avaliação da ansiedade, depressão e autoestima em docentes de
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRO PRETO
FBIO DE SOUZA TERRA
Avaliao da ansiedade, depresso e autoestima em
docentes de Enfermagem de universidades pblica e
privada
RIBEIRO PRETO
2010
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FBIO DE SOUZA TERRA
Avaliao da ansiedade, depresso e autoestima em
docentes de Enfermagem de universidades pblica e
privada
RIBEIRO PRETO
2010
Tese apresentada Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias junto ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem Fundamental. Linha de Pesquisa: Sade do trabalhador Orientadora: Profa. Dra. Maria Lcia do Carmo Cruz Robazzi
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FICHA CATALOGRFICA
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogao da Publicao Servio de Documentao em Enfermagem
Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo
Terra, Fbio de Souza.
Avaliao da ansiedade, depresso e autoestima em docentes de Enfermagem de universidades pblica e privada. Ribeiro Preto, 2010.
258 p. : il. ; 30cm
Tese de Doutorado apresentada Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto/USP. Programa de Ps-graduao em Enfermagem Fundamental Linha de Pesquisa: Sade do Trabalhador
Orientadora: Robazzi, Maria Lcia do Carmo Cruz.
1. Enfermagem. 2. Universidades. 3. Docentes de Enfermagem. 4. Ansiedade. 5. Depresso. 6. Autoestima.
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FOLHA DE APROVAO
Fbio de Souza Terra
Avaliao da ansiedade, depresso e autoestima em docentes de Enfermagem de
universidades pblica e privada
Aprovada em:
Comisso Julgadora
Prof(a). Dr(a). ________________________________________________________
Instituio: ________________________ Assinatura: ________________________
Prof(a). Dr(a). ________________________________________________________
Instituio: ________________________ Assinatura: ________________________
Prof(a). Dr(a). ________________________________________________________
Instituio: ________________________ Assinatura: ________________________
Prof(a). Dr(a). ________________________________________________________
Instituio: ________________________ Assinatura: ________________________
Prof(a). Dr(a). ________________________________________________________
Instituio: ________________________ Assinatura: ________________________
Tese apresentada Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias junto ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem Fundamental.
Linha de Pesquisa: Sade do trabalhador
Orientadora: Profa. Dra. Maria Lcia do Carmo Cruz Robazzi
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DEDICATRIA
Aos meus pais, Wanda e Paulo, pela vida, simplicidade e dedicao, pelo amor e ensinamentos,
os quais fizeram de mim o que sou e por darem
maior significado minha existncia.
Aos meus irmos, Gustavo, Ana Paula e Tatiana, por fazerem parte da minha vida e apoiar minhas
decises.
A todos que torceram para a realizao de mais esta etapa de minha vida.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela benevolncia por ter me concedido a graa da concluso deste trabalho e por me dar foras para enfrentar todos os obstculos
encontrados nesta caminhada.
Profa. Dra. Maria Lcia do Carmo Cruz Robazzi, que com competncia, confiana e respeito, me orientou durante essa trajetria,
por compreender minhas dificuldades e contribuir de maneira especial para
o meu crescimento profissional e acima de tudo pela amizade conquistada
ao longo desses anos de convivncia, minha eterna gratido, respeito e
admirao.
s professoras Dra. Maria Helena Palucci Marziale, Dra. Ana Maria Pimenta Carvalho, Dra. Iara Aparecida de Oliveira Secco e Dra. Zlia Marilda Rodrigues Resck, pelas valiosas contribuies durante a participao no Exame de Qualificao e na Defesa.
s amigas e professoras Dra. Ana Maria Duarte Dias Costa, Rosane Dias Costa, Marina Dias Costa e Adriana Olmpia, por participarem da minha vida efetivamente, pela amizade sincera e serenidade, pelo carinho,
apoio e incentivo constante e por estarem ao meu lado do comeo ao fim
desta jornada, contribuindo para o meu crescimento profissional e pessoal.
Reitoria e Coordenao dos Cursos de Enfermagem da Unifal-MG e UNIFENAS, por permitirem a realizao deste estudo e por propiciarem subsdios necessrios para o seu desenvolvimento.
Aos docentes dos Cursos de Enfermagem, pela cumpricidade de todos no processo de ensino e aprendizagem e pela aceitao em participar desta
pesquisa, compartilhando comigo um pouco de suas experincias.
Universidade Jos do Rosrio Vellano, por ter proporcionado condies
para a realizao do doutorado e por conceder-me o afastamento das
atividades docentes durante este perodo.
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Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), pelo auxlio financeiro.
Aos docentes do Curso de Ps-graduao da EERP/USP, pelo conhecimento compartilhado e por me oferecer esta oportunidade preciosa
de me tornar um Doutor.
Aos amigos Daniela Lima, Thatiane, Deyv, Valria, Thaisy, Nathlia, Angelita, Lucas e Mirelle, pela convivncia, amizade e companheirismo durante esta etapa e por me mostrar o quanto importante ter amigos.
s professoras Dra. Eliana Peres, Dra. Zlia Resck, Dra. rika Chaves, Dra. Sueli Leiko, Silvana Leite, Sueli Carvalho e Maria Betnia Tinti, docentes do Departamento de Enfermagem da Unifal-MG, pelo profissionalismo, incentivo, apoio e pela amizade.
Aos amigos Fabiana, Liliana, Rita, Luiz, Cristiane e Vnia, pela amizade construda nesses anos de convvio, pelo conhecimento compartilhado e por
tornarem este perodo inesquecvel.
Aos professores do Curso de Enfermagem da UNIFENAS, colegas de trabalho, pelo incentivo, apoio e pela convivncia durante todos esses anos,
os quais contriburam para o meu crescimento profissional.
Ao Prof. Vincius Vieira Vignoli, pela ajuda com as tradues dos textos e realizao da verso na lgua inglesa e espanhola e Profa. Aparecida Donizetti Paes pela disponibilidade e reviso da linguagem.
s professoras Dra. Cludia Benedita dos Santos e Dra. Mery Natali Abreu, pelas sbias e produtivas orientaes estatsticas.
Aos funcionrios da EERP/USP, pela ateno sempre dispensada.
E a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contriburam para a realizao desta pesquisa.
A todos vocs, minha eterna gratido!
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De tudo ficaram trs coisas: a certeza de que estava sempre comeando,
a certeza de que era preciso continuar, e a certeza de que
seria interrompido antes de terminar. Portanto, devemos:
fazer da interrupo um caminho novo,
fazer da queda um passo de dana,
do medo, uma escada,
do sonho, uma ponte,
da procura, um encontro
Encontro Marcado Fernando Sabino
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RESUMO
TERRA, F. S. Avaliao da ansiedade, depresso e autoestima em docentes de Enfermagem de universidades pblica e privada. 2010. 258 f. Tese (Doutorado) Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2010. O estudo teve como objetivo avaliar a presena de ansiedade, depresso e autoestima em docentes de Enfermagem de universidades pblica e privada de um municpio do Sul do Estado de Minas Gerais e comparar as medidas apresentadas pelos dois grupos. Trata-se de um estudo descritivo, correlacional, de corte transversal e abordagem quantitativa, desenvolvida com 71 docentes de duas universidades (39 da pblica e 32 da privada) localizadas no municpio de Alfenas-MG. A coleta de dados ocorreu no final do primeiro semestre letivo do ano de 2010, aps aprovao do Comit de tica em Pesquisa. Para essa etapa, utilizaram-se quatro instrumentos: questionrio semiestruturado com variveis sociodemogrficas, da atividade laboral e hbitos de vida; Inventrio de Ansiedade de Beck; Inventrio de Depresso de Beck; e Escala de Autoestima de Rosenberg. Aps a coleta, os dados foram tabulados em programa estatstico, para anlise estatstica descritiva e inferencial, assim como a avaliao da consistncia interna das escalas. Como resultado, constatou-se que houve predomnio de docentes do sexo feminino, com faixa etria de 31 a 40 anos, catlicos, casados, renda familiar mensal de 4001 a 6000 reais, com casa prpria e formao universitria em Enfermagem, mestres, com tempo de trabalho em docncia de 6 a 10 anos e, na atual instituio, de 1 a 5 anos. Alguns professores praticam semanalmente exerccios fsicos, e outros so sedentrios. Poucos docentes so tabagistas e a maioria no consome bebida alcolica, no apresenta doena crnica e no faz uso de medicamentos dirios. A ocorrncia de evento marcante na vida e na carreira de docncia foi frequente nos sujeitos avaliados. Constatou-se que a maioria apresentou ansiedade mnima, ausncia de depresso e autoestima alta; porm alguns foram classificados como tendo ansiedade leve, moderada ou grave, depresso leve ou grave e autoestima mdia ou baixa. Os professores de enfermagem da universidade privada apresentaram maiores medianas de escores de ansiedade e de depresso e menores medianas de escores de autoestima. Na depresso, a varivel uso de medicamentos dirios e, na autoestima, as variveis ocorrncia de evento marcante na vida e na carreira de docncia tiveram associao estatisticamente significante com essas medidas. As trs escalas apresentaram valores altos de coeficiente alfa de Cronbach, considerando-se, ento, sua consistncia interna muito boa e aceitvel para os itens avaliados. Faz-se necessrio que as instituies de ensino viabilizem prticas que favoream a sade de seus trabalhadores, visto que iniciativas dessa natureza so economicamente mais interessantes do que a remediao dos efeitos de eventuais transtornos mentais que possam afligi-los. Ao agirem dessa forma, as instituies iro se mostrar socialmente comprometidas com a integridade fsica e mental de seus docentes. Palavras-chave: Enfermagem. Universidades. Docentes de Enfermagem. Ansiedade. Depresso. Autoestima.
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ABSTRACT
TERRA, F. S. Evaluation of anxiety, depression and self-esteem in nursing faculty of public and private universities. 2010. 258 p. Dissertation (Doctoral). University of So Paulo at Ribeiro Preto College of Nursing, Ribeiro Preto, 2010. This descriptive, correlational, cross-sectional and quantitative study evaluated the presence of anxiety, depression and self-esteem in 71 nursing faculty of a public and a private university in the city of Alfenas, state of Minas Gerais, Brazil and to compare the measures presented by the two groups (39 faculty members from the public university and 32 from the private university). Data collection was carried out at the end of the first semester of 2010, after approval by the Research Ethics Committee. Four instruments were used in the study, a semi-structured questionnaire with sociodemographic, labor activity and life habits variables; the Beck Anxiety Inventory; Beck Depression Inventory; and Rosenberg Self-esteem Scale. Data were analyzed in a statistical program, with descriptive and inferential analysis, as well as the assessment of the internal consistency of the scales. The results showed predominance of female professors, aged 31-40, catholic, married, monthly income of 4.001-6.000 reais, home owners, nursing graduates, with masters degree, 6-10 years of professional teaching, and 1-5 years in the present job. Some of the professors perform physical exercises weekly; others are sedentary. Only few are tobacco smokers, and most abstain from alcohol, do no present chronic disease and do not take daily medication. The occurrence of marking events in life and teaching career was frequent. Most of the subjects presented minimal anxiety, absence of depression, and high self-esteem; but some were classified as having light, mild or severe anxiety; light or severe depression; and medium or low self-esteem. The nursing professors of the private university presented higher medians of anxiety and depression scores, and lower medians of self-esteem scores. In depression, the variable use of daily medication, and, in self-esteem, the variables occurrence of marking events in life and teaching career had a statistically significant association with such measurements. The three scales exhibited high values of the Cronbachs alpha coefficient and their internal consistency was considered very good and acceptable for the items evaluated. Schools need to provide practices that enhance their workers health, once initiatives as such are economically more interesting than the remediation of the workers eventual mental disorders. In so doing, schools will show themselves socially committed to the physical and mental integrity of their faculty. Keywords: Nursing. University. Nursing professors. Anxiety. Depression. Self-esteem.
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RESUMEN
TERRA, F. S. Evaluacin de la ansiedad, depresin y autoestima en profesores de enfermera de universidades pblica y privada. 2010. 258 p. Tesis (Doctorado). Escuela de Enfermera de Ribeiro Preto, Universidad de So Paulo, Ribeiro Preto, 2010. Este estudio descriptivo, correlacional, transversal y cuantitativo evalu la presencia de ansiedad, depresin y autoestima en 71 profesores de enfermera, 39 de una universidad pblica y 32 de universidad privada, y compar las medidas presentadas por los dos grupos. La investigacin fue desarrollada en la ciudad de Alfenas, estado de Minas Gerais, Brasil. Los datos fueran recolectados en el final del primer semestre del 2010, despus de aprobacin por el Comit de tica em Pesquisa. Cuatro instrumentos fueron utilizados en la investigacin: cuestionario semi-estructurado con variables sociodemogrficas, de actividades laborales y hbitos de vida; el Inventario de Ansiedad de Beck; el Inventario de Depresin de Beck y la Escala de Autoestima de Rosenberg. Fue realizado anlisis descriptivo y deductivo de los datos en un programa estadstico, y realizada evaluacin de la consistencia interna de las escalas. Los resultados demostraron el predominio de profesores del sexo femenino, 31-40 aos de edad, catlicos, casados, con renta mensual de 4.001-6.000 reais, casa propia, graduados en enfermera, con maestra, 6-10 aos de enseanza profesional, y 1-5 aos en el actual trabajo. Algunos de los profesores realizan ejercicios fsicos semanalmente; otros son sedentarios. Solamente pocos son fumadores de tabaco, y la mayora se abstiene del alcohol, no tienen ninguna enfermedad crnica y no toma medicacin diaria. La ocurrencia de acontecimientos sobresalientes en la vida o en la carrera de enseanza fue frecuente. La mayor parte de los sujetos presentaron ansiedad mnima, ausencia de depresin, y elevada autoestima; pero algunos fueron clasificados como teniendo ansiedad leve, moderada o severa; depresin ligera o severa; y autoestima media o baja. Los profesores de enfermera de la universidad privada presentaron medianas ms altas en las puntuaciones de ansiedad y de depresin, y medianas ms bajas en las puntuaciones de la autoestima. En la depresin, la variable uso de medicacin diaria, y, en la autoestima, las variables ocurrencia de los acontecimientos sobresalientes en la vida y carrera de enseanza tuvieran una asociacin estadstica significativa con estas medidas. Las tres escalas mostraron elevados valores del coeficiente alfa de Cronbach, y su consistencia interna fue considerada muy buena y aceptable para los puntos evaluados. Las escuelas necesitan proporcionar prcticas que favorezcan la salud de sus trabajadores, una vez que estas iniciativas son econmicamente ms interesantes que el intento de remediar los efectos de los trastornos mentales eventuales de los trabajadores. Actuando de esta manera las escuelas demostrarn que estn socialmente comprometidas con la integridad fsica y mental de sus profesores.
Palabras Clave: Enfermera. Universidad. Docentes de enfermera. Ansiedad. Depressin. Autoestima.
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LISTA DE ILUSTRAES
Quadro 1 - Aspectos mensurados pelas escalas de avaliao de ansiedade.. 68 Quadro 2 - Teorias da Autoestima.................................................................... 77 Figura 1 - Anlise multivariada por meio do mtodo rvore de deciso
(algoritmo CART) buscando fatores associados ansiedade. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
134
Figura 2 - Anlise multivariada por meio do mtodo rvore de deciso
(algoritmo CART) buscando fatores associados depresso. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
143
Figura 3 - Anlise multivariada por meio do mtodo rvore de deciso
(algoritmo CART) buscando fatores associados autoestima. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuio dos docentes de Enfermagem segundo as variveis sexo, faixa etria, crena religiosa, estado civil, renda familiar mensal, nmero de filhos e tipo de moradia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010.........................................
99
Tabela 2 Estatstica descritiva segundo as variveis idade e renda familiar
(contnuas). Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
101
Tabela 3 Distribuio dos docentes de Enfermagem conforme as variveis
formao universitria, titulao e se possui mais de um curso de graduao. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
102
Tabela 4 Distribuio dos docentes de Enfermagem de acordo com as
variveis tempo de formado (graduao), tempo de trabalho na docncia e tempo de trabalho na atual Instituio de Ensino Superior. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
103
Tabela 5 Estatstica descritiva das variveis tempo de formado
(graduao), tempo de trabalho na docncia e tempo de trabalho na atual Instituio de Ensino Superior. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010.........................................................
104
Tabela 6 Distribuio dos docentes de Enfermagem segundo o tipo de
contrato na IES, a carga horria semanal de trabalho na instituio (regime de trabalho) e plano de carreira na IES que trabalha. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...
105
Tabela 7 Distribuio dos docentes de Enfermagem conforme a existncia
de outro tipo de emprego (trabalho fixo) alm da atividade de docncia, atividade desenvolvida e carga horria semanal. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
106
Tabela 8 Distribuio dos docentes de Enfermagem segundo a prtica de
exerccios fsicos. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010........................................................................................
107
Tabela 9 Distribuio dos docentes de Enfermagem de acordo com o
tabagismo e a quantidade de cigarros consumidos por dia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
108
Tabela 10 Distribuio dos docentes de Enfermagem conforme o consumo
de bebida alcolica e a frequncia desse consumo. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
109
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Tabela 11 Distribuio dos docentes de Enfermagem segundo a presena e a quantidade de doenas crnicas. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010.........................................................
110
Tabela 12 Distribuio dos docentes de Enfermagem conforme o uso de medicamentos dirios, quantidade e grupo farmacolgico. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
111
Tabela 13 Distribuio dos docentes de Enfermagem de acordo com a
ocorrncia e quantidade de eventos marcantes na vida. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
112
Tabela 14 Distribuio dos docentes de Enfermagem conforme a ocorrncia e quantidade de eventos marcantes na carreira de docncia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
113
Tabela 15 Distribuio dos docentes de Enfermagem de acordo com as
respostas referentes frequncia de sintomas de ansiedade. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
114
Tabela 16 Distribuio dos docentes de Enfermagem conforme a classificao da ansiedade baseada nos pontos de corte. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
116
Tabela 17 Distribuio dos docentes de Enfermagem segundo os grupos
de afirmaes referentes depresso. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010.........................................................
118
Tabela 18 Distribuio dos docentes de Enfermagem de acordo com a
classificao da depresso baseada nos pontos de corte. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
121
Tabela 19 Distribuio dos docentes de Enfermagem segundo as respostas das afirmativas referentes autoestima. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010.........................................................
122
Tabela 20 Distribuio dos docentes de Enfermagem conforme a
classificao da autoestima baseada nos pontos de corte. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010..................
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Tabela 21 Avaliao da consistncia interna por meio da aplicao do Coeficiente Alfa de Cronbach em cada instrumento (ansiedade, depresso e autoestima). Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...........................................................................
124
Tabela 22 Comparao entre as medidas (escores contnuos) de
ansiedade, depresso e autoestima dos docentes de enfermagem da universidade A com as medidas apresentadas pelos docentes de enfermagem da universidade B, Alfenas-MG, 2010................................................................................................
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Tabela 23 Anlise univariada dos fatores associados ansiedade segundo as variveis tipo de universidade, sexo, faixa etria, crena religiosa, estado civil, renda familiar mensal, nmero de filhos e tipo de moradia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
127
Tabela 24 Anlise univariada dos fatores associados ansiedade segundo
as variveis formao universitria, titulao e se possui mais de um curso de graduao. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...........................................................................
128
Tabela 25 Anlise univariada dos fatores associados ansiedade segundo as variveis tempo de formado (graduao), tempo de trabalho na docncia e tempo de trabalho na atual Instituio de Ensino Superior. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
129
Tabela 26 Anlise univariada dos fatores associados ansiedade segundo as variveis tipo de contrato de trabalho na IES, carga horria semanal de trabalho na instituio (regime de trabalho), plano de carreira na IES que trabalha e outro trabalho fixo alm da atividade de docncia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...........................................................................
130
Tabela 27 Anlise univariada dos fatores associados ansiedade segundo as variveis prtica de exerccios fsicos, tabagismo, consumo de bebida alcolica, presena de doena crnica e uso de medicamentos dirios. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...........................................................................
131
Tabela 28 Anlise univariada dos fatores associados ansiedade segundo
a ocorrncia de evento marcante na vida ou na carreira de docncia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
132
Tabela 29 Anlise univariada dos fatores associados depresso segundo
as variveis tipo de universidade, sexo, faixa etria, crena religiosa, estado civil, renda familiar mensal, nmero de filhos e tipo de moradia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
136
Tabela 30 Anlise univariada dos fatores associados depresso segundo
as variveis formao universitria, titulao e se possui mais de um curso de graduao. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...........................................................................
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Tabela 31 Anlise univariada dos fatores associados depresso segundo as variveis tempo de formado (graduao), tempo de trabalho na docncia e tempo de trabalho na atual Instituio de Ensino Superior. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
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Tabela 32 Anlise univariada dos fatores associados depresso segundo as variveis tipo de contrato na IES, carga horria semanal de trabalho na instituio (regime de trabalho) e plano de carreira na IES que trabalha e outro trabalho fixo alm da atividade de docncia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
139
Tabela 33 Anlise univariada dos fatores associados depresso segundo
as variveis prtica de exerccios fsicos, tabagismo, consumo de bebida alcolica, presena de doena crnica e uso de medicamentos dirios. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...........................................................................
141
Tabela 34 Anlise univariada dos fatores associados depresso segundo
a ocorrncia de evento marcante na vida ou na carreira de docncia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
142
Tabela 35 Anlise univariada dos fatores associados autoestima segundo
as variveis tipo de universidade, sexo, faixa etria, crena religiosa, estado civil, renda familiar mensal, nmero de filhos e tipo de moradia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
145
Tabela 36 Anlise univariada dos fatores associados autoestima segundo
as variveis formao universitria, titulao e se possui mais de um curso de graduao. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...........................................................................
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Tabela 37 Anlise univariada dos fatores associados autoestima segundo
as variveis tempo de formado (graduao), tempo de trabalho na docncia e tempo de trabalho na atual Instituio de Ensino Superior. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
147
Tabela 38 Anlise univariada dos fatores associados autoestima segundo
as variveis tipo de contrato na IES, carga horria semanal de trabalho na instituio (regime de trabalho), plano de carreira na IES que trabalha e outro trabalho fixo alm da atividade de docncia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
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Tabela 39 Anlise univariada dos fatores associados autoestima segundo
as variveis prtica de exerccios fsicos, tabagismo, consumo de bebida alcolica, presena de doena crnica e uso de medicamentos dirios. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010...........................................................................
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Tabela 40 Anlise univariada dos fatores associados autoestima segundo a ocorrncia de evento marcante na vida ou na carreira de docncia. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010................................................................................................
150
Tabela 41 Anlise multivariada dos fatores associados autoestima
segundo modelo de regresso logstica binria. Universidades pblica e privada de Alfenas-MG, 2010.........................................
151
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
BAI Inventrio de Ansiedade de Beck / Beck Anxiety Inventory
BDI-I Inventrio de Depresso de Beck / Beck Depression Inventory
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CAPS Centro de Ateno Psicossocial
CART Classification and Regression Tree / rvore de Classificao e Regresso
CEP Comit de tica em Pesquisa
CID Classificao Internacional de Doenas
CLT Consolidao das Leis do Trabalho
DORT Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
DPM Distrbios Psquicos Menores
EERP Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto
GRS Gerncia Regional de Sade
IES Instituio de Ensino Superior
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
LDB Lei de Diretrizes e Bases
NR Norma Regulamentadora
OIT Organizao Internacional do Trabalho
OMS Organizao Mundial da Sade
OPAS Organizao Panamericana da Sade
PET Programa de Educao Tutorial
PNSST Poltica Nacional de Segurana e Sade do Trabalhador
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RENAST Rede Nacional de Ateno Integral Sade do Trabalhador
RO Riscos Ocupacionais
SEESMT Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho
SPSS Software Statistical Package for Social Science
SUS Sistema nico de Sade
TCC Trabalho de Concluso de Curso
USF Unidade de Sade da Famlia
USP Universidade de So Paulo
UNIFAL-MG Universidade Federal de Alfenas Minas Gerais
UNIFENAS Universidade Jos do Rosrio Vellano
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SUMRIO
1 INTRODUO........................................................................................ 20
2 JUSTIFICATIVA...................................................................................... 28
3 HIPTESES............................................................................................ 30
4 OBJETIVOS............................................................................................ 32
4.1 Objetivo geral.......................................................................................... 33
4.2 Objetivos especficos............................................................................... 33
5 MARCO TERICO DE REFERNCIA................................................... 34
5.1 O trabalho e a sade do trabalhador....................................................... 35
5.2 A universidade e a docncia................................................................... 42
5.3 Riscos ocupacionais................................................................................ 53
5.3.1 Riscos psicossociais................................................................................ 60
5.4 Ansiedade................................................................................................ 63
5.5 Depresso............................................................................................... 69
5.6 Autoestima............................................................................................... 74
6 METODOLOGIA..................................................................................... 80
6.1 Tipo de estudo......................................................................................... 81
6.2 Local de estudo....................................................................................... 81
6.3 Populao de estudo............................................................................... 83
6.4 Perodo de investigao.......................................................................... 83
6.5 Aspectos ticos....................................................................................... 84
6.6 Instrumentos para coleta de dados......................................................... 84
6.6.1 Questionrio para caracterizao da amostra, dados sobre a atividade laboral e hbitos de vida.........................................................................
85
6.6.2 Inventrio de Ansiedade de Beck / Beck Anxiety Inventory (BAI)........... 86
6.6.3 Inventrio de Depresso de Beck / Beck Depression Inventory (BDI-I)..
88
6.6.4 Escala de Autoestima de Rosenberg...................................................... 91
6.7 Procedimentos de coleta......................................................................... 93
6.8 Anlise dos dados................................................................................... 94
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7 RESULTADOS........................................................................................ 98
7.1 Anlises descritivas com comparao entre as universidades A e B.....
99
7.2 Avaliao da consistncia interna das escalas e comparao dos escores contnuos das medidas de ansiedade, depresso e autoestima entre as universidades..........................................................
124
7.3 Anlise dos fatores associados ansiedade.......................................... 126
7.3.1 Anlise univariada................................................................................... 126
7.3.2 Anlise multivariada................................................................................ 133
7.4 Anlise dos fatores associados depresso.......................................... 135
7.4.1 Anlise univariada................................................................................... 135
7.4.2 Anlise multivariada................................................................................ 142
7.5 Anlise dos fatores associados autoestima......................................... 144
7.5.1 Anlise univariada................................................................................... 144
7.5.2 Anlise multivariada................................................................................ 151
8 DISCUSSO........................................................................................... 153
9 CONCLUSES....................................................................................... 200
10 CONSIDERAES FINAIS.................................................................... 203
REFERNCIAS................................................................................................... 208
APNDICES........................................................................................................ 242
APNDICE A - Carta de Autorizao da Instituio A........................................ 243
APNDICE B - Carta de Autorizao da Instituio B........................................ 244
APNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................... 245
APNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - Para o juiz (Validao de Aparncia).....................................................................................
246
APNDICE E - Questionrio................................................................................ 247
APNDICE F - Formulrio de avaliao dos juzes (Validao de Aparncia)... 250
ANEXOS.............................................................................................................. 252
ANEXO A - Aprovao do Comit de tica em Pesquisa................................... 253
ANEXO B - Inventrio de Ansiedade de Beck..................................................... 254
ANEXO C - Inventrio de Depresso de Beck.................................................... 255
ANEXO D - Escala de Autoestima de Rosenberg............................................... 258
-
1
1 INTRODUO
-
Introduo 21
A motivao para o desenvolvimento de atividades de pesquisa veio se
desenvolvendo desde a insero do autor, no ano de 2001, no curso de Graduao
em Enfermagem na Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).
Ao final do primeiro ano na academia, buscou pela iniciao cientfica, tendo
sido aprovado em primeiro lugar no Processo Seletivo para Bolsistas do Programa
de Educao Tutorial (PET), permanecendo no Programa por trs anos at a
concluso do curso de Enfermagem. Nessa etapa foi possvel desenvolver
pesquisas, participar de eventos cientficos, com apresentao dos resultados dos
estudos, ministrar seminrios ao corpo discente da Universidade, assim como
compartilhar experincias e vivncias com os demais bolsistas e docentes da
Universidade e de outras Instituies de Ensino Superior (IES).
O envolvimento com o grupo PET conferiu ao autor grande estmulo no
direcionamento da vida acadmica e despertou-lhe interesse no caminho da
docncia.
Com o incio dos Estgios Curriculares e a insero do aluno nos campos de
atuao profissional, principalmente na rea hospitalar, foi possvel a percepo da
riqueza e da necessidade de investigaes (pesquisas) no que se refere aos
recursos humanos e correlao da sade nas atividades trabalhistas. Dessa forma,
mobilizou-se a realizar o Trabalho de Concluso de Curso (TCC) na temtica da
Sade do Trabalhador, desenvolvendo uma pesquisa intitulada A jornada de
trabalho noturna: implicaes na sade do trabalhador de Enfermagem. Durante o
desenvolvimento dessa investigao foi possvel realizar a sua apresentao em
eventos nacionais e internacionais e em publicaes em Revistas Cientficas.
Em 2005, ingressou na Unifal-MG, aps Processo Seletivo para Professor
Substituto, para exercer atividades de ensino, pesquisa e extenso, onde
permaneceu por um ano e meio. Durante esse perodo pode aprimorar seus
conhecimentos e conhecer estratgias pedaggicas para o processo de ensino-
apredizagem que articulam na execuo dessas atividades. Na rea da Sade do
Trabalhador, coorientou um TCC intitulado Os fatores estressores na funo
gerencial do enfermeiro, o qual tambm foi apresentado em eventos nacionais e
internacionais.
Por estar trabalhando em Alfenas-MG, foi possvel dar continuidade ao
exerccio da docncia e iniciar a Ps-graduao com a insero no Mestrado
Multidisciplinar na Universidade Jos do Rosrio Vellano (UNIFENAS), IES privada
-
Introduo 22
situada neste municpio, conciliando, assim, o trabalho com a possibilidade de gerar
recursos para financiar este estudo.
O tema da dissertao versou sobre a qualidade de vida e a adeso ao
tratamento farmacolgico de uso dirio de pacientes renais crnicos submetidos
hemodilise (TERRA, 2007).
Por conseguinte, apesar de o Mestrado ser em outra temtica, sentiu-se
estimulado, pelas referncias encontradas durante o desenvolvimento da pesquisa,
a dar continuidade e ampliar seus conhecimentos na rea da Sade do Trabalhador.
Assim, motivado pelo excelente conceito do Programa de Ps-graduao em
Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da
Universidade de So Paulo (EERP/USP), buscou pela insero no Curso de
Doutorado para construir seu caminho como pesquisador no desenvolvimento de
investigaes cientficas nessa temtica.
Com isso, ser possvel dar continuidade s atividades de ensino, de
pesquisa e de extenso nas IES do municpio de origem e criar grupos de pesquisas
que trabalhem esse assunto, uma vez que nas Universidades desse municpio no
existem Cursos Stricto Sensu, nem grupos de pesquisas que abordem o tema Sade
do Trabalhador. Ressalta-se tambm que, com a insero nesses grupos, ser
possvel a ampliao de investigaes com trabalhadores de Alfenas e microrregies
e a realizao de projetos colaborativos com outras Universidades que possuam a
mesma linha de pesquisa.
A opo pela temtica tambm relacionada sua trajetria profissional na
rea da docncia, na qual atua desde a sua formao acadmica. Durante seis
anos, a convivncia estreita com os docentes das IES fez com que presenciasse
situaes envolvendo o adoecimento mental desses trabalhadores. Da surgiram as
inquietaes do autor sobre o trabalho desenvolvido por eles, associando as
condies em que este realizado e os riscos psicossociais aos quais os docentes
esto expostos, ou seja, as alteraes psquicas, como a presena de ansiedade,
depresso e autoestima baixa, decorrentes da atividade laboral exercida por esses
profissionais na universidade.
Assim, o estudo idealizado tem como pretenso, em seu desenvolvimento, a
aderncia linha de pensamento em que se vinculam as questes em torno do
trabalho, como parte da promoo da sade do trabalhador (MENDES; DIAS, 1991).
-
Introduo 23
O estudo do processo sade-doena do trabalhador, em termos conceituais,
tem evoludo da Medicina do Trabalho, em que o enfoque principal da determinao
do processo sade-doena o individual, biologicista, para a Sade Ocupacional,
cuja abordagem mais ambiental e que, por sua vez, difere da Sade do
Trabalhador, cujo entendimento a determinao social desse processo (LAURELL,
1983; MENDES; OLIVEIRA, 1995).
Enquanto a Medicina do Trabalho est voltada primordialmente para o
tratamento da doena e para a recuperao da sade, a Sade Ocupacional aborda
mais os aspectos relacionados aos agentes ambientais e sem excluir aqueles
referentes ao tratamento, prioriza a preveno da doena, ou seja, acredita que
controlando os agentes ambientais reduz a sua ao sobre o trabalhador (MENDES;
DIAS, 1991; SILVA, 1996a).
Por sua vez, a Sade do Trabalhador procura compreender o homem no na
condio de objeto, mas de sujeito na ateno sua sade, privilegiando as aes
de promoo da sade sem, entretanto, negar a necessidade de prevenir novas
doenas e de tratar os que esto doentes; entende que h uma hierarquia entre as
mltiplas causas das doenas, umas determinando as outras. Assim, a Sade do
Trabalhador prope aes direcionadas proteo, recuperao e promoo da
sade de forma integrada, diferentemente das abordagens anteriores (MENDES;
OLIVEIRA, 1995).
No Brasil, a emergncia da Sade do Trabalhador pode ser identificada no
incio dos anos 80, no contexto da transio democrtica, em sintonia com o que
ocorre no mundo ocidental. O objeto da Sade do Trabalhador pode ser definido
como o processo sade e doena dos grupos humanos, em sua relao com o
trabalho. Representa um esforo de compreenso desse processo (como e por que
ocorre) e do desenvolvimento de alternativas de interveno que levem
transformao em direo apropriao pelos trabalhadores, da dimenso humana
do trabalho, numa perspectiva teleolgica (MENDES; DIAS, 1991).
A denominao Sade do Trabalhador aparece tambm incorporada na nova
Lei Orgnica de Sade (Lei n 8.080 de 19 de setembro de 1990) que estabelece
sua conceituao e define as competncias do Sistema nico de Sade nesse
campo (BRASIL, 1990).
A Vigilncia em Sade do Trabalhador apoia-se no modelo epidemiolgico de
pesquisa dos agravos, nos diversos nveis da relao entre o trabalho e a sade. Ela
-
Introduo 24
compreende uma situao contnua e sistemtica, ao longo do tempo, no sentindo
de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e
condicionantes dos agravos sade, relacionados aos processos e ambientes de
trabalho, em seus aspectos tecnolgico, social, organizacional e epidemiolgico,
com a finalidade de planejar, executar e avaliar intervenes sobre esses aspectos,
de forma a elimin-los ou control-los (BRASIL, 1998).
O mundo do trabalho , ento, complexo, multifacetado, composto de uma
variedade de fatores de risco que podem ou no influenciar a sade dos
trabalhadores.
Do ponto de vista etimolgico, a palavra trabalho origina-se do latim tripaliare,
que significa torturar. O termo derivado de tripalium (instrumento de tortura
composto por trs pontas). Da ideia inicial de sofrer, passou-se para a de esforar-
se, lutar, pugnar e, por fim, trabalhar (CUNHA, 1986). Ele a dimenso ontolgica
do ser social, uma vez que por meio dele que o homem realiza sua inteno na
natureza. Essa inteno identificada no processo ao mesmo tempo em que a
realidade transformada (POLATO, 2004).
Atualmente, exige-se cada vez mais do trabalhador, forando-o adoo de
posturas que confiram um desempenho mximo com o mnimo de tempo, refletindo
em menos dedicao sua vida e aos cuidados com a sade (FARIAS, 2004).
Dessa forma, o desgaste do trabalhador expressa-se nas transformaes
negativas originadas nos processos biopsquicos humanos, ou seja, a perda da
capacidade efetiva e/ou potencial, biolgica e psquica (LAURELL, 1983, p. 136).
importante a abordagem da capacidade efetiva e/ou potencial uma vez que os
processos biopsquicos, pelo seu carter histrico, no so estticos e, sim,
dinmicos, tornando sem sentido a tentativa de visualizar uma condio ideal tima
e conceituar o desgaste como um desvio dessa condio. O desgaste, portanto,
pode ser a destruio abrupta ou lenta de rgos, assim como a impossibilidade do
trabalhador em desenvolver sua potencialidade biolgica ou psquica (LAURELL,
1983; LAURELL; NORIEGA, 1989).
Para Wisner (1994), o trabalho tem trs aspectos: o fsico, o cognitivo e o
psquico e cada um destes pode gerar uma sobrecarga. A dimenso psquica pode
ser definida pelos nveis de conflito (sejam conscientes ou inconscientes)
envolvendo a relao entre a pessoa (Ego) e a organizao laboral. Essa dimenso,
ora est oculta, ora est presente e ela leva o indivduo a um certo grau de
-
Introduo 25
sofrimento mental. Os sinais de sofrimento psquico esto presentes na expresso
verbal, no comportamento e podem levar a enfermidade psicossomtica.
Diante desse fato, o trabalho, como construtor de identidade e incluso social,
atua sobre o sujeito, interferindo na sua vida como um todo, inclusive na relao
sade-doena. Dessa forma, torna-se perigoso para o aparelho psquico do
trabalhador quando se ope sua livre atividade. O bem-estar, em matria de carga
psquica, no advm s da ausncia de funcionamento, mas, pelo contrrio, de um
livre funcionamento, articulado dialeticamente com o contedo da tarefa, expresso,
por sua vez, na prpria tarefa e revigorado por ela (LIEDKE, 2002; DEJOURS;
ABDOUCHELY; JAYET, 2007; ASSIS; MACEDO, 2008).
Ambientes de trabalho de elevado desgaste ao trabalhador so aqueles
considerados com altas demandas psicolgicas. Nesses locais, so esperadas,
acima da mdia, manifestaes de desgaste mental, que incluem a fadiga, a
ansiedade, a depresso, alm de manifestaes de desgaste fsico. Seriam
expresses da autonomia limitada ou restringida, frente aos estressores do trabalho
(MENDES, 2003).
Salienta-se que se um trabalho permite a diminuio da carga psquica, ele
equilibrante e, se ope a essa diminuio, fatigante. Quando a via de descarga
mental est fechada, a energia psquica acumula-se, tornando-se fonte de tenso e
desprazer, uma vez que essa carga cresce at que aparea a fadiga, a astenia, a
ansiedade, a depresso, relacionada autoestima baixa e, a partir da, surge a
patologia (DEJOURS; ABDOUCHELY; JAYET, 2007).
Nos ltimos anos, constatou-se um interesse crescente por questes
relacionadas aos vnculos entre trabalho e sade/doena mental. Tal interesse
consequncia, em parte, do nmero crescente de transtornos mentais e do
comportamento associados ao trabalho que se verifica nas estatsticas oficiais e no
oficiais. Segundo estimativas da Organizao Mundial da Sade (OMS), os
chamados transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores
ocupados e, os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%. No Brasil, segundo
estatsticas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), referentes apenas aos
trabalhadores com registro formal, os transtornos mentais ocupam a 3 posio entre
as causas de concesso de benefcio previdencirio como auxlio doena,
afastamento do trabalho por mais de 15 dias e aposentadorias por invalidez
(BRASIL, 2005b).
-
Introduo 26
No contexto da docncia e da universidade, o trabalho docente tido como
uma atividade, em que este profissional possui autonomia para gerenciar a sua
forma de organizao. Entretanto, os procedimentos adotados para efetiv-la
desconsideram as questes da subjetividade destes trabalhadores, individual e/ou
coletivamente, podendo assim desencadear-lhes sofrimento mental no trabalho
(SELLIGMANN-SILVA, 1994).
Dessa forma, as vrias situaes presentes nesse ambiente laboral, citadas
frequentemente pelos docentes, como o trabalho repetitivo, o ambiente estressante,
o ritmo acelerado, a fiscalizao contnua e a presso da direo/chefia, podem
tornar-se nocivas aos trabalhadores, dependendo da sua intensidade e, tambm, do
tempo de contato dos indivduos com as mesmas (LOPES; SPINDOLA; MARTINS,
1996; DELCOR et al., 2004; REIS et al., 2005).
Portanto, nesses locais de trabalho, ou seja, na academia, h uma
multiplicidade de fatores/agentes de riscos psicossociais que podem favorecer a
ocorrncia de acidentes de trabalho e adoecimentos entre os trabalhadores.
(CARAN, 2007).
Esses riscos, que geralmente esto relacionados com a forma como o
trabalho concebido, organizado e gerido, bem como com o seu contexto
econmico e social, podem ser agrupados em cinco fatores: 1) as novas formas de
contratos de trabalho e a insegurana no emprego, uma vez que trabalhar em
mercados de trabalho instveis pode suscitar sentimentos de insegurana no
emprego; 2) a mo-de-obra em envelhecimento; 3) a intensificao do trabalho, ou
seja, muitos trabalhadores lidam com quantidades de informao cada vez maiores
e tm de fazer face a maiores volumes de trabalho, bem como a uma maior presso
no emprego; 4) as exigncias emocionais elevadas no trabalho; e 5) a difcil
conciliao entre a vida profissional e a vida privada, sendo que, muitas vezes, os
problemas profissionais podem repercutir na vida privada das pessoas (FACTS,
2002a).
Com isso, ressalta-se que a carga psquica do trabalho est articulada
principalmente s exigncias ou presses laborais cotidianas, situao comum entre
os docentes universitrios e resulta da confrontao do desejo do trabalhador
injuno do empregador. Em geral, essa carga pode causar o sofrimento, e
desencadear algumas perturbaes (DEJOURS; ABDOUCHELY; JAYET, 2007).
-
Introduo 27
Dentre essas pertubaes, podem ser citadas: angstia, ansiedade e emoo
(que so afetos psquicos); tradues somticas, como palpitaes, hipertenso
arterial, tremores, sudorese, parestesias, cimbras, desidratao das mucosas,
hiperglicemia, aumento do cortisol sanguneo e poliria. Tais observaes clnicas
mostram claramente que h uma circulao entre os setores psquico e somtico.
Salienta-se tambm que o medo, a ansiedade, a depresso, a baixa autoestima, a
angstia no trabalho, mas tambm a frustrao e a agressividade podem aumentar
as cargas cardiovasculares, musculares e digestivas (DEJOURS; ABDOUCHELY;
JAYET, 2007).
relevante mencionar que, muitas vezes, esses trabalhadores com
alteraes na sade, quer fsicos e/ou mentais, transferem seus problemas para o
trabalho, os quais podem ocasionar atrasos, faltas, descuido com o material e queda
na qualidade do produto executado, tornando-se extremamente preocupantes
(MOURA, 1992; INOUEI et al., 2008).
Em virtude das condies desfavorveis presentes no ambiente laboral, os
trabalhadores acabam por buscar meios de compensar o sofrimento, tornando-se
resistentes e adotando posturas defensivas. Tornam-se indiferentes ao processo
laboral, optando pela fuga ao trabalho, que pode ocorrer por meio de atestados,
licenas mdicas ou simplesmente por faltas injustificadas que afetam os prprios
trabalhadores, bem como as organizaes, comprometendo os resultados finais dos
servios (ALVES, 1996).
Por fim, para que a execuo das atividades no acarrete danos sade dos
trabalhadores, condies adequadas de trabalho so necessrias. Em termos
gerais, essas condies representam o conjunto de fatores capaz de determinar a
conduta do trabalhador. Esses fatores so constitudos pelas exigncias definidoras
do trabalho objetivo, com seus critrios de avaliao e condies de execuo
propriamente ditas, a includas as regras de sua utilizao, a organizao do
trabalho, a remunerao e o ambiente (LEPLAT, 1978; ZAPAROLLI; MARZIALE,
2006).
-
21
2 JUSTIFICATIVA
-
Justificativa 29
As condies de trabalho dos docentes, ou seja, as circunstncias sob as
quais eles mobilizam as suas capacidades fsicas, cognitivas e afetivas para atingir
os objetivos da produo escolar, podem gerar alteraes em suas funes
psicofisiolgicas. Se no h tempo para a recuperao, so desencadeados os
sintomas clnicos de ansiedade e depresso, podendo ocasionar alteraes em sua
autoestima (GASPARINI; BARRETO; ASSUNO, 2005).
No Brasil, poucas so as pesquisas sobre a avaliao da repercusso do
trabalho sobre a sade em categorias de trabalhadores em que os fatores de risco
so menos visveis, como por exemplo, os professores (CARVALHO; ALEXANDRE,
2006). Para Alexander (2001), a escola uma indstria complexa que envolve
diversas atividades que potencializam a ocorrncia de problemas de sade. Vale
ressaltar que, no exerccio profissional da atividade docente, encontram-se
presentes diversos estressores psicossociais, alguns relacionados natureza de
suas funes, outros relacionados ao contexto institucional e social onde estas so
exercidas (universidade pblica versus universidade privada).
Em face dessas consideraes e em virtude do reduzido nmero de estudos
internacionais e, principalmente, nacionais, referentes aos sintomas da ansiedade e
depresso e da autoestima de docentes de Enfermagem e sua relao entre
universidades privada e pblica, optou-se em realizar este estudo com o intuito de
um aprofundamento no assunto, a fim de favorecer a instrumentalizao e propiciar
subsdios para a criao de critrios que possam minimizar os sintomas de
ansiedade e depresso geradas pelo trabalho na docncia em Enfermagem e,
assim, alterarem a autoestima de professores, bem como ajud-los a compreender
os enfrentamentos que tragam um desenvolvimento mais saudvel ao cotidiano do
trabalho na docncia.
-
29
3 HIPTESES
-
Hipteses 31
Este estudo apresenta as seguintes hipteses:
1. As medidas de ansiedade, depresso e autoestima dos docentes de
Enfermagem das universidades pblica e privada so diferentes.
2. Existe associao entre as variveis tipo de universidade; sexo; idade; crena
religiosa; estado civil; renda familiar mensal; nmero de filhos; tipo de moradia;
formao universitria; possui mais de um curso de graduao; titulao; tempo
de formado na graduao, de trabalho na docncia e de trabalho na atual IES;
tipo de contrato de trabalho na IES; carga horria semanal (regime de trabalho);
plano de carreira; outro trabalho fixo alm da atividade de docncia; prtica de
exerccios fsicos; tabagismo; consumo de bebida alcolica; doenas crnicas;
uso de medicamentos dirios e ocorrncia de evento marcante na vida e na
carreira de docncia com as medidas de ansiedade, depresso e autoestima dos
docentes de Enfermagem de universidades privada e pblica.
-
33
4 OBJETIVOS
-
Objetivos 33
Esta pesquisa teve como objetivos:
4.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar a presena de ansiedade, depresso e autoestima em docentes de
Enfermagem de universidades pblica e privada de um municpio do Sul do Estado
de Minas Gerais e comparar as medidas apresentadas pelos dois grupos de
professores.
4.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
1. Mensurar a ansiedade apresentada pelos docentes de Enfermagem de
universidades pblica e privada;
2. Mensurar a depresso apresentada pelos docentes de Enfermagem de
universidades pblica e privada;
3. Mensurar a autoestima apresentada pelos docentes de Enfermagem de
universidades pblica e privada;
4. Comparar as medidas de ansiedade, depresso e autoestima dos docentes de
Enfermagem da universidade pblica com as medidas apresentadas pelos
docentes de Enfermagem da universidade privada;
5. Avaliar a associao entre as variveis tipo de universidade; sexo; idade; crena
religiosa; estado civil; renda familiar mensal; nmero de filhos; tipo de moradia;
formao universitria; possui mais de um curso de graduao; titulao; tempo
de formado na graduao, de trabalho na docncia e de trabalho na atual IES;
tipo de contrato de trabalho na IES; carga horria semanal (regime de trabalho);
plano de carreira; outro trabalho fixo alm da atividade de docncia; prtica de
exerccios fsicos; tabagismo; consumo de bebida alcolica; doenas crnicas;
uso de medicamentos dirios e ocorrncia de evento marcante na vida e na
carreira de docncia com as medidas de ansiedade, depresso e autoestima dos
docentes de Enfermagem de universidades pblica e privada.
-
35
5 MARCO TERICO DE REFERNCIA
-
Marco Terico de Referncia 35
5.1 O TRABALHO E A SADE DO TRABALHADOR
Entende-se como trabalho os processos produtivos organizados ou informais,
urbanos ou rurais e por sade as mudanas no potencial mximo de vida dos
trabalhadores e de seus descendentes, da populao exposta aos contaminantes
oriundos direta ou indiretamente do processo de trabalho. Esse, como um processo
histrico e social, determinado pelos modos de produo da sociedade
(PINHEIRO; RIBEIRO; MACHADO, 2005; ASSIS; MACEDO, 2008).
O trabalho sempre foi importante na vida das pessoas, seja como fator de
crescimento e realizao pessoal ou, em uma viso menos idealizada, como meio
de sobrevivncia. Por suas determinaes histricas e econmicas, ele pode ser
compreendido como organizador da vida social, embora estabelea caminhos para a
dominao cultural, social e econmica e para a submisso do trabalhador ao
capital. Para um conjunto de pessoas, reservado o direito de pensar e planejar;
para outros, cabe apenas a execuo, sendo esses, via de regra, pertencentes
base da pirmide social (ALVES, 1996).
Quando o trabalhador se sente comprometido com o trabalho, ele
enriquecido pela excitao que os desafios provocam, pela satisfao com a
atividade laboral bem realizada, pelo prazer que trazem os relacionamentos com os
outros, e pelo orgulho de colocar seus valores em ao (MASLACH; LEITER, 1999).
Tambm vale mencionar que o labor uma atividade que pode ocupar grande
parcela do tempo de cada indivduo e do seu convvio em sociedade, sendo que
nem sempre possibilita realizao profissional, e pode causar problemas desde
insatisfao at exausto (DEJOURS, 1992).
Nesse contexto, a anlise da relao capital/trabalho revela contradies,
uma vez que o mesmo trabalho que dignifica, confere status e reconhecimento ao
ser humano, pode ser tambm fonte de sofrimento, de desequilbrio fsico e mental,
de dor e de frustrao. Assim, as condies de trabalho tornam-se insalubres, a
ponto de agredir a dignidade dos trabalhadores, caracterizando uma prtica laboral
incompatvel com a qualidade de vida (ALVES; GODOY, 2001; REZENDE, 2003).
Para tanto, os efeitos nocivos sobre o corpo, vinculados ao trabalho, passam, em
primeiro lugar, pelo aparelho psquico, o qual expressa o sofrimento e a insatisfao
(SILVA, 1995).
-
Marco Terico de Referncia 36
As relaes entre trabalho e sade do trabalhador conformam um mosaico
que se caracteriza por diferentes formas de organizao e gesto, de relaes e
formas de contrato de trabalho, que refletem sobre o viver, o adoecer e o morrer do
trabalhador. A partir do processo de reestruturao produtiva na dcada de 90,
pouco se sabia sobre a influncia da adoo das novas tecnologias e mtodos
gerenciais sobre a sade do trabalhador. Estes facilitam a intensificao do trabalho
que, aliada instabilidade no emprego, trazem modificao no perfil de adoecimento
e no sofrimento dos trabalhadores e possibilitam aumento da prevalncia de
doenas relacionadas ao trabalho e ao elevado ndice de absentesmo por doena
(BRASIL, 2001).
notrio enfatizar que o trabalho deveria ser considerado como uma
atividade criativa e prazerosa na vida dos indivduos, o qual poderia favorecer o
desenvolvimento das habilidades fsicas e mentais, alm de melhorar a qualidade de
vida com base em uma remunerao adequada. Espera-se tambm que o horrio de
trabalho seja compatvel com a sade do trabalhador e que proporcione
tranquilidade e alegria para a sua vida e a de sua famlia. Entretanto, a realidade
concretiza-se de forma muito diferente, ou seja, o ambiente das organizaes de
trabalho apresenta, em seu cotidiano, trabalhadores que vendem o nico bem
disponvel, a sua fora de trabalho, em troca de sobrevivncia e, com isso, constitui-
se em um cenrio privilegiado para a observao de conflitos gerados em seu
interior (ALVES, 1996; KRETLY, 2002).
A realidade que pouco se sabe sobre como o trabalhador se sente frente ao
trabalho em si, suas relaes com colegas, chefias, sistemas de salrios e
benefcios. Certamente, a compatibilizao dessas expectativas com as
necessidades organizacionais torna-se um desafio diante de obstculos que se
apresentam como longas jornadas laborais, condies de insalubridade do ambiente
de trabalho; baixa remunerao; duplo emprego e tenso emocional. Esses
obstculos podem desencadear o absentesmo, sendo essa situao preocupante,
uma vez que desorganiza o servio, gera insatisfao e sobrecarga nos
trabalhadores presentes, diminuindo a qualidade da atividade realizada (SILVA;
MARZIALE, 2000).
Estudos recentes sugerem que a relao entre sade e trabalho requer uma
compreenso abrangente do trabalhador e do seu processo sade-doena, bem
como das condies e da organizao laborais. Para isso, h que se buscar
-
Marco Terico de Referncia 37
caminhos metodolgicos que possibilitem evidenciar os sentidos latentes e a
pluralidade de sentidos no trabalho, ou seja, ver o mundo pelos olhos dos prprios
trabalhadores e se colocar no lugar deles a fim de procurar, pelos seus motivos,
compreender as suas razes, possibilidades de ao, critrios de deciso e
compromissos entre objetivos conflitantes (GONALVES; PENTEADO; SILVRIO,
2005; SCHWARZ; CIELO, 2005).
Assim, o conceito do processo sade-doena a resposta produzida nos
diferentes grupos sociais pela exposio aos riscos (fatores desgastantes) e
potencialidades (fatores favorveis), que manifesta diferentes perfis ou padres de
sade-doena. Esse processo gerado em dois momentos: o momento produtivo e
o momento de consumo. O primeiro refere-se ao processo de trabalho, acrescido de
todas as relaes que nele se desenvolvem e o segundo refere-se vida social,
cultural e aos valores do indivduo (ROCHA; FELLI, 2004).
Tambm fundamental o compreendimento do termo sade do trabalhador,
que, em seu conceito mais amplo, envolve aspectos fsicos, mentais e sociais.
Dessa forma, esses riscos mais sutis para a sade no podem ser compreendidos
com base na tica estreita da Medicina do Trabalho, que busca sempre uma
conexo direta com acidentes e doenas profissionais. Na verdade, um outro tipo
de relao que tem profunda repercusso sobre a vida e a sade dos trabalhadores,
especialmente em sua vida psquico-social (OLIVEIRA,1997).
O Ministrio da Sade buscou um conceito ampliado de Sade do
Trabalhador ao afirmar que:
[...] refere-se a um campo do saber que visa compreender as relaes do trabalho e o processo sadedoena. Nesta acepo, considera a sade e a doena como processos dinmicos, estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em determinado momento histrico (BRASIL, 2002a, p. 7).
Caracteriza-se como uma prtica em construo no espao da sade pblica
e representa um esforo de compreenso do processodoena e sua relao com o
trabalho. Assim, a sade do trabalhador considera o trabalho, enquanto organizador
da vida social, como o espao de dominao e submisso do trabalhador pelo
capital, mas igualmente, de resistncia, de constituio e do fazer histrico. Nessa
histria, os trabalhadores assumem o papel de atores, de sujeitos capazes de
-
Marco Terico de Referncia 38
pensar e de se pensarem, produzindo uma experincia prpria, no conjunto das
representaes da sociedade (MENDES; DIAS, 1991).
O prprio conceito de trabalhador proposto pela Poltica Nacional de
Segurana e Sade do Trabalhador (PNSST) marca uma tentativa de consolidar
uma concepo ampliada, atenta s especificidades das relaes do mundo do
trabalho contemporneo. A proposta da PNSST define as diretrizes, as
responsabilidades institucionais e os mecanismos de financiamento e gesto, de
acompanhamento e controle social e de busca a superao da fragmentao,
desarticulao e superposio das aes implementadas pelos setores Trabalho,
Previdncia Social, Sade e Meio Ambiente (BRASIL, 2004).
Vale relatar que a preocupao com a sade dos trabalhadores foi tomando
forma fsica na dcada de 70, de modo a contribuir para a reduo dos acidentes e
para assistncia ao trabalhador. Entretanto, somente a partir de 1980, comeou-se a
dar emergncia sade do trabalhador no Brasil, inserida no contexto da transio
democrtica (MENDES, 1995). Complementando, a sade do trabalhador ganha
importncia na medida em que a ocorrncia de acidentes ou de doenas, alm de
apresentar uma diminuio da produtividade e dos custos adicionais de produo,
pode prejudicar a imagem da empresa no mercado (SCOPINHO, 2004).
No Brasil, a legislao relativa sade e ao trabalho nas empresas s foi
regulamentada na dcada de 70 em decorrncia da grande incidncia de acidentes
de trabalho, que chegou a atingir 18% da mo-de-obra segurada (COSTA, 1981).
Houve a obrigatoriedade do desenvolvimento de aes relativas segurana e
medicina do trabalho, por meio da criao de servios especializados nessa rea
(PIMENTA; CAPISTRANO FILHO, 1988; COSTA, et al., 1989).
As aes de Sade do Trabalhador passaram a ser competncia do Sistema
nico de Sade (SUS) em 1988, com a promulgao da Constituio do Brasil (art.
200). Em seguida, em 1990, segundo o regulamento da Constituio, foi sancionada
a Lei Orgnica da Sade, n 8080 de 19/09/1990, que dispe em seu artigo 6 a
atuao do SUS na rea de sade do trabalhador, sendo entendida como um
conjunto de atividades que se destinam, por meio das aes de vigilncia
epidemiolgica e sanitria, promoo e proteo da sade dos trabalhadores,
assim como a recuperao e a reabilitao daqueles submetidos aos riscos e
agravos advindos das condies de trabalho. Dessa forma, a demanda em sade do
trabalhador deve envolver toda a rede de servios de sade, desde o mais simples
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Marco Terico de Referncia 39
at o servio de alta complexidade; e o processo de expanso da sade do
trabalhador no SUS significa a conquista de direitos da sade do usurio/trabalhador
(GOUVEIA, 2000; SANCHEZ et al., 2009).
Com o passar dos anos, em 2002, uma nova portaria foi criada com o objetivo
de estruturar a Rede Nacional de Ateno Integral Sade do Trabalhador
(RENAST), Portaria n 1.679 de 19 de setembro de 2002, que dispe sobre a
estruturao da Rede Nacional de Ateno Integral Sade do Trabalhador no SUS
e d outras providncias (BRASIL, 2002b). Em 11 de novembro de 2009, a Portaria
n 2.728 passou complementar a anterior (BRASIL, 2009).
Por fora de dispositivo legal, as empresas pblicas ou privadas que possuam
empregados regidos pela Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) devem manter,
obrigatoriamente, os Servios Especializados em Engenharia de Segurana e
Medicina do Trabalho (SEESMT), com a finalidade de promover a sade e proteger
a integridade do trabalhador no local de trabalho (CARVALHO, 2001).
Durante muito tempo, em decorrncia da maneira fragmentada de ver o
mundo, conveniente ao desenvolvimento da sociedade capitalista, procurou-se
atribuir ao trabalhador a responsabilidade por sua sade ou por sua doena, por
meio do iderio do risco inerente e, portanto, de doenas caractersticas de
determinadas profisses. Essa ideia paralisante e sua desmistificao tem exigido
um grande esforo de todos aqueles que se empenham na mudana desse quadro
(MENDES, 1995).
As responsabilidades pela ateno sade dos trabalhadores, no mbito de
governo, so do Sistema de Sade, do Trabalho e da Previdncia que, para maior
efetividade, deveriam estar articuladas, evitando a duplicao, a competio e o
desperdcio de esforos (MENDES, 1995).
Desde o comeo da construo do campo da sade do trabalhador no Brasil,
as questes referentes vigilncia ocuparam um espao central na discusso e na
concepo do modelo de ateno sade. Junto com a prestao de assistncia ao
trabalhador colocava-se a necessidade da vigilncia; da muitas vezes afirmar-se
que essas aes so especficas, mas indissociveis e complementares (PINHEIRO;
RIBEIRO; MACHADO, 2005).
Com relao a essa vigilncia, a sade do trabalhador necessita de um olhar
que busque formas de atuao as quais possibilitem operacionalizar a noo de
ateno sade, o que inclui aes de preveno primria, assistncia e promoo
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Marco Terico de Referncia 40
da sade. Isso significa adotar um olhar que no se detm apenas nos aspectos
biolgicos, incorporando o psquico e o social e que requer a atuao sobre os
problemas humanos no trabalho a partir de outro locus, o do servio de sade
(SATO; LACAZ; BERNARDO, 2006).
Por fim, a sade do trabalhador surge na tentativa de realizar a ruptura da
concepo hegemnica, que estabelece a relao da doena com o trabalho,
baseando-se em um agente especfico ou em um grupo de fatores de risco
presentes no ambiente de trabalho. Essa nova nomenclatura remete discusso da
participao do trabalhador no processo produtivo, alm da necessidade de real
considerao de sua subjetividade (NIERO, 2000).
Retorna-se ao fato de que todo trabalho pode ser gerador de fatores
desgastantes e potencializadores e que so determinantes dos processos sade-
doena vivenciados pelos trabalhadores (MASETTO, 2001). Assim, ressalta-se que
o trabalho profissional algo to significativo que considerado como uma atividade
que pode interferir em outros aspectos da vida do indivduo, de tal modo que as
relaes laborais influenciam no comportamento, nas expectitativas, nos projetos
para o futuro, na linguagem e, at mesmo, no afeto dos indivduos (CODO, 1993).
O desgaste fsico e emocional geral do trabalhador est aumentando e o
excesso de trabalho talvez seja a resposta mais bvia de desarmonia entre os
indivduos e seu emprego, j que ele deve realizar o maior nmero de tarefas no
menor tempo possvel e com o mnimo de recursos. Alm da falta de controle sobre
o trabalho e a ausncia de valorizao da pessoa, a atividade laboral pode gerar um
desencanto pelo trabalho, acrescida pela falta de unio entre os trabalhadores e
pelo desrespeito pela pessoa. Esses elementos so fatores que contribuem para a
ocorrncia de conflitos de valores, quando ocorre desarmonia entre os princpios
pessoais do trabalhador e as exigncias do trabalho (MASLACH; LEITER, 1999).
Os mesmos autores complementam que o desgaste fsico e emocional pode
ter um impacto fatal, e ser prejudicial para a sade, a capacidade de lutar e o estilo
de vida de cada um, alm de contribuir para uma grave deteriorao do
desempenho laboral, ocorrendo uma queda na qualidade e na quantidade de
trabalho produzido. No que diz respeito ao funcionamento pessoal, o desgaste fsico
e emocional pode causar problemas fsicos como dores de cabea, doenas
gastrointestinais, presso alta, tenso muscular e fadiga crnica. Tambm pode
levar ao esgotamento mental, na forma de ansiedade, depresso e distrbios do
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Marco Terico de Referncia 41
sono e, caso esses sentimentos permeiem o mbito domstico, sua exausto e seus
sentimentos negativos comeam a afetar o relacionamento com a famlia e com os
amigos.
Um fato que merece destaque que em vez de existirem organizaes para
aumentar a capacidade das pessoas de ganhar a vida e realizar conquistas
significativas, h pessoas sacrificando suas vidas e suas aspiraes pelo bem da
empresa. Um impacto mais duradouro ocorre sobre a qualidade de vida do
profissionais, ou seja, os mesmos esto trabalhando mais horas, levam trabalho
para casa e trabalham depois do horrio. Consequentemente, esse ritmo aumenta
ainda mais quando os trabalhadores arrumam um segundo emprego numa tentativa
de atender a presses financeiras e de manter abertas suas opes de trabalho.
Assim, esse cotidiano pode prejudicar a sua qualidade de vida, desfazer relaes
com colegas, matar a inovao e ocasionar o desgaste fsico e emocional
(MASLACH; LEITER, 1999).
Mauro (1996) ressalta que o ambiente de trabalho possui algumas
dificuldades que podem provocar no trabalhador fadiga e aborrecimentos, como falta
de organizao, excesso de responsabilidade, despersonalizao das relaes de
trabalho com os pares e superiores, possibilidades de demisso ou de
aposentadoria, entre outros. Maslach e Leiter (1999) complementam que existem
seis pontos de desequilbrio entre os indivduos e seu trabalho. So eles: excesso de
trabalho, falta de controle, remunerao insuficiente, colapso da unio, ausncia de
equidade e valores conflitantes. Salienta-se que esses fatores contribuem para o
desgaste fsico e emocional do trabalhador.
Em relao aos adoecimentos, importante mencionar que, muitas das
patologias provenientes das atividades laborativas no podem ser solucionadas
apenas com o tratamento mdico convencional. Para que o trabalhador possa ter
uma recuperao completa, seu posto de trabalho tambm precisar passar por uma
avaliao e tratamento ou at por uma reformulao geral, se for o caso. Para tanto,
a manuteno do mais alto grau de bem-estar fsico, mental e social dos
trabalhadores em todas as suas ocupaes, conforme recomenda a Organizao
Internacional do Trabalho (OIT) depender, fundamentalmente, do controle eficaz
dos riscos existentes nesses locais de trabalho, para que os mesmos no continuem
a afetar a sade do trabalhador (FEDERIGHI, 2001).
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Marco Terico de Referncia 42
Entre os mltiplos ambientes de trabalho e os vrios tipos de atividades
laborativas existentes, h aqueles das universidades.
5.2 A UNIVERSIDADE E A DOCNCIA
O trabalho em educao mostra-se muito especial, uma vez que se trata de
uma atividade, cujo produto no se separa do ato de produo; traduzido por
conhecimentos, ideias, conceito, valores, atitudes, smbolos, que se integram,
formando assim uma segunda natureza, de modo que o professor passa a ser
considerado como figura indispensvel (SAVIANI, 1991).
Dessa forma, ensinar no transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produo ou a sua construo. No h docncia sem
discncia, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenas que os
conotam, no se reduzem condio de objeto um do outro (FREIRE, 2003).
A universidade exerce um importante papel social, visando construo do
conhecimento cientfico e de formas de interao com a prtica mediante condies
que estimulam a reflexo, a capacidade de observao, a anlise crtica e a
resoluo de problemas, possibilitando a autonomia de ideias e a formulao de
pressupostos (SILVA; CAMILLO, 2007).
O papel social da universidade ou do ensino superior buscar caminhos que
consolidem projetos pedaggicos coerentes com as exigncias impostas pelos
avanos tcnicos e cientficos, ou seja, preparar profissionais tecnicamente capazes
de cumprir os desafios da modernidade, sem perder de vista as perspectivas de uma
educao que atenda s demandas sociais da populao, possibilitando uma
realidade mais igualitria e humana. Assim, o papel essencial da universidade est
na produo de valores humanos e na formao de conscincia para a construo
da civilizao humana (CONSOLARO, 2000).
notrio mencionar que a misso da universidade bem maior do que a de
formao ou produo de bons profissionais; ela a principal responsvel pela
gerao e organizao do conhecimento e pela preservao da cultura
(CONSOLARO, 2000).
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Marco Terico de Referncia 43
O trabalho, no contexto acadmico, ao assumir caractersticas prazerosas,
refletir em benefcios diretos para professores, alunos e, de modo indireto, para a
sociedade, graas a profissionais mais preparados (SELIGMANN-SILVA, 1994).
Existem dois tipos de universidades: pblica e privada. Parte-se da suposio
de que a identidade dos docentes das IES particulares sofre fortes repercusses
tanto das transformaes ocorridas no mundo do trabalho, quanto das mudanas
recentes relativas ao processo de expanso dessas instituies no Brasil nos anos
de 1990. Essa suposio, por sua vez, est relacionada a uma definio do trabalho
do docente no ensino superior que est condicionada instituio na qual ele exerce
sua atividade (SIQUEIRA, 2006).
No final da dcada de 80 e em parte da dcada de 90, o ritmo de expanso de
criao de universidades pblicas brasileiras foi muito pequeno, porm houve uma
poltica de abertura de IES particulares (ROSSATO, 1998).
Visto sob esse aspecto, Dal Ri (2001) constata que a rede de ensino superior
hoje predominantemente privada, contrariamente ao que ocorria no final da
dcada de 50. Isso se deve poltica traada e implementada pelo Estado, que vem
legitimando esse procedimento, por meio de autorizaes e reconhecimento do
processo de privatizao do ensino superior. O governo tem incentivado a criao
das universidades privadas, do que resulta a proliferao cada vez maior do ensino
como mercadoria. Esse dado leva a refletir sobre o impacto no processo de trabalho
dentro das universidades, j que misso, objetivos, formas de financiamento e
sustentao nas pblicas e nas privadas, so bastante diferenciados.
As finalidades bsicas das universidades so o ensino, a pesquisa e a
extenso. Por meio da unidade entre esses trs pilares autnomos, porm
dependentes entre si, as universidades vo exercendo suas finalidades para
construir o conhecimento cientfico, (re)orientando o senso comum e criando um
novo saber (WANDERLEY, 1999).
Nesse sentido, surge uma reflexo diferenciada sobre a importncia das
atividades de ensino, pesquisa e extenso na formao dos indivduos. O ensino
deve preparar cidados competentes e compromissados, que saibam, possam e
queiram atuar em prol da sociedade. Associado pesquisa e extenso,
entendido como ponto de chegada ou de partida na construo do conhecimento
(VIEIRA, 1996).
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Marco Terico de Referncia 44
Cabe ressaltar que, no momento, algumas universidades valorizam mais o
docente pesquisador do que aquele que ensina. A pesquisa acadmica, por
representar a oportunidade de conhecimento sem fronteira, tem sempre destaque
em relao ao ensino, que permanece em segundo plano e a extenso , ainda,
considerada apenas como prestao de servios. Faz-se necessrio buscar em sala
de aula a integrao das atividades de ensino s de pesquisa e extenso. Tambm
o ensino, nas universidades, deve atender s necessidades do mercado de trabalho,
na medida de suas possibilidades, sem que isso coloque em risco o processo de
produo de conhecimentos (VIEIRA, 1996).
Guimares (1997) aponta a atividade extensionista como uma forma de
proporcionar uma gama de servios comunidade, na busca de melhorias de
condies de vida e como disseminadora do conhecimento produzido pela
universidade. Marcovitch (1998) relata que a extenso deve ser um elo entre a
universidade e a sociedade e no uma atividade rotineira ou simplesmente
prestadora de servios.
Nesse contexto, para que cumpram suas finalidades de ensino, pesquisa e
extenso, as universidades devem ter um trabalho organizado. Na comunidade
universitria brasileira, trs segmentos organizam esse trabalho: os funcionrios
docentes e os no docentes, bem como os alunos e por meio dessa organizao
que a universidade se estrutura e desenvolve o seu processo de trabalho
(MINGUILI, 1996).
Na estrutura das universidades, desde a relao dos professores com os
alunos, dos chefes de departamento e coordenadores de curso com seus
professores, dos diretores dos centros com os representantes dos departamentos,
dos rgos superiores com os de nvel subordinado e da reitoria com a universidade
como um todo, o que se tem visto, com raras excees, so processos dominantes
de hierarquizao e de burocratizao (WANDERLEY, 1999).
Outro rgo fundamental nas universidades a reitoria, cujo docente reitor
representa o lder intelectual, administrativo e moral da comunidade acadmica e o
perfil de cada reitor pode determinar uma prtica, ou mais democrtica ou mais
autoritria (CONSOLARO, 2000).
Com relao forma de ingresso dos docentes nas universidades, de um
modo geral, na universidade pblica por meio de concursos ou processos
seletivos, abertos pelos departamentos universitrios. J na universidade privada,
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Marco Terico de Referncia 45
tambm pode ser por processo seletivo ou informal. A carreira dos professores
universitrios de instituies pblicas, geralmente, obedece seguinte ordem de
qualificao: auxiliar de ensino, assistente (com mestrado), adjunto (com doutorado),
titular; algumas acrescentam a livre docncia (CONSOLARO, 2000).
O profissional responsvel pela educao nas universidades o docente. Para
Perrenoud (1993), a profissionalizao como uma formao universitria ou para-
universitria, com tudo o que tal pressupe quanto ao acesso a uma teoria da
prtica e a saberes cientficos, tecnolgicos ou jurdicos. Trata-se, substancialmente,
de uma capacidade do indivduo de orientar-se em relao a objetivos vrios e de
resolver problemas complexos e variados.
Ainda segundo o autor, a profissionalizao do professor define-se em parte
por caractersticas objetivas. tambm uma identidade, uma forma de representar a
profisso, as suas responsabilidades, a sua formao contnua, a sua relao com
outros profissionais, o funcionamento dos estabelecimentos de ensino, a diviso do
trabalho no seio do sistema educativo e entre pais e professores.
O trabalho docente constitui-se em um conjunto de aes especficas que so
empreendidas pela pessoa do professor durante sua vida profissional. Dessa forma,
o professor transmissor de contedos, preocupado em cumprir objetivos e metas,
prazos e prescries; ele detm o poder decisrio quanto metodologia, ao
contedo, avaliao e forma de interao com aluno. Este ltimo deve reproduzir
os dados fornecidos e executar as orientaes do professor, o qual detm o poder, a
autoridade e o conhecimento (SILVA; RUFFINO, 1999).
Com essa compreenso, a prtica docente deve superar o ato de transmitir
informaes. O professor precisa assumir o papel de mediador do processo ensino-
aprendizagem de forma que os alunos ampliem suas possibilidades humanas de
conhecer, duvidar e interagir com o mundo por meio de uma nova maneira de
educar (RODRIGUES; MENDES, 2006).
Entretanto, vale destacar que os tempos mudaram e o trabalho
escolar/acadmico tambm. O ensino no mais como tempos atrs. A escola ps-
moderna passou por profundas transformaes. Como consequncia, o professor
tambm se viu impulsionado a efetuar mudanas passando a ser um coordenador,
um facilitador do processo de ensino-aprendizagem (CARLOTTO, 2003). Essas
transformaes pressupem um imenso desafio pessoal em relao aos educadores
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Marco Terico de Referncia 46
que se propem a responder s novas expectativas do paradigma da educao
progressista e crtico-social (BUENO; MOKWA, 2007).
Desde o incio da carreira docente, com a primeira diviso social do trabalho,
separando o trabalho manual do intelectual, os educadores foram diferenciados em
relao aos outros trabalhadores, por exercerem um trabalho intelectualizado.
Entretanto, o status da docncia e de outras profisses vem declinando nos ltimos
anos, sendo que isso tem contribudo para insatisfao no trabalho (CARLOTTO,
2002; GARCIA; BENEVIDES-PEREIRA, 2003).
fato que a precarizao do trabalho docente, quase uma regra no setor
privado de educao superior, faz-se nti