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COLECÇÃO MELHORES PRÁTICAS DA ONUSIDA Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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COLECÇÃO MELHORES PRÁTICAS DA ONUSIDA

Auto-ajuda:Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

ONUSIDA – 20 avenue Appia – 1211 Genebra 27 – SuíçaTel: (+41) 22 791 36 66 – Fax: (+41) 22 791 48 35

E-mail: [email protected] – Internet: http://www.unaids.org

Fotografi as da capa e outras ilustrações: ONUSIDA / Ruth Evans

Versão original inglesa, UNAIDS/06.22E, Junho de 2006 : Helping Ourselves: Community Responses to AIDS in Swaziland

Tradução – ONUSIDA

estatuto jurídico de qualquer país, território, cidade ou zona, nem de suas autoridades, nem tampouco questões de demarcação de suas fronteiras.

A menção de determinadas companhias ou do nome comercial de certos produtos não implica que ONUSIDA os aprove ou recomende, dando-lhes preferência a outros análogos não mencionados. Com excepção de erros ou omissões, os nomes de especialidades farmacêuticas distinguem-se pela letra maiúscula inicial.

ONUSIDA não garante que as informações contidas nesta publicação sejam completas e correctas e não pode ser responsável por qualquer dano resultante da sua utilização.

© Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA (ONUSIDA) 2007.

Todos os direitos reservados. As publicações produzidas por ONUSIDA podem ser pedidas ao Centro de Informações de ONUSIDA. Os pedidos para reprodução ou tradução de publicações de ONUSIDA – seja para venda ou para distribuição não comercial – devem ser endereçados ao Centro de Informações no endereço mais abaixo ou enviados por fax: +41 22 791 4187, ou E-mail: [email protected].

As denominações utilizadas nesta publicação e a apresentação do material nela contido, não signifi cam, por parte de ONUSIDA, nenhum julgamento sobre o

UNAIDS/06.22P / JC1259P (versão portuguesa, Março de 2007)

Dados do Catálogo de Publicações da Biblioteca da OMS

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia.

(colecção Melhores Práticas de ONUSIDA) “UNAIDS/06.22E / JC1259P”.

1.Infecções por VIH – prevenção e controlo. 2.Infecções por VIH – terapia. 3.Síndroma de imunodefi ciência adquirida – prevenção e controlo. 4.Síndroma de imunodefi ciência adquirida – terapia. 5.Participação do consumidor. 6.Assistência a crianças. 7.Suazilândia. I.ONUSIDA. II.Organização Mundial de Saúde. III.Séries: Colecção Melhores Práticas de ONUSIDA.

ISBN 92 9 173518 3 (Classifi cação NLM: WC 503.7)

Auto-ajuda:Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

COLECÇÃO MELHORES PRÁTICAS DE ONUSIDA

Agradecimentos

A realização deste relatório, comissionado por ONUSIDA, só foi possível com a ajuda generosa de muitos colaboradores. ONUSIDA e a sua autora desejam agradecer especialmente a Jabu Dlamini do Gabinete do Vice-Primeiro-Ministro cuja energia inspiradora e capacidades de organização transformaram a visita da autora à Suazilândia numa experiência rica e produtiva. ONUSIDA também está muito grato aos inúmeros Ministérios, entidades, profi ssionais de saúde, professores, líderes de organizações religiosas, líderes económicos, organizações não-governamentais, voluntários e outras pessoas que tão generosamente ofereceram o seu tempo, opiniões e competências. O pessoal da Equipa Nacional de ONUSIDA aproveita a oportunidade para apresentar os seus agradecimentos a colegas e amigos demasiado numerosos para serem mencionados.

Mas sobretudo, agradecimentos ao povo de Mambatfweni e Mambane pelo caloroso acolhimento feito à autora e pela franqueza e eloquência com que falaram sobre os desafi os que enfrentam relacionados com a epidemia de SIDA, as iniciativas importantes que as comunidades estabeleceram para tentar atenuar o seu impacto, e as suas esperanças e receios pelo futuro de tais iniciativas.

Autora: Ruth Evans que também fez as fotografi as.

Índice

Agradecimentos 2

Prefácio 5

Abreviações e acrónimos 6

Resumo 7

Introdução 10O Reino da Suazilândia – Factos e valores 10Perfi l da epidemia na Suazilândia 10Porque razão a prevalência do VIH é tão alta na Suazilândia? 11A resposta nacional à epidemia 12Formulação de políticas destinadas a cuidar de crianças que fi cam órfãs devido à SIDA 13A resposta comunitária 14

Um conto de duas comunidades 15Mambatfweni, região de Manzini 15Comunidade de Mambane, região de Lubombo 16

Postos de Cuidados de Proximidade 17Postos de Cuidados de Proximidade como centros de desenvolvimento infantil 19Ligar os Postos de Cuidados de Proximidade ao sistema geral de educação 20Alimentar crianças vulneráveis 20Tornar visível quem é vulnerável 21Reunir a comunidade 21Visita ao Posto de Cuidados de Proximidade de Ngumane 22Postos de Cuidados de Proximidade nas cidades 22Postos de Cuidados de Proximidade incorporados no segundo Plano Estratégico Multissectorial Nacional de Luta contra a SIDA 22Desafi os 23Resumo dos resultados 24

Terrenos Indlunkhulu 25Experiências de Mambatfweni 26A experiência de Mambane 27Desafi os 27Resumo dos resultados 27

Centros Sociais KaGogo 28Centro Social KaGogo de Mambatfweni 29Centro Social KaGogo de Mambane 29Desafi os 31Resumo de resultados 31

Iniciativas baseadas na comunidade para pessoas vivendo com o VIH 32Apoio de colegas, aconselhamento e cuidados em casa 32Motivadores de saúde em meio rural 32Quanto custa 34

Promover adesão à terapia anti-retroviral 34Rede Nacional da Suazilândia de Pessoas Vivendo com o VIH e a SIDA (SWANNEPHA) 34Desafi os 36Resumo dos resultados 36

Programas de Apoio Psicossocial 37Fazer reviver costumes tradicionais suazi 37Lutsango IwakaNgwane 37Obter a participação dos homens 38Encorajar abstinência 39Criar parcerias 39Participação de empresas 40Desafi os 40Resumo dos resultados 41

Serviços Comunitários de Proximidade 42Planos de descentralização 42Utilização dos centros sociais KaGogo para serviços de proximidade 42Saúde pública de proximidade 43Serviços de educação jurídica 43Prevenção da transmissão de mãe para fi lho 44Serviços de protecção infantil: oferecer um ombro para chorar 44Um ombro para chorar 45Protectores Comunitários de Crianças 45Polícia comunitária 46A resposta jurídica a abuso de crianças 46Desafi os 47Resumo dos resultados 47

Conclusão 48

Lições tiradas 49

Anexo 1: Contactos úteis para informação suplementar ao sujeito de iniciativas comunitárias na Suazilândia. 50

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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Prefácio

Em Março de 2005, uma Missão Conjunta do Fundo Mundial de Luta contra a SIDA, a Tuberculose e o Paludismo (Fundo Mundial) e ONUSIDA, conduzida pelo Dr. Peter Piot (Director Executivo de ONUSIDA) visitou o Reino de Suazilândia para observar alguns dos programas comunitários de luta contra o VIH que aí foram elaborados. Num país gravemente afectado pela epidemia, tais programas representam métodos inovadores e inspiradores para apoiar pessoas infectadas e afectadas pelo VIH, especialmente crianças órfãs e vulneráveis.

A Missão Conjunta visitou a comunidade de Mambatfweni na região de Manzini onde as iniciativas comunitárias são baseadas em vários elementos interligados:

• construção de um centro social comunitário KaGogo para coordenar esforços desti-nados a lutar contra a epidemia e os seus impactos;

• estabelecimento de um sistema de Postos de Cuidados de Proximidade para alimentar órfãos e outras crianças vulneráveis, transmitir-lhes competências de base essenciais e fornecer-lhes cuidados e apoio no âmbito da comunidade;

• restabelecimento do sistema tradicional de terrenos comunitários indlunkhulu para ajudar a produzir alimentos para pessoas doentes e vulneráveis;

• estabelecimento de estruturas de apoio comunitárias para pessoas vivendo com o VIH;

• fornecimento de programas de apoio psicossocial; e

• reforço de serviços de cobertura comunitária.

Mambatfweni não é a única a desenvolver tais esforços comunitários. Em todo o país, iniciativas comunitárias semelhantes estão a ser introduzidas e multiplicadas, tendo-se tornado as bases da resposta nacional na Suazilândia que, em 2005, regista a maior prevalência no mundo.

Após a visita, membros da Missão Conjunta sugeriram a publicação destas activi-dades comunitárias inspiradoras como parte das publicações da Colecção Melhores Práticas de ONUSIDA para realçar os métodos inovadores adoptados e aprender com tais experiências. Este relatório descreve certas respostas de duas comunidades diferentes em regiões diferentes do país.

Abreviações e acrónimos

ADV Aconselhamento e detecção voluntários

AMICAALL Iniciativa de Aliança de Presidentes de Câmaras para Acção Comunitária sobre a SIDA a Nível Local

CANGO Assembleia de Coordenação de Organizações Não-Governamentais

DPMO Escritório do Primeiro Ministro Adjunto

E Emalangeni (plural da moeda da Suazilândia, o Lilangeni)

FNUAP Fundo das Nações Unidas para as Populações

Fundo Mundial Fundo Mundial de Luta contra a SIDA, a Tuberculose e o Paludismo

MoE Ministério da Educação

MoH & SW Ministério da Saúde e Previdência Social

NCP Postos de Cuidados de Proximidade

NERCHA Concelho Nacional de Resposta em Caso de Emergência sobre VIH e SIDA

OMS Organização Mundial de Saúde

ONUSIDA Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA

PMA Programa Mundial para a Alimentação

PNUD Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento

RHM Motivadores de Saúde Rurais

SIDA Síndroma de Imunodefi ciência Adquirida

SIPAA Apoio a Parceiros Internacionais Contra a SIDA na África

SWAGAA Grupo de Acção da Suazilândia Contra Abuso

SWANNEPHA Rede Nacional da Suazilândia de Pessoas Vivendo com o VIH e a SIDA

UNICEF Fundo das Nações Unidades para a Infância

VIH Vírus da Imunodefi ciência Humana

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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Resumo

“Se não honrarmos o nosso passadoperdemos o nosso futuro.

Se destruirmos as nossas raízesnão podemos crescer.”

Provérbio suazi

É evidente que a SIDA é actualmente uma crise de tal importância na África Austral que uma abordagem “costumeira” não pode continuar. Há uma necessidade evidente de expe-rimentar iniciativas novas e criativas para mobilizar comunidades inteiras na luta contra a epidemia. A Suazilândia, que em 2005 registou a maior prevalência de VIH no mundo, está a implementar medidas novas e inovadoras baseando-se em práticas tradicionais enraizadas nas comunidades.

Este documento Melhores Práticas regista informações obtidas graças a reuniões consultivas variadas e visitas no terreno a duas comunidades suazi - Mambatfweni na região de Manzini e Mambane na região de Lubombo. A autora entrevistou muitas pessoas responsá-veis implicadas nas iniciativas comunitárias nas duas comunidades e observou o processo em acção. Também foram feitas várias visitas a locais sociais, incluindo Postos de Cuidados de Proximidade, centros sociais KaGogo, terrenos, instalações e serviços comunitários.

Um dos impactos mais visíveis para agregados familiares e comunidades tem sido o aumento espectacular do número de crianças órfãs e vulneráveis para cerca de 69.000 actu-almente – um número que, segundo as previsões para 2010, aumentará para mais de 120.000 ou seja, cerca de 15% da população. Muitas das iniciativas comunitárias apresentadas neste relatório procuram atenuar os impactos da epidemia nestas crianças e dar-lhes esperanças para o futuro.

A cultura suazi existente está a ser reforçada e intensifi cada para estabelecer uma resposta efi caz à SIDA. As práticas e políticas adoptadas, embora em certos casos especifi -camente suazi, também podem servir de inspiração para outros países enfrentando problemas semelhantes. Este documento examina se algumas das experiências inovadoras e práticas da Suazilândia podem ser reproduzida em outros lugares; e procura avaliar certos pontos fortes e fracos de tais iniciativas de base comunitária.

O relatório resume estudos de casos de alguns programas comunitários de luta contra o VIH que têm sido desenvolvidos na Suazilândia, entrando em linha de conta com:

• como e quando surgiram as iniciativas comunitárias;

• os objectivos do programa ou projecto;

• a população visada (como foi escolhida e por que razão);

• como foram desenvolvidos os programas e origem do aconselhamento por peritos/especialistas;

• como e onde são tomadas as decisões;

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• as pessoas implicadas no programa ou projecto e o tipo de competências que possuem;

• parcerias;

• elaboração de orçamentos e fi nanciamento;

• impacto que o programa/projecto está a ter e como é avaliado (monitorização e avaliação); e

• lições tiradas da experiência – êxitos e fracassos; problemas encontrados e como foram tratados.

As iniciativas resumidas neste relatório têm sido salva-vidas para comunidades enfrentando problemas aparentemente esmagadores e insuperáveis. Em vez de deixar as pessoas sem ajuda e sem esperança, deram às comunidades esperança para o futuro e pertença das soluções.

Cada comunidade é única com diferentes pontos fortes e pontos fracos. As experi-ências das duas comunidades apresentadas sofreram variações importantes, com algumas das iniciativas estabelecendo raízes mais fi rmes numa comunidade mas não na outra. Outras difi -culdades, tais como seca intensa e penúria alimentar agravada, estão a ter um impacto directo nos esforços das comunidades para estabelecer e manter estas iniciativas.

Conseguiu-se muito num espaço de tempo muito curto, mas restam muitos desafi os. Contudo, não há dúvidas sobre o empenho das comunidades em fazer tudo o que podem para se ajudar mutuamente.

Em todas estas iniciativas práticas, quer na prestação de apoio psicossocial, quer no trabalho conjunto da comunidade para fornecer postos de cuidados para órfãos ou criar mais alimentos para crianças vulneráveis, a motivação vem da própria comunidade. Esta abordagem ‘vinda da base’ permite o desenvolvimento de iniciativas comunitárias e habilita o povo a nível local a identifi car os problemas por si próprio. O apoio prestado pelo governo e parceiros inter-nacionais permite o desenvolvimento e a viabilidade destas iniciativas locais.

Contudo, sem apoio do governo e doadores, estes esforços que inovam e inspiram podem ser seriamente enfraquecidos por um quinto ano consecutivo de seca e consequente penúria alimentar que a Suazilândia e a região da África austral como um todo têm pela frente.

A escassez de alimentos também está a ameaçar debilitar a importante introdução do tratamento anti-retroviral que a Suazilândia conseguiu até agora. As pessoas não podem tomar tais medicamentos sem nada no estômago e actualmente há pessoas que não podem entrar em programas de tratamento por causa de não terem de comer.

Comunidades como Mambatfweni e Mambane, apoiadas simplesmente em espe-ranças e ideais, mostraram a sua determinação em se mobilizar para responder às ameaças representadas pela SIDA e enfrentar as suas consequências devastadoras da melhor maneira que lhes é possível. Fizeram progressos mas a epidemia ainda não diminuiu. Para assegurar que a voluntariedade comunitária não diminui se as pessoas têm fome e, como resultado, fi cam incapazes de manter estas iniciativas inovadoras e inspiradoras, é necessário o apoio do governo e de fontes externas.

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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Nomes de origem siSuati e a suas defi nições em português

Umphakatsi – Lugar de residência do chefe e sede da comunidade

Indlunkhulu – Residência tradicional do Chefe

Indvuna – Assistente do Chefe

Inkhundla – Administração local

KaGogo – Cabana tradicional da avó, referindo-se agora a um lugar de refúgio dentro do umphakatsi.

Lihlombe lekukalela – “Um ombro para chorar” membros da comunidade que são treinados para proteger as crianças e dar apoio às que sofrem abuso.

Lutsango Lwa boMake – organização tradicional de mulheres casadas.

Tigodzi – partes de um território de chefe (sub-território) equivalente a um bairro em zonas urbanas

Lutsango LwakaNgwane – Regimento tradicional de mulheres

Tinkhundla – território da administração

Umcwasho – prática cultural com o objectivo de preservar a virgindade das raparigas.

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Introdução

O Reino da Suazilândia – Factos e valoresO Reino da Suazilândia – Factos e valores

População: 1 096 000Capital: Mbabane (71 000)Moeda: EmalangeniLínguas: siSuati, inglêsReligiões: cristã, crenças locaisSuperfície: 17 364.4 quilómetros quadrados (10 789 milhas)

Perfi l da epidemia na SuazilândiaPerfi l da epidemia na Suazilândia

Prevalência do VIH em postos de saúde pré-natal1992 3.9%, 1994 16.1%1996 31.6%1997 34.2%2000 38.6%1

2004 42.6%2

• O primeiro caso de SIDA da Suazilândia foi comunicado em 1986.

• O Rei declarou a SIDA “um desastre nacional” em 1999.

• A Suazilândia tem uma população de pouco mais um milhão de pessoas, e calcula-se que cerca de 200 000 são seropositivas ao VIH.

• Há actualmente cerca de 26 000 casos de SIDA, dos quais cerca de 50% estão a receber, do Governo com o apoio do Fundo Mundial3, medicamentos anti-retrovirais gratuitos.

• Calcula-se que em 2010 poderá haver 120 000 crianças órfãs.

1 NERCHA – Projecto do Plano multissectorial Nacional de Operação de Sistemas de Monitorização e Avaliação do VIH/SIDA

2 Ministério da Saúde e Assistência Social, 8º Relatório Sentinela de Sero-Vigilância do VIH.3 NERCHA

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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A epidemia está a ter um efeito catastrófi co no país. São poucas as famílias que não são afectadas e mais de 50% dos leitos de hospital são ocupados por pacientes com a SIDA4. Quando os hospitais nada mais podem fazer, os pacientes são enviados para casa aos cuidados de familiares e da comunidade.

A perda de rendimentos e a desorganização social e económica causada pela epidemia é impossível de quantifi car com precisão. Calcula-se que a taxa anual de crescimento da economia suazi caiu de 2,6% em 2003 para 2,1% em 20045. Perto de 70% da população já está a viver com 10 dólares EUA por mês6 e o fardo representado pelos cuidados a pessoas doentes e moribundas está a empurrar muitas mais pessoas para uma maior pobreza.

O declínio da instabilidade alimentar das famílias deve-se, em parte, a padrões climáticos irregulares, à dimi-nuição de terras aráveis e ao VIH e morte de membros produtivos da sociedade. A auto-sufi ciência alimentar diminuiu de 60% para 40% durante os últimos três anos e há poucas esperanças de uma recuperação num futuro próximo7. A combinação de pobreza, fome e mortalidade tem um enorme impacto nas vidas de crianças e outros membros vulneráveis da sociedade.

Um dos efeitos mais visíveis da epidemia nos agregados familiares e nas comunidades foi um aumento espectacular do número de crianças órfãs para actualmente 69.000 – um número que, até 2010, irá aumentar para cerca de 120.000, ou seja, cerca de 15% da população.

Devemos assinalar que na cultura suazi não existe o conceito ‘ocidental’ de órfão. Tradicionalmente, uma criança que perde os pais é acolhida pela família alargada, mas agora o número de crianças órfãs e vulne-ráveis é tão importante que esta não tem capacidade para fazer frente. Avós ou parentes idosos que têm de olhar por crianças que perderam os pais devido a doenças relacio-nadas com a SIDA, muitas vezes não têm nem energia nem meios para cultivar alimentos sufi cientes.

Porque razão a prevalência do VIH é tão alta na Suazilândia?Porque razão a prevalência do VIH é tão alta na Suazilândia?

Segundo Derek von Wissell, Director Nacional do Conselho Nacional de Resposta de Emergência ao VIH e à SIDA (NERCHA) da Suazilândia, é difícil responder a esta questão complexa. “A resposta não é simples … mas o que eu posso dizer é que a Suazilândia não é um caso único. Mas é provavelmente o primeiro. Estaremos possivelmente cinco ou dez anos à frente de outros países se estes não tomarem medidas drásticas para travar a epidemia.”

4 Ministério da Saúde e Assistência Social5 Declaração orçamental do Ministério das Finanças da Suazilândia de 9 de Março de 2005.6 Projecto do Plano de Monitorização e Avaliação para o Plano de Acção Nacional OVC da Suazilândia, 2005.7 ECHO, “Humanitarian assistance to vulnerable groups in Lesotho and Swaziland affected by combined

effects of drought and HIV/AIDS.”

Calcula-se que nos próximos cinco anos haverá pelo menos 120.000 órfãos na Suazilândia.

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Entre as razões citadas das altas taxas de infecção da Suazilândia:

• uma ruptura das normas e valores tradicionais numa sociedade fortemente moral atacada por colonialismo, consumismo e a cultura do ‘deitar fora’;

• uma grande mobilidade – homens que vão trabalhar nas minas da África do Sul para ganhar dinheiro; igualmente mobilidade interna fácil com pessoas tendo casas em zonas rurais e em cidades, com um tipo de homens capazes de se deslocar facilmente e estabelecer relações fora das suas famílias;

• uma razão científi ca para as altas taxas de infecção: pessoas recentemente infectadas têm cargas virais muito altas que podem assegurar taxas de transmissão altas; por isso, numa sociedade polígama como a Suazilândia, onde as pessoas têm muitos parceiros, a infecção propaga-se rapidamente (embora menos comum do que anteriormente devido à despesa implicada, a poligamia existe a todos os níveis da sociedade suazi; mesmo se a sua prática formal esteja a diminuir, é muitas vezes substituída por uma rede informal de parceiros múltiplos).

A situação com que depara a Suazilândia vai provavelmente piorar antes de melhorar. Mas estatísticas recentes mostram um raio de esperança com uma pequena diminuição na taxa de novas infecções entre a faixa dos 15 a 20 anos8.

A resposta nacional à epidemiaA resposta nacional à epidemia

Desde Dezembro de 2001, a resposta nacional da Suazilândia à epidemia tem sido coordenada pelo Conselho Nacional de Resposta de Emergência ao VIH e à SIDA (NERCHA). O Governo da Suazilândia incumbiu ao NERCHA o trabalho de transpor o Plano Estratégico Nacional de Luta contra o VIH/SIDA num plano de acção, e de assegurar a prestação de serviços coerentes e abrangentes de prevenção, cuidados e apoio e atenuação do impacto às pessoas que deles necessitam. O Conselho é também responsável pela monitorização e avaliação de tais respostas e por satisfazer as necessidades fi nanceiras e administrativas da resposta nacional.

O trabalho da Resposta Nacional é orientado por seis princípios básicos:

1. A Resposta deve ser nacional – a Suazilândia enfrenta uma epidemia generalizada, e por isso o país como um todo deve ser mobilizado para responder efi cazmente à SIDA.

2. Utilização de soluções locais – a solução do problema só pode vir do país. Há muitas questões sociais, económicas e culturais que são diferentes de um país para outro e cada um tem de encontrar o seu próprio modelo.

3. Foi decidido não criar uma nova burocracia para tratar do problema da SIDA, mas alargar e aprofundar estruturas existentes e aceites que são viáveis se a sua capaci-dade puder ser aumentada.

4. Como a epidemia é universal e está muito espalhada, os serviços devem chegar a todas as pessoas em qualquer parte do país. A equidade em serviços e bens a todos os órfãos em todo o país é um conceito muito importante.

5. A Participação Comunitária é a base da resposta do país à epidemia. Para as comu-nidades é extremamente importante não só participar nos programas mas também os gerir. A resposta da comunidade deve vir da própria comunidade.

8 Ministério da Saúde e Assistência Social 2002, 8º Relatório Sentinela de Sero-Vigilância do VIH.

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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6. Sustentabilidade – tudo o que se fi zer deve ser sustentável pela comunidade com um mínimo de apoio externo.

ONUSIDA apoia o Governo da Suazilândia na implementação dos “Três Princípios”:

• uma estrutura de acção consensual de luta contra a SIDA que fornece a base de coor-denação do trabalho de todos os parceiros

• uma autoridade nacional de coordenação da luta contra a SIDA

• um sistema consensual de monitorização e avaliação.

A Suazilândia adoptou os “Três Princípios” e está a trabalhar para a sua implemen-tação. Actualmente, está a ser elaborado um novo Plano Estratégico que, em vez de cobrir um período de cinco anos como o anterior, funcionará durante três anos de 2006 a 2008 devido ao reconhecimento da natureza rapidamente alterável da epidemia na Suazilândia e os desafi os representados por necessidades sociais variáveis.

Formulação de políticas destinadas a cuidar de crianças que fi cam órfãs Formulação de políticas destinadas a cuidar de crianças que fi cam órfãs devido à SIDAdevido à SIDA

Entre os desafi os que a Suazilândia tem pela frente, um dos maiores talvez seja o problema de cuidar dos milhares de crianças órfãs. O Projecto do Plano de Acção Nacional da Suazilândia para Crianças Órfãs e Vulneráveis9 defi ne uma criança órfã ou vulnerável como alguém com menos de 18 anos de idade que entra numa ou mais das seguintes categorias:

• criança cujos pais ou tutores não podem cuidar dela;

• criança fi sicamente incapacitada;

• criança vivendo sozinha ou com avós pobres e idosos;

• criança vivendo numa família pobre ou não tendo domicílio permanente;

• criança sem acesso a cuidados de saúde, educação, alimentação, vestuário, cuidados psicológicos e/ou sem abrigo contra os elementos;

• criança exposta a agressões sexuais ou físicas, incluindo trabalho infantil.

No passado, tem sido muitas vezes difícil defi nir exactamente o que é uma criança órfã ou quem é vulnerável, e recolher com precisão dados sobre tais crianças. Uma criança pode ser ‘duplamente órfã’ (isto é, se ambos os pais estão mortos ou ausentes) ou órfã (se um dos pais morreu ou está ausente). Uma criança vulnerável é algumas vezes vagamente defi nida como economicamente vulnerável, algumas vezes sexualmente vulnerável ou em risco de exposição ao VIH, abuso ou exploração. Contudo, segundo o novo Plano de Acção Nacional para Crianças Órfãs e Vulneráveis, será estabelecido um Departamento de Coordenação sobre Crianças no Ministério da Saúde e Assistência Social para coordenar todas as intervenções destinadas a proteger os direitos das crianças.

Reconhecendo que as crianças órfãs e vulneráveis têm direito a protecção, alimen-tação, saúde e educação, o Plano de Acção Nacional da Suazilândia a elas destinado tem por objectivos essenciais:

• Assegurar que as crianças órfãs e vulneráveis têm acesso a abrigo e protecção contra agressões sexuais, violência, exploração, discriminação, tráfi co e perda de herança.

9 2005

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• Assegurar que indivíduos e agregados familiares vulneráveis são capazes de produzir ou adquirir alimentação adequada de maneira a satisfazer as suas necessidades nutri-cionais a curto e a longo prazo.

• Fornecer melhor acesso a serviços básicos de cuidados de saúde.

• Assegurar instrução primária universal e apoio a crianças órfãs e vulneráveis em escolas secundárias10.

A resposta comunitáriaA resposta comunitária

“A Suazilândia é como uma árvore. Se quisermos que as coisas funcionem correctamente, precisamos de nos concentrar no tronco. Depois, os ramos vingarão.”

Chefe Sipho Shongwe, Ministro da Saúde e Assistência Social.

O Reino da Suazilândia está dividido em 360 umphakatsi ou territórios da soberania de chefes, tanto em zonas rurais como urbanas. Umphakatsi é a estrutura social mais perto do povo e o organismo que as famílias rurais procuram em primeiro lugar quando precisam de assistência. Na Suazilândia, a comunidade é uma zona defi nida e um certo número de agregados familiares sob o patrocínio de um Chefe cuja nomeação é confi rmada por Sua Majestade o Rei.

A epidemia atingiu duramente muitas comunidades rurais suazi, pois quando pessoas vivendo em cidades fi cam doentes com doenças relacionadas com o VIH, muitas vezes voltam para as suas comunidades rurais para receber cuidados. Além de assumir os cuidados muitas vezes exigentes das pessoas infectadas com o VIH, a comunidade também tem de cuidar dos órfãos quando os pais morrem. “Estão a morrer muitas pessoas. É algo que nunca se viu neste país,” diz James Xaba uma pessoa idosa da comunidade de Mambatfweni. Como diz, quando a sua própria fi lha morreu, o impacto na família foi enorme. Os seus quatro fi lhos foram viver com ele temporariamente até o pai das crianças, que estava a trabalhar na África do Sul, poder tomar conta delas, mas este nunca voltou. James vive com uma defi ciência e tem difi culdade em cuidar dos seus netos.

Ao princípio, as pessoas como James lutam sozinhas mas rapidamente se torna evidente que a comunidade terá de trabalhar em conjunto para poder olhar pelos doentes e mori-bundos, e dar de comer a todas as crianças órfãs e vulneráveis. Muitas iniciativas comunitárias começaram com indivíduos ajudando a dar de comer a crianças órfãs vivendo perto pois podiam ver a amplitude do problema e sentiam que deviam tentar fazer qualquer coisa. Agora o Governo, apoiado por parceiros e agências, decidiu formalizar e apoiar algumas destas iniciativas.

“A maneira de conseguir que as coisas se façam é dirigir-se ao povo”Príncipe Masitsela, Administrador Regional da Região de Manzini

Este relatório enfoca as respostas comunitárias em duas comunidades situadas em diferentes partes do país. Observa como seis diferentes iniciativas comunitárias inovadoras se desenvolveram e foram reforçadas graças ao apoio do Governo e de outros parceiros e revela os seus êxitos e obstáculos.

10 Projecto de plano de monitorização e avaliação para o Plano de Acção Nacional de OVC para a Suazilândia

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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Um conto de duas comunidades

Mambatfweni, região de ManziniMambatfweni, região de Manzini

Mambatfweni é uma grande comunidade numa região de cultura de milho, a cerca de uma hora e meia de carro na direcção sudoeste da ligação Mbabane-Manzini. A estrada acompanha o rio Ngwempisi, agora em certos lugares quase seco, num panorama de colinas

e fl orestas, salpicado de herdades espa-lhadas. A comunidade tem cerca de quatro mil herdades e em cada agregado familiar vivem em média seis a sete pessoas11.

Cada casa é rodeada de campos razoavelmente grandes, não cultivados nos fi ns de Setembro, à espera de ser lavrados em preparação para a estação de plantação. A agricultura nesta zona é na maior parte mecanizada com tractores privados ou máquinas alugadas à Delegação do Ministério da Agricultura e Cooperativas na povoação de Mahlangatsha onde também estão situados o posto de saúde, loja e posto de polícia mais próximos da comunidade.

Vista de Mambatfweni.

11 Segundo John Ntlalintjali, Concelho dos anciãos de Mambatfweni

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Aqui, as secas não são tanto um problema como em Mambane e outras partes do país, embora a zona seja propensa a fortes tempestades de granizo que provocam danos nas colheitas. Os agricultores também se queixam que devido à mecanização das culturas têm grandes despesas (sementes, fertilizantes, etc.).

Há cinco anos que a Princesa Ncoyi é a Chefe Interina de Mambatfweni12. Nasceu na comunidade, mas desde o seu casamento mudou para outra comunidade na Região de Manzini. Apesar de ausente a maior parte do tempo, tem sido uma força impulsionadora da mobilização de Mambatfweni. É conhecida por tomar parte em trabalhos nos campos de Indlunkhulu para mostrar, com o seu exemplo, que a comunidade precisa de trabalhar em conjunto em qualquer altura.

Comunidade de Mambane, região de LubomboComunidade de Mambane, região de Lubombo

A comunidade de Mambane fi ca numa das zonas mais remotas, mais pobres e mais secas da Suazilândia e nos últimos anos foi duramente atingida por secas periódicas. A estrada que leva à comunidade corre ao longo da cordilheira das Montanhas Lubombo, com vista dominante sobre o verde viçoso das plantações de açúcar na estepe à direita. À esquerda, para além das montanhas, fi ca Moçambique. Durante a guerra civil nesse país, esta zona acolheu milhares de refugiados do outro lado da fronteira.

Há cerca de sete anos, o Rei confi rmou a nomeação do chefe Mvimbi Matse. Este calcula que Mambane tem cerca de 875 agregados familiares, com uma média de 10 pessoas por agregado. O número de crianças órfãs e vulneráveis duplicou nos últimos três anos, passando de 260 em 2002-2003 a 675 em 2004-2005. Calcula que em 2010 poderá haver entre 1000 e 1250 órfãos na comunidade.

O chefe Mvimbi Matse diz que o VIH é um problema grave em Mambane e que está a tentar encorajar as pessoas a verifi car o seu estado. No ano 2000 assistiu a um workshop de sensibilização para Chefes, mas lamenta que muitas vezes quando convoca reuniões comunitá-rias poucas pessoas compareçam.

O Chefe nomeou recentemente um novo Indvuna (Assistente do Chefe) e Badlancane (Conselho Directivo). Os membros deste Conselho dizem que a sua carga de trabalho tem aumentado com o aumento acelerado de pobreza e fome e o número crescente de pessoas doentes e moribundas.

A comunidade está a sofrer o quinto ano consecutivo de seca grave e há falta de água. Dia a dia a penúria alimentar torna-se mais grave e cresce o número de pessoas que se deslocam a Umphakatsi para pedir a ajuda do Chefe.

Com o agravamento da seca, uma grande proporção de famílias são forçadas a tirar água de fontes não protegidas e não potáveis. Unicamente 36,5% dos agregados familiares têm água encanada; 6% tiram a água de represas, 21,6% de rios, 28,1% de nascentes, 3,8% de poços e 2,4 de ‘outras fontes’. Mais de metade das famílias não têm acesso a saneamento e muitas pessoas estão longe de atingir o objectivo declarado do Governo de ter serviços de saúde num raio de 10 km13.

12 Ela vai continuar nessa função até o jovem escolhido pelo Rei ter idade sufi ciente para assumir o encargo.13 S.P. Kunene, Ministério da Saúde e Assistência Social, Departamento do Paludismo.

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Postos de Cuidados de Proximidade

Os Postos de Cuidados de Proximidade (PCP) foram estabelecidos para Os Postos de Cuidados de Proximidade (PCP) foram estabelecidos para prestar apoio diário a crianças órfãs e vulneráveis, e dar a possibilidade prestar apoio diário a crianças órfãs e vulneráveis, e dar a possibilidade de serem criadas na comunidade.de serem criadas na comunidade.

A Suazilândia prefere uma política em que as crianças órfãs e vulneráveis sejam criadas nas suas comunidades, pois os cuidados em instituições são anátema para os costumes suazi e, de qualquer maneira, demasiado caros devido ao número de casos implicados. O resultado foi o estabelecimento de uma rede considerável de Postos de Cuidados de Proximidade (PCP) em muitas comunidades.

Em cada Posto de Cuidados de Proximidade, um grupo de pessoas prestadoras de cuidados (voluntárias mas aprovadas pela administração do chefe) oferecem um local onde crianças vulneráveis podem ser acolhidas todos os dias para obter uma refeição quente, ter oportunidade de brincar com outras crianças e receber instrução não-formal e apoio psicosso-cial. Actualmente, existem cerca de 415 Postos de Cuidados de Proximidade na Suazilândia, com mais de 33.000 crianças registadas.

Mambatfweni tem 13 Postos de Cuidados de Proximidade na comunidade, e a região de Manzini como um todo está razoavelmente bem servida por uma rede de centros. A região de Lubombo, pelo contrário, tem cerca de 220 Postos de Cuidados de Proximidade em 31 comu-nidades mas Mambane só tem actualmente um centro em funcionamento baseado no centro KaGogo.

O ímpeto inicial de lançamento dos Postos de Cuidados de Proximidade foi lançado por indivíduos da comunidade e impulsionado pela comunidade. A iniciativa nasceu na região de Hhohho onde certas mulheres compreenderam a importância do problema dos órfãos que as rodeavam e começaram a cuidar de crianças nas suas próprias casas ou debaixo de uma árvore, contribuindo com comida das suas próprias famílias. “Há muitas mulheres nas comuni-dades que são sinceramente motivadas para ajudar as crianças dentro da comunidade. É verdade que enfrentam muitos problemas, mas apesar de tudo, muitas delas ainda se levantarão e irão cuidar das crianças,” diz Thembi Gama, Coordenador Nacional de NERCHA para Alívio do Impacto.

Um grupo de mulheres da comunidade de Mambatfweni reuniram-se para discutir o número crescente de órfãos na zona, e decidiram tentar estabelecer um projecto para os ajudar. Em Setembro de 2003, foram informadas que o NERCHA podia fornecer milho para alimentar as crianças e receberam 80 sacos de milho e alguns tanques com água. As mulheres eram responsáveis pela distribuição do milho e inicialmente as crianças recebiam rações para levar para casa, mas depressa compreenderam que, em famílias em que o chefe era uma criança, muitas vezes as rações não chegavam até às crianças mais jovens e muitas sofriam de fome. Assim, decidiram cozinhar para as crianças num ponto central para estas receberem uma refeição quente, o que era especialmente importante para as crianças vivendo com avós que não podiam cozinhar para elas. Fornecer uma refeição quente também tinha o benefício social de reunir as crianças. Outras pessoas da comunidade contribuíam com vegetais ou açúcar ou qualquer outra coisa que podiam dar. As pessoas idosas e tomando medicamentos anti-retrovirais também recebem alguns alimentos através dos Postos de Cuidados de Proximidade.

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Rose Mdluli, uma Prestadora de Cuidados voluntária do Posto de Cuidados de Proximidade de Gugwini, diz que as mulheres tinham ouvido falar dos Postos de Cuidados que tinham sido estabelecidos na região de Hhohho e pediram ao Gabinete do Adjunto ao Primeiro Ministro para receber formação. Depois de formadas, decidiram estabelecer um Posto de Cuidados na casa de uma das mulheres; este posto foi eventualmente transferido para um local central devido ao número crescente de crianças. Receberam alguns materiais de construção e duas grandes panelas do UNICEF. A comunidade reuniu-se para construir uma simples cabana de lama com um telhado de chapa ondulada para servir de Posto de Cuidados de Proximidade.

UNICEF constatou esta actividade e ajudou as pessoas a mobilizar e a expandir o que estavam a realizar. Como diz Pelucy Ntambirweki, Coordenador do Programa do UNICEF “a ideia era criar um Posto perto das crianças”. Iniciou-se então uma campanha de mobilização massiva sobre a questão, coordenada pelo Gabinete do Adjunto ao Primeiro Ministro que se tornou o gabinete responsável pela introdução e estabelecimento de Postos de Cuidados de Proximidade nas comunidades em todo o país. Foram feitas reuniões com chefes, líderes locais e mulheres para trabalhar em conjunto e trocar experiências14. Formaram-se Prestadoras de Cuidados para compreender o traumatismo sofrido pelas crianças quando perdem um dos pais. Aprenderam a cuidar das crianças, a mantê-las limpas, a preparar-lhes comida e a ensinar-lhes como cuidar de si próprias.

Prestadoras de Cuidados voluntárias de Mambaftweni também se deslocaram à região de Hhohho para ver o trabalho aí realizado. Ficaram espe-cialmente impressionadas com os quintais que viram e que forneciam vegetais para os Postos de Cuidados de Proximidade, e decidiram também estabelecer quintais em Mambaftweni. O Centro Moya (uma organização não-governamental local), com fundos da Companhia dos Correios e Telecomunicações da Suazilândia, ajudou a fazer cercas nos quintais para impedir que cabras e galinhas comam as culturas; cada criança recebeu um lote de terreno para cultivar vegetais. Agora, a maioria dos Postos de Cuidados de Proximidade de Mambaftweni fi zeram quintais ou alargaram os já existentes, com a fi nalidade dupla de fornecer alimentos adicionais para os Postos de Cuidados e de ensinar às crianças a produzir os seus próprios alimentos. Muitas crianças que perderam os pais não tinham ninguém para lhes ensinar a trabalhar a terra. Cada criança tem o seu terreno e deve regar os vegetais todos os dias – tarefa que realizam com notável entusiasmo, orgulhosos dos alimentos que produzem.

Há actualmente cerca de 1500 voluntárias cuidando de 33.000 crianças em mais de 415 Postos de Cuidados de Proximidade em todo o país. As

14 Foram obtidos fundos do Directório Geral da Comissão Europeia para Assistência Humanitária (ECHO) para apoiar a iniciativa em duas regiões, o que permitiu a formação de prestadoras de cuidados.

As crianças receberam pequenos terrenos para cultivar vegetais.

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voluntárias são escolhidas por comissões que foram estabelecidas nas comunidades. O trabalho é feito numa base de rotação, mas como as voluntárias não são pagas pelo trabalho que fazem, pode muitas vezes ser uma luta. Muitas das prestadoras de cuidados também são pobres, neces-sitadas ou doentes, e muitas vezes também têm em casa órfãos a seu cargo. A uma reunião comu-nitária de prestadoras de cuidados em Mambatfweni, mais de metade das mulheres presentes tinham perdido membros da família devido à SIDA e, nos seus lares, a maioria também tinha de cuidar de órfãos além dos seus próprios fi lhos.

Inicialmente, UNICEF fornecia à comunidade panelas e alimentos. Eventualmente, as comunidades forneciam os alimentos ou estes eram criados nos quintais. Mas com anos sucessivos de seca tornou-se evidente que muitas comunidades necessitavam de mais ajuda para manter a iniciativa. Muitas necessitaram de fornecimentos suplementares de alimentos do Grupo de Trabalho Nacional para Desastres, dependente do Gabinete do Adjunto ao Primeiro Ministro. Outras necessitaram de vestuário para crianças que pouco ou nada tinham.

Os Postos de Cuidados de Proximidade também necessitavam de água e de sanea-mento e ECHO (Assistência Humanitária da Comunidade Europeia) fi nanciou o fornecimento de tanques de água e canos que foram distribuídos pelo UNICEF. Também ajudou a construir latrinas de fossa. Todo o trabalho de construção foi feito pelas próprias comunidades com o apoio técnico do Gabinete do Adjunto ao Primeiro Ministro e parceiros.

Comissões de Coordenação a nível de administração de chefe são responsáveis pela identifi cação de crianças órfãs, elaboração de uma lista de quem necessita de ajuda, dando à lista um carácter ofi cial. Mas em zonas pobres sofrendo secas e escassez de alimentos, pode ser difícil determinar quem necessita de ajuda: de repente cada pessoa é um órfão.

Vester Simelane, uma prestadora de cuidados no Posto de Cuidados de Proximidade Susane em Mambatfweni, diz que as prestadoras de cuidados vivem na comunidade e sabem quem são as crianças órfãs. Se um dos pais morre, as prestadoras de cuidados discutirão depois do funeral com a família para saber se a criança necessitará de ser cuidada no Posto de Cuidados de Proximidade. E comenta: “Há tantos funerais. O seu número está a aumentar, especialmente de raparigas jovens que deixam crianças pequenas com as avós. Nestes casos, vê-se que a avó é uma pessoa idosa e incapaz de alimentar as crianças ou de cultivar os campos, razão pela qual o posto de cuidados se tornou tão importante.”

Postos de Cuidados de Proximidade como centros de desenvolvimento Postos de Cuidados de Proximidade como centros de desenvolvimento infantilinfantil

Com o decorrer do tempo, os Postos de Cuidados de Proximidade foram-se alterando e adaptando e estão agora a fi car mais do tipo centros de desenvolvimento infantil. Na maioria dos postos de cuidados, encontram-se crianças a partir dos seis anos; muitas delas nunca frequentaram a escola. Nos primeiros tempos dos Postos de Cuidados de Proximidade tornou-se depressa evidente a necessidade urgente de educação informal para que as crianças pudessem depois ser integradas no sistema geral de educação. UNICEF forneceu a presta-doras de cuidados alfabetizadas um conjunto “Escola numa caixa” contendo quadros, alfabetos, livros, canetas, lápis, borrachas e uma bola. “Isto foi um progresso importante,” diz Pelucy Ntambirweki, Coordenador do Programa do UNICEF. “De repente, mais crianças vieram aos Postos de Cuidados de Proximidade, não unicamente por terem fome mas porque queriam receber educação. Os Postos de Cuidados de Proximidade tornaram visíveis as crianças vulne-ráveis. Agora, as estatísticas estavam identifi cadas e desafi avam o Governo a tomar medidas.”

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Ligar os Postos de Cuidados de Proximidade ao sistema geral de Ligar os Postos de Cuidados de Proximidade ao sistema geral de educaçãoeducação

Os Postos de Cuidados de Proximidade chamaram a atenção para o número de crianças que normalmente não eram incluídas no sistema convencional de educação, e são um meio efi caz para dirigir as crianças para a escola.

Em Dezembro de 2004, o Governo anunciou oferecer bolsas a órfãos para estes frequentarem a escola, e agora paga directamente às escolas 400E (aproximadamente 60$US) por criança. O resultado foi um aumento espectacular em inscrições nas escolas. O número de crianças de Postos de Cuidados de Proximidade frequentando escolas ofi ciais atingiu 1258 em Junho de 200515. As prestadoras de cuidados podem agora discutir com os directores das escolas sobre a razão de uma criança não frequentar a escola. A constituição da Suazilândia menciona a necessidade de prestar educação gratuita a nível primário.

O Ministério da Educação prevê outro aumento enorme no número de alunos uma vez que seja implementada a política de instrução primária universal em 2006, de acordo com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. A Suazilândia procura introduzir a política gradualmente para evitar sobrecarregar o sistema de educação. A formação de professores já foi iniciada, mas o problema duplo da fuga de cérebros e dos próprios professores também caírem doente e morrerem de doenças relacionadas com a SIDA continua a minar os esforços para expandir a capacidade de ensino.

Os problemas com que deparam as escolas são muito diferentes dos enfrentados há dez ou quinze anos atrás, e o programa escolar está a ser adaptado em consequência. Por exemplo, a agricultura embora já fazendo parte do programa escolar, tornou-se ainda mais importante numa situação em que as crianças não têm ninguém em casa que lhes transmita os conhecimentos necessários para cultivar alimentos para sobreviver16.

Em muitas escolas foram estabelecidos planos de alimentação para assegurar que crianças órfãs e vulneráveis têm por dia pelo menos uma refeição; o Ministério da Educação gostaria de ver fornecer duas refeições por dia.

Alimentar crianças vulneráveisAlimentar crianças vulneráveis

Nos Postos de Cuidados de Proximidade a maior necessidade é, de longe, comida, e esta necessidade está a tornar-se mais e mais crítica à medida que o impacto de cinco anos de secas sucessivas atinge as comunidades. O Programa Mundial para a Alimentação (PMA) está empenhado em apoiar os Postos de Cuidados e as pessoas voluntárias que neles trabalham forne-cendo rações de ‘comida em troca de trabalho’ para cerca de quatro prestadoras de cuidados em cada Posto de Cuidados. Cada ração chega para alimentar cinco pessoas e assim as prestadoras de cuidados também podem alimentar as suas próprias famílias. O PMA procura conseguir um pacote mínimo para estes centros e escolas, e determinar o que necessitam. CANGO, um consórcio de organizações não-governamentais locais, também tem estado a trabalhar com os Postos de Cuidados de Proximidade através do Consórcio de Segurança Alimentar nacional, ajudando a distribuição de alimentos a populações vulneráveis.

15 Escritório do DPM: minutas da reunião da rede de Protecção Infantil, Junho de 2005.16 O Governo recebe apoio de UNESCO para adaptar o programa. A U.E. também forneceu fi nanciamento

de €20 milhões ao Governo da Suazilândia para um programa sobre: educação básica (acesso, equidade, etc.); educação infantil, necessidades especiais de crianças defi cientes; e desenvolvimento de capacidades e competências técnicas.

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Tais esforços têm por objectivo reforçar e apoiar Postos de Cuidados de Proximidade em comunidades vulneráveis tais como Mambane. Na região de Lubombo, 99% dos Postos de Cuidados de Proximidade dependem inteiramente da distribuição de alimentos pois as comuni-dades lutam para se alimentar, e isto sem falar das pessoas vulneráveis. Quando não há disponi-bilidade de comida, os Postos de Cuidados de Proximidade não podem funcionar.

Tornar visível quem é vulnerávelTornar visível quem é vulnerável

Cada Posto de Cuidados de Proximidade tem o encargo de manter um registo de crianças; isto ajuda a obter informações capitais sobre crianças órfãs e vulneráveis em zonas onde antes os dados eram poucos ou não existentes. Melhores informações têm permitido que o Governo e os doadores visem a ajuda e modelem os programas onde mais necessários.

“Os Postos de Cuidados de Proximidade têm sido um maravilhoso ponto de entrada para fornecimento de serviços. Agora, estes podem ser levados do nível nacional e regional à comunidade,” diz Pelucy Ntambirweki de UNICEF. Por exemplo, muitas crianças não tinham os certifi cados de nascimento nem a documentação necessária para inscrição na escola e acesso às bolsas de estudo do Governo. Agora, estes documentos são emitidos na comunidade e o resultado é ter havido um aumento importante no número de crianças qualifi cadas para receber bolsas. Estão agora a ser feitos esforços semelhantes com certifi cados de casamento e de falecimento.

Os Postos de Cuidados de Proximidade também criaram um ponto de entrada para outros parceiros e iniciativas tais como o programa de distribuição alimentar do PMA, a assis-tência de FAO com quintais e os programas apoiados por ONUSIDA de cuidados e prevenção do VIH.

Algumas crianças assistidas nos Postos de Cuidados de Proximidade têm problemas de saúde graves e algumas são seropositivas ao VIH. Em muitas comunidades existem agora planos para levar serviços de saúde itinerantes aos Postos de Cuidados em vez da criança ter de ir ao dispensário que pode fi car distante e ser difícil de atingir. “Os Postos de Cuidados de Proximidade facilitam o nosso trabalho pois as crianças estão juntas,” diz Andreas Zwane, a enfermeira do dispensário de Mahlangatsha, o serviço de saúde mais próximo para as pessoas de Mambatfweni.

Reunir a comunidadeReunir a comunidade

Os Postos de Cuidados de Proximidade também reuniram as comunidades de outras maneiras; algumas também estabeleceram aulas de alfabetização de adultos17 que se reúnem à tarde. Outras estabeleceram projectos para produzir rendas e planos de crédito para compra de certos artigos tais como sal e óleo para cozinhar, ou uniformes escolares e outras coisas neces-sárias para órfãos. Muitas vezes, as mulheres reúnem-se à tarde nos Postos de Cuidados de Proximidade ou perto destes os quais se tornaram um ponto focal na comunidade.

Prestadoras de cuidados de 13 Postos de Cuidados de Proximidade em Mambatfweni, apoiadas pelo Governo, organizações não-governamentais e parceiros, também estabeleceram um plano de crédito e poupança. Aprenderam a organizar os grupos e a gerir o dinheiro; há actu-almente 120 membros em quatro grupos de poupança. A cota de entrada é de 10E (Emalangeni é a moeda da Suazilândia) (aproximadamente 1,48$US) e cada membro contribui com 10E ou mais por mês. Depois podem pedir empréstimos ao grupo para fi nanciar projectos geradores de

17 Com a ajuda de Sabenta, uma organização não-governamental da Suazilândia.

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renda; pagam o empréstimo inicial com 20% de interesse. Os planos de poupança mostraram ser muito populares entre as mulheres as quais antecipam o prazer de receber os seus divi-dendos no fi m do ano.

Visita ao Posto de Cuidados de Proximidade de NgumaneVisita ao Posto de Cuidados de Proximidade de Ngumane

Com uma bata azul vivo e um chapéu de palha de aba larga, Hlobsile Shabangu está a mexer a papa de milho em duas enormes panelas pretas fora da simples cabana de lama que serve de Posto de Cuidados de Proximidade de Ngumane. Ao endireitar as costas para limpar o fumo dos olhos, vê do alto da colina a paisagem magnifi ca do vale mais abaixo.

Este Posto de Cuidados de Proximidade, um dos 13 em Mambatfweni, foi estabele-cido por Hlobsile e três vizinhas em Julho de 2004 e agora alimenta diariamente 53 crianças de 11 agregados familiares. Ao princípio forneciam elas mesmas a comida e quando não tinham sufi ciente pediam ajuda a outras vizinhas. Diz que muitas das crianças que vão à escola quando voltam estão esfomeadas pois durante todo o dia não tiveram nada para comer. As voluntárias cozinham para as crianças cinco dias da semana, mas no fi m-de-semana não há nada.

“Não foi fácil”, diz Hlobsile “mas foi mais fácil quando as vizinhas começaram a ajudar com a alimentação. As crianças sentem-se bem quando comem juntas. Quando chegam e não há comida, sentem-se mal e vão-se embora muito tristes.”

Por trás da cabana há uma pequena horta com uma cerca onde as crianças estão a regar com orgulho os vegetais que produzem para comer. Têm cenouras, saladas, couves e beterrabas; Hlobsile diz que produzem sufi ciente para vender alguns vegetais para poderem comprar fósforos, sal e novas sementes. A horta é fi nanciada pela Companhia dos Correios e Telecomunicações da Suazilândia (SPTC). A água para rega provém de um regato próximo e é encanada até um tanque, construído para eles pelo Ministério da Agricultura e Cooperativas, o que signifi ca que, ao contrário do que acontece em muitas outras partes do país, aqui a irrigação não é um problema.

O Posto de Cuidados de Proximidade de Ngumane é agora ajudado com fundos de UNICEF e ECHO, e as prestadoras de cuidados receberam chapa ondulada, vestuário para as crianças, um conjunto “Escola numa caixa”, e alguns alimentos.

Postos de Cuidados de Proximidade nas cidadesPostos de Cuidados de Proximidade nas cidades

Os Postos de Cuidados de Proximidade não são unicamente um fenómeno rural; também foram estabelecidos em zonas urbanas. Na cozinha de Gigi nos arredores de Manzini, todos os dias se distribui às crianças papas de farinha e feijões, e laranjas frescas e também se presta instrução.

Postos de Cuidados de Proximidade incorporados no segundo Plano Postos de Cuidados de Proximidade incorporados no segundo Plano Estratégico Multissectorial Nacional de Luta contra a SIDAEstratégico Multissectorial Nacional de Luta contra a SIDA

A Suazilândia está actualmente a projectar um novo Plano Estratégico Nacional de Luta contra a SIDA para os próximos três anos18; os Postos de Cuidados de Proximidade vão ser recursos essenciais na resposta nacional. O Plano de Acção Nacional para Órfãos e Crianças Vulneráveis também considera os Postos de Cuidados de Proximidade como uma estrutura

18 Em contraste com o período de cinco anos que o plano precedente cobria.

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importante para prestação de cuidados. Também irão desempenhar um papel crucial na política prevista pelo Governo de descentralização de serviços para o nível comunitário, que deve ser implementada brevemente.

Desafi osDesafi os

Não há dúvida que os Postos de Cuidados de Proximidade estão a trabalhar muito e a satisfazer muitas necessidades verdadeiras em muitas comunidades, mas é evidente que também enfrentam muitos desafi os.

• Há actualmente na Suazilândia cerca de 415 Postos de Cuidados de Proximidade, com mais de 33.000 crianças registadas. Calcula-se que em 2010 poderá haver 120.000 crianças órfãs e vulneráveis. Estão actualmente planeados mais 90 Postos, na sua maioria na região de Lubombo, mas ainda não serão sufi cientes para enfrentar um número triplo de órfãos necessitados de cuidados.

• Os Postos de Cuidados de Proximidade prestam assistência valiosa a crianças vulne-ráveis necessitadas de ajuda, mas também as colocam à parte e em certas comuni-dades isto acentua o estigma.

• Acontece que certas crianças órfãs e vulneráveis são acolhidas por outras famílias ou parentes, e a distinção entre uma criança que pode frequentar um Posto de Cuidados de Proximidade e as outras crianças da família que não podem frequentar pode ser problemática.

• O acesso nem sempre é possível: certas crianças vulneráveis são excluídas dos Postos de Cuidados de Proximidade quando não satisfazem os critérios estabelecidos pela comunidade ou quando vivem demasiado longe dos postos para fazerem a caminhada todos os dias.

• O abastecimento de muitos Postos de Cuidados de Proximidade é irregular e insu-fi ciente; estas difi culdades são exacerbadas em tempos de seca e penúria alimentar, quando toda a gente sofre e não há sobras de comida para dar a pessoas vulneráveis.

• Os Postos de Cuidados de Proximidade dependem das pessoas voluntárias. Estas têm grande coração mas muitas também têm problemas nas suas próprias famílias. Acontece também caírem doentes, e com as secas e a penúria alimentar que se intensifi cam, muitas vezes pouco resta de comida ou energia para dar a órfãos. O UNICEF espera que através do Fundo Mundial se possa conseguir fundos para ajudar a fi nanciar as prestadoras de cuidados. O PMA está a fornecer alimentos contra trabalho/formação (não só para as voluntárias mas também para as suas famílias) e espera que isto ajude como incentivo. Espera-se que em última análise o Governo venha a adoptar e continuar esta abordagem e que, com fundos do Fundo Mundial, possa pagar “um dólar por dia” pelos serviços, tempo e generosidade das pessoas voluntárias.

• Os Postos de Cuidados de Proximidade começaram como uma tentativa para ajudar crianças necessitadas, mas tornaram-se instituições permanentes mesmo se não podem prestar serviços de ensino adequados.

• A natureza informal e voluntária das origens dos Postos de Cuidados de Proximidade persiste em muitos casos. Isto pode resultar numa falta de integração de crianças nos serviços de instrução estabelecidos e formais. A monitorização de certas actividades

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destes Postos pode ajudar a encorajar uma relação mais estreita e consistente com os serviços existentes.

• A formação de prestadoras de cuidados pode fi car cara e é uma necessidade constante pois as substituições são muitas devido à falta de incentivos.

Resumo dos resultadosResumo dos resultados

• Sobretudo, os Postos de Cuidados de Proximidade tornaram visíveis as crianças órfãs e vulneráveis nas comunidades onde vivem, e reuniram as pessoas para encontrar soluções aos problemas enfrentados.

• Os Postos de Cuidados de Proximidade deram às comunidades um sentimento de responsabilidade e esperança para o futuro.

• Os Postos de Cuidados de Proximidade oferecem uma estrutura efi caz e de baixo custo, estável e acolhedora para crianças que de outra maneira nada teriam, permi-tindo-lhes reunir-se diariamente com outras crianças num contexto seguro para comer, aprender e brincar.

• Os Postos de Cuidados de Proximidade tornaram-se canais para educação não-formal e formal e preparação das crianças para a escola.

• Em épocas de seca e penúria alimentar, os Postos de Cuidados de Proximidade permitem a distribuição, de maneira efectiva e efi ciente, de comida de urgência a crianças necessitadas. As crianças também estão a aprender a cultivar alimentos para si próprias e a diminuir a dependência em outras pessoas.

• Os Postos de Cuidados de Proximidade infl uenciaram as políticas nacionais e a prestação de serviços, fornecendo um ponto focal para apoio às comunidades.

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Terrenos Indlunkhulu

O renascimento dos terrenos Indlunkhulu, uma prática tradicional que O renascimento dos terrenos Indlunkhulu, uma prática tradicional que tinha grandemente desaparecido, em que um Chefe atribui terras para tinha grandemente desaparecido, em que um Chefe atribui terras para a comunidade cultivar alimentos para membros vulneráveis da tribo, foi a comunidade cultivar alimentos para membros vulneráveis da tribo, foi outra resposta comunitária inovadora à situação na Suazilândia.outra resposta comunitária inovadora à situação na Suazilândia.

“Penso que as crianças órfãs da minha zona devem ser cuidadas pelas pessoas da comunidade e não por qualquer outra pessoa. Não podemos dizer que estamos a ajudá-las se as arrancarmos das suas raízes para as enviar para outro lugar… Em princípio, sou contra criar as crianças em instituições. Mesmo se os pais morrerem, ainda têm um recurso na terra – podemos manter estas crianças na comunidade, utilizando terras e recursos comunitários. Acredito fortemente que, como uma comunidade, podemos resolver a maior parte dos problemas, desde que nos seja dado apoio fi nanceiro.”

Chefe Sipho Shongwe, Ministro da Saúde e Previdência Social

Nos fi ns de Setembro, a Suazilândia fi ca envolvida numa névoa de fumo quando os campos são queimados em preparação para a nova estação de plantio. Normalmente, as chuvas principiam em Outubro, mas nos últimos cinco anos, a pluviosidade irregular juntamente com o impacto devastador do VIH na produtividade, deixaram um número crescente de pessoas incapazes de produzir alimentos sufi cientes.

Calcula-se que a Suazilândia precisa de 142.000 toneladas anuais de alimentos, mas prevê-se que em 2005 só poderá dispor de 80.000 toneladas de milho19. Umas 200.000 pessoas (quase um quinto da população), principalmente na savana mais seca das terras baixas do leste e do sul, enfrentam problemas de estabilidade alimentar. No passado, zonas propensas a secas ou zonas produzindo outras culturas de subsistência, tais como açúcar, podiam comprar milho da savana das terras altas, mas agora todo o país enfrenta penúria grave, e em certas regiões existe uma séria ameaça de fome.

Tradicionalmente, qualquer pessoa estrangeira à comunidade ou pessoa necessitada ia ao Imphakatsi ou administração do chefe para comida e alojamento, mas nos tempos modernos esta tradição praticamente desapareceu. O número crescente de crianças órfãs e necessitadas, juntamente com o desejo de manter estas crianças na comunidade, levou ao restabelecimento da prática tradicional dos terrenos Indlunkhulu.

Na Suazilândia, todas as terras pertencem ao Rei, e os chefes actuam como guardiães da terra em nome do povo. Um Chefe é considerado como o pai do seu povo, por isso, se o chefe de uma família morre, o costume suazi diz que incumbe ao Chefe cuidar das crianças. Segundo a cultura suazi, quem quer que tenha muito deve enviar alguma coisa ao Indlunkhulu. Os terrenos são lavrados e ceifados pela comunidade e as culturas são utilizadas para alimentar as pessoas que procuram a ajuda do Chefe.

19 Ministério da Agricultura e Cooperativas.

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O conceito de Indlunkhulu não só fornece alimentos adicionais para as pessoas necessitadas como também restabelece as práticas do trabalho em conjunto e da ajuda mútua, e poderia conduzir a melhores práticas em agricultura, apresen-tando às pessoas novos métodos e sementes.

O restabelecimento do programa de terrenos Indlunkhulu principiou em 2002, e NERCHA facilitou um processo de consulta com líderes tradicionais e o Ministério da Agricultura, e ajudou a mobilizar as comunidades. No primeiro ano, NERCHA e o Ministério da Agricultura e Cooperativas tinham previsto trabalhar com 100 admi-

nistrações de chefes, mas a resposta das comunidades foi tão positiva que o número das que queriam participar quase dobrou. Agora, estão a trabalhar no âmbito do programa cerca de 350 administrações de chefes, 320 das quais em zonas rurais e as restantes, trabalhando através de AMICAALL20, em zonas urbanas. NERCHA também forneceu fundos para o Ministério da Agricultura e Cooperativas encontrar silos para as comunidades armazenarem alimentos de Indlunkhulu a serem distribuídos aos membros necessitados da comunidade.

Experiências de MambatfweniExperiências de Mambatfweni

Mambatfweni foi uma das primeiras comunidades do país a retomar o conceito de terrenos Indlunkhulu, tendo a Chefe atribuído os primeiros terrenos em 2002. A comunidade aderiu ao conceito entusiasmada e, tal como previamente mencionado, a Chefe tem sido útil no restabelecimento do conceito de Indlunkhulu, muitas vezes tomando parte no cultivo das terras para dar o exemplo como líder.

No princípio, os rendimentos dos terrenos Indlunkhulu de Mambatfweni foram bons, com uma produção no primeiro ano de 40 sacos de milho de 50 quilos. “Era sufi ciente em 2000 dado que os órfãos não eram muitos,” diz John Ntjalintjali, membro do Conselho Interno. “Mas agora não chega pois o número de órfãos aumenta diariamente. Por isso este ano a comunidade tem um problema grave.” E acrescenta que, em 2005, os terrenos Indlunkhulu só produziram dois sacos de milho e toda a comunidade está a sofrer.

A escassez de alimentos em Mambatfweni foi causada não tanto pela seca mas por más condições climáticas e fortes tempestades de granizo que danifi caram as colheitas. A chegada tardia de sementes e fertilizantes também causou problemas em 2004-2005, e não houve planos de urgência para a penúria prevista em 2005-2006. Estes problemas foram notifi -cados ao Ministério da Agricultura e Cooperativas e a comunidade espera ter mais assistência de NERCHA e de outros parceiros para suplementar e manter a iniciativa. O Conselho Interno também pediu mais terras à Chefe para cultivar produtos para o número crescente de órfãos, e na altura da redacção deste documento estava à espera de uma resposta.

20 Iniciativa da Aliança dos Presidentes de Câmara para Acção Comunitária sobre a SIDA a nível local.

A NERCHA forneceu silos para as comunidades depositarem alimentos provenientes dos terrenos Indlunkhulu.

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A Chefe Interina de Mambatfweni, a Princesa Ncoyi, diz que as iniciativas comu-nitárias tais como os terrenos Indlunkhulu e os Postos de Cuidados de Proximidade têm sido muito importantes permitindo que a comunidade cuide das 430 crianças órfãs e vulneráveis da zona. Segundo diz, a comunidade precisa agora de apoio para melhorar o funcionamento destas iniciativas e assegurar a continuidade do processo de mobilização, acrescentando, “As pessoas fi cam fatigadas pois têm os seus próprios problemas.”

A experiência de MambaneA experiência de Mambane

Em Mambane, a comunidade sofre mais duramente dos efeitos da seca. Dia a dia agrava-se a escassez de alimentos e cada vez mais pessoas se dirigem a Umphakatsi pedindo assistência. O Chefe atribuiu terras para terrenos Indlunkhulu mas a produção tem sido fraca e completamente inadequada para satisfazer as necessidades da comunidade.

Desafi osDesafi os

• O maior desafi o que enfrenta o programa dos terrenos Indlunkhulu é o agravamento da seca. Muitas comunidades, tal como Mambane, não têm água para irrigação dos terrenos individuais ou comunais, e quando toda a gente tem fome, não se pode tomar disposições especiais para crianças órfãs e vulneráveis. A situação é crítica dado não haver nestas zonas água potável, e embora NERCHA, através do Fundo Mundial, tenha fornecido reservatórios para cada Umphakatsi, é difícil fornecer água às comu-nidade de maneira adequada e regular.

• O êxito dos terrenos Indlunkhulu também depende de receber artigos tais como sementes e fertilizantes a tempo, e de dispor de tractores para lavrar a terra. Sem isto, a comunidade não pode cultivar os terrenos Indlunkhulu.

• O êxito ou fracasso de iniciativas como a de restabelecer os terrenos Indlunkhulu depende grandemente da liderança dos Chefes. Alguns Umphakatsi não têm actual-mente um Chefe nomeado. Outro problema algumas vezes encontrado é o facto de muitas vezes os Chefes não residirem na comunidade, sendo-lhes difícil prestar uma liderança consistente.

Resumo dos resultadosResumo dos resultados

• O renascimento da prática de terrenos Indlunkhulu fornecendo alimentos para as pessoas necessitadas também fez reviver a prática do trabalho em comum e a ajuda mútua em tempos de necessidade.

• O conceito de terrenos Indlunkhulu permite que as comunidades sejam mais auto-sufi cientes em vez de dependerem da ajuda externa, e o resultado é dar-lhes um senti-mento de controlo e empenho em ajudar quem é necessitado.

• Trabalhar em conjunto como uma comunidade para cultivar a terra e implicar no processo as crianças que são benefi ciárias procedendo a uma transferência de compe-tências e conhecimentos agrícolas para aquelas cujos pais morreram.

• A participação comunitária na distribuição das colheitas assegura que o processo é transparente e de confi ança, e que os alimentos vão para as pessoas identifi cadas pelas próprias comunidades como necessitadas de ajuda

• Com o apoio efectivo de Funcionários de Ligação Agrícola, os terrenos Indlunkhulu podem tornar-se canais para melhores práticas em agricultura introduzindo novos métodos e sementes.

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Centros Sociais KaGogo

Os centros sociais KaGogo (ou casa da avó) que foram construídos em Os centros sociais KaGogo (ou casa da avó) que foram construídos em cada comunidade destinam-se a prestar serviços e a coordenar a resposta cada comunidade destinam-se a prestar serviços e a coordenar a resposta ao número crescente de crianças órfãs e vulneráveis. São novas iniciativas ao número crescente de crianças órfãs e vulneráveis. São novas iniciativas baseadas num renascimento de costumes tradicionais.baseadas num renascimento de costumes tradicionais.

Tradicionalmente, o Chefe desempenha o papel de guardião do povo, olhando pelo seu bem-estar, mas nos últimos tempos muitas destas responsabilidades e costumes quase desapareceram. Agora, os costumes tradicionais estão a reaparecer para reforçar a capacidade da comunidade a enfrentar o impacto da epidemia de SIDA. Assim, os centros KaGogo e os terrenos Indlunkhulu são novas iniciativas baseadas em costumes tradicionais.

Os centros sociais KaGogo (literalmente casa da avó) têm sido tradicionalmente parte de cada comunidade e são um local de refúgio ou de neutralidade para discutir questões de família

ou resolver disputas. Agora estão a ser restabelecidos como uma maneira de mobilizar e habilitar as comunidade para lutar contra o VIH. Os centros sociais KaGogo encontram-se em cada administração de chefe perto do seu Umphakatsi, e servem como uma base para alívio do impacto, prevenção e cuidados e apoio a esforços e estão a ser utilizados para reviver tradições antigas de apoio psicossocial.

Todos os centros sociais KaGogo foram construídos pelas próprias comunidades que forneceram o trabalho e materiais locais. NERCHA e o Fundo Mundial contribuíram fi nan-ceira e tecnicamente. O custo estimado de cada centro é de 10.000$US.

A construção dos centros foi iniciada em 2003 e o programa KaGogo teve um progresso imenso num espaço de tempo muito curto. Até agora, 50% dos centros de todo o país estão terminados, e outros 30% estão construídos até ao nível do telhado. Alguns foram cons-truídos em menos de dois meses. A participação e a gestão dos centros sociais KaGogo pelos membros da comunidade foi um elemento essencial do seu êxito. A mobilização reuniu todos os actores que trabalharam como uma equipa. Os centros entusiasmaram as comunidades pois o conceito era familiar e compreendiam porque razão, na era da SIDA, era preciso ressuscitar os centros sociais KaGogo.

Desobstruir os sítios para a construção e as estradas de acesso foi algumas vezes um problema para as comunidades, mas o Departamento de Desenvolvimento Territorial depen-dente do Ministério da Agricultura e Cooperativas chegou ao ponto de desviar máquinas de outros projectos para os ajudar. A água era outro problema e o Ministério dos Trabalhos Públicos e Transportes ajudou.

O novo centro KaGogo em Mambatfweni.

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Com a agravação da seca e a crise alimentar, NERCHA está a coordenar esforços para distribuir alimentos em urgência através dos centros sociais KaGogo. Os alimentos são armazenados nos centros e a sua distribuição é controlada por comissões de coordenação comu-nitárias. As comunidades escolhem estas comissões de coordenação, utilizam os centros sociais KaGogo para reuniões e recolhem dados básicos sobre crianças órfãs e necessitadas.

Encara-se a possibilidade dos centros sociais KaGogo poderem eventualmente prestar outros serviços essenciais para crianças órfãs e vulneráveis, permitindo-lhes continuar a viver na comunidade a que pertencem. Por exemplo, os centros sociais KaGogo podem ser utili-zados para ensino pré-escolar e ensino não-formal, tanto para crianças como adultos. Contudo, embora o Governo esteja interessado em expandir os centros sociais KaGogo como centros para ensino não-formal, não se considera que se devam tornar um fi m em si mesmos. Em vez disso, poderão preparar as crianças para a escola e encaminhá-las para integrar o ensino geral.

Centro Social KaGogo de MambatfweniCentro Social KaGogo de Mambatfweni

O centro social KaGogo em Mambatfweni foi um dos primeiros do país a ser terminado. É de construção sólida com pedra local e tem um belo telhado de palha e um grande terraço onde se fazem as reuniões. Na parte de trás tem a zona da cozinha, e quatro escritórios pequenos e um arquivo para guardar dados sobre crianças órfãs e vulneráveis e outras pessoas necessitadas na comunidade.

O centro social KaGogo é frequentemente utilizado para reuniões de coordenação comunitária para gerir a resposta de Mambatfweni à epidemia, coordenar as actividades dos Postos de Cuidados de Proximidade, escolher pessoas voluntárias prestadoras de cuidados e Promotores de Saúde Rurais, e controlar a distribuição de alimentos. Está localizado no centro da comunidade e tem ao lado um tanque para armazenagem de cereais das colheitas prove-nientes dos terrenos Indlunkhulu.

Centro Social KaGogo de MambaneCentro Social KaGogo de Mambane

O centro social KaGogo de Mambane está construído basicamente como o de Mambatfweni e serve duplamente de Posto de Cuidados de Proximidade – o único na comuni-dade. No terraço coberto de palha, sentadas em cadeiras de plástico, cerca de 40 crianças fazem somas compartilhando folhas quadriculadas marcadas de dedos. As idades vão de sete a 17 anos. Com apoio do PMA recebem por dia duas refeições de papas de milho e sopa de feijão a meio da manhã e ao almoço.

Lungile Matse é uma das professoras e prestadoras de cuidados voluntárias do Posto de Cuidados de Proximidade. Recentemente viúva e com cinco fi lhos para cuidar, consegue arranjar tempo para ir ao Posto de Cuidados todas as manhãs, cinco dias por semana. Havia 89 crianças registadas no posto mas agora são 83 pois seis delas foram para a escola. O resto das crianças – embora em idade escolar – é aqui que recebe as suas únicas lições. Lungile e as outras voluntárias receberam uma certa formação e, utilizando folhas de exercício e livros fornecidos pelo UNICEF, ensinam matemática, siSuati e inglês. A instrução prestada no Posto destina-se a crianças com idade para escola primária que não tiveram a possibilidade de ir para a escola, mas várias das crianças presentes são mais velhas.

Um quadro na parede mostra que 18 crianças não têm família ou são órfãos de pai e de mãe. Vinte e três outras só tinham um dos pais e 42 estavam classifi cadas como ”vulne-ráveis”. A comissão de coordenação comunitária decide quem deve ser admitido nos Postos

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de Cuidados de Proximidade e as prestadoras de cuidados dizem que muitas mais gostariam de o fazer mas, ou vivem longe de mais ou são demasiado jovens.

Mambane está dividida em sete zonas, e a comunidade gostaria que fosse instalado um mínimo de sete Postos de Cuidados de Proximidade para que as crianças não tenham de caminhar longas distâncias para receber alimentação, mas este é o único Posto de Cuidados que têm.

O Programa Mundial para a Alimentação desde Julho de 2005 tem fornecido todos os alimentos ao

Posto de Cuidados de Proximidade de Mambane. “Outras crianças esfomeadas vêm aqui à procura de comida” diz Busisiwe Mazibuko, outra prestadora de cuidados. “Mas só temos que chegue para dar às crianças daqui. É duro ter de mandar embora as outras crianças mas não podemos dar de comer a mais.” Diz que têm estado a tentar cultivar vegetais para o Posto de Cuidados mas a água é escassa e não têm sementes sufi cientes.

Busisiwe tem dois fi lhos e também cuida de quatro crianças órfãs da sua vizinha. Os seus fi lhos vão à escola mas os órfãos não. Como diz, embora o Governo pague as propinas para crianças órfãs e vulneráveis, o dinheiro não chega. A escola custa 500E21 (cerca de 76$US) mas como o Governo só paga E400, as crianças que não podem pagar a diferença são algumas vezes excluídas.

Actualmente, mais de 30% das crianças da região de Lubombo não recebem qualquer instrução22. A introdução da educação primária universal gratuita, que o Governo espera imple-mentar em todo o país em 2006, será pois um desafi o enorme. Há professores que já têm turmas de 70 ou mais alunos e receia-se que a qualidade da instrução seja comprometida com uma afl uência de novos alunos. Existe igualmente falta de professores e muitos estão doentes e incapazes de trabalhar devidamente.

A escola primária de Mambane fi ca unicamente a umas centenas de metros do centro social KaGogo e do Posto de Cuidados de Proximidade e também recebe alimentos do PMA. Faz duas refeições por dia para as crianças. Aqui há falta de água; a única fonte é um tanque azul de água da chuva que é mantido fechado a sete chaves a maior parte do tempo.

A Directora Interina, Professora Thembisile Nxumalo tem um quadro na parede mostrando que das 416 crianças inscritas na escola, 253 – mais de metade – são classifi cadas como órfãs ou crianças vulneráveis: 33 delas são órfãs de pai e de mãe, 103 só têm pai ou mãe e 117 são classifi cadas como “indigentes”.

A comissão escolar, composta dos membros do Conselho Interno do Umphakatsi e o Responsável do Desenvolvimento Inkhundla, decide quais são as crianças que devem ser

21 Lilangeni, Suazilândia22 Escritório de Educação da Região de Lubombo

O PMA fornece alimentos.

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classifi cadas como indigentes. A comissão reúne-se uma vez por ano e como há muitos casos a estudar, leva-lhes normalmente uma semana. “É um enorme desafi o” diz Thembisile Nxumalo. “Muitas das crianças têm difi culdades escolares pois têm fome e muitos problemas em casa.”

Agora, a escola estabeleceu um clube de saúde para ensinar às crianças a se prote-gerem do VIH e para procurar sensibilizar.

Desafi osDesafi os

• As respostas ao VIH baseadas na comunidade, tais como os Postos de Cuidados de Proximidade e os centros sociais KaGogo, dependem muito do poder do Chefe. Como parte da política de descentralização proposta pelo Governo a implementar em 2006, há uma disposição para nomear um funcionário que desenvolva a capacidade de acção das comunidades nos centros sociais KaGogo23, mas limitações em capacidades humanas podem impedir que iniciativas locais progressem da melhor maneira.

• As comunidades com um chefe residente parecem fazer mais progressos do que comunidades com chefes não-residentes ou sem chefes. O processo de nomeação de um chefe pode levar um certo tempo e isto parece ser um problema contínuo na região de Manzini.

• Os centros sociais KaGogo destinam-se à utilização de toda a comunidade, mas se servem para acolher Postos de Cuidados de Proximidade, como é o caso em Mambane, a sua utilização como centro para outras actividades e reuniões fi ca restrita.

Resumo de resultadosResumo de resultados

• Os centros sociais KaGogo fi zeram progressos enormes num curto espaço de tempo, com a sua construção em todo o país.

• Os centros sociais KaGogo oferecem um centro formal e físico para coordenação de actividades comunitárias e uma tribuna para discussões e reuniões sobre a maneira como responder ao impacto da epidemia.

• As comunidades aceitaram entusiasticamente os centros sociais KaGogo. Como participaram à sua construção com trabalho e uma grande parte dos materiais, têm um sentimento de orgulho e de posse do edifício e da sua utilização.

• Os centros são responsáveis pela recolha de dados básicos sobre as crianças órfãs e vulneráveis da comunidade, e isto está a ajudar a formular políticas e respostas nacionais à SIDA.

• Os centros sociais KaGogo podem servir de ponto de entrada para outros serviços, tais como cobertura da comunidade e distribuição de alimentos (tanto dos terrenos Indlunkhulu como da distribuição alimentar de urgência em tempos de seca).

• Agora, os centros sociais KaGogo também são considerados como o centro coorde-nador de intervenções comunitárias tais como os Postos de Cuidados de Proximidade e conta-se com eles para manter dados sobre crianças órfãs e outras pessoas vulne-ráveis na comunidade. Também há planos para prestação de outros serviços a nível descentralizado, utilizando os centros sociais KaGogo como uma entrada.

23 NERCHA espera que haja disponibilidade de mais fundos através do Fundo Mundial para permitir que uma pessoa fi que no centro social KaGogo numa base diária para que a prestação de serviços possa realmente começar.

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Iniciativas baseadas na comunidade para pessoas vivendo com o VIH

Iniciativas inovadoras baseadas na comunidade foram estabelecidas para Iniciativas inovadoras baseadas na comunidade foram estabelecidas para prestar serviços e apoio a pessoas vivendo com o VIHprestar serviços e apoio a pessoas vivendo com o VIH

Apoio de colegas, aconselhamento e cuidados em casaApoio de colegas, aconselhamento e cuidados em casa

Na Suazilândia, tal como em muitos outros países africanos, o número crescente de pessoas doentes em fase terminal é um problema para a prestação de cuidados em hospícios. Tradicionalmente, a família alargada cuidaria de quem necessitasse de assistência, mas desde o aparecimento da SIDA, as famílias deixaram de poder fazer frente sozinhas. Os hospícios sendo caros e um anátema na cultura suazi, muitas comunidades estabeleceram sistemas para apoio por colegas, aconselhamento e cuidados com base no lar para pessoas vivendo com o VIH.

Os conselheiros e prestadores de cuidados são todos voluntários escolhidos pela comunidade, a quem é atribuído um certo número de famílias que devem visitar numa base regular, para prestar cuidados e apoio, e comunicar qualquer problema específi co aos trabalha-dores de saúde e umphakatsi.

Em certos casos, foram estabelecidos quintais com o apoio de FAO, onde famílias vulneráveis recebem um pequeno terreno para cultivar vegetais e assim apoiar uma nutrição básica.

Motivadores de saúde em meio ruralMotivadores de saúde em meio rural

Os Motivadores de Saúde Rural são pessoas voluntárias escolhidas pela comissão de coordenação comunitária para tratar de todas as questões de saúde, não unicamente as relacio-nadas com o VIH. Estes voluntários já existem há muitos anos, mas o seu papel e responsabi-lidades aumentaram enormemente devido à crise da SIDA, e ultrapassam o papel previsto na origem pelo Governo.

Em todo o país, existem actualmente 4500 Motivadores de Saúde Rural. São equipados com um conjunto de primeiros socorros básicos e devem fazer visitas a domicílio e cuidar de pessoas doentes, quando necessário levá-las ao hospital e assegurar-se que tomam os medica-mentos em casa. Havendo problemas na comunidade notifi cam os enfermeiros do dispensário e procuram conselho sobre a maneira de resolver situações com problemas. Prestam aconse-lhamento sobre o VIH e mostram às pessoas como devem cuidar de doentes. Também lhes preparam comida e administram tratamento DOTS24 a doentes tuberculosos e observam direc-tamente a tomada dos medicamentos durante seis meses.

Galina Simelane é uma das 30 Motivadoras de Saúde Rural em Mambatfweni. Diz terem sido escolhidas pela sua capacidade e qualidade em cuidar de pessoas doentes e mori-bundas vivendo em casa. Recebem uma pequena retribuição mensal de 100 emalangeni ou seja aproximadamente 15$US pelo seu trabalho (ao contrário das prestadoras de cuidados nos Postos de Cuidados de Proximidade que são exclusivamente voluntárias). Segundo diz, a epidemia de VIH aumentou imenso as suas cargas de trabalho. Em primeiro lugar, cada trabalhadora tinha

24 Tratamento Sob Observação Directa pela OMS internacionalmente recomendado.

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a seu cargo cerca de 40 agregados familiares e embora agora tenham sido reduzidos a 20, o trabalho é o mesmo pois têm muitas pessoas doentes e moribundas para cuidar. As Motivadoras de Saúde Rural utilizam muitas vezes os seu próprios recursos – dinheiro, comida, vestuário – para cuidar de pessoas necessitadas. Em certas famílias, tomam a seu cargo dar banho e cozinhar para doentes de maneira a permitir que as crianças frequentem a escola.

Num esforço para melhorar os fornecimentos básicos a nível comunitário, foram colocados nos limites de cada Inkhundla (administração local) do país contentores para fornecer às Motivadoras de Saúde equipamento de base tais como luvas, desinfectante, sabão e fraldas para adulto para fornecer a doentes com SIDA sofrendo de diarreia. Contudo, o recipiente mais perto de Mambane fi ca a 14 quilómetros e as Motivadoras de Saúde Rural queixam-se que para lá chegar perdem muito tempo e fi ca-lhes caro pois normalmente têm de o fazer pelo menos quatro vezes por mês e o transporte custa-lhes 20E de cada vez.

As Motivadoras de Saúde Rural recebem formação do Ministério da Saúde e Assistência Social sobre transmissão do VIH, como cuidar de pessoas doentes e moribundas, como se proteger e como descartar com segurança preservativos e outros resíduos perigosos. Depois da formação, fazem uma reunião comunitária para passarem o que aprenderam a toda a comunidade.

Também como parte do seu trabalho, as Motivadoras de Saúde Rural encorajam as pessoas a procurar aconselhamento e detecção voluntários, e procuram resolver questões de estigma e discriminação. Com a rápida introdução no país do tratamento anti-retroviral que teve lugar no ano passado, também são recursos essenciais ajudando a assegurar que as pessoas tomam os medicamentos correctamente e de maneira sistemática. Também discutem prevenção e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis que são um grande problema em muitas comunidades tal como Mambatfweni.

Ao lado dos escritórios de Inkhundla (administração local) em Mambtfweni há um contentor que foi fornecido por NERCHA e que está agora a ser utilizado como escritório de luta contra a SIDA e armazém para fornecimentos para Motivadoras de Saúde Rural de 11 Umphakatsi vizinhos. Gcinile Vilakati é uma voluntária que cuida do contentor três dias por semana. Diz que o contentor de NERCHA tem ajudado imenso as Motivadoras de Saúde Rural, e mostra com orgulho as caixas de desinfectante, fraldas, sabão, lençóis plásticos e luvas. Mas os fornecimentos precisam de ser mais sistemáticos. Nesta altura não tem preservativos. “Acabámos com os que tínhamos. Estamos à espera de nova remessa.” Ela não sabe quando chegarão os novos fornecimentos, acrescentando: “É um problema.”

As Motivadoras de Saúde também trabalham estreitamente com a comissão de coor-denação comunitária que distribui alimentos a crianças órfãs e vulneráveis, e com os Postos de Cuidados de Proximidade para assegurar que as crianças recebem cuidados sanitários e nutrição correctos.

Lizzy Ntjalintjali, uma Motivadoras de Saúde em Mambatfweni conta que também falam com as pessoas sobre curandeiros tradicionais e aconselham-nas a levar a sua própria lâmina de barbear quando vão a tratamento. Segundo diz, agora as pessoas têm consigo as suas próprias lâminas, e as Motivadoras de Saúde Rural também realizaram sessões de formação com curandeiros tradicionais.

As Motivadoras de Saúde são muitas vezes a primeira fonte de notifi cação de casos suspeitos de abuso de crianças e investigam qualquer caso que lhes seja comunicado. Oferecem

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aconselhamento e em certos casos podem enviar a criança para aconselhamento mais aprofun-dado por profi ssionais.

A maioria das Motivadoras de Saúde Rural são mulheres, embora haja alguns homens fazendo o mesmo trabalho. Culturalmente, pode ser difícil para uma mulher falar com um homem sobre problemas de saúde ou lavar ou prestar cuidados íntimos a um homem.

Quanto custaQuanto custa

• O Departamento de Saúde Pública do Ministério da Saúde e Assistência Social em Mbabane tem um orçamento destinado à formação de Motivadoras de Saúde Rural e a pagar os seus salários de 100E mensais (cerca de 15$US).

• Há cerca de 4500 Motivadoras de Saúde Rural em todo o país, e o orçamento total para salários é de 450.000E (aproximadamente 68.854$US).

• O Departamento de Saúde Pública, com fi nanciamento de NERCHA e do Fundo Mundial, também realiza formação para Motivadoras de Saúde Rural de preparação ao serviço de uma duração de 10 semanas. O orçamento total para formação em todo o país é de 725.000E (aproximadamente 110.933$US).

Cursos de aperfeiçoamento são constantemente necessários e a formação é contínua. “Muitas Motivadoras de Saúde Rural morreram por isso estamos sempre a precisar de formar outras pessoas,” diz Thandi Mndzebele do Departamento de Saúde Pública. E acrescenta, “Só na semana passada foram comunicadas 13 mortes de Motivadoras de Saúde Rural na região de Hhohho, por isso precisamos constantemente de reforços.”

Promover adesão à terapia anti-retroviralPromover adesão à terapia anti-retroviral

Com a rápida introdução do tratamento anti-retroviral (ART) tendo lugar actualmente na Suazilândia, estas iniciativas comunitárias também estão bem colocadas para assegurar que o tratamento medicamentoso atinge as pessoas que dele necessitam e ajudam a promover a aceitação dos medicamentos pelos pacientes. Na Suazilândia os medicamentos anti-retrovirais estão agora disponíveis gratuitamente. Cerca de metade de mais ou menos 20.000 pessoas que deles necessitam urgentemente principiaram a tomá-los em 2005. Há esperanças de que as restantes os recebam nos próximos meses. Apesar deste progresso, ainda há muito a fazer. Actualmente, os serviços de apoio tais como o teste de contagem de células CD4 estão centralizados a nível nacional e não estão disponíveis nas regiões. As pessoas ainda têm de percorrer grandes distâncias para obter tratamento e nos serviços as fi las de espera são frequentemente um problema.

Rede Nacional da Suazilândia de Pessoas Vivendo com o VIH e a SIDA Rede Nacional da Suazilândia de Pessoas Vivendo com o VIH e a SIDA (SWANNEPHA)(SWANNEPHA)

A SWANNEPHA é uma rede nacional de cerca de 46 diferentes grupos de pessoas vivendo com o VIH e foi formada após um estudo realizado com a assistência do Ministério da Saúde e Assistência Social, SIPAA, NERCHA e ONUSIDA em Março de 2004. A 12 de Novembro desse mesmo ano, SWANNEPHA foi lançada pelo Primeiro Ministro, e a 21 de Março de 2005 foi estabelecido o Secretariado Nacional. Foi inaugurado ofi cialmente pelo Ministro da Saúde e Assistência Social, Chefe Sipho Shongwe e o Dr. Peter Piot, Director Executivo de ONUSIDA durante a sua visita à Suazilândia.

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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SWANNEPHA apoia grupos de pessoas vivendo com o VIH nas comunidades de Mambatfweni e Mambane, e outras comunidades em todo o país, prestando orientação e formação a um nível local. “Conseguimos dar às pessoas vivendo com o VIH a possibilidade de se exprimir,” diz Thembi Nkambule, Coordenador Nacional de SWANNEPHA. “Como resultado, foi possível infl uenciar certas políticas tais como o Plano Estratégico Nacional e política sobre género. Também conseguimos ajudar grupos a elaborar as suas propostas para pedidos de fi nanciamento através de NERCHA/Fundo Mundial e a mobilizar recursos para uma voz colectiva.” A principal preocupação das pessoas vivendo com o VIH na Suazilândia é estigma e discriminação e a maioria das pessoas tem medo de confessar abertamente o seu estado.

A maior parte das propostas que recebem de membros dizem respeito a projectos geradores de renda, por isso SWANNEPHA elaborou uma brochura para ajudar os grupos a conceber planos comerciais. Também foi elaborado um projecto de plano estratégico, a ser fi nalizado nos próximos meses e, juntamente com o Ministério da Saúde e Assistência Social, estão a ser organizados seminários práticos para explicar o tratamento.

SWANNEPHA pede agora tratamento gratuito de infecções oportunistas pois a maioria dos seus membros não têm possibilidades fi nanceiras para o tratamento. A organi-zação também está a fazer campanha para melhor explicação do tratamento para que as pessoas possam compreender as questões a ele ligadas.

Em comunidades como Mambatfweni e Mambane, certos membros de SWANNEPHA trabalham como voluntários nos Postos de Cuidados de Proximidade ou estão implicados em cuidados a domicílio, e Thembi Nkamule acredita que isto ajuda a desafi ar o estigma e a discri-minação. “As respostas baseadas na comunidade estão a ajudar mais pessoas a confessar o seu estado pois sentem que podem obter ajuda.”

Para muitas pessoas vivendo com o VIH, especialmente em comunidades rurais como Mambatfweni e Mambane, um dos maiores desafi os é não poderem tomar os medica-mentos com o estômago vazio mas não terem de comer. O PMA está a dar alimentos a pacientes recebendo tratamento anti-retroviral em zonas onde a escassez de alimentos é especialmente grave, tal como em Mambane. Em outros lugares, alguns membros de SWANNEPHA benefi -ciam do cultivo de alimentos em terrenos Indlunkhulu e outras iniciativas comunitárias, embora isto esteja longe das necessidades. Também pode ser difícil assegurar que os pacientes recebem a assistência necessária se estes não querem ser identifi cados como seropositivos ao VIH, receando estigma e discriminação.

O PMA está a trabalhar com SWANNEPHA e AMICAALL para obter alimentos para cerca de 20.000 pessoas e suas famílias, e também tenta estabelecer programas de “comida contra trabalho” para as pessoas mais fortes da comunidade. Isto pode ser um conceito difícil pois as pessoas muitas vezes não gostam de trabalhar em troca de alguma coisa que vêem outras obter sem qualquer troca. Joseph vive agora em Mambane mas costumava trabalhar nas minas da vizinha África do Sul até fi car doente e ser despedido. “Os nosso jovens vão lá para trabalhar e voltam para aqui e morrem.” A sua franqueza sobre a sua seropositividade e o facto de estar agora a receber anti-retrovirais é surpreendente. “Sou um deles,” diz e acrescenta que conhece cerca de 45 outras pessoas que estão a receber os mesmos medicamentos. Principiou em Fevereiro de 2004 e como diz “foi uma enorme diferença. Costumava estar muito doente e a dar entrada e a sair do hospital.” Acredita que as pessoas seropositivas como ele deviam confessar o seu estado para dar um bom exemplo à comunidade e quebrar o estigma e a discriminação.

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Mas como diz, a alimentação é um problema. O PMA dá-lhe mensalmente seis quilos de soja para poder tomar os medicamentos, mas ele diz não poder comer quando a mulher e os fi lhos nada têm para comer, por isso partilha com a família as suas rações que difi cilmente duram uma semana.

Joseph também gostaria de ver Mambane tornar-se uma “comunidade exemplar” e gostaria de encorajar toda a comunidade a fazer, ao mesmo tempo, o teste de detecção do VIH para toda a gente conhecer o seu estado. Sugere que poderiam ter cartões para proteger quem não estivesse infectado. “Se todos fi zessem a detecção,” diz, “uma parte do estigma poderia desaparecer e podíamos cuidar e apoiar as pessoas infectadas e isso signifi caria que as crianças que são seronegativas têm uma razão para se manter assim.”

Em 2004, o Chefe de Mambane convidou os serviços de detecção itinerantes a visitar a comunidade e ele e a sua família foram os primeiros a fazer o teste, dando o exemplo ao resto da comunidade. Certas mulheres gostariam que o posto clínico itinerante de ADV voltasse para continuar o processo iniciado no último ano. “Estamos prontas em qualquer altura,” diz uma das mulheres, “mas são os homens que não estão dispostos. As mulheres fazem realmente o teste, mas não tem utilidade se os homens não fi zerem a mesma coisa.”

Desafi osDesafi os

• Estigma e discriminação contra pessoas com o VIH ainda é um problema em certas comunidades, impedindo que certas pessoas necessitadas de ajuda confessem o seu estado e, em consequência, obtenham a ajuda disponível.

• Embora o aconselhamento por colegas e os cuidados em casa forneçam apoio a pessoas vivendo com o VIH, os prestadores de cuidados e conselheiros dispõem de poucos recursos. É um trabalho duro e que esgota emocionalmente. Muitas presta-doras de cuidados podem também estar doentes e por isso é preciso recrutar constan-temente novas voluntárias.

• Poderá ser difícil para as pessoas voluntárias verifi car se os pacientes seguem realmente o tratamento anti-retroviral se estes não tiverem comida sufi ciente para tomar os medicamentos sistematicamente.

Resumo dos resultadosResumo dos resultados

• Cuidados comunitários para pessoas vivendo com o VIH permitem que estas sejam tratadas por pessoas que as conhecem bem e que podem responder às suas necessi-dades e circunstâncias específi cas de maneira mais apropriada.

• Cuidados comunitários podem ajudar a abolir o estigma e a discriminação à medida que, ao verem os cuidados e o apoio dados, mais pessoas confessam o seu estado.

• Maior franqueza pode ajudar a sensibilizar para prevenção e opções de tratamento.

• As estruturas de apoio de base comunitária existentes têm sido úteis para a introdução rápida do tratamento anti-retroviral pois podem ser um método efi caz para assegurar a aceitação da medicamentação a nível da família e alertar os Motivadores de Saúde Rural para qualquer problema potencial.

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Programas de Apoio Psicossocial

Um programa inovador de apoio psicossocial foi elaborado a nível Um programa inovador de apoio psicossocial foi elaborado a nível comunitário para tentar resolver as múltiplas difi culdades que a comunitário para tentar resolver as múltiplas difi culdades que a população crescente de crianças órfãs e vulneráveis tem de enfrentarpopulação crescente de crianças órfãs e vulneráveis tem de enfrentar

Muitas comunidades na Suazilândia estão a transformar-se devido à epidemia da SIDA. Mas para os milhares de órfãos crescendo em tempos tão difíceis e sem cuidados ou controlo de adultos, as oportunidades de crescimento, desenvolvimento e educação podem ser gravemente afectadas. Agora, cada vez se reconhece mais que, se nada for feito, as conse-quências a longo prazo podem ameaçar o futuro de comunidades e talvez mesmo as estruturas sociais e a estabilidade de todo o país. Como resultado, muitas comunidades implementaram um programa de apoio psicossocial para tentar resolver os enormes desafi os que têm pela frente. Dada a relação entre condições sociais e saúde cognitiva e afectiva, este programa de apoio psicossocial utiliza uma abordagem universal para analisar a interacção entre o desenvolvi-mento afectivo, social, mental, físico e espiritual da criança e os factores que o afectam.

As crianças órfãs que sofrem privações fi cam muitas vezes traumatizadas com as suas experiências de cuidar dos pais e de os ver morrer, e de lutar para cuidar do que lhes resta de família e de bens. Também podem ser postas à margem e excluídas das suas comunidades devido ao estigma associado à SIDA. O apoio psicossocial para crianças que fi cam órfãs devido à SIDA é reconhecido como uma componente crucial de cuidados a órfãos na Suazilândia.

Fazer reviver costumes tradicionais suaziFazer reviver costumes tradicionais suazi

O Reino da Suazilândia é uma sociedade muito tradicional, com estruturas sociais complexas e obrigações para com Sua Majestade o Rei e os Chefes como seus representantes a nível dos seus territórios. Historicamente, a sociedade suazi era organizada em Regimentos Reais segundo as idades, para mulheres, homens, rapazes e raparigas, mobilizando pessoas para cerimónias tais como a dança Umhlanga e desempenho de papéis tradicionais nos territórios dos Chefes. Estas estruturas tradicionais estão agora a reviver como uma resposta inovadora e efi caz à epidemia de VIH.

Lutsango IwakaNgwaneLutsango IwakaNgwane

Lutsango IwakaNgwane é um ‘regimento’ de mulheres, um dos vários ‘regimentos’ tradicionais suazi25 estabelecidos pelo falecido rei Sodhuza II antes da independência em 1964. A palavra signifi ca ‘um cercado’ em siSuati, e todas as mulheres casadas fi cam automatica-mente membros. O Lutsango tem por fi nalidade principal mobilizar as mulheres para cerimó-nias e treiná-las para desempenharem os seus papéis tradicionais nas administrações dos chefes. As mulheres membros do Lutsango são as depositárias culturais e assim ensinam às crianças cantigas e danças tradicionais, como e quando usar roupas tradicionais, como rezar e tomar parte em culto religioso, e ensinam as raparigas a cozinhar e como se comportar. Desde o início que se conta com o ‘regimento’ para cuidar e educar, e ser responsável pela transferência de boas práticas culturais e comportamentos de geração em geração. Agora com a SIDA a dizimar famílias e comunidades, este papel ganhou uma maior importância.

25 Os outros são o regimento de Tingatsha para rapazes, o regimento Timbali para raparigas e o regimento Emabutfwo para homens.

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Um programa de formação para mães do Lutsango prestadoras de cuidados foi elaborado e está a ser aplicado através de uma rede de ‘regimentos’ nacionais e regionais estabe-lecida com o apoio de NERCHA. As voluntárias recebem formação para cuidar de crianças sero-positivas, em competências essenciais tais como nutrição e higiene e em estratégias de educação e prevenção em relação ao VIH destinadas a crianças26. De acordo com a política escolhida pela Suazilândia de cuidar de crianças órfãs nas suas próprias comunidades, membros do Lutsango local são designadas para famílias com órfãos para assegurar que as crianças podem fi car no lar materno, são protegidas contra agressão e exploração, e são cuidadas por membros da comuni-dade que elas conhecem. Sempre que possível, para tentar assegurar uma certa estabilidade e continuidade, estabelece-se uma relação com a criança antes da morte dos pais.

O Lutsango também ensina as raparigas a cozinhar e, com o apoio de pacotes de produtos agrícolas de FAO, a cultivar cereais. Certas zonas têm tido êxito, mas em zonas afectadas por secas como Mambane, tais iniciativas só tiveram até agora êxito limitado. Lutsango também ajuda mulheres com projectos geradores de renda e desenvolveu um programa para cursos de formação de mulheres em desenvolvimento fi scal e social, assim como desenvolvi-mento mental e afectivo. Foram recrutados 40 animadores que visitam 17 administrações de chefes por semana. A formação nas regiões de Lubombo e Hhohho está quase terminada27.

Também se pensa que, mesmo se as mulheres não sabem ler nem escrever, devem principiar a recolher dados sobre os agregados familiares da sua responsabilidade – dados pessoais sobre a criança, a sua saúde e vacinações, sobre parentes e a comunidade como um todo. “É um trabalho exigente,” diz a senhora Katamzi, coordenadora nacional do Lutsango para o programa de luta contra a SIDA. “A pobreza é terrível. Na primeira e segunda visita, as mulheres levam o que podem às crianças. Mas pouco têm para dar e muitas dizem que não suportam visitar as crianças e nada lhes dar. Mas onde já estivemos conseguimos resultados.”

Khanyisile Mndzebele é uma voluntária de Lutsango em Mambatfweni. Recebeu uma certa formação em apoio psicossocial e diz ter a responsabilidade de visitar seis lares onde há oito crianças. “Passámos a ser segundos pais das crianças,” conta. “Quando começam a ter confi ança, as crianças abrem-se connosco.”

Todo este trabalho é realizado numa base totalmente voluntária e, embora muito se tenha conseguido num espaço de tempo relativamente curto, “não vamos poder fazer frente com êxito,” diz Bella Katamzi. “Os homens também têm de ser incluídos pois sozinhas não conseguimos.”

Obter a participação dos homensObter a participação dos homens

O tradicional ‘regimento’ dos homens, Emabutfwo, também foi incluído na resposta comunitária ao VIH.

Reconhecendo que historicamente muitos dos serviços de proximidade da Suazilândia têm visado as mulheres, e que pouco tem sido feito para os homens, NERCHA está agora a tentar uma nova abordagem e a lançar um programa destinado a homens28.

Na cultura suazi, quando um animal é abatido, o Chefe reúne os homens para comerem a cabeça e outras partes. Agora, NERCHA espera transformar esta ocasião tradicional

26 Embora a coordenação nacional do programa seja feita através de NERCHA, que recebe apoio fi nanceiro do governo da Suazilândia, os comités de chefes dirigem o trabalho das Lutsango a nível local.

27 Há 94 administrações de chefe em Hhohho, 48 em Lubombo, 109 em Manzini e 127 em Shiselweni.28 Com fundos de ECHO.

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num fórum onde os homens se sintam à vontade para falar, e seja possível comunicar-lhes mensagens sobre o VIH por meio de representações teatrais, seguidas de discussão. “Onde quer que tenha tido lugar, tem tido muito êxito,” diz o Director Nacional de NERCHA Derekk Von Wissell, “o único problema é demorar muito a organizar. Mas onde já teve lugar a discussão tem sido muito boa e as pessoas têm realmente aprendido – especialmente quando a mensagem visa parceiros múltiplos. O nosso objectivo são os homens e isso responsabiliza-os pois voltam para casa com conhecimentos. Não lhes dizemos o que devem fazer.”

Encorajar abstinênciaEncorajar abstinência

As raparigas também estão organizadas em ‘regimentos’ tradicionais (Timbali) segundo a idade, e o renascimento da prática tradicional suazi de usar fi tas como maneira de promover e proteger abstinência, teve êxito com certos jovens. Tradicionalmente, as fi tas eram usadas para um período específi co, depois de um Chefe pedir a um dado grupo etário para se abster de actividades sexuais. Qualquer homem que viole uma rapariga que tenha uma fi ta é multado.

O ‘regimento’ tradicional dos rapazes (Tingatja) também promove abstinência entre os seus membros. Estes ‘regimentos’ conhecem um ressurgimento de interesse e popularidade entre gente nova à procura de orientação pessoal durante tempos difíceis.

Criar parceriasCriar parcerias

O Fórum das Igrejas sobre VIH/SIDA também está a trabalhar para apoiar iniciativas destinadas a prestar apoio psicossocial a nível comunitário e de base. O Fórum das Igrejas da Suazilândia considera como tarefa principal dar esperança, ajudar as pessoas a refazer-se de experiências traumatizantes, prosseguir as suas vidas e ser produtivas. “É possível viver um certo número de dias sem comida nem água,” diz Bongani Langa, o Coordenador Nacional do Fórum das Igrejas sobre o VIH/SIDA, “mas não se pode viver um minuto sem esperança. A chegada do VIH e da SIDA pôs à prova a esperança das pessoas.” Considera que um dos prin-cipais papéis da igreja é dar de novo esperança às pessoas e ajudar as comunidades a refazer-se de experiências traumatizantes. A igreja pode reunir as pessoas para trocar estas experiências e para que em conjunto possam encontrar maneira de continuar para a frente de forma produtiva apesar do que aconteceu.

As igrejas em Mambatfweni recolhem junto dos seus membros alimentos como dízimos e a comunidade decide quem necessita de ajuda. As crianças órfãs e as pessoas idosas recebem comida e o NCP também benefi cia. Também pediram terrenos ao Chefe para que a igreja possa cultivar e produzir alimentos. A senhora Ellinah Maphalala, pastora leiga da Igreja de Deus da Profecia, diz levarem “esperança, sabão, roupas e comida” a doentes e moribundos.

Pastores na comunidade também pregam a abstinência e prestam conselhos a crianças que perderam os pais. O Reverendo S. Hlophe da Igreja de Jericó de Sião diz que também tentam falar sobre ideias erróneas sobre a SIDA e convidam pessoas bem informadas sobre o VIH para falar nas suas congregações.

A comunidade tem muitas igrejas e crenças diferentes, mas os problemas que enfrentam encorajaram-nas a trabalhar em conjunto deixando de lado as suas diferenças, diz Olgate Ntjhalintjhali, pastor da Sagrada Igreja Apostólica de Sião. Em 2002, oito líderes reli-giosos reuniram-se formando uma comissão para recolher dinheiro para órfãos, e agora têm uma tesouraria comum para administrar os fundos.

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Com todas estas iniciativas práticas, seja para apoio psicossocial ou a comunidade trabalhando em conjunto para oferecer postos de cuidados para crianças órfãs ou cultivar mais produtos para crianças vulneráveis, a motivação provém da própria comunidade. Esta ‘abordagem de baixo para cima’ permite que as iniciativas comunitárias se desenvolvam e habilita as pessoas a nível local a identifi car os problemas por si mesmas. O apoio prestado pelo Governo e parceiros internacionais permite que estas iniciativas locais prosperem e se tornem sustentáveis.

Participação de empresasParticipação de empresas

Muitas empresas em toda a Suazilândia reuniram-se em 2001 para formar A Coligação de Empresas contra o VIH/SIDA (BCHA), para coordenar a resposta do sector privado à epidemia. Trabalhando em colaboração estreita com o governo, sindicatos e comunidades urbanas e rurais, BCHA ajuda a facilitar e fi nanciar o trabalho estando a ser feito por agências não-governamentais existentes, de acordo com a Estrutura Estratégica Nacional. BCHA está actualmente a ajudar a desenvolver um programa educacional e de sensibilização ao problema da SIDA para trabalhadores migrantes, especialmente em comunidades tais como Mambane com uma grande proporção de trabalhadores migrantes e temporários.

Certas empresas maiores também iniciaram planos inovadores de angariação de fundos para apoiar iniciativas comunitárias. Por exemplo, a Companhia dos Correios e Telecomunicações da Suazilândia organiza anualmente um torneio popular de futebol que angaria dinheiro para apoiar, entre outras coisas, a colocação de barreiras à volta dos quintais para os Postos de Cuidados de Proximidade em Mambatfweni e outras comunidades. Sem estas barreiras, muitos dos quintais não teriam sido viáveis pois cabras e outros animais teriam comido a produção. O dinheiro é angariado quer através da venda de bilhetes para o torneio quer graças a um sistema de votação por telefone em que o público decide quais serão as equipas participantes ao torneio. A publicidade que rodeia o evento, e as visitas de estrelas do futebol aos Postos de Cuidados de Proximidade nas comunidades, também ajudam a sensibi-lizar as pessoas para iniciativas comunitárias e mensagens de prevenção do VIH.

Desafi osDesafi os

• O maior desafi o à continuação da prestação de apoio psicossocial de grande qualidade será, de longe, o crescimento rápido previsto do número de crianças órfãs e vulnerá-veis necessitadas de assistência.

• O fardo crescente representado pela prestação de apoio psicossocial a um número crescente de crianças órfãs e vulneráveis poderá ser um esforço excessivo para os voluntários e tornar problemática a sustentabilidade da iniciativa.

• O traumatismo psicossocial sofrido por algumas crianças órfãs e vulneráveis, muitas das quais cuidaram de pais doentes ou viram-nos morrer no meio de grande sofri-mento, pode ser profundo e estar fora das capacidades de voluntários com pouca formação convencional.

• Para que os benefícios sejam máximos, os costumes tradicionais e o voluntariado necessitam de mais apoio de profi ssionais psicossociais.

• Uma grande parte do trabalho psicossocial é feito por mulheres as quais também dispensam cuidados a domicílio. As restrições culturais de trabalho com homens e rapazes signifi cam que a mulher não pode fazer mais. Obter a participação de mais homens é essencial e será um desafi o.

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• Defi nir e identifi car crianças órfãs e vulneráveis pode ser difícil. Acontece que às vezes os pais deixam os seus fi lhos com parentes idosos para irem para a cidade procurar trabalho. Por meio de programas radiofónicos e reuniões comunitárias, o Lutsango faz grandes esforços para tentar educar e persuadir as pessoas a serem responsáveis pelos seus fi lhos. Gostaria de ver introduzida uma legislação para ser possível descobrir o paradeiro dos pais e forçá-los a tomar a responsabilidade pelos seus próprios fi lhos.

• Até agora, os voluntários de apoio psicossocial têm estado mais ocupados com crianças pré-adolescentes do que com adolescentes, e por isso, pouca prioridade tem sido dada a explicar às crianças o VIH de maneira sistemática. Para a fase seguinte, está planeado prestar formação para aconselhamento em comportamento sexual.

Resumo dos resultadosResumo dos resultados

• Os costumes e estruturas tradicionais da sociedade suazi têm sido efi cazmente apro-veitados e adaptados para fazer frente aos desafi os da SIDA e para ajudar a atenuar o impacto da epidemia sobre crianças órfãs e vulneráveis.

• Estabelecimento de uma rede efi caz e de grande alcance de apoio psicossocial baseada totalmente em esforços voluntários.

• Intervenções psicossociais de organizações tradicionais e familiares, tais como Lutsango, com acesso rápido a famílias e a mulheres em particular, são aceites e efi cazes.

• O apoio psicossocial que organizações como Lutsango podem prestar a nível comu-nitário complementa e apoia outros esforços comunitários tais como Motivadoras de Saúde Rural e prestadoras de cuidados dos Postos de Cuidados de Proximidade.

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Serviços Comunitários de Proximidade

O Governo da Suazilândia, com o apoio dos seus parceiros e em O Governo da Suazilândia, com o apoio dos seus parceiros e em resposta à epidemia de SIDA, está a procurar reforçar a disponibilidade e resposta à epidemia de SIDA, está a procurar reforçar a disponibilidade e cobertura dos serviços comunitários de proximidade a nível local.cobertura dos serviços comunitários de proximidade a nível local.

Com o aumento rápido do número de pessoas vivendo com o VIH e os impactos devastadores da epidemia, tem aumentado a procura de serviços de proximidade a nível de comunidade. Estes incluem:

• Saúde pública de proximidade

• Iniciativas rurais de saúde

• Serviços de protecção infantil

• Serviços de educação jurídica

• Programas de prevenção da transmissão de mãe para fi lho.

Planos de descentralizaçãoPlanos de descentralização

Os desafi os criados pela crise da SIDA e o número crescente de crianças órfãs e vulneráveis que fi cam a cargo das comunidades também contribuíram para uma nova avaliação global da estrutura e prestação de serviços na Suazilândia.

A Suazilândia tem tido um sistema de governo centralizado desde a sua independência em 1968, mas está actualmente a preparar-se para descentralizar o planeamento e a elaboração de orçamentos, utilizando uma abordagem da base para cima para enfrentar os desafi os econó-micos, sociais e políticos a nível local. O conselho dos ministros aprovou a política de descen-tralização. Espera-se que em 2006 terá valor jurídico e estão a ser elaborados planos para uma estrutura nacional destinada à sua implementação. A descentralização precisará mesmo assim de planeamento nacional e de uma estrutura nacional, mas os planos económicos locais serão consolidados primeiro em planos regionais e depois em planos nacionais.

Reconhecendo a amplitude dos problemas enfrentados pelas comunidades, a política de descentralização está prevista com base na opinião de que mais participantes a nível local assegurarão melhores análises dos seus problemas, e que a mobilização de recursos para apoio a iniciativas locais e as soluções serão mais sustentáveis e inovadoras. O objectivo é criar um contexto propício para comunidades como Mambane e Mambatfweni começarem a fazer planos por si próprias e para o governo começar a ouvir as ideias provenientes da ‘base’29.

Utilização dos centros sociais KaGogo para serviços de proximidadeUtilização dos centros sociais KaGogo para serviços de proximidade

Está previsto que os serviços de proximidade possam utilizar a rede recentemente criada de centros sociais KaGogo para atingir comunidades como Mambane que actualmente não são servidas. Os mecanismos de prestação de serviços tornar-se-ão então muito mais fáceis pois haverá um ponto central onde uma enfermeira pode prestar os serviços e as pessoas podem ir. A ideia é levar os serviços às pessoas e não o contrário. O programa ainda está na fase de planea-mento e experimentação, mas espera-se que num futuro próximo seja alargado a todo o país.

29 O PNUD está empenhado em apoiar o processo de descentralização de acordo com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio para redução da pobreza até 2015, e trabalhar em parceria com o governo compartilhando experiências e melhores práticas para aumentar a capacidade do governo local.

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No fi m de contas, o que se espera é que outros serviços, tais como reabilitação a domicílio e cuidados em hospício, também possam ser prestados desta maneira descentrali-zada a nível comunitário. A Chefe interina de Mambatfweni diz ter o sonho de que um dia os cuidados em hospício possam ser prestados na comunidade às pessoas que deles precisam.

Espera-se que os mecanismos de prevenção, tratamento e atenuação do impacto do VIH serão completados e apoiados graças à descentralização do governo. O objectivo é dar às pessoas maior acesso e controlo dos seus próprios recursos e determinar o que querem fazer como uma comunidade.

Saúde pública de proximidadeSaúde pública de proximidade

Segundo a política do governo, ninguém deveria caminhar mais de oito a dez quiló-metros para chegar ao dispensário mais próximo. Também tem por objectivo construir um dispensário por ano, mas actualmente a realidade fi ca longe das metas do Ministério da Saúde e Assistência Social.

A epidemia de SIDA teve um profundo impacto no sector da saúde em toda a África e a Suazilândia não é excepção. A migração de trabalhadores de saúde para a vizinha África do Sul e países ricos, e a perda devido à SIDA de pessoal formado minaram gravemente a capa-cidade para prestar serviços de saúde básicos a todos os níveis. Embora todos sofram quando isto acontece, as comunidades rurais como Mambane que estão fora do alcance dos limitados serviços de saúde existentes, sentem o efeito ainda mais fortemente.

Em Mambane a epidemia está a ter efeitos graves, mas os serviços hospitalares ou de aconselhamento e detecção voluntários mais próximos encontram-se no hospital ‘Good Shepherd’ em Siteki, a cerca de 40 km. Às vezes, as pessoas esperam os medicamentos anti-retrovirais em fi las longas, e outras vezes têm de voltar para casa sem eles. O dispensário mais próximo fi ca em Tikhuba a cerca de 15 km. Os transportes são raros e caros.

Os serviços de proximidade visitam a comunidade uma vez por mês para prestar serviços de prevenção e tratamento, mas o posto de proximidade mais próximo de Mambane fi ca em Skokomane, o que signifi ca que as pessoas têm de caminhar ou viajar 12 km para lá chegar.

No Departamento de Saúde Pública em Siteki, os membros do pessoal queixam-se que os serviços de proximidade sofrem com a penúria de enfermeiras, transporte e medica-mentos. Tendo um único veículo, se este avaria, o serviço itinerante pode não ter lugar no dia indicado. Esforçando-se por superar tais defi ciências, o Departamento de Saúde Pública trabalha de mão dada com as Motivadoras de Saúde Rural na comunidade de Mambane. Estas alertam o Departamento de Saúde Pública para qualquer problema e lembram às pessoas quando está prevista a vinda mensal dos serviços de proximidade.

Serviços de educação jurídicaServiços de educação jurídica

Um outro aspecto inovador dos serviços comunitários de proximidade, apoiados por NERCHA, é um programa de serviços jurídicos e educação. Os serviços jurídicos de proximi-dade são prestados por uma organização não-governamental que tem responsáveis itinerantes e um veículo que passa nas regiões visitando comunidades como Mambane e Mambtfweni de maneira regular, utilizando as instalações dos centros sociais KaGogo. O serviço trata de questões tais como heranças e registo de nascimentos e falecimentos. Estas questões são realmente importantes porque, por exemplo, se uma criança não tiver a certidão de óbito do pai/mãe, não poderá receber o subsídio de educação do governo para frequentar a escola. Também

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trata de questões do tipo: como uma criança pode herdar dos seus pais, se a legislação actual é adequada e como pode ser aplicada.

Isto ainda é um programa muito novo do qual se estão a tirar lições, mas foi bem acolhido pelas comunidades e está a ser considerado como o início de uma prestação de serviços jurídicos mais descentralizados. Alguns casos que foram descobertos serão tratados pela Universidade da Suazilândia e a Sociedade de Direito com o objectivo de os levar a processo como casos experimentais.

Prevenção da transmissão de mãe para fi lhoPrevenção da transmissão de mãe para fi lho

A prevenção da transmissão de mãe para fi lho ‘plus’ (PTMPF Plus) é um novo programa de formação a nível comunitário, apoiado pelo UNICEF e outros parceiros, criando na comunidade uma estrutura de apoio para mulheres grávidas. Motivadoras de Saúde Rural comunitárias, treinadas, falam com as mulheres grávidas explicando como evitar a transmissão do VIH aos seus bebés e estão muito implicadas nos esforços para evitar a transmissão de mãe para fi lho. Encorajam as mulheres a consultar o dispensário para fazer o teste de detecção quando sabem estar grávidas para que possam ter acesso a medicamentos destinados a evitar que o vírus seja transmitido ao bebé que ainda não nasceu.

O programa foi experimentado em certas comunidades e ainda tem de ser avaliado, mas o fi nanciamento da sua expansão é actualmente um problema.

Serviços de protecção infantil: oferecer um ombro para chorarServiços de protecção infantil: oferecer um ombro para chorar

Ao lado da estrada Manzini-Mbabane está um cartaz com o retrato sorridente de uma linda menina. O texto diz “Não tocar: nós importámo-nos.” Isto é sintomático da determinação em melhorar a protecção infantil na sociedade suazi.

Um aumento notifi cado na inci-dência de agressões a crianças é um dos aspectos mais perturbadores da epidemia. Tem havido notifi cação de casos de crianças que fi cam infectadas pelo VIH devido a violação. Tem sido sugerido que uma das razões de tais actos seja uma crença persis-tente de que se uma pessoa infectada tem relações sexuais com uma virgem fi ca curada do VIH. Outros factores encontrados em todas as sociedades em todo o mundo, como ruptura familiar, pobreza, desem-prego, embriaguez e consumo de drogas, também têm infl uência.

NERCHA está a trabalhar de parceria com o Grupo de Acção da Suazilândia Contra Agressões (SWAGAA) para apoiar iniciativas comunitárias contra tais actos. SWAGAA é uma organização não-gover-namental local estabelecida para fazer campanha contra abusos sexuais e físicos, e apoiar e aconselhar vítimas. O enfoque é realmente apoiar o que comunidades como Mambatfweni e Mambane já estão a fazer.

“Não tocar”

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Nonhlanhla Dlamini, Director de SWAGAA, diz haver uma forte relação entre agressão sexual e a propagação do VIH. “Antigamente, a criança pertencia à comunidade e toda a gente era responsável pela criança – cada pai na comunidade era seu pai. Mas muita coisa que tínhamos na comunidade foi alterado devido ao desmantelamento das famílias alargadas causado pelo VIH e a migração urbana.”

É difícil obter estatísticas precisas mas SWAGAA acredita que as agressões estão a ter lugar a uma escala nunca antes conhecida na Suazilândia. “As pessoas não falavam sobre o assunto,” diz Nonhlanhla. “Foi só quando principiámos com a sensibilização que as pessoas começaram a falar abertamente.” SWAGAA tem um programa para sensibilizar as crianças de maneira a tomarem consciência dos problemas de abuso e encorajá-las a falar abertamente. O Ministério da Educação também instalou uma tele-assistência para comunicação de agressões. Em 2004, foram notifi cados 1555 casos. Em cerca de um terço, os professores foram os princi-pais agressores e em outro terço os pais30

A estrutura legal para tratar tais casos tem sido até agora relativamente fraca, mas a Suazilândia está a introduzir uma legislação de protecção infantil mais severa e a estabelecer uma rede efi caz de protecção infantil formada de profi ssionais essenciais.

Um ombro para chorarUm ombro para chorar

Em Mambatfweni e Mambane, tal como em outras comunidades em todo o país, as mulheres formaram comissões Lihlombe Lekukhalela (Um ombro para chorar), e em cada comunidade foram nomeadas e treinadas voluntárias para reconhecer e se ocupar de casos de abuso de crianças. As Lihlombe Lekukhalela são escolhidas e conhecidas nas suas comunidades para ter a confi ança das suas vizinhas. Havendo problemas ou suspeitas de abuso de crianças, são o primeiro ponto de encaminhamento.

Protectores Comunitários de CriançasProtectores Comunitários de Crianças

Cada comunidade também nomeou Responsáveis pela Protecção de Crianças que tratam dos casos de abuso de crianças. Trabalham sob a orientação do Departamento do Primeiro Ministro Adjunto e de parceria com a organização ‘Protecção das Crianças’. As informações sobre casos de agressão a crianças são então comunicadas durante a reunião trimestral da Rede de Protecção Infantil a nível nacional. As Responsáveis pela Protecção também visitam escolas para falar às crianças e encorajá-las a comunicar qualquer caso. O estabelecimento dos Postos de Cuidados de Proximidade e os centros sociais KaGogo foi uma grande ajuda para os traba-lhadores de saúde comunitários tais como as Responsáveis pela Protecção de Crianças e as Lihlombe Lekukhalela, assim como organismos nacionais como SWAGAA, fornecendo insta-lações locais para coordenação dos esforços. Também facilitaram a identifi cação e intervenção em casos de agressão sexual e física fornecendo uma oportunidade e um local onde as crianças estão reunidas em vez de escondidas atrás de portas fechadas.

Em Mambatfweni as prestadoras de cuidados do Posto de Proximidade disseram ter encontrado muitos casos de crianças sexualmente e emocionalmente agredidas, e batidas. Disseram que na comunidade os casos de violação eram raros, mas era vulgar as crianças serem batidas e agredidas fi sicamente. Como prestadoras de cuidados fazia parte do seu papel intervir nas famílias e discutir os problemas. Uma prestadora de cuidados descreveu um caso em que o pai estava a abusar da fi lha. Ela interveio e arranjou que a criança fosse viver com uma tia, “Agora ela está bem.”

30 Minutas das reuniões da rede de protecção infantil, 12 – 15 de Junho de 2005.

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Polícia comunitáriaPolícia comunitária

As comunidades de Mambatfweni e Mambane também estabeleceram um sistema de polícia comunitária voluntária cujos elementos são escolhidos pelas próprias comunidades, para procurar controlar o crime e manter a paz. Também são o primeiro ponto de referência em caso de abuso de crianças. Em Mambane há 11 polícias comunitários, incluindo várias mulheres como Ncamsile Gumedze e Khetsiwe Matse. Como muitos dos homens estão muitas vezes ausentes a trabalhar nas plantações de açúcar, o policiamento da comunidade de Mambane tornou-se uma tarefa para as mulheres. Khetsiwe só tem 22 anos, tinha trabalhado como guarda de segurança na principal cidade comercial, Manzini, mas quando fi cou doente perdeu o emprego. Agora voltou para a comunidade onde se sente feliz em oferecer voluntariamente os seus serviços como polícia comunitária.

A polícia comunitária patrulha de noite e traz consigo facas e knobkerries (paus). Parte do seu papel, diz Ncamsile, é dispersar grupos de rapazes à noite, pois “é nessa altura que começam os roubos e outros distúrbios”. Consideram-se principalmente como guardas morais da sociedade e com a função de evitar situações podendo contribuir para a propagação do VIH. Todos os sábados comunicam os problemas ao Umphakatsi e os casos de violação ou abuso de crianças são comunicados ao posto de polícia local. A incidência de violação e abuso de crianças na comunidade tem diminuído desde a nomeação da polícia comunitária.

A resposta jurídica a abuso de criançasA resposta jurídica a abuso de crianças

Maior sensibilização ao problema de abuso de crianças a nível comunitário, e mais esforços activos de protecção para o evitar graças aos esforços dos voluntários trabalhando como polícias comunitários, protectores de crianças ou Lihlombe Lekukhalela resultaram em aumento importante do número de casos vindos a público, o que teve um impacto directo nas políticas nacionais.

Cerca de 55% dos casos tratados pelo Director da Acusação Pública da Suazilândia implicam ofensas sexuais. Muitas crianças não puderam prestar evidência ou confrontar os agressores; isto resultou num grande número de absolvições. Num esforço para tentar e reforçar a resposta jurídica ao número crescente de casos de abuso de crianças, em 2002 o Supremo Tribunal decidiu criar um tribunal de crianças. Nova legislação aprovada em 2005 permitiu utilizar intermediários e uma sala de audiências separada ligada por CCTV para que a deposição da criança possa ser vista no tribunal sem que ela tenha de ver esse mesmo tribunal. Os advogados questionam a criança através do intermediário que procura fazer as perguntas de maneira descontraída e amistosa para que a criança se sinta à vontade para fazer a sua deposição. A formação de intermediários começou em Fevereiro de 2005 e o primeiro caso bem sucedido teve lugar pouco depois em que uma criança de quatro anos fez uma deposição contra um homem de 65 anos que foi considerado culpado.

Um estudo sobre a incidência de violação de crianças, realizado por SWAGAA sugere que a inauguração do tribunal de crianças e a publicidade de que foi rodeada pode ter resultado numa redução no número de casos. Actualmente, todos os casos de violação são tratados no âmbito da lei geral, por isso é necessário uma legislação mais severa para tratar questões de violação e agressão sexual ou violência doméstica geralmente contra mulheres. O Director da Acusação Pública trabalhou com organizações não-governamentais tais como SAWGAA e ministérios e agências governamentais pertinentes (Educação, Saúde, Departamento do Primeiro Ministro Adjunto, Polícia) para sugerir legislação abrangente para tratar destas questões. Foi elaborado um projecto de lei, contendo disposições relativas ao VIH, que brevemente será aprovada.

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Sob a nova legislação, o facto de uma pessoa infectar deliberadamente outra com o VIH será considerado delito. A legislação proposta também considerará ilegal casar sem consentimento com uma criança menor de 18 anos, e proibirá a prática tradicional de herança do viúvo (em que um homem herda automaticamente as mulheres do seu defunto irmão) sem o consentimento da mulher. Assim, a resposta legal é uma mistura interessante de moderno e antigo – certas práticas tradicionais estão a ressurgir e outras são desaconselhadas ou tornadas ilegais. Fizeram-se esforços para identifi car práticas tradicionais que parecem estar relacio-nadas com a propagação do VIH e para as resolver dentro de um quadro legal para que ninguém seja forçado a aceitar comportamentos arriscados sem consentimento.

Desafi osDesafi os

• Com o aumento rápido do número de pessoas vivendo com o VIH e o impacto que se acentua da epidemia, a procura de serviços comunitários de proximidade a nível da comunidade tem aumentado para além da capacidade actual a prestar tais serviços.

• Os serviços de saúde de proximidade e outros serviços lutam para enfrentar a erosão provocada pela SIDA em pessoal essencial, e os recursos fi nanceiros ou de transporte para prestar serviços numa base regular e efi caz são insufi cientes.

• O resultado é haver muitas comunidades vulneráveis e isoladas, como Mambane, recebendo actualmente poucos ou nenhuns serviços de saúde pública de proximi-dade, de protecção infantil ou serviços de educação jurídica.

Resumo dos resultadosResumo dos resultados

• O Governo da Suazilândia, com o apoio dos seus parceiros, reconheceu estes problemas e está a tentar reforçar a disponibilidade e cobertura de serviços comuni-tários de proximidade a nível local para lutar contra a epidemia da SIDA.

• A construção dos centros sociais KaGogo nas comunidades resultou num mecanismo efi caz para prestação mais efi ciente de serviços de proximidade às comunidades e ajudou a coordenar os serviços e a recolher dados essenciais para intervenções efi cazes.

• Da mesma maneira, os Postos de Cuidados de Proximidade trouxeram à luz as crianças órfãs e vulneráveis e permitiram aos prestadores de cuidados, através dos centros KaGogo, canalizar pedidos de assistência aos serviços de proximidades perti-nentes para que a assistência possa ser realmente dirigida para as crianças que dela necessitam.

• Os serviços de proximidade podem trabalhar de mão dada com os trabalhadores de saúde comunitários e os voluntários de saúde para assegurar o desenvolvimento de uma abordagem universal e consistente.

• As iniciativas da comunidade complementam e reforçam os serviços de proximidade regionais e nacionais, e estão cada vez mais a tornar-se a pedra angular da resposta nacional ao VIH.

ONUSIDA

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Conclusão

Todas as iniciativas comunitárias delineadas neste relatório dependem em grande parte da participação e mobilização comunitárias. É difícil de imaginar o que seria a situação sem tais actividades e intervenções baseadas na comunidade. Deram a comunidades como Mambatfweni e Mambane um sentido de autonomia e pertença das suas respostas ao VIH. A participação a nível local assegura uma melhor análise e controlo dos problemas, melhor mobi-lização dos recursos para apoiar as suas iniciativas, soluções mais sustentáveis e inovadoras, e menos dependência em assistência externa.

Estas iniciativas inovadoras também habilitaram as comunidades em Mambatfweni e Mambane a cuidar de crianças órfãs e necessitadas em vez de depender da ajuda externa. Também promoveram a ideia de que as crianças órfãs devido à SIDA são um desafi o para toda a comunidade, um desafi o que vai perdurar no futuro previsível.

Não há dúvida que as iniciativas comunitárias resumidas neste relatório foram salva-vidas para as comunidades enfrentando difi culdades aparentemente esmagadoras e insuperá-veis. Deram às populações de Mambatfweni e Mambane um sentido de fi nalidade e pertença, e sobretudo, a esperança de que algo pode ser feito.

Mas justamente quando têm estes salva-vidas prontos e lutam para neles meter sobre-viventes, outro problema os ameaça – a penúria alimentar e a seca que o país e a região como um todo têm pela frente. Sem comida, as iniciativas comunitárias e os esforços voluntários apre-sentados neste relatório serão difi cilmente mantidos. A escassez de alimentos também ameaça minar a introdução impressionante do tratamento anti-retroviral que a Suazilândia conseguiu até agora. Pessoas concordaram em fazer o teste, foram aconselhadas e estão agora a receber este tratamento, mas para tomar os medicamentos têm de ter um suprimento sustentável de alimentos. Certas pessoas não podem actualmente entrar em programas de tratamento pois não têm comida.

A maioria das iniciativas resumidas neste relatório concentram-se em atenuação do impacto e cuidados e apoio em vez de prevenção de novas infecções. São o resultado de mobili-zação importante e massiva nas comunidades estudadas. Contudo, as respostas mais efi cazes ao VIH resultam da sucessão de prevenção, tratamento e cuidados. Se a atenuação do impacto não for combinada com estratégias de prevenção mais efectivas, as comunidades fi carão exaustas pelo esforço. Fornecer medicamentos anti-retrovirais é normalmente efi caz para melhorar a qualidade de vida de pessoas vivendo com o VIH mas não é certamente uma resposta completa. O futuro depende da alteração de comportamentos e da prevenção de novas infecções, especial-mente entre jovens e crianças.

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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Lições tiradas

As iniciativas resumidas neste relatório deram a comunidades como Mambatfweni e Mambane um sentido de autonomia e pertença na sua resposta à SIDA, e ilustram um certo número de lições de ‘Melhores Práticas’ que podem ser copiadas e adaptadas na Suazilândia e outros países.

• A participação a nível local assegura melhor análise e controlo dos problemas, melhor mobilização de recursos para apoiar as suas iniciativas, soluções mais sustentáveis e inovadoras, e menos dependência em assistência externa.

• Estas iniciativas inovadoras também habilitaram as comunidades a cuidar elas próprias de crianças órfãs e necessitadas em vez de depender de ajuda externa, e ajudaram a fazer compreender que as crianças órfãs devido à SIDA são um desafi o para toda a comunidade, desafi o actual e que continuará no futuro.

O reforço de estruturas tradicionais como os centros sociais KaGogo, as administra-ções dos chefes, e os terrenos Indlunkhulu, dá ao Governo e aos doadores uma melhor estrutura com a qual trabalhar e aceder a quem necessita mais de assistência.

• Alguns destes programas são novos, mas outros baseiam-se em maneiras antigas e tradicionais de proceder que agora estão a ser ressuscitadas e reforçadas. As pessoas compreendem e aceitam estas maneiras tradicionais e por isso tornaram-se veículos efi cazes para mobilizar as respostas comunitárias.

• O papel dos Chefes está no centro do êxito destas iniciativas comunitárias. Obter a participação de Chefes tradicionalistas e dar-lhes o apoio especial de que necessitam permite que as agências conheçam melhor quem necessita de assistência e prestem auxílio de maneira mais efectiva e efi ciente.

• As comunidades que desenvolvem respostas bem sucedidas ao VIH têm menos probabilidades de contribuir para a estigmatização e discriminação contínuas contra indivíduos vivendo com o VIH.

• Boas estruturas de gestão e verdadeira comunicação entre comunidades e agências são valiosas para melhorar o trabalho de ambas as partes interessadas.

• A descentralização proposta do governo deve permitir que doadores e organizações não-governamentais trabalhem mais directamente com as comunidades nas inicia-tivas que iniciaram.

ONUSIDA

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Anexo 1: Contactos úteis para informação suplementar ao sujeito de iniciativas comunitárias na Suazilândia.

Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDAJoint United Nations Programme on HIV/AIDSUNAIDS Country CoordinatorP.O. Box 261, Mbabane, Tel: 404-2301, Fax: 404-9931

Escritório do Procurador GeralEscritório do Procurador GeralAttorney General’s Offi ceP.O. Box 546, Mbabane, Tel: 404-2807

Aliança de Empresas contra o VIH/SIDAAliança de Empresas contra o VIH/SIDABusiness Coalition against HIV/AIDSP.O. Box 72, Mbabane, Tel: 404 0768 or 404 4408, Fax: 4090051Email: [email protected]

Assembleia de Coordenação das Organizações Não-GovernamentaisAssembleia de Coordenação das Organizações Não-GovernamentaisCoordinating Assembly of NonGovernmental Organizations (CANGO)Tel: 4044721/4049283Email: [email protected]

Fórum das Igrejas sobre o VIH/SIDAFórum das Igrejas sobre o VIH/SIDAChurch Forum on HIV/AIDSTel: 6118457

Delegação da Comissão da União EuropeiaDelegação da Comissão da União EuropeiaDelegation of the Commission of the European UnionP.O. Box A36, Swazi Plaza, Mbabane, Tel; 404-4769, Fax: 404-6729

Departamento da ImigraçãoDepartamento da ImigraçãoDepartment of ImmigrationP.O. Box 372, Mbabane Tel: 404-2941

Departamento do TrabalhoDepartamento do TrabalhoDepartment of LabourP.O. Box 198, Mbabane, Tel: 404-3521

Departamento das FinançasDepartamento das FinançasDepartment of the TreasuryP.O. Box 38, Mbabane, Tel: 404-2041

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

5151515151

Departamento do Primeiro Ministro AdjuntoDepartamento do Primeiro Ministro AdjuntoDeputy Prime Minister’s Offi ceP.O. Box A33, Mbabane.

Good Shepherd HospitalGood Shepherd HospitalP.O. Box 2, Siteki Tel: 3434133, Fax: 3434003

LutsangoLutsangoPresidente, Senadora Isabella KatamziP.O. Box 211, Malkerns M204 Tel: 5503114, mobile 6130497

Ministério da Agricultura e CooperativasMinistério da Agricultura e CooperativasMinistry of Agriculture and Co-operativesP.O. Box 162, Mbabane, Tel: 404-2731

Ministério do Comércio e da IndústriaMinistério do Comércio e da IndústriaMinistry of Commerce and IndustryP.O. Box 451, Mbabane, Tel: 404-3201 Fax: 404-3833

Ministério da EducaçãoMinistério da EducaçãoMinistry of EducationP.O. Box 39, Mbabane, Tel: 404-2491

Ministério das FinançasMinistério das FinançasMinistry of FinanceP.O. Box 443, Mbabane, Tel: 404-8145

Ministério dos Negócios EstrangeirosMinistério dos Negócios EstrangeirosMinistry of Foreign AffairsP.O. Box 451, Mbabane, Tel: 404-2431

Ministério da Saúde e Assistência Social Ministério da Saúde e Assistência Social Ministry of Health and Social WelfareP.O. Box 5, Mbabane, Tel: 404 4239

Ministério da JustiçaMinistério da JustiçaMinistry of JusticeP.O. Box 924, Mbabane, Tel: 404-6010

Ministério dos Serviços Públicos e da InformaçãoMinistério dos Serviços Públicos e da InformaçãoMinistry of Public Service and InformationP.O. Box 170, Mbabane Tel: 4040 3521, fax 404 5379

Ministério do Turismo, Meio Ambiente e ComunicaçõesMinistério do Turismo, Meio Ambiente e ComunicaçõesMinistry of Tourism, Environment and CommunicationsP.O. Box 2652, Mbabane Tel: 404-4556

ONUSIDA

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Ministério do TrabalhoMinistério do TrabalhoMinistry of WorksP.O. Box 20, Mbabane, Tel: 404-2321

Conselho Municipal de ManziniConselho Municipal de ManziniManzini City CouncilP.O. Box 418, Manzini Tel: 505-2481

Conselho Municipal de Mbabane Conselho Municipal de Mbabane Mbabane City CouncilP.O. Box 1, Mbabane Tel:404-2611

Conselho Nacional de Respostas a Emergências sobre VIH/SIDAConselho Nacional de Respostas a Emergências sobre VIH/SIDANational Emergency Response Council on HIV/AIDS (NERCHA)P.O. Box 1937, Mbabane Tel: +268 404 1703/8Email: www.nercha.org.sz

Gabinete do Primeiro MinistroGabinete do Primeiro MinistroPrime Minister’s Offi ceP.O. Box 395, Mbabane Tel:404 2754, Fax 404 4073

Departamento de Saúde PúblicaDepartamento de Saúde PúblicaPublic Health UnitP.O. Box 1119 Mbabane, Tel: 4045270 (telefax), 6067800 cellEmail: [email protected]

Registro de CompanhiasRegistro de CompanhiasRegistrar of CompaniesP.O. Box 460, Mbabane Tel: 404-3041

Fundo para Protecção das CriançasFundo para Protecção das CriançasSave the ChildrenP.O. Box 472, Mbabane, Tel: 40425573, 4045181, Fax: 4044719

Fundação de Desenvolvimento Comercial da SuazilândiaFundação de Desenvolvimento Comercial da SuazilândiaSwaziland Business Growth TrustEmbassy House, Mbabane Tel: 404-4705

Corporação dos Correios e Telecomunicações da SuazilândiaCorporação dos Correios e Telecomunicações da SuazilândiaSwaziland Post & Telecommunications CorporationP.O. Box 125, Mbabane Tel: 404-2341

Companhia de Desenvolvimento de Pequenas EmpresasCompanhia de Desenvolvimento de Pequenas EmpresasSmall Enterprises Development CompanyP.O. Box A186, Swazi Plaza, Mbabane Tel: 404-3046

Auto-ajuda: Respostas comunitárias à SIDA na Suazilândia

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Grupo de Acção da Suazilândia Contra o AbusoGrupo de Acção da Suazilândia Contra o AbusoSwaziland Action Group Against Abuse (SWAGAA)P.O. Box 560, Matsapha, Tel: 505 7514,Fax: 505 2899,Email: [email protected], www.swagaa.org.sz

Rede da Suazilândia de pessoas vivendo com o VIH/SIDARede da Suazilândia de pessoas vivendo com o VIH/SIDASwaziland network of people living with HIV and AIDS (SWANNEPHA)Tel: 4042578/6172674Email: [email protected]

Câmara do Comércio da SuazilândiaCâmara do Comércio da SuazilândiaSwaziland Chamber of CommerceP.O. Box 72, Mbabane, Tel: 404-4408

Companhia do Desenvolvimento Industrial da SuazilândiaCompanhia do Desenvolvimento Industrial da SuazilândiaSwaziland Industrial Development CompanyP.O. Box 866, Mbabane Tel: 404-3391, Fax: 404-5619

Arquivos Nacionais da SuazilândiaArquivos Nacionais da SuazilândiaSwaziland National ArchivesP.O. Box 946, Mbabane Tel: 416-1276

Associação Açucareira da SuazilândiaAssociação Açucareira da SuazilândiaSwaziland Sugar AssociationP.O. Box 445, Mbabane, Tel: 404-2345/6

Alto Comissariado das Nações Unidas para os RefugiadosAlto Comissariado das Nações Unidas para os RefugiadosUnited Nations High Commission for RefugeesP.O. Box 83, Mbabane, Tel: 404-3414 Fax: 404-4066

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)United Nations Development Programme (UNDP)P.O. Box 261, Mbabane Tel: 404-2301/3, Fax: 404-5341

Fundo das Nações Unidas para a InfânciaFundo das Nações Unidas para a InfânciaUnited Nations Children’s FundP.O. Box 1859, Mbabane, Swaziland Tel: 404-3725, Fax: 404-5202

Programa Mundial para a AlimentaçãoPrograma Mundial para a AlimentaçãoWorld Food ProgrammeP.O. Box 3748, Mbabane Tel: 409 9001, Fax 404 7880

Organização Mundial de SaúdeOrganização Mundial de SaúdeWorld Health Organization

Produzido com materiais não nocivos para o meio ambiente

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA (ONUSIDA) reúne dez organizações das Nações Unidas num esforço comum para lutar contra a epidemia: o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (UNHCR), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Mundial para a Alimentação (PMA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), o Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Banco Mundial.

O ONUSIDA, como um programa co-patrocinado, reúne as respostas à epidemia das suas dez organizações co-patrocinadoras e junta a tais esforços iniciativas especiais. O seu objectivo é conduzir e apoiar o alargamento das acções internacionais contra o VIH/SIDA em todas as frentes. O ONUSIDA trabalha com uma vasta gama de parceiros – governos e ONG, especialistas/cientistas e não especialistas – com o fim de partilhar conhecimentos, competências e melhores práticas à escala mundial.

O Reino da Suazilândia tem agora a maior prevalência registada de VIH no mundo, e este país da África Austral enfrenta enormes desafi os, especialmente em relação ao problema de cuidar de milhares de crianças órfãs devido à epidemia. Contudo, a nível comunitário, está a ser feito muito trabalho inspirado para estabelecer estruturas e programas para deter o fl uxo de infecções e atenuar o impacto. Alguns dos programas são novos, mas outros baseiam-se em maneiras de proceder suazi, antigas e tradicionais, que agora estão a ser ressuscitadas e reforçadas.

Este relatório ‘Melhores Práticas’ examina duas comunidades diferentes, Mambatfweni e Mambane. Estuda os pontos fortes das iniciativas, nota alguns dos desafi os superados e pondera sobre o apoio que necessitam para manter estes esforços. As práticas e políticas seguidas, embora em certos casos específi cas à Suazilândia, podem também servir de inspiração para outros países enfrentando problemas semelhantes

ONUSIDA20 AVENUE APPIACH-1211 GENEBRA 27SUÍÇA

Tel.: (+41) 22 791 36 66Fax: (+41) 22 791 48 35e-mail: [email protected]

www.unaids.org

A Colecção de Melhores Práticas do ONUSIDA

é uma série de materiais de informação do ONUSIDA que promove a procura de conhecimentos, troca experiências e habilita pessoas e parceiros (pessoas vivendo com o VIH/SIDA, comunidades afectadas, sociedade civil, governos, o sector privado e organizações internacionais) empenhados numa resposta alargada à epidemia de VIH/SIDA e seu impacto;

permite que se exprima quem trabalha para combater a epidemia e atenuar os seus efeitos;

fornece informações sobre o que dá resultado em contextos específicos para benefício de quem enfrenta desafios semelhantes;

preenche uma lacuna em áreas essenciais de política e de programa fornecendo orientação técnica e estratégica assim como conhecimentos sobre prevenção, cuidados e atenuação do impacto em contextos múltiplos;

tem por objectivo estimular novas iniciativas para expandir a resposta a nível nacional à epidemia de VIH/SIDA; e

é um esforço entre agências de ONUSIDA em parceria com outras organizações e grupos.

Conheça melhor a Colecção Melhores Práticas e outras publicações do ONUSIDA através de www.unaids.org. Os leitores são encorajados a enviar os seus comentários e sugestões ao Secretariado de ONUSIDA à atenção do Gestor de Melhores Práticas, ONUSIDA, 20 Avenue Appia, 1211 Genebra 27, Suíça.

COLECÇÃO MELHORES PRÁTICAS DO ONUSIDA