avaliação de aptidões sociais e problemas de comportamento
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Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao
Universidade de Coimbra
Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento
em Idade Prem Idade Prem Idade Prem Idade Pr----EscolarEscolarEscolarEscolar::::
Retrato das Crianas Portuguesas Retrato das Crianas Portuguesas Retrato das Crianas Portuguesas Retrato das Crianas Portuguesas
Sofia de Oliveira Major
Bolseira de Doutoramento da
Fundao para a Cincia e a Tecnologia
(SFHR/BD/29141/2006)
Coimbra 2011
Dissertao de Doutoramento em
Psicologia, rea de especializao em
Avaliao Psicolgica, apresentada
Faculdade de Psicologia e de Cincias da
Educao da Universidade de Coimbra e
realizada sob a orientao da Professora
Doutora Maria Joo Seabra-Santos e do
Professor Doutor Roy P. Martin.
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Aos meus pais, Fernando e Dulce.
Ao meu irmo, Mickal.
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V
AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS
A concretizao deste trabalho, de que resulta a apresentao desta dissertao, contou
com a colaborao de diversas pessoas e entidades, sem as quais este estudo no poderia ter sido
levado a bom porto, de entre as quais saliento:
A minha orientadora, Professora Doutora Maria Joo Rama Seabra-Santos, que embarcou
comigo nesta aventura e com quem tem sido um verdadeiro privilgio trabalhar. Como no sei
bem por onde comear e, por consequncia, o agradecimento poderia tornar-se muito extenso,
vou ser muito sinttica. Destaco o apoio incondicional e interesse neste projecto (desde o
primeiro momento), a sua constante disponibilidade, rigor, conselhos, ensinamentos,
encorajamentos e reviso cuidadosa desta dissertao.
O meu orientador, Professor Doutor Roy P. Martin, com quem tive oportunidade de trabalhar
na University of Georgia (Athens, EUA). Agradeo a boa disposio com que discutimos algumas
questes relacionadas com este trabalho (tais como, estudos de anlise de clusters). Thanks for
the advices: To be a good scientist you must know where the alligators are in the water! and
Data become cold very fast.
Ao Professor Doutor Kenneth W. Merrell, que tive oportunidade de conhecer na University of
Oregon (EUA). Agradeo no s o facto de ter desenvolvido as PKBS-2 (objecto de estudo deste
trabalho), a receptividade para a adaptao destas para a populao portuguesa, mas tambm a
disponibilidade para esclarecer vrias questes que foram surgindo ao longo deste percurso.
Os Professores da Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade de
Coimbra que me apoiaram ao longo deste anos, nomeadamente o Professor Doutor Mrio R.
Simes.
O Professor Doutor Jos Toms Silva, a quem agradeo a ajuda com o AMOS e as dicas para os
estudos de anlise factorial confirmatria.
A Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade de Coimbra que me
acolheu ao longo de todo o meu percurso acadmico, enquanto aluna de Licenciatura, Mestrado
e Doutoramento.
A Fundao para a Cincia e a Tecnologia, pela bolsa de Doutoramento que me foi concedida e
sem a qual no teria sido possvel dedicar-me, exclusivamente, investigao. Agradeo tambm
o apoio financeiro para a participao em congressos a nvel internacional, e a possibilidade de
trabalhar dois meses com o meu orientador nos EUA.
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VI
Para a obteno de autorizaes para a recolha da amostra normativa: a Comisso Nacional de
Proteco de Dados, as Direces Regionais de Educao de Norte a Sul do Pas, passando pelas
Regies Autnomas, e a Direco Geral da Inovao e do Desenvolvimento Curricular.
Para a recolha das amostras referentes a estudos de evidncia de validade: as Associaes de
Portadores de Perturbao do Desenvolvimento e Autismo e a Associao dos Amigos do
Autismo (APPDA-Norte, APPDA-Setbal e AMA); a Direco do Centro de Desenvolvimento do
Hospital Garcia de Orta, a Dra. Maria Jos Fonseca e Dra. Anabela Farias; a Mestre Margarida
Almeida (Centro de Desenvolvimento da Criana do Hospital Peditrico de Coimbra); a
Associao Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 (APPT-21) e a Dra. Lusa Cotrim; a
Professora Doutora Maria do Cu Salvador, a Dra. Andreia Azevedo e a Dra. Ana Catarina
Gaspar.
Os Presidentes de Conselhos Executivos, Directores de Jardins-de-infncia e Escolas Bsicas do
Primeiro Ciclo, pblicos e privados, que autorizaram a recolha dos protocolos nas suas
instituies escolares.
Os directores de estabelecimentos escolares com currculos bilingues, que consentiram a recolha
dos protocolos para o estudo de formas paralelas, nomeadamente: o Externato Luso-Britnico, a
Carlucci American School of Lisbon, Colgio St. Peters School, Colgio da Penina, Colgio
Internacional de Vilamoura, Escola Internacional do Algarve e Escola Inglesa do Barlavento.
Os Pais e Educadores/Professores de todas as crianas envolvidas neste estudo, que
pacientemente responderam ao nosso pedido de colaborao. Destaco a participao dos pais e
educadores que preencheram diversos questionrios, nomeadamente para os estudos de preciso
e validade.
Todas as crianas em idade pr-escolar (3-6 anos), que permitiram a concretizao desta
investigaoavaliadas atravs das suas brincadeiras com os pares, comportamentos, relao
com pais e educadoressem as quais este estudo no teria qualquer sentido ou significado.
Destaco ainda a oportunidade de interagir mais directamente com esta faixa etria (to
fascinante), aquando da avaliao de 80 crianas com a WPPSI-R e a EAPCASC.
As crianas do Jardim-de-Infncia de Lordelo, EB1/JI do Alfeite e da Creche e Jardim-de-Infncia
do Monte da Caparica que, dando largas sua imaginao, perante o tema meninos e meninas
a brincar, criaram as autnticas obras de arte expostas na capa deste trabalho.
A Vnia, amiga desde os tempos da faculdade, que prontamente aceitou dedicar umas quantas
horas ltima reviso da presente dissertao.
E, at last but not least Os meus pais e o meu irmo, a quem dedico (novamente) este trabalho.
A todos aqui fica um grande e sentidoObrigada!
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VII
Sabia que uma em cada quatro interaces sociais com outra
criana em idade pr-escolar assume um carcter agressivo? Ou,
que aproximadamente 70% das crianas at aos 3 anos tm
pelo menos uma birra por dia?
Talvez um dos seus filhos seja calmo, flexvel e cooperante e o
outro precisamente o oposto teimoso, resistente mudana e
desatento.
O desenvolvimento social, emocional e acadmico das
crianas um processo incrvel. () So os anos incrveis com
todas as suas lgrimas, culpa, raiva, gargalhada, alegria e amor.
Adaptado de Carolyn Webster-Stratton
(2006, Introduction, pp. 17-25)
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VIII
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IX
NDICENDICENDICENDICE
Introduo 1
COMPONENTE TERICA
Captulo 1.
Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar
1.1. Avaliao do Desenvolvimento Social e Emocional das Crianas.... 11
1.1.1. Importncia das Aptides Sociais e da Regulao Comportamental... 13
1.1.2. Problemas no Desenvolvimento Socioemocional... ... 17
1.2. Importncia da Avaliao Precoce: Avaliar para Prevenir/Intervir. 24
1.3. Avaliao Psicolgica no Pr-Escolar: Algumas Consideraes e Recomendaes.... 27
1.3.1. Dificuldades Especficas da Avaliao Psicolgica no Pr-Escolar. 29
1.3.2. Outras Variveis a Considerar no Decorrer do Processo Avaliativo 35
1.4. As Escalas de Avaliao...... 39
1.4.1. Vantagens das Escalas de Avaliao... 42
1.4.2. Limitaes das Escalas de Avaliao.... 43
1.4.3. Recomendaes na Utilizao de Escalas de Avaliao... 46
1.4.4. Escalas de Avaliao Socioemocional Existentes em Portugal: Estado da Arte 48
1.5. Sntese..... 54
Captulo 2.
A Utilizao de Questionrios: Acordo entre Informadores
2.1. Importncia/Interesse do Recurso a vrios Informadores... 57
2.2. Os Informadores mais Comuns 61
2.2.1. Os Pais enquanto Informadores..... 62
2.2.2. Os Educadores/Professores enquanto Informadores..... 64
2.2.3. Utilidade da Informao Facultada pelos diferentes Informadores... 66
2.3. O Recurso a vrios Informadores e a Existncia de Informao Diversa.... 68
2.3.1. Informadores de Contextos Diferentes: Acordo Pais-Educadores/Professores. 70
2.3.2. Informadores do mesmo Contexto..... 79
2.4. Causas para as Divergncias na Informao Recolhida. 85
2.4.1. As Caractersticas da Criana. 88
2.4.2. As Caractersticas dos Informadores. 89
2.4.3. As Caractersticas Familiares. 94
2.4.4. As Caractersticas dos Instrumentos Utilizados... 95
2.5. Abordagens mais Recentes no Estudo do Acordo entre Informadores ... 96
2.6. Sntese. 98
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X
Captulo 3.
Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar: Da Teoria
Prtica da Avaliao
3.1. Aptides Sociais e Competncia Social: Definies e Modelos Tericos. 101
3.1.1. A Controversa Definio de Competncia Social e Aptides Sociais. 103
3.1.2. Comportamento Adaptativo, Competncia Social e Aptides Sociais: Modelos
Tericos de Integrao destes Constructos..
108
3.2. Desenvolvimento de uma Taxonomia de Aptides Sociais.......................................................... 110
3.3. Classificao de Dfices nas Aptides Sociais. 113
3.4. Classificao dos Problemas de Comportamento ... 116
3.4.1. Dimenses Exteriorizada e Interiorizada ... 119
3.4.2. Sistemas de Classificao e a sua Utilizao no Pr-Escolar ....... 125
3.4.3. Anlise de Clusters ....... 130
3.5. Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento: Relao com Outras
Variveis e Estudos com Grupos Clnicos
133
3.5.1. Relao com Outras Variveis.. 133
3.5.2. Estudos com Grupos Clnicos.... 141
3.6. Sntese. 144
Captulo 4.
Caracterizao das PKBS-2
4.1. O Autor das PKBS-2.. 147
4.2. Caracterizao e Objectivos das PKBS-2. 148
4.3. Dimenses Avaliadas. 150
4.4. Administrao, Cotao e Interpretao. 152
4.5. Desenvolvimento dos Itens... 154
4.6. Amostra Normativa. 155
4.7. Propriedades Psicomtricas. 158
4.7.1. Estudos de Preciso... 158
4.7.2. Estudos de Validade.. 161
4.8. Revises e Estudos Realizados com as PKBS. 174
4.8.1. Anlises crticas das PKBS... 174
4.8.2. Estudos Realizados com as PKBS.. 179
4.8.2.1. Estudos de demonstrao de validade de outros instrumentos. 179
4.8.2.2. Acordo inter-informadores. 181
4.8.2.3. Eficcia de programas de interveno 183
4.8.2.4. Estudos preditivos.. 187
4.8.2.5. Relao com outras variveis. 188
4.8.2.6. Estudos realizados em Portugal.. 195
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XI
4.9. Avaliao Crtica das PKBS-2.. 196
4.9.1. Vantagens e Potencialidades.. 196
4.9.2. Limitaes... 200
4.10. Sntese.. 202
COMPONENTE EMPRICA
Captulo 5.
Objectivos e Metodologia Geral
5.1. Objectivos..... 207
5.2. Populao, Critrios de Definio e Estratificao da Amostra.. 209
5.3. Procedimento de Recolha de Dados... 216
5.4. Dificuldades Encontradas.. 223
5.5. Caracterizao da Amostra... 225
5.6. Tratamento Estatstico dos Dados... 235
5.7. Sntese.. 237
Captulo 6. Verso Portuguesa das PKBS-2
6.1. Traduo e Adaptao das PKBS-2 239
6.2. Estudo Exploratrio 244
6.3. Nova Verso para Investigao das ECIP-2. 246
6.4. Preparao dos Dados para as Anlises Estatsticas Subsequentes .. 250
6.5. Anlises de Itens.... 258
6.5.1. Estatstica Descritiva. 258
6.5.2. Consistncia Interna.. 263
6.5.3. Anlise Factorial Exploratria.. 266
6.5.3.1. Escala de Aptides Sociais. 268
6.5.3.2. Escala de Problemas de Comportamento 274
6.6. SnteseDiscusso. 283
Captulo 7.
Estudos de Preciso
7.1. Hipteses.. 287
7.2. Consistncia Interna... 288
7.2.1. Consistncia Interna ECIP-2 versus PKBS-2 296
7.3. Acordo Informadores.. 298
7.4. Estabilidade Temporal 306
7.5. Formas Paralelas 308
7.6. Discusso. 312
7.7. Sntese.. 319
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XII
Captulo 8.
Estudos de Validade
8.1. Hipteses.. 324
8.2. Evidncia de Validade com Base no Contedo do Teste.... 326
8.2.1. Desenvolvimento e Incluso dos Itens 326
8.2.2. Correlao Item-Resultado Total das Escalas... 327
8.3. Evidncia de Validade com Base na Estrutura Interna.... 328
8.3.1. Anlise Factorial Exploratria... 329
8.3.2. Anlise Factorial Confirmatria. 330
8.3.3. Relao entre Escalas e Subescalas.. 338
8.4. Evidncia de Validade com Base na Relao com Outras Variveis.... 340
8.4.1. Validade com Referncia a um Critrio Externo/Concorrente. 340
8.4.2. Validade Convergente/Discriminante... 343
8.4.2.1. Estudo com o Questionrio de Capacidades e Dificuldades (SDQ-Por)... 343
8.4.2.2. Estudo com a Bateria de Avaliao do Temperamento Infantil Forma
Revista (TABC-R)...................................................................................
346
8.4.2.3. Estudo com a Escala de Auto-Percepo de Competncia e Aceitao Social
para Crianas (EAPCASC)....
353
8.4.2.4. Estudo Exploratrio com a Escala de Inteligncia de Wechsler para a Idade
Pr-Escolar e Primria Edio Revista (WPPSI-R)...
355
8.5. Evidncia de Validade com Base nas Consequncias de testing....... 357
8.5.1. Crianas Sinalizadas por Suspeita de Problemas de Comportamento.. 357
8.5.2. Crianas com Perturbao do Espectro do Autismo 362
8.5.3. Outros Estudos com as ECIP-2....... 366
8.6. Discusso. 369
8.7. Sntese.. 378
Captulo 9. Estudos Normativos
9.1. Resultados por Critrios de Estratificao. 379
9.1.1. Gnero e Idade 380
9.1.2. Tipo de Ensino e Ano de Escolaridade 382
9.1.3. Regio Geogrfica.. 384
9.1.4. Zona Geogrfica.. 385
9.1.5. Meio de Residncia. 386
9.1.6. Nvel Socioeconmico 387
9.2. Mdias e Desvios-Padro.. 391
9.3. Resultados Padronizados.. 394
9.4. Percentis e Nveis de Risco... 396
9.5. Aptides Sociais e Problemas de Comportamento mais Frequentes 397
9.6. Estudo Intercultural: Resultados Brutos ECIP-2 versus PKBS-2 401
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XIII
9.7. Discusso.. 406
9.8. Sntese.. 410
Concluses Gerais 413
Bibliografia 425
ANEXOS
Anexo A. Reviso das Escalas de Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento.. 451
Anexo B. Caracterizao dos Instrumentos Utilizados nos Estudos de Validade Convergente e
Discriminante das PKBS-2...
457
Anexo C. Carta Enviada aos Presidentes dos Conselhos Executivos/Directores das Instituies
Escolares
461
Anexo D. Lista e Caracterizao dos Jardins-de-infncia e Escolas Participantes no Estudo.. 463
Anexo E. Carta Dirigida aos Pais e/ou Encarregados de Educao.. 465
Anexo F. Frmulas para Clculo e Interpretao da Magnitude do Efeito 468
Anexo G. Intercorrelaes entre os 89 itens das ECIP-2. 469
Anexo H. Estatstica Descritiva: Itens Escala de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento,
por Contexto de Preenchimento e Faixa Etria
479
Anexo I. Matrizes de Componentes No Rodada, Comunalidades, Eigenvalues e Varincias:
Aptides Sociais e Problemas de Comportamento 89 itens...
483
Anexo J. Scree-Plots: Aptides Sociais e Problemas de Comportamento.. 485
Anexo K. Matrizes de Componentes Rodada e Varincias: Aptides Sociais e Problemas de
Comportamento 89 itens...
486
Anexo L. Matrizes de Componentes No Rodada, Comunalidades, Eigenvalues e Varincias:
Aptides Sociais e Problemas de Comportamento 80 itens...
488
Anexo M. Quadros Suplementares Relativos aos Estudos de AFE Realizados.. 491
Anexo N. Estudos de Consistncia Interna (Alfa de Cronbach) 80 Itens (N = 2.000).. 494
Anexo O. Estudos AFC: Saturaes No-Estandardizadas e Estandardizadas, R2 e Correlaes
entre Factores
498
Anexo P. Representao Esquemtica dos Modelos de AFC Estudados 503
Anexo Q. Estudo Sobreposio de Itens ECIP-2 e TABC-R... 508
Anexo R. Quadros de Converso de Resultados Brutos das ECIP-2 em Resultados Padronizados,
Percentis e Nveis de Risco.
510
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XIV
NDICE DE QUADROSNDICE DE QUADROSNDICE DE QUADROSNDICE DE QUADROS
Quadro 1.1. Estabilidade de Problemas no Desenvolvimento Socioemocional: Reviso da
Literatura
22
Quadro 1.2. Abordagem Desenvolvimental: Significncia Clnica de Perturbao do
Comportamento em Idade Pr-Escolar.
34
Quadro 1.3. Factores Associados ao Desenvolvimento de Problemas de Comportamento no Pr-
Escolar
36
Quadro 2.1. Acordo entre Informadores de Contextos Diferentes: Resumo dos Estudos Contexto
Familiar versus Escolar
72
Quadro 2.2. Acordo entre Informadores do Mesmo Contexto: Resumo dos Estudos Acordo
Interparental e Acordo Educador-Auxiliar.
81
Quadro 3.1. Sistema de Classificao Conceptual de Problemas de Aptides Sociais nas Crianas
segundo Gresham e Elliott (1987; Gresham, 1986)
114
Quadro 3.2. Problemas Emocionais e Comportamentais mais Comuns.. 121
Quadro 5.1. Composio da Amostra Normativa.. 226
Quadro 5.2. Distribuio da Amostra Normativa para as Variveis Idade e Gnero.. 227
Quadro 5.3. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel Tipo de Instituio Escolar... 228
Quadro 5.4. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel Regio Geogrfica. 228
Quadro 5.5. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel Zona Geogrfica 229
Quadro 5.6. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel Meio de Residncia... 229
Quadro 5.7. Distribuio da Amostra Normativa para as Variveis Categoria Profissional do
Pai/Me..
230
Quadro 5.8. Distribuio da Amostra Normativa para as Variveis Escolaridade do Pai/Me. 231
Quadro 5.9. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel NSE.. 232
Quadro 5.10. Distribuio dos Informadores que Preencheram as ECIP-2 233
Quadro 5.11. Caracterizao dos Informadores em Contexto Escolar 234
Quadro 6.1. Provenincia dos Itens Adicionados Verso para Investigao das ECIP-2.. 242
Quadro 6.2. Evoluo no Nmero de Itens das ECIP-2.. 243
Quadro 6.3. Resultados KMO e Teste de Esfericidade de Bartlett: 89 Itens ECIP-2 (N = 2.000). 254
Quadro 6.4. Estatstica Descritiva Itens Aptides Sociais Contexto Familiar 258
Quadro 6.5. Estatstica Descritiva Itens Aptides Sociais Contexto Escolar 259
Quadro 6.6. Estatstica Descritiva Itens Problemas Comportamento Contexto Familiar 260
Quadro 6.7. Estatstica Descritiva Itens Problemas Comportamento Contexto Escolar 261
Quadro 6.8. Correlaes Item-Escala e Coeficiente Alfa: Aptides Sociais (N = 2.000)... 264
Quadro 6.9. Correlaes Item-Escala e Coeficiente Alfa: Problemas Comportamento (N = 2.000) 265
Quadro 6.10. Matriz de Componentes Rodada, Comunalidades e Varincia Explicada: Aptides
Sociais 34 Itens (Matriz de Configurao)
272
Quadro 6.11. Resultados KMO e Teste de Esfericidade de Bartlett (N = 2.000).. 277
Quadro 6.12. Matriz de Componentes Rodada, Comunalidades e Varincia Explicada Problemas de
Comportamento 46 Itens (Matriz de Configurao)
278
Quadro 6.13. Matriz de Componentes Rodada, Comunalidades e Varincia Explicada Problemas
Comportamento Exteriorizados 29 Itens (Matriz de Configurao)..
280
Quadro 6.14. Matriz de Componentes Rodada, Comunalidades e Varincia Explicada Problemas
Comportamento Interiorizados 17 Itens (Matriz de Configurao)
282
Quadro 7.1. Correlaes Item-Escala e Coeficiente Alfa: Escala Aptides Sociais (N = 2.000).. 290
-
XV
Quadro 7.2. Correlaes Item-Escala e Coeficiente Alfa: Escala Problemas Comportamento (N =
2.000).
291
Quadro 7.3. Consistncia Interna (Alfa e Split-Half) e EPM (N = 2.000)... 293
Quadro 7.4. Consistncia Interna (Alfa e Split-Half) e EPM Pais (N = 1.000).. 294
Quadro 7.5. Consistncia Interna (Alfa e Split-Half) e EPM Educadores (N = 1.000). 295
Quadro 7.6. Consistncia Interna para Resultados Totais Brutos das Escalas PKBS-2 versus ECIP-
2 (Com e Sem Itens Adicionados) (Totais)
297
Quadro 7.7. Consistncia Interna para Resultados Totais Brutos PKBS-2 e ECIP-2, por Idades 298
Quadro 7.8. Acordo entre Informadores: Pais-Educadores (N = 1.000) 300
Quadro 7.9. Comparao das Avaliaes Efectuadas por Pais e Educadores (N = 1.000).. 301
Quadro 7.10. Acordo entre Informadores: Me, Pai, Educador e Auxiliar (n = 100).. 302
Quadro 7.11. Comparao das Avaliaes Efectuadas por Mes e Pais (n = 100).. 304
Quadro 7.12. Acordo entre Informadores: Mes-Educadores Incio e Final do Ano Lectivo (n = 64). 305
Quadro 7.13. Coeficientes de Estabilidade Temporal Pais e Educadores (3 semanas e 3 meses)... 307
Quadro 7.14. Exemplos de Itens das PKBS-2 em Ingls e em Portugus. 309
Quadro 7.15. Estatsticas Descritivas e teste t: Comparao Verso Inglesa e Portuguesa... 311
Quadro 8.1. ndices de Ajustamentos Modelos AFC. 333
Quadro 8.2. Intercorrelaes entre Subescalas e Resultados Totais ECIP-2 (N = 2.000). 339
Quadro 8.3. Correspondncia entre os Resultados das ECIP-2 e as Classificaes dos
Informadores..
342
Quadro 8.4. Correlaes entre ECIP-2 e SDQ-Por (Pais)... 345
Quadro 8.5. Correlaes entre ECIP-2 e SDQ-Por (Educadores). 346
Quadro 8.6. Coeficiente Alfa da TABC-R Verso Americana e Verso Portuguesa: Pais e
Educadores
348
Quadro 8.7. Correlaes entre Resultados ECIP-2 e TABC-R Pais (sem e com eliminao de itens
equivalentes).
350
Quadro 8.8. Correlaes entre Resultados ECIP-2 e TABC-R Educadores (sem e com eliminao
de itens equivalentes)..
351
Quadro 8.9. Correlaes Resultados Escala de Aptides Sociais ECIP-2 e EAPCASC 355
Quadro 8.10. Correlaes entre Resultados Totais ECIP-2 e WPPSI-R 356
Quadro 8.11. Caracterizao dos Grupos PC e de Controlo 358
Quadro 8.12. Resultados ECIP-2 Grupos com Suspeita de PC e de Controlo: Estatsticas
Descritivas, teste t e Estimativa da Magnitude do Efeito (Cotao dos Pais)
359
Quadro 8.13. Resultados ECIP-2 Grupos com Suspeita de PC e de Controlo: Estatsticas
Descritivas, teste t e Estimativa da Magnitude do Efeito (Cotao dos Educadores)..
360
Quadro 8.14. Caracterizao dos Grupos PEA e de Controlo.. 363
Quadro 8.15. Resultados ECIP-2 Grupos com Perturbao do Espectro do Autismo e de Controlo:
Estatsticas Descritivas, teste t e Estimativa da Magnitude do Efeito (Cotao dos
Pais)
364
Quadro 8.16. Resultados ECIP-2 Grupos com Perturbao do Espectro do Autismo e de Controlo:
Estatsticas Descritivas, teste t e Estimativa da Magnitude do Efeito (Cotao dos
Educadores)...
365
Quadro 9.1. Resultados para a Varivel Gnero (testes t) .. 380
Quadro 9.2. Resultados para a Varivel Idade (ANOVAs e Tukey HSD).. 381
Quadro 9.3. Resultados para a Varivel Tipo de Ensino (ANOVAs ). 383
Quadro 9.4. Resultados para a Varivel Ano de Escolaridade (testes t) .. 383
-
XVI
Quadro 9.5. Resultados para a Varivel Regio Geogrfica (ANOVAs e Tukey HSD ).. 384
Quadro 9.6. Resultados para a Varivel Zona Geogrfica (testes t) . 385
Quadro 9.7. Resultados para a Varivel Meio de Residncia (ANOVAs e Tukey HSD ) 386
Quadro 9.8. Resultados para a Varivel NSE ANOVAs e Tukey HSD .. 388
Quadro 9.9. Resultados para a Varivel Qualificaes Acadmicas-Me (ANOVAs e Tukey HSD) 389
Quadro 9.10. Mdias e Desvios-Padro dos Resultados Brutos ECIP-2 para Raparigas, por Idade
Pais..
392
Quadro 9.11. Mdias e Desvios-Padro dos Resultados Brutos ECIP-2 para Raparigas, por Idade
Educadores....
392
Quadro 9.12. Mdias e Desvios-Padro dos Resultados Brutos ECIP-2 para Rapazes, por Idade
Pais..
393
Quadro 9.13. Mdias e Desvios-Padro dos Resultados Brutos ECIP-2 para Rapazes, por Idade
Educadores.....
394
Quadro 9.14. Aptides Sociais com Maior Taxa de Prevalncia.. 398
Quadro 9.15. Problemas de Comportamento com Maior Taxa de Prevalncia. 399
Quadro 9.16. Problemas de Comportamento com Menor Taxa de Prevalncia 400
Quadro 9.17. Mdias e Desvios-Padro de Resultados Brutos Pais e Educadores ECIP-2 vs.
PKBS-2 para Raparigas, por Idade.......
403
Quadro 9.18. Mdias e Desvios-Padro de Resultados Brutos Pais e Educadores ECIP-2 vs.
PKBS-2 para Rapazes, por Idade..
404
Quadro 10.1. Comparao dos Critrios Psicomtricos Desejveis nas Escalas de Avaliao
Destinadas Idade Pr-Escolar para as PKBS-2 e as ECIP-2
416
NDICE DE FIGURASNDICE DE FIGURASNDICE DE FIGURASNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1. Modelo sugerido para uma avaliao multimethod, multisource, multisetting. 47
Figura 3.1. Relao entre os constructos competncia social, aptides sociais e comportamento
adaptativo Modelo proposto por Gresham e Elliott (1987).
108
Figura 3.2. Relao entre os constructos comportamento adaptativo, competncia social, aptides
sociais e relaes com os pares Modelo proposto por Merrell (2008).
109
Figura 3.3. Percurso desenvolvimental da Perturbao do Comportamento. 123
Figura 4.1. Esquema representativo da organizao das PKBS-2.. 150
-
XVII
RESUMORESUMORESUMORESUMO
A idade pr-escolar um perodo de acelerado desenvolvimento, nomeadamente, ao
nvel fsico, motor, cognitivo, lingustico, moral e socioemocional. Inicialmente colocada num
segundo plano, em comparao com a idade escolar, tem-se denotado um interesse crescente por
esta faixa etria. Por conseguinte, associado ao aumento significativo de pedidos de avaliao
psicolgica a crianas em idade pr-escolar, diversos estudos tm demonstrado que a existncia
de dfices ao nvel das aptides sociais e problemas de comportamento, em idade pr-escolar,
poder reflectir-se negativamente no decorrer da infncia, adolescncia e vida adulta. No
entanto, em Portugal, a avaliao e interveno precoces carecem de instrumentos de avaliao
socioemocional devidamente adaptados e validados para esta faixa etria, ferramentas singulares
na resposta a esta realidade.
Neste sentido, o presente estudo tem por objectivo proceder adaptao e validao de
uma escala de avaliao de aptides sociais e problemas de comportamento para as crianas
portuguesas em idade pr-escolar, as Preschool and Kindergarten Behavior Scales 2nd Edition
(PKBS-2; Merrell, 2002a). Vrios factores abonam a favor da utilizao das PKBS-2 na avaliao
socioemocional de crianas em idade pr-escolar: foram especificamente desenhadas para esta
faixa etria mais nova; atravs de uma medida nica, possibilitam a avaliao de potencialidades
(aptides sociais) e problemas de comportamento das crianas; e recorrem aos mesmos itens para
a avaliao de pais e educadores.
Aps uma primeira fase de traduo e adaptao das PKBS-2, realizou-se um estudo
exploratrio (N = 320). Posteriormente, procedeu-se recolha de uma amostra normativa de
1.000 crianas dos 3 aos 6 anos de idade, avaliadas por informadores dos dois contextos mais
influentes na vida da criana (familiar e escolar). A amostra, recolhida em todo o pas, foi
estratificada atendendo a diversas variveis demogrficas (e.g., idade, gnero, regio geogrfica).
Foram efectuados vrios estudos de anlises de itens, at se chegar verso final do
instrumento. As boas qualidades psicomtricas da verso portuguesa so enfatizadas atravs da
apresentao de diversos estudos de preciso (e.g., consistncia interna, acordo entre
informadores, estabilidade temporal) e evidncia de validade (e.g., validade interna, validade
convergente e discriminante). Tambm foram desenvolvidos estudos, com vista elaborao de
normas (mdias, desvios-padro, resultados padronizados, percentis e nveis de risco) para
facilitar a interpretao dos resultados obtidos com a verso portuguesa.
Os resultados alcanados so congruentes no s com os da verso original das PKBS-2,
mas tambm, em geral, com a literatura sobre aptides sociais e problemas de comportamento
na idade pr-escolar, o que permite considerar a verso portuguesa das PKBS-2 como uma
ferramenta til e uma mais-valia para a avaliao socioemocional das crianas portuguesas em
idade pr-escolar.
Palavras-Chave: Avaliao Psicolgica; Pr-Escolar; Aptides Sociais; Problemas de
Comportamento; PKBS-2.
-
XVIII
ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT
Preschool age is an accelerated period of development, specifically, at physical, motor,
cognitive, linguistic, moral and social-emotional levels. Initially left behind the school age
children, there has been a growing interest on this age group. In this field, linked to the increasing
number of requests for psychological assessment of preschool children, several studies had
revealed that deficits in social skills and problem behaviors at preschool age can predict negative
outcomes across childhood, adolescence or adulthood. However, in Portugal, assessment and
early intervention lack of social-emotional assessment instruments well adapted and validated for
this age group, singular tools to provide an answer to such a reality.
The purpose of the current study is to provide the standardization and validation of a
social skills and problem behaviors rating scale for Portuguese children at preschool age, the
Preschool and Kindergarten Behavior Scales 2nd Edition (PKBS-2; Merrell, 2002a). Several
factors support the use of the PKBS-2 in social-emotional assessment with preschool children: it
was specifically designed for this younger age group; within a measure, it allows for the
assessment of childrens social and emotional strengths (social skills) and behavior problems; and
the same set of items are used for assessments provided by parents and teachers.
Succeeding the process of translation and adaptation of the PKBS-2, an exploratory study
was conducted (N = 320). After, a normative sample of 1.000 children between the ages of 3 to
6, inclusive was collected. This sample was rated by informants from the two most influent
settings in the childs life (home and school). The sample was collected from all regions of
Portugal, and was stratified on basis of several demographic variables (e.g., age, gender,
geographic region).
Several items analysis studies were conducted until we reach the final version of the
instrument. The psychometric properties of the Portuguese version are documented by the
presentation of several reliability indices (e.g., internal consistency, informant agreement,
temporal stability) and evidence supportive of validity (e.g., internal validity, convergent and
discriminant validity). Normative data are also presented (medias, standard-deviations, standard
scores, percentiles and risk levels) to help with the interpretation of the results obtained with the
Portuguese version.
It is important to note that the results of these analyses are in agreement with the ones
obtained with the original version of the PKBS-2. Also, the results are in agreement with the
literature about social skills and behavior problems in preschool age. All these outcomes allow us
to view the Portuguese version of the PKBS-2 as a useful tool and a positive feature for the social-
emotional assessment of Portuguese preschool children.
Key-Words: Psychological Assessment; Preschool; Social Skills; Problem Behaviors; PKBS-2.
-
XIX
RSUMRSUMRSUMRSUM
Lge prscolaire est une priode de dveloppement acclr, spcifiquement, aux
niveaux physique, moteur, cognitif, linguistique, moral et socio-motionnel. Au dbut en
deuxime plan, par apport lge scolaire, on remarque un intrt accroissant par cet ge. Par
consquence, alli laugmentation de demandes dvaluation psychologique pour les enfants
lge prscolaire, plusieurs tudes ont reconnu que la prsence de dficits au niveau des aptitudes
sociales et des troubles de comportement lge prscolaire peut se rpercuter ngativement
pendant lenfance, ladolescence ou la vie adulte. Cependant, au Portugal, lvaluation et
lintervention prcoces manquent dinstruments dvaluation socio-motionnelle bien adapts et
valids pour cet ge, outils particulirement importants pour rpondre cette ralit.
Cette tude vise procder ladaptation et validation dune chelle dvaluation des
aptitudes sociales et des troubles de comportement pour les enfants portugais lge prscolaire,
les Preschool and Kindergarten Behavior Scales 2nd Edition (PKBS-2; Merrell, 2002a). Plusieurs
conditions abonnent en faveur de lutilisation des PKBS-2 pour lvaluation socio-motionnel des
enfants lge prscolaire : tre conu spcifiquement pour cet ge plus jeune ; avec une seule
mesure, pouvoir valuer les potentialits (aptitudes sociales) et les troubles de comportements
des enfants ; et utiliser les mmes items pour lvaluation des parents et des professeurs.
Aprs un premier moment de traduction et adaptation des PKBS-2, une tude
exploratoire a t ralis (N = 320). Ensuite, nous avons rcolt un chantillon de normalisation
de 1.000 enfants gs de 3 6 ans, valus par les informateurs des deux contextes les plus
influents dans la vie des enfants (familial et scolaire). Lchantillon, rcolt dans tout le pays, a t
stratifi en attendant a une srie de variables dmographiques (e.g., ge, genre, rgion
gographique).
Plusieurs tudes danalyses des items ont t effectues, avant datteindre la version finale
de linstrument. Les proprits psychomtriques de la version portugaise sont mises en vidence
par la prsentation de diffrentes tudes de fidlit (e.g., consistance interne, accord entre
informateurs, stabilit temporelle) et dvidence de validit (e.g., validit interne, validit
convergente e discriminante). Des tudes normatives ont aussi t effectues, visant llaboration
de normes (moyennes, carts-type, rsultat standardis, percentiles et niveaux de risque) pour
faciliter linterprtation des rsultats obtenus avec la version portugaise.
Les rsultats acquis sont cohrents pas seulement avec ceux de la version originale des
PKBS-2, mais aussi, en gnral, avec la littrature sur aptitudes sociales et troubles de
comportement lge prscolaire, se qui nous permet denvisager la version portugaise des PKBS-
2 comme un outil utile et un gain pour lvaluation socio-motionnel des enfants portugais
lge prscolaire.
Mots-Cl : valuation Psychologique; Prscolaire; Aptitudes Sociales; Troubles de Comportement;
PKBS-2.
-
Levei o nosso filho de 3 anos a um restaurante muito simptico com os avs. Foi um autntico desastre. Ele passou o tempo todo a levantar-se da cadeira e a gatinhar debaixo da mesa. Entornou o leite dele e no comeu absolutamente nada. Eu fiquei to envergonhada. Nunca mais volto a fazer isto! Adaptado de Webster-Stratton (2006, p. 240)
A Ana uma menina de 3 anos que se adaptou bem e gosta muito do jardim-de-infncia. A sua educadora descreve-a como uma criana brilhante e socivel, apesar de algo dependente e ansiosa. Cumpre as rotinas e relaciona-se bem com as outras crianas. Porm, a sua me est no limite. V a Ana como uma criana impossvel, as suas birras dirias e brigas constantes esto a desmoraliz-la. At inscreveu a Ana no jardim-de-infncia para ter algum sossego e est muito surpreendida com os relatos do bom ajustamento da filha, por parte da educadora .
Adaptado de Campbell (2002, Prefcio, p. 8)
O Pedro acabou de ter um irmo, mas tem estado particularmente rabugento e com um comportamento imprevisvel. Num minuto meigo e choro, no outro violento e desafiador, atira os brinquedos e desobedece. Adaptado de Campbell (2002, p. 65)
A Sara tem 2 anos e 7 meses, mas a sua educao tem-se revelado um autntico martrio para os pais. Por um lado, a profisso do pai (camionista) deixa-o fora de casa por vrios dias e quando est de folga bebe demasiado. Por outro lado, alm de ningum da famlia alargada prestar apoio Sara, o seu pai no gosta muito de ficar sozinho em casa com ela. A me da Sara reconhece que gosta muito da filha mas quando regressa cansada do trabalho e ao subir as escadas da creche ouve os gritos e guinchos da Sara, revela que desejava, mesmo, no ter de entrar ali. A me da Sara sente-se muito desanimada, perturbada, isolada e estigmatizada socialmente pelas dificuldades que tem em lidar com a sua filha. A famlia do seu marido mostra-se muito crtica pela forma como ela a educa. A sua famlia mostra-se mais emptica mas no tomaria conta da Sara e nenhuma criana quer brincar com ela.
Adaptado de Brassard & Boehm (2007, p. 558)
O Joo tem 6 anos e a sua me afirma muitas vezes: Ele to diferente do irmo mais velho. Se ele tivesse nascido em primeiro nunca teria tido outro filho! Ainda que s vezes consiga ficar quieto a ver televiso, o Joo distrai-se facilmente, fala alto, simples mudanas de actividades acabam em verdadeiras batalhas. Os seus pais sentem-se esgotados com a necessidade de estar constantemente a monitorizar o seu comportamento, e relatam que as estratgias disciplinares que utilizam com o seu outro filho no resultam com o Joo. No jardim-de-infncia, a educadora encara-o como um causador de sarilhos. Questiona como lidar com ele, uma vez que frequentemente hiperactivo, aborrece as outras crianas, no ouve instrues e no permanece em tarefa. Recentemente passou a afirmar eu sou mau e a sua boa disposio deu lugar a atitudes de desafio. Adaptado de Webster-Stratton (2006, p. 285)
O Gonalo e a sua me esto no supermercado e o Gonalo mostra-se relutante em ficar no carrinho das compras. Reclama que no tem piada nenhuma ir s compras se no se pode andar por a a mexer nas coisas. Quando a sua me insistiu com ele para ficar sentado no carrinho, comeou a atirar as compras para fora enquanto chorava e berrava. A sua me sentiu-se muito embaraada medida que as pessoas passavam e desaprovavam aquele comportamento.
Adaptado de Campbell (2002, p. 65)
INTRODUOINTRODUOINTRODUOINTRODUO
-
Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar
Retrato das Crianas Portuguesas
2
Estes pequenos excertos referentes a problemas frequentemente relatados por
pais de crianas em idade pr-escolar, apresentam situaes comuns para quem
convive com estas crianas e acabam por retratar alguns dos problemas tpicos desta
faixa etria, com que pais, educadores e outros profissionais se confrontam no dia-a-
dia. Embora estes problemas sejam de todos os tempos, nos ltimos anos tem-se
assistido a um aumento significativo de pedidos de avaliao psicolgica para crianas
em idade pr-escolar. Este , sem sombra de dvida, um perodo de transies
significativas em que as crianas passam de um mundo em que, muitas vezes, a
fantasia e a realidade so confundidas, para um mundo concreto, com regras.
Trata-se de um perodo caracterizado por diversas mudanas a nvel fsico,
motor, lingustico, comportamental, emocional, entre outros, no qual a transio para
o jardim-de-infncia desempenha, tambm, um papel significativo ao nvel do
comportamento socioemocional das crianas. Com a passagem do contexto familiar
para o contexto escolar, o confronto com experincias novas e necessidades/presses
nem sempre fceis de conciliar, poder desencadear comportamentos negativos como
birras, amuos ou atitudes agressivas quando no so satisfeitas as vontades, mentira
ou roubo para conseguir o que se quer ou para chamar a ateno, ou isolamento e
evitamento de situaes receadas (Webster-Stratton, 2006).
neste contexto de mudanas que o estudo das aptides sociais e dos
problemas de comportamento, ambos emergentes na idade pr-escolar, com valncias
contrrias em termos de adaptao presente e predio de problemas futuros, assume
uma importncia significativa.
Por conseguinte, nas ltimas trs dcadas, a competncia social e aptides
sociais, consideradas por Denham e Burton (2003) como a plataforma para o bem-estar
futuro, tm despertado o interesse dos profissionais dado o seu papel enquanto factor
de proteco no desenvolvimento socioemocional das crianas. Ou seja, aps uma
primeira fase de vida, em que a vinculao com as figuras parentais funciona como um
reservatrio para a acumulao de comportamentos prossociais, o jardim-de-infncia
faculta criana um ambiente propcio para, atravs da brincadeira e da
aprendizagem, se envolver em diversas situaes sociais com os pares e tomar
conscincia da perspectiva dos outros. Esta experincia alargada no grupo de pares
ajuda a criana a interiorizar as razes da necessidade de se envolver em interaces
sociais positivas, uma vez que o seu desenvolvimento cognitivo e egocentrismo ainda
no lhe permitem intuir tais razes sem delas ter uma experincia prvia (Wilburn,
2000).
Contudo, e contrariamente aos problemas de comportamento com estudos e
taxonomias mais estabelecidas , as aptides sociais tm recebido um destaque ainda
recente por parte da literatura e investigao nesta faixa etria. Um dos principais
problemas est relacionado com a definio deste constructo em relao qual, ainda
-
Introduo
3
hoje, no se encontra unanimidade. No entanto, diversas investigaes tm salientado
que dfices nas aptides sociais, ainda que em idades precoces, se encontram
associados a uma srie de dificuldades futuras (Lane, Stanton-Chapman, Jamison, &
Phillips, 2007), tais como a delinquncia juvenil (e.g., Elliott & Busse, 1991; Lopes,
Rutherford, Cruz, Mathur, & Quinn, 2006; Walker, Ramsey & Gresham, 2004) ou o
isolamento/evitamento social (e.g., Elliott & Busse, 1991; Merrell, 1998; Merrell &
Gimpel, 1998; Parker & Asher, 1987; Walker, Irvin, Noell, & Singer, 1992), entre outras.
Aliado a este interesse pelos comportamentos prossociais, o estudo dos
problemas de comportamento nesta faixa etria mais nova tem, igualmente, recebido
um tardio (em comparao com a idade escolar), mas merecido destaque. Ou seja, a
importncia da identificao precoce de problemas de comportamento tem sido
enfatizada por diversos estudos longitudinais, os quais colocam, igualmente, em
destaque a necessidade de uma interveno precoce, sob pena de poderem surgir
srias limitaes na idade escolar, adolescncia e vida adulta (e.g., delinquncia,
comportamentos antissociais, desemprego) (e.g., Campbell, 1995; Harvey, Youngwirth,
Thakar, & Errazuriz, 2009). No caso dos problemas de comportamento, vulgarmente
classificados atendendo taxonomia empiricamente derivada que distingue problemas
de comportamento exteriorizados e interiorizados (Cicchetti & Toth, 1991), uma
questo pertinente diz respeito idade na qual se pode aceitar que um determinado
comportamento representa, efectivamente, um problema. Por conseguinte, perante o
encaminhamento de uma criana em idade pr-escolar por suspeita de problemas de
comportamento, para uma consulta de Psicologia, mais do que procurar estabelecer
um diagnstico congruente com os comportamentos atribudos criana (face aos
relatos de pais e/ou educadores), num primeiro momento, o psiclogo dever procurar
recolher informao que lhe permita responder a trs questes essenciais:
- Ser que os comportamentos so o reflexo de um perodo mais difcil,
associado a algum acontecimento negativo recente?
- Ser que so transitrios, reflectindo apenas uma fase do desenvolvimento?
- Devem os comportamentos ser entendidos como sinais de alerta para a
possvel ocorrncia de problemas futuros mais srios?
Na verdade, muitos dos comportamentos que em crianas mais velhas so
considerados problemticos, so normativos nestas idades. Tal facto pode levar a que
um examinador inexperiente ou pouco familiarizado com esta faixa etria tome por
desviantes, comportamentos que so habituais nesta populao (Seabra-Santos, 2000).
Da que seja fundamental referenciar a avaliao ao respectivo contexto
desenvolvimental, sob pena de cometer graves erros de sinalizao/diagnstico.
Importa ainda sublinhar que, no estudo do desenvolvimento socioemocional de
crianas pr-escolares, as aptides sociais e problemas de comportamento no devem
ser assumidos como meros plos opostos do reportrio comportamental das crianas,
-
Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar
Retrato das Crianas Portuguesas
4
ainda que exista evidncia da sua associao em diversas perturbaes de
comportamento (e.g., Perturbao de Hiperactividade com Dfice de Ateno) e de
desenvolvimento (e.g., Perturbao Autstica), vulgarmente diagnosticadas a crianas
em idade pr-escolar ou incio da escolaridade bsica.
No seguimento deste breve enquadramento terico, convm agora clarificar o
objectivo basilar desta investigao. Assim, este trabalho tem por objectivo principal
proceder adaptao e validao para a populao portuguesa em idade pr-escolar de
uma escala destinada a avaliar aptides sociais e problemas de comportamento.
Vrios motivos pesaram na opo pela realizao deste trabalho de
investigao. Em primeiro lugar destaca-se o interesse pessoal por esta faixa etria
mais nova que, dadas as suas caractersticas nicas, tanto pode gerar nos adultos
sentimentos de fascnio, como de alguma angstia. A temtica especfica deste
trabalho tambm no foi escolhida ao acaso. Para um psiclogo que se dedique a esta
faixa etria rapidamente evidente que, no nosso pas, existe uma notria escassez de
instrumentos de avaliao socioemocional, devidamente adaptados e validados para a
populao portuguesa em geral e para a populao pr-escolar em particular. Por outro
lado, encontra-se um nmero crescente de crianas encaminhadas para avaliao
psicolgica, em idades cada vez mais precoces, por suspeita de problemas de
comportamento. Quer seja na prtica clnica ou em contexto escolar, so frequentes as
queixas apresentadas pelos profissionais relativamente impossibilidade de recolher
informao fidedigna, uma vez que, perante a indisponibilidade de instrumentos
desenvolvidos especificamente para esta faixa etria, os profissionais se vem
impossibilitados de estabelecer comparaes normativas. Como tal, os resultados e
relatrios apresentados no final de uma avaliao psicolgica a crianas dos 3 aos 6
anos passam, muitas vezes, por meros resumos das entrevistas realizadas com pais
e/ou educadores de infncia ou de observaes dos profissionais desenvolvidas em
contexto de consulta e, quando possvel, em jardim-de-infncia. Acresce que os
servios de avaliao/acompanhamento psicolgico ainda no so de rpido e fcil
acesso a toda a populao. Quer seja pelos custos da prtica privada, pela morosidade
dos servios pblicos, ou at por alguma resistncia por parte dos pais das crianas na
procura de apoio para as dificuldades encontradas, a avaliao psicolgica de crianas
com problemas socioemocionais continua a ser um servio de acesso vedado a
algumas famlias (e.g., nveis socioeconmicos mais desfavorecidos).
Como tal, a existncia de um instrumento que permita avaliar as aptides
sociais e os problemas de comportamento poder ser uma ferramenta fulcral na
tomada de deciso para a necessidade, ou no, de realizao de uma avaliao mais
exaustiva (e.g., situao de despistagem comportamental no caso de identificao de
problemas em contexto escolar). Neste sentido, uma ferramenta desta natureza com
-
Introduo
5
normas baseadas numa amostra representativa da populao portuguesa ser,
certamente, um auxlio precioso na compreenso das aptides sociais e dos problemas
de comportamento apresentados por estas crianas mais novas, at mesmo por
profissionais menos familiarizados com esta faixa etria.
Todos estes factores despertaram e motivaram em ns a necessidade urgente e
crescente de colocar disposio dos profissionais de sade mental uma escala de
avaliao de aptides sociais e problemas de comportamento, que permitisse colmatar
esta fragilidade da avaliao psicolgica realizada em idade pr-escolar. Aps uma
reflexo acerca desta temtica, seguiu-se a anlise dos instrumentos j existentes, no
sentido de optar pelo que oferecesse mais vantagens para o fim em vista. A escolha
recaiu sobre as Preschool and Kindergarden Behavior Scales 2nd Edition (PKBS-2;
Merrell, 2002a) apresentadas na literatura como um instrumento amigvel para o
utilizador, dado o reduzido tempo de preenchimento e facilidade de utilizao e
cotao, associados a qualidades psicomtricas perfeitamente ajustadas para um
instrumento desta natureza. Uma das mais valias deste instrumento reside no facto de,
contrariamente a outros mais estabelecidos, no se focar exclusivamente na
psicopatologia e apresentar tambm uma escala destinada avaliao das aptides
sociais da criana, possibilitando ao profissional a obteno de um retrato tanto das
potencialidades como das limitaes, com recurso a um nico instrumento. Por seu
turno, a utilizao dos mesmos itens para recolher informaes da criana junto de
adultos significativos em contexto familiar e escolar apresentou-se como mais um
ponto favorvel opo pelas PKBS-2 em detrimento de outras escalas de avaliao.
A presente dissertao encontra-se dividida em diversos captulos repartidos
por duas componentes, uma de ndole terica e outra de carcter emprico. No final de
cada captulo apresentada uma breve sntese integradora com as ideias chave a reter
da exposio apresentada.
A componente terica pretende facultar uma reviso da literatura consultada,
funcionando como ponto de referncia para a realizao da segunda parte deste
trabalho. Como tal, esta primeira componente encontra-se dividida em quatro
captulos. O primeiro captulo representa uma janela aberta para o tema desta
dissertao. Nele se debate a importncia da avaliao socioemocional no decorrer do
perodo pr-escolar e quais os cuidados especficos a ter na realizao de uma
avaliao psicolgica nesta faixa etria de caractersticas nicas. Neste contexto, as
escalas de avaliao do comportamento surgem como instrumentos de avaliao
psicolgica de grande utilidade. neste sentido que apresentado um subcaptulo
sobre este tipo de instrumento de avaliao, seguido de uma breve reviso daqueles
para os quais existem estudos em Portugal. A reflexo sobre escalas de avaliao
levou-nos, num segundo captulo, a debruar sobre a questo do acordo entre
-
Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar
Retrato das Crianas Portuguesas
6
informadores uma vez que, nesta faixa etria, este tipo de instrumentos pode ser
preenchido por vrios adultos significativos (pais, educadores/professores). Neste,
feita referncia aos informadores mais comuns, importncia de recolher informao
junto de vrios informadores e aos factores com impacto no acordo/desacordo entre
informadores. As questes relativas ao acordo interparental e entre informadores dos
contextos familiar e escolar (pais-educadores) so apresentadas em dois subcaptulos,
que facultaro o suporte terico necessrio para os estudos a apresentar na
componente emprica do trabalho. O terceiro captulo salienta a relevncia da avaliao
de aptides sociais e de problemas de comportamento em idade pr-escolar, com a
apresentao das definies e modelos tericos relacionados com o constructo de
aptides sociais, bem como das vrias abordagens na identificao de problemas de
comportamento. Este mesmo captulo complementado com uma breve referncia s
variveis com impacto no desenvolvimento socioemocional das crianas e s
diferenas de resultados sustentadas pela condio de pertencer a determinado grupo
clnico (e.g., crianas com atraso de desenvolvimento) que, mais uma vez, constituiro
as linhas orientadoras para as hipteses e concluses a apresentar na segunda parte
do trabalho. Por fim, uma vez que este estudo tem por objectivo principal a adaptao
e validao das PKBS-2 para a populao portuguesa, a componente terica desta
dissertao ser encerrada com um quarto captulo destinado a apresentar,
pormenorizadamente, o instrumento alvo do presente estudo, desde uma breve
biografia do seu autor, aos objectivos com que foi desenvolvido, passando pela
administrao, cotao e interpretao dos resultados, dimenses avaliadas,
propriedades psicomtricas, vrios estudos com ele realizados e terminando com uma
apreciao crtica do instrumento.
A componente emprica, subdividida em cinco captulos, pretende abordar
todos os passos seguidos no decorrer do processo de traduo/adaptao e validao
das PKBS-2 para a populao portuguesa. Assim, o quinto captulo apresenta os
objectivos do trabalho e toda a metodologia subjacente ao processo de estratificao e
recolha da amostra. O sexto captulo foca-se na traduo, adaptao e estudos
exploratrios, assim como nos primeiros estudos de anlises de itens, consistncia
interna e anlise factorial exploratria, no sentido de justificar algumas alteraes
efectuadas em relao ao original, nomeadamente a eliminao de alguns itens at se
chegar verso portuguesa das PKBS-2. O stimo captulo dedicado aos estudos de
preciso desta verso portuguesa das PKBS-2 (e.g., consistncia interna, estabilidade
temporal, acordo entre informadores). O oitavo captulo centra-se nos estudos de
evidncia de validade (e.g., contedo, constructo), com apresentao dos que envolvem
a comparao com os resultados de outros instrumentos (e.g., verso portuguesa do
Strengths and Difficulties Questionnaire) e o estudo do desempenho de diversos grupos
clnicos (e.g., crianas sinalizadas por suspeita de problemas de comportamento). Aps
-
Introduo
7
anlise e interpretao de todos estes dados so apresentados, no nono captulo, os
resultados normativos para a verso portuguesa das PKBS-2 (e.g., resultados por
critrios de estratificao da amostra, mdias e desvios-padro, resultados
padronizados, percentis e nveis de risco), acompanhados de um breve estudo
intercultural (comparao dos resultados da verso portuguesa vs. verso americana) e
de um estudo acerca da frequncia de itens mais e menos assinalados pelos diferentes
informadores.
Finalmente apresentam-se as concluses gerais da investigao, as quais se
espera possam funcionar como traos firmes para a realizao do retrato das crianas
portuguesas na esfera das aptides sociais e dos problemas de comportamento em
idade pr-escolar. Esta sntese final complementada com as potencialidades,
limitaes e ideias para trabalhos futuros a desenvolver, assim como com um quadro
resumo das caractersticas da verso portuguesa das PKBS-2.
Reafirmando a expectativa inicial, exposta aquando da realizao do estudo
exploratrio (Major, 2007), esperamos que este estudo possa fornecer um pequeno,
mas significativo, contributo para a melhoria da avaliao psicolgica efectuada em
Portugal, junto das crianas em idade pr-escolar. Pois, apesar dos progressos recentes
verificados nesta rea, e que sero, igualmente, expostos na presente dissertao,
muito caminho permanece ainda por desbravar at que os problemas relatados por
pais e educadores/professores das vrias Anas, Saras, Pedros e Gonalos
possam receber a devida ateno e apoio. Acreditamos que tal ajuda poder fazer toda
a diferena na vida destas crianas, famlias, comunidade e sociedade.
-
COMPONENTE
TERICA
That energy which makes a child hard to manage is
the energy which afterwards makes him a manager
of life.
Henry Ward Beecher
(Autor Americano, Sculo XIX)
-
Captulo 1
Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar
11
CAPTULO 1
Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar
Colocada num segundo plano at h cerca de trs dcadas atrs, a idade pr-
escolar tem recentemente despertado o interesse de tcnicos e profissionais das mais
variadas reas. As caractersticas nicas atribudas a esta populao acabam por tornar
a idade pr-escolar tanto fascinante como difcil, aos olhos de quem interage, no dia-a-
dia, com crianas desta faixa etria. Por conseguinte, este primeiro captulo pretende
apresentar uma nota introdutria acerca da avaliao psicolgica realizada no pr-
escolar, nomeadamente, um breve retrato da situao actual, os factores subjacentes
ao maior interesse por esta faixa etria, e algumas consideraes a ter em conta no
trabalho com estas crianas mais novas, bem como, salientar a escassez de
instrumentos de avaliao psicolgica no que diz respeito esfera socioemocional,
rea basilar deste trabalho. Tendo em conta o objectivo do presente estudo, a
utilizao de escalas de avaliao do comportamento receber especial destaque. Neste
sentido, este captulo introdutrio termina com a apresentao do estado da arte, em
matria de escalas de avaliao do comportamento disponveis para as crianas
portuguesas em idade pr-escolar.
1.1. Avaliao do Desenvolvimento Social e Emocional das Crianas
At h algumas dcadas atrs, pais, educadores/professores e investigadores
no se preocupavam com a avaliao do funcionamento socioemocional das crianas
em idade pr-escolar1. As principais razes que justificavam esta falta de interesse
1 A maioria dos autores entende que a idade pr-escolar se refere ao perodo ou s crianas cujas
idades esto compreendidas entre os 2/3 e os 5 anos. No entanto, alguns estendem este perodo at aos 6
anos de idade uma vez que, dependendo da data de nascimento da criana, comum encontrar crianas de 6
anos tanto a frequentar o jardim-de-infncia, como o primeiro ano de escolaridade bsica (e.g., Davies, 2004;
Keenan & Wakschlag, 2002; Martin, 1988a; Spira & Fischel, 2005). Neste sentido, Martin (1988a) sugere que se
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Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar
Retrato das Crianas Portuguesas
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deviam-se crena de que o desenvolvimento destas crianas apenas diria respeito
famlia e que seriam os pais que teriam o direito e a obrigao de monitorizar o
desenvolvimento social dos seus filhos (Martin, 1991). Por outro lado, assistia-se a uma
continuada nfase na avaliao do QI, tido como um constructo venervel na Psicologia
(Anderson & Messick, 1974).
Por conseguinte, pais, educadores, pediatras e profissionais de sade mental
evitavam discutir os problemas das crianas (Carter, Briggs-Gowan, & Davis, 2004). As
preocupaes dos pais acerca de uma perturbao socioemocional dos seus filhos
eram imediatamente minimizadas e desvalorizadas pelos familiares e por
profissionais. Como forma de tranquilizar os pais, os profissionais comentavam que a
criana iria ultrapassar espontaneamente os problemas ( apenas por ser rapaz ou
apenas uma fase), ou que eles estariam muito ansiosos (Campbell, 1991; Campbell,
Shaw, & Gilliom, 2000; Carter et al., 2004). Se, nalguns casos, estas indicaes estaro
correctas, no entanto, uma percentagem de crianas muito agressivas, com atitudes de
desafio, acabam por continuar a apresentar problemas no futuro. Esta reduzida
preocupao com a manifestao precoce de problemas de comportamento pode vir a
traduzir-se em falhas a nvel conceptual e avaliativo (Campbell et al., 2000), levando a
uma exacerbao dos problemas, e a uma consequente diminuio do sentido de
eficcia dos prprios pais no seu papel parental (Carter et al., 2004).
Neste sentido, Carter e colaboradores (2004) apresentam as possveis razes
para o esquecimento da esfera socioemocional na avaliao de crianas pr-escolares,
no passado: (a) maior nfase colocada no impacto da competncia cognitiva e
lingustica da criana no seu funcionamento adaptativo futuro; (b) reconhecimento
somente recente do papel influente das experincias emocionais precoces da criana
na sua capacidade de desenvolver relaes (e.g., famlia, pares) e enquanto alicerces da
aprendizagem; (c) barreiras associadas ao estigma da sociedade no que respeita
sade mental das crianas em idade pr-escolar; (d) receio de culpabilizao dos pais
pelas dificuldades dos seus filhos; e (e) mito da infncia assumida como happy time.
Beg, Casey, e Saunders (2007) salientam ainda, em comparao com crianas com mais
de 6 anos, a escassa investigao na psicopatologia das crianas em idade pr-escolar
com referncia a aspectos bsicos de avaliao, taxonomias, ou epidemiologia e
desenvolvimento de problemas de comportamento.
No entanto, nas ltimas dcadas, tem-se assistido a uma mudana de
panorama, com a literatura a enfatizar que o desenvolvimento emocional harmonioso
das crianas fundamental para a sua capacidade crescente de interaco e de
considere o perodo pr-escolar como incluindo as crianas de 6 anos, dado que estas partilham com as de 3
a 5 anos caractersticas comuns, tais como a incapacidade de ler facilmente de forma a poder responder a
instrumentos aplicados a crianas mais velhas ou adolescentes.
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Captulo 1
Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar
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estabelecimento de relaes com os outros. Por seu turno, tem sido salientado que
sero estas competncias que lhe serviro de plataforma para o bem-estar futuro,
sucesso na escola e at na escolha profissional e relacionamentos na vida adulta
(Denham & Burton, 2003).
Como tal, cada vez mais se encontram dados que reforam a evidncia da
importncia do desenvolvimento social da criana e do treino de aptides sociais,
tanto por parte de profissionais de sade mental, como de educadores de ensino
regular/especial (Lopes et al., 2006; Walker et al., 1988). Acresce que a preveno de
problemas de sade mental, nestas idades precoces, exige que as estratgias
interventivas utilizadas se foquem no s na reduo de comportamentos agressivos
ou de isolamento, mas d igual nfase promoo da competncia socioemocional,
dado o seu papel enquanto factor protector na transio do jardim-de-infncia para a
escolaridade formal (Domitrovich, Cortes, & Greenberg, 2007; Wood, Cowan, & Baker,
2002).
Neste sentido, Brassard e Boehm (2007) apontam quatro factores como tendo
um papel significativo nos progressos alcanados no domnio da avaliao
socioemocional: (a) o sucesso no desenvolvimento de instrumentos de diagnstico e
interveno precoces para Perturbaes do Espectro do Autismo (grupo com um maior
nvel de disfuncionamento social e emocional); (b) o reconhecimento do aparecimento
precoce dos problemas emocionais e comportamentais e da dificuldade de
recuperao, perante um apoio profissional tardio (intervir apenas na escolaridade
bsica); (c) a verificao de que o impacto do desenvolvimento emocional deve situar-
se no mesmo patamar do desenvolvimento cognitivo no que diz respeito ao sucesso
acadmico futuro das crianas; e (d) a considerao do desenvolvimento emocional
como um impulsionador da competncia social.
1.1.1. Importncia das Aptides Sociais e da Regulao Comportamental
As crianas entre os 2 e os 5 anos so emocionalmente muito mais sofisticadas
do que aquilo que se possa imaginar (Denham & Burton, 2003). Este , definitivamente,
um perodo de rpido desenvolvimento, no qual ocorrem importantes mudanas
(Campbell, 2002).
Assim, sob orientao da famlia, a criana vai dando os primeiros passos no
sentido da sua autonomia, comeando pela alimentao e higiene. Gradualmente, a
comunicao, limitada a uma ou duas palavras, vai cedendo lugar a frases complexas.
Outras alteraes no to evidentes, mas fundamentais, so as noes do self e do
certo e errado, estas ltimas associadas ao desenvolvimento moral da criana
(Campbell, 2002; Edwards, 1999). , igualmente, entre os 2 e os 6 anos que se do
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Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar
Retrato das Crianas Portuguesas
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profundas modificaes nos processos cognitivos, nomeadamente ao nvel da memria
e ateno.
A entrada para o jardim-de-infncia representa uma enorme transio na vida
da criana e obriga-a a enfrentar, pela primeira vez, as exigncias das tarefas do meio
social extra-familiar (Major, 2007), o que coloca grandes desafios criana e influencia,
potencialmente, o seu desenvolvimento futuro (Anthony, Anthony, Morrel, & Acosta,
2005; Campbell, 2002; Webster-Stratton, 2006). Neste sentido, e aps uma primeira
fase de desenvolvimento socioemocional sob influncia do ncleo familiar, por volta
dos 3-5 anos as crianas so confrontadas com as tarefas sociais do meio extra-
familiar, nomeadamente, com uma srie de requisitos sociais associados a tarefas
desenvolvimentais como fazer amigos ou aprender certas aptides sociais necessrias
em contexto escolar (Anthony et al., 2005; Campbell, 2002; Davies, 2004; Ladd, 1990;
Lopes et al., 2006; Mesman, Bongers, & Koot, 2001). Acresce que, com a entrada para o
jardim-de-infncia, a criana enfrenta dois ajustamentos sociocomportamentais de
relevncia extrema: o ajustamento relacionado com educadores (e.g., cumprir com os
requisitos comportamentais e expectativas dos educadores no contexto escolar) e o
ajustamento relacionado com pares (e.g., dinmicas de relacionamento satisfatrias no
grupo de pares) (Walker et al., 1992; Walker, Ramsey, & Gresham, 2004).
Nesta fase de transio, as relaes sociais ocupam um lugar central no
desenvolvimento da criana, uma vez que as interaces e brincadeiras com os pares
lhe permitiro adquirir um vasto leque de aptides empatia, ter em conta a
perspectiva de outrem, negociao, cooperao e experienciar o sabor da amizade
(Davies, 2004). Por conseguinte, nesta faixa etria, as crianas vo privilegiando com
maior nfase as relaes com os pares, apesar de os pais continuarem a ser figuras
centrais na sua vida (Campbell, 2002; Davies, 2004). Nestas interaces com os pares, a
criana vai aprender muito acerca do comportamento social, com base no que
aprendeu no seu meio familiar. Com efeito, a investigao tem demonstrado a
existncia de uma relao positiva entre a qualidade das relaes precoces com os pais
e as relaes com os pares (Campbell, 2002; Davies, 2004; Denham & Burton, 2003;
Lopes et al., 2006; Wilburn, 2000).
Porm, nesta fase, as aptides sociais encontram-se ainda num processo de
desenvolvimento (Campbell, 2002; Davies, 2004). A observao de crianas em idade
pr-escolar a brincarem permite identificar, frequentemente, situaes de conflito,
desacordo, comportamentos agressivos e quebras no jogo cooperativo. Perante
situaes conflituosas, as crianas podem ser fisicamente agressivas ou adoptar
atitudes de rejeio verbal (e.g., No s meu amigo! ou No te vou convidar para a
minha festa de anos!) (Davies, 2004). No entanto, o desejo de aceitao e valorizao
pelos pares, leva a que estes conflitos e as suas resolues representem um autntico
laboratrio de aprendizagem, em que as crianas tm oportunidade de aprender a
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Captulo 1
Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar
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regular o seu comportamento no grupo de pares, assim como, praticar e interiorizar
regras apropriadas de trocas sociais (Campbell, 2002; Davies, 2004).
Neste sentido, o comportamento prossocial aumenta entre os 3 e os 6 anos de
idade (Campbell, 2002; Davies, 2004), isto , no decorrer da idade pr-escolar as
crianas desenvolvem novas estratgias para atingir estes objectivos sociais atravs do
desenvolvimento das aptides de comunicao e de compreenso social.
Perante esta evidncia, Brassard e Boehm (2007) propem os trs seguintes
componentes bsicos do desenvolvimento emocional das crianas em idade pr-
escolar: (a) conhecimento/compreenso emocional (entendido como uma base de
dados que a criana utiliza para aumentar a sua capacidade de perceber e responder
de forma adequada s pistas sociais), (b) expressividade emocional (a expresso clara
de uma vasta gama de emoes desempenha um papel fulcral na compreenso do self
e dos outros), e (c) regulao emocional (componente mais complexo, dado que
permite criana recorrer a diversas estratgias para regular as suas emoes).
Por conseguinte, nos ltimos anos de frequncia do jardim-de-infncia, a
criana torna-se mais fcil de ensinar, uma vez que consegue seguir mais facilmente
indicaes dos adultos, manter-se em tarefa por mais tempo, com nveis mais
reduzidos de distraco e um maior auto-controlo (Edwards, 1999). neste sentido que
a auto-regulao, que envolve o auto-controlo (e.g., controlar os comportamentos
agressivos), a condescendncia e a expresso de comportamento prossocial,
apontada como uma tarefa desenvolvimental chave e com impacto no desenvolvimento
das bases da competncia social futura (Brassard & Boehm, 2007; Lynch, Geller, &
Schmidt, 2004).
Acresce que, segundo uma perspectiva desenvolvimental, a entrada para o
jardim-de-infncia reveste-se de particular interesse para a investigao de patamares
desenvolvimentais de problemas exteriorizados e interiorizados (Anthony et al., 2005;
Mesman et al., 2001). A escola uma das mais importantes instituies de socializao
da sociedade e, muitas vezes, a primeira experincia num grupo coeso de pares ocorre
neste contexto (Gresham, 2001; Ladd, 1990; Lopes et al., 2006). Desta forma, o estudo
dos grupos de pares em contexto pr-escolar fornece aos investigadores uma janela
aberta para os problemas com os pares, num estdio muito precoce de
desenvolvimento (Wood et al., 2002).
, precisamente, neste contexto que o jardim-de-infncia se revela como um dos
principais recursos para a preveno e interveno em problemas de comportamento
(Arnold et al., 2006), dado que: (a) pode ser o nico servio de apoio disponvel para
famlias de menores recursos financeiros; (b) as crianas passam uma grande parte do
tempo no jardim-de-infncia; (c) um contexto que possibilita uma maior coordenao
de esforos entre pais e educadores; e (d) permite recolher informao nica na
avaliao, que poder facilitar a identificao dos problemas (e.g., perspectiva do
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Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar
Retrato das Crianas Portuguesas
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educador que trabalha com vrias crianas da mesma idade/gnero). O jardim-de-
infncia tambm apontado como um contexto ideal para a promoo da competncia
das crianas, sendo definido como um autntico agente de mudana
desenvolvimental (Pianta, Steinberg, & Rollins, 1995 citados por Lynch et al., 2004,
p.337).
At h alguns anos atrs, a maioria da investigao, trabalho clnico e
ferramentas de avaliao centrava-se na avaliao de problemas de comportamento e
sintomas. Porm, ainda que a avaliao de dfices ou limitaes seja fundamental para
a insero em programas de educao especial ou encaminhamento para servios de
sade mental, o foco nesta perspectiva deficitria acaba no s por limitar a
informao recolhida, mas tambm por enfatizar o lado negativo da criana (Epstein,
Synhorst, Cress, & Allen, 2009). Esta estratgia contraria um dos 10 princpios
orientadores da avaliao de crianas mais novas, proposto pelo Working Group on
Developmental Assessment, formado por um conjunto de profissionais em avaliao
desenvolvimental de crianas em idade pr-escolar, segundo o qual: The assessment
process should identify the childs current competencies and strengths, as well as the
competencies that will constitute developmental progression in a continuous growth
model of development (Greenspan & Meisels, 1996, citados por Epstein et al., 2009, p.
29). Ou seja, a recolha de informao respeitante s potencialidades e competncias da
criana revela-se um elemento chave no estabelecimento de protocolos interventivos,
dado que o examinador toma conhecimento acerca dos recursos pessoais e ecolgicos
daquela, que podero ser utilizados para alcanar as mudanas comportamentais
desejadas (Epstein et al., 2009). Tambm Achenbach e McConaughy (1987; Achenbach,
1991a; Achenbach & Edelbrock, 1978) chamam a ateno para a importncia da
avaliao das competncias da criana, em detrimento de um foco exclusivo nos
problemas, e sugerem a sua incluso (e.g., competncia social), no decorrer de
qualquer processo de avaliao psicolgica, na tentativa de obter um retrato mais
fidedigno da criana e das vrias adaptaes/intervenes possveis em diferentes
contextos.
A capacidade de interagir com sucesso junto dos pares e adultos significativos
um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento das crianas (Gresham, 1997,
2001; Warnes, Sheridan, Geske, & Warnes, 2005). Por outro lado, foi emergindo na
literatura a convico do papel fundamental desempenhado pela interaco com os
pares ao nvel da socializao (Landau & Moore, 1991; Lindsey & Mize, 2001; Lopes et
al., 2006; Parker & Asher, 1987). Neste contexto, a competncia social crucial porque
prediz adequadamente o ajustamento social a longo prazo e um factor chave de
desenvolvimento de disfuno comportamental em sala de aula (Lane et al., 2007).
Consequentemente, nas ltimas duas/trs dcadas, o constructo de aptides sociais
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Captulo 1
Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar
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tem sido alvo de uma considervel e crescente ateno nas reas da psicologia e
educao.
Desta breve abordagem acerca da importncia das aptides sociais e da
regulao comportamental importa reter que o crescente interesse por parte de
clnicos e investigadores pelas aptides sociais fica a dever-se ao papel central que
problemas nesta rea acarretam ao nvel da psicopatologia e ajustamento em geral das
crianas (Matson & Wilkins, 2009). A importncia destas competncias na
aprendizagem acadmica e qualidade de vida levam Lopes e colaboradores (2006) a
defender que o contexto escolar e o currculo acadmico devam atender ao
desenvolvimento da competncia social dos alunos. Ou seja, para alm do rpido
crescimento fsico e desenvolvimento da linguagem e aptides motoras, que exercem
um papel preponderante no desenvolvimento socioemocional infantil (Martin, 1988a),
a emergncia e posterior desenvolvimento das aptides sociais e da regulao
comportamental desempenham um papel decisivo na idade pr-escolar.
1.1.2. Problemas no Desenvolvimento Socioemocional
Dada a evidncia de que reas afectivas e de competncias de relacionamento
constituem o alicerce que influencia o funcionamento da criana em casa, na escola e
na comunidade (Knoff, Stollar, Johnson, & Chenneville, 1999), a identificao precoce
de dificuldades no funcionamento interpessoal e de problemas de comportamento
assume relevncia fundamental no perodo pr-escolar (Campbell et al., 2000;
Caselman & Self, 2008; Konold, Hamre, & Pianta, 2003; Winsler & Wallace, 2002).
Neste contexto, as crianas desobedientes e agressivas apresentam-se como um
verdadeiro desafio para pais, educadores ou outros prestadores de cuidados. Como tal,
os problemas de comportamento disruptivo, como a agresso e a desobedincia, so
os motivos mais comuns da procura de servios de sade mental na idade pr-escolar
(Davies, 2004; Keenan & Wakschlag, 2002; Miner & Clarke-Stewart, 2008), dado serem
comportamentos com os quais difcil de lidar, incomodativos/aborrecidos e, algumas
vezes, at perigosos (Merrell, 2008).
Por outro lado, crianas com reduzidas aptides sociais e com limitaes na
interaco com adultos e pares apresentam dificuldades acrescidas na procura de
auxlio/suporte necessrio para enfrentar os seus problemas (Whiteside-Mansell,
Bradley, & McKelvey, 2009).
Acresce que a relao entre aptides sociais e problemas de comportamento
recproca. Neste sentido, sugerido na literatura que problemas sociais podero estar
envolvidos no desenvolvimento de problemas interiorizados e exteriorizados (Mesman
et al., 2001; Warnes et al., 2005). Por outro lado, a existncia de problemas de
comportamento exteriorizados ou interiorizados poder interferir com a capacidade
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Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar
Retrato das Crianas Portuguesas
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da criana aprender aptides sociais, e proporcionar reduzidas oportunidades de
praticar essas aptides junto dos pares: assim, crianas com comportamentos
interiorizados so, muitas vezes, negligenciadas pelos pares, e aquelas que
apresentam comportamentos exteriorizados tm maior probabilidade de ser
rejeitadas por aqueles (Elksnin & Elksnin, 1995).
A testemunhar esta ntima relao entre aptides sociais e problemas de
comportamento est o facto de diversas perturbaes especficas da infncia e
adolescncia referenciadas no DSM (e.g., Mutismo Selectivo, Perturbao do
Comportamento) incluirem nos seus critrios de diagnstico dificuldades a nvel
interpessoal ou na competncia social (Gresham, Cook, Crews, & Kern, 2004).
Neste contexto, e apesar do aumento do interesse pela psicopatologia infantil,
verifica-se que a maioria da investigao e prticas desenvolvidas se focam nas
crianas em idade escolar (Campbell et al., 2000). Campbell (1991) apresenta vrias
razes para justificar a omisso das crianas em idade pr-escolar dos estudos sobre
psicopatologia: por um lado, a dificuldade de deciso do que ou no normal neste
estdio de desenvolvimento; por outro, as rpidas mudanas desenvolvimentais dos 2
aos 5 anos e as diferenas individuais, que tornam razovel aceitar que alguns
problemas manifestados precocemente se iro dissipar. com base neste ltimo
argumento que crianas de 3 anos com comportamentos agressivos, por exemplo, so,
muitas vezes, encaradas como estando numa fase de aprendizagem de relao com o
grupo de pares.
Assim, a prevalncia de problemas emocionais e comportamentais no pr-
escolar permanece controversa, o que se justifica tendo em conta a ainda escassa
investigao nesta rea (e com esta faixa etria), nas taxas de prevalncia discrepantes
encontradas na literatura (Barbarin, 2007; Feil et al., 2005; Herrera & Little, 2005; Qi &
Kaiser, 2003), bem como, atendendo s dificuldades em definir/delimitar o conceito de
perturbao psicolgica em crianas muito novas (Gimpel & Holland, 2003; Marinheiro
& Lopes, 1999; Merrell, 1996a).
No entanto, em geral, as taxas de prevalncia de problemas de comportamento
nesta faixa etria atingem basicamente os nveis das crianas mais crescidas (Carney &
Merrell, 2002). Para as crianas em idade escolar (populao geral), Barkley (1998)
aponta para uma taxa de prevalncia de problemas de comportamento de 5 a 10%, com
primazia de problemas exteriorizados face aos interiorizados. Por sua vez, Cicchetti e
Toth (1991) apontam para uma prevalncia de problemas de comportamento em idade
pr-escolar na ordem dos 15-20%. Apesar dos estudos desenvolvidos acerca da
prevalncia de perturbaes do comportamento no pr-escolar definirem os seus
grupos tendo por referncia pontos de corte em escalas de avaliao, sem atender
durao dos sintomas, existe algum consenso de que cerca de 10-15% das crianas em
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Captulo 1
Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar
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idade pr-escolar apresentam problemas ligeiros a moderados (Campbell, 1995;
Lavigne et al., 1996, citados por Carter et al., 2004). Neste sentido, dependendo da
populao alvo do estudo, a literatura aponta para taxas de prevalncia de 7 a 25% de
crianas em idade pr-escolar que cumprem os critrios para diagnsticos clnicos de
Perturbao de Oposio e Perturbao do Comportamento precoces (Campbell &
Ewing, 1990; Webster-Stratton, 1996).
Como sugere Campbell (1995), estas taxas de prevalncia so inquietantes, uma
vez que os problemas de comportamento identificados entre os 3 e 6 anos tendem a
ser relativamente estveis e a predizer no apenas problemas na escola, mas tambm
srios problemas de sade ou de comportamento na adolescncia, tais como
depresso, ideao suicida, ansiedade ou delinquncia. Por outro lado, os profissionais
devem procurar identificar/avaliar os problemas ou atrasos a nvel socioemocional e
comportamental que podero gerar srios entraves ao desenvolvimento e
aprendizagem da criana (Caselman & Self, 2008).
Por conseguinte, crianas que apresentem problemas significativos de
comportamento numa idade precoce esto numa posio de risco acrescido para
apresentarem problemas de comportamento identificados na escolaridade bsica
(Briggs-Gown & Carter, 2008; Campbell, 1994, 2002; Conroy & Brown, 2004; Keenan &
Wakschlag, 2000). Porm, apesar do interesse na delinquncia e preveno da violncia
futura, a investigao clnica tem dado pouca ateno a esta populao (Keenan &
Wakschlag, 2000). Ou seja, tal como nas restantes reas, a maioria da investigao tem
sido dirigida para a populao escolar (Conroy & Brown, 2004) e poucos estudos
investigavam a continuidade de problemas de comportamento nesta faixa etria mais
nova (Campbell, 1994; Keenan, Shaw, Delliquadri, Giovannelli, & Walsh, 1998;
Pihlakoski et al., 2006).
Sendo a idade pr-escolar um perodo de intenso crescimento e
desenvolvimento, a estabilidade temporal dos comportamentos assume aqui um
carcter ambguo (Egeland, Kalkoske, Gottesman, & Erickson, 1990). Ou seja, ainda que,
para algumas crianas em idade pr-escolar, os problemas de comportamento tenham
um carcter transitrio, para outras estes problemas representam os alicerces para
perturbaes estveis do comportamento (Harvey, Friedman-Weieneth, Goldstein, &
Sherman, 2007). Neste contexto, a literatura destaca a existncia de diferentes padres
de desenvolvimento no que concerne evoluo de dificuldades apresentadas no
percurso escolar. Assim, algumas crianas apresentam problemas