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297 AVALIAÇÃO DE CLONES DE CUPUAÇUZEIRO QUANTO À RESISTÊNCIA À VASSOURA-DE-BRUXA 1 RAFAEL MOYSÉS ALVES2, RUTH LINDA BENCHIMOL STEINl, DÊNMORA GOMES DE ARAÚJOl, LUCIONILA PIMENTEU RESUMO - O cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorums é uma fruteira nativa da Amazônia que apresenta boas perspectivas mercado lógicas. Porém, a doença conhecida como vassoura-de-bruxa (Crinipel/is perniciosa) tem ameaçado seriamente os plantios comerciais. Para atender à demanda por material genético resistente a essa doença, foram avaliados, durante os anos de 1994/1995, 36 clones de cupuaçuzeiro, plantados no Campo Experimental da EmbrapaAmazônia Oriental, em Belém, PA. Na avaliação de 1995, cerca de 78% dos clones já apresentavam sintomas da doença. Dentre as procedências estudadas, o Pará foi a melhor fonte de materiais resistentes. Observou-se grande variabilidade entre clones para o caráter número médio de vassouras emitidas por planta. Dos clones em teste, oito não apresentaram nenhum sintoma da doença. Termos para indexação: Cupuaçu, germoplasma, doença. EVALUATlON OF CUPUAÇU TREE (Theobroma grandiflorum) CLONES AIMING AT RESlSTANCE TO WITCHES' BROOM DISEASE (Crinipellis perniciosa) ABSTRACT - The cupuaçu tree (Theobroma grandiflorumi is an Amazon native fruit tree that has good trade perspectives. However, a disease known as witches' broom (Crinipellis perniciosa), has seriously challenged the commercial plantations. In order to supply the demand for disease resistant planting material, 36 clones of cupuaçu tree planted at the Experimental Field of Embrapa Oriental Amazon, in Belém, PA, were evaluated in relation to their resistance to witches' broom disease, during 1994 and 1995. In 1995, about 78% of the clones had already shown the disease symptoms. Among the studied origins, the State of Pará was the best source of disease resistant materiaIs. High variability among clones was observed for the character number ofbrooms emmited per plant. Eight clones have not yet shown disease symptoms. Index terms: Cupuaçu tree, germoplasm, disease. INTRODUÇÃO O cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum Schum) é uma fruteira nativa da Amazônia que produz frutos com aroma característico e sabor muito apreciado. Ele pode ser consumido tanto na forma de sucos, sorvetes, doces, compotas, geléias e licores, C~D-ª ~'!. de um produto semelhante ao chocolate, fabricado a partir de suas amêndoas denominado '-~ --- "cupulate" (Calzavara et al., 1984; Nazaré et al., 1990). . Tanto na fase jovem, como na fase adulta, o cupuaçuzeiro sofre o ataque da vassoura-de-bruxa (Crinipeflis perniciosa Stahel (Singerj), doença muito prejudicial a essa cultura na região amazônica e disseminada de forma endêmica em toda a América do Sul Tropical (Lass, 1985; Wheeler, 1985). Bastante estudada na cultura do cacaueiro (Theobroma I Aceito para publicação em 1°.10.98 2 Eng. Agr. M.Sc. Pesquisador EMBRAPA-CPATU. Caixa Postal 48 - CEP 66017-900. Bdém-PA. J Bolsista CNPq/FCAP/EMBRAPA, Caixa Postal 48 - CEP 66017-900 Belém-PA. Rev. Bras. Frutic., Cruz das Almas. v. 20. n. 3. p. 297-306. dez. 1998

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AVALIAÇÃO DE CLONES DE CUPUAÇUZEIRO QUANTO ÀRESISTÊNCIA À VASSOURA-DE-BRUXA1

RAFAEL MOYSÉS ALVES2, RUTH LINDA BENCHIMOL STEINl,DÊNMORA GOMES DE ARAÚJOl, LUCIONILA PIMENTEU

RESUMO - O cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorums é uma fruteira nativa da Amazônia queapresenta boas perspectivas mercado lógicas. Porém, a doença conhecida como vassoura-de-bruxa(Crinipel/is perniciosa) tem ameaçado seriamente os plantios comerciais. Para atender à demandapor material genético resistente a essa doença, foram avaliados, durante os anos de 1994/1995, 36clones de cupuaçuzeiro, plantados no Campo Experimental da EmbrapaAmazônia Oriental, em Belém,PA. Na avaliação de 1995, cerca de 78% dos clones já apresentavam sintomas da doença. Dentre asprocedências estudadas, o Pará foi a melhor fonte de materiais resistentes. Observou-se grandevariabilidade entre clones para o caráter número médio de vassouras emitidas por planta. Dos clonesem teste, oito não apresentaram nenhum sintoma da doença.

Termos para indexação: Cupuaçu, germoplasma, doença.

EVALUATlON OF CUPUAÇU TREE (Theobroma grandiflorum) CLONES AIMING ATRESlSTANCE TO WITCHES' BROOM DISEASE (Crinipellis perniciosa)

ABSTRACT - The cupuaçu tree (Theobroma grandiflorumi is an Amazon native fruit tree that hasgood trade perspectives. However, a disease known as witches' broom (Crinipellis perniciosa), hasseriously challenged the commercial plantations. In order to supply the demand for disease resistantplanting material, 36 clones of cupuaçu tree planted at the Experimental Field of Embrapa OrientalAmazon, in Belém, PA, were evaluated in relation to their resistance to witches' broom disease,during 1994 and 1995. In 1995, about 78% of the clones had already shown the disease symptoms.Among the studied origins, the State of Pará was the best source of disease resistant materiaIs. Highvariability among clones was observed for the character number ofbrooms emmited per plant. Eightclones have not yet shown disease symptoms.

Index terms: Cupuaçu tree, germoplasm, disease.

INTRODUÇÃO

O cupuaçuzeiro (Theobromagrandiflorum Schum) é uma fruteira nativa daAmazônia que produz frutos com aromacaracterístico e sabor muito apreciado. Ele podeser consumido tanto na forma de sucos, sorvetes,doces, compotas, geléias e licores, C~D-ª~'!. de um produto semelhante ao chocolate,fabricado a partir de suas amêndoas denominado'-~ ---

"cupulate" (Calzavara et al., 1984; Nazaré et al.,1990). .

Tanto na fase jovem, como na faseadulta, o cupuaçuzeiro sofre o ataque davassoura-de-bruxa (Crinipeflis perniciosaStahel (Singerj), doença muito prejudicial a essacultura na região amazônica e disseminada deforma endêmica em toda a América do SulTropical (Lass, 1985; Wheeler, 1985). Bastanteestudada na cultura do cacaueiro (Theobroma

I Aceito para publicação em 1°.10.982 Eng. Agr. M.Sc. Pesquisador EMBRAPA-CPATU. Caixa Postal 48 - CEP 66017-900. Bdém-PA.J Bolsista CNPq/FCAP/EMBRAPA, Caixa Postal 48 - CEP 66017-900 Belém-PA.

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cacao L.), onde tem ocasionado perdas de até70% na produção de frutos em plantioscomerciais com mais de seis anos de idade(Bastos, 1990),1a vassoura-de-bruxa ataca ostecidos meristemáticosj' provocandosuperbrotamento, hipertrofia e hiperplasia, dandoo aspecto de uma vassoura aos ramos e almofadasflorais afetadostt Baker & Holliday, 1957).Apesar de não haver registros sobre perdasprovocadas pela vassoura-de-bruxa na cultura docupuaçuzeiro, é grande o prejuízo provocadopela doença nessa cultura (Vieira, 1942).

'0 controle da vassoura-de-bruxa nocupuaçuzeiro tem sido feito com base em estudosrealizados na cultura do cacaueiro I A podaprofilática, apesar de ser um método oneroso, éa medida de controle cultural mais preconizadana região, consistindo na remoção dos ramos efrutos doentes uma vez por ano, na época maisseca, com repasse cerca de três meses depois(Bastos & Evans, 1979). ro controle químicoapresenta limitações, em função da necessidadede aplicações freqüentes de fungicidas decontato, para acompanhar a expansão doslançamentos da planta, e da ausência de umfungicida sistêmico eficaz no combate ao micéliodo patógeno após o seu estabelecimento (Bastos,1990). Testes recentes indicaram que osfungicidas sistêmicos Tebucot:JazoJe eTriadimenol inibem o crescimento micelial deC perniciosa do cupuaçuzeiro em laboratório(Yoneyama & Stein, 1995). A longo prazo, autilização de clones resistentes, fundamentadana hipótese de ser C perniciosa um fungohomotálico, portanto, ç.Qm baixa probabilidadede variação genética (Baker & Holliday, 1957),é uma alternativa a ser considerada no controleda vassoura-de-bruxa. Clones de cacaueiro tidoscomo resistentes - SCA 6 e 12 - tiveram essaresistência quebrada, apontando umavariabilidade genética na população do patógenona região amazônica. No entanto, os isolados deC perniciosa que atacam o cacaueiro, ~Q sãoos mesmos que atacam o cupuaçuzeiro (Fonsecaet al., 1985; EMBRAPA, 1996), apesar depertencerem ao mesmo biótiEo (Griffith et al.,1994), sendo necessários estudos maisaprofundados sobre prováveis raças dessepatógeno em r g;andiflorum: .-- _._----- ..o objetivo deste trabalho foi avaliar, a

nível de campo, 36 clones de cupuaçuzeiro

quanto à resistência à vassoura-de-bruxa, paraserem utilizados como materiais de plantação e!ou nos programas de melhoramento genético.

MATERIAL E MÉTODOS

No período de 1984 a 1986, foramrealizadas expedições de coleta em diferenteslocais dos Estados do Amazonas, Pará e Amapá,para a obtenção de acessos de cupuaçuzeiro comcaracterísticas de resistência à vassoura-de-bruxa. Tais materiais foram multiplicadosassexuadamente e cultivados no CampoExperimental do CPATU, em Belém, Pará, noque foi denominado Banco Ativo deGerrnoplasma (BAG) de cupuaçuzeiro de Belém.Este campo localiza-se a 1° 28' 00" S e 48° 27'00" W, a 12,8 m de altitude. Apresenta climatropical quente e chuvoso do tipo A fi, segundo aclassificação de Kõppen, com temperaturamáxima de 31, 1°C, mínima de 22,4°C e médiade 25,9°C. A precipitação pluviométrica total doano de 1994 foi de 3.285 mm e 3.292 mm em1995. O solo é do tipo Latossolo Amarelo, texturamédia, distrófico, profundo, com boascaracterísticas de aeração e drenagem, semcamada impermeabilizante nos horizontessuperficiais.

Das matrizes selecionadas, foramcoletadas borbulhas que, enxertadas em porta-enxertos previamente preparados, originaram osclones do ensaio.

A coleção foi constituída de 46 clonesde cupuaçuzeiro. dos quais 36 foram objeto desteestudo. Estes clones foram plantados no campo,em 1987, representados por cinco plantas, noespaçamento de 6,0 m x 5,0 m, tendo como plantade sombra definitiva o ingazeiro (lnga edulisv.Algumas medidas foram tomadas para garantiro estabelecimento da doença e propiciar adiscriminação, a nível de campo, dos clonesquanto ao caráter resistência à vassoura-de-bruxa. Inicialmente, foram plantados dois c1ones,285 e 287, originários de matrizescomprovadamente suscetíveis nas entrelinhas deplantio para servirem como fonte primária deinóculo. Além dessa fonte, vassouras-de-bruxasecas, com basidiocarpos, oriundas de outroplantio, foram penduradas em toda áreaexperimental. Finalmente, as vassouras-de-bruxa

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AVALIAÇÃO DE CLONES DE CUPUAÇUZEIRO

que surgiram nas plantas, desde o primeiro anode plantio, não foram podadas, permanecendotodo o ciclo na planta, constituindo-se em umaterceira fonte de inóculo. Assim sendo, todos osclones tiveram a mesma probabilidade de serinfectados pelo fungo.

Os registros das vassouras-de-bruxaque surgiam nos ramos. foram realizadosmensalmente, no período de 1989 a 1995,anotando-se o número de plantas afetadas porclone. A partir de 1994, foram também coletadosdados sobre o número e estádios das vassouras-de-bruxa por planta e o tempo de permanênciadas vassouras na planta. Considerou-se comoclone afetado pela doença, para esta avaliação,quando aparecia, pelo menos, uma vassoura emuma planta do clone.

Acompanhou-se. também. adistribuição dos estádios das vassouras nasplantas ao longo do ano, sendo consideradoestádio I. quando a vassoura surgia no ramo e operíodo que permanecia verde; estádio 2, a faseintermediária, em que a vassoura passa de verdepara seca; estádio 3. a vassoura seca; e estádio4. quando a vassoura desprendia-se da planta.Para efeito de análise estatística. foramcomputados os valores médios do número devassouras emitidas nas plantas de cada clone, nosanos de 1994 e 1995. Como não havia repetições,foi usada a interação clones x anos como resíduo(Gomes 1977), no delineamento inteiramentecasualizado. Os dados foram transformados para~ x + 0,5, por tratar-se de uma variável discreta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por ocasião da coleta das matrizes queoriginaram os clones do experimento, conformereportado por Lima & Costa (1991), uma dascaracterísticas observadas foi a resistência àvassoura-de-bruxa, causada pelo fungoCrinipellis perniciosa(Stahel) Singer, além daprodução de frutos.

Conforme se observa-se na Tabela I, amaioria das matrizes selecionadas demonstrava,por ocasião da coleta, ausência de sintomas dadoença, apesar de existirem plantas doentes nascircunvizinhanças. Outras possuíam baixosníveis de ataque, mas foram selecionadas emfunção de outras características agronômicas.

299

A técnica de coleta de germoplasma,aparentemente resistente à vassoura-de-bruxa emplantios comerciais, tem demonstrado resultadospromissores no caso do cacaueiro (CEPLAC,1984).

A evolução da doença ao longo dosanos é mostrada na Figura I. Observou-se, queno ano de 1989, apareceram vassouras em 33%dos clones. Em 1990,44% dos materiais foramafetados. evoluindo, gradativamente, até atingir78%, em 1995.

Observou-se uma taxa de crescimentoconstante da doença ao longo dos anos, em tomode 1i %, a exceção do período 1991 a 1994,apesar de a fonte de inóculo ter crescidoexponencialmente.

Em 1994, foi dado início à avaliaçãomais detalhada, a nível de campo, agrupando-seos clones por procedência. Verificou-se (Figura2) que, dos 22 acessos do Amazonas, cinco nãoapresentavam sintomas da doença (22,7%). Dosnove clones do Pará, cinco mostraram-seresistentes (55,5%) e, oriundos do Amapá, doisnão foram infectados pelo fungo (40,0%).

No tocante à permanência das vassoras-de-bruxa nas plantas, foi observado que, de umamaneira geral, o aparecimento de novasvassouras aconteceu com a diminuição daschuvas, a partir do mês de maio. Este fatonormalmente ocorre devido à esporulação dosbasidiósporos acontecer no final do períodochuvoso, cerca de um mês antes de iniciar ainfecção das plantas. O pico máximo deaparecimento de vassouras novas aconteceu nomês de setembro, no meio do período menoschuvoso do ano. Porém. houve variações entreclones.

Quanto ao número de vassouras secasnas plantas, observou-se certa estabilidade noprimeiro semestre, havendo um pequenoincremento de 1,5 vassouras em média porplanta, para cerca de duas vassouras. Porém, apartir de agosto, houve um crescimento muitosignificativo, atingindo o pico em outubro,estabilizando nos meses subseqüentes nessepatamar bastante elevado, com cerca de dezvassouras secas por planta, em média. Valeressaltar que as vassouras secas não forampodadas, permitindo o desenvolvimento normaldo ciclo vital do fungo (Figura 3).

Uma avaliação simples das médias do

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300 R. M. ALVES et ai.

número de vassouras emitidas nas plantas revelouque, para o ano de 1994, o clone 12 foi o maisatacado por essa doença, com a média de 57,7vassouras/planta, com uma planta apresentando87 vassouras. Os clones 184, 1074 e 136 foramtambém bastante atacados, com mais de 30vassouras em média por planta.

Por outro lado, clones como o 514 e620 apresentaram menos de 0,5 vassoura emmédia por planta. Outro grupo tambéminteressante, por ter produzido média inferior aquatro vassouras por planta, foi constituído pelosclones 512,623,229,435,217,513 e 434.

Os 12 clones que ficaram livres dadoença na avaliação de 1994 foram: 174, 186,215,218,220,286,516,518,554,618,622 e624.

No ano de 1995, foram realizadasidênticas avaliações. O nível de infestação foimaior, em função do acúmulo de fonte de inóculoe, possivelmente, das condições climáticasfavoráveis. Nesse ano, o clone que apresentoumaior número de vassouras foi o 184, com 70vassouras em média por planta, sendo que emuma única planta, foram contadas 349 vassouras.Os clones 247, 12, 227 e 183 foram, após o 184,os mais atacados. Quatro clones, que no anoanterior se encontravam livres da doença, no anode 1995, apresentaram pelo menos uma plantacom uma vassoura. Sendo um acesso doAmazonas, um do Pará e dois do Amapá osinfectados.

Assim, a percentagem dos clones livresda doença, procedentes do Amazonas, ficou em18, I%. Com relação aos oriundos do Pará,baixou para 44,4% e nenhum clone origináriodo Amapá resistiu ao fungo.

A análise por procedência revelouresultado similar ao obtido em 1994, onde osclones de origem do Estado do Amazonas forammais suscetíveis à doença que os oriundos doPará e Amapá.

O estudo da distribuição das vassourasao longo de 1995 (Figura 5) foi similar aorealizado em 1994. Porém, em função dascondições climáticas, o padrão de distribuiçãofoi ligeiramente diferente. Observou-se umcrescente aparecimento de vassouras novas apartir de abril, com incrementos até dezembro.

O número de vassouras secas,extremamente elevado nos primeiros meses do

ano, declinou vertiginosamente, atingindo, emjunho, o patamar mais baixo, para novamentesofrer incrementos progressivos até o final doano, atingindo, em dezembro, o pico máximo.

Quanto à queda de vassouras, observaram-se dois picos. Um de menor proporção em abrile outro, mais acentuado, no mês de junho. Nosmeses subseqüentes, o número de vassourascaídas decresceu acentuadamente.

A análise estatística (Tabela 2), para ocaráter número médio de vassouras por planta,computando-se simultaneamente os dois anos deavaliações (9~ e 95), revelou existir diferençaestatística significativa entre clones para essecaráter. Os clones 620, 514, 218, 518, 516 e 554apresentaram níveis de ataque relativamentebaixos, que variaram de I, I a O, I vassouras emmédia por planta, quando comparados com osclones 12, 184 e 247, com valores superiores a50 vassouras por planta.

Os oito clones que ficaram livres dadoença na avaliação final, foram: 174, 186,215,220,286,618,622 e 624.

CONCLUSÕES

I - O aspecto fenotípico de uma matriz decupuaçuzeiro que, no momento da coleta nãoapresenta sintomas de vassoura-de-bruxa, mesmocircundada por plantas atacadas, não garante queo clone dela originário seja resistente ao fungoe, portanto, seja uma característica herdável.

2 - O incremento da doença na áreaexperimental, ao longo do tempo, foi constante,sendo que, na avaliação realizada em 1995, cercade 78% dos clones estavam afetados.

3 - Nessa amostra restrita, a análise deprocedência revelou que os materiais origináriosdo Pará eram mais resistentes à doença, que osadvindos do Amazonas e Amapá.

4 - Existiu grande variação entre os clones quantoà época de surgimento de novas vassouras, otempo de permanência na planta e a queda devassouras secas. As condições climáticas tambémtiveram influência, deslocando os picos de maioraparecimento de vassouras de um ano para outro.Em geral. o maior número de vassouras surgiu

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AVALlAÇAo DE CLONES DE CUPUAÇUZEIRO 301

TABELA I - Localização e estado fitossanitário das matrizes que deram origem aos clones decupuaçuzeiro. 8elém - Pará, 199611

Clone Estado Município Localização Estado fitossanitário.

12 AM Tabatinga Rio Solimões A21136 AM Tefé Rio Tefé S151 AM Tefé Rio Tefé S174 AM Coari Rio Solimões S181 AM Anori Rio Solimões A182 AM Codajás Rio Solimões S183 AM Codajás Rio Solimões S184 AM Codajás Rio Solimões S185 AM Codajás Rio Solimões P186 AM Codajás Rio Solimões A215 AM Manacapuru Rio Solimões S216 AM Manacapuru Rio Solimões S217 AM Manacapuru Rio Solimões S218 AM Caapiranga Rio Solimões A219 AM Anamã Rio Solimões S220 AM Manacapuru Rio Solimões S227 AM Cacaupireira Rio Solimões A228 AM Manaus Rio Negro A229 AM Manaus Rio Negro A247 AM Itacoatiara Rio Amazonas A248 AM Itacoatiara Rio Amazonas S1074 AM Itacoatiara Rio Amazonas S286 PA 8elém Rio Amazonas A434 PA Muaná Rio Muaná A435 PA Muaná Rio Muaná A512 AP Oiapoque Rio Urucauá A513 AP Oiapoque Rio Urucauá A514 AP Oiapoque Rio Curipi A516 AP Oiapoque Rio Curipi A518 AP Oiapoque Rio Curipi A554 PA Gurupá Rio Amazonas A618 PA Santarém Rio Tapajós A620 PA Santarém Rio Tapajós A

622 PA Prainha Rio Amazonas A

623 PA Alenquer Rio Amazonas A

624 PA Santarém Rio Tapajós . S

'Fonte: Adaptado de Lima & Costa (1991)2A = ausência de ataque de vassoura-de-bruxa, P = pouco ataque e S = sem informação.

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302 R. M. ALVES et al.

TABELA 2 - Número médio de vassouras por planta, em 28 clones de cupuaçuzeiro, dos 36 clonesavaliados, nos anos de 1994 e 1995. Belém, Pará, 1996.

Clone Stand N°de vassouras por planta(Média/planta/ano)\ /

12 5

184 5

247 4

136 4

1074 3

183 5

227 4

151 4

219 4

228 3

216 4

248 5

185 4

182 2

623 3

181 3

512 4

513 4

229 4

435 3

434 4

217 2

620 5

514 ".)

218 2

518 2

516 4

554 5

59,7 a

55,1 ab51,4abc

39,8 abcd

39,3 abcd

38,5 abcde:

35,2 abcdef

31, I abcdef

28,9 abcdefg

28,5 abcdefghi

26,8 abcdefghi

25,5 abcdefghi

17,9 abcde:fghi

11,2 bcdefghi

8,8 cde:fghi

8,2 cdefghi

6,6 defghi

6,5 defghi

4,8 defghi

4,2 efghi

3,4 fghi

2,8 fghi

1,1 ghl

1.0 ghi

0,5 ghi

0,2 h,

0,1

0,1

IMédias seguidas pela mesma letra não diferem, significativamente, pelo teste de Tukey, ao nível de5% de probabilidade

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AVALIAÇÃO DE CLONES DE CUPUAÇUZEIRO 303

BO é!i~::,(>"

70--'?fi!. -_......_-_._---

'--' 60cnO=s 50OcncnO 40>-EO 30<....>C'-"<l> 20c:=OU 10

O19B9 1990 1991

Ano1994 1995

FIGURA I - Percentagem de clones de cupuaçuzeiro com vassoura-de-bruxa, no período de 1989 a1995

BO

-- 70'?fi!.'--'cn 60o~Ocn 50cno::>

E 40O<....>

30cn<l>c:=O 20U

10

OAmazonas AmapáPará

Procedência

FIGURA 2 - Percentagem de clones de cupuaçuzeiro com vassoura-de-bruxa, avaliados em 1994,em função da procedência. Belém, Pará, 1996.

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304 R. M. ALVES et aI.

12

11I 10ctJ•..::J 8O~ 6ctJ>Q) 4·'Co

2z

O -

......................... - 600

.~-. -~-"1 500

400

300 EE

200

100

FIGURA 3 - Distribuição, ao longo do ano de 1994, do número médio de vassouras por plantas nosquatro estádios, associado à pluviosidade. Belém, Pará, junho de 1996.

...•...2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Mêses

c::=:J Pluviosidade -+- Es tádio 1

_.- .•.-.- Estádio 3 __ • __ Estádio 4

·-~l_-+-_Estádio 2 I

_______ . J

100

FIGURA 4 - Distribuição, ao longo do ano de 1995, do número médio de vassouras por plantas nosquatro estádios, associado à pluviosidade. Belém, Pará, junho de 1996.

10 .

.•..- ..•.. - ..•.\·400

500

8

6 300

4E

200 E

o2 2

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Mêses

[-----.-- ·-lc=:J Pluvosidade ~ Estádio 1 _ -+- _ Estádio 2

._ ..••._. Estádio 3 _ .•.. _Estádio4._--~._--_ ..__ .. _ .._.__ ..- -.-------------_._----_ ..--_.---- --------

Rev Bras. Frutic., Cruz das Almas. v. 20. 11. 3. p. 297-306. dez. 1998

AVALIAÇÃO DE CLONES DE CUPUA('lJZEIRO

no final do período chuvoso.

5 - Dos 36 clones pesquisados, oito mantiveram-se livres da doença: 174, 186, 215, 220, 286,618,622 e 624.

AGRADECIMENTOS

Aos funcionários da EMBRAPA \CPATU,Marcus Vinícius Farias da Silva, Paulo de TarsoOliveira Santiago, Raimundo Nonato Gomes deAndrade, Miguel do Espírito Santo TeixeiraLoureiro, José Raimundo Quadros Fernandes,Euclides da Rosa Ribeiro, losé do SocorroOliveira de Aviz e Michell Olívio Xavier daCosta, pelo serviço de apoio a esta pesquisa.

REFERÊNCIAS

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