avaliação de aptidões sociais e problemas de comportamento

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Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Universidade de Coimbra Avaliação de Aptidões Sociais e Problemas de Comportamento Avaliação de Aptidões Sociais e Problemas de Comportamento Avaliação de Aptidões Sociais e Problemas de Comportamento Avaliação de Aptidões Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pré em Idade Pré em Idade Pré em Idade Pré-Escolar Escolar Escolar Escolar: Retrato das Crianças Portuguesas Retrato das Crianças Portuguesas Retrato das Crianças Portuguesas Retrato das Crianças Portuguesas Sofia de Oliveira Major Bolseira de Doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (SFHR/BD/29141/2006) Coimbra – 2011 Dissertação de Doutoramento em Psicologia, área de especialização em Avaliação Psicológica, apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e realizada sob a orientação da Professora Doutora Maria João Seabra-Santos e do Professor Doutor Roy P. Martin.

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  • Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao

    Universidade de Coimbra

    Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento

    em Idade Prem Idade Prem Idade Prem Idade Pr----EscolarEscolarEscolarEscolar::::

    Retrato das Crianas Portuguesas Retrato das Crianas Portuguesas Retrato das Crianas Portuguesas Retrato das Crianas Portuguesas

    Sofia de Oliveira Major

    Bolseira de Doutoramento da

    Fundao para a Cincia e a Tecnologia

    (SFHR/BD/29141/2006)

    Coimbra 2011

    Dissertao de Doutoramento em

    Psicologia, rea de especializao em

    Avaliao Psicolgica, apresentada

    Faculdade de Psicologia e de Cincias da

    Educao da Universidade de Coimbra e

    realizada sob a orientao da Professora

    Doutora Maria Joo Seabra-Santos e do

    Professor Doutor Roy P. Martin.

  • Aos meus pais, Fernando e Dulce.

    Ao meu irmo, Mickal.

  • V

    AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

    A concretizao deste trabalho, de que resulta a apresentao desta dissertao, contou

    com a colaborao de diversas pessoas e entidades, sem as quais este estudo no poderia ter sido

    levado a bom porto, de entre as quais saliento:

    A minha orientadora, Professora Doutora Maria Joo Rama Seabra-Santos, que embarcou

    comigo nesta aventura e com quem tem sido um verdadeiro privilgio trabalhar. Como no sei

    bem por onde comear e, por consequncia, o agradecimento poderia tornar-se muito extenso,

    vou ser muito sinttica. Destaco o apoio incondicional e interesse neste projecto (desde o

    primeiro momento), a sua constante disponibilidade, rigor, conselhos, ensinamentos,

    encorajamentos e reviso cuidadosa desta dissertao.

    O meu orientador, Professor Doutor Roy P. Martin, com quem tive oportunidade de trabalhar

    na University of Georgia (Athens, EUA). Agradeo a boa disposio com que discutimos algumas

    questes relacionadas com este trabalho (tais como, estudos de anlise de clusters). Thanks for

    the advices: To be a good scientist you must know where the alligators are in the water! and

    Data become cold very fast.

    Ao Professor Doutor Kenneth W. Merrell, que tive oportunidade de conhecer na University of

    Oregon (EUA). Agradeo no s o facto de ter desenvolvido as PKBS-2 (objecto de estudo deste

    trabalho), a receptividade para a adaptao destas para a populao portuguesa, mas tambm a

    disponibilidade para esclarecer vrias questes que foram surgindo ao longo deste percurso.

    Os Professores da Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade de

    Coimbra que me apoiaram ao longo deste anos, nomeadamente o Professor Doutor Mrio R.

    Simes.

    O Professor Doutor Jos Toms Silva, a quem agradeo a ajuda com o AMOS e as dicas para os

    estudos de anlise factorial confirmatria.

    A Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade de Coimbra que me

    acolheu ao longo de todo o meu percurso acadmico, enquanto aluna de Licenciatura, Mestrado

    e Doutoramento.

    A Fundao para a Cincia e a Tecnologia, pela bolsa de Doutoramento que me foi concedida e

    sem a qual no teria sido possvel dedicar-me, exclusivamente, investigao. Agradeo tambm

    o apoio financeiro para a participao em congressos a nvel internacional, e a possibilidade de

    trabalhar dois meses com o meu orientador nos EUA.

  • VI

    Para a obteno de autorizaes para a recolha da amostra normativa: a Comisso Nacional de

    Proteco de Dados, as Direces Regionais de Educao de Norte a Sul do Pas, passando pelas

    Regies Autnomas, e a Direco Geral da Inovao e do Desenvolvimento Curricular.

    Para a recolha das amostras referentes a estudos de evidncia de validade: as Associaes de

    Portadores de Perturbao do Desenvolvimento e Autismo e a Associao dos Amigos do

    Autismo (APPDA-Norte, APPDA-Setbal e AMA); a Direco do Centro de Desenvolvimento do

    Hospital Garcia de Orta, a Dra. Maria Jos Fonseca e Dra. Anabela Farias; a Mestre Margarida

    Almeida (Centro de Desenvolvimento da Criana do Hospital Peditrico de Coimbra); a

    Associao Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 (APPT-21) e a Dra. Lusa Cotrim; a

    Professora Doutora Maria do Cu Salvador, a Dra. Andreia Azevedo e a Dra. Ana Catarina

    Gaspar.

    Os Presidentes de Conselhos Executivos, Directores de Jardins-de-infncia e Escolas Bsicas do

    Primeiro Ciclo, pblicos e privados, que autorizaram a recolha dos protocolos nas suas

    instituies escolares.

    Os directores de estabelecimentos escolares com currculos bilingues, que consentiram a recolha

    dos protocolos para o estudo de formas paralelas, nomeadamente: o Externato Luso-Britnico, a

    Carlucci American School of Lisbon, Colgio St. Peters School, Colgio da Penina, Colgio

    Internacional de Vilamoura, Escola Internacional do Algarve e Escola Inglesa do Barlavento.

    Os Pais e Educadores/Professores de todas as crianas envolvidas neste estudo, que

    pacientemente responderam ao nosso pedido de colaborao. Destaco a participao dos pais e

    educadores que preencheram diversos questionrios, nomeadamente para os estudos de preciso

    e validade.

    Todas as crianas em idade pr-escolar (3-6 anos), que permitiram a concretizao desta

    investigaoavaliadas atravs das suas brincadeiras com os pares, comportamentos, relao

    com pais e educadoressem as quais este estudo no teria qualquer sentido ou significado.

    Destaco ainda a oportunidade de interagir mais directamente com esta faixa etria (to

    fascinante), aquando da avaliao de 80 crianas com a WPPSI-R e a EAPCASC.

    As crianas do Jardim-de-Infncia de Lordelo, EB1/JI do Alfeite e da Creche e Jardim-de-Infncia

    do Monte da Caparica que, dando largas sua imaginao, perante o tema meninos e meninas

    a brincar, criaram as autnticas obras de arte expostas na capa deste trabalho.

    A Vnia, amiga desde os tempos da faculdade, que prontamente aceitou dedicar umas quantas

    horas ltima reviso da presente dissertao.

    E, at last but not least Os meus pais e o meu irmo, a quem dedico (novamente) este trabalho.

    A todos aqui fica um grande e sentidoObrigada!

  • VII

    Sabia que uma em cada quatro interaces sociais com outra

    criana em idade pr-escolar assume um carcter agressivo? Ou,

    que aproximadamente 70% das crianas at aos 3 anos tm

    pelo menos uma birra por dia?

    Talvez um dos seus filhos seja calmo, flexvel e cooperante e o

    outro precisamente o oposto teimoso, resistente mudana e

    desatento.

    O desenvolvimento social, emocional e acadmico das

    crianas um processo incrvel. () So os anos incrveis com

    todas as suas lgrimas, culpa, raiva, gargalhada, alegria e amor.

    Adaptado de Carolyn Webster-Stratton

    (2006, Introduction, pp. 17-25)

  • VIII

  • IX

    NDICENDICENDICENDICE

    Introduo 1

    COMPONENTE TERICA

    Captulo 1.

    Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar

    1.1. Avaliao do Desenvolvimento Social e Emocional das Crianas.... 11

    1.1.1. Importncia das Aptides Sociais e da Regulao Comportamental... 13

    1.1.2. Problemas no Desenvolvimento Socioemocional... ... 17

    1.2. Importncia da Avaliao Precoce: Avaliar para Prevenir/Intervir. 24

    1.3. Avaliao Psicolgica no Pr-Escolar: Algumas Consideraes e Recomendaes.... 27

    1.3.1. Dificuldades Especficas da Avaliao Psicolgica no Pr-Escolar. 29

    1.3.2. Outras Variveis a Considerar no Decorrer do Processo Avaliativo 35

    1.4. As Escalas de Avaliao...... 39

    1.4.1. Vantagens das Escalas de Avaliao... 42

    1.4.2. Limitaes das Escalas de Avaliao.... 43

    1.4.3. Recomendaes na Utilizao de Escalas de Avaliao... 46

    1.4.4. Escalas de Avaliao Socioemocional Existentes em Portugal: Estado da Arte 48

    1.5. Sntese..... 54

    Captulo 2.

    A Utilizao de Questionrios: Acordo entre Informadores

    2.1. Importncia/Interesse do Recurso a vrios Informadores... 57

    2.2. Os Informadores mais Comuns 61

    2.2.1. Os Pais enquanto Informadores..... 62

    2.2.2. Os Educadores/Professores enquanto Informadores..... 64

    2.2.3. Utilidade da Informao Facultada pelos diferentes Informadores... 66

    2.3. O Recurso a vrios Informadores e a Existncia de Informao Diversa.... 68

    2.3.1. Informadores de Contextos Diferentes: Acordo Pais-Educadores/Professores. 70

    2.3.2. Informadores do mesmo Contexto..... 79

    2.4. Causas para as Divergncias na Informao Recolhida. 85

    2.4.1. As Caractersticas da Criana. 88

    2.4.2. As Caractersticas dos Informadores. 89

    2.4.3. As Caractersticas Familiares. 94

    2.4.4. As Caractersticas dos Instrumentos Utilizados... 95

    2.5. Abordagens mais Recentes no Estudo do Acordo entre Informadores ... 96

    2.6. Sntese. 98

  • X

    Captulo 3.

    Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar: Da Teoria

    Prtica da Avaliao

    3.1. Aptides Sociais e Competncia Social: Definies e Modelos Tericos. 101

    3.1.1. A Controversa Definio de Competncia Social e Aptides Sociais. 103

    3.1.2. Comportamento Adaptativo, Competncia Social e Aptides Sociais: Modelos

    Tericos de Integrao destes Constructos..

    108

    3.2. Desenvolvimento de uma Taxonomia de Aptides Sociais.......................................................... 110

    3.3. Classificao de Dfices nas Aptides Sociais. 113

    3.4. Classificao dos Problemas de Comportamento ... 116

    3.4.1. Dimenses Exteriorizada e Interiorizada ... 119

    3.4.2. Sistemas de Classificao e a sua Utilizao no Pr-Escolar ....... 125

    3.4.3. Anlise de Clusters ....... 130

    3.5. Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento: Relao com Outras

    Variveis e Estudos com Grupos Clnicos

    133

    3.5.1. Relao com Outras Variveis.. 133

    3.5.2. Estudos com Grupos Clnicos.... 141

    3.6. Sntese. 144

    Captulo 4.

    Caracterizao das PKBS-2

    4.1. O Autor das PKBS-2.. 147

    4.2. Caracterizao e Objectivos das PKBS-2. 148

    4.3. Dimenses Avaliadas. 150

    4.4. Administrao, Cotao e Interpretao. 152

    4.5. Desenvolvimento dos Itens... 154

    4.6. Amostra Normativa. 155

    4.7. Propriedades Psicomtricas. 158

    4.7.1. Estudos de Preciso... 158

    4.7.2. Estudos de Validade.. 161

    4.8. Revises e Estudos Realizados com as PKBS. 174

    4.8.1. Anlises crticas das PKBS... 174

    4.8.2. Estudos Realizados com as PKBS.. 179

    4.8.2.1. Estudos de demonstrao de validade de outros instrumentos. 179

    4.8.2.2. Acordo inter-informadores. 181

    4.8.2.3. Eficcia de programas de interveno 183

    4.8.2.4. Estudos preditivos.. 187

    4.8.2.5. Relao com outras variveis. 188

    4.8.2.6. Estudos realizados em Portugal.. 195

  • XI

    4.9. Avaliao Crtica das PKBS-2.. 196

    4.9.1. Vantagens e Potencialidades.. 196

    4.9.2. Limitaes... 200

    4.10. Sntese.. 202

    COMPONENTE EMPRICA

    Captulo 5.

    Objectivos e Metodologia Geral

    5.1. Objectivos..... 207

    5.2. Populao, Critrios de Definio e Estratificao da Amostra.. 209

    5.3. Procedimento de Recolha de Dados... 216

    5.4. Dificuldades Encontradas.. 223

    5.5. Caracterizao da Amostra... 225

    5.6. Tratamento Estatstico dos Dados... 235

    5.7. Sntese.. 237

    Captulo 6. Verso Portuguesa das PKBS-2

    6.1. Traduo e Adaptao das PKBS-2 239

    6.2. Estudo Exploratrio 244

    6.3. Nova Verso para Investigao das ECIP-2. 246

    6.4. Preparao dos Dados para as Anlises Estatsticas Subsequentes .. 250

    6.5. Anlises de Itens.... 258

    6.5.1. Estatstica Descritiva. 258

    6.5.2. Consistncia Interna.. 263

    6.5.3. Anlise Factorial Exploratria.. 266

    6.5.3.1. Escala de Aptides Sociais. 268

    6.5.3.2. Escala de Problemas de Comportamento 274

    6.6. SnteseDiscusso. 283

    Captulo 7.

    Estudos de Preciso

    7.1. Hipteses.. 287

    7.2. Consistncia Interna... 288

    7.2.1. Consistncia Interna ECIP-2 versus PKBS-2 296

    7.3. Acordo Informadores.. 298

    7.4. Estabilidade Temporal 306

    7.5. Formas Paralelas 308

    7.6. Discusso. 312

    7.7. Sntese.. 319

  • XII

    Captulo 8.

    Estudos de Validade

    8.1. Hipteses.. 324

    8.2. Evidncia de Validade com Base no Contedo do Teste.... 326

    8.2.1. Desenvolvimento e Incluso dos Itens 326

    8.2.2. Correlao Item-Resultado Total das Escalas... 327

    8.3. Evidncia de Validade com Base na Estrutura Interna.... 328

    8.3.1. Anlise Factorial Exploratria... 329

    8.3.2. Anlise Factorial Confirmatria. 330

    8.3.3. Relao entre Escalas e Subescalas.. 338

    8.4. Evidncia de Validade com Base na Relao com Outras Variveis.... 340

    8.4.1. Validade com Referncia a um Critrio Externo/Concorrente. 340

    8.4.2. Validade Convergente/Discriminante... 343

    8.4.2.1. Estudo com o Questionrio de Capacidades e Dificuldades (SDQ-Por)... 343

    8.4.2.2. Estudo com a Bateria de Avaliao do Temperamento Infantil Forma

    Revista (TABC-R)...................................................................................

    346

    8.4.2.3. Estudo com a Escala de Auto-Percepo de Competncia e Aceitao Social

    para Crianas (EAPCASC)....

    353

    8.4.2.4. Estudo Exploratrio com a Escala de Inteligncia de Wechsler para a Idade

    Pr-Escolar e Primria Edio Revista (WPPSI-R)...

    355

    8.5. Evidncia de Validade com Base nas Consequncias de testing....... 357

    8.5.1. Crianas Sinalizadas por Suspeita de Problemas de Comportamento.. 357

    8.5.2. Crianas com Perturbao do Espectro do Autismo 362

    8.5.3. Outros Estudos com as ECIP-2....... 366

    8.6. Discusso. 369

    8.7. Sntese.. 378

    Captulo 9. Estudos Normativos

    9.1. Resultados por Critrios de Estratificao. 379

    9.1.1. Gnero e Idade 380

    9.1.2. Tipo de Ensino e Ano de Escolaridade 382

    9.1.3. Regio Geogrfica.. 384

    9.1.4. Zona Geogrfica.. 385

    9.1.5. Meio de Residncia. 386

    9.1.6. Nvel Socioeconmico 387

    9.2. Mdias e Desvios-Padro.. 391

    9.3. Resultados Padronizados.. 394

    9.4. Percentis e Nveis de Risco... 396

    9.5. Aptides Sociais e Problemas de Comportamento mais Frequentes 397

    9.6. Estudo Intercultural: Resultados Brutos ECIP-2 versus PKBS-2 401

  • XIII

    9.7. Discusso.. 406

    9.8. Sntese.. 410

    Concluses Gerais 413

    Bibliografia 425

    ANEXOS

    Anexo A. Reviso das Escalas de Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento.. 451

    Anexo B. Caracterizao dos Instrumentos Utilizados nos Estudos de Validade Convergente e

    Discriminante das PKBS-2...

    457

    Anexo C. Carta Enviada aos Presidentes dos Conselhos Executivos/Directores das Instituies

    Escolares

    461

    Anexo D. Lista e Caracterizao dos Jardins-de-infncia e Escolas Participantes no Estudo.. 463

    Anexo E. Carta Dirigida aos Pais e/ou Encarregados de Educao.. 465

    Anexo F. Frmulas para Clculo e Interpretao da Magnitude do Efeito 468

    Anexo G. Intercorrelaes entre os 89 itens das ECIP-2. 469

    Anexo H. Estatstica Descritiva: Itens Escala de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento,

    por Contexto de Preenchimento e Faixa Etria

    479

    Anexo I. Matrizes de Componentes No Rodada, Comunalidades, Eigenvalues e Varincias:

    Aptides Sociais e Problemas de Comportamento 89 itens...

    483

    Anexo J. Scree-Plots: Aptides Sociais e Problemas de Comportamento.. 485

    Anexo K. Matrizes de Componentes Rodada e Varincias: Aptides Sociais e Problemas de

    Comportamento 89 itens...

    486

    Anexo L. Matrizes de Componentes No Rodada, Comunalidades, Eigenvalues e Varincias:

    Aptides Sociais e Problemas de Comportamento 80 itens...

    488

    Anexo M. Quadros Suplementares Relativos aos Estudos de AFE Realizados.. 491

    Anexo N. Estudos de Consistncia Interna (Alfa de Cronbach) 80 Itens (N = 2.000).. 494

    Anexo O. Estudos AFC: Saturaes No-Estandardizadas e Estandardizadas, R2 e Correlaes

    entre Factores

    498

    Anexo P. Representao Esquemtica dos Modelos de AFC Estudados 503

    Anexo Q. Estudo Sobreposio de Itens ECIP-2 e TABC-R... 508

    Anexo R. Quadros de Converso de Resultados Brutos das ECIP-2 em Resultados Padronizados,

    Percentis e Nveis de Risco.

    510

  • XIV

    NDICE DE QUADROSNDICE DE QUADROSNDICE DE QUADROSNDICE DE QUADROS

    Quadro 1.1. Estabilidade de Problemas no Desenvolvimento Socioemocional: Reviso da

    Literatura

    22

    Quadro 1.2. Abordagem Desenvolvimental: Significncia Clnica de Perturbao do

    Comportamento em Idade Pr-Escolar.

    34

    Quadro 1.3. Factores Associados ao Desenvolvimento de Problemas de Comportamento no Pr-

    Escolar

    36

    Quadro 2.1. Acordo entre Informadores de Contextos Diferentes: Resumo dos Estudos Contexto

    Familiar versus Escolar

    72

    Quadro 2.2. Acordo entre Informadores do Mesmo Contexto: Resumo dos Estudos Acordo

    Interparental e Acordo Educador-Auxiliar.

    81

    Quadro 3.1. Sistema de Classificao Conceptual de Problemas de Aptides Sociais nas Crianas

    segundo Gresham e Elliott (1987; Gresham, 1986)

    114

    Quadro 3.2. Problemas Emocionais e Comportamentais mais Comuns.. 121

    Quadro 5.1. Composio da Amostra Normativa.. 226

    Quadro 5.2. Distribuio da Amostra Normativa para as Variveis Idade e Gnero.. 227

    Quadro 5.3. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel Tipo de Instituio Escolar... 228

    Quadro 5.4. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel Regio Geogrfica. 228

    Quadro 5.5. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel Zona Geogrfica 229

    Quadro 5.6. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel Meio de Residncia... 229

    Quadro 5.7. Distribuio da Amostra Normativa para as Variveis Categoria Profissional do

    Pai/Me..

    230

    Quadro 5.8. Distribuio da Amostra Normativa para as Variveis Escolaridade do Pai/Me. 231

    Quadro 5.9. Distribuio da Amostra Normativa para a Varivel NSE.. 232

    Quadro 5.10. Distribuio dos Informadores que Preencheram as ECIP-2 233

    Quadro 5.11. Caracterizao dos Informadores em Contexto Escolar 234

    Quadro 6.1. Provenincia dos Itens Adicionados Verso para Investigao das ECIP-2.. 242

    Quadro 6.2. Evoluo no Nmero de Itens das ECIP-2.. 243

    Quadro 6.3. Resultados KMO e Teste de Esfericidade de Bartlett: 89 Itens ECIP-2 (N = 2.000). 254

    Quadro 6.4. Estatstica Descritiva Itens Aptides Sociais Contexto Familiar 258

    Quadro 6.5. Estatstica Descritiva Itens Aptides Sociais Contexto Escolar 259

    Quadro 6.6. Estatstica Descritiva Itens Problemas Comportamento Contexto Familiar 260

    Quadro 6.7. Estatstica Descritiva Itens Problemas Comportamento Contexto Escolar 261

    Quadro 6.8. Correlaes Item-Escala e Coeficiente Alfa: Aptides Sociais (N = 2.000)... 264

    Quadro 6.9. Correlaes Item-Escala e Coeficiente Alfa: Problemas Comportamento (N = 2.000) 265

    Quadro 6.10. Matriz de Componentes Rodada, Comunalidades e Varincia Explicada: Aptides

    Sociais 34 Itens (Matriz de Configurao)

    272

    Quadro 6.11. Resultados KMO e Teste de Esfericidade de Bartlett (N = 2.000).. 277

    Quadro 6.12. Matriz de Componentes Rodada, Comunalidades e Varincia Explicada Problemas de

    Comportamento 46 Itens (Matriz de Configurao)

    278

    Quadro 6.13. Matriz de Componentes Rodada, Comunalidades e Varincia Explicada Problemas

    Comportamento Exteriorizados 29 Itens (Matriz de Configurao)..

    280

    Quadro 6.14. Matriz de Componentes Rodada, Comunalidades e Varincia Explicada Problemas

    Comportamento Interiorizados 17 Itens (Matriz de Configurao)

    282

    Quadro 7.1. Correlaes Item-Escala e Coeficiente Alfa: Escala Aptides Sociais (N = 2.000).. 290

  • XV

    Quadro 7.2. Correlaes Item-Escala e Coeficiente Alfa: Escala Problemas Comportamento (N =

    2.000).

    291

    Quadro 7.3. Consistncia Interna (Alfa e Split-Half) e EPM (N = 2.000)... 293

    Quadro 7.4. Consistncia Interna (Alfa e Split-Half) e EPM Pais (N = 1.000).. 294

    Quadro 7.5. Consistncia Interna (Alfa e Split-Half) e EPM Educadores (N = 1.000). 295

    Quadro 7.6. Consistncia Interna para Resultados Totais Brutos das Escalas PKBS-2 versus ECIP-

    2 (Com e Sem Itens Adicionados) (Totais)

    297

    Quadro 7.7. Consistncia Interna para Resultados Totais Brutos PKBS-2 e ECIP-2, por Idades 298

    Quadro 7.8. Acordo entre Informadores: Pais-Educadores (N = 1.000) 300

    Quadro 7.9. Comparao das Avaliaes Efectuadas por Pais e Educadores (N = 1.000).. 301

    Quadro 7.10. Acordo entre Informadores: Me, Pai, Educador e Auxiliar (n = 100).. 302

    Quadro 7.11. Comparao das Avaliaes Efectuadas por Mes e Pais (n = 100).. 304

    Quadro 7.12. Acordo entre Informadores: Mes-Educadores Incio e Final do Ano Lectivo (n = 64). 305

    Quadro 7.13. Coeficientes de Estabilidade Temporal Pais e Educadores (3 semanas e 3 meses)... 307

    Quadro 7.14. Exemplos de Itens das PKBS-2 em Ingls e em Portugus. 309

    Quadro 7.15. Estatsticas Descritivas e teste t: Comparao Verso Inglesa e Portuguesa... 311

    Quadro 8.1. ndices de Ajustamentos Modelos AFC. 333

    Quadro 8.2. Intercorrelaes entre Subescalas e Resultados Totais ECIP-2 (N = 2.000). 339

    Quadro 8.3. Correspondncia entre os Resultados das ECIP-2 e as Classificaes dos

    Informadores..

    342

    Quadro 8.4. Correlaes entre ECIP-2 e SDQ-Por (Pais)... 345

    Quadro 8.5. Correlaes entre ECIP-2 e SDQ-Por (Educadores). 346

    Quadro 8.6. Coeficiente Alfa da TABC-R Verso Americana e Verso Portuguesa: Pais e

    Educadores

    348

    Quadro 8.7. Correlaes entre Resultados ECIP-2 e TABC-R Pais (sem e com eliminao de itens

    equivalentes).

    350

    Quadro 8.8. Correlaes entre Resultados ECIP-2 e TABC-R Educadores (sem e com eliminao

    de itens equivalentes)..

    351

    Quadro 8.9. Correlaes Resultados Escala de Aptides Sociais ECIP-2 e EAPCASC 355

    Quadro 8.10. Correlaes entre Resultados Totais ECIP-2 e WPPSI-R 356

    Quadro 8.11. Caracterizao dos Grupos PC e de Controlo 358

    Quadro 8.12. Resultados ECIP-2 Grupos com Suspeita de PC e de Controlo: Estatsticas

    Descritivas, teste t e Estimativa da Magnitude do Efeito (Cotao dos Pais)

    359

    Quadro 8.13. Resultados ECIP-2 Grupos com Suspeita de PC e de Controlo: Estatsticas

    Descritivas, teste t e Estimativa da Magnitude do Efeito (Cotao dos Educadores)..

    360

    Quadro 8.14. Caracterizao dos Grupos PEA e de Controlo.. 363

    Quadro 8.15. Resultados ECIP-2 Grupos com Perturbao do Espectro do Autismo e de Controlo:

    Estatsticas Descritivas, teste t e Estimativa da Magnitude do Efeito (Cotao dos

    Pais)

    364

    Quadro 8.16. Resultados ECIP-2 Grupos com Perturbao do Espectro do Autismo e de Controlo:

    Estatsticas Descritivas, teste t e Estimativa da Magnitude do Efeito (Cotao dos

    Educadores)...

    365

    Quadro 9.1. Resultados para a Varivel Gnero (testes t) .. 380

    Quadro 9.2. Resultados para a Varivel Idade (ANOVAs e Tukey HSD).. 381

    Quadro 9.3. Resultados para a Varivel Tipo de Ensino (ANOVAs ). 383

    Quadro 9.4. Resultados para a Varivel Ano de Escolaridade (testes t) .. 383

  • XVI

    Quadro 9.5. Resultados para a Varivel Regio Geogrfica (ANOVAs e Tukey HSD ).. 384

    Quadro 9.6. Resultados para a Varivel Zona Geogrfica (testes t) . 385

    Quadro 9.7. Resultados para a Varivel Meio de Residncia (ANOVAs e Tukey HSD ) 386

    Quadro 9.8. Resultados para a Varivel NSE ANOVAs e Tukey HSD .. 388

    Quadro 9.9. Resultados para a Varivel Qualificaes Acadmicas-Me (ANOVAs e Tukey HSD) 389

    Quadro 9.10. Mdias e Desvios-Padro dos Resultados Brutos ECIP-2 para Raparigas, por Idade

    Pais..

    392

    Quadro 9.11. Mdias e Desvios-Padro dos Resultados Brutos ECIP-2 para Raparigas, por Idade

    Educadores....

    392

    Quadro 9.12. Mdias e Desvios-Padro dos Resultados Brutos ECIP-2 para Rapazes, por Idade

    Pais..

    393

    Quadro 9.13. Mdias e Desvios-Padro dos Resultados Brutos ECIP-2 para Rapazes, por Idade

    Educadores.....

    394

    Quadro 9.14. Aptides Sociais com Maior Taxa de Prevalncia.. 398

    Quadro 9.15. Problemas de Comportamento com Maior Taxa de Prevalncia. 399

    Quadro 9.16. Problemas de Comportamento com Menor Taxa de Prevalncia 400

    Quadro 9.17. Mdias e Desvios-Padro de Resultados Brutos Pais e Educadores ECIP-2 vs.

    PKBS-2 para Raparigas, por Idade.......

    403

    Quadro 9.18. Mdias e Desvios-Padro de Resultados Brutos Pais e Educadores ECIP-2 vs.

    PKBS-2 para Rapazes, por Idade..

    404

    Quadro 10.1. Comparao dos Critrios Psicomtricos Desejveis nas Escalas de Avaliao

    Destinadas Idade Pr-Escolar para as PKBS-2 e as ECIP-2

    416

    NDICE DE FIGURASNDICE DE FIGURASNDICE DE FIGURASNDICE DE FIGURAS

    Figura 1.1. Modelo sugerido para uma avaliao multimethod, multisource, multisetting. 47

    Figura 3.1. Relao entre os constructos competncia social, aptides sociais e comportamento

    adaptativo Modelo proposto por Gresham e Elliott (1987).

    108

    Figura 3.2. Relao entre os constructos comportamento adaptativo, competncia social, aptides

    sociais e relaes com os pares Modelo proposto por Merrell (2008).

    109

    Figura 3.3. Percurso desenvolvimental da Perturbao do Comportamento. 123

    Figura 4.1. Esquema representativo da organizao das PKBS-2.. 150

  • XVII

    RESUMORESUMORESUMORESUMO

    A idade pr-escolar um perodo de acelerado desenvolvimento, nomeadamente, ao

    nvel fsico, motor, cognitivo, lingustico, moral e socioemocional. Inicialmente colocada num

    segundo plano, em comparao com a idade escolar, tem-se denotado um interesse crescente por

    esta faixa etria. Por conseguinte, associado ao aumento significativo de pedidos de avaliao

    psicolgica a crianas em idade pr-escolar, diversos estudos tm demonstrado que a existncia

    de dfices ao nvel das aptides sociais e problemas de comportamento, em idade pr-escolar,

    poder reflectir-se negativamente no decorrer da infncia, adolescncia e vida adulta. No

    entanto, em Portugal, a avaliao e interveno precoces carecem de instrumentos de avaliao

    socioemocional devidamente adaptados e validados para esta faixa etria, ferramentas singulares

    na resposta a esta realidade.

    Neste sentido, o presente estudo tem por objectivo proceder adaptao e validao de

    uma escala de avaliao de aptides sociais e problemas de comportamento para as crianas

    portuguesas em idade pr-escolar, as Preschool and Kindergarten Behavior Scales 2nd Edition

    (PKBS-2; Merrell, 2002a). Vrios factores abonam a favor da utilizao das PKBS-2 na avaliao

    socioemocional de crianas em idade pr-escolar: foram especificamente desenhadas para esta

    faixa etria mais nova; atravs de uma medida nica, possibilitam a avaliao de potencialidades

    (aptides sociais) e problemas de comportamento das crianas; e recorrem aos mesmos itens para

    a avaliao de pais e educadores.

    Aps uma primeira fase de traduo e adaptao das PKBS-2, realizou-se um estudo

    exploratrio (N = 320). Posteriormente, procedeu-se recolha de uma amostra normativa de

    1.000 crianas dos 3 aos 6 anos de idade, avaliadas por informadores dos dois contextos mais

    influentes na vida da criana (familiar e escolar). A amostra, recolhida em todo o pas, foi

    estratificada atendendo a diversas variveis demogrficas (e.g., idade, gnero, regio geogrfica).

    Foram efectuados vrios estudos de anlises de itens, at se chegar verso final do

    instrumento. As boas qualidades psicomtricas da verso portuguesa so enfatizadas atravs da

    apresentao de diversos estudos de preciso (e.g., consistncia interna, acordo entre

    informadores, estabilidade temporal) e evidncia de validade (e.g., validade interna, validade

    convergente e discriminante). Tambm foram desenvolvidos estudos, com vista elaborao de

    normas (mdias, desvios-padro, resultados padronizados, percentis e nveis de risco) para

    facilitar a interpretao dos resultados obtidos com a verso portuguesa.

    Os resultados alcanados so congruentes no s com os da verso original das PKBS-2,

    mas tambm, em geral, com a literatura sobre aptides sociais e problemas de comportamento

    na idade pr-escolar, o que permite considerar a verso portuguesa das PKBS-2 como uma

    ferramenta til e uma mais-valia para a avaliao socioemocional das crianas portuguesas em

    idade pr-escolar.

    Palavras-Chave: Avaliao Psicolgica; Pr-Escolar; Aptides Sociais; Problemas de

    Comportamento; PKBS-2.

  • XVIII

    ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT

    Preschool age is an accelerated period of development, specifically, at physical, motor,

    cognitive, linguistic, moral and social-emotional levels. Initially left behind the school age

    children, there has been a growing interest on this age group. In this field, linked to the increasing

    number of requests for psychological assessment of preschool children, several studies had

    revealed that deficits in social skills and problem behaviors at preschool age can predict negative

    outcomes across childhood, adolescence or adulthood. However, in Portugal, assessment and

    early intervention lack of social-emotional assessment instruments well adapted and validated for

    this age group, singular tools to provide an answer to such a reality.

    The purpose of the current study is to provide the standardization and validation of a

    social skills and problem behaviors rating scale for Portuguese children at preschool age, the

    Preschool and Kindergarten Behavior Scales 2nd Edition (PKBS-2; Merrell, 2002a). Several

    factors support the use of the PKBS-2 in social-emotional assessment with preschool children: it

    was specifically designed for this younger age group; within a measure, it allows for the

    assessment of childrens social and emotional strengths (social skills) and behavior problems; and

    the same set of items are used for assessments provided by parents and teachers.

    Succeeding the process of translation and adaptation of the PKBS-2, an exploratory study

    was conducted (N = 320). After, a normative sample of 1.000 children between the ages of 3 to

    6, inclusive was collected. This sample was rated by informants from the two most influent

    settings in the childs life (home and school). The sample was collected from all regions of

    Portugal, and was stratified on basis of several demographic variables (e.g., age, gender,

    geographic region).

    Several items analysis studies were conducted until we reach the final version of the

    instrument. The psychometric properties of the Portuguese version are documented by the

    presentation of several reliability indices (e.g., internal consistency, informant agreement,

    temporal stability) and evidence supportive of validity (e.g., internal validity, convergent and

    discriminant validity). Normative data are also presented (medias, standard-deviations, standard

    scores, percentiles and risk levels) to help with the interpretation of the results obtained with the

    Portuguese version.

    It is important to note that the results of these analyses are in agreement with the ones

    obtained with the original version of the PKBS-2. Also, the results are in agreement with the

    literature about social skills and behavior problems in preschool age. All these outcomes allow us

    to view the Portuguese version of the PKBS-2 as a useful tool and a positive feature for the social-

    emotional assessment of Portuguese preschool children.

    Key-Words: Psychological Assessment; Preschool; Social Skills; Problem Behaviors; PKBS-2.

  • XIX

    RSUMRSUMRSUMRSUM

    Lge prscolaire est une priode de dveloppement acclr, spcifiquement, aux

    niveaux physique, moteur, cognitif, linguistique, moral et socio-motionnel. Au dbut en

    deuxime plan, par apport lge scolaire, on remarque un intrt accroissant par cet ge. Par

    consquence, alli laugmentation de demandes dvaluation psychologique pour les enfants

    lge prscolaire, plusieurs tudes ont reconnu que la prsence de dficits au niveau des aptitudes

    sociales et des troubles de comportement lge prscolaire peut se rpercuter ngativement

    pendant lenfance, ladolescence ou la vie adulte. Cependant, au Portugal, lvaluation et

    lintervention prcoces manquent dinstruments dvaluation socio-motionnelle bien adapts et

    valids pour cet ge, outils particulirement importants pour rpondre cette ralit.

    Cette tude vise procder ladaptation et validation dune chelle dvaluation des

    aptitudes sociales et des troubles de comportement pour les enfants portugais lge prscolaire,

    les Preschool and Kindergarten Behavior Scales 2nd Edition (PKBS-2; Merrell, 2002a). Plusieurs

    conditions abonnent en faveur de lutilisation des PKBS-2 pour lvaluation socio-motionnel des

    enfants lge prscolaire : tre conu spcifiquement pour cet ge plus jeune ; avec une seule

    mesure, pouvoir valuer les potentialits (aptitudes sociales) et les troubles de comportements

    des enfants ; et utiliser les mmes items pour lvaluation des parents et des professeurs.

    Aprs un premier moment de traduction et adaptation des PKBS-2, une tude

    exploratoire a t ralis (N = 320). Ensuite, nous avons rcolt un chantillon de normalisation

    de 1.000 enfants gs de 3 6 ans, valus par les informateurs des deux contextes les plus

    influents dans la vie des enfants (familial et scolaire). Lchantillon, rcolt dans tout le pays, a t

    stratifi en attendant a une srie de variables dmographiques (e.g., ge, genre, rgion

    gographique).

    Plusieurs tudes danalyses des items ont t effectues, avant datteindre la version finale

    de linstrument. Les proprits psychomtriques de la version portugaise sont mises en vidence

    par la prsentation de diffrentes tudes de fidlit (e.g., consistance interne, accord entre

    informateurs, stabilit temporelle) et dvidence de validit (e.g., validit interne, validit

    convergente e discriminante). Des tudes normatives ont aussi t effectues, visant llaboration

    de normes (moyennes, carts-type, rsultat standardis, percentiles et niveaux de risque) pour

    faciliter linterprtation des rsultats obtenus avec la version portugaise.

    Les rsultats acquis sont cohrents pas seulement avec ceux de la version originale des

    PKBS-2, mais aussi, en gnral, avec la littrature sur aptitudes sociales et troubles de

    comportement lge prscolaire, se qui nous permet denvisager la version portugaise des PKBS-

    2 comme un outil utile et un gain pour lvaluation socio-motionnel des enfants portugais

    lge prscolaire.

    Mots-Cl : valuation Psychologique; Prscolaire; Aptitudes Sociales; Troubles de Comportement;

    PKBS-2.

  • Levei o nosso filho de 3 anos a um restaurante muito simptico com os avs. Foi um autntico desastre. Ele passou o tempo todo a levantar-se da cadeira e a gatinhar debaixo da mesa. Entornou o leite dele e no comeu absolutamente nada. Eu fiquei to envergonhada. Nunca mais volto a fazer isto! Adaptado de Webster-Stratton (2006, p. 240)

    A Ana uma menina de 3 anos que se adaptou bem e gosta muito do jardim-de-infncia. A sua educadora descreve-a como uma criana brilhante e socivel, apesar de algo dependente e ansiosa. Cumpre as rotinas e relaciona-se bem com as outras crianas. Porm, a sua me est no limite. V a Ana como uma criana impossvel, as suas birras dirias e brigas constantes esto a desmoraliz-la. At inscreveu a Ana no jardim-de-infncia para ter algum sossego e est muito surpreendida com os relatos do bom ajustamento da filha, por parte da educadora .

    Adaptado de Campbell (2002, Prefcio, p. 8)

    O Pedro acabou de ter um irmo, mas tem estado particularmente rabugento e com um comportamento imprevisvel. Num minuto meigo e choro, no outro violento e desafiador, atira os brinquedos e desobedece. Adaptado de Campbell (2002, p. 65)

    A Sara tem 2 anos e 7 meses, mas a sua educao tem-se revelado um autntico martrio para os pais. Por um lado, a profisso do pai (camionista) deixa-o fora de casa por vrios dias e quando est de folga bebe demasiado. Por outro lado, alm de ningum da famlia alargada prestar apoio Sara, o seu pai no gosta muito de ficar sozinho em casa com ela. A me da Sara reconhece que gosta muito da filha mas quando regressa cansada do trabalho e ao subir as escadas da creche ouve os gritos e guinchos da Sara, revela que desejava, mesmo, no ter de entrar ali. A me da Sara sente-se muito desanimada, perturbada, isolada e estigmatizada socialmente pelas dificuldades que tem em lidar com a sua filha. A famlia do seu marido mostra-se muito crtica pela forma como ela a educa. A sua famlia mostra-se mais emptica mas no tomaria conta da Sara e nenhuma criana quer brincar com ela.

    Adaptado de Brassard & Boehm (2007, p. 558)

    O Joo tem 6 anos e a sua me afirma muitas vezes: Ele to diferente do irmo mais velho. Se ele tivesse nascido em primeiro nunca teria tido outro filho! Ainda que s vezes consiga ficar quieto a ver televiso, o Joo distrai-se facilmente, fala alto, simples mudanas de actividades acabam em verdadeiras batalhas. Os seus pais sentem-se esgotados com a necessidade de estar constantemente a monitorizar o seu comportamento, e relatam que as estratgias disciplinares que utilizam com o seu outro filho no resultam com o Joo. No jardim-de-infncia, a educadora encara-o como um causador de sarilhos. Questiona como lidar com ele, uma vez que frequentemente hiperactivo, aborrece as outras crianas, no ouve instrues e no permanece em tarefa. Recentemente passou a afirmar eu sou mau e a sua boa disposio deu lugar a atitudes de desafio. Adaptado de Webster-Stratton (2006, p. 285)

    O Gonalo e a sua me esto no supermercado e o Gonalo mostra-se relutante em ficar no carrinho das compras. Reclama que no tem piada nenhuma ir s compras se no se pode andar por a a mexer nas coisas. Quando a sua me insistiu com ele para ficar sentado no carrinho, comeou a atirar as compras para fora enquanto chorava e berrava. A sua me sentiu-se muito embaraada medida que as pessoas passavam e desaprovavam aquele comportamento.

    Adaptado de Campbell (2002, p. 65)

    INTRODUOINTRODUOINTRODUOINTRODUO

  • Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar

    Retrato das Crianas Portuguesas

    2

    Estes pequenos excertos referentes a problemas frequentemente relatados por

    pais de crianas em idade pr-escolar, apresentam situaes comuns para quem

    convive com estas crianas e acabam por retratar alguns dos problemas tpicos desta

    faixa etria, com que pais, educadores e outros profissionais se confrontam no dia-a-

    dia. Embora estes problemas sejam de todos os tempos, nos ltimos anos tem-se

    assistido a um aumento significativo de pedidos de avaliao psicolgica para crianas

    em idade pr-escolar. Este , sem sombra de dvida, um perodo de transies

    significativas em que as crianas passam de um mundo em que, muitas vezes, a

    fantasia e a realidade so confundidas, para um mundo concreto, com regras.

    Trata-se de um perodo caracterizado por diversas mudanas a nvel fsico,

    motor, lingustico, comportamental, emocional, entre outros, no qual a transio para

    o jardim-de-infncia desempenha, tambm, um papel significativo ao nvel do

    comportamento socioemocional das crianas. Com a passagem do contexto familiar

    para o contexto escolar, o confronto com experincias novas e necessidades/presses

    nem sempre fceis de conciliar, poder desencadear comportamentos negativos como

    birras, amuos ou atitudes agressivas quando no so satisfeitas as vontades, mentira

    ou roubo para conseguir o que se quer ou para chamar a ateno, ou isolamento e

    evitamento de situaes receadas (Webster-Stratton, 2006).

    neste contexto de mudanas que o estudo das aptides sociais e dos

    problemas de comportamento, ambos emergentes na idade pr-escolar, com valncias

    contrrias em termos de adaptao presente e predio de problemas futuros, assume

    uma importncia significativa.

    Por conseguinte, nas ltimas trs dcadas, a competncia social e aptides

    sociais, consideradas por Denham e Burton (2003) como a plataforma para o bem-estar

    futuro, tm despertado o interesse dos profissionais dado o seu papel enquanto factor

    de proteco no desenvolvimento socioemocional das crianas. Ou seja, aps uma

    primeira fase de vida, em que a vinculao com as figuras parentais funciona como um

    reservatrio para a acumulao de comportamentos prossociais, o jardim-de-infncia

    faculta criana um ambiente propcio para, atravs da brincadeira e da

    aprendizagem, se envolver em diversas situaes sociais com os pares e tomar

    conscincia da perspectiva dos outros. Esta experincia alargada no grupo de pares

    ajuda a criana a interiorizar as razes da necessidade de se envolver em interaces

    sociais positivas, uma vez que o seu desenvolvimento cognitivo e egocentrismo ainda

    no lhe permitem intuir tais razes sem delas ter uma experincia prvia (Wilburn,

    2000).

    Contudo, e contrariamente aos problemas de comportamento com estudos e

    taxonomias mais estabelecidas , as aptides sociais tm recebido um destaque ainda

    recente por parte da literatura e investigao nesta faixa etria. Um dos principais

    problemas est relacionado com a definio deste constructo em relao qual, ainda

  • Introduo

    3

    hoje, no se encontra unanimidade. No entanto, diversas investigaes tm salientado

    que dfices nas aptides sociais, ainda que em idades precoces, se encontram

    associados a uma srie de dificuldades futuras (Lane, Stanton-Chapman, Jamison, &

    Phillips, 2007), tais como a delinquncia juvenil (e.g., Elliott & Busse, 1991; Lopes,

    Rutherford, Cruz, Mathur, & Quinn, 2006; Walker, Ramsey & Gresham, 2004) ou o

    isolamento/evitamento social (e.g., Elliott & Busse, 1991; Merrell, 1998; Merrell &

    Gimpel, 1998; Parker & Asher, 1987; Walker, Irvin, Noell, & Singer, 1992), entre outras.

    Aliado a este interesse pelos comportamentos prossociais, o estudo dos

    problemas de comportamento nesta faixa etria mais nova tem, igualmente, recebido

    um tardio (em comparao com a idade escolar), mas merecido destaque. Ou seja, a

    importncia da identificao precoce de problemas de comportamento tem sido

    enfatizada por diversos estudos longitudinais, os quais colocam, igualmente, em

    destaque a necessidade de uma interveno precoce, sob pena de poderem surgir

    srias limitaes na idade escolar, adolescncia e vida adulta (e.g., delinquncia,

    comportamentos antissociais, desemprego) (e.g., Campbell, 1995; Harvey, Youngwirth,

    Thakar, & Errazuriz, 2009). No caso dos problemas de comportamento, vulgarmente

    classificados atendendo taxonomia empiricamente derivada que distingue problemas

    de comportamento exteriorizados e interiorizados (Cicchetti & Toth, 1991), uma

    questo pertinente diz respeito idade na qual se pode aceitar que um determinado

    comportamento representa, efectivamente, um problema. Por conseguinte, perante o

    encaminhamento de uma criana em idade pr-escolar por suspeita de problemas de

    comportamento, para uma consulta de Psicologia, mais do que procurar estabelecer

    um diagnstico congruente com os comportamentos atribudos criana (face aos

    relatos de pais e/ou educadores), num primeiro momento, o psiclogo dever procurar

    recolher informao que lhe permita responder a trs questes essenciais:

    - Ser que os comportamentos so o reflexo de um perodo mais difcil,

    associado a algum acontecimento negativo recente?

    - Ser que so transitrios, reflectindo apenas uma fase do desenvolvimento?

    - Devem os comportamentos ser entendidos como sinais de alerta para a

    possvel ocorrncia de problemas futuros mais srios?

    Na verdade, muitos dos comportamentos que em crianas mais velhas so

    considerados problemticos, so normativos nestas idades. Tal facto pode levar a que

    um examinador inexperiente ou pouco familiarizado com esta faixa etria tome por

    desviantes, comportamentos que so habituais nesta populao (Seabra-Santos, 2000).

    Da que seja fundamental referenciar a avaliao ao respectivo contexto

    desenvolvimental, sob pena de cometer graves erros de sinalizao/diagnstico.

    Importa ainda sublinhar que, no estudo do desenvolvimento socioemocional de

    crianas pr-escolares, as aptides sociais e problemas de comportamento no devem

    ser assumidos como meros plos opostos do reportrio comportamental das crianas,

  • Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar

    Retrato das Crianas Portuguesas

    4

    ainda que exista evidncia da sua associao em diversas perturbaes de

    comportamento (e.g., Perturbao de Hiperactividade com Dfice de Ateno) e de

    desenvolvimento (e.g., Perturbao Autstica), vulgarmente diagnosticadas a crianas

    em idade pr-escolar ou incio da escolaridade bsica.

    No seguimento deste breve enquadramento terico, convm agora clarificar o

    objectivo basilar desta investigao. Assim, este trabalho tem por objectivo principal

    proceder adaptao e validao para a populao portuguesa em idade pr-escolar de

    uma escala destinada a avaliar aptides sociais e problemas de comportamento.

    Vrios motivos pesaram na opo pela realizao deste trabalho de

    investigao. Em primeiro lugar destaca-se o interesse pessoal por esta faixa etria

    mais nova que, dadas as suas caractersticas nicas, tanto pode gerar nos adultos

    sentimentos de fascnio, como de alguma angstia. A temtica especfica deste

    trabalho tambm no foi escolhida ao acaso. Para um psiclogo que se dedique a esta

    faixa etria rapidamente evidente que, no nosso pas, existe uma notria escassez de

    instrumentos de avaliao socioemocional, devidamente adaptados e validados para a

    populao portuguesa em geral e para a populao pr-escolar em particular. Por outro

    lado, encontra-se um nmero crescente de crianas encaminhadas para avaliao

    psicolgica, em idades cada vez mais precoces, por suspeita de problemas de

    comportamento. Quer seja na prtica clnica ou em contexto escolar, so frequentes as

    queixas apresentadas pelos profissionais relativamente impossibilidade de recolher

    informao fidedigna, uma vez que, perante a indisponibilidade de instrumentos

    desenvolvidos especificamente para esta faixa etria, os profissionais se vem

    impossibilitados de estabelecer comparaes normativas. Como tal, os resultados e

    relatrios apresentados no final de uma avaliao psicolgica a crianas dos 3 aos 6

    anos passam, muitas vezes, por meros resumos das entrevistas realizadas com pais

    e/ou educadores de infncia ou de observaes dos profissionais desenvolvidas em

    contexto de consulta e, quando possvel, em jardim-de-infncia. Acresce que os

    servios de avaliao/acompanhamento psicolgico ainda no so de rpido e fcil

    acesso a toda a populao. Quer seja pelos custos da prtica privada, pela morosidade

    dos servios pblicos, ou at por alguma resistncia por parte dos pais das crianas na

    procura de apoio para as dificuldades encontradas, a avaliao psicolgica de crianas

    com problemas socioemocionais continua a ser um servio de acesso vedado a

    algumas famlias (e.g., nveis socioeconmicos mais desfavorecidos).

    Como tal, a existncia de um instrumento que permita avaliar as aptides

    sociais e os problemas de comportamento poder ser uma ferramenta fulcral na

    tomada de deciso para a necessidade, ou no, de realizao de uma avaliao mais

    exaustiva (e.g., situao de despistagem comportamental no caso de identificao de

    problemas em contexto escolar). Neste sentido, uma ferramenta desta natureza com

  • Introduo

    5

    normas baseadas numa amostra representativa da populao portuguesa ser,

    certamente, um auxlio precioso na compreenso das aptides sociais e dos problemas

    de comportamento apresentados por estas crianas mais novas, at mesmo por

    profissionais menos familiarizados com esta faixa etria.

    Todos estes factores despertaram e motivaram em ns a necessidade urgente e

    crescente de colocar disposio dos profissionais de sade mental uma escala de

    avaliao de aptides sociais e problemas de comportamento, que permitisse colmatar

    esta fragilidade da avaliao psicolgica realizada em idade pr-escolar. Aps uma

    reflexo acerca desta temtica, seguiu-se a anlise dos instrumentos j existentes, no

    sentido de optar pelo que oferecesse mais vantagens para o fim em vista. A escolha

    recaiu sobre as Preschool and Kindergarden Behavior Scales 2nd Edition (PKBS-2;

    Merrell, 2002a) apresentadas na literatura como um instrumento amigvel para o

    utilizador, dado o reduzido tempo de preenchimento e facilidade de utilizao e

    cotao, associados a qualidades psicomtricas perfeitamente ajustadas para um

    instrumento desta natureza. Uma das mais valias deste instrumento reside no facto de,

    contrariamente a outros mais estabelecidos, no se focar exclusivamente na

    psicopatologia e apresentar tambm uma escala destinada avaliao das aptides

    sociais da criana, possibilitando ao profissional a obteno de um retrato tanto das

    potencialidades como das limitaes, com recurso a um nico instrumento. Por seu

    turno, a utilizao dos mesmos itens para recolher informaes da criana junto de

    adultos significativos em contexto familiar e escolar apresentou-se como mais um

    ponto favorvel opo pelas PKBS-2 em detrimento de outras escalas de avaliao.

    A presente dissertao encontra-se dividida em diversos captulos repartidos

    por duas componentes, uma de ndole terica e outra de carcter emprico. No final de

    cada captulo apresentada uma breve sntese integradora com as ideias chave a reter

    da exposio apresentada.

    A componente terica pretende facultar uma reviso da literatura consultada,

    funcionando como ponto de referncia para a realizao da segunda parte deste

    trabalho. Como tal, esta primeira componente encontra-se dividida em quatro

    captulos. O primeiro captulo representa uma janela aberta para o tema desta

    dissertao. Nele se debate a importncia da avaliao socioemocional no decorrer do

    perodo pr-escolar e quais os cuidados especficos a ter na realizao de uma

    avaliao psicolgica nesta faixa etria de caractersticas nicas. Neste contexto, as

    escalas de avaliao do comportamento surgem como instrumentos de avaliao

    psicolgica de grande utilidade. neste sentido que apresentado um subcaptulo

    sobre este tipo de instrumento de avaliao, seguido de uma breve reviso daqueles

    para os quais existem estudos em Portugal. A reflexo sobre escalas de avaliao

    levou-nos, num segundo captulo, a debruar sobre a questo do acordo entre

  • Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar

    Retrato das Crianas Portuguesas

    6

    informadores uma vez que, nesta faixa etria, este tipo de instrumentos pode ser

    preenchido por vrios adultos significativos (pais, educadores/professores). Neste,

    feita referncia aos informadores mais comuns, importncia de recolher informao

    junto de vrios informadores e aos factores com impacto no acordo/desacordo entre

    informadores. As questes relativas ao acordo interparental e entre informadores dos

    contextos familiar e escolar (pais-educadores) so apresentadas em dois subcaptulos,

    que facultaro o suporte terico necessrio para os estudos a apresentar na

    componente emprica do trabalho. O terceiro captulo salienta a relevncia da avaliao

    de aptides sociais e de problemas de comportamento em idade pr-escolar, com a

    apresentao das definies e modelos tericos relacionados com o constructo de

    aptides sociais, bem como das vrias abordagens na identificao de problemas de

    comportamento. Este mesmo captulo complementado com uma breve referncia s

    variveis com impacto no desenvolvimento socioemocional das crianas e s

    diferenas de resultados sustentadas pela condio de pertencer a determinado grupo

    clnico (e.g., crianas com atraso de desenvolvimento) que, mais uma vez, constituiro

    as linhas orientadoras para as hipteses e concluses a apresentar na segunda parte

    do trabalho. Por fim, uma vez que este estudo tem por objectivo principal a adaptao

    e validao das PKBS-2 para a populao portuguesa, a componente terica desta

    dissertao ser encerrada com um quarto captulo destinado a apresentar,

    pormenorizadamente, o instrumento alvo do presente estudo, desde uma breve

    biografia do seu autor, aos objectivos com que foi desenvolvido, passando pela

    administrao, cotao e interpretao dos resultados, dimenses avaliadas,

    propriedades psicomtricas, vrios estudos com ele realizados e terminando com uma

    apreciao crtica do instrumento.

    A componente emprica, subdividida em cinco captulos, pretende abordar

    todos os passos seguidos no decorrer do processo de traduo/adaptao e validao

    das PKBS-2 para a populao portuguesa. Assim, o quinto captulo apresenta os

    objectivos do trabalho e toda a metodologia subjacente ao processo de estratificao e

    recolha da amostra. O sexto captulo foca-se na traduo, adaptao e estudos

    exploratrios, assim como nos primeiros estudos de anlises de itens, consistncia

    interna e anlise factorial exploratria, no sentido de justificar algumas alteraes

    efectuadas em relao ao original, nomeadamente a eliminao de alguns itens at se

    chegar verso portuguesa das PKBS-2. O stimo captulo dedicado aos estudos de

    preciso desta verso portuguesa das PKBS-2 (e.g., consistncia interna, estabilidade

    temporal, acordo entre informadores). O oitavo captulo centra-se nos estudos de

    evidncia de validade (e.g., contedo, constructo), com apresentao dos que envolvem

    a comparao com os resultados de outros instrumentos (e.g., verso portuguesa do

    Strengths and Difficulties Questionnaire) e o estudo do desempenho de diversos grupos

    clnicos (e.g., crianas sinalizadas por suspeita de problemas de comportamento). Aps

  • Introduo

    7

    anlise e interpretao de todos estes dados so apresentados, no nono captulo, os

    resultados normativos para a verso portuguesa das PKBS-2 (e.g., resultados por

    critrios de estratificao da amostra, mdias e desvios-padro, resultados

    padronizados, percentis e nveis de risco), acompanhados de um breve estudo

    intercultural (comparao dos resultados da verso portuguesa vs. verso americana) e

    de um estudo acerca da frequncia de itens mais e menos assinalados pelos diferentes

    informadores.

    Finalmente apresentam-se as concluses gerais da investigao, as quais se

    espera possam funcionar como traos firmes para a realizao do retrato das crianas

    portuguesas na esfera das aptides sociais e dos problemas de comportamento em

    idade pr-escolar. Esta sntese final complementada com as potencialidades,

    limitaes e ideias para trabalhos futuros a desenvolver, assim como com um quadro

    resumo das caractersticas da verso portuguesa das PKBS-2.

    Reafirmando a expectativa inicial, exposta aquando da realizao do estudo

    exploratrio (Major, 2007), esperamos que este estudo possa fornecer um pequeno,

    mas significativo, contributo para a melhoria da avaliao psicolgica efectuada em

    Portugal, junto das crianas em idade pr-escolar. Pois, apesar dos progressos recentes

    verificados nesta rea, e que sero, igualmente, expostos na presente dissertao,

    muito caminho permanece ainda por desbravar at que os problemas relatados por

    pais e educadores/professores das vrias Anas, Saras, Pedros e Gonalos

    possam receber a devida ateno e apoio. Acreditamos que tal ajuda poder fazer toda

    a diferena na vida destas crianas, famlias, comunidade e sociedade.

  • COMPONENTE

    TERICA

    That energy which makes a child hard to manage is

    the energy which afterwards makes him a manager

    of life.

    Henry Ward Beecher

    (Autor Americano, Sculo XIX)

  • Captulo 1

    Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar

    11

    CAPTULO 1

    Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar

    Colocada num segundo plano at h cerca de trs dcadas atrs, a idade pr-

    escolar tem recentemente despertado o interesse de tcnicos e profissionais das mais

    variadas reas. As caractersticas nicas atribudas a esta populao acabam por tornar

    a idade pr-escolar tanto fascinante como difcil, aos olhos de quem interage, no dia-a-

    dia, com crianas desta faixa etria. Por conseguinte, este primeiro captulo pretende

    apresentar uma nota introdutria acerca da avaliao psicolgica realizada no pr-

    escolar, nomeadamente, um breve retrato da situao actual, os factores subjacentes

    ao maior interesse por esta faixa etria, e algumas consideraes a ter em conta no

    trabalho com estas crianas mais novas, bem como, salientar a escassez de

    instrumentos de avaliao psicolgica no que diz respeito esfera socioemocional,

    rea basilar deste trabalho. Tendo em conta o objectivo do presente estudo, a

    utilizao de escalas de avaliao do comportamento receber especial destaque. Neste

    sentido, este captulo introdutrio termina com a apresentao do estado da arte, em

    matria de escalas de avaliao do comportamento disponveis para as crianas

    portuguesas em idade pr-escolar.

    1.1. Avaliao do Desenvolvimento Social e Emocional das Crianas

    At h algumas dcadas atrs, pais, educadores/professores e investigadores

    no se preocupavam com a avaliao do funcionamento socioemocional das crianas

    em idade pr-escolar1. As principais razes que justificavam esta falta de interesse

    1 A maioria dos autores entende que a idade pr-escolar se refere ao perodo ou s crianas cujas

    idades esto compreendidas entre os 2/3 e os 5 anos. No entanto, alguns estendem este perodo at aos 6

    anos de idade uma vez que, dependendo da data de nascimento da criana, comum encontrar crianas de 6

    anos tanto a frequentar o jardim-de-infncia, como o primeiro ano de escolaridade bsica (e.g., Davies, 2004;

    Keenan & Wakschlag, 2002; Martin, 1988a; Spira & Fischel, 2005). Neste sentido, Martin (1988a) sugere que se

  • Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar

    Retrato das Crianas Portuguesas

    12

    deviam-se crena de que o desenvolvimento destas crianas apenas diria respeito

    famlia e que seriam os pais que teriam o direito e a obrigao de monitorizar o

    desenvolvimento social dos seus filhos (Martin, 1991). Por outro lado, assistia-se a uma

    continuada nfase na avaliao do QI, tido como um constructo venervel na Psicologia

    (Anderson & Messick, 1974).

    Por conseguinte, pais, educadores, pediatras e profissionais de sade mental

    evitavam discutir os problemas das crianas (Carter, Briggs-Gowan, & Davis, 2004). As

    preocupaes dos pais acerca de uma perturbao socioemocional dos seus filhos

    eram imediatamente minimizadas e desvalorizadas pelos familiares e por

    profissionais. Como forma de tranquilizar os pais, os profissionais comentavam que a

    criana iria ultrapassar espontaneamente os problemas ( apenas por ser rapaz ou

    apenas uma fase), ou que eles estariam muito ansiosos (Campbell, 1991; Campbell,

    Shaw, & Gilliom, 2000; Carter et al., 2004). Se, nalguns casos, estas indicaes estaro

    correctas, no entanto, uma percentagem de crianas muito agressivas, com atitudes de

    desafio, acabam por continuar a apresentar problemas no futuro. Esta reduzida

    preocupao com a manifestao precoce de problemas de comportamento pode vir a

    traduzir-se em falhas a nvel conceptual e avaliativo (Campbell et al., 2000), levando a

    uma exacerbao dos problemas, e a uma consequente diminuio do sentido de

    eficcia dos prprios pais no seu papel parental (Carter et al., 2004).

    Neste sentido, Carter e colaboradores (2004) apresentam as possveis razes

    para o esquecimento da esfera socioemocional na avaliao de crianas pr-escolares,

    no passado: (a) maior nfase colocada no impacto da competncia cognitiva e

    lingustica da criana no seu funcionamento adaptativo futuro; (b) reconhecimento

    somente recente do papel influente das experincias emocionais precoces da criana

    na sua capacidade de desenvolver relaes (e.g., famlia, pares) e enquanto alicerces da

    aprendizagem; (c) barreiras associadas ao estigma da sociedade no que respeita

    sade mental das crianas em idade pr-escolar; (d) receio de culpabilizao dos pais

    pelas dificuldades dos seus filhos; e (e) mito da infncia assumida como happy time.

    Beg, Casey, e Saunders (2007) salientam ainda, em comparao com crianas com mais

    de 6 anos, a escassa investigao na psicopatologia das crianas em idade pr-escolar

    com referncia a aspectos bsicos de avaliao, taxonomias, ou epidemiologia e

    desenvolvimento de problemas de comportamento.

    No entanto, nas ltimas dcadas, tem-se assistido a uma mudana de

    panorama, com a literatura a enfatizar que o desenvolvimento emocional harmonioso

    das crianas fundamental para a sua capacidade crescente de interaco e de

    considere o perodo pr-escolar como incluindo as crianas de 6 anos, dado que estas partilham com as de 3

    a 5 anos caractersticas comuns, tais como a incapacidade de ler facilmente de forma a poder responder a

    instrumentos aplicados a crianas mais velhas ou adolescentes.

  • Captulo 1

    Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar

    13

    estabelecimento de relaes com os outros. Por seu turno, tem sido salientado que

    sero estas competncias que lhe serviro de plataforma para o bem-estar futuro,

    sucesso na escola e at na escolha profissional e relacionamentos na vida adulta

    (Denham & Burton, 2003).

    Como tal, cada vez mais se encontram dados que reforam a evidncia da

    importncia do desenvolvimento social da criana e do treino de aptides sociais,

    tanto por parte de profissionais de sade mental, como de educadores de ensino

    regular/especial (Lopes et al., 2006; Walker et al., 1988). Acresce que a preveno de

    problemas de sade mental, nestas idades precoces, exige que as estratgias

    interventivas utilizadas se foquem no s na reduo de comportamentos agressivos

    ou de isolamento, mas d igual nfase promoo da competncia socioemocional,

    dado o seu papel enquanto factor protector na transio do jardim-de-infncia para a

    escolaridade formal (Domitrovich, Cortes, & Greenberg, 2007; Wood, Cowan, & Baker,

    2002).

    Neste sentido, Brassard e Boehm (2007) apontam quatro factores como tendo

    um papel significativo nos progressos alcanados no domnio da avaliao

    socioemocional: (a) o sucesso no desenvolvimento de instrumentos de diagnstico e

    interveno precoces para Perturbaes do Espectro do Autismo (grupo com um maior

    nvel de disfuncionamento social e emocional); (b) o reconhecimento do aparecimento

    precoce dos problemas emocionais e comportamentais e da dificuldade de

    recuperao, perante um apoio profissional tardio (intervir apenas na escolaridade

    bsica); (c) a verificao de que o impacto do desenvolvimento emocional deve situar-

    se no mesmo patamar do desenvolvimento cognitivo no que diz respeito ao sucesso

    acadmico futuro das crianas; e (d) a considerao do desenvolvimento emocional

    como um impulsionador da competncia social.

    1.1.1. Importncia das Aptides Sociais e da Regulao Comportamental

    As crianas entre os 2 e os 5 anos so emocionalmente muito mais sofisticadas

    do que aquilo que se possa imaginar (Denham & Burton, 2003). Este , definitivamente,

    um perodo de rpido desenvolvimento, no qual ocorrem importantes mudanas

    (Campbell, 2002).

    Assim, sob orientao da famlia, a criana vai dando os primeiros passos no

    sentido da sua autonomia, comeando pela alimentao e higiene. Gradualmente, a

    comunicao, limitada a uma ou duas palavras, vai cedendo lugar a frases complexas.

    Outras alteraes no to evidentes, mas fundamentais, so as noes do self e do

    certo e errado, estas ltimas associadas ao desenvolvimento moral da criana

    (Campbell, 2002; Edwards, 1999). , igualmente, entre os 2 e os 6 anos que se do

  • Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar

    Retrato das Crianas Portuguesas

    14

    profundas modificaes nos processos cognitivos, nomeadamente ao nvel da memria

    e ateno.

    A entrada para o jardim-de-infncia representa uma enorme transio na vida

    da criana e obriga-a a enfrentar, pela primeira vez, as exigncias das tarefas do meio

    social extra-familiar (Major, 2007), o que coloca grandes desafios criana e influencia,

    potencialmente, o seu desenvolvimento futuro (Anthony, Anthony, Morrel, & Acosta,

    2005; Campbell, 2002; Webster-Stratton, 2006). Neste sentido, e aps uma primeira

    fase de desenvolvimento socioemocional sob influncia do ncleo familiar, por volta

    dos 3-5 anos as crianas so confrontadas com as tarefas sociais do meio extra-

    familiar, nomeadamente, com uma srie de requisitos sociais associados a tarefas

    desenvolvimentais como fazer amigos ou aprender certas aptides sociais necessrias

    em contexto escolar (Anthony et al., 2005; Campbell, 2002; Davies, 2004; Ladd, 1990;

    Lopes et al., 2006; Mesman, Bongers, & Koot, 2001). Acresce que, com a entrada para o

    jardim-de-infncia, a criana enfrenta dois ajustamentos sociocomportamentais de

    relevncia extrema: o ajustamento relacionado com educadores (e.g., cumprir com os

    requisitos comportamentais e expectativas dos educadores no contexto escolar) e o

    ajustamento relacionado com pares (e.g., dinmicas de relacionamento satisfatrias no

    grupo de pares) (Walker et al., 1992; Walker, Ramsey, & Gresham, 2004).

    Nesta fase de transio, as relaes sociais ocupam um lugar central no

    desenvolvimento da criana, uma vez que as interaces e brincadeiras com os pares

    lhe permitiro adquirir um vasto leque de aptides empatia, ter em conta a

    perspectiva de outrem, negociao, cooperao e experienciar o sabor da amizade

    (Davies, 2004). Por conseguinte, nesta faixa etria, as crianas vo privilegiando com

    maior nfase as relaes com os pares, apesar de os pais continuarem a ser figuras

    centrais na sua vida (Campbell, 2002; Davies, 2004). Nestas interaces com os pares, a

    criana vai aprender muito acerca do comportamento social, com base no que

    aprendeu no seu meio familiar. Com efeito, a investigao tem demonstrado a

    existncia de uma relao positiva entre a qualidade das relaes precoces com os pais

    e as relaes com os pares (Campbell, 2002; Davies, 2004; Denham & Burton, 2003;

    Lopes et al., 2006; Wilburn, 2000).

    Porm, nesta fase, as aptides sociais encontram-se ainda num processo de

    desenvolvimento (Campbell, 2002; Davies, 2004). A observao de crianas em idade

    pr-escolar a brincarem permite identificar, frequentemente, situaes de conflito,

    desacordo, comportamentos agressivos e quebras no jogo cooperativo. Perante

    situaes conflituosas, as crianas podem ser fisicamente agressivas ou adoptar

    atitudes de rejeio verbal (e.g., No s meu amigo! ou No te vou convidar para a

    minha festa de anos!) (Davies, 2004). No entanto, o desejo de aceitao e valorizao

    pelos pares, leva a que estes conflitos e as suas resolues representem um autntico

    laboratrio de aprendizagem, em que as crianas tm oportunidade de aprender a

  • Captulo 1

    Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar

    15

    regular o seu comportamento no grupo de pares, assim como, praticar e interiorizar

    regras apropriadas de trocas sociais (Campbell, 2002; Davies, 2004).

    Neste sentido, o comportamento prossocial aumenta entre os 3 e os 6 anos de

    idade (Campbell, 2002; Davies, 2004), isto , no decorrer da idade pr-escolar as

    crianas desenvolvem novas estratgias para atingir estes objectivos sociais atravs do

    desenvolvimento das aptides de comunicao e de compreenso social.

    Perante esta evidncia, Brassard e Boehm (2007) propem os trs seguintes

    componentes bsicos do desenvolvimento emocional das crianas em idade pr-

    escolar: (a) conhecimento/compreenso emocional (entendido como uma base de

    dados que a criana utiliza para aumentar a sua capacidade de perceber e responder

    de forma adequada s pistas sociais), (b) expressividade emocional (a expresso clara

    de uma vasta gama de emoes desempenha um papel fulcral na compreenso do self

    e dos outros), e (c) regulao emocional (componente mais complexo, dado que

    permite criana recorrer a diversas estratgias para regular as suas emoes).

    Por conseguinte, nos ltimos anos de frequncia do jardim-de-infncia, a

    criana torna-se mais fcil de ensinar, uma vez que consegue seguir mais facilmente

    indicaes dos adultos, manter-se em tarefa por mais tempo, com nveis mais

    reduzidos de distraco e um maior auto-controlo (Edwards, 1999). neste sentido que

    a auto-regulao, que envolve o auto-controlo (e.g., controlar os comportamentos

    agressivos), a condescendncia e a expresso de comportamento prossocial,

    apontada como uma tarefa desenvolvimental chave e com impacto no desenvolvimento

    das bases da competncia social futura (Brassard & Boehm, 2007; Lynch, Geller, &

    Schmidt, 2004).

    Acresce que, segundo uma perspectiva desenvolvimental, a entrada para o

    jardim-de-infncia reveste-se de particular interesse para a investigao de patamares

    desenvolvimentais de problemas exteriorizados e interiorizados (Anthony et al., 2005;

    Mesman et al., 2001). A escola uma das mais importantes instituies de socializao

    da sociedade e, muitas vezes, a primeira experincia num grupo coeso de pares ocorre

    neste contexto (Gresham, 2001; Ladd, 1990; Lopes et al., 2006). Desta forma, o estudo

    dos grupos de pares em contexto pr-escolar fornece aos investigadores uma janela

    aberta para os problemas com os pares, num estdio muito precoce de

    desenvolvimento (Wood et al., 2002).

    , precisamente, neste contexto que o jardim-de-infncia se revela como um dos

    principais recursos para a preveno e interveno em problemas de comportamento

    (Arnold et al., 2006), dado que: (a) pode ser o nico servio de apoio disponvel para

    famlias de menores recursos financeiros; (b) as crianas passam uma grande parte do

    tempo no jardim-de-infncia; (c) um contexto que possibilita uma maior coordenao

    de esforos entre pais e educadores; e (d) permite recolher informao nica na

    avaliao, que poder facilitar a identificao dos problemas (e.g., perspectiva do

  • Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar

    Retrato das Crianas Portuguesas

    16

    educador que trabalha com vrias crianas da mesma idade/gnero). O jardim-de-

    infncia tambm apontado como um contexto ideal para a promoo da competncia

    das crianas, sendo definido como um autntico agente de mudana

    desenvolvimental (Pianta, Steinberg, & Rollins, 1995 citados por Lynch et al., 2004,

    p.337).

    At h alguns anos atrs, a maioria da investigao, trabalho clnico e

    ferramentas de avaliao centrava-se na avaliao de problemas de comportamento e

    sintomas. Porm, ainda que a avaliao de dfices ou limitaes seja fundamental para

    a insero em programas de educao especial ou encaminhamento para servios de

    sade mental, o foco nesta perspectiva deficitria acaba no s por limitar a

    informao recolhida, mas tambm por enfatizar o lado negativo da criana (Epstein,

    Synhorst, Cress, & Allen, 2009). Esta estratgia contraria um dos 10 princpios

    orientadores da avaliao de crianas mais novas, proposto pelo Working Group on

    Developmental Assessment, formado por um conjunto de profissionais em avaliao

    desenvolvimental de crianas em idade pr-escolar, segundo o qual: The assessment

    process should identify the childs current competencies and strengths, as well as the

    competencies that will constitute developmental progression in a continuous growth

    model of development (Greenspan & Meisels, 1996, citados por Epstein et al., 2009, p.

    29). Ou seja, a recolha de informao respeitante s potencialidades e competncias da

    criana revela-se um elemento chave no estabelecimento de protocolos interventivos,

    dado que o examinador toma conhecimento acerca dos recursos pessoais e ecolgicos

    daquela, que podero ser utilizados para alcanar as mudanas comportamentais

    desejadas (Epstein et al., 2009). Tambm Achenbach e McConaughy (1987; Achenbach,

    1991a; Achenbach & Edelbrock, 1978) chamam a ateno para a importncia da

    avaliao das competncias da criana, em detrimento de um foco exclusivo nos

    problemas, e sugerem a sua incluso (e.g., competncia social), no decorrer de

    qualquer processo de avaliao psicolgica, na tentativa de obter um retrato mais

    fidedigno da criana e das vrias adaptaes/intervenes possveis em diferentes

    contextos.

    A capacidade de interagir com sucesso junto dos pares e adultos significativos

    um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento das crianas (Gresham, 1997,

    2001; Warnes, Sheridan, Geske, & Warnes, 2005). Por outro lado, foi emergindo na

    literatura a convico do papel fundamental desempenhado pela interaco com os

    pares ao nvel da socializao (Landau & Moore, 1991; Lindsey & Mize, 2001; Lopes et

    al., 2006; Parker & Asher, 1987). Neste contexto, a competncia social crucial porque

    prediz adequadamente o ajustamento social a longo prazo e um factor chave de

    desenvolvimento de disfuno comportamental em sala de aula (Lane et al., 2007).

    Consequentemente, nas ltimas duas/trs dcadas, o constructo de aptides sociais

  • Captulo 1

    Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar

    17

    tem sido alvo de uma considervel e crescente ateno nas reas da psicologia e

    educao.

    Desta breve abordagem acerca da importncia das aptides sociais e da

    regulao comportamental importa reter que o crescente interesse por parte de

    clnicos e investigadores pelas aptides sociais fica a dever-se ao papel central que

    problemas nesta rea acarretam ao nvel da psicopatologia e ajustamento em geral das

    crianas (Matson & Wilkins, 2009). A importncia destas competncias na

    aprendizagem acadmica e qualidade de vida levam Lopes e colaboradores (2006) a

    defender que o contexto escolar e o currculo acadmico devam atender ao

    desenvolvimento da competncia social dos alunos. Ou seja, para alm do rpido

    crescimento fsico e desenvolvimento da linguagem e aptides motoras, que exercem

    um papel preponderante no desenvolvimento socioemocional infantil (Martin, 1988a),

    a emergncia e posterior desenvolvimento das aptides sociais e da regulao

    comportamental desempenham um papel decisivo na idade pr-escolar.

    1.1.2. Problemas no Desenvolvimento Socioemocional

    Dada a evidncia de que reas afectivas e de competncias de relacionamento

    constituem o alicerce que influencia o funcionamento da criana em casa, na escola e

    na comunidade (Knoff, Stollar, Johnson, & Chenneville, 1999), a identificao precoce

    de dificuldades no funcionamento interpessoal e de problemas de comportamento

    assume relevncia fundamental no perodo pr-escolar (Campbell et al., 2000;

    Caselman & Self, 2008; Konold, Hamre, & Pianta, 2003; Winsler & Wallace, 2002).

    Neste contexto, as crianas desobedientes e agressivas apresentam-se como um

    verdadeiro desafio para pais, educadores ou outros prestadores de cuidados. Como tal,

    os problemas de comportamento disruptivo, como a agresso e a desobedincia, so

    os motivos mais comuns da procura de servios de sade mental na idade pr-escolar

    (Davies, 2004; Keenan & Wakschlag, 2002; Miner & Clarke-Stewart, 2008), dado serem

    comportamentos com os quais difcil de lidar, incomodativos/aborrecidos e, algumas

    vezes, at perigosos (Merrell, 2008).

    Por outro lado, crianas com reduzidas aptides sociais e com limitaes na

    interaco com adultos e pares apresentam dificuldades acrescidas na procura de

    auxlio/suporte necessrio para enfrentar os seus problemas (Whiteside-Mansell,

    Bradley, & McKelvey, 2009).

    Acresce que a relao entre aptides sociais e problemas de comportamento

    recproca. Neste sentido, sugerido na literatura que problemas sociais podero estar

    envolvidos no desenvolvimento de problemas interiorizados e exteriorizados (Mesman

    et al., 2001; Warnes et al., 2005). Por outro lado, a existncia de problemas de

    comportamento exteriorizados ou interiorizados poder interferir com a capacidade

  • Avaliao de Aptides Sociais e Problemas de Comportamento em Idade Pr-Escolar

    Retrato das Crianas Portuguesas

    18

    da criana aprender aptides sociais, e proporcionar reduzidas oportunidades de

    praticar essas aptides junto dos pares: assim, crianas com comportamentos

    interiorizados so, muitas vezes, negligenciadas pelos pares, e aquelas que

    apresentam comportamentos exteriorizados tm maior probabilidade de ser

    rejeitadas por aqueles (Elksnin & Elksnin, 1995).

    A testemunhar esta ntima relao entre aptides sociais e problemas de

    comportamento est o facto de diversas perturbaes especficas da infncia e

    adolescncia referenciadas no DSM (e.g., Mutismo Selectivo, Perturbao do

    Comportamento) incluirem nos seus critrios de diagnstico dificuldades a nvel

    interpessoal ou na competncia social (Gresham, Cook, Crews, & Kern, 2004).

    Neste contexto, e apesar do aumento do interesse pela psicopatologia infantil,

    verifica-se que a maioria da investigao e prticas desenvolvidas se focam nas

    crianas em idade escolar (Campbell et al., 2000). Campbell (1991) apresenta vrias

    razes para justificar a omisso das crianas em idade pr-escolar dos estudos sobre

    psicopatologia: por um lado, a dificuldade de deciso do que ou no normal neste

    estdio de desenvolvimento; por outro, as rpidas mudanas desenvolvimentais dos 2

    aos 5 anos e as diferenas individuais, que tornam razovel aceitar que alguns

    problemas manifestados precocemente se iro dissipar. com base neste ltimo

    argumento que crianas de 3 anos com comportamentos agressivos, por exemplo, so,

    muitas vezes, encaradas como estando numa fase de aprendizagem de relao com o

    grupo de pares.

    Assim, a prevalncia de problemas emocionais e comportamentais no pr-

    escolar permanece controversa, o que se justifica tendo em conta a ainda escassa

    investigao nesta rea (e com esta faixa etria), nas taxas de prevalncia discrepantes

    encontradas na literatura (Barbarin, 2007; Feil et al., 2005; Herrera & Little, 2005; Qi &

    Kaiser, 2003), bem como, atendendo s dificuldades em definir/delimitar o conceito de

    perturbao psicolgica em crianas muito novas (Gimpel & Holland, 2003; Marinheiro

    & Lopes, 1999; Merrell, 1996a).

    No entanto, em geral, as taxas de prevalncia de problemas de comportamento

    nesta faixa etria atingem basicamente os nveis das crianas mais crescidas (Carney &

    Merrell, 2002). Para as crianas em idade escolar (populao geral), Barkley (1998)

    aponta para uma taxa de prevalncia de problemas de comportamento de 5 a 10%, com

    primazia de problemas exteriorizados face aos interiorizados. Por sua vez, Cicchetti e

    Toth (1991) apontam para uma prevalncia de problemas de comportamento em idade

    pr-escolar na ordem dos 15-20%. Apesar dos estudos desenvolvidos acerca da

    prevalncia de perturbaes do comportamento no pr-escolar definirem os seus

    grupos tendo por referncia pontos de corte em escalas de avaliao, sem atender

    durao dos sintomas, existe algum consenso de que cerca de 10-15% das crianas em

  • Captulo 1

    Avaliao Psicolgica em Idade Pr-Escolar

    19

    idade pr-escolar apresentam problemas ligeiros a moderados (Campbell, 1995;

    Lavigne et al., 1996, citados por Carter et al., 2004). Neste sentido, dependendo da

    populao alvo do estudo, a literatura aponta para taxas de prevalncia de 7 a 25% de

    crianas em idade pr-escolar que cumprem os critrios para diagnsticos clnicos de

    Perturbao de Oposio e Perturbao do Comportamento precoces (Campbell &

    Ewing, 1990; Webster-Stratton, 1996).

    Como sugere Campbell (1995), estas taxas de prevalncia so inquietantes, uma

    vez que os problemas de comportamento identificados entre os 3 e 6 anos tendem a

    ser relativamente estveis e a predizer no apenas problemas na escola, mas tambm

    srios problemas de sade ou de comportamento na adolescncia, tais como

    depresso, ideao suicida, ansiedade ou delinquncia. Por outro lado, os profissionais

    devem procurar identificar/avaliar os problemas ou atrasos a nvel socioemocional e

    comportamental que podero gerar srios entraves ao desenvolvimento e

    aprendizagem da criana (Caselman & Self, 2008).

    Por conseguinte, crianas que apresentem problemas significativos de

    comportamento numa idade precoce esto numa posio de risco acrescido para

    apresentarem problemas de comportamento identificados na escolaridade bsica

    (Briggs-Gown & Carter, 2008; Campbell, 1994, 2002; Conroy & Brown, 2004; Keenan &

    Wakschlag, 2000). Porm, apesar do interesse na delinquncia e preveno da violncia

    futura, a investigao clnica tem dado pouca ateno a esta populao (Keenan &

    Wakschlag, 2000). Ou seja, tal como nas restantes reas, a maioria da investigao tem

    sido dirigida para a populao escolar (Conroy & Brown, 2004) e poucos estudos

    investigavam a continuidade de problemas de comportamento nesta faixa etria mais

    nova (Campbell, 1994; Keenan, Shaw, Delliquadri, Giovannelli, & Walsh, 1998;

    Pihlakoski et al., 2006).

    Sendo a idade pr-escolar um perodo de intenso crescimento e

    desenvolvimento, a estabilidade temporal dos comportamentos assume aqui um

    carcter ambguo (Egeland, Kalkoske, Gottesman, & Erickson, 1990). Ou seja, ainda que,

    para algumas crianas em idade pr-escolar, os problemas de comportamento tenham

    um carcter transitrio, para outras estes problemas representam os alicerces para

    perturbaes estveis do comportamento (Harvey, Friedman-Weieneth, Goldstein, &

    Sherman, 2007). Neste contexto, a literatura destaca a existncia de diferentes padres

    de desenvolvimento no que concerne evoluo de dificuldades apresentadas no

    percurso escolar. Assim, algumas crianas apresentam problemas