avaliação da qualidade do solo em duas sucessões floresta pastagem na região leste do acre,...
TRANSCRIPT
-
7/31/2019 Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, Amazonia Ocidental
1/8
1. INTRODUO
A Amaznia Legal com 5,2 milhes de kmapresenta, atualmente, uma rea cumulativa
desflorestada correspondente a 691.123 km, o
equivalente a aproximadamente 17,2 % de toda floresta
amaznica brasileira (INPE, 2008). Cerca de 80 % da
rea desmatada tem sido utilizada com pastagens
plantadas e acredita-se que metade desta rea esteja
degradada e, em alguns casos, abandonada (BRASIL,
2004; DIAS-FILHO & ANDRADE, 2006).
Localizado na Amaznia Ocidental, o Acre possui
rea territorial de aproximadamente 164.220 km,
sendo que em torno de 11,7 % (19.200 km) de sua rea
encontra-se desflorestada (INPE, 2008). Do total
desmatado, estima-se que cerca de 81% (1,3 milhes de
hectares), eram utilizadas com pastagens (OLIVEIRA et al.,
2006). Estima-se que a metade desta rea (650 mil ha)
esteja degradada e, em alguns casos, abandonada, em
sua maioria, cultivada com Brachiaria brizantha cv.
Marandu, tambm conhecido como braquiaro ou
Capim-brizantho (DIAS-FILHO & ANDRADE, 2006).
O desmatamento tem se concentrado ao longo
das principais rodovias, estradas vicinais e as margens
dos cursos dgua situados ao leste do Estado. A
tendncia tem sido a implantao crescente de
pastagens pelos diversos segmentos produtivos do
Estado, tais como, colonos, extrativistas, ribeirinhos e
pecuaristas (AMARAL et al., 2000; ACRE, 2006).
Este avano no desmatamento de reas de
floresta nativa, para dar lugar a extensas pastagens,
tem preocupado o poder pblico e a comunidade
cientfica em geral, no sentido de mensurar os impactos
(positivos e negativos) gerados (SILVA & RIBEIRO, 2004;
AMARAL et al., 2005; LIRA et al., 2006) e propor
alternativas de uso, manejo e recuperao para
ecossistemas de pastagens degradadas de forma a
reincorpor-las ao processo produtivo (OLIVEIRA et al.,1999; WANDELLI et al., 1999).
Nos ltimos anos a pecuria bovina no Acre vem
tendo problemas decorrentes da reduo gradual da
capacidade de suporte das pastagens e da
produtividade animal, onerando com isso os custos
envolvidos na recuperao e renovao das pastagens.
Essas dificuldades esto associadas infestao por
invasoras (degradao agrcola), degradao de
propriedades fsicas e qumicas do solo, a sndrome da
morte do Capim-brizanto e uso constante do fogo.
Neste contexto, h a necessidade de melhor
compreenso sobre a magnitude dos impactos
Edson Alves de ArajoJoo Carlos Ker
Jlio Csar Lima Neves
CAPTULO 8
AVALIAO DA QUALIDADE DO SOLOEM DUAS SUCESSES FLORESTA-PASTAGEM
NA REGIO LESTE DO ACRE,
AMAZNIA OCIDENTAL
CAPTULO 8
96
ARAJO, E. A. ; Ker, J.C ; Neves, J.C.L . Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, AmazoniaOcidental. In: Edson Alves de Arajo; Joo Luiz Lani. (Org.). Uso sustentvel de ecossistemas de pastagens cultivadas na Amaznia Ocidental. Usosustentvel de ecossistemas de pastagens cultivadas na Amaznia Ocidental. Rio Branco: Secretaria Estado de Meio Ambiente - SEMA, 2012, v. 1, p.101-108.
-
7/31/2019 Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, Amazonia Ocidental
2/8
decorrentes da converso de floresta em ecossistemas de
pastagem. Para tal, considera-se de vital importncia
definir critrios e indicadores de qualidade do solo e
ambiente, a fim de subsidiar a identificao e a
mensurao do nvel de degradao da pastagem, bem
como direcionar aes de manejo que possibilitem seu
monitoramento ao longo do tempo.
2. REFERENCIAL TERICO
No Acre, nas ltimas dcadas, alguns trabalhos
tm se reportado aos impactos que a converso de
ecossistemas de floresta em pastagens causa ao meio
ambiente e biodiversidade (GALVO, 1997, VOSTI et
al., 2001). No entanto, vale ressaltar que o enfoque
desses trabalhos tem sido generalista, sem subsdios de
estudos aplicados no sentido de estimar a magnitude
dessas alteraes e monitor-las ao longo do tempo,
principalmente, no compartimento solo. Alm disso, no
tm sido realizados trabalhos no sentido de integrar
atributos fsicos, qumicos e biolgicos do solo de modo a
possibilitar a avaliao da Qualidade do Solo por
intermdio de ndices quantitativos.
Nesse mbito, alguns trabalhos tm tentado
incorporar caractersticas, propriedades e processos, coma utilizao de Indicadores de Qualidade do Solo (IQS)
que, de forma integrada, possam gerar ndices
quantitativos (KARLEN & STOTT, 1994; SNAKIN et al.,
1996; ISLAM & WEIL, 2000; ANDREWS et al., 2004), que
permitam avaliar o estado geral do solo (ou sade do
solo) e identificar prticas de manejo mais adequadas
para sua correo. Constituindo-se em uma ferramenta
auxiliar na busca de solues tcnicas direcionadas a
atributos do solo que estejam sendo impactados
negativamente.Desse modo, Islam e Weil (2000) propuseram a
avaliao direta da qualidade do solo por meio do ndice
de Degradao do Solo (IDS). A metodologia proposta
por esses autores parte do pressuposto de que as
propriedades fsicas e qumicas iniciais dos solos, sob
pastagem, foram as mesmas dos solos adjacentes, sob
floresta. As diferenas entre as propriedades dos solos
sob pastagem, comparadas linha-base das
propriedades do solo sob vegetao nativa so ento
mensuradas e expressas como a percentagem da mdia
dos valores individuais de cada propriedade. Por fim,
essas percentagens so agrupadas (em uma mdia
geral), a fim de compor o ndice de Degradao do Solo.
De forma a nortear a seleo de IQS, Doran e
Parkin (1996), sugerem alguns critrios, quais sejam:
correlacionar-se com processos naturais do ecossistema
(funcionalidade); de fcil utilizao em condies de
campo (praticidade e facilidade nos processos de difuso
de tecnologia); ser suscetvel s variaes climticas e de
manejo (carter dinmico); e ser componente, quando
possvel, de uma base de dados existente.
3. METODOLOGIA
3.1 Caractersticas Gerais das reas de Estudo eAmostragem de Solos
Foram estudados solos de duas seqncias
floresta-pastagem localizadas nos municpios de Rio
Branco e Senador Guiomard, regio leste do Acre. As
reas de pastagem, anterior ao processo de
amostragem, foram selecionadas em locais prximos a
rea de floresta em condies semelhantes de relevo,
posio na paisagem, drenagem e classe de solo. Os
procedimentos de amostragem foram realizados em
meados de 2004.
No municpio de Rio Branco, o solo amostrado foi
o Argissolo Vermelho-Amarelo altico plntico (PVAal),
horizonte A moderado, textura mdia/argilosa, relevo
suave ondulado a ondulado. A vegetao dominante do
tipo Floresta Aberta com bambu (taboca) e palmeira. A
mdia anual da precipitao pluviomtrica de 2000
mm e a temperatura mdia anual de 25 C. A sucesso
estudada inclui a floresta original (FA) e duas pastagens
de B. brizantha com 3 e 10 anos de uso (P3A e P10A,respectivamente). A primeira foi plantada em 2001 aps
derruba e queima da floresta; no foi utilizado corretivo
ou adubo. A segunda foi implantada em 1994; no foi
utilizado corretivo ou adubo; a rea foi queimada aps o
desmate (1994) e novamente em 1999 (cinco anos de-
pois). O braquiaro foi semeado simultaneamente com a
Puerria (Pueraria phaseoloides).
No municpio de Senador Guiomard o solo
constitui-se de um Latossolo Vermelho-Amarelo distrfico
(LVAd), caulintico, textura argilosa, profundo, bem
97
De acordo com Karlen et al. (1997) Qualidade do Solo seria a capacidade de um dado solo funcionar, dentro de um sistema natural ou manejado de forma amanter a produtividade vegetal e animal, manter ou melhorar a qualidade da gua e do ar e suportar a sade humana e habitacional.
Indicadores de Qualidade do Solo so caractersticas mensurveis (quantitativas ou qualitativas) do solo ou planta acerca de um determinado processo ouatividade e que permitem caracterizar, avaliar e acompanhar as alteraes ocorridas num dado ecossistema (KARLEN et al., 1997).
-
7/31/2019 Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, Amazonia Ocidental
3/8
objetivou avaliar a suscetibilidade dos indicadores ao uso
e manejo no processo de converso floresta-pastagem e
estimar atravs de ndices quantitativos (IDS) a magnitude
da degradao do solo de pastagens de 3, 10 e 20 anos
com a floresta nativa como referncia, conforme
metodologia proposta por Islam e Weil (2000).
Para o clculo da QS, utilizou-se a mdia globaldas caractersticas fsicas e qumicas das amostras
coletadas nas profundidades de 0-5; 5-10 e 10-20 cm,
agrupando, portanto, os primeiros 20 cm a partir da
superfcie do solo, considerando que uma parcela ex-
pressiva do sistema radicular de plantas explora esse
intervalo de profundidade.
Para tanto, inicialmente, selecionaram-se
atributos do solo relacionados a aspectos de
funcionalidade do solo, sustentabilidade de pastagens e
suscetibilidade ao uso e manejo do solo. Nesse sentido,estabeleceram-se quatro funes bsicas do solo respon-
sveis pela produtividade de cultivos agrcolas, e, por
extenso, aplicveis em ecossistemas de pastagens,
quaisejam (KARLEN & STOTT, 1994): a) receber,
armazenar e suprir gua (RASA) b) resistir
degradao estrutural superfcie (RDE); c) sustentar a
qualidade e produtividade das pastagens (SQPP); d)
promover o desenvolvimento do sistema radicular (PDSR).
Em seguida, foram elencados indicadores fsicos e
qumicos de qualidade do solo relacionados s funesconstitudas (Quadro 1).
De modo a auxiliar na seleo de indicadores
que contribussem efetivamente para a varincia total dos
dados, utilizou-se tambm a Estatstica Multivariada
atravs da tcnica exploratria de sintetizao da
estrutura de variabilidade dos dados denominada
Anlise de Componentes Principais (ACP) (MANLY, 1998).
O software utilizado para essa anlise foi o Statistica 7.0
(CopyrightStatsoft, Inc, 1984-2004),
Aps o descarte de variveis que apresentavam
redundncia mtua, selecionaram-se 21 indicadores,
sendo 13 de natureza qumica e 8 de natureza fsica e
que foram utilizados para o clculo do IDS (Quadro 1).
4. RESULTADOS OBTIDOS
4.1 Efeitos da Converso Floresta-Pastagem Sobre as
Caractersticas Fsicas do Solo
Os pedossistemas estudados diferem, a princpio,
em termos de caractersticas granulomtricas (Quadro 2).
Na sucesso 1 predomina a frao silte sobre a argila.
drenado em ambiente de relevo plano a suave ondulado.
A floresta nativa predominante a do tipo Floresta Densa
com muscea. A precipitao pluviomtrica e a
temperatura mdia anual so similares as da rea de Rio
Branco. A seqncia estudada inclui a floresta original
(FB) e uma pastagem de B. brizantha de 20 anos (P20B),
implantada em 1984; no foi realizada queima nos
ltimos 10 anos; no foi mecanizada e nem se utilizoucorretivo ou adubo. A mesma praticamente no
apresenta infestao por invasoras.
Em cada local, foram abertas 3 minitrincheiras e
retiradas amostras de solo nas profundidades de 0 a 5; 5
a10 e 10 a 20 cm da superfcie. Anterior a realizao das
anlises fsicas e qumicas, as amostras de solo foram
secas ao ar, destorroadas e passadas em peneiras com
abertura de 2 mm para obteno da terra fina seca ao ar
(TFSA) (EMBRAPA, 1997).
3.2 Procedimentos Analticos
As determinaes fsicas consistiram de: anlise
textural (propores de areia, silte e argila), argila
dispersa em gua, densidade do solo, densidade de
partculas, condutividade hidrulica e macro e
microporosidade do solo (EMBRAPA, 1997).
As anlises qumicas incluram: pH em gua e em
KCl; teores de clcio, magnsio, potssio e alumniotrocveis e fsforo disponvel de acordo com Embrapa
(1997); fsforo remanescente (P-rem) foi determinado
segundo Alvarez V. et al. (2001).
A extrao e fracionamento das fraes cidos
hmicos (AH), cidos flvicos (AF) e huminas (HUM), foi
realizada conforme metodologia preconizada pela
Sociedade Internacional de Substncias Hmicas (SWIFT,
1996). Na determinao do carbono orgnico contido
nas substncias hmicas (AF, AH e HUM) e no solo, utilizou-
se o mtodo da dicromatometria com aquecimento
proposto por Yeomans & Bremner (1988).
O nitrognio total do solo foi determinado de
acordo com Bremner e Mulvaney (1982) e Tedesco et al.
(1995). A frao leve da matria orgnica (MOL) foi
extrada por densimetria em gua (ANDERSON &
INGRAM, 1993) e a quantificao de C por combusto a
seco em analisador elementar (CHNS, Perkin Elmer, Op-
tima 2400).
3.3 Avaliao da Qualidade do Solo
A avaliao da Qualidade do Solo (QS)
98
-
7/31/2019 Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, Amazonia Ocidental
4/8
sucesso. Verifica-se que houve diminuio dos
microporos em razo do aumento dos macroporos,
quando se compara os ambientes de pastagem com a
respectiva floresta de referncia, conforme constatado
tambm por outros autores (MACHADO & BRUM, 1978;
NEVES JNIOR, 2005).
Nos solos da sucesso 2 a porosidade total foialterada, sobretudo, na profundidade de 0-5 cm, cuja3 -3 3 -3variao foi de 0,51 m m na floresta e 0,44 m m na
pastagem A reduo da porosidade e acrscimo da
densidade do solo parece refletir mais intensamente em
solos com baixa permeabilidade, que se tornam
encharcados durante o perodo chuvoso. Nessa situao
tem se constatado a ocorrncia da sndrome de morte de
pastagem de B. brizantha cv Marandu na regio,
especialmente na rea de insero do municpio de Rio
Branco (VALENTIM et al., 2000; ARAJO et al., 2006a).O incremento na densidade e decrscimo da
porosidade do solo com a introduo da pastagem
atribudo ao pisoteio do gado e a ao conjugada de
outros fatores como a maior exposio do solo s
intempries climticas (insolao, chuvas torrenciais e aos
ciclos de umedecimento e secagem) e processos erosivos,
conforme reportado em outros trabalhos dessa natureza
em ambiente amaznico (MULLER et al., 2001, 2004;
ARAJO et al., 2004).
Prevalecem as fraes mais finas do solo, uma vez que o
somatrio do contedo de silte mais argila variaram de-168 a 87 dag kg . Esse fato denotado tambm pela
relao silte/argila que em mdia variou de 2,4 a 2,6. O
grupamento textural predominante foi o franco-siltoso
(fs). A frao areia fina encontra-se em maiores
propores em relao a areia grossa.
Em termos de manejo e uso do solo, a priori, os
solos da sucesso 1, em razo do menor contedo de-1argila (18 a 28 dag kg ) em relao ao de silte (48 a 63
-1dag kg ), sugerem ser mais suscetveis a processos
erosivos, de encrostamento e selamento do solo,
especialmente em condies de terreno desprovido de co-
bertura florestal (ASSOULINE, 2004; LADO & BEN-HUR,
2004). Em algumas reas de pastagens de B. brizantha cv
Marandu no municpio de Rio Branco, por exemplo,
constatou-se in loco a ntida formao de crostasendurecidas em superfcie, geralmente de colorao
acinzentada (zona de reduo), em local de ocorrncia
dessa sndrome.
O contedo de argila dos solos da sucesso 2
tende a ser mais elevado, no entanto, a proporo da
frao areia fina destaca-se sobre as demais. Essa
inverso no contedo de argila e silte em relao
sucesso anterior, resultou em valores da relao
silte/argila 0,7, caracterstica diagnstica marcante
para a classe dos Latossolos (EMBRAPA, 2006).
A densidade do solo variou de 1,22 a 1,43 kg-3dm , com tendncia de incremento aps a converso da
floresta em ambas as sucesses. Os solos da sucesso 1-3apresentaram densidade mdia de 1,22 kg dm sob
-3floresta e 1,31 e 1,39 kg dm e nas pastagens de 3 e 10
anos, um acrscimo de 6 e 14 %, respectivamente, em
relao a floresta. Para os solos da sucesso 2 a-3densidade mdia do solo na floresta foi de 1,24 kg dm e
-3de 1,38 kg dm para a pastagem, o correspondente a 11
% de acrscimo em relao a floresta.
De incio, torna-se difcil afirmar em qual
seqncia o aumento de densidade do solo tenderia a ser
deletria a outras funes do solo em razo das
diferenas na composio granulomtrica, da natureza
qumica e mineralgica do solo, do tempo de uso da
pastagem, da natureza morfofisiolgica da gramnea
forrageira, e da resilincia e resistncia inerente a cada
classe de solo, dentre outros fatores.
O sistema de poroso e a condutividade hidrulica
do solo, em sua totalidade, tenderam a se reduzir aps o
uso com pastagem nas duas seqncias, com maior reflexo
nos ecossistemas de pastagem pertencentes primeira
99
Quadro 1. Funes do solo e indicadores fsicos e qumicos de
qualidade do solo relacionados a sustentabilidade e suscetibilidade
ao uso e manejo do solo em pastagens.
Fonte: Arajo, 2008
-
7/31/2019 Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, Amazonia Ocidental
5/8
Notao: Ag = areia grossa; Af = areia fina; s = silte; r = argila; CT = classe textural; f = franco; fs = franco-siltoso; fr = franco-argiloso; fra = franco argilo
arenoso; r = argiloso; ra = argilo-arenoso; rN = argila dispersa em gua; GF = grau de floculao; s/r = relao silte/argila Ds = densidadee do solo e PT =
porosidade total do solo.
Quadro 2. Caractersticas fsicas dos solos nas profundidades de 0-5, 5-10 e 10-20 cm em duas sucesses floresta-pastagem, leste do Acre.
Porosidade Condutividade
Ecossistema Profundidade Ag Af s r s+r CT rN GF s/r Ds macro micro total Hidrulica
------- cm ------- -------------------- dag kg-1 -------------------- ------ % ------ kg dm-3 ------------- m3m-3------------- cm h-1
Floresta 0-5 1 26 52 21 73 fs 13 39 2,4 1,09 0,31 0,27 0,58 24,61
(FA) 5-10 1 24 55 20 75 fs 16 18 2,7 1,22 0,34 0,16 0,51 2,45
10-20 1 25 53 21 74 fs 18 14 2,5 1,35 0,34 0,18 0,51 4,37Mdia (0-20) 1 25 53 21 74 - 16 24 2,53 1,22 0,33 0,20 0,53 10,47
Pastagem 0-5 1 13 60 25 86 fs 18 29 2,4 1,17 0,39 0,04 0,43 1,75
(P3A) 5-10 2 12 63 23 87 fs 19 16 2,8 1,37 0,36 0,10 0,46 3,82
10-20 1 14 57 28 85 frs 22 24 2 1,38 0,36 0,08 0,44 0,90
Mdia (0-20) 1 13 60 25 86 - 20 23 2,40 1,31 0,37 0,07 0,44 2,15
Pastagem 0-5 1 30 49 20 69 f 12 37 2,5 1,31 0,39 0,05 0,44 5,51
(P10A) 5-10 1 31 50 18 68 fs 12 32 2,8 1,42 0,35 0,06 0,41 0,42
10-20 1 30 48 21 70 f 18 15 2,3 1,44 0,32 0,09 0,42 0,35
Mdia (0-20) 1 30 49 20 69 - 14 28 2,53 1,39 0,35 0,07 0,42 2,10
Floresta 0-5 14 46 16 24 41 fra 19 23 0,7 1,21 0,26 0,25 0,51 54,68
(FB) 5-10 11 41 17 31 48 fra 23 24 0,5 1,17 0,29 0,16 0,45 52,64
10-20 10 34 17 39 56 fr 32 18 0,4 1,33 0,31 0,16 0,47 16,67
Mdia (0-20) 12 40 17 31 48 - 25 22 0,53 1,24 0,28 0,19 0,47 41,33
Pastagem 0-5 13 43 15 29 44 fra 18 38 0,5 1,4 0,33 0,11 0,44 35,97
(P20B) 5-10 11 39 15 35 50 ra 27 23 0,4 1,43 0,33 0,12 0,45 20,15
10-20 9 36 15 40 55 r 20 50 0,4 1,3 0,34 0,11 0,45 17,85
Mdia (0-20) 11 39 15 35 50 - 22 37 0,43 1,38 0,34 0,11 0,45 24,66
Quadro 3. Caractersticas qumicas dos solos nas profundidades de 0-5, 5-10 e 10-20 cm em duas sucesses floresta-pastagem, leste do Acre.
100
-
7/31/2019 Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, Amazonia Ocidental
6/8
bases trocveis suficientes para o incremento de pH, uma
vez que no se adicionou nenhum corretivo ao solo.
De maneira geral, verificam-se tambm
melhorias em caractersticas qumicas do solo refletidas no
complexo sortivo e atributos relacionados, no carbono
orgnico e fsforo disponvel.
O incremento de pH com o tempo de uso pareceno ter tido reflexo na sucesso 2. Isso sugere que a
pastagem de B. brizantha de 20 anos (P20B) possa estar
retornando ao estado original da floresta tomada como
referncia (FB). Outra hiptese poderia estar
relacionada ao tamponamento de propriedades fsicas e
qumicas do solo desse ecossistema, em razo da
natureza latosslica do mesmo. Essa observao vlida
para grande parte dos demais atributos qumicos do solo,
em que no se constatou um desvio pronunciado dos
valores mdios mensurados na floresta e na pastagem(Quadro 3).
Em ambas as sucesses, o contedo de carbono,
fsforo (P) e bases trocveis concentra-se nos primeiros
cinco centmetros da superfcie do solo, ligeiramente mais
elevados nas pastagens. Os valores de P encontrados, em
geral, so considerados baixos e restritivos a nutrio
mineral de plantas (AMARAL & SOUZA, 1997; WADT &
CRAVO, 2005).
Os valores da saturao de bases (V%) indicamque os solos pertencentes sucesso 1 so mais
enriquecidos em bases trocveis em detrimento dos
amostrados na sucesso 2.
Os valores de P-rem so mais elevados nos
primeiros cinco centmetros de profundidade, declinando
progressivamente a maiores profundidades. Esse
comportamento est associado ao bloqueio dos stios de
adsoro de P pela matria orgnica do solo, sugerindo
uma menor adsoro de P em superfcie (ANDRADE et al.,
2003).
4.3 ndice de Degradao do Solo (IDS)
A utilizao da Anlise de Componentes
Principais (ACP) como ferramenta auxiliar na seleo de
variveis responsveis pela varincia dos dados,
mostrou-se bastante til para tal finalidade. Quando se
efetuou o processamento dos dados utilizando-se a
maioria das propriedades e atributos fsicos e qumicos do
solo estudados, constatou-se que os trs primeiros
componentes principais (CP_1, CP_2 e CP_3)
conseguiram explicar cerca de 75% da varincia total
das variveis. Sendo que os dois primeiros componentes
4.2 Efeitos da Converso Floresta-Pastagem Sobre
as Caractersticas Qumicas dos Solos
Aps a converso da floresta em pastagem,
observa-se um incremento gradativo no valor de pH com o
tempo de utilizao da pastagem na sucesso 1 (Quadro
3). Esse fenmeno est associado incorporao decinzas ao solo, seja durante o processo de queima
efetuado aps o desmate da rea ou nas operaes de
limpeza e renovao da pastagem. Esse processo,
embora temporrio, pode ter retornado quantidades de
--------------- % ---------------
P3A
8,223,047,58,60,7
-40,3-3,7546,416,119,071,2-52,7-88,2
22,2-23,023,0-5,812,5-64,71,7
-79,4
P10A
31,436,5
118,224,57,3
98,6-2583,022,10,7
82,92,4
-65,7
-6,311,176,2-13,97,0
-66,1-6,7-80
P20B
3,17,1
-11,4-5,06,3-9,612,4-4,0
-38,38,5
53,9-14,3-57,3
10,412,772,0-11,218,6-41,5-11,7-40,3
Indicador
pH em guaCapacidade de troca catinica (CTC)Saturao de bases (V%)Carbono orgnico (C )Nitrognio total (N)Fsforo disponvel (P)Fsforo remanescente (P-rem)Saturao por alumnioMatria orgnica leve (MOL)Frao cido flvico (FAF)Frao cido hmico (FAH)Humina (HUM)Relao HUM/AF+AH
Argila total ( r )Argila dispersa em gua (rN)Grau de floculao (GF)Densidade do solo (Ds)Microporosidade do soloMacroporosidade do soloPorosidade total (PT)Condutividade hidrulica
Natureza
Qumica
Fsica
Quadro 4. ndice de Degradao do Solo para alguns indicadores
fsicos e qumicos de solos sob pastagens de B. brizantha cv Marandu de
3, 10 e 20 anos, leste do Acre.
Quadro 5. ndice de degradao fsico (IDSf), qumico (IDSq) e total
(IDStotal) do solo para pastagens de B. brizantha cv Marandu de 3, 10
e 20 anos (P3A, P10A, P20B)
Quadro 6. ndice de degradao do solo em pastagens deB. brizantha
de 3, 10 e anos em relao a aspectos de funcionalidade do solo.
101
-
7/31/2019 Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, Amazonia Ocidental
7/8
foram responsveis por cerca de 65% da varincia dos
dados originais. Do total de 32 variveis analisadas
inicialmente, 23 se correlacionaram com os CPs e cuja as
cargas das variveis foram maiores ou iguais a 0,70 em
mdulo.
O IDS das pastagens reflete as mudanas
percentuais nas propriedades e atributos do solo emrelao aos valores de referncia da floresta (Quadro 4).
Em muitas situaes, constata-se melhoria nas condies
qumicas dos solos sob pastagem com o tempo de utiliza-
o. Isso ocorre de forma mais expressiva na pastagem
de 10 anos, com incremento nos valores de pH, CTC e V%.
O fsforo disponvel, entretanto, teve reduo de
aproximadamente 46% e 10% nas pastagens de 3 e 20
anos, respectivamente, e incremento substancial na
pastagem de 10 anos.
As fraes AF e AH esto sendo favorecidas emtodos os solos. No entanto, a frao HUM experimenta um
decrscimo expressivo na pastagem de 3 anos e em
menor extenso em solos sob pastagem de 20 anos (-
14,3%).
Chama ateno os valores negativos encontrados
para a relao HUM/AF+AH em todas as pastagens, o
que denota a baixa estabilidade estrutural da matria
orgnica (LABRADOR MORENO, 1996). Isso demonstra
que os ecossistemas de pastagem possam estar tendo um
ganho lquido de C, em razo do maior aporte de matria
orgnica proveniente da parte area da gramnea
forrageira e das razes mais prximas da superfcie, mas
ocorre um declnio em sua estabilidade estrutural.
Entre as propriedades fsicas do solo, as mais
alteradas foram as densidade e porosidade. A
densidade declinou em ndices que variaram de -5,8 a -
11,2. possvel, que embora os ndices de degradao
para a densidade do solo no ultrapassem pouco mais de
10%, a magnitude dessa alterao no deva serproporcional degradao de outras propriedades
fsicas do solo associadas. Nesse caso, o solo tenderia a
apresentar dificuldade na penetrao de razes,
reduona infiltrao de gua e trocas gasosas. Fatores
que podem sinergizar as perdas de minerais de argila,
matria orgnica e os nutrientes do solo.
3Entre os componentes da porosidade , observa-
se que a porosidade total no reflete as alteraes
ocorridas no sistema poroso do solo. Neste caso, a macro e
microporosidade do solo so mais informativas. Assim, os
ecossistemas de pastagem tiveram os macroporos
bastante alterados (reduzidos), o que refletiu em seus
ndices negativos de degradao.
Os ecossistemas de pastagem da primeira
sucesso tiveram um declnio na condutividade hidrulica
de cerca de 80%, o dobro que ocorreu na pastagem de
20 anos.A pastagens de 3 e 10 anos tiveram suas
propriedades fsicas alteradas em mais 50%, o que
refletiu no IDS negativo. Essas alteraes so devidas, em
sua maioria, a reduo na macroporosidade, incremento
da densidade e condutividade hidrulica do solo.
No que se refere pastagem de 10 anos foi a
mais impactada positivamente, principalmente as
relacionadas com atributos qumicos. Numa posio
intermediria, a pastagem de 20 anos apresenta
deteriorao das propriedades qumicas do solo,
refletido, como visto anteriormente, na diminuio do C
orgnico, saturao de bases e P disponvel. Isso de-
monstra que apesar do aspecto transitrio de melhoria da
fertilidade do solo, os ecossistemas de pastagem, como
qualquer outro, tambm exportam nutrientes essenciais a
nutrio mineral de plantas.
Quando se analisa os ndices de degradao do
solo (IDS) sob o ponto de vista da funcionalidade do solo,
verifica-se que todas as pastagens tiveram um ou maisconjunto de funes afetadas (Quadro 6).
A pastagem mais impactada foi a de 20 anos(P20B), a qual possui como funo resistir adegradao estrutural, e que se deve principal-mente pela melhoria de indicadores fsicos do solocomo o grau de floculao e argila dispersa emgua (Quadro 4). O inverso ocorreu com apastagem de 3 anos (P3A) em funo do incrementoda argila dispersa em gua, da a maior propenso
a perdas de solo por eroso.
A pastagem de 10 anos praticamente noteve deterioradas suas funes, pelo contrrio, suasfunes foram impactadas positivamente e de formaexpressiva, uma vez que IDS variou de -2,4 a 271%.
Em razo da deteriorao do sistema porosodo solo (macro e microporosidade do solo) e de suacapacidade de conduzir gua no solo, por meio desua condutividade hidrulica, os ecossistemas de
pastagem de 10 e 20 anos foram impactados
102
Operacionalmente, costuma-se classificar o sistema poroso do solo de acordo com as classes de tamanho, ou seja, macropros e microporos, cujo limite est nos poroscom dimetros maiores e menores e que 0,6 mm, respectivamente (REICHARDT, 1990). Embora no exista uma ntida linha de demarcao entre os poros do solo,devido a suas irregularidades, admite-se que os macroporos sejam responsveis pelo livre movimento do ar, da gua e crescimento radicular, sendo os microporosum reservatrio de gua (REICHARDT, 1990).
3
-
7/31/2019 Avaliao da qualidade do solo em duas sucesses floresta pastagem na regio leste do Acre, Amazonia Ocidental
8/8
negativamente no tocante a funo de receber,armazenar e suprir gua.
5. CONSIDERAES FINAIS
A converso de floresta em ecossistemas depastagens alterou de maneira distinta as
propriedades fsicas e qumicas do solo. Em muitassituaes ocorre melhoria nas propriedades qumicascomo o pH e bases trocveis em decorrncia daincorporao de cinzas ao solo. Alm disso, podeocorrer incremento de C com o tempo de uso dapastagem, conforme observado para solos dasucesso 1 (P3A e P10A), no entanto, a estabilidadeestrutural da matria orgnica tende a declinar.
A estabilidade estrutural da matria
o rgn i ca ( r ep re se n tada pe la r e l a oHUM/AF+AH), a densidade do solo e a porosidade,mostraram-se bastante suscetveis no processo deconverso floresta-pastagem. Essas e outraspropriedades e atributos do solo discutidos nestetrabalho, a priori, poderiam ser utilizadas comoindicadores chave no monitoramento da qualidade
do solo/degradao do solo.
A pastagem mais impactada foi a de 20 anos
(P20B), a qual possui como funo resistir a degradao
estrutural, e que se deve principalmente pela melhoria de
indicadores fsicos do solo como o grau de floculao e
argila dispersa em gua (Quadro 4). O inverso ocorreu
com a pastagem de 3 anos (P3A) em funo doincremento da argila dispersa em gua, da a maior
propenso a perdas de solo por eroso.
A pastagem de 10 anos praticamente no teve
deterioradas suas funes, pelo contrrio, suas funes
foram impactadas positivamente e de forma expressiva,
uma vez que IDS variou de -2,4 a 271%.
Em razo da deteriorao do sistema poroso do
solo (macro e microporosidade do solo) e de sua
capacidade de conduzir gua no solo, por meio de sua
condutividade hidrulica, os ecossistemas de pastagem
de 10 e 20 anos foram impactados negativamente no to-
cante a funo de receber, armazenar e suprir gua.
103