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Módulo 6 das escolas Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem. iago de Mello. Estatutos do Homem Autonomia financeira

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Módulo 6

das escolas

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários

e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante

a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio,

e a sua morada será sempre o coração do homem.

Thiago de Mello. Estatutos do Homem

Autonomia financeira

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Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA

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Rede Nacional de Formação e Desenvolvimento da EducaçãoCentro de Pesquisa e Desenvolvimento da EducaçãoÁrea: Gestão e AvaliaçãoPrograma de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica (PRoGED)

Coordenador GeralRobert Evan Verhine

Coordenador ExecutivoPaulo Cezar Vilaça de Queiroz

Coordenadora da Ação 01Ana Maria de Carvalho Luz

Coordenadora da Ação 02Patrícia Rosa da Silva

Série Formação Vol. 3Módulo 6: Autonomia financeira das escolas

Este módulo teve como referência principal texto gerador da autoria de Ricardo Chaves de Rezende Martins. Foi elaborado por Evilásio Chaves Santos Júnior e revisto por Tércio Rios de Jesus e Anuska Andréia de Souza Silva.

organizadores:Ana Maria de Carvalho LuzPatrícia Rosa da SilvaFernanda Alamino do Amaral

Diagramação e projeto gráfico:Fernanda Alamino do Amaral

Foto da capa:Jeff Belmonte

Presidente da República do BrasilLuís Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Diretora do Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino FundamentalJeanete Beauchamp

Coordenadora Geral de Políticas de FormaçãoRoberta de Oliveira

Universidade Federal da BahiaReitorNaomar Monteiro de Almeida Filho

Vice-ReitorFrancisco José Gomes Mesquita

Pró-Reitor de ExtensãoEugênio de Ávila Lins

Pró-Reitora de Planejamento e AdministraçãoNádia Andrade de Moura Ribeiro

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoAntônio Alberto da Silva Lopes

Pró-Reitor de GraduaçãoMaerbal Bittencourt Marinho

Pró-Reitora de Desenvolvimento de PessoasJoselita Nunes Macedo

Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público (ISP)DiretorAntonio Virgílio Bittencourt Bastos

Gestão de Unidades Escolares. -[recurso eletrônico] / ISP /PROGED / UFBA. Programa eletrônico. Salvador : ISP, 2008. 1 CD ROM: il ; 43/4 pol. + encarte: il;1 folha solta dobrada; 42 x 30 cm . (Série Formação; n. 2). Sistema requerido: Windows 98, 2000, XP ou Vista; Adobe Reader 6.0 ou versões compatíveis, com atualização gratuita no próprio CD. E-books. Série Formação; n. 3, foi baseada na Série Seminários Organização: Ana Maria de Carvalho Luz, Patrícia Rosa da Silva e Fernanda Alamino do Amaral. Tamanho do CDs: 5,71Mb

Conteúdo: 1 CD com E-books: 1. E-book 1 - A qualidade social da educação escolar 2. E-book 2 - Organização e gestão da escola: planejamento e avaliação 3. E-book 3 - A construção do projeto político-pedagógico da escola 4. E-book 4 - A avaliação da aprendizagem na escola 5. E-book 5- Gestão de pessoas e do ambiente físico da escola. 6. E-book 6 - Autonomia financeira das escolas. 7. E-book 7 - Convivência na escola: o papel do gestor. 8. E-book 8 - Sobre todas as coisas... I. Título. CDD: 371.3

Este módulo faz parte da publicação:

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Caro Cursista

>>>

Em que consiste a liberdade e a autonomia? Exercer a autonomia com competência vai além da ampliação do grau de liberdade que a escola desenvolve na sua gestão. A conquista da autonomia implica também promover a competência da equipe gestora da escola e, por extensão, de toda a comunidade escolar, para alcançar os objetivos educacionais previstos. Este módulo representa uma parte essencial do nosso curso: a gestão e a autonomia financeira da escola. A auto-nomia, seja financeira, pedagógica ou política, garante à escola o bom desempenho da sua função social. Dessa forma, a partir dos conceitos de autonomia financeira e gestão democrática, estaremos apresentan-do, neste módulo, as fontes de captação de recursos de que a escola dispõe, as formas de gerenciamento desses recursos, bem como de realização e controle de despesas e prestação de contas.

Bom trabalho!

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Sumário

>>>

Que transformações ocorreram nas concepções e práticas da gestão escolar?• Pense / 5 /

Como garantir a autonomia das escolas?• Analise / 7 /

Como se articula autonomia e gestão democrática?• Observe / 9 /

Como se processa a autonomia financeira da escola?• Adiantamentos a servidor / 9 /• Subvenção social / 10 /• Repasse de recursos do PDDE / 11 /• Reflita / 11 /

Como planejar a utilização dos recursos?• Questione / 12 /

Como efetuar a contratação de fornecimento de bens e serviços e a prestação de contas?• A realização e o controle das despesas / 14 /• A prestação de contas / 14 /• Analise / 15 /

Existem outras fontes de recursos para a escola?• Analise / 16 /

Atividades do módulo 6• Opine / 16 /

Referências bibliográficas

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Que transformações ocorreram

>>>

A legislação educacional brasileira, a partir de 1988, iniciou um processo de profundas transformações nas concepções e práticas da gestão escolar, a começar pelo princípio de gestão democrática, ins-crito no art. 206 da Constituição Federal.

Esse princípio inspirou uma série de dispositivos da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), especialmente aqueles que tratam da autonomia da escola. Gestão democrática e autonomia constituem, pois, eixos centrais da nova gestão da escola pública. E isso não se fez por acaso, mas como consenso da so-ciedade de que são essas as condições indispensáveis para assegurar a qualidade da educação brasileira. A real aplicação desses princípios depende do compro-misso e da ação de cada um que faz parte da equipe

gestora da escola. A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDBEN), especifica os aspectos da autonomia pedagógica, administrativa e financeira das escolas. Sem dúvida, a questão mais central é a dimensão pedagógica, que diz res-peito aos objetivos, à razão de ser da própria escola. Mas o exercício da autonomia pedagógica não pode se dar sem uma atenção devida a outras questões da administração escolar, como as de pessoal, de re-cursos materiais (vimos isso no Módulo 5) e, certamente, de recursos financeiros. O mais importante é perceber que o exercício da auto-nomia quanto a esses aspectos deve se dar em função da primeira: a autonomia pedagógica.

nas concepções e práticas da gestão escolar?

Saiba maisArt. 206 da Constituição

Federal:Art. 206. O ensino será ministrado

com base nos seguintes princípios:

...................................VI – gestão democrática do ensi-

no público, na forma da lei.

PenseQuais relações podem ser estabelecidas entre a gestão pedagógica, a gestão administrativa e a gestão

financeira das escolas?

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A autonomia escolar deve ser garantida pelos sistemas de ensino. Um sistema de ensino é integrado pelos órgãos públicos responsáveis pela educação (o administrativo, a Secretaria de Educação; e o nor-mativo, o Conselho Municipal de Educação), pelas escolas e pelas normas que regem o seu funcionamento.

A autonomia precisa ser conceituada e delimitada. É necessário definir as condições e dimensões em que ela se aplica e o seu grau de aplicação. Por isso, ela precisa estar expressa em normas, que poderão ser definidas diretamente pelo órgão normativo do sistema de ensi-no, o Conselho Municipal de Educação, ou por ele explicitadas ou detalhadas a partir da lei de institucionalização do sistema de ensino, ou ainda de uma lei específica que, em linhas gerais, garanta a auto-nomia escolar.

O ideal mesmo é que ela seja estabelecida em lei, de modo que fiquem assegurados o debate democrático e a sua estabilidade, para, em seguida, ser detalhada nas normas do sistema de ensino, pelo seu órgão próprio. O órgão administrativo, a Secretaria de Educação ou equivalente, deve tomar as providências necessárias para assegurar as condições indispensáveis ao exercício da autonomia das escolas, em todos os seus aspectos. As escolas, em especial os seus gestores, devem exercer a autonomia com responsabilidade e dentro de seus limites, a serviço do projeto pedagógico escolar.

É preciso observar um ponto importante:Mesmo que um dado Município não tenha instituído um sistema

próprio de ensino, permanecendo integrado ao sistema estadual, ele mantém uma rede municipal de escolas públicas. A elas a autonomia deve ser progressivamente assegurada, por meio de leis e outros ins-trumentos legais municipais. Para os órgãos responsáveis pela gestão do sistema de ensino e (ou) de sua rede, assegurar a autonomia das escolas significa não adotar procedimentos hostis ou restritivos. Ao estabelecer diretrizes, em qualquer campo, devem fazê-lo respeitando os espaços próprios de gestão de cada escola, de acordo com o que estabelece a respectiva proposta pedagógica.

Como garantir a autonomia

>>>

das escolas?

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AnaliseAgora, analise: quais as implicações da institucionalização ou não do sistema de ensino para o de-

senvolvimento da autonomia da escola?

Como se articula autonomia e

>>>

gestão democrática?Autonomia e gestão democrática, no marco da atual organização

escolar brasileira, são inseparáveis, uma não pode existir sem a outra. Compete aos órgãos gestores dos sistemas e redes de ensino prover as necessárias condições normativas e de recursos humanos, materiais e financeiros, para que cada escola possa ser gerida de forma democrá-tica e autônoma.

O conceito de gestão democrática envolve, portanto, três idéias básicas:

• A existência de um projeto político-pedagógico da escola.• A participação de professores e demais profissionais do magisté-rio da escola na elaboração desse projeto.• A gestão colegiada da implantação e execução desse projeto, por meio de conselhos escolares (ou órgãos equivalentes) em cada es-cola, nos quais esteja assegurada a representação da comunidade escolar e demais segmentos da sociedade civil relevantes para a or-ganização e o funcionamento da escola.

O projeto pedagógico é a alma da escola. E só poderá ser motivador para todos os integrantes da comunidade escolar caso sua cons-trução decorra de um processo realmente participativo. Assim, a gestão do desenvolvimento desse projeto, para dar certo, só pode ser feita de forma coletiva, com divisão de responsabilidades e decisões coletivas. Não cabe mais a idéia de um gestor ou diretor onipotente, detentor exclusivo da autoridade pedagógica e administrativa na escola.

Cuidado: isto não significa que não seja necessária a existência de um gestor executivo eficiente, líder de processos e estimulador das iniciativas.

Outro ponto importante a ser considerado na gestão democrática de uma escola é a constituição dos conselhos escolares. É por meio desses, que são ampliados os espaços de decisão, garantindo, na gestão

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GlossárioPrograma Dinheiro Di-

reto na Escola (PDDE):Implantado em 1995, o Pro-

grama Dinheiro Direto na Es-cola é uma ação do Ministério da Educação executada pelo Fundo Nacional de Desen-volvimento da Educação, que consiste no repasse de recur-sos diretamente às escolas es-taduais, do Distrito Federal e municipais do Ensino Funda-mental, com mais de 20 alunos matriculados, além de escolas de Educação Especial manti-das por Organizações Não-Go-vernamentais (ONGs), desde que registradas no Conselho Nacional de Assistência Social. Os recursos podem ser utili-zados em qualquer uma das seguintes finalidades: aquisi-ção de material permanente; manutenção, conservação e pequenos reparos da unidade escolar; aquisição de mate-rial de consumo necessário ao funcionamento da escola; ca-pacitação e aperfeiçoamento de profissionais da educação; avaliação de aprendizagem; implementação de projeto pe-dagógico; e desenvolvimento de atividades educacionais.

escolar, a participação da sociedade civil. Em relação à composição dos conselhos escolares ou equivalentes, deve-se observar que:

• O conselho escolar a que a LDBEN se refere não é aquele que, às vezes recebendo o mesmo nome, administra a caixa escolar ou constitui o gestor da unidade executora do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), implantado pelo Ministério da Educação a partir de 1995.• O conselho escolar idealizado pela LDBEN é um órgão que deve fazer parte da organização da própria escola, com responsabilidades de tomada de decisão em relação a todos os campos da vida escolar e não apenas, embora também, na gestão de recursos financeiros.

Nesse Conselho Escolar, devem estar representados:

• a direção da escola;• os professores;• os demais profissionais do magistério;• os servidores técnico-administrativos;• o corpo discente (dependendo, é claro, da fai-xa etária);• os pais de alunos;• organizações representativas da comunidade local, como, por exemplo, associação de moradores, clu-be de mães, associação beneficente, dentre outras.

Muito importante:As normas de gestão democrática no seu Municí-

pio devem ser estabelecidas em lei municipal, para evitar que, a todo o momento, tais normas sejam modificadas ao gosto dos governantes de plantão, sem passar pela discussão democrática no âmbito do Poder Legislativo e consultas aos segmentos interessados. Seria, no mínimo, contraditório que as normas de gestão democrática fossem estabelecidas de forma solitária, por meio de decreto ou portaria do Poder Executivo.

Assim, é impossível promover a gestão democrática do projeto pe-dagógico da escola se esta não tiver autonomia para fazê-lo. Contu-do, autonomia não significa soberania. Haverá espaços autônomos de decisão e espaços de dependência, conforme a magnitude e a na-tureza das questões a serem resolvidas. E, de toda forma, o conceito

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de sistema traz em si a idéia de integração. Não seria, portanto, admissível cada escola indo numa direção diferente, ou adotando procedimentos administrati-vos totalmente diversos.

Talvez, por isso mesmo, o art. 15 da LDBEN , fale em progressivos graus de autonomia. Esse artigo se refere à autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira. Na realidade, o objetivo é de que ela seja exercida nos quatro campos da gestão da or-ganização escolar: o pedagógico, o de pessoal, o de recursos materiais e o de recursos financeiros.

Saiba maisArt. 15 da LDBEN:Art. 15. Os sistemas de ensino

assegurarão às unidades escolares

públicas de educação básica que os

integram progressivos graus de au-

tonomia pedagógica e administra-

tiva e de gestão financeira, obser-

vadas as normas gerais de direito

financeiro público. LDBEN

ObserveDe que forma a autonomia e a gestão democrática estão articuladas na unidade escolar em que

você trabalha?

Como se processa a autonomia

>>>financeira da escola?

O exercício da autonomia de gestão de recursos financeiros não sig-nifica gastar no que quiser ou como quiser. Essa autonomia se exerce para dar atendimento às necessidades do projeto pedagógico escolar. E a realização dos gastos deve obedecer a procedimentos que garan-tam a sua transparência e a sua legalidade. A autonomia financeira das escolas pode ser progressivamente assegurada de diferentes formas.

Após a aprovação da LDBEN, em vários Estados e Municípios fo-ram implantados programas com o objetivo de alocar, em geral anu-almente, alguns recursos financeiros para que cada escola possa dar conta de suas necessidades mais emergenciais.

Adiantamentos a servidorExistem várias maneiras pelas quais essa distribuição de recursos

pode ser feita. Uma delas é a de realizar pequenos adiantamentos ao gestor, de acordo com o que estabelecem os artigos 68 e 69 da Lei Federal nº 4.320, de 1964, também se constitui como uma alternati-

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va de distribuição de recursos para a escola. O gestor, como servidor público, realiza as despesas e delas deve prestar contas, antes de rece-ber novo adiantamento. Essa estratégia é usada para a distribuição de recursos de pequeno valor, normalmente para despesas de consumo mais imediato. Para que essa forma de distribuição possa ser utilizada pela administração pública no Município, ela deve estar regulamen-tada por lei municipal.

O texto dessa lei municipal deve ser bastante simples. De iniciativa do Prefeito, deve prever as despesas que podem ser realizadas sob esse regime, em geral para aquisição de material de consumo, pagamento de pequenos serviços eventuais, pequenas despesas de deslocamento e alimentação, a serviço, de servidores da escola, fornecimentos diver-sos, como gás, água, luz, telefone e outros. A lei também deve listar explicitamente as despesas que não serão admitidas, em geral as de contratação de mão-de-obra para serviço continuado ou permanente, obras e reformas de grande porte, equipamentos caros, e bens e ser-viços em geral que só possam ser contratados por meio de licitação, etc. Deve nomear quem poderá receber o adiantamento, em geral o diretor da escola e um substituto eventual, bem como prever a obri-gatoriedade de plano de aplicação dos recursos pela escola, os prazos para prestação de contas, as condições para obter novo adiantamento e assim por diante.

Subvenção socialA estratégia mais comum tem sido a de concessão de subvenção so-

cial a entidades de pais e mestres, como a utilizada pelo Programa Di-nheiro Direto na Escola (PDDE). Para escolas com cem ou mais alu-nos, é obrigatória a constituição de uma Unidade Executora (UEx). Essa UEx é comumente denominada de Associação de Pais e Mestres, Caixa Escolar e, em alguns casos, embora impropriamente, de Conselho Escolar, já que, nos termos da LDBEN, essa última denomi-nação deveria ser utilizada para designar o colegiado encarregado da gestão integral de escola, em especial a pedagógica, e não uma entidade a ela externa.

Normalmente, a UEX constitui um colegiado de representantes dos diferentes segmentos da comuni-dade escolar, desde o próprio diretor até represen-tantes do corpo docente, dos demais servidores, dos pais até outros segmentos da comunidade local com relação significativa com a escola. É fundamental que essa unidade esteja adequadamente organizada e que as relações entre seus integrantes sejam clara e harmoniosamente definidas, em

GlossárioUnidade Executora:Entidade de direito priva-

do, que administra os recur-sos financeiros recebidos por meio do Programa e faz as despesas necessárias ao de-senvolvimento da escola a que está relacionada.

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Como planejar a utilização

>>>

benefício da escola que justifica a sua existência. Nada impede que Estados e Municípios implantem programas similares, desde que ade-quadamente estabelecidos na respectiva legislação de âmbito local.

Repasse de recursos do PDDEOs recursos destinados à escola pelo PDDE, embora possam pa-

recer de pouco valor, em valores absolutos, são fundamentais para conferir flexibilidade à gestão escolar, dando-lhe capacidade de res-posta mais imediata para atendimento a necessidades que, de outro modo, levariam imenso tempo para sê-lo pela administração central. Mas independentemente do volume de recursos financeiros, impor-ta aplicá-los bem, em benefício dos alunos, pois essa é a razão dessa nova dimensão da autonomia escolar. Para isso é preciso que a gestão da escola esteja adequadamente preparada, sob o ponto de vista de organização e de conhecimentos. O PDDE e os programas estaduais e municipais que funcionam nos mesmos moldes em geral fazem o repasse dos recursos de uma só vez, a cada ano. E o fazem de forma carimbada, isto é, os recursos já vêm divididos:

• A parcela maior é destinada ao custeio, isto é, as despesas corren-tes da escola, como material de consumo e pequenos serviços;• A parcela menor é destinadas às despesas de capital. Servem para pequenas reformas, compra de um ou outro equipamento ou, de uma forma genérica, de algum bem para o chamado material per-manente.

ReflitaComo se dá a gestão de recursos financeiros em sua escola?

dos recursos?O segredo do uso eficiente dos recursos se encontra no adequado

planejamento de sua aplicação. Normalmente, a escola sabe com bas-tante antecedência os valores que deverá receber e a época em que o repasse deve ocorrer. Desse modo, podem ser discutidas previamente

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e com tempo suficiente, as prioridades de utilização dos recursos para aquele ano.

Definidas as prioridades, devem ser listadas todas as despesas ne-cessárias para sua concretização. A reforma de um banheiro, por exemplo, implica a compra de cerâmicas, massa, tinta, cimento, o pagamento de pedreiro, entre outros. Enfim, é necessário um orça-mento detalhado das despesas por prioridade selecionada, de modo a testar a viabilidade de sua execução em face dos recursos disponí-veis. Em geral, faz-se mais de um orçamento para cada iniciativa, de modo a buscar os meios baratos, obviamente sem descuidar da qualidade desejada. É nesse momento, portanto, que são escolhidos os fornecedores – de quem a escola ou a UEX vai comprar alguma coisa – e os prestadores de serviços. Nessa seleção, é indispensável que a equipe gestora esteja atenta aos princípios da administração pública que devem reger as aquisições e os contratos: legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade, eficiência.

Vencida essa etapa, é de todo desejável que se faça um plano de aplicação dos recursos e um cronograma de desembolso, distribuindo ao longo do ano as despesas a serem realizadas. Isso permite um con-trole mais rigoroso da saída de recursos e uma distribuição equilibra-da de gastos no decorrer de vários meses.

Importante:Os recursos já recebidos e ainda não utilizados podem ser colo-

cados em alguma aplicação financeira (uma caderneta de poupança, por exemplo, ou mesmo outra legalmente permitida que pode lhe ser recomendada pelo gerente da agência bancária em que a conta de depósito desses recursos estiver sendo mantida). Essa aplicação pode significar um pouco mais de recursos, que devem ser receber as mes-mas destinações daqueles que lhes deram origem.

QuestioneComo ocorre o planejamento da utilização dos recursos financeiros da Unidade Escolar em que

você trabalha?

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Como efetuar a contratação de fornecimento de bens e serviços

e a prestação de contas?Todo o sistema de compra e contratação de bens e serviços, na

administração pública, deve obedecer aos princípios estabelecidos na Lei nº 8.666 , de 21 de junho de 1993. Toda a aquisição de bens ou contratação de serviços deve seguir as normas do chamado processo licitatório, no qual o princípio da publicidade deve ser materializado pela divulgação do edital de licitação e pela obediência aos prazos fixados na legislação. Nas compras, deve haver a especificação com-pleta do bem a ser adquirido, sem indicação de marcas.

As etapas para aquisição de bens e contratação de serviços são as seguintes:

• definição do bem a ser adquirido ou serviço a ser executado;• requisição do interessado e autorização da despesa;• preparação do edital de licitação ou carta-convite;• divulgação do edital ou carta-convite;• julgamento das propostas pela Comissão de Licitação;• análise de eventuais recursos sobre a licitação, caso haja;• homologação da licitação e adjudicação;• aquisição do bem ou contratação do serviço;• fornecimento do bem ou prestação do serviço pelo fornecedor contratado.

No caso da realização de despesas pela UEx, os passos podem e devem ser adaptados, mas não se pode dispensar, por exemplo, a legalidade e publicidade dos atos, a solicitação de dois ou mais orçamentos de forne-cedor, a escolha do menor preço com a melhor qualidade, a aprovação pelo colegiado da UEx, a comprovação das despesas, entre outros.

Alguns cuidados são extremamente importantes. Por exemplo, a equipe gestora não pode contratar servidor público para realizar ser-viço temporário pago com recursos do PDDE. E também não pode deixar de recolher os tributos e demais contribuições determinados pela legislação. É sempre necessário verificar, em cada caso, se é obri-gatório, por exemplo, o recolhimento da contribuição previdenciária ou do imposto de renda retido na fonte.

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A realização e o controle das despesasA realização e o controle das despesas devem seguir algumas etapas,

que podem ser as mesmas previstas para a administração pública. 1- O empenho é a reserva de recursos disponíveis e necessários para aquisição de um bem ou contratação de um serviço.2- A liquidação é o momento em que o servidor responsável atesta, por escrito, que o bem encomendado foi entregue ou o serviço foi prestado, de acordo com as especificações listadas no ato de sua contratação. 3- O pagamento é a entrega de recursos financeiros ao fornecedor ou prestador do serviço. Para assegurar maior transparência e segurança no pagamento, ele

deve ser preferentemente realizado por cheque nominativo ou ainda por ordem bancária. À medida que as despesas forem sendo realiza-das, é indispensável que sejam solicitadas e guardadas as notas fiscais emitidas pelos fornecedores e os recibos passados pelos prestadores de serviços. E, em cada um deles, é importante registrar, normalmente com um carimbo, a origem dos recursos com que a despesa foi liqui-dada. No caso do PDDE, por exemplo, um carimbo com os seguintes dizeres: “despesa liquidada com recursos do PDDE”.

Importante:Todas as entradas e saídas de recursos devem ser cuidadosamente

anotadas em um livro-caixa, além de obviamente no talão de che-ques da conta bancária. Todos esses procedimentos são indispensáveis porque, ao final de cada ano, a prestação de contas deve ser feita. E ela deve ser completa e minuciosa. Além das obrigações legais a esse respeito, é importante lembrar que a transparência da gestão é uma característica que contribui – e muito – para sua eficiência.

A prestação de contasNa prestação de contas, a equipe gestora dos recursos deve listar to-

dos os elementos que caracterizam cada uma das despesas, tais como: o beneficiário do pagamento, a nota fiscal ou o recibo, a data de reali-zação, natureza da despesa entre outros. Todo o material permanente adquirido com esses recursos, durante o ano, também deve ser devi-damente descrito com seus valores. Aqui um detalhe é fundamental: cada item de material permanente, após sua aquisição e recebimento, deve ser imediatamente incorporado ao patrimônio escolar, seguindo as rotinas, já mencionadas, da gestão de recursos materiais. É preciso observar que há formulários próprios e prazos rigorosos para a presta-ção de contas. Tais prazos não podem ser perdidos, sob pena da escola não receber recursos no exercício seguinte.

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>>>

Existem outras fontes de

AnaliseAgora, leia uma cópia de prestação de contas de despesas da Unidade Escolar em que trabalha e

analise. Se tiver alguma dúvida, anote e leve para seu próximo encontro com o Instrutor.

recursos para a escola?A autonomia financeira não se limita à utilização dos recursos re-

cebidos a partir dos programas descentralizadores implantados pelos governos.

As escolas podem e devem, por meio de suas unidades executoras, buscar parcerias com outras instituições, como por exemplo, orga-

nizações não governamentais e empresas, que estejam dispostas a financiar ou co-financiar projetos que fa-çam parte da proposta pedagógica da escola. Existem várias atividades que podem ser desenvolvidas a partir de parcerias buscadas pela própria equipe gestora da escola ou por meio da sua UEX.

E para ter êxito em tais empreitadas, é fundamental que a equipe escolar esteja capacitada para formular projetos a serem oferecidos aos eventuais parceiros. Projetos que contenham uma descrição adequada do que se pretende, uma justificativa que evidencie a rele-vância da iniciativa, estimativas detalhadas e precisas

do custo, especificando cada despesa necessária e a quem cabe aportar os recursos necessários, à própria escola ou ao parceiro contatado.

Enfim, a busca de mais recursos financeiros é possível. Mas o êxi-to na sua obtenção depende diretamente da competência técnica da equipe gestora em formular projetos consistentes e em convencer os parceiros adequados da sua viabilidade e relevância.

Os tempos atuais são extremamente favoráveis à participação de empresas e outras organizações no desenvolvimento das escolas. Resta a estas apresentar as suas boas idéias e firmar as melhores parcerias em benefício da educação de qualidade para seus alunos.

Saiba maisVárias atividades:Quantas unidades escolares já

não terão conseguido apoio finan-

ceiro para as suas bandas escola-

res? Ou para o museu da escola,

que na verdade é um museu de toda

a comunidade que a cerca? Ou para

a construção ou reforma do parque

esportivo escolar?

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AnaliseAgora, verifique: as escolas de seu município já desenvolveram algum trabalho com recursos cap-

tados de uma outra fonte que não a governamental? Ou seja, já recebeu recursos de entidades não governamentais?

Atividade do Módulo 6Esperamos que, ao final deste módulo, você tenha

refletido bastante sobre a autonomia financeira de uma unidade escolar e que essas reflexões possam ser úteis na qualificação de sua prática.

Sua tarefa agora é:• Analisar em que medida a autonomia financeira

auxilia a prática de uma gestão democrática no âm-bito escolar.

• Escrever um texto que registre suas observações e suas análises (máximo duas laudas).

Bom trabalho!

Referências bibliográficas

>>>Opine

Sua avaliação sobre este módulo é muito importante. Escreva um texto livre sobre este módulo, focalizando:

• Conteúdo, estrutura e linguagem do módulo;• Atividades propostas;• Interação com o instrutor, colegas e outras pessoas.

Entregue seu texto ao tutor.

Abreu, Mariza V. e Moura, Esmeralda. Progestão: como desenvolver a gestão dos servidores na escola?, módulo VIII. Brasília, CONSED, 2001

Martins, Ricardo C. R. Gestão de Recursos Materiais. In: Rodrigues, Maristela Marques e Giágio, Mônica (orgs.). Guia de Consulta para o Programa de Apoio

Page 17: Autonomia financeira das escolas - videos.proged.ufba.br · Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA 3 Caro Cursista

Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA

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aos Secretários Municipais de Educação – PRASEM III. Brasília, FUNDESCOLA/MEC, 2001

Martins, Ricardo C. R. Dez questões sobre autonomia escolar: algumas respostas e muitos desafios. In: PRADEM. Gestão Escolar. Salvador, UFBA, FCM, Funda-ção FORD, Série Documentos, 1, outubro 2003, pp. 59-98.

Martins, Ricardo C. R. e Aguiar, Rui R. Progestão: como gerenciar o espaço físico e o patrimônio da escola, módulo VII. Brasília, CONSED, 2001.

Oliveira, Romualdo P. e Adrião, Theresa (orgs). Gestão, Financiamento e Direito à Educação: análise da LDB e da Constituição Federal. São Paulo, Xamã, 2001.