ava - filosofia - ideologia

Upload: miguel-crazzy

Post on 12-Jul-2015

512 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Aps a leitura do texto de Marilena Chau, com o auxlio dos textos analisados em sala de aula, responda as questes a seguir:

1.

Algumas noes do senso comum escondem idias falsas, parciais ou preconceituosas, enquanto outras revelam profunda reflexo sobre a vida. Como explicar essa contradio? Por que se pode dizer que o senso comum terreno favorvel ao desenvolvimento de ideologias? Segundo Marilena Chau, como a ideologia naturaliza as distores sociais?

2. 3.

Obs: 1. A tarefa pode ser resolvida em grupo de at 3 alunos 2. O valor da tarefa de 2,0 pontos. 3. O prazo para soluo da tarefa : 23/11 a 30/11

Boa Sorte!.

IDEOLOGIAMarilena Chau Marx afirma que a conscincia humana sempre social e histrica, isto , determinada pelas condies concretas de nossa existncia. Isso no significa, porm, que nossas idias representem a realidade tal como esta em si mesmo. Se assim fosse, seria incompreensvel que os seres humanos, conhecendo as causas da explorao, da dominao, da misria e da injustia nada fizessem conta elas. Nossas idias, historicamente determinadas, tm a peculiaridade de nascer a partir de nossa experincia social direta. A marca da experincia social oferecer-se como uma explicao da aparncia das coisas como se esta fosse a essncia das prprias coisas. No s isso. As aparncias ou o aparecer social conscincia so aparncias justamente porque nos oferecem o mundo de cabea para baixo: o que causa parece ser efeito, o que efeito parece ser causa. Isso no se d apenas no plano da conscincia individual, mas sobretudo no da conscincia social, isto , no conjunto de idias e explicaes que uma sociedade oferece sobre si mesma. Feuerbach estudara esse fenmeno na religio, designando-o com o conceito de alienao. Marx interessa-se por esse fenmeno porque o percebeu em outras esferas da vida social, por exemplo, na poltica, que leva os sujeitos sociais a aceitarem a dominao estatal porque no reconhecem quem so os verdadeiros criadores do Estado.

Ele o observou tambm na esfera da economia: no capitalismo, os trabalhadores produzem todos os objetos existentes no mercado, todas as mercadorias; aps havlas produzido, as entregam aos proprietrios dos meios de produo, mediante um salrio; quando vo ao mercado no conseguem comprar essas mercadorias. Olham os preos, contam o dinheiro e voltam par casa de mos vazias, como se o preo das mercadorias existisse por si mesmo e como se elas estivessem venda porque surgiram do nada e algum as decidiu vender. Em outras palavras, os trabalhadores no s no se reconhecem como autores ou produtores das mercadorias, mas ainda acreditam que elas valem o preo que custam e que no podem t-las porque valem mais do que eles. Alienaram dos objetos seu prprio trabalho e no se reconhecem como produtores da riqueza e das coisas. A inverso entre causa e efeito, princpio e conseqncia, condio e condicionado leva produo de imagens e idias que pretendem representar a realidade. As imagens formam um imaginrio social invertido um conjunto de representaes sobre os seres humanos e suas relaes, sobre as coisas, sobre o bem e o mal, o justo e o injusto, os bons e os maus costumes, etc. Tomadas como idias, essas imagens ou esse imaginrio social constituem a ideologia. A ideologia um fenmeno histrico-social decorrente do modo de produo econmico. medida que, numa formao social, uma forma determinada da diviso social se estabiliza, se fixa e se repete, cada indivduo passa a ter uma atividade determinada e exclusiva, que lhe atribuda pelo conjunto das relaes sociais, pelo estgio das foras produtivas e pela forma da propriedade. Cada um, por causa da fixidez e da repetio de seu lugar e de sua atividade, tende a consider-los naturais (por exemplo, quando algum julga que faz o que faz porque tem talento ou vocao natural para isso; quando algum julga que, por natureza, os negros foram feitos para serem escravos; quando algum julga que, por natureza, as mulheres foram feitas para a maternidade e o trabalho domstico). A naturalizao surge sob a forma de idias que afirmam que as coisas so como so porque natural que assim sejam. As relaes sociais passam, portanto, a ser vistas como naturais, existentes em si e por si, e no como resultados da ao humana. A naturalizao a maneira pela qual as idias produzem alienao social, isto , a sociedade surge como uma fora natural estranha e poderosa, que faz com que tudo seja necessariamente como . Senhores por natureza, escravos por natureza, cidados por natureza, proprietrios por natureza, assalariados por natureza, etc.. A diviso social do trabalho, iniciada na famlia, prossegue na sociedade e, medida que esta se torna mais complexa, leva a uma diviso ente dois tipos fundamentais de trabalho: o trabalho material de produo de coisas e o trabalho intelectual de produo de idias. No incio, essa segunda forma e trabalho social privilgio dos sacerdotes; depois, torna-se funo de professores e escritores, artistas e cientistas, pensadores e filsofos. Os que produzem idias separam-se dos que produzem coisas, formando um grupo parte. Pouco a pouco, medida que vo ficando cada vez mais distantes e separados dos trabalhadores materiais, os que pensam comeam a acreditar que a conscincia e o pensamento esto, em si e por si mesmos, separados das coisas materiais, existindo em si e por si mesmos. Passam a acreditar na independncia entre a conscincia e o mundo material, entre o pensamento e as coisas produzidas

socialmente. Conferem autonomia conscincia e s idias e, finalmente, julgam que as idias no s explicam a realidade, mas produzem o real. Surge a ideologia como crena na autonomia das idias e na capacidade de as idias criarem a realidade. Ora, o grupo dos que pensam sacerdotes, professores, artistas, filsofos, cientistas no nasceu do nada. Nasceu no s da diviso social do trabalho, mas tambm de uma diviso no interior da classe dos proprietrios ou classe dominante de uma sociedade. Como conseqncia, o grupo pensante (os intelectuais) pensa com as idias dos dominantes; julga, porm, que tais idias so verdadeiras em si mesmas e transformam idias de uma classe social determinada em idias universais e necessrias, vlidas para a sociedade inteira. Como o grupo pensante domina a conscincia social, tem o poder de transmitir as idias dominantes para toda a sociedade, atravs da religio, das artes, da escola, da cincia, da filosofia, dos costumes, das leis e do direito, moldando a conscincia de todas as classes sociais e uniformizando o pensamento de todas as classes. Os idelogos so membros da classe dominante e das classes aliadas a ela, que, como intelectuais, sistematizam as imagens e as idias sociais da classe dominante em representaes coletivas, gerais e universais. Essas imagens e idias no exprimem a realidade social, mas representam a aparncia social do ponto de vista dos dominantes. So consideradas realidades autnomas que produzem a realidade material ou social. So imagens e idias postas como universais abstratos, uma vez que, concretamente, no corresponde realidade social, dividida em classes sociais antagnicas. Assim, por exemplo, existem na sociedade, concretamente, capitalistas e trabalhadores, mas na ideologia aparece abstratamente o Homem. A ideologia torna-se propriamente ideologia quando no aparece sob a forma do mito, da religio e da teologia. Com efeito, nestes, a explicao sobre a origem dos seres humanos, da sociedade e do poder poltico encontra a causa fora e antes dos prprios humanos e de sua ao, localizando a causa originria nas divindades. A ideologia propriamente dita surge quando, no lugar das divindades, encontramos as idias: o Homem, a Ptria, a Famlia, a Escola, o Progresso, a Cincia, o Estado, o Bem, o Justo, etc. Com isso, podemos dizer que a ideologia um fenmeno moderno, substituindo o papel que, antes dela, tinham os mitos e as teologias. Com a ideologia, a explicao sobre a origem dos homens, da sociedade e da poltica encontra-se nas aes humanas, entendidas como manifestao da conscincia ou das idias. Assim, por exemplo, julgar que o Estado se origina das idias de estado de natureza, direito natural, contrato social e direito civil supor que a conscincia humana, independentemente das condies histricas materiais, pensou nessas idias, julgouas corretas e passou a agir por elas, criando a realidade designada e representada por elas. Que faz a ideologia? Oferece a uma sociedade dividida em classes sociais antagnicas, e que vivem na forma da luta de classes, uma imagem que permite a unificao e a identificao social uma lngua, uma religio, uma raa, uma nao, uma ptria, um Estado, uma humanidade, mesmos costumes. Assim, a funo primordial da ideologia ocultar a origem da sociedade (relao de produo como relaes entre meios de produo e foras produtivas sob a diviso social do trabalho), dissimular a presena da luta de classes (domnio e explorao dos no-proprietrios pelos proprietrios privados dos meios de produo), negar as desigualdades sociais (so imaginadas como se fossem conseqncia de talentos

diferentes, da preguia ou da disciplina laboriosa) e oferecer a imagem ilusria da comunidade (o Estado) originada do contrato social entre homens livres e iguais. A ideologia a lgica da dominao social e poltica. Porque nascemos e somos criados com essas idias e nesse imaginrio social, no percebemos a verdadeira natureza de classe do Estado. A resposta Segunda pergunta de Marx, qual seja, por que a sociedade no percebe o vnculo interno entre poder econmico e poder poltico, pode ser respondida agora: por causa da ideologia. (Do livro: Filosofia. Ed. tica, So Paulo, ano 2000, pg. 216-219)