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AVALIAÇÃO CLÍNICA, HEMATOLÓGICA E HISTOPATOLÓGICA DE
TUMORES ESPLÊNICOS EM CÃES
SABRINA MARIN RODIGHERI1, GUILHERME FERNANDO DE CAMPOS2, MARINA
STEFFANELLO ROMANI2 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária – FCAV-
UNESP/Jaboticabal. Médica Veterinária responsável pelo serviço de Oncologia do
Hospital Veterinário Batel 2 Médico Veterinário autônomo
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi realizar um estudo retrospectivo
dos tumores esplênicos em cães. Foram avaliados os prontuários de 32
cães atendidos entre 2013 e 2015, submetidos a esplenectomia. Cães
idosos, sem raça definida, foram os mais afetados. As afecções
neoplásicas representaram 59,3% dos casos, sendo o
hemagiossarcoma o tumor de maior prevalência. Os sinais clínicos mais
comuns foram apatia, hiporexia e fraqueza. Os resultados
demonstraram que cães com anemia e hemoperitôneo apresentam
maior probabilidade de apresentar neoplasia esplênica maligna.
Palavras-chave: oncologia; esplenectomia; hemangiossarcoma.
AVALIAÇÃO CLÍNICA, HEMATOLÓGICA E HISTOPATOLÓGICA DE
TUMORES ESPLÊNICOS EM CÃES
ABSTRACT
This report aims to conduct a retrospctive study of splenic tumors in
dogs. It was valued 32 dog’s records, which were attended between
2013-2015 and sub submitted to splenectomy. Old mongrel dogs were
the most affected. Neoplastic diseases accounted for 59.3% of cases,
and hemangiossarcoma was the most prevalent tumor. Apathy, hiporexy
and weakness were the most common clinical signs. The results made
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evident that dogs with anemia and hemoperitoneum are more likely to
presente splenic malignant neoplasms.
Key words: oncology, splenectomy; hemangiossarcoma.
Introdução
Neoplasias esplênicas são comumente diagnosticadas em cães,
podendo ser benignas ou malignas, primárias ou metastáticas.
uma
ter diversas origens, incluindo
endoteliais, musculares, linfoid cas (Bandinelli et
al., 2011). Hemorragia por ruptura tumoral, coagulação intravascular
disseminada, arritmias e disseminação tumoral representam as
principais complicações associadas a neoplasias esplênicas malignas
(Warzee, 2012). Exames complementares como hemograma,
bioquímica sérica, ultrassonografia abdominal, radiografia torácica e
avaliação histopatológica devem ser realizados para o diagnóstico da
neoplasia, pesquisa de metástases e avaliação clínica do paciente
(Neer, 1996). A esplenectomia representa o tratamento de eleição para
as neoplasias esplênicas, entretanto, terapias adjuvantes podem ser
necessárias de acordo com o comportamento biológico do tumor
(Rodaski e Piekarz 2009).
Metodologia
Foi realizado um estudo retrospectivo dos prontuários médicos de cães
submetidos a esplenectomia no período de 2013 a 2015. Informações a
respeito da idade, raça, sexo e sinais clínicos manifestados pelos
pacientes, resultado do hemograma prévio a esplenectomia, diagnóstico
histopatológico dos tumores e índice de óbito pós-operatório foram
registradas.
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Resultados
32 pacientes com idade entre dois e 16 anos (média de 10 anos)
foram submetidos a esplenectomia devido a presença de nódulos
esplênicos, com tamanho variando de 0,5 a 15cm, detectados em
avaliação ultrassonográfica abdominal. 53,1% dos pacientes eram
machos e 46.9% fêmeas. Cães sem raça definida (8/32) e das raças
Lhasa Apso (3/32), Dogue Alemão (2/32), Fila Brasileiro (2/32), Cocker
Spaniel (2/32), Shih Tzu (2/32) e Golden Retriever (2/32) foram os mais
acometidos. Apatia, anorexia, fraqueza e dor abdominal foram os sinais
clínicos mais relatados. Entretanto, em alguns animais, os tumores
foram diagnosticados acidentalmente durante avaliação clínica de rotina.
Observou-se hemoperitôneo devido a ruptura tumoral em 12 dos 32
cães com tumores esplênicos (37,5%). 34,3% dos pacientes
apresentavam anemia, 28% leucocitose por neutrofilia, 3,1%
trombocitopenia e 3,1% trombocitose. Na avaliação histopatológica foi
constatado que 59,3% (19/32) dos tumores eram de origem neoplásica e
40,7% (13/32) de origem não neoplásica. Dentre as neoplasias, 73,7%
eram malignas, sendo o hemangiossarcoma o tumor de maior
prevalência (9/19). Os demais tumores malignos foram diagnosticados
como linfoma (2/19), sarcoma histiocítico (1/19), sarcoma indiferenciado
(1/19) e carcinoma metastático (1/19). Dentre as neoplasias benignas,
foram identificados três casos de hemangioma e dois de mielolipoma. As
afecções esplênicas não neoplásicas incluíram hiperplasia nodular
(7/13), hematoma (3/13), congestão esplênica (2/15) e hematopoese
extramedular (1/13). Nenhum dos 32 animais avaliados evoluiu a óbito
no período peri-operatório.
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Discussão
Diferentes alterações podem comprometer o baço, incluindo
distúrbios de crescimento, processos inflamatórios, anormalidades
circulatórias (hematoma, congestão, trombose e infarto) e neoplasias.
Todos estes processos, sozinhos ou combinados, podem resultar em
aumento esplênico uniforme ou nodular (Valli 2007). A esplenectomia é
indicada em casos de ruptura, torção ou neoplasia esplênica (Warzee,
2012). As neoplasias representam as alterações esplênicas mais
comuns, sendo o hemangiossarcoma o tumor de maior prevalência,
conforme observado no presente estudo (Christensen et al., 2009). Em
alguns casos, o hemangiossarcoma pode ser indistinguível
macroscopicamente do hematoma e do hemangioma, sendo necessária
avaliação histopatológica para confirmação diagnóstica (Bandinelli et al.,
2011). A hiperplasia nodular representa a afecção não neoplásica de
maior incidência em cães, sendo um importante diagnóstico diferencial
do linfoma esplênico (Valli, 2007; Christensen, et al., 2009). Tumores
esplênicos podem apresentar crescimento silencioso, fazendo com que
os pacientes sejam assintomáticos nos estágios iniciais da neoplasia. O
crescimento tumoral tende a provocar sinais clínicos inespecíficos, como
apatia, hiporexia e distensão abdominal, conforme observado no
presente estudo. O exame físico pode revelar palidez de mucosas, dor e
aumento de volume palpável em abdômen. A ruptura tumoral é
acompanhada por fraqueza, dispneia, síncope e morte súbita (Warzee,
2012). No presente estudo foi constatada elevada incidência de
hemoperitôrio decorrente de ruptura tumoral, sendo oito casos
associados a hemangiossarcoma, dois hemangiomas e dois
hematomas. Diversos fatores podem justificar a ocorrência de anemia
em cães com neoplasia esplênica, incluindo hemorragia, anemia de
doença crônica, anemia hemolítica microangiopática e anemia por
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sequestro esplênico. Um aumento significativo dos leucócitos é
comumente encontrado em cães com torção esplênica e
hemangiossarcoma (Christensen et al., 2009). Pacientes com anemia
severa devem ser submetidos a transfusão sanguínea e monitoração
hemodinâmica no período peri-operatório (Warzee, 2012).
Conclusão
Os resultados obtidos permitem concluir que os distúrbios esplênicos
não neoplásicos não provocam alterações hematológicas significativas e
manifestam-se preferencialmente como lesões nodulares menores que
3cm. As afecções neoplásicas ocorrem preferencialmente em cães
idosos, apresentam diâmetro variável e induzem alterações
hematológicas na maioria dos animais. A ruptura tumoral é frequente em
cães com hemagiossarcoma esplênico.
Referências
1. BANDINELLI, M.B.; PAVARINI, S.P.; OLIVEIRA, E.C. et al. Estudo retrospectivo de lesões em baços de cães esplenectomizados: 179 casos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 31, n.8, p. 697-701, 2011.
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3. NEER, T.M. Clinical Approach to splenomegaly in dogs and cats. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 18, n. 1, p. 35-46, 1996.
4. RODASKI, S.; PIEKARZ C.H. Diagnóstico e estadiamento clínico. In: DALECK, C.R.; DE NARDI, A.B.; RODASKI, S. Oncologia em Cães e Gatos. 11ª ed. Roca, São Paulo, 2009.
5. VALLI, V.E.O. Hematopoietic system, p.107-324. In: MAXIE, M.G.; JUBB, P. Pathology of Domestic Animals. 5 ed. Saunders Elsevier, Philadelphia, 2007, p. 107-324.
6. WARZEE, C.C. Hemolymphatic system. In: KUDNIG, S. T.; SEGUIN, B. Veterinary Surgical Oncology. Willey-Blackwell, 2012, p. 604.
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