autoesporte

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126///////AUTOESPORTE//////DEZEMBRO Por que o País virou a terra dos superesportivos que chegam a custar mais de R$ 2 milhões? ///// POR ANDREZZA CZECH ASTON MARTIN, LAMBORGHI- NI, LOTUS, PAGANI, SPYKER... Foi-se o tempo em os que os exclusi- vos carros dessas marcas não eram para o bico – ou para o bolso – dos brasileiros. Neste ano, os superes- portivos invadiram de vez nosso mercado. Mas quem irá desembol- sar a “modesta” quantia de R$ 1,5 milhão para desfilar no Lamborghi- ni Gallardo LP 560-4? Ou pagar no mínimo R$ 700 mil para se sentir o James Bond das terras tupiniquins a bordo de um Aston Martin? Será que há mesmo espaço para esse seg- mento no país? Para os importadores, não há dú- vidas que sim. “Existem clientes para esse tipo de consumo”, garante Leandro Radomile, diretor da Audi Brasil, marca que acaba de trazer o esportivo RS6, além do cupê R8. “É um público bem exclusivo e que es- tá disposto a pagar.” Toda essa dis- posição não sai por menos de R$ 500 mil e ultrapassa facilmente a quan- tia de R$ 2 milhões. Não é à toa que o nicho de mer- cado dos superesportivos é peque- no. “O mercado de alto luxo é de 200 carros por ano no Brasil, mas já é um negócio interessante”, garante Sér- gio Habib, ex-presidente da Citroën do Brasil, importador da inglesa Ja- guar e responsável pela chegada da (também inglesa) Aston Martin. Habib está investindo US$ 3 mi- A invasão das máquinas que chegaram a um nível profissio- nal que lhes dá conforto para com- prar um veículo desses”, afirma Vi- viane Polzim, gerente de marketing da Via Itália, importadora da Ferra- ri e da Maserati. “São pessoas que têm mais de um supercarro na ga- lhões para inaugurar em fevereiro a primeira concessionária da Aston MartinnaAméricaLatinaecumprir a meta de 30 carros vendidos por ano. Em um país que vendeu qua- se 2,5 milhões de automóveis entre janeiro e outubro, o número parece insignificante, mas o valor do veí- culo garante um negócio lucrativo para as importadoras. “Quem com- pra mantém-se fiel. Isso mostra que os clientes percebem o valor do pro- duto”, diz o diretor de marketing e vendas da BMW, Marcelo Silva. Mas quem são esses clientes? “São profissionais consagrados, LAMBORGHINI GALLARDO LP 560-4 R$ 1.500.000 FERRARI CALIFORNIA R$ 1.000.000 AE535_p126a129.indd 126 17/11/2009 22:50:22

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Reportagens sobre o mercado automobilístico

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126///////AUTOESPORTE//////DEZEMBRO

Por que o País virou a terra dos superesportivosque chegam a custar mais de R$ 2 milhões?///// POR ANDREZZA CZECH

ASTON MARTIN, LAMBORGHI-NI, LOTUS, PAGANI, SPYKER...Foi-seotempoemosqueosexclusi-

vos carros dessas marcas não eram

para o bico – ou para o bolso – dos

brasileiros. Neste ano, os superes-

portivos invadiram de vez nosso

mercado. Mas quem irá desembol-

sar a “modesta” quantia de R$ 1,5

milhãoparadesfilarnoLamborghi-ni Gallardo LP 560-4? Ou pagar nomínimo R$ 700mil para se sentir oJames Bond das terras tupiniquins

a bordo de um Aston Martin? Seráquehámesmoespaçopara esse seg-mentonopaís?Para os importadores, não há dú-

vidas que sim. “Existem clientes

para esse tipodeconsumo”, garanteLeandro Radomile, diretor da AudiBrasil, marca que acaba de trazer o

esportivo RS6, além do cupê R8. “Éumpúblico bem exclusivo e que es-tá disposto a pagar.” Toda essa dis-posiçãonãosaipormenosdeR$500mil e ultrapassa facilmente a quan-

tiadeR$2milhões.

Não é à toa que o nicho de mer-cado dos superesportivos é peque-no.“Omercadodealto luxoéde200carrosporanonoBrasil,mas jáéumnegócio interessante”, garante Sér-gioHabib, ex-presidente daCitroëndo Brasil, importador da inglesa Ja-guar e responsável pela chegada da(tambéminglesa)AstonMartin.Habib está investindo US$ 3 mi-

A invasão dasmáquinas

que chegaram a umnível profissio-nal que lhes dá conforto para com-

prar umveículo desses”, afirmaVi-viane Polzim, gerente demarketingdaVia Itália, importadora da Ferra-ri e da Maserati. “São pessoas quetêm mais de um supercarro na ga-

lhões para inaugurar em fevereiroa primeira concessionária da Aston

MartinnaAméricaLatinaecumprira meta de 30 carros vendidos porano. Em um país que vendeu qua-

se 2,5 milhões de automóveis entrejaneiro e outubro, o número pareceinsignificante, mas o valor do veí-culo garante um negócio lucrativopara as importadoras. “Quemcom-

pramantém-se fiel. Issomostra queosclientespercebemovalordopro-

duto”, diz o diretor de marketing evendasdaBMW,MarceloSilva.Mas quem são esses clientes?

“São profissionais consagrados,

LAMBORGHINI

GALLARDO LP 560-4

R$ 1.500.000

FERRARICALIFORNIAR$ 1.000.000

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AUTOESPORTE ///////DEZEMBRO//////127

SPYKER C8SPYDERR$ 1.150.000

BENTLEYCONTINENTAL GT

R$ 367.000

PORSCHEPANAMERA

R$ 549.000

ragem”, afirma Jaroslav Sussland,diretor de relações internacionais

da Lamborghini, montadora italia-na que inaugurou emoutubro a pri-meira loja oficial na América do Sule esperavender 20carrospor ano.Usar o superesportivo apenas co-

mo um carro para passeio parece

mesmo ser o objetivo principal dos

compradores. “O carro de 1 milhãoé como um iate. É um veículo pa-ra lazer, para quemgostamesmo daemoçãodedirigir”, comparaHidekiOshiro,diretordaPlatinuss, impor-tadora das marcas Pagani, Lotus eagora tambémdaholandesaSpyker.“Quem compra um carro desses no

Brasil usa pouco, basicamente no

fim de semana ou para ir ao restau-rante”, afirmaHabib.A próximamarca do gênero a de-

sembarcar noBrasil é a inglesaBen-tley, por meio de uma sociedadeentre os empresários Antonio Ab-

dalla,MauroSaddi (GreenAutomó-veis),CarlosRobertoMattos (Carai-gá)e JosephTutundjian (Rodobens).A chamada British Cars do Brasil

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128///////AUTOESPORTE//////DEZEMBRO

AUDI R8 V10R$ 700.000*

ASTON MARTIN

V8 VANTAGE

R$ 700.000abrirá as portas em janeiro, em SãoPaulo, e trará inicialmente trêsmo-delosdaBentley:ContinentalFlyingSpur, GT Coupe e GTC conversí-vel. Logodepois chegaocupêdedu-as portas Continental Supersport,com direito a versão flex. E as no-

vidades não param por aí. O grupotambém será o representante oficialda francesa Bugatti no país. “A ex-pectativaédevenderumVeyronporano, por encomenda.Umdeles fica-rá expostona loja temporariamente.

Já em relação àmarca Bentley espe-ramosvender 22unidades.”

Para Gabriel Patini, gerente demarketingdasmarcas JaguareLandRover, essa invasão dos carros ex-

clusivos temexplicação. “Oprimei-ro é o bom momento da economiabrasileira. Há executivos com di-nheiro no bolso que querem gastar.O segundo é a taxa de câmbio, quecontribui para a reduçãodospreços,

ainda que o Imposto de Importaçãocontinue a 35%. O terceiro é que asmontadoras começaram a enxergaroBrasil comoumpaíscompotencial

paramercadode luxo.”

O diretor da Platinuss lembra umfator importante para que o país te-

nha se tornado tão importante pa-

ra asmontadoras artesanais. “Essas

marcas sentiram o baque da crise e

estão buscando novos mercados”,

explica Oshiro. “O dólar estávelfavorece, e o Brasil tem sido vis-

to de uma formamelhor pelasmar-

cas de nicho”, completa. A gerentede marketing da Via Itália concor-da, e acredita que as montadoras

estão vendo o Brasil como um país

com um mercado em crescimento.

“A economia dos outros países está

muito abalada, e as empresas estão

nos enxergando como uma potên-cia”, explicaViviane.

Segundo o diretor de Vendas daMercedes-Benz, Dimitris Psillakis,há ainda um fator fundamental pa-

ra o desembarque dessas supermá-

quinas no Brasil. “Os brasileirostêm mais vontade de se expressarpelo carro, procurando por status

e satisfação pessoal, além de seremconquistados mais facilmente pe-

la emoção do que outros povos.” Is-so explica por que alguns abonadosoptam por gastar em supercarrosque, apesar de serem imbatíveis

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AUTOESPORTE ///////DEZEMBRO//////129

BUGATTI VEYRONR$ 8.500.000*

MASERATIGRAN TURISMO SR$ 850.000

quando o assunto é desempenho edesign, estão suscetíveis a dois gra-ves problemas brasileiros: a péssi-mapavimentação e, principalmen-

te, a violêncianopaís.Para Habib, não há empecilhos.

“Quem for comprar umAstonMar-

tin vai andar pouco, nos fins de se-mana, evaipegarumaestradaboa”.Ao falar sobre os carros da Spyker,Oshiro concorda. “A violência estáno dia a dia, e como esse carro não

é do cotidiano, há lugares próprios

para andar com ele, não há proble-

ma”.Sussland, daLamborghini, vaiaindamais longe. Ele acredita que osuperesportivo corremenos risco, o

que levamuitos proprietários a não

se preocupar nem ao menos em fa-

zer seguro. “Um carro esportivo deluxo aparece muito. Por isso, se al-guém roubá-lo, não vai conseguir irlonge. Carros que custammais de 1milhão inibemo ladrão.”

Mas nem todos pensam assim.

Comogerentedemarketingdemar-

cas compúblico-alvo diferente, Pa-tini acha que a violência urbana é,sim, um fator inibidor para quem

está pensando em comprar um su-

peresportivo.NoLandRover, comoo proprietário estámais alto dentro

docarro, acaba se sentindomais se-

guro do que emumesportivo da Ja-guar. “Alémdisso, noBrasil, as pes-soas evitam modelos que chamam

muitaatenção.Preferemcarroscomcoresmaisdiscretas.”

Ao que tudo indica, apesar de es-

te ser um mercado pequeno, o nú-mero de proprietários que deixamo

problemadaviolênciade ladoepas-seiam com seus novos “brinquedi-

nhos” é para ser levado em conta.Ferrari, Maserati, Jaguar, Lambor-ghini e Lexus venderam, juntas, 175modelos até outubro deste ano, se-gundoa JatodoBrasil.Com tantos superesportivos des-

filando por aqui, os consumidores

commaisdeseiszerosnacontaéquesairãoganhandomaisdoqueumsu-percarro. Para conseguir a atenção eos talões dos clientes, a tendência éque as companhias aperfeiçoem o

atendimento.“Agoraosserviçosvãoter de ser cada vezmelhores”, expli-

ca Viviane. Para ela, o segredo é in-vestir mais em equipes, ter ideias

novas,promovereventosemelhorar

oatendimento. //////

* Preços estimados

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102///////AUTOESPORTE//////JANEIRO

CONSUMO////// LOJASMODERNAS

Elas têm arquitetura moderna, organizam viagens,mandamfloresnoaniversário.Esevocênãoficarsatisfeito, pode reclamarcomoombudsman

PORANDREZZA CZECH//////FOTOSPAULO VARELAF achada com luzesdenéon,mesademixa-gem, música ambiente, poltronas roxas everdes... Uma casa noturnamoderninha?Nadadisso.Éumaconcessionária.Sevocêainda tinha aquela imagemde locais pra-ticamente iguais – grandes galpões comvendedores em trajes sociais – pode es-quecer.Algumas lojas de carros já organi-

zam viagens, oferecemmassagens e enviamflores no seuaniversário.Asdosegmentopremium,éclaro.

A tal casa noturna/concessionária da qual falamos realmente existe. É aloja daMini, emPinheiros, São Paulo.No piso térreo, logo na entrada, háuma TV de plasma e sofás coloridos. Ao lado, uma área com produtos damarca, próxima a umbalcão preto semelhante a umbar. Perto dele ficam

osbanheiros,comdireitoapictogramasnasportasepastilhascoloridasnaparede. Entre os carros expostos, umamesa demixagem e uma área paracrianças perto da escada que leva ao segundo andar, onde há umapista detestes e,é claro,mais carros.“A arquitetura em geral, a loja preta, os vidros, são padrões que segui-

mos daMini,marca inglesa do grupo BMW.Mas nos baseamos tambémemconceitos de outrosmercados, comoEstadosUnidos, Inglaterra eAr-gentina”, explicaMartinFritsches,diretor daMini noBrasil.“Amarca temumestilo urbano, descolado, por isso a arquitetura dessa forma”, diz. Pa-ra Iza Corrêa, professora do curso de especialização emGestão de Con-cessionáriasdaESPM,a loja sedestacaporqueoclientedamarca tambémbusca se diferenciar. “OMini é um veículo usado nosmomentos de lazerpor aqueles que querem ser vistos de umamaneira diferente”, diz. “É umconsumidor que não se importa em pagar R$ 90mil por um veículo quenão temmuitoespaço interno.”Seguindo uma linha também moderna, a loja da Ferrari e da Masera-

ti, no JardimAmérica, emSão Paulo, tambémquer chamar a atenção pelaimagem, coma fachada composta parte por concreto, parte por vidros es-pelhados destacados por desenhos geométricos. “O projeto arquitetôni-co temumaconcepção tecnológicado ladode fora,masdentroa intençãoéser aconchegante”,afirmaVivianePolzim,gerentedemarketingdaVia Itá-

lia, importadoraoficialdasmarcasnopaís.“Ailuminação internaépensada

paravalorizarascoresdoscarros,quasecomoumdetalhecenográfico”.

CONCESSIONÁRIASDESCOLADAS

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AUTOESPORTE ///////JANEIRO//////103

FOTO

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LGAÇ

ÃO

MINICasa noturna?A revenda da Minisegue alguns padrõesdo grupo BMW, comoa cor preta, mas asluzes de néon sãouma inovação da lojapaulistaTest drive na lojaO segundo andar contacom uma exposiçãomaior de carros e umapista para testá-losServe drink?Ao som de lounge, oscafezinhos são servidosem um bar com cara debalada. Ao lado, hásofás coloridos e umaTV de plasma

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LOJAS MODERNAS

104///////AUTOESPORTE//////JANEIRO

A Platinuss, importadora oficial

dasmarcas Pagani e Spyker, entre-

ga cartões e flores de presente deaniversário para seus clientes,pos-suiuma fachadacomformas trian-gulares emrelevo epoltronas futu-ristas vermelhas no showroom. Anova loja da marca deverá ousarainda mais. “Pretendemos inau-gurar na época do Salão do Au-tomóvel, em outubro, um espaçomaior na rua Colômbia, no Jar-dim Europa (SP), com inspiraçãona empresa Google”, conta Hideki

Oshiro,diretordaPlatinuss.Oshi-ro diz que a ideia será proporcio-nar um ambiente mais aconche-gante. “Erroneamente associamluxo a um negócio frio, que es-panta as pessoas. Nossa intençãoé fazer os clientes se sentirembemaqui dentro.” A essa altura, vocêjá deve ter imaginado os possíveiscompradores recebendo taças devinho na entrada e sendo abana-dos pelos vendedores nessas lojaspremium, não? Não é bem assim.“Nossos clientes são pessoas quetêm muito dinheiro e já são pa-paricadas sempre. Por isso a ba-julação é uma coisa que eles nãogostam, preferem um tratamentorespeitoso”, afirmaOshiro.

Se os clientes da Platinuss já

pensamassim,os daHarley-Davi-dson devem dispensar ainda maisesses mimos, certo? Erradíssimo.“A gente organiza cafés da manhãtodo sábado, saídas para pequenasviagens e eventos dedicados à fa-mília dos clientes da Harley”, afir-

ma Carlãozinho Coachman, ge-rente de produtos do Grupo Izzo.Café damanhã para alguns, brun-ch para outros. É o caso da lojaSportster, na rua Oscar Freire, emSão Paulo, que vende a linha es-portiva. “É a linha mais jovem daHarley. Esse público não acordacedo para tomar um café da ma-nhã”, diz. Ele explica que são or-ganizados ralis, shows de música,jantares, degustação de vinhos echarutos,eaté tratamentodebele-za. Vale até recebermassagens.“Agente cria um ambiente para rece-ber a família domotociclista. Pro-movemos também exposições dearte, palestras e cursos de pilota-gem, onde ensinamos truques pa-raoclienteandarmelhoroupilotarem grupo na estrada”, diz Coach-man. “Somos quase uma empresadeentretenimento.”Para Iza Corrêa, serviços dife-

renciados como estes são essen-ciais para conseguir a fidelidadedos clientes.“Seo comprador gos-

tardoproduto,masosserviçosnãoestiverem compatíveis, não ha-verá repetição do cliente nem dacompra, o que é fundamental nopós-venda”, afirma a professo-ra da ESPM.Ela acredita que a boaqualidade de assistência técni-ca, o respeito aos prazos combina-doseoconsertocorreto sãoaspec-tos indispensáveis para melhoraras vendas.“Ocliente sabequemá-quina quebra, o que ele não admiteé levar o carro para consertar e nãoteroproblemaresolvido”,diz.

ReclamecomoombudsmanQuando problemas como es-se ocorrem, o que fazer? Atazanarquem vendeu ou quem não con-sertou direito o veículo? Atazaneo ombudsman. A onda de profis-

sionais contratados especialmen-te para receber sugestões e críticasdos clientes (e representá-los paracorrigir falhasda empresa) temtu-do para pegar no mundo automo-bilístico. O Grupo Eurobike, rede

que comercializa as marcas Audi,BMW,LandRover, Porsche,Toyo-ta eVolvo, já tem sua representan-te. Patrícia Braga, que já trabalhoucom turismo e marketing, é a en-

carregada da função. “Os proble-mas mais comuns que ouço são

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HARLEY-DAVIDSONAté massagemA loja organizaviagens, eventose degustação devinhos. Para osmotociclistas esuas famílias,vale até oferecermassagensCafédamanhãTodo sábado é diade tomar café naHarley. Já para osjovens clientesda Sportster,que preferemprolongaras horas dedescanso, sábadoé dia de brunch

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AUTOESPORTE ///////JANEIRO//////105

com relação a despachantes”, diz.“Mas alguns ultrapassam as nos-sas possibilidades. Já reclamaramdo valor dos carros e até da desva-lorização na hora da revenda.” Pa-ra Iza Corrêa, essa função surgiucomo reação ao famoso Serviço deAtendimento ao Consumidor. “Obrasileiro está insatisfeito com oSAC, principalmente com as em-presas de telefonia, porque ele vi-rou atendimento padrão. Por isso,cadamarcaprocuraoestreitamen-tocomocliente”,explica.“Asmar-cas premium buscam ainda maisesse contato. Elas devem mostrarque o cliente não vai ser atendidopor serviçopadronizado.”Nem tão premium assim, a Ci-

troën já apresenta certas seme-lhanças com as marcas de lu-xo. Com o projeto de renovar suaidentidade visual seguindo osmoldes europeus, as concessio-nárias que já passarampela trans-formação ganharam, entre outrascoisas, uma sala de estar comuma

TV de plasma virada para os so-fás e outra para os principais car-ros expostos, além de detalhes nailuminação. “Algumas luminá-rias têm uma luz redonda brancae no centro uma lâmpada amare-la, que ilumina por dentro dos vi-dros dos carros, dando uma visãomais aconchegante. É a diferen-ça de comer em um restauran-te de luxo ou num quilão”, brincaLeda Zogbi, gerente de desenvol-vimento de rede da Citroën. Ledaacredita quehoje emdia asmarcascorrem atrás das mesmas coisas.Por isso, quem conseguir se dife-renciar com serviços irá se desta-car. Que o resultado de bons ser-viços na hora da compra aumentaas vendas, isso ninguém discute.Mas será que a aparência da lojatambémcontamesmo?“Sim.Quemsai na frente équem

oferece serviços e visual impecá-veis”, responde a gerente de mar-keting da Via Itália. “O ambien-

te influencia no encantamento, no

fato de o cliente ficarmais propen-

so a comprar.Quandoestá tudoar-rumadinho, perfeito, o cliente já sesente bem”, completa Viviane. Aprofessora da ESPM acredita queconcessionárias que tentam atraira atenção do cliente não só pelosserviços, mas também pela ima-gem, são casos isolados.“Sem dú-vida todas asmarcas procuramum

diferencial, o mercado automobi-lísticotemmuitaoferta,muitacon-corrência, e os produtos não apre-sentam diferenças muito grandes”,diz Iza. Ela julga faltar criatividadena comunicação de varejo, que ge-ralmente atrai através de grandespromoções. “Não tem mais o queinventar, já colocaram palhaços,gente com perna de pau... O mer-cadodeautomóveisémesmomuitocompetitivo”,dizOshiro,diretor daPlatinuss.“Onichode superespor-tivosecarrosdealto luxoépequenoe bastante dividido.Se nãofizer al-

gumacoisadiferente,quevalorizeoproduto, não há como se destacar”,concordaViviane.Agora, convenhamos que aliar

imagem e serviços impecáveis,sem bajulação, parece impossível,não? Talvez seja. O fato é que nosmais de 40minutos em que fiquei

na loja daMini, nenhumvendedorveio me atender ou sequer apare-ceu.“O importante é primeiro re-conhecer o espaço, começar a co-nhecer o produto.É uma áreamaisrelaxada,demais liberdade e tran-quilidade. Mas nesse tempo de-veria ter recebido algum tipo deatendimento do vendedor”, dizFritsches,diretordamarcanoBra-sil. Se foi ou não um caso isolado,fica a dica: se o atendimento de-morar, a solução é assistir aTV.Ouchamaroombudsman. //////

PLATINUSSFuturistaO showroom daSpyker é cercadopor mesa decentro e poltronasfuturistas. Nadamenos paraum carro de, nomínimo, R$ 1milhão

À alturaNa loja que vendeo superesportivoPagani Zonda,que chega acustar até R$ 8,8milhões, clientestêm direito aflores e cartões noaniversário

Triângulos 3DA loja temarquiteturadiferenciada,com o logo darevendedora emrelevo e formasgeométricasque saltam dasextremidades

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110///////AUTOESPORTE//////FEVEREIRO

Veículos com emissão zero estão entre os assuntos da vez, masserá que teremos infraestrutura para recebê-los?///// POR ANDREZZA CZECH

Nascidos na mesma época do motor a combustão, noomdo século 19, os ve-ículos elétricos chegaram até a ensaiar uma entrada no Brasil em 1974com omodelo Itaipu, criado pelo engenheiro João Conrado do AmaralGurgel.Masatéhojeelesocaramnapromessa.Noanoquepassou,adis-cussão sobre os veículos elétricos voltou à tona graças à chuva de lan-çamentos e carros-conceito que não emitem poluentes. Por aqui, a Pe-trobras inaugurou em junho o primeiro eletroposto do país no Rio deJaneiro, e o tema foi discutido no 6º Seminário e Exposição deVeículosElétricos, emCampinas (SP).Mas serámesmoque oBrasil chegará a terumafrotadeelétricos?Pior:depoisdeumapagãoqueatingiu 18estados,nossa infraestruturavai dar conta?Para RobertoMárioDiNardo, diretor executivo de operações daAES

Eletropaulo, inicialmente não haverá problema. “A princípio, estamospreparados para atender a essa nova carga. O ideal seria que os carrosfossem recarregados de madrugada, quando a demanda por energia émenor”.RenatoGiacomini, coordenadordocursodeEngenhariaElétri-ca da FEI, concorda que emumprimeiromomento o abastecimento nãoteriaproblema, jáqueademandaseriapequena.“Depoishaveriaaques-tão da concentração de energia. Os locais que já consomemmuito – as

grandes metrópoles – seriam osquegastariammais.”Mas, afinal, como recarregá-

los? “O melhor local seria na ga-ragem mesmo, plugando o car-ro na tomada, como um celular”,aormaDiNardo. ParaGiacomini,não é tão simples assim. “O idealé que a recarga seja feita em umarede própria. É uma carga muitogrande, por isso a distribuição deenergia elétrica tem de ser muitobemprogramada.”Outra opção de recarga são os

eletropostos. O primeiro deles,inaugurado na Barra da Tijuca,no Rio, funciona através de ener-gia solar e, emdias de chuva, puxaa energia do próprio posto. Pauloda Luz Costa, gerente de tecnolo-gia eGNVda rede BR, conta que oeletroposto foi dimensionadoparacarregarduasmotospordiaepos-sui duas entradas de 220 volts eumade 110volts. “Temos, emmé-dia, de um a três clientes por dia.São usuários de motos que nãocarregam o veículo por mais deuma hora, o que permite que ro-demde10kma15km”,diz.Segun-doele, aPetrobrasplaneja inaugu-rar umeletroposto emSãoPaulo e

Elétricos: o Brasilresiste à corrente?

CARRO VERDE //////

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AUTOESPORTE ///////FEVEREIRO////111

Primeiroeletropostobrasileiro :ca noRio de Janeiro:duasmotos podemser recarregadas aolongo de um dia

maisuma30kmdedistânciado jáexistentenaBarradaTijuca.Enquanto isso não ocorre, a

ideia de plugar o veículo na toma-da parece mesmo mais adequa-da para os que optampelasmotoselétricas. Samir Nunes, gerentede engenharia da Motor Z, (mar-ca que vende scooters elétricos),explica que o consumo médio deenergia para a recarga comple-ta (em oito horas) é de cerca de 1,2kW/h, o que equivale a R$ 0,50.Oproblema, nesse caso, é encontrarum local para carregá-la. “No iní-cio,ouvíamoshistóriasdeclientesque tiveram que subir com o veí-culo no elevador para carregá-lono apartamento, e até de umusu-ário que levou uma extensão até agaragem”, conta. Nunes explicaque o maior desaoo é aumentar aautonomia (que varia entre 40 kme 50 km) e que omaior uso dessesscooters é para segurança patri-monial, principalmente em sho-ppings, supermercados e rondaspoliciais emcondomínios.CarlãozinhoCoachman, geren-

te de produtos doGrupo Izzo, queimportaráembrevealinhademo-tocicletas 100%elétricas da Zero,garante que o produto poderá ser

usado nos grandes centros urba-nos,graçasàautonomiade80km.Mas o fato é que para os carros aautonomiaaindaéumentrave.“Nossa Palio Weekend elétrica

é destinada aos grandes centros,mas não atinge o deslocamentoentre cidades”, explica LeonardoCavaliere, supervisor de inova-ções da Fiat. Ele participa do pro-jeto damontadora que, emparce-ria com a hidrelétrica de Itaipu,produziu um lote de 50 peruas to-talmente elétricas. Elas passampor fase de testes nas empresasde energia elétrica do país. AWe-ekend elétrica tem autonomia de100km,atinge 120km/heprecisade oito horas para ser recarrega-da. “Mas o preço do kit elétrico éo grande vilão: aproximadamente35 mil euros na Suíça, fora os im-

postos”, lembraCavaliere.O preço subsidiado do veículo

para as empresas de energia elé-trica é de R$ 145 mil, enquanto opreço mínimo do mesmo modelomovido a combustível não chegaaR$40mil.Cavaliere garantequese o proprietário não deixar des-carregarpor completo abateriadesódio e níquel, ela funcionará porcercadequatroanos.

FEI X-19Esse Chevrolet Astra elétrico éequipado com 21 baterias, ummotor elétrico de 30 cv e umregenerativo a combustão de 400cc. Ele é capaz de atingir 140 km/he, considerando tarifas residenciaisde energia, consome entre R$ 0,10e R$ 0,12/km.

FEI X-17Possui motor de 400 W depotência. Quando foi campeão daMaratona de E4ciência Energéticade 2006, o carro/foguetepercorreu 29,2 km com apenastrês baterias de 72 W/h cada uma,atingindo 135 km por kW/h.

MERLINFoi construído com carroceria empoliéster e 4bra de vidro, e possui27 baterias em série. Cada carga,de aproximadamente seis horas a220 V, possibilita percorrercerca de 100 km.

ELÉTRICOS DA FEI

FOTO: DARYAN DORENELLES/FOTONAUTA/ÉPOCA

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112///////AUTOESPORTE//////FEVEREIRO

Para Ricardo Bock, professor de Engenharia Automobilística da FEI, odescartedasbaterias seráumproblema. “Omaterial temde ser reproces-sadode forma inteligente paranão agredir omeio ambiente, pois as bate-riasmais eocientes têmelementos extremamente agressivos”. Pietro Er-ber, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE),acredita que as baterias estão evoluindo,mas ainda énecessário odesen-volvimento demodelosmais compactos de níquel e íon-lítio.Mesmo as-sim,háaquestãodopreço.Segundoele, existembaterias comautonomiadeaté120km,maselassãoimportadasecustamdeR$60milaR$70mil.Se a questão é dinheiro, a boa notícia é que já há bateriasmais baratas

emfasededesenvolvimento.Eomelhor, aquinoBrasil.OgrupoElectro-cell, formado por empresários sediados noCentro Incubador de Empre-sasTecnológicas (Cietec), naUniversidadedeSãoPaulo, pesquisa abate-riabipolardegraote,destinadaapenasparaveículos 100%elétricos. “Elacustacercade US$150okW/h,enquantoadeíon-lítiocustaaproximada-mente US$1.200”,explicaGilberto Janólio,engenheiroeletrônicodaem-

presa.Abateriabipolardegraoteprovémdatecnologiadecélula de com-

bustível, tem cerca de 70mil kmde autonomia em sua vida útil e gera de50W/ha60W/hparacada kg.“Comparandocomade íon-lítio, sãousa-dos2/3daenergiapara1/5docusto”,completa. Adesvantageméqueelaé40%maispesadadoqueade íon-lítio ,porémé100%reciclávelMesmocomcertos avanços tecnológicos, o presidente daABVEacre-

dita que ainda são necessários grandes investimentos em linhas demontageme áreas como capacitação de indústria de autopeças e em re-des de assistência. “Para você ter uma indústria de automóveis elétricosmesmo, só comuminvestidor quedisponhademuitos recursos comoasgrandesmontadoras”, concluiErber.

E o governo, não deveria inves-tir nos elétricos?ParaAdrianoPi-res, diretor do Centro Brasileirode Infraestrutura (CBIE) e pro-fessor da UFRJ, a resposta é não.“Commaior investimento, a tari-fa tende a ocarmais cara. Não vaiter sentido o governo incentivar”,afirma. “Além disso, o papel dogoverno é impulsionar o usomaiseocientedeenergia,nãoummaiorconsumo”,diz.Pires lembra que já há umgran-

de grupo consumidor de ener-gia e que cada vez mais a po-pulação brasileira tem acesso aequipamentos que consomemenergia elétrica. Ele acredita queinvestimentos emodernização dagestão do setor elétrico, como adescentralização do planejamen-to, são essenciais. “Precisamosainda de soluções mais regio-nais para o abastecimento, comoo bagaço de cana em São Paulo, aenergia eólica noNordeste e o usodepainéis solares.” /////

Em Itaipu há 50unidades daWeekend elétrica.Autonomia é deapenas 100 km

CARRO VERDE

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