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RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia ISSN: 1806-7727 [email protected] Universidade da Região de Joinville Brasil CAGOL, Alexandra; SCHWENGBER, Luciani; Grazziotin SOARES, Renata; Duarte IRALA, Luis Eduardo; LIMONGI, Orlando; Azevedo SALLES, Alexandre Avaliação da acurácia de três diferentes marcas comerciais de réguas calibradoras de cones de guta- percha RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia, vol. 6, núm. 1, 2009, pp. 55-62 Universidade da Região de Joinville Joinville, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=153013636008 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia

ISSN: 1806-7727

[email protected]

Universidade da Região de Joinville

Brasil

CAGOL, Alexandra; SCHWENGBER, Luciani; Grazziotin SOARES, Renata; Duarte IRALA, Luis

Eduardo; LIMONGI, Orlando; Azevedo SALLES, Alexandre

Avaliação da acurácia de três diferentes marcas comerciais de réguas calibradoras de cones de guta-

percha

RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia, vol. 6, núm. 1, 2009, pp. 55-62

Universidade da Região de Joinville

Joinville, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=153013636008

Como citar este artigo

Número completo

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Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ISSN:Versão impressa: 1806-7727Versão eletrônica: 1984-5685

ResumoIntrodução e objetivos: Os objetivos do presente estudo foram avaliaro padrão de estandardização dos tamanhos dos orifícios 35, 50 e 140de três diferentes marcas comerciais de réguas calibradoras de conesde guta-percha e verificar possíveis distorções nos diâmetros 0,35,0,50 e 1,40 mm após quatro ciclos de esterilização. Material emétodos: Foram fotografadas dez réguas de cada uma das seguintesmarcas comerciais: Angelus®, Maillefer® e Prisma®. Nove réguas (trêsde cada marca) foram submetidas a quatro ciclos de esterilização e

Palavras-chave:Endodontia; guta--percha; obturação docanal radicular.

Artigo Original de PesquisaOriginal Research Article

Avaliação da acurácia de três diferentes marcascomerciais de réguas calibradoras de cones deguta-perchaEvaluation of the accuracy of three differentcalibration scales trademarks for gutta-perchaconesAlexandra CAGOL*Luciani SCHWENGBER*Renata Grazziotin SOARES**Luis Eduardo Duarte IRALA***Orlando LIMONGI***Alexandre Azevedo SALLES***

Endereço para correspondência:Address for correspondence:Renata Grazziotin SoaresRua Bento Gonçalves, 1.624CEP 95020-412 – Caxias do Sul – RSE-mail: [email protected]

* Especialistas em Endodontia pela Sociedade Brasileira de Cirurgiões-Dentistas Sobracid/Sobracursos, Porto Alegre/RS.** Professora dos cursos de especialização em Endodontia da Sociedade Brasileira de Cirurgiões-Dentistas Sobracid/Sobracursos,Porto Alegre/RS.*** Professores dos cursos de especialização em Endodontia da Sociedade Brasileira de Cirurgiões-Dentistas Sobracid/Sobracursos,Porto Alegre/RS, e da Universidade Luterana do Brasil/Ulbra, Canoas/RS.

Recebido em 1.º/10/2007. Aceito em 12/2/2008.Received on October 1st/10/2007, 2007. Accepted on February 12, 2008.

Cagol et al.Avaliação da acurácia de três diferentes marcas comerciais de réguas calibradoras de cones de guta-percha56 –

fotografadas após cada um deles. Resultados e conclusão: Osresultados mostraram que houve variação nos diâmetros dos orifíciosapós as esterilizações e que as três marcas apresentaram falta defidelidade ao tamanho mencionado pelos fabricantes quando novas,isto é, sem esterilização. A marca Maillefer®, antes de esterilizada, foia que demonstrou maior acurácia.

AbstractIntroduction and objectives: The purpose of this study was to evaluatethe standardization’s pattern of the holes size of 3 different calibrationscales trademarks for gutta-percha cones and to verify possibledistortions in the 0.35, 0.50 and 1.40 mm diameters after four repeatedcycles of sterilization. Material and methods: Ten scales of each oneof the following trademarks were photographed: Angelus®, Maillefer®

and Prisma®. Nine scales (three of each brand) were subjected to foursterilization’s cycles and then photographed after each one of them.Results and conclusion: The results showed that there was variationin the holes’ diameter after the sterilizations, and that the three brandsdemonstrated lack of loyalty to the size specified by the manufacturers,that is, without sterilization. Before being sterilized, Maillefer® hadshowed the greatest accuracy.

Keywords:Endodontics; gutta-percha; root canalobturation.

IntroduçãoA adequada endodontia inicia-se com um

correto diagnóstico e é concluída com uma obturaçãoo mais tridimensional e próximo dos limitesbiológicos possível. Dessa forma, cada fase dotratamento endodôntico é de suma importância parao resultado. A incorreta execução de uma delas podelevar a dificuldades na fase subsequente,ocasionando até mesmo o fracasso da terapia.Apesar disso, muitos autores dão maior ênfase àfase de obturação dos canais radiculares aoanalisarem eventuais causas de insucesso. Inúmerosestudos mostram que obturações inadequadas doscanais radiculares estão intimamente relacionadasao fracasso [9].

A obturação dos canais radiculares é um dospassos mais importantes da terapia endodôntica.Deve-se preencher tridimensionalmente o canalmodelado, visto que espaços vazios são propíciospara a sobrevivência e desenvolvimento de bactériase de acúmulo de seus produtos [14].

Em canais com necrose pulpar, bactérias edebris teciduais contidos em canais laterais eacessórios são dificilmente eliminados pelainstrumentação convencional dos canais. Por isso,uma obturação tridimensional torna-separticularmente importante [6].

As obturações devem ficar o mais próximopossível do limite cemento-dentina-canal, pois nassubobturações ficam espaços vazios que podemfavorecer a multiplicação ou o desenvolvimento de

bactérias e a infiltração de exsudato periapical parao interior do canal, dificultando o reparo [9].

As sobreobturações interferem na reparaçãoclínico-radiográfica, retardando-a ou inibindo-a,conduzindo a uma significativa redução naincidência de sucesso. E embora assintomático, podepredominar um infiltrado inflamatório crônico,produzindo reação de corpo estranho [10].

À medida que a obturação ultrapassa o canaldentinário, o reparo torna-se mais demorado, querseja em virtude das propriedades do cimento, doprocesso de reestruturação do ligamento periodontalou da presença de fatores estranhos: materialobturador, raspas de dentina e infecçãoremanescente nas regiões apical e periapical [11].

Ketterl [8] comparou os índices de sucessoradiográfico e histológico de dentes obturados a 4,3, 2, 1 e 0 (zero) mm do ápice radicular e a 1 mmultrapassando este. Os índices de sucesso histológicoforam inferiores ao radiográfico em todos os casos,e os que foram obturados a 1 mm aquémevidenciaram maior índice de sucesso. Conforme aobturação se distanciava dessa medida, tanto paramais quanto para menos, o sucesso reduziadrasticamente.

Imura et al. [7] avaliaram por meio de controleradiográfico o índice de sucesso de 2.000tratamentos e retratamentos endodônticosrealizados por um especialista. Os resultadosmostraram que polpa com vitalidade, ausência delesão, intervenção convencional, obturação aquém--ápice e sessão única apresentaram índice de

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sucesso estatisticamente maior do que polpas semvitalidade, presença de lesão, retratamento,obturações no limite radiográfico ou além-ápice esessões múltiplas.

Souza [12] e Carvalho Júnior et al. [4]estudaram a capacidade de selamento de diferentescimentos endodônticos e concluíram que nenhumdeles foi capaz de impedir a infiltração marginal.Observaram ainda que o selamento apical se alteracom o tempo, graças à solubilização do cimento.

Assim, a adaptação do cone principal de guta--percha ao canal radicular pode representar fatordecisivo no selamento final [5].

De acordo com Souza et al. [13], o vedamentotridimensional proporcionado pela obturação é ofator mais importante para o sucesso da terapiaendodôntica. Para atingir tal objetivo, deve-seconsiderar o travamento do cone principal de guta--percha no comprimento de trabalho. Esse requisitoé usualmente avaliado pela percepção tátil deresistência oferecida pelo cone na tentativa de seudeslocamento. Em virtude da grande ênfase dadaao procedimento, o profissional muitas vezes gastamuito tempo clínico na busca desse propósito.

Ao se iniciar o processo de obturação doscanais, utiliza-se como regra um cone principalde guta-percha compatível com o últimoinstrumento usado no comprimento total detrabalho. Todavia, por causa da falta deestandardização dos cones, o procedimento tendea se tornar de difícil manejo [2].

Aguiar et al. [1] avaliaram a correspondênciados diâmetros D0 dos cones principais de guta--percha e o D0 das limas endodônticas. Para isso,usaram 660 limas endodônticas tipo K de trêsdiferentes marcas comerciais e 720 cones de guta--percha principais, de primeira e segunda série detrês marcas comerciais. Os D0 foram medidos comum paquímetro digital. Os resultados mostrarampouca correspondência entre o diâmetro D0 daslimas e dos cones, e os pesquisadores concluíramque o último instrumento utilizado no preparobiomecânico do sistema de canais é apenas umreferencial para a escolha do cone principal de guta--percha.

O travamento apical de cones principais deguta-percha estandardizados e calibrados foiavaliado por Biz et al. [3]. Os autores pesquisaramduas marcas comerciais de conesestandardizados: Tanari e Dentsply.Instrumentaram-se 21 dentes humanos extraídos,e posteriormente foi realizada a prova do cone comdez de cada tipo. Os cones calibrados com o auxíliode uma régua da marca Maillefer apresentaram omaior número de travamentos no comprimento

de trabalho. Os cones da marca Dentsplyobtiveram desempenho inferior, muitas vezesultrapassando o limite de trabalho.

Strefezza [14] analisou as áreas dos orifíciosde réguas calibradoras de pontas de guta-perchadas marcas Maillefer e Prisma ante os padrões deestandardização e esterilização. Quatro réguas decada marca tiveram seus orifícios medidos por meiodo programa ImageLab 2.3, desenvolvido naFaculdade de Odontologia da Universidade de SãoPaulo. As réguas foram esterilizadas cinco vezes, ea cada ciclo os orifícios foram mensurados. As áreasdos orifícios de ambas as marcas variaram apóscada esterilização, sem diferenças estatisticamentesignificantes entre si após os cinco ciclos.

Assim, um dos critérios para uma obturaçãoadequada é haver correlação entre o cone principalde guta-percha e o último instrumento trabalhadona área apical. Para isso, a adaptação é testadapelos métodos visual, tátil e radiográfico [2].Entretanto não há uma precisão entre osinstrumentos utilizados para preparar os canaise os materiais para obturá-los. Muitas vezes énecessário testar o travamento de outros conesou mesmo cortar suas pontas. Assim, travar o coneprincipal no comprimento adequado gera muitotempo clínico [13].

As réguas calibradoras possibilitam ajustar ocone de guta-percha principal conforme o diâmetroda lima memória através de orifícioscorrespondentes ao diâmetro das limasendodônticas da série ISO, porém a literatura éescassa no que se refere a essas réguas.

Por isso, justifica-se a realização destapesquisa na busca de analisar a acurácia de trêsdiferentes marcas de réguas calibradoras, bemcomo investigar uma possível mudança nosorifícios das réguas após quatro ciclos deesterilização.

Material e métodosAmostras

Foram utilizadas 30 réguas endodônticascalibradoras de cones de guta-percha, sendo dez damarca Angelus® (metálica), dez da Prisma® (plástico)e dez da marca Maillefer® (cerâmica com os orifíciosmetálicos), e todas foram fotografadas. Submeteram--se nove delas (três de cada marca) a quatro ciclosde esterilização.

As amostras foram divididas em quatro gruposexperimentais: grupo 1 – réguas da marca Angelus®,

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grupo 2 – réguas da marca Prisma® e grupo 3 –réguas da marca Maillefer®. O grupo 4 foi formadopelas nove réguas que sofreram repetidos processosde esterilização. Os grupos experimentais estãorelacionados no quadro I.

Quadro I – Demonstrativo dos grupos experimentais

* ciclo: processo de esterilização

Fotografia das réguas

Para as fotos, foi utilizada uma plataforma demadeira (conforme figura 1) com dois encaixes: umpara a máquina fotográfica digital Sony Cybershot8.1 megapixels e outro para a régua. As réguas foramfotografadas por um único operador. A distânciaentre a lente da máquina fotográfica e a régua era de9,3 cm. A plataforma media 29,7 X 21,9 cm.

Figura 1 – Plataforma de madeira usada para fotografaras réguas

Esterilização das réguas

Nove réguas (três de cada marca) de cada marcaforam acondicionadas em embalagens para esterilização(Medstéril, São Paulo, SP – Brasil) e esterilizadas emautoclave (Cristófoli, São Paulo, SP – Brasil) a 1 atm e127°C por 20 minutos. Fotografaram-se tais amostrasdepois de cada processo de esterilização, que ocorreupor quatro vezes. Esperou-se 24 horas após o fim daesterilização para que estivessem frias.

Orifícios medidos

Foram selecionados três orifícios calibradores decada régua, sendo um da 1.ª série, um da 2.ª e um da3.ª. Escolheram-se os orifícios de números 35, 50 e140, que apresentam diâmetro horizontal e verticalde 0,35 mm, 0,50 mm e 1,40 mm, respectivamente.Os dois primeiros foram escolhidos em virtude dagrande frequência de uso desses diâmetros e o terceiropor ser o maior, o que facilitaria sua medição.

Metodologia das medições

As fotografias das réguas calibradoras foramarmazenadas no computador e transferidas para oprograma Adobe Photoshop CS2 versão 9.0. Após aaplicação da escala, sem redução dos pixels da imagem,foi possível aumentar o tamanho das fotografias emedi-las em milímetros. Na imagem de cada réguaselecionou-se o orifício desejado, e foi utilizada aferramenta régua para medir o diâmetro horizontal evertical. Os valores obtidos foram anotados em tabelase submetidos à análise estatística. Para uma melhorvisualização, empregaram-se filtros nas imagens, taiscomo: inversão, máscara de nitidez e cor. A figura 2mostra a imagem da régua Maillefer® inserida no AdobePhotoshop CS2 e seu orifício de número 140 sendomedido. A figura 3 exemplifica a utilização daferramenta régua e as medidas em milímetros dosdiâmetros de um orifício.

Figura 2 – Medição do orifício 140 da régua Maillefer®no Adobe Photoshop CS2

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Gráfico 1 – Fabricante Angelus®:comparação da médiados diâmetros dos orifícios medidos nas três réguasnovas (sem esterilizações) e após os ciclos deesterilização

Gráfico 2 – Fabricante Prisma®: comparação da médiados diâmetros dos orifícios medidos nas três réguasnovas (sem esterilizações) e após os ciclos deesterilização

Gráfico 3 – Fabricante Maillefer®: comparação da médiados diâmetros dos orifícios medidos nas três réguasnovas (sem esterilizações) e após os ciclos deesterilização

Figura 3 – Utilização da ferramenta régua e as medidasem milímetros dos diâmetros de um orifício mostradasna janela à direita

ResultadosTabela I – Comparação entre a medida do diâmetrofornecida pelo fabricante e a média dos valoresmensurados.

Observando a tabela I, por meio do teste T, aonível de significância de 5%, verifica-se que nas réguasda marca Angelus® a média dos diâmetros medidosfoi maior do que o valor informado pelo fabricante,exceto no diâmetro 0,35 mm, cuja diferença não foisignificativa. Nas réguas da marca Prisma®, em todosos diâmetros a média mensurada foisignificativamente maior do que o valor informado.Nas da marca Maillefer® apenas no diâmetro 1,40mm a média obtida foi expressivamente maior do queo valor informado.

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Quadro II – Variação da média dos diâmetros (diâmetro horizontal x vertical) dos orifícios das nove réguas (três decada marca) após ciclos de esterilização, em relação às médias dos diâmetros quando as réguas estavam novas,isto é, sem esterilizações

DiscussãoUm dos critérios para alcançar uma

obturação adequada é haver correlação entre ocone principal de guta-percha e o últimoinstrumento usado na área apical, a fim de seconseguir uma obturação hermética na região doforame apical e assim evitar percolação defluidos, podendo levar ao insucesso [2].

Conseguir uma perfeita adaptação do cone aobatente apical é impossível, pois muitas vezes o ápiceradicular é irregular e apresenta foraminas. Afinalidade das réguas endodônticas calibradoras étentar aproximar o diâmetro da ponta do cone omáximo possível da medida D0 da lima memória,dispensando a necessidade de utilização de conesestandardizados.

Quanto à metodologia empregada para asmedições, o uso do programa de computador AdobePhotoshop dispensou a utilização de paquímetrodigital, o que iria requerer a associação com umestereomicroscópio ou microscópio eletrônico, porcausa do tamanho muito reduzido dos orifícios.Todavia o método de aferição empregado nesteestudo não pode ser considerado 100% eficaz, poisexistem limitações em virtude do foco e da resoluçãoda imagem captada e podem aparecer distorçõesdecorrentes do sistema de lentes e do ângulo deincidência da fotografia, mesmo com a plataformade madeira para padronização das imagens.

Calcularam-se os diâmetros horizontal e verticaldos orifícios das 30 amostras de réguas (dez de cadamarca), porém, pela impossibilidade de seobservarem diferenças nos tamanhos medidos emrelação ao fornecido pelo fabricante, caso fosse feitaa análise estatística separada para cada diâmetro,optou-se por realizar a média entre o diâmetrohorizontal e vertical. A média entre os diâmetrosfornece uma adequada análise sobre o tamanho doorifício, isto é, se é menor, igual ou maior do que amedida fornecida, contudo não permite saber se amudança é no eixo horizontal ou vertical. O diâmetropoderia variar de forma diferente nos dois sentidos,assim o orifício deixaria de ter forma circular eadquiriria formato oval.

Em relação à análise estatística, observando atabela 1, que relata a comparação entre a medidados diâmetros fornecida pelo fabricante e a médiados valores mensurados, por meio do teste T, aonível de significância de 5%, verificou-se que nasréguas da marca Angelus® a média dos diâmetrosmedidos foi maior do que o valor informado pelofabricante, exceto no diâmetro 0,35 mm, cujadiferença não foi significativa. Isso talvez tenhaocorrido em razão da maior dificuldade demensuração do orifício de número 35, pois é umtamanho muito reduzido e pode ter perdido nitidezno momento da manipulação no programa AdobePhotoshop, levando à imprecisão nas medidas. Essahipótese não subestima a possibilidade de o

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tamanho do orifício ser fiel ao fornecido pelaAngelus®.

Relativamente à análise estatística das dezamostras de régua da marca Prisma®, em todos osdiâmetros a média mensurada foi significativamentemaior do que o valor informado pelo fabricante.

Além disso, no fabricante Maillefer® apenas nodiâmetro 1,40 mm a média obtida foiexpressivamente maior do que o informado, ou seja,nos outros dois diâmetros (0,35 mm e 0,50 mm) asmedidas foram iguais estatisticamente àquelasfornecidas pela marca.

Quando se observaram as medições após quatrociclos de autoclavagem, testou-se a hipótese de queos orifícios variassem seus tamanhos depois daesterilização das réguas sob calor úmido, semelhanteao que realizou Strefezza [14] em seu estudo, que ofez por cinco vezes.

Analisando o gráfico 1 e o quadro I, nota-se amédia dos diâmetros (horizontal X vertical) das trêsamostras de régua da marca Angelus®. Após oquarto ciclo de esterilização, os três diâmetrosmensurados tiveram seus valores diminuídos emrelação aos valores medidos quando as réguasestavam sem esterilizações. O orifício 35 mediu0,52 mm quando utilizada a régua nova, valor quese manteve depois da primeira e segundaesterilização e diminuiu após o terceiro e quartociclo, passando a medir 0,50 mm e 0,40 mm,respectivamente. Os orifícios 50 e 140 tambémtiveram suas medidas reduzidas após o terceiro equarto ciclo de autoclavagem. Os valores acima dascolunas do gráfico 1 ratificam que, depois do últimociclo, os diâmetros diminuíram bastante em relaçãoàqueles mensurados quando as réguas estavamsem esterilização. É importante ressaltar que asfotografias das réguas esterilizadas foram feitasquando as amostras já estavam frias. Mesmo assim,conclui-se que houve expansão no metal apósbruscas mudanças de temperatura, o que provocoua diminuição dos orifícios em questão.

Quanto à régua Prisma®, o orifício 140manteve-se constante em todos os momentos(gráfico 2 e quadro I). Já os orifícios 35 e 50, apóso primeiro ciclo, aumentaram e por fimdiminuíram 0,001 mm cada um. Essa variaçãoentre as esterilizações pode ser devida a régua daPrisma® ser fabricada em plástico, portanto, émais sensível às alterações de temperatura.

A marca Maillefer® também teve seus orifíciosreduzidos após o 4.° ciclo de esterilização, masobservando os valores especificados acima dascolunas do gráfico 3 nota-se uma oscilação dosvalores. Tal fato ocorreu, provavelmente, em funçãoda grande dificuldade de mensuração dos orifícios

da régua Maillefer®, por esta ser fabricada emcerâmica e ter os orifícios revestidos em metal, oque levou à falta de nitidez e imprecisão nas medidas.

Conclusões• Nas réguas da marca Angelus® a média dos

diâmetros medidos foi maior do que o valorinformado pelo fabricante, exceto no diâmetro0,35 mm, cuja diferença não foi significativa.Nas réguas da marca Prisma® em todos osdiâmetros a média mensurada foisignificativamente maior do que o valorinformado. Quanto à marca Maillefer®, apenasno diâmetro 1,40 mm a média obtida foiexpressivamente maior que o valorinformado;

• Nenhuma das marcas mostrou ter osdiâmetros dos orifícios totalmente fiéis àsmedidas informadas pelos fabricantes. Asréguas calibradoras da marca Maillefer®

foram as que apresentaram maior fidelidade,seguida pelas marcas Angelus® e Prisma®;

• As três marcas de réguas calibradorassofreram alterações nos seus diâmetros apósrepetidos ciclos de esterilização;

• As réguas cal ibradoras servem comocoadjuvantes durante a escolha do coneprincipal na fase de obturação do canalradicular.

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