No período medieval (século V A.D. a XV A.D.), a Igreja Católica administrava

através de uma estrutura central, e empregou princípios como hierarquia, centralização do

comando e descentralização das atividades, que segundo Maximiano (2005, p. 37)

“possibilitou à Igreja espalhar-se pelo mundo todo, virtualmente sem concorrência”. Foi na

idade média também, entre os séculos XII e XIV, que se consolidaram as corporações de

ofício, nas quais artesões e empresários de uma mesma área de negócio se associavam para

constituir as guildas e controlar a produção e comercialização de bens.

As Companhias das Índias Ocidentais, sendo a inglesa e a holandesa as mais

importantes, eram companhias de capital privado por ações, fundadas em sua maioria

Page 14: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

13

durante o século XVII, cujo objetivo era a comercialização dos produtos trazidos do

Oriente. Estas sociedades permitiram aos investidores mitigar o risco das expedições

comerciais uma vez que o capital levantando era investido em diversos navios e viagens,

sendo que o insucesso de uma delas teria um efeito reduzido sobre a riqueza de um

investidor quando comparado a um investimento concentrado em uma viagem isolada.

Essas companhias foram as precursoras do atual conceito de sociedade anônima, inclusive

pagando aos acionistas dividendos que chegavam a 50% (SANDRONI, 1999, p. 113).

O escocês Adam Smith (1723-1790), um dos mais eminentes teóricos da economia

clássica, em sua obra “A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua Natureza e sua

Causa”, de 1776, analisou os efeitos da divisão do trabalho sobre a sociedade, a qual gera

grandes benefícios econômicos na medida em que a distribuição e complementaridade de

tarefas resultam em maior produtividade do trabalho, especialização, menor custo com

mão-de-obra, e menos tempo na execução das tarefas. Este conceito foi uma das principais

bases da Revolução Industrial que viria a acontecer na Europa, e particularmente na

Inglaterra, nos séculos XVIII e XIX, juntamente com o grande avanço tecnológico trazido

por máquinas a vapor, consolidando uma nova personagem social: a empresa industrial.

Durante o século XX houve diversos avanços no que diz respeito à estrutura das

organizações, teorias administrativas, sistemas de produção, avanços tecnológicos,

modelos de financiamento e desenvolvimento de bens e serviços. Sobre este aspecto,

Maximiano (2005, p. 7) conclui:

As organizações assumiram importância sem precedentes na

sociedade e na vida das pessoas. Há poucos aspectos da vida

contemporânea que não sejam influenciados por alguma espécie de

organização. A sociedade moderna é uma sociedade organizacional.

Voltando-se para o objeto de estudo deste trabalho, é relevante distinguir uma

empresa em seu stricto sensu de uma organização no lato sensu. Sandroni (1999, p. 203)

define uma empresa como sendo uma “organização destinada à produção e/ou

comercialização de bens e serviços, tendo como objetivo o lucro. Em função do tipo de

produção, distinguem-se quatro categorias de empresas: agrícola, industrial, comercial e

financeira”. Paralelamente e similarmente, em sua definição econômica, Ferreira (2004, p.

342) descreve a empresa como “organização econômica destinada à produção ou venda de

mercadorias ou serviços, tendo em geral como objetivo o lucro”. Em ambas as definições

Page 15: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

14

fica claro que o fator mais característico de uma empresa é o lucro como seu objetivo. É

este o fator que motiva o investidor ou empreendedor a tomar o risco de competir em uma

economia. No entanto, o lucro aqui mencionado é entendido como uma medida contábil,

sujeita a padrões e práticas que podem variar dependendo do contexto, cujo resultado nem

sempre representa o real ganho esperado de um investimento. Assim, este trabalho

analisará sob algumas óticas e instrumentos como um investidor poderá mensurar se o

retorno obtido por uma empresa corresponde, em sua essência, ao real retorno esperado.

1.2 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO

Conforme evoluíram as empresas, evoluíram também as formas como elas se

organizam, em função dos recursos disponíveis, objetivos, legislação e condições

econômicas. Abaixo estão duas formas comuns de organização da empresas:

1.2.1 A SOCIEDADE POR QUOTAS COM RESPONSABILIDADE LIMITADA

A empresa organizada por meio de sociedade por quotas com responsabilidade

limitada, ou por quotas, representou grande avanço no que tange ao ambiente jurídico e

econômico em que ela atua. Instituída no Brasil pelo Decreto nº 3.708, de 10 de janeiro de

1919, e posteriormente alterada pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, a sociedade

por quotas limita a responsabilidade de seus quotistas ao capital integralizado, conforme

seu artigo 1.052: “Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é

restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização

do capital social.” (BRASIL. Lei..., 2002, p. 165).

De fato, a restrição da responsabilidade do empreendedor ao valor de suas quotas

integralizadas incentiva o iniciativa dele. Sobre a importância deste tipo de organização,

KANITZ (2006, p. 22) observa:

O conceito de capital social permitiu a criação da empresa de

responsabilidade limitada. Depois de Paccioli, se você montasse um

negócio, sua responsabilidade, ou "desgraça", ficaria limitada ao capital

social, e não abrangeria a totalidade de seus bens pessoais, como antes.

Page 16: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

15

Milhares de pessoas com competência administrativa e

empreendedora começaram a produzir para os outros, e não somente para

si, empregando trabalhadores até então desempregados, sem medo de

perder tudo se a empresa fracassasse. Desde então, o mundo não pára de

se desenvolver, com exceção da América Latina, que ainda não entendeu o

conceito.

O capital social é o capital que os acionistas oferecem à sociedade

para garantir que empregados e fornecedores recebam no fim do mês.

Diferentemente do que se ensina, o capital não pertence aos acionistas, e

sim à sociedade – daí o termo social.

Sobre as características destas sociedades, é relevante mencionar que sua existência

está intimamente ligada à existência de seus sócios, que de maneira geral encontram-se em

número limitado e têm grande ingerência sobre suas atividades. Deste modo, pode-se supor

que a morte ou qualquer outro fator que impossibilite que os sócios exerçam suas funções

terá grande impacto na sociedade limitada. Ainda neste sentido, a dificuldade na

transferência de propriedade em sociedades limitadas, visto que suas quotas não são

negociadas publicamente, implica em outro fator: a dificuldade que as sociedades por

quotas têm em atrair quantias substanciais de capital, agravada pelo fato de que a

transparência administrativa e contábil em tais empresas é consideravelmente limitada. O

suprimento de capital que permita a uma empresa financiar suas operações e expandir seus

negócios através da implantação de novos projetos e crescimento de escala é fundamental

para seu sucesso e existência.

Considerados os fatores citados anteriormente, é importante que a administração

pondere, à medida que uma sociedade limitada mostre-se viável, expanda suas operações e

desenvolva novos projetos a serem implantados, se uma nova organização societária que

possibilite um escopo maior de fontes de financiamento é adequada.

1.2.2 A SOCIEDADE ANÔNIMA POR AÇÕES

No Brasil, a disposição sobre as empresas organizadas por meio de sociedades por

ações é regida pela Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, posteriormente alterada pela Lei

nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, e resume em seu primeiro artigo a natureza principal

deste tipo de organização: “Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital

Page 17: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

16

dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de

emissão das ações subscritas ou adquiridas.” (BRASIL. Lei..., 1976, p. 1).

As sociedades por ações são sociedades legais distintas e separadas de seus

proprietários e administradores. Assim, além de apresentarem a vantagem de terem

responsabilidade limitada como as sociedades por quotas, essa forma de organização se

diferencia por duas outras propriedades: o período de vida ilimitado e a fácil transferência

de propriedade.

Uma vez que as ações de uma sociedade anônima estão, de maneira geral,

pulverizadas na propriedade de diversos acionistas que, através de assembléia, podem

instituir e destituir seus administradores, uma sociedade anônima pode operar sem relação

de dependência estrita com um indivíduo. Além disto, considerando que estas sociedades,

quando de capital aberto, têm suas ações negociadas em bolsas de valores, a propriedade

delas é transferível de maneira relativamente simples, possibilitando a qualquer indivíduo

com capital adquirir suas ações, desde que disponíveis para venda (o que é entendido como

regra geral na maioria das S.A.s). Em relação a esta última propriedade, pode-se resumir,

em termos financeiros, seu aspecto positivo através do conceito de liquidez. A liquidez

proporcionada pela livre negociação de ações permite que estes títulos sejam negociados a

níveis mais próximos de seus valores justos, dado que, de maneira geral, não sofrem

desconto relevante pelo risco de falta de liquidez. Além disto, como companhias de capital

aberto, as sociedades anônimas são mais transparentes, haja vista que por força maior

devem publicar com considerável grau de abertura suas demonstrações contábeis,

intenções e decisões de sua administração. Novamente, estes fatores mitigam o risco da

organização e são traduzidos em valor para a empresa.

Finalmente, as sociedades abertas, por todos os fatores citados, têm mais facilidade

em atrair capital em relação a outras formas de organização, seja esse exigível ou não,

viabilizando projetos e outras oportunidades de crescimento. Esta realidade é claramente

percebida no mercado americano, no qual, baseado no valor monetário das vendas, cerca

de treze por cento de todas as empresas são constituídas por firmas individuais

(propriedade de um único indivíduo), sete por cento por meio de sociedades por quotas, e

oitenta por cento por meio de por sociedades por ações (BRIGHAM; EHRHARDT, 2008,

p. 6). Conclui-se, então, que o valor de qualquer empresa, salvo as que são pequenas

demais, será maximizado caso ela seja organizada em forma de sociedade por ações, uma

vez que estas que oferecem melhor relação risco/retorno em relação às sociedades

limitadas, maior facilidade de atração de capital para crescerem, e maior liquidez.

Page 18: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

17

Na economia brasileira, a BM&FBOVESPA é a principal instituição de

intermediação para operações do mercado de capitais e a única bolsa de valores,

mercadorias e futuros em operação.1 Na última década, dada a estabilidade inflacionária,

melhor ambiente político e crescimento econômico do Brasil, houve grande aquecimento

no mercado de capitais, o que incentivou muitas companhias a realizarem suas ofertas

públicas iniciais (IPOs) e ofertas seguintes (follow-ons). O ritmo de operações foi afetado

pela crise financeira de 2008, no entanto, espera-se uma retomada nas ofertas assim que os

investidores voltarem a buscar novas oportunidades de investimentos.

Gráfico 1 - Quantidade de ofertas públicas na BM&FBOVESPA

*Atualizado até 30/10/2010 Fonte: Elaborado pelo autor

Consideradas as principais diferenças entre a sociedade por quotas com

responsabilidade limitada e sociedade anônima por ações, o trabalho em questão irá

analisar a avaliação e criação de valor na última, dado que os efeitos das decisões da

administração são refletidos diretamente no preço das ações negociadas, o que permite

melhor mensuração do desempenho.

1 Em 2002, a Bovespa adquiriu os títulos patrimoniais da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, passando a ser

a única bolsa de valores do Brasil.

1 7 9

26

64

4 6 10145 8

810

16

12

8

18 10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010*

IPOs Follow-ons

Page 19: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

18

1.3 OBJETIVOS

Erroneamente, alguns administradores afirmam que o objetivo de uma empresa é

gerar lucro. De fato, o lucro é um resultado que as empresas esperam obter, no entanto,

trata-se de um objetivo subentendido, haja vista que é algo inerente a uma organização

constituída sob forma de empresa.

Uma empresa deve ter objetivos a serem alcançados como parte de seu

planejamento. Tais objetivos fazem parte de um contexto mais amplo, e dependem da

missão organizacional e visão de futuro de uma empresa, definidos por Chiavenato (2004,

p. 220, 223 e 224) da seguinte maneira:

A missão de uma organização significa a razão de sua existência.

É a finalidade ou motivo pelo qual a organização foi criada e para o qual

ela deve servir. A definição da missão organizacional deve responder a

três perguntas básicas: Quem somos nós? O que fazemos?E por que

fazemos o que fazemos? No fundo, a missão envolve os objetivos essenciais

do negócio, e está geralmente focalizada fora da empresa, ou seja, no

atendimento a demandas da sociedade, do mercado ou do cliente.

Visão é a imagem que a organização tem a respeito de si mesma e

do seu futuro. É o ato de ver a si própria no espaço e no tempo. Toda

organização deve ter uma visão adequada si mesma, dos recursos de que

dispõe, do tipo de relacionamento que deseja manter com seus clientes e

mercados, do que deseja fazer para satisfazer continuamente seus clientes

e mercados, do que deseja fazer para satisfazer continuamente às

necessidades e preferência dos clientes, de como atingirá os objetivos

organizacionais, das oportunidades e desafios que deve enfrentar, de seus

principais agentes, quais as forças que a impelem e em que condições ela

opera.

Inserida numa sociedade, uma empresa interage com seus diversos stakeholders,

que segundo Sandroni (1999, p. 576) é a “expressão em inglês que significa aquele que

aposta numa empresa ou assume seus riscos, podendo ser uma pessoa ou grupo como, por

exemplo, seus proprietários, seus empregados ou mesmo clientes”. Os objetivos de uma

empresa podem ser distintos na visão de cada stakeholder com o qual ela interage. Esta

perspectiva nos leva a um debate comum nas sociedades, o conflito entre acionistas e

Page 20: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

19

stakeholders. O conflito de interesses surge do fato de, não obstante o acionista ser um

stakeholder como clientes, fornecedores, governo e comunidade, trata-se de uma figura

que tem maior poder de decisão sobre os rumos da empresa do que outros, por ser seu

proprietário e tomador primário de risco.

Figura 1 – A empresa e seus stakeholders

Fonte: Elaborada pelo autor

Do conflito em questão derivam duas teorias: a teoria do acionista, na qual os

“administradores têm como dever primário a maximização do dos retornos dos acionistas”,

e a teoria do stakeholder, que defende que “o dever do administrador é balancear os

interesses financeiros dos acionistas contra os interesses financeiros de outros

stakeholders, como empregados, clientes, e a comunidade local, mesmo se isto reduzir o

retorno do acionista” (SMITH, 2003, p. 85, grifo nosso, tradução nossa). Assim enquanto

na primeira teoria os não-acionistas são vistos como “meios” para um “fim”, na segunda,

os interesses de diversos stakeholders não-acionistas são eles mesmos vistos como o “fim”

da empresa.

Infelizmente, há diversos fatores objetivos e subjetivos que impedem que uma

dessas teorias seja denominada a mais correta de maneira ampla. No entanto, em relação às

diversas críticas feitas à teoria do acionista, é relevante ressaltar que o foco no retorno do

acionista, segundo a teoria, deve ocorrer unicamente de maneira legal e sem ludíbrio.

Adicionalmente, nas sociedades modernas capitalistas, fatores como os meios de

comunicação, a opinião pública (incluindo o conceito de responsabilidade sócio-

Empregados(Produtividade,

desenvolvimento de

produtos)

Meio-ambiente(Conservação,

regulamentação)

Consumidores(Demanda pelo

produto,

inovação)Fornecedores

(Matéria-prima,

parcerias estratégicas)

Organizações

Relacionadas (ONGs, mídia)

Comunidade (Fonte de trabalho,

reputação)

Investidores(Capital,

desenvolvimento

corporativo)

Governo(Leis, tributos)

EMPRESA

Empregados(Produtividade,

desenvolvimento de

produtos)

Meio-ambiente(Conservação,

regulamentação)

Consumidores(Demanda pelo

produto,

inovação)Fornecedores

(Matéria-prima,

parcerias estratégicas)

Organizações

Relacionadas (ONGs, mídia)

Comunidade (Fonte de trabalho,

reputação)

Investidores(Capital,

desenvolvimento

corporativo)

Governo(Leis, tributos)

EMPRESA

Page 21: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

20

ambiental), as leis, e a mudança de paradigmas estão gradualmente impelindo as empresas

a considerarem cada vez mais os interesses dos diversos stakeholders, realçado pelo fato de

que as empresas compreendem cada vez mais que seu sucesso é dependente de seus

funcionários, fornecedores e sociedade, como alguns exemplos.

Em economias como a norte-americana e a britânica, o arcabouço jurídico e

ideológico defende que a os acionistas são os donos das empresas, representados por um

conselho de administração por eles eleito, e que o objetivo da empresa é maximizar o valor

para o acionista. Em outras economias, como na Europa Continental, há uma visão mais

ampla dos objetivos das empresas, cujo conselho “tem por obrigação garantir a

continuidade da empresa, e não representar o acionista na busca pela maximização do

valor.” (COPELAND; KOLLER; MURRIN, 2002, p. 3 e 4).

Não sendo a discussão sobre as teorias acima citadas o foco principal deste

trabalho, esta monografia alinhará o objetivo dos administradores de uma empresa à teoria

do acionista. Como base desta abordagem está a crença de que ao se concentrar na criação

de valor para o acionista, os administradores desenvolverão empresas mais saudáveis do

que se não o fizessem. Segundo Copeland, Koller e Murrin (2002, p. 3), sendo mais

saudáveis, estas empresas resultarão em “economias mais sólidas, padrões de vida mais

elevados e maiores oportunidades de carreira e negócios para os indivíduos”.

Page 22: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

21

2. CRIAÇÃO DE VALOR

2.1 O SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CRIAÇÃO DE VALOR

O conceito de criação de valor para o acionista ganhou relevância nos anos 1980

em economias anglo-saxãs como os Estados Unidos da América e Grã-Bretanha. Durante o

século vinte, a economia americana foi dominada por um número reduzido de gigantes

empresariais, que geravam enormes receitas, e alocavam estes resultados baseados no

princípio de “reter e reinvestir”, tanto em bens de capital quanto em recursos humanos

(LAZONICK; O’SULLIVAN, 2000, p. 14). Este processo cíclico tinha em si mesmo e no

simples crescimento da empresa seu fim, sem consideração mais cautelosa de seus

impactos na organização e na riqueza do acionista.

No entanto, as grandes corporações americanas passaram a enfrentar problemas a

partir das décadas de 1960 e 1970, quando a estratégia de “reter e reinvestir” passou a

apresentar problemas. Os grandes investimentos tornaram as corporações demasiadamente

grandes, com diversas divisões e linhas de negócios. O comando central, ou os executivos

tomadores de decisão, acabaram se distanciando demais dos principais processos que

recebiam os investimentos, o que resultou em investimentos ineficientes, destruidores de

valor. Agravando este cenário, a economia japonesa vivenciava seu período de forte

crescimento e inovação, desenvolvendo e fabricando produtos com qualidade superior aos

norte-americanos, tomando mercado destas grandes corporações.

Foi durante este período que um grupo de economistas financeiros americanos

desenvolveu a teoria de agência, publicada em 1976 por M. Jensen e W. Meckling no

artigo “Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs, and Ownership

Structure”. Segundo esta teoria, os acionistas são os proprietários da organização, ou

principais, e os administradores são seus agentes, designados para agirem de acordo com

seus interesses, que incluem principalmente a valorização de seus investimentos. No

entanto, os administradores podem ter interesses pessoais que competem com os interesses

dos acionistas, gerando um conflito de agência. A própria prática de reinvestir os

resultados em projetos dos quais nem sempre se espera o retorno mínimo exigido pode ser

entendido como um interesse pessoal, conforme descrevem Brigham; Ehrhardt (2008, p.

19):

Page 23: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

22

Criando uma empresa grande e de rápido crescimento, os

administradores podem (1) aumentar a segurança de seu emprego, pois

uma aquisição hostil do controle acionário será menos provável; (2)

aumentar seu próprio poder, status e salário; (3) criar mais oportunidades

para os administradores de nível baixo ou médio.

Neste contexto, surgiram práticas e situações que permitem minimizar tal conflito,

compelindo os administradores a se focarem na criação de valor para o acionista, dentre

elas (i) remuneração da administração baseada em seu desempenho, mensurado através de

diversos indicadores, como valorização das ações e EVA®2

, objeto deste trabalho mais

adiante; (ii) anteriormente as ações encontravam-se pulverizadas em propriedade de

milhares de investidores, impondo dificuldade para os acionistas exercerem controle direto

sobre a sociedade. Com entrada maciça de fundos de investimento mútuos, fundos de

pensão, e outros participantes altamente capitalizados, com capacidade de adquirir

relevantes participações em companhias abertas, houve maior ingerência e controle por

parte dos acionistas sobre as operações das organizações, minimizando o conflito de

agência; (iii) ameaça de aquisição hostil; situação na qual uma empresa com valor de

mercado muito abaixo de seu potencial em função da má administração atrai investidores

externos que buscam tomar o controle da sociedade através da aquisição de ações. Esta

situação provavelmente resultará em demissão da antiga administração.

As aquisições hostis passaram a ocorrer com maior freqüência durante os anos

1980, e dentro do contexto aqui estudado, podem ser entendidas como benéficas; segundo

Jensen (1989 apud LAZONICK; O’SULLIVAN, 2000, p. 18, tradução nossa) eram

necessárias para “libertar o fluxo de caixa livre”. Os novos administradores das

companhias adquiridas tomaram medidas que resultaram em aumento do valor de mercado

das ações, dentre elas ajustes na mão-de-obra através de cortes e vendas de ativos físicos,

quando necessários. Assim, o que estes novos acionistas buscavam com a aquisição era

maximizar o valor da companhia: partindo de um contexto onde os investimentos eram

feitos de forma economicamente ineficiente pelos antigos administradores, sem remunerar

o capital adequadamente, para a transformação da empresa adquirida em geradora de valor,

através de investimentos com melhor planejamento e rentabilidade adequada, a fim de

remunerar o capital como esperado e criar valor, através da valorização das ações.

2 Marca registrada da Stern Stewart & Co.

Page 24: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

23

No entanto, além do movimento de aquisições hostis, o crash da bolsa de valores

americana em 1987 e sua rápida recuperação deram fôlego adicional ao conceito de criação

de valor ao acionista, que atingia sua plenitude na década de 1990. Sob esta nova

orientação, os executivos passaram a direcionar suas decisões à criação de valor, mudando

da estratégia de “reter e reinvestir” (retain and reinvest) para “diminuir e distribuir”

(downsize and distribute). Assim, estes executivos buscaram diminuir o tamanho das

organizações, incluindo cortes de mão-de-obra, buscando maior retorno sobre o patrimônio

líquido. A racionalização dos recursos tornou-se condição para sobrevivência frente a um

novo ambiente comercial, muito mais competitivo. Focando ainda a valorização das ações,

os executivos passaram a distribuir os resultados das companhias como dividendos a fim

de sustentar os preços das ações. O índice de distribuição de dividendos (pay-out ratio)

subiu de uma média de 42.4% as décadas de 1960 e 1970, para uma média de 49.5%

durante as décadas de 1980 e 1990. Se levado em consideração que durante este último

período os dividendos chegaram a cair 13% (1980) e o índice de distribuição alcançou

57%, constata-se uma nova mentalidade por parte dos executivos. Adicionalmente, as

companhias passaram a realizar programas de recompra de ações cada vez mais freqüentes

e em maior quantidade, como forma de distribuir ganhos aos acionistas e aumentar os

dividendos por ação.

No final da década de 1990, os executivos das principais organizações já haviam

encampado a criação de valor ao acionista como seu principal objetivo. Vale mencionar

que os investidores institucionais tiveram grande importância nesta transição ideológica,

uma vez que foram eles os principais agentes a impor esta mentalidade à administração,

remunerando-a quando as metas são atingidas.

2.2 A CRIAÇÃO DE VALOR E SEUS EFEITOS SOBRE A SOCIEDADE

Os acionistas são os proprietários das sociedades por ações, e eles investem em

ações porque buscam investimentos que geram retornos sem expô-los a riscos excessivos,

e assim, almejam aumentar sua riqueza. Os principais administradores de uma sociedade

são eleitos por seus acionistas, portanto, devem agir de maneira a refletir os interesses dos

proprietários, que é a maximização do preço de suas ações, e conseqüentemente, de sua

riqueza. Isto é criar valor. Posto assim, alguém poderia interpretar a missão de uma

Page 25: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

24

organização como sendo unicamente a satisfação econômica de seus acionistas a qualquer

custo. No entanto, em uma economia competitiva e adequadamente regulada, a

maximização da riqueza dos acionistas passa, necessariamente, pelo benefício à sociedade

como um todo. De acordo com Brigham e Ehrhardt (2008, p. 10 e 11), isto é evidenciado

pelos seguintes fatores:

i. De maneira geral, o proprietário das ações é a sociedade; considerando que

cada vez mais os acionistas são pessoas físicas, investindo diretamente,

através de fundos de investimento ou fundos de pensão. Desta maneira, a

maximização da riqueza do acionista se traduz em melhora da qualidade de

vida de milhões de cidadãos comuns investidores, além do aquecimento

econômico advindo do efeito riqueza3;

ii. Benefícios para o consumidor; em uma economia razoavelmente

competitiva, as empresas devem desenvolver produtos eficientes, de

qualidade, e ao menor custo possível, se quiserem se manter no mercado.

Desta maneira, o consumidor é beneficiado, uma vez que passa a desfrutar

de produtos que satisfazem suas necessidades de maneira plena. Caso uma

empresa passe a cobrar preços excessivos pelos seus produtos ou ofereça

produtos insatisfatórios, haverá novos entrantes no mercado, acirrando a

concorrência e trazendo os preços para patamares mais baixos. Isto

incentiva as empresas a desenvolverem produtos e processos cada vez mais

eficientes, avançados e com qualidade;

iii. Benefício para os empregados; em uma sociedade que entende que o

sucesso das empresas depende da qualidade das pessoas que nelas atuam,

empresas competitivas focam em recrutar, capacitar e reter seus

colaboradores. Isto se traduz em melhores remunerações, desenvolvimento e

oportunidades de crescimento. A mão-de-obra, assim como qualquer

recurso da economia competitiva é afetada pela oferta e demanda, levando

as empresas a valorizarem seu ativo mais importante. Poder-se-ia

argumentar que grandes empresas buscam cortes de custos através da

demissão de funcionários, no entanto, isto se trata de uma exceção e ajuste

pontual, haja vista que ao crescerem, as empresas necessitam de mão-de-

obra para fazer frente às suas necessidades, beneficiando toda a sociedade.

3 Teoria segundo a qual as famílias, ao perceberem um aumento em sua riqueza, passam a consumir mais,

ativando/acelerando o ciclo virtuoso da economia.

Page 26: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

25

2.3 A GESTÃO BASEADA EM VALOR

De acordo com Copeland, Koller e Murrin (2002, p. 6), um mau investimento pode

assumir as seguintes formas: “investe-se em negócios que não são atraentes, ou em

negócios desconhecidos e com poucas chances de sucesso.” Durante os anos de 1980, uma

onda de LBOs (leveraged buyouts, ou aquisições alavancadas) tomou o controle de

diversas companhias norte-americanas através de aquisições hostis, com base na premissa

de que “os administradores só têm direito de administrar suas companhias enquanto o

valor dessas não possa ser significativamente elevado por um grupo alternativo de

administradores dotados de uma estratégia alternativa”.

Como citado anteriormente, os LBOs foram um dos fatores que, juntamente com o

desenvolvimento do mercado acionário, a participação de agentes altamente capitalizados

(entre eles fundos mútuos e de pensão) e a cultura de remuneração baseada em

desempenho, levou a administração a balizar suas decisões através de medidas que criem

maior valor para o acionista. De maneira prática, como o administrador cria valor para a

empresa que administra? Resumidamente, o administrador cria valor ao obter retorno

sobre o capital investido que supere o custo de oportunidade do capital. Este retorno

pode ser obtido através de medidas que aperfeiçoem o uso dos recursos já disponíveis na

organização, ou através de novos investimentos que se baseiem neste conceito.

Esta perspectiva, ressalta-se, não deve ser restrita à alta administração, ela deve ser

institucionalizada por toda a organização. A mentalidade de valor visa buscar o máximo de

valor para o acionista, e busca o longo prazo como horizonte de suas decisões. Há cinco

áreas nas quais uma empresa deve se focar ao estabelecer a criação de valor como

paradigma:

Definir objetivos realistas e inspiradores combinados com metas

quantitativas rígidas de criação de valor;

Administrar a carteira de divisões da empresa com foco em criação de valor,

tomando medidas radicais quando necessário;

Estabelecer uma cultura organizacional que reforce e incentive a criação de

valor;

Conhecer profundamente e estabelecer os principais vetores de valor de

cada divisão;

Administrar o desempenho das unidades de negócios através da fixação de

metas e análise rigorosas de desempenho.

Page 27: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

26

2.4 MENSURAÇÃO DA CRIAÇÃO DE VALOR

A grande quantidade de medidas disponíveis demanda da administração entender o

que elas representam e qual o impacto de cada uma na criação de valor para o acionista.

Figura 2 – Medidas de valor

Fonte: Adaptado de com Copeland, Koller e Murrin (2002, p. 59)

Enquanto medidas como vetores de valor e indicadores financeiros estão

diretamente ligados às atividades do cotidiano da empresa e assim, sob controle direto da

administração, outras medidas como valor intrínseco medido pelo fluxo de caixa

descontado (DCF) e preço da ação estão sujeitas às expectativas que o mercado. Desta

maneira, não obstante os administradores poderem estabelecer metas em relação ao

desempenho do preço por ação, é nas medidas que estão sob seu controle que ele deve se

focar para fins de tomada de decisão. De maneira geral, estas medidas estão interligadas,

sendo que o desempenho delas é interdependente.

2.4.1 VETORES DE VALOR

Os chamados vetores de valor são medidas operacionais e estratégicas indutoras de

desempenho que devem ser definidas e monitoradas após a administração ter decidido

fazer acontecer o valor. Os vetores são os elementos tanto das operações rotineiras quanto

das grandes decisões de investimento que têm mais impacto sobre a criação de valor. É

através deles os administradores de uma divisão compreendem como o valor é criado e

maximizado em sua unidade, e quais aspectos devem priorizar ao tomar decisões e alocar

recursos.

Os KPIs (key performance indicators) são as medidas associadas aos vetores de

valor usadas tanto na fixação de metas quanto na mensuração do desempenho, englobando

KPI’s, P&D

Vetores de Valor

ROIC, EVA

Indicadores

Financeiros

DCF

Valor Intrínseco

MVA, TRS

Desempenho do

preço por ação

Controle da

empresa

Expectativa do

mercado

Page 28: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

27

medidas tão diversas quanto utilização da capacidade produtiva, turnover, investimentos

em P&D e participação de mercado.

O processo de definição dos KPIs deve acontecer de maneira racional e objetiva.

Deve-se inicialmente identificar os elementos operacionais que se relacionam diretamente

com a criação de valor. Os KPIs mais importantes podem variar de uma unidade de

negócios para outra, dependendo de suas características. Em seguida, é importante

restringir a quantidade de KPIs a um volume que permita que a administração e

funcionários se concentrem apenas nos mais importantes, em geral, entre cinco e dez KPIs.

Para que seja feita esta seleção, podem ser feitos estudos que demonstrem como a variação

de um KPI afeta o valor da empresa através de um modelo de fluxo de caixa descontado,

por exemplo. Finalmente, os KPIs devem ser institucionalizados, através da incorporação

deles às metas e relatórios de acompanhamento contínuo de resultados.

2.4.2 INDICADORES FINANCEIROS

Os indicadores financeiros induzem ao valor na medida em que o valor da empresa

está diretamente ligado ao desempenho deles. Não basta a uma empresa realizar

investimentos em P&D e ganhar participação de mercado, mais importante do que isto é

que os investimentos feitos estejam gerando os resultados financeiros e econômicos deles

esperados. Os dois indicadores mais importantes que movem o fluxo de caixa da empresa é

o crescimento das receitas e ganhos, e a diferença (ou spread) entre o retorno sobre o

capital investido (ROIC, return over invested capital) e o custo de oportunidade do capital.

Pesquisas demonstram que estes dois indicadores funcionam como alavancas que movem o

fluxo de caixa da empresa, e conseqüentemente, a criação de valor.4 A premissa

fundamental neste caso é de que as empresas criam valor ao apresentarem ROIC acima de

seu custo de capital. Desta maneira, uma empresa que tenha ROIC elevado cria mais valor

pelo aumento do investimento e conseqüente crescimento. Por outro lado, para uma

empresa que apresente ROIC abaixo de seu custo de capital, o crescimento não cria valor,

ele efetivamente destrói valor.

Outro indicador a ser observado é o EVA (economic value added), ou valor

econômico agregado. Este indicador considera o quanto de valor foi criado pela empresa

considerando que o capital próprio empregado nas operações tem um custo e, portanto,

4 “O caixa é o que interessa” (COPELAND; KOLLER E MURRIN, 2002, p. 78-81)

Page 29: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

28

deve ser deduzido do resultado final da empresa. Este indicador será mais bem detalhado

no decorrer deste trabalho, assim como sua relação direta com o MVA.

2.4.3 VALOR INTRÍNSECO

Enquanto lucro contábil é a medida utilizada para mensurar o desempenho de uma

empresa em suas demonstrações de resultados, estudos demonstram essa não é a medida

mais importante para a análise do resultado de uma empresa. Por se tratar de uma medida

que depende de um amplo escopo de práticas e padrões que variam entre países, e engloba

valores que nem sempre têm relevância para a criação de riqueza, as análises das empresas

se baseiam em outras medidas que buscam ser mais realistas e diretas. As pesquisas

empíricas demonstram que os fluxos de caixa são os responsáveis por influenciar o preço

de uma ação, e não os lucros contábeis. É apenas com os fluxos de caixa que os

investidores podem reinvestir seus ganhos ou usá-los para consumo. Com base nesta

premissa, a ferramenta de fluxo de caixa descontado ou DCF (discounted cash flow) é

umas das principais (se não a principal) utilizadas na avaliação do valor de uma empresa.

Além de focar-se nos fluxos de caixa, a ferramenta considera o valor dos fluxos de caixa

ao longo do tempo, conceito fundamental em um investimento. Na análise por DCF, caso

um investimento gere retorno superior ao que poderia se obter por meio de investimentos

com nível de risco semelhante, ele estará agregando valor.

A relação entre o valor intrínseco apurado pelo DCF e os indicadores financeiros

como ROIC e crescimento da empresa é justificada pelo fato de que, à medida que a

administração da empresa é capaz para fazer investimentos com retorno que superem o

custo de capital, o valor intrínseco da empresa aumenta, gerando valor. A tabela 1

exemplifica esta situação. No caso em questão, considera-se o resultado de uma análise por

DCF de uma empresa que no ano 1 gera fluxos de caixa livres de $100, dos quais são

deduzidos 25% anualmente para reinvestimento (CAPEX), sendo o fluxo de caixa livre

descontado a diferença entre os dois. A taxa de desconto utilizada foi de 10%, considerado

como o custo médio ponderado de capital da empresa (WACC, weighted average cost of

capital). Adicionalmente, considera-se que até o 25° ano a empresa reinvestiu seus fluxos

de caixa à taxa ROIC, e depois deste período o fluxo foi reinvestido à taxa WACC.

Page 30: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

29

Tabela 1 – Criação e destruição de valor baseado em ROIC e taxa de reinvestimento

Taxa de

reinvestimento 5,0% 7,5% 10,0% 12,5% 15,0%

4,0% 982$ 991$ 1.000$ 1.009$ 1.019$

8,0% 963$ 981$ 1.000$ 1.020$ 1.040$

12,0% 943$ 971$ 1.000$ 1.031$ 1.063$

16,0% 923$ 960$ 1.000$ 1.042$ 1.088$

20,0% 902$ 949$ 1.000$ 1.055$ 1.115$

ROIC

Destruição deValor

Criação deValor

Fonte: Elaborada pelo autor

De acordo com a tabela, nos cenários nos quais a empresa reinveste parte de seus

fluxos de caixa à taxas de retorno inferiores ao seu custo de capital (ROIC < WACC), o

valor da empresa declina gradualmente, agravado pela proporção de seu fluxo de caixa que

é reinvestido nesta situação. De maneira contrária, na medida em que a empresa é capaz de

reinvestir parte de seus fluxos de caixa à taxas de retorno superiores ao seu custo de capital

(ROIC > WACC), seu valor aumenta, incrementado de acordo com a proporção

reinvestida. Nos cenários em que ROIC = WACC, não há destruição ou criação de valor,

apenas os crescimento da empresa em termos de receitas.

2.4.4 DESEMPENHO DO PREÇO POR AÇÃO

Em um mercado de capitais, os administradores devem estar preparados não apenas

para gerir suas empresas, mas também as expectativas do mercado. Enquanto no “mercado

real” o administrador baseia suas decisões simplesmente em medidas que maximizem o

valor presente do fluxo de caixa projetado da empresa, em um mercado acionário as ações

de uma empresa são baseadas em quanto os investidores acham que elas valem. Assim, os

investidores buscam estimar seu valor intrínseco baseado nos fluxos de caixa futuros, no

desempenho que esperam que a empresa possa vir a alcançar, e não por aquilo que ela fez

no passado, nem pelo custo de seu ativo. De acordo com Copeland, Koller e Murrin (2002,

p. 57), “os retornos obtidos pelos acionistas dependem mais de mudanças quanto às

expectativas do que do desempenho efetivo da companhia”. Assim, medidas como TRS

(total return to shareholders), que englobam dividendos e ganhos de capital, não refletem

de melhor maneira o desempenho da administração. Para exemplificar o conceito basta

pensar na situação em que uma empresa de desempenho medíocre, que é vista de maneira

Page 31: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

30

pessimista pelo mercado, por algum fator consiga uma inesperada melhora em seus

resultados, e assim apresenta valorização em suas ações. Já uma empresa que entrega bons

resultados de maneira consistente provavelmente terá maior dificuldade de em aumentar

seu TRS, dado que as elevadas expectativas de retorno já estão refletidas nos preços das

ações.

O valor de mercado adicionado, ou MVA (market value added), também objeto de

mais profunda análise no decorrer deste trabalho, é a diferença entre o valor de mercado da

empresa e a quantidade de capital por ela investida. Ao contrário do TRS, que olha para a

empresa apenas em um determinado momento, o MVA avalia a expectativa futura do

mercado em relação ao capital investido na empresa.

Embora haja divergências sobre as melhores métricas, neste trabalho serão

abordadas três metodologias que permitem mensurar a criação de valor em uma empresa: o

fluxo de caixa descontado (DCF), o EVA e o MVA, derivado do modelo de valor

econômico agregado.

Page 32: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

31

3. AVALIAÇÃO DE EMPRESAS

3.1 OBJETIVO

Quem avalia uma empresa pode ter diversos objetivos. A avaliação busca oferecer

subsídios para uma decisão racional e inteligente, seja ao formar e gerenciar uma carteira

de investimentos, ao estimar o preço justo a se pagar ou receber em uma aquisição, ou na

seleção de projetos de investimentos de uma empresa. Neste trabalho, buscamos avaliar a

empresa com o objetivo de estimar como as decisões da administração impactam o valor

da empresa. Tendo em vista a maximização de valor, os administradores devem avaliar se

estratégias alternativas são criadoras ou destruidoras de valor, e a avaliação de empresas

permite a escolha de estratégias que fornecem o valor máximo.

3.2 MODELO DE FLUXO DE CAIXA DESCONTADO EMPRESARIAL (DCF)

A avaliação através de fluxos de caixa descontados é uma das abordagens mais

comuns na avaliação de empresas, amplamente estudada e com vasto referencial teórico.

Este tipo de avaliação se baseia no princípio de que “o valor de um ativo gerador de

rendimentos ou um ativo financeiro é o valor presente dos fluxos de caixa futuros

esperados do ativo.” (REILLY; NORTON, 2008, p. 232). Baseado neste conceito, há dois

dados necessários para a obtenção do valor de um ativo: (i) a taxa de desconto utilizada

para se obter o valor presente dos futuros fluxos de caixa, e (ii) a estimativa da série futura

de fluxos de caixa a serem gerados pelo ativo. Em uma primeira análise, alguém poderia

entender que a análise é relativamente simples, porém a obtenção desses dois dados requer

um cuidadoso estudo da empresa e das condições econômicas às quais ela está sujeita.

Desta maneira, o valor de uma empresa pode ser definido pela seguinte equação:

n

tt

tempresa

k

FCFFV

1 )1(

Page 33: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

32

onde:

Vempresa = Valor da empresa

FCFFt = Fluxo de Caixa Livre para a Empresa no período t, ou FCFF (free cash

flow to firm)

k = taxa de desconto exigida pelo investidor do ativo

No modelo de fluxo de caixa descontado empresarial, os fluxos de caixa utilizados

para a mensuração do valor das operações empresa é o fluxo de caixa livre para a empresa,

disponível a todos os seus fornecedores de capital (FCFF). O valor patrimonial da empresa

é obtido através da diferença entre o valor de suas operações e seu endividamento e outras

formas de passivo com prioridade superior ao capital ordinário:

Vpatrimonial = Vempresa – Endividamento

onde:

Vpatrimonial = Valor do patrimônio líquido, equivalente ao seu capital ordinário

Vempresa = Valor da empresa, conforme calculado acima

Endividamento = endividamento e outros passivos com prioridade superior ao

capital ordinário

3.2.1 TAXA DE DESCONTO

A taxa de desconto é a primeira informação de grande relevância a ser obtida na

avaliação da empresa. Ela reflete a taxa de retorno exigida do investimento pelo investidor

em função de (i) valor puro do dinheiro no tempo, chamado de taxa real de retorno livre de

risco, durante o período do investimento, (ii) taxa esperada de inflação durante o período, e

(iii) incerteza dos fluxos de caixa futuros. De maneira geral, em uma economia, os dois

primeiros fatores não se alteram em função do investimento escolhido, já o terceiro está

diretamente relacionado à incerteza dos fluxos de caixa futuros do ativo, este sim

estritamente relacionado a um ativo individualmente.

Neste trabalho, a taxa de desconto a ser utilizada ao mensurar o valor da empresa

será a taxa WACC (weighted average cost of capital). Uma vez que a avaliação da

empresa será realizada baseada nos fluxos de caixa livres disponíveis a todos os

fornecedores de capital (terceiros e acionistas), a taxa de desconto a ser utilizada deverá

Page 34: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

33

refletir o retorno exigido por todos os fornecedores na medida em que seus recursos

tenham participação na estrutura de capital da empresa. A taxa WACC é assim calculada:

WACC = wdkd(1-T)+wpskps+weke

Onde:

WACC = Custo Médio Ponderado de Capital

wd = Peso da dívida na estrutura de capital

kd = Custo da dívida antes de impostos

T = Alíquota de impostos incidente sobre o resultado da empresa

wps = Peso das ações preferenciais estrutura de capital

kps = Custo médio ações preferenciais

we= Peso do patrimônio líquido ordinário na estrutura de capital

ks = Custo médio do patrimônio líquido ordinário

3.2.1.1. CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO (KPS, KE)

A estimativa do custo de capital próprio pode ser dividida em duas classes, sendo a

primeira o custo de capital preferencial, e a segunda o custo do capital ordinário.

As ações preferenciais são caracterizadas por receberem uma promessa de

pagamento fixo de dividendo, por um período infinito. Embora o pagamento de dividendos

preferenciais não seja obrigatório, as empresas preferem fazê-lo, pois o pagamento a

acionistas ordinários está subordinado a esse, e o não pagamento de dividendos pode

resultar em dificuldade de obtenção de recursos em uma futura captação no mercado de

capitais. Uma vez que ações preferenciais são perpetuidades, é possível estimar seu custo

em um determinado momento através da seguinte equação:

alpreferenciaçãoeço

alpreferenciDividendoK ps

  Pr

 

De acordo com Damodaran (2007, p. 20), em relação ao custo do capital ordinário,

“o custo do patrimônio líquido é um ingrediente fundamental em todo modelo de fluxo de

caixa descontado. É difícil de ser estimado por tratar-se de custo implícito, que pode variar

amplamente entre vários investidores na mesma empresa”. Ao contrário das ações

Page 35: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

34

preferenciais, que têm uma promessa de pagamento de dividendos, o custo do patrimônio

líquido ordinário é implícito e não pode ser diretamente observado. Ainda, os investidores

patrimoniais podem ter diferentes percepções de risco sobre a mesma empresa.

Para que possamos estabelecer um modelo de avaliação deste risco, será necessário

adotar algumas premissas. Primeiramente, o conceito de risco aqui aplicado é definido

como a “probabilidade de obtermos um retorno de investimento que seja diferente do

previsto.” (DAMODARAN, 2007, p. 19). Assim, quanto maior for a variância ou o desvio

padrão medido entre o retorno esperado de um ativo e seus retornos reais, maior o risco

deste ativo. Além disto, é importante que seja estabelecida a diferença entre risco

diversificável (ou não sistemático) e risco não diversificável (ou sistemático), que são

importantes direcionadores da diferença entre o retorno esperado e o retorno real de um

ativo. O primeiro tipo se refere ao risco específico de uma empresa, que engloba o risco de

seus projetos, o risco concorrencial e o risco setorial. Estes riscos afetam apenas uma

empresa ou um pequeno subconjunto de empresas. Por outro lado, o risco não

diversificável se refere a fatores que afetam uma economia de maneira ampla e mais

invasiva, refletindo-se em grande parte das empresas, ou em todas. Nesta categoria estão

englobados fatores econômicos como alterações nas taxas de juros, inflação, políticas

cambiais, fiscais e monetárias, e até fatores geopolíticos, como guerras e desastres naturais.

Baseado nestes conceitos, presume-se que o investidor marginal possui uma carteira de

ativos bem diversificada. No contexto de carteira, a diversificação permite que o investidor

diminua seu risco não sistemático, uma vez que além de distribuir o risco por diversos

ativos, no momento em que alguns investimentos apresentam resultados negativos, outros

apresentam resultados positivos, havendo uma compensação entre eles. Além disto, em

uma carteira diversificada, o fator que passa a ter maior influência sobre o risco dela é a

correlação entre seus ativos, sendo que deve-se buscar a formação de carteiras com ativos

com correlação baixa ou negativa entre si. Caso os retornos dos ativos sejam todos

proximamente correlacionados, a diversificação não surtirá o efeito desejado de

compensação.

Page 36: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

35

Figura 3 - Efeitos do tamanho da carteira sobre o risco da carteira de ações médias

Fonte: Elaborada pelo autor

Uma vez que a diversificação de ativos através da formação de uma carteira

permite que o risco não sistemático seja relevantemente atenuado, o risco que sobra ao

investidor é o risco sistemático, que como descrito, não pode ser atenuado através da

diversificação de ativos, já que ele atinge todas as empresas de uma economia, embora

alguns ativos sejam mais afetados que outros. Sendo assim, ser diversificado não elimina

este risco. A ferramenta empregada para a mensuração do risco não diversificável de um

ativo é o CAPM (capital asset pricing model ou modelo de precificação de ativos de

capital), baseada no conceito que “o risco relevante de uma ação individual é sua

contribuição para o risco de uma carteira bem diversificada.” (BRIGHAM; EHRHARDT,

2008, p. 220). A ferramenta também assume que o investidor diversifica sua carteira até

que detenha cada ativo negociado, assim assume a carteira de mercado como benchmark.

De acordo com o CAPM, o retorno esperado de um ativo baseado em seu risco deve ser

calculado conforme segue:

E(Ri) = Rf + [E(Rm) – Rf] βi

Onde:

E(Ri) = Retorno esperado do ativo i, neste caso, ke

Risco diversificável

Risco isolado da

carteira: diminui

à medida que

mais ações são

adicionadas

Risco de mercado da carteira:

Permanece constante

Risco mínimo contido em uma

carteira de ações médias

Risco da Carteira, σp

(%)

Número de ações na

carteira

Page 37: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

36

Rf = Taxa livre de risco da economia

[E(Rm) – Rf] = Prêmio pelo risco de mercado, definido pela diferença entre a taxa

de retorno esperada do mercado e a taxa livre de risco

βi = coeficiente beta do ativo i, indicador de risco do ativo em relação à carteira de

mercado (carteira diversificada)

Caso um ativo oscile independentemente da carteira de mercado, ele não agregará

risco à sua carteira; caso o ativo acompanhe as oscilações da carteira de mercado, ele

agregará risco à sua carteira O coeficiente beta, que mede a relação entre o ativo i e a

carteira de mercado é obtido como segue:

2i = m

iCov

Onde:

βi = coeficiente beta do ativo i

Covi= covariância do ativo i com a carteira de mercado

σ²m= variância da carteira de mercado

Assim, ativos com risco superior à média terão beta acima de 1, e ativos com risco

inferior à média terão beta inferior a 1.

3.2.1.2. CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS (KD)

O custo do capital de terceiros ou o custo da dívida é o custo corrente da empresa

para tomar empréstimos para financiar seus ativos, baseado na taxa de retorno que os

detentores desta obrigação requerem. É importante destacar que se trata do custo corrente,

e não o custo histórico, sendo que este pode ser calculado através dos financiamentos

atuais que a empresa já detém, porém serve para outras finalidades, como no caso da

determinação da taxa de retorno que uma empresa de serviços públicos pode obter. Desta

maneira, o custo relevante para fins de cálculo de WACC e tomada de decisão é o custo

marginal da nova dívida. Este custo varia em função das condições de crédito da empresa e

das condições macroeconômicas, e assim pode oscilar dependendo do momento em que foi

estimado.

Page 38: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

37

Uma das maneiras de se obter este custo é através de contato com bancos

comerciais ou de investimentos, que podem fornecer o financiamento ou estruturar

operações de captação de dívida. Alem disto, caso a empresa já tenha títulos de dívida

negociados publicamente, é possível estimar o custo através do cálculo do YTM (yield to

maturity) destes títulos, que são uma boa estimativa do retorno que novos investidores

virão a requerer.

O custo da dívida é normalmente inferior ao custo do capital próprio, uma vez que

o risco dos fluxos de caixa aos detentores de dívida é menor do que os fluxos de caixa aos

acionistas. Isto se dá pelo fato de que o serviço da dívida é uma obrigação, sendo que o não

cumprimento dela implica na insolvência da empresa. Além disto, o pagamento de

dividendos é subordinado ao serviço da dívida.

O pagamento de juros da dívida é contabilizado como uma despesa da empresa, e

desta maneira, reduz a base tributável. Sendo assim, o custo efetivo da dívida é dado como

segue:

Custo efetivo componente da dívida = kd(1-T)

Onde:

kd = Custo da dívida

T = Alíquota de impostos sobre o resultado da empresa

3.2.2 FLUXO DE CAIXA LIVRE PARA A EMPRESA (FCFF)

O fluxo de caixa livre para a empresa, ou FCFF (free cash flow to firm) é aquele

disponível para todos os fornecedores de capitais próprios ou de terceiros. Desta maneira,

ele não incorpora quaisquer fluxos de caixa financeiros, como serviço da dívida,

amortização ou dividendos. Neste contexto, é aplicável o conceito de que, em última

instância, tanto os acionistas e os credores da empresa são seus sócios, com diferença na

preferência em que cada um tem para receber seus fluxos de caixa. O fluxo de caixa livre

para a empresa da empresa é assim calculado:

FCFF = LOLAIR + Despesas de Depreciação – Gastos de Capital – Alteração em Capital

de Giro não Monetário

Page 39: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

38

Onde:

LOLAIR = Lucro Operacional Líquido após Impostos, resultado de LAJIR (1-T)

Conforme Brigham e Ehrhardt (2008, p. 47), há cinco bons usos para o FCL:

Pagar juros aos detentores de títulos de dívida;

Pagar os detentores dos títulos de dívida, isto é, pagar parte da dívida;

Pagar dividendos aos acionistas;

Recomprar ações dos acionistas;

Comprar valores mobiliários negociáveis ou outros ativos não operacionais.

3.2.3 ESTIMATIVA DA SÉRIE FUTURA DE FLUXOS DE CAIXA LIVRE PARA A EMPRESA

A estimativa dos FCFF é fundamental para que a avaliação de um projeto ou

decisão seja bem fundamentada. Diversos projetos que subestimaram custos ou

superestimaram receitas resultaram em grande destruição de valor para os acionistas. A

tarefa não é fácil e constantemente pode-se mostrar enviesada. Desta maneira, é necessário

que todos os aspectos relevantes sejam considerados, o que implica na consulta a todas as

divisões e pessoas envolvidas nele, e não apenas o financeiro. De fato, a estimativa dos

fluxos de caixa livre envolve fatores externos e internos à empresa, uma vez que todos

podem afetar os resultados esperados.

Grande parte da dificuldade na previsão dos fluxos de caixa de uma empresa é que,

ao contrário de um projeto isolado específico ou um título de renda fixa com data de

vencimentos, as empresas não têm prazo de existência determinado, o que implica em uma

estimativa perpétua. Dito isto, adotar-se-á a premissa de que a empresa terá um

crescimento extraordinário durante um período de n anos, e em seguida, irá crescer a uma

taxa estável, resultando em um valor terminal:

n

n

1 k)(1

inalValor term

)1(

n

tt

tempresa

k

FCFFV

Para estimativa do valor terminal da empresa, emprega-se o seguinte cálculo:

Page 40: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

39

n

nalTer

gWACC

FCFFV

1

min

Onde:

FCFFn+1 = Fluxo de caixa livre para a empresa esperado no período n+1

WACC = Custo Médio Ponderado de Capital

gn = Taxa de estimada de crescimento perpétua estimada no ano n

A taxa estimada de crescimento para o cálculo do valor terminal é fundamental na

definição do valor da empresa, e é calculada com base na taxa de reinvestimento da

empresa e em seu retorno sobre o capital investido:

Taxa de estimada de crescimento = Taxa de Reinvestimento X ROIC

Onde:

Taxa de Reinvestimento = [(CAPEX – Depreciação) + Variação no capital de

giro]/LOLAIR

ROIC = Retorno sobre o capital investido, LOLAIR/Capital Investido

3.3 ECONOMIC VALUE ADDED (EVA)

O modelo de EVA (economic value added ou valor econômico agregado) busca

quantificar o quanto de retorno em excesso está sendo gerado pela empresa, ou seja, quanto

de valor foi gerado ao acionista, uma vez que para criar valor, a empresa deve entregar

retornos acima de seu custo de capital. Trata-se de uma ferramenta de grande utilidade para

a mensuração da eficiência e desempenho da administração da empresa em um

determinado período. Se os administradores se focarem no EVA, poderão basear suas

decisões na maximização da riqueza do acionista.

O EVA parte da premissa de que o valor criado por uma empresa deve levar em

conta não apenas os custos e despesas lançados contabilmente ao final de um período, mas

também o custo de oportunidade de todo capital utilizado na empresa. Assim, mesmo que

uma empresa apresente lucro contábil no final de um período, ele só estará efetivamente

Page 41: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

40

gerando lucro para seus investidores quando oferecer taxas de retorno acima de seu custo

de capital. E um determinado exercício, calcula-se o EVA de uma empresa da seguinte

maneira:

EVA = LOLAIR - (Custo de Capital)(Capital Investido), ou

EVA = (ROIC – Custo de Capital)(Capital Investido)

A lógica do EVA se baseia no conceito de VPL (valor presente líquido). O

VPL reflete o retorno em excesso do projeto, através da diferença entre seus retornos

trazidos a valor presente e o montante de investimentos efetuados. Se a cada exercício o

rendimento da empresa for exatamente seu WACC, não haverá geração ou destruição de

valor, ou seja, seu fluxo de caixa descontado será exatamente o capital investido. Por outro

lado, ao investir em projetos com VPL positivo, a empresa irá criar valor em excesso ao

exigido para remunerar o investidor à WACC. Baseado nesta premissa, o valor da empresa

pode ser apurado da seguinte maneira:

Valor da Empresa = Capital Investido +

t

tt

t

WACC

EVA

1 )1(

É importante observar que, utilizadas as mesmas premissas, os resultados

obtidos através da avaliação por fluxo de caixa descontado e por EVA são os mesmos,

com a diferença que o segundo permite medir e acompanhar o desempenho de uma

empresa em qualquer ano, enquanto o primeiro reflete o valor da empresa durante toda sua

existência. Ambas são ferramentas baseadas nos mesmos conceitos financeiros, e se

complementam no processo de avaliação da empresa.

3.4 MARKET VALUE ADDED (MVA)

Em linha com o objetivo de mensurar a criação de valor em uma empresa, outro

indicador utilizado é o MVA (market value added, ou valor de mercado agregado). O

MVA é calculado pela diferença entre o valor da empresa em um determinado momento e

o capital nela investido, uma vez que o valor de mercado da empresa reflete sua geração

Page 42: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

41

esperada de valor no futuro. De fato, percebe-se que o MVA tem estreita relação com o

EVA, sendo este “o combustível que aciona o MVA” (STEWART, 1991, p. 53, tradução

nossa). Focando-se no aumento do EVA a empresa pode então aumentar seu MVA, e

conseqüentemente, seu valor. Assim, obtém-se o MVA através da soma dos EVAs de cada

exercício trazidos a valor presente:

MVA = Valor da Empresa – Capital Investido ou MVA =

t

tt

t

WACC

EVA

1 )1(

No caso de uma empresa com títulos negociados publicamente é possível apurar o

MVA utilizando como valor da empresa a soma do valor de mercado de seu endividamento

e capital social. Novamente, através de qualquer um dos cálculos acima apresentados, os

valores obtidos serão os mesmos, desde que, hipoteticamente, o valor de mercado da

empresa se baseie nas mesmas premissas utilizadas para o cálculo do EVA.

Em relação ao uso do EVA e MVA, Brigham e Ehrhardt (2008, p. 51) explicam que

“o EVA mostra o valor adicionado durante determinado ano, enquanto o MVA reflete o

desempenho ao longo da vida da empresa, às vezes até incluindo o tempo anterior à

incorporação dos administradores; e o EVA pode ser aplicado para as divisões individuais

ou outras unidades de uma grande empresa de capital aberto, ao passo que o MVA deve ser

aplicado a uma empresa como um todo”.

Page 43: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

42

4. ESTUDO DE CASO: ALL - AMÉRICA LATINA LOGÍSTICA

4.1 OBJETIVO

Com base no referencial teórico apresentado, esta monografia busca analisar a

criação de valor histórica e projetada em uma empresa real, ALL – América Latina

Logística, através das ferramentas de fluxo de caixa descontado, EVA e MVA. Ao analisar

seus resultados históricos, o objetivo do estudo é investigar se a empresa criou, manteve ou

destruiu valor para seus acionistas nos últimos cinco exercícios. Ainda, analisando suas

projeções de resultados estimados, a análise buscará investigar se há expectativa no

mercado de que a empresa crie valor no futuro para seus acionistas.

4.2 A EMPRESA

A ALL - América Latina Logística é a maior empresa independente de serviços

logísticos da América do Sul, operando de forma integrada os modais rodoviário e

ferroviário em países como Brasil e Argentina. A ALL tem como visão ser a melhor

empresa de logística da América Latina. A empresa surgiu em 1997, por meio da Ferrovia

Sul Atlântico, fruto do processo de privatização da malha ferroviária brasileira. Após uma

série de consolidações formou-se a ALL, que atualmente opera 21.300 quilômetros de

linhas férreas no Brasil e Argentina, cuja área de cobertura alcança 75% do PIB do

Mercosul. A ALL atende três segmentos de negócios: commodities agrícolas, produtos

industriais e serviços rodoviários.

A companhia é uma empresa de capital aberto com ações lançadas em bolsa em

2004. Em 22 de outubro de 2010, a ALL ingressou no Novo Mercado da

BM&FBOVESPA. Conseqüentemente, atualmente a companhia tem somente ações

ordinárias, negociadas por meio do código ALLL3.

Page 44: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

43

4.2.1 ESTRUTURA ACIONÁRIA

Gráfico 2 - ALL: Estrutura acionária

Fonte: Elaborado pelo autor

4.2.2 ESTRATÉGIA

De acordo com o site de relações com investidores da companhia, sua estratégia é

orientada por cinco princípios básicos:

Concentrar o crescimento onde a ALL tem uma clara vantagem competitiva;

Manter rígidos controles de custos;

Cumprir os compromissos acordados com os clientes;

Maximizar a utilização de ativos e o retorno sobre o capital empregado;

Avaliar alternativas estratégicas de investimento, alianças e aquisições.

Os princípios acima listados têm claro viés de criação de valor para os acionistas,

principalmente no item que se refere a maximizar a utilização dos ativos e retorno sobre o

capital empregado. Como mencionado anteriormente nesta monografia, é através do

aumento do retorno sobre o capital investido, superando o WACC, que a empresa gera

valor.

BNDESPAR

12%

Judori 6%

Wilson Ferro de

Lara

5%

BRZ ALL 5%

FUNCEF4%

PREVI4%

Hana Investments, LLC

2%

Outros62%

Page 45: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

44

Em linha com este conceito, a companhia tem como política a mensuração do

desempenho de seus administradores com base no crescimento do EVA, tanto no nível

corporativo quanto nas unidades de negócios. Conseqüentemente, a remuneração variável e

bônus são pagos de acordo com esta métrica.

4.3 METODOLOGIA

Para a realização das análises históricas foram utilizadas informações financeiras

referentes ao final dos exercícios anuais divulgadas publicamente pela empresa, obtidas de

sua área de relação com investidores, terminal de informações financeiras Bloomberg e

outras fontes relacionadas, para o período compreendido entre 2005 e 2009, com as

seguintes características:

LOLAIR: Produto de EBIT (Bloomberg Mnemonic: EBIT) e (1- Alíquota efetiva

de impostos (Bloomberg Mnemonic: EFF_TAX_RATE)).

Capital Total Investido (Bloomberg Mnemonic: TOTAL_INVESTED_CAPITAL):

representa todo o capital fornecido por acionistas, credores e outras fontes de recursos com

a finalidade de financiar as operações da companhia, no início de cada período. O

montante não inclui fontes de capital de giro e relacionados.

WACC: Calculado pelo do autor. Para o cálculo do beta da empresa em cada

exercício foram utilizados os retornos decorrentes da variação mensal no preço de suas

ações negociadas na BM&FBOVESPA (Bloomberg Mnemonic: ALLL3 BZ Equity) contra

o Índice Bovespa5 (Bloomberg Mnemonic: IBOV Index) no período compreendido entre a

data de fechamento do exercício em questão e 30 de agosto de 2004 (primeiro retorno

disponível para a ação). Como proxy da taxa livre de risco foi utilizado o rendimento anual

do título de dívida do tesouro americano de 10 anos em cada período (Bloomberg

Mnemonic: USGG10YR Index), adicionado ao risco-país medido em pontos base, na data

final do exercício, pelo indicador EMBI+ Brazil (Emerging Markets Bond Index),

calculado pelo banco norte-americano J.P. Morgan. O prêmio pelo risco, que reflete o

quanto o investidor exige para transferir seus recursos de um investimento sem risco para

um investimento com risco, foi mensurado pela diferença da média aritmética dos retornos

5 Mais importante indicador do desempenho médio das cotações do mercado de ações brasileiro. Tem por

finalidade servir como indicador médio do desempenho do mercado.

Page 46: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

45

anuais entre o índice S&P500, somado ao rendimento de dividendo médio do período, e do

título de dívida do tesouro americano de 10 anos a partir do ano de 1928 até o ano do

exercício em questão. Como pesos para ponderação dos custos na estrutura de capital da

empresa foi utilizado para capital de terceiros o somatório da dívida de curto prazo, dívida

de longo prazo e títulos vendidos com acordo de recompra (Bloomberg Mnemonic:

SHORT_AND_LONG_TERM_DEBT), e para capital próprio foi empregada a

capitalização da empresa na BM&FBOVESPA no final de cada período, obtida por meio

do produto da quantidade de ações ordinárias e preferenciais e seus respectivos preços de

fechamento (Bloomberg Mnemonic: CUR_MKT_CAP).

O custo de dívida da empresa em cada período se baseou na taxa efetiva de cada

emissão de debêntures que a empresa realizou nos períodos, refletindo custo marginal da

dívida em cada um deles. Para cálculo do benefício fiscal foi considerada uma alíquota de

imposto de renda e contribuição social de 34%.

Para a análise por fluxo de caixa descontado e MVA foram utilizadas as mesmas

premissas para cálculo de WACC. No que se refere às projeções de resultados da

companhia, o autor se baseou nas projeções estimadas pelo banco norte-americano J.P.

Morgan, de acordo com seu relatório de equity research sobre a ALL publicado em 25 de

outubro de 2010, assim como nas projeções fornecidas pela Bloomberg através de sua

função Earnings Estimates, Consensus Overview em 13 de novembro de 2010. Tal

metodologia se deve ao fato de que o banco J.P. Morgan é uma instituição renomada e

tradicional, com forte atuação nos principais mercados do mundo, assim como os dados

fornecidos pelo Consensus Overview do terminal Bloomberg refletem a análise de grandes

players do mercado financeiro brasileiro, entre eles o a Bradesco Corretora e Grupo

Santander, além do grupo financeiro Raymond James, entre outros.

4.4 ANALISANDO O PASSADO: EVA HISTÓRICO – 2005 A 2009

Com base nas premissas estabelecidas na metodologia, foram apurados os seguintes

resultados para o cálculo de EVA histórico da empresa:

Page 47: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

46

Tabela 2 – ALL: EVA

2005 2006 2007 2008 2009

LOLAIR 268 318 587 892 769

(-) Custo de Capital 312 271 881 829 805Capital Total Investido no

Início do Período1.675 2.038 6.796 7.082 7.326

ROIC 16,0% 15,6% 8,6% 12,6% 10,5%

- WACC 18,6% 13,3% 13,0% 11,7% 11,0%

= Spread EVA -2,6% 2,3% -4,3% 0,9% -0,5%

= EVA -44,0 47,2 -293,7 62,6 -36,2

WACC 18,6% 13,3% 13,0% 11,7% 11,0%

Custo de Capital Próprio: 21,7% 15,2% 14,9% 15,6% 13,1%

Beta 2,22 1,29 1,26 1,42 1,30

x Prêmio pelo Risco de Equity 6,5% 6,6% 6,4% 5,6% 6,0%

+ Taxa Livre de Risco 4,3% 4,8% 4,6% 3,4% 3,3%

+ Risco País 3,0% 1,9% 2,2% 4,2% 2,0%

Custo da Dívida: 7,0% 7,2% 6,8% 6,5% 4,8%

Custo antes de Impostos 10,6% 10,8% 10,3% 9,8% 7,3%

Taxa Marginal de Impostos 34% 34% 34% 34% 34%

Fonte: Elaborada pelo autor

Por meio da metodologia acima descrita, foi calculado o valor econômico agregado

pela ALL durante cinco exercícios. Pôde-se constatar que a empresa gerou retornos

negativos em três períodos e positivos em dois, resultando em uma destruição total de

valor de R$ 264,1 milhões para seus acionistas. De fato, a companhia foi incapaz de gerar

retornos que superassem seu custo de capital, o que pode ser justificado pela intensa

necessidade de capital fixo que a atividade exige, e pelo fato de os investimentos exigirem

um prazo relativamente longo de maturação.

No ano de 2007, a empresa apresentou sua mais relevante destruição de valor (R$

293,7 milhões) na série analisada. Em uma observação mais atenta, percebe-se que este

resultado seu deu principalmente pela forte expansão do volume de capital investido no

início do período (de R$ 2.038 milhões no início de 2006 para R$ 6.796 milhões no início

de 2007) a ser remunerado à WACC. De acordo com o balanço patrimonial da companhia

e com fatos relevantes divulgados pela administração durante o ano de 2006, em 09 de

maio a ALL adquiriu a totalidade das ações da Brasil Ferrovias e da Novoeste Brasil,

marcando a maior aquisição da história da companhia. Esta transação foi realizada através

Page 48: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

47

de troca de ações, sendo que a ALL emitiu novas ações que foram subscritas aos até então

acionistas das companhias adquiridas, que passaram a ser acionistas da ALL. Além disto,

ao incorporar a empresa adquirida, a ALL incorporou suas dívidas também, de cerca de R$

1,6 bilhão, resultando em relevante aumento de capital investido. Tendo disto isto, é

importante considerar que a criação de valor esperada de um investimento de tal magnitude

não ocorre em curto prazo, o que acabou por distorcer o EVA da companhia. No ano de

2008 a ALL foi capaz de criar valor sobre sua nova base de ativos, refletido no forte

aumento de seu LOLAIR em relação ao ano anterior (52%), capturando as receitas

decorrentes de sua aquisição em 2006. O EVA negativo em 2009 reflete a severa retração

do mercado que afetou a empresa, reduzindo suas margens nos segmentos de commodities

agrícolas e produtos industriais.

Não obstante o EVA ser uma métrica que permite a mensuração da criação de valor

em um determinado exercício, fica clara a necessidade de se analisar os resultados com

maior cautela, haja vista que eles podem ser distorcidos por eventos extraordinários,

principalmente em momentos que a companhia realiza altos investimentos buscando

retornos no médio e longo prazo, como no caso da ALL. Nestas situações, o aumento da

base de ativos ocorre em um único momento, enquanto a maturação do investimento exige

um período maior, distorcendo o EVA. Uma possível solução neste caso seria, para fins de

cálculo, ajustar a base de capital investido para refletir o montante investido em ativos

plenamente operacionais de acordo com os planos da companhia (isto excluiria projetos em

fase pré-operacional, e ativos operacionais recentemente adquiridos, que ainda não

passaram pelos ajustes planejados pela administração).

4.5 PROJETANDO E ANALISANDO O FUTURO: DCF E MVA

Como já descrito neste trabalho, as análises por fluxo de caixa descontado e MVA

se baseiam em resultados futuros que os investidores esperam da companhia. Assim, de

acordo com a metodologia estabelecida e com as fontes de informações anteriormente

especificadas, foram apuradas as seguintes premissas para a realização das análises:

Page 49: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

48

Tabela 3 – ALL: Premissas para análise DCF e MVA

2008R 2009R 2010R+E* 2011E 2012E 2013E 2014E 2015E 2016E 2017E 2018E 2019E 2020EAno

Terminal

Taxa de reinvestimento 27,4% 104,9% 127,5% 75,1% 27,8% 27,1% 26,4% 26,2% 25,9% 25,6% 25,4% 25,2% 16,4% 15,0%

Retorno obtido sobre o

capital12,6% 10,5% 8,4% 8,0% 9,3% 10,6% 11,7% 12,9% 13,9% 15,0% 16,2% 17,3% 18,5% 16,7%

Taxa de crescimento (g) 3,5% 11,0% 10,7% 6,0% 2,6% 2,9% 3,1% 3,4% 3,6% 3,8% 4,1% 4,4% 3,0% 2,5%

WACC 11,7% 11,0% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,0%

Alíquota IR&CS 6,2% 0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0% 34,0%

Fonte: Elaborada pelo autor

Dado que as taxas de crescimento em questão são um input exógeno, a relação

entre taxas de crescimento, reinvestimento e retorno sobre o capital não se sustentam neste

caso. Isto ocorre porque as premissas de mercado consideram variação anual no retorno

sobre o capital investido em relação ao retorno obtido no ano anterior, além de diferente

retorno sobre o novo capital investido em relação ao já existente, o que resulta em taxas de

crescimento diferentes da estimada no período anterior (g).

O cálculo do WACC em 2010, conforme metodologia anteriormente estabelecida,

resultou em 10,6%, conforme abaixo:

Tabela 4 – ALL: WACC

= Custo de Capital Próprio: 12,2%

Beta 1,32

x Prêmio pelo Risco de Equity 6,0%

+ Taxa Livre de Risco 2,5%

+ Risco País 1,7%

Custo da Dívida: 6,0%

Custo antes de Impostos 9,1%

Taxa Marginal de Impostos 34%

% Capital Próprio 74%

% Dívida 26%

WACC 10,6%

WACC

Fonte: Elaborada pelo autor

A análise por fluxo de caixa descontado parte do EBIT da companhia. Poder-se-ia

estimar os números da empresa partindo-se de suas receitas brutas, no entanto a

decomposição de todos os itens só faz sentido se tivermos informações que permitam

estimar os itens individualizados com maior exatidão. Adicionalmente, não há subsídios

sólidos que nos permitam concluir e quantificar que haverá alteração nas margens

operacionais da companhia, sendo assim a receita da empresa não foi utilizada como input

inicial.

Page 50: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

49

Tabela 5 – ALL: Fluxo de caixa descontado

2008R 2009R 2010R+E* 2011E 2012E 2013E 2014E 2015E 2016E 2017E 2018E 2019E 2020EAno

Terminal

EBIT 951 769 1.032 1.094 1.350 1.571 1.788 2.024 2.265 2.532 2.829 3.158 3.524 3.612

- IRCS 59 0 351 372 459 534 608 688 770 861 962 1.074 1.198 1.228

= LOLAIR 892 769 681 722 891 1.037 1.180 1.336 1.495 1.671 1.867 2.084 2.326 2.384

+ Depreciação 248 381 433 498 563 582 604 628 656 687 721 758 800 - CAPEX 680 717 916 1.019 787 843 899 960 1.024 1.095 1.173 1.260 1.157 358

- Δ Capital de giro -188 471 385 21 24 20 17 18 19 20 22 23 25

= FCFF 648 -38 -187 180 643 756 868 986 1.108 1.243 1.393 1.559 1.944 2.027

27.020

111% 122% 135% 150% 165% 183% 202% 224% 247% 273%

163 526 559 581 596 606 615 623 631 10.598

15.498

Valor terminal

WACC acumulado

Σ VP do FCFF

Valor da firma

Fonte: Elaborada pelo autor

O fluxo de caixa descontado da ALL resultou em um valor da firma de R$15.498

milhões. Este valor reflete a estimativa de que a companhia será capaz de aumentar seu

LOLAIR consistentemente nos próximos anos.

Com base nas mesmas premissas, foi conduzida a avaliação da empresa através do

modelo de retorno em excesso, por meio do qual foi apurado o EVA que a empresa irá

gerar anualmente, com base nas estimativas:

Tabela 6 – ALL: MVA

2008R 2009R 2010R+E* 2011E 2012E 2013E 2014E 2015E 2016E 2017E 2018E 2019E 2020EAno

Terminal

EBIT 951 769 1.032 1.094 1.350 1.571 1.788 2.024 2.265 2.532 2.829 3.158 3.524 3.612

- IRCS 59 0 351 372 459 534 608 688 770 861 962 1.074 1.198 1.228

= LOLAIR 892 769 681 722 891 1.037 1.180 1.336 1.495 1.671 1.867 2.084 2.326 2.384

- Custo de Capital 829 805 860 952 1.009 1.036 1.065 1.098 1.135 1.176 1.221 1.272 1.327 1.430

ROIC 12,6% 10,5% 8,4% 8,0% 9,3% 10,6% 11,7% 12,9% 13,9% 15,0% 16,2% 17,3% 18,5% 16,7%

- WACC 11,7% 11,0% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,6% 10,0%

= Spread EVA 0,9% -0,5% -2,2% -2,6% -1,2% 0,0% 1,1% 2,3% 3,4% 4,4% 5,6% 6,8% 8,0% 6,7%

= EVA 62,6 -36,2 -179,2 -230,0 -118,3 1,5 114,8 237,8 359,7 494,8 645,5 812,4 998,9 953,7

Capital investido¹ 7.082 7.326 8.133 9.001 9.543 9.791 10.072 10.384 10.734 11.121 11.549 12.023 12.548 14.305

Reinvestimento 244 807 868 542 248 281 312 350 387 428 474 525 382

Capital investido² 7.326 8.133 9.001 9.543 9.791 10.072 10.384 10.734 11.121 11.549 12.023 12.548 12.929

12.715

110,6% 122% 135% 150% 165% 183% 202% 224% 247% 273%

-208 -97 1 77 144 197 245 289 329 5.018

5.994

503

6.497

9.001

15.498

Valor terminal

(Σ VP do EVA)

+ Capital investido¹ 2011E

+ VP da Δ cap. inv.² 2020E

= Valor da firma

WACC acumulado

VP do EVA

= MVA (Σ VP do EVA)

Fonte: Elaborada pelo autor

No modelo considera-se como “Capital investido¹” o capital investido no início do

período, ou seja, o montante constante nas demonstrações financeiras da empresa ao

término do exercício anterior; enquanto “Capital investido²” se refere ao capital investido

ao final do período, considerando o reinvestimento líquido realizado pela empresa.

Page 51: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

50

Para que seja mantida a consistência, o “capital investido¹” foi ajustado no ano

terminal para condizer com o LOLAIR e retorno sobre capital projetado para o ano

terminal. Conseqüentemente, o valor deste ajuste foi descontado a valor presente,

resultando em R$503 milhões.

A soma dos resultados de EVA apurados anualmente descontados à taxa WACC

mais o valor do ajuste resultou em um MVA de R$6.497 milhões (R$5.994 milhões + R$

503 milhões). Assim, este é o valor que os investidores esperam que a empresa seja capaz

de agregar ao capital por eles investido, com base em sua capacidade de gerar retornos

sobre o capital acima de seu custo médio ponderado.

Com base no modelo de avaliação, o valor da ação da ALL foi estabelecido em

R$15,85, em linha com a cotação de mercado de 15 de novembro de 2010, em R$15,90.

6 Tabela 7 – ALL: Valor da ação

+ VP dos fluxos de caixa 5.611

+ VP da perpetuidade 9.887

= VP do FCFF 15.498

- Endividamento 4.601

= Valor do Patrimônio 10.897

/ # de ações 687,5

= Valor da ação 15,85R$

Valor da Ação

Fonte: Elaborada pelo autor

Buscando estimar os efeitos que as decisões da administração exercem sobre o

valor da empresa, as seguintes análises de sensibilidade foram calculadas com base em 121

cenários no quais a empresa reinveste diferentes porções de seu LOLAIR e obtém variadas

taxas de retorno (ROIC), incluindo seu ano terminal:

6* As projeções para o exercício de 2010 consideram os resultados divulgados pela empresa referentes ao

terceiro semestre de 2010.

Page 52: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

51

Tabela 8 – ALL: Análise de sensibilidade do valor da empresa

Taxa deReinvestimento 4,0% 5,5% 7,0% 8,5% 10,0% 11,5% 13,0% 14,5% 16,0% 17,5% 19,0%

8% 3.302 4.597 5.924 7.284 8.680 10.113 11.583 13.092 14.643 16.237 17.875

9% 3.280 4.573 5.902 7.271 8.679 10.129 11.623 13.163 14.751 16.390 18.081

10% 3.257 4.548 5.881 7.257 8.678 10.147 11.665 13.237 14.864 16.549 18.296

11% 3.234 4.524 5.859 7.243 8.677 10.164 11.709 13.313 14.981 16.716 18.523

12% 3.211 4.499 5.837 7.228 8.675 10.182 11.753 13.391 15.102 16.890 18.760

13% 3.188 4.474 5.815 7.213 8.674 10.201 11.799 13.473 15.228 17.072 19.009

14% 3.164 4.448 5.792 7.198 8.673 10.221 11.847 13.558 15.360 17.262 19.272

15% 3.141 4.423 5.769 7.183 8.672 10.240 11.896 13.645 15.498 17.462 19.548

16% 3.117 4.397 5.745 7.168 8.671 10.261 11.946 13.736 15.641 17.671 19.840

17% 3.093 4.370 5.721 7.152 8.669 10.282 11.999 13.831 15.791 17.891 20.148

18% 3.068 4.344 5.697 7.136 8.668 10.304 12.053 13.930 15.947 18.122 20.474

Destruição de valor Geração de valor

Retorno sobre o capital investido (ROIC)

Fonte: Elaborada pelo autor

Tabela 9 – ALL: Análise de sensibilidade do MVA projetado

Taxa de

Reinvestimento 4,0% 5,5% 7,0% 8,5% 10,0% 11,5% 13,0% 14,5% 16,0% 17,5% 19,0%

8% 5.699- 4.404- 3.077- 1.716- 321- 1.112 2.582 4.092 5.642 7.236 8.874

9% 5.721- 4.428- 3.098- 1.730- 322- 1.129 2.623 4.163 5.751 7.389 9.080

10% 5.744- 4.452- 3.120- 1.744- 323- 1.146 2.665 4.236 5.863 7.548 9.296

11% 5.767- 4.477- 3.142- 1.758- 324- 1.164 2.708 4.312 5.980 7.715 9.522

12% 5.790- 4.502- 3.164- 1.773- 325- 1.182 2.752 4.391 6.101 7.889 9.759

13% 5.813- 4.527- 3.186- 1.787- 327- 1.200 2.798 4.472 6.228 8.071 10.009

14% 5.837- 4.552- 3.209- 1.802- 328- 1.220 2.846 4.557 6.359 8.261 10.271

15% 5.860- 4.578- 3.232- 1.818- 329- 1.240 2.895 4.645 6.497 8.461 10.548

16% 5.884- 4.604- 3.256- 1.833- 330- 1.260 2.946 4.736 6.640 8.670 10.839

17% 5.908- 4.630- 3.279- 1.849- 331- 1.281 2.998 4.830 6.790 8.890 11.147

18% 5.932- 4.657- 3.304- 1.865- 333- 1.303 3.053 4.929 6.946 9.121 11.473

Destruição de valor Geração de valor

Retorno sobre o capital investido (ROIC)

Fonte: Elaborada pelo autor

Considerando o WACC utilizado para o desconto dos fluxos de caixa, e o capital

investido de R$9.001 milhões no início de 2011, fica explícito que a empresa só começa a

criar valor à medida que seu capital é investido a taxas de retorno acima de 10,6%, sendo

que a destruição e criação de valor assumem maior magnitude à medida que a taxa de

reinvestimento aumenta.

Com o objetivo de demonstrar a evolução dos componentes que determinam a

criação de valor na empresa, e a relação entre eles, foi elaborado o gráfico abaixo, com

base nos dados históricos e projetados:

Page 53: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

52

Gráfico 3 - ALL: Evolução e relação entre ROIC, WACC e EVA

Fonte: Elaborado pelo autor

Fica explícito através das curvas que o EVA só se torna positivo nos momentos em

que a curva ROIC supera a curva WACC. Adicionalmente, mesmo em situações onde há

elevação do LOLAIR, como no período entre 2006 e 2008, caso essa venha acompanhada

de altos investimentos de capital que não estejam gerando o retorno exigido, isto resultará

em destruição de valor para a empresa.

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

14,0%

16,0%

18,0%

20,0%

-500

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

LOLAIR Capital Investido (/10) EVA ROIC (%) WACC (%)

Page 54: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando se aborda o conceito de criação de valor, há diversos prismas por meio dos

quais a criação de valor ocorre. Segundo Kotler (2007, p. 10), cria-se valor para o cliente

ao oferecer produtos cuja diferença percebida entre todos os benefícios e todos os custos de

uma oferta seja superior em relação à oferta dos concorrentes. Este processo ocorre através

da inovação, da melhoria do desempenho e da qualidade dos produtos e serviços de uma

empresa. Não obstante o aspecto mais generalizado deste ponto de vista, é clara a relação

entre este conceito de criação de valor e o conceito financeiro de criação de valor neste

trabalho apresentado, haja vista que “clientes satisfeitos compram novamente e contas aos

outros suas boas experiências”. (KOTLER, 2007, p. 5). Ao aumentar suas receitas de

maneira sustentável e eficiente, uma empresa aumenta o retorno sobre seu capital

investido, um dos principais direcionadores da criação de valor. O princípio fundamental

que norteou a criação de valor dentro do contexto aqui estudado foi a capacidade de uma

empresa de investir seu capital em ativos cujo retorno supere o custo do capital investido, e

assim, maximize o preço de suas ações, e conseqüentemente, a riqueza do acionista.

Os métodos de fluxo de caixa descontado, EVA e MVA apresentam clara relação

entre si e foram utilizados neste trabalho para a análise do valor de uma empresa e de sua

criação de valor. De acordo com a premissa que uma empresa vale não o capital nela

investido (exclui-se aqui casos de liquidação dos ativos), mas sim seu potencial de geração

de fluxos de caixa, entre as três metodologias apresentadas, apenas o EVA pôde ser

utilizado para a mensuração do desempenho histórico. Quando se analisa as estimativas

futuras, o três métodos podem ser empregados. Não obstante suas particularidades e

definições, estes três métodos apresentam clara relação e complementaridade entre si.

No que tange à análise histórica, ficou evidente no caso estudado que os resultados

de EVA devem ser analisados não apenas quantitativamente, mas também

qualitativamente, uma vez que esses podem refletir períodos extraordinários e, portanto,

apresentarem resultados distorcidos. Em uma análise da criação de valor futura, uma vez

que a metodologia se baseia em estimativas e projeções, cabe consistência e critério por

parte do avaliador para que os resultados obtidos possam guiar os investimentos da melhor

maneira. Avaliações pouco criteriosas ou executadas de maneira superficial provavelmente

se traduzirão em destruição de valor para o acionista ou negligência de potencial

oportunidade de criação de valor.

Page 55: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

54

O constante desenvolvimento de práticas de governança corporativa e da

regulamentação dos mercados de capitais pelo mundo tem proporcionado maior segurança

e transparência aos investidores, uma vez que tais mecanismos minimizam os conflitos de

agência e colaboram para que os administradores mantenham seu foco no seu objetivo

principal, que é a criação de valor para os acionistas norteado pelo exercício da missão da

empresa e do relacionamento ético com seus stakeholders. Cabe aos administradores

encampar estes princípios de maneira ativa e eficiente.

Finalmente, considerando o atual momento de forte desenvolvimento da economia

brasileira, que se caracteriza hoje como um dos principais destinos mundiais para

investimento do capital, é fundamental que as escolas de negócios transmitam o conceito

de criação de valor de maneira mais ativa e enfática aos seus alunos. Casos concretos

demonstram que o foco neste conceito permite que as economias funcionem de maneira

mais eficiente, o que é traduzido em melhor qualidade de vida para seus cidadãos sob

diversos aspectos.

Page 56: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALL – Downgrade to Neutral on Lower Growth Assumptions; Establish Dec 11 PT of

R$17. J.P. Morgan Latin America Equity Research, 25 out. 2010.

AMÉRICA LATINA LOGÍSTICA (ALL). Disponível em: <http://www.all-

logistica.com/port/index.htm>. Acesso em 01 nov. 2010.

BRASIL. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial

da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Seção 1,

p. 1.

BRASIL. Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.

Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 17

dez. 1976. Seção 1, p. 1 (suplemento).

BRIGHAM, Eugene; EHRHARDT, Michael. Administração Financeira: Teoria e

Prática. Tradução da 10ª edição Norte-Americana. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2 ed. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2004.

COPELAND, Tom; KOLLER, Tim; MURRIN, Jack. Avaliação de Empresas –

Valuation: Calculando e gerenciando o valor das empresas. 3 ed. São Paulo: Pearson

Makron Books, 2002.

DAMODARAN, Aswath. Avaliação de Empresas. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice

Hall, 2007.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o minidicionário da língua

portuguesa. Co-editor Margarida dos Anjos, Marina Baird Ferreira. 6 ed. Ver, atualiz.

Curitiba: Posigraf, 2004.

JENSEN, Michael; MECKLING, William. Theory of the Firm: Managerial Behavior,

Agency Costs, and Ownership Structure. Journal of Financial Economics, October, 1976,

V. 3, No. 4, pp. 305-360.

KANITZ, Stephen. O Capital Social. Revista Veja, São Paulo, ed. 1951, ano 39, p. 22, 12

de abril de 2006.

Page 57: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

56

KOTLER, Philip; Armstrong, Gary. Princípios de Marketing. 12 ed. São Paulo: Pearson

Prentice Hall, 2007.

LAZONICK, William; O’SULLIVAN, Mary. Maximizing shareholder value: a new

ideology for corporate governance. Economy and Society. London, v. 26, nº 1, fev. 2000.

LIMA, Kelly. ALL compra Brasil Ferrovias por R$ 1,4 bilhão em ações. O Estado de São

Paulo, São Paulo; 10 de maio de 2006. Transporte.

MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da revolução

urbana à revolução digital. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2005.

REILLY, Frank; NORTON, Edgar. Investimentos. Tradução da 7 ed. norte-americana.

São Paulo: Cengage Learning, 2008.

RELAÇÃO COM INVESTIDORES BM&FBOVESPA, Apresentação

BM&FBOVESPA - novembro de 2010. Disponível em

<http://ri.bmfbovespa.com.br//upload/portal_investidores/pt/informacoes_financeiras/apres

entacoes_videoconferencias/BM&FBovespa%20-%20Novembro_2010.pdf>. Acesso em:

15/11/2010.

SANDRONI, Paulo (Org.). Novíssimo Dicionário de Economia. 2 ed. São Paulo: Best

Seller, 1999.

SMITH, H. Jeff. The Shareholders vs. Stakeholders Debate. MIT Sloan Management

Review, Massachusetts Institute of Technology, summer 2003.

STEWART, G.B. The Quest for Value, Nova Iorque: Harper-Collins, 1991.

ZACHARIAS, Flavio; DANELUZ, Maiquel; PAPST, Peter; OLIVEIRA, Silvio;

VASCONCELOS, Wilton. O EVA, o MVA, o EBITDA e o Fluxo de Caixa Descontado:

suas vantagens e desvantagens. Santo André, SP: Strong, 2008.

Page 58: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

57

APÊNDICE A – ALL: CÁLCULO DO COEFICIENTE BETA (β)

Covariância 0,00598 β Outubro 2010 1,31986178

Variância 0,00453 β 2009 1,29905506

β 1,31986 β 2008 1,42094742

α 0,01142 β 2007 1,25857478

r² 0,23036 β 2006 1,2928455

Correlação 0,47996 β 2005 2,22068447

Data Fechamento Retorno Fechamento Retorno

30/07/2004 22.337 - 3,90 -

31/08/2004 22.803 0,0209 4,20 0,0769

30/09/2004 23.245 0,0194 3,80 0,0952-

29/10/2004 23.052 0,0083- 4,00 0,0526

30/11/2004 25.128 0,0901 5,00 0,2500

31/12/2004 26.196 0,0425 7,00 0,4000

31/01/2005 24.351 0,0705- 6,70 0,0429-

31/03/2005 26.611 0,0928 8,30 0,2381

31/05/2005 25.207 0,0527- 5,83 0,2978-

30/06/2005 25.051 0,0062- 6,50 0,1159

29/07/2005 26.042 0,0396 7,75 0,1923

31/08/2005 28.045 0,0769 8,00 0,0323

31/10/2005 30.194 0,0766 10,50 0,3125

30/11/2005 31.917 0,0571 10,00 0,0476-

30/12/2005 33.456 0,0482 9,50 0,0500-

31/01/2006 38.383 0,1473 13,00 0,3684

28/02/2006 38.610 0,0059 12,00 0,0769-

31/03/2006 37.952 0,0171- 14,50 0,2083

28/04/2006 40.363 0,0635 13,00 0,1034-

31/05/2006 36.530 0,0950- 16,95 0,3038

30/06/2006 36.631 0,0028 16,00 0,0560-

31/07/2006 37.077 0,0122 15,30 0,0438-

31/08/2006 36.232 0,0228- 18,75 0,2255

29/09/2006 36.449 0,0060 17,10 0,0880-

31/10/2006 39.263 0,0772 19,50 0,1404

30/11/2006 41.932 0,0680 28,10 0,4410

29/12/2006 44.474 0,0606 35,00 0,2456

31/01/2007 44.642 0,0038 37,50 0,0714

28/02/2007 43.892 0,0168- 33,00 0,1200-

30/03/2007 45.805 0,0436 32,50 0,0152-

30/04/2007 48.956 0,0688 34,25 0,0538

31/05/2007 52.268 0,0677 34,25 -

ALLL3IBOVESPA

Page 59: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

58

Data Fechamento Retorno Fechamento Retorno

31/05/2007 52.268 0,0677 34,25 -

29/06/2007 54.392 0,0406 42,75 0,2482

31/07/2007 54.183 0,0039- 40,20 0,0596-

31/08/2007 54.637 0,0084 37,90 0,0572-

28/09/2007 60.465 0,1067 39,00 0,0290

31/10/2007 65.318 0,0803 45,00 0,1538

30/11/2007 63.006 0,0354- 42,50 0,0556-

31/12/2007 63.886 0,0140 37,85 0,1094-

31/01/2008 59.490 0,0688- 32,50 0,1413-

29/02/2008 63.489 0,0672 35,00 0,0769

31/03/2008 60.968 0,0397- 30,00 0,1429-

30/04/2008 67.868 0,1132 40,00 0,3333

30/05/2008 72.593 0,0696 52,45 0,3113

30/06/2008 65.018 0,1043- 35,00 0,3327-

31/07/2008 59.505 0,0848- 43,00 0,2286

29/08/2008 55.680 0,0643- 31,25 0,2733-

30/09/2008 49.541 0,1103- 25,00 0,2000-

31/10/2008 37.257 0,2480- 20,55 0,1780-

28/11/2008 36.596 0,0177- 20,00 0,0268-

31/12/2008 37.550 0,0261 17,60 0,1200-

30/01/2009 39.301 0,0466 14,10 0,1989-

27/02/2009 38.183 0,0284- 14,50 0,0284

31/03/2009 40.926 0,0718 19,45 0,3414

30/04/2009 47.290 0,1555 20,00 0,0283

29/05/2009 53.198 0,1249 19,90 0,0050-

30/06/2009 51.465 0,0326- 20,65 0,0377

31/07/2009 54.766 0,0641 19,75 0,0436-

31/08/2009 56.489 0,0315 22,95 0,1620

30/09/2009 61.518 0,0890 22,65 0,0131-

30/10/2009 61.546 0,0004 20,00 0,1170-

30/11/2009 67.044 0,0893 32,50 0,6250

31/12/2009 68.588 0,0230 31,00 0,0462-

29/01/2010 65.402 0,0465- 26,50 0,1452-

26/02/2010 66.503 0,0168 30,40 0,1472

31/03/2010 70.372 0,0582 28,25 0,0707-

30/04/2010 67.530 0,0404- 25,70 0,0903-

31/05/2010 63.047 0,0664- 22,50 0,1245-

30/06/2010 60.936 0,0335- 19,00 0,1556-

30/07/2010 67.515 0,1080 20,15 0,0605

31/08/2010 65.145 0,0351- 17,85 0,1141-

30/09/2010 69.430 0,0658 18,00 0,0084

29/10/2010 70.673 0,0179 16,18 0,1011-

IBOVESPA ALLL3

Page 60: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

59

APÊNDICE B – CÁLCULO DO PRÊMIO PELO RISCO DE MERCADO

S&P500 T.Bond Prêmio S&P500 T.Bond Prêmio

1928-2005 11,72% 5,24% 6,48% 1928-2005 9,66% 4,98% 4,69%

1928-2006 11,77% 5,20% 6,57% 1928-2006 9,73% 4,94% 4,80%

1928-2007 11,69% 5,26% 6,43% 1928-2007 9,68% 5,00% 4,68%

1928-2008 11,09% 5,44% 5,65% 1928-2008 8,95% 5,18% 3,77%

1928-2009 11,27% 5,24% 6,03% 1928-2009 9,14% 4,96% 4,18%

Média Aritmética Média Geométrica

Date PX_LAST Dividendos

Dividend

Yield Retorno Date PX_LAST Retorno S&P500 T.Bond

1927 17,66 0,6 3,50% 1927 3,17% 100,0 100,0

1928 24,35 1,0 4,30% 44% 1928 3,45% 0,84% 143,8 100,8

1929 21,45 0,9 4,10% -8% 1929 3,36% 4,20% 131,9 105,1

1930 15,34 0,7 4,70% -25% 1930 3,22% 4,54% 98,7 109,8

1931 8,12 0,5 6,10% -44% 1931 3,93% -2,56% 55,5 107,0

1932 6,92 0,5 7,20% -9% 1932 3,35% 8,79% 50,7 116,4

1933 9,97 0,4 4,10% 50% 1933 3,53% 1,86% 76,0 118,6

1934 9,5 0,4 3,70% -1% 1934 3,01% 7,96% 75,1 128,0

1935 13,43 0,5 3,80% 47% 1935 2,84% 4,47% 110,2 133,8

1936 17,18 0,5 3,14% 32% 1936 2,59% 5,02% 145,4 140,5

1937 10,55 0,6 5,30% -35% 1937 2,73% 1,38% 94,0 142,4

1938 13,14 0,5 3,80% 29% 1938 2,56% 4,21% 121,5 148,4

1939 12,46 0,5 4,30% -1% 1939 2,35% 4,41% 120,2 155,0

1940 10,58 0,6 5,20% -11% 1940 2,01% 5,40% 107,4 163,3

1941 8,69 0,5 6,20% -13% 1941 2,47% -2,02% 93,7 160,0

1942 9,77 0,6 6,00% 19% 1942 2,49% 2,29% 111,6 163,7

1943 11,67 0,5 4,70% 25% 1943 2,49% 2,49% 139,6 167,8

1944 13,28 0,6 4,60% 19% 1944 2,48% 2,58% 166,2 172,1

1945 17,36 0,7 3,90% 36% 1945 2,33% 3,80% 225,7 178,7

1946 15,3 0,6 3,90% -8% 1946 2,24% 3,13% 206,6 184,3

1947 15,3 0,8 5,20% 5% 1947 2,39% 0,92% 217,4 186,0

1948 15,2 1,0 6,40% 6% 1948 2,44% 1,95% 229,8 189,6

1949 16,79 1,2 7,10% 18% 1949 2,19% 4,66% 271,9 198,4

1950 20,43 1,5 7,50% 31% 1950 2,39% 0,43% 355,6 199,3

1951 23,77 1,5 6,30% 24% 1951 2,70% -0,30% 439,8 198,7

1952 26,57 1,5 5,70% 18% 1952 2,75% 2,27% 519,6 203,2

1953 24,81 1,4 5,80% -1% 1953 2,59% 4,14% 513,3 211,6

1954 35,98 1,9 5,20% 53% 1954 2,51% 3,29% 783,2 218,6

1955 45,48 2,2 4,90% 33% 1955 2,96% -1,34% 1.038,5 215,7

Valor Composto

de USD100

USGG10YR Index

(T.Bonds)SPX Index (S&P 500)

Page 61: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

60

1956 46,67 2,2 4,70% 7% 1956 3,59% -2,26% 1.115,7 210,8

1957 39,99 1,8 4,50% -10% 1957 3,21% 6,80% 999,1 225,1

1958 55,21 2,3 4,10% 44% 1958 3,86% -2,10% 1.435,8 220,4

1959 59,89 2,0 3,30% 12% 1959 4,69% -2,65% 1.609,0 214,6

1960 58,11 2,0 3,41% 0% 1960 3,84% 11,64% 1.614,4 239,5

1961 71,55 2,0 2,85% 27% 1961 4,06% 2,06% 2.044,4 244,5

1962 63,1 2,1 3,40% -9% 1962 3,85% 5,76% 1.864,3 258,5

1963 75,02 2,3 3,13% 23% 1963 4,14% 1,52% 2.285,8 262,5

1964 84,75 2,6 3,05% 16% 1964 4,21% 3,58% 2.661,0 271,9

1965 92,43 2,8 3,06% 12% 1965 4,65% 0,76% 2.991,0 273,9

1966 80,33 2,9 3,59% -10% 1966 4,64% 4,73% 2.692,7 286,9

1967 96,47 3,0 3,09% 24% 1967 5,70% -3,27% 3.333,7 277,5

1968 103,86 3,0 2,93% 11% 1968 6,16% 2,34% 3.694,2 284,0

1969 92,06 3,2 3,52% -8% 1969 7,88% -5,44% 3.389,8 268,5

1970 92,15 3,2 3,46% 4% 1970 6,50% 17,80% 3.510,5 316,3

1971 102,09 3,2 3,10% 14% 1971 5,89% 11,01% 4.009,7 351,2

1972 118,05 3,2 2,70% 19% 1972 6,41% 2,14% 4.761,8 358,7

1973 97,55 3,6 3,70% -14% 1973 6,90% 2,95% 4.080,4 369,3

1974 68,56 3,7 5,43% -26% 1974 7,40% 3,45% 3.023,5 382,1

1975 90,19 3,7 4,14% 37% 1975 7,76% 4,96% 4.142,1 401,0

1976 107,46 4,2 3,93% 24% 1976 6,81% 14,49% 5.129,2 459,1

1977 95,1 4,9 5,11% -7% 1977 7,78% 0,24% 4.771,2 460,2

1978 96,11 5,2 5,39% 7% 1978 9,15% -0,95% 5.081,8 455,8

1979 107,94 6,0 5,53% 19% 1979 10,33% 2,00% 6.022,9 465,0

1980 135,76 6,4 4,74% 32% 1980 12,43% -1,33% 7.934,3 458,8

1981 122,55 6,8 5,57% -5% 1981 13,98% 4,34% 7.561,2 478,7

1982 140,64 6,9 4,93% 20% 1982 10,39% 35,70% 9.105,1 649,6

1983 164,93 7,1 4,32% 22% 1983 11,80% 2,35% 11.138,9 664,8

1984 167,24 7,8 4,68% 6% 1984 11,51% 13,46% 11.823,5 754,3

1985 211,28 8,2 3,88% 31% 1985 8,99% 27,75% 15.516,6 963,6

1986 242,17 8,19 3,38% 18% 1986 7,22% 21,24% 18.386,3 1.168,3

1987 247,08 9,2 3,71% 6% 1987 8,86% -3,34% 19.455,1 1.129,2

1988 277,72 10,2 3,68% 17% 1988 9,14% 7,09% 22.672,4 1.209,3

1989 353,4 11,7 3,32% 31% 1989 7,94% 17,23% 29.808,6 1.417,6

1990 330,22 12,4 3,74% -3% 1990 8,07% 7,05% 28.895,1 1.517,5

1991 417,09 13,0 3,11% 30% 1991 6,70% 17,81% 37.631,5 1.787,8

1992 435,71 12,6 2,90% 7% 1992 6,69% 6,79% 40.451,5 1.909,2

1993 466,45 12,7 2,72% 10% 1993 5,79% 13,32% 44.483,3 2.163,5

1994 459,27 13,4 2,91% 1% 1994 7,82% -7,92% 45.073,1 1.992,0

1995 615,93 14,2 2,30% 37% 1995 5,57% 24,72% 61.838,2 2.484,5

1996 740,74 14,7 1,99% 23% 1996 6,42% -0,53% 75.849,7 2.471,3

1997 970,43 15,5 1,60% 33% 1997 5,74% 11,45% 100.958,7 2.754,4

1998 1229,23 16,2 1,32% 28% 1998 4,65% 14,34% 129.568,3 3.149,2

1999 1469,25 16,7 1,14% 21% 1999 6,44% -8,28% 156.629,2 2.888,3

2000 1320,28 16,3 1,23% -9% 2000 5,11% 16,66% 142.482,7 3.369,4

2001 1148,08 15,7 1,37% -12% 2001 5,05% 5,58% 125.597,7 3.557,5

2002 879,82 16,1 1,83% -22% 2002 3,82% 15,16% 98.009,7 4.096,8

2003 1111,92 17,4 1,56% 28% 2003 4,25% 0,37% 125.802,3 4.112,2

2004 1211,92 19,4 1,60% 11% 2004 4,22% 4,46% 139.315,7 4.295,8

2005 1248,29 22,2 1,78% 5% 2005 4,39% 2,84% 146.050,9 4.417,9

2006 1418,3 24,9 1,75% 16% 2006 4,70% 1,95% 168.853,2 4.504,2

2007 1468,36 27,7 1,89% 5% 2007 4,02% 10,20% 178.114,3 4.963,8

2008 903,25 28,1 3,11% -37% 2008 2,21% 20,11% 112.968,1 5.962,0

2009 1115,1 22,3 2,00% 26% 2009 3,84% -11,07% 142.254,2 5.301,9

SPX Index (S&P 500)USGG10YR Index

(T.Bonds)

Valor Composto

de USD100

Page 62: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

61

ANEXO A – ALL: BALANÇO PATRIMONIAL

Tic

ker

ALLL3 B

Z E

quity

Com

pany

All A

meric

a L

atin

a L

ogis

tica S

A

Perio

dic

ityA

nnual

Curre

ncy

BR

L

Fie

ldM

ne

mo

nic

FY

2009

FY

2008

FY

2007

FY

2006

FY

2005

Asse

ts

  + C

ash &

Near C

ash Ite

ms

BS

_C

AS

H_N

EA

R_C

AS

H_IT

EM

33,5

02

2642,7

349,3

12

1739,0

418,3

43

  + S

hort-T

erm

Inve

stm

ents

BS

_M

KT_S

EC

_O

TH

ER

_S

T_IN

VE

ST

2540,2

20

1766,5

3N

/A987,9

39

  + A

ccounts

& N

ote

s R

eceiva

ble

BS

_A

CC

T_N

OTE

_R

CV

186,4

18

154,3

47

138,3

18

111,3

17

68,4

34

  + In

vento

ries

BS

_IN

VE

NTO

RIE

S80,2

31

93,6

662,9

31

70,9

95

28,1

64

  + O

ther C

urre

nt A

ssets

BS

_O

TH

ER

_C

UR

_A

SS

ET

468,3

76

429,8

03

255,4

07

249,2

12

180,4

28

Tota

l Curre

nt A

ssets

BS

_C

UR

_A

SS

ET_R

EP

OR

T3308,7

53320,5

42272,5

2170,5

61283,3

1

  + L

T In

vestm

ents

& L

T R

eceiva

ble

sB

S_LT_IN

VE

ST

615,5

61

15,9

41

2613,9

72536,9

6237,1

04

    + G

ross F

ixed A

ssets

BS

_G

RO

SS

_F

IX_A

SS

ET

6677,6

36212,3

14347,9

53544,7

1179,1

3

    - Accum

ula

ted D

epre

cia

tion

BS

_A

CC

UM

_D

EP

R1427,4

71488,0

6836,0

95

704,2

4328,5

75

  + N

et F

ixed A

ssets

BS

_N

ET_F

IX_A

SS

ET

5250,1

74724,2

53511,8

52840,4

6850,5

58

  + O

ther L

ong-T

erm

Assets

BS

_O

TH

ER

_A

SS

ET_D

EF

_C

HN

G_O

TH

ER

3200,5

3704,8

51245,1

11338,2

3284,3

38

Tota

l Long-T

erm

Assets

BS

_TO

T_N

ON

_C

UR

_A

SS

ET

9066,2

28445,0

37370,9

36715,6

51372

Tota

l Assets

BS

_TO

T_A

SS

ET

12375

11765,6

9643,4

38886,2

22655,3

1

Lia

bilitie

s & S

ha

reh

old

ers' E

qu

ity8435,5

67449,3

57069,5

76795,9

82037,9

3

  + A

ccounts

Payable

BS

_A

CC

T_P

AY

AB

LE

552,2

9986,8

44

683,8

53

333,5

02

288,4

04

  + S

hort-T

erm

Borro

win

gs

BS

_S

T_B

OR

RO

W490,1

31

636,5

68

752,1

69

456,2

78

189,3

7

  + O

ther S

hort-T

erm

Lia

bilitie

sB

S_O

TH

ER

_S

T_LIA

B621,0

37

676,1

25

583,9

03

450,7

23

225,3

71

Tota

l Curre

nt L

iabilitie

sB

S_C

UR

_LIA

B1663,4

62299,5

42019,9

31240,5

703,1

45

  + L

ong-T

erm

Borro

win

gs

BS

_LT_B

OR

RO

W4109,7

74298,3

23778,6

83898,3

8913,7

65

  + O

ther L

ong-T

erm

Lia

bilitie

sB

S_O

TH

ER

_LT_LIA

BIL

ITIE

S2766,0

92653,2

61306,1

11306,0

2103,6

01

Tota

l Long-T

erm

Lia

bilitie

sN

ON

_C

UR

_LIA

B6875,8

76951,5

85084,7

85204,3

91017,3

7

Tota

l Lia

bilitie

sB

S_TO

T_LIA

B2

8539,3

29251,1

27104,7

16444,9

1720,5

1

  + T

ota

l Pre

ferre

d E

quity

BS

_P

FD

_E

QY

00

0N

/A0

  + M

inority

Inte

rest

MIN

OR

ITY

_N

ON

CO

NTR

OLLIN

G_IN

TE

RE

ST

19,4

22

18,9

26

0,0

18

N/A

0,0

19

  + S

hare

Capita

l & A

PIC

BS

_S

H_C

AP

_A

ND

_A

PIC

3433,9

42141,4

12141,4

12129,4

8682,2

34

  + R

eta

ined E

arn

ings &

Oth

er E

quity

BS

_R

ETA

IN_E

AR

N382,2

88

354,1

2397,2

97

311,8

45

252,5

44

Tota

l Share

hold

ers

' Equity

TO

TA

L_E

QU

ITY

3835,6

52514,4

62538,7

32441,3

2934,7

97

Tota

l Lia

bilitie

s &

Equity

TO

T_LIA

B_A

ND

_E

QY

12375

11765,6

9643,4

38886,2

22655,3

1

Page 63: Avaliação de Empresas e Criação de Valor - Aplicação Prática das Abordagens do DCF, EVA e MVA

62

ANEXO B – ALL: DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO

EXERCÍCIO

Tic

ker

ALLL3 B

Z E

quity

Com

pany

All A

meric

a L

atin

a L

ogis

tica S

A

Perio

dic

ityA

nnual

Curre

ncy

BR

L

Fie

ldM

ne

mo

nic

FY

2009

FY

2008

FY

2007

FY

2006

FY

2005

Re

ve

nu

eS

ALE

S_R

EV

_TU

RN

2471,6

62509,2

32119,1

41726,1

31086,9

6

  - Cost o

f Reve

nue

IS_C

OG

S_TO

_F

E_A

ND

_P

P_A

ND

_G

1594,7

61407,2

81330,3

81106,9

6668,5

0

Gro

ss P

rofit

GR

OS

S_P

RO

FIT

876,9

01101,9

5788,7

5619,1

7418,4

7

  + O

ther O

pera

ting R

eve

nue

IS_O

TH

ER

_O

PE

R_IN

C15,2

00,4

522,2

716,5

314,9

3

  - Sellin

g, G

enera

l & A

dm

in E

xpense

IS_S

GA

_O

TH

ER

_O

P_D

EP

R_O

P_M

AIN

T123,3

9151,4

690,8

2189,5

4104,5

7

Opera

ting In

com

eIS

_O

PE

R_IN

C768,7

1950,9

3720,2

0446,1

6328,8

3

  - Inte

rest E

xpense

IS_IN

T_E

XP

EN

SE

1058,8

0998,4

4571,0

0N

/A301,9

2

  - Fore

ign E

xchange L

osses (G

ain

s)

IS_F

OR

EIG

N_E

XC

H_LO

SS

N/A

33,9

714,4

5N

/AN

/A

  - Net N

on-O

pera

ting L

osses (G

ain

s)

IS_N

ET_N

ON

_O

PE

R_LO

SS

-72,2

7-2

68,5

1-1

31,1

6339,3

4-1

82,8

8

Pre

tax In

com

eP

RE

TA

X_IN

C-2

17,8

2187,0

3265,9

0106,8

2209,7

9

  - Incom

e T

ax E

xpense

IS_IN

C_TA

X_E

XP

-254,8

211,5

849,0

830,6

438,5

6

  - L(G

) on in

flatio

nG

AIN

_LO

SS

_M

ON

ETA

RY

_P

OS

ITIO

NN

/AN

/AN

/AN

/AN

/A

Incom

e B

efo

re X

O Ite

ms

IS_IN

C_B

EF

_XO

_IT

EM

37,0

0175,4

5216,8

276,1

8171,2

3

  - Extra

ord

inary

Loss N

et o

f Tax

XO

_G

L_N

ET_O

F_TA

X0,0

00,0

00,0

0N

/AN

/A

  - Min

ority

Inte

rests

MIN

_N

ON

CO

NTR

OL_IN

TE

RE

ST_C

RE

DIT

S5,3

5-1

,28

0,0

20,1

20,0

3

Net In

com

eN

ET_IN

CO

ME

31,6

5176,7

3216,8

076,0

6171,2

0