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XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010
XI Salão de
Iniciação Científica PUCRS
Avaliação da toxicidade celular de resinas odontológicas
fotopolimerizáveis em células de Saccharomyces cerevisiae
Lindholz, CG1, Gonçalves, TS2, Menezes, LM³, Silva, Medina-Silva, R.1 (orientador)
1Faculdade de Biociências, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
²Faculdade de Odontologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Introdução
A biocompatibilidade dos materiais na Ortodontia tem sido amplamente estudada
devido às propriedades de interação destes materiais com os tecidos e fluidos do corpo
humano (Ata, Yavuzyilmaz, 2009). Os restauradores temporários fotopolimerizáveis são
resinas compostas, dentre outros materiais, por grupos acrilatos, os quais são sabidamente
capazes de realizar reações de hipersensibilidade e podem ainda ter em sua composição a
adição de Cloreto de Benzalcônio e óleos essenciais, os quais possuem ação antimicrobiana
(Casemiro et al, 2009). Além disso, há demonstrações de que os monômeros residuais
liberados pelas reações de fotopolimerização induzem reações tóxicas, as quais também
podem ser desencadeadas por outros componentes das resinas acrílicas como o Formaldeído,
Ácido Metacrílico, e Ácido Benzóico (Lefebvre et al, 1992). A conversão do monômero em
polímero exerce influência nas reações locais e sistêmicas do organismo, sendo o monômero
liberado capaz de induzir ao aparecimento de reações teciduais e com os fluidos do corpo
(Jorge et al, 2003). A levedura Saccharomyces cerevisiae, o fermento biológico, é um modelo
microbiológico experimental muito utilizado em diversas áreas das Ciências Biológicas e
Biomédicas (De Freitas et al. 2003). Por ser um organismo unicelular eucarioto, apresenta
características bioquímicas e celulares muito próximas às células animais, além de permitir
análises bastante controladas e com grande número amostral. Neste projeto, avaliou-se a
citotoxicidade induzida por seis diferentes marcas de resinas fotopolimerizáveis, em células
de S. cerevisiae, através de dois conjuntos de experimentos: 1- análises de sobrevivência após
exposição direta de células de S. cerevisiae às resinas; 2- análise de sobrevivência de células
de S. cerevisiae frente aos químicos liberados pelas resinas em saliva artificial comercial.
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Metodologia
Para a realização dos experimentos foi utilizado um total de seis resinas
fotopolimerizáveis, sendo elas: Gingi Dam (Dentalville, Joinville, Brasil) e Top Dam (FGM,
Joinville, Brasil), utilizadas como barreiras gengivais; Bioplic – Biodinâmica (Ibiporã,
Paraná, Brasil), ClipF – Voco (Cuxhaven, Alemanha) e ProvimasterF – Wilcos (Petrópolis,
Rio de Janeiro, Brasil), sendo estas resinas utilizadas como restauradores temporários;
Transbond XT (Monrovia, California, EUA), empregada na colagem de acessórios
ortodônticos. A linhagem (selvagem) de S. cerevisiae utilizada neste estudo foi a FF18733
(mata, ura3-52, his7-3, leu2-1, trp1-289, lys1-1). Para o cultivo e desenvolvimento dos
experimentos de citotoxicidade em S. cerevisiae foi utilizado meio rico YPD em forma
líquida (extrato de levedura a 1%, peptona a 2% e glicose a 2%), e em sua forma sólida
(adicionado de ágar a 2%). Nos experimentos de exposição direta de S. cerevisiae às resinas, a
linhagem FF18733 foi cultivada em 5 ml de meio YDP líquido a 30ºC até fase exponencial
(~106 células/ml). Após, 100 µl do referido pré-inóculo foram transferidos a novos recipientes
contendo meio YPD líquido (5 ml) juntamente com as resinas a serem testadas. Alíquotas dos
cultivos foram diluídas em solução salina estéril (0,9%), e amostras de 5 µl de cada diluição
(10-2 a 10-5) foram semeadas em meio YPD sólido e cultivadas durante dois dias a 30ºC, para
obtermos uma análise qualitativa. A semeadura para análise quantitativa foi de 100 µl apenas
das duas últimas diluições (10-4 e 10-5) de cada tratamento em meio YPD sólido, as quais
permaneceram a 30ºC durante dois dias, para posterior contagem das UFCs/ml. No teste de
exposição à saliva, as resinas foram imersas em 500 µl de saliva artificial comercial Salivan
(Apsen Farmacêutica S.A), durante sete dias. 500 µl de inóculo da linhagem selvagem foram
utilizados para os tratamentos, passando por processo de centrifugação e ressuspensão em 500
µl de saliva exposta às diferentes resinas. As células ficaram expostas durante 60 minutos às
amostras de saliva tratadas, foram diluídas e cultivadas como descrito no teste de exposição
direta. Em todos os experimentos os dados de UFC/ml foram comparados ao grupo controle,
possibilitando a verificação da eventual perda de viabilidade induzida através dos químicos
liberados pelas resinas fotopolimerizáveis.
Resultados e Discussão
Nos três experimentos de exposição à saliva realizados com todas as seis resinas não
foram encontradas diferenças dos tratamentos em comparação aos controles, indicando que
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tais materiais parecem não induzir toxicidade celular em S. cerevisiae nestas condições de
tratamento.
Já em relação aos testes de exposição direta, resultados de dois experimentos
realizados com as resinas Bioplic – Biodinâmica (Ibiporã, Paraná, Brasil) e ProvimasterF –
Wilcos (Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil) indicaram uma pequena indução de citotoxicidade
devida à uma leve diminuição de UFC/ml com relação ao grupo controle. Entretanto, tal
diferença não se mostrou significativa e, portanto, pelo menos mais um experimento com cada
resina será realizado para esclarecer estes dados. Além disso, experimentos de exposição
direta com as resinas ainda não testadas já se encontram em andamento.
Conclusão
Os resultados de todos os experimentos realizados até então com as seis marcas de
resinas fotopolimerizáveis em células de S. cerevisiae não mostraram fortes induções na perda
de viabilidade desta levedura a partir de compostos químicos eventualmente liberados no
meio de cultura ou na saliva artificial. Embora estas moléculas sejam reconhecidas pela
indução de toxicidade, suas concentrações nas resinas testadas parecem não promover
significativas alterações no metabolismo do organismo modelo utilizado no estudo.
Referências ATA SO, YAVUZYILMAZ H. In vitro comparison of the cytotoxicity of acetal resin, heat-polymerized
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