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AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO AVALIAÇÃO DOSIMÉTRICA DE DETECTORES SEMICONDUTORES PARA APLICAÇÃO NA DOSIMETRIA E MICRODOSIMETRIA DE NÊUTRONS EM REATORES NUCLEARES E INSTALAÇÕES DE RADIOCIRURGIA JOSÉ PATRICIO NÁHUEL CÁRDENAS Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear - Aplicações Orientadora: Dra. Letícia Lucente Campos Rodrigues São Paulo 2010

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AUTARQUIA ASSOCIADA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

AVALIAO DOSIMTRICA DE DETECTORES SEMICONDUTORES PARA

APLICAO NA DOSIMETRIA E MICRODOSIMETRIA DE NUTRONS EM

REATORES NUCLEARES E INSTALAES DE RADIOCIRURGIA

JOS PATRICIO NHUEL CRDENAS

Tese apresentada como parte dos requisitos para obteno do grau de Doutor em Cincias na rea de Tecnologia Nuclear - Aplicaes

Orientadora: Dra. Letcia Lucente Campos

Rodrigues

So Paulo 2010

DEDICATRIA

En Memria de:

mi seora Madre Chelita

mi seor Padre Juan Lagui y

mis hermanos Rubn Casimiro y John Isaias.

minha esposa Ivani e

ao meu filho Andrs Esteban

A meu Deus

AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar meus agradecimentos para as pessoas que permitiram o

desenvolvimento deste trabalho:

Ao Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares pela oportunidade do desenvolvimento

deste trabalho.

Ao Professor M.Sc. Joel Alvarenga e ao Eng. M.Sc. Heinz Hoppe de Souza pela oportunidade

de ingresso no Instituto de Energia Atmica (IEA-1978).

Dra. Letcia Lucente Campos Rodrigues pela oportunidade da orientao e o

desenvolvimento do trabalho na rea de Dosimetria.

Ao Eng M.Sc. Roberto Franjdlich e M.Sc. Walter Ricci na Chefia do reator IEA-R1, grupo de

operao, supervisores e tcnicos de proteo radiolgica.

Ao Dr. Ulisses Bitelli Chefe do reator IPEN/MB-01, aos operadores, ao Fsico (Operador

Snior) Rogrio Jerez e tcnicos de proteo radiolgica.

Aos Drs Reynaldo Pugliese e Marcos Pereira pelo apoio e superviso no uso da instalao de

Neutrongrafia.

Dra. Brigitte Pecequilo pelo emprstimo da fonte mista de calibrao.

Ao Dr. Tufic Madi Filho pela cesso do Laboratrio CENF para o desenvolvimento da maior

parte das experincias e pela sua pacincia nas inmeras discusses sobre o assunto

desenvolvido.

Ao Projetista Operador do Reator IEA-R1 Sr. Edno Lenhatti pelo projeto e desenhos

mecnicos necessrios para o desenvolvimento do trabalho.

Ao Sr Jos Carlos Sabino (OM) pela execuo dos componentes mecnicos utilizados no

trabalho desenvolvido.

Professora lide Mastena e ao Professor talo Salzano pela colaborao no idioma ingls.

A toda equipe de Nefrologia do Instituto Central da Faculdade de Medicina da Universidade

de So Paulo (ICFMUSP) na pessoa da Ilma. Sra. Dra. Maria Cristina Ribeiro de Castro pelos

cuidados e dedicao com minha sade desde 12 de Junho de 1994.

Un agradecimiento especial a Carlitos Montero (in memoriam) por todos los empujones

dados y su insistncia para que me viniera al Brasil.

AVALIAO DOSIMTRICA DE DETECTORES SEMICONDUTORES PARA

APLICAO NA DOSIMETRIA E MICRODOSIMETRIA DE NUTRONS EM

REATORES NUCLEARES E INSTALAES DE RADIOCIRURGIA

JOS PATRICIO NHUEL CRDENAS

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo a avaliao dosimtrica de componentes semicondutores

(detectores Barreira de Superfcie e fotodiodos PIN) para aplicao em medies de dose

equivalente em campos de baixo fluxo de nutrons (rpidos e trmicos), utilizando uma fonte

de AmBe de alto fluxo, a instalao de Neutrongrafia do reator IEA-R1 (fluxos

trmicos/epitrmicos) e fluxo de nutrons rpidos do ncleo do reator IPEN/MB-01 (UCRI

Unidade Crtica). Para a deteco de nutrons (trmicos, epitrmicos e rpidos) foram usados

componentes moderadores e conversores (parafina, boro e polietileno). Os fluxos resultantes

da moderao e converso foram utilizados para a irradiao de componentes semicondutores

(SSB - Barreira de Superfcie e fotodiodos). Foi utilizado tambm um conversor misto

constitudo de uma folha de polietileno borado (marca Kodak).

O mtodo de simulao por Monte Carlo foi utilizado para avaliar de forma analtica a

espessura tima da parafina. O resultado obtido foi similar ao verificado experimentalmente e

serviu para avaliar o fluxo de nutrons emergentes do moderador (parafina). Da mesma

forma, atravs de simulao, foi avaliado tambm o fluxo de nutrons rpidos que atinge o

conversor de polietileno que cobre a face sensvel dos semicondutores.

O nvel de radiao gama foi avaliado cobrindo o detector por inteiro com uma folha de

cdmio de 1 mm de espessura.

O reator IPEN/MB-01 foi usado para avaliar a resposta dos detectores para nutrons rpidos

de alto fluxo.

Os resultados, de uma forma geral, mostraram concordncia e similaridade com os trabalhos

desenvolvidos por outros grupos de pesquisas.

Foi tambm estabelecida uma abordagem para o clculo de dose equivalente utilizando os

espectros obtidos nas experincias.

DOSIMETRIC EVALUATION OF SEMICONDUCTOR DETECTORS FOR

APPLICATION IN NEUTRON DOSIMETRY AND MICRODOSIMETRY IN

NUCLEAR REACTOR AND RADIOSURGICAL FACILITIES

JOS PATRICIO NHUEL CRDENAS

ABSTRACT

The main objetive of this research is the dosimetric evaluation of semiconductor

componentes (surface barrier detectors and PIN photodiodes) for applications in dose

equivalent measurements on low dose fields (fast and thermal fluxes) using an AmBe neutron

source, the IEA-R1 reactor neutrongraphy facility (epithermal and thermal fluxes) and the

Critical Unit facility IPEN/MB-01 (fast fluxes).

As moderator compound to fast neutrons flux from the AmBe source was used paraffin and

boron and polyethylene as converter for thermal and fast neutrons measurements. The

resulting fluxes were used to the irradiation of semiconductor components (SSB Surface

Barrier Detector and PIN photodiodes). A mixed converter made of a borated polyethylene

foil (Kodak) was also used.

Monte Carlo simulation metodology was employed to evaluate analytically the optimal

paraffin thickness. The obtained results were similar to the experimental data and allowed the

evaluation of emerging neutron flux from moderator, as well as the fast neutron flux reaching

the polyethylene covering the semiconductor sensitive surface.

Gamma radiation levels were evaluated covering the whole detector with cadmium foil 1 mm

thick, allowing thermal neutrons blockage and gamma radiation measurements.

The IPEN/MB-01 facility was employed to evaluate the detector response for high neutron

flux. The results were in good agreement with other studies published.

Using the obtained spectra an approach to dose equivalent calculation was established.

SUMRIO

Pgina

1.- INTRODUO .................................................................................................. 1

2.- OBJETIVOS .......................................................................................................

Gerais .........................................................................................................................

Especficos .................................................................................................................

5

5

5

3. FUNDAMENTOS TERICOS ..........................................................................

3.1 Interaes radiobiolgicas ...................................................................................

3.1.1 Interaes dos raios gamas com a matria ........................................................

6

6

6

3.1.2 Interao dos nutrons com a matria ............................................................... 7

3.2 Classificao dos nutrons segundo sua energia ................................................. 8

3.3 Dosimetria - definies bsicas ...........................................................................

3.3.1 Qualidade da radiao e Equivalente de Dose ..................................................

11

11

3.3.2 Dose Absorvida ................................................................................................

3.3.3 Fator de Qualidade (QF-Quality Factor) e Tranferncia Linear de Energia

(LET - Linear Energy Transfer) .................................................................................

12

12

3.3.4 Dose Equivalente ..............................................................................................

3.3.5 Converso da Fluncia em Equivalente de Dose ..............................................

13

13

3.4 Dosimetria de nutrons ........................................................................................ 14

3.5 Conversores de nutrons ...................................................................................... 15

3.5.1 Tipos de conversores ........................................................................................

3.5.1.1 Conversor 3He ................................................................................................

3.5.1.2 Conversor 6Li .................................................................................................

3.5.1.3 Conversor 10B ................................................................................................

17

17

17

17

3.5.1.4 Conversores hidrogenados (geradores ou radiadores de prtons de recuo).... 18

3.6 Deteco de nutrons ...........................................................................................

3.6.1 Deteco por meio de prtons e partculas alfa ................................................

19

19

3.7 Os semicondutores generalidades .....................................................................

3.7.1 Estrutura cristalina ............................................................................................

24

24

3.7.2 Diodos semicondutores ..................................................................................... 25

3.7.3 Dopagem de semicondutores ............................................................................

3.7.4 Dependncia da resposta de semicondutores ....................................................

28

28

3.7.5 Vantagens e desvantagens dos detectores de silcio ......................................... 29

3.8 Semicondutores em dosimetria e deteco de partculas Estado da Arte ......... 32

3.9 Microdosimetria ...................................................................................................

3.9.1 Equivalncia ao tecido ......................................................................................

39

39

3.9.2 Semicondutores em Microdosimetria ............................................................... 40

3.10 Simulao usando o cdigo de Monte Carlo ..................................................... 43

4.- MATERIAIS E MTODOS ..............................................................................

4.1 Materiais ..............................................................................................................

4.1.1 Diodos semicondutores de Barreira de Superfcie (SSBD - Silicon Surface

Barrier Detector) ........................................................................................................

4.1.1.1 Detectores Barreira de Superfcie da ORTEC ...............................................

4.1.1.2 Detector de silcio TMF-1 de Barreira de superfcie .....................................

4.1.1.3 Fotodiodos PIN da HAMAMATSU .............................................................

44

44

44

44

44

44

4.1.2 Componentes moderadores ...............................................................................

4.1.3 Componentes conversores ................................................................................

46

46

4.1.3.1 Conversor de Boro .........................................................................................

4.1.3.2 Conversor de Polietileno ................................................................................

4.1.3.3 Conversor de Polietileno-Borado ..................................................................

4.1.4 Emissores alfa utilizados para calibrao em energia ......................................

4.1.4.1. Fontes de calibrao .....................................................................................

4.1.4.1.1 Fonte de 241Am ...........................................................................................

47

47

47

47

47

47

4.1.4.1.2 Fonte de nucldeos mista (239Pu+241Am+244Cm) ........................................

4.1.5 Mdulos preamplificadores sensveis carga (PSC) ........................................

4.1.5.1 Mdulo Pr-amplificador Sensvel Carga da Sochin Incorporated,............

(PSC-9101) ................................................................................................................

4.1.5.2 Mdulo pramplificador sensvel carga ORTEC 142AH ...........................

48

48

48

48

4.1.6 Eletrnica associada e sistema de aquisio de dados utilizados na avaliao

dos semicondutores (Arranjo experimental) ..............................................................

49

4.1.7 Fontes de nutrons ............................................................................................

4.1.7.1 Fonte de AmBe Bancada Experimental no Laboratrio CENF ..................

50

50

4.1.7.2 Reatores nucleares de pesquisas ....................................................................

4.1.7.2.1 Reator nuclear IEA-R1 ...............................................................................

51

51

4.1.7.2.1.1 Instalao de Neutrongrafia, nutrons trmicos e epitrmicos ................ 52

4.1.7.2.2 Reator IPEN/MB-01 (Unidade Crtica) ...................................................... 53

4.2 Mtodos ...............................................................................................................

4.2.1 Mtodo para testes preliminares de componentes (Laboratrio CENF ) ..........

4.2.1.1 Teste de Rise Time dos preamplificadores SOSHIN 9101 e ORTEC 142.

54

54

54

4.2.1.2 Testes de pr-amplificadores sensveis carga (PSC) ...................................

4.2.1.2.1 Mdulo Preamplificador SOSHIN 9101 ....................................................

4.2.1.2.2 Mdulo Preamplificador ORTEC 142AH ..................................................

55

55

55

4.2.1.2.3 Testes comparativos dos detectores tipo barreira de superfcie (SSB-

Silicon Surface Barrier) .............................................................................................

4.2.2 Mtodo de calibrao do sistema para deteco e processamento ...................

4.2.2.1 Calibrao utilizando fonte de 241Am ............................................................

56

56

56

4.2.2.2 Calibrao utilizando fonte mista (239Pu, 241Am e 244Cm) .............................

4.3 Mtodo de deteco de nutrons trmicos ...........................................................

4.4 Mtodo de deteco de nutrons rpidos .............................................................

57

57

57

4.5 Mtodo de simulao por Monte Carlo para definir o fluxo de nutrons

emergentes do moderador a parafina .........................................................................

58

4.7 Mtodo para a determinao da espessura otimizada da pelcula (ou lamina) de

polietileno.....................................................................................................................

58

5. MEDIES EXPERIMENTAIS .......................................................................

5.1 Mdies de nutrons trmicos utilizando conversor de 10B ...............................

60

60

5.2 Medio de nutrons trmicos utilizando conversor de polietileno borado .........

5.3 Medio de nutrons rpidos usando polietileno .................................................

5.4 Medies na instalao de Neutrongrafia Deteco de nutrons trmicos e

epitrmicos .................................................................................................................

61

61

61

5.5 Medies no ncleo do reator IPEN/MB-01 (UCRI) - Deteco de nutrons

rpidos ........................................................................................................................

62

6. RESULTADOS E DISCUSSES .......................................................................

6.1 Teste de Rise Time dos preamplificadores SOSHIN 9101 e ORTEC 142.......

64

64

6.2 Detectores SSBs TMF-1 e ORTEC com os preamplificadores 142AH e

SOSHIN 9101 ............................................................................................................

66

6.3 Teste dos detectores SSB com preamplificador SOSHIN 9101........................ 68

6.4 Calibrao utilizando fonte de 241Am .................................................................. 69

6.5 Calibrao - Testes de linearidade do canal de aquisio ....................................

6.5.1 Preamplificador SOSHIN 9101 ........................................................................

70

70

6.6 Resposta dos fotodiodos PIN, S3590-04(A) e S1223-01, para a calibrao com

fonte de 241Am ...........................................................................................................

73

6.7 Calibrao utilizando fonte mista (239Pu, 241Am e 244Cm) .................................. 74

6.8 Deteco de nutrons trmicos (fonte AmBe) ..................................................... 77

6.8.1 Resposta do fotodiodo S3590-04(A) para nutrons trmicos (Laboratrio

CENF) ........................................................................................................................

78

6.9 Deteco de nutrons rpidos ..............................................................................

6.9.1 Medies no Laboratrio CENF usando os diodos TMF-1 e

S3590-04 ....................................................................................................................

81

81

6.9.2 Medies no Reator IPEN/MB-01 (UCRI) ...................................................... 83

6.9.3 Medies na Instalao de Neutrongrafia nutrons trmicos e epitrmicos .

6.9.3.1 Resposta dos detectores para nutrons trmicos e epitrmicos com o reator

operando a uma potencia de 2 MW trmicos ...........................................................

6.9.3.2 Resposta do detector S3590-04(B) para uma potencia do reator de

3,5 MW .....................................................................................................................

86

86

86

6.10 Clculo de um fator de converso Contagens para Dose para dosimetria

utilizando um diodo ...................................................................................................

90

6.10.1 Dados necessrios para o clculo de fator de converso Contagens para

Dose (fonte AmBe) ....................................................................................................

6.10.2 Dados necessrios para o clculo de fator de converso Contagens para

Dose (instalao de Neutrongrafia) ...........................................................................

91

91

6.11 Eficincia global da deteco ............................................................................ 93

6.12 Anlise de incertezas ......................................................................................... 94

6.12.1 Avaliao de incertezas .................................................................................. 95

6.12.2 Resultado das incertezas .................................................................................

6.13 Dosimetria de nutrons ......................................................................................

6.13.1 Dosimetria utilizando dois fotodiodos pareados .........................................

98

98

98

7. DISCUSO GERAL ...........................................................................................

7.1 Consideraes finais ............................................................................................

99

99

8. CONCLUSES.....................................................................................................

102

9. PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS .....................................................

9.1 Sistema de deteco diferencial a ser aplicado em dosimetria de nutrons

trmicos utilizando dois fotodiodos pareados ........................................................

9.2 Sistema dosimtrico para determinar o equivalente de dose usando fotodiodo

como elemento primrio de deteco e instrumento rastreado (padro de

Calibrao .................................................................................................................

9.3 Desenvolvimento de uma metodologia para a obteno de uma estimativa de

equivalente de dose (dosmetro individual) utilizando os dados de deteco de

nutrons obtidos com semicondutores fotodiodos ....................................................

104

104

104

104

9.4 Caracterizao completa de um elemento sensor (semicondutor), moderadores

e conversores sob campos mistos nutron-gama usando simulao por cdigo de

Monte Carlo ..............................................................................................................

9.5 Mdulo de monitorao de nutrons de rea utilizando fotodiodos e

comunicao de dados via Ethernet e sem fio (wireless) .........................................

9.6. Desenvolvimento de medies eletrnicas na deteco da radiao em campos

mistos nutrons-gama utilizando a tcnica de discriminao por forma de pulso

.........................................................................................................................

9.77. Projeto de Medidor de Rotina (Survey Meter) baseado em componentes

semicondutores para aplicaes em proteo radiolgica .........................................

105

105

105

105

APNDICE A .........................................................................................................

Modelagem da fonte de AmBe e do moderador (parafina) utilizado para os

clculos de fluxo trmico usando o cdigo de Monte Carlo.

106

APNDICE B ..........................................................................................................

Dados referentes s medies de fluxo na instalao de Neutrongrafia

108

APNDICE C ..........................................................................................................

Medies dosimtricas com instrumento Medidor Porttil (Survey meter)

fabricado pela LUDLUM MEASUREMENTS modelo 2363

109

APENDICE D ..........................................................................................................

Metodologia para a definio do Fator de Converso Contagens para Dose

(Neutrongrafia).

110

APNDICE E ..........................................................................................................

Consideraes na aquisio de dados utilizando o software Maestro.

111

APNDICE F ...........................................................................................................

Parmetros de deteco dos semicondutores utilizados (TMF-1 e S3590-04)

obtidos atravs da anlise das curvas obtidas usando o software Maestro..

113

APNDICE G ..........................................................................................................

Dosimetria utilizando dois fotodiodos pareados.

114

APNDICE H ..........................................................................................................

Metodologia para a obteno de uma estimativa de equivalente de dose (dosmetro

individual) utilizando os dados de deteco de nutrons obtidos com

semicondutores fotodiodos

116

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................. 118

LISTA DE TABELAS

Tabela Pgina

1 Interaes dos nutrons com os elementos componentes do tecido

biolgico ....................................................................................................

10

2 Valores de Fatores de Qualidade para diferentes radiaes....................... 13

3 Reaes para a deteco de nutrons ......................................................... 19

4 Caractersticas bsicas dos detectores e fotodiodos utilizados nas

experincias ...............................................................................................

46

5 Resumo do clculo da energia e fluxo incidentes na superfcie ativa do

detector .......................................................................................................

58

6 Resumo do clculo da energia e fluxo incidentes na superfcie ativa do

detector sem qualquer moderao a uma distncia fonte-detector de

30 mm ........................................................................................................

58

7 Valores utilizados para a obteno do fator de converso Contagens para

Dose............................................................................................................

92

8 Resumo dos valores de desvio padro e eficincia para o detector

TMF-1 e o fotodiodo S3590-04(A) e (B) para nutrons trmicos e

rpidos procedentes da fonte de AmBe, e nutrons trmicos e

epitrmicos da instalao de Neutrongrafia ...............................................

93

9 Resultado da mdia, desvio padro (DP) e incerteza para as medies

realizadas na instalao de Neutrongrafia usando o detector TMF-1 e o

fotodiodo S3590-04(A) com conversor de polietileno de 0,12 mm ..........

96

10 Parmetros obtidos usando o software de aquisio de dados Maestro

(ORTEC) na deteco de nutrons trmicos e rpidos usando os

semicondutores TMF-1 e S3590-04(A) .....................................................

113

11 Valores de contagens por segundo (cps), intervalos de energia de

nutrons, fluxo correspondente a cada tipo de medio e a eficincia do

detector com conversor ..............................................................................

116

LISTA DE FIGURAS

Figura Pgina

1 Ilustrao dos trs efeitos mais importantes da interao da radiao

gama com a matria.............................................................................

6

2 Intervalos de energia para as principais interaes dos raios gama

com a matria.......................................................................................

7

3 Esquema do princpio de operao de um sensor composto de um

sensor (camada ativa) e de um detector de silcio (camada sensvel)..

16

4 Espectro de impulsos de um contador proporcional 3He com

pronunciado efeito de parede................................................................

20

5 Estrutura cristalina tipo diamante (Si e Ge), a a constante de rede. 24

6 Representao esquemtica de uma juno P-N [39] ......................... 26

7 Esquema da polarizao reversa do diodo .......................................... 27

8 Detectores de Barreira de Superfcie produzidos pela ORTEC e

IPEN.....................................................................................................

45

9 Fotodiodo HAMAMATSU S3590-04(A) e detector IPEN TMF-1 e a

fonte de 241Am .....................................................................................

45

10 Preamplificador sensvel carga SOSHIN 9101 ................................ 48

11 Preamplificador ORTEC 142 e conectores utilizados ........................ 49

12 Configurao da instrumentao usada para os testes e medies ..... 49

13 Exemplo do espectro da energia dos nutrons emitidos por uma fonte

de AmBe (adaptada de Thompson e Taylor) [97]................................

51

14 Ncleo do reator IEA-R1 com a indicao dos Tubos de

Experimentao (BHs) para desenvolvimento de pesquisas em

BNCT, Neutrongrafia e Gama .............................................................

52

15 Instalao para Neutrongrafia (reator IEA-R1) ................................... 53

16 Ncleo do reator IPEN/MB-01 e os detectores nucleares para sua operao...............................................................................................

54

17 Bancada experimental e arranjo de proteo radiolgica .................... 55

18 Arranjo experimental para nutrons trmicos ...................................... 60

19 Arranjo experimental (configurao) para medies de nutrons

rpidos ..................................................................................................

61

20 Configurao fsica do detector TMF-01 e preamplificador ORTEC

142AH para medies de nutrons trmicos e epitrmicos .................

62

21 Ncleo do reator IPEN/MB-01 e o arranjo do detector para as

medies ..............................................................................................

62

22 Resposta do PSC SOSHIN para tempos de Rise Time do detector

TMF-1 a partculas alfa (fonte 241Am) .................................................

64

23 Resposta do PSC ORTEC para tempos de Rise Time do detector

TMF-1 a partculas alfa (fonte 241Am) .................................................

65

24 Resposta do detector TMF-1 conectado ao PSC ORTEC 142AH a

uma fonte de 241Am .............................................................................

66

25 Resposta do detector TMF-1 conectado ao PSC SOSHIN 9101......... 67

26 Resposta do detector SSB ORTEC (Au) com fonte de 241Am ............ 67

27 Resposta do detector SSB ORTEC (Ag) conectado ao

preamplificador ORTEC 142AH (fonte de 241Am) .............................

68

28 Resposta do detector ORTEC (Au) conectado ao preamplificador

SOSHIN 9101 (fonte 241Am) ...............................................................

68

29 Resposta do detector ORTEC (Au) conectado ao preamplificador

SOSHIN 9101 (fonte de 241Am) ..........................................................

69

30 Resposta do fotodiodo S3590-04(A) a uma fonte de 241Am ................ 70

31 Distribuio para o PSC SOSHIN 9101 (pulsos 1 a 10 Volts) ............ 70

32 Resposta do sistema a uma varredura de pulsos com amplitude de 0 a

10 Volts ................................................................................................

71

33 Ajuste da curva de Energia vs. Canal .................................................. 72

34 Exemplo do espectro de Energia vs Contagens para o fotodiodo

S3590-04(A) ........................................................................................

72

35 Resposta do fotodiodo S3590-04 a uma fonte de 241Am ..................... 73

36 Resposta do fotodiodo S1223-01 a uma fonte de 241Am ..................... 73

37 Resposta dos fotodiodos S3590-04, S1223-01 e S1336-18BU

utilizados para a fonte mista (239Pu+241Am+244Cm) ............................

74

38 Resposta do fotodiodo S1336-18BU utilizado para a fonte mista

(239Pu+241Am+244Cm) ..........................................................................

74

39 Resposta do fotodiodo S3590-04(A) para uma polarizao de 0 e 60

V e conversor de polietileno de 1 mm .................................................

75

40 Resposta do fotodiodo S3590-04(A) radiao gama (60Co) para

uma polarizao de 0, 15, 24, 40 e 60 V e conversor de polietileno

de 1 mm ...............................................................................................

75

41 Esquema de deteco de nutrons trmicos utilizando conversor de 10B [25] ................................................................................................

77

42 Resposta do fotodiodo S3590-04(A) para medies com nutrons

trmicos utilizando conversor de 10B e polarizado com 15 Volts .......

78

43 Resposta do fotodiodo para nutrons trmicos (polarizao reversa

de 15 V), sinal da radiao gama e a diferena destes sinais ..............

78

44 Resposta do fotodiodo (sem polarizao reversa) para nutrons

trmicos, radiao gama (detector coberto por cdmio) e a

diferena dos dois sinais ......................................................................

79

45 Reposta do fotodiodo aos nutrons moderados utilizando uma lamina

de polietileno borada, com uma polarizao de 15 V ..........................

79

46 Resposta do fotodiodo nu (sem conversor) aos nutrons trmicos, a

resposta do detector coberto com cdmio e a diferena destes sinais.

89

47 Espectro de nutrons para o detector TMF-1 com conversor de

polietileno (0,12 mm) para fonte de AmBe .........................................

81

48 Espectro de nutrons para o fotodiodo S3590-04(A) com conversor

de polietileno (1mm) para fonte de AmBe ..........................................

82

49 Resposta do fotodiodo S1223-01 para nutrons rpidos utilizando

conversor de polietileno e polietileno borado e polarizao de 0 e

24V .......................................................................................................

82

50 Resposta (espectro) do detector TMF-1 na Unidade Critica para

potencias de 1, 2, 4 e 10 W ..................................................................

83

51 Resposta (espectro) do fotodiodo S3590-04 (A) na Unidade Critica

para potencias de 1, 2, 5 e 10 W ..........................................................

84

52 Espectro de nutrons trmicos e epitrmicos para o detector TMF-1 e

fotodiodo S3590-04 para uma potencia trmica do reator de 2 MW....

86

53 Resposta do fotodiodo S3590-04(B) para um fluxo de nutrons

trmicos e epitrmicos usando conversor de 10B .................................

87

54 Resposta do fotodiodo S3590-04(B) para um fluxo de nutrons

trmicos e epitrmicos usando conversor de polietileno (1mm) .........

87

55 Resposta do fotodiodo S3590-04(B) para um fluxo de nutrons

trmicos e epitrmicos usando conversor de polietileno borado .........

88

56 Resposta do detector S3590-04(B) para um fluxo de nutrons

trmicos e epitrmicos usando os trs tipos de conversores sem o

sinal de radiao gama (subtrado) ......................................................

88

57 Resposta do detector S3590-04(B) para um fluxo de nutrons

trmicos e epitrmicos usando os trs tipos de conversores com o

sinal de radiao gama includo ...........................................................

89

58 Exemplo da janela operacional do Software Maestro mostrando o

nmero bruto de contagens (GA), o nmero real de contagens (NA)

e a taxa de contagens em cps ...............................................................

97

A1 Esquema da modelagem (MCNP) da fonte de nutrons e o

moderador (parafina) ...........................................................................

106

A2 Esquema da modelagem (MCNP) da fonte de nutrons sem o

moderador ............................................................................................

107

G1 Esquema da proposta de dosmetro usando a tcnica de deteco

diferencial ............................................................................................

108

1

1.- INTRODUO

Os detectores de radiao, de germnio e silcio, tm sido utilizados principalmente

para espectrometria gama, e tm substitudo os detectores cintiladores de estado slido em

aplicaes onde se requer uma alta resoluo energtica. O uso de diodos de silcio como

detectores de ftons de energia alta e feixes de eltrons, principalmente no campo da

radiocirurgia, comeou na dcada dos 60. Os dosmetros de germnio foram excludos devido

ao seu nmero atmico efetivo muito alto, especialmente para medies de radiao de

energia baixa, alm da necessidade do componente permanecer refrigerado quando das

medies.

Este efeito no restritivo para sua utilizao em espectrometria, onde toda a energia da

partcula incidente depositada no detector. Este no o caso na dosimetria de ftons ou

eltrons e, com maior razo, de nutrons.

Os componentes de silcio tem sido utilizados extensivamente em espectrometria

nuclear, como descrito na literatura nas ultimas trs dcadas [1, 2, 3, 4 e 5].

Um dos mais importantes interesses em se utilizar semicondutores em dosimetria o

da sua elevada sensibilidade em relao ao volume ionizante, comparado com a cmara de

ionizao (preenchida com gs). Geralmente encontrado um fator de 1800 entre a resposta

de um diodo semicondutor de silcio e uma cmara de ionizao do mesmo volume,

permitindo a reduo do volume sensvel a umas poucas dezenas de milmetros cbicos. Isto

reduz drasticamente a necessidade de requisitos rgidos referente parte eletrnica de

condicionamento do sinal produzido por estes sensores e da amplificao ou integrao da

corrente e permite o desenvolvimento de um detector ideal para o mapeamento de campos de

radiao. No caso dos diodos, para um melhor desempenho, eles so normalmente usados

com uma polarizao reversa para obter uma depleo mais profunda, menor rudo e tempo de

transito mais curto.

Apesar da sua excessiva resposta aos ftons de energia baixa, os detectores

semicondutores de silcio apresentam caractersticas que os fazem atrativos para medies de

dose ou taxa de dose em relao s cmaras gs-ionizantes [6].

2

A relevncia do trabalho desenvolvido reside na utilidade que sistemas dosimtricos

e microdosimtricos podem trazer para as rotinas operacionais nos centros mdicos, no uso

clnico para dosimetria de ftons de energia alta ou para radiaes neutrnicas normalmente

encontradas em campos mistos (aceleradores, reatores nucleares, fabricao de combustveis e

descomissionamento), at o momento, com pouco ou quase nenhum desenvolvimento no pas.

A possibilidade de utilizao de rotinas computacionais simples proporcionar um melhor

controle de qualidade da radiao quando dos tratamentos. Devido sua aplicabilidade, o

trabalho prope uma interao maior entre os centros de pesquisas nucleares do pas.

Atualmente, em nosso pas, existe um grande interesse pela dosimetria e

microdosimetria devido a seu vasto campo de aplicao (radiocirurgia, microeletrnica,

usinas nucleares, etc.). Entretanto, sua aplicao no campo da radiocirurgia em particular,

sempre teve o problema da sua praticidade quanto ao tipo de detector a ser utilizado como

elemento primrio de um sistema dosimtrico. A utilizao de cmaras de ionizao resulta

impraticvel para medidas in-vivo, devido a seu tamanho e ao risco que representa sua

alimentao de operao em alta voltagem. Assim tambm, os contadores proporcionais

sofrem destas desvantagens. Por outro lado, a utilizao de diodos semicondutores representa

uma boa opo para estes entraves.

Existem poucos trabalhos sobre aplicao de diodos semicondutores na rea

radioteraputica e os projetos nacionais de aplicao realizados se restringiram sua

aplicao em controle de qualidade nos tratamentos In-Vivo em radiocirurgia ou para

avaliao de feixes de raios-X [7-9]. Por outro lado, a cada ano que passa, o cncer se

configura e se consolida como um problema de sade pblica no mbito nacional e

internacional.

Nos ltimos anos da dcada passada o Brasil obteve um avano considervel no que

tange s fontes de informaes sobre morbidade por cncer, acompanhando o progresso j

observado no sistema de informaes sobre mortalidade.

Segundo o relatrio da Agncia Internacional para Pesquisa em Cncer (IARC)/OMS (World

Cancer Report 2008), a estimativa para o ano de 2008 era de 12,4 milhes de casos novos de

cncer e 7,6 milhes de bitos. O contnuo crescimento populacional, bem como seu

envelhecimento, afetar de forma significativa o impacto do cncer no mundo. Esse impacto

3

ser maior nos pases com mdio e baixo desenvolvimento. A IARC/OMS estimou que, em

2008, metade dos casos novos e em torno de dois teros dos bitos por cncer ocorreriam

nessas localidades. Destes, os mais incidentes foram o cncer de pulmo (1,52 milhes de

casos novos), mama (1,29 milhes) e clon e reto (1,15 milhes). Devido ao mau prognstico,

o cncer de pulmo foi a principal causa de morte (1,31 milhes), seguido pelo cncer de

estmago (780 mil bitos) e pelo cncer de fgado (699 mil bitos). Para Amrica do Sul,

Central e Caribe, estimou-se em 2008 cerca de 1 milho de casos novos de cncer e

589 mil bitos. Em homens, o mais comum foi o cncer de prstata, seguido por pulmo,

estmago e clon e reto. Nas mulheres, o mais frequente foi o cncer de mama, seguido do

colo do tero, clon e reto, estmago e pulmo (WORLD CANCER REPORT, 2008).

No Brasil, as estimativas, para o ano de 2010 sero vlidas tambm para o ano de

2011, indicando uma previso de 489.270 casos novos de cncer. Os tipos mais incidentes,

exceo do cncer de pele do tipo no melanoma, sero os cnceres de prstata e de pulmo

no sexo masculino e os cnceres de mama e do colo do tero no sexo feminino,

acompanhando o mesmo perfil da magnitude observada para a Amrica Latina. Para 2010,

h uma previso de 236.240 casos novos para o sexo masculino e 253.030 para sexo

feminino. As estimativas indicam que o cncer de pele do tipo no melanoma (114 mil casos

novos) ser o mais incidente na populao brasileira, seguido pelos tumores de prstata

(52 mil), mama feminina (49 mil), clon e reto (28 mil), pulmo (28 mil), estmago (21 mil) e

colo do tero (18 mil) [10].

Estes dados ilustram a importncia do problema social, e para enfrent-lo so

utilizadas diversas modalidades de terapias, ou seja, cirurgia, quimioterapia e terapia

utilizando radiao.

Para o tratamento de pacientes por meio de radiocirurgia utilizam-se aceleradores

lineares ou unidades de Co-60 e para estes procedimentos realizado um estudo de dosimetria

para estabelecer o tipo, energia, dose e direcionamento dos feixes para que a irradiao do

tecido afetado seja homognea e o dano em rgos crticos seja mnimo [11].

Com referncia microdosimetria, embora esta j possua certo desenvolvimento e

aplicaes nos pases desenvolvidos, no Brasil ainda uma rea incipiente dentro das

aplicaes da Fsica Mdica e nas instalaes relacionadas com a energia nuclear.

4

Cientistas e pesquisadores tem procurado compreender, com rara dedicao, os

aspectos microscpicos da interao da radiao ionizante com a matria, especialmente em

materiais equivalentes ao tecido humano, para melhor compreenso dos efeitos biolgicos

resultantes no ser humano [12-13].

Por outro lado, existe um aumento gradual dentro de programas de sade de Centros

de Tratamento (Teraputicos) onde se utilizam fontes de radiao de energia alta

(aceleradores clnicos). Em 2002 existiam no Brasil 156 Servios de Radiocirurgia com um

parque de 113 Unidades (Bombas) de Co-60 e 102 Aceleradores Lineares (LINAC)

instalados, sendo que 59 destes aceleradores estavam localizados na regio sudeste [11].

Nos pases desenvolvidos so diagnosticados 30.000 novos casos de cncer por ano e

por milho de habitantes. Isto significa que dos 750.000 a 1.000.000 de novos casos por ano

em Estados Unidos ou na Comunidade Europia, entre 40.000 a 50.000 se beneficiariam de

tratamento com radiao de alto LET (Transferncia Linear de Energia). Estes dados ilustram

a importncia do problema [14].

A relevncia maior deste trabalho reside na necessidade de resolver uma reivindicao

antiga do grupo de Proteo Radiolgica do reator IEA-R1. Isto diz respeito da monitorao

individual de nutrons, pois devido presena de tubos colimadores (Beam Holes) que

fornecem feixes de nutrons apesar de estarem blindados, os nutrons espalhados de vrias

energias fornecem uma dose de radiao s pessoas que trabalham em estas reas. Atualmente

o controle das doses de nutrons realizado atravs de monitorao rotineira com detectores

portteis, porm o ideal seria monitorar cada trabalhador individualmente. No presente

momento o reator IEA-R1 no possui qualquer sistema de monitorao de nutrons, de rea

ou individual.

5

2.- OBJETIVOS

Gerais.

Avaliao de componentes semicondutores que possam ser utilizados no

desenvolvimento de um prottipo dosimtrico, constituindo um sistema de dosimetria e

microdosimetria, visando a determinao da dose equivalente devida radiao de nutrons.

Estabelecer as caractersticas operacionais do sistema dosimtrico que possibilite sua

aplicao como um instrumento de apoio nas rotinas operacionais em radiocirurgia e na

proteo radiolgica de instalaes nucleares.

Especficos.

- Pesquisar diversos tipos de diodos de diferentes fabricantes para testes de

desempenho sob irradiao, para especificar um modelo que cumpra com os requisitos de

monitorao de nutrons em rotinas de proteo radiolgica.

- Estudar e avaliar o desempenho de componentes conversores de nutrons, tais como

o 10B e o polietileno.

- Utilizar, quando necessrio e conforme a aplicao, tcnicas de simulao

empregando o mtodo de Monte Carlo.

- Avaliar o desempenho dos diodos semicondutores escolhidos, para estabelecer as

caractersticas operacionais de um sistema dosimtrico que possibilite sua aplicao (prtica)

em medies de campos mistos nutron-gama e estabelecer uma abordagem para o clculo de

equivalente de dose a partir dos espectros obtidos nas experincias.

- Efetuar a comparao dos resultados experimentais com os obtidos por outros

autores.

- Descrever os critrios (metodologia) para o clculo de equivalente de dose a partir

dos espectros de Bragg obtidos na parte experimental.

- Propor trabalhos futuros para a continuao da pesquisa de monitorao de campos

mistos nutrons-gama.

6

3. - FUNDAMENTOS TERICOS

3.1 Interaes radiobiolgicas.

O conhecimento das interaes bsicas da radiao com a matria essencial para a

compreenso do espectro dosimtrico e microdosimtrico. A radiao de nutrons sempre

vem acompanhada por radiao gama, seja ela proveniente de estados excitados do alvo ou

pelos raios gama de captura produzidos no colimador e na blindagem. Por esta razo, as

interaes da radiao gama (primria) com a matria biolgica devem ser consideradas.

3.1.1 Interaes da radiao gama com a matria.

A radiao gama transfere energia ao material alvo principalmente por trs processos:

- Efeito fotoeltrico as interaes acontecem com os eltrons ligados, e a maior parte da

energia gama transferida a um nico eltron.

- Espalhamento Compton a radiao gama transfere uma frao da sua energia a um nico

eltron, que conhecido como eltron de recuo emitindo um raio gama, sendo sua direo e

energia determinadas pela lei da conservao relativstica momentum-energia.

- Produo de Pares a energia mnima necessria para este processo de 1,02 MeV (duas

vezes a energia da massa do eletrn em repouso). Na interao, o raio gama desaparece sendo

substitudo por um par eltron-psitron. A Figura 1 ilustra a interao dos trs processos [16].

Figura 1: Ilustrao dos trs efeitos mais importantes da interao

da radiao gama com a matria.

7

Para os constituintes, relativamente leves, do tecido biolgico, o efeito fotoeltrico

predomina na regio de energia baixa e o efeito Compton o mecanismo de interao

predominante at umas dezenas de MeV. A produo de pares no um processo importante

para materiais de interesse biolgico [15]. A Figura 2 ilustra os intervalos de energia das

interaes da radiao gama com a matria [16].

Figura 2: Intervalos de energia para as principais interaes da radiao gama com a matria.

3.1.2 Interao dos nutrons com a matria [13].

O nutron uma partcula no carregada cujo principal meio de interao atravs de

colises com ncleos, pois ele no pode causar ionizao diretamente. A probabilidade de

interao entre um nutron e um eltron extremamente pequena, sendo normalmente

desprezada. Os principais processos de interao dos nutrons com os ncleos so:

- Espalhamento elstico (n, n) o nutron ao colidir com o ncleo perde energia que aparece

como a energia cintica do ncleo de recuo. A soma das energias cinticas de todas as

partculas do sistema permanece constante;

- Espalhamento inelstico (n, n`) o nutron ao colidir com o ncleo espalhado com uma

frao de sua energia de incidncia, uma vez que parte dela usada em um processo de

excitao nuclear;

- Captura radioativa (n,) o nutron capturado pelo ncleo, formando um ncleo

composto excitado que emite radiao gama para voltar ao estado fundamental;

8

- Fisso a captura do nutron por um ncleo pode induzir diviso do mesmo em dois

fragmentos com massas, raramente, da mesma ordem de grandeza, e que acompanhada pela

emisso de radiao gama, beta e de nutrons;

- Espalao - o processo em que um nutron de energia alta incide sobre um ncleo e

provoca a emisso de grande nmero de nutrons e prtons e a formao de um novo ncleo

com massa muito inferior do original. A espalao do 238U um bom exemplo. Nela pode

ocorrer a produo de mais de 50 prtons e nutrons. Esse tipo de interao significativo

para energias de nutrons 10 MeV;

- Reaes que produzem outras partculas o nutron pode atingir um ncleo produzindo a

emisso de outras partculas tais como prtons ou partculas alfa. Para altas energias reaes

do tipo (n, 2n) e (n, 3n) ou outras combinaes podem ocorrer.

3.2 Classificao dos nutrons segundo sua energia [13].

Em qualquer discusso sobre a interao de nutrons com a matria, conveniente

enfatizar alguns intervalos de energia:

- Nutrons trmicos Esses nutrons possuem energia inferior a 0,2 eV, sendo representados

por uma distribuio Maxwelliana com a energia mais provvel a 0,025 eV a 20 C,

correspondendo a uma velocidade de 2200 m.s-1.

A sua principal interao com a matria a captura. As reaes tipo (n, p), (n, ), ou fisso

tambm podem ocorrer. Muitos nucldeos nessa faixa de energia possuem uma seo de

choque proporcional a 1/v, ou seja, inversamente proporcional velocidade do nutron. No

tecido, as reaes importantes a energias baixas so; 1H(n, )2H, que produz um raio gama de

2,2 MeV, e, 14N(n, p)14C, que resulta num prton de 0,6 MeV. A reao 10B(n, )7Li muito

usada em detectores de nutrons de energia baixa;

- Nutrons intermedirios esta classificao se refere aos nutrons com energias que vo de

0,5 eV at 200 keV, aproximadamente. Nutrons de energias intermediarias geralmente so

obtidos pela perda de energia dos nutrons rpidos em um material moderador. A distribuio

do fluxo de nutrons , normalmente, inversamente proporcional energia. Porm, a regio

abaixo dos 100 eV pode conter um nmero de ressonncias onde as sees de choque podem

aumentar ou diminuir por varias ordens de grandeza em um intervalo de energia estreito.

9

Nutrons com energias que correspondem s absores de ressonncia so classificados

como nutrons de ressonncia.

Estes nutrons so geralmente de pouco interesse para estudos radiobiolgicos, exceto

na obteno de feixes epitrmicos para uso em radiocirurgia. Os nutrons epitrmicos

utilizados nesse contexto esto no intervalo de 0,2 eV at 1 keV. importante salientar que os

limites que separam as categorias no so precisos, indicando apenas ordens de grandeza.

- Nutrons rpidos correspondem aos nutrons com energias no intervalo de 500 keV a

20 MeV. A interao mais importante desses nutrons com a matria o espalhamento

elstico. Porm, por volta dos 10 MeV uma parte considervel da seo de choque

corresponde ao espalhamento inelstico.

A interao mais importante dos nutrons rpidos com o tecido o espalhamento elstico com

o hidrognio.

Apesar da maior parte da transferncia de energia dos nutrons rpidos para o tecido

biolgico e materiais equivalentes a tecido ser atravs de prtons de recuo, a contribuio

relativa de vrios processos de reao na deposio de energia no tecido depende da

abundncia relativa dos elementos constituintes. Portanto, para a anlise da interao dos

nutrons com plsticos e gases equivalentes ao tecido, o teor de hidrognio o principal fator

determinante na forma do espectro de perda de energia em um Contador Proporcional

Equivalente Tecido (TEPC Tissue Equivalent Proportional Counter). Entretanto, as reaes

com recuo de ons pesados podem ser significativas.

A perda de energia dos nutrons em um moderador devida principalmente ao

processo de espalhamento elstico. O nutron transfere no mximo uma frao 4Br(Br+1)2 da

sua energia aos ncleos de recuo, onde Br a razo entre a massa do ncleo alvo e a massa do

nutron.

O espalhamento inelstico importante como uma fonte de radiao gama no

processo de moderao de nutrons e causa grandes perdas de energia aos nutrons em

materiais com altos valores de Br.[13].

Existem tambm nutrons que possuem energia superior a 20 MeV e so denominados

nutrons relativsticos [17].

10

A Tabela 1 apresenta um resumo das interaes mais importantes de nutrons com o

tecido biolgico para energias at aproximadamente 100 MeV [18 e 19].

Tabela 1: Interaes dos nutrons com os elementos componentes do tecido biolgico.

Elemento Interao

Hidrognio Espalhamento elstico e captura de nutron

Carbono Espalhamento elstico

Espalhamento inelstico

Reaes (n, n` 3) e (n, )

Nitrognio Espalhamento elstico

Espalhamento inelstico

Reaes (n, p), (n, d), (n, t),

(n, ), (n,2), e (n,2n)

Oxignio Espalhamento elstico

Espalhamento inelstico

Reaes (n, p), (n, )

11

3.3 Dosimetria - definies bsicas.

Entende-se por dosimetria a medida da quantidade de radiao liberada em um local

especfico ou a quantidade de radiao absorvida neste local. Os efeitos biolgicos das

radiaes dependem da quantidade de energia depositada nos tecidos. Esse padro depende do

tipo de tecido irradiado, bem como do tipo e intensidade das radiaes. Isso torna necessrio o

uso de padres quantitativos que nos possibilitem dosar uma irradiao. O fluxo de um feixe

de radiao, que a quantidade de energia que atravessa uma rea num intervalo de tempo

geralmente dada em n.cm-2.s-1; a densidade do fluxo, que a razo do fluxo pela rea e a

intensidade de radiao, que dado pelo coeficiente fluxo de energia/superfcie que atravessa

representam padres dessa dosimetria. interessante ressaltar no momento que essa

intensidade varia com o quadrado da distncia entre a fonte e o alvo desde que no haja

espalhamento dos raios no trajeto [19].

3.3.1 Qualidade da radiao e a Dose Equivalente

O risco devido exposio radiao depende tanto da prpria exposio quanto da

sua durao. As grandezas dosimtricas providenciam medies fsicas do efeito da radiao

em algum ponto no local de interesse. O efeito biolgico devido radiao resulta da

deposio da energia, ionizao do mdio e da introduo de deslocamentos atmicos. As

grandezas dosimtricas fundamentais so: a dose absorvida, os fatores de qualidade e a dose

equivalente [19].

Existem duas grandes organizaes internacionais para o desenvolvimento de

convenes dosimtricas e avaliaes de doses de radiao, sejam elas devidas exposio

radiao externa ou por inalao ou por ingesto de algum composto de risco. Para

experimentao e determinao de padres so usados simuladores (phantom).

Estas duas organizaes so a International Commission on Radiation Units and

Measurements (ICRU) sediada em Bethesda, MD, USA, que estabelece assuntos

relacionados com blindagens e dosimetria (publicando guias e recomendaes) e a

International Commission on Radiological Protection (ICRP), sediada em Estocolmo,

Sucia, que publica tambm guias e recomendaes internacionais sobre blindagens e prticas

radiolgicas.

12

Outra organizao que publica tambm assuntos radiolgicos para os Estados Unidos

a National Council on Radiation Protection and Measurements (NCRP), sediada tambm

em Bethesda, USA.

O objetivo principal da ICRU tem sido o de desenvolver recomendaes aceitveis

pela comunidade internacional sobre as grandezas e unidades de radiao. A ICRU tambm

determina as medies e aplicaes destas grandezas nas reas de diagnsticos radiolgicos,

radiocirurgia, radiobiologia e aplicaes industriais [4]. A ICRP reconhecida pela sua

aplicao para a proteo do pblico das radiaes.

Em sua utilizao os nutrons so moderados, espalhados e capturados dentro do

corpo humano e todos estes processos possuem uma grande influncia na dose de nutrons e,

consequentemente, na leitura do dosmetro utilizado, calibrado conforme as normas

correspondentes [2].

3.3.2 Dose Absorvida

A dose absorvida uma grandeza dosimtrica fundamental para a Proteo

Radiolgica. A Dose Absorvida D definida como a quantidade de energia (mdia) absorvida

por unidade de massa. A unidade padro o Gray (Gy) sendo igual a energia transferida por

1 Joule per quilograma. A unidade tradicional da dose absorvida era o Rad, utilizado ainda

por alguns autores como uma gentileza (para outros usurios) junto ao Gray, definido como

100 ergs por grama (1 rad=0,01 Gy) .

dm

EdD = (1)

3.3.3 Fator de Qualidade (QF-Quality Factor) e Tranferncia Linear de Energia

(LET - Linear Energy Transfer).

O Fator de Qualidade (FQ) um fator de ponderao que depende do tipo e da energia

da radiao. O fator de qualidade para ftons e eltrons de qualquer energia igual a 1. Para

nutrons o fator de qualidade depende da sua energia. O fator de qualidade para uma partcula

carregada depende do seu Poder de Freamento (Stopping Power), que tambm conhecido

como a transferncia linear de energia, o LET. O LET descrito como a perda esperada de

13

energia por unidade de distncia do caminho percorrido pela partcula carregada. Valores

tpicos de Fatores de Qualidade so apresentados na Tabela 2 [19, 20 e 21].

Tabela 2: Fatores de Qualidade para diferentes radiaes

Radiao Fator de qualidade (FQ)

X, , , (Todas as Energias) 1

Nutrons < 10 KeV 5

10 100 KeV 10

0.1- 2 MeV 20

2 20 MeV 10

> 20 MeV 5

Prtons (> 1 MeV) [20] 5

Prtons (> 1MeV) [21] 2

Partculas Alfa 20

3.3.4 Dose equivalente

A dose equivalente (H) uma medida do risco de radiao, sendo igual ao produto da

dose absorvida e o fator de qualidade (FQ) em um ponto no tecido, ou seja:

H = D (FQ) (2)

A unidade padro para dose equivalente o Sievert (Sv) e a unidade tradicional o rem onde

1 rem = 0,01 Sv.

3.3.5 Converso da Fluncia em Equivalente de Dose

O coeficiente de converso da fluncia em dose usado para estabelecer uma relao

entre as grandezas mensurveis e as grandezas operacionais. Este coeficiente conhecido com

a funo-resposta, que a dose ou resposta por unidade de fluncia de nutrons. As grandezas

operacionais so determinadas utilizando a equao seguinte:

= )()()( EdEEH (3)

14

Onde H neste caso o equivalente de dose pessoal ou ambiental, (E) o coeficiente de

converso dependente da energia correspondente e (E) a fluncia de nutrons em funo

da energia [22].

3.4 Dosimetria de nutrons.

A dosimetria de nutrons tem uma relevncia prtica em um amplo intervalo de

energia, por exemplo, em BNCT (Terapia de Captura de Nutrons trmicos pelo Boro) e em

FNT (Terapia de Nutrons Rpidos). Entretanto, as grandezas dosimtricas usadas em

proteo radiolgica no so diretamente mensurveis. Isto devido principalmente varivel

qualidade da radiao de nutrons, expressa em fatores de ponderao da radiao para a

obteno da dose equivalente em um rgo. Para a obteno da dose efetiva necessrio

multiplicar a dose equivalente dos rgos irradiados pelos fatores de ponderao do tecido.

Os campos de nutrons na natureza so devidos aos raios csmicos de energia alta e

so importantes somente no ar a grandes altitudes (acima de 10 km) ou nas naves espaciais.

Campos de nutrons desenvolvidos pelo homem so encontrados em reas restritas

tais como os reatores de fisso nuclear, ou seja, usinas nucleares e reatores de pesquisas,

experimentos de fuso nuclear e reatores experimentais a fuso, e em aceleradores de

partculas para aplicaes mdicas e industriais, assim como em pesquisa bsica de partculas

de energia alta e fsica da matria condensada. Os campos de nutrons so encontrados

tambm em depsitos e cascos de transporte de elementos combustveis usados e lixo

radioativo, como resultado, por exemplo, das reaes (,n). Devido a sua grande

penetrabilidade, os nutrons, frequentemente, respondem por uma frao substancial da dose

total no entorno das blindagens radiolgicas [23].

Apesar do baixo nmero de pessoas expostas a este tipo de radiao, profundas

anlises devem ser desenvolvidas para propsitos de proteo radiolgica.

As complicaes comeam desde a complexa interao nuclear com a matria, que

inclui a estrutura dependente da energia na regio de multi ressonncia e o fato que os

nutrons com energias baixas em torno de uns poucos meV so capturados produzindo

radiao gama de energia alta at vrios MeV. As energias de nutrons entre alguns meV (em

reatores nucleares) e algumas centenas de MeV (no espao, em aeronaves, e produzidos por

15

aceleradores de alta energia) so portanto importantes e cobrem um intervalo de energia de ao

menos dez ordens de magnitude, necessitando de apropriada instrumentao dosimtrica para

sua avaliao. Outras complicaes surgem devido aos fatores de qualidade dependentes da

energia e fatores de ponderao da radiao que requerem uma informao espectral adicional

que vai alm de uma mera medio da dose absorvida.

Isto pode ser obtido experimentalmente usando espectrometria de nutrons ou

teoricamente por clculo de transporte usando tcnicas de simulao de Monte Carlo.

Finalmente tem-se que, os campos de nutrons so inevitavelmente campos mistos de

nutron-fotn e, portanto, requerem tcnicas dosimtricas especiais [23].

3.5 Conversores de nutrons.

Diversos materiais so utilizados na prtica de deteco de nutrons. A deteco de

nutrons realizada em trs passos: o primeiro acontece na camada conversora do material

conversor onde a radiao incidente produz partculas carregadas (de recuo, 1H e alfas) seja

por espalhamento (in)elstico (dominado por nutrons rpidos), exotrmicos (dominado por

nutrons trmicos) ou radiaes endotrmicas. No passo seguinte alguma destas partculas

deposita energia no diodo de silcio. No terceiro passo a deposio de energia no volume ativo

leva formao de pares eltron-lacuna, obtendo-se finalmente um sinal (pulso eletrnico)

proporcional carga gerada.

As partculas neutras, nutrons ou ftons, no conseguem produzir diretamente

portadores de carga na matria, tendo como conseqncia no caso do silcio a baixa

sensibilidade para este tipo de radiao, diferena das partculas carregadas onde sua

sensibilidade prticamente 100%. Os ftons interagem com a matria principalmente por

meio de efeitos fotoeltricos, espalhamento Compton e produo de pares. Em todos estes

processos so gerados eltrons energticos que penetram o detector produzindo partculas

carregadas nele.

Os nutrons podem produzir partculas carregadas atravs de reaes nucleares e

tambm por espalhamento (produo de partculas de recuo energticas). O processo de

reao nuclear (captura) dominante para nutrons lentos. Os nutrons rpidos podem ter

espalhamento (ncleos de recuo) e desta maneira produzir ons energticos resultando em

sinais no detector. Estes processos, para partculas neutras, no so suficientemente eficientes

nos detectores de silcio sendo necessrio real-los. Neste tipo de sensor, portanto,

colocado um material conversor quase que em contato com a rea sensvel do componente. A

energia das partculas secundrias geradas na camada ativa ento depositada no volume

16

sensvel do componente, parcialmente, como energia de ionizao. Os portadores de carga

gerados produzem pulsos de corrente que podem ser registrados pelo sistema eletrnico. A

altura de cada pulso resultante diretamente proporcional energia das partculas carregadas.

A sensibilidade destes componentes depende de vrios parmetros:

a) A rea ativa do conversor deve ser grande o suficiente para ser sensvel deteco de

nutrons. Isto limitado devido ao aumento do rudo com o aumento das dimenses.

b) A geometria e orientao do conversor, que pode influenciar a probabilidade de deteco

de nutrons e a eficincia de deteco angular.

c) A caracterstica nuclear e qumica do material do conversor: tipo e concentrao de

istopos no material que produzem um nmero maior de partculas pesadas carregadas por

nutron incidente.

d) A espessura do conversor deve ser otimizada: a probabilidade da gerao de sinal por

nutron incidente em um sensor (Figura 3), para uma dada energia de nutrons, aumenta com

a espessura do conversor, alcanando seu mximo e logo diminuindo devido absoro de

nutrons no conversor. Portanto, a tima espessura do conversor deve estar perto de, mas

menor que, o alcance das partculas pesadas carregadas no conversor [24].

Figura 3: Esquema do princpio de operao de um sistema detector-conversor composto de

um elemento conversor e de um detector de silcio (camada sensvel).

17

3.5.1 Tipos de conversores.

3.5.1.1 Conversor 3He

O 3He utilizado no desenvolvimento de detectores gasosos. Ele apresenta seco de

choque de 5330 b (barns) para nutrons trmicos. A converso feita por meio da reao:

MevpHnHe 764,01131

10

32 ++++ (4)

Nesta reao o prton emitido possui energia cintica de Ep = 0,573 MeV enquanto o

ncleo do trtio emitido com a energia do 3H, igual a 0,191 MeV.

3.5.1.2 Conversor 6Li

O 6Li um elemento usado como conversor para a deteco de nutrons trmicos. Ele

apresenta seco de choque de 940 barns para nutrons trmicos. A reao de nutrons

trmicos com o 6Li usado em detectores pode ser escrita como:

MeVHnLi 78,44231

10

63 ++++ (5)

Nesta reao o trtio emitido possui energia cintica do 3H igual a 2,73 MeV enquanto

a partcula emitida com energia igual a 2,05 MeV.

3.5.1.3 Conversor 10B

O 10B usado em vrios tipos de detectores de nutrons principalmente nos detectores

gasosos usando o gs 10BF3 ou detectores revestidos com boro (boron-lined). Esse elemento

apresenta seco de choque de 3840 barns para nutrons trmicos.

No conversor de 10B um nutron absorvido com subseqente transmutao para Li73

e emisso de uma partcula . No 10B a reao de converso (n,) pode ser escrita como

segue:

(*)792,2

(**)310,2

10

105

42

73

42

73

{ MeVLiMeVLi

nB ++++

+ (6)

(*) Estado fundamental, sendo a freqncia dessa vertente de apenas 6%

18

(**) Estado excitado, neste caso a freqncia dessa vertente e de 94%. Nesta reao o Ltio

emitido possui uma energia cintica de 0,840 MeV, sendo a partcula emitida com uma

energia de 1,47 MeV [25].

3.5.1.4 Conversores hidrogenados (geradores ou radiadores de prtons de recuo).

Estes elementos servem como fornecedores de prtons de recuo devido reao (ou

interao) de espalhamento elstico ser mais favorvel nos ncleos leves. Dentre eles o

hidrognio o mais utilizado, justificando a maneira de se referir a este componente.

No espalhamento elstico, a energia (Q) liberada na reao de converso igual a zero

devido ao princpio da conservao da energia, ou seja, a energia cintica total conservada

na reao.

O ncleo do tomo de hidrognio possui apenas um prton e que ao ser espalhado

chamado de prton de recuo. Os detectores fundamentados nesse tipo de reao so chamados

de detectores de prton de recuo.

Os detectores gasosos do tipo prton de recuo so usados na deteco de nutrons de

vrias energias. Nesses detectores, para cada regio de energia do nutron incidente, o gs de

preenchimento aplicado a uma presso apropriada a fim de otimizar o rendimento da

deteco do fluxo de nutrons.

Em detectores de estado slido que utilizam materiais que tem em sua constituio

hidrognio, como, por exemplo, o polietileno, usado um gerador de prtons de recuo. A

gua, a parafina e os plsticos como o polietileno so substncias que mantm grandes

propores de hidrognio em suas constituies. Dentre esses, o polietileno, cuja frmula

mnima (CH2)n, possui 66% da constituio atmica do plstico. Alm de ser um

componente rico em hidrognio possui excelentes qualidades fsicas e mecnicas. O

polietileno suporta temperaturas relativamente elevadas tendo ponto de amolecimento acima

de 80C e caractersticas mecnicas como a rigidez e a dureza que so desejveis nos projetos

dos detectores [25].

Salgir e Walker[26] descreveram um estudo relacionando a energia do nutron

incidente e o prton de recuo em material plstico. Os dados de Salgir e Walker mostram que

19

numa fonte de Am-Be a quantidade de nutrons emergentes em funo da energia

(entre ~2,5 e ~12,25 MeV) apresenta um perfil complexo com um valor de pico ao redor de

5 MeV. Esses nutrons ao incidirem em um filme de polietileno de espessura 0,8 mg.cm-2

produzem prtons de recuo num intervalo de aproximadamente 1,3 a 6 MeV com um perfil de

distribuio semelhante ao perfil grfico da emisso dos nutrons pela fonte de Am-Be.

3.6 Deteco de nutrons.

As tcnicas utilizadas para a deteco de nutrons descritas em vrias referncias de

dosimetria se baseiam na medio das partculas carregadas ou os ftons produzidos durante a

interao dos nutrons com a matria [27, 28, 29, 30, 31 e 32]. As principais interaes

utilizadas so as de absoro (n,), (n,p), (n,), (n,fisso) e as colises elsticas com ncleos

leves. Usualmente as diferentes tcnicas de deteco so classificadas em funo das

partculas secundrias ao invs da energia do nutron incidente. Entretanto, dar-se- para cada

uma delas, uma indicao do intervalo energtico onde se utilizam e onde so mais eficazes,

informao muito importante quando da seleo de alguma delas em concreto.

3.6.1 Deteco por meio de prtons e partculas alfa.

A Tabela 3 ilustra as reaes de maior interesse utilizadas para a deteco dos nutrons

por meio dos prtons e partculas alfa, assim como a energia Q liberada e a seo de choque

eficaz.

Tabela 3: Reaes utilizadas para a deteco de nutrons.

Reao Q (MeV) Seo choque eficaz trmica

(barns) 10B(n,a)7Li 2,79 3840 6Li(n,a)3H 4,78 937

3He(n,p)3H 0,764 5400

Estas reaes tm sees de choque eficazes elevadas no intervalo dos nutrons

trmicos e diminuem em funo da velocidade e dos nutrons segundo a lei de forma 1.v-1 em

um amplo intervalo energtico, sendo usadas essencialmente para a deteco de nutrons

trmicos. Os contadores proporcionais a 3He ou a Trifluoreto de Boro, os cintiladores de

Iodeto de Ltio ou a base de Sulfeto de Zinco revestidos em 6Li ou em 10B e os dosmetros

20

termoluminescentes (6Li e 7Li), so exemplos de detectores de nutrons trmicos baseados

nestas reaes [33].

Alguns detectores de traos (dieltricos minerais ou orgnicos) esto baseados na

deteco dos danos causados pelas partculas carregadas resultantes das reaes (n,) e (n,p),

os quais so previamente amplificados com procedimentos fsico-qumicos (revelado

eletroqumico).

No caso de usar os contadores proporcionais a 3He ou de trifluoreto de 10B, a energia

Q liberada durante as reaes (n,p) e (n,) transferida em forma de energia cintica s duas

partculas produzidas. Se o volume de deteco grande, estas partculas depositam toda sua

energia cintica no detector. Isto se traduz, no espectro de impulsos de sada, de um pico

estrito no entorno da energia Q. Devido a isto, importante eleger reaes que possuam Q

elevados com o fim de garantir uma discriminao eficiente dos ftons parasitrios e do rudo

eletrnico.

Se as dimenses do detector so pequenas em comparao ao alcance das partculas

produzidas, estas podem penetrar nas paredes do detector e, nesse caso, no depositam toda

sua energia cintica no volume de deteco. Este efeito de parede se traduz no espectro de

impulsos pela apario de duas zonas planas correspondentes deposio parcial de energia

como ilustra a Figura 4 [33].

Figura 4: Espectro de impulsos de um contador proporcional 3He

com pronunciado efeito de parede.

21

No caso em que no seja possvel aumentar as dimenses do detector, a eliminao do

efeito parede pode ser efetuada acrescentando ao gs detector uma pequena quantidade de um

outro gs, com um alto poder de freamento tais como o Kriptnio ou o Xennio com o fim de

diminuir o alcance das partculas carregadas produzidas.

As reaes 6Li(n,)3H e 3He(n,p)3H podem servir tambm para detectar nutrons de

energia alta. A energia dos nutrons se determina calculando a diferena entre a soma das

energias dos dois produtos da reao usada e a energia Q liberada por esta. Assim, entre os

espectrmetros de nutrons rpidos, usados para a medio dos nutrons em um intervalo de

energia compreendido entre aproximadamente 100 keV e alguns MeV, se encontram os

contadores proporcionais, os detectores em sandwich utilizando o 3He ou o 6Li e certos

cristais cintiladores revestidos com 6Li. A grande sensibilidade aos nutrons trmicos,

indesejveis para esta aplicao, suprimida cobrindo o detector com uma flha de material

absorvente de nutrons trmicos, o cdmio, por exemplo.

Alguns detectores usados na dosimetria de nutrons so baseados nas difuses

elsticas destes com os ncleos atmicos. Os alvos a eleger para este tipo de detectores so

aqueles que possuem um alto contedo de material hidrogenado. O nutron com uma massa

comparvel do prton, pode entregar praticamente toda sua energia por meio de um choque

elstico com um ncleo de hidrognio.

A deteco dos ncleos de recuo (em particular os prtons de recuo) e a medio da

sua energia permitem estabelecer o nmero e a distribuio energtica dos nutrons pelos

quais foram gerados. A determinao do espectro energtico dos nutrons a partir do espectro

dos prtons de recuo realizada por meio de mtodos de deconvoluo apropriados. A

sensibilidade da tcnica dos prtons de recuo est limitada aos nutrons que possuem uma

energia suficientemente alta como para ionizar o meio detector [33].

Entre os detectores baseados em prtons de recuo, esto os seguintes [30]:

- componentes de emulses fotogrficas e alguns cintiladores orgnicos plsticos ou lquidos

(Stilbeno, Cintilador lquido tipo NE-213, etc), usados no intervalo de energia de 500 keV e

20 MeV.

22

- Detector Telescpio, usado no intervalo de 200 keV e algumas dezenas de MeV. Este

componente consiste em um cristal semicondutor situado a certa distncia de um conversor de

material hidrogenado e cujo interesse est centralizado nos prtons de recuo emitidos em um

ngulo com referncia direo do feixe neutrnico incidente.

- Contadores proporcionais a hidrognio chamados a prtons de recuo sensveis a nutrons

de energias compreendidas entre 1 keV e 15 MeV.

- Detectores de traos com conversores hidrogenados, como el poly-allyldiglicol-carbone,

mais conhecido como CR-39 ou o LR-115, utilizados com um conversor hidrogenado com

implantao ou no de 10B e 6Li, so sensveis aos nutrons de energias compreendidas entre

algumas dezenas de keV e 15 MeV.

- Detectores de borbulhas (Buble Drop Detector), em que pequenas gotas de um lquido

aquecido se dispersam durante o processo de fabricao dentro de um polmero elstico,

formando o detector. Quando um nutron incide sobre o detector, o ncleo de recuo implicado

na reao neutrnica provoca a evaporao das gotas individuais que se incham com o tempo.

As borbulhas imobilizadas no polmero so visveis aos olhos e uma vez contados fornecem

uma indicao da dose neutrnica no campo de radiao.

- Contador Proporcional Equivalente ao Tecido (TEPC Tissue Equivalent Proportional

Counter), chamado tambm de contador de Rossi [34], caracterizado por uma parede e um gs

de enchimento (a presso) equivalentes ao tecido. Este contador, de forma cilndrica, funciona

de tal maneira que a amplitude do impulso eltrico produzido proporcional carga gerada

pela partcula secundria, o que permite detectar a deposio energtica individual da

partcula primria no volume sensvel. A presso de enchimento se elege de maneira a simular

um volume equivalente ao tecido de dimenses microscpicas. A contagem dos impulsos

registrados permite a avaliao da dose absorvida e da dose equivalente. A distribuio dos

impulsos se estende em um intervalo de energias compreendido entre 30 keV para uma

ionizao simples at MeV. O TEPC sensvel tanto aos nutrons quanto aos ftons e a

discriminao dos ftons realizada eletronicamente explorando o fato de que o impulso

gerado por um prton de recuo possui um tempo de subida (rise time) diferente do gerado por

um eltron procedente de uma interao fotnica [30].

23

Qualquer fenmeno que varia de uma maneira previsvel com a energia dos nutrons

pode ser utilizado como elemento primrio de um sistema espectromtrico. Todos os

espectrmetros se baseiam em quatro princpios:

- Medio das energias das partculas carregadas produzidas pela interao do nutron.

- Medio do Tempo de Vo sobre um alcance especifico.

- Medio da atenuao e moderao dos nutrons em vrias espessuras de um material

hidrogenado.

- Medio das reaes de ativao ou de fisso por meio de um conjunto de detectores com

uma resposta energtica varivel.

24

3.7 Os semicondutores - generalidades

3.7.1 Estrutura cristalina

A distribuio espacial dos tomos de um semicondutor peridica formando uma

rede (matriz) cristalina. Os tomos esto entrelaados atravs de enlaces covalentes ocupando

posies fixas ao redor das quais oscilam sem se afastar muito, constituindo este conjunto de

pontos no espao uma clula unitria que se repete periodicamente em trs dimenses. Neste

trabalho foram utilizados semicondutores de silcio, os quais pertencem ao grupo IV da tabela

peridica, tendo, portanto, quatro eltrons de valncia que entrelaam cada tomo com quatro

tomos vizinhos situados nos cantos de um tetraedro. Este tipo de estrutura conhecida como

estrutura diamante, como ilustra a Figura 5. A distncia entre os dois tomos mais prximos

de 2,35 Ao, a constante de rede 5,43 Ao e a densidade 2,33 g.cm-3 [35 - 39].

Figura 5: Estrutura cristalina tipo diamante (Si e Ge): onde a a constante de rede.

3.7.2 Diodos semicondutores.

Os diodos so semicondutores de silcio usados em dosimetria nas instalaes de

radiocirurgia como uma cmara de ionizao de estado slido.

Estes diodos quando conectados a um eletrmetro apropriado, oferecem uma

combinao nica de alta sensibilidade, leitura imediata, simplicidade da operao, tamanho

pequeno e robustez, alm de apresentarem uma excelente resoluo espacial,

comparativamente s cmaras de ionizao usuais. Diversos autores tm demonstrado sua

utilizao tambm no campo da microdosimetria [40 e 41].

25

Em cristais puros de silcio o gap de energia entre a banda de valncia e a de

conduo de 1,1 eV a temperatura ambiente, que resulta em um nmero consistente de

eltrons na banda de conduo (1,5x1010 eltrons.cm-3). Com a finalidade de aumentar os

portadores de carga livres, o silcio pode ser dopado, substituindo-se alguns tomos de silcio

por tomos com um nmero diferente de eltrons de valncia. O nmero de valncia do silcio

quatro, se tomos pentavalentes (como o fsforo ou o arsnico) so depositados na matriz de

silcio. Quatro eltrons de valncia formam ligaes covalentes com os tomos de silcio e o

ultimo eltron esta ligado debilmente [39].

Em particular, um eltron por tomo dopado ocupar um novo nvel discreto de

energia no gap, bem prximo da banda de conduo (0,05 eV), tais eltrons sero

facilmente excitados termicamente, aumentando a condutividade do semicondutor. Devido ao

fato que as impurezas aumentam a quantidade de portadores de carga negativos, eles so

chamados de tomos doadores, e um semicondutor dopado desta maneira um semicondutor

do tipo-n.

Tambm possvel dopar o silcio com tomos trivalentes, como o glio ou ndio

(chamados de receptores): isto gera nveis de energia prximos da banda de valncia, estes

estados podem ser alcanados facilmente por eltrons deixando lacunas na banda de valncia

que se comporta simplesmente como portadores de carga positiva. Estes materiais so

chamados de tipo-p.

Ambos os portadores podem-se difundir no silcio e atravs de tcnicas de tratamento

trmico e recombinaes de um com o outro, podem voltar ao seu estado original

(Annealing).

Quando se junta uma pea de silcio tipo-n com uma do tipo-p (representando o

modelo bsico de um diodo), as lacunas comeam a se difundir at a regio-n atravs da

juno, e similarmente os eltrons se dirigem at a regio-p , como ilustrado na Figura 6 [39].

26

Figura 6: Representao esquemtica de uma juno P-N.

Estes portadores se recombinam na regio da juno causando um pico de carga com

qualquer lado da prpria juno. O silcio tipo-p recebe eltrons extras, ficando carregado

negativamente, e vice-versa no tipo-p.

Uma distribuio de carga diferente de zero , portanto, produzida na juno com um

gradiente de campo eltrico que interrompe o processo de difuso. Devido ao campo eltrico

h uma diferena de potncial conhecida como potncial de contato. A regio de campo

eltrico diferente de zero chamada de regio de depleo; se uma carga livre gerada nesta

zona, ela jogada at a regio n ou p dependendo do sinal. Esta caracterstica til na

deteco da radiao; radiaes ionizantes atravessando o silcio geram pares eltron-lacuna

que, se liberados na regio de depleo, so arrastados at os dois lados do diodo. Se dois

eletrodos so conectados ao dispositivo, uma corrente detectvel, sendo proporcional

ionizao.

A regio de depleo intrnseca, formada espontaneamente quando duas peas de

silcio dopadas diferentemente so juntadas, no usualmente suficiente para uma boa

sensibilidade. Com o fim de aumentar em tamanho a regio ativa, uma tenso externa

aplicada ao diodo, de tal sorte que o potncial de contato amplificado: lacunas so atradas

na regio p afastada da juno, e vice-versa para os eltrons [39].

27

Este tipo de juno diz-se estar polarizada reversamente, e a tenso externa tambm

melhora a eficincia da coleo de cargas. A Figura 7 mostra um circuito tpico de diodo: uma

fonte de alimentao fornece a polarizao reversa, e a corrente produzida pela irradiao na

regio de depleo (proporcional ionizao e por conseqncia dose absorvida) medida

instantaneamente por um ampermetro [39].

Figura 7: Esquema da polarizao reversa do diodo.

Para a produo de um par eltron-lacuna no utilizada toda a energia depositada

pela radiao. Na temperatura ambiente a mdia de energia absorvida por par eltron-lacuna

gerado de 3,2 eV, onde dois teros se perdem por vibraes na matriz do componente. Esta

quantidade de qualquer maneira de uma ordem de magnitude menor que para ionizao de

um gs, por esta razo os diodos so mais sensveis do que as cmaras de ionizao gasosa de

mesmo volume.

Devido ao fato que a resposta dos diodos lida diretamente em um eletrmetro, esta

realizada em tempo real, mas seu fat