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Universidade de
Aveiro
Ano 2013
Departamento de Cincias Sociais, Polticas e do Territrio
AVALRIA ZEFERINO AMS
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA EM MOAMBIQUE
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Universidade de Aveiro
Ano 2013
Departamento de Cincias Sociais, Polticas e do Territrio
AVALRIA ZEFERINO AMS
CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA EM MOAMBIQUE
Dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Governao, Competitividade e Polticas Pblicas realizado sob a orientao cientfica do Doutor Andr Azevedo Alves professor auxiliar convidado da Universidade Catlica Portuguesa e do Mestre Lus Miguel Simes Lucas Pires assistente do Departamento de Cincias Sociais, Polticas e do Territrio da Universidade de Aveiro.
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Dedico este trabalho aos meus pais Zeferino Ams e Felismina Meque; Aos meus filhos Rui Aicio, Yurival Rino, Raylson lex e Rayza Valenir; s educadoras do Centro Infantil da Universidade de Aveiro Dulce, Fernanda, Luciane e Sara; e, Ao meu marido Rui.
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O jri
Presidente Professora Doutora Maria Lus Rocha Pinto. Professora Associada, Universidade de Aveiro.
Vogal-Arguente Professora Doutora Suzana Maria Calvo Loureiro Tavares da Silva. Professora Auxiliar, Universidade de Coimbra-Faculdade de Direito.
Vogal-Orientador Professor Doutor Andr Azevedo Alves. Professor Auxiliar Convidado, Universidade Catlica Portuguesa.
Vogal-Co-orientador Mestre Lus Miguel Simes Lucas Pires. Assistente, Universidade de Aveiro.
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Agradecimentos
Agradeo ao Doutor Andr Azevedo Alves e Lus Miguel Simes Lucas Pires por terem aceitado o meu pedido de orientao. Agradeo ao Programa Internacional de Bolsas de Estudo (IFP), financiado pela Fundao Ford por me ter dado oportunidade de poder estudar num clima repleto de materiais e sapincia de alto nvel. Agradeo ainda Presidente da Autoridade Tributria de Moambique, Rosrio Fernandes por me ter autorizado a continuar com os estudos, com o parecer favorvel do meu diretor Amade Aziza. E por fim, expresso os meus sentimentos a todos que direta ou indiretamente contriburam para a edificao deste trabalho.
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Palavras-chave
Crimes contra a ordem tributria, Descaminho Aduaneiro, gesto de conhecimento e cidadania.
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Resumo
Moambique um pas em que a indstria transformadora fraca, consequentemente o consumo de bens provenientes do exterior notrio. As trocas comerciais, do azo ao crime tributrio aduaneiro de descaminho de direitos aduaneiros, coexistente para os regimes aduaneiros de importao, exportao e trnsito internacional. Nos ltimos anos, este tipo de crime, ganha destaque, o que faz levantar questes por parte da sociedade civil bem como organizaes internacionais que financiam o oramento geral do Estado. A resposta a estas questes pode ser encontrada na pesquisa das razes que esto por detrs da materializao deste tipo de crime, que vo desde comportamentos no aceitveis, deficincias nos diversos sistemas de controlo interno, falta de transparncia, corrupo, at deficincias na gesto da informao e conhecimento. O perodo histrico analisado vai de 1996 at 2011, perodo em que vrias reformas ao sector tributrio tm sido feitas, no sendo notria a reduo das infraes do tipo legal proposto. Esta anlise permitiu concluir que o Estado moambicano tem estado a desencadear uma srie de reformas no sector tributrio de modo a tornar o seu sistema mais competitivo e estratgico. Contudo, estas reformas no so acompanhadas com definies estratgicas da gesto da informao e conhecimento, aspetos fundamentais para a preveno e mitigao dos ilcitos tributrios de gnero.
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keywords
Crimes against the tax, Customs Embezzlement, knowledge management and citizenship.
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Abstract
Mozambique is a country which the manufacturing sector is weak hence the consumption of goods from abroad is notorious. Trade gives rise to the crime of tax evasion of customs duties, coexisting for the customs procedures for import, export and international transit. In recent years, this type of crime is highlighted and questions arise on the part of civil society and international organizations that finance general state budget. The answer to these questions can be found in the research of the reasons that are behind the realization of this type of crime, ranging from unacceptable behavior, weaknesses in various systems of internal control deficiencies in the management of information and knowledge. The historical period analyzed runs from 1996 to 2011 period in which several tax reforms in the sector have been made, there is a noticeable reduction of the type proposed legal infractions. This analysis concluded that the Mozambican state has been unleashing a series of tax reforms in the sector to take and watch your system more competitive and strategic. However, these reforms are not accompanied with definitions of strategic management of information and knowledge that are fundamental aspects for the prevention and mitigation of gender illegal tax.
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ndice
LISTA DE FIGURAS E TABELAS ............................................................................................................................ xv
ndice Anexos .............................................................................................................................................................. xv
LISTA ABREVIATURAS .......................................................................................................................................... xvi
1. INTRODUO.................................................................................................................................................... 17
1.1.OBJETO DO ESTUDO ............................................................................................................... 18
1.2.QUESTO DA PESQUISA ......................................................................................................... 19
1.3.DELIMITAO DO ESTUDO ............................................................................................. 19
1.4.MOTIVAO ........................................................................................................................... 20
1.5.METODOLOGIA ...................................................................................................................... 20
1.6.MTODO E ORGANIZAO DA DISSERTAO ....................................................................... 21
CAPTULO I- ENQUADRAMENTO TERICO E CONCEPTUAL ..................................................... 23
1. CONTEXTUALIZAO ............................................................................................................ 23
2. ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO E DEFINIO DE CONCEITOS ..................................... 24
3. DIREITO ADUANEIRO ............................................................................................................ 26
4. INFRAES TRIBUTRIAS ..................................................................................................... 27
CAPTULO II- EVOLUO E ENQUADRAMENTO HISTRICO DO SISTEMA
TRIBUTRIO MOAMBICANO....................................................................................................................... 31
1. SISTEMA TRIBUTRIO ........................................................................................................... 31
2. REFORMA DAS ALFNDEGAS ............................................................................................... 33
3. SURGIMENTO DA AUTORIDADE TRIBUTRIA DE MOAMBIQUE ........................................ 35
CAPTULO III- ANLISE DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA NUMA PERSPETIVA
COMPARADA .............................................................................................................................................................. 39
1. DIREITO PORTUGUS ........................................................................................................... 39
2. DIREITO ALEMO ................................................................................................................. 42
3. DIREITO ITALIANO ................................................................................................................ 44
4. DIREITO ESPANHOL .............................................................................................................. 45
5. DIREITO FRANCS ................................................................................................................. 46
6. DIREITO MOAMBICANO ..................................................................................................... 46
6.1.FONTES DO DIREITO ADUANEIRO MOAMBICANO .............................................................. 47
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6.2. FIGURAS AFINS DO DESCAMINHO ADUANEIRO ............................................................... 48
6.3.NATUREZA JURDICA DO CRIME DE DESCAMINHO ADUANEIRO ........................................... 48
6.4.TIPOLOGIA DO DESCAMINHO DE DIREITOS ADUANEIROS .................................................... 49
7. CRIME DE DESCAMINHO NAS IMPORTAES ...................................................................... 50
8. O CRIME DE DESCAMINHO NAS EXPORTAES .................................................................. 50
9. O CRIME DE DESCAMINHO NOS REGIMES ESPECIAS ........................................................... 51
CAPTULO IV -DAS CAUSAS AS CONSEQUNCIAS DO CRIME DE DESCAMINHO ADUANEIRO55
1. DAS CAUSAS GEOGRFICAS ................................................................................................. 55
2. DAS CAUSAS POLTICO-ECONMICAS, PSICOLGICAS E TCNICAS .................................... 58
2.1. POLTICO-ECONMICAS ........................................................................................................ 59
2.2.CAUSAS PSICOLGICAS .......................................................................................................... 61
2.3.CAUSAS TCNICAS .................................................................................................................. 61
3. CONSEQUNCIAS E IMPACTO DO CRIME DE DESCAMINHO ADUANEIRO ....................... 63
4. CRIME DE CORRUPO E INFRAES CONEXAS.............................................................. 64
5. GOVERNAO TRIBUTRIA E PASSOS CONEXOS ................................................................. 68
5.1.TICA E ADMINISTRAO PBLICA .................................................................................... 68
5.2.MORAL NO EXERCCIO DA ATIVIDADE TRIBUTRIA ........................................................... 69
5.2.1. FUNCIONRIOS............................................................................................................... 71
5.2.2. DESPACHANTES ADUANEIROS ....................................................................................... 71
5.2.3.TCNICOS DE CONTA ....................................................................................................... 74
CAPTULO V -PERSPECTIVAS PARA ULTRAPASSAR O CRIME DE DESCAMINHO ........................ 75
1. TRANSPARNCIA TRIBUTRIA .............................................................................................. 75
2. EDUCAO E CIDADANIA TRIBUTRIA ................................................................................. 75
3. INTEGRAO ECONMICA REGIONAL ................................................................................. 76
4.QUANTO VALE E O PORQU DO SABER QUEM (KNOW WHO) NAS REAS TRIBUTRIAS? ...... 80
4.1.HIPER-CONEXO TRIBUTRIA ............................................................................................ 82
5.ANLISE DAS MEDIDAS PROPOSTAS PARA COMBATE DO CRIME DE DESCAMINHO ............... 83
CONCLUSO ................................................................................................................................................................ 86
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BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................................... 89
ANEXOS ......................................................................................................................................................................... 94
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LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 1- Sistema tributrio moambicano.......................................................................................................32 Figura 2 - Fuso da DGA e DGI.......................................................................................................................36 Figura 3 - Pases membros da SADC ...............................................................................................................77 Figura 4 - Conexes e fontes de informao gerados na AT (DGA) ................................................................83
Tabela 1 - Evoluo da receita dos anos 2001-2005 ........................................................................................34 Tabela 2 - Tabela de Penalizaes por mau comportamento ............................................................................68 Tabela 3 - Importadores de Moambique proveniente da SADC .....................................................................79 Tabela 4 - Evoluo da receita de 1999 a 2012 ................................................................................................84
ndice Anexos Anexo 1 - Acrdo do Tribunal Administrativo de Moambique ....................................................................95 Anexo 2 - Acrdo do supremo tribunal de justia portugus ..........................................................................97 Anexo 3 GLOSSRIO ..................................................................................................................................98 Anexo 4 - JORNAL NOTCIA DE 16 DE ABRIL DE 2010 ...........................................................................99
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LISTA ABREVIATURAS
AT-Autoridade Tributria de Moambique
ATAF- Associao Africana das Administraes Tributrias
CTA-Confederao das Associaes Econmicas de Moambique
CNUCC-Conveno das Naes Unidas contra a Corrupo
CEDSIF-Centro de desenvolvimento de sistemas financeiros do Estado
DGA-Direo Geral das Alfndegas
DGI-Direo Geral das Impostos
ESAAMLG- Grupo para o branqueamento de capitais e crimes conexos
EGRSP-Estratgia global da reforma do setor pblico
E.U.A- Estados Unidos da Amrica
FMI-Fundo monetrio internacional
JUE-Janela nica Eletrnica
GCCC-Gabinete central de combate a corrupo
LGT-MOZ-Lei geral Tributria Moambicana
LGT-PT-Lei geral Tributria Portuguesa
IVA-Imposto sobre Valor Acrescentado
IRPC-Imposto sobre pessoas coletivas
IRPS-Imposto sobre Pessoas Singulares
OCDE-Organizao para o desenvolvimento econmico
OMA-Organizao Mundial das Alfndegas
OMC-Organizao Mundial do Comrcio
PRES- Programa de reabilitao econmico e social
RGIT-Regime Geral das Infraes tributrias de Portugal
SADC-Comunidade para o Desenvolvimento da frica Austral
USAID-Agncia Internacional para o desenvolvimento dos Estados
ZCL-Zona de Comrcio Livre
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1. INTRODUO
Este trabalho tem como tema principal os crimes tributrios aduaneiros, com
enfoque para o descaminho aduaneiro em Moambique, que visa analisar o tratamento
deste tipo legal de crime luz da legislao em vigor verificando a eficcia da
legislao assim como o impacto das sucessivas reformas legislativas e administrativas
que esto em curso.
Os cidados no geral e os agentes econmicos em particular desprezam os
deveres fiscais, considerando moralmente lcito o incumprimento das respetivas
normas; este incumprimento tem por vezes como desculpa a considerao de que ao
pagamento do imposto corresponde uma atividade por parte do Estado (Machado &
Costa, 2009).
Os ordenamentos jurdicos modernos colocam como encargos ou funes do
Estado, a falta de compreenso, por parte dos agentes econmicos, quanto ao assunto da
obrigatoriedade de pagamento de imposto ou demais imposies. Os impostos
provenientes de arrecadao de natureza aduaneira em Moambique sempre mereceram
proteo penal, quer fosse de natureza criminal ou administrativa.
Moambique por ser um pas que sobrevive de importaes e exportaes, para
alm da componente legislativa, tem aspetos importantes que devem ser considerados,
para que a reduo dos crimes do tipo proposto seja notria, e que sero elencados.
Estes esto relacionados com aspectos de educao e cidadania.
A educao e a cidadania so caminhos usados na consciencializao e
inculcao dos valores aceites na sociedade. A cidadania foi proposta por Thomas
Hobbes quando procurou estabelecer as diferenas prprias do ser humano e a questo
da cidadania (Centro de Investigao em Educao -Universidade de vora, 2006).
Para pases membros da unio europeia do qual Portugal faz parte a experincia
tende a ser diferente da moambicana, pois grande parte dos pases da unio europeia
tem apostado na educao pois a educao cvica que os torna detentores de melhores
resultados nos aspetos relacionados com o pagamento de impostos e demais imposies.
Sendo certo que;
os Estados membros da Comunidade Europeia tm mantido a sua soberania em
matria de tributao e de infraes fiscais, no menos certo que a evaso e a
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fraude fiscais so problemas comuns a todos os Estados membros da Comunidade
Europeia, num contexto de mercado interno(C. M. Ferreira, 2008, p. 4).
1.1.OBJETO DO ESTUDO
Pela lei 1/2006 de 22 de Maro foi criada a Autoridade Tributria de Moambique
(AT) que um rgo do Estado e, segundo o n 3 do artigo 4 desta lei, ela tem como
tarefas principais: (i) a execuo da poltica tributria e aduaneira assim como a
administrao dos seus servios; (ii) planificao e controlo das atividades e sistemas de
informao; (iii) formao e qualificao dos recursos humanos1.
Pela lei 2/2006 de 22 de Maro foi aprovada a Lei Geral Tributria (LGT-MOZ) que
estabelece os princpios que regem o sistema tributrio moambicano. Esta lei, tambm
enuncia os poderes da administrao tributria. Nela, estabelecem-se os princpios
gerais do ordenamento jurdico moambicano aplicados a todos os tributos nacionais e
autrquicos de Moambique (Lei Geral Tributria Moambicana, 2006).
Desde 1996, vinha sendo introduzido um conjunto de outras medidas de impacto no
mbito da tributao e nos instrumentos de controlo e disciplina aduaneira, incluindo a
reformulao da pauta aduaneira e das respectivas instrues preliminares (Vasques,
1998). Neste mesmo perodo, iniciava a reforma do sector aduaneiro, cuja gesto esteve
a cargo da firma Britnica Crown Agent (Crown Agents, 1996-2007). Este conjunto de
medidas e reformas teve seu impacto num perodo especialmente crtico no
desenvolvimento econmico do Pas, onde quaisquer medidas tomadas poderiam ter
impacto na sociedade.
Para prossecuo deste trabalho, em primeiro lugar, apresenta-se o panorama do
sistema tributrio moambicano e a sua evoluo nos ltimos dez anos. Neste contexto,
o presente estudo tem como objetivo geral refletir e avaliar o impacto da reforma tributria
iniciada em 1996 com a criao aprovao da pauta aduaneira, da reforma efetuada pela
Crown Agents, assim como a reforma de 2006 decorrente da criao da AT e da aprovao
da Lei Geral Tributria, com enfoque para o crime de descaminho aduaneiro.
Os objetivos especficos sero os de aferir a ligao das reformas tendo em conta os
objetivos proclamados pelo Governo, designadamente: o alargamento da base tributria do
Pas; de reduo da carga fiscal sobre os atuais contribuintes; de modernizao e
simplificao de sistemas e procedimentos.
1 http://www.at.gov.mz/ acesso em 13 de Abril de 2013
http://www.at.gov.mz/
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1.2.QUESTO DA PESQUISA
A pergunta de pesquisa ser formulada nos seguintes termos: Existindo um histrico
recente de reformas legislativa, administrativa e tecnolgica como se justificam os
ndices elevados de descaminho de direitos aduaneiros nos ltimos anos? A resposta
ser dada formulando as seguintes questes que operacionalizaro o trabalho: (i) o que
influencia o recurso prticas ilcitas? (ii) Quais as reias causas e consequncias das
infraes? (iii) Qual a importncia da mitigao das infraes?
O Estado moambicano tem investido em elevadas quantias, tendentes a combater a
fuga ao fisco e outros ilcitos, informando o pblico em geral e os intervenientes no
processo de desembarao aduaneiro em particular, que as plataformas tecnolgicas em
curso (janela nica e e-tributao) estaro em condies de cruzar a informao da
coleta dos direitos aduaneiros e demais imposies com a informao dos impostos
internos (MCNet-Moambique, 2011-2013). O cruzamento da informao entre a DGA
e a DGI, poder tornar a fuga ao fisco mais fcil de identificar. Esta ao trar
exigncias acrescidas aos tcnicos tributrios, onde estes devero por sua vez atuar de
forma exemplar, dotados de conhecimentos especficos para colmatar estas e demais
situaes ilcitas.
1.3.DELIMITAO DO ESTUDO
Na senda destas questes, importa delimitar o estudo, pois pelo ttulo do trabalho
remete-se certamente a um objecto amplo. Este trabalho no visa apreciar toda a relao
entre a AT e os contribuintes, apreciar apenas os princpios relacionados com o
descaminho aduaneiro; no sero exaustivamente analisados aspectos dos crimes
aduaneiros no seu todo, apenas os que tm certa afinidade com o descaminho aduaneiro,
neste caso o contrabando.
O trabalho, procurar efetuar a anlise tendo em conta a legislao existente, e
baseado nesta, identificar as causas e consequncias assim como definir algumas
perspectivas tendentes a mitigar os crimes em causa com recurso as boas prticas
internacionais. Estas prticas tendem a ser adotadas em todos os sistemas tributrios
modernos. Estamos cientes de que as perspectivas e os princpios que propusermos,
fornecero de certa forma os critrios para a tomada de deciso por parte dos gestores
da AT.
Este trabalho no abranger todos os problemas resultantes da prtica do crime de
descaminho aduaneiro, com materializao no Direito Penal Tributrio. Para a
materializao das questes e dos objetivos, h necessidade de se fazer o
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enquadramento do sistema tributrio moambicano, atravs de uma anlise comparada,
com enfoque no sistema portugus. Avaliaremos o papel das reformas feitas ao sistema
tributrio moambicano, com o objetivo de as aproximar aos padres internacionais.
E em ltimo, ser feita uma breve anlise tendo em conta os aspectos que propiciam
o recurso a este tipo de crime, assim como solues para mitigao dos mesmos. neste
captulo onde se analisar as conexes das vrias reas de estudo, com maior enfoque
para a gesto de conhecimento.
1.4.MOTIVAO
A principal motivao para a escolha deste tema de ordem pessoal, e foi-se
criando ao longo dos anos, como profissional da rea tributria e tendo acompanhado
por dentro a existncia de situaes que influenciam na materializao do crime de
descaminho. Outro aspeto prende-se com o facto de ter anseio de compreender o
fenmeno dos crimes contra a ordem tributria no processo de desenvolvimento do
Estado de Justia tributria em Moambique, so de referir, em primeiro lugar, a
utilidade e relevncia da anlise e estudo nos perodos propostos de modo a
compreender as origens e evoluo. Assim como, a existncia de poucos estudos sobre a
evoluo do sistema tributrio em Moambique.
1.5.METODOLOGIA
Sobre a evoluo e anlise do sistema tributrio desenvolvido em Moambique ao
longo deste perodo h a destacar as obras de Jorge Gomes Seplveda: Causas e efeitos
de Descaminho de direitos aduaneiros-1944, Srgio Vasques da Direo Geral dos
Impostos de Portugal de 1998- Cincia e Tcnica Fiscal 392 de Outubro a Dezembro de
1998, a obra de Fiscalidade de Ibraimo Ibraimo. Para a anlise das vrias matrias
relacionadas com os crimes tributrios e matrias conexas h que destacar as obras de
(S. A. D. Sousa, 2009), (Machado & Costa, 2009), (Rodrigues, 2007) Anlise
econmica do direito e por ltimo os relatrios da Autoridade tributria, relatrios do
Fundo monetrio Internacional (FMI) e United States Agency International
Development (USAID).
Para o trabalho, no que concerne a gesto do conhecimento ser desenvolvido tendo
como recurso principal a obra (S. Harryson)
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1.6.MTODO E ORGANIZAO DA DISSERTAO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa baseada na anlise documental assim como
a anlise de dados colhidos a partir de consulta de material bibliogrfico citado (M. J.
Sousa & Baptista, 2011).
Este trabalho estrutura-se em cinco captulos. O primeiro captulo faz um
enquadramento terico e conceptual do tema desta investigao, onde so definidos
conceitos bsicos da rea tributria. No segundo captulo fez-se um breve
enquadramento da evoluo histrica do sistema tributrio moambicano. No terceiro
captulo procuramos efetuar uma anlise comparativa usando com referncia cinco
ordenamentos jurdicos e tambm ser feita uma observao tendo em conta o Direito
moambicano.
No quarto captulo procurar-se- verificar as causas e consequncias do crime de
descaminho assim como as infraes conexas. No quinto captulo procuramos avanar
com um conjunto de aspetos que podem influenciar na mitigao do crime de
descaminho, que se resumem em transparncia, educao tributria, a questo da carga
fiscal elevada, deficincias na gesto de informao e conhecimento, corrupo e
aspetos ligados a cidadania. Procura-se estabelecer conexo com estes conceitos de
modo a que as solues propostas sejam possveis.
Por ltimo, sero apresentadas as concluses deste trabalho. As concluses sintetizam
esta investigao e, em primeiro lugar, procuram avaliar se as circunstncias de
investigao se verificam e, em seguida, responder questo de investigao, ou seja,
que perspetivas existem para ultrapassar a prtica de crimes contra a ordem tributria,
com especial enfoque para o descaminho aduaneiro. As sugestes avanadas para
combater este tipo de infrao aduaneira, avanam-se alguns aspectos relacionados com
a transparncia, educao tributria, aspetos ligados cidadania e gesto do
conhecimento.
Apesar da limitao de dados e de por vezes estes no serem totalmente
comparveis, pretende-se ter uma noo aproximada de como tem sido a evoluo de
Moambique quando comparado com outros pases que estejam em nveis mais
avanados, assim como os dados de receitas arrecadadas antes e depois das reformas em
curso.
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CAPTULO I- ENQUADRAMENTO TERICO E CONCEPTUAL
1. CONTEXTUALIZAO
O presente captulo tem como objetivo a contextualizao e introduo genrica
dos principais conceitos relevantes para a concretizao dos objetivos desta dissertao,
de forma a analisar e escolher as melhores solues para adoo de melhores prticas
para a mitigao do crime de descaminho aduaneiro.
O comportamento racional dos indivduos est na base da procura de
minimizao dos encargos fiscais por parte do contribuinte (Machado & Costa, 2009).
Vrios autores divergem acerca da conceo em si do homem-homo
economicus, desde autores de psicologia cognitiva ou neurocincias que esto na
origem da nova corrente de anlise econmica do Direito(Machado & Costa, 2009).
Machado e Costa consideram que o ser humano, nas decises que toma,
procura maximizar o seu prazer e minimizar os seus custos(Machado & Costa, 2009).
Deste modo, pode-se concluir que o contribuinte ou agente econmico sempre ter
tendncia de fazer escolhas que se apresentem como melhores, pois analisando a
situao da legislao a que est sujeito, naturalmente, este tender a usar todos os
artifcios que o levaro ao caminho fiscalmente menos oneroso, podendo desde logo
falar-se numa propenso prpria do ser humano em minimizar os encargos fiscais
(Machado & Costa, 2009).
A predisposio inata do ser humano a que se faz referncia deve ser guiada por
comportamentos ticos que devem ser inculcados aos intervenientes no processo de
desembarao aduaneiro (Machado & Costa, 2009). A integridade, a transparncia e
outros valores morais devero ser chamados colao de modo a conciliar boas
prticas, princpios que promovam polticas sustentveis e aceites como exemplares
(Machado & Costa, 2009).
O que motiva o Estado a arrecadar tributos de diversa ordem a necessidade de
arrecadar recursos de modo a atingir os seus fins (S. A. D. Sousa, 2009).
A arrecadao garantir o sustento e materializao do bem comum que a razo da
existncia do Estado. Moambique um Estado Democrtico e de Direito, onde a ideia
de bem comum est constitucionalmente prevista, por isso mesmo, existe uma
vinculao e o bem comum corresponde concretizao dos objetivos e princpios
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constitucionalmente postos, especialmente mediante a realizao dos direitos
fundamentais (Constituio de Moambique, 2004; S. A. D. Sousa, 2009).
Vasco Rodrigues, considera que, sendo o crime uma conduta indesejvel,
tipificada na lei, e a que esta faz corresponder a aplicao de uma pena. E a pena
uma sano que no corresponde mera obrigao de indemnizar aqueles cujos direitos
foram postos em causa pela dita conduta(Rodrigues, 2007, p. 205).
O crime de descaminho encontra a sua materializao no direito penal e nele
que o estado procura combater o tipo legal de crime, tomando medidas duras tendentes
a proteger a sociedade dos vrios males (Lei Geral Tributria Moambicana, 2006).
na senda desta premissa que no presente trabalho procuraremos analisar as fases das
reformas na legislao tributria moambicana. Na senda destas sucessivas reformas
discutem-se diferentes teorias tendentes a explicar a questo do crime.
Segundo Vasco Rodrigues, de acordo com a teoria econmica, os indivduos
escolhem a atividade a que se querem dedicar de forma a maximizarem a sua utilidade.
Ou mais precisamente, a sua utilidade esperada: as decises so tomadas em funo de
expectativas em relao ao futuro(Rodrigues, 2007, p. 208).
Nesta ordem de ideias o crime no geral considerado uma atividade que pode
ser escolhida como forma de obter a utilidade. Os agentes econmicos de m-f tambm
fazem escolhas tendentes a alcanar os seus intentos.
2. ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO E DEFINIO DE
CONCEITOS
A atividade financeira do Estado moambicano liga-se ao processo da arrecadao
das receitas pblicas assim como realizao de despesas que visam o fim de satisfao
de necessidades coletivas (Constituio de Moambique, 2004) (S. A. D. Sousa, 2009).
A base do sistema tributrio o Direito Fiscal, para aclarar os conceitos tornou-se
necessrio definir os conceitos de direito fiscal e direito tributrio, por se ter notado que
existem vrios posicionamentos em relao a definio destes conceitos. O nosso
posicionamento em relao a esta discusso cinge-se na definio proposta por
(Ibraimo, 2002).
Direito Fiscal o conjunto de normas jurdicas que disciplinam as relaes
que se estabelecem entre o Estado e os outros entes pblicos, por um lado, e os
cidados, pelo outro, por via de imposto(Ibraimo, 2002, p. 18) .
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Direito Tributrio tem sido considerado sinnimo do Direito Fiscal, porm
existem autores que consideram que o direito tributrio, para alm de regular aspetos de
imposto, abarca alguns aspectos relacionados com as taxas e outras receitas pblicas
(Ibraimo, 2002).
Aliada a esta distino importa fazer referncia ao direito aduaneiro que muitas das
vezes definido como a relao que se estabelece no decurso do comrcio
internacional, quando se verifica entrada ou sada e mercadorias.
No presente trabalho o direito tributrio ser considerado como sendo o direito
que abarca a generalidade de impostos, sendo eles fiscais ou aduaneiros. Para melhor
anlise do sistema tributrio moambicano, importa abordar aspetos referentes a
atividade financeira do Estado.
A atividade financeira do Estado justificada, na medida em que so evidentes
necessidades pblicas que so resolvidas com meios econmicos tais como: taxas,
impostos, emprstimos, receitas patrimoniais (Constituio de Moambique, 2004; S.
A. D. Sousa, 2009).
Susana Aires de Sousa citando (Nabais, 2006) considera,
as taxas como prestaes pecunirias que derivam de servios pblicos
ou bens semipblicos prestados pelo Estado e outras entidades pblicas,
cujo aproveitamento pressupe o pagamento pelos utentes de uma
importncia prvia fixada como contrapartida do servio prestado,
podendo ser inferior ou igual ao custo(S. A. D. Sousa, 2009, p. 20).
Susana Aires de Sousa, entende que os impostos so prestaes pecunirias
fixadas unilateralmente pelo Estado e outros entes com carcter coativo, definido e sem
qualquer contrapartida, e constituem a maior fonte de obteno de receitas que o Estado
cobra (S. A. D. Sousa, 2009, p. 18).
Receitas patrimoniais derivam de patrimnio privado do Estado ou outras pessoas de
direito pblicos susceptveis de produzir rendimentos, o caso de terras, fbricas,
rendas de prdios rsticos (Nabais, 2006).
O sistema tributrio moambicano preserva os princpios da imparcialidade, da
equidade, da no discriminao, da territorialidade, da transparncia, da reciprocidade, da
simplicidade, da nacionalidade e da eficincia (Autoridade Nacional da Funo Pblica,
2006; Constituio de Moambique, 2004; Lei Geral Tributria Moambicana, 2006).
Os impostos so a base dos sistemas tributrios, inserindo-se na categoria das
receitas tributrias. Estas so prestaes devidas pelo contribuinte ao Estado ou a
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qualquer outra entidade de Direito Pblico, no tendo qualquer carcter punitivo ou
contratual e que tm como fundamento a existncia de um dever geral dos cidados em
participar na cobertura das necessidades pblicas (S. A. D. Sousa, 2009). Assim, as
contribuies ou tributos no so mais do que prestaes pecunirias devidas pelos
contribuintes a entidades pblicas com a finalidade de satisfao das necessidades
financeiras do Estado (S. A. D. Sousa, 2009) (Legislao, 2012 e 2013).
3. DIREITO ADUANEIRO
Os direitos aduaneiros so um dos mais antigos impostos cobrados pelos
Estados, foram aplicados na antiguidade pelos romanos nos territrios ocupados e
faziam sobre as mercadorias o imposto desigando portorium e que foi mais tarde
designado por doan(Centro de Estudos Fiscais, 1998). Este tipo de impostos para
alm de ser considerados principais fontes do Estado tambm tem um papel de proteger
as indstrias nacionais, face a concorrncia dos produtos importados; Este papel
protecionista tender a crescer em Moambique pelo facto de estar a caminhar
largamente para a materializao da Integrao econmica regional (Centro de Estudos
Fiscais, 1998).
As especificidades tcnicas do direito aduaneiro (classificao da mercadoria na
pauta aduaneira, regimes aduaneiros, cdigo pautal, etc.) no o afastam do direito fiscal,
apesar de existirem discusses doutrinrias sobre os conceitos (Centro de Estudos
Fiscais, 1998).
No presente trabalho o direito aduaneiro considerado parte do direito fiscal ou
tributrio, na medida em que considerou-se que visa assegurar a cobrana dos direitos
aduaneiros e demais imposies. O direito aduaneiro apresenta um mbito mais amplo
na medida em que compreende normas de circulao de mercadorias ao nvel regional e
internacional (Centro de Estudos Fiscais, 1998).
Ao nvel regional e internacional de evidenciar os aspetos decorrentes dos
atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos da Amrica que acabaram
influenciando nas medidas de controlo ao nvel da regio e do mundo, pois o direito
aduaneiro passou a ter novos instrumentos jurdicos que tem em vista o reforo da
segurana internacional (Centro de Estudos Fiscais, 1998).Para alm de existir regras
gerais de desembarao que visam o controlo de mercadorias contrafeitas, mercadorias
proibidas, trfico de droga, trfico de armas, transporte e trnsito de mercadorias
perigosas para a sade pblica e para o ambiente.
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27
4. INFRAES TRIBUTRIAS
As infraes tributrias surgem na senda da tentativa da minimizao dos
encargos fiscais.
Os comportamentos dos agentes econmicos, com o intuito de minimizarem os
respectivos encargos fiscais que so por lei proibidos, por vezes infringem a lei, com
recurso a artifcios fraudulentos (Machado & Costa, 2009).
Segundo (Machado & Costa, 2009) o contribuinte que infringe a lei tributria de forma
direta, prtica uma fraude fiscal em sentido amplo, sendo esta prtica contrria lei.
Contudo, considera-se fraude fiscal quando o contribuinte opta por comportamentos
contrrios lei, que a lei tipifica como crime ou como contraordenao fiscal (Machado
& Costa, 2009, p. 46).
Estes comportamentos so no ordenamento moambicano, punidos nos termos da LGT-
MOZ e, no ordenamento portugus, punidos nos termos do Regime jurdico de
Infraes Tributrias (RGIT-PT), aprovado pela lei 15/2001, de 5 de Junho. O captulo
da LGT-MOZ define as regras gerais dos crimes tributrios e as respetivas penas (Lei
Geral Tributria Moambicana, 2006).2
Os captulos III e IV desta lei fazem uma destrina dos crimes tributrios no-
aduaneiros e os crimes tributrios aduaneiros. Os crimes tributrios no aduaneiros so:
(i) A fraude fiscal (Art.199); (ii) Fraude fiscal qualificada (Art.200); (iii) Abuso de
confiana fiscal (Art.201); (iv) Recusa ou obstruo fiscalizao ou investigao das
autoridades no aduaneiras (Art.202); (v) Frustrao de crditos fiscais (Art.203).
Por seu turno, os crimes tributrios aduaneiros so: (i) Contrabando (Art.204); (ii)
Descaminho de direitos aduaneiros (Art.206); (iii) Introduo fraudulenta no consumo
(Art.208) (iv) Fraude s garantias fiscais aduaneiras (Art.209).
Por questes relacionadas com delimitao do tema centrar-nos-emos na questo
dos crimes aduaneiros, concretamente no crime de descaminho de direitos aduaneiros.
Em Moambique, o descaminho foi identificado e legislado na poca colonial,
por volta de 1852. Este comeou por ser tipificado como crime comum, concretamente
nos termos do que dispunha o artigo 280 do cdigo penal de 1852 (Governo, 1852)3.
Com a alterao legislativa de 1886 o descaminho continuou a ser tipificado como
crime no artigo 280 (Dirio do Governo, 1886)4. Permaneceram como crimes
2 Artigo 181 lei 2/2006 de 22 de Maro de 2006
3www.fd.unl.pt/anexos/investigao/1829 acesso em 16/03/2013
4 www.fd.unl.pt/Anexos/Investigao/1274 acesso em 16/03/2013
http://www.fd.unl.pt/anexos/investigao/1829http://www.fd.unl.pt/Anexos/Investigao/1274
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tipificveis no direito penal at 1941 aquando da aprovao do Decreto 31664
(contencioso aduaneiro), de 22 de Novembro de 1941 (C. M. Ferreira, 2008).
O Contencioso Aduaneiro, instrumento jurdico em vigor, dispe tambm que as
infraes fiscais so os delitos e transgresses fiscais (Lei Geral Tributria
Moambicana, 2006).5
Aps a independncia de Moambique, em 1975, ocorreram vrias reformas
sendo de destacar as de 1977,1987 e de 2006.A reforma legislativa de 2006 trouxe uma
organizao e categorizao das infraes tributrias no seu todo. Destacando,
concretamente, a questo do captulo na LGT-MOZ, referente aos crimes contra a
ordem tributria e um subcaptulo para os crimes aduaneiros, onde se destacam o
descaminho de direitos aduaneiros e o contrabando.
deste modo que se pode completar a ideia de que o crime de descaminho
uma prtica antiga, mudando de conceito em algumas situaes pois existem figuras
afins a esta que fazem com que seja confundida com outras prticas.
O n 1 do art. 181 da LGT-MOZ define infraes tributrias como sendo todos
os factos tpicos, ilcitos e culposos declarados punveis pelas leis tributrias (Lei Geral
Tributria Moambicana, 2006). As infraes tributrias podem ser crimes,
contravenes ou transgresses. Se o mesmo facto constituir em simultneo crime e
contraveno ou transgresso, o agente punido a ttulo de crime, sem prejuzo das
penas acessrias aplicveis ltima espcie de infraes (Lei Geral Tributria
Moambicana, 2006).
Carlos Manuel Ferreira considera que, em Portugal e Moambique por razes
histricas,
O direito fiscal de natureza punitiva criminal, concretamente o relativo
a infraes a normas fiscais aduaneiras, comeou por fazer parte
integrante do chamado direito penal clssico ou primrio, onde o crime
aduaneiro por excelncia o contrabando comeou por ser um crime
comum, comeando por ser tipificado no art. 279 do Cdigo Penal de
1852 e depois tambm no artigo com o mesmo nmero do Cdigo Penal
de 1886, sendo que neste a penalidade aplicvel no fazia parte daquele
tipo legal, mas do artigo 281, assim permanecendo at finais de 1941,
altura em que as infraes quelas normas quer de natureza criminal,
quer de natureza administrativa foram autonomizadas no Contencioso
55 Lei 2/2006 de 22 de Maro de 2006
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29
aduaneiro, aprovado pelo Decreto-lei n 31664, de 22/11/1941,
passando a fazer parte do universo do direito penal secundrio, onde
ainda hoje se mantm (C. M. Ferreira, 2008, p. 6).
O Contencioso Aduaneiro assim como o n1 do art n.. 206 da LGT-MOZ
tipificam o delito de descaminho como,
Toda a ao ou omisso fraudulenta que tenha por fim retirar das
alfndegas6 ou passar atravs delas quaisquer mercadorias sem serem
submetidas ao competente despacho ou mediante despacho com falsas
indicaes, de modo a obter a entrada ou sada de mercadorias de
importao ou exportao proibida, quer a evitar o pagamento total ou
parcial dos direitos e mais imposies estabelecidos sobre a importao
ou exportao (Governo de Moambique, 1962).7
Para alm da tipificao nos instrumentos legais acima citados, aplicam-se
subsidiariamente consoante a natureza das matrias, o cdigo civil, o cdigo do
processo civil, o cdigo penal, o cdigo do processo penal e legislao administrativa
substantiva tendo em conta o disposto no n 3 do artigo 2 da LGT-MOZ (Lei Geral
Tributria Moambicana, 2006).
Os requisitos essenciais que devem caracterizar o delito de descaminho esto
descritos no n2 do artigo 206 da LGT-MOZ. O crime de descaminho materializa-se
com uso de artifcios fraudulentos que vo at a sujeio de despachos aduaneiros com
fraude ou movimento de mercadorias, com o fim de lesar o Estado ou no observar
formalidades legais (Lei Geral Tributria Moambicana, 2006).
6 Alfndegas o local onde o desembarao das mercadorias efetuado.
7 Conforme o artigo 42 do contencioso aduaneiro em vigor em Moambique.
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30
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CAPTULO II- EVOLUO E ENQUADRAMENTO HISTRICO DO
SISTEMA TRIBUTRIO MOAMBICANO
1. SISTEMA TRIBUTRIO
Aps a independncia Moambique teve dificuldades na organizao
administrativa pela sada em massa dos profissionais portugueses. A falta de
funcionrios capazes de assegurar o dfice, motivada pela sada em massa dos
funcionrios portugueses, afetou a administrao moambicana (Soiri, 1999).
A guerra de desestabilizao que ocorreu no perodo ps-independncia,
arruinou a economia moambicana particularmente o sistema financeiro (Soiri, 1999).
Estas situaes trouxeram impactos negativos situao financeiros, poltica e
econmica de Moambique (Soiri, 1999).
A reforma administrativa moambicana pertence histria recente da Administrao
Pblica moambicana e enquadra-se no conjunto de reformas econmicas e
administrativas iniciadas em 1986 com o abandono do modelo do Estado unitrio e
centralizado, e a adoo da economia de mercado (Soiri, 1999).
Em 1987 adotou-se o Programa de Reabilitao Econmica e Social (PRES). O
governo teve que aumentar os nveis de investimento privado, para tal adotou medidas
tendentes a melhorar o sistema tributrio nacional, desencadeando deste modo a reforma
fiscal, com o intuito de aumentar a arrecadao de impostos. A reforma fiscal
moambicana incluiu a reforma aduaneira que iniciou em 1996 (Soiri, 1999).
Em 1998, os instrumentos jurdico-tributrios foram substitudos tornando-se
mais competitivos e harmonizados, tendo em conta as boas prticas internacionais,
baseadas na confiana (USAID, 2009).
Os estudos produzidos sobre a criao e evoluo histrica do sistema tributrio
em Moambique no tm sido abundantes, mas existem j um conjunto de trabalhos
importantes, que analisam as origens e o processo de evoluo do sistema tributrio
moambicano, ainda que no de forma aprofundada. porm de realar o contributo
cientifico de (Vasques, 1998) (Ibraimo, 2002), (Mosse, 2004).No que tange a anlises
de dados, em que se efetuem comparaes com enfoque ao tipo legal de crime proposto
quase que inexistente.
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32
A base do sistema tributrio moambicano -nos dado pelo art.. 100 da
Constituio da Repblica de Moambique (CRM), onde se fixa que os impostos so
criados por lei e estes so fixados tendo por base os critrios de justia social.
O sistema tributrio moambicano constitudo por impostos diretos e impostos
indiretos. A atuao destes faz-se sentir a vrios nveis, sendo de destacar: a tributao
direta dos rendimentos e da riqueza e a tributao indireta que incide sobre nveis de
despesa dos cidados (Ibraimo, 2002), conforme ilustra a figura n 1. de referir que a
tributao direta compreendida pelo imposto de rendimento de pessoas coletivas
(IRPC) e o Imposto sobre o rendimento de pessoas singulares (IRPS) (Ibraimo, 2002).
No que concerne tributao indireta de destacar o imposto sobre o valor
acrescentado (IVA), que incide taxa geral de 17% sobre a transao dos bens e
servios, incluindo os direitos e demais imposies para todos os regimes aduaneiros
existentes no territrio moambicano. Para alm destes tipos de imposto h que destacar
o Imposto simplificado para pequenos contribuintes, que aprovado pela Lei n 5/2009,
de 12 de Janeiro, este imposto de carter optativo, surge como forma de alargar a base
tributria, uma vez que at 2008 o sistema tributria moambicano s tinha um registo
de cerca de 10% do contribuinte e os restantes 90% fora do sistema tributrio, vide
anexo 4 e (Autoridade tributria de Moambique, 2010/2011).
Figura 1- Sistema Tributrio Moambicano
Fonte: Adaptado
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33
2. REFORMA DAS ALFNDEGAS
Moambique tem registado avanos a nvel econmico, poltico e social desde a
assinatura dos acordos gerais de paz em 1992 e a adoo do sistema multipartidrio que
culminou com as eleies em 1994. Apesar das melhorias que iam decorrendo na
administrao tributria moambicana, eram contnuas prticas desfavorveis para uma
administrao pblica que se preze. Algumas destas atitudes eram influenciadas por
prticas de corrupo e crimes conexos o que influenciava negativamente para o
investimento privado internacional (Vasques, 1998).
As reformas em curso na administrao pblica onde est includa a rea
tributria, devero ter em conta as possveis influncias tendentes a mitigar a prtica de
crimes, garantindo deste modo a estabilidade e crescimento econmico de Moambique.
As deficincias do controlo interno, tornaram claro que a reforma pautal que
estava em curso, iniciada em 1996, necessitava de mais interveno concretamente nos
recursos humanos, modernizao e o sistema de controlo interno em si (Vasques, 1998).
A reforma da tributao aduaneira inicia-se com o decreto 42/96 de 15 de
Outubro, onde se aprova a pauta. O sistema de tributao sofre vrias alteraes e torna-
se mais simplificado (Vasques, 1998).
A pauta aduaneira apresentada pelo governo moambicano como um
instrumento privilegiado e as caractersticas principais do sistema aduaneiro foram
harmonizadas com as prticas elencadas pelas organizaes internacionais para os
pases em desenvolvimento (Vasques, 1998).
Segundo Srgio Vasques,
de um modo geral, pois pode dizer-se que a pauta de 96 corresponde,
melhor que a de 91 ao figurino que o fundo monetrio Internacional tem
proposto para os pases em vias de desenvolvimento. Reduz-se ao
mnimo necessrio de bens sujeitos a taxas agravadas por razes de
proteo econmica ou o nmero daqueles sujeitos a taxas reduzidas,
por razes de proteo social. Em seu lugar, domina uma taxa branda
mais alargada, capaz de combinar receitas importantes com o nvel
mnimo de proteo econmica e algum conforto social(Vasques,
1998a, p. 17).
As reformas desencadeadas assinalaram um progresso no sistema tributrio
nacional. Deste modo, surge o processo de reforma das Alfndegas, que se iniciou em
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34
1996. Esta foi levada a cabo pela firma Britnica Crown Agents e teve como objectivo
criar em Moambique um servio de Alfndegas moderno e eficiente, incluindo uma
melhoria na colecta de receitas para o Estado. Procurou-se tambm inverter o cenrio da
decrescente arrecadao de receitas e introduzir mecanismos destinados a facilitar o
comrcio internacional tendo como base a remodelao da qualidade de servios
prestados e a reduo dos tempos de desembarao aduaneiro, sem descurar a luta contra
prticas ilcitas (corrupo, descaminho, contrabando, etc.) perpetradas pelos
funcionrios e agentes econmicos de m-f (Vasques, 1998a).
A tabela n 1 ilustra a evoluo da receita de 2001 a 2005 no perodo ps
reforma.
Tabela 1 - Evoluo da receita dos anos 2001-2005
Fonte: (Centro de Integridade Pblica Moambique, 2006)
Antes do programa de reforma a coleta de receitas pelas Alfndegas e a
qualidade dos servios prestados eram demasiado baixos. Em 2001, aps a reforma, a
gesto das Alfndegas comeou a ser gradualmente entregue aos gestores
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moambicanos que tinham sido formados na Inglaterra, frica do Sul e Noruega,
concretamente no que concerne gesto eficiente e garantir altos nveis de coleta de
receitas (Mosse, 2004).
Ao mesmo tempo que era feita a reforma nas Alfndegas eram desencadeadas mudanas
na rea dos impostos internos assim como noutras reas estratgicas na economia do
pas (Vasques, 1998).
Em Junho de 2001 o governo lanou a Estratgia global da reforma do setor
pblico (EGRSP), que orienta o conjunto das instituies pblicas tendentes a melhorar
a qualidade dos servios prestados e dar respostas sociedade, atravs da adequao do
funcionamento das instituies pblicas aos desafios internos e externos que requerem
uma cultura pblica virada melhoria nos servios prestados, tendo em conta padres
internacionais, que se baseavam em transparncia, integridades, eficincia e eficcia
(Autoridade Nacional da Funo Pblica, 2006).
Esta reforma global obedeceu a duas fases. A primeira tinha como objeto, a
criao de condies bsicas para a implementao da reforma do setor pblico, em
particular as condies organizacionais, tcnico- metodolgica e legais para a gesto da
reforma e a mobilizao de recursos financeiros e humanos. A segunda pretendia
implementar aes que respondem s prioridades do governo, em particular na
descentralizao e por outro da melhoria na prestao de servio (Autoridade Nacional
da Funo Pblica, 2006).
3. SURGIMENTO DA AUTORIDADE TRIBUTRIA DE MOAMBIQUE
no quadro destas reformas que surge a AT, criada com vista a modernizar e
fortalecer os rgos da administrao tributria, instituio pblica criada pela lei
1/2006 de 22 de Maro8. A AT resulta da aglutinao da Direo geral das
Alfndegas (DGA) e Direo Geral dos Impostos (DGI), ambas com
responsabilidade e execuo de polticas aduaneiras e fiscais.
8 www.at.gov.mz acesso em 31-01-2013
http://www.at.gov.mz/
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36
Figura 2 - Fuso da DGA e DGI
Fonte: Adaptado At 31 de Dezembro de 2011 a AT dispunha de um efetivo global de 3324
funcionrios, distribudos da seguinte forma, 1473 da rea tributria e 1851 da rea
aduaneira.
De modo a acompanhar estas reformas, a AT, tem apostado no desenvolvimento de
sistemas de informao e comunicao para responder aos desafios impostos s
organizaes da atualidade. deste modo que esto em curso vrios projetos de
modernizao tecnolgica a saber (Autoridade Tributria de Moambique, 2012):
O Projeto e-Tributao, para a gesto do contribuinte e dos impostos internos,
que est ser implementado em parceria com o Centro de Desenvolvimento de
Sistemas financeiros do Estado CEDSIF.
A Janela nica Eletrnica (JUE), para a gesto das operaes de desembarao
aduaneiro e da receita proveniente do comrcio externo, j em operao e que
est a ser implementado a partir de uma parceria pblico-privada, envolvendo
um consrcio privado, detentor do know-how, a CTA e o Estado9;
O Projeto de Modernizao dos Servios do Contribuinte que visa, numa
primeira fase a implementao e operacionalizao de uma central de
atendimento ao contribuinte, e numa segunda fase, a implementao e
operacionalizao do portal do contribuinte para permitir o envio eletrnico de
declaraes para o cumprimento das obrigaes fiscais e receo, por mesma
via, de correspondncia emitida pela administrao tributria;
9 http://www.mcnet.co.mz/ acesso em 11/02/2013
http://www.mcnet.co.mz/
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37
O Projeto para a implementao e operacionalizao de mquinas fiscais, que
permitir melhorar a gesto dos contribuintes em sede do IVA e do ISPC.
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CAPTULO III- ANLISE DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA NUMA
PERSPETIVA COMPARADA
1. DIREITO PORTUGUS
A escolha do direito portugus deve-se ao facto de existir afinidade com o
ordenamento jurdico moambicano, encontramos tambm razes histricas muito
fortes e encontramos similitude nas legislaes portuguesa e moambicana.
No que concerne ao descaminho de direitos aduaneiros a referncia ao decreto-
lei n 376-A/89 de 25 de Outubro indispensvel, fora revogado pelo artigo 2 da lei
15/2001 de 5 de Junho, faz meno ao facto de se considerar que no fcil o processo
da reforma do contencioso aduaneiro, pois nos ltimos anos a legislao atinente s
infraes fiscais aduaneiras tem conhecido vicissitudes de mais diversa natureza
(Legislao, 2012 e 2013)10
.
Salienta-se que em 1976 a entrada em vigor da constituio da repblica
Portuguesa inviabilizou a existncia dos tribunais aduaneiros como rgos competentes
para o julgamento de crimes aduaneiros, passando deste modo esfera dos tribunais
judiciais. O que restou para os tribunais aduaneiros foi apenas situaes de
transgresses fiscais aduaneiras11
.
Este dispositivo legal veio a clarificar dvidas existentes, adaptando o
contencioso aduaneiro ao direito substantivo e adjetivo, incluindo medidas polticas
tendentes a lutar contra os crimes aduaneiros.
O decreto-lei n 424/86 de 27 de Dezembro veio pr em causa a validade deste
dispositivo legal e ps em causa as transgresses fiscais aduaneiras, as quais foram
convertidas em contraordenaes12
. Este ltimo dispositivo legal tambm foi posto em
causa pela jurisprudncia portuguesa e foi urgentemente aprovado o regime jurdico
para infraes aduaneiras adequado nova realidade, a da Unio Europeia, qual
10
Lei n.15/2001 de 5 de Junho disponvel em http://www.igf.min-finanas.pt/inflegal em 20 de Maro
de 2013 11
http://www.igf.min-finanas.pt/inflegal acesso em 20 de Maro 2013 12
http://www.igf.min-finanas.pt/inflegal acesso em 20 de Maro 2013
http://www.igf.min-finanas.pt/inflegalhttp://www.igf.min-finanas.pt/inflegalhttp://www.igf.min-finanas.pt/inflegal
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40
Portugal tinha acabado de aderir, concretamente no que diz respeito s fronteiras e
espao comum13
.
Em Portugal com adeso da comunidade econmica europeia e com a integrao
das economias europeias, a aplicao do direito aduaneiro teve profundas alteraes
dado que a pauta aduaneira e outros instrumentos jurdicos dos pases europeus
sofreram algumas mudanas (Centro de Estudos Fiscais, 1998). Sendo de destacar a
existncia do cdigo aduaneiro Comunitrio que veio a sistematizar e harmonizar parte
do direito aduaneiro comunitrio que estava disperso (Centro de Estudos Fiscais, 1998).
Hoje, o direito aduaneiro comunitrio uniforme nos pases membros da unio
europeia.
O tratado da Comunidade europeia, concretamente o artigo 23 probe a
cobrana de direitos aduaneiros de importao ou exportao entre membros da unio.
A unio europeia trouxe nova realidade para o regime de infraes aduaneiras uma vez
que at 31 de Dezembro de 1992, dever-se-ia verificar um verdadeiro espao econmico
e livre de fronteiras14
.
Dentre vrios melhoramentos so de destacar a separao dos tipos de crime
agora previstos nos artigos da norma incriminadora do contrabando, justificada pelo
fato de se considerar um crime autnomo com carcter de crime de perigo, e que, por
isso, no devem ser confundidos com o contrabando de circulao.
deste modo que a Lei n 15/2001 de 5 de junho vem revogar o regime jurdico
de infraes tributrias, aprovadas pelo Decreto-Lei n 376-A/89, de 25 de Outubro, j
citado, assim como o regime jurdico das infraes fiscais no aduaneiros, aprovado
pelo Decreto-Lei n 20-A/90, de 15 de Janeiro (Legislao, 2012 e 2013).
Portugal membro da unio europeia e est sujeito a normas de direito
internacional. A constituio da Repblica portuguesa, no seu artigo 8 estabelece que
todas as normas e os princpios de direito internacional geral ou comum fazem parte
integrante do direito portugus (n. 1). As normas constantes de convenes
internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna aps a
sua publicao oficial e enquanto vincularem internacionalmente o Estado Portugus
(n. 2).
13
http://www.igf.min-finanas.pt/inflegal acesso em 20 de Maro 2013 14
http://www.igf.min-finanas.pt/inflegal acesso em 20 de Maro 2013
http://www.igf.min-finanas.pt/inflegalhttp://www.igf.min-finanas.pt/inflegal
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41
As normas emanadas dos rgos competentes das organizaes internacionais de
que Portugal seja parte vigoram diretamente na ordem interna, desde que tal se encontre
estabelecido nos respetivos tratados constitutivos (n. 3)
As disposies dos tratados que regem a Unio Europeia e as normas emanadas
das suas instituies, no exerccio das respetivas competncias, so aplicveis na ordem
interna, nos termos definidos pelo direito da Unio, com respeito pelos princpios
fundamentais do Estado de direito democrtico (n. 4)
Este preceito constitucional d azo materializao dos dispositivos internacionais;
onde, a declarao de Seoul de Setembro de 2006, resultante de reunio de diversas
administraes fiscais promovida pela Organizao para a Cooperao e
Desenvolvimento Econmico (OCDE),referiu expressamente que era necessrio efetuar
melhorarias aos mecanismos de mitigao das infraes (Legislao, 2012 e 2013)15
.
Assim, o decreto-lei 29/2008 de 25 de Fevereiro, adotou medidas tendentes a
melhorar as aes que tm sido tomadas a nvel internacional e em particular no espao
europeu (Legislao, 2012 e 2013). Outros pases como os Estados Unidos da Amrica,
o Reino Unido e o Canad vm tomando vrias aes nos seus sistemas jurdicos com
vista a reforar o combate s infraes tributrias no seu todo (Legislao, 2012 e
2013).
O relatrio da OCDE relativo s transaes eletrnicas, concluiu que os
princpios que regulam o comrcio convencional devem aplicar-se ao comrcio
eletrnico. Existem vrias diretivas que materializam este relatrio (Nabais, 2006, p.
525).
No que tange s infraes fiscais, o artigo 2 do RGIT estabelece o conceito e
espcies de infraes tributrias, onde:
1 - Constitui infrao tributria todo o facto tpico, ilcito e culposo
declarado punvel por lei tributria anterior.
2 - As infraes tributrias dividem-se em crimes e contraordenaes.
3 - Se o mesmo facto constituir simultaneamente crime e
contraordenao, o agente ser punido a ttulo de crime, sem prejuzo da
aplicao das sanes acessrias previstas para a contraordenao
(Legislao, 2012 e 2013, p. 819).
O artigo supra citado consagra vrios princpios jurdicos previstos na
constituio e em outros instrumentos jurdicos legais, concretamente na legislao 15
Prembulo do decreto 29/2008 de 25 de Fevereiro
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42
penal fiscal. A constituio da Repblica no seu artigo 29 estabelece que todos os
crimes devem constar obrigatoriamente na lei.16
Em Portugal as infraes tributrias esto organizadas em funo de quatro
matrias distintas: crimes tributrios comuns (artigos 87. a 91.), crimes aduaneiros
(artigos 92. a 102.), crimes fiscais (artigos 103. a 105.) e crimes contra a segurana
social (artigos 106. e 107.). As contraordenaes tributrias por seu turno so
aduaneiras (artigos 108. a 112.) ou fiscais (artigos 113. a 129.) (Legislao, 2012 e
2013).
Em algumas infraes, a delimitao entre crimes e contra ordenaes depende
de elementos quantitativos, designadamente em funo do valor da prestao tributria
em falta (v.g. no contrabando, artigo 92.), da vantagem patrimonial obtida pelo agente
(v.g. na fraude fiscal, artigo 103.), e na fraude contra a segurana social, (artigo 106.)
ou do valor devido no entregue (v.g. no abuso de confiana fiscal, artigo 105.
(Legislao, 2012 e 2013).
O mbito de aplicao do RGIT, salvo disposio em contrrio, alcana-se nos
factos de natureza tributria punveis por legislao de carcter especial, e s infraes
das normas reguladoras (Legislao, 2012 e 2013):
Das prestaes tributrias; salvo disposio em contrrio;
Dos regimes tributrios, aduaneiros e fiscais, independentemente de
regulamentarem ou no prestaes tributrias;
Dos benefcios fiscais e franquias aduaneiras;
Das contribuies e prestaes relativas ao sistema de solidariedade e segurana
social, que constituam crime, sem prejuzo do regime das contraordenaes que
consta de legislao especial.
Como se pode verificar vasta a lista das infraes tributrias, mas para este
trabalho s as contraordenaes que so matria de anlise.
2. DIREITO ALEMO
No direito alemo, a base do sistema tributrio a lei geral tributria, a
abgabenordnung, que vigora desde 1977, fazendo parte da mesma norma sobre
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Constituir infrao todo facto, tpico, ilcito, culposo e declarado punvel em lei tributria.
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procedimentos tributrios, responsabilidade e prescrio dos actos normativos (S. A. D.
Sousa, 2009, p. 147).
Os crimes tributrios previstos na abgabenordnung so basicamente, a fraude
fiscal steuerhinterziehung, o contrabando bannbruch, o contrabando profissional
organizado e com violncia, a receptao de mercadorias ou produtos subtrados
tributao (S. A. D. Sousa, 2009, p. 147).
No que concerne reduo do imposto por culpa grave, a colocao em perigo
do imposto retido, a colocao de perigo do imposto sobre consumo, colocao em
perigo de direitos de importao, obteno ilegtima de reembolsos e vantagens fiscais
consubstanciam ilcitos administrativos (S. A. D. Sousa, 2009).
Outro aspeto importante de citar o facto de existir uma lei prpria das
contraordenaes administrativas que aplicada de forma supletiva pelo sistema
tributrio alemo. Os ilcitos administrativos tm um carcter subsidirio perante os
crimes tributrios (S. A. D. Sousa, 2009, p. 148).
Nas palavras de Susana de Sousa a norma nuclear do direito penal alemo o
pargrafo 370, que incrimina a fraude fiscal. A lei prev que dois resultados sendo a
reduo de impostos ou obteno de vantagens fiscais no justificadas (S. A. D. Sousa,
2009).
Todo aquele que: (i) prestar declaraes inexatas ou incompletas s autoridades
tributrias sobre factos com relevncia tributria; (ii) quem tenha o dever de declarar
factos fiscalmente relevantes ou (iii) quem infringindo um dever, omita a utilizao de
carimbos ou timbres fiscais comete o crime de fraude fiscal (S. A. D. Sousa, 2009). Na
primeira parte a lei descreve um comportamento comissivo, enquanto na segunda e
terceira partes se prev em condutas comissivas(S. A. D. Sousa, 2009, p. 148).
A doutrina alem diverge em relao materializao nos termos citados do crime
de fraude fiscal. Outro aspeto que largamente discutido no Direito alemo tem a ver
com o bem jurdico protegido, estando para alguns intrinsecamente ligada a provvel
proteo da receita tributria devida (S. A. D. Sousa, 2009).Esta tese teve uma forte
presena na doutrina alem, mas no tardaria a ser objeto de crticas, dirigidas
sobretudo impossibilidade de uma qualquer aco lesar a integridade jurdica da
pretenso tributria do Estado(S. A. D. Sousa, 2009, p. 149).
Susana de Sousa, considera que, alguns autores defendem que, a fraude fiscal
no protegeria qualquer bem jurdico-penal mas antes o ordenamento jurdico fiscal,
afastando das normas penais verdadeiras, pois faltaria a tendncia tico-social e a
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referncia clara e imediata ideia de justia material. A fraude fiscal seria um acto de
desobedincia eticamente neutra (S. A. D. Sousa, 2009, pp. 148-151).
Autores identificam como sendo funes formais de tutela das obrigaes fiscais que
recaem sobre o contribuinte dever de declarar, enquanto outros consideram que o bem
jurdico protegido a repartio dos encargos sociais por todos os contribuintes (S. A.
D. Sousa, 2009). O posicionamento maioritrio alemo, de que o bem jurdico-penal
que se pretendia proteger, criminalizando a fraude fiscal, o interesse pblico em
receber a tempo e de forma completa a receita proveniente dos impostos. Para os
autores defensores desta tese, que por sinal maioritria na Alemanha a realizao da
fraude fiscal representa um ataque aos interesses patrimoniais do Estado(S. A. D. Sousa,
2009).
Nestes termos, a fraude fiscal punida com a pena de priso at cinco anos ou multa.
Em casos de especial gravidade dos fundamentos a medida penal agravada para seis
meses e dez anos de priso (S. A. D. Sousa, 2009).
A lei alem elencou alguns exemplos-padro fixados pelo legislador,
o agente, por interesse prprio, reduzir em grande medida os impostos
ou obtiver vantagens fiscais no justificadas; abusar das suas faculdades
e do seu cargo como funcionrio; aproveitar a colaborao de um
funcionrio, que abusa das suas faculdades ou do seu cargo; ou utilizar
de forma continuada documentos fictcios ou falsificados que permitem
reduzir os impostos ou obter vantagens fiscais injustificadas (S. A. D.
Sousa, 2009, p. 151).
No que concerne a crimes com teor especial de fraude fiscal, onde so notrios
atos fraudulentos de modo profissional ou tomando parte num grupo organizado, a
sano estabelecida pela nova lei incriminadora de 2001, de um a dez anos de priso.
Esta lei tem sido alvo de crticas por parte da doutrina alem (S. A. D. Sousa, 2009).
3. DIREITO ITALIANO
O decreto legislativo nmero 74 de 10 de Maro deu uma nova configurao aos
crimes fiscais que antes estavam tipificadas na lei 516 de 7 de Agosto de 1982.O
dispositivo legal tinha em vista a criao de um novo regime penal tributrio que fosse
capaz de renunciar criminalizao das condutas criminosas de ndole econmica (S. A.
D. Sousa, 2009).
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O decreto 74 divide-se em cinco ttulos, onde as normas incriminadoras esto
previstas no segundo ttulo, este por sua vez composto por dois captulos. O primeiro
captulo descreve os crimes de fraude fiscal cometidos por via de declarao de
imposto, no segundo captulo descrevem-se os delitos em matria de documentos de
pagamentos de impostos (S. A. D. Sousa, 2009).
Os tipos legais de crime do primeiro captulo deste dispositivo legal so a
declarao fraudulenta atravs de uso de faturas ou outros documentos relativos a
operaes inexistentes assim como a utilizao de outros artifcios fraudulentos (S. A.
D. Sousa, 2009). O legislador italiano tipificou a ocultao ou destruio de documentos
cuja conservao obrigatria.
4. DIREITO ESPANHOL
O legislador espanhol integrou os crimes fiscais no Cdigo Penal, apesar de
existir propostas doutrinrias tendentes a incluir uma lei geral tributria (S. A. D. Sousa,
2009).
Os delitos tributrios esto previstos no Titulo XIV do Livro II do cdigo Penal
espanhol. A defraudao tributria e outras formas de delinquir de ndole tributria
assim como o da segurana social (S. A. D. Sousa, 2009).
Uma questo que tem levantado controvrsia na doutrina espanhola a
discusso que est em torno do conceito de defraudar, na medida em que considera-se
um prejuzo patrimonial causado pelo agente, outro aspeto prende-se com a corrente
defensora da teoria da infrao do dever, que sustentam que o desvalor da ao do
delito fiscal integrado pela violao de deveres formais tributrios, logo a defraudao
tributria integraria dos crimes que consistem em simples infrao de dever extrapenal
(S. A. D. Sousa, 2009).
Mas a maioria da doutrina e jurisprudncia espanhola interpretam o elemento tpico de
defraudar no sentido de exigir que o prejuzo patrimonial seja causado atravs de
engano (S. A. D. Sousa, 2009).
A legislao espanhola no pune como delito fiscal todo o prejuzo patrimonial
causado ao errio pblico em consequncia de uma conduta enganosa do agente, mas
sim o patrimnio fruto das modalidades de ao e omisso admitidos na norma
incriminadora (S. A. D. Sousa, 2009) uma das formas de defraudar o estado consiste na
iluso do pagamento de impostos, quando h omisso de fatos que so relevantes a
entidade tributria ou mediante dados falsos(S. A. D. Sousa, 2009).
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5. DIREITO FRANCS
O legislador francs optou pelo dualismo jurisdicional, existe no regime francs
a jurisdio judicial e a jurisdio administrativa (Silva, 2007). A jurisdio
administrativa composta pelos tribunais administrativos de 2 instncia e o conselho
de Estado(Silva, 2007, p. 30).
A jurisdio administrativa aprecia litgios relativos a litgios proveniente de
impostos diretos, taxas que incidam sobre obrigaes outras taxas. A jurisdio judicial
aprecia os litgios relativos a impostos indiretos, taxas e outras contribuies (Silva,
2007).
Outro aspeto importante, o facto de a relao administrativa prvia ser
obrigatria, o contribuinte deve em primeiro lugar apresentar a sua exposio
administrao tributria (Silva, 2007).
Destaca-se o facto de grande parte dos pedidos que do entrada na administrao
tributria serem resolvidos e num universo de 300.000 casos ano, cerca de 5% dos
contribuintes recorre aos tribunais (Silva, 2007).
6. DIREITO MOAMBICANO
A reforma legislativa aduaneira ocorrida no ano de 2012 veio a introduzir
modificaes nos procedimentos aduaneiros em si, assim como nos aspetos referentes a
fiscalizao tributria dos mesmos. Para um melhor enquadramento e entendimento a
seguir elenco todas a alterao ocorridas no ano transato com enfoque para os regimes
aduaneiros no geral.
O decreto 34/2009 de 6 de Julho aprova as regras de desembarao aduaneiro no
ordenamento jurdico moambicano. O regime aduaneiro de importao definido nos
termos do n 1 do decreto n 34/2009, como a entrada de mercadorias no territrio
aduaneiro.
penoso falar de descaminho aduaneiro numa altura em que Moambique
apresenta nveis de arrecadao de impostos acima da meta, mas neste prisma que se
deve analisar a questo de pesquisa deste trabalho: at que ponto a superao dos nveis
de arrecadao exigveis pode estar relacionada a distores de vria ordem.
Moambique um pas em franco desenvolvimento com economia
diversificada. A distribuio de renda no das melhores, assim como as deficincias
existentes e sobejamente conhecidas na matria de prestao de servios pblicos (CIP-
Moambique, 2009).
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A cultura do pagamento de impostos no existe na maioria dos moambicanos, o
que contribuiu para que em 2009 s cerca de 10% do potencial contribuinte estivesse
inscrito no sistema tributrio moambicano, vide anexo 4. Hoje esto em curso em
Moambique aes de educao tributria e campanhas de popularizao de impostos,
lanados nas televises, rdios e outros meios de comunicao como forma de reduzir
este cenrio, vide anexo 4.
Os cenrios acima referidos dificultam a coleta dos impostos a vrios nveis,
pese embora estejam em curso reformas tendentes a melhorar estes cenrios. Deste
modo, questionvel como se pode atingir e ultrapassar as metas traadas na
arrecadao. No estaremos perante uma situao em que estas metas estejam a ser
traadas sem o real conhecimento do que se deve cobrar? O sucesso ilustrado com a
arrecadao dos impostos pode ter explicaes naquilo que os contribuintes declaram,
uma vez que os cruzamentos de informao e gesto de conhecimento no se verificam
nas instituies responsveis pela arrecadao dos impostos, vide anexo 4.
evidente que, se os clculos da meta fossem efetuados tendo em conta todo o
manancial de situaes passveis de tributao, provavelmente no ocorreriam situaes
destas.
Estudos faltam para fazer a avaliao do aparente atingir da meta, sendo notrias
situaes de infraes tributrias tardiamente detetadas.
6.1.FONTES DO DIREITO ADUANEIRO MOAMBICANO
Para alm dos instrumentos jurdicos em vigor na no ordenamento jurdico
moambicano so de destacar os tratados, conveces e acordos internacionais,
ratificados por Moambique e pela SADC, sendo de destacar:
a) Tratados e convenes da Unio Africana e da SADC;
b) A conveno das naes unidas em matria de dupla tributao;
c) Acordo geral sobre pautas e comrcio (GATT),este celebrado em 1947;
d) Normas e diretivas da Organizao mundial das Alfndegas (OMA).
Moambique tambm membro da OMA e da Organizao Mundial do comrcio
(OMC) desde 1995, esta organizao tem em vista a liberalizao e expanso do
comrcio internacional, visando a garantia de que os pases menos desenvolvidos se
beneficiem de uma parte do crescimento do comrcio internacional que corresponda s
suas necessidades de desenvolvimento econmico. No que tange as convenes
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internacionais da OMA existem16 convenes internacionais, destacando a Conveno
sobre o sistema harmonizado de designao e codificao das mercadorias, a conveno
sobre a simplificao e harmonizao dos regimes aduaneiros designada de conveno
de kyoto.
6.2. FIGURAS AFINS DO DESCAMINHO ADUANEIRO
O descaminho de direitos, bem como o contrabando esto tipificados no
captulo IV da LGT-MOZ referente aos crimes tributrios aduaneiros. Estes tipos legais
de crime, apesar de serem classificados no mesmo captulo pelo legislador no devem
ser confundidos, pois o contrabando toda a ao ou omisso fraudulenta que tenha
por fim fazer entrar no territrio aduaneiro moambicano ou dele fazer sair quaisquer
bens, mercadorias ou veculos, sem passar pelas Alfndegas (Lei Geral Tributria
Moambicana, 2006).
No contrabando, a importao, exportao ou trnsito pode ser de mercadorias
proibidas (podendo atentar contra a sade pblica, a higiene, a segurana), protegidas
(podendo influenciar negativamente na balana de pagamentos assim como na indstria
nacional) e no descaminho h permisso do desembarao aduaneiro, existindo o
pagamento de parte de direitos devidos com recurso a artifcios fraudulentos.
6.3.NATUREZA JURDICA DO CRIME DE DESCAMINHO ADUANEIRO
A determinao da natureza jurdica das infraes tributrias no geral de
extrema complexidade e vrios autores posicionam-se de forma divergente em relao a
esta questo.
natureza jurdica dos crimes contra a ordem tributria sempre se associou a
questo do bem jurdico protegido. Deste modo ser necessrio analisar o que vrios
doutrinrios consideram em relao ao bem jurdico protegido.
(Nabais, 2011) considera que natureza do bem jurdico protegido nas
infraes tributrias diz respeito a ideia de cidadania fiscal(Nabais, 2011, p. 460).
Por detrs dos crimes tributrios no se pode ter a ideia de que o bem jurdico
que se pretende proteger, tenha caractersticas de um bem patrimonial, pretenso do
fisco obteno integral das receitas tributrias (Nabais, 2011); ou seja, um bem
jurdico cuja violao no se esgote a ilicitude concretizada no dano causado ao errio
publico, traduzida portando num devastador resultado(Nabais, 2011, p. 460).
(S. A. D. Sousa, 2009) defende que determinadas prticas que violem as normas
tributrias devem ser penalmente censuradas. Para a autora, a matria tem o seu
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enquadramento no direito penal tributrio e, hoje em dia uma matria que no alvo
muitos questionamentos, na medida em que vrios doutrinrios optam por se conformar
com a aplicao das normas e preceitos adstritos a estas (S. A. D. Sousa, 2009), Est
hoje mais longnquo o tempo em que a fuga aos deveres fiscais era considerada tica e
moralmente neutra e fraude fiscal vista como uma espcie de legtima defesa contra o
Estado(S. A. D. Sousa, 2009, p. 242).
O posicionamento destes autores influenciou o nosso em relao natureza
jurdica das infraes tributrias ou seja, o bem jurdico protegido ser constitudo pelo
conjunto dos valores morais, culturais, ticos na medida em que estes so considerados
imprescindveis para a salvaguarda e existncia da satisfao das necessidades coletivas.
A LGT-MOZ tipifica o crime de descaminho como um crime tributrio de natureza
aduaneira e que por sua vez aplica sanes para os crimes desta natureza e de forma
subsidiria legislao penal. Para manuteno deste desiderato e quando os meios de
proteo falharem, torna-se necessrio a interveno penal.
na LGT-MOZ, onde se materializar o bem jurdico tutelado no crime de
descaminho aduaneiro e caso se torne necessrio recorre-se ao direito penal que vai
garantir a proteo do bem jurdico.
deste modo que, apesar de controversa no entendimento do bem jurdico
tutelado nos crimes tributrios aduaneiros, no caso do de descaminho o bem jurdico
que se pretende tutelar transcende a questo do fisco e atinge aspetos relacionados com
o bem-estar da economia, justia tributria, segurana e a soberania estadual.
6.4.TIPOLOGIA DO DESCAMINHO DE DIREITOS ADUANEIROS
A LGT-MOZ classifica os crimes tributrios aduaneiros em vrios nveis,
classificando-os dos mais graves para os mais simples, adotando como critrios
distintivos os limites das penas e anos de priso. Tendo em conta a LGT-MOZ
possvel identificar tipos deste crime, onde possvel identificar descaminho perpetrado
pelas pessoas singulares, que recorrem a prticas tais como: (i) Subfacturao; (ii) Falta
de clareza na classificao (iii) Descaminho perpetrado por pessoas coletivas-empresas
com contabilidade organizada); (iv) Faturas falsas; (v) Falsificao de documentos; (vi)
Fraude do IVA; (vii) corrupo (Lei Geral Tributria Moambicana, 2006).
Com a evoluo da tecnologia podemos encontrar o descaminho aduaneiro
associado a determinadas reas de risco. Recorrendo s tecnologias de informao
podem ser notrias prticas do crime nas seguintes transaes: (i) Comrcio eletrnico;
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(ii) Utilizao de dinheiro eletrnico; (iii) Compras no estrangeiro de produtos
altamente tributados sem a devida declarao; (iv) Realizao de negcios jurdicos
simulados (Nabais, 2011).
7. CRIME DE DESCAMINHO NAS IMPORTAES
O regime de importao definitiva de mercadorias o que mais gera impostos
aduaneiros, considerando que a importao definitiva da mercadoria decorre da entrada
da mercadoria no territrio aduaneiro e atendendo a que esta ao se efectiva mediante o
competente despacho e o pagamento de direitos aduaneiros e demais imposies. nas
importaes que todos procuraro fiscalizar com mais preciso, pois este regime o que
mais contribui com as receitas aduaneiras. A centralizao da fiscalizao neste regime
faz com que regimes aduaneiros como exportao assim como os regimes especiais
escapem do controlo aduaneiro mais rigoroso.
A AT descreve o cumprimento de metas, um grau de realizao de 110,4%,um
crescimento nominal de 33,8% um rcio fiscal de 19,6%, correspondentes em nmero
absoluto a 63419,33 milhes de MT. Os maiores ndices de sempre, fazem do ano de
2010, a apoteose da arrecadao fiscal, desde que este pas se passou a chamar
Moambique (Autoridade tributria, 2010/2011, p. 3). Porm, vrios estudos indicam a
existncia de crimes contra a ordem aduaneira e outros conexos. A correlao negativa
entre a arrecadao dos impostos e os valores identificados em relatrios internacionais
sobre os crimes contra a ordem tributria em Moambique, faz com que o governo
moambicano representados pelos seus rgos de tutela, com maior enfoque para a AT,
fiquem fragilizados ao se deparar com discrepncias nos valores (EIA, 2013). Deste
modo, questionar se real e transparente este crescimento econmico moambicano,
acompanhado pela superao de metas traadas na arrecadao dos impostos. Sendo
assim, que indicadores podero explicar o bom desempenho da AT e o recrudescimento
dos crimes tributrios aduaneiros?
deste modo que se torna necessrio analisar para alm do regime aduaneiro de
importao mas tambm nos outros regimes aduaneiros.
8. O CRIME DE DESCAMINHO NAS EXPORTAES
O decreto 34/2009 estabelece no seu artigo 4 que o controlo de sada de
mercadoria, neste caso a exportao, ser efetuado nos recintos aduaneiros,
nomeadamente, os ptios, armazns, terminais e outros locais nas zonas primrias ou
secundarias, de aceso restrito, destinados movimentao, guarda e depsito de
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mercadorias destinadas exportao, que devam permanecer sob controlo aduaneiro,
assim como as reas destinadas verificao de bagagens provenientes do ou com
destino ao exterior.
Analisada a legislao aduaneira que estabelece os procedimentos aduaneiros a
considerar em caso de exportao de mercadorias, fica claro que no por lacuna
legislativa, mas sim por questes ligadas transparncia, educao, tica tributria e
cidadania.
9. O CRIME DE DESCAMINHO NOS REGIMES ESPECIAS
A relao jurdico-aduaneira nos regimes especiais materializa-se sem o
pagamento dos direitos e demais imposies de importao. A doutrina tem designado
este tipo de movimento como sendo regime suspensivo (Centro de Estudos Fiscais,
1998).
O artigo 21 do diploma ministerial 16/2012 destaca os regimes aduaneiros
especiais como: Importao temporria; exportao temporria, reimportao,
reexportao, trnsito aduaneiro, transferncia, entrada em armazm, lojas francas,
zonas francas e zonas econmicas especiais (Diploma Ministerial 16, 2012).
O regime de importao temporria a entrada de mercadorias no territrio
aduaneiro, com um fim diferente de consumo, que permaneam temporariamente dentro
do pas e sejam objeto de posterior reexportao, gozando de suspenso no pagamento
de direitos aduaneiros e demais imposies (Diploma Ministerial 16, 2002)17
.
O regime de exportao temporria a sada de mercadorias do territrio
aduaneiro, com um fim diferente do consumo, e que permaneam temporariamente fora
do territrio aduaneiro, objeto de posterior reimportao, gozando de suspenso no
pagamento de direitos aduaneiros (Diploma Ministerial 16, 2002)18
.
O regime aduaneiro de reimportao a entrada de mercadorias nacionais ou
nacionalizadas, no territrio aduaneiro, que tenham sido objeto de exportao
temporria (Diploma Ministerial 16, 2002)19
.
O regime aduaneiro de reexportao verifica-se quando as mercadorias no
nacionalizadas tenham de ser expedidas para o exterior, e se verifique alguma destas
condies: (i) no estarem em regime de trnsito; (ii) terem sido importadas
temporariamente; (iii) sadas dos armazns aduaneiros. Este regime pode ser concedido
17
Artigo 22 18
Artigo 23 19
Artigo 24
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52
s mercadorias que tenham sido importadas definitivamente (Diploma Ministerial 16,
2002)20
.
O regime aduaneiro de transferncia verifica-se quando existe a passagem de